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9. Construo civil no Brasil: investimentos e desafiosDulce Corra Monteiro Filha
Ana Cristina Rodrigues da Costa
Joo Paulo Martin Faleiros
Bernardo Furtado Nunes*
Introduo
O setor de construo civil esteve no centro da crise norte-americana que eclodiu
no fim de 2008, mas a recesso econmica mundial causou pouco impacto sobre
planos de infraestrutura dos pases em desenvolvimento, como percebido na ma-
nuteno dos grandes projetos, de modo que as empresas que atuam no mercado
internacional no foram prejudicadas.
No Brasil, os efeitos dessa crise foram sentidos no setor em decorrncia da redu-
o do crdito privado. O pas adotou vrias medidas anticclicas que contriburam
para a recuperao da economia no terceiro trimestre de 2009. Entre essas medi-
das, esto a desonerao tributria de alguns materiais de construo, a expanso
do crdito para habitao, notadamente o Programa Minha Casa, Minha Vida, e o
aumento de recursos para o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC).
Entretanto, no se pode esquecer da necessidade urgente de acelerar investimen-
tos em construo civil, no s em face do elevado dficit habitacional no pas,
mas tambm para superar a grande deficincia em infraestrutura. Deve-se lembrar
* Respectivamente economista, gerente, economista e estagirio do Departamento de Bens de Consumo, Comrcio e Servios da rea Industrial do BNDES. Os autores agradecem a Silvia Maria Guidolin.
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ainda dos compromissos assumidos pelo Brasil para a realizao da Copa do Mun-
do e dos Jogos Olmpicos.
Assim, o presente texto procurou analisar as perspectivas de investimento de 2010 a
2013, considerando o crescimento dos subsetores de edificao e construo pesada.
preciso, contudo, ressaltar que os mercados de autogesto e autoconstruo no foram
dimensionados no trabalho, pois no seguem a dinmica empresarial.
Inicialmente, informa-se a situao do setor de construo civil no mercado interna-
cional, na Unio Europeia, nos Estados Unidos e no Brasil. Constatou-se que o setor
tem se reestruturado e se adaptado e que os governos implementaram medidas de
incentivo. A seguir, mostrada a defasagem de alguns indicadores brasileiros de pro-
dutividade em relao aos Estados Unidos e Unio Europeia.
Na quarta seo, so analisadas as perspectivas de investimentos do setor de constru-
o civil, assim como dos subsetores de edificaes residenciais e construo pesada.
Considerou-se que os investimentos privados seriam endgenos e os pblicos, exge-
nos. Nesse sentido, as previses utilizaram os dados do Programa Minha Casa, Minha
Vida e o Programa de Acelerao do Crescimento 1 (PAC-1).1
Os desafios a serem vencidos para o crescimento do setor nos anos vindouros foram
expostos na quinta seo. Esses desafios dizem respeito tecnologia, aos financiamen-
tos, ao mercado e concorrncia. Entre eles, cabe destacar que o desenvolvimento de
processos de inovao na cadeia produtiva da construo civil complexo e precisa
ser solucionado a fim de contribuir para a eliminao do dficit habitacional e de infra-
estrutura no pas, alm de responder aos compromissos assumidos pelo Brasil.
Nas notas conclusivas, so expostas as argumentaes e desafios que vo influir na
perspectiva de crescimento do setor de 2010 a 2013.
1 Recentemente, o governo federal lanou o PAC-2, que inclui tambm acrscimo de investimentos no programa Minha Casa, Minha Vida, mas que no foram includos nas estimativas realizadas no artigo, pois abrangem projetos do PAC-1 (portanto, j foram considerados) e novos investimentos que ainda precisam ser estruturados e, nesse sentido, no devem afetar substancialmente os investimentos dos prximos dois anos.
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PAnorAmA do SEtor dE ConStruo CIvIL
Panorama do mercado internacional2
A crise financeira mundial, desencadeada em 2008, associada, em grande parte,
ao setor de construo civil americano, gerou impactos para o setor em diversos
pases e em empresas que atuam globalmente, levando vrios empreiteiros a alte-
rar sua estratgia.
De um lado, diante do declnio de vrios mercados, muitos empreiteiros com atua-
o internacional esto enfrentando a contrao do crdito utilizando suas reservas
acumuladas em vrios anos anteriores, quando a demanda estava elevada. Dessa
forma, as receitas contabilizadas3 ainda no tinham sido afetadas nos dados de
2008, tendo apresentado um acrscimo de 25,7%4 sobre o ano anterior. A distri-
buio dessas receitas pelo mundo apresentada na Tabela 1.
TABELA 1: DISTRIBUIO INTERNACIONAL DAS RECEITAS DAS 225 MAIORES EMPRESAS DE CONSTRUO INTERNACIONAIS EM 2008
Regies Nmero de empresas Receitas (US$ milhes) Percentual do total (%)
Europa 140 114.106 29,3
Oriente Mdio 155 77.471 19,9
sia e Austrlia 160 68.533 17,6
EUA 60 41.760 10,7
Sul e Centro da frica 95 29.262 7,5
Amrica Latina 85 21.762 5,6
Norte da frica 123 21.623 5,5
Canad 43 13.402 3,4
Ilhas do Caribe 39 2.078 0,5
Outros 3 12 0,0
Total 903 390.008 100,0
Fonte: ENR, n. 7, 2009.
2 Fonte: ENR (Engineering News-Record), n. 7, edio de 31.8.2009. 3 Cabe ressaltar que, nesse segmento, os contratos so de longo prazo, e a apropriao das receitas pode variar
de acordo com a forma de contabilizao.4 Dados de uma amostra de receitas das 225 maiores construtoras do mundo. Fonte: ENR, n. 7, 2009.
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As empresas globais de construo mais especializadas esto enfrentando maior
dificuldade nessa recesso. Novos projetos foram interrompidos ou postergados,
em especial no Oriente Mdio, embora a demanda por residncias e por infraestru-
tura ainda se mantenha elevada em alguns pases.
De outro lado, a recesso econmica teve pouco impacto sobre planos de infraestru-
tura dos pases em desenvolvimento, como percebido na manuteno dos grandes
projetos localizados na frica, como a ferrovia que liga Nigria, Arglia e Lbia.
Os pases asiticos, nos quais os bancos tm um controle mais rigoroso do que na Eu-
ropa e nos Estados Unidos, foram menos abalados pela crise. Em Hong Kong e Cinga-
pura, os mercados esto fortes, particularmente em infraestrutura. A China, no entanto,
ainda apresenta uma economia muito fechada para os construtores internacionais.
As encomendas de construo voltadas para a infraestrutura esto mantendo as
empreiteiras. Vrios governos decidiram implementar polticas de apoio eco-
nomia por meio de significativas demandas de grandes projetos de infraestrutura.
Essas polticas pblicas, contudo, privilegiam, em geral, as empresas locais, em
detrimento das internacionais.
O crdito restrito tem impedido a entrada de empreiteiras menores no mercado
construtivo, pois esto altamente alavancadas e, nesse sentido, os bancos podem
dificultar ainda mais a concesso de emprstimos para elas. Contudo, algumas
esto mantendo o seu crescimento atuando em mercados de nicho, como centros
de dados, sistemas construtivos antiterroristas e clientes industriais, como afirma
a revista ENR, n. 7, 2009.
Outra mudana trazida pela crise foi a alterao das negociaes entre os construtores e
os clientes, tendo em vista que estes vm pedindo sucessivamente reduo dos preos.
Quanto edificao residencial, pode-se ver o impacto da crise que ainda perdura
em vrios pases de diferentes regies. Conforme a Tabela 2, a maioria mantm
um nvel de licenas abaixo de 2005, mas mesmo pases como a Repblica Tcheca
e a Polnia, que esto acima desse nvel, ainda permanecem com ndices inferiores
a 2008. No primeiro quadrimestre de 2010, houve melhora na maioria dos pases
em relao ao quarto quadrimestre de 2009.
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TABELA 2: COMPARAO DAS LICENAS EMITIDAS PARA HABITAO EM VRIOS PASES (2005=100)
2006 2007 2008 2009 Q1 2009Q2 2009
Q3 2009
Q4 2009
Q1 2010
Canad 106,0 117,6 105,6 89,6 65,2 80,6 95,1 117,6 122,8
Japo 104,4 85,8 .. .. .. .. .. .. ..
Coreia do Sul 107,1 129,8 76,5 83,4 50,2 67,4 96,9 84,5 83,8
Nova Zelndia 99,7 98,3 70,9 55,4 47,7 53,5 55,2 64,7 62,8
Austrlia 97,2 101,1 93,7 92,0 77,3 85,3 96,6 108,7 115,4
Turquia 107,3 98,8 87,4 85,3 121,1 68,9 78,5 83,7 104,8
Repblica Tcheca 111,0 116,9 123,7 105,7 117,8 107,6 104,4 98,3 94,2
Hungria 86,5 86,4 86,0 56,6 72,5 65,4 50,7 41,1 45,7
Polnia 135,9 200,0 185,8 144,4 174,3 142,3 140,5 127,5 141,0
Fonte: .
Os empreiteiros esto inseguros quanto ao futuro, pois, mesmo que a crise esteja
enfraquecida, os governos apresentam elevados dficits. Espera-se, pois, que o
crescimento em 2010 no mercado internacional seja lento.
Construo civil na Unio Europeia
Em 2008, a indstria da construo civil europeia5 era responsvel, em mdia, por
cerca de 6,47% do PIB dos pases da Organizao para a Cooperao e Desenvol-
vimento Econmico (OCDE), mas o ndice de desemprego do segmento estava em
torno de 4% a 10%. O setor apresenta um nmero razovel de grandes empresas
com expressiva participao no mercado global, haja vista que, das 225 maiores
construtoras internacionais em 2008, 65 eram europeias, que detinham 54,5% do
mercado mundial, embora essa quantidade venha decrescendo, se comparada com
5 O setor de construo civil na Unio Europeia [European Monitoring Centre on Change (2005)] divide-se em cinco grandes segmentos: preparao de terrenos (demolies, terraplenagem, furao e cravao de estacas, fundaes); edificao (obras de engenharia civil, construo de estradas, aeroportos e instalaes esportivas e outras construes envolvendo necessidades especiais); instalaes (eltricas, tubulaes, iso-lamento e outras); acabamento; e aluguel de mquinas e equipamentos. O segmento de edificao o que mais agrega valor, ao passo que o de instalaes o que mais emprega.
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as principais do mundo. Os trs primeiros lugares do ranking da revista ENR em
2008 ainda pertenciam a empresas europeias.
No que se refere edificao residencial, a Tabela 3 mostra os impactos da crise
econmica mundial sobre esse setor na Europa e nos pases da zona do Euro.
Observam-se, em geral, uma queda significativa das licenas emitidas para habita-
o de 2006 a 2009, um aumento no ltimo quadrimestre de 2009 e uma pequena
queda no primeiro quadrimestre de 2010, na maioria dos pases.
TABELA 3: PASES EUROPEUS E zONA DO EURO: LICENAS EMITIDAS PARA HABITAO (2005=100)
2006 2007 2008 2009 Q1 2009Q2 2009
Q3 2009
Q4 2009
Q1 2010
Blgica 102,4 90,2 87,0 76,2 70,5 78,0 80,9 73,5 85,3
Dinamarca 92,8 59,4 42,1 22,6 26,4 23,6 29,6 22,0 25,3
Finlndia 99,4 91,0 71,7 65,7 44,8 52,6 68,8 93,8 82,5
Frana 121,7 116,7 98,9 81,6 88,3 74,2 76,7 86,6 89,1
Alemanha 102,1 77,5 75,5 76,0 65,5 74,6 79,5 81,4 72,5
Grcia 60,7 49,2 37,9 28,2 30,6 26,8 29,4 26,8 ..
Irlanda 81,3 85,1 64,8 35,4 53,9 38,2 27,9 19,8 18,4
Luxemburgo 94,0 105,2 85,6 78,5 64,8 88,4 84,1 80,3 ..
Holanda 119,3 113,8 118,8 97,2 102,8 94,8 85,7 100,7 71,7
Noruega 95,3 91,2 67,0 59,2 59,0 51,3 57,2 64,6 56,1
Portugal 97,6 88,7 61,8 36,8 40,0 35,4 33,9 36,4 33,5
Espanha 118,6 89,3 36,3 15,2 18,0 15,5 12,9 14,1 13,3
Sucia 139,0 91,3 77,3 65,6 62,5 51,4 62,0 66,7 68,4
Sua 100,4 95,7 106,2 106,6 106,6 100,9 101,2 117,2 ..
Gr-Bretanha 101,6 95,7 62,1 50,4 46,5 50,2 65,5 49,5 ..
Total da Zona do Euro 106,1 95,0 70,6 67,3 56,2 56,7 50,8 70,8 65,4
Fonte: .
Na Europa, a construo civil vem apresentando alguns importantes desafios
a serem vencidos, pois so vrios os fatores externos que esto modificando
o ambiente competitivo da indstria, tais como a ampliao dos membros da
Unio Europeia, a nova regulamentao proposta para servios no mercado in-
terno e o aumento da globalizao do mercado. A competitividade, no entanto,
varia de um segmento da indstria da construo para outro e de um pas da
Unio Europeia para outro.
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O envelhecimento da populao europeia e, com isso, a crescente dificuldade no
recrutamento de mo de obra para a construo civil so contrabalanados pelo
fluxo migratrio proveniente dos novos pases membros da Unio Europeia, que
tambm ampliam o mercado consumidor a ser desenvolvido.
A recente conscientizao sobre sustentabilidade leva a novas exigncias por parte dos
clientes, pblicos e privados, determinando a criao de requerimentos e regulamen-
taes, tanto em mbito nacional como na Unio Europeia. J existem dois sistemas
de certificao de construes na Europa: um de origem inglesa, o Building Research
Establishment Environmental Assessment (Breeam), cuja avaliao est baseada em
critrios e benchmarks, e o francs Haute Qualit Environnementale (HQE), cujo mo-
delo j foi adaptado ao Brasil com o selo Aqua (Alta Qualidade Ambiental).
Outro fator de presso no setor diz respeito aos novos padres de sade e segurana nos
processos construtivos, o que impe a mudana e o aprimoramento dos referidos proces-
sos, assim como a busca por maior eficincia, observada nas seguintes iniciativas:
i) utilizao de tecnologias da informao em materiais e edificaes (prdios
inteligentes);
ii) comunicao com clientes e associados nos empreendimentos;
iii) controle das atividades, materiais e equipamentos;
iv) suprimento de materiais e equipamentos com o e-business;
v) utilizao de equipamentos de inteligncia virtual; e
vi) projeto e construo.
A indstria da construo civil tambm utiliza certas tcnicas, como a lean
construction e a de elementos pr-fabricados, que permitem minimizar erros e
reduzir custos e prazos. De modo geral, pode-se dizer que a melhora da qualidade
possvel graas utilizao de planejamento nas etapas de construo, contem-
plando a disponibilidade de materiais, equipamentos e mo de obra.
A adoo desses mtodos construtivos requer qualificao da mo de obra, o que
no um problema para as grandes empresas do setor, que esto equipadas para
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suprir essas necessidades. Porm, para as pequenas e mdias empresas, a escassez
de mo de obra qualificada grave, haja vista que elas no tm as habilidades e os
recursos necessrios para desenvolv-la.
Alm disso, h uma tendncia para a terceirizao e a subcontratao de atividades
na construo civil, que j percebida na Gr-Bretanha e na Espanha. Na Espa-
nha, a indstria da construo passou por uma grande recesso entre 1975 e 1985,
cujo resultado foi um setor completamente diferente do anterior. As mudanas
mais relevantes foram o aumento do emprego temporrio e a crescente utiliza-
o de autnomos. Na Gr-Bretanha, observa-se um aumento da terceirizao,
de modo que h atividades terceirizadas que esto sob o controle de um gestor. A
intensificao da terceirizao levou grandes empresas europeias de construo a
se fixarem em funes de gerenciamento do empreendimento.
Esse aumento da terceirizao e da contratao de autnomos consequncia
da busca por flexibilidade na construo, frente aos custos de mo de obra
e s flutuaes da oferta de obras. Isso permite que a contratao de mo de
obra seja obtida de acordo com a sua necessidade e que o dispndio ocorra
apenas quando houver construo. Essa flexibilizao reflete-se em um de-
crscimo no nmero de adeses aos sindicatos, o que deteriora as condies
de trabalho, como treinamentos deficientes, salrios menores, mais horas de
trabalho e aumento de fadiga fsica.
Construo civil nos Estados Unidos
A indstria da construo civil americana representou 5,9% do PIB americano,
em 2009. No ranking da ENR, para 2008, das 225 maiores empresas, os Estados
Unidos apresentaram receitas de concorrncias internacionais que representaram
10,7% do total da amostra, atrs de Europa, Oriente Mdio e sia/Austrlia.
Essa indstria est dividida em trs segmentos: edificaes (residenciais, comerciais
e outros tipos); construo pesada (estradas, rodovias interestaduais, pontes, tneis e
outros projetos especiais); e servios especiais (pintura, hidrulica, eltrica e outros).
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As edificaes nos Estados Unidos so bastante padronizadas. A certificao
Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), que se tornou padro
de avaliao na Amrica do Norte, funciona como uma ferramenta de auxlio do
projeto e tambm como uma certificao ambiental. um sistema voluntrio. Essa
certificao fornecida pelo United States Green Building Council (USGBC),
instituio fundada em 1991, e resultado da aliana entre representantes da cons-
truo civil, educadores e agentes governamentais.
O Grfico 1 demonstra a evoluo dos gastos em construo civil, separados em
gastos privados que, por sua vez, so segmentados em residenciais e no resi-
denciais e em gastos pblicos. Observa-se ainda que, a partir de 2002, os gastos
privados residenciais aceleraram-se fortemente, atingindo o seu pice em 2006.
GRFICO 1: EVOLUO DOS GASTOS EM NOVAS CONSTRUES NOS ESTADOS UNIDOS
1.200
1.000
800
600
400
200
0
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
r
2006
r
2008
r
Construo privada residencial Construo privada no residencial
Construo pblica Total da nova construo
Em
US$
bil
h
es
Fonte: US Department of Commerce (Census Bureau).
Esse boom imobilirio teve como origem o crescimento da oferta de crdito imo-
bilirio a taxas de juros reais relativamente baixas e at negativas.
Nessa poca, era expansionista a poltica monetria adotada pelo Banco Central
estadunidense, o Federal Reserve (Fed), tendo em vista o baixo crescimento eco-
nmico e a baixa taxa de inflao, em especial depois do evento de 11 de setembro
de 2001 [Torres (2009)].
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Aliados expanso do crdito, inclusive para segmentos que no apresen-
tavam comprovaes de renda suficiente para pagar o imvel, os chamados
subprime, esto o crescimento da renda e as expectativas extremamente otimis-
tas sobre os ganhos com a valorizao imobiliria. Assim, a demanda elevou-se
fortemente, a passos maiores do que os da oferta, fazendo com que os preos dos
imveis apresentassem uma trajetria de crescimento acelerada, como pode ser
observado no Grfico 2.
GRFICO 2: EVOLUO DO NDICE DE PREOS DOS IMVEIS NOS ESTADOS UNIDOS
250
200
150
100
50
0
jan
/87
jan
/89
jan
/91
jan
/93
jan
/95
jan
/97
jan
/99
jan
/01
jan
/03
jan
/05
jan
/07
jan
/09
Fonte: S&P/Case-Schiller Home Price Indices.6
Obs: Valor de janeiro de 2000 = 100.
Esse comportamento de crescimento foi observado at 2006, ano em que o Fed decidiu aumentar a taxa de juros para alm da inflao. Esse aumento real da taxa de juros reduziu a demanda por imveis por causa do encarecimento dos financiamentos imobilirios, de modo que o valor do imvel, dado como garan-tia, era menor do que o valor da dvida. A inverso dessa relao, que foi por um longo tempo benfica para os clientes, incentiva a devoluo do imvel ao credor, aumentando a quantidade de imveis venda e contribuindo mais ainda para a queda dos preos.
6 Dados retirados de Torres (2009) e do site: .
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Os gastos em construo residencial caram cerca de 54% de 2004 a 2009, como pode ser visto no Grfico 3. Esses gastos so predominantemente privados, em-bora tenha decado a sua participao no total, que era de 78%, em 2004, para 66%, em 2009.
GRFICO 3: EVOLUO DOS GASTOS EM CONSTRUO RESIDENCIAL E NO RESIDENCIAL DESSAzONALIzADOS (JAN/04 = 100)
Residencial privado No residencial privado
180
160
140
Residencial pblico No residencial pblico
120
100
80
60
40
jan
/04
mai
/04
set/
04
jan
/05
mai
/05
set/
05
jan
/06
mai
/06
set/
06
jan
/07
mai
/07
set/
07
jan
/08
mai
/08
set/
08
jan
/09
mai
/09
set/
09
Fonte: U.S. Census Bureau.
No mesmo grfico, observa-se que, ao contrrio, os gastos na construo no
residencial apresentaram crescimento acumulado de 60% no mesmo perodo. Os
gastos privados nesse tipo de construo vinham crescendo at fevereiro de 2008,
quando alcanaram uma participao de 59% dos gastos totais. A partir desse ms
at junho de 2009, observaram-se sucessivos ganhos de participao dos gastos
pblicos, destacando-se aqueles destinados segurana pblica, sade, a escri-
trios e edifcios comerciais e educao.
Em novembro de 2009, a participao dos gastos pblicos em construo, incluin-
do o segmento residencial, apresentou aumento. Conforme a Tabela 4, os gastos
pblicos passaram a ser responsveis por cerca de 35% do total da construo civil
dos Estados Unidos.
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TABELA 4: DISTRIBUIO DOS GASTOS COM A CONSTRUO CIVIL EM 2009 (EM US$ MILHES)
Setor privado 581.245 64,6%Residencial 250.729 27,9%
No residencial 330.516 36,7%
Setor pblico 318.834 35,4%Estado/local 291.550 32,4%
Federal 27.284 3,0%
Total 900.079 100%
Fonte: Census Bureau.7
Houve certa recuperao graas aos gastos pblicos e expanso das cons-
trues privadas residenciais (ver Grfico 3). Essa recuperao foi observada
tambm no aumento das licenas para a construo civil em novembro de
2009, em relao ao ms anterior, alcanando o nvel de 580 mil.8
Panorama da construo civil no Brasil
O setor de construo civil brasileiro foi responsvel por 4% do PIB em 2009 e
vem acumulando sucessivas taxas de crescimento de 1995 at 2008. A taxa de
crescimento mdia nesse perodo ficou em torno de 9,7% ao ano. O Grfico 4
mostra a relevncia desse setor para a composio da formao bruta de capi-
tal fixo, embora a sua participao venha diminuindo desde 2003.
A participao do setor de construo civil na formao bruta de capital fixo
brasileira est em 5,2 pontos percentuais abaixo da mdia mundial.9 Podem-se
ressaltar alguns problemas relevantes que ajudam a explicar essa situao: a
escassez de crdito para habitao e o baixo nvel de inverses em infraes-
trutura, que est relacionado s restries fiscais e inadequao dos marcos
legal e regulatrio do pas para que sejam realizados investimentos em cons-
truo civil. No Grfico 4, observa-se a evoluo da construo na formao
bruta de capital fixo.
7 U.s. Census Bureau News, disponvel em: .8 Idem nota 6.9 Viso do desenvolvimento, n. 73, 30 de novembro de 2009.
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GRFICO 4: EVOLUO DOS COMPONENTES DA FORMAO BRUTA DE CAPITAL FIxO (FBKF)
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
01995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
OutrosConstruo Mquinas e equimentos
Em
R$
mil
h
es
43,8% 48,6% 49,7%52,1% 52,9% 49,6% 46,5%
47,3% 44,2% 43,7%42,3% 40,4%
38,3% 37,7%41,1%
Fonte: IBGE.
A indstria da construo civil brasileira tem tambm como caracterstica o uso
intensivo de mo de obra, principalmente a no qualificada. No ano de 2007, essa
indstria empregou cerca de 1,5 milho de trabalhadores, sendo que o grupo de
atividade de construo de edifcios e obras de engenharia civil responsvel por
quase 75% desses empregos. Essa distribuio por grupos de atividades definidos
pelo CNAE 1.0 mostrada no Grfico 5.
GRFICO 5: PESSOAL OCUPADO POR GRUPOS DE ATIVIDADES EM 2007
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0Preparao de terreno
Construo de edifcios e obras de engenharia
civil
Obras de infraestrutura
para engenharia eltrica e de
Obras de instalaes
Obras de acabamento
Aluguel de equipamentos de construo e demolio
com operadortelecomunicaes
Fonte: Paic/IBGE (2007).
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preciso ressaltar que a Pesquisa Anual da Indstria da Construo (Paic), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), no considera o emprego
informal nos seus resultados, o que subestima os efeitos dessa indstria na gerao
de emprego e renda na sociedade brasileira.10
Em estudo realizado pela FGV & Abramat (2009a), incluindo a autogesto e a
autoconstruo,11 estima-se em 7 milhes o nmero de trabalhadores na constru-
o civil, o que gera um PIB de R$ 137 bilhes.
Impacto da crise econmica mundial sobre o Brasil
A crise econmica mundial de 2008 teve efeitos na construo civil brasileira por
meio da reduo do crdito privado para esse setor. Das 21 empresas construtoras e
incorporadoras que abriram seus capitais entre 2006 e 2007, oito estavam no conjun-
to das 30 empresas que tiveram a maior queda do preo de suas aes na Bolsa de
Valores de So Paulo (Bovespa) em 2008.12 O volume de recursos obtido pelo setor
por captaes primrias entre 2005 e fevereiro de 2010 chegou a R$ 17,4 bilhes.
Cabe lembrar o fato de que o perodo de construo extenso, por isso o finan-
ciamento tem a funo de compatibilizar a grande defasagem temporal entre as
despesas operacionais e a receita operacional proveniente da venda do empreen-
dimento. Ademais, o produto final da construo apresenta um elevado valor mo-
netrio. necessrio, portanto, que o cliente seja financiado, o que frequente no
segmento de edificaes residenciais. Os impactos negativos da crise sobre o setor
de construo civil podem ser mais bem visualizados no Grfico 6, pela queda que
ocorreu no setor do terceiro trimestre de 2008 ao primeiro trimestre de 2009.
10 Ao traar o perfil dessa indstria, o Sebrae-MG (2005) afirma que pequena a participao do emprego formal na parcela total de empregados ocupados no setor. A Cmara Brasileira da Indstria da Construo (CBIC) corrobora essa afirmao ao informar que, em 2004, para cada R$ 1 milho investidos, geravam-se de forma direta 16 empregos formais e 66 informais.
11 A autogesto est associada construo na qual o cliente responsvel pelo gerenciamento da obra, com-prando os materiais de construo e contratando a mo de obra necessria. J a autoconstruo aquela na qual o cliente no apenas gerencia a sua obra, como emprega sua fora de trabalho na construo.
12 Dados da Consultoria Economtica, mencionados no site: .
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GRFICO 6: EVOLUO TRIMESTRAL DA CONSTRUO CIVIL NO BRASIL
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000I2003 III2003 I2004 III2004 I2005 III2005 I2006 III2006 I2007 III2007 I2008 III2008 I2009 III2009 2010
Construo civil Tendncia linear da construo civil Tendncia linear ps-crise
Em
R$
mil
h
es
Fonte: IBGE.
Entretanto, se analisada a tendncia da evoluo da construo civil (Grfico 6),
nota-se que houve, em 2009, crescimento superior quele que vinha sendo obser-
vado em anos anteriores, o que reflete os efeitos das vrias medidas anticclicas
adotadas no Brasil para minimizar os efeitos da crise.
Segundo a Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI),13 o seg-
mento de edificaes comerciais dependente, em grande parte, do capital es-
trangeiro. As empresas que atuam no segmento de construo pesada, que tm,
em geral, operaes internacionais, tambm sofreram de forma direta os efeitos
da restrio do crdito, tendo em vista que suas estruturas de financiamento mais
frequentes (project finance, corporate finance, parceria pblico-privada etc.) so
dependentes, em diferentes graus e formas, do capital estrangeiro.
O segmento de edificaes residenciais tambm sentiu o impacto da crise, como
pode ser observado na queda dos financiamentos, tanto para aquisio quanto para
construo, do Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo (SBPE), conforme
o Grfico 7. Esse sistema composto de depsitos de poupana voluntria e, por isso, mais vulnervel s oscilaes da economia brasileira.
13 Relatrio de Acompanhamento setorial, janeiro de 2009.
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GRFICO 7: EVOLUO DO CRDITO PROVENIENTE DO SBPE
4.000
3.500
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
Em
R$
mil
h
es
jan
/07
mar
/07
mai
/07
jul/0
7
set/
07
no
v/07
jan
/08
mar
/08
mai
/08
jul/0
8
set/
08
no
v/08
jan
/09
mar
/09
mai
/09
jul/0
9
set/
09
Fonte: Banco Central do Brasil.
Entretanto, a fim de minimizar os efeitos dessa crise, vrias foram as medidas
anticclicas adotadas no Brasil que contriburam para a recuperao em 2009.
Entre essas medidas, esto a desonerao tributria de alguns materiais de cons-
truo e a expanso do crdito para habitao, em particular com o Programa
Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), como tambm o aumento do aporte de
recursos para investimentos no mbito do PAC.
Impacto da reduo tributria
A poltica de desonerao tributria, no incio de 2009, tornou-se uma me-
dida estratgica para o governo, como forma de enfrentar os efeitos da crise
mundial. Entre as vrias medidas de reduo dos tributos, como PIS, Cofins
e Imposto de Renda, a principal foi a do Imposto sobre Produtos Industriali-
zados (IPI), que levou, em especial, queda dos preos dos materiais para a
construo civil, contribuindo para a reduo de custos do setor. Em 2009,
mais de 90 itens da construo apresentavam desonerao completa ou parcial.
Em virtude do longo perodo de maturao dos investimentos no setor de construo
civil, prorrogou-se para meados de 2010 a reduo da alquota de IPI, prin-
cipalmente para os seguintes itens: cimento, tinta, verniz, banheiras, box,
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ladrilhos, revestimentos e vergalhes. Com esse adiamento do fim da desonerao, a
Associao Brasileira das Indstrias de Materiais de Construo (Abramat)14
afirma que o faturamento das empresas que compem essa indstria ser 15%
maior. O Grfico 8 possibilita observar os efeitos dessas polticas sobre o nvel
de utilizao da capacidade instalada da indstria de material de construo.
GRFICO 8: NVEL DE UTILIzAO DA CAPACIDADE INSTALADA NA INDSTRIA DE MATERIAIS DE CONSTRUO
95
90
85
80
75
701T05 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06 3T06 4T06 1T07 2T07 3T07 4T07 1T08 2T08 3T08 4T08 1T09 2T09 3T09 4T09 1T10 2T10
Em
%
Fontes: FGV, ConstruBusiness (2009), LCA.
Impacto da expanso do crdito aps a crise
As principais fontes de recursos para o Sistema Financeiro da Habitao
(SFH) so as seguintes: a poupana voluntria proveniente dos depsitos de
poupana do SBPE; e a poupana compulsria proveniente dos recursos do Fundo
de Garantia do Tempo de Servio (FGTS), cujo papel de agente operador
cabe Caixa Econmica Federal (Caixa). O Grfico 9 mostra a evoluo
das duas fontes de recursos.
14 Disponvel em: .
318
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GRFICO 9: EVOLUO DAS DUAS PRINCIPAIS FONTES DE RECURSOS PARA FINANCIAMENTO NO SFH
60
50
40
30
20
10
-2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Em
R$
bil
h
es
SBPE FGTS
Fontes: Banco Central do Brasil e Caixa.
Como se percebe no Grfico 9, os recursos do FGTS para financiamento
no SFH foram majoritrios at o ano de 2006, quando os recursos do SBPE
iniciaram uma trajetria de crescimento acelerado. Em 2009, os recursos
do SBPE representaram 68% do total de fonte de recursos (FGTS+SPE).
Os recursos do FGTS apresentaram crescimento de 2% na sua participao
nesse total em 2009, dado que o programa de financiamento habitacional
PMCMV utiliza-se desse fundo.
A implementao do PMCMV e a expanso da atuao de bancos pbli-
cos foram os responsveis pela duplicao do crdito habitacional em 2009,
segundo a Caixa.15 Ainda se estima para o ano de 2010 um crescimento
de 30% do volume de crdito habitacional.16 O Grfico 10 mostra a dis-
tribuio dos recursos do SFH por tipo de banco, no qual se observa a
predominncia dos bancos pblicos.
15 Fonte: .
16 Fonte: .
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GRFICO 10: CRDITO DO SFN PARA HABITAO POR TIPO DE BANCO
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
Em
R$
mil
h
es
Pblico Privado nacional Privado estrangeiro
mai
/02
set/
02
mai
/03
set/
03
jan
/03
mai
/04
set/
04
jan
/04
mai
/05
set/
05
jan
/05
mai
/06
set/
06
jan
/06
mai
/07
set/
07
jan
/07
mai
/08
set/
08
jan
/08
mai
/09
set/
09
jan
/09
mai
/10
jan
/10
Fonte: Banco Central do Brasil.
Ainda no Grfico 10, percebe-se a baixa participao do crdito concedido por
bancos estrangeiros na construo habitacional, que, associada, em parte, regula-
o bancria, reduziu o canal direto de transmisso dos efeitos da crise mundial.
Comparao entre o desempenho da construo civil brasileira, europeia e americana em face da crise internacional recente
Como o financiamento essencial para construtores e clientes, o impacto da crise do
sistema financeiro internacional deveria ter sido devastador. Contudo, o mercado de
construo civil no residencial no sofreu pesadamente os efeitos da crise recente.
Houve uma forte atuao dos governos, que tm mantido as encomendas de constru-
o voltadas para a infraestrutura, mantendo as empreiteiras. Contudo, as empresas
que atuam nos mercados globais foram preteridas em benefcio das locais nas polticas
de incentivos que os diversos governos implementaram para reduzir seus impactos.
Na Europa, a construo residencial ainda apresenta ndices negativos de cresci-
mento, mas nos Estados Unidos, apesar de a construo ainda estar em queda, os
preos dos imveis expressam tentativas de recuperao.
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No Brasil, o setor (construo residencial, no residencial e construo pesada)
apresenta um desempenho bom, mas no suficiente, pois o dficit habitacional e
de infraestrutura ainda expressivo.
O setor tem se reestruturado e se adaptado, mesmo porque o setor financeiro brasilei-
ro reagiu bem crise. O governo, por sua vez, tem implementado medidas de incen-
tivo, estabelecendo programas especficos e destinando novas fontes de recursos.
ComPEtItIvIdAdE do SEtor dE ConStruo CIvIL
O setor de construo civil composto de subsetores cujas atividades se
inter-relacionam e que apresentam dinmicas de mercado distintas. Por isso, para
compreender essas diferenas, preciso dividir a construo civil nos seguintes
subsetores:17 edificaes e construo pesada.
Quando se estuda a cadeia de construo civil, inclui-se o subsetor de materiais de
construo, dada a sua relevncia. Contudo, neste trabalho, consideram-se apenas
os subsetores que fazem os produtos finais de construo civil. Embora integrem
a mesma cadeia, algumas das grandes empresas de materiais de construo atuam
em outros mercados e esto bastante ligadas aos mercados de autoconstruo e
autogesto, que tambm no sero abordados neste texto.
17 fundamental relacionar a diviso adotada neste estudo com a classificao adotada pelo IBGE na ltima verso da Classificao Nacional de Atividades Econmicas (CNAE 2.0), visto que os dados utilizados para a anlise do setor so produzidos pelo IBGE. Segundo a CNAE 2.0, o setor de construo est classificado em trs divises: a diviso 41, que engloba a construo de edifcios em geral, as reformas e manutenes e a atividade de incorporao imobiliria; a diviso 42, que trata das obras de infraestrutura em geral e da montagem de instalaes industriais; e a diviso 43, que abarca os servios especializados que fazem parte do processo de construo, como a preparao do terreno para construo, as instalaes eltricas e hidru-licas e as obras de acabamento. O paralelo da CNAE com a diviso adotada ocorre da seguinte maneira: o segmento de edificaes corresponde diviso 41, enquanto o segmento de construo pesada corresponde diviso 42. Por fim, a diviso 43 corresponde aos subempreiteiros do esquema acima, que atuam por meio de subcontratao, tanto para o segmento de edificaes quanto para o segmento de construo pesada. Vale ressaltar que as empresas de construo responsveis normalmente realizam esses servios por conta prpria, sem necessidade de contratao de terceiros.
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A indstria da construo civil apresentava, em 2007, grande quantidade de
empresas de pequeno porte, segundo a Paic. No entanto, so as empresas de
maior porte, isto , aquelas com mais de 30 empregados, que detm maior par-
ticipao sobre o valor das obras, o que caracteriza a concentrao nesse setor,
como pode ser observado no Grfico 11.
GRFICO 11: DISTRIBUIO PERCENTUAL DO NMERO DE EMPRESAS E EMPREGADOS E VALOR DAS OBRAS (2007)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0Nmero de empresas Pessoal ocupado Valor das obras e/ou
servios da construo (R$ milhes)
Em
%
De 1 a 4 empregados De 5 a 29 empregados Com 30 ou mais empregados
10.560
22.679
79.308
1.181.703
310.653
317.901
96.628
16.561
14.142
Fonte: Paic/IBGE, 2007.
Essa indstria integrada por grandes empresas que atuam em diversos
segmentos de atividade, construo pesada e edificaes, e algumas perten-
cem a grandes grupos com forte atuao internacional (atuam em mais de seis
pases). O Grfico 12 mostra as 100 maiores empresas de construo, segundo
a revista o Empreiteiro,18 e relaciona o nmero de segmentos em que atuam
e seus faturamentos. Desse grfico, percebe-se que essas empresas apresentam
um faturamento mdio de R$ 500 milhes, e a maioria tem atuao em mais
de oito segmentos diferentes.
18 Disponvel em: .
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GRFICO 12: FATURAMENTO x NMERO DE SEGMENTOS DE ATIVIDADES 100 MAIORES CONSTRUTORAS EM 2008
- 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
N
me
ro d
e s
eg
me
nto
s
Faturamento (R$ milhes)
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Fonte: o Empreiteiro (2009).
As empresas mais especializadas atuam nos segmentos de edificao, comer-
cial e residencial, construo de condomnios horizontais e incorporao. Essas
atividades esto bastante relacionadas, haja vista que as tcnicas produtivas so
semelhantes.
Outra caracterstica observada no Grfico 12 o distanciamento das cinco maio-
res empresas do outro conjunto de empresas. Elas so empresas brasileiras, que
tm atuao internacional e que se diferenciam da grande parte das empresas do
setor por exercerem atividades em mais segmentos que a maioria.
Produtividade
Com base nos dados da Paic e do ndice Nacional da Construo Civil (INCC),
observa-se que o setor apresentou uma perda de produtividade real por traba-
lhador de 30,2%, entre o perodo de 2003 a 2007, alcanando nesse ano um
produto mdio real por trabalhador de R$ 43.069,82, pois houve um aumento
do nmero de trabalhadores por nmeros de empresas em torno de 21% nesse
quinqunio.
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O Grfico 13 demonstra a evoluo dos componentes do custo mdio da cons-
truo civil, deflacionados pelo INCC. Percebe-se a predominncia dos custos
de material sobre os custos com a mo de obra, embora esse apresente cresci-
mento real de 7%.
GRFICO 13: EVOLUO DOS COMPONENTES DO CUSTO MDIO DA CONSTRUO CIVIL DEFLACIONADOS PELO INCC (OUTUBRO DE 2004 A MAIO DE 2010)
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0out/04 abr/05 out/05 abr/06 out/06 abr/07 out/07 abr/08 out/08 abr/09 out/09 abr/10
Custo mdio deflacionado do material Custo mdio deflacionado da mo de obra
Fontes: Paic e FGV.
A questo do custo do material traz tona a complexidade e a extenso do
arcabouo institucional do setor, que, segundo Monteiro Filha et al. (2009),
dificulta ao pas superar o desafio da racionalizao da atividade construtiva, que
uma condio necessria para a obteno de ganhos de produtividade por meio
do aumento de escala. Pode-se perceber no Grfico 14 a desvantagem do Bra-
sil, se comparados os prazos mdios de licenciamento e de obras de edificao
nos Estados Unidos e na Unio Europeia.
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GRFICO 14: COMPARAO DOS PRAzOS MDIOS DE LICENCIAMENTO E DE OBRAS DE EDIFICAO
70
60
50
40
30
20
10
0
Prazo mdio de licenciamento (em dias) Prazo mdio de mo de obra (em meses)
Brasil EUA Unio Europeia
66
30
44
30
1014,3
Fonte: CGEE (2009).
Determinantes da competitividade
Os fatores determinantes da competitividade variam de acordo com cada subsetor
estudado: edificao (separando-se residencial de comercial) e construo pesada.
No subsetor de construo pesada, os determinantes da competitividade so a
capacidade de gerenciamento de contratos e integrao de produtos de subcontra-
tantes escolhidos, bem como o relacionamento com os detentores de tecnologia.
Em edificao, podem-se distinguir dois tipos que tm diferentes fatores determi-
nantes de competitividade:
- residencial: o principal fator o custo, tendo em vista que o produto final apre-
senta elevado valor; o preo e o financiamento so outros fatores importantes na
deciso do consumidor [Barros (2003)]; e
- comercial, em especial hospitais, hotis e shopping centers: o fator crtico a
entrega, em que prazo, garantia e rapidez da entrega da obra so determinantes.
Especificamente nas edificaes residenciais, as estruturas de mercados exis-
tentes dificultam o crescimento desse segmento, o que contribui para o dficit
325
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PeRSPeCtIVAS DO InVeStIMentO 2010-2013
habitacional, como mostrado em Monteiro Filha et al. (2010). Os dficits habita-
cionais histricos, qualitativos e quantitativos, so expressos nos seguintes dados:
a) cerca de 31,2% dos domiclios urbanos tm alguma carncia de infraestrutura;
b) mais de 1,5 milho de habitaes so consideradas precrias; e c) h um dficit de
6,4 milhes de novas moradias que precisariam ser construdas em reas urbanas.19
As falhas de mercado existentes, decorrentes principalmente da falta de padronizao
dos produtos e processos, que tornam mais elevado o custo e, consequentemente,
o preo, assim como as dificuldades de obter financiamento, reduzem as possibilida-
des de aquisio de moradia, principalmente para a populao de baixa renda.
Entretanto, preciso frisar que no faltam empresas capazes de empregar novas tcni-
cas mais padronizadas. E, com relao estrutura de oferta, no se identificam maiores
dificuldades tcnicas para construo de edificaes residenciais em massa.
No que se refere aos regimes de construo (por contrato, autogerida residen-
cial e imobiliria), pode-se perceber que apenas direcionam a preferncia para
investimentos, no sendo empecilhos determinantes ampliao de edificaes
residenciais, uma vez que o dficit habitacional muito grande e no h excesso
de moradias em nenhuma das faixas de renda da populao.
Contudo, alm das falhas de mercado, existem tambm as chamadas falhas de
governo e de coordenao do setor.20
Podem-se considerar falhas de governo a defasagem da normalizao tcni-
ca do setor com relao ao que ocorre em outros pases, como Estados Unidos,
Gr-Bretanha e Espanha, o que, somado existncia de diferenas significativas
entre os cdigos de obras municipais, dificulta a introduo de inovaes desej-
veis para acelerar as construes, como a padronizao e a industrializao dos
processos construtivos. Existe ainda grande dificuldade no estabelecimento de cri-
trios necessrios homologao, avaliao ou aprovao de produtos ou pro-
cessos construtivos inovadores, sendo que o mesmo acontece com a certificao
ambiental. No Brasil, so pouqussimas as instituies tcnicas aptas a avaliar as
19 Fonte: Fundao Joo Pinheiro (2006), in Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat.20 Ver Monteiro Filha et al. (2010).
326
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ILPeRSPeCtIVAS DO InVeStIMentO 2010-2013
inovaes e as certificaes. Portanto, pode-se constatar que a normatizao, alm
de defasada, no especfica e/ou executvel no curto prazo. Ademais, h o excesso
de burocratizao e a descoordenao entre os rgos das trs esferas de governo.
A falta de padronizao de produtos e processos, decorrente, em grande parte, do
tipo de formatao da cadeia produtiva, pode explicar as falhas de coordenao.
preciso, pois, chamar ateno para certa descoordenao do setor de materiais de
construo, pois existem grandes empresas/grupos econmicos (como cimento e
ao) que so price makers, vendendo principalmente para os mercados de autocons-
truo e de autogesto.
Nesse contexto, a poltica de financiamento pode ser definidora de um alinhamento
dos interesses ao longo da cadeia de construo civil, uma vez que pode se utilizar o
acesso ao crdito como um incentivo para que cada elo da cadeia venha a interessar-se
por inovar e atender a critrios mnimos e evolutivos de melhoria contnua.
Contudo, apesar de tais desafios, o pas est em um momento de convergncia
de ideias sobre a necessidade de inovar no setor, tendo em vista que as inovaes
propostas no projeto Inovao Tecnolgica da Cmara Brasileira da Indstria da
Construo (CBIC) so compatveis com as do governo, quais sejam: (a) as que
se preocupam com caractersticas de desempenho aos edifcios; (b) as que afetam
o processo produtivo; (c) as que dizem respeito aos processos internos das empre-
sas; e (d) as que se referem promoo e colocao no mercado.
Ademais, na definio de prioridades competitivas e na estratgia de produo
de algumas grandes empresas, pode-se perceber que o mercado de menor renda
est sendo analisado, uma vez que esto entrando cada vez mais nesse mercado.
Essas empresas tm qualificao tcnica para introduzir as inovaes e a possi-
bilidade de comandar a cadeia, coordenando-a. Ao mesmo tempo, tm interesse
de reduzir o custo e o tempo de produo para ampliar a viabilidade econmica
desses empreendimentos. Por isso, possvel acreditar que seja do interesse des-
sas grandes empresas desenvolver inovaes que levem introduo da constru-
o industrializada no pas.
327
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PeRSPeCtIVAS DO InVeStIMentO 2010-2013
Portanto, pode-se concluir que, embora haja um longo caminho a ser percorrido,
existem interesses comuns e aes em desenvolvimento capazes de fazer com
que a construo civil se modernize, aumente sua produtividade e passe a de-
senvolver inovaes que busquem racionalizao, padronizao e aumento de
escala, com sustentabilidade.
PErSPECtIvAS dE InvEStImEntoS
Comportamento e estimativas dos investimentos em construo civil
Os investimentos em construo civil apresentaram no longo prazo um ciclo posi-
tivo de 1963 a 1981, sendo que aps esse ano o comportamento da curva foi irre-
gular, conforme Grfico 15. De 2003 em diante, possvel acreditar no incio de
uma fase ascendente de um novo ciclo, que foi interrompida em 2009 em virtude
dos efeitos da crise econmica mundial.
Houve postergao dos investimentos, dadas as incertezas e as dificuldades na
obteno de crdito. Segundo os clculos da FGV & Abramat (2009c), para
2010, foi estimado que a construo civil brasileira ter um incremento de 8,8%.
Contudo, no perodo de 1960 a 2008, percebe-se uma tendncia de crescimento
mdio em torno de 5%.
GRFICO 15: TAxAS REAIS DE CRESCIMENTO DO SETOR DE CONSTRUO CIVIL
25
20
15
10
5
01960 1967 1974 1995
-5
-10
-15
-20
1981 1988 2002 2009
Fonte: Ipeadata.
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Vale destacar que o PIB, assim como o investimento (FBCF), um fator relacio-
nado ao comportamento do setor de construo civil, conforme pode ser visto no
Grfico 16, no qual se observa que as trs variveis apresentam o mesmo com-
portamento: quando uma varivel cresce de um intervalo de tempo para outro, as
outras tambm apresentam crescimento, e vice-versa.
GRFICO 16: TAxAS MDIAS DE CRESCIMENTO DO SETOR DE CONSTRUO CIVIL, DO PIB E A FBCF EM PERODOS DE 5 ANOS (1971-2009)
20
15
10
5
0
-5
Construo civil PIB FBCF
1971-1975 1976-1980 1981-1985 1986-1990 1991-1995 1996-2000 2001-2005 2006-2009
Fonte: Ipeadata.
Com base nessa inferncia, possvel projetar taxas de crescimento observando o
histrico do comportamento do setor de construo civil e a perspectiva de investi-
mento futuro dos programas de governo. No trabalho, consideraram-se o MCMV,
o PAC-1 e a programao de investimentos para os jogos esportivos. Cabe lem-
brar, contudo, que os nmeros assim obtidos poderiam ainda sofrer alguma alte-
rao decorrente da possibilidade de mudanas estruturais no setor de construo
civil, assim como do PAC-2.21
21 Estimativas posteriores elaborao deste artigo apontam um crescimento endgeno do segmento de edificaes de: 11% em 2011; 6% em 2012; e 5% em 2013. Considerando-se os investimentos do PAC-2 (comunidade cidad, PMCMV 2 fase e urbanizao de assentamentos precrios) e as revises do PAC-1 (habitao) e Copa 2014 (hotis, hospitais e arenas), o crescimento do segmento passaria a: 21% em 2011; 29% em 2012; e 20% em 2013.
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Estimativas
Primeiro passo
Para a previso da formao bruta de capital fixo da construo civil, com base no com-
portamento histrico do setor, foram utilizadas as variaes reais do PIB e da formao
bruta de capital do Brasil, incluindo-se tambm as estimativas de crescimento dessas
mesmas variveis, para 2010 e 2012, obtidas da rea de Pesquisa e Acompanhamento
Econmico (APE) do BNDES. Os resultados so apresentados na Tabela 5.
TABELA 5: PROJEO DA TAxA DE CRESCIMENTO REAL DO SETOR DE CONSTRUO CIVIL
Construo civil (em %)
2010 6,2
2011 7,2
2012 6,2
2013 2,4
Taxa de crescimento mdio (2010-2013) 5,5
Fonte: Elaborao prpria, com base em dados da construo civil.
Segundo passo
As perspectivas de crescimento calculadas no passo anterior, considerando os pro-
gramas pblicos, como PAC-1, PMCMV e eventos esportivos, elevam as taxas de
crescimento do setor. Cabe notar que as taxas de crescimento mais significativas
seriam no subsetor de edificaes, em funo do PMCMV e, principalmente, da
realizao da Copa do Mundo e dos Jogos Olmpicos.
Para a elaborao das estimativas, verificou-se que a participao dos subsetores
de construo pesada e de edificao historicamente respondem, em mdia, por
59% e 41%, respectivamente, como pode ser constatado no Grfico 17.
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GRFICO 17: EVOLUO DAS PARTICIPAES DOS SUBSETORES DA CONSTRUO CIVIL
70
60
50
40
30
20
10
02002 2003 2004 2005 2006 2007
Edificao Construo pesada
Em %
Fonte: Paic/IBGE.
Tendo em vista essa participao mdia dos subsetores na construo civil, dis-
triburam-se os investimentos provenientes dos programas do governo, e foram
obtidas as taxas de crescimento expostas na Tabela 6.
TABELA 6: PROJEO DAS TAxAS DE CRESCIMENTO CONSIDERANDO OS INVESTIMENTOS ESPERADOS (EM %)
Construo civil Edificao Construo pesada
2010 9 14 6
2011 11 13 10
2012 7 8 6
2013 3 3 2
Taxa mdia anual 7 9 6
Fonte: Elaborao prpria.
Para o subsetor de construo pesada, foram considerados os investimentos em obras
civis financiados com recursos pblicos associados ao PAC-1. Foram includos na
projeo apenas 26,6% dos investimentos totais desse programa.22 Quanto ao sub-
setor de edificaes, foram analisados os investimentos provenientes do PMCMV e
dos eventos esportivos, tendo-se estimado que 80% dos recursos necessrios seriam
pblicos. A Tabela 7 apresenta essas perspectivas de investimento, cuja origem so
programas pblicos, distribudas por segmentos da construo civil.
22 Esse nmero representa uma mdia das estimativas setoriais da participao de investimentos pblicos em obras civis.
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TABELA 7: PERSPECTIVAS DE INVESTIMENTOS PARA A CONSTRUO CIVIL PROVENIENTES DE PROGRAMAS PBLICOS (EM R$ BILHES)
Valor total dos investimentos
Total 107,8
1. Construo pesada 27,5
PAC 27,5
2. Edificaes 80,3
PMCMV 21,0
Eventos esportivos 59,3
Fonte: Elaborao prpria, com base em dados primrios do PAC (2010), FGV & Abramat (2009c) e PMCMV.
OBS: O valor do PAC refere-se a 55% do faturamento das empresas de construo pesada.23
Cabe voltar a lembrar que seria possvel considerar maiores taxas de crescimento
se fossem includas as propostas para apoiar polticas inovadoras no setor que esto
sendo discutidas em nvel de governo. Entretanto, difcil dimensionar taxas de
crescimento para esse cenrio no mercado de construo civil. Esta seria a proposta
de crescimento de mercado de construo industrializada, que necessita, entretanto,
de um esforo de coordenao da cadeia produtiva para vencer grandes desafios
embutidos nessa proposta, conforme exposto em Monteiro Filha et al. (2009).
preciso mencionar que os valores de construo pesada da Tabela 7 referem-se
apenas ao investimento em obras civis com recursos pblicos.
Anlise dos investimentos pblicos para a construo civil
Construo pesada
O subsetor de construo pesada rene as atividades relacionadas infraestrutura,
como saneamento e transporte e energia eltrica. Dessa forma, o PAC, que em sua
maioria est voltado para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira, mostra-se
como uma importante perspectiva de investimento.
23 Fonte: .
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Programa de Acelerao do Crescimento
O Programa de Acelerao do Crescimento 1 (PAC-1), que comeou em 2007 e
estende-se at 2010, visa expandir os investimentos em infraestrutura brasileira,
estimulando, por consequncia, outros setores. Esses investimentos esto agrupa-
dos em trs reas: infraestrutura logstica, que envolve a construo e a ampliao
de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias; infraestrutura energtica,
que corresponde gerao e transmisso de energia eltrica, produo, explora-
o e transporte de petrleo, gs natural e combustveis renovveis; e infraestru-
tura social e urbana, que engloba saneamento, habitao, metrs, trens urbanos,
programa Luz para Todos e recursos hdricos (como a transposio do rio So
Francisco). Todas essas reas apresentam impactos, diretos ou indiretos, sobre o
setor de construo civil.
Os investimentos previstos para a rea de infraestrutura logstica so de cerca de
R$ 58,3 bilhes (11,6% do total dos investimentos); para a energtica, R$ 274,8
bilhes (54,5%); e para a social e urbana, R$ 170,8 bilhes (33,9%). Contudo, no
incio de 2009, a fim de promover um esforo anticclico diante da crise mundial,
o aporte desse programa ampliou-se em R$ 142 bilhes, alcanando um total de
investimentos previstos de R$ 646 bilhes.
At dezembro de 2009, a rea de infraestrutura social e urbana foi a que teve
maior volume de investimentos concludos R$ 144 bilhes , sendo 96% desses
recursos destinados a financiamento e construo habitacional. A rea de energia
apresentou R$ 72,4 bilhes, concentrando grande parte dos investimentos em se-
tores de combustveis e petrleo, ao passo que a gerao e a transmisso de energia
detiveram apenas um quarto do total. Por fim, a rea de logstica foi a que apresen-
tou menos investimentos concludos R$ 42,4 bilhes , sendo 69% destinados
s rodovias.
Os Grficos 18 e 19 mostram o andamento das aes do PAC at dezembro de
2009. O primeiro relativo ao valor dos investimentos, enquanto o segundo
relativo quantidade de aes. Dessa maneira, observa-se que as aes concludas
so de valores mdios menores do que aquelas que esto em obras.
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GRFICO 18: DISTRIBUIO DOS VALORES DAS AES PELOS ESTGIOS
Concluda Em obras Projeto ou licenciamento Licitao de obra
31%
56%
9%
4%
Fonte: PAC (2010).
Obs: Excluem-se as aes relativas a financiamento habitacional e saneamento.
GRFICO 19: DISTRIBUIO DA QUANTIDADE DE AES PELOS ESTGIOS
Concluda Em obras Projeto ou licenciamento Licitao de obra
55%32%
8%
5%
Fonte: PAC (2010).
Obs: Excluem-se as aes relativas a financiamento habitacional e saneamento.
Os investimentos previstos para depois do ano de 2010 somam R$ 114 bilhes
para o subsetor de construo pesada e em torno de R$ 20 bilhes para edificaes,
conforme a distribuio por segmentos apresentada na Tabela 8.
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TABELA 8: INVESTIMENTOS PREVISTOS PELO PAC PARA DEPOIS DE 2010 DISTRIBUDOS POR SEGMENTOS
Investimentos (em R$ milhes) Part. %Construo pesada
Ferrovia 39.670 29,3
Refino e petroqumica 38.700 28,6
Gerao de energia 33.878 25,1
Combustveis renovveis 1.500 1,1
Rodovia 835 0,6
Aeroporto 278 0,2
Subtotal 114.860 84,9
Edificao
Habitao 7.874 5,8
Saneamento 12.480 9,2
Subtotal 20.354 15,1
Total 135.214 100,0
Fonte: PAC (2010).
Embora o PAC tenha sua vigncia at o ano de 2010, provavelmente algumas
obras ultrapassaro esse prazo, podendo se estender at 2018.24 Como exemplos
desse prolongamento das obras esto as refinarias em Pernambuco e Rio de Janei-
ro, bem como usinas hidreltrica e nuclear, que tm como previso de incio das
operaes entre 2015 e 2017.
Os investimentos listados na Tabela 8 destinam-se apenas em parte para construo.
Para estimar esse percentual, consideram-se informaes do quadro de usos e fon-
tes de alguns projetos dos principais segmentos de infraestrutura do PAC, uma vez
que eles so razoavelmente constantes em projetos de infraestrutura. Dessa maneira,
estima-se que, em geral, 55,8% dos investimentos estejam voltados para obras.
Considerando os prazos previstos, a distribuio dos investimentos ao longo do
tempo foi linear de 2011 a 2013.
Vale destacar que o PAC visa tambm induzir os investimentos privados, utilizan-
do medidas institucionais, como a desonerao tributria, a melhoria do sistema
tributrio, o estmulo ao crdito e ao financiamento, melhoria do ambiente do in-
vestimento e medidas de gesto. Todas essas medidas visam reduzir os custos dos
investimentos e facilitar os crditos.
24 Fonte: Anurio Exame 2009-2010.
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Edificaes
Responsvel pela construo de edifcios residenciais e comerciais, o subsetor de
edificaes agrupa tambm as atividades relacionadas a reforma e manuteno. A
Tabela 9 apresenta os valores de obra segundo as atividades pelas quais o subsetor
de edificaes responsvel.
TABELA 9: VALOR DE OBRA E PARTICIPAES DAS ATIVIDADES DO SUBSETOR DE EDIFICAES EM 2009
Atividade Valor da obra (em R$ mil) Part. %Edificaes residenciais 25.691.117 41,8
Outras edificaes no residenciais 14.492.595 23,6
Edificaes comerciais 12.608.321 20,5
Edificaes industriais 8.204.027 13,4
Montagem de edificaes pr-fabricadas 206.950 0,3
Instalaes desportivas 161.688 0,3
Partes de edificaes 59.545 0,1
Total 61.424.243 100,0
Fonte: Paic (2009).
Esse subsetor vem acumulando sucessivas taxas de crescimento de 2002 a 2007,
apresentando uma taxa mdia anual de 12,3%. A edificao residencial no apre-
sentou um crescimento expressivo frente aos outros tipos de edificaes. O Grfi-
co 20 apresenta o crescimento acumulado no perodo de cada atividade.
GRFICO 20: CRESCIMENTO ACUMULADO DAS ATIVIDADES DE EDIFICAO NO PERODO DE 2002 A 2007 (2002=100)
Edificaes Edificaes residenciais Outras edificaes no residenciais Edificaes comerciais Edificaes industriais
Montagem de edificaes pr-fabricadas Instalaes desportivas Partes de edificaes
400
350
300
250
200
150
100
50
02002 2003 2004 2005 2006 2007
362
212
178
167154
65
4540
Fonte: Paic (2007).
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Assim, as perspectivas de investimento para esse subsetor so as seguintes: o
PMCMV para a expanso das habitaes, em particular as de baixa renda; os in-
vestimentos do PAC destinados a habitao e saneamento j mencionados anterior-
mente; e os eventos esportivos que sero realizados no pas, cujos financiamentos
esto includos no subsetor de edificaes, embora no seja possvel determinar as
parcelas desses gastos que so residenciais ou comerciais.
Cabe ressaltar que, embora o segmento de edificao comercial tenha apresentado
um grande crescimento no perodo 2002-2007 (ver Grfico 20), as perspectivas de
investimentos de construo de shopping centers, supermercados, lojas etc. so
oriundas de investimentos privados, que j esto sendo considerados no primeiro
passo, no qual o setor de construo civil segue o comportamento do crescimento
da economia como um todo.
Programa Minha Casa, Minha Vida
Lanado em maro de 2009, o programa de financiamento habitacional da Caixa
denominado Minha Casa, Minha Vida prev a construo de um milho de resi-
dncias com a concesso de subsdios, cujos valores estimados somam cerca de
R$ 34 bilhes.
Esse programa compreende o seguinte:
Programa Nacional de Habitao Urbana (PNHU);
Programa Nacional de Habitao Rural (PNHR);
transferncia de recursos ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) e ao
Fundo de Desenvolvimento Social (FDS);
subveno econmica aos municpios de pequeno porte;
participao da Unio no Fundo Garantidor da Habitao Popular (FGHab); e
subveno econmica ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e
Social (BNDES).
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A Tabela 10 demonstra a distribuio das fontes de recursos para a realizao
desse programa, na qual se observa a participao de cerca de 47% do FGTS
sobre o total de recursos.
TABELA 10: DISTRIBUIO DAS FONTES DE RECURSOS DO PMCMV (EM R$ BILHES)
Programa Unio FGTS Total
Subsdio para moradia 16 16
Subsdio em financiamentos do FGTS 2,5 7,5 10
Fundo Garantidor em financiamentos do FGTS 2 2
Refinanciamento de prestaes 1 1
Seguro em financiamentos do FGTS 1 1
Subtotal 20,5 7,5 28
Financiamento infraestrutura 5 5
Financiamento cadeia produtiva 1 1
Total 25,5 8,5 34
Fonte: PMCMV.
O PMCMV visa compatibilizar a prestao da casa prpria com a capacidade de
pagamento da famlia. Assim, esse programa diferencia-se em trs grupos, que va-
riam conforme a renda da famlia, que pode ser at 10 salrios mnimos. O Quadro 1
demonstra distribuio de subsdios segundo as trs faixas de renda.
QUADRO 1: DISTRIBUIO DE SUBSDIOS DO PMCMV
Famlias com renda Subsdios
At 3 salrios mnimos Subsdio integral com iseno de seguro
De 3 a 6 salrios mnimosAumento do subsdio parcial em financiamentos com reduo dos custos do seguro e acesso ao Fundo Garantidor
De 6 a 10 salrios mnimosEstmulo compra com reduo dos custos do seguro e acesso ao Fundo Garantidor
Fonte: PMCMV.
Essa poltica no se restringe apenas oferta de subsdios, mas tambm visa re-
duzir os prazos e procedimentos relacionados ao licenciamento ambiental e tem a
inteno de promover a qualidade das construtoras, dos materiais de construo e
da construo industrializada. Essas medidas tm como objetivos a agilizao do
ciclo produtivo e o barateamento de custos cartoriais.
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No todo, segundo outro estudo da FGV & Abramat (2009c) sobre subsdios pol-
tica anticclica, estima-se que o PMCMV promover um crescimento anual do PIB
da construo civil em torno de 8,2%, que representar um acrscimo de 0,7 ponto
percentual no PIB da economia como um todo em 2009 e 2010.
Eventos esportivos
O Brasil sediar os dois maiores eventos mundiais do esporte: a Copa do Mundo
de futebol, em 2014, e os Jogos Olmpicos, em 2016. Ambos os eventos exigiro
investimentos na construo e na adequao de estdios e tambm em infraestrutura
e em hotis. Sero necessrios investimentos adicionais em torno de R$ 60 bilhes,
distribudos em seis anos, de acordo com o cronograma apresentado no Grfico 21.
GRFICO 21: CRONOGRAMA DOS INVESTIMENTOS DIRECIONADOS AOS EVENTOS ESPORTIVOS
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
02011 2012 2013 2014 2015 2016
Em
R$
bil
h
es
4,5
7,5
17,9
11,8
13,2
4,4
Fonte: FGV & Abramat (2009c).
Esses investimentos, aliados forte atrao turstica, tm efeitos diretos e indiretos sobre
o crescimento da economia do pas que recebe os jogos, como pode ser observado na Ta-
bela 11. A Alemanha recebeu mais de um milho de turistas no perodo do evento espor-
tivo, em 2006, resultando em uma arrecadao em torno de 1 bilho com o turismo.25
25 Informao extrada do estudo tcnico elaborado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e En-
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No Brasil, h a expectativa de que as obras necessrias promovam um im-
pacto relativamente maior, se comparado maioria dos outros pases que j
sediaram a Copa, tendo em vista que suas necessidades so bem maiores do
que as dos pases desenvolvidos.
TABELA 11: COMPARAO DAS TAXAS DE VARIAES DO PIB DOS PASES-SEDES DA COPA DO MUNDO (MDIA DE 2005 = 100)
Alemanha 2006
Coreia do Sul 2002
Japo 2002
Frana 1998
EUA 1994
Mdia dos ltimos 4 anos (%)
0,4 3,5 0,2 1,9 1,9
Ano do evento (%) 3,0 7,0 0,3 2,1 4,0
1 ano aps (%) 2,5 3,1 1,5 4,8 2,5
2 anos aps (%) 1,1 4,7 2,7 3,9 3,7
A Copa de 2014 ocorrer em 12 cidades: Belo Horizonte, Braslia, Cuiab, Curitiba,
Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo.
Alm das sedes, haver outras 35 cidades que funcionaro como subsedes ou ci-
dades de apoio para receber as selees antes e durante o evento. Essas cidades
tero de adequar suas instalaes esportivas j existentes, pois elas j atendem s
necessidades da populao local, e a construo de novas instalaes poderia levar
subutilizao. Essas adequaes implicam o uso de tecnologias cuja finalidade
tornar os estdios mais eficientes, desde a instalao de molas amortecedoras nas
arquibancadas at o emprego de sistemas de irrigao automatizado e escamote-
vel, permitindo a reduo dos custos de manuteno.
Os Jogos Olmpicos ficaro restritos cidade do Rio de Janeiro, que se aprovei-
tar da infraestrutura construda para os Jogos Pan-Americanos de 2007, assim
como das melhorias necessrias para a Copa de 2014. No obstante, um estudo
encomendado pelo Ministrio do Esporte Fundao Instituto de Administrao
da Universidade de So Paulo26 afirma que haver o envolvimento de 55 setores
da economia, criando um impacto em torno de R$ 102 bilhes para todo o Brasil.
genharia Consultiva (Sinaenco), disponvel no site: .26 Fonte: .
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So vrias as reas em que se aplicaro investimentos para a realizao desses even-
tos, como hotelaria, infraestrutura e transporte. Haver, portanto, a necessidade de
realizar-se um planejamento e determinar uma ordem de prioridade dos investimentos.
1) Hotelaria
Em 2007, a cidade do Rio de Janeiro recebeu os Jogos Pan-Americanos, que teve
efeitos sobre a taxa de ocupao dos hotis da cidade-sede. Para a Copa de 2014, por
sua maior repercusso mundial, estima-se que o Brasil receba cerca de 500 mil turis-
tas estrangeiros no perodo dos jogos, nmero superior capacidade de hospedagem
instalada atualmente, que de 455 mil turistas por ano. A Associao Brasileira da
Indstria de Hotis afirma que a taxa de ocupao nesse perodo do evento chegar
ao mximo, tendo em vista as elevadas taxas de ocupao com que os hotis j ope-
ravam no ano de 2009, tendo como exemplo o caso do estado do Rio de Janeiro, cuja
taxa mdia de ocupao era superior s dos cinco anos antecedentes.
A Fdration Internationale de Football Association (Fifa) exige que cada cida-
de-sede e seu arredor disponham de 32 mil quartos. As cidades de Braslia, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro e So Paulo atendem a essa exigncia e mesmo
assim j tm projetos de expanso hoteleira. A cidade de Belo Horizonte, que
dispe de 12 mil quartos, ter 2 mil quartos reformados. Na cidade de Manaus,
esto sendo construdos dois hotis e h expectativas de instalao de resorts. As
cidades de Fortaleza, Natal, Curitiba e Salvador tm, respectivamente, 17, 25, 27
e 30 mil leitos. A cidade de Cuiab a que tem a menor capacidade de hospeda-
gem, com apenas cinco mil leitos, embora j existam oito hotis.
Logo, h expectativa de que o segmento hoteleiro apresente forte expanso para no
apenas cumprir as exigncias dos comits esportivos, mas tambm para atender
crescente demanda. Essa expanso ter reflexos no setor de construo civil com
construo e reforma de hotis, resorts, albergues e outras formas de hospedagem.
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PeRSPeCtIVAS DO InVeStIMentO 2010-2013
2) Estdios e outras instalaes esportivas
Segundo relatrio desenvolvido pela Ernst & Young sobre os Jogos Pan-Ame-
ricanos em 2007, foram investidos R$ 870,5 milhes em construes de novas
obras de infraestrutura (Arena Multiuso, Estdio Olmpico Joo Havelange etc.);
R$ 591,8 milhes em reformas de estruturas j existentes (Complexo do Mara-
can, Riocentro etc.); e R$ 31,6 milhes em estruturas temporrias. No total,
quase R$ 1,5 bilho foram investidos em infraestrutura em apenas uma cidade.
No manual das recomendaes e dos requisitos tcnicos, a Fifa recomenda que
os estdios tenham, no mnimo, 30 mil assentos, e aquele que receber a final
dos jogos dever ter ao menos 60 mil. Em geral, os estdios atendem a esse n-
mero minmo, mas, mesmo assim, sero necessrios investimentos em reparos e
na implantao de estacionamentos, sistemas de segurana, sinalizao, vesti-
rios e hospitais prximos, entre outros. Estima-se que esses investimentos sejam
de R$ 10 bilhes e tenham origem pblica e privada.
Embora o comit da Copa exija estdios dedicados aos jogos de futebol, no per-
mitindo instalaes de atletismo, por exemplo, esses espaos podem ser utilizados
para outras finalidades, como espetculos e eventos, e podem estar associados a
teatros, cinemas, centros comerciais etc. A constituio de arenas multiuso favore-
ce a sustentabilidade financeira do empreendimento, tendo em vista que o seu uso
se estende ao longo do tempo e no fica restrito aos eventos futebolsticos.
Alm disso, desde a Copa da Alemanha, em 2006, a Fifa recomenda a inicia-
tiva sustentvel no programa Green Goal, no qual se sugere a definio de
estdios verdes, o que implica, entre tantas medidas, a instalao de tecno-
logias que reduzam o consumo de gua potvel e melhorem a estocagem das
guas fluviais para irrigao; incentivos reciclagem do lixo; desenvolvimen-
to de arquiteturas e aplicao de tecnologias que usem a energia de forma mais
eficiente; e estmulo ao uso de transportes coletivos que apresentem eficincia
no uso de combustveis.
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Outros investimentos sero necessrios no setor energtico, tanto nas redes de
distribuio de energia quanto no fornecimento de eletricidade para atender
elevao do consumo durante as partidas. preciso assegurar que no haja apa-
ges como os que j ocorreram em oito das 12 cidades-sede do evento.
3) Transporte
Um grande fator crtico para as 12 cidades-sede e suas subsedes ser a mobilidade
pblica. importante, portanto, o desenvolvimento de um planejamento logstico
dos meios de transporte, porque h a necessidade de atender os estdios com diver-
sos meios de transporte. Os estdios que no contam com acessos aos meios cole-
tivos (nibus e metr) devero se preocupar em reservar espao suficientemente
grande para atender ao fluxo de automveis e demanda por estacionamento.
Dessa maneira, haver a necessidade de investimentos na construo de linhas de
metr, de corredores de nibus e de estacionamento, como tambm para a amplia-
o de aeroportos e para reformas dos meios de transporte interestaduais, rodo-
virios e ferrovirios. Com o objetivo de realizar esses investimentos, o governo
federal lanou no ms de janeiro de 2010 um programa de investimentos dentro do
PAC, denominado PAC da Mobilidade Urbana. Esse programa conta com projetos
que somam R$ 11,48 bilhes27 e prioriza os investimentos necessrios para facili-
tar a mobilizao das pessoas entre as cidades-sede, com a construo, a expanso
e a reforma de linhas rodovirias, ferrovirias, de metrs e de aeroportos, alm de
adequao de zonas porturias a fim de possibilitar a vinda de navios transatlnti-
cos que ajudaro na hospedagem dos turistas.
Um dos principais gargalos na rea de transporte est relacionado capacida-
de dos aeroportos, sobretudo porque 90% do ingresso de estrangeiros no Brasil
ocorrem pelos aeroportos internacionais do Galeo (RJ) e de Guarulhos (SP).28
Isso provoca o congestionamento nesses aeroportos e dificulta o escoamento desse
contingente de pessoas para outras localidades regionais.
27 Fonte: .
28 Sinaenco (2009).
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A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia (Infraero) desenvolveu um es-
tudo tcnico sobre as necessidades de investimentos nos aeroportos brasileiros a fim
de adequ-los e, assim, evitar um novo apago areo, como o ocorrido em 2007. A
Tabela 12 apresenta o volume de investimentos aeroporturios necessrios.
TABELA 12: PREVISO DE INVESTIMENTOS AEROPORTURIOS PARA A COPA DE 2014 (EM R$ MILHES)
Aeroporto UFNecessidade de investimentos 2009-2013
PAC Demais investimentos Total
Aeroporto Internacional Tancredo Neves MG 12,13 380,03 392,16
Aeroporto de Belo Horizonte MG 0,00 5,08 5,08
Aeroporto Internacional de Braslia DF 161,79 501,53 663,32
Aeroporto Internacional Marechal Rondon MT 30,90 54,36 85,26
Aeroporto Internacional Afonso Pena PR 40,00 40,84 80,84
Aeroporto Internacional Pinto Martins CE 70,70 208,36 279,06
Aeroporto Internacional Eduardo Gomes AM 1,35 237,18 238,53
Aeroporto So Gonalo do Amarante RN 114,85 0,00 114,85
Aeroporto Internacional Salgado Filho RS 237,43 373,16 610,59
Aeroporto Internacional do Recife PE 10,00 23,00 33,00
Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro RJ 171,90 612,15 784,05
Aeroporto Santos Dumont RJ 45,35 31,06 76,41
Aeroporto Internacional de Salvador BA 27,69 42,11 69,80
Aeroporto Internacional de Congonhas SP 20,82 269,50 290,32
Aeroporto Internacional de Garulhos SP 1.399,00 32,00 1.431,00
Aeroporto Internacional de Campinas SP 304,00 700,11 1.004,11
Total 2.647,91 3.510,47 6.158,38
Fonte: Infraero (2009).
Estimativas dos investimentos do setor de construo civil
Considerando a anlise realizada, estimou-se que a perspectiva de investimento
de 2010 a 2013 seria de R$ R$ 1 trilho, que representa um aumento de 28%
com relao aos dados do investimento do setor de construo civil no perodo de
2005 a 2008 (R$ 835.571 milhes, sendo R$ 342.584 milhes para edificaes e
R$ 492.987 milhes para construo pesada). Pode ser observada, na Tabela 13, a
evoluo anual por subsetor de edificaes e de construo pesada.
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TABELA 13: INVESTIMENTOS PREVISTOS DE 2010 A 2013 (EM R$ MILHES)
2010 2011 2012 2013 Investimento2010-2013
Edificaes 101.138 114.041 122.718 126.632 464.529
Construo pesada 135.467 148.627 157.660 161.393 603.147
Construo civil 236.605 262.669 280.378 288.025 1.067.676
Fonte: Elaborao prpria.
O exerccio realizado considerou os programas de governo vigentes em 2010, mas
existem desafios que podem alterar essa previso, conforme ser mostrado na pr-
xima seo, alm dos novos investimentos j anunciados para o PAC-2, que prev
a concluso de projetos j iniciados no PAC-1 e acrescenta novos projetos. A pre-
viso preliminar do PAC-2 de R$ 958,9 bilhes, de 2011 a 2014, valor que inclui
R$ 278 bilhes para o Programa Minha Casa, Minha Vida.
dESAFIoS PArA oS PrxImoS AnoS
Como a expanso da indstria de construo civil depende, em grande escala, da
chamada construo industrializada, deveria ser incentivada a difuso em massa
dessa tecnologia, principalmente para reduzir o dficit habitacional, que certa-
mente auxiliar o cumprimento das obrigaes com os eventos esportivos. O
direcionamento da oferta para esse segmento viria suprir uma necessidade pre-
mente do mercado, levando reduo de custos e prazos e assegurando garantia
e rapidez de entrega. Essa soluo depende de aumento de financiamento, que,
em grande parte, deve ser pblico para edificao residencial, principalmente
para populao de baixa renda, e privado para edificao comercial.
A seguir, so detalhados os desafios que devem ser vencidos para que se possa
alcanar a construo industrial.
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Tecnologia
O elevado dficit habitacional requer radical alterao no padro construtivo,
assim como a necessidade de cumprir prazos dos investimentos previstos da
Copa e dos Jogos Olmpicos, considerando tambm a necessidade de atender
a critrios ambientais. A soluo que est sendo apontada a promoo da
construo industrializada em massa, que implicaria padronizao de produ-
tos e processos. Essa inovao aumenta a produtividade e reduz perdas, de
modo a baratear as edificaes e agilizar as obras. Contudo, um enorme de-
safio, como foi mostrado em Monteiro Filha et al. (2009), que exige mudan-
as em normas tcnicas, reorganizao da cadeia produtiva da construo,
expanso e capacitao da mo de obra, principalmente a qualificada.
No que tange principalmente edificao, a normatizao tcnica no pas
est bastante defasada, o que, somado existncia de diferenas significati-
vas entre os cdigos de obras municipais, dificulta a introduo de inovaes,
como a padronizao e a industrializao do processo construtivo. difcil
o estabelecimento de critrios necessrios homologao, avaliao ou
aprovao de produtos e processos construtivos inovadores. Existem no pas
poucas instituies tcnicas aptas a avaliar as inovaes e as certificaes.
A viso de futuro para 2023, desenvolvida no Estudo Prospectivo da Cons-
truo Civil [CGEE (2009)], financiado pela ABDI, no mbito da Poltica
de Desenvolvimento Produtivo para a construo civil, coordenada pelo Mi-
nistrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC), visa a
um setor com um processo construtivo industrializado, com todas as etapas
do ciclo de vida do empreendimento integradas pelo uso de tecnologias da
informao que possibilitam maior interoperabilidade.
O uso dessas tecnologias permite que os profissionais das etapas de plane-
jamento e de construo do empreendimento utilizem, de forma mais fcil,
as informaes disponveis, aprimorando as anlises de desempenho e de
custos e adequando os parmetros s exigncias ambientais.
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Essas exigncias vm assumindo relevncia nesse setor por causa dos elevados
impactos ambientais que so produzidos, seja no grande consumo de recursos
naturais na etapa de construo, seja na criao de resduos slidos na ltima
etapa, que a de manuteno ou demolio do empreendimento. No contexto
internacional, j existem quatro sistemas de certificaes, dois dos quais esto
sendo adaptados para as condies brasileiras, quais sejam: o AQUA, que a
adaptao do HQE francs, e o LEED, de origem estadunidense. H tambm
iniciativas brasileiras, como a criao do programa Procel Edifica.
Para a criao de um processo construtivo industrializado, necessrio que
haja padronizao dos materiais de construo. No entanto, a indstria de
materiais de construo muito heterognea e seus principais compradores
esto inseridos nos segmentos de autoconstruo e autogesto, o que torna
mais difcil a coordenao da cadeia produtiva dessa indstria.
O desenvolvimento tecnolgico tem tambm como gargalos a disponibilidade
e a gerao de mo de obra qualificada, tanto para promover esse desenvolvi-
mento quanto para atender s novas demandas posteriores, haja vista que essas
tecnologias promovem apenas a substituio parcial do trabalho, exigindo em
contrapartida maior qualificao dos empregados. Isso se agrava no segmento
de edificao, tendo em vista que as empresas desse segmento so tradicionais,
com baixo nvel de desenvolvimento e modernizao, se comparadas a outros
pases, como Reino Unido e Estados Unidos [CGEE (2009)].
Financiamentos
Como foi dito anteriormente, o setor de construo civil muito dependente
de crdito, tanto para produzir quanto para vender. Entretanto, no Brasil,
a razo entre a soma dos financiamentos imobilirios e o PIB aproxima-
damente de 2%, enquanto pases como Holanda, Espanha, Chile, Mxico e
Argentina apresentam as seguintes razes, respectivamente: 105%, 46%,
17%, 11% e 4% [CGEE (2009)].
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No entanto, como visto no Grfico 9, o recente crescimento d