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Curso de Pós-Graduação Lato Sensu a Distância Cultura Teológica Cartas de Paulo, Escritos Joaninos e Apocalipse Autor: Blanca Martín Salvago EAD Educação a Distância Parceria Universidade Católica Dom Bosco e Portal Educação

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Estudo teológico do Novo testamento

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  • Curso de Ps-Graduao Lato Sensu a Distncia

    Cultura Teolgica

    Cartas de Paulo, Escritos

    Joaninos e Apocalipse

    Autor: Blanca Martn Salvago

    EAD Educao a Distncia Parceria Universidade Catlica Dom Bosco e Portal Educao

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    SUMRIO

    UNIDADE 1 EVANGELHO DE JOO .....................................................................

    1.1poca do Evangelho ..............................................................................................

    1.2 Autor do Evangelho ...............................................................................................

    1.3 Linguagem do Evangelho ......................................................................................

    1.4 O Quarto Evangelho e os Sinticos ......................................................................

    1.5 Estrutura do Evangelho .........................................................................................

    1.6 Linhas-chave da teologia do Quarto Evangelho ....................................................

    1.7 Os sete Sinais .......................................................................................................

    1.8 O Livro da Glorificao e a hora de Jesus.............................................................

    UNIDADE 2 PAULO, APSTOLO ..........................................................................

    2.1 Dados pessoais de Paulo ......................................................................................

    2.2 Paulo antes de sua converso ..............................................................................

    2.3 Converso de Paulo ..............................................................................................

    2.4 nfases da pregao de Paulo .............................................................................

    2.5 As comunidades de Paulo .....................................................................................

    UNIDADE 3 CARTAS DE PAULO ...........................................................................

    3.1 Cronologia, local e autoria das Cartas de Paulo ...................................................

    3.2 Primeira Carta aos Tessalonicenses .....................................................................

    3.3 Primeira Carta aos Corntios .................................................................................

    3.4 Carta aos Glatas .................................................................................................

    3.5 Carta aos Filipenses ..............................................................................................

    3.6 Carta a Filemon .....................................................................................................

    3.7 Segunda Carta aos Corntios ................................................................................

    3.8 Carta aos Romanos ..............................................................................................

    UNIDADE 4 LIVRO DO APOCALIPSE ...................................................................

    4.1 Autor e data de composio ..................................................................................

    4.2 Carter do livro ......................................................................................................

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    4.3 Simbolismo no Apocalipse ....................................................................................

    4.4 Os nmeros no Apocalipse ...................................................................................

    4.5 Sete chaves para ler o Apocalipse ........................................................................

    REFERNCIAS ...........................................................................................................

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    INTRODUO

    O estudo bblico sempre comporta uma certa complexidade por se tratar de

    livros escritos muitos sculos atrs e em uma cultura bem diferente da nossa. Mas

    nesta disciplina abordaremos o Evangelho de Joo e o livro do Apocalipse, que so

    especialmente complexos por causa da linguagem utilizada e pelo uso frequente de

    imagens.

    A primeira unidade dedicada ao estudo do Evangelho de Joo, destacando

    suas peculiaridades, suas diferenas e semelhanas, se comparado com os

    Evangelhos Sinticos. Apresentamos, mesmo que de maneira breve, as duas partes

    em que se divide o Evangelho: o Livro dos Sinais e o Livro da Glorificao, tentando

    entender a mensagem e profundidade de cada um dos sinais, assim como o

    significado da Hora de Jesus.

    Na segunda unidade, centramos nossa ateno no apstolo Paulo. O

    cristianismo se espalhou alm das fronteiras do mundo judeu com rapidez,

    sobretudo, em funo da misso desenvolvida pelo apstolo Paulo nas

    comunidades helenistas, isto , nas comunidades de cristos procedentes do mundo

    pago. Apresentamos aqui alguns dados pessoais de Paulo, que ajudem a entender

    sua personalidade, e sua trajetria antes e depois da converso. Fecha a unidade

    uma reflexo a respeito das nfases da pregao de Paulo nas suas Cartas.

    Na terceira unidade abordamos as Cartas de Paulo, centrando nossa ateno

    nas autnticas, isto , nas cartas em que temos certeza de que foi Paulo seu autor.

    Apresentamos qual a situao das comunidades s quais se dirige Paulo, seus

    problemas e dificuldades, para assim podermos entender a mensagem de sua

    pregao. Damos especial nfase Primeira Carta aos Corntios e Carta aos

    Glatas.

    A quarta e ltima unidade dedicada a fazer uma aproximao do livro, do

    Apocalipse. Por sua complexidade nos limitamos aqui a contextualizar o livro e dar

    algumas chaves de leitura para facilitar sua compreenso e, sobretudo afastar a

    impresso de que um livro que d medo e fala do fim do mundo.

    Bom estudo!

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    UNIDADE 1 O EVANGELHO DE JOO

    O objetivo desta unidade nos aproximar do quarto evangelho, entender suas

    especificidades e caractersticas prprias. Faremos uma breve apresentao das

    comunidades joaninas, assim como da poca em que foi escrito.

    1.1 poca do Evangelho

    Este Evangelho deve ter ficado pronto por volta do ano 100, isto , separam

    mais ou menos 70 anos a morte e ressurreio de Jesus e o final da redao do

    Evangelho de Joo. E nesse tempo aconteceram muitas coisas que acabaram

    influenciando no teor e nas caractersticas do evangelho.

    Segundo Mesters, Lopes e Orofino (2000), entre os acontecimentos deste

    perodo, podem-se destacar: a abertura da Boa Nova para os pagos e a entrada

    desses no judeus (tambm chamados de cristos helenistas) nas comunidades

    crists; a celebrao do Conclio de Jerusalm; diminuem as testemunhas oculares

    e vo aumentando as lideranas que no tinham conhecido Jesus, o que provoca

    tenses e dificuldades; os judeus se revoltam contra os romanos nos anos 60 e isso

    acaba levando destruio de Jerusalm, no ano 70; comea a perseguio dos

    cristos com Nero; os judeus e cristos vo se distanciando cada vez mais, at

    chegar separao dos dois grupos. Quando o evangelho de Joo estava na sua

    redao final, os cristos j estavam sendo expulsos das sinagogas (Jo 9,34).

    Enfim, pode-se dizer que o evangelho de Joo levou algum tempo para ser

    escrito. Aps a ressurreio de Jesus, as comunidades comearam a se espalhar

    pelo mundo afora. Cada uma dessas comunidades foi conservando as palavras e

    obras de Jesus de uma maneira peculiar e caracterstica, dependendo de suas

    circunstncias histricas, religiosas e culturais. Assim, segundo Mesters, Lopes e

    Orofino (2000, p.11), o Evangelho de Joo foi sendo escrito aos poucos, dentro das

    etapas da histria das comunidades que se reuniam em torno do Discpulo Amado.

    Os autores destacam as seguintes etapas: 1) A tradio oral em torno do Discpulo

    Amado; 2) O conflito com a autoridade dos judeus provoca uma releitura das

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    palavras de Jesus; 3) Os primeiros rascunhos comeam a circular pelas

    comunidades; 4) Redao final do Quarto Evangelho.

    1.2 Autor do Evangelho

    O Evangelho atribudo a Joo. Mas quem seria esse Joo?

    At hoje muita gente confunde Joo Batista com Joo, filho de Zebedeu, e Joo, profeta do Apocalipse (Ap 1,1-4). E pensa que essa pessoa trs em um escreveu o evangelho e as trs cartas... Convm separar as pessoas e ver o papel que cada uma pode ser na histria da comunidade joanina (RODRIGUES; VASCONCELLOS; SILVA, 1999, p.48).

    O Joo do livro do Apocalipse parece que no pode ser identificado com o

    autor do quarto evangelho. No Apocalipse vemos um confronto aberto e direto das

    comunidades com o imprio. Enquanto que no evangelho a situao diferente,

    aparecem mais as dificuldades internas da comunidade.

    Joo, filho de Zebedeu, tambm no deve ser confundido com o autor do

    evangelho. At porque dificilmente o apstolo Joo estaria vivo no incio do segundo

    sculo. Inclusive Joo de Zebedeu mencionado no evangelho apenas em Jo 21,2,

    no parece que teve muita influncia nas comunidades joaninas.

    Finalmente, temos que destacar que o autor tambm no se identifica com o

    Discpulo Amado, que figura fundamental na histria da comunidade (Jo 13,23).

    Segundo Rodrigues, Vasconcellos e Silva (2000, p. 48), o Discpulo Amado no s

    no um dos Doze, como tambm vrias vezes aparece contraposto a esses,

    atravs da figura de Pedro (20,2-8; 21,7). O Discpulo Amado um dos dois

    discpulos sem nome mencionados em Jo 21,2.

    Resumindo: podemos falar da comunidade de Joo para facilitar, mas na

    realidade no sabemos muito a respeito do seu lder, a no ser que tinha uma

    ligao muito especial com Jesus. Os escritos joaninos so uma obra complexa,

    composta ao longo de vrias dcadas por diversas pessoas de grupos diferentes [...]

    No foi escrito por uma pessoa s (RODRIGUES; VASCONCELLOS; SILVA, 1999,

    p.48).

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    1.3 Linguagem do Evangelho

    Nos evangelhos no temos fotografias de Jesus, mas sim um raio-X, tanto de

    Jesus, de sua mensagem e da sua prtica, como de seus seguidores e seguidoras,

    das comunidades, da sociedade e do mundo (MESTERS; LOPES; OROFINO,

    2000, p.09). Cada evangelho transmitiu uma reflexo sobre Jesus feita por

    comunidades concretas, com caractersticas especficas. Isso explica as diferenas

    que encontramos entre os diferentes evangelhos. O raio-X revela o que no

    evidente a olho nu, alcanando uma dimenso mais profunda. Neste sentido, os

    evangelhos so um testemunho sobre a vida de Jesus de Nazar e sobre as igrejas,

    luz do evento pascal, da experincia com o ressuscitado (GASS, 2005b, p. 116).

    O evangelho de Joo vai alm dos evangelhos sinticos nessa reflexo,

    nesse aprofundamento do mistrio da filiao divina do Messias. Utilizando uma

    linguagem simblica, o autor do quarto evangelho revela um significado mais

    profundo que est alm das palavras.

    O autor faz citaes explcitas ao Antigo Testamento, mas tambm faz

    contnuas aluses indiretas a ele, utilizando imagens e linguagem bem conhecidas

    na cultura judaica. Encontra-se assim o tema nupcial para significar a aliana ou a

    relao de Deus para com o seu povo; o deserto, a gua, o poo, a uno, a

    pscoa, o pastor, as ovelhas, a glria, o templo, etc. (MATEOS; BARRETO, 1989,

    p. 15).

    1.4 O Quarto Evangelho e os Sinticos

    No precisa ser um bom conhecedor do evangelho para perceber as

    diferenas, se comparado com os sinticos.

    A maior parte do evangelho material exclusivo, que no se encontra nos

    evangelhos anteriores. So poucos os textos comuns aos Sinticos. Segundo Gass

    (2005b), os principais so: o testemunho de Joo Batista e o batismo de Jesus

    (1,19-34), a expulso dos idlatras do templo (2,13-16), a partilha dos pes (6,1-13),

    Jesus caminhando sobre as guas (6,16-21), a uno em Betnia (12,1-8), a

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    entrada triunfal em Jerusalm (12,12-19), o anncio da traio (13,21-30) e a paixo-

    ressurreio (18-20).

    Destacamos com Gass (2005b), as diferenas mais significativas entre Joo e

    os outros evangelhos:

    Faltam no evangelho os exorcismos que esto to presentes nos

    Sinticos;

    Maior parte do ministrio de Jesus desenvolve-se em Jerusalm, em

    lugar de na Galileia;

    Nos Sinticos temos 35 milagres, porm em Joo encontramos apenas

    7 sinais. Joo no usa a palavra milagre, mas sinais;

    Os Sinticos contm mais de 40 parbolas, mas Joo no apresenta

    parbolas. E as duas que normalmente chamamos de parbolas, na

    verdade, so alegorias exclusivas de Joo: o Bom Pastor (10,1-18) e a

    videira (15,1-17) (GASS, 2005b);

    Joo prefere a expresso vida eterna para se referir misso de

    Jesus, em lugar de usar a expresso Reino de Deus;

    Joo omite o ttulo de apstolo. Somente aparece em Jo 13,16, mas

    utilizada com o sentido de mensageiro, enviado, no como ttulo. Joo

    quer evitar ttulos, distines, ningum est acima de ningum; por isso

    prefere a palavra genrica de discpulo.

    1.5 Estrutura do Evangelho

    No quadro a seguir podem-se observar as vrias partes do Evangelho. As

    duas divises centrais so o Livro dos Sinais (Jo 1,19-11,54), onde a hora de Jesus

    ainda no chegou (Jo 2,4), e o Livro da Glorificao (Jo 13,1-20,31), onde chegou

    a hora de Jesus (Jo 13,1) (MESTERS; LOPES; OROFINO, 200, p. 14). Entre essas

    duas partes, encontra-se a transio, onde Jesus anuncia que est chegando a sua

    hora (Jo 12,23).

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    Quadro 1 Estrutura do Evangelho de Joo

    1,1-18 1,19-11,54 11,55-12,50 13,1-20,31 21,1-25

    Prlogo

    Do Pai ao

    mundo

    Do mundo ao Pai

    1 Parte

    LIVRO DOS SINAIS

    Obras-sinais perante o mundo Ainda no

    a Hora (2,4)

    Dobradia

    Faz ligao entre os dois

    livros

    Est chegando a

    Hora (12,23)

    2 Parte

    LIVRO DA GLORIFICAO

    Revelao perante a comunidade Chegou a Hora (13,1)

    Eplogo

    O Ressuscitado e a comunidade

    Incio dos

    sinais

    1,19-4,54

    Conflito crescente e opo de f

    5,1-11,54

    Despedida dos seus

    13,1-14,31

    Testamento de Jesus

    Orao

    15,1-17,26

    A obra consumada

    18,1-20,31

    Fonte: Mesters; Lopes e Orofino, 2000, p.14

    1.6 Linhas-chave da teologia do Quarto Evangelho

    Retomando a afirmao que fazamos no incio desta unidade, convm

    lembrar que nos evangelhos no temos biografias de Jesus. O evangelho de Joo

    teolgico, no biografia de Jesus (Jo 20,30: muitos outros sinais Jesus fez na

    presena de seus discpulos e que no constam neste livro), tambm no um

    resumo da sua vida, mas interpretao de sua pessoa e obra (MATEOS; BARRETO,

    1989). Portanto, pe-se em primeiro plano a interpretao teolgica e a ela se

    subordinam os dados histricos.

    Mateos e Barreto (1989), distinguem duas linhas-chave na teologia de Joo: o

    tema da criao e o da Pscoa-aliana.

    O tema da Criao comea no prlogo (1,1ss), domina a cronologia e

    d a chave de interpretao da obra de Jesus. Vejamos a cronologia

    que aparece no evangelho.

    - 1,19-28 Testemunho de Joo Batista;

    - 1,29-34 Batismo de Jesus (v.29: No dia seguinte, viu Jesus

    aproximar-se e disse [...])

    - 1,35-42 Chamado dos dois discpulos e de Pedro (v. 35: No dia

    seguinte, Joo estava com dois de seus discpulos).

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    - 1,43-51 Jesus chama Filipe, e Filipe chama Natanael (v.43: No dia

    seguinte, dispunha-se a partir para a Galileia, quando encontra Filipe,

    Jesus lhe diz [...])

    - 2,1 No sexto dia: as bodas de Can (No terceiro dia, celebrava-se

    um casamento em Can da Galileia [...])

    Dessa maneira, se faz coincidir o incio da obra de Jesus com o sexto

    dia, que o dia da criao do homem em Gn 1,27. A morte de Jesus

    tambm no sexto dia. Da toda a atividade de Jesus, at sua morte,

    fica sob o signo do sexto dia, indicando o desgnio que a preside: dar

    remate obra criadora, completando o homem com o Esprito de Deus

    (MATEOS; BARRETO, 1989, p. 07).

    O tema da Pscoa-aliana evoca o xodo. Est intimamente

    relacionado com o tema do Messias, que, como novo Moiss, tinha que

    realizar o xodo definitivo. O Evangelho faz uma releitura da teologia

    do xodo. na Pscoa que Jesus vem substituir o templo de

    Jerusalm e se declara o verdadeiro templo, isto , a presena de

    Deus entre ns, o Emanuel, Deus conosco (2,13-22) (GASS, 2005b, p.

    127).

    1.7 Os sete Sinais

    O nmero sete simblico. Joo escolhe esses sete sinais, como sntese de

    todos os sinais realizados por Jesus.

    O livro dos sinais pode ser dividido em duas partes:

    Na primeira parte, Jesus inicia a revelao de si mesmo e do Pai, realizando dois sinais (Jo 1,19 a 4,54). A segunda parte insiste na tomada de posio frente a esta revelao. Enquanto Jesus continua realizando mais cinco sinais, surgem, por um lado, o conflito com os judeus e, por outro lado, a exigncia de f para as pessoas que seguem Jesus (Jo 5,1 a 11,54) (MESTERS, LOPES e OROFINO, 2000, p. 14).

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    A seguir vamos comentar brevemente cada um dos sete sinais:

    1.7.1 As bodas de Can (2,1-12)

    Aps este primeiro sinal, que exclusivo do Evangelho de Joo, Jesus faz

    mais seis sinais no evangelho, e todos em dia de sbado (Jo 5,16; 9,14-16).

    No Antigo Testamento, desde o profeta Oseias, usa-se a imagem matrimonial

    para falar da relao de Deus com seu povo que fizera aliana e se comprometera a

    uma relao de fidelidade. O casamento smbolo do amor de Deus pelo povo.

    A me de Jesus est na festa. Segundo

    Mesters, Lopes e Orofino (2000, p. 32), a me de

    Jesus simboliza o Antigo Testamento e ajudar

    a fazer a passagem do Antigo para o Novo.

    Jesus tambm est, mas apenas como

    convidado. Ele no faz parte do Antigo

    Testamento. Junto com seus discpulos ele o

    Novo Testamento que vem chegando. Isto ,

    Jesus a Nova Aliana.

    O texto (Jo 2,6) fala de seis potes de pedra para a purificao dos judeus, que

    estavam vazios (esgotados). O nmero seis indica imperfeio. Os potes apontam

    para os abundantes rituais de purificao estabelecidos pela cultura religiosa

    judaica, em relao aos quais havia muita insatisfao, sobretudo por parte dos

    pobres (RODRIGUES, VASCONCELLOS, SILVA, 1999, p. 10). A antiga aliana

    estava vazia, no satisfazia mais. Era necessrio intervir, para que pudesse gerar

    vida, alegria. Jesus se serve desses potes para fazer o sinal, isto , Jesus no

    descarta o Antigo Testamento, nem sua lei, mas a transforma, resgata seu sentido

    original.

    Quem percebe a carncia Maria e toma a iniciativa, pedindo a Jesus que

    intervenha: o novo precisa se manifestar.

    Jesus diz: Mulher, que h entre mim e ti? Ou seja, qual a ligao entre o Antigo e o Novo Testamento? Minha hora ainda no chegou! Maria responde aos empregados: Faam tudo que ele lhes disser! fazendo o que Jesus ensina que se passa do Antigo para o

    Apesar de no ser chamada pelo nome, a me de Jesus aparece duas vezes no Evangelho de Joo: no comeo, nas bodas de Can (2,1-5), e no fim, ao p da Cruz (19,25-27). Nos dois casos ela representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos, contribui para que o Novo chegue. Maria o elo entre o que havia antes e o que vir depois (MESTERS, LOPES, OROFINO, 2000, p. 34).

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    Novo! A hora de Jesus, na qual se far a passagem do Antigo para o Novo, a sua paixo, morte e ressurreio. A mudana da gua para o vinho o comeo das dores de parto da nova criao. (MESTERS, LOPES, OROFINO, 2000, p. 32).

    O mordomo experimenta o vinho e reconhece que o novo muito melhor.

    Onde antes havia gua para a purificao, agora h vinho e em abundncia (v.7:

    eles as encheram at as bordas).

    Fonte: http://migre.me/gtZiR

    1.7.2 A cura do filho de um funcionrio do rei (4,46-54)

    O segundo sinal tambm em Can e tambm exclusivo deste Evangelho.

    Aqui quem pede a interveno de Jesus uma pessoa com poder. Ele, atrado pela

    fama de Jesus, pede a cura do filho.

    Jesus censura as pessoas que precisam de sinais e prodgios para poder

    acreditar: Enquanto no virdes sinais e prodgios, no crereis (Jo 4,47). Porm, o

    funcionrio insiste para que Jesus atue em favor do filho dele. Jesus no precisa ir

    at a criana, que se encontra em Cafarnaum, comunica a vida apenas com sua

    palavra.

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    Jesus diz ao funcionrio que se ponha a caminho [...]. Com seu convite,

    pe-no prova, para ver se renuncia ao seu desejo de sinais prodigiosos e

    espetaculares. Se aceitar o convite de Jesus, ver que seu filho saiu de sua situao

    de morte. (MATEOS e BARRETO, 1989, p.239).

    1.7.3 A cura do paraltico na piscina de Betesda (5,1-18)

    O terceiro sinal tambm exclusivo de Joo, no se encontra nos Sinticos.

    O sinal consiste na cura de um paraltico na piscina de Betesda, em Jerusalm. A

    gua da piscina tinha fama de ter propriedades curativas. Por isso rene-se l uma

    multido de enfermos, cegos, coxos e mutilados, aguardando que as guas se

    movessem (Jo 5,3).

    Jesus repara em uma doente

    que estava enferma h 38 anos. Este

    fato revela a falta absoluta de

    solidariedade e de acolhida aos

    excludos! O nmero 38 indicava a

    durao de uma gerao (Dt 2,14).

    toda uma gerao que no chegou a

    experimentar solidariedade nem

    misericrdia (MESTERS, LOPES,

    OROFINO, 2000, p. 58).

    Fonte: http://migre.me/gtZDY

    Mas antes de Jesus fazer o sinal, lhe faz uma pergunta interessante:

    Queres curar-te? (5,6). Jesus quer ter certeza de que ele queria a cura e fazia de

    tudo para consegui-la. O paraltico se explica: no tenho ningum que me coloque

    na piscina (5,7), isto , ele vtima da excluso e do preconceito de seu tempo. Por

    isso, Jesus no duvida em cur-lo.

    O sinal foi feito em dia de sbado e isso vai ser motivo de discusso, coisa

    que para os judeus no era permitida. Porm, Jesus acha que a vida (Jo 10,10: vida

    em abundncia) est por cima de tudo, e preservar a vida est permitido todos os

    dias da semana, inclusive em dia de sbado.

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    1.7.4 A patilha dos pes (6,1-15)

    Este um dos dois sinais comuns aos outros evangelhos. Neste sinal so

    evidentes as referncias ao xodo. A pscoa estava prxima (6,4). Na pscoa do

    xodo do Egito, o povo atravessou o Mar Vermelho. Aqui na nova pscoa, Jesus

    atravessa o Mar da Galileia. Uma grande multido seguia a Moiss no primeiro

    xodo. Uma grande multido segue Jesus neste novo xodo. Moiss subiu

    montanha. Jesus, o novo Moiss,

    tambm sobe montanha

    (MESTERS, LOPES, OROFINO,

    2000, p. 63).

    No deserto, o povo passou

    fome e Deus providenciou

    alimento para eles por meio do

    man. Jesus, o novo Moiss, vai

    providenciar tambm alimentos

    para a multido faminta.

    Fonte: http://migre.me/gu1eT

    Filipe questiona: apenas tem um menino com cinco pes e dois peixes.

    Como podero dar de comer a todas aquelas pessoas? Jesus pede que faam o

    povo sentar na grama. Ento Jesus tomou os pes, deu graas e os repartiu aos

    que estavam sentados. Fez o mesmo com os peixes: tudo o que queriam (Jo 6,11).

    Com esta frase, escrita no ano 100 depois de Cristo, Joo evoca o gesto da Ceia,

    do jeito que era celebrada nas comunidades (1Cor 11,23-24). A Ceia Eucarstica,

    quando celebrada como deve, levar as pessoas partilha (MESTERS, LOPES,

    OROFINO, 2000, p. 64).

    1.7.5 Jesus andando sobre o mar (6,16-21)

    Este sinal, como o anterior, tambm no exclusivo de Joo, aparece

    tambm nos Sinticos. interessante reparar nos detalhes da cena: de noite,

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    havia escurecido e Jesus no estava com os discpulos, soprava um vento forte e o

    lago encrespava (6,19).

    A cena assustadora. As comunidades crists vivem poca difcil, com

    situaes adversas (de noite, trevas), dificuldades e s vezes at perseguies

    (vento forte, ondas no lago), e tudo isso tem que ser enfrentado sem contar com a

    presena de Jesus, pois as comunidades no contam mais com a presena fsica de

    Jesus.

    O mar smbolo do mal na Bblia (lembre-se da gerao de egpcios que

    perece no Mar Vermelho, ou dos porcos de Mc 5 que vo parar no mar, que era

    considerado sede do mal).

    Mas os discpulos veem Jesus caminhando sobre as guas, aproximando-se

    da barca, isto , Jesus se

    aproxima dos discpulos

    dominando o mal, caminhando

    sobre ele, e diz: no tenham

    medo. Mesmo com todas as

    dificuldades, os discpulos, as

    comunidades, tm que ter

    certeza da presena de Deus e

    no devem ter medo, pois Jesus

    faz o vento parar e domina sobre

    o poder do mal.

    Fonte: http://migre.me/guYzi

    1.7.6 Cura do cego de nascena (Jo 9,1-41)

    Sinal exclusivo de Joo. um texto longo, mas tem que ser lido na ntegra,

    no tem como cortar. Trata-se de uma histria cheia de simbolismos.

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    O cego figura do povo reduzido impotncia e privado de sua condio

    humana pela opresso que os dirigentes

    exercem. Abrir os olhos ao cego frase

    que relaciona a atividade de Jesus com a

    misso libertadora do Servo de Deus (Is

    42,5; 49,6) (MATEOS e BARRETO, 1989, p.

    404). A cura do cego a explicao do

    nascimento pelo Esprito (Jo 3,6).

    Cega seria a pessoa atrelada

    prtica legalista. Mas nas comunidades do

    discpulo amado, tem cegos que

    conseguiram enxergar a presena de Deus

    na pessoa de Jesus.

    Fonte: http://migre.me/gv0oo

    Para chegar a isso tiveram que fazer uma travessia, cheia de conflitos e de perseguies. Por isso atravs da descrio das vrias etapas e conflitos da cura do cego de nascena, descreveram tambm o itinerrio espiritual que elas mesmas estavam percorrendo, desde a escurido da cegueira at a luz plena da f esclarecida em Jesus. (MESTERS, LOPES, OROFINO, 2000, p. 84).

    Naquela poca, todo sofrimento era entendido como um castigo enviado por

    Deus por causa de algum pecado cometido. Mas essa pessoa j tinha nascido cega;

    a tradio judaica antiga, nestes casos, pensava que a pessoa poderia estar

    pagando pelos pecados cometidos por outrem, j que carrega a doena desde seu

    nascimento. nesse contexto que deve se entender a pergunta de 9,2. Jesus, com

    sua resposta, acaba com essa compreenso: os defeitos fsicos, as doenas no

    so castigo de Deus por algum pecado cometido, mas para que nele sejam

    manifestadas as obras de Deus.

    Segundo Mesters, Lopes e Orofino (2000, p. 84), Obra de Deus o mesmo

    que Sinal de Deus. Aquilo que para a poca era sinal da ausncia de Deus, para

    Jesus vai ser sinal de sua presena luminosa no meio de ns.

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    O sinal provoca vrias reaes. A primeira vem dos vizinhos (9,8-14), que

    ficam estranhados quando o veem curado e ficam indagando para entender o

    acontecido. Nos versculos 15-17 vemos que o caso levado s autoridades

    judaicas porque a cura aconteceu em dia de sbado. Os fariseus dizem que Jesus

    no de Deus porque no entendem que algum que no cumpra a lei do sbado

    possa ser de Deus. Para eles o cumprimento da lei est acima de qualquer coisa.

    Aqui se revela a cegueira dos fariseus que no conseguem ver. Chamam

    os pais do rapaz para continuar indagando (9,18-23). Finalmente conversam de

    novo com o rapaz. Eles se confessam discpulos de Moiss (v.29) e cumpridores de

    sua lei, mas no conseguem reconhecer (ver) Jesus como Messias. O rapaz reage

    com estranheza: Isso estranho!: Vs no sabeis de onde vem, e ele me abriu os

    olhos [...] Se esse no viesse de parte de Deus, nada poderia fazer (9,30.33).

    Confrontado com a cegueira dos fariseus, a luz da f foi crescendo dentro

    do cego. Ele rompe com a velha observncia da Lei de Moiss afirmando que quem

    lhe abriu os olhos s pode ser algum que veio de Deus (MESTERS, LOPES,

    OROFINO, 2000, p. 85). Isto , temos como final da histria que o cego, que no

    enxergava, agora enxerga melhor que os fariseus (9,39-41). Alis, eles que

    acreditavam estar enxergando corretamente so mais cegos que o rapaz que era

    cego de nascena. Quer dizer, no h pior cego que aquele que no quer ver. A

    cegueira espiritual pode ser um limitador muito pior que a cegueira fsica!

    1.7.7 Ressurreio de Lzaro (Jo 11,1-54)

    Chegamos ao stimo e ltimo sinal: a ressurreio de Lzaro, sinal exclusivo

    do evangelho de Joo. Jesus est em Betnia, que significa casa dos pobres, na

    casa de Lzaro, Maria e Marta, onde Jesus gostava de se hospedar. Este texto

    expressa a certeza de que Jesus traz vida para a comunidade dos pobres, para

    todos os que nele acreditam.

    O enfoque central do texto, segundo Mesters, Lopes e Orofino (2000, p.92),

    confrontar a compreenso da ressurreio como algo que acontece no fim dos

    tempos e a nova compreenso trazida por Jesus, que, desde j, vence a morte.

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    O que era prprio do tempo final entrou para o tempo presente. [...] Quem vive e cr em mim jamais morrer! (Jo 11,26). Como que Jesus pode afirmar que viveremos para sempre? Na Primeira Carta de Joo este mistrio esclarecido: Ns sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmos (1Jo 3,14). O amor a fora mais poderosa que existe [...] O amor faz o futuro virar presente

    e a ressurreio acontecer hoje. (MESTERS, LOPES, OROFINO, 2000, p. 95)

    interessante observar que a confisso de f que em Mateus aparece na

    boca de Pedro: Tu s o Messias, o Filho de Deus vivo (Mt 16,16), aqui se encontra

    na boca de Marta : Sim, Senhor, eu creio que s o Messias, o Filho de Deus, aquele

    que devia vir ao mundo (Jo 11,27). Isso

    confirma o papel relevante de Marta dentro

    daquelas comunidades.

    Concluindo, podemos afirmar que

    este ltimo sinal quer manifestar que o

    projeto criador de Deus no fazer um

    homem destinado morte, mas vida plena

    e definitiva, comunicando-lhe a sua prpria

    vida. [...] Para quem recebeu o Esprito

    Santo no existe interrupo da vida, a

    morte apenas necessidade fsica

    (MATEOS e BARRETO, 1999, p. 479).

    Fonte: http://migre.me/gvla2

    1.8 O Livro da Glorificao e a hora de Jesus

    Vimos antes que o Evangelho se estrutura em duas grandes partes: o Livro

    dos Sinais (1,19-11,54) e o Livro da Glorificao (13,1-20,31). Esta segunda parte

    assim chamada porque mostra a realizao plena de que tudo o que Jesus vinha

    prometendo enquanto fazia os sete sinais nos captulos anteriores (MESTERS;

    LOPES e OROFINO, 2000, p.105). Este segundo Livro comea assim: Antes da festa

    da Pscoa, sabendo Jesus que chegava a hora de passar deste mundo ao Pai,

    depois de ter amado os seus, amou-os at o extremo (13,1). Chegou a hora de

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    Jesus ser glorificado pelo Pai (Jo 12,23: chegou a hora em que este Homem ser

    glorificado, cf. 12,27-28; 13,31; 17,1) e de ele nos revelar o verdadeiro rosto de

    Deus, que um Deus de Amor (1Jo 4,8.16).

    No primeiro sinal, nas bodas de Can, Jesus dissera que ainda no tinha

    chegado a sua hora (Jo 2,4). Porm, a atuao de Maria demonstra que a

    caminhada rumo hora j foi iniciada e os sinais comeam a surgir. Por duas vezes

    os inimigos querem prend-lo, mas ainda no tinha chegado a sua hora, e a priso

    no acontece (Jo 7,30 e 8,20). Para o evangelista no so os inimigos, mas sim o

    Pai quem determina a hora de Jesus (MESTERS; LOPES e OROFINO, 2000, p.105).

    Nos debates com as autoridades judaicas, enquanto estas aparecem

    procurando a glria dos homens, sua prpria glria (5,44), Jesus no aceita a glria

    que vem dos homens (5,41) nem quer sua prpria glria (8,50), mas a glria de

    quem o enviou (7,18) (SICRE, 1998).

    Jesus consciente de que sua hora est chegando (12,23-27; 13,1; 16,32).

    Na primeira parte do Livro da Glorificao (Jo 13-17), Jesus se rene com os

    discpulos e, lavando seus ps, ensina que a verdadeira purificao acontece na

    entrega e no servio. Significa tambm que Jesus Messias-servo, por isso, se

    Pedro no aceitar o gesto, no poder estar em comunho com Jesus. Na segunda

    parte (Jo 18-19), o grupo dos adversrios de Jesus comea a tomar as providncias

    para elimin-lo. Na terceira parte (Jo 20-21), Jesus ressuscitado reencontra a

    comunidade e os envia em misso.

    Exerccio 1

    1. A respeito do Evangelho de Joo, indique se os enunciados a seguir so Verdadeiros ou Falsos:

    Dos quatro evangelhos, o Evangelho de Joo o segundo cronologicamente falando, foi escrito por volta do ano 70 d.C.

    No temos dvida de que o autor do quarto evangelho e Joo Batista so a mesma pessoa.

    Utilizando linguagem simblica, o Evangelho de Joo revela um significado mais profundo, que vai alm da literalidade do texto.

    Maioria dos trechos do Evangelho exclusiva de Joo, no encontrando paralelos nos Evangelhos Sinticos.

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    Segundo o Evangelho de Joo, Jesus fez apenas os sete sinais narrados. por isso que o Evangelho s traz esses sete sinais.

    2. A respeito das bodas de Can, INCORRETO afirmar que:

    Trata-se de um texto exclusivo do Evangelho de Joo.

    A linguagem matrimonial lembra a aliana, o amor de Deus pelo povo.

    A me de Jesus simboliza o Antigo Testamento.

    A antiga aliana no satisfazia mais, por isso Jesus tem que intervir para resgatar o sentido original da lei.

    Jesus representa o Antigo Testamento, junto com sua me.

    3. A respeito da cura do cego de nascena, correto afirmar que:

    Jesus acreditava, como tambm os fariseus, que a doena castigo por causa dos pecados.

    Falando da cegueira fsica, o texto quer refletir tambm a respeito da cegueira espiritual.

    Segundo Jesus, a pessoa nasceu cega por causa do pecado de algum antepassado.

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    UNIDADE 2 PAULO, APSTOLO

    O objetivo desta unidade fazer uma aproximao da pessoa de Paulo

    antes e depois da sua converso, as caractersticas da misso dele como apstolo

    dos gentis e suas peculiaridades tanto no jeito de ser missionrio, quanto na sua

    pregao.

    2.1 Dados pessoais de Paulo

    Paulo no fez parte do grupo reduzido de apstolos escolhidos por Jesus

    para formar os Doze, mas, sem dvida, a pessoa de Paulo muito sugestiva e

    provoca admirao e reflexo pela sua determinao, coragem e esprito missionrio

    querendo levar a Boa Notcia onde se pensava na poca que seria difcil de acolh-

    la, por serem desconhecedores das tradies do Antigo Testamento. Por tudo isso,

    muito difcil ficar indiferente diante da pessoa de Paulo.

    Para ns, cristos ocidentais, Paulo de longe o mais significativo dos apstolos. Ele traduziu o evangelho para o mundo ocidental sem trair seus valores. Ele exemplo de engajamento radical at as ltimas consequncias. Ofereceu seus bens e seu trabalho para a causa do evangelho e fez da misso que lhe foi confiada o sentido da sua vida. (SCHNEIDER, 1999, p.07)

    Paulo um cristo que, como

    veremos adiante, passa por uma

    transformao radical na vida dele: passa de

    ser um judeu ortodoxo, fiel cumpridor das leis

    do judasmo, a ser um cristo que dedica sua

    vida evangelizao do mundo pago, dos

    gentis, formando diversas comunidades

    crists fora da Palestina. A ele devemos a

    abertura do Evangelho aos pagos, fora das

    fronteiras de Israel.

    Fonte: http://migre.me/fYBAD

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    O nome de Paulo era Saulo (Shaul), nome hebraico que significa desejado,

    implorado. Naquele tempo, por causa da influncia da cultura e lngua gregas, era

    comum ter um segundo nome em grego. Esse segundo nome, no caso de Saulo,

    ser Paulo (At 13,9). este o nome que ele prefere usar em todas as suas cartas.

    Outros exemplos de nome duplo: Joo Marcos (At 12,12; 15,37), Jos Barsabas

    Justo (At 1,23), Simeo Niger (At 13,1) (MESTERS, 1988, p. 06).

    No sabemos a data exata do nascimento de Paulo, mas deve ter sido nos

    primeiros anos da nossa era, possivelmente no ano 5 d.C. Nasceu em Tarso, cidade

    da Cilcia, na sia Menor (At 9,11; 21,39; 22,3), importante centro comercial e

    cultural daquela poca.

    Veja no mapa a seguir a localizao de Tarso:

    Figura 1 Localizao de Tarso, cidade natal de Paulo

    Fonte: http://migre.me/gaOPu

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    Tarso era uma cidade enorme. Conforme os clculos feitos por alguns historiadores, tinha cerca de trezentos mil habitantes. Ela possua um porto muito ativo, de grande movimento. A estrada romana que fazia a ligao entre o Oriente e o Ocidente passava por l. (MESTERS, 1988, p. 07).

    Talvez seja por isso que Paulo gostava tanto de cidades grandes. Ao

    contrrio de Jesus, que preferia as aldeias pequenas, Paulo desenvolve seu

    ministrio mais em cidades grandes, imaginamos que isso tambm era uma

    estratgia, esperando que desde os grandes centros fosse mais fcil que a Boa

    Notcia se espalhasse a outros ncleos de populao.

    Tarso no uma cidade da Palestina.

    Portanto, Paulo nasceu na dispora, era um

    judeu, mas sua famlia no morava na Palestina.

    Parece que os pais de Paulo eram da Galileia e migraram para Tarso antes do seu

    nascimento.

    Havia uma comunicao muito intensa entre as comunidades da dispora e

    a cidade de Jerusalm que era o centro espiritual de todos os judeus. Assim se

    entende como Paulo, nascido em Tarso, foi criado em Jerusalm (At 22,3; 26,4-5)

    (MESTERS, 1988, p.07).

    O judasmo na dispora tinha caractersticas diferenciadas pelo fato de

    viverem em meio de uma cultura diferente, longe de Jerusalm e do Templo e

    tinham que lidar com problemas diferentes. Mas em geral eram bem mais abertos e

    tolerantes que os judeus da Palestina (BORTOLINI, 2008).

    diferena dos judeus da Palestina, que falavam a lngua aramaica, na

    dispora a lngua falada era o grego. Por isso no deve estranhar que Paulo falasse

    vrias lnguas: falava e escrevia a lngua grega (At 21,37), falava a lngua hebraica,

    que era lngua que se utilizava nas celebraes (lngua em que est escrita a maior

    parte do Antigo Testamento) (At 21,40) e falava tambm o aramaico, lngua comum

    na Palestina do tempo de Jesus.

    Paulo no teve apenas uma formao bsica, como Jesus. Ele tambm teve

    o que na poca seria considerado estudos superiores, pois estudou aos ps de

    Gamaliel (At 22,3).

    Dispora: palavra grega que significa disperso. Nome que se dava aos judeus que moravam fora da Palestina.

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    Mesmo sendo missionrio, Paulo tinha uma profisso, era fabricante de

    tendas (At 18,3). O mais provvel

    que, como todo menino daquele

    tempo, tanto do mundo grego como do

    mundo judeu, tenha aprendido a

    profisso do prprio pai, isto , l

    mesmo em Tarso. A profisso era

    uma caracterstica da famlia. Passava

    de pai para filho (MESTERS, 1988,

    pp.10-11).

    Fonte: http://migre.me/gaQpj

    Como missionrio, Paulo sempre se negou a receber dinheiro pela

    evangelizao, mesmo que reconhecia o direito de quem assim fazia (1 Cor 9,14-

    15), preferia pregar de graa e se manter trabalhando com suas prprias mos para

    no ser um peso para as comunidades (1 Ts 2,9; 2 Ts 3,7-9; 2 Cor 12,13-14).

    Paulo tinha o ttulo de cidado romano. As pessoas que tinham esse ttulo

    gozavam de alguns privilgios, por exemplo, no podiam ser crucificados, nem

    flagelados, podiam apelar ao Supremo Tribunal em Roma (At 16,37; 22.25; 25,3.11).

    Como cidado romano, Paulo fazia parte da elite da cidade. Por incrvel que

    parea nem todos os cidados eram considerados como tais. S as pessoas

    consideradas cidads podiam participar das assembleias onde se decidia o destino

    das cidades. Os escravos e libertos no eram considerados cidados, apenas uma

    pequena elite (MESTERS, 1988).

    Paulo no escreveu livros, mas deixou cartas que ele escreveu para

    completar a formao das comunidades, nas quais, como missionrio itinerante, no

    podia ficar fisicamente presente por muito tempo. Essas cartas abordam assuntos e

    problemas concretos que vo aparecendo na caminhada das comunidades. Quando

    Paulo fica sabendo das dificuldades, de desvios, de problemas de liderana, etc.

    escreve cartas para orientar os cristos.

    Nem todas as cartas atribudas a Paulo foram escritas por ele. Algumas so

    posteriores e provavelmente foram escritas por discpulos de Paulo. Temos certeza

    de que Paulo autor das seguintes cartas: Romanos, Glatas, 1 e 2 Corntios,

    Filipenses, Filemon, 1 Tessalonicenses. Com relao autoria do resto das cartas

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    atribudas a ele, no tem consenso a respeito de quem seria o autor, mas parecem

    ser posteriores a Paulo.

    Veja a seguir uma cronologia da vida do apstolo Paulo:

    Figura 2 Cronologia da vida do apstolo Paulo

    Fonte: http://migre.me/ge6EN

    Na figura acima, voc pode observar as principais datas da vida de Paulo:

    seu nascimento, converso, as viagens, Conclio de Jerusalm, sua priso e morte,

    etc. Isto , Paulo morre antes mesmo de que fosse escrita a primeira verso do

    evangelho (Evangelho de Marcos, por volta do ano 70). Portanto, as obras de Paulo

    so os primeiros escritos do Novo Testamento. Lembre que a ordem dos livros na

    Bblia no cronolgica e sim lgica: primeiro os evangelhos que trazem a Boa

    Nova de Jesus e depois os outros escritos que centram sua ateno nas

    comunidades crists e suas dificuldades.

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    2.2 Paulo antes de sua converso

    Antes da converso, Paulo vivia conforme a lei dos judeus e conforme a

    esperana do seu povo:

    Fui circuncidado no oitavo dia, sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus. Quanto lei judaica, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto justia que se alcana pela observncia da Lei, sem reprovao. (Fl 3,5-6)

    O prprio Paulo fala dessa etapa da vida dele anterior converso, quando

    ele era judeu e perseguia os cristos. Paulo era um judeu zeloso (At 22,3). Tanto

    que no hesitou em ser radical na sua oposio aos cristos: Eu tambm antes

    acreditava ser meu dever combater com todas as foras o nome de Jesus, [...]

    prendi muitos cristos com autorizao dos chefes dos sacerdotes e dei o meu voto

    para que fossem condenados a morte (At 26,9-10). E na carta aos Glatas:

    Certamente vocs ouviram falar do que eu fazia quando estava no judasmo.

    Sabem como eu perseguia com violncia a Igreja de Deus e fazia de tudo para

    arras-la [...] (Gl 1,13).

    Em 1 Tm 1,13, Paulo diz que agia sem saber o que fazia, por ignorncia:

    Apesar de eu ter sido um blasfemo, perseguidor e insolente. Mas eu obtive

    misericrdia porque eu agia sem saber, longe da f.

    Assim, vemos Paulo aprovando o martrio de Estvo. Ele estava l

    presente e achando que Estvo era uma pessoa perigosa. Aprovando a morte dele,

    pensava estar prestando um servio a Deus em defesa da tradio dos pais.

    Estvo acusado de blasfmia, os doutores da Lei o prenderam e o conduziram ao

    sindrio (tribunal religioso dos judeus). O sumo sacerdote perguntou a Estvo se

    era verdade a acusao que se fazia contra ele. Como resposta, Estvo fez um

    discurso, dando testemunho de sua f. Aps seu discurso, Estvo teve uma viso e

    disse: Repleto do Esprito Santo, Estvo olhou para o cu e viu a glria de Deus, e

    Jesus, de p, direita de Deus. Ento disse: Estou vendo o cu aberto e o Filho do

    Homem, de p direita de Deus. (At 7,55-56). Os presentes ficaram com raiva pelo

    testemunho dele: Ento arrastaram-no para fora da cidade e comearam a

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    apedrej-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos ps de um jovem chamado

    Saulo. Esse jovem era Paulo.

    Fonte: http://migre.me/ge6DS

    2.3 Converso de Paulo

    At 9 descreve a converso de Paulo. Ele estava a caminho de Damasco e o

    motivo de sua viagem era continuar com a perseguio dos cristos:

    Saulo s respirava ameaas e morte contra os discpulos do Senhor. Ele apresentou-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas de recomendao para as sinagogas de Damasco a fim de levar presos a Jerusalm todos os homens e mulheres que encontrasse seguindo o Caminho. (At 9,1-2)

    Mas estando a caminho, teve uma experincia que ele interpreta como um

    chamado de Deus a mudar completamente a orientao da sua vida. Ele descreve o

    acontecimento decisivo em sua vida como uma revelao de Cristo (Gl 1,15s), que o

    chamou para ser apstolo dos no judeus (Gl 1,16; 1 Cor 9,1). Dessa maneira, ele

    colocou o seu chamado na mesma categoria das aparies do ressuscitado aos

    demais apstolos (1 Cor 15,8) (SCHNEIDER, 1999, p.10).

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    Para Paulo, foi o prprio Cristo que saiu ao encontro dele na estrada. Esse

    encontro muda totalmente a

    orientao da vida de

    Paulo, o deixa transtornado

    ao ponto de no encontrar

    mais sentido na vida de

    perseguio aos cristos. O

    texto diz que ele fica cego

    (At 9,8) e levado a

    Damasco, onde fica trs

    dias sem conseguir ver e l

    ser batizado e recebe uma

    misso por meio de

    Ananias.

    Fonte: http://migre.me/fYBS6

    De fato, a situao de Paulo no era fcil, a mudana de vida ser radical;

    normal que no incio tenha ficado confuso e que no visse nada claro. Precisava de

    um tempo para colocar as coisas em ordem e encontrar de novo um sentido vida

    dele, que o levar a ser missionrio do Cristo que ele tanto perseguia.

    No temos notcia de nenhum outro apstolo do seu tempo que, como Paulo, tenha tirado as consequncias da obra de Cristo de maneira to profunda e radical, dentro do mesmo esprito com que Cristo o chamou para o discipulado. O mesmo empenho que ele mostrou na perseguio aos cristos manifesta-se dali por diante no anncio do Evangelho de Cristo. Ele deixou tudo para trs e engajou-se ao mximo para tornar a Boa-Nova sobre o Reino de Deus conhecida em todo mundo. (SCHNEIDER, 1999, p. 11).

    Paulo narra na carta aos Filipenses em que sentido muda a sua vida: [...]

    porm, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. E mais

    ainda: considero tudo uma perda, diante do bem superior que o conhecimento do

    meu Senhor Jesus Cristo. Por causa dele perdi tudo e considero tudo como lixo, a

    fim de ganhar Cristo (Fl 3,7-8).

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    A orientao da vida de Paulo muda totalmente: ele tinha status social e

    religioso (cidado romano e fariseu). Mas a partir de agora sua realidade ser bem

    diferente:

    Saulo chegou a Jerusalm e procurava juntar-se aos discpulos. Mas todos tinham medo dele, pois no acreditavam que ele fosse discpulo. Ento Barnab tomou Saulo consigo, o apresentou aos apstolos e lhes contou como Saulo no caminho tinha visto o Senhor, como o Senhor lhe havia falado, e como ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus na cidade de Damasco. Da em diante Saulo ficou em Jerusalm com eles, e pregava corajosamente em nome do Senhor. Saulo tambm falava e discutia com os judeus de lngua grega, mas eles procuravam um jeito de mat-lo (At 9,26-29).

    Diante dessa situao, o melhor para Paulo era se dirigir aos gentis, que

    sero os destinatrios privilegiados da pregao de Paulo. Veja no mapa a seguir as

    viagens que Paulo realizou como missionrio dos gentis:

    Figura 3 Viagens Missionrias do Apstolo Paulo Fonte: http://migre.me/fYBHI

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    2.4 nfases da pregao de Paulo

    Mas, levando em conta que a pregao de Paulo anterior redao dos

    evangelhos, podemos nos perguntar: qual era o contedo da pregao de Paulo?

    Tomando por base a pregao de Atos 13,16-41, e o contedo de suas

    cartas, podemos distinguir algumas afirmaes centrais da atividade missionria de

    Paulo.

    O ponto central da pregao de Paulo era a morte de Cristo por ignorncia e

    culpa das autoridades de Israel e de Pilatos (At 13,27-28). Nos primeiros captulos

    da primeira carta aos Corntios, Paulo explica o significado da cruz de Cristo.

    Conhecer a sabedoria de Deus significa entender o significado da Cruz de Cristo,

    saber que Deus no se revela nas pessoas fortes, sbias e bem-situadas, mas nas

    pessoas consideradas fracas, loucas e humildes (1 Cor 1,18-31).

    Mas junto com a nfase na cruz, Paulo traz a nfase no anncio da

    ressurreio: Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos. A ressurreio de Jesus

    que faz da cruz algo especial, algo novo e que traz a salvao (1 Cor 15,3-4). Sem a

    ressurreio, a cruz mero sofrimento, sem esperana de salvao. (SCHNEIDER,

    1999).

    Seguindo Schneider (1999), podemos traar o seguinte perfil de Paulo como

    missionrio:

    Assim como Jesus, Paulo nunca trabalhou sozinho. Ele tinha seus

    colaboradores e sempre formava lideranas nas comunidades que ele

    fundava. Normalmente Paulo comeava sua pregao na sinagoga e

    escolhia centros urbanos grandes, estratgicos, desde os quais se

    poderia difundir a Boa Nova com mais facilidade (Galcia, Filipos,

    Tessalnica, Corinto, feso).

    O engajamento de Paulo foi radical: apesar de enfermo, percorria

    milhares de quilmetros, [...] esforava-se por transmitir a mensagem

    do Evangelho a todas as pessoas, independente de origem e condio

    social (1 Cor 9,21-23), revelando uma excepcional capacidade de

    adaptao (SCHNEIDER, 1999, p.19);

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    Por meio das cartas, Paulo continua se fazendo presente em suas

    comunidades: Paulo escreve as cartas, junto com seus companheiros,

    para atender s necessidades concretas de cada comunidade. Como

    as viagens no lhe permitiam estar fisicamente presente, se utilizava

    das cartas para continuar as orientaes e completar a evangelizao.

    2.5 As comunidades de Paulo

    As comunidades de Paulo eram comunidades helenistas (de cultura grega).

    Um trao comum a estas comunidades paulinas o fato de pertencerem a um

    mundo radicalmente diferente do judasmo da Palestina. Portanto, os cristos

    dessas comunidades no eram familiarizados com as tradies do mundo judeu, no

    entendiam muito bem os costumes do judasmo e nem aceitam que para ser cristo

    seja necessrio observar a lei do Antigo Testamento, a necessidade da circunciso,

    por exemplo.

    As Comunidades crists de Jerusalm eram fiis s tradies de Israel e ao

    templo. J as comunidades de Paulo, ao contrrio, eram muito crticas com o

    santurio (At 7,48: O Altssimo no mora em casa feia por mos humanas) e com o

    cumprimento da lei.

    As comunidades de Paulo eram muito plurais, renem pessoas de diversas

    categorias e classes sociais: judeus e pagos convertidos, gregos, romanos e

    membros de comunidades locais mais ou menos helenizados na cidade, ricos

    atrados pela filosofia monotesta e pobres atrados pela fraternidade comunitria

    (COMBLIN, 1994, p. 08).

    O ideal de Paulo era a fuso dessa diversidade num s corpo, unidos em

    Cristo: No h mais diferena entre judeu e grego, entre escravo e homem livre,

    entre homem e mulher, pois todos vocs so um s em Jesus Cristo (Gl 3,28).

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    Exerccio 2

    1. Marque a alternativa INCORRETA:

    Paulo, antes de se converter ao cristianismo, era judeu, do grupo dos fariseus.

    a Paulo que devemos a abertura do Evangelho aos gentis, isto , aos no judeus.

    Paulo a traduo de Saulo na lngua grega. O nome que ele usa nas cartas Paulo.

    O nascimento de Paulo foi, possivelmente, no ano 5 d.C., em Tarso, cidade importante da sia Menor.

    Paulo, igual a Jesus, preferia cidades pequenas, por isso desenvolve seu ministrio nas aldeias da sia Menor.

    2. Marque a alternativa INCORRETA:

    Dispora significa disperso e se refere aos judeus que moravam fora da Palestina.

    Alm da formao bsica, Paulo foi discpulo de Gamaliel.

    Paulo era fabricante de tendas, mas mesmo assim, recebia dinheiro das comunidades nas quais pregava.

    Quem tinha ttulo de cidado romano no podia ser crucificado, alm de outros privilgios.

    As cartas de Paulo abordam problemas e dificuldades dos cristos das comunidades.

    3. Marque a alternativa INCORRETA:

    Antes da converso, Paulo era um judeu zeloso cumpridor da Lei do Antigo Testamento.

    Paulo perseguia os cristos, inclusive esteve presente no martrio de Estvo, e o aprovou.

    A pregao de Paulo se centra na morte de Jesus na cruz e sua ressurreio.

    Paulo, diferente de Jesus, preferia trabalhar sozinho, sem colaboradores.

    Paulo nasceu na dispora, porm, seus pais eram judeus da Galileia que migraram para Tarso antes do nascimento de Paulo.

    4. Marque a alternativa correta a respeito das comunidades de Paulo:

    As comunidades de Paulo eram as comunidades de judeus de Jerusalm que se converteram ao cristianismo.

    Os cristos das comunidades helenistas acreditavam que a circunciso era

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    fundamental para os cristos.

    O ideal de Paulo que se mantenham as diferenas entre homens e mulheres, assim como entre gregos e judeus e entre escravos e livres.

    As comunidades de Paulo eram muito crticas com o templo e com o cumprimento da Lei.

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    UNIDADE 3 CARTAS DE PAULO

    O objetivo desta unidade adentrar nas cartas de Paulo, distinguindo quais

    cartas so realmente da sua autoria, apresentando o contexto das comunidades s

    quais se dirige cada uma delas e quais os ensinamentos de Paulo nas principais

    cartas.

    Paulo se apresentava como apstolo e defendia esse ttulo. A palavra

    apstolo significa enviado e o termo era dado ao grupo dos Doze que

    acompanharam Jesus durante a vida pblica e que foram enviados aps sua

    Ressurreio. Paulo no fazia parte desse grupo, pois, como sabido, se converteu

    ao cristianismo depois da morte de Jesus. Porm, ele se considerava apstolo

    porque achava que o prprio Jesus o tinha estabelecido como apstolo: Paulo,

    apstolo no da parte dos homens, nem por meio de um homem, mas da parte de

    Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos (Gl 1,1).

    Em Gl 2,6-9, Paulo fala de dois tipos de apstolos: os enviados a pregar aos

    judeus, aos circuncisos, que seriam o grupo de Pedro, e os enviados a pregar aos

    incircuncisos, isto , s naes pags, gentis. Paulo faz parte deste ltimo grupo.

    Porm, isso para ele no motivo para se sentir inferior queles outros (Gl 2,6).

    Paulo foi um missionrio itinerante. E foi assim que nasceram as cartas.

    Paulo no escreve um catecismo, nem um resumo de doutrina, nem uma exposio

    do evangelho. A sua mensagem estava diretamente relacionada com os

    interlocutores. No era uma mensagem impessoal, falsamente universal; era a

    palavra de Paulo para pessoas individualizadas (COMBLIN, 1994, p. 06).

    Por isso, temos que ser prudentes na hora de interpretar suas palavras, pois

    ele responde a problemas e dificuldades concretos das comunidades. O seu

    pensamento amolda-se circunstncia e no pode ser extrapolado de modo

    imprudente fora da circunstncia (COMBLIN, 1994, p. 06).

    Segundo Comblin (1994), os escritos de Paulo tm carter apologtico,

    continuamente ele est se defendendo e se explicando. Pois, pelo fato de ser judeu

    da dispora, muitos supunham que ele podia estar contaminado por ideias pags.

    Paulo insiste no seu carter hebraico, na sua origem farisaica. Por outro lado, Paulo

    no recebeu de Jesus diretamente os ensinamentos. Nesse sentido, Paulo insiste

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    em que foi chamado pelo prprio Jesus ressuscitado, do mesmo jeito que aconteceu

    com os outros apstolos.

    3.1 Cronologia, local e autoria das Cartas de Paulo

    Como dizamos na unidade anterior, temos certeza de que Paulo autor

    apenas das seguintes cartas: Romanos, Glatas, 1 e 2 Corntios, Filipenses,

    Filemon, 1 Tessalonicenses. Veja no quadro a seguir uma provvel cronologia

    dessas cartas, assim como o lugar onde se supe que foram escritas e os autores:

    Quadro 2 Destinatrios, data, local e autores das Cartas de Paulo

    Destinatrios Data Local Autores

    Tessalonicenses 51 Corinto Paulo, Timteo e Silvano (1 Ts 1,1)

    Corntios (1 Carta) Entre 54 e 56 feso Paulo e Sstenes (1 Cor 1,1)

    quila e Priscila (1 Cor 16,19)

    Glatas Entre 54 e 56 feso Paulo e os irmos (Gl 1,2)

    Filipenses Entre 54 e 56 feso Paulo e Timteo (Fl 1,1)

    Filemon Entre 54 e 56 feso Paulo e Timteo (Fm 1)

    Corntios (2 Carta) Entre 55 e 56 feso e Macednia

    Paulo e Timteo (2 Cor 1,1)

    Romanos 56 Corinto Paulo e equipe (Rm 16,21-23)

    Fonte: Adaptado de Gass (2005a, p. 151)

    3.2 Primeira Carta aos Tessalonicenses

    Trata-se da primeira carta escrita por Paulo, por volta do ano 51. Quer dizer

    que se trata tambm do primeiro escrito do Novo Testamento. Vale lembrar que os

    evangelhos aparecero s depois. O evangelho de Marcos, que o primeiro, ser

    escrito nos anos 70.

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    Estamos to acostumados a atribuir as cartas a Paulo, que raramente

    percebemos que as cartas falam de vrios autores, como se pode ver no quadro

    acima. Segundo Ts 1,1 a carta foi escrita por Paulo, Silvano e Timteo e lgico que

    assim seja, pois j vimos que uma das caractersticas do jeito missionrio de Paulo

    que ele nunca trabalhou sozinho.

    Segundo At 16,19-40, Paulo estava em Filipos e, por causa da perseguio,

    teve que sair de l e se dirigiu a Tessalnica, que um grande centro comercial na

    poca de Paulo. Veja a situao da cidade grega no mapa a seguir.

    Figura 4 Situao geogrfica de Tessalnica

    Fonte: Auth, 2001.

    No h advertncias muito srias nesta carta. Parece que o principal

    problema eram os defuntos. Os cristos entenderam que tinham que esperar uma

    vinda prxima de Jesus. Ficaram preocupados porque alguns deles morreram: estes

    estariam fora da salvao de Cristo, j que no estaro presentes no dia da sua

    vinda (COMBLIN, 1994, p. 24). Paulo acalma nesse sentido os cristos, dizendo

    que os que j tenham morrido quando da vinda de Jesus ressuscitaro primeiro, s

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    depois que sero arrebatados os que estejam vivos. Isto , a salvao tanto para

    os que j tenham morrido como para os que estejam vivos.

    3.2.1 Segunda Carta aos Tessalonicenses

    A segunda carta deuteropaulina, isto , possivelmente no seja de Paulo.

    Mesmo assim, dedicamos aqui umas breves palavras. Trata-se de uma carta muito

    breve e responde a um nico questionamento: o

    problema da parusia. Entre os primeiros

    cristos, muitos entenderam de maneira errada

    que a segunda e definitiva vinda de Jesus seria

    iminente. A crena na iminncia do advento do Juiz ltimo leva alguns discpulos a

    abandonarem toda preocupao pela vida temporal. Deixam de trabalhar

    (COMBLIN, 1994, p. 24). nesse contexto que Paulo adverte a todos os que no

    querem trabalhar a frase to conhecida: quem no quer trabalhar, tambm no

    coma (2 Ts 3,10), os cristos no podiam ser um peso para as comunidades.

    3.3 Primeira Carta aos Corntios

    Segundo At 17,16-34, como consequncia do fracasso de Paulo na cidade

    de Atenas, ele decidiu sair de l e se dirigiu a Corinto. A comunidade de Corinto foi

    fundada por volta do ano 50 d.C., na segunda viagem missionria de Paulo.

    Figura 5 Situao geogrfica de Corinto Fonte: Auth, 2001.

    Parusia: termo de origem grega, normalmente empregado para falar da segunda vinda de Jesus Cristo.

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    Depois de ter fundado a comunidade, aps alguns anos, provavelmente em

    feso, Paulo recebe notcias da comunidade de Corinto por meio de alguns da casa

    de Cloe (1 Cor 1,12-17). Tambm recebeu uma carta com notcias de l (1 Cor

    16,17). Paulo fica sabendo que havia muitos problemas e tenses na comunidade

    de Corinto.

    A prosperidade da cidade de Corinto baseava-se fundamentalmente no

    comrcio. Segundo Schneider (2008, p.22), um pequeno segmento da populao

    havia conseguido fazer fortuna e ascender a uma condio social mais confortvel

    do que a da grande massa, composta majoritariamente de escravos e artesos

    pobres.

    Os problemas levantados na carta so os que se podiam esperar de uma comunidade formada, sobretudo por convertidos sados do paganismo. A converso no muda de repente a personalidade. Muitas atitudes tpicas da civilizao urbana das cidades gregas continuaram existindo sem que os novos cristos percebessem a incompatibilidade da f em Cristo. Paulo pretende justamente salientar essa incompatibilidade. (COMBLIN, 1994, p. 13)

    Seguindo Schneider (2008), podemos elencar os seguintes problemas

    prticos, para os quais Paulo e Sstenes propem solues na primeira carta aos

    Corntios:

    Perigo de diviso da comunidade em diversos grupos. Paulo alerta

    dos problemas das panelinhas, do perigo dos agentes de pastoral

    adotarem atitudes personalistas. Os lderes so instrumentos, mediaes.

    Os cristos no devem ficar divididos devido aos lderes dos diferentes

    grupos, pois Cristo no est dividido. E foi em nome de Cristo que todos

    foram batizados. Paulo diz: mantenham-se de acordo uns com os outros.

    [...] Uns dizem: Eu sou de Paulo! E outros: Eu sou de Apolo! E outros:

    Eu sou de Pedro! [...] Ser que Cristo est dividido? (1 Cor 1,10-13).

    Opo preferencial de Deus pelas pessoas fracas, desprezadas e

    sem projeo na sociedade (1 Cor 1,26-29). Paulo fala de sabedoria e

    fora de Deus diferente do que considerado nos padres humanos. A

    maior prova disso a crucificao de Cristo por parte da classe dirigente

    da poca. Se ela pudesse, por meio de sua sabedoria e fora, conhecer a

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    Deus, certamente no teria crucificado a Cristo (SCHNEIDER, 2008,

    p.33).

    Relaes sexuais ilcitas (1 Cor 5). Um membro da comunidade

    estava envolvido em uma relao incestuosa (um homem mantinha

    relaes sexuais com a mulher do seu pai) e parece que o resto da

    comunidade era ciente e permitia: E vocs se enchem de orgulho, ao

    invs de ficarem tristes (1 Cor 5,2). Para Paulo, a conduta dos cristos

    deve ser condizente com a f que eles professam, sem se deixar levar por

    atitudes e costumes que no levam ao crescimento nem pessoal nem

    comunitrio.

    Processos movidos entre os membros da comunidade diante da

    autoridade pblica (a Cor 6). Paulo considera inaceitvel o fato de que

    haja litgios entre os membros de uma comunidade: S o fato de

    existirem questes entre vocs j mostra que vocs falharam

    completamente (1 Cor 6,7). Mas pior ainda que os prprios membros

    da comunidade no consigam resolver o problema e seja necessrio

    acudir a pessoas de fora da comunidade para resolver o atrito. Para

    Paulo, absurdo que dois cristos procurem um pago para resolver uma

    pendncia entre eles. Isto , se os cristos no conseguem se entender

    entre si, vo entender a quem?

    Segundo a CRB (1995, p.235), a primeira carta aos Corntios talvez seja

    de todas as cartas de Paulo o exemplo mais claro da dificuldade e da

    necessidade da enculturao da mensagem crist.

    Relaes entre homem e mulher (1 Cor 7). Trata-se de um

    questionamento colocado pela comunidade. Esto em dvida a respeito

    de qual deve ser a atitude dos cristos em certas situaes que envolvem

    a relao entre homem e mulher e dos escravos com o senhor. Paulo fala

    aqui do limite da liberdade crist nessa rea. H coisas que no so

    convenientes por no combinarem com os novos valores propostos pelo

    Evangelho. De maneira equilibrada Paulo distingue o que so

    ensinamentos do prprio Jesus e o que so ensinamentos prprios. Paulo

    acredita que o melhor seria ficar como ele, solteiro, livre para se dedicar

    misso e evangelizao, mas tambm sabe que isso no para todos e

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    acha que quem sentir esse chamado, melhor que case: Aos solteiros e

    s vivas, digo que seria melhor que ficassem como eu. Mas, se no so

    capazes de dominar seus desejos, ento se casem, pois melhor casar-

    se do que ficar fervendo (1 Cor 7,8-9). Fala tambm da possibilidade de

    separao quando vira insuportvel a convivncia do casal por causa da

    converso apenas de um deles ao cristianismo. Motivo: pois foi para viver

    em paz que Deus nos chamou (1 Cor 7,15).

    Problemas entre os fracos e os fortes da comunidade (1 Cor 8-

    10). Aqui o problema que havia pessoas dentro da comunidade crist

    que achavam que no deveriam comer as carnes que os pagos

    ofereciam aos deuses e que depois eram vendidas nos aougues. Esses

    cristos so chamados de fracos. Enquanto que os fortes achavam

    que comer essas carnes no tinha nada de mais, visto que eles no

    acreditavam nesses deuses e, portanto, as carnes seriam igual s outras

    que se vendiam no aougue. Paulo da mesma opinio que os fortes,

    porm, ele entende os fracos: Alguns, at h pouco acostumados ao

    culto aos dolos, comem a carne dos sacrifcios como se fosse realmente

    oferecida aos dolos (1 Cor, 8,7). Por isso, ele prefere que os fortes da

    comunidade tenham uma atitude de respeito para com os mais fracos

    para evitar que eles fiquem escandalizados sem necessidade: No so

    os alimentos que nos aproximam de Deus: se deixamos de comer, nada

    perdemos; e se comemos, nada lucramos. Cuidem, porm, que a

    liberdade de vocs no se torne ocasio de escndalo para os fracos (1

    Cor 8, 8-9). Existem aquelas pessoas que, embora tendo aceito o

    Evangelho de Jesus Cristo, ainda no deram o passo libertador que esse

    conhecimento proporciona. Elas ainda [...] esto presas ao costume

    antigo (SCHNEIDER, 2008, p. 43).

    As mulheres durante o culto (1 Cor 11,1-16). Segundo Schneider

    (2008), neste caso, precisamos levar em conta que tudo estava ainda em

    processo de definio; as formas ainda no estavam consolidadas, mas

    tanto Paulo quanto a comunidade estavam na procura da forma mais

    adequada para a nova proposta evanglica. Parece que em Corinto

    houve mulheres que abandonaram o jeito costumeiro das mulheres se

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    apresentarem em pblico e isso causou mal-estar. O efeito seria o

    mesmo se os homens comeassem a se apresentar com a cabea

    coberta ou de cabelo comprido, pois estariam assumindo feies culturais

    tpicas das mulheres (v.14) (SCHNEIDER, 2008, p. 45). Seria parecido

    ao que se pede hoje quando se insiste em que as mulheres no entrem

    na igreja com minissaia ou com grande decote. De qualquer maneira, tem

    que se destacar que Paulo no limita a participao das mulheres, elas

    podem participar, mas orienta a usar roupas que o costume da poca

    considerava adequadas para as mulheres.

    Desrespeito aos membros mais pobres durante as eucaristias (1

    Cor 11,17-34). Naquela poca a eucaristia era celebrada como uma

    refeio comunitria, como uma ceia. O problema apresentado aqui por

    Paulo no uma questo litrgica, mas um problema de partilha, da

    prtica da refeio comunitria. Parece ser que alguns membros da

    comunidade desvirtuaram a refeio de tal maneira que perdeu seu

    carter comunitrio, pois cada um estava fazendo sua prpria refeio (1

    Cor 17,21). Pelo que Paulo

    conta, parece que alguns

    chegavam antes na

    celebrao e comiam e

    bebiam antes que chegassem

    os outros que, segundo o

    v.22, nada tinham, passavam

    fome (v.21). Sobrava para

    elas a participao na liturgia

    da Ceia do Senhor, destituda

    do seu carter solidrio

    (SCHNEIDER, 2008, p. 47).

    Fonte: http://migre.me/gjJqQ

    Importncia relativa dos dons espirituais e dos critrios para

    apreci-los (1 Cor 12-14). Aqui Paulo aborda a vida comunitria, falando

    dos diversos carismas, ou seja, dos talentos, capacidades e dons

    especficos de cada membro para o servio dentro da comunidade, dando

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    recomendaes de como fazer uso adequado deles especialmente no

    culto pblico (SCHNEIDER, 2008, p. 50). Os dons ou carismas so

    muitos, mas a origem de todos eles a mesma: o Esprito de Deus. Muito

    acertadamente, Paulo se usa da metfora do corpo para se fazer

    entender a respeito da necessidade de todos os membros, inclusive

    daqueles que parecem mais desprezveis, menos importantes. Faltando

    um membro, seja qual for, fica comprometida a unidade funcional e a

    harmonia do conjunto. Parece que o problema que havia em Corinto

    que alguns procuravam os dons mais espetaculares (o dom de lnguas,

    por exemplo). Diante disso, Paulo aponta dois critrios para avaliar quais

    seriam os melhores dons: o amor e a edificao da comunidade. Isto , se

    o dom no estiver acompanhado da caridade e se no servir para o

    crescimento comunitrio... de nada serve, mesmo que seja espetacular. O

    Esprito derrama seus dons para o bem comum e no para que o cristo

    possa ser enaltecido por causa do carisma recebido.

    Correta compreenso da Ressurreio (1 Cor 15). Parece que havia

    na comunidade quem afirmava que

    no h ressurreio (v.12). Mas

    para Paulo, isso no faz sentido,

    pois isso esvaziaria a esperana

    crist: Se os mortos no

    ressuscitam, comamos e bebamos,

    pois amanh morreremos (1 Cor

    15,32). A esperana transcende a

    realidade. Quem cr olha para

    alm do que v. Por isso capaz

    de ter esperana contra toda

    esperana (SCHNEIDER, 2008, p.

    54).

    Fonte: http://migre.me/gjJZ4

    Coleta para a comunidade pobre de Jerusalm (1 Cor 16). A ltima

    questo exposta na carta diz respeito relao entre a comunidade de

    Corinto e as demais comunidades crists. Paulo recomenda que a

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    comunidade de Corinto adiante o servio de coleta de recursos para

    serem enviados comunidade de Jerusalm, que se encontrava em

    estado de misria (SCHNEIDER, 2008, p. 57). Para Paulo, a partilha dos

    bens materiais um sinal do verdadeiro esprito evanglico e ecumnico

    (Rm 15,25-27). As comunidades devem estar unidas e se assistirem

    mutuamente nas suas necessidades, com esprito universal, em lugar de

    ficarem fechadas no imediato do local e do regional. Os cristos fazem

    parte de uma comunidade local e outra universal, a oikumene.

    Sugesto de leitura

    Para maior aprofundamento do contedo da Primeira Carta aos Corntios,

    aconselho a leitura de:

    SCHNEIDER, Nlio. Primeira Carta de Paulo aos Corntios.

    So Leopoldo, RS: CEBI, 2008.

    O livrinho, da Srie A Palavra na Vida, apresenta com

    linguagem muito clara e acessvel a mensagem e o contexto

    da Primeira Carta aos Corntios. A leitura amena e

    prazerosa.

    Fonte: http://migre.me/gjJPO

    Exerccio 3

    1. Marque a alternativa correta:

    Todas as cartas atribudas a Paulo foram realmente escritas por ele.

    A palavra apstolo significa enviado e era dada a todos os cristos das primeiras comunidades.

    As cartas surgiram porque Paulo era itinerante e escrevia para completar a

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    formao das comunidades nas quais no se encontrava mais fisicamente presente.

    A mensagem das cartas era impessoal, de maneira que pudesse ser aplicada a qualquer comunidade da poca de Paulo.

    2. Faa a correspondncia correta:

    1 Tessalonicenses

    2 Tessalonicenses

    1 Corntios

    Carta que tem como principal preocupao a questo da parusia.

    Primeira carta de Paulo a ser escrita.

    Carta deuteropaulina, que possivelmente no seja da autoria de Paulo.

    Carta que contm resposta a muitos problemas do dia a dia da comunidade.

    Carta que se pergunta a respeito da salvao dos que morreram antes da vinda definitiva de Jesus.

    Fala a respeito dos carismas e dos critrios para avali-los corretamente.

    3. Marque a alternativa INCORRETA a respeito da Primeira Carta aos Corntios:

    Uma das preocupaes que reflete a carta com as panelinhas dentro da comunidade.

    Paulo responde na carta a questionamentos da comunidade a respeito da relao entre o homem e a mulher.

    Os fracos da comunidade eram pessoas com comportamento sexual inadequado.

    Segundo Paulo, os dons melhores so os que edificam a comunidade. O Esprito d os dons para o bem comum.

    3.4 Carta aos Glatas

    Carta escrita por volta do ano 55, por Paulo junto com outros irmos que

    estavam com ele, mas que no aparecem com nome na carta (Gl 1,2). Afirma a

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    autenticidade de seu apostolado, se defendendo daqueles que o acusavam de no

    ser apstolo.

    Paulo escreve aos cristos da Galcia, provncia da sia Menor. Trata-se de

    um povo com mistura de raas. Havia famosos mercados de escravos. As

    comunidades da Galcia eram formadas por cristos no judeus (cf. Gl 4,8). Paulo

    compara a caminhada dos glatas a uma prova de atletismo: Vocs estavam

    correndo bem (5,7), Porm, na ausncia de Paulo, chegaram s comunidades

    alguns judaizantes, pessoas que eram partidrias de que tambm os cristos teriam

    que cumprir a lei dos judeus, sobretudo a circunciso (como veremos no Conclio de

    Jerusalm). Parece que os glatas deixaram se seduzir e Paulo chama sua ateno:

    Estou admirado de vocs estarem abandonando to depressa aquele que os

    chamou por meio da graa de Cristo, para aceitarem outro evangelho. H somente

    pessoas que esto semeando confuso entre vocs e querem deturpar o Evangelho

    de Cristo (Gl 1,6-7).

    Figura 6 Situao geogrfica da Galcia Fonte: http://migre.me/gjQCo

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    Segundo Gass (2005), trata-se da carta mais radical de Paulo. Se

    tivssemos que resumir toda a carta em uma frase, escolheramos Gl 5,1a: Cristo

    nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres.

    Para Paulo no faz mais sentido viver segundo a lei. Os que vivem segundo

    a lei no vivem a liberdade dada por Jesus. Os cristos devem viver na liberdade,

    deixando-se levar pelo amor e guiados pelo Esprito. A justia ou a justificao,

    segundo Paulo no vem pelo cumprimento da lei e sim pela f, pela adeso ao

    Evangelho.

    A justia que vem da f parte da constatao de que ningum pode, por conta e mritos prprios, obter a justia. Os judaizantes afirmam justamente o contrrio: para ser povo de Deus e para conseguir a salvao, preciso submeter-se circunciso e prtica de tudo o que a lei de Moiss determina. (BORTOLINI, 1991, p. 19).

    Paulo chega a afirmar que se a justia vem atravs da Lei, ento Cristo

    morreu em vo (Gl 2,21b). Isto : que necessidade teramos de Cristo se

    pudssemos conseguir a justificao, a salvao pelo cumprimento da Lei?

    3.4.1 Conclio de Jerusalm

    nesse contexto de pluralidade e de busca do dilogo e da comunho entre

    os diversos grupos que devemos entender o Conclio de Jerusalm.

    Para os cristos helenistas, bastava que a pessoa acolhesse o Evangelho

    para ser considerado cristo e ser aceito na comunidade; aceitavam a participao

    de pessoas vindas de outras culturas e outras tradies. Eram mais abertas ao

    mundo, convivncia com os diferentes. J os cristos das comunidades de

    Jerusalm, que eram de origem judaica (judeu-cristos), achavam que para ser

    cristo, precisava acolher, alm do Evangelho, as leis da tradio do judasmo, do

    Antigo Testamento.

    Surge um conflito entre essas duas maneiras de entender o cristianismo: uns

    de maneira mais aberta e outros de maneira mais fechada, achando que o

    cristianismo devia ficar ainda atrelado ao judasmo e suas leis.

    Era uma questo importante, que levou as comunidades primeira crise:

    que caminho tomar? Qual era a atitude correta? Era correto aceitar os incircuncisos,

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    sentar mesa com eles, aceit-los nas comunidades...? O correto era dar prioridade

    ao Evangelho e deixar para trs prticas como a circunciso? O Conclio de

    Jerusalm (ano 49) pretende dar uma resposta.

    Mesmo que os helenistas sero recebidos como membros de pleno direito

    na igreja, ainda havia grupos que no aceitavam essa abertura: Chegaram alguns

    homens da Judeia e doutrinavam os irmos de Antioquia, dizendo: Se no forem

    circuncidados, como ordena a Lei de Moiss, vocs no podero salvar-se (At

    15,1). Portanto, como barreira do sistema religioso, a Lei ainda se ope salvao

    dos pagos. No se trata apenas de discutir a metodologia missionria; debate-se o

    princpio mesmo da salvao crist universal (FABRIS, 1984, p. 146).

    Temos dois textos que falam do conclio: Gl 2,1-10, que contm talvez a verso

    mais antiga e mais prxima dos acontecimentos, e At 15,1-29.

    Foram a Jerusalm Barnab, Tito e Paulo. Tentam superar o conflito por meio

    do dilogo: Ento os apstolos e os ancios se reuniram para tratar desse assunto

    (At 15,6). Eles conseguiram fazer valer seus argumentos em favor da comunho de

    mesa com os incircuncisos diante das lideranas das igrejas de Jerusalm. Chegam

    ao seguinte consenso: os cristos helenistas no precisavam se circuncidar, com

    isso se reconhece a validade da abertura que defendiam os helenistas.

    Todavia, na histria do primeiro Conclio h um particular que fere a liberdade

    crist em relao Lei. o final do discurso de Tiago (FABRIS, 1984), que pede

    que os incircuncisos ao menos se abstenham de prticas mais chocantes para os

    judeus, como das carnes imoladas aos dolos, do sangue, das carnes sufocadas e

    das unies ilegtimas (At 15,20.29). Quer dizer, o Conclio d abertura, mas no

    total, ainda havia restries que os cristos deveriam cumprir.

    3.5 Carta aos Filipenses

    Carta escrita por Paulo e Timteo, provavelmente em feso, durante a

    priso de Paulo no ano 55.

    Segundo Gass (2005, p. 162), possvel que a carta seja uma coletnea de

    bilhetes sobre vrios assuntos: Paulo agradece o auxlio enviado pela comunidade,

    [...], adverte a comunidade contra a diviso e previne os filipenses contra a pregao

    dos cristos judaizantes.

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    Filipos era a capital do imprio na Macednia. uma cidade com

    importncia estratgico-militar. Predominava a escravido. Mais ou menos metade

    dos seus habitantes era de origem latina, considerando-se romanos (GASS, 2005a).

    Figura 7 Situao geogrfica de Filipos Fonte: http://migre.me/gomDw

    O texto mais representativo e mais importante da carta o hino cristolgico

    de Fl 2,6-11, que apresenta dois movimentos:

    O primeiro descendente (Fl 2,7-8): Jesus desce at o nvel dos

    escravos. Mesmo sendo de condio divina, se humilhou at a morte e

    uma morte de cruz.

    Esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condio de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente at a morte, e morte de cruz! (Fl 2,7-8)

    O segundo ascendente (Fl 2,9-11): como consequncia de seu

    esvaziamento, de sua doao, Deus o glorifica, o exalta.

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    Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que est acima de qualquer nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no cu, na terra e sob a terra; e toda lngua confesse que Jesus Cristo o Senhor, para a Glria de Deus Pai. (Fl 2,9-11)

    Paulo apresenta Cristo neste hino como o Filho de Deus que no se apegou

    condio divina, mas se aniquilou a tal ponto que se faz servo. E exatamente

    devido a essa atitude de aniquilamento, de mxima solidariedade, que Deus o exalta

    como Senhor da histria.

    3.6 Carta a Filemon

    Carta escrita por Paulo e Timteo, por volta do ano 55 em feso. Trata-se do

    escrito mais breve de Paulo. a aplicao concreta do princpio de Gl 3,28 e 1 Cor

    12,13 (GASS, 2005).

    Segundo Cl 4,7-9, Filemon morava em Colossas. Em sua casa se reunia

    uma grupo de cristos (v.2). Filemon possua um escravo, chamado Onsimo. Tudo

    indica que Onsimo fugiu da casa de Filemon e buscou abrigo junto a Paulo,

    enquanto este se encontrava preso, provavelmente em feso (GASS, 2005a, p.

    164).

    Onsimo se converte ao cristianismo e batizado. Por conta da sua

    converso, Paulo escreve esse bilhete a Filemon insistindo que acolha Onsimo,

    mas no mais como escravo e sim como irmo, pois agora ele batizado, irmo em

    Cristo.

    Embora a carta fosse dirigida a uma s pessoa, ela atingiu e envolveu toda a

    comunidade (v.2). Por meio da carta,

    Paulo implicitamente deslegitima a

    instituio vigente. Mostra que a

    solidariedade (agap) praticada pela

    comunidade crist capaz de superar

    as estruturas de dominao e de formar

    um novo relacionamento de iguais

    (CRB, 1995).

    Fonte: http://migre.me/gohNl

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    3.7 Segunda Carta aos Corntios

    Carta escrita por Paulo e Timteo, por volta do ano 56. Nesta carta Paulo

    aborda a questo do agente de pastoral e como este deve lidar com o poder.

    Mostra o conflito aberto entre Paulo e apstolos vindos de Jerusalm, chamados de

    superapstolos (cf. 11,5) [...] A carta trata abundantemente dos falsos agentes de

    pastoral nas comunidades de Corinto (GASS, 2005a, p. 158).

    Para Paulo, o que legitima o apstolo , em primeiro lugar, sua fecundidade.

    E, por incrvel que parea, outro indicador de autenticidade, para Paulo, a prpria

    fraqueza, pois Deus escolhe apstolos fracos para destacar sua prpria fora.

    Em 2 Cor 2,14-7,4, Paulo fala a respeito do agente de pastoral e do poder.

    Os falsos agentes de pastoral enganavam e seduziam a comunidade. Paulo muito

    duro com esses agentes, pois ele sabe que fcil seduzir as pessoas, basta recorrer

    ao prestgio da posio social, ao poder das palavras. Segundo Paulo, as

    consequncias so:

    Falsificavam a palavra de Deus (2 Cor 4,2). O Evangelho no mais a

    fora que liberta para a vida, mas simples pretexto para que os agentes

    de pastoral mantenham seus privilgios e continuem dominando o

    povo (BORTOLINI, 1992, p. 18). Levados por interesses pessoais,

    impediam a comunidade de manter uma atitude crtica: tudo o que eles

    faziam era o justo;

    Esses agentes de pastoral reproduzem o jeito de entender o poder

    neste mundo, isto , levam alienao.

    Paulo mostra que o poder do agente de pastoral no est no prestgio, nem

    na seduo das palavras. Ao contrrio. Reside nas situaes de fraqueza,

    humilhao, perseguio; numa palavra, nas situaes de morte que ele enfrenta

    (BORTOLINI, 1992, p. 19):

    Levamos este tesouro em vasos de barro, para que se manifeste que sua fora superior vem de Deus e no de ns. De todos os lados nos apertam, mas no nos afogam; estamos em apuros, mas no desesperados; somos perseguidos, mas no desamparados; derrubados, mas no aniquilados; sempre carregando no corpo a

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    morte de Jesus, para que se manifeste em nosso corpo a vida de Jesus. (2 Cor 4,7-10)

    Outro assunto importante desta carta a chamada coleta a favor dos irmos

    de Jerusalm, que abordada em 2 Cor 8-9. O ideal de Paulo que todos os

    cristos tenham o necessrio para viver. Isto s poder se alcanar contando com a

    partilha, com a generosidade daqueles que tm mais. nesse sentido que se deve

    entender a coleta. No se trata de uma esmola a favor dos pobres de Jerusalm, e

    sim de uma prtica destinada a refazer a igualdade entre todos os cristos, sinal e

    anncio da igualdade entre todos os homens (COMBLIN, 1994, p. 15).

    3.8 Carta aos Romanos

    Carta escrita desde Corinto por volta do ano 56, durante a terceira viagem

    missionria de Paulo. Nesta carta, Paulo aprofunda a temtica da Carta aos Glatas,

    isto , a salvao que vem pela f e no pelo cumprimento da lei.

    Roma era a capital do imprio em que as desigualdades econmicas eram

    muito grandes. Paulo no fundou as comunidades crists romanas. So as nicas

    igrejas que no tinha visitado (GASS, 2005a, p.167).

    No ano 60 Paulo chega a Roma como prisioneiro e l permanece em priso

    domiciliar por dois anos (At 28,11-31). Paulo foi morto em torno do ano 65, durante a

    perseguio dos cristos em Roma desencadeada pelo imperador Nero.

    Segundo Comblin (1994, p. 09), a comunidade de Roma j tinha vrios

    anos de existncia. Tinha sido provavelmente fundada por judeus que estiveram em

    Jerusalm e devia ter contatos frequentes com Jerusalm. Com certeza era mais

    conservadora do que Paulo. Talvez seja por isso que Paulo sente a necessidade de

    preparar sua visita enviando previamente uma carta, pois talvez tema no ser bem

    recebido.

    Embora os cristos de Roma sejam em sua maioria de origem no judia, h

    entre eles judeus e o ambiente geral permanece apegado s razes judaicas

    (COMBLIN, 1994). Paulo q