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Contra o Arianismo Moderno Parte I. Willian Orlandi

Contra o arianismo moderno

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Page 1: Contra o arianismo moderno

Contra o

Arianismo

Moderno Parte I.

Willian Orlandi

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1. Introdução 3

2. Totalmente Divino e totalmente humano 4

3. A Divindade de Jesus 6

4. Refutação aos arianos 25

5. A humanidade de Jesus 31

6. Implicações práticas 32

7. Conclusão 37

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Introdução.

É dever de todo genuíno cristão defender o evangelho (Fl 1.16), batalhar

diligentemente pela fé que foi dada aos santos (Jd 3) e estar sempre preparado para

responder a todo aquele que pedir razão da esperança que há em nós (1 Pe 3.15).

Por esta razão, nesse brevíssimo estudo, tomei a responsabilidade de combater uma

velha heresia chamada Arianismo.

O Arianismo foi a principal heresia dos primeiros séculos da história da igreja. Ário, um

diácono de Alexandria, ensinava que Jesus era apenas uma criatura, e não O Deus

Eterno1. Uma frase que pode resumir esse ensinamento é: “Houve um tempo em que

Cristo não era...”. Os debates sobre esta questão levou a formulação de uma das mais

importantes confissões de fé cristã, o Credo de Nicéia, realizado na cidade de Nicéia

em Maio de 325 d.C.

O Arianismo tem reaparecido na atualidade no ensino das “testemunhas de Jeová”

(Nesse estudo as denominarei “russelitas”, seu nome original por seguirem os

ensinamentos de Charles Taze Russel).

Nessa primeira parte de nosso estudo, veremos de um modo breve o que a Bíblia

ensina sobre a Pessoa de Jesus Cristo, e na segunda parte trataremos sobre a Pessoa

do Espírito Santo.

Normalmente, não se é apresentada corretamente a doutrina da Triunidade de Deus

aos russelitas (pelo menos é o que observei em meus debates com eles). Antes de

prosseguir preciso deixar claro algumas coisas sobre a doutrina da Trindade (Nesse

estudo não irei debater sobre a Trindade em Si, mas apenas a Pessoa do Filho).

1º A doutrina da Trindade não é o Sabelianismo.

Sabélio, presbítero de Ptolemaida, cria na noção de que só havia uma Pessoa Divina,

Deus Pai, que se manifesta nas três formas, Pai, Filho, Espírito Santo, ou seja, é alguém

que se transformou no processo da história2.

2º A doutrina da Trindade não é Modalismo.

Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, entendia que Deus se apresentou de três

modos, mas não existia eternamente como três Pessoas3.

1 Franklin Ferreira e Alan Myatt, “Teologia Sistemática” pág 488.

2 Ibid.

3 Ibid.

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4

No primeiro, Deus se transforma, no segundo Deus assume papéis diferentes. Creio

que Ário fugiu dessas duas heresias, mas se lançou no extremo oposto, ou seja, negar

totalmente a Divindade de Cristo e do Espírito Santo.

3º A doutrina da Trindade ensina a Unidade na diversidade e a diversidade na

Unidade.

Três Pessoas e Uma Essência. O Pai é O Deus Único, O Filho É O Deus Único e O Espírito

Santo É O Deus Único. Assim como O Pai não é O Filho, O Filho não É O Espírito Santo,

e O Espírito Santo não É O Pai. Deus é uma essência única e simples, em que

compreendemos três Pessoas. Para os russelitas isso é uma loucura. Eles negam

completamente a possibilidade de Deus existir na forma de três Pessoas. Deus é um, e

todas as afirmações bíblicas são interpretadas como incompatíveis com a diversidade

de Pessoas na Trindade. Os versos que afirmam a distinção das Pessoas da Trindade

são interpretados como declarações de uma distinção ontológica4.

Apenas apresentei esse breve comentário sobre a Trindade para esclarecimento.

Prossigo agora para uma exposição da verdade bíblica bem como a refutação dos

principais argumentos do neo-arianismo. Como toda heresia consiste em se pegar um

versículo, e tirar de seu contexto, e então, encontrar outros versículos

descontextualizados e formar uma cadeia de pensamentos, e nesse caso específico,

não é apenas versos isolados, mas péssima tradução e distorção dos mesmos,

argumentarei baseado nos textos em suas línguas originais quando preciso.

Compararei a tradução do novo mundo das Sagradas Escrituras (Tradução da versão

inglesa de 1984, usada pelas testemunhas de Jeová5) com os Escritos originais tanto

em hebraico como em grego6.

Totalmente Divino e totalmente humano.

4 Ibid. pág 160.

5 Na primeira página dessa bíblia diz que foi uma tradução “[...] mediante consulta constante ao antigo

texto hebraico, aramaico e grego”. Ainda bem que afirmaram que a tradução “consultou” os textos originais, e não “os traduziu fielmente”, porque qualquer pessoa, por mais iletrada que seja, ou até mesmo uma criança, verá que é uma tradução desleal e distorcida (se é que se pode chamar de “tradução”). 6 Resolvi deixar as palavras em Hebraico e em grego transliteradas para uma melhor leitura.

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Se fossem apresentados nesse estudo os argumentos bíblicos que afirmam a Divindade

e humanidade da Pessoa de Jesus, cobriria centenas de páginas. Por isso reitero que,

abordarei brevemente os principais textos bíblicos que: 1º Afirmam a Divindade de

Jesus e; 2º Os principais textos que os russelitas usam para negar a Divindade de

Cristo. Quanto a Sua humanidade, mostrarei apenas que Jesus após Sua morte

continua sendo humano (Pois os russelitas acreditam na humanidade de Jesus, mas

que Ele voltou ao Seu estado pré-encarnado (“angélico”) após a ressurreição). Irei

finalizar com as consequências práticas que resultam dessa heresia ariana.

Mas antes de prosseguir, preciso definir o que se entende pela expressão “Totalmente

Deus e totalmente homem”. O axioma do cristianismo é que a Bíblia é a inerrante e

suficiente Palavra inspirada de/por Deus. Devemos crer em seus ensinamentos mesmo

que contradiga nossas especulações religiosas bem como nossa cosmovisão, e não

somente crer, mas viver e sermos moldados por ela dia após dia e não o contrário.

Como irei mostrar nesse estudo, As Sagradas Escrituras ensinam que a Pessoa de Jesus

Cristo é plenamente Divina, bem como, após Sua encarnação, é plenamente humana.

Como verdadeiro Deus, possui todos os atributos Divinos que são intrínsecos e

absolutamente essenciais a Divindade. Do mesmo modo, como verdadeiro homem,

Jesus possui todas aquelas propriedade que são essenciais aos seres humanos, e

assumiu um corpo em seu estado pós-queda adâmica com todos as suas propriedades,

mas sem pecado.

Mas não existe dois Filhos de Deus, ou duas Pessoas conhecidas como Jesus, uma

Divina e outra humana. Essas duas naturezas não agem separadas, mas elas mantém

suas distinções. A natureza Divina de Jesus nunca é “humanizada” por assim dizer, pois

isso é impossível, muito menos a Sua natureza humana é “Deificada”, como acontecia

nas apoteoses Greco-romanas.

Como o Credo de Calcedônio afirma: “...Ele é um Cristo, existindo em duas naturezas

sem mistura, sem mudança, sem divisão, sem separação – a diversidade das duas

naturezas não sendo de forma alguma destruída por sua união na Pessoa, mas as

propriedades peculiares de cada natureza sendo preservadas...”

Diferente da Triunidade Divina, que são Três Pessoas, mas uma Essência (ou natureza),

em Cristo há uma única Pessoa, que possui de forma plena, duas Naturezas (ou

essências).

Nessa próxima parte do nosso estudo, veremos como as Escrituras tanto do Antigo,

como do Novo Testamento nos ensinam essa gloriosa verdade sobre a bendita pessoa

do nosso Eterno Redentor/Senhor.

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A Divindade de Jesus

A luz das Escrituras brilha de uma forma intensa e abundante sobre essa verdade. Em

romanos 9. 5 Paulo diz: “deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo,

segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo sempre, Amém!”

Aqui o apóstolo ensina a plena humanidade de Jesus (segundo a carne), e também a

Sua plena Divindade (Deus bendito para todo sempre). Igualmente, o mesmo Paulo

escreve aos colossenses: “Porquanto, Nele [Cristo], habita corporalmente toda a

plenitude da Divindade [pleroma tês Theotètos]” (Cl 2.9).

Em atos 20. 28 diz: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito

Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou

com Seu próprio sangue”.

Paulo, se despedindo da liderança de Éfeso, os exorta a cuidarem de si mesmos e do

rebanho de Deus, a igreja. As Escrituras ensinam que quem comprou a igreja com Seu

sangue foi O Senhor Jesus Cristo (Ap 5. 9). A expressão de Paulo aqui em Atos 20 é

que, Deus comprou “diá toû haímatos toû ídíou”, ou seja, através do Seu próprio

sangue. A tradução do Novo mundo trás: “... comprou com o sangue do Seu próprio

[Filho]”. Para distorcerem esse texto que contradiz seus ensinos, acrescentaram a

palavra Filho entre colchetes, o que não temos no original grego.

A Natureza de Deus não pode sangrar porque Ele é Espírito. Mas O Deus Filho se fez

homem, e sangrou até a morte na cruz para nos comprar. O próprio Deus [Jesus]

comprou a igreja com Seu próprio Sangue.

Outras afirmações Bíblicas sobre a Divindade de Cristo.

O Antigo Testamento nos ensina claramente que O Messias, O agente escatológico de

Deus, possui status Divino, ou seja, o próprio YAHWEH vindo para a libertação

espiritual de Seu povo e para o estabelecimento do Seu Reino espiritual em todas as

nações.

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Isaías 9. 6 “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está

sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte,

Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”

Esse menino/filho é Jesus. Isso é um axioma, confessado também pelos russelitas.

Entre todos esses títulos atribuídos a Cristo, destacarei dois, a saber: Deus Forte e Pai

da Eternidade.

Na tradução do novo mundo, também está Deus (com letra maiúscula) forte. A

Expressão hebraica é El Gibbor que também pode ser traduzida como “Deus-homem

forte” e é atribuída a YAHWEH no próximo capítulo (Isaías 10.21) e também em

Jeremias 32.18. Os tradutores arianos “esqueceram” de mudar Deus forte para “deus”

como costumam fazer?7 E certamente Pai da eternidade não significa que Jesus

comprou o direito de termos a vida eterna (o que é verdade, mas não nesse contexto),

mas que Ele próprio “gerou a eternidade” por assim dizer, um título que expressa

claramente Sua Eternidade (E apenas Deus é Eterno).

O nome de Jeová.

O tetragrama YHWH, ou Jeová, é atribuído somente a Deus. E nas Escrituras YHWH é

atribuído tanto ao Pai, como ao Filho, como também ao Espírito Santo. Irei me deter

em mostrar em que passagens Jesus é explicitamente chamado de YHWH. Mas antes

quero explicar o título grego “Kyrios”. Kyrios significa Senhor. Essa palavra é usada 715

vezes no Novo Testamento. Na Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento),

Kyrios é usado como tradução do tetragrammaton (YHWH) 6. 214 vezes.

Após a descida do Espírito Santo no pentecostes, Pedro inicia um discurso explicando o

evento. Ele começa citando Joel 2. 28-32. No verso 20 e 21 de Atos 2, temos: “O Sol se

converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do

Senhor, e todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo” (citação de Joel 2.

31-32). Em Joel temos que quem invocar o Nome de Jeová será salvo e Pedro sem

hesitação aplica essa passagem a Jesus, que É O Senhor, O Kyrios, O próprio Jeová (ver

Atos 2. 36). O apóstolo Paulo também aplica essa passagem de Joel a Cristo em

Romanos 10.13.

Em Isaías 8.13 diz: “Ao Senhor (Jeová) dos Exércitos, a Ele santificai”. Novamente

Pedro aplica essa passagem a Jesus em 1º Pedro 3.15 “Santificai a Cristo, como

SENHOR, em vosso coração”.

Isaías 35. 4-6 “... a vingança vem, a retribuição de Deus; Ele vem e vos salvará. Então se

abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos, os coxos saltarão

como servos, e a língua do mudo cantará...”.

7 Ver João 1.1

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Deus prometera a Israel que Ele mesmo viria para salvar seu povo e quando Ele viesse

aconteceriam todos esses sinais maravilhosos. Quando João batista, do cárcere,

mandou seus discípulos perguntarem para Jesus se ele é aquele que haveria de vir (ou

seja o Messias o próprio Deus conforme Isaias 35), Jesus aplica essa passagem de Isaías

a si mesmo como resposta a João e disse: Bem aventurado é aquele que não achar em

mim motivo de tropeço. (Mateus 11. 2-6). Em outras palavras: Jesus é quem veio,

Jesus é quem salva e quem operou todos esses sinais de Isaías 35, ou seja, Ele é o

próprio Deus e quem não crê nisso, acha motivo de tropeço Nele.

E também em Isaías 45.23 “Por mim mesmo tenho jurado, da minha boca saiu o que é

justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de Mim se dobrará todo joelho, e

jurará toda a língua”.

Vejamos todo o contexto dessa passagem. Desde o verso 19 temos um contraste entre

YHWH e os ídolos. No final do verso 21 temos: “Pois não há outro Deus senão Eu, Deus

Justo e Salvador não há além de mim”. Quem é o nosso Único Salvador? No próximo

verso Deus diz: “Olhai para Mim, e sereis salvos”. Para quem devemos olhar para

sermos salvos (Hb 12.2)? E o capítulo termina dizendo que no Senhor (Jeová), será

justificada toda a descendência de Israel. Em quem a verdadeira Israel espiritual de

Deus é justificada (Rm 3. 24)? Cristo é a óbvia e clara resposta para todas essas

perguntas. Mas e quanto ao verso destacado (23)?

O Apóstolo Paulo aplica diretamente a Cristo em Filipenses 2. 10-11 “Para que ao

Nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, e na terra e debaixo da terra e toda a

língua confesse que Jesus Cristo é O Senhor (Kyrios’ O mesmo Jeová de Is 45.23) para a

glória de Deus Pai”.

Vamos analisar todo esse contexto de Filipenses 2. 6-11. “Pois ele, subsistindo em

forma de Deus (Hos em morphê theoû hupárkon), não julgou como usurpação o ser

igual a Deus (oûk harpagmòn hegésato tò einai isa Theo)”.

Observemos algumas coisa nesse verso 6:

1º Cristo de fato subsistia em forma (morphê) de Deus. O que isso significa senão ser

Deus?

2º Ele era igual (Isa) a Deus. O texto diz que Jesus “oúk harpagmòn hegésato” ou seja,

literalmente “não considerou isso (ser igual a Deus) algo de que Ele não devesse abrir

mão”. Por amor a humanidade Ele não considerou isso. Se Cristo tivesse permanecido

como Deus, igual a Deus (o que poderia muito bem fazer), nós não teríamos salvação

de maneira nenhuma, estaríamos todos condenados. O simples fato dele “abrir mão”

demonstra que Ele tinha esse status de igualdade plena com O Pai. Mas Ele abriu mão

de todo fulgor de Sua Suprema Glória e infinita Bem-aventurança como O Deus Eterno

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e Soberano e se revestiu de carne. O Logos Divino se fez homem, plenamente homem,

ainda que continue plenamente Deus.

O texto continua dizendo que Jesus “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de

servo, tornando-se em semelhança de homens”.

No verso anterior Paulo usa a palavra morphê, que significa forma. E aqui ele reitera

essa palavra, dizendo que Jesus “morphèn doúlon labón”, tomou forma de servo. Meu

argumento é que, se Jesus não é de fato Deus, ele não foi de fato um servo. Sua

encarnação, nascimento virginal, vida e ministério, até sua morte e ressurreição são

uma completa farsa. Mas se de fato Jesus foi “servo” (O Servo do Senhor), Ele é

necessariamente Deus, pois é morphè (forma) tanto de um como de outro.

Finalizo essa parte com o verso 9, onde Deus exalta a Jesus e lhe dá “O Nome que está

acima de todo nome”. Acima de YWHW, acima de Adonai, acima de Elohim está O

Nome de Jesus, e somente quem tem O Nome supremamente exaltado acima de todas

as coisas, é O Deus criador dos céus e da terra.

Outro texto a se notar é Mateus 3. 3: “Por que este é o referido pelo profeta Isaías:

Voz do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor (Kyrios), endireitai as suas

veredas”.

Certamente João Batista preparou o caminho de Jesus. Ele mesmo declarara que

“...aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas as sandálias não

sou digno de levar” (Mateus 3. 11). O fato do Senhor Jesus (Iesou Kyriou) ter vindo

“depois” dele mostra que João lhe preparou o caminho. Essa é uma citação de Isaías

40.3 onde a voz do deserto prepararia o caminho de YHWH, Jeová, que Mateus,

Marcos e Lucas aplicam a Jesus.

As obras exclusivas de Jeová.

Após esse breve relato de algumas das passagens em que O nome de Deus (YWHW ou

Kyrios) é explicitamente atribuído a Cristo como título/status Divino, mostrarei agora,

as obras exclusivas de Deus, atribuídas a Jesus.

1º A criação.

Somente um ser que É Todo-Poderoso, Todo Santo e Todo Sábio pode criar o universo

Ex Nihilo (do nada), ou seja, Deus É O Criador de todas as coisas.

Mas uma vez a obra da criação é atribuída ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Vejamos

algumas passagens claras como cristal, que mostram Jesus como O Criador de todas as

coisas.

Colossenses 1. 16 “Pois, Nele [Cristo], foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a

terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer

potestades. Tudo (panta) foi criado por meio Dele, e para Ele”.

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João 1.2 “Todas as coisas foram feitas por intermédio Dele [Cristo, O Verbo], e sem Ele,

nada do que foi feito se fez”.

Se Jesus é mesmo uma mera criatura (como ensina o arianismo), então “Deus” é um

ser muito patético, fraco e incapaz. Porque sem Cristo nada teria existido. Mas Cristo

Jesus É O próprio Deus Criador, junto com O Pai e O Espírito.

Analisarei agora Hebreus capítulo 1. 8-12. Como estamos falando sobre criação,

iniciarei com o verso 10, e depois essa perícope toda.

O verso 10 diz (usando a tradução do novo mundo): “E (kai – esse “e” está

continuando o contexto, ou seja, está se referindo ao Filho [Jesus], é uma continuação

do que se diz Dele): Tu, ó Senhor (kyrios) lançaste no princípio os alicerces da própria

terra e os céus são obras de Tuas mãos”. Veremos o contexto do que se diz acerca do

Filho.

É preciso destacar que o escritor de Hebreus e todos os outros do Novo Testamento

dão preferência à Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) do que aos

manuscritos em hebraico propriamente dito (provavelmente pela maior compreensão

e acesso que os judeus tinham da Septuaginta ou LXX).

O escritor de Hebreus do verso 8 a 9 cita Salmo 45. 6-7 e nos versos 10-12, cita o Salmo

102. 25-27.

Tanto na Septuaginta (Salmo 45. 6-7) como em Hebreus (1. 8-9) temos (após o escritor

de Hebreus introduzir O Filho no verso 8 e aplicar o Salmo a Ele):

“Ò Thronos sou (O Trono de Ti), ho theos (Ó Deus), eis tòn aiôna toû aiôna (é pelos

séculos dos séculos)” apenas essa parte do verso é suficiente. “Mas acerca do Filho diz:

O Teu Trono, Ó Deus, é para todo sempre”.

A tradução do novo mundo trás: “Mas acerca do Filho: Deus é o teu trono para todo

sempre”. Uma sutil mudança que anula o fato do verso estar declarando a Divindade

do Filho, mas como vimos o texto original não permite tal tradução.8

Mas mesmo que se feche os olhos para os versos 8 e 9, os versos 10 a 12 são inegáveis.

Aqui vemos:

1º O Filho é O Senhor Criador citado no Salmo 102.

2º Vemos a Eternidade e a imutabilidade do Filho. No verso 11 diz que a criação

perecerá, mas Cristo permanece, e no verso 12 “[...] como vestes serão igualmente

mudados, mas Tu és O mesmo, e os Teus anos jamais terão fim”. O mesmo autor diz

8 Para ser possível essa tradução era necessário uma outra construção do verso adicionando o verbo “é”

(Gr. estin).

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que Jesus Cristo “É O mesmo ontem, hoje e eternamente”. Imutabilidade é um

atributo somente de Deus. Malaquias 3. 6 “Porque, Eu O Senhor (Jeová), não mudo”.

2º A providência.

Resumidamente, providência é o ato de Deus continuamente preservar, sustentar e

governar toda a criação.

Colossenses 1. 17 “Ele [Cristo] é antes de todas as coisas, e TODAS as coisas subsistem

por Ele”.

A palavra subsiste no grego é synistaõ, que também significa “colocar ou manter

junto/unido”. Ou seja, em Cristo, todo o universo é mantido junto, em harmonia, Nele

todas as coisas perduram. Apenas Um Ser infinito e Todo Poderoso possui tal

assombrosa capacidade!

Hebreus 1. 3 “[...] sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder [...]”.

A palavra traduzida como “sustentando” é pherõ, “carregar, suportar”. Essa palavra é

usada no Novo Testamento com o sentido de carregar algo para outro lugar, por

exemplo: Levar um paralítico num leito até Jesus (Lc 5. 18); Levar vinho ao

encarregado do banquete (Jo 2.8); Levar uma capa e livros para Paulo (2 Tm 4.13). Não

significa apenas sustentar, mas encerra a ideia de controle ativo e deliberado da coisa

que se carrega de um lugar para o outro9. E se nós observarmos, em Hebreus 1.3 o

verbo está no gerúndio que indica que Jesus está “continuamente carregando consigo

todas as coisas do Universo”10.

É o que Paulo diz sobre Deus em atos 17.28 “Nele vivemos, e nos movemos e

existimos”. Igualmente em Cristo nós vivemos, em Cristo nós nos movemos e em

Cristo nós existimos, não há realidade fora da Pessoa de Jesus Cristo. E como Ele

sustenta o universo? Fazendo o máximo de esforço? Não. Ele faz tudo isso somente

pela Sua palavra, sem o mínimo esforço, Ele mantém cada imensa galáxia, em também

cada micro organismo, cada átomo e poeira do universo, existindo e se movendo, em

plena sabedoria, harmonia e beleza, Jesus Cristo é Todo-Poderoso e Todo-Sábio!

3º A Salvação.

Salvação é a maior obra realizada por Deus. Maior que a criação e maior que a

providência. Na salvação de Seu povo, temos a plena revelação das perfeições de Deus

e Seu sobre-excelente poder em ação. Deus é mais glorificado pelo Seu ato redentor

do que pelo Seu ato criador. Não há Salvador senão Deus (Is 45. 21). Salvação pertença

9 Wayne Gruden “Teologia Sistemática” pág 248.

10 Ibid.

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exclusivamente a Deus (Jn 2.9; Sl 3.8). Podemos dizer como Davi no Salmo 62.2 “Só Ele

[Deus] é a minha salvação”. Atribuir a salvação a uma criatura é dar-lhe a glória que

pertence somente a Deus, ou seja, é idolatria e blasfêmia.

Ainda sim, não é necessário nem dizer quem é O verdadeiro Salvador. Jesus Cristo é

tanto Senhor (YHWH) como O Salvador único e suficiente.

A multidão de remidos no céu dizem: Aleluia! A salvação, a glória e o poder são do

nosso Deus. (Ap 19. 1). E também clamam em grande voz: A nosso Deus que se assenta

no trono e ao cordeiro, pertence a salvação (Ap 7. 10). A salvação também pertence

somente a Deus, mas também ao cordeiro, logo, Jesus é Deus, ou o Novo Testamento

está em contradição com o Antigo (o que é impossível).

Existem dois textos que mostram claramente que Jesus é Deus e é Salvador, que foram

adulterados na tradução do novo mundo.

O primeiro é Tito 2.13 “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória

[tês dóxes] do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo [toû megalou Theoû kai

sotêros himon Iesou Christou].”

Como esse verso diz explicitamente que Jesus é Deus, precisa ser mudado por aqueles

que não creem nisso. Na tradução do novo mundo, curiosamente está: “[...] grande

Deus e [do] Salvador de nós, Cristo Jesus”. Não é difícil de imaginar porque o “do” está

entre colchetes... é porque não existe esse [do] no original.

O segundo texto bem parecido é 2 Pedro 1.1 “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus

Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e

Salvador Jesus Cristo [Theo himon kai sotéros Iesoû Christoû]”.

Obtemos fé somente na Justiça de Cristo, que é aqui chamado de Deus. Novamente

encontramos um [do] na tradução do novo mundo.

4º Perdoar pecados.

A prerrogativa de perdoar pecados pertence exclusivamente a Deus. Nenhuma

criatura, por mais exaltada que for pode perdoar nossos muitos pecados.

No começo do capítulo dois de Marcos, Jesus retorna para Cafarnaum, e em casa

começa a ensinar numerosa multidão. Nesse tempo, quatro homens trazem um

paralítico para Jesus o curar. Mas por causa da multidão não conseguiram se

aproximar de Jesus. Resolveram subir a casa, e descobriram o eirado em cima do local

onde Jesus estava, baixaram o leito com o paralítico. Jesus vendo a fé deles disse ao

paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2. 5).

Mas os escribas que estavam ali, começaram a se indignar e arrazoaram em seus

corações incrédulos: “Por que fala Ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode

perdoar pecados, senão um, que é Deus? (Mc 2. 7)

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Então Jesus cura aquele paralítico para que eles pudessem saber que “...O Filho do

Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados”. (Mc 2. 10)

Jesus em Sua humanidade pode perdoar pecados, porque Ele é Deus.

5º Autoridade sobre as águas.

Na mentalidade judaica, apenas Deus tem poder sobre as águas. Salmo 65. 7 “Aplacas

o rugir dos mares, o ruído de suas ondas...”. Salmo 89. 9 “Dominas a fúria do mar,

quando as suas onda se levantam, Tu as amainas”. Salmo 107. 29 “Fez cessar a

tormenta, e as ondas se acalmaram”.

Quando Jesus acalmou aquela tempestade (Mt 8. 23–27; Mc 4. 35-41; Lc 8. 22-25), Ele

estava mostrando Sua Divindade. É por isso que Seus discípulos se maravilham e

exclamam: “Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mateus 8. 27).

4º Juízo Final.

É uma prerrogativa somente de Deus, se assentar em Seu Trono como Supremo Juiz

para julgar toda a terra no último Dia.

Quando Deus iria destruir Sodoma e Gomorra, Abraão sabendo que seu sobrinho Ló

estava lá, começa a interceder a Deus, e faz a seguinte pergunta: “Não fará Justiça O

Juiz de toda a Terra?” (Gn 18. 25). Jefté disse: “O Senhor que é Juiz, julgue hoje entre

os filhos de Israel e os filhos de Amom” (Jz 11. 27). Asafe no Salmo 75. 7 diz que “Deus

é O Juíz...”

É absolutamente claro para todos que Deus é O Supremo Juiz. Só Ele é perfeitamente

Santo e Justo, portanto apenas Ele é capaz de julgar a todos, um por um, retamente.

É isso que vemos no desvendamento escatológico do Julgamento Final. Quem está

assentado no Trono É O próprio Deus:

Ap 20. 1 “Vi um grande trono branco e Aquele que se assenta, de cuja presença

fugiram a terra e o céus”.

E ainda sim, Quem É O Supremo Juiz de todos é O Senhor Jesus Cristo.

Jo 5. 22 “O Pai a ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento”.

Atos 10. 42 “E nos mandou pregar ao povo e testificar que Ele [Jesus] é quem foi

constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos”.

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Atos 17. 31 “Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça

por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o

dentre os mortos”.

2 Timóteo 4. 8 “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual O Senhor, reto

Juíz, me dará naquele Dia...”

2 Timóteo 4. 1 “Conjuro-te perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e

mortos, pela Sua manifestação e pelo Seu reino”.

O Grande Julgamento é descrito em Mateus 25. 31-46 nos seguintes termos:

“Quando vier o Filho do homem em Sua Majestade, e todos os anjos com Ele, se

assentará no trono de Sua Glória...”

2 Coríntios 5. 10 “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de

Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do

corpo”.

Isaías 33. 22 “O Senhor [Jeová] é o nosso Juiz, O Senhor é O nosso Legislador, O Senhor

é O nosso Rei, Ele nos salvará”.

Assim nós podemos dizer... ”Jesus é O nosso Juiz, Ele é nosso Legislador, Ele é nosso

Rei, Ele nos salvará, porque Ele próprio é O Senhor Deus”.

Responsabilidades que devemos somente a Deus.

Prossigo agora a mostrar nossas responsabilidades para com Deus, que Ele requer

exclusividade perpétua à Ele, como nossa responsabilidade de glorificá-Lo, adorá-Lo,

orar somente à Ele, etc.

1º A glória de Deus.

Podemos dizer, resumidamente, que glória é o que Deus é intrinsecamente, e então

demonstrando isso a Suas criaturas, elas se rendem em adoração a Ele. As Escrituras

são bem claras quando testificam que nós devemos render toda a glória somente a

Deus. Glorificar qualquer outro senão Deus é idolatria.

Isaías 42. 8 “Eu Sou O Senhor e esse é meu Nome, a minha glória pois, não a darei a

outro”.

Isaías 48.11 “[...] a minha glória não a dou a outro”.

Page 15: Contra o arianismo moderno

15

É exatamente o que os anjos e os salvos fazem em apocalipse 7. 12, eles rendem toda

a glória somente a Deus:

“Amém! O louvor e a glória, e a sabedoria e as ações de graça, e a honra e o poder e a

força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!”

Mas vemos essa mesma glorificação dada ao cordeiro [Jesus] dois capítulos antes em

apocalipse 5. 12:

“Digno é o cordeiro que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força e

honra, e glória e louvor”.

Estariam eles cometendo, no céu, idolatria ao cordeiro? Obviamente que não.

O texto de apocalipse continua dizendo que a mesma adoração cúltica que se é dada

ao Pai, é igualmente dada ao filho (verso 13 e 14):

“Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre

o mar, e tudo o que há neles dizendo11:

Àquele que está assentado no trono e ao cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória e

o domínio pelos séculos dos séculos.

E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram se e

adoraram”.

O mesmo louvor e a mesma honra e a mesma glória que são atribuídas a Deus, são

igualmente atribuídas a Jesus.

Gostaria que o leitor prestasse atenção no final do último verso, onde diz que os

anciãos se “prostraram e adoraram” [épesan kai prosekynesan]. Esse é o assunto do

próximo tópico.

2º A adoração exclusiva a Deus.

O vocabulário “adoração” é muito extenso nas Sagradas Escrituras. O conceito

essencial é “serviço”, Hb ‘abôdâ e Gr. Latréia, ambos tendo o significado do labor de

um escravo, usado também em relação ao serviço dos sacerdotes no templo, e mais

especificamente na adoração cúltica a Deus, seus servos normalmente se prostram

(Gr. peptô) e O adoram (Gr. Proskyneô).

11

Aqui estão todas as criaturas, se Jesus fosse uma criatura, porque ele não está aqui adorando, mas sim junto ao Pai recebendo a adoração?

Page 16: Contra o arianismo moderno

16

A palavra proskyneô12 pode ter um sentido de “homenagem”, mas ela é mais usada no

sentido de adoração no Novo Testamento.

Algumas passagens no Novo Testamento que mostram claramente que devemos

adorar somente a Deus:

Mateus 4. 10 “Ao Senhor teu Deus adorarás (proskyneo), e só a Ele darás culto

(Latréia)”.

João 4. 24 “Deus é Espírito, e importa que Seus adoradores O adorem (proskynein) em

espírito e em verdade”.

Embora a cultura judaica, principalmente a do pós-exílio Babilônico, reverenciasse a

figuras angelicais e até mesmo homens de grande prestígio (como Moisés e Enoque),

era explicitamente proibido e impensável a qualquer judeu prestar adoração cúltica a

qualquer criatura. E como eles, devemos adorar somente a Deus.

O apóstolo João, exilado em Patmos no final do 1º século, tendo as visões do livro de

apocalipse, sentiu se inclinado a adorar o anjo o que lhe foi imediatamente negado.

Apocalipse 19. 10 “Prostrei-me antes aos seus pés para adorá-lo (proskynesai). Ele,

porém me disse: Vejas, não faça isso, sou conservo seu e de seus irmãos que mantém

o testemunho de Jesus, adora (proskyneson) a Deus”.

E novamente em apocalipse 22. 8-9 “Eu, João, sou quem ouviu e viu essas coisas. E

quando as ouvi e vi, prostrei-me (èpesa) ante aos pés do anjo que me mostrou essas

coisas, para adorá-lo (proskynesai). Então ele me disse: Vê, não faças isso, sou seu

conservo [...] adora (proskyneson) a Deus.

Qualquer ser angelical imediatamente nega qualquer adoração a si mesmo, dirigindo-a

somente a Deus. Se Jesus é um “ser angelical13”, Ele iria negar qualquer adoração a Si

mesmo dizendo como o anjo de apocalipse: “Adora a Deus”. Mas não é isso o que as

Escrituras nos mostram.

I. - Jesus foi adorado em sua infância.

Os reis que vieram do Oriente não tinham compreensão sobre o Messias, mas ao vê-

Lo, sentiram-se impelidos a adorá-Lo.

Mateus 2.2 “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus. Porque vimos a sua estrela no

oriente, e viemos para adorá-Lo”.

Novamente temos a palavra proskyneo. A tradução do novo mundo certamente traduz

proskyneo aqui como “render homenagem”, mas no capítulo 4 a mesma palavra é

12

A partir de agora, prokyneo irá aparecer em suas variantes. 13

As Testemunhas de Jeová dizem que Jesus é o arcanjo Miguel, a primeira criatura a ser criada.

Page 17: Contra o arianismo moderno

17

traduzida como adoração.

No versículo 11 (Mateus 2) vemos esses reis magos do Oriente, não dando alguma

homenagem a um recém nascido, mas O adorando da maneira que se deve

exclusivamente a Deus.

“Entrando em casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se (pèsontes) O

adoraram (prosekynesan) [...]”.

II. Jesus foi adorado na Sua idade adulta.

Mateus 8. 12 “Eis que um leproso, tendo se aproximado, adorou-O (prosekynei)

dizendo: Senhor (kyrios), se quiseres, podes me purificar”.

Apenas O Senhor Deus, quando quer, pode fazer tal milagre.

Mateus 9. 18 “Enquanto essas coisas lhes dizia, eis que um chefe, aproximando se, o

adorou (prosekynei) e disse: Minha filha faleceu agora mesmo, mas vem, impõe a mão

sobre ela e viverá”.

Mateus 15. 25 “Ela porém, veio e O adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!”.

Novamente, após o ato de adoração exclusiva a Deus, Jesus é chamado pelo título

exclusivo de Deus (Kyrios), seguido de uma petição por uma ação exclusivamente

Divina (Purificação, ressurreição, socorro, etc).

III. Jesus foi adorado pelos anjos.

Hb 1. 6 “E novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de

Deus O adorem [proskynesátosan aútô pántes ángeloi Theoû] .”

O autor de Hebreus cita aqui palavra por palavra de um trecho de Deuteronômio 32.

43 (LXX), mas nem as traduções Almeida nem a do novo mundo traduzem da

Septuaginta. Para entendermos essa citação, analisarei o texto da Septuaginta:

“Enphrántête ouranoí, áma aútô [Alegrai-vos [com Ele] ó céus], kai proskynesátosan aútô pántes ángeloi Theoû [E O adorem, todos os anjos de Deus]”. Como é de se esperar, todos os anjos de Deus, adoram somente a Deus, e aqui se diz que Seus anjos adoram a Jesus, por Ele ser O próprio Deus. Mas não somente antes de vir a terra, em Sua encarnação, mas até mesmo em Seu estado de humilhação, como homem andando nesse mundo, pois o texto diz: “ao introduzir o Primogênito no mundo...” IV. Jesus foi adorado até mesmo pelos demônios.

Page 18: Contra o arianismo moderno

18

Mc 3. 11 “Também os espíritos imundos, quando o viam, prostravam diante dele e

exclamavam: Tu És O Filho de Deus!”

Prostrar se aqui não indica necessariamente adoração, pois agora não está

acompanhado de proskyneo, mas nós vemos isso dois capítulos depois:

Mc 5. 6 “Quando de longe, viu Jesus, correu e O adorou [prosekynesen]”.

V. Jesus foi adorado em Seu estado ressurreto.

Todos os arianos irão simplesmente fechar os olhos e negar todas as passagens acima

referidas. Irão tomar a tradução “homenagem” no lugar de adoração. Mas o que é

homenagem? Podemos dizer que é uma palavra que define retribuição de honra,

agradecimento, ou tornar público com um ato de gratidão algum favor que fora

prestado a alguém. Homenagem também pode ser um prêmio de reconhecimento.

Sendo assim, não há motivos para reis magos desconhecidos, oriundos de uma terra

distante prestarem qualquer homenagem dando presentes a um bebe judeu recém

nascido. Muito menos a anjos e demônios darem tal honra a um homem. O único

motivo plausível é que esse homem, também é plenamente Deus, digno de honra e

agradecimento público e pessoal.

Ainda que se queiras tratar como homenagem (e como acabamos de ver é “honrar”),

qual a honra que se deve a Jesus?

João 5. 23 “Para que todos honrem O Filho, como14 honram O Pai. Quem não honra O

Filho, não honra O Pai que o enviou”.

O Pai é digno de toda a honra (Gr. Timôsi), e essa mesma honra que lhe é

exclusivamente devida, devemos dar ao Filho. E se não lhe dermos tal honra Divina,

qualquer pretensa honra que atribuímos ao Pai, por mais piedosa e religiosa que possa

parecer, é falsa e negada diante do trono de Deus.

Mostrarei Jesus sendo adorado após Sua ressurreição, no período de 40 dias que ficou

na terra antes de Sua ascensão/Glória celeste. Nessa perícope, não temos a palavra

proskyneô, portanto, não somente exclui toda a argumentação da “homenagem”,

como também todos os argumentos possíveis e reais da negação da adoração a Jesus.

João 20. 28 “Respondeu Tomé e disse-lhe [ápecríthe Thomas kai eípen auto]: [O]

Senhor meu e [O] Deus meu [Ho kyriós mou kai ho Theós mou]15”.

Aqui temos Tomé respondendo a Jesus e dizendo a Jesus: Senhor meu e Deus meu.

Reconhecendo a Suprema Soberania e Eterna Divindade de Cristo. Essa expressão é

típica no livro de Salmos.

14

Gr. Kathos – assim como; da mesma maneira. 15

Tradução do autor.

Page 19: Contra o arianismo moderno

19

Se Jesus não fosse Deus, iria exclamar: CALA-TE TOMÉ, não sou Deus! Sou um anjo, seu

conservo!

Mas pelo contrário, Jesus afirma sua resposta dizendo que ele apenas creu porque viu.

Finalizo essa parte sobre adoração dizendo que Jesus foi e é adorado em Seu estado de

Suprema exaltação escatológica/real à destra do Pai como já vimos em apocalipse 5.

Importante observar que Jesus está à destra, ao lado de Deus, mostrando Sua

igualdade ao Pai.

6º Objeto de oração.

Todas as nossas orações devem ser dirigidas a Deus somente. Apenas Ele é Onisciente,

Onipotente e Onipresente, ou seja, apenas Ele pode nos ouvir e nos ajudar. O contrário

disso é idolatria. Nem mesmo aos anjos devemos orar quanto mais aos homens

mortos. Paulo condena o culto a anjos (Cl 2. 18). Se Cristo é um anjo (como afirma os

arianos) não se deve orar a Ele, mas mostrarei algumas passagens que mostram

cristãos primitivos orando a Jesus e invocando-Lhe O Nome.

Atos 7. 59 – 60 “E apedrejavam Estevão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe

meu espírito! Então ajoelhou e clamou em alta voz: Senhor, não lhes impute esse

pecado!”

Não tanto por seu discurso, mas Estevão morreu pela sua visão do Messias exaltado à

Destra do Pai, e por Lhe invocar O Nome, pois para aquele povo, Jesus era um falso

profeta, mas para Estevão, O Deus Altíssimo!

2 Coríntios 12. 8 “Por causa disso, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim”.

Paulo ora a Cristo e Lhe pede para tirar seu espinho na carne recebendo a gloriosa

resposta: “Minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

1 Coríntios 1. 2 ”...chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam

o Nome do nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.

Atributos Divinos.

As Escrituras Sagradas mostram que Jesus possui atributos que são próprios de Deus.

Jesus é Onipotente.

Page 20: Contra o arianismo moderno

20

Já demonstrei que Jesus Cristo criou o universo junto com O Pai [e O Espírito] e que

pela palavra de Seu poder sustenta todas as coisas. Por dedução lógica, Ele

necessariamente possui poder ilimitado.

Ao lermos todo o Salmo 68, é muito claro que o foque está em Deus. Jeová aparece em

quase todos os versos. No verso 14 é dito que Deus é O Todo-Poderoso (El Shaddai).

No verso 18 diz que esse mesmo Deus Todo-Poderoso “Subiu as alturas, levaste cativo

o cativeiro; Recebestes homens por dádivas...”. Davi está expressando o auxílio Divino

nas batalhas, e como um Poderoso Guerreiro, Deus triunfa sobre Seus inimigos e “leva

cativo, o cativeiro”.

O apóstolo Paulo aplica essa passagem a Jesus em efésios 4. 8-10 “Por isso diz: Quando

Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens. Ora que

quer dizer subiu, senão que também havia descido até as regiões inferiores da terra?

Aquele que desceu, é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para

encher todas as coisas”.

Em Apocalipse 1. 4-8 nos é descrito várias coisas sobre Jesus (versos 5-7) então Jesus

diz no verso 8: “Eu Sou o Alfa e o Ômega, diz O Senhor (kyrios) Deus, aquele que é, que

era, e que há de vir16, O Todo-Poderoso”.

Quando estamos lendo o antigo testamento e nos deparamos com a expressão

“chifre”, devemos ter em mente que essa expressão frequentemente significa “poder”

ou autoridade (Sl 89. 17; 92. 10; Dn 7. 8; 8. 3). No livro de apocalipse Jesus é

apresentado como tendo “sete chifres” (Ap 5. 6). É um axioma que o número sete em

apocalipse tipifica a completude. Dizer que Jesus tem sete chifres, é o mesmo que

dizer que Ele possui a Completude do poder, ou seja, Ele é O Todo-Poderoso. Ele é

Todo-Poderoso em Sua divindade, e Sua humanidade recebe o status de plena

autoridade, Ele mesmo disse que “Toda a autoridade lhe foi dada no céu e na terra”.

Jesus é Onipresente.

Ainda que em Sua humanidade Ele esteja preso no espaço, e está literalmente à destra

de Deus nesse momento, em Sua Divindade Ele está em todos os lugares, se não, não

poderia dizer “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”

(Mateus 28.20). Em apocalipse Jesus é aquele que anda nas igrejas (Ap 2.1), como

alguém que está no céu, a destra de Deus, está ao mesmo tempo andando nas igrejas?

Ele é Onipresente.

Jesus é Onisciente.

16

Cristo é Aquele que “irá vir”.

Page 21: Contra o arianismo moderno

21

A bíblia é bem clara quando diz que só Deus conhece nossos corações e perscruta as

profundezas de nossa alma, nenhum ser pode ler pensamentos. Pelo fato de Jesus

conhecer os pensamentos das pessoas já mostra Sua Divindade conhecendo todas as

coisas.

Pedro disse a Jesus: “Senhor (Kyrios), tu sabes de todas as coisas” (João 21. 17).

E também Seus discípulos disseram: “Agora, vemos que sabes todas as coisas...” (João

16. 30).

Jesus é Eterno.

Deus expressa Sua eternidade como também Sua ação Soberana sobre a história

dizendo que é O primeiro e O último.

A tradução do novo mundo trás em Isaías 44. 6 “Assim disse Jeová, O Rei de Israel, O

seu Resgatador, Jeová dos exércitos: Sou o primeiro e sou o último, e além de mim não

há Deus”.

Nenhuma criatura pode dizer que é “O primeiro e O Último”, pois isso apenas Deus

pode dizer, pois é O único que é Eterno (ver também Is 48. 11; 41. 4).

Apocalipse 2. 8 “Essas coisas diz O primeiro e O último, que esteve morto e tornou a

viver”.

Apocalipse 22. 12-13 “E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que

tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras, Eu Sou O Alfa e O Ômega, O

Primeiro e O Último, O princípio e O fim”.

Ou Jesus é realmente Deus, ou Ele acaba de blasfemar nesses versos.

O profeta Miquéias profetizou sobre O Messias: “E tu, Belém Efrata... de ti sairá o que

há de reinar sobre Israel (ou seja, Jesus), e cujas origens são desde os tempos antigos,

desde os dias da eternidade” (Mq 5. 2).

Jesus é Imutável.

A natureza de todas as criaturas é mutável, ou pelo menos, potencialmente mutável.

Apenas Deus possui intrinsecamente uma natureza total e eternamente imutável. É o

que Deus diz de Si mesmo em Malaquias 3. 6 “Porque Eu, O Senhor, não mudo”.

Hebreus 13. 8 diz que “Jesus Cristo é O mesmo, ontem, hoje e eternamente” (ver

também 1.12)

Jesus é O verdadeiro Deus e a vida eterna.

Page 22: Contra o arianismo moderno

22

1º João 5. 20 “Também sabemos que O Filho de Deus é vindo e nos tem dado

entendimento para reconhecermos o verdadeiro e estamos no verdadeiro, em seu

Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna”.

Jesus Cristo é Santo, Santo, Santo.

Quando o profeta Isaías teve aquela visão da glória de Deus, os Serafins com os rostos

e os pés cobertos clamavam uns aos outros: “Santo, Santo, Santo é O Senhor dos

exércitos, e toda a terra está cheia de Sua Glória” (Isaías 6. 1-3).

Os cristãos dos primeiros séculos (I, II, III, etc) às vezes, aplicavam essa passagem de

Isaías a Jesus Cristo, como Isaías tivesse visto o próprio Cristo em Sua Glória celeste

recebendo plena e fervorosa adoração dos Serafins. Mas será isso uma invenção

exegética de Justino ou Inácio? De onde os conhecidos pais da igreja aprenderam essa

exegese? De nenhum outro lugar, a não ser das páginas do novo testamento.

Vejamos o apóstolo João aplicando essa passagem de Isaías 6 a Jesus.

“Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito.” (João 12.41)

O que Isaías disse? Vejamos os versos acima: “E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados” (versos 37-40).

Aqui João primeiro cita Isaías 53. 1 no verso 38, e no verso 40 João cita Isaías 6. 10 que é a passagem da visão do profeta. E porque Isaías disse isso (verso 10)? Porque viu a Glória de Cristo e falou a seu respeito!

No verso abaixo (42) João relata que alguns dentre as autoridades creram Nele (em Cristo). É impossível negar que João não esteja aplicando essa passagem da visão de Isaías a Cristo. Cristo, que É O Senhor dos exércitos, adorado por anjos, cuja glória enche toda a Terra e foi visto pelo profeta Isaías.

Cristologia Joanina.

Analisaremos mais alguns aspectos cristológicos nos escritos do apóstolo João. Longe

de esquadrinhar toda essa constelação de afirmações Divinas sobre Jesus, veremos

apenas alguns pontos no evangelho e nas cartas de João.

Eu Sou.

A expressão típica joanina “Eu sou” é usada em diversas declarações. Uma das várias passagens é João 8. 58-59 “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos

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23

digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo.”

É incrível como Jesus se autodeclara “Eigo Eimi” (Eu Sou). E o mais incrível é como em

várias passagens de João, Jesus diz que é o “Eigo Eimi”, em uma forma absoluta, sem

usar o predicado. No grego, não faz sentido nenhum essa expressão sem um

predicado. É evocada uma enfurecida e imediata reação da multidão diante dessa

declaração de Jesus, ao ponto deles pegarem as pedras para assassinar a Cristo. Essa

reação indica a enormidade dessa expressão na narrativa: Ou Cristo explicitamente

blasfemou (que é a opinião do povo), ou realmente expressa uma reivindicação

surpreendente.

Veja outros exemplos de Eu Sou (Eigo Eimi) em sua forma absoluta em João: “Por isso,

eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que EU SOU,

morrereis nos vossos pecados” (Jo 8.24); “Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes

o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU” (Jo 8. 28); “Desde já vos digo, antes

que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU.” (Jo 13. 19).

Essa expressão Eigo Eimi tem forte influencia veterotestamentária, onde Deus usa o

mesmo tipo de linguagem autorreferencial, em particular no profeta Isaías (LXX Is

43.10, 25; 45.18). Nessas passagens do A.T. essa expressão funciona como (ou quase

como) o nome de Deus. No relato de Jesus andando sobre as águas em Jo 6. 16-20, o

uso que Jesus faz dessa expressão (vers. 20) tanto o identifica, como sinaliza aos

leitores que essa é uma cena epifânica.

Isso também é dramaticamente sugerido em João 18. 5-6, onde os soldados enviados

para prender Jesus caem no chão quando Cristo profere essa expressão.

O uso de Isaías de Eu Sou expressa a unicidade do Deus de Israel. O fato dos

evangelhos usarem essa mesma expressão a Jesus, equivale a nada menos do que

designar Jesus com a mesma fórmula referencial especial que é usada no antigo

testamento grego para a autoidentificação do próprio Deus. João, e os cristãos

primitivos associavam a Cristo junto com O Pai de maneira tão intima e

ontologicamente idênticos que Jesus tem o direito de compartilhar de Seu uso

autorreferencial.17

O “Logos”

Outra expressão usada pelo apóstolo João é Logos (Verbo, Palavra). Na teologia de

João, Jesus Cristo é O Logos, veja:

“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos

17

Para um estudo mais aprofundado veja: Larry Hurtado, O Senhor Jesus Cristo, pgs. 483-487.

Page 24: Contra o arianismo moderno

24

diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus.”

(Ap 19. 11-13)

Um pano de fundo dessa palavra na filosofia grega (conhecida pelo apóstolo João) nos

renderia de 15 a 20 páginas de estudo, mas apresentarei um resumo encontrado na

Teologia sistemática dos meus professores Franklin Ferreira e Alan Myatt:

Heráclito: O Logos é o princípio cósmico eterno que traz ordem ao universo.

Filósofos estoicos: Este mesmo princípio cósmico permeia todas as coisas e provê de

conduta para o homem racional.

Filo: Emanação Divina que intermediou a criação do universo.18

João não somente conhecia essas filosofias gregas, mas também era saturado do

Antigo Testamento (de fato muito mais do que o era na filosofia). Para resumir o Logos

no A.T. podemos concluir que é a palavra de Deus como o poder criador e mantenedor

de todas as coisas (Gn 1.3 e Sl 33. 6-9) assim como a Sabedoria que é a personificação

do poder de Deus (Pv 8. 22-31) conceito paralelo ao do Logos e Palavra de Deus.19

Mesmo conhecendo essas coisas, João faz um uso inovador e exclusivo de Logos,

aplicando o a Jesus, não tendo paralelo nem na filosofia grega nem no judaísmo.

Apenas podemos ter uma ideia do conceito histórico e gramatical de Logos, e para

deixar os gentios “escandalizados” e os judeus “loucos” (e os arianos confusos), João

inicia o prólogo de seu evangelho da seguinte maneira:

“No princípio era o Verbo (Logos), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz

resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” (João 1. 1-5)

Os Russelitas, para fugirem dessa verdade, traduzem a parte ”... e o verbo era Deus”

(kai theos en ho logos) como “... e a Palavra era [um] deus”. Assim se levarmos essa

tradução sem pé nem cabeça a sério, concluiríamos que João fez de Jesus um “ídolo”

(um deus). Ou que Jesus era igual a Antioco Epifânio que se declarou igual a Deus

séculos antes dos acontecimento do Novo Testamento.

Eles argumentam que o artigo definido (ho) só aparece antes de Logos (verbo) e não

antes de Theos (Deus) e por essa simples razão, acrescentam o artigo indefinido “um”,

e traduzem o mesmo Theos como “deus”.

Deixemos Ladd nos explicar:

18

F. Ferreira e A. Myatt “Teologia Sistemática”, pg. 509. 19

Ibid.

Page 25: Contra o arianismo moderno

25

“O Logos estava com (pros) Deus, e o Verbo era Deus (theos ên ho logos). As palavras

gregas exprimem duas ideias: O verbo era a Divindade, mas não era completamente

igual a divindade. O artigo definido somente é utilizado com o vocábulo logos. Se João

tivesse utilizado o artigo definido também com o vocábulo theos, teria dito que tudo o

que Deus é, o Logos também é: uma identidade exclusiva. Da forma como está, ele

está declarando que tudo o que o Verbo é, Deus é;porém ele implica em que Deus seja

mais do que o Verbo.”20

Ou seja, o Verbo é numericamente ou pessoalmente distinto de Deus, mas é

essencialmente ou ontologicamente igual a Deus (e O Verbo era Deus).

Refutação aos arianos.

Principais textos usados pelos arianos modernos.

De uma maneira breve e resumida, mostrei que As Escrituras clara e abertamente

ensinam a Plena Divindade do Verbo-encarnado, Jesus Cristo nosso Senhor. Passo

agora a refutar os principais textos bíblicos que os arianos modernos usam para

tentarem dar algum suporte às suas velhas heresias.

A. O primogênito da criação.

Creio que o primeiro e mais comum é colossenses 1. 15 que diz: “Este [Jesus] é a

imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação”.

Pela expressão “... primogênito de toda a criação”, os arianos interpretam como “o

primeiro a ser criado”, mas será esse mesmo o significa desse texto21?

Ao analisarmos o contexto desse verso, já fica claro que Jesus não é uma criatura, pois

no verso seguinte (16) Paulo demonstra que Jesus É O agente-Divino ativo da criação, e

no verso 17 diz que Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste Nele.

No verso 18 diz que Ele é O “primogênito” dentre os mortos, para quê? Para em tudo

ter a primazia!

Certamente Jesus não foi o primeiro a ressuscitar dos mortos, houve outras

ressurreições antes da Dele. Então qual o significado de “Primogênito”?

20

George Eldon Ladd, Teologia do Novo Testamento, pg360. 21

Quero chamar a atenção primeiramente ao fato de todos os seus argumentos estarem baseados em versos isolados.

Page 26: Contra o arianismo moderno

26

Ao olhar para o Antigo Testamento, essa palavra aparece mais de 130 vezes,

descrevendo alguém que é supremo, ou que vem antes no tempo. O termo também

pode significar alguém que é objeto especial do amor do Pai: “Israel é meu filho, meu

primogênito” (Ex 4. 22). Certamente Israel não foi o “primeiro” filho de Deus.

Infelizmente em nossos dias a palavra “primogênito” não nos transmite essa noção de

supremacia ou prioridade de posição.

Outro exemplo no A.T.: “Fá-lo-ei por isso, meu primogênito, o mais elevado dentre os

reis da terra”. (Salmo 89. 27)

Esse Salmo é uma referência a Davi. Davi não foi o primeiro filho de Jessé, muito pelo

contrário. Aqui tem o sentido de outorga de direitos e honras legais especiais. (Esaú

vendeu seu “direito de primogenitura” para seu irmão Jacó).

Indo para o Novo Testamento, a palavra grega usada para primogênito é prototokos, e

aparece 8 vezes nos Escritos Neotestamentários. Lemos em Lucas 2. 7 “E ela deu à luz

o seu filho primogênito...”. Jesus foi o primeiro filho de Maria. Mas é somente nessa

passagem onde prototokos é usado no sentido literal. “Esta é a única ocasião no N.T.

quando, mediante o emprego paronomástico de tiktein, prôtotokos se refere

inequivocamente ao processo do nascimento, e isto no seu sentido natural” (W.

Michaelis, TDNT VI 876).

No sentido fig. Entende se como título de Mediador da criação, que é o caso de

colossenses 1. 15. É uma declaração/confissão da posição suprema do Cristo

preexistente como mediador na criação de todas as coisas. Também tem o sentido que

Cristo herdou toda a criação, assim como o primogênito tinha uma porção maior na

herança. “Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de

todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb 1. 2).

Se primogênito sempre é o primeiro a ser criado/nascido, então só podemos concluir

que somente os filhos que nasceram primeiro podem fazer parte da igreja, pois

Hebreus 12. 23 diz que a igreja é “... a igreja dos primogênitos arrolados nos céus...”, o

que obviamente é ridículo, antes, a igreja recebe privilégios únicos e especiais de Deus

em Cristo.

A conclusão óbvia, e a interpretação correta de Cl 1. 15 é que a Jesus pertence o

direito e a dignidade do primogênito em relação a toda criatura. Negar isso, portanto,

é negar o contexto epistolar dessa carta de Paulo, e o contexto canônico da palavra

“primogênito”, é isolar esse verso e torcê-lo até sangrar, para que ele se encaixe em

algum conjunto de doutrinas inventadas por homens.

B. O princípio da criação de Deus.

Page 27: Contra o arianismo moderno

27

A próxima passagem a ser analisada é Apocalipse 3. 14 “Ao anjo da igreja de Laodicéia

escreve: Estas coisas diz O Amém, a testemunha Fiel e Verdadeira, o princípio da

criação de Deus”.

Novamente, o “princípio da criação de Deus” é interpretado como “a primeira criação

de Deus”.

Basta lermos o livro de apocalipse para vermos claramente que João, como faz em seu

evangelho e em suas cartas, ensina claramente que Jesus Cristo é tanto Deus como

homem. Em apocalipse vemos o status messiânico-real de Jesus como O Agente

Escatológico de Deus, tendo as mesmas prerrogativas Divinas que O Pai e O Espírito

Santo.

O princípio da criação de Deus [He arché tês ktíseos toû Theoû]. A palavra em

destaque é Archés [princípio]. No contexto da passagem que vimos acima, Jesus é

chamado de Arché, princípio (Colossenses 1. 18). Mas será mesmo que Ele se auto-

declarou “primeira criatura”?

A palavra arché aparece 55 vezes no Novo Testamento22, 18 delas nos escritos de João.

Esse termo possui um vasto significado como, por exemplo: Início, começo; Ser o

primeiro; reger; poder; autoridades; governador; princípio absoluto (como em João 1.

1). O significado tanto em Cl 1. 18 como aqui em Ap 3. 14 é o de “Causa Primordial”.

Jesus é a causa primordial da criação de Deus. Em outras palavras, Jesus é literalmente

O Iniciador ou a causa da criação, o que está amplamente de acordo com todo o

restante do ensino neotestamentário. A conclusão é que, longe desse verso afirmar a

heresia ariana, ele nos ensina explicitamente que Jesus Cristo É O Senhor Deus, Criador

dos céus e da terra.

C. A Sabedoria Divina Personificada.

Outra passagem usada, mas talvez não com frequência, é Provérbios 8. Gostaria de

destacar os versos 22 e 23:

“O SENHOR me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde

a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra”.23

Certamente essa passagem diz respeito ao infinito, eterno e imutável atributo de Deus

conhecido como Sabedoria. Não é errôneo aplicar essa passagem a Jesus Cristo,

porque o próprio apóstolo Paulo diz que Cristo é “... sabedoria de Deus” (1 Co 1. 24).

22

Aqui estou levando em conta apenas a palavra “Arché” em si. Não estou considerando suas variantes como, por exemplo: Archô (85 vezes no N.T.), Archaios (9 vezes no N.T.), Archêgos (apenas 4 vezes) e archôn (cerca de 37 vezes no N.T.) 23

Tradução ARA.

Page 28: Contra o arianismo moderno

28

Os arianos também aplicam essa passagem a Cristo. Vejam a tradução do Novo

mundo:

“O próprio Jeová me produziu como princípio do seu caminho, as mais antigas de suas

realizações de a muito; Fui empossada desde tempo indefinido, desde o começo,

desde tempos mais remotos que a terra”.

Eles dizem que Cristo foi “produzido como princípio do seu [Deus] caminho”. Que ele

em algum momento “nasceu ou foi criado”.

Consideraremos os drásticos erros dessa interpretação.

Se quisermos aplicar corretamente essa passagem a Cristo, devemos primeiramente

interpretá-la corretamente. Não podemos simplesmente alegorizar trechos bíblicos a

nosso bel-prazer desprezando o método hermenêutico histórico-gramatical.

Todo o capítulo 8 de provérbios e parte do capítulo 9 é uma personificação da

Sabedoria de Deus. O texto acima, da ARA, diz: “desde a eternidade fui estabelecida”.

A palavra hebraica usada para eternidade é ’ôlâm, que pode ser traduzida de diversas

maneiras. Em um sentido prático significa eternidade, sempre, para sempre,

perpetuamente. Ela aparece em Isaias 60. 19-20. Nesses dois versos, que nos ensinam

sobre a era vindoura, diz que Deus será a nossa “luz perpétua (‘ôlâm). Sem sombra de

dúvidas significa eternidade, porém a tradução do Novo Mundo traduz como “luz de

duração indefinida” (eles claramente mostram aversão ou encontram problemas com

a palavra eternidade por causa de textos como provérbios 8, Miquéias 5 e outros).

Mas não apenas exegeticamente e gramaticalmente, mas também logicamente a

tradução/interpretação dos russelitas está errada.

Se Cristo teve começo, logo a Sabedoria de Deus também teve começo e foi “criada”.

Esse seria o sentido do texto se o interpretarmos dessa maneira. Logo, antes dessa

suposta “criação” de Sua própria Sabedoria, Deus seria tolo ou insensato? Como um

Ser que não tem sabedoria poderia criar a própria Sabedoria? Isso é tão irracional que

seria “cômico, se não fosse trágico”.

Antes, assim como O Amor, A Justiça, A Santidade, A Ira, A Misericórdia, e todos os

atributos de Deus, a Sua Sabedoria é Eterna, transcendente, imutável, perfeita e

infinita como o próprio Ser de Deus, pois todas essas perfeições Lhe são

absolutamente essenciais.

Agora que entendemos essa passagem, podemos aplicá-la a Cristo corretamente, e

dizer que Ele é A Sabedoria de Deus, Ele é Eterno, Imutável, Todo-Sábio, Auto/Todo-

Suficiente, ou seja, Ele é Deus. Se lermos até o final do capítulo (Pv 8), veremos que A

Sabedoria estava com Deus na criação. Nós podemos declarar como o salmista: “Ó

Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia

está a terra das tuas riquezas” (Salmos 104. 24). As Escrituras Sagradas são bem claras

quando dizem que Deus, e Deus somente criou o universo. Nenhuma criatura estava

com Ele, nenhum “arcanjo Miguel” o ajudou. Deus criou sozinho todas as coisas, pois

Page 29: Contra o arianismo moderno

29

nenhum ser criado, por maior que seja, pode sequer criar uma mosca, ou ter sabedoria

suficiente para organizar esse cósmico universo. Logo, aplicando essa Sabedoria,

presente na criação, à Cristo, estamos afirmando como o apóstolo João, que Cristo

estava com O Pai antes da Criação, e participou da obra da Criação, o que apenas O Ser

Divino pode realizar.

D. A unicidade de Deus.

Dt 6. 4 “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.”

Essa passagem tornou se uma oração central no judaísmo. É conhecida como “Shema”

(ouve) que é a palavra inicial do verso em hebraico. Os Israelitas eram obrigados a ler

essa passagem duas vezes por dia, de manhã e a noite. Essa passagem era uma

prevenção contra a idolatria bem como contra o politeísmo presente em todas as

demais nações da terra aparte de Israel.

Os arianos usam esse shema para darem apoio a sua doutrina, ensinando que apenas a

Pessoa do Pai é Divina, pois como o texto “diz”, só existe [um] único Senhor. Mas será

que esse texto nega a doutrina da Trindade de Pessoas na Unidade da Divina Essência,

ou a aprova? Vejamos:

Como os antigos judeus interpretavam essa passagem? Em um de seus livros antigos

traz o seguinte sobre essa passagem: “Jehova, Elohenu, Jehova” (Jeová, nosso Deus,

Jeová). Isso é o que está no texto de Deuteronômio. Esses são os três graus que dizem

respeito a esse sublime mistério, Jehova, Elohenu, Jehová, Eles três são Um. Este é o

selo do anel da verdade.

A unidade na diversidade e a diversidade na unidade de maneira nenhuma é uma

contradição, é simplesmente um fato verídico e inegável.

No próprio texto é ensinado que o povo de Israel é uma unidade. Note que o pronome

de tratamento é “tu” e não “vós” o que ocorre com muita frequência no livro de

Deuteronômio. Acaso Israel seria apenas uma pessoa? Certamente eram milhões de

pessoas que formavam um único povo (assim como a igreja é um único corpo, tendo

vários “membros”). Nunca nas Escrituras Sagradas a unidade nega ou proíbe a

diversidade.

A palavra hebraica de Dt. 6.4 para “único” ou “um” é `ehad, que expressa a unidade

Daquele que é descrito. Mas essa palavra é usada também para descrever a união de

Page 30: Contra o arianismo moderno

30

Adão e Eva. Certamente Adão e Eva eram duas pessoas distintas e não literalmente

“uma só carne”, portanto nunca nas Escrituras está pressuposto que o uno exclui a

possibilidade do múltiplo, nem no Antigo nem no Novo Testamento.

O problema da unidade e da diversidade é tão antigo como o pensamento humano.

Uma maneira de abordar esse problema é a questão da relação entre os universais e

os particulares. Franklin Ferreira e Alan Myatt resumem assim: “Os particulares são

objetos concretos que existem como entidades individuais. Eles estão localizados

numa única região do espaço, num determinado momento. Os universais são

entidades que se repetem, uma vez que o universal é demonstrado em todos os

exemplos de particulares24 do mesmo tipo. Assim o conceito universal do cachorro é

exemplificado em todos os cachorros individuais, ou seja, nos cachorros particulares. O

universal é o conceito abstrato da coisa particular.”

Basicamente, negar a Trindade, como por exemplo no islamismo, é regredir ao

conceito do ser original do monismo. Alá sendo uma unidade absoluta, não é

autocontido. Logicamente, ou a diversidade na unidade deve ser negada, ou deve- se

admitir que tal deus é dependente do mundo criado para experimentar a

diversidade.25

Um último argumento que irei mencionar nem ao menos merece ser considerado um

argumento. Os russelitas afirmam que, nós que defendemos a plena Divindade de

Jesus, erramos porque, ao lermos títulos Divinos aplicados a Jesus, nós “deduzimos”

que Ele e O Pai são a mesma Pessoa. Assim eles argumentam, por exemplo, que o

título “Reis dos reis” é aplicado ao monarca Nabucodozor, rei da babilônia na época do

exílio do povo Judeu, e é aplicado a Cristo no N.T., então afirmam que seguindo a

“lógica”, nós teríamos que chegar a conclusão que Nabucodonozor e Jesus são a

mesma pessoa. Outro exemplo é que em Hebreus, Jesus é chamado de apóstolo, e em

outros lugares apóstolo é designado aos doze. Então, seguindo a “brilhante”

argumentação deles, deveríamos afirmar que Jesus e os Doze apóstolos são, na

verdade, a mesma Pessoa.

É no mínimo vergonhoso e desesperador usar um argumento desse tipo. Isso mostra

primeiramente, que eles não têm uma noção correta do ensino da Triunidade de Deus.

Nunca nenhum trinitário, em sã consciência, ensinou que Jesus e O Pai são a mesma

Pessoa, isso é irracional e desonesto com o texto bíblico. O ensino Bíblico é que O Pai,

O Filho, e O Espírito possuem a mesma Essência Divina (compartilhando Atributos,

eternidade, funções próprios de Deus), mas que são numericamente distintos.

Em segundo lugar, esse argumento apenas corrobora o ensino da Divindade de Jesus.

Assim como é verdade que Nabucodonozor era o “reis dos reis” em relação aos reis da

terra, pelo seu domínio ter sido vasto e poderoso, assim é verdade que Cristo É O Reis

24

Franklin Ferreira e Alan Myatt, “Teologia Sistemática”, pg 188. 25

Op. Cit. pg 192.

Page 31: Contra o arianismo moderno

31

dos reis, não somente sobre os da terra, mas também do universo inteiro. A palavra

apóstolo significa “enviado”, e assim como Jesus foi enviado pelo Pai, os doze

apóstolos foram enviados diretamente por Jesus. Agora, seguindo essa argumentação,

quando Jesus é chamado de Deus assim como O Pai é chamado de Deus, não há

nenhuma contradição ou confusão de Pessoas. Ambos são Deus, e ao mesmo tempo

em que são distintos em relação à subsistência, existe um só Deus (uma só essência

divina).

A Humanidade de Jesus.

Neste capítulo, não irei abordar sobre a doutrina da plena humanidade que O Senhor

Jesus assumiu ao encarnar e nascer de Maria.

Os russelitas ensinam que Jesus foi verdadeiramente um homem. O erro se encontra

em seus ensinamentos em respeito a natureza de Jesus após Sua morte. Seguindo a

velha heresia ariana com suas próprias modificações/adaptações, eles afirmam que

Jesus é a primeira criatura criada, identificando-o com o Arcanjo Miguel. Então ao

invés de Deus ter se feito homem, um anjo se fez homem. A aberração doutrinária

continua com respeito a Jesus após Sua morte, na ocasião de sua ressurreição.

Afirmam que Jesus voltou ao seu estado de [arc]anjo, destituindo se de sua natureza

humana (corpo, alma humana). Ou seja, além de abraçarem a heresia ariana, os

russelitas se voltam para uma heresia ainda mais antiga, o docetismo. O docetismo

ensina que Jesus não assumiu realmente a natureza humana, mas apenas

“aparentava” ser homem, devido a antigas linhas filosóficas que abominavam o corpo

e o mundo físico. Essa é exatamente a sutil linguagem dos ensinamentos russelitas

sobre a natureza de Jesus quando este ressuscitou.

O ensino claro das Escrituras, crido por toda a verdadeira igreja de todos os séculos é

que Jesus Cristo é totalmente Deus e na Sua encarnação é totalmente homem. Uma

vez encarnado, Jesus nunca irá deixar de ser homem, e muito menos de Ser o próprio

Deus.

Não estou querendo dizer que o corpo ressurreto de Jesus é exatamente igual ao

nosso, pois Ele atravessava portas, e desaparecia quando quisesse, ainda que

continuava a se alimentar. Quando o Último Dia chegar, todos os crentes terão seus

corpos transformados iguais ao de Cristo. “Amados, agora, somos filhos de Deus, e

ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se

manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo

3.2).

Page 32: Contra o arianismo moderno

32

Mas o corpo do Cristo ressurreto é exatamente o mesmo corpo que Ele tinha na Sua

morte, alias, em toda a Sua vida terrena. Se Cristo está no céu agora, e não é um

homem, Ele não pode ser um Sumo Sacerdote que se compadece de nós e intercede

por nós.

Dentre vários, citarei apenas dois textos que refutam claramente essa heresia.

Lucas 24. 36-43

“Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja

convosco! Eles, porém, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um

espírito. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao

vosso coração? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e

verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu

tenho. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por não acreditarem eles

ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma

coisa que comer? Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de

mel]. E ele comeu na presença deles.

Mais claro do que isso, impossível.

Os anjos são espíritos, eles não possuem carne e osso e aqui temos o suposto “anjo”

dos arianos afirmando com todas as letras que NÃO É UM ESPÍRITO E QUE POSSUE

CARNE E OSSO. Suponho que para os modernos arianos-docéticos, Jesus

descaradamente mentiu e maldosamente enganou Seus amados apóstolos e

consequentemente toda a Sua igreja, pela qual Ele morreu para salvar.

1 Timóteo 2.5

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,

homem.”

Paulo ensina isso ao seu amado filho na fé, Timóteo. Primeiramente observamos que

ele usa o tempo presente [há/existe...], em segundo lugar, Paulo escreveu essa carta

décadas após a morte/ressurreição de Jesus. Paulo ensina que: 1º Deus existe e é

essencialmente Um, e que O Único Mediador entre Deus e os homens é Cristo Jesus,

homem. Ou seja, Deus é santo, e nós ainda somos pecadores e precisamos de um

Mediador que, ainda no presente e para sempre, possui nossa natureza, e ao mesmo

tempo a natureza da parte ofendida pelos nossos pecados, Deus. Se Cristo não é

homem (não possui a natureza humana) no presente, Ele não é nosso Mediador no

presente, e não há salvação nenhuma, não há um meio de nos aproximarmos de Deus.

Page 33: Contra o arianismo moderno

33

Implicações práticas.

Os falsos mestres, através de uma hermenêutica errônea, enganam multidões com

seus ensinos, que são baseados em textos bíblicos fora de seu contexto usados apenas

para provar suas doutrinas. Como Héber Carlos de Campos disse: “As heresias são um

magneto atraente e insano para as mentes perturbadas. Elas produzem um

encantamento nas pessoas de forma que muitos incautos ficam enfeitiçados pelo erro,

achando que a mentira deles é a palavra de Deus”.26

Mas o que esses erros implicam na nossa prática? Quais são as consequências para

nossa vida? Mostrarei apenas duas sérias implicações (de várias outras que existem)

de se crer nessa rude heresia Cristológica.

1º Erros apenas produzem outros erros.

Um abismo chama outro abismo (Sl 42.7), uma heresia gera outras heresias. Sendo

Cristo Jesus o fundamento de toda Teologia, errar Nele, é errar em praticamente todas

as outras áreas. Qualquer cristão com o mínimo de conhecimento da Bíblia ao ler

“livros” como “O que a Bíblia realmente ensina”27, verá que não há um ponto, um

capitulo sequer que está de acordo com o ensino das Escrituras, antes doutrinas após

doutrinas baseadas em versos isolados da Bíblia impregnados com pressupostos

humanistas/”racionalistas”. Erros devastadores desde a soteriologia gnóstica

(salvação pelo conhecimento) até sua escatologia, de fato, apenas acertaram ao dizer

que a Bíblia é inspirada por Deus, mas falham em examina-la.

2º Heresias condenam nossa alma.

Talvez esse seja o ponto mais importante bem como chocante. Subscrever alguns erros

não nos condena. Todos nós temos nossos erros, nossas fraquezas e pecados,

tendências e pressupostos, ninguém possui uma teologia “100%” correta em

absolutamente todas as áreas. Mas heresias são erros tão graves e grotescos que nos

impede de ter um relacionamento correto e salvífico com Deus e portanto, nos

afastam do caminho da salvação conduzindo-nos à condenação.

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação,

impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas,

dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes

a estas, acerca das quais vos declaro como já antes vos disse que os que cometem tais

coisas não herdarão o reino de Deus.” (Gálatas 5. 19-21).

26

Héber Carlos de Campos, “A união das naturezas do Redentor”, pg 62. 27

O livreto que contém um resumo das doutrinas dos Russelitas.

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34

É uma impossibilidade intrínseca não crer na Divindade/humanidade de Jesus e ainda

sim, ser salvo. Por mais aparentemente “piedoso” que uma pessoa possa parecer e por

mais “boas obras” que se faça se não crer na Pessoa de Jesus Cristo, Como Senhor e

Salvador, consequentemente, Divino e humano, tal pessoa não pode receber a

salvação oferecida no evangelho. A crença na Unio Personalis de Cristo é sine qua non

à salvação, ou seja, não há salvação aparte da fé no Verbo Divino que se fez carne.

“Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes que

EU SOU, morrereis nos vossos pecados.” (João 8. 24).

Nas Escrituras, existem duas formas de morrer: Ou nós morremos em Cristo (ou seja,

salvos), ou nós morremos em nossos pecados (condenados). Temos que crer que Jesus

É. É o que? Um simples anjo? Um mero homem? Não, como já vimos o termo “Eu Sou”

(Eigo Eimi) está estritamente ligado ao nome de Deus no Antigo Testamento.

Quais devem ser nossas atitudes diante de tais falsos mestres e falsos ensinamentos?

Héber C. Campos nos ensina várias atitudes que as Escrituras Sagradas ordenam que

tomemos em relação a esses tipos de heresias28. Aqui está um resumo desses valiosos

ensinamentos.

1º Discirna o erro deles.

Atos 17. 11 “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois

receberam a palavra com toda a avidez, examinando (anakrinontes) as Escrituras todos

os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”.

Heresias estão presentes na igreja desde o inicio. A principal área atacada na era

apostólica era a cristologia. Julgar um ensinamento à luz do A.T. e dos ensinos dos

apóstolos era a coisa mais óbvia e elogiável que poderia haver. Não podemos cair na

lábia de nenhuma pessoa, por mais bem intencionada que ela esteja, devemos analisar

tudo à luz das Escrituras Sagradas, e como vimos o arianismo não chega nem perto dos

ensinos Bíblicos.

2º Repreenda-os pelo erro.

Tito 1. 13-14 “... repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade”.

28

Héber C. Campos “A união das naturezas do Redentor”, pg 67-81.

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35

Certamente, o espírito da presente era abomina esse ensinamento de Paulo. Mas Paulo, motivado pelo amor, ensinou isso para o próprio benefício dos cristãos. “Homens desviados da verdade” estão à solta. Repreensão é um passo extremamente necessário para evitar a difusão das heresias.

3º Ensine a verdade de Deus para eles.

Os falsos mestres têm invadido lares há muito tempo. Trazendo ensinamentos “novos”

ou diferentes, enlaçam muitas pessoas sem discernimento.

2º Coríntios 11. 4 “Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos

pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho

diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.”

Os falsos mestres em Corinto apresentavam um Jesus diferente, um espírito diferente

e um evangelho diferente. O desastre da igreja era aceitar “de boa mente” esses

ensinamentos. O próprio Paulo disse:

“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de

Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos

perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo

um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado,

seja anátema (maldito). Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega

evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gl 1.6-9).

Devemos com amor e paciência, ensinar a verdade de Deus e repreender os erros

doutrinários.

2 Timóteo 4.2 “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,

repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.”

Se após ensinar a verdade de Deus a uma pessoa que abraça heresias mortais (como o

arianismo combatido nesse estudo), e tal pessoa com uma atitude teimosa e orgulhosa

não abandonar essas heresias, o que a Palavra de Deus nos exorta a fazer?

1º Tenha cuidado com eles.

Tenha muito cuidado com os falsos mestres, porque por trás da simpatia, inteligência

ou da persuasão está o engano.

Mateus 7. 15 “ Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados

em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.”

2º Não os receba em sua casa.

2 João 7-11 “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo. Acautelai-

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vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más”.

O texto é claro por si mesmo. Não confessar que Deus veio em carne é ensinamento anticristão, maligno e perverso. Quem não confessar essa doutrina, por mais que negue isso, não tem Deus, e portanto não devemos recebê-los em nossas casas. Satanás usa os mesmos erros com roupagens diferentes. Assim como ele espalhou uma heresia cristológica no 1º século, e seus adeptos saíam pelo mundo, de casa em casa enganando as pessoas com as mesmas coisas que elas mesmas estavam sendo enganadas, assim como um pequeno fogo pode colocar em chamas toda uma floresta, assim se repete em nossos dias, bem como em toda a história.

3º Aparte se deles.

2 Tessalonicenses 3.6 “ Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes.”

Efésios 5. 11 “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém,

reprovai-as.”

Essas não são meras sugestões de Paulo, são ordens. Não tenha medo de obedecer a

Deus. Aparte se deles. Não se preocupe com a opinião dos outros a seu respeito e sim

com a opinião de Deus.

4º Evite-os.

Romanos 16. 17-18 “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.”

Tito 3. 10-11 “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.”

Esse é o mandamento de Deus para você. Afaste-se de pessoas que ensinam heresias.

Você não estará sendo indelicado ou deixando de mostrar amor ao fazer isso, mas

simplesmente, obedecendo a Deus!

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37

Conclusão.

Minha primeira/principal motivação ao escrever essas palavras é o amor a Deus

derivado Dele mesmo. Inerente à profissão de amor a Deus, está intrinsecamente

ligado o amor a Sua verdade como ela é revelada nas páginas da Bíblia. A fiel e

poderosa proclamação da Palavra da Verdade do Evangelho deve ser o glorioso

objetivo de todo genuíno cristão consumindo seus pensamentos, desejos e ações.

Como Paulo nos ensina: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a

carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus,

para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o

conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2º

Co 10. 3-5).

Em segundo lugar, visei a edificação da igreja de Cristo. Se você, caro leitor, é um

cristão maduro em quem a palavra de Cristo habita ricamente em seu coração, talvez

possa ter ficado desapontado com o conteúdo desse breve estudo. Enquanto escrevia,

tinha em mente um público alvo “novo” na fé, cristãos que ainda não tiveram

oportunidade de estudar a fundo esse tema, então propus um material básico para

iniciar, e para o próprio leitor aprender a ir ao texto Sagrado sem as lentes

hermenêuticas distorcidas. A propagação do verme mortal dessas heresias são

apresentadas em pacotes muito bem “organizados” e “polidos”, o que às vezes pode

ou confundir ou deixar um novo cristão sem resposta diante do erro.

Em terceiro e último lugar, fui motivado pelo amor para com as pessoas que são

enganadas por esses erros espalhados por homens como Charles T. Russel e Ário.

Termino com as palavras de Paulo a Timóteo, e com dois credos cristãos antigos:

“Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas

também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Tm 2. 25-26).

“Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas

naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis; a distinção da

naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades

de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e

subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho

Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu

respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos pais nos

transmitiu”.(parte do Credo de Calcedônia).

Credo de Atanásio

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé universal. Quem

quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente. E a fé

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universal consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem

confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do

Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do

Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade. Qual o Pai, tal o Filho, tal também

o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo. Imenso é o

Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o

Espírito Santo; Contudo, não são três eternos, mas um único eterno; Como não há três

incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. Da mesma forma,

o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; Contudo, não

há três onipotentes, mas um só onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o

Espírito Santo é Deus; E todavia, não há três Deuses, porém um único Deus. Como o

Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; Entretanto, não são

três Senhores, porém um só Senhor.Porque, assim como pela verdade cristã somos

obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim

também estamos proibidos pela religião universal de dizer que são três Deuses ou três

Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado. O Filho é só do Pai;

não feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem

criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um

único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta

Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três

pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito

acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade. Portanto,

quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas para a salvação

eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus

Cristo. A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor

Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado da substância do Pai

antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus

perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai

segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade. Ainda que é Deus e

homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entretanto, não por

conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. De

todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa. Pois, assim

como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só

Cristo; O qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos

mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os

vivos e os mortos. À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus

corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; E aqueles que tiverem praticado o

bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo

eterno. Esta é a fé universal. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá

salvar-se.

Amém.