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Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos1
10 de janeiro de 2020
Cenário Econômico
Economia mundial entra em uma fase de estabilização
o Iniciamos o ano mantendo as principais hipóteses do nosso cenário, ou seja, crescimento de2,5%, inflação bem comportada em 3,6% e taxa de câmbio em R$/US$ 4,00. Avaliamos que háespaço para ajuste adicional da taxa de juros, para 4,25%, reconhecendo que o BC poderá adotaruma postura mais cautelosa nessa fase do ciclo de recuperação e dado o nível atual de juros reais.
o Com ajuste residual da Selic, nossa avaliação é que a tese de convergência da taxa de jurosdará gradualmente lugar à tese do crescimento. Nos últimos meses temos ganhado convicçãono cenário de aceleração do PIB, com dados melhores de emprego formal e surpresas positivas nosindicadores mensais. Esperamos crescimento de 0,7% no quarto trimestre e de 1,2% em 2019. Osprimeiros dados de 2020 tendem a mostrar alguma diminuição do ritmo de crescimento, com o fimdos efeitos do estímulo adicional da liberação do FGTS. Mesmo assim, o crescimento (na margem)deve ser próximo a 0,5%, voltando a acelerar nos trimestres seguintes.
o À medida que os indicadores efetivos confirmarem o ritmo de crescimento, esperamosmovimento de apreciação da moeda, para R$/US$ 4,00. Com a convergência da taxa de juros,algumas mudanças de alocação parecem ter começado, com empresas diminuindo suaalavancagem. Assim, o déficit em conta corrente deve chegar a 2,9% do PIB neste ano.
o Mantivemos nossa projeção de 3,6% para o IPCA deste ano. Após a incorporação do choque deproteínas esperamos desaceleração importante de alimentação em janeiro e, mais importante, semexpectativa de contágio dos núcleos, ou seja, da tendência da inflação.
Convergência de juros deve dar lugar à tese do crescimento
o Há uma tentativa de estabilização da atividade econômica mundial, após meses dedesaceleração. Os indicadores da Europa e de grande parte da Ásia sugerem que o pior parece terficado para trás, com retomada – ainda que muito inicial – do setor industrial. Nos EUA, por outrolado, os dados mais recentes da indústria têm frustrado, indicando que a tendência ainda é de perdade ritmo do segmento. Mesmo assim, na grande maioria dos países, o mercado de trabalho seguefirme, alimentando o descompasso entre o consumo e a produção industrial
o Assumindo que parte relevante da piora da economia mundial tenha sido decorrente dasincertezas advindas das tensões entre EUA e China e do Brexit, acreditamos que, retiradosesses riscos, o primeiro trimestre deste ano será marcado por uma melhora da atividadeeconômica. Além disso, houve um expressivo afrouxamento da política monetária na maioria dospaíses ao longo do ano passado, que ainda deve impulsionar a economia em 2020.
o Optamos por manter nossa projeção de crescimento do PIB mundial de 3,0% em 2020,mesmo ritmo que deve ter sido registrado no ano passado. Ainda que a variação seja a mesma,a dinâmica do ano passado para este deve ser diferente: os países desenvolvidos devem arrefecerem alguma medida seu ritmo de crescimento, com destaque para EUA. Ao mesmo tempo, algunsemergentes devem acelerar, o que já tem sido observado nos últimos meses de 2019, como Brasil,México e Rússia. Nesse contexto, o dólar tende a perder valor, o que tem sido favorável para osativos de países emergentes.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos2
Iniciamos o ano mantendo as principais hipóteses do nosso cenário, ou seja, crescimento de 2,5%,inflação bem comportada em 3,6% e taxa de câmbio em R$/US$ 4,00. Avaliamos que há espaço para ajusteadicional da taxa de juros, para 4,25%, mas reconhecemos que o BC poderá adotar uma postura maiscautelosa nessa fase do ciclo de recuperação e dado o nível atual de juros reais.
Com ajuste residual da Selic, nossa avaliação é que a tese de convergência da taxa de juros darágradualmente lugar à tese do crescimento. Desde 2016, o principal tema foi a convergência dos jurosbrasileiros para patamares mais próximos aos pares, o que de fato aconteceu. Essa convergência só foipossível com aprovação de diversas reformas relevantes no país, que aumentaram o protagonismo do setorprivado na economia e ajudaram a racionalizar parte dos gastos públicos. Com essa combinação dereformas e convergência de juros, acreditamos que agora deveremos ter uma nova tese dominante, a tesedo crescimento.
Nos últimos meses temos ganhado convicção no cenário de aceleração do PIB, com dados melhoresde emprego formal e surpresas positivas nos indicadores mensais. O mercado de trabalho já vinhadando sinais mais positivos nos últimos anos, ainda que concentrado na melhora de empregos informais econta própria. Contudo, os últimos dados apontam para uma melhora relevante também do empregoformal. Esperamos que essa tendência continue ao longo deste ano, com aumento da formalização. Essadinâmica é importante, uma vez que a renda do setor privado formal é mais elevada do que a renda dosetor não formal, além de facilitar o acesso a crédito, ambos estimulando mais o consumo. O varejomostrou desempenho bastante positivo nos últimos meses, beneficiado pelo crédito, pela melhora domercado de trabalho formal e também pela liberação de recursos do FGTS. Aliás, essa melhora não ficouconcentrada apenas no varejo, uma mudança relevante em relação aos trimestres anteriores: tanto aindústria quanto o setor de serviços cresceram mais do que esperado nos últimos meses.
Convergência de juros deve dar lugar à tese do crescimento
Gráfico 1: Geração líquida de emprego formal e PIBMédia dos últimos 3 meses (Caged) e variação interanual (PIB)
Fonte: Caged, IBGE, Bradesco
Cenário Doméstico
-6,0%
-4,0%
-2,0%
0,0%
2,0%
4,0%
6,0%
8,0%
-200.000
-150.000
-100.000
-50.000
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
PIB x PIB projetado pelo Caged
Caged (3m - eixo esq.)
PIB (eixo dir.)
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos3
Gráfico 2: Indústria, comércio e serviçosNível dessazonalizado, base 100=jan/14
Fonte: IBGE, Bradesco
78,0
83,0
88,0
93,0
98,0
14 15 16 17 18 19
Indústria
Varejo
Serviços
Assim, esperamos um crescimento de 0,7% no quarto trimestre e de 1,2% em 2019. Os primeirosdados de 2020 tendem a mostrar alguma diminuição do ritmo de crescimento, com o fim dos efeitos doestímulo adicional da liberação do FGTS. Mesmo assim, o crescimento (na margem) deve ser próximo a0,5%, voltando a acelerar nos trimestres seguintes. Essa aceleração se dará em resposta ao acúmulo deestímulos na economia, que deve ser retroalimentada pelos dois principais vetores de impulso no ano:emprego formal e crédito.
Os dados mais recentes apontam crescimento robusto da carteira de empréstimos. Considerandoapenas os recursos livres, o saldo da carteira chegou a 12% em novembro, na métrica trimestral anualizada.Mesmo que seja uma desaceleração em relação ao mês anterior (14%), a carteira segue crescendo em ritmosuperior a dois dígitos desde meados de 2019. O destaque tem se dado no crédito para pessoa física,bastante beneficiado pela queda das taxas de juros. No caso de pessoa jurídica, há meses já temosobservado um aumento do acesso ao crédito via mercado de capitais.
Olhando para frente, o impulso do crédito será um dos principais vetores de aceleração do PIB. Esseimpulso deverá ser favorecido pela esperada manutenção de condições financeiras em patamaresestimulativos, que devem permitir níveis mais altos de alavancagem de empresas e famílias. De fato, aúltima Pesquisa Trimestral sobre Condições de Crédito capturou a expectativa de aumento do volume denovas concessões neste primeiro trimestre para famílias (linhas de consumo e habitacional) e empresas (detodos os portes).
Em dezembro, houve apreciação relevante do real frente ao dólar, movimento semelhante aoobservado entre outras moedas emergentes. A melhora de perspectiva com o acordo comercial entreEUA e China e de estabilização no crescimento mundial foi bastante positiva para essas moedas. Além disso,ainda houve o benefício vindo das surpresas altistas com indicadores mensais de atividade, bem como amudança no outlook brasileiro de estável para positivo, segundo a S&P. A mudança de outlook é umprimeiro passo para o aumento de nota do rating soberano e, eventualmente, da recuperação do grau deinvestimento no médio prazo.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos4
Gráfico 3: Concessão de crédito livreR$ bilhões constante
Fonte: BCB, Bradesco
Gráfico 4: Taxa de câmbio – real, pares e DXY
Fonte: Bloomberg, Bradesco
100
120
140
160
180
200
220
240
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Concessão PF total - a preços do último mês
PF Livres PJ livres
3.60
3.70
3.80
3.90
4.00
4.10
4.20
4.30
jan
/19
fev/
19
mar
/19
abr/
19
mai
/19
jun
/19
jul/
19
ago
/19
set/
19
ou
t/1
9
no
v/1
9
dez
/19
jan
/20
fev/
20
mar
/20
Título do Gráfico
Mediana paresDXYBRL
Para 2020, à medida que os indicadores efetivos confirmarem o ritmo de crescimento, esperamosmovimento de apreciação da moeda, para R$/US$ 4,00. Com a convergência da taxa de juros, algumasmudanças de alocação parecem ter começado, com empresas diminuindo sua alavancagem. Assim, o déficitem conta corrente deve chegar a 3% do PIB neste ano. Essa mudança estrutural não deve limitar umaapreciação mais profunda da moeda, se a agenda de reformas fiscais avançar e o crescimento de fato serestabelecer.
O ritmo de crescimento será relevante para determinar a rapidez da convergência da dívida públicapara patamares anteriores à crise fiscal. Um crescimento médio de 2% leva a dívida bruta para 66% doPIB em 2030. Com as mesmas hipóteses de juros, um crescimento de 3% leva a dívida/PIB para 49% noperíodo. Enquanto as reformas feitas nos últimos anos, como o teto de gastos e a reforma previdenciária,colocaram o país de volta a uma trajetória convergente de dívida, o crescimento determinará qual o ritmodessa redução, desde que o ajuste fiscal prossiga e as ferramentas necessárias para o cumprimento do tetodos gastos sejam efetivadas. Portanto, a consolidação fiscal e o ritmo de crescimento estão intimamenteligados e, por isso, o ritmo de crescimento tende a ter efeito importante sobre os movimentos no câmbio.Se tivermos uma surpresa positiva com crescimento nos próximos meses, a taxa de câmbio pode ficarabaixo dos R$/US$ 4,00.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos5
Esperamos que as contas públicas encerrem este ano com déficit de R$ 91 bilhões. As receitas devemcrescer 6,1%, excluindo aquelas decorrentes do leilão de excedente da área de cessão onerosa. Já asdespesas, contidas pelo teto de gastos, crescem 3,7%. As contas públicas continuam restritivas nesse e nospróximos anos, com o teto dos gastos exigindo novos ajustes a partir do ano que vem para ser cumprido.Neste ano, a agenda de reformas segue ampla, com propostas para reforma tributária, administrativa emudanças nas relações entre os entes federativos. Essas reformas são indispensáveis para manter o país narota de consolidação fiscal, um processo que apenas começou. Com a vigência do teto dos gastos, há anecessidade de se repensar os gastos obrigatórios do governo, caso contrário haverá contração excessivados gastos discricionários, com comprometimento dos investimentos.
Mantivemos nossa projeção de 3,6% para o IPCA deste ano. Após a alta bastante relevante dos preçosdas proteínas no final do ano passado, já começamos a observar a dissipação do choque. O IPCA de 2019chegou a 4,31%, com forte alta de alimentação nos dois últimos meses do ano. O choque de preços nascarnes era esperado para algum momento de 2020, mas foi antecipado com a habilitação de plantas paraexportação de carnes bovinas para a China – afetada pela febre suína. Após a incorporação do choque, ospreços de carnes bovinas no mercado doméstico se estabilizaram e essa desaceleração já começa a chegarao consumidor. Assim, os dados de janeiro já devem mostrar uma descompressão importante dealimentação e, mais importante, sem expectativa de contágio dos núcleos, ou seja, da tendência dainflação. É verdade que em geral há uma defasagem entre um choque e a possível contaminação dosnúcleos, mas até agora não há qualquer sinal desse tipo de evento.
De fato, esperamos que a média dos núcleos permaneça com variação ao redor de 2,5% até março,encerrando o ano mais próximo de 3%. A tendência da inflação não mostrou, até agora, nenhumaalteração após o choque de proteínas, um indicativo muito relevante de ancoragem inflacionária.Historicamente, após esse tipo de alta víamos uma aceleração de vários grupos não correlacionados, em ummovimento inercial que precisava ser combatido pelo Banco Central com aumento de juros. No choqueatual, isso não aconteceu, mesmo com a atividade começando a ganhar tração.
Recentemente, uma nova preocupação é o possível repasse da alta de petróleo para oscombustíveis. A Petrobras tem buscado manter a paridade de preços domésticos e internacionais em reais.Em nossas estimativas, os preços internos ainda estão 3% mais altos do que o internacional. Dessa forma,uma nova rodada de alta de petróleo precisaria ocorrer para que uma elevação dos combustíveis ocorra nomercado doméstico – o que não é nosso cenário central.
Gráfico 5: Dívida Bruta/PIBDiferentes cenários de PIB e juro real
Fonte: BCB, Bradesco
77
66
59
52
66
78
56
49
06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
PIB 2 / Juro 3 PIB 3 / Juro 4 PIB 3 / Juro 3
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos6
As projeções de inflação dão espaço para cortes de juros adicionais, mas o BC pode ser maiscauteloso pelo momento atual do ciclo de ajuste. Os modelos de inflação, atualizados com o IPCAfechado de 2019 e com o câmbio atual, continuam indicando inflação mais perto de 3,5% em 2020. Ou seja,a inflação projetada continua gerando espaço para novos cortes de juros, já que os modelos estão cerca de0,50 p.p. abaixo do centro da meta, mesmo após a incorporação de um choque de quase 1 p.p no anopassado. No entanto, a comunicação recente do BC tem reforçado o ineditismo da situação atual, com juroreal baixo e potencial menor previsibilidade da reação da economia e da inflação nesse ambiente. Esse é umargumento válido: não há precedentes na nossa história para estimarmos com elevada acurácia a reação daeconomia e da inflação ao patamar historicamente baixo da Selic. Ainda assim, os dados efetivos seguemindicando que, até o momento, a economia tem reagido de acordo com o esperado: o aumento daparticipação do setor privado na economia aumenta a produtividade, permitindo aceleração do crescimentocom inflação ancorada, ou seja, sem perenizar choques temporários. Portanto, em nosso cenário central,esperamos um ajuste adicional de juros, para 4,25%, mas reconhecemos que há possibilidade demanutenção da Selic em 4,50%.
Também mantemos nossa expectativa que a taxa de juros seguirá inalterada por longo período, aomenos até o final de 2020. Mesmo que haja dúvidas em relação ao patamar final desse ciclo, não vemosmotivos para elevação da taxa de juros nos próximos meses. Assim, os movimentos estruturais deadequação ao patamar mais baixo devem continuar ao longo deste ano.
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Há uma tentativa de estabilização da atividade econômica mundial, após meses de desaceleração.Os indicadores da Europa e de grande parte da Ásia sugerem que o pior parece ter ficado para trás, comretomada – ainda que muito inicial – do setor industrial. Nos EUA, por outro lado, os dados mais recentes daindústria têm frustrado, indicando que a tendência ainda é de perda de ritmo do segmento. Mesmo assim,na grande maioria dos países, o mercado de trabalho segue firme, alimentando o descompasso entre oconsumo e a produção industrial. Neste mês, deveremos ainda ter assinada a fase 1 do acordo entre China eEUA, após longo período de negociações. Espera-se também que o Reino Unido apresente a proposta desaída da União Europeia até o final deste mês, já aprovada pelo Parlamento.
Economia mundial entra em uma fase de estabilização
Gráfico 6: PMI global* da indústria
Fonte: Bloomberg, FMI, Bradesco
Cenário Internacional
49,2
35
38
41
44
47
50
53
56
59
03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Mundo
(*) índice ponderado pelo PIB PPP com 35 países mais a Área do Euro
2,5%
0,2%
-12%
-10%
-8%
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Título do Gráfico
Vendas do varejo
Produção industrial
Gráfico 7: Vendas no varejo e Produção industrial globalVariação interanual
Fonte: Bloomberg, FMI, Bradesco
Assumindo que parte relevante da piora da economia mundial tenha sido decorrente das incertezasadvindas das tensões entre EUA e China e do Brexit, acreditamos que, retirados esses riscos, oprimeiro trimestre deste ano será marcado por uma melhora da atividade econômica. Além disso,houve um expressivo afrouxamento da política monetária na maioria dos países ao longo do ano passado –com destaque para os cortes de juros implementados pelo Fed – que ainda deve impulsionar a economia,considerando seus efeitos defasados sobre a atividade.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos8
De todo modo, esses próximos meses serão um teste para essas teses, uma vez que há questõesestruturais e específicas de cada país que podem limitar uma retomada mais expressiva à frente.Dessa forma, por ora, ainda não temos sinais fortes o suficiente para esperar uma aceleração da economia,até porque após quase um ano e meio de forte ajuste, a retomada tende a ser mais moderada.
Diante disso, optamos por manter nossa projeção de crescimento do PIB mundial de 3,0% em 2020,mesmo ritmo que deve ter sido registrado no ano passado. Ainda que a variação seja a mesma, adinâmica do ano passado para este deve ser diferente: os países desenvolvidos devem arrefecer em algumamedida seu ritmo de crescimento, com destaque para EUA. Ao mesmo tempo, alguns emergentes devemacelerar, o que já tem sido observado nos últimos meses de 2019, como Brasil, México e Rússia. Nessecontexto, o dólar tende a perder valor, o que tem sido favorável para os ativos de países emergentes.
A seguir detalhamos a dinâmica das principais regiões.
Nos EUA a dinâmica da atividade continuou muito semelhante à dos últimos meses, com fortecrescimento do consumo doméstico, da atividade do setor de serviços e do setor imobiliário, em grandemedida sustentados pelo mercado de trabalho bastante aquecido e pelo baixo custo de financiamento. Emcontrapartida, a atividade industrial voltou a dar sinais mistos, com um forte crescimento em novembro,devolvendo a queda resultante da paralisação da produção de veículos de outubro, porém com assondagens de dezembro sugerindo uma ligeira queda da atividade no período. Diante desse cenário, comoera amplamente esperado, o Fed manteve a taxa de juros no intervalo de 1,75% e 1,50%, e sinalizou quedeve manter a taxa nesse patamar durante 2020. Sendo assim, seguimos projetando crescimentoeconômico de 1,9%, e o Fed não deve alterar a taxa de juros ao longo de 2020.
Na Área do Euro, os últimos indicadores sugerem alguma estabilização da atividade, que deve teratingido seu menor ritmo de crescimento neste trimestre, com expansão do PIB projetada em 0,1%.Os índices de confiança e o índice PMI industrial referentes a dezembro mostraram sinais de melhora,indicando que o pior momento da economia europeia está ficando para trás. O consumo segue fortalecido,com as vendas no varejo acumulando expansão de 2,3% até novembro, frente a uma queda da indústria deaproximadamente 1,5% no mesmo período. Para 2020, a atividade deve ser beneficiada pela estabilizaçãochinesa e pelo crescimento dos Estados Unidos, devido ao seu alto grau de abertura comercial.
Gráfico 8: Diferencial de crescimento 2020 – 2019Em p.p.
Fonte: FMI, Bradesco
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
Brasil Índia Rússia Emergentes Mundo Área do Euro Reino Unido América
Latina e
Caribe
Desenvolvidos EUA
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos9
Há ainda alguns temas em aberto que não permitem uma expansão mais forte, como a imposição denovas tarifas à pauta europeia; instabilidade política; e negociação de um acordo neste ano entre ReinoUnido e União Europeia após o Brexit.
Na China, da mesma forma, a desaceleração parece ter sido interrompida. Os indicadores de
atividade econômica parecem ter estabilizado em patamar ainda fraco. Mais recentemente, com o
anúncio da redução do compulsório, o governo sinalizou mais medidas de injeção de liquidez, como
forma de estancar a desaceleração, para que a economia não mostre crescimento inferior a 6,0%. Essa
inclusive deve ter sido a taxa de crescimento no último trimestre do ano passado. Para 2020, as
incertezas decorrentes das tensões com os EUA devem ser menores, mas as exportações seguirão em
queda, limitando uma melhora mais expressiva. Isso deve levar o PIB crescer um pouco abaixo de 6,0% -
que deve ser a meta de crescimento a ser anunciada em março. Não esperamos, contudo, uma
desaceleração acentuada, porque nessas condições – principalmente se houver deterioração do
mercado de trabalho e da saúde das empresas – o governo pode lançar mão de medidas de estímulo
mais agressivas, especialmente através do mercado de crédito.
Assim como as economias emergentes, os países da América Latina devem se beneficiar da
redução dos fatores de risco e da melhora da perspectiva de crescimento do cenário global.
Projetamos uma melhora do crescimento econômico da região, porém desafios continuam relacionados
ao avanço da agenda de reformas, sem deixar de atender as demandas sociais. Ademais, com exceção de
México, o ciclo de corte de juros parece estar próximo ao fim na maioria dos países da região, e somente
o Chile tem espaço no orçamento para estímulos fiscais.
Frente a esse cenário, entendemos que a política econômica na maior parte dos países deve
seguir acomodatícia no início de 2020. A inflação ao consumidor, especialmente os núcleos, está
controlada e não há indícios de que as boas condições do mercado de trabalho estejam se traduzindo
em mais inflação. Somado a isso, a retomada ainda é incipiente, considerando as incertezas sobre qual
será o padrão de recuperação após a retirada das incertezas relacionadas à guerra comercial, à medida
que a confiança deve recuperar, mas há efeitos permanentes que serão digeridos decorrentes das
mudanças tarifárias. De todo modo, nos parece que a próxima discussão – não imediata – será de alta e
não de queda de juros, caso nosso cenário de retomada da economia se confirme.
Três considerações finais, que trazem incertezas ao cenário, devem ser feitas. A primeira delas
refere-se às relações entre EUA e China. Entendemos que a assinatura da fase 1 não encerrará as tensões
entre os dois países. A fase 2 já tende a avançar, com questões mais complexas e pressões adicionais
vindas dos EUA. Além disso, como parte das tarifas não foi removida, realocações nas cadeias produtivas
seguirão em curso, com implicações negativas para as exportações chinesas. Também devemos lembrar
que o acordo assume que a China comprará entre US$ 40 e 50 bilhões de produtos agrícolas e que tal
nível dificilmente será cumprido por restrições dos dois países (EUA não tem esse montante para ofertar
e a China importa essa quantia no total, o que implicaria deixar de comprar de diversos países). A
segunda consideração trata do ambiente político nos EUA, uma vez que o país passará por eleições
presidenciais neste ano, o que pode trazer volatilidade especialmente a partir do segundo trimestre.
Finalmente, os últimos dias trouxeram antigos riscos geopolíticos ao radar. As tensões no Oriente Médio
não devem aliviar no curto prazo, ainda que não acreditemos em uma escalada. Ou seja, o preço do
petróleo deve se estabilizar em um patamar mais elevado, entre US$ 65 e 70/barril nos próximos meses,
até que fiquem mais claras as consequências dos conflitos.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos10
Projeções Macroeconômicas (2016 – 2020)
2016 2017 2018 2019* 2020*
ATIVIDADE, INFLAÇÃO E JUROS
PIB (%) -3,3 1,3 1,3 1,2 2,5
Agropecuária (%) -5,2 14,2 1,4 1,6 2,0
Indústria (%) -4,6 -0,5 0,5 0,8 2,0
Serviços (%) -2,3 0,8 1,5 1,3 2,5
Consumo Privado (%) -3,9 2,1 2,1 1,8 2,5
Consumo da Adm. Pública (%) 0,2 -0,7 0,4 -0,2 0,4
Investimento (FBKF) (%) -12,1 -2,6 3,9 3,0 5,0
Exportações Bens e Serviços Não Fatores (%) 0,9 4,9 4,0 0,5 3,0
Importações Bens e Serviços Não Fatores (%) -10,3 6,7 8,3 4,0 4,5
PIB (R$) - bilhões (Preços Correntes) 6.267 6.554 6.828 7.284 7.819
PIB (US$) - bilhões 1.796 2.053 1.868 1.846 1.931
População - milhões 206,1 207,7 209,2 210,7 212,1
PIB per capita - US$ 8.714 9.888 8.930 8.765 9.104
Produção Industrial - IBGE (%) -6,4 2,5 1,1 -1,0 2,0
Taxa Média de Desemprego - IBGE 11,5 12,7 12,3 11,9 11,2
Vendas do Comércio Varejista - Restrita (%) -6,2 2,0 2,3 2,1 3,2
IPCA - IBGE (%) 6,29 2,95 3,75 4,31 3,60
IGP-M - FGV (%) 7,17 -0,50 7,54 7,32 4,53
Taxa Selic (final de período) % 13,75 7,00 6,50 4,50 4,25
Taxa Selic nominal (acumulado 12 meses) % 14,0 10,0 6,42 5,9 4,2
Taxa Selic real / IPCA (acumulado 12 meses) % 7,3 6,8 2,6 1,7 0,5
EXTERNO E CÂMBIO
Balança Comercial - BCB (US$ bilhões) 44,6 64,0 53,0 39,6 36,1
Exportações (US$ bilhões) 184 218 240 224 229
Importações (US$ bilhões) 140 154 186 185 192
Corrente de Comércio (% PIB) 18,0 18,1 22,8 22,2 21,8
Saldo em conta-corrente (US$ bilhões) -24 -15 -42 -50 -55
Saldo em conta-corrente (% PIB) -1,3 -0,7 -2,2 -2,7 -2,9
Investimento Direto no País (US$ bilhões) 74 69 78 81 89
Taxa de câmbio (final de período) R$ / US$ 3,26 3,31 3,87 4,03 4,00
Taxa de câmbio (média anual) R$ / US$ 3,49 3,19 3,65 3,95 4,05
Rating Soberano Moody's Ba2 Ba2 Ba2 - -
Rating Soberano S&P BB BB BB- - -
FISCAL
Resultado primário do setor público (R$ bilhões) -156 -111 -108 -81 -91
Resultado primário do setor público (% PIB) -2,5 -1,7 -1,6 -1,1 -1,2
Dívida Bruta do Setor Público (% PIB) 69,9 74,1 76,7 77,8 78,4
Dívida Líquida do Setor Público (% PIB) 46,2 51,6 54,1 55,2 55,8
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos11
2016 2017 2018 2019* 2020*
PIB Global
Mundo 3,4 3,8 3,6 3,0 3,0
Países Desenvolvidos 1,7 2,3 2,2 1,6 1,4
Estados Unidos 1,6 2,2 2,9 2,3 1,9
Área do Euro 1,8 2,3 1,8 1,1 0,9
Reino Unido 1,8 1,8 1,4 1,0 1,0
Japão 0,6 1,9 0,8 0,9 0,4
Países Emergentes 4,6 4,8 4,5 3,9 4,1
China 6,7 6,8 6,5 6,1 5,8
América Latina -0,6 1,2 1,0 0,4 1,7
JUROS E INFLAÇÃO EUA
Fed Funds (%) 0,75 1,50 2,50 1,75 1,75
Inflação (%) 2,07 2,10 2,40 2,30 2,00
Indicadores internacionais (2016 – 2020)
Indicadores internacionais – América Latina (2016 – 2020)
(*): (projeção)Fonte: FMI, Bradesco
2016 2017 2018 2019* 2020*
Argentina
PIB (%) -1,8 2,9 -2,5 -2,5 -1,6
Inflação ao consumidor (%) 41,0 24,8 47,7 54,5 40,0
Taxa bás ica de juros (%) 24,8 28,8 59,3 55,0 50,0
Taxa de câmbio (fina l do ano) 15,85 18,59 37,65 60 80
Brasil
PIB (%) -3,3 1,3 1,3 1,2 2,5
Inflação ao consumidor (%) 6,3 2,9 3,7 4,3 3,6
Taxa bás ica de juros (%) 13,75 7,00 6,50 4,50 4,25
Taxa de câmbio (fina l do ano) 3,26 3,31 3,87 4,03 4,00
Chile
PIB (%) 1,3 1,5 4,0 2,5 2,8
Inflação ao consumidor (%) 2,7 2,3 2,9 3,0 2,5
Taxa bás ica de juros (%) 3,50 2,50 2,75 1,75 1,75
Taxa de câmbio (fina l do ano) 671,0 615,0 694,0 753 700
Colômbia
PIB (%) 2,0 1,8 2,8 3,0 3,0
Inflação ao consumidor (%) 5,8 4,1 3,1 3,8 3,0
Taxa bás ica de juros (%) 7,50 4,75 4,25 4,25 3,75
Taxa de câmbio (fina l do ano) 3001 2.984 3.248 3.287 3.300
México
PIB (%) 2,9 2,0 2,0 0,4 1,5
Inflação ao consumidor (%) 3,2 6,8 4,3 2,8 3,4
Taxa bás ica de juros (%) 5,75 7,25 8,25 7,25 6,50
Taxa de câmbio (fina l do ano) 20,7 19,7 19,7 18,9 20,3
Peru
PIB (%) 4,1 2,5 4,1 2,7 3,2
Inflação ao consumidor (%) 3,2 1,4 2,4 1,9 2,0
Taxa bás ica de juros (%) 4,25 3,25 2,75 2,00 2,00
Taxa de câmbio (fina l do ano) 3,36 3,26 3,27 3,31 3,32
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos12
Equipe Técnica
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Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Fernando Honorato Barbosa
Economistas Andréa Bastos Damico / Ariana Stephanie Zerbinatti / Constantin Jancsó / Fabiana D’Atri /Igor Velecico / Leandro Câmara Negrão / Mariana Silva de Freitas / Myriã Tatiany NevesBast / Priscila Pacheco Trigo / Rafael Martins Murrer / Renan Bassoli Diniz / RobsonRodrigues Pereira / Thiago Coraucci de Angelis / Thomas Henrique Schreurs Pires
Estagiários Ana Beatriz Moreira dos Santos / Daniel Funari Fouto / Gustavo Rostelato de Miranda /Henrique Monteiro de Souza Rangel / Lucas Daniel Duarte / Lucas Oliveira Costa da Silva /Marcelo Henrique Leite Alonso