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REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 4 - Número 1 | 1º trimestre de 2019 | http://insepe.org.br/revistainsepe ....................................................................................................................................................... CORRUPÇÃO: UMA PANDEMIA QUE IGNORA A PREVENÇÃO AUTORES (AS) E COAUTORES (AS): Luís Felipe Gramantieri de Tolentino; Alan da Silva Melo; Vander Lúcio Sanches; Marlúcio Cândido; Débora Maria Nazareth Sanches; Rachel Ferreira Sette Bicalho; Kátia Glê Sanches Ribeiro; Alexsandro de Assis Vasconcelos Clemente RESUMO Este artigo tem o intuito de contribuir com a Administração Pública no sentido de permitir avanços na transparência da prestação de serviços públicos e suas derivações, contribuindo para que sejam minimizadas perdas e dispêndios oriundos da pandemia da corrupção, cujos tentáculos se encontram espalhados pelas diversas esferas governamentais e da sociedade. Recente estudo realizado pela FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, mostra que as perdas anuais com a corrupção no Brasil custam entre 40 e 70 bilhões de reais, ou quase 2% do PIB Produto Interno Bruto. Para se ter uma idéia da dimensão desse desperdício, daria para aumentar as atuais 34,5 milhões de crianças matriculadas no ensino fundamental da rede pública, para 51 milhões; daria para dobrar a oferta dos mais de 367.000 leitos em hospitais públicos; poderiam ser atendidos mais de 2,3 milhões de pessoas com novas moradias; possivelmente seriam contemplados 23 milhões de domicílios com saneamento básico, ou ainda, considerando um dos maiores gargalos do país com vistas á Copa do Mundo de 2014, 277 novos aeroportos poderiam ser construídos, além de serem modernizados os existentes. Para se consolidar como uma potência econômica o país precisará adotar medidas de relevância no campo político, no campo judicial e até mesmo no campo da governança, de forma que sejam eficazes no combate de uma pandemia que ignora prevenção. Palavras-chave: Corrupção, Governança, Transparência. 1 INTRODUÇÃO Democracia (demo+kratos) é uma palavra de origem grega em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, seja ela na forma direta (democracia pura) ou indireta (democracia representantiva). A ESG Escola Superior de Guerra (2008, p.17), preconiza em seu manual básico, que para uma democracia madura há necessidade de uma nação organizada, pois “a idéia de nação pressupõe a sedimentação continuada, ao longo

CORRUPÇÃO: UMA PANDEMIA QUE IGNORA A PREVENÇÃO …insepe.org.br/.../uploads/2019/05/INSEPE-N.07-07.pdf · 2019. 5. 6. · Tudo começou com a emenda nº 19, promulgada em 04/06/98

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REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 4 - Número 1 | 1º trimestre de 2019 | http://insepe.org.br/revistainsepe

.......................................................................................................................................................

CORRUPÇÃO: UMA PANDEMIA QUE IGNORA A PREVENÇÃO

AUTORES (AS) E COAUTORES (AS): Luís Felipe Gramantieri de Tolentino; Alan da

Silva Melo; Vander Lúcio Sanches; Marlúcio Cândido; Débora Maria Nazareth Sanches;

Rachel Ferreira Sette Bicalho; Kátia Glê Sanches Ribeiro; Alexsandro de Assis Vasconcelos

Clemente

RESUMO

Este artigo tem o intuito de contribuir com a Administração Pública no sentido de

permitir avanços na transparência da prestação de serviços públicos e suas derivações,

contribuindo para que sejam minimizadas perdas e dispêndios oriundos da pandemia da

corrupção, cujos tentáculos se encontram espalhados pelas diversas esferas governamentais e

da sociedade. Recente estudo realizado pela FIESP – Federação das Indústrias do Estado de

São Paulo, mostra que as perdas anuais com a corrupção no Brasil custam entre 40 e 70

bilhões de reais, ou quase 2% do PIB – Produto Interno Bruto. Para se ter uma idéia da

dimensão desse desperdício, daria para aumentar as atuais 34,5 milhões de crianças

matriculadas no ensino fundamental da rede pública, para 51 milhões; daria para dobrar a

oferta dos mais de 367.000 leitos em hospitais públicos; poderiam ser atendidos mais de 2,3

milhões de pessoas com novas moradias; possivelmente seriam contemplados 23 milhões de

domicílios com saneamento básico, ou ainda, considerando um dos maiores gargalos do país

com vistas á Copa do Mundo de 2014, 277 novos aeroportos poderiam ser construídos, além

de serem modernizados os existentes. Para se consolidar como uma potência econômica o

país precisará adotar medidas de relevância no campo político, no campo judicial e até mesmo

no campo da governança, de forma que sejam eficazes no combate de uma pandemia que

ignora prevenção.

Palavras-chave: Corrupção, Governança, Transparência.

1 INTRODUÇÃO

Democracia (demo+kratos) é uma palavra de origem grega em que o poder de tomar

importantes decisões políticas está com os cidadãos, seja ela na forma direta (democracia

pura) ou indireta (democracia representantiva). A ESG – Escola Superior de Guerra (2008,

p.17), preconiza em seu manual básico, que para uma democracia madura há necessidade de

uma nação organizada, pois “a idéia de nação pressupõe a sedimentação continuada, ao longo

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de gerações, [...] onde tanto os indivíduos quanto os grupos sociais, [...] se identificam entre si

por comungarem de uma realidade cultural estável [...]”.

Convivendo ao lado de seu semelhante, o ser humano percebe que possui uma série de

necessidades, interesses e aspirações que lhe são comuns. Quando ele identifica esses

vínculos desperta-se por um sentimento de ação mais solidária em que poderá ajudar mais,

seja no âmbito individual ou no coletivo. Surge, pois o bem comum. A ESG (2008) o define

como:

“Ideal de convivência que, transcendendo à busca do bem-estar,

permite construir uma sociedade onde todos, e cada um, tenham

condições de plena realização de suas potencialidades como pessoa e

de conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais.

(ESG, 2008, p.11)”

Esse enfoque motivou a formulação de uma doutrina militar ocidental, alterando o

conceito de segurança nacional, uma vez que extrapolava tal esfera para repaginar-se de

aspectos políticos, econômicos e psicossociais. Além disso, alterou-se também o sentido de

mobilização, igualmente uma característica intrínseca aos militares para transformar-se em

“funções do governo”.

Com o tempo a função desempenhada pelo Estado na sociedade sofreu inúmeras

transformações. Nos séculos XVIII e XIX o principal objetivo era a segurança pública e a

defesa externa em caso ataques inimigos.

Entretanto, com a democracia, as responsabilidades se diversificaram, e é comum

dizer que o Estado é o promotor do bem-estar social. Para tanto, ele necessita desenvolver

uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas como saúde, educação, meio

ambiente, etc.

Para atingir resultados nestas e em outras áreas o Estado se utiliza de políticas

públicas, que são ações e decisões do governo, voltadas para a solução de problemas da so-

ciedade. As demandas sociais são apresentadas aos representantes do povo, por meio de

grupos organizados, ou seja, a sociedade civil organizada, representada pelos sindicatos,

entidades empresariais, associações de moradores, associações patronais e ONG’s em geral.

Mas como em todas as sociedades existem pessoas que agem segundo as leis e normas

estabelecidas, há também aquelas que não as reconhecem e desrespeitam-nas com o intuito de

obter benefício pessoal. São conhecidas como criminosas e em termos de administração

pública praticam atos de corrupção política.

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No crime de corrupção política, os criminosos – ao invés de assassinatos, roubos e

furtos – utilizam-se de suas posições de poder estabelecidas no jogo político normal da

sociedade para realizar atos ilegais contra a sociedade como um todo, fazendo surgir o que se

conhece como tráfico de influência.

Segundo a ONG Transparência Internacional, o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking

da corrupção num elenco de 180 países, que desde 1995 publica o relatório anual IPC que

ordena os países do mundo de acordo com o grau em que a corrupção é percebida a existir

entre os funcionários públicos e políticos, onde a maior pontuação significa menos percepção

de corrupção. A figura 1, a seguir mapeia a corrupção pelo mundo:

Figura 1 – A Corrupção no Mundo

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:World_Map_Index_of_perception_of_corruption_2009.svg

O Quadro 1 a seguir mostra um breve resumo do ranking da corrupção pelo mundo:

Quadro 1 – Ranking Mundial da Corrupção

Posição 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º

País

Nova

Zelândia Dinamarca Singapura Suécia Suíça Finlândia Países Baixos

Posição 14º 17º 18º 19º 24º 25º 26º

País Alemanha Japão

Reino

Unido EUA França Chile Uruguai

Posição 32º 40º 55º 61º 63º 75º 180º

País Espanha Coréia do Africa do

Cuba Itália Brasil Somália

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Sul Sul

Fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Percep%C3%A7%C3%B5es_de_Corrup%C3%A7%C3%A3o

Adaptado pelo autor.

A corrupção no serviço público é o tema que será tratado neste artigo. O objetivo é

contribuir para que a administração pública possa ter mecanismos eficazes para minimizar as

perdas oriundas da corrupção.

Quanto á abordagem, Severino (2000, p.162) “entende-se por métodos os

procedimentos mais amplos de raciocínio, enquanto técnicas são procedimentos mais restritos

que operacionalizam os métodos mediante o emprego de instrumentos adequados”.

Segundo Diniz (2006), “uma pesquisa tem um caráter qualitativo, quando utiliza a

observação do participante com interpretação de acordo com o contexto. Nesse campo ela

responde a questões particulares, pois trabalha com um universo de vários significados,

motivos, valores e atitudes”.

No tocante aos meios, esta pesquisa é documental. Foi elaborada a partir de materiais

não analisados. É também classificada como estudo de caso, pois para Yin (1981, p. 23), o

estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto

de realidade, quando a fronteira entre ambos não é claramente definida e no qual são

utilizadas várias fontes de evidência.

O autor (1981, p.23) diz ainda que o estudo de caso “tem como propósitos explorar

situações da vida real, descrever a situação do contexto onde está sendo feita a investigação

ou mesmo explicar as variáveis causais em situações complexas”.

Quanto aos fins a pesquisa é descritiva, uma vez que procura descrever alguns dos

fatores que têm determinado o desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de

demandas sociais, refletindo diretamente nos resultados e no não cumprimento dos prazos

anteriormente estabelecidos.

A reforma administrativa no Brasil propôs profundas mudanças na Administração

Pública. Tudo começou com a emenda nº 19, promulgada em 04/06/98 que dispôs sobre os

“Princípios e as Normas da Administração Pública”, com o objetivo de impor um controle ás

finanças e direcionar as administrações em busca da eficiência e eficácia na gestão pública.

Com toda essa normatização surge, pois a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma Lei

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Complementar de nº 101, de 04/04/00, que em seu artigo primeiro estabelece a gestão fiscal

responsável, pressupondo ações planejadas e de forma transparente.

Este artigo tem como justificativa a abordagem da corrupção na administração pública,

e por consequência a malversação dos recursos públicos, necessários ao atendimento das

crescentes demandas sociais. Ao se buscar quantificar o efeito do incremento da corrupção no

terreno da gestão governamental, busca-se também, quantificar as perdas sociais envolvidas.

Ao se buscar quantificar o efeito do incremento da corrupção no terreno da gestão

governamental, busca-se também, quantificar as perdas sociais envolvidas, uma vez que a

corrupção é efetivamente uma pandemia que ignora a prevenção e não pode ser combatida

apenas com simples remédios processuais administrativos, que não se tornam exemplos de

punição. Os objetivos são:l

Mostrar alguns aspectos presentes na gestão pública, que permitem a obtenção de

êxito no combate á corrupção.

Descrever a importância das práticas de governança na administração pública.

Identificar os prováveis indicadores de governança da administração pública que

permitem combater a corrupção política.

Analisar as diferenças administrativas existentes entre os modelos de administração

pública e privada.

Apontar o montante de recursos desviados dos objetivos sociais em função da

corrupção.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Interesse pessoal e Conflitos de Agência

Nicolau Maquiavel, um poeta e diplomata italiano, que viveu no séc XV, no Renascimento,

dizia que o homem deveria zelar apenas pelos seus interesses. Já naquela época, difundia-se a

filosofia do “hedonismo”, que é a busca incessante pelo interesse próprio, o prazer ou mesmo

a satisfação individual.

No tocante ás organizações Assaf Neto (2010, pg. 26) diz que “as finanças

comportamentais estudam a influência da psicologia no comportamento dos investidores, [...]

que preconiza a racionalidade da decisão e a busca da maximização da utilidade esperada”.

Trazendo a fala deste autor, para o setor público, pode-se dizer que aquilo que se espera dos

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gestores públicos é a devida alocação de recursos em pontos de grande demanda social, de

forma a atender um maior universo possível de pessoas.

Porém, há o chamado “conflitos de agência”, teoria desenvolvida por Jensen e

Meckling em 1976, para empresas privadas, mas que pode ser transportado para o presente

estudo.

Para Assaf Neto (2010, pg. 29), “os acionistas são identificados como os proprietários,

[...] os administradores são os seus agentes”. Isto mostra, de um lado o interesse dos primeiros

na maximização do lucro, do outro a busca pelo benefício pessoal e a manutenção do

emprego.

A pergunta que faz é como isto acontece no setor público? De um lado o povo,

intitulado “dono” ou “acionista” do país, com suas necessidades prementes e do outro seus

representantes, os parlamentares nas diversas esferas de governo, que têm o poder de

promover o bem estar social.

Mauss (2008, pg. 94) diz que “o resultado econômico público é o valor que o cidadão

exige como remuneração pelo seu capital investido na entidade pública na forma de

impostos”.

Mas o que se tem visto nos noticiários são demandas reclamadas por grande

contigente de pessoas, às quais têm sido preteridas por outras de pouco alcance social, mas

que garantem o hedonismo daqueles que representam o povo.

2.2 Governança Corporativa

Quando se fala em governança logo se pensa em empresa privada. Como o tema

abordado está ligado á administração pública é importante se traçar um paralelo entre

governança corporativa e governança pública. Para empresas privadas ou mesmo as de capital

misto, o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, define governança

corporativa como:

“Sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas envolvendo os

relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria,

auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa

têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e

contribuir para a sua perenidade. Garantem ainda, equidade aos sócios, transparência

e responsabilidade pelos resultados”.

Andrade e Rossetti (2006, p.144) falam sobre os “5 P´s da governança corporativa

como elementos essenciais da gestão empresarial: princípios; propósitos; processos; práticas;

e poder”. Esses elementos compõem a verdadeira dimensão da boa gestão e sua relação

encontra-se esquematicamente representada na Figura 2, a seguir:

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Figura 2 – 5 P’s da Governança Corporativa

Fonte: Andrade e Rossetti (2006, p.144). Adaptado pelo autor.

Se nas empresas privadas o objetivo é o lucro, na administração pública a meta é

eminentemente social, uma vez que busca-se o “valor público”, que pode ser constituído por

aspectos tangíveis como a prestação de serviços á população, ou intangíveis como a imagem

perante a população, permitindo a esta medir seu grau de satisfação ou não com tais serviços.

Já a governança pública pode ser entendida como a condução responsável pelos

assuntos do Estado, ou ainda um modelo alternativo ás estruturas governamentais de

hierarquia, para dar eficácia ao governo em uma economia global, não somente atuando com

capacidade máxima de gestão, mas também garantindo e respeitando as normas e valores

próprios de uma sociedade democrática.

A governança pública data da década de 1990 e traduz um consenso de que a eficácia

da atuação pública se apóia na qualidade da harmonia entre os vários níveis de governo, as

empresas e a sociedade civil. Para isso procura-se dar enfoque á transparência dos atos

públicos como forma de aproximação entre os atores.

Princípios

Fairness - Senso de justiça e equidade de direitos.

Disclosure - Transparência quanto a resultados, oportunidades e riscos.

Accountability - Prestação responsável de contas.

Compliance - Conformidade com instituições legais e regulamentos.

Propósitos

Maximização do retorno dos investimentos dos acionistas.

Harmonização de interesses.

União do retorno dos investimentos e da harmonização dos interesses.

Poder

Constituição da estrutura de poder.

Definição e separação de funções e responsabilidades (conselhos corporativos e direção da empresa).

Definição compartilhada de decisões de alto impacto.

Planejamento das sucessões. Processos

Constituição e poder de órgãos de governança.

Formulação, homologação e monitoramento de estratégias, operações e resultados.

Implantação de sistemas de controle de riscos internos e externos.

Práticas

Gestão de conflitos de agência.

Minimização de custos de agência.

Gestão estratégica de relacionamentos internos e externos.

Princípios

Propósitos

Práticas

Poder Os 5P´s da

governança

corporativa

Processos

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A transparência, talvez seja a principal diretriz a ser adotada pela administração para a

formação de um ambiente de integridade, uma vez que possibilita á sociedade contribuir com

idéias que possam ser adotadas na condução da gestão pública.

Na verdade, a transparência funciona como uma ação de prevenção à corrupção, na

medida em que permite a fiscalização dos atos dos agentes públicos, bem como a aplicação do

dinheiro público com a correção e legalidade necessárias. Assim, a transparência torna-se uma

condição para que o cidadão exerça seus direitos.

Recentemente o congresso nacional aprovou a Lei 12.527/11, chamada de Lei de

Acesso á Informação que tem o propósito de regulamentar o direito constitucional de acesso

dos cidadãos às informações públicas. Seus dispositivos são aplicáveis aos três Poderes da

União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

2.3 Governança x Corrupção

Em 2000 o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,

apresentou um estudo mostrando que os gestores governamentais têm dificuldade na

contenção de gastos por não terem sistemas adequados de controle de custos, mesmo que a

legislação brasileira em seu Decreto-Lei nº 200, verse sobre a obrigatoriedade da apuração

dos custos dos serviços. O objetivo desse controle é tornar evidente os resultados da gestão,

mas não há no Brasil, uma cultura de gerenciamento de custos no serviço público. Para

Mauss (2008), contabilidade de custos pode ajudar a administração pública:

“a contabilidade de custos é um instrumento de informação para a

gestão pública como está determinado pela LRF, [...]. Ela possibilita

o controle [...] e permite avaliar o cumprimento do programa de

trabalho em termos monetários, de realização de obras e prestação

de serviços” (MAUSS, 2008, p.4).

O artigo 70 da constituição dispõe que as ações públicas devam ser realizadas com

economicidade, mas os sistemas tradicionais de contabilidade e orçamentos se tornam

insuficientes e em certa medida inadequados para a realidade financeira da administração

pública, uma vez que ela se vê pressionada por um lado pela demanda crescente da população

e por outro pela escassez dos recursos disponíveis.

No Brasil a gestão pública tem assumido importante relevância na medida em que

apresenta detalhes que merecem atenção especial. Mas se por um lado há uma forte regulação

por parte do governo, por outro há intensas indicações políticas e ainda vários atendimentos a

interesses de grupos específicos.

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A gestão pela coisa pública ficou mais evidente após a regulamentação da Lei de

Responsabilidade Fiscal, que criou condições e regras para o gerenciamento dos recursos

públicos, além de permitir e incentivar a participação dos cidadãos no acompanhamento da

aplicação dos recursos públicos e na avaliação dos seus resultados. Ela estabelece normas de

finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, utilizando-se de ações

preventivas de riscos e correção de desvios, bem como o planejamento, o controle, a

transparência e principalmente a responsabilização por atos executados que possam afetar o

equilíbrio das contas públicas.

A FIESP mostrou através de um estudo que o país desperdiça anualmente em torno de

2,1% do PIB, ou seja, mais de R$ 55 bilhões com a malversação dos recursos públicos. A

Figura 2, a seguir mostra algumas opções de como poderiam estar sendo utilizadas essas

verbas públicas desperdiçadas no país:

Figura 2 – Desperdício de Verbas Públicas

Fonte: Adaptado pelo autor

O desvio de verbas públicas não é uma coisa recente. No início da década de 1990, um

episódio ficou conhecido como “A Máfia dos Anões do Orçamento”. Políticos manipulavam

emendas parlamentes com o objetivo de desviar o dinheiro público através de entidades

sociais fantasmas ou com a ajuda de empreiteiras, conforme relatório final da CPMI -

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.

A CPMI dos Anões do Orçamento, concluiu que os deputados eram assessorados por

funcionários do Congresso Nacional, diretamente ligados ao setor de orçamentos da União,

que realizava os ajustes no projeto para incorporar as emendas dos congressistas.

Em 2005, foi a vez do escândalo do “Mensalão”, episódio de maior repercussão do

governo Lula, em que deputados da base do governo se valiam de benefícios mensais em

dinheiro, para aprovar matérias em tramitação no Congresso Nacional, que fossem de

R$ 55 bilhões

+ 17 milhões de vagas no ensino fundamental

+ 320 mil leitos hospitalares

+ 2,94 milhões de famílias com moradia nova

+ 23 milhões de casas com esgoto

+ 13 mil km de ferrovias

+ 162 novos portos ou 277 novos aeroportos

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interesse do governo, conforme Ação Penal nº 470, julgada pelo STF – Supremo Tribunal

Federal.

Os supostos benefícios mensais eram feitos pelo tesoureiro do partido oficial, através

de um operador-empresário que, utilizava-se de sua agência de publicidade como fachada

para ocultar as doações irregulares de empresas para campanhas políticas e para formalizar as

doações, para assim formalizar a tomada empréstimos em bancos particulares ou mesmo em

oficiais.

Outro episódio, em 2009, mostrou que, após um estudo interno feito pela FGV –

Fundação Getúlio Vargas, no Senado Federal, a casa tinha mais de 600 funções

comissionadas e cargos com gratificação. Além disso, “atos administrativos secretos” foram

usados para nomear parentes e amigos, criando cargos e aumentando salários.

Porém, não é só a corrupção que representa o desperdício de verbas públicas. O

governo federal, os estaduais e os municipais perdem todo ano quase R$ 1 bilhão em

medicamentos. Segundo o CFF – Conselho Federal de Farmácia, em média 20% dos

remédios comprados no varejo pelo poder público e pelos hospitais privados são

desperdiçados anualmente. Seja por falhas na aquisição e no armazenamento dos remédios ou

por problemas na gestão dos produtos. Estes são alguns dos muitos exemplos da malversação

dos recursos públicos.

2.4 A Corrupção aos Olhos do Brasileiro

A corrupção não é uma exclusividade do Brasil. Em todos os países do mundo ela

deixa seus vestígios, basta ver o ranking da Transparência Internacional. Ocorre que, em

outros países a legislação é cumprida com rigor e celeridade. Diante disso, é importante que

se consolide no Brasil a cultura do respeito ás leis, através de um processo de formação da

base moral do ser humano no longo prazo e punição rigorosa para delitos cometidos que

confirmem o cumprimento da legislação, no curto prazo.

Um trabalho de pesquisa feito pela Universidade de Caxias do Sul, mostra a percepção

do brasileiro sobre a corrupção no Brasil:

Gráfico 1 – Responsáveis pela Corrupção no Brasil

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Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 2 – Comportamento do Brasileiro diante da Corrupção no Brasil

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 3 – Acompanhamento dos Candidatos Eleitos

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 4 – Sugestões para Melhorar o Processo

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112

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 5 – Participação em Negociatas

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 6 – Participação em Negociatas

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Gráfico 7 – Faixa Etária dos Entrevistados

Page 13: CORRUPÇÃO: UMA PANDEMIA QUE IGNORA A PREVENÇÃO …insepe.org.br/.../uploads/2019/05/INSEPE-N.07-07.pdf · 2019. 5. 6. · Tudo começou com a emenda nº 19, promulgada em 04/06/98

113

Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/

Alguns tópicos são elencados como proposições para minimizar o impacto da corrupção no

cenário brasileiro. Propostas que vão desde a inclusão de técnicas contábeis oriundas da

administração privada, até a adoção de medidas políticas capazes de contribuir para este

processo de melhoria, ou ainda adoção de noções básicas sobre custos e economia, já a partir

do ensino fundamental.

3 PROPOSIÇÕES

3.1 Redução do Tamanho do Estado

Um dos temais mais discutidos ultimamente é o das parcerias. Elas são buscadas entre

o Estado e diferentes setores da sociedade, voltadas para a mobilização de recursos,

redefinição de propostas e melhoria do processo gerencial.

Rezende (2010, pg. 34) diz que “a retirada do Estado das atividades tipicamente

produtivas, com o avanço da privatização, não acarreta, necessariamente, uma redução no

papel e no tamanho do Estado, mas uma mudança em suas prioridades.”

Daí a importância da atuação das agências reguladoras, que são órgãos do governo

que exercem o papel de fiscalização, regulamentação e controle de produtos e serviços de

interesse público. Entre eles estão telecomunicações, energia elétrica, serviços de planos de

saúde, entre outros. Além disso, devem garantir a participação do consumidor nas decisões

pertinentes do setor regulado.

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3.2 Massificar a Importância Social dos Tribunais de Contas

Com o avanço das ferramentas da tecnologia da informação, verifica-se nos últimos

anos, por parte dos órgãos e entidades federais, um esforço em disponibilizar informações em

vários níveis e formatos, seja por iniciativa própria ou por força da legislação.

Dentre essas iniciativas destacam-se os documentos elaborados pelo TCU – Tribunal

de Contas da União, disponibilizados em sua página na internet, pela CGU – Controladoria

Geral da União e seus diversos concursos públicos de artigos relacionados ao tema correição e

combate á corrupção, o Portal da Transparência, o Senado Federal, etc. Mas o vocabulário

adotado pela administração pública ainda está distante do entendimento de boa parte da

população, uma vez que as informações possuem termos bastante técnicos.

De toda forma o sistema de planejamento e gestão dos TC’s consiste em práticas

gerenciais voltadas para a obtenção de resultados e condutas corporativas com vistas ao

atendimento das expectativas dos cidadãos com ações de controle externo.

Tal sistema alavanca a formulação e implementação de políticas de controle externo por

meio de planejamento, mobilizando as pessoas e a instituição para construir e escolher qual o

tipo de futuro que se deseja. Além disso, propõe ações de gestão pela excelência, que visam a

integrar unidades às diretrizes estratégicas e valores do TC, sensibilizando servidores para a

produção de melhores resultados nos seus respectivos processos de trabalhos.

3.3 Avaliação de Custos

No campo govenamental, se faz importante a implementação de algumas políticas de

avaliação de custos. Mauss (2008, p.71), diz que “ o principal tema [...] é como gerenciar o

uso dos recursos alocados em um orçamento público e como gerenciar os resultados que serão

obtidos a partir do uso desses recursos nos serviços prestados”.

O modelo de gestão econômica significa uma administração por resultados e para isso

planejamento e ação devem ser inseparáveis. Nakagawa (2001, p.47) pontua que “é

importante agir de maneira correta e prestar contas de desempenhos e resultados”. Já Mauss

(2008), completa dizendo que “uma entidade pública não disputa clientes, porém, deve

atingir seus objetivos da mesma forma que um empresa privada”.

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Outra questão importante a se destacar na administração pública é o conceito de custo

de oportunidade, tão utilizado nas empresas privadas. Em termos públicos seria custo de

oportunidade do serviço público que conforme Mauss (2008, p.83) “é o custo resultante de

uma alternativa de serviço oferecido pela iniciativa privada que se tenha renunciado ao se

utilizar um serviço estatal.”

Como a contraprestação dos impostos pagos aos cidadãos são a prestação de serviços

públicos, faz-se importante diferenciar receita econômica de receita financeira na

administração pública. Mauss (2008) atesta que:

“A receita financeira é aquela que é originada anteriormente com a

arrecadação de impostos e que sustentam a prestação dos serviços

públicos. Já a receita econômica de uma entidade pública é a

multiplicação do número de vezes que o cidadão desprezou a

utilização dos serviços públicos pela número de serviços que a

entidade efetivamente executou. (MAUSS 2008, p.85).

Outro conceito relevante da administração privada que poderia ser adaptado á pública

é o da margem de contribuição. Nas empresas privadas ela se resume na diferença entre a

venda líquida e os custos e despesas diretos. A adaptação seria através da diferença entre a

receita de oportunidade econômica, ou seja, o que o Poder Público desprezou ao oferecer

determinado serviço multiplicado pela quantidade de serviços efetivamente prestados e os

custos e despesas diretos. O resultado irá permitir decidir quais serviços deverão merecer

maior ou menor esforço na redução de custos diretos.

3.4 Custeio ABC

O método ABC - Custeio Baseado em Atividades, segundo Mauss (2008, p.56), “é um

dos métodos que mais se ajustam ás entidades públicas de administração direta, [...]pois o que

se pretende é dividir a organização em atividades e custeá-las, para [...] mensurar seu

desempenho”. O fundamental para uma correta gestão econômica no campo da administração

pública é eficiência, eficácia e economicidade.

A informação de custos é um fator crítico para o sucesso do planejamento, orçamento,

controle operacional e para a tomada de decisões estratégicas, ou seja, é uma das principais

bases para o alcance da eficácia da gestão pública.

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3.5 Parcerias Público Privadas

As PPP’s são uma nova categoria de contratos públicos de concessão, a longo prazo,

pois trata-se de uma parceria entre o governo e a iniciativa privada, com o objetivo de

proporcionar á população serviços de qualidade, por muitos anos.

Medeiros (2006, p.81) diz que “ [...] os riscos são compartilhados entre os investidores

privados e o setor público”.

O mesmo autor diz ainda que a implantação das medidas de desempenho poderá

objetivar “ a redução de custos com a melhoria da qualidade dos serviços prestados, o

combate ao desperdício, identificando atividades que não agregam valor ao usuário dos

serviços públicos, promover a mudança da cultura organizacional pública, introduzindo a

dimensão do valor do dinheiro público”.

3.6 Financiamento Público de Campanhas Eleitorais

Importante será o Congresso Nacional, através do PL – Projeto de Lei nº 2679/03 que

versa sobre o financiamento público de campanhas eleitorais através da criação de um fundo

de recursos públicos destinado a partidos políticos, de acordo com sua representação no

Congresso Nacional, para estes produzirem as campanhas de seus candidatos.

A nação é a que provém o Estado. É necessário, para o amadurecimento da

democracia, que cada um dos cidadãos saiba o valor daquilo que se está pagando. Neste

contexto, o financiamento público nada mais é do que tornar legal, e mais barato, as

campanhas políticas. Aqueles que defendem este tipo de financiamento afirmam que as

doações, são fontes de corrupção, já que o político que as recebe, ao ser eleito estaria

comprometido em beneficiá-la de alguma maneira.

3.7 Exercício Pleno da Cidadania

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Participação popular na fiscalização de utilização dos recursos públicos via ONG -

Organizações Não-Governamentais, que tenham esta finalidade, além de procurar o

envolvimento maior com as questões políticas e sociais fiscalizando a atuação dos

representantes, fazendo valer os direitos de cidadão.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma máxima da economia é que as demandas sociais são ilimitadas e os recursos

necessários ao provimento destas, limitados. Isto se mostra verdade, pois com o crescimento

da população, os bens e serviços públicos desejados se transformaram em motivo de disputa,

daí a necessidade de uma rigorosa fiscalização por parte da sociedade no tocante á aplicação

destes recursos.

Por outro lado, criou-se no país, pela mídia brasileira, na década de 1970, através da

propaganda de uma marca de cigarro, o Vila Rica, a “Lei de Gérson” ou “Lei da

Vantagem”, dando início a um princípio em que determinada pessoa e/ou empresa devem

obter vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.

Esta "Lei" acabou sendo usada para expressar traços bastante característicos do caráter

da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito às regras de convívio

para a obtenção de vantagens.

Na pesquisa apresentada neste trabalho sobre a percepção do brasileiro em relação à

corrupção, a conclusão que se pode chegar, é que, em função da desinformação, das

dificuldades em se organizar, da cultura da “vantagem” entre todos, o crescimento da

corrupção, não preocupa a população, mas apenas a incomoda.

A indignação da população perdeu o fôlego. Dificilmente as pessoas se mobilizam

para ir ás ruas protestar contra os descalabros do poder público. Talvez por saberem que

nenhuma providência será tomada, ou quando tomada não irá atender os anseios da maioria,

ou ainda ninguém será punido e responsabilizado.

A sensação de impotência não se justifica quando se reconhece o poder de pressão que

o povo tem. O voto consciente e qualificado é a primeira reação, mas não a única. É verdade

que o povo não está acostumado a discutir, a criticar e buscar soluções conjuntas. Todos são

condicionados ao individualismo e não se apercebem da omissão, procurando se esconder por

detrás das dificuldades.

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Democracia exige dedicação, interesse, participação e acima de tudo fiscalização no

trato das coisas que são públicas. Uma imprensa forte, de credibilidade, investigativa e

denunciante, um judiciário célere, justo e guardião da constituição, tudo isso simboliza o

exercício do Estado Democrático de Direito.

Há muita chance que daqui a pelo menos uma geração, as pessoas tenham mais

responsabilidade com os recursos destinados ao atendimento de demandas da população e que

não apenas as eleições sejam pretexto, mas a real necessidade de melhorar a vida das pessoas.

Uma formação cidadã que comece desde a pré-escola, com a readoção da disciplina

Educação Moral e Cívica, fortalecendo a unidade nacional e o sentimento de solidariedade

humana, o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à

comunidade e o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento

na moral, no patriotismo e na ação construtiva.

Outro fato de relevância que deve ser citado é necessidade de revisão do Código

Penal, datado da década de 1940, bem como do Código de Processo Penal, principalmente nas

questões relativas ao procedimento e celeridade nas decisões.

Finalmente, torna-se evidente a necessidade de publicação de legislação que indique a

forma pela qual o cidadão que apresente denúncia ao setor público seja informado da

destinação, resultados e consequências das análises efetuadas pelos órgãos competentes

quanto aos fatos denunciados, garantindo-se tratamento uniforme das questões submetidas aos

gestores públicos.

AUTORES

AUTOR : Luís Felipe Gramantieri de Tolentino

TITULAÇÃO: Mestre

COAUTOR 1: Alan da Silva Melo

TITULAÇÃO: Especialista

COAUTOR 2 : Vander Lúcio Sanches

TITULAÇÃO: Mestre

COAUTOR 3 : Marlúcio Cândido

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TITULAÇÃO: Mestre

COAUTORA 4 : Débora Maria Nazareth Sanches

TITULAÇÃO: Especialista

COAUTORA 5 : Rachel Ferreira Sette Bicalho

TITULAÇÃO: Mestre

COAUTORA 6 : Kátia Glê Sanches Ribeiro

TITULAÇÃO: Especialista

COAUTOR 7 : Alexsandro de Assis Vasconcelos Clemente

TITULAÇÃO: Especialista

REFERÊNCIAS

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São Paulo: Atlas, 2006.

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