Upload
others
View
2
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
REVISTA INSEPE | Belo Horizonte | Volume 4 - Número 1 | 1º trimestre de 2019 | http://insepe.org.br/revistainsepe
.......................................................................................................................................................
CORRUPÇÃO: UMA PANDEMIA QUE IGNORA A PREVENÇÃO
AUTORES (AS) E COAUTORES (AS): Luís Felipe Gramantieri de Tolentino; Alan da
Silva Melo; Vander Lúcio Sanches; Marlúcio Cândido; Débora Maria Nazareth Sanches;
Rachel Ferreira Sette Bicalho; Kátia Glê Sanches Ribeiro; Alexsandro de Assis Vasconcelos
Clemente
RESUMO
Este artigo tem o intuito de contribuir com a Administração Pública no sentido de
permitir avanços na transparência da prestação de serviços públicos e suas derivações,
contribuindo para que sejam minimizadas perdas e dispêndios oriundos da pandemia da
corrupção, cujos tentáculos se encontram espalhados pelas diversas esferas governamentais e
da sociedade. Recente estudo realizado pela FIESP – Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo, mostra que as perdas anuais com a corrupção no Brasil custam entre 40 e 70
bilhões de reais, ou quase 2% do PIB – Produto Interno Bruto. Para se ter uma idéia da
dimensão desse desperdício, daria para aumentar as atuais 34,5 milhões de crianças
matriculadas no ensino fundamental da rede pública, para 51 milhões; daria para dobrar a
oferta dos mais de 367.000 leitos em hospitais públicos; poderiam ser atendidos mais de 2,3
milhões de pessoas com novas moradias; possivelmente seriam contemplados 23 milhões de
domicílios com saneamento básico, ou ainda, considerando um dos maiores gargalos do país
com vistas á Copa do Mundo de 2014, 277 novos aeroportos poderiam ser construídos, além
de serem modernizados os existentes. Para se consolidar como uma potência econômica o
país precisará adotar medidas de relevância no campo político, no campo judicial e até mesmo
no campo da governança, de forma que sejam eficazes no combate de uma pandemia que
ignora prevenção.
Palavras-chave: Corrupção, Governança, Transparência.
1 INTRODUÇÃO
Democracia (demo+kratos) é uma palavra de origem grega em que o poder de tomar
importantes decisões políticas está com os cidadãos, seja ela na forma direta (democracia
pura) ou indireta (democracia representantiva). A ESG – Escola Superior de Guerra (2008,
p.17), preconiza em seu manual básico, que para uma democracia madura há necessidade de
uma nação organizada, pois “a idéia de nação pressupõe a sedimentação continuada, ao longo
102
de gerações, [...] onde tanto os indivíduos quanto os grupos sociais, [...] se identificam entre si
por comungarem de uma realidade cultural estável [...]”.
Convivendo ao lado de seu semelhante, o ser humano percebe que possui uma série de
necessidades, interesses e aspirações que lhe são comuns. Quando ele identifica esses
vínculos desperta-se por um sentimento de ação mais solidária em que poderá ajudar mais,
seja no âmbito individual ou no coletivo. Surge, pois o bem comum. A ESG (2008) o define
como:
“Ideal de convivência que, transcendendo à busca do bem-estar,
permite construir uma sociedade onde todos, e cada um, tenham
condições de plena realização de suas potencialidades como pessoa e
de conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais.
(ESG, 2008, p.11)”
Esse enfoque motivou a formulação de uma doutrina militar ocidental, alterando o
conceito de segurança nacional, uma vez que extrapolava tal esfera para repaginar-se de
aspectos políticos, econômicos e psicossociais. Além disso, alterou-se também o sentido de
mobilização, igualmente uma característica intrínseca aos militares para transformar-se em
“funções do governo”.
Com o tempo a função desempenhada pelo Estado na sociedade sofreu inúmeras
transformações. Nos séculos XVIII e XIX o principal objetivo era a segurança pública e a
defesa externa em caso ataques inimigos.
Entretanto, com a democracia, as responsabilidades se diversificaram, e é comum
dizer que o Estado é o promotor do bem-estar social. Para tanto, ele necessita desenvolver
uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas como saúde, educação, meio
ambiente, etc.
Para atingir resultados nestas e em outras áreas o Estado se utiliza de políticas
públicas, que são ações e decisões do governo, voltadas para a solução de problemas da so-
ciedade. As demandas sociais são apresentadas aos representantes do povo, por meio de
grupos organizados, ou seja, a sociedade civil organizada, representada pelos sindicatos,
entidades empresariais, associações de moradores, associações patronais e ONG’s em geral.
Mas como em todas as sociedades existem pessoas que agem segundo as leis e normas
estabelecidas, há também aquelas que não as reconhecem e desrespeitam-nas com o intuito de
obter benefício pessoal. São conhecidas como criminosas e em termos de administração
pública praticam atos de corrupção política.
103
No crime de corrupção política, os criminosos – ao invés de assassinatos, roubos e
furtos – utilizam-se de suas posições de poder estabelecidas no jogo político normal da
sociedade para realizar atos ilegais contra a sociedade como um todo, fazendo surgir o que se
conhece como tráfico de influência.
Segundo a ONG Transparência Internacional, o Brasil ocupa a 75ª posição no ranking
da corrupção num elenco de 180 países, que desde 1995 publica o relatório anual IPC que
ordena os países do mundo de acordo com o grau em que a corrupção é percebida a existir
entre os funcionários públicos e políticos, onde a maior pontuação significa menos percepção
de corrupção. A figura 1, a seguir mapeia a corrupção pelo mundo:
Figura 1 – A Corrupção no Mundo
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:World_Map_Index_of_perception_of_corruption_2009.svg
O Quadro 1 a seguir mostra um breve resumo do ranking da corrupção pelo mundo:
Quadro 1 – Ranking Mundial da Corrupção
Posição 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º
País
Nova
Zelândia Dinamarca Singapura Suécia Suíça Finlândia Países Baixos
Posição 14º 17º 18º 19º 24º 25º 26º
País Alemanha Japão
Reino
Unido EUA França Chile Uruguai
Posição 32º 40º 55º 61º 63º 75º 180º
País Espanha Coréia do Africa do
Cuba Itália Brasil Somália
104
Sul Sul
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Percep%C3%A7%C3%B5es_de_Corrup%C3%A7%C3%A3o
Adaptado pelo autor.
A corrupção no serviço público é o tema que será tratado neste artigo. O objetivo é
contribuir para que a administração pública possa ter mecanismos eficazes para minimizar as
perdas oriundas da corrupção.
Quanto á abordagem, Severino (2000, p.162) “entende-se por métodos os
procedimentos mais amplos de raciocínio, enquanto técnicas são procedimentos mais restritos
que operacionalizam os métodos mediante o emprego de instrumentos adequados”.
Segundo Diniz (2006), “uma pesquisa tem um caráter qualitativo, quando utiliza a
observação do participante com interpretação de acordo com o contexto. Nesse campo ela
responde a questões particulares, pois trabalha com um universo de vários significados,
motivos, valores e atitudes”.
No tocante aos meios, esta pesquisa é documental. Foi elaborada a partir de materiais
não analisados. É também classificada como estudo de caso, pois para Yin (1981, p. 23), o
estudo de caso é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual dentro do seu contexto
de realidade, quando a fronteira entre ambos não é claramente definida e no qual são
utilizadas várias fontes de evidência.
O autor (1981, p.23) diz ainda que o estudo de caso “tem como propósitos explorar
situações da vida real, descrever a situação do contexto onde está sendo feita a investigação
ou mesmo explicar as variáveis causais em situações complexas”.
Quanto aos fins a pesquisa é descritiva, uma vez que procura descrever alguns dos
fatores que têm determinado o desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de
demandas sociais, refletindo diretamente nos resultados e no não cumprimento dos prazos
anteriormente estabelecidos.
A reforma administrativa no Brasil propôs profundas mudanças na Administração
Pública. Tudo começou com a emenda nº 19, promulgada em 04/06/98 que dispôs sobre os
“Princípios e as Normas da Administração Pública”, com o objetivo de impor um controle ás
finanças e direcionar as administrações em busca da eficiência e eficácia na gestão pública.
Com toda essa normatização surge, pois a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma Lei
105
Complementar de nº 101, de 04/04/00, que em seu artigo primeiro estabelece a gestão fiscal
responsável, pressupondo ações planejadas e de forma transparente.
Este artigo tem como justificativa a abordagem da corrupção na administração pública,
e por consequência a malversação dos recursos públicos, necessários ao atendimento das
crescentes demandas sociais. Ao se buscar quantificar o efeito do incremento da corrupção no
terreno da gestão governamental, busca-se também, quantificar as perdas sociais envolvidas.
Ao se buscar quantificar o efeito do incremento da corrupção no terreno da gestão
governamental, busca-se também, quantificar as perdas sociais envolvidas, uma vez que a
corrupção é efetivamente uma pandemia que ignora a prevenção e não pode ser combatida
apenas com simples remédios processuais administrativos, que não se tornam exemplos de
punição. Os objetivos são:l
Mostrar alguns aspectos presentes na gestão pública, que permitem a obtenção de
êxito no combate á corrupção.
Descrever a importância das práticas de governança na administração pública.
Identificar os prováveis indicadores de governança da administração pública que
permitem combater a corrupção política.
Analisar as diferenças administrativas existentes entre os modelos de administração
pública e privada.
Apontar o montante de recursos desviados dos objetivos sociais em função da
corrupção.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Interesse pessoal e Conflitos de Agência
Nicolau Maquiavel, um poeta e diplomata italiano, que viveu no séc XV, no Renascimento,
dizia que o homem deveria zelar apenas pelos seus interesses. Já naquela época, difundia-se a
filosofia do “hedonismo”, que é a busca incessante pelo interesse próprio, o prazer ou mesmo
a satisfação individual.
No tocante ás organizações Assaf Neto (2010, pg. 26) diz que “as finanças
comportamentais estudam a influência da psicologia no comportamento dos investidores, [...]
que preconiza a racionalidade da decisão e a busca da maximização da utilidade esperada”.
Trazendo a fala deste autor, para o setor público, pode-se dizer que aquilo que se espera dos
106
gestores públicos é a devida alocação de recursos em pontos de grande demanda social, de
forma a atender um maior universo possível de pessoas.
Porém, há o chamado “conflitos de agência”, teoria desenvolvida por Jensen e
Meckling em 1976, para empresas privadas, mas que pode ser transportado para o presente
estudo.
Para Assaf Neto (2010, pg. 29), “os acionistas são identificados como os proprietários,
[...] os administradores são os seus agentes”. Isto mostra, de um lado o interesse dos primeiros
na maximização do lucro, do outro a busca pelo benefício pessoal e a manutenção do
emprego.
A pergunta que faz é como isto acontece no setor público? De um lado o povo,
intitulado “dono” ou “acionista” do país, com suas necessidades prementes e do outro seus
representantes, os parlamentares nas diversas esferas de governo, que têm o poder de
promover o bem estar social.
Mauss (2008, pg. 94) diz que “o resultado econômico público é o valor que o cidadão
exige como remuneração pelo seu capital investido na entidade pública na forma de
impostos”.
Mas o que se tem visto nos noticiários são demandas reclamadas por grande
contigente de pessoas, às quais têm sido preteridas por outras de pouco alcance social, mas
que garantem o hedonismo daqueles que representam o povo.
2.2 Governança Corporativa
Quando se fala em governança logo se pensa em empresa privada. Como o tema
abordado está ligado á administração pública é importante se traçar um paralelo entre
governança corporativa e governança pública. Para empresas privadas ou mesmo as de capital
misto, o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, define governança
corporativa como:
“Sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas envolvendo os
relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria,
auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa
têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e
contribuir para a sua perenidade. Garantem ainda, equidade aos sócios, transparência
e responsabilidade pelos resultados”.
Andrade e Rossetti (2006, p.144) falam sobre os “5 P´s da governança corporativa
como elementos essenciais da gestão empresarial: princípios; propósitos; processos; práticas;
e poder”. Esses elementos compõem a verdadeira dimensão da boa gestão e sua relação
encontra-se esquematicamente representada na Figura 2, a seguir:
107
Figura 2 – 5 P’s da Governança Corporativa
Fonte: Andrade e Rossetti (2006, p.144). Adaptado pelo autor.
Se nas empresas privadas o objetivo é o lucro, na administração pública a meta é
eminentemente social, uma vez que busca-se o “valor público”, que pode ser constituído por
aspectos tangíveis como a prestação de serviços á população, ou intangíveis como a imagem
perante a população, permitindo a esta medir seu grau de satisfação ou não com tais serviços.
Já a governança pública pode ser entendida como a condução responsável pelos
assuntos do Estado, ou ainda um modelo alternativo ás estruturas governamentais de
hierarquia, para dar eficácia ao governo em uma economia global, não somente atuando com
capacidade máxima de gestão, mas também garantindo e respeitando as normas e valores
próprios de uma sociedade democrática.
A governança pública data da década de 1990 e traduz um consenso de que a eficácia
da atuação pública se apóia na qualidade da harmonia entre os vários níveis de governo, as
empresas e a sociedade civil. Para isso procura-se dar enfoque á transparência dos atos
públicos como forma de aproximação entre os atores.
Princípios
Fairness - Senso de justiça e equidade de direitos.
Disclosure - Transparência quanto a resultados, oportunidades e riscos.
Accountability - Prestação responsável de contas.
Compliance - Conformidade com instituições legais e regulamentos.
Propósitos
Maximização do retorno dos investimentos dos acionistas.
Harmonização de interesses.
União do retorno dos investimentos e da harmonização dos interesses.
Poder
Constituição da estrutura de poder.
Definição e separação de funções e responsabilidades (conselhos corporativos e direção da empresa).
Definição compartilhada de decisões de alto impacto.
Planejamento das sucessões. Processos
Constituição e poder de órgãos de governança.
Formulação, homologação e monitoramento de estratégias, operações e resultados.
Implantação de sistemas de controle de riscos internos e externos.
Práticas
Gestão de conflitos de agência.
Minimização de custos de agência.
Gestão estratégica de relacionamentos internos e externos.
Princípios
Propósitos
Práticas
Poder Os 5P´s da
governança
corporativa
Processos
108
A transparência, talvez seja a principal diretriz a ser adotada pela administração para a
formação de um ambiente de integridade, uma vez que possibilita á sociedade contribuir com
idéias que possam ser adotadas na condução da gestão pública.
Na verdade, a transparência funciona como uma ação de prevenção à corrupção, na
medida em que permite a fiscalização dos atos dos agentes públicos, bem como a aplicação do
dinheiro público com a correção e legalidade necessárias. Assim, a transparência torna-se uma
condição para que o cidadão exerça seus direitos.
Recentemente o congresso nacional aprovou a Lei 12.527/11, chamada de Lei de
Acesso á Informação que tem o propósito de regulamentar o direito constitucional de acesso
dos cidadãos às informações públicas. Seus dispositivos são aplicáveis aos três Poderes da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
2.3 Governança x Corrupção
Em 2000 o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,
apresentou um estudo mostrando que os gestores governamentais têm dificuldade na
contenção de gastos por não terem sistemas adequados de controle de custos, mesmo que a
legislação brasileira em seu Decreto-Lei nº 200, verse sobre a obrigatoriedade da apuração
dos custos dos serviços. O objetivo desse controle é tornar evidente os resultados da gestão,
mas não há no Brasil, uma cultura de gerenciamento de custos no serviço público. Para
Mauss (2008), contabilidade de custos pode ajudar a administração pública:
“a contabilidade de custos é um instrumento de informação para a
gestão pública como está determinado pela LRF, [...]. Ela possibilita
o controle [...] e permite avaliar o cumprimento do programa de
trabalho em termos monetários, de realização de obras e prestação
de serviços” (MAUSS, 2008, p.4).
O artigo 70 da constituição dispõe que as ações públicas devam ser realizadas com
economicidade, mas os sistemas tradicionais de contabilidade e orçamentos se tornam
insuficientes e em certa medida inadequados para a realidade financeira da administração
pública, uma vez que ela se vê pressionada por um lado pela demanda crescente da população
e por outro pela escassez dos recursos disponíveis.
No Brasil a gestão pública tem assumido importante relevância na medida em que
apresenta detalhes que merecem atenção especial. Mas se por um lado há uma forte regulação
por parte do governo, por outro há intensas indicações políticas e ainda vários atendimentos a
interesses de grupos específicos.
109
A gestão pela coisa pública ficou mais evidente após a regulamentação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, que criou condições e regras para o gerenciamento dos recursos
públicos, além de permitir e incentivar a participação dos cidadãos no acompanhamento da
aplicação dos recursos públicos e na avaliação dos seus resultados. Ela estabelece normas de
finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, utilizando-se de ações
preventivas de riscos e correção de desvios, bem como o planejamento, o controle, a
transparência e principalmente a responsabilização por atos executados que possam afetar o
equilíbrio das contas públicas.
A FIESP mostrou através de um estudo que o país desperdiça anualmente em torno de
2,1% do PIB, ou seja, mais de R$ 55 bilhões com a malversação dos recursos públicos. A
Figura 2, a seguir mostra algumas opções de como poderiam estar sendo utilizadas essas
verbas públicas desperdiçadas no país:
Figura 2 – Desperdício de Verbas Públicas
Fonte: Adaptado pelo autor
O desvio de verbas públicas não é uma coisa recente. No início da década de 1990, um
episódio ficou conhecido como “A Máfia dos Anões do Orçamento”. Políticos manipulavam
emendas parlamentes com o objetivo de desviar o dinheiro público através de entidades
sociais fantasmas ou com a ajuda de empreiteiras, conforme relatório final da CPMI -
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
A CPMI dos Anões do Orçamento, concluiu que os deputados eram assessorados por
funcionários do Congresso Nacional, diretamente ligados ao setor de orçamentos da União,
que realizava os ajustes no projeto para incorporar as emendas dos congressistas.
Em 2005, foi a vez do escândalo do “Mensalão”, episódio de maior repercussão do
governo Lula, em que deputados da base do governo se valiam de benefícios mensais em
dinheiro, para aprovar matérias em tramitação no Congresso Nacional, que fossem de
R$ 55 bilhões
+ 17 milhões de vagas no ensino fundamental
+ 320 mil leitos hospitalares
+ 2,94 milhões de famílias com moradia nova
+ 23 milhões de casas com esgoto
+ 13 mil km de ferrovias
+ 162 novos portos ou 277 novos aeroportos
110
interesse do governo, conforme Ação Penal nº 470, julgada pelo STF – Supremo Tribunal
Federal.
Os supostos benefícios mensais eram feitos pelo tesoureiro do partido oficial, através
de um operador-empresário que, utilizava-se de sua agência de publicidade como fachada
para ocultar as doações irregulares de empresas para campanhas políticas e para formalizar as
doações, para assim formalizar a tomada empréstimos em bancos particulares ou mesmo em
oficiais.
Outro episódio, em 2009, mostrou que, após um estudo interno feito pela FGV –
Fundação Getúlio Vargas, no Senado Federal, a casa tinha mais de 600 funções
comissionadas e cargos com gratificação. Além disso, “atos administrativos secretos” foram
usados para nomear parentes e amigos, criando cargos e aumentando salários.
Porém, não é só a corrupção que representa o desperdício de verbas públicas. O
governo federal, os estaduais e os municipais perdem todo ano quase R$ 1 bilhão em
medicamentos. Segundo o CFF – Conselho Federal de Farmácia, em média 20% dos
remédios comprados no varejo pelo poder público e pelos hospitais privados são
desperdiçados anualmente. Seja por falhas na aquisição e no armazenamento dos remédios ou
por problemas na gestão dos produtos. Estes são alguns dos muitos exemplos da malversação
dos recursos públicos.
2.4 A Corrupção aos Olhos do Brasileiro
A corrupção não é uma exclusividade do Brasil. Em todos os países do mundo ela
deixa seus vestígios, basta ver o ranking da Transparência Internacional. Ocorre que, em
outros países a legislação é cumprida com rigor e celeridade. Diante disso, é importante que
se consolide no Brasil a cultura do respeito ás leis, através de um processo de formação da
base moral do ser humano no longo prazo e punição rigorosa para delitos cometidos que
confirmem o cumprimento da legislação, no curto prazo.
Um trabalho de pesquisa feito pela Universidade de Caxias do Sul, mostra a percepção
do brasileiro sobre a corrupção no Brasil:
Gráfico 1 – Responsáveis pela Corrupção no Brasil
111
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 2 – Comportamento do Brasileiro diante da Corrupção no Brasil
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 3 – Acompanhamento dos Candidatos Eleitos
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 4 – Sugestões para Melhorar o Processo
112
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 5 – Participação em Negociatas
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 6 – Participação em Negociatas
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Gráfico 7 – Faixa Etária dos Entrevistados
113
Fonte: http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/
Alguns tópicos são elencados como proposições para minimizar o impacto da corrupção no
cenário brasileiro. Propostas que vão desde a inclusão de técnicas contábeis oriundas da
administração privada, até a adoção de medidas políticas capazes de contribuir para este
processo de melhoria, ou ainda adoção de noções básicas sobre custos e economia, já a partir
do ensino fundamental.
3 PROPOSIÇÕES
3.1 Redução do Tamanho do Estado
Um dos temais mais discutidos ultimamente é o das parcerias. Elas são buscadas entre
o Estado e diferentes setores da sociedade, voltadas para a mobilização de recursos,
redefinição de propostas e melhoria do processo gerencial.
Rezende (2010, pg. 34) diz que “a retirada do Estado das atividades tipicamente
produtivas, com o avanço da privatização, não acarreta, necessariamente, uma redução no
papel e no tamanho do Estado, mas uma mudança em suas prioridades.”
Daí a importância da atuação das agências reguladoras, que são órgãos do governo
que exercem o papel de fiscalização, regulamentação e controle de produtos e serviços de
interesse público. Entre eles estão telecomunicações, energia elétrica, serviços de planos de
saúde, entre outros. Além disso, devem garantir a participação do consumidor nas decisões
pertinentes do setor regulado.
114
3.2 Massificar a Importância Social dos Tribunais de Contas
Com o avanço das ferramentas da tecnologia da informação, verifica-se nos últimos
anos, por parte dos órgãos e entidades federais, um esforço em disponibilizar informações em
vários níveis e formatos, seja por iniciativa própria ou por força da legislação.
Dentre essas iniciativas destacam-se os documentos elaborados pelo TCU – Tribunal
de Contas da União, disponibilizados em sua página na internet, pela CGU – Controladoria
Geral da União e seus diversos concursos públicos de artigos relacionados ao tema correição e
combate á corrupção, o Portal da Transparência, o Senado Federal, etc. Mas o vocabulário
adotado pela administração pública ainda está distante do entendimento de boa parte da
população, uma vez que as informações possuem termos bastante técnicos.
De toda forma o sistema de planejamento e gestão dos TC’s consiste em práticas
gerenciais voltadas para a obtenção de resultados e condutas corporativas com vistas ao
atendimento das expectativas dos cidadãos com ações de controle externo.
Tal sistema alavanca a formulação e implementação de políticas de controle externo por
meio de planejamento, mobilizando as pessoas e a instituição para construir e escolher qual o
tipo de futuro que se deseja. Além disso, propõe ações de gestão pela excelência, que visam a
integrar unidades às diretrizes estratégicas e valores do TC, sensibilizando servidores para a
produção de melhores resultados nos seus respectivos processos de trabalhos.
3.3 Avaliação de Custos
No campo govenamental, se faz importante a implementação de algumas políticas de
avaliação de custos. Mauss (2008, p.71), diz que “ o principal tema [...] é como gerenciar o
uso dos recursos alocados em um orçamento público e como gerenciar os resultados que serão
obtidos a partir do uso desses recursos nos serviços prestados”.
O modelo de gestão econômica significa uma administração por resultados e para isso
planejamento e ação devem ser inseparáveis. Nakagawa (2001, p.47) pontua que “é
importante agir de maneira correta e prestar contas de desempenhos e resultados”. Já Mauss
(2008), completa dizendo que “uma entidade pública não disputa clientes, porém, deve
atingir seus objetivos da mesma forma que um empresa privada”.
115
Outra questão importante a se destacar na administração pública é o conceito de custo
de oportunidade, tão utilizado nas empresas privadas. Em termos públicos seria custo de
oportunidade do serviço público que conforme Mauss (2008, p.83) “é o custo resultante de
uma alternativa de serviço oferecido pela iniciativa privada que se tenha renunciado ao se
utilizar um serviço estatal.”
Como a contraprestação dos impostos pagos aos cidadãos são a prestação de serviços
públicos, faz-se importante diferenciar receita econômica de receita financeira na
administração pública. Mauss (2008) atesta que:
“A receita financeira é aquela que é originada anteriormente com a
arrecadação de impostos e que sustentam a prestação dos serviços
públicos. Já a receita econômica de uma entidade pública é a
multiplicação do número de vezes que o cidadão desprezou a
utilização dos serviços públicos pela número de serviços que a
entidade efetivamente executou. (MAUSS 2008, p.85).
Outro conceito relevante da administração privada que poderia ser adaptado á pública
é o da margem de contribuição. Nas empresas privadas ela se resume na diferença entre a
venda líquida e os custos e despesas diretos. A adaptação seria através da diferença entre a
receita de oportunidade econômica, ou seja, o que o Poder Público desprezou ao oferecer
determinado serviço multiplicado pela quantidade de serviços efetivamente prestados e os
custos e despesas diretos. O resultado irá permitir decidir quais serviços deverão merecer
maior ou menor esforço na redução de custos diretos.
3.4 Custeio ABC
O método ABC - Custeio Baseado em Atividades, segundo Mauss (2008, p.56), “é um
dos métodos que mais se ajustam ás entidades públicas de administração direta, [...]pois o que
se pretende é dividir a organização em atividades e custeá-las, para [...] mensurar seu
desempenho”. O fundamental para uma correta gestão econômica no campo da administração
pública é eficiência, eficácia e economicidade.
A informação de custos é um fator crítico para o sucesso do planejamento, orçamento,
controle operacional e para a tomada de decisões estratégicas, ou seja, é uma das principais
bases para o alcance da eficácia da gestão pública.
116
3.5 Parcerias Público Privadas
As PPP’s são uma nova categoria de contratos públicos de concessão, a longo prazo,
pois trata-se de uma parceria entre o governo e a iniciativa privada, com o objetivo de
proporcionar á população serviços de qualidade, por muitos anos.
Medeiros (2006, p.81) diz que “ [...] os riscos são compartilhados entre os investidores
privados e o setor público”.
O mesmo autor diz ainda que a implantação das medidas de desempenho poderá
objetivar “ a redução de custos com a melhoria da qualidade dos serviços prestados, o
combate ao desperdício, identificando atividades que não agregam valor ao usuário dos
serviços públicos, promover a mudança da cultura organizacional pública, introduzindo a
dimensão do valor do dinheiro público”.
3.6 Financiamento Público de Campanhas Eleitorais
Importante será o Congresso Nacional, através do PL – Projeto de Lei nº 2679/03 que
versa sobre o financiamento público de campanhas eleitorais através da criação de um fundo
de recursos públicos destinado a partidos políticos, de acordo com sua representação no
Congresso Nacional, para estes produzirem as campanhas de seus candidatos.
A nação é a que provém o Estado. É necessário, para o amadurecimento da
democracia, que cada um dos cidadãos saiba o valor daquilo que se está pagando. Neste
contexto, o financiamento público nada mais é do que tornar legal, e mais barato, as
campanhas políticas. Aqueles que defendem este tipo de financiamento afirmam que as
doações, são fontes de corrupção, já que o político que as recebe, ao ser eleito estaria
comprometido em beneficiá-la de alguma maneira.
3.7 Exercício Pleno da Cidadania
117
Participação popular na fiscalização de utilização dos recursos públicos via ONG -
Organizações Não-Governamentais, que tenham esta finalidade, além de procurar o
envolvimento maior com as questões políticas e sociais fiscalizando a atuação dos
representantes, fazendo valer os direitos de cidadão.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma máxima da economia é que as demandas sociais são ilimitadas e os recursos
necessários ao provimento destas, limitados. Isto se mostra verdade, pois com o crescimento
da população, os bens e serviços públicos desejados se transformaram em motivo de disputa,
daí a necessidade de uma rigorosa fiscalização por parte da sociedade no tocante á aplicação
destes recursos.
Por outro lado, criou-se no país, pela mídia brasileira, na década de 1970, através da
propaganda de uma marca de cigarro, o Vila Rica, a “Lei de Gérson” ou “Lei da
Vantagem”, dando início a um princípio em que determinada pessoa e/ou empresa devem
obter vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.
Esta "Lei" acabou sendo usada para expressar traços bastante característicos do caráter
da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito às regras de convívio
para a obtenção de vantagens.
Na pesquisa apresentada neste trabalho sobre a percepção do brasileiro em relação à
corrupção, a conclusão que se pode chegar, é que, em função da desinformação, das
dificuldades em se organizar, da cultura da “vantagem” entre todos, o crescimento da
corrupção, não preocupa a população, mas apenas a incomoda.
A indignação da população perdeu o fôlego. Dificilmente as pessoas se mobilizam
para ir ás ruas protestar contra os descalabros do poder público. Talvez por saberem que
nenhuma providência será tomada, ou quando tomada não irá atender os anseios da maioria,
ou ainda ninguém será punido e responsabilizado.
A sensação de impotência não se justifica quando se reconhece o poder de pressão que
o povo tem. O voto consciente e qualificado é a primeira reação, mas não a única. É verdade
que o povo não está acostumado a discutir, a criticar e buscar soluções conjuntas. Todos são
condicionados ao individualismo e não se apercebem da omissão, procurando se esconder por
detrás das dificuldades.
118
Democracia exige dedicação, interesse, participação e acima de tudo fiscalização no
trato das coisas que são públicas. Uma imprensa forte, de credibilidade, investigativa e
denunciante, um judiciário célere, justo e guardião da constituição, tudo isso simboliza o
exercício do Estado Democrático de Direito.
Há muita chance que daqui a pelo menos uma geração, as pessoas tenham mais
responsabilidade com os recursos destinados ao atendimento de demandas da população e que
não apenas as eleições sejam pretexto, mas a real necessidade de melhorar a vida das pessoas.
Uma formação cidadã que comece desde a pré-escola, com a readoção da disciplina
Educação Moral e Cívica, fortalecendo a unidade nacional e o sentimento de solidariedade
humana, o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à
comunidade e o preparo do cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento
na moral, no patriotismo e na ação construtiva.
Outro fato de relevância que deve ser citado é necessidade de revisão do Código
Penal, datado da década de 1940, bem como do Código de Processo Penal, principalmente nas
questões relativas ao procedimento e celeridade nas decisões.
Finalmente, torna-se evidente a necessidade de publicação de legislação que indique a
forma pela qual o cidadão que apresente denúncia ao setor público seja informado da
destinação, resultados e consequências das análises efetuadas pelos órgãos competentes
quanto aos fatos denunciados, garantindo-se tratamento uniforme das questões submetidas aos
gestores públicos.
AUTORES
AUTOR : Luís Felipe Gramantieri de Tolentino
TITULAÇÃO: Mestre
COAUTOR 1: Alan da Silva Melo
TITULAÇÃO: Especialista
COAUTOR 2 : Vander Lúcio Sanches
TITULAÇÃO: Mestre
COAUTOR 3 : Marlúcio Cândido
119
TITULAÇÃO: Mestre
COAUTORA 4 : Débora Maria Nazareth Sanches
TITULAÇÃO: Especialista
COAUTORA 5 : Rachel Ferreira Sette Bicalho
TITULAÇÃO: Mestre
COAUTORA 6 : Kátia Glê Sanches Ribeiro
TITULAÇÃO: Especialista
COAUTOR 7 : Alexsandro de Assis Vasconcelos Clemente
TITULAÇÃO: Especialista
REFERÊNCIAS
ANDRADE, A. Governança Corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. 2 ed.
São Paulo: Atlas, 2006.
CAVALCANTE, F.; MISUMI, J.Y.; RUDGE, L.F. Mercado de Capitais. Rio de Janeiro:
Campus, 2005.
DINIZ, P. A. Metodologia Científica. Belo Horizonte: FEAD, 2006.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, Atlas, 1987.
MAUSS. C. V. Gestão de Custos Aplicada ao Setor Público: modelo para mensuração e
análise da eficiência e eficácia governamental. São Paulo: Atlas, 2008.
MEDEIROS. C. M. A Dualidade Contemporânea no Brasil: estratégias para financiar um
novo ciclo virtuoso e duradouro de crescimento. Rio de Janeiro: ABDE, 2006.
NAKAGAWA, M. Custeio Baseado em Atividades. São Paulo: Atlas, 2001.
OLIVEIRA. D. P. R. de, Governança Corporativa na Prática. São Paulo: Atlas,2006.
120
VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 8. ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
Agências Reguladoras. Disponível em http://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-
direitos/conheca-o-papel-das-agencias-reguladoras Acesso em 14 mai 2014.
Controladoria Geral da União. Disponível em http://www.cgu.gov.br Acesso em 28 abr 2014.
Corruptoteca. Disponível em http://nupps.usp.br/corrupteca/?post_type=case&p=246 Acesso
em 12 mai 2014.
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – Anões do Orçamento. Disponível em
http://nupps.usp.br/corrupteca/wp-content/uploads/RELAT%C3%93RIO-FINAL-CPMI1.pdf
Acesso em 14 mai 2014.
Escola Superior de Guerra. Manual Básico. Rio de Janeiro: ESG, 1992.
FIESP. Disponível em http://www.fiesp.com.br Acesso em 28 abr 2014.
Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101 de 04/05/2000.
Mensalão. Disponível em http://www.infoescola.com/politica/mensalao/ Acesso em 12 mai
2014.
Museu da Corrupção. Disponível em http://muco.com.br Acesso em 12 mai 2014.
Portal da Transparência do Governo Federal. Disponível em
http://www.portaldatransparencia.gov.br Acesso em 29 abr 2014.
Programa Olho Vivo no Dinheiro Público. Disponível em http://www.cgu.gov.br/olhovivo
Acesso em 21 abr 2014.
Parcerias Público-Privadas. Disponível em
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/ppp/default.php?p_secao=53 Acesso em 28 abr 2014.
Universidade de Caxias do Sul. Disponível em
http://hermes.ucs.br/ccet/deme/emsoares/inipes/corru/ Acesso em 29 abr 2014.