Cotidiano e Arte Em Lukaks

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  • 7/24/2019 Cotidiano e Arte Em Lukaks

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    Cotidiano e arte em Lukcs

    Celso Frederico

    EM JANEIRO de 1968 Lucien Goldmann organizou, em Royaumont, um encontro ara !edi!cutir e!t"tica# Na me!a, ao !eu lado, e!ta$am Agne! %eller, di!c&ula de Lu'(c!, e)*eodor +# Adorno# A eectati$a era grande, -( .ue a animo!idade te/rica entreLu'(c!, Adorno e Goldmann $in*a de longe#

    Lu'(c! con!idera$a a E!cola de 0ran'urt, da .ual Adorno era o rincial rere!entante,como 2um hotel de luxo beira do abismo2, i!to ", como uma e!cola eliti!ta e di!tanteda luta de cla!!e!# 3uanto a Goldmann, tam4"m n5o *a$ia di(logo o!!&$el ain!i!t7ncia de!!e autor em $alorizar a! o4ra! -u$eni! de Lu'(c! inclu!i$e a! n5omari!ta!:, em detrimento de !ua rodu;5o madura, *a$ia en$enenado deiniti$amentea rela;5o entre o! doi!# Numa irritada carta de 1< de outu4ro de 19=9, Lu'(c!ormalizou a rutura 2>e eu ti$e!!e morrido or $olta de 19?@ e min*a alma ereneol*a!!e !ua ati$idade liter(ria do al"m, ela icaria lena de um $erdadeirorecon*ecimento de $oc7 !e ocuar t5o inten!amente de min*a! o4ra! de -u$entude# Ma!

    como eu n5o e!tou morto e como durante trinta e .uatro ano! eu criei o .ue !e odec*amar aroriadamente a o4ra de min*a $ida e como, ara $oc7, e!!a o4ra!imle!mente n5o ei!te, " di&cil ara mim, en.uanto !er $i$o, cu-o! intere!!e! e!t5oclaramente dirigido! ara a r/ria ati$idade re!ente, tomar o!i;5o !o4re !ua!con!idera;e!2 1:#

    Adorno, or !ua $ez, nunca oi de azer conce!!e!# >ua! dieren;a! com a! o!i;e!ol&tica! e e!t"tica! de Lu'(c! !5o con*ecida!# Num en!aio de 19=8, Reconciliaoforada, contraB! a !ua 2dial"tica negati$a2 C 2o!iti$idade2 do reali!mo liter(riocon!agrado or Lu'(c! ?:# A dee!a da arte como 2negati$idade2, eita or Adorno, n5oadmitia a derecia;5o lu'ac!iana do! eerimento! $anguardi!ta! e, meno! ainda, um

    do! ilare! da teoria lu'ac!iana do reali!mo, a catar!e# E!ta, a !eu! ol*o!, !igniica$auma erigo!a rere!!5o ao! in!tinto! *umano!, uma orma ideol/gica de neutraliza;5o eincorora;5o da !u4-eti$idade *umana C totalidade alienada e n5o, como .ueria Lu'(c!,uma etaa *armBnica da! rela;e! entre !u4-eti$idade e o4-eti$idade, indi$&duo eg7nero:# A! di$erg7ncia! entre Adorno e Goldmann tam4"m n5o eram menore! oreDdio ao 2e!truturali!mogen"tico2, m"todo deendido or Adorno, 4em como !uainterreta;5o da o4ra liter(ria como ere!!5o da con!ci7ncia da! cla!!e! !ociai!,cau!a$am um incontido male!tar no il/!oo alem5o :#

    Goldmann, or !ua $ez, azia .ue!t5o de ignorar toda a $a!ta o4ra lu'ac!iana o!teriorC Histria e conscincia de classee critica$a duramente Adorno or con!iderar, agora

    azendo coro com Lu'(c!, !ua conce;5o te/rica eliti!ta e aol&tica#

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not1
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    Agne! %eller, comentando o col/.uio, narra o !eguinte ei!/dio 2### no! $imo! deimediato en$ol$ido! em aaionada! di!cu!!e! !o4re tr7! onto! de $i!ta dierente! eaarentemente inconcili($ei!# Ent5o, ocorreu algo totalmente ine!erado# Fm -o$emocuou a tri4una e alou com irrita;5o e enado Lu'(c!, Adorno e Goldmann !5o o! tr7!a me!ma coi!a# >5o mem4ro! da >agrada 0am&lia# Ao aoiar a autonomia da o4ra de

    arte e!t5o 4u!cando a !al$a;5o em uma imagem cele!tial do mundo# O! tr7! e!t5oultraa!!ado!, !5o 4urgue!e! e de!rez&$ei!# Em !eu lugar nece!!itamo! de Arra4al# Fmcoro de gente -o$em ez eco de !ua! ala$ra!# Arra4al, Arra4al, grita$am# 0oi ent5o .uena!ceu a /!modernidade# Em um minuto mudou toda a cena# Adorno, Goldmann e eu,.ue rere!enta$a Lu'(c!, terminamo! no me!mo lado da ro$er4ial 4arricada# Em $ezde criticar, come;amo! a aoiarno! un! ao! outro!# O! elemento! comun! de no!!o!crit"rio! reentinamente !e tornaram mai! imortante! .ue o! .ue no! !eara$am# Adee!a da autonomia da o4ra de arte imlica$a a dee!a de uma o!!&$el unidade de!u4-eti$idade e o4-eti$idade a dee!a de um -u&zo e!t"tico determinado .ue n5o era!imle!mente uma .ue!t5o de go!to e!!oal# Imlica$a a!!umir .ue devemexistircerta! auta! ara -ulgar a .ualidade e a imortHncia da! o4ra! de arte, .ue a

    di!tin;5o entre !uerior e inerior " $(lida e .ue " da m(ima imortHncia, inclu!i$ea!!unto de $ida ou morte, aoiar uma! o4ra! de arte e rec*a;ar outra!2 @:#

    E!!e incidente acad7mico " rico de en!inamento!# Ae!ar da! gritante! dieren;a!, o!no!!o! tr7! autore! odem, ainda .ue rote!tem contra i!!o, !er en.uadrado! !o4 or/tulo de 2-o$en!*egeliano!2, emregado originalmente ara de!ignar o mo$imento deintelectuai! alem5e! .ue no in&cio do! ano! @< do !"culo a!!ado de4atia!e com olegado intelectual de %egel, ma! !em con!eguir de!$encil*ar!e totalmente do edi&cioconceitual *egeliano# o! 2-o$en!*egeliano!2 alem5e!, o Dnico .ue !e aa!toudeiniti$amente de %egel oi 0euer4ac*, .ue romeu n5o !/ com o !i!tema ma! com o

    m"todo *egeliano, $ale dizer, a dial"tica =:#

    J( em !eu temo, %egel rocurou in!erir a arte como arte orgHnica de !eu !i!temailo!/ico, mantendoa !u4ordinada a ele# E, ara i!!o, com4ateu a! tend7ncia!romHntica! .ue airma$am .ue o 4elo, um roduto da imagina;5o an(r.uica eindi!cilinada, da intui;5o e do! !entido!, n5o de$eria aroimar!e da aridez doen!amento a4!trato# ontra o! inimigo! da raz5o, %egel argumenta$a .ue a arte e ailo!oia 4u!cam, cada uma a !eu modo, a me!ma coi!a a $erdade#

    No !i!tema *egeliano a arte de!onta como o rimeiro momento de airma;5o doE!&rito A4!oluto, a !er !uerado, em !eguida, ela religi5o e ela ilo!oia# A arte "

    deinida or %egel como a manifestao sensveldo E!&rito# O aarecer !en!&$el doE!&rito n5o !e conunde com uma aar7ncia .ual.uer# A aar7ncia " !emre a aar7ncianece!!(ria de um conteDdo $erdadeiro, de uma e!!7ncia .ue reci!a aarecer, ma! .uen5o !e identiica diretamente com a aar7ncia# A arte, a!!im, " uma rere!enta;5o .ueno! conduz a uma realidade dierente de no!!o cotidiano, oi! ne!ta a aar7ncia cumrea !ua un;5o de ocultar a e!!7ncia# ierentemente da eeri7ncia cotidiana, a arte no!ornece uma realidade autBnoma mai! alta e $er&dica#

    Lu'(c!, Adorno e Goldmann gra$itam em torno do! termo! o!to! or %egel# Ne!!e!entido, ele! !5o 2-o$en!*egeliano!2# A arte, ara ele!, " uma ati$idade .ue re!er$a a!ua autonomia 2uma imagem cele!tial do mundo2, como grita$a a.uele -o$em emRoyaumont: e, or i!!o, " $i!ta !emre como arte integrante de um !i!tema deen!amento .ue e!ta4elece crit"rio! ara o -ulgamento e!t"tico, ermitindo, de!!e

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not5
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    modo, !earar a grande arte de !ua! contraac;e!# A.uele! di!c&ulo! de Arra4al, aoretenderem di!!ol$er a arte na $ida tran!ormandoa num indierenciado happening:,anula$am a !ua autonomia, indo, com i!!o, al"m do me!tre, .ue, ainal, e!cre$era e;a!de!tinada! e!eciicamente ara o teatro# E!!a rece;5o radicalizada do tra4al*oart&!tico de Arra4al .ue re.Kentemente atinge tam4"m Artaud: in!ere!e no e!&rito

    irre$erente da contracultura# In$e!tindo contra o cnon, coloca!e em !eu lugar orelati$i!mo eacer4ado um $erdadeiro $aletudo .ue in$ia4iliza .ual.uer -ulgamento,tido como mera reten!5o 2autorit(ria2 da raz5o# Ne!!e !entido, o! mo$imento!art&!tico! da contracultura izeram na!cer o e!tilo de en!amento con*ecidoo!teriormente como 2/!moderno2# O 2a!!alto C raz5o2, re!ente no /!moderni!mo,c*oca!e rontalmente contra e!!a orma e!ecial de racionali!mo .ue " o en!amentodial"tico, rei$indicado, de dierente! e 2inconcili($ei!2 maneira!, or Lu'(c!, Adorno eGoldmann#

    Elicitar a! dieren;a! .ue !earam e!!e! tr7! autore! ", contudo, uma tareatra4al*o!a .ue no! aa!taria de no!!o o4-eti$o# a!ta lem4rar a.ui, re!umidamente, a

    recu!a do! tr7! autore! C! tentati$a! de minar a autonomia da arte# ara Lu'(c!, ae!eciicidade da arte con!i!te no reflexo antropomorfizadorda realidade# ara Adorno, "$ital a dee!a da formado o4-eto art&!tico, o .ue eclui e$identemente .ual.uerreten!5o de diluir a autonomia da arte# ara Goldmann, o .ue intere!!a 4a!icamente "a de!co4erta da homologia das estruturas, a correla;5o entre a e!trutura interna da o4rae a e!trutura da !ociedade#

    Ma! $oltemo! a Lu'(c! ara tentar entender mel*or a .ue!t5o do! crit"rio! ara !e-ulgar a o4ra de arte, uma .ue!t5o 2de $ida ou morte2 .ue atra$e!!a toda a !ua o4ra#Ele !emre deendeu aaionadamente o m"todo reali!ta en.uanto crit"rio ara o cr&tico

    -ulgar a o4ra de arte e tam4"m o camin*o ara o arti!ta re$elar a $erdade em !uacria;5o# e acordo com e!!a er!ecti$a, a arte airma!e em !ua irredut&$ele!eciicidade, como uma inten!iica;5o do drama *umano .ue na $ida cotidiana !eare!enta de orma de!cont&nua, rareeita#

    E!!a dee!a do m"todo reali!ta de igura;5o re!!ue, or !ua $ez, uma funoor elecon!ignada C ati$idade art&!tica# Na $i!5o ontol/gica de Lu'(c!, a arte " uma ati$idade.ue arte da $ida cotidiana ara, em !eguida, a ela retornar, roduzindo ne!!emo$imento reiterati$o uma elevaona con!ci7ncia !en!&$el do! *omen!#

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    Na !e.K7ncia, $eremo! a teoria lu'ac!iana do cotidiano e a un;5o da arte em !euinterior#

    * * *

    A e!t"tica de Lu'(c! tem como uma de !ua! eculiaridade! mai! originai! o ato de4u!car um enraizamento na $ida cotidiana#

    ara determinar o lugar do comortamento e!t"tico no con-unto da! ati$idade!*umana!, Lu'(c! arte da! nece!!idade! o!ta! elo diaadia# Materiali!ta .ue era,e!tuda$a a arte !emre comarada e contra!tada com a ati$idade cient&ica artindodo cotidiano, como um de !eu! momento! ri$ilegiado!, ao contr(rio de %egel, ara.uem a arte !urge !emre como manie!ta;5o !en!&$el da Id"ia#

    O comortamento cotidiano do *omem, a!!im, " o comeoe o fimde toda a;5o*umana# Lu'(c! retoma a imagem do rio de %er(clito, imagem cara ao! dialeta! o

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    cotidiano " $i!to como um rio em !eu ermanente luo, dentro do .ual tudo !emo$imenta, !e tran!orma, !e e!al*a e retorna ao !eu leito 2dele do cotidiano: !edereendem, em orma! !ueriore! de rece;5o e rerodu;5o da realidade, a ci7ncia e aarte dierenciam!e, con!tituem!e de acordo com !ua! inalidade! e!ec&ica!,alcan;am !ua orma ura ne!!a e!eciicidade .ue na!ce da! nece!!idade! da $ida

    !ocial ara logo, em con!e.K7ncia de !eu! eeito!, de !ua inlu7ncia na $ida do!*omen!, de!em4ocar de no$o na corrente da $ida cotidiana2 6:#

    A arte e a ci7ncia !5o orma! de!en$ol$ida! de releo, de rece;5o, da realidadeo4-eti$a na con!ci7ncia do! *omen!# Ela! !e con!tituem lentamente durante a e$olu;5o*i!t/rica e !e dierenciam ince!!antemente# Lu'(c! ri$ilegia a ci7ncia e a arte comoorma! ura! de releo, ma! entre ela!, num fecundo ponto mdio, localiza o releor/rio da $ida cotidiana a con!ci7ncia do *omem comum:# A $ida cotidiana " o ontode artida e o onto de c*egada " dela .ue ro$"m a nece!!idade de o *omemo4-eti$ar!e, ir al"m de !eu! limite! *a4ituai! e " ara a $ida cotidiana .ue retornam o!roduto! de !ua! o4-eti$a;e!# om i!!o, a $ida !ocial do! *omen! " ermanentemente

    enri.uecida com a! a.ui!i;e! ad$inda! da! con.ui!ta! da arte e da ci7ncia#

    O con-unto ormado ela arte e !ua rece;5o traduz a in!ira;5o ontol/gica de Lu'(c!# A!imle! 2ei!t7ncia2 da o4ra n5o encerra a di!cu!!5o# O .ue mai! intere!!a "a funoeercida ela arte na $ida cotidiana do! *omen!# A arte, ortanto, n5o ei!tecomo um dado o4-eti$o numa rela;5o de indieren;a com o! !eu! recetore!#

    e!!a orma, a !stticainicia!e com uma rele5o !o4re o cotidiano# E, -( ne!!e in&cio,ode!e erce4er uma analogia !uericial e uma dieren;a !u4!tanti$a entre Lu'(c! e%eidegger# O autor de " ser e o tempocon!idera a cotidianidade como o reino do

    inaut7ntico o no#ser#de#si#mesmo:, da $ueda, em .ue o *omem odas#man: e!t(imer!o naparolagem, na curiosidade %vidae na ambig&idade# O reino da autenticidade,ao contr(rio, re!!ue a !uera;5o ari!tocr(tica da cotidianidade o *omem o der#man:, romendo com a inautenticidade da $ida cotidiana, torna!e enim caaz decomreender !ua initude e ermanecer C e!era doacontecimento, da re$ela;5o do >er,tendo a morte como *orizonte### :#

    Lu'(c! tam4"m e!ta4elece uma di$i!5o entre o !en!o comum do! *omen! mergul*ado!na cotidianidade e a! orma! !ueriore! de con!ci7ncia .ue $5o al"m de!!e! limite!#Ma!, como materiali!ta, airma .ue a! o4-eti$a;e! do !er !ocial .ue ele$am o *omemacima da cotidianidade na!cem ara re!onder C! nece!!idade! $itai! o!ta! ela $ida e,

    or i!!o me!mo, retornam ao cotidiano ara enri.uec7lo# A $ida cotidiana retomando aimagem do rio: " a onte e a de!em4ocadura de toda! a! ati$idade! e!irituai! do*omem#

    or i!!o, a !stticainicia!e com uma rele5o !o4re o cotidiano, deoi! de!en$ol$idaor di$er!o! autore!, .ue a tran!ormaram em tema 4(!ico de e!.ui!a! *i!t/rica! e!ociol/gica! 8:# E!!e onto de artida, como $eremo!, determina o cur!o de toda arele5o lu'ac!iana#

    * * *

    A arte e a ci7ncia !5o con!iderada! or Lu'(c! como formas purasde releo# Entream4a! !itua!e a.uela orma r/ria de releo .ue con!titui a $ida cotidiana# E!!a! tr7!

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not7http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not8http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not7http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#not8
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    orma! de releo reerem!e !emre C me!ma realidade e oeram com a! me!ma!categoria!# Lu'(c!, a.ui, reitera a !ua $i!5o moni!ta e ontol/gica da realidade, aoentender a! categoria! l/gica! como uma manie!ta;5o do !er !ocial e n5o como umacon!tru;5o a priorido en!amento#

    En.uanto a arte e a ci7ncia !e de!en$ol$em inten!amente e, or i!!o, atingem uma$i!5o deurada da realidade, o en!amento cotidiano de4ate!e com o! !eu! limite!#E$identemente, ei!te nele -( um con*ecimento P releo: do mundo eterior# a!taen!ar a.ui no tra4al*o e na linguagem, orma! 4(!ica! de o4-eti$a;5o da $idacotidiana# O tra4al*o aroima!e da arte arte!anato:, ma! !eu comromi!!o com a!u4!i!t7ncia tol*e a o!!i4ilidade de de!en$ol$imento# Ele tam4"m aroima!e daci7ncia, ma! !ua naturezafluidae mut%velimede !ua identiica;5o com o releouni$er!alizante e a4!trato, r/rio da ati$idade cient&ica#

    O releo r/rio da $ida cotidiana re!!ue um materialismo espontneo o! *omen!intuiti$amente erce4em .ue o mundo eterior ei!te de modo indeendente de !ua

    con!ci7ncia# Ma! o con*ecimento da! coi!a! ica 4lo.ueado or uma outra caracter&!ticada cotidianidade a $incula;5o imediata entre teoria e r(tica, .ue conduz auma imediatezdo comortamento re!trito C aar7ncia maniul($el da! coi!a!, ede!con*ecedor da e!!7ncia con!tituti$a do! enBmeno!#

    O aego C aar7ncia enom7nica az com .ue o *omem, no cotidiano, !e relacione comum mundo *eterog7neo e de!cont&nuo# )oda! a! aten;e! !5o mo4ilizada! ne!!erelacionamento, ma! a ragmenta;5o do mundo aarencial imede o *omem derelacionar o! enBmeno! entre !i# Lu'(c! de!igna o *omem imer!o na cotidianidade de ohomem inteiro, ara contraBlo ao homem inteiramente, a.uele concentrado na arte e

    na ci7ncia#

    om e!!a terminologia um tanto in!/lita, Lu'(c! !eara dua! orma! di!tinta! decomortamento# A arte, ao contr(rio da $ida cotidiana, oereceno! um mundohomogneo, deurado da! 2imureza!2 e acidente! da *eterogeneidade r/ria! docotidiano# Na rui;5o e!t"tica, o indi$&duo deara!e com a igura;5o *omogeneizadora,mo4ilizando toda a !ua aten;5o ara adentrar!e ne!!e mundo miniatural, de!o-adodo! acidente! e $ari($ei! .ue geram a! de!continuidade! do cotidiano# E!!aconcentra;5o da aten;5o, e!!a mo4iliza;5o da! or;a! e!irituai!, roduz uma elevaodo cotidiano# Ne!!e momento, !egundo Lu'(c!, o indi$&duo !uera a !ua !ingularidade e" o!to em contato com o g7nero *umano# O eemlo mai! claro " o enBmeno

    da catarse, .ue ermite re!ta4elecer o neo do indi$&duo com o g7nero# E!!e neo icae!maecido na cotidianidade onde o! *omen! encontram!e ragmentado! e entregue! Cre!olu;5o do! ro4lema! e!!oai! de !ua $ida ri$ada#

    A elevaon5o " uma uga, um de$aneio incon!e.Kente# A/! a rui;5o e!t"tica, o*omem mo4ilizado ela arte $olta a derontar!e com a ragmenta;5o do cotidiano# Ma!agora, acredita Lu'(c!, e!!e *omem enri.uecido ela eeri7ncia .ue o colocou emcontato com o g7nero, a!!ar( a $er o mundo com outro! ol*o!#

    A arte, ortanto, educao *omem azendoo tran!cender C ragmenta;5o roduzida eloetic*i!mo da !ociedade mercantil# Na!cida ara reletir !o4re a $ida cotidiana do!*omen!, a arte roduz uma 2ele$a;5o2 .ue a !eara inicialmente do cotidiano ara, no

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    inal, azer a oera;5o de retorno# E!!e roce!!o circular roduz um cont&nuoenri.uecimento e!iritual da *umanidade#

    * * *

    Ma! nem !emre a ati$idade art&!tica roduz o4ra! de arte caaze! de eercer e!!eael de!e-ado or Lu'(c!# A! no$ela!, o! ilme! oliciai!, o! comicsetc# !5oininitamente mai! numero!o! .ue a! $erdadeira! o4ra! de arte tornando!e, !emre,um ro4lema di&cil ara o! cr&tico! aco!tumado! a tra4al*ar com realiza;e! -(con!agrada! e tendo C di!o!i;5o teoria! ara a-ud(lo! na tarea da interreta;5o#

    Lu'(c! inclui e!!a rodu;5o art&!tica menor no .ue ele c*ama de 2ciclo ro4lem(tico doagrad($el2# )anto a o4ra de arte .uanto o! roduto! menore! $oltado! ara o meroentretenimento !5o emana;e! da $ida cotidiana, ma! n5o de$em !er conundido!# >ema e!era do agrad($el n5o ei!tiria a arte# O! cr&tico! liter(rio! go!tam de lem4rar aro/!ito .ue uma grande o4ra tem atr(! de !i uma ininidade de o4ra! menore!

    ormando um caldo de cultura .ue l*e !er$e de reer7ncia# Ma!, diz Lu'(c!, a arte n5ona!ce do agrad($el e, rincialmente, a! dua! e!era! de!emen*am a"i! dierente!em !ua rela;5o com a $ida cotidiana#

    A arte reocua!e em igurar, com o! !eu! meio!, a realidade .ue !e are!enta !o4orma ca/tica na $ida cotidiana# ara i!!o, ela no! are!enta uma igura;5o !en!&$elimediata da realidade, atra$"! da cria;5o de ummeio homogneor/rio da ati$idadeart&!tica# A cria;5o de!!e meio *omog7neo, na arte, !igniica uma rutura com a $idacotidiana, marcada ela *eterogeneidade, na .ual o *omem !/ articia da !uer&ciedo! enBmeno!#

    E!!a reare!enta;5o e!truturada !urge como uma segunda imediaticidade# O car(terragmentado e ca/tico da realidade reaarece tran!igurado como uma no$aimediaticidade, uma unidade !en!&$el de e!!7ncia e aar7ncia, conormando o 2mundor/rio2 da arte, um mundo .ue deiou de !er um indierente em#siara tornar!eumpara#ns um mundo eito em conormidade com o *omem#

    A arte, a!!im, o!!i4ilita a a!!agem da *eterogeneidade do cotidiano ara a*omogeneidade, momento em .ue !o4e ara o rimeiro lano o !er gen"rico do *omem#I!!o !e torna o!!&$el gra;a! ao tra4al*o do arti!ta .ue concentrou toda! a!determina;e! da realidade em uma totalidade intensiva, em um mundo prprio# Ne!te

    atamar mai! ele$ado, deurado de todo! o! elemento! *eterog7neo! ertur4adore!, orecetor ode concentrar toda a !ua aten;5o num Dnico o4-eto# om i!!o,ele suspendea *eterogeneidade do cotidiano e !ua r/ria erman7ncia na condi;5o deum !er meramente !ingular#

    a& o car(ter evocativoda o4ra de arte, !ua a;5o !o4re o nDcleo !ocial da er!onalidade*umana# E!!a or;a e$ocati$a de$e!e ao ato de .ue na arte o a!!ado " eito re!ente#E!!a re!entiica;5o, contudo, n5o " a $ida anterior de cada indi$&duo, ma! a !ua $idaen.uanto ertencente C *umanidade# O .ue " o!to em rele$o ela arte " o car%tersocial da personalidade humana# O indi$&duo, erante a igura;5o e!t"tica, ode !egeneralizar e, a!!im, conrontar a !ua ei!t7ncia com a eo"ia do g7nero *umano,retratado ela arte, num momento determinado de !ua e$olu;5o# Ocorre ent5o

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    uma suspensoda cotidianidade, uma elevaoda !u4-eti$idade do lano meramente!ingular ara o camo mediador da articularidade a !&nte!e do !ingular e do uni$er!al:#

    A! realiza;e! !eudoe!t"tica! .ue integram o 2ciclo ro4lem(tico do agrad($el2, aocontr(rio, iam o indi$&duo em !ua imediatez cotidiana# Ela! aena! cumrem a un;5o

    de entretenimento, dirigindo!e C e!era ri$ada do! indi$&duo!# ierentemente da!realiza;e! $erdadeiramente art&!tica!, ela! n5o generalizam, n5o colocam o indi$&duoem contato com o g7nero# E!!a erman7ncia na mera !ingularidade imede a2ele$a;5o2, o contato enri.uecedor com o g7nero e, or i!!o, o car(ter !ocial daer!onalidade *umana n5o !e de!en$ol$e#

    O ael atri4u&do C arte or Lu'(c! torna claro, agora, or .ue a dee!a da autonomia daarte " uma 2.ue!t5o de $ida ou morte2# O mo$imento, .ue " r/rio da arte, de ruturae retorno ao cotidiano rote!ta contra a! tentati$a! de dilui;5o na $ida cotidiana, comoretendia a.uele -o$em entu!ia!ta de Arra4al, .ue, or um 4re$e in!tante, con!eguiu aroeza de reconciliar a! e!t"tica! de Lu'(c!, Adorno e Goldmann#

    Notas

    1# N# )ertulian, '( )u*%cs+!tapes de sa pense esthti$ue, ari!, Ed# Le >ycomore,198o4re %eidegger, con!ulte!e o 4elo li$ro de enedito Nune!, 6assagem para opotico( 7ilosofia e poesia em Heidegger# >5o aulo, Ttica, 1986#

    8Qer a ro/!ito o! di$er!o! tra4al*o! de Agne! %eller entre ele!, 8ociologia de la vidacotidiana, arcelona, Ed# en&n!ula, 198# Fm outro autor mari!ta, %enri Lee4$re,tam4"m de!en$ol$eu, a !eu modo, uma teoria !o4re a $ida cotidiana# # 9riti$ue de lavie cotidienne, ari!, LArc*e Uditeur, 19=8 e )a vie cotidiennedans le monde moderne,ari!, Ed# Gallimard, 1968# Leitura Dtil !o4re o tema " o li$ro de Jo!" aulo Netto S Mariado armo 0alc5o, 9otidiano5 conhecimento e crtica, >5o aulo, Ed# ortez, 198#

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#1nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#2nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#3nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#4nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#5nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#6nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#7nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#8nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#1nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#2nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#3nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#4nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#5nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#6nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#7nothttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000300022&lng=pt&nrm=iso#8not
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    on$"m lem4rar, ara e$itar e.u&$oco!, .ue a 2*i!t/ria do cotidiano2 ou 2da!mentalidade!2, de!en$ol$eu!e num regi!tro te/rico r/rio, di!tante da! id"ia! deLu'(c!#

    9elso 7rederico" roe!!or da E!cola de omunica;e! e Arte! da Fni$er!idade de >5oaulo e 4ol!i!ta do N.# U autor, entre outro!, do! li$ro! " /ovem 0arxEd# ort7!,199=:, )uc*%cs+ um cl%ssico do sculo ::Ed# Moderna, 199:#