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21 A cromatografia é um método físico-químico de separação. Ela está fundamentada na mi- gração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a diferentes interações, entre duas fases imiscíveis, a fase móvel e a fase estacionária. A grande variedade de combinações entre fases móveis e estacionárias a torna uma técnica extrema- mente versátil e de grande aplicação. O termo cromato- grafia foi primeira- mente empregado em 1906 e sua utilização é atribuída a um botâ- nico russo ao descre- ver suas experiências na separação dos componentes de ex- tratos de folhas. Nesse estudo, a passagem de éter de petróleo (fase móvel) através de uma coluna de vidro preenchida com carbonato de cálcio (fase esta- cionária), à qual se adicionou o extrato, levou à separação dos componentes em faixas coloridas. Este é provavel- mente o motivo pelo qual a técnica é conhecida como cromatografia (chrom = cor e graphie = escrita), podendo levar à errônea idéia de que o processo seja dependente da cor. Apesar deste estudo e de outros anteriores, que também poderiam ser considerados precursores do uso dessa técnica, a cro- matografia foi pratica- mente ignorada até a década de 30, quan- do foi redescoberta. A partir daí, diversos trabalhos na área possibilitaram seu aperfeiçoamento e, em conjunto com os avanços tecnológi- cos, levaram-na a um elevado grau de sofis- ticação, o qual resul- tou no seu grande po- tencial de aplicação em muitas áreas. A cromatografia pode ser utilizada para a identificação de compostos, por comparação com padrões previa- mente existentes, para a purificação de compostos, separando-se as subs- tâncias indesejáveis e para a separa- ção dos componentes de uma mistura. As diferentes formas de cromato- grafia podem ser classificadas consi- derando-se diversos critérios, sendo alguns deles listados abaixo: 1. Classificação pela forma física do sistema cromatográfico Em relação à forma física do siste- ma, a cromatografia pode ser subdivi- dida em cromatografia em coluna e cromatografia planar. Enquanto a cro- matografia planar resume-se à croma- tografia em papel (CP), à cromatogra- fia por centrifugação (Chromatotron) e à cromatografia em camada delgada (CCD), são diversos os tipos de cro- matografia em coluna, os quais serão mais bem compreendidos quando classificados por outro critério. 2. Classificação pela fase móvel empregada Em se tratando da fase móvel, são três os tipos de cromatografia: a cro- matografia gasosa, a cromatografia lí- quida e a cromatografia supercrítica (CSC), usando-se na última um vapor pressurizado, acima de sua tempera- tura crítica. A cromatografia líquida apresenta uma importante subdivisão: a cromatografia líquida clássica (CLC), na qual a fase móvel é arrastada através da coluna apenas pela força da gravidade, e a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), na qual se utilizam fases estacionárias de partí- culas menores, sendo necessário o uso de uma bomba de alta pressão para a eluição da fase móvel. A CLAE foi inicialmente denominada cromato- grafia líquida de alta pressão, mas sua atual designação mostra-se mais ATUALIDADES EM QUÍMICA Ana Luiza G. Degani Quezia B. Cass Paulo C. Vieira A cromatografia é um método físico-químico de separação. Ela está fundamentada na migração diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a dife- rentes interações, entre duas fases imiscíveis, a fase fase fase fase fase móvel móvel móvel móvel móvel e a fase fase fase fase fase estacionária estacionária estacionária estacionária estacionária A seção "Atualidades em química" procura apresentar assuntos que mostrem como a química é uma ciência viva, seja com relação a novas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessária redefinição de conceitos. Este artigo apresenta os conceitos básicos da cromatografia. Os diferentes tipos de cromatografia são descritos e classificados considerando-se a forma física do sistema cromatográfico empregado, a fase móvel/estacionária utilizada ou o modo de separação. Especial ênfase é dada à cromatografia em camada delgada, à cromatografia líquida clássica e de alta eficiência e à cromatografia gasosa de alta resolução. cromatografia, sílica, fase móvel, fase estacionária QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Cromatografia N° 7, MAIO 1998

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Acromatografia é um métodofísico-químico de separação.Ela está fundamentada na mi-

gração diferencial dos componentesde uma mistura, que ocorre devido adiferentes interações, entre duas fasesimiscíveis, a fase móvel e a faseestacionária. A grande variedade decombinações entre fases móveis eestacionárias a tornauma técnica extrema-mente versátil e degrande aplicação.

O termo cromato-grafia foi primeira-mente empregado em1906 e sua utilização éatribuída a um botâ-nico russo ao descre-ver suas experiênciasna separação doscomponentes de ex-tratos de folhas. Nesseestudo, a passagemde éter de petróleo (fase móvel) atravésde uma coluna de vidro preenchidacom carbonato de cálcio (fase esta-cionária), à qual se adicionou o extrato,levou à separação dos componentes

em faixas coloridas. Este é provavel-mente o motivo pelo qual a técnica éconhecida como cromatografia (chrom= cor e graphie = escrita), podendolevar à errônea idéia de que o processoseja dependente da cor.

Apesar deste estudo e de outrosanteriores, que também poderiam serconsiderados precursores do uso

dessa técnica, a cro-matografia foi pratica-mente ignorada até adécada de 30, quan-do foi redescoberta. Apartir daí, diversostrabalhos na áreapossibilitaram seuaperfeiçoamento e,em conjunto com osavanços tecnológi-cos, levaram-na a umelevado grau de sofis-ticação, o qual resul-tou no seu grande po-

tencial de aplicação em muitas áreas.A cromatografia pode ser utilizada

para a identificação de compostos, porcomparação com padrões previa-mente existentes, para a purificação de

compostos, separando-se as subs-tâncias indesejáveis e para a separa-ção dos componentes de uma mistura.

As diferentes formas de cromato-grafia podem ser classificadas consi-derando-se diversos critérios, sendoalguns deles listados abaixo:

1. Classificação pela forma física dosistema cromatográfico

Em relação à forma física do siste-ma, a cromatografia pode ser subdivi-dida em cromatografia em coluna ecromatografia planar. Enquanto a cro-matografia planar resume-se à croma-tografia em papel (CP), à cromatogra-fia por centrifugação (Chromatotron) eà cromatografia em camada delgada(CCD), são diversos os tipos de cro-matografia em coluna, os quais serãomais bem compreendidos quandoclassificados por outro critério.

2. Classificação pela fase móvelempregada

Em se tratando da fase móvel, sãotrês os tipos de cromatografia: a cro-matografia gasosa, a cromatografia lí-quida e a cromatografia supercrítica(CSC), usando-se na última um vaporpressurizado, acima de sua tempera-tura crítica. A cromatografia líquidaapresenta uma importante subdivisão:a cromatografia líquida clássica (CLC),na qual a fase móvel é arrastadaatravés da coluna apenas pela forçada gravidade, e a cromatografia líquidade alta eficiência (CLAE), na qual seutilizam fases estacionárias de partí-culas menores, sendo necessário ouso de uma bomba de alta pressãopara a eluição da fase móvel. A CLAEfoi inicialmente denominada cromato-grafia líquida de alta pressão, mas suaatual designação mostra-se mais

ATUALIDADES EM QUÍMICA

Ana Luiza G. DeganiQuezia B. CassPaulo C. Vieira

A cromatografia é ummétodo físico-químico

de separação.Ela está fundamentadana migração diferencial

dos componentes deuma mistura, que

ocorre devido a dife-rentes interações,entre duas fasesimiscíveis, a fasefasefasefasefase

móvelmóvelmóvelmóvelmóvel e a fasefasefasefasefaseestacionáriaestacionáriaestacionáriaestacionáriaestacionária

A seção "Atualidades em química" procura apresentar assuntos quemostrem como a química é uma ciência viva, seja com relação anovas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessáriaredefinição de conceitos.Este artigo apresenta os conceitos básicos da cromatografia. Osdiferentes tipos de cromatografia são descritos e classificadosconsiderando-se a forma física do sistema cromatográficoempregado, a fase móvel/estacionária utilizada ou o modo deseparação. Especial ênfase é dada à cromatografia em camadadelgada, à cromatografia líquida clássica e de alta eficiência e àcromatografia gasosa de alta resolução.

cromatografia, sílica, fase móvel, fase estacionária

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adequada. No caso de fases móveisgasosas, separações podem serobtidas por cromatografia gasosa (CG)e por cromatografia gasosa de altaresolução (CGAR). A diferença entre osdois tipos está na coluna. Enquanto naCGAR são utilizadas colunas capilares,nas quais a fase estacionária é umfilme depositado na mesma, a CGutiliza colunas de maior diâmetroempacotadas com a fase estacionária.

3. Classificação pela faseestacionária utilizada

Quanto à fase estacionária, distin-gue-se entre fases estacionárias sóli-das, líquidas e quimicamente ligadas.No caso da fase estacionária ser cons-tituída por um líquido, este pode estarsimplesmente adsorvido sobre um su-porte sólido ou imobilizado sobre ele.Suportes modificados são considera-dos separadamente, como fases qui-micamente ligadas, por normalmentediferirem dos outros dois em seusmecanismos de separação.

4. Classificação pelo modo deseparação

Por este critério, separaçõescromatográficas se devem à adsorção,partição, troca iônica, exclusão ou mis-turas desses mecanismos.

Para se ter uma visão mais amplados diferentes tipos de cromatografia,os mesmos estão dispostos no diagra-ma da Figura 1.

Dentre os vários tipos de cromato-grafia, especial ênfase será dada àcromatografia em camada delgada(CCD), à cromatografia líquida clássicae de alta eficiência (CLAE) e à croma-

tografia gasosa de alta reso-lução (CGAR).

Cromatografia planarA cromatografia em papel

(CP) é uma técnica de partiçãolíquido–líquido, estando umdeles fixado a um suportesólido. Baseia-se na diferençade solubilidade das substân-cias em questão entre duasfases imiscíveis, sendo geral-mente a água um dos líquidos.O solvente é saturado em águae a partição se dá devido àpresença de água em celulose(papel de filtro). Este método,embora menos eficiente que aCCD, é muito útil para a sepa-ração de compostos polares,sendo largamente usado embioquímica.

A cromatografia em camada delga-da (CCD) é uma técnica de adsorçãolíquido–sólido. Nesse caso, a separa-ção se dá pela diferença de afinidadedos componentes de uma mistura pelafase estacionária.

A Fig. 2 mostra um cromatogramaobtido por CCD no qual se podeobservar a diferença de afinidade dassubstâncias 1 e 2 pela fase estacioná-ria, sendo a substância 1 mais retidaque a 2. Por ser um método simples,rápido, visual e econômico, a CCD é atécnica predominantemente escolhidapara o acompanhamento de reaçõesorgânicas, sendo também muito utiliza-da para a purificação de substânciase para a identificação de frações cole-tadas em cromatografia líquida clássi-ca.

O parâmetro mais importante a serconsiderado em CCD é o fator de

retenção (Rf), o qual éa razão entre a distân-cia percorrida pelasubstância em questãoe a distância percorridapela fase móvel. Osvalores ideais para Rfestão entre 0,4 e 0,6.

A CCD pode serusada tanto na escalaanalítica quanto na pre-parativa. Normalmenteas placas utilizadassão de vidro, com es-

pessura de 3 a 4 mm. Placas analíticasusualmente têm 10 cm x 2,5 cm epreparativas 20 cm x 20 cm.

A sílica gel é a fase estacionáriamais utilizada, sendo seguida pela alu-mina, pela terra diatomácea e pelacelulose. Para a preparação das pla-cas, faz-se uma suspensão do adsor-vente em água, sendo a mesma depo-sitada sobre a placa manualmente oucom o auxílio de um espalhador. Apósa deposição, deixa-se a placa secar aoar. A etapa final da preparação da placaé sua ativação. A sílica, por exemplo,é ativada a 105-110 °C por 30 a 60minutos. A espessura da camada desílica a ser depositada é de 0,25 mmpara placas analíticas e de 1,0 mmpara placas preparativas. Na prepara-ção de placas preparativas, costuma-se adicionar sulfato de cálcio paramelhorar a adesão à placa de vidro.No mercado existem placas analíticase preparativas pré-fabricadas, as quaisapresentam a fase estacionária deposi-tada sobre uma lâmina de materialplástico ou de alumínio, sendo estasde maior eficiência.

As amostras a serem analisadaspor CCD devem ser aplicadas a apro-ximadamente 1 cm da base inferior daplaca, com a ajuda de um capilar.

Após a aplicação da(s) amostra(s)sobre a placa, a mesma deve serintroduzida numa cuba contendo afase móvel adequada. Cubas cromato-

Figura 1: Representação esquemática dos diferentes tiposde cromatografia.

Figura 2: Esquematização de um cromatogramaobtido por CCD.

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gráficas geralmente são de vidro, comfundo chato, e devem ter suas paredeslaterais internas recobertas com papelde filtro, para facilitar sua saturaçãocom os vapores do solvente.

A escolha da fase móvel, quegeralmente é constituída por um oumais solventes, não é tarefa simples.No entanto, uma vez que as fasesestacionárias mais usadas são extre-mamente polares, não devem serutilizados solventes pouco polares, quenão removeriam os compostos doponto de aplicação, nem solventesmuito polares, capazes de arrastar oscomponentes da amostra até o topoda placa. Em vista disso, melhoresresultados são obtidos com misturasde solventes, de modo a se obter umapolaridade média em relação à polari-dade dos componentes da amostra.

A placa é deixada na cuba, onde osolvente irá subir por capilaridade, atéque ele esteja a aproximadamente 2cm da extremidade superior. Ao ascen-der, o solvente irá arrastar mais os com-postos menos adsorvidos na faseestacionária, separando-os dos maisadsorvidos.

A linha de chegada da fase móveldeve ser marcada e a placa deve estarseca. Como a maioria dos compostosorgânicos é incolor, faz-se necessáriaa utilização de um processo de revela-ção para que se possa analisar oresultado.

Para a revelação de placas de CCD,existem processos destrutivos e nãodestrutivos. Os métodos não destruti-vos mais utilizados são a utilização de1) placas onde a fase estacionária éfluorescente ou 2) iodo. O primeirobaseia-se na utilização de substânciasfluorescentes misturadas à sílicaquando da preparação das placas,possibilitando a revelação dos com-postos em câmaras de luz ultravioleta.O segundo vale-se do fato de que oiodo complexa-se com compostosinsaturados, de modo que placas queos contenham, ao serem colocadasem uma câmara contendo cristais deiodo, apresentarão pontos amarron-zados.

Os processos destrutivos consis-tem na oxidação dos compostos sobrea placa, pulverizando-os com soluçãoaquosa de um oxidante orgânico e/ou

um ácido mineral, submetendo-se aplaca a altas temperaturas (~110 °C)por alguns minutos. Os compostosorgânicos oxidados serão revelados naforma de pontos escuros.

Cromatografia em coluna

Cromatografia líquida clássica

Esta técnica é muito utilizada paraisolamento de produtos naturais epurificação de produtos de reaçõesquímicas. As fases estacionárias maisutilizadas são sílica e alumina, entre-tanto estes adsorventes podem servirsimplesmente como suporte para umafase estacionária líquida. Fases esta-cionárias sólidas levam à separaçãopor adsorção e fases estacionáriaslíquidas por partição. Suportes quimi-camente modificados também têmsido usados, sendo o processo de se-paração misto neste caso.

Esses suportes são acondicio-nados em tubos cilíndricos geralmentede vidro, de diâmetros variados, osquais possuem uma torneira em suaextremidade inferior. A Fig. 3 é umailustração de uma coluna cromato-gráfica empacotada com sílica, sendomostrados seus demais constituintes.

Os adsorventes possuem partí-culas na faixa de 60-230 mesh, demodo a possibilitar um fluxo razoáveldo solvente através da coluna.

O uso de sílica de partícula menor(230-400 mesh) como adsorvente paraessas colunas requer a utilização deum sistema de bombeamento para o

empacotamento e eluição, sendoconhecido como Cromatografia Flash.

A principal etapa ao se utilizar essatécnica é o empacotamento, o qual,entre outros fatores, definirá a eficiên-cia da separação. Enquanto a aluminaé empacotada em sua forma original,a sílica deve sê-lo na forma de sus-pensão.

À coluna adiciona-se uma pequenaquantidade de solvente e deposita-sena sua extremidade inferior um chu-maço de algodão com espessura deaproximadamente 0,5 cm para impedira passagem de partículas da faseestacionária. A adição de sílica deveser feita com a torneira semi-aberta.O adsorvente é adicionado lentamenteà coluna fixada na posição vertical,batendo-se continuamente ao longoda mesma para que todo o ar sejaexpulso, de modo a se obter umacompactação uniforme. A existênciade ar entre as partículas leva à forma-ção de canais na coluna, os quaisalargam as bandas eluídas.

Nunca se deve permitir que o níveldo solvente desça abaixo do nível doadsorvente, o que poderia acarretarrachaduras, comprometendo a eficiên-cia da coluna.

Após o empacotamento, é conve-niente que se passe uma certa quan-tidade do eluente (duas a três vezes ovolume da coluna) a ser utilizadoatravés da coluna antes da introduçãoda amostra. Esta é adicionada àcoluna com o auxílio de uma pipetano momento em que o nível do eluenteesteja o mais próximo possível doadsorvente. Esse procedimento ame-niza o alargamento das bandas aserem eluídas. Tendo a amostra pene-trado no adsorvente, o eluente é entãoadicionado cuidadosa e continua-mente.

A escolha do eluente segue osprincípios discutidos em CCD, masneste caso ele pode ser mudado du-rante o processo cromatográfico. Se,por exemplo, a amostra é constituídapor duas substâncias, uma apolar eoutra polar, utiliza-se primeiramenteum eluente apolar e em seguida umeluente polar.

O volume das frações a seremrecolhidas é função da quantidade deamostra e do grau de dificuldade da

Figura 3: Ilustração de uma coluna croma-tográfica.

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separação. Para análise das mesmas,recorre-se a alguma técnica auxiliar,usualmente CCD.

Em vista de que geralmente algu-mas partículas da amostra perma-necem irreversivelmente adsorvidas àfase estacionária, a cada separação énecessário um tratamento para a recu-peração do adsorvente.

Cromatografia líquida de altaeficiência (CLAE)

O grande avanço na cromatografiaem coluna foi o desenvolvimento e autilização de suportes com partículasdiminutas responsáveis pela altaeficiência, as quais tornam necessárioo uso de bombas de alta pressão paraa eluição da fase móvel, devido a suabaixa permeabilidade. A Fig. 4 mostraum equipamento típico de CLAE.

As fases móveis utilizadas em CLAEdevem possuir alto grau de pureza eestar livres de oxigênio ou outros gasesdissolvidos, sendo filtradas e desga-seificadas antes do uso.

A bomba deve proporcionar aosistema vazão contínua sem pulsoscom alta reprodutibilidade, possibilitan-do a eluição da fase móvel a um fluxoadequado.

As válvulas de injeção usadaspossuem uma alça de amostragempara a introdução da amostra com umaseringa e duas posições, uma para o

preenchimento da alça e outra parasua liberação para a coluna. Existemalças de diversos volumes, sendoutilizadas geralmente alças na faixa de5-50 µL para injeções analíticas e 0,5-2 mL para preparativas.

As colunas utilizadas em CLAE sãogeralmente de aço inoxidável, comdiâmetro interno de cerca de 0,45 cmpara separações analíticas e na faixade 2,2 cm para preparativas. O com-primento é variável, sendo comunscolunas analíticas de 10-25 cm e pre-parativas em torno de 25-30 cm. Essascolunas são reaproveitáveis, sendoempacotadas com suportes de altaresolução, não sendo necessária suaregeneração após cada separação.

O detector mais utilizado paraseparações por CLAE é o detector deultravioleta, sendo também empregadosdetectores de fluorescência, de indícede refração, e eletroquímicos, entreoutros. Detectores de polarimetria paraCLAE, recentemente desenvolvidos,diferenciam compostos quirais, atravésda rotação de seus estereoisômerosfrente à luz plano-polarizada.

O registro de dados pode ser feitoatravés de um registrador, um integra-dor ou um microcomputador.

A Fig. 5 ilustra uma separaçãoenantiomérica por CLAE.

A versatilidade desta técnica resideno grande número de fases estacio-

nárias existentes, as quais possibilitamanálises e separações de uma amplagama de compostos com alta eficiên-cia. Tem sido utilizada em várias áreasda ciência, no acompanhamento desínteses, em análises de pesticidas,feromônios, no isolamento de produtosnaturais e sintéticos e na produção econtrole de qualidade de medica-mentos, dentre tantas outras apli-cações.

As separações em CLAE podem sedar por adsorção, partição ou ambos.O suporte mais comumente utilizadoé a sílica. O uso de fases estacionáriaslíquidas adsorvidas a um suporte nãotem grande aplicação devido à perdade fase estacionária, mas o uso desuportes modificados, os quais foramdesenvolvidos como conseqüência doproblema acima, possibilita a produ-ção de uma imensa variedade de colu-nas com diferentes propriedades etipos de seletividade. As fases assimobtidas são chamadas de quimica-mente ligadas.

Essas fases, dependendo da modi-ficação feita ao suporte, podem atuarno modo normal, reverso ou ambos.Na cromatografia em fase normal, afase estacionária é mais polar que afase móvel, e em fase reversa, a fasemóvel é mais polar.

Separações analíticas são predo-minantemente realizadas em fasereversa, sendo a fase C18 (octadecil-sílica) a mais usada, ao passo que sãopreferidas fases que atuem no modo

Figura 4: Equipamento básico de CLAE. a) reservatório da fase móvel; b) bomba de altapressão; c) válvula de injeção; d) coluna; e) detector e f) registrador.

Figura 5: Cromatograma mostrando aseparação dos enantiômeros do tetramisol,princípio ativo de vários medicamentosusados para ascaridíase.

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Para saber maisCOLLINS, C.H.; BRAGA, G.L. e BO-

NATO, P.S. Introdução a métodos croma-tográficos. 5ª ed. Campinas: Editora daUnicamp, 1993.

LOUGH, W.J. e WAINER, I.W. High Per-formance liquid chromatography: fun-damental principles and practice. BlackieAcademic and Professional, 1995.

CHAVES, M.H.; Análise de extratos deplantas por CCD: uma metodologia apli-cada à disciplina “Química Orgânica”.Química Nova, v. 20, n. 5, p. 560-562,1997.

ANDRADE, J.B.; PINHEIRO, H.L.C.; LO-PES, W.A.; MARTINS, S.; AMORIM, A.M.M.e BRANDÃO, A.M. Determinação de cafeí-na em bebidas através de cromatografialíquida de alta eficiência (CLAE). QuímicaNova, v. 18, n. 4, p. 379-381, 1995.

NETO, F.R.A.; CGAR em análise deresíduos. Química Nova, v. 18, n. 1, p.65-67, 1995.

normal para fins preparativos, em vistade que separações no modo reversoutilizam fases móveis aquosas.

Entre as fases quimicamente liga-das, merecido destaque deve ser dadoàs fases estacionárias quirais, as quaispossibilitam a separação direta deenantiômeros. Para tanto, é necessáriaa presença de um seletor quiral comoparte integrante da fase estacionária.

Cromatografia gasosa de altaresolução (CGAR)

Em contraste à CLAE, o principalmecanismo de separação da cromato-grafia gasosa está baseado na parti-ção dos componentes de uma amostraentre a fase móvel gasosa e a faseestacionária líquida. A utilização de fa-ses estacionárias sólidas, as quaislevariam à separação por adsorção,apresenta poucas aplicações.

A cromatografia gasosa é uma dastécnicas analíticas mais utilizadas.Além de possuir um alto poder deresolução, é muito atrativa devido àpossibilidade de detecção em escalade nano a picogramas (10–9-10-12 g). Agrande limitação deste método é anecessidade de que a amostra sejavolátil ou estável termicamente, embo-ra amostras não voláteis ou instáveispossam ser derivadas quimicamente.Pode ser utilizada para separaçõespreparativas apenas na faixa demicrogramas a miligramas, não sendomuito empregada para esse fim. A Fig.

6 mostra os componentes básicos deum cromatógrafo gasoso.

Como dito anteriormente, a diferen-ça entre CG e CGAR está na coluna.Colunas de CGAR são maiores emcomprimento, menores em diâmetro,possuem a fase líquida como um filmeaplicado diretamenteàs paredes do tubo dacoluna e são mais efi-cientes.

Essas colunas sãotubos longos de me-tais como aço ou co-bre, vidro ou teflon.Colunas de CG têmdiâmetro de cerca de3 mm e comprimentoem torno de 3 m, aopasso que colunas de CGAR têmdiâmetro na faixa de 0,15-0,75 mm ecomprimentos variados, usualmenteentre 10 m e 100 m.

Os gases utilizados como fasemóvel devem ter alta pureza e serinertes em relação à fase estacionária.Hidrogênio, nitrogênio e hélio são osmais usados.

A injeção da amostra é feita atravésde microsseringas ou válvulas seme-lhantes às utilizadas em CLAE.

Os detectores de maior aplicaçãosão o detector por ionização emchama e o detector de condutividadetérmica. Os dados podem ser obtidosatravés de um registrador po-tenciométrico, um integrador ou um mi-

crocomputador, sen-do as amostrasidentificadas por seustempos de retenção.

Nesses equipa-mentos é necessárioo controle da tempe-ratura do injetor, dacoluna e do detector,as quais são man-tidas por termostatos.Como a temperaturaé um fator extrema-mente importante,grande parte dasanálises por croma-tografia gasosa é feitacom programação detemperatura, obten-

Figura 6: Componentes básicos de um cromatógrafo gasoso.a) cilindro do gás de arraste mantido sob alta pressão; b) injetor;c) coluna; d) detector e e) registrador.

do-se melhor separação com picosmais simétricos em menor tempo.

Para o empacotamento de colunasde CG, geralmente empregam-seterras diatomáceas como suporte. Aescolha da fase estacionária é de fun-damental importância, sendo ela o

componente crítico dacoluna. As fases esta-cionárias podem serpolares, apolares ouquirais. Fases polaressão baseadas em po-lietileno glicol puro oumodificado e apolaresem metilsiloxano puroou modificado. As fa-ses quirais mais co-muns são compostas

de ciclodextrinas.Atualmente, espectrômetros de

massa têm sido acoplados a equipa-mentos de cromatografia gasosa,possibilitando a identificação imediatadas substâncias presentes na amostra.

Ana Luiza G. Degani, mestre em químicaorgânica, é doutoranda na UFSCar. Quezia B.Quezia B.Quezia B.Quezia B.Quezia B.CassCassCassCassCass, bacharel em farmácia pela UFPE e Ph.D. emquímica pela City University, Londres, é docente doDepartamento de Química da UFSCar, em São Carlos– SP. PPPPPaulo C. Vaulo C. Vaulo C. Vaulo C. Vaulo C. Vieiraieiraieiraieiraieira, licenciado pelo DQ-FFCL-USP, em Ribeirão Preto, doutor em ciências (químicaorgânica) pela USP, é docente do Departamento deQuímica da UFSCar, em São Carlos – SP.

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A cromatografiagasosa é uma dastécnicas analíticas

mais utilizadas. Alémde possuir um alto

poder de resolução, émuito atrativa devido à

possibilidade dedetecção em escala de

nano a picogramas