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Traduccion: Embajada de Brasil, 2016

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Traduccion: Embajada de Brasil, 2016

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O Museu Cerralbo apresenta a singularidade de ser

um dos escassos exemplos de palacete madrilenho do

século XIX, que conserva a sua decoração original.

Foi a residência do XVII marquês de Cerralbo, Dom

Enrique de Aguilera (1845-1922) e de sua família,

formada pela mulher dona Inocencia Serrano y Cerver

(1816-1896), viúva do Dom Antonio del Valle, e dos

dois filhos desse primeiro casamento, Dom Antonio

del Valle y Serrano (1846-1900), I marquês de Villa-

Huerta, e dona Amelia (1850-1927), marquesa de

Villa-Huerta depois do falecimento de seu irmão.

Como palácio-museu é um referente obrigatório para

conhecer a forma de vida da aristocracia madrilenha

do fim do século XIX e começo do XX.

Além disso, como museu de colecionador, reflete o

gosto artístico da sua época, um conjunto considerado,

naquele momento, uma das coleções privadas mais

importantes do país e, sem dúvida, a mais completa

do seu tempo.

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O edifício, construído entre 1883 e 1893, foi concebido, no primeiro

momento, como moradia e como lugar onde expor de forma harmônica as

obras de arte, antiguidades e curiosidades reunidas pelo afã colecionador

dos seus proprietários. Antigo palácio, hoje museu, consta de quatro

andares: térreo, primeiro andar, andar principal e mansardas. Na cave

e nas mansardas, antigamente destinados aos serviços do palácio, tais

como cozinhas, despensas, cocheiras, cortes, guada-arreios, caldeiras e

quartos de criados, hoje se encontram a Sala de Atos e as áreas de uso

interno: escritórios, laboratórios de restauração e armazéns.

A visita transcorre pelos outros dois andares, o primeiro, destinado à

vida quotidiana dos marqueses, e o segundo, o Principal, dedicado à

vida social.

A inalterabilidade à passagem do tempo é apenas aparente, uma vez que

às lógicas mudanças realizadas na casa pela variação das circunstâncias

familiares, juntaram-se, primeiro, o terrível acontecimento da Guerra

Civil (1936-39) 3, depois, as reformas museológicas do século xx.

Desde 2002 vem-se realizando um minucioso trabalho focado na

recuperação dos ambientes originais do palácio. Isto significa o sacrifício

da apreciação individualizada das obras de arte em favor da leitura global

da sala, considerada, agora, como uma peça de interesse artístico por

si própria.

O MUSEU

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O TÉRREO

Neste andar, onde eram recebidas as visitas de con-

fiança, transcorreu a vida diária da família.

O seu uso doméstico e as circunstâncias familiares e his-

tóricas provocaram no andar sucessivas transformações.

A primeira seria após o falecimento do marquês, Dom

Antonio, em 1900, e afetou fundamentalmente a ala es-

querda. Grande parte das quartos que compreendiam

seus apartamentos privados ficaram transformados em

gabinetes e salas de verão.

Mas, sem dúvida, a intervenção mais radical realizou-se

na década de 40 do século xx, e supôs o sacrifício dos

quartos e outras salas de diário e de serviço, naquele

momento carentes de interesse museológico, em favor

de umas galerias nas quais expor, de modo desafogado

e didático, as coleções artísticas.

Essa é a razão pela qual a apresentação expositiva desta

planta realizou-se a partir da recriação e não da recupe-

ração fidedigna dos espaços, como aconteceu no Andar

Principal. Esta recriação de ambientes fez-se, quando foi

possível, com peças que originariamente se encontra-

vam nestes quartos; porém, para completar os espaços,

também se recorreu a peças da coleção Villa-Huerta,

procedentes do palácio dos marqueses em Santa M.ª de

Huerta (província Soria), e, embora em menor medida,

a peças adquiridas no mercado de antiguidades.

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1 Sala de Estar de Verão e Galeria

2 Jardim

3 Salão Vermelho

4 Salão Amarelo

5 Salinha Cor-de-rosa

6 Quarto do Marquês de Cerralbo

7 Corredor

8 Grande Portão e Escada de Honra

9 Sala de Estar de Inverno e Capela

10 Salão de Confiança e Quarto da marquesa de Villa-Huerta

11 Sala de Jantar e Salão de Música

TÉRREO

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Alegoria da EucaristiaEscola espanholaSegunda metade do século XVIIÓleo sobre telaN.º inv. VH 939

Na coleção de pintura do Museu predominam as escolas espanhola e italiana e, com respeito às obras espanholas, a pintura religiosa dos séculos XVII e XVIII. Este quadro representa uma visão mística, a apoteose da Eucaristia. Relacionou-se com Acisclo Antonio Palomino, pintor de Córdoba.

São José com o Menino JesusEscola italiana 1600-1630Óleo sobre tela N.º inv. VH 1

O anônimo autor desta obra inspirou-se ao compor a figura do Menino dormindo no colo do Santo em uma Madonna com o Menino do pintor Guido Reni, mestre da escola bolonhesa.

Santo Agostinho e Santa Mônica Girolamo Muziano 1580-1590Óleo sobre tela Nº inv. 4905

É muito semelhante ao quadro conservado na igreja de Santo Agostinho de Perugia, obra do mesmo pintor, que executou duas versões desta composição para a basílica de São Pedro em Roma e outras três destinadas a outras igrejas italianas.

Relógio de paredeJ. Wats. London Século XVIII Ferro e bronze N.º inv. 4838

Modelo inglês de relógio-despertador de uso doméstico que funciona com pesos, conheci-do como lantern clock. É o mais antigo dos setenta relógios do Museu Cerralbo. Os que fazem parte da decoração das salas mantêm-se em perfeito funcionamento.

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A Sala de Estar da ala de verão foi, antes do falecimento do Marquês Antonio del Valle, o lugar de receber correspondente aos seus apartamentos privados. A partir de 1900, esta zona do palácio passou a ser utilizada, em primavera e nos inícios do verão, pelo marquês de Cerralbo e pela sua enteada, dona Amelia, pela vantagem que tinha a sua orientação e abertura ao Jardim, antes da mudança anual ao palácio de Santa Mª de Huerta, na província de Soria. A Sala de Estar prolonga-se numa Galeria com saída ao Jardim, na qual se mostra pintura de temática religiosa, antigamente um longo corredor que incluía uma escada de comunicação interior com o Piso Principal que desapareceu na reforma dos anos quarenta do século XX.

SALA DE ESTAR DE VERÃO E GALERIA

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Busto de mulher romanaItália, Séculos XVIII-XIX MármoreNº inv. 1026

No Jardim estão expostos os bustos clássicos que adornavam o jardim do palácio de Santa María de Huerta (Soria), propriedade da marquesa de Cerralbo e dos seus filhos, onde a família passava os meses de verão e onde o Marquês estudava os materiais arqueológicos das jazidas que escavou na zona do Alto Jalón

JavaliFlorençaSéculo XVI MármoreNº inv. VH 1023

Procede do palácio madrileno de Medinaceli, demolido em 1890. Pertenceu à coleção de esculturas clássicas de Per Afán de Ribera,

vice-rei de Nápoles. Cópia o javali romano da galeria florentina dos Uffizi, que, por sua vez, reproduz uma obra helenística.

Capitel romanoArcóbriga (Monreal de Ariza, Zaragoza)Fins do século I d.C. Arenito talhado Nº inv. 6143

Capitel coríntio pertencente a pilastra de esquina situada no pórtico do pátio de casa romana. Foi encontrado nas primeiras esca-vações do Marquês de Cerralbo, realizadas entre 1908 e 1911, na cidade celtibérico-ro-mana de Arcóbriga.

A aparência atual do Jardim é uma recriação de 1995. Do original conserva-se muito pouca documentação, apenas um rascunho do próprio marquês de Cerralbo. Esse projeto previa um eixo transversal que dividia o espaço em dois triângulos e unia a fachada do palácio com o ângulo do belvedere o pavilhão-miradouro, situado na esquina da vala e, no centro, um amplo espaço irregular, rodeado de caminhos curvos. A construção, nos anos quarenta do século passado, de um pavilhão imitando palácio para uso interno do Museu, partiu o eixo idealizado pelo Marquês. O jardim sofreu, deste modo, uma alteração da qual não pôde recuperar-se. Porém, a intervenção realizada permite desfrutar hoje de um espaço ajardinado de corte clássico-romântico, no qual se adivinha a intenção do Marquês. O espaço central interpretou-se como um estanque, a modo de espelho de água, no qual se refletem diversas esculturas, que, junto com os bustos de imperadores romanos, encostados aos muros da vala e do palácio, conseguem uma ambientação própria de certos jardins italianos enfeitados com elementos clássicos, enquanto que os caminhos curvos e a vegetação espessa aproximam-no ao jardim melancólico de estilo inglês.

JARDIM

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Fernando de Aguilera y Contreras, XV Marquês de CerralboValentín Carderera1833Óleo sobre tela Nº inv. VH 496

Retrato do tio-avô do Sr. Enrique de Aguilera, fundador deste Museu, pintado no ano da sua nomeação como Cavaleiro Maior da Real Cavalaria no começo do reinado de Isabel II. Sobre o ombro leva um chicote e sobre a mesa encontra-se a chave de Câmara e de aposento do Palácio outorgada junto com o seu cargo.

Don Jaime fardado, a cavaloA. Mayer (estudo) Áustria, cerca de 1893 Gelatina / Colodião EDNº inv. 6177

Fotografia do filho e herdeiro de dom Car-los de Borbón, a modo de retrato com uma certa regia; o jovem monta, fardado e majes-toso, seu cavalo parado. Está dedicada carin-hosamente à marquesa de Cerralbo.

Telefone Ericsson1890-1900 Madeira, baquelita, metal, seda Nº inv. 7262

Intercomunicador privado modelo BC 1300 (405) que seguramente esteve comunicado com um telefone semelhante situado no To-rreão onde se encontrava o Arquivo, por volta de 1900, nas mansardas da casa. Este modelo aparece no catálogo Ericsson de 1897.

Anjos cantoresLudovico Carracci 1600-1610Óleo sobre tela Nº inv. VH 490

Atribuído ao último período do pintor bolonhês e provável fragmento de outro quadro, representa grandes rostos de um coro de anjos em composição fortemente cromática, mas claramente definidos pelo marcado desenho e o forte claro-escuro.

É o primeiro de uma sequencia de três salões com vistas ao Jardim que devem seu nome, seguindo o costume da época, ao tom dos seus estofados e tapeçarias. A viva cor deste salão está arrematada na zona inferior por uma franja de papel pintado, uma alternativa ao rodapé conforme a moda do fim do século XIX.

Este salão foi utilizado como escritório, onde o Marquês atendia administradores e fornecedores sem necessidade de que passassem pelo resto da casa. A existência destes quartos, situados no térreo, nos que o proprietário trabalhava na administração das suas quintas e gerenciava suas rendas e negócios era habitual nos palácios urbanos da nobreza e da alta burguesia.

SALÃO VERMELHO

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José de Aguilera y Contreras, XVI Marquês de CerralboVicente López ou Bernardo López Circa 1840 Óleo sobre tela Nº inv. VH 502

Avô de dom Enrique de Aguilera, foi retra-tado pelo pintor Vicente López ou pelo seu filho Bernardo, seguidor do estilo do pai, e como ele, pintor de câmara da rainha Isabel II e retratista da moda em Madrid entre a alta burguesia e a aristocracia.

Inocencia Serrano y Cerver vestida de “charra” Roupagem e senhora (estudo) - Salamanca, 1878-1896 Gelatina/Colodião ED iluminadaNº inv. VH 984

Fotografia iluminada da marquesa de Cerralbo com indumentária típica de Salamanca. Obra de um fotógrafo francês ativo em diversas cida-des espanholas acompanhado de sua esposa, a magnífica iluminação assinada por “Ch. de Bar.” Provavelmente pintado em París.

Agustín de Aguilera y Gamboa de fardaOtero y Colominas (estudo)Havana, 1888-1889 AlbuminaNº inv. VH 982

Retrato fotográfico de um dos irmãos do Marquês de Cerralbo, Agustín de Aguilera y Gamboa, conde de Alba de Yeltes, realiza-do num famoso estudo cubano. Veste farda de riscado e adota a pose clássica do retra-to militar.

Lustre Boêmia ou Françasegunda metade do século XIXVidro, bronze dourado Nº inv. VH 1006

Exemplo da evolução do século XIX de uma das criações suntuosas dos vidreiros da Boêmia, de cristal dobrado e capa exterior de vidro ou cristal rubi em ouro, gravado e talhado à mola, que, a partir de 1830, foi substituído por vidro vermelho de cobre, abaratando a produção.abaratando la producción.

Sala de jantar de diário e, ao mesmo tempo, gabinete de confiança, conforme informa o próprio mobiliário composto por mesa de palma de mogno maciço rodeada de seis cadeiras à inglesa e por conjunto de cadeiras das chamadas “de gabinete”, que consta de vários assentos, poltronas, cadeiras e sofás, dispostos em grupos de conversa. Os assentos estão estofados com molas baixas e envolventes e cobertos em damasco de seda amarela em conjunto com as cortinas das varandas.

A decoração da parede apresenta o papel pintado original, o único que se conserva em todo o palácio. Estes papéis, impressos com procedimentos mecânicos, à moda de meados do século XIX, são uma solução prática face aos antigos e muito mais caros forrados em tecido e uma boa amostra da aplicação dos procedimentos industriais às artes decorativas.

SALÃO AMARELO

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Guarda-joiasCirca 1880 Vidro e metal dourado Nº inv. 26975

Modelo de guarda-joias em forma de livro, baseado nas caixas realizadas com placas de cristal de rocha durante o Renascimento, épo-ca à qual também corresponde o desenho de arabescos gravado sobre as suas asas. Contêm várias condecorações e uma encomenda femi-nina da Ordem de Isabel a Católica.

Antonio María del Valle y AngelínJ. Heigel1830Aquarela sobre cartão Nº inv. VH 504

Miniatura-retrato do que fora o primeiro marido de Inocencia Serrano y Cerver, marquesa de Cerralbo. Assinada por Joseph Heigel, miniaturista alemão estabelecido em París entre 1817 e 1837.

Inocencia Serrano y Cerver com a sua filha Amelia Escola española Circa 1855 Aquarela sobre cartãoNº inv. 505

Antonio María del Valle com o seu filho AntonioEscola espanhola Circa 1855 Aquarela sobre cartão Nº inv. 506

Estes dois retratos pintados com técnica de miniatura mostram em pares os membros da família del Valle Serrano, Inocencia (1816- 1896) e a sua filha Amelia (1850-1927), e Antonio del Valle (falecido em 1863) com o seu filho Antonio (1846-1900).

Em contraposição às duas salas anteriores, nas quais se recuperou a decoração original, esta sala foi recriada como gabinete da marquesa de Villa-Huerta com parte do mobiliário por ela legado para passar a fazer parte do Museu. A recriação fez-se ao modo das saletas de companhia, ao gosto das damas oitocentistas, em que resultavam imprescindíveis as cadeiras cômodas nas quais a dona da casa pudesse sentar-se de forma relaxada e sem cerimônia. É fácil imaginar aqui a senhorita Amelia conversando em companhia de alguma amiga, enquanto contemplavam a floração da primavera através da varanda aberta para o Jardim ou bordando enquanto partilhavam uma leitura por turnos a viva voz ou, sozinha, sentada ao escritório feminino marcado com a sua inicial, a escrever cartas, cartões de convites ou bilhetes de agradecimento.

SALETA COR-DE-ROSA

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CamaMaiorca ou Catalunhaséculo XIX Madeira ebonizadaNº inv. 28016

Foi adquirida recentemente no mercado da arte para completar o mobiliário do quarto do Marquês. De tradição barroca, a cabeça e o pés estão formados com vários corpos de barras torneadas arrematadas de modo pon-tiagudo.

Cômoda-escritórioEspanha - possivelmente Madrid, cerca de 1815 Madeiras de pinho e no-gueira, latão douradoINº inv. 5144

Móvel com dupla funcionalidade, composto por quatro gavetas, as três inferiores para guardar roupa e a superior para abrigar uma escrivaninha. A frente desta última gaveta é extensível, para ser utilizada como tabuleiro para escrever em pé. No fundo, apresenta pequenas gavetas para guardar a tinta, o papel, as penas, o lacre e o carimbo.

Relógio despertador com luzFrança?, Segunda metade do século XIX Madeira e metal Nº inv. VH 1122

Relógio de mesa portátil, que funcionava com seis das pioneiras pilhas francesas. Está provido de despertador com comutador de acendido, lâmpada incandescente para ver a hora, e acen-dedor de gasolina com mecanismo elétrico, também comutável.

O Marquês de Cerralbo com farda de galaManuel CompañyMadrid, 1885-1909 Gelatina/Colodião ED Nº inv. 6181

Retrato fotográfico do Marquês de Cerralbo com indumentária de gala na qual destacam o chapéu com penas e o espadim de Corte. Manuel Compañy foi um dos fotógrafos mais conhecidos no Madrid dos fins do século XIX, chegou a ter até três estudios em atividade simultaneamente.

Numa sociedade em que primavam a exibição e as aparências, os quartos íntimos concebiam-se com grande austeridade, em contraste com a opulência e suntuosidade das salas de receber. É o caso deste quarto, recriado a partir do inventário da casa, que conta com parte do mobiliário original e com algumas peças adquiridas no comércio atual de antiguidades. Consta, como era habitual, de cama com colchão, que podia ser de felpa ou de lã, uma mesinha de cabeceira alta para guardar o urinol, um armário roupeiro e uma cômoda com gavetas em que se guardavam colarinhos, roupa branca, coletes ou luvas e que tinha a dupla função de escritório. Relacionados com a higiene diária encontramos uma barbearia – espelho de inclinação regulável para fazer a barba e aparar o bigode– um conjunto de louça estampada composto de jarro e bacia.

Na poltrona aos pés da cama, faleceu o Marquês em 27 de agosto de 1922.

QUARTO DO MARQUÊS DE CERRALBO

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Dom Carlos de Borbón e dona Berta com indumentá-ria tradicionalistaG. ContariniVenecia, 1896 AlbuminaNº inv. 6173

Fotografia autografada do aspirante ao trono da Espanha, Carlos de Borbón, com farda carlista, e da sua segunda esposa Berta de Rohán, com mantilha espanhola. Contarini estudou em Veneza, onde o casal tinha fixada a sua residência oficial.

Grupo nos jardins de Santa María de HuertaSantiago OñateCalatayud (Zaragoza) 1870-1900 AlbúminaNº inv. 6176

Na imagem podemos distinguir os mem-bros da família, Enrique, Inocencia, Antonio e Amelia, nos jardins do palácio e quinta de recreio de Santa María de Huerta (Soria). O fotógrafo aragonês foi habitual colaborador do Marquês.

A Junta (Assembleia) de Distrito de IgualadaJ. SagristáIgualada (Barcelona),sobre 1892 AlbúminaNº inv. FF 2673

Fotografia dedicada pelos membros de una junta (assembleia), organização territorial básica do carlismo. Como representante po-lítico de dom Carlos, o Marquês percorreu ativamente Espanha alentando os seus parti-dários, conseguindo assim criar um partido de corte moderno.

Dom Carlos de Borbón y Austria-Este, Duque de MadridG. AtamVeneza, sobre 1890 CarvãoNº inv. 5379

Retrato enviado de Veneza ao Marquês de Cerralbo por dom Carlos de Borbón em 1893, em agradecimento pelos seus serviços. O duque veste farda de Capitão-Geral com cha-pela (chapéu ou boné próprio do Norte, que adotaram os carlistas) e a sua figura está desen-hada com uma técnica de claro-escuro tão pre-cisa que parece uma fotografia.

Por este Corredor, comunicado com a antiga escada de serviço, circulavam os criados pro-cedentes das cozinhas e da adega para atender a sala de jantar. Recentemente, reuniram-se aqui algumas das recordações carlistas conservadas na casa relacionadas com a afiliação política do marquês de Cerralbo.

CORREDOR

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Matrona romanaSegunda metade do século II d.C. MármoreNº inv. 44

Jovem matrona com a cabeça descoberta para ressaltar o reconhecimento e a liberdade que a mulher romana foi adquirindo com a passagem do tempo. Apresenta vários restauros em forma de marcas de grampos de época antiga bem como acrescentados do século XIX.

Tapeçaria dos III Duques de PastranaManufatura de Pastrana - Circa 1625 Lã e seda Nº inv. 55

Magnífico exemplo da escassa produção conservada da manufatura de tapeçarias estabe-lecida em Pastrana (na província espanhola de Guadalajara) por Francisco Tons, mestre tape-ceiro de Amberes, ao que se atribui este pano pela sua semelhança com as duas únicas tapeça-rias que mostram a sua marca.

Santo Domingos en SorianoAntonio de PeredaCirca 1655 Óleo sobre tela Nº inv. 56

Pertenceu ao retábulo da capela do marquês de La Lapilla destruída no incêndio que arrasou o madrilenho Colégio de Atocha em 1872. Dom Enrique de Aguilera, capelão, recuperou esta obra que representa o milagre acontecido em 1530 no convento dominicano de Soriano (Itália).

EscudoSobre 1893 Gesso estucado

Nº inv. 29322

À direita, armas do Marquês de Cerralbo, Grande de Espanha (Par do Reino), que também ostentava os títulos de Marquês do Sacro Império Romano, de Almarza e de Campo Fuerte, conde de Alcudia, de Villalobos e de Foncalada. À esquerda, armas das ascendências da sua mulher: Serrano, Soler e Cerver.

O saguão está dotado, como outros muitos portões de Madrid, de duas enormes portas iguais cuja função, hoje esquecida, era permitir o acesso das carruagens de convidados e de fornecedores por uma delas, e a saída pela outra, facilitando assim as complicadas manobras com as cavalarias. De outra parte, os coches da casa continuavam o trajeto até o começo da escada para que os senhores pudessem descer com comodidade, enquanto o cocheiro acedia ao pátio interior onde estavam as cavalariças e o guarda-arreios.

A Escada de Honra era um dos espaços de mais cenografia nestes palacetes oitocentistas; nela era importante exaltar o prestígio social dos proprietários da casa. Na do palácio Cerralbo destacam-se o corrimão de ferro forjado que pertenceu ao antigo Mosteiro das Salesas Reais da rainha Dona Bárbara de Bragança, bem como o grande brasão com as armas do casal Cerralbo, encaixado entre duas tapeçarias do século XVII: uma de Bruxelas, com escudos quartelados dos Carvajal, Padilla, Acuña e Enríquez, e outro de Pastrana com as armas dos Silva, Mendoza e De La Cerda.

GRANDE PORTÃO E ESCADA DE HONRA

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Felipe IIIEscola espanhola 1600-1630 Óleo sobre tela Nº inv.VH 434

Repete o esquema de retrato cortesão de representação ao estilo dos retratos pinta-dos por seguidores de Pantoja de la Cruz, como Bartolomé González, Rodrigo de Villandrandro e Andrés López Polanco.

Margarita de ÁustriaEscola espanhola 1600-1630Óleo sobre tela Nº inv.VH 433

Par do anterior, o tipo de retrato repete um modelo longamente codificado que perdura no século XVII pelas repetidas cópias que os nobres espanhóis encarregavam para formar as suas próprias galerias de retratos, a exemplo das galerias reais do Palácio de El Pardo e do Alcazar.

Relógio de paredeAlemanha, 1870-1900Madeira, alabastro, metal, porcelana Nº inv. VH 270

O relógio de cuco fabricado pelos relojoeiros da Floresta Negra foi muito popular na segun-da metade do século XIX. Deste relógio ainda hoje sai a dar as horas mediante um assobio de fole um cuco canoro, que em seguida volta a guardar-se atrás da janela.

BengaleiroDaniel Zuloaga1888Louça esmaltada Nº inv. 27068

Decorada por Daniel Zuloaga na Fábrica de La Moncloa com um motivo de candelieri de estilo neo-renascentista. Este grande ceramista formado em Sèvres foi o autor da decoração cerâmica de vários prédios do fim do século em Madrid, como são os casos do palácio de Velázquez, no Retiro, e do Ministério da Agricultura.

Área de acolhida da parte da residência que correspondia aos marqueses de Cerralbo e à sua filha dona Amelia, depois transformada em ala de inverno. Como corresponde ao piso de diário, está sobriamente decorado com uma série de mobílias características das salas de receber oitocentistas: mesa de arrimo ou console flanqueado por duas cadeiras e espelho de corpo inteiro apoiado num rodapé decorativo, dotado também com uma prateleira para plantas de interior. Estes grandes espelhos denominados com o termo francês “tremo” permitiam às visitas retocarem-se antes de serem recebidas, e aos proprietários darem-se uma última vista de olhos antes de saírem de casa. Em comunicação direta com esta dependência encontram-se a Capela, a Sala de Confiança e, antigamente, o corredor interior que dava acesso aos quartos de uso privado.

RECEPÇÃO DE INVERNO

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Busto de meninaAntonio Frilli ( falecido em 1902)Mármore, Nº inv.VH 510

Obra representativa do virtuoso autor, espe-cializado em retratos femininos em mármore e alabastro, também cultivou a escultura fune-rária. Frilli fundou o seu atelier em Florença em 1860, as suas obras encontram-se em ce-mitérios famosos como Porte Sante e Allori da mesma cidade. Participou nas Exposições Universais da Filadélfia (1876) e Melbour-ne (1880). Em 1904, dois anos depois da sua morte, o seu filho Umberto apresentou em San Luis “Mujer durmiendo en una hamaca” que recebeu um Grande Prémio e 6 medalhas de Ouro.

Jogo de zarfTurquía, cerca de 1890 Prata Nº inv. VH 678 a 680

Suportes em forma de cálice utilizados nos países orientais para sustentar uma xícara sem asa servida com café quente. É provável que os zarf expostos na vitrine de “Lembranças de viagens” tenham sido adquiridos na Turquia pelos marqueses de Cerralbo e seus filhos em 1889.

Espelho oscilante ou psiquêFábrica de MeissenCerca de 1885 Porcelana, vidro, madeira Nº inv. 533

É um dos objetos de estilo Dresde ou Saxe que decoram esta sala enfeitada com as porcelanas preferidas pela sociedade do século XIX; a fá-brica de Meissen comercializou a partir de 1850 mobílias e outras peças de estilo neo-rococó ba-seadas nas suas exclusivas porcelanas do século XVIII.

Inocencia Serrano y Cerver e Amelia del Valle y Serrano com roupa orientalAbdullah Frères (estudo) Istambul, 1889 AlbúminaNº inv. VH 702

Realizado durante a viagem familiar à Turquia, este retrato fotográfico mostra-nos mãe e filha caracterizadas e pousando num divã. Os três irmãos armênios conhecidos como Abdullah Fréres foram reconhecidos fotógrafos com sede em Istambul e no Cairo.

Era a sala de receber do andar de diário e, como tal, nela se encontram alguns dos objetos decorativos mais vistosos da casa. A expressão “de confiança”, em parâmetros de protocolo oitocentista, faz alusão às salas em que se atendiam as visitas, quer fossem íntimas quer de cerimônia, nos dias de receber sem a etiqueta e parafernália própria das recepções de gala. Está comunicado com o que foi o último quarto da marquesa de Villa-Huerta.

Chamam a atenção, sem dúvida, o grande lustre de cristal de Murano, adquirido pelos marqueses numa das suas viagens à Itália e, sob ela, na mesa central, um conjunto em porcelana de Meissen, também do século XIX, formado por duas canecas e duas jarras dedicadas aos quatro elementos da Natureza: Água, Fogo, Terra e Ar.

SALA DE CONFIANÇA

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Sala de jantar e de estar, situada em uma das zonas mais aquecidas do palácio graças à sua localização perto dos quartos caloríficos, pela presença de uma lareira de ferro fundido que favorece a combustão e reduz o consumo de combustível, e à sua orientação, aproveitando todo o sol do entardecer. A mesa central, circular, com possibilidade de fazê-la extensível com tabuleiros suplementares, utiliza-se para comer, conversar, ler, costurar ou jogar cartas. Ao pé da chaminé, situa-se um divã cômodo para sentar-se e tomar café após a refeição e, à frente duma das varandas, um escritório onde rever a contabilidade diária, fazer uma listagem de encomendas para a governanta ou escrever e responder a correspondência, atividade preferida da sociedade oitocentista como meio de comunicação.

A seguir, encontra-se o Salão de Música denominado no antigo inventário da casa Cuarto del Mirador (“Quarto do Mirante”), pelo acabamento envidraçado da sua varanda; aqui, a Marquesa de Villa-Huerta realizava as suas práticas de piano.

Jarra com floresJan Baptiste Boschaert1715Óleo sobre tela Nº inv. VH 469

Exemplo excepcional entre as naturezas-mortas de flores do Museu. Ao ser restaurado, descobriu-se a assinatura de Boschaert. O estilo italiano das obras deste pintor flamengo deve-se à admiração que suscitavam na Europa as pinturas de flores napolitanas.

Ramo de flores com carrancaGabriel de la CorteEntre 1670 e 1680 Óleo sobre tela Nº inv. VH 461

O conjunto de telas com um ramo de flores pendente de uma carranca em bronze foi executado por um dos máximos pintores de flores da corte madrilenha de Carlos II. Neles, a tradicional grinalda de origem renascentista cai em viçosa cascata plena de vitalidade e naturalismo.

Natureza morta ao ar livre com frutas, flores e verdu-rasGiovan Battista RuoppoloCerca de 1680Óleo sobre tela Nº inv. VH 455

Seu autor, o napolitano Ruoppolo, popularizou um tipo de naturezas mortas de grande formato com abundantes frutas, verduras e flores representados ao ar livre, na árvore frutífera, na mata ou amontoados sobre o chão, que, pelo seu efeito decorativo, foram muito apreciados quer na Espanha quer na Itália.

Matilde de Aguilera y Gamboa, senhora de FontagudFederico de Madrazo y Kuntz1873Óleo sobre tela

Nº inv.. 28025Retrato de uma das mais queridas irmãs do Marquês, prematuramente falecida, que foi doado ao Museu em 2008 doação do sue bis-neto Jaime Parladé. Madrazo, retratista madri-lenho da moda na época em que assinou esta obra, recriou a beleza da retratada numa pose singular pela sua delicadeza.

SALA DE JANTAR

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O ANDAR PRINCIPAL

O Andar nobre ou Principal, destinado ao protocolo

e decorado de forma mais suntuosa e artística,

espelho da posição econômica e social dos seus

proprietários, reflete, na sua distribuição, a

mentalidade oitocentista, na qual primava, acima

de tudo, a aparência, e reservavam-se os melhores

espaços para os convidados. De fato, apenas se abria

para recepções, festas e bailes.

Apresenta uma distribuição semelhante à do primeiro

andar, com uma série de quartos em fila, em seguida

do outro, aos que se unem três amplas galerias à

volta de um pátio interior, de modo que todas as

peças formam um espaço comum com múltiplas

comunicações, apto para acolher um grande número

de convidados e distribuir, de forma harmônica, as

coleções artísticas.

A sua aparência de inalterabilidade com a passagem

do tempo é fruto do esforço de uma equipe

multidisciplinar de profissionais que trabalhou para

recuperar a ambientação original.

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12 Sala de Armas

13 Quarto de Banho

14 Sala Árabe

15 Salão Estufa

16 Corredor de Desenhos

17 Sala das Colunetas

18 Salão Vestiário

19 Saleta Império

20 Sala de Jantar de Gala

21 Sala de Bilhar

22 Salão em ângulo

23 Escritório

24 Biblioteca

25 Galeria Primeira

26 Galeria Segunda

27 Galeria Terceira e Quarto de banho

28 Salão de Baile

PISO PRINCIPAL

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ArmaduraCirca 1650Ferro forjado Nº inv. 100

Segundo a tradição pertenceu a um antepas-sado do marquês de Cerralbo, dom Pablo Fernández de Contreras, I conde de Alcudia, Almirante do Mar Oceano, célebre pela heroica vitória do seu galeão sobre três navios holandeses no ano de 1635.

ElmoAlemanha, Século XVI Ferro forjado e gravado Nº inv. 103

Uma lenda atribuía este elmo a Emanuel Filiberto, duque de Saboia, vencedor na batalha de São Quintín à frente das tropas espanholas de Felipe II (Filipe I de Portugal), e conhecido pela alcunha de “Cabeça de Ferro”

Lugar destinado à recepção dos convidados onde se celebrava a cerimônia do beija-mão, a ambientação evoca as salas de armas medievais e nos transporta ao marco das nobres gestas nas que participaram os antepassados da família. De inspiração gótica são também os motivos decorativos da consola com espelho e as galerias de sobreporta, estilo do qual participam duas poltronas situadas junto à porta pretendendo emular o salão do trono de um castelo medieval. Armas e armaduras flanqueiam as paredes e formam harmônicos conjuntos que, junto com os escudos heráldicos do teto, em gesso pintado, e o armário de feltro, denotam a ascendência ilustre do dono da casa.

Comunicando diretamente com a Sala de Armas encontra-se Quarto de Banho. Um quarto em que predominou a exibição antes do que o sentido prático. É importante lembrar que até o último terço do século XIX não foram habituais as casas de banho concebidas como estâncias independentes. Contar com um quarto exclusivo com banheira de mármore, torneiras de água quente e fria e esgotos supunha um alarde de conforto do que quiseram fazer gala os proprietários da casa.

SALA DE ARMAS QUARTO DE BANHO

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Jesús sentenciado a morteFrancisco de Herrera, el MozoCerca de1670 Óleo sobre tela Nº inv. 295

Formado em Sevilha e na Itália, Herrera trabalhou na corte madrilena como pintor real. Este Museu conserva os dois quadros sobre a Paixão de Cristo que pintou para o colégio de Santo Tomás de Atocha, destruído em 1872.

Cadeira de mãosFrança, cerca de 1750 Pinho e carvalho, linho, seda Nº inv. 396

De estilo rococó, seu painelado está forrado com sarja pintada a óleo com ramas de flores e motivos que imitam o chapeado tipo bois unis ou madeiras unidas, à moda das mobílias francesas sobre 1750.

Rifle de caçaMiguel Cegarra1768-1783Ferro, ouro, madeira, marfim Nº inv. 445

Com chave à moda de Madrid, suas marcas indicam que procede da Real Ballestería e pertenceu, segundo inscrição adamascada em ouro, ao Infante dom Gabriel de Borbón. O armeiro Cegarra foi mosqueteiro do rei Carlos III.

Estribeiras (Abumi)Japão, período Edo (1614-1868)Ferro, prata, laca Nº inv. 464-465; 466-467

Estribeiras de samurai, assinadas na haste da fivela pelo seu artífice. O exterior está decorado com prata formando motivos florais; o interior mostra a placa de madeira laqueada donde se apoiavam os pés.

Pistola Bélgica, Cerca de 1820Madeira, ferro Nº inv. 453

Pistola de uso civil, com chave de chispa. Leva uma caçoleta dupla, duplicada para os can-hões inferiores, que se enfrenta aos pés de gato girando uma alavanca situada na parte esquer-da da arma.

Martírio de São SebastiãoJosé Antolínez1657Óleo sobre tela Nº inv. 519

Representa o momento anterior ao martírio, quando o santo, da guarda pretoriana de Diocleciano, já despido, é atado à árvore antes de ser flechado, na presença do imperador romano a cavalo.

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Jogo para fumar ópioChina, dinastía Qing, Século XIX Louça esmaltada, metalNº inv. 554

Constitui uma curiosidade mais entre os objetos expostos neste gabinete oriental e, junto com o cachimbo utilizado para a mesma função, uma exótica alusão ao uso corrente dos salões árabes em moda nas casas europeias dos fins do século XIX, onde os cavalheiros se reuniam para fumar.

BentoJapão, era Meiji (1868-1911) Madeira laqueadaNº inv. 566

Jogo de recipientes que se empregava para armazenar e transportar refeições preparadas para o seu consumo. O uso de caixas ou reci-pientes empilháveis iniciou-se no Japão por 1610 e persiste na atualidade.

Os termos gabinete oriental ou sala turca, e outras opções semelhantes dão nome a um mesmo tipo de recinto, na moda em toda a Europa no século XIX, associada ao consumo do tabaco e, por tanto, de uso fundamentalmente masculino. As paredes, forradas com kilims e solos e mobílias cobertos de tapetes pretendiam evocar as jaimas dos nômades do deserto. Também aí eram colocados curiosidades e objetos de coleção, especialmente armas e armaduras, mas também, como aqui, instrumentos musicais ou restos de espécimes raros como o apêndice de um peixe serra. A decoração neoárabe dos paramentos e os objetos reunidos neste gabinete ou fumoir procedentes da China, do Japão, das Filipinas, de Marrocos ou da Nova Zelândia são, por tanto, consequência desse gosto pelo exótico herdado do Romantismo. Exotismo e orientalismo são duas qualidades que se conjugam na decoração destes salões que em Madrid vão se proliferar até bem entrado o século XX, a imitação do Gabinete Árabe, idealizado por Rafael Contreras para o Palácio Real de Aranjuez.

SALA ÁRABE

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ArmaduraJapão, período Edo (1614-1868) Ferro, cobre, laca, têxteisNº inv. 585

Compõe-se de kabuto (casco), ho-ate (más-cara), nodu-wa (gola), do (couraça), sode (ombreiras), ko-te (braçais) e sune-ate (ca-neleiras). Nos fins do período Edo, no Japão realizavam-se armaduras de samurai baseadas em modelos antigos, como objetos artísticos e comemorativos.

EspingardaMarrocos, século XIX Madeira, metal Nº inv. 588

Foi utilizada na guerra de Melilla e tomada do mercado El Jemis de Beni-Bu-Ifrur em 30 de setembro de 1909. Era a arma de fogo pre-ferida dos marroquinos do Rif devido ao seu fácil manejo e a que, caso se esgotasse a mu-nição, podia ser carregada com pedras.

LiguaFilipinas, século XIX Ferro, madeira Nº inv. 609

Machado de combate, foi oferecida a dom Enrique de Aguilera pelo governador geral da Fazenda das Filipinas junto com outras armas dos muçulmanos de Mindanao e dos povos igorotes da ilha de Luzón.

Adaga (Kris)Filipinas (Ilhas Sulu)Século XIX Aço, MadeiraNº inv. 642

Arma milenar do sul de Ásia, este kris dos muçulmanos das Filipinas era também consi-derado um objeto que transmitia boa ou má sorte. Forjavam a sua folha, geralmente ondu-lada, artesãos especializados que celebravam rituais místicos para conferir-lhe poderes espi-rituais.

Violino bicorde (Erh-hu)Shanghai (China)Século XIXCana, pele de serpenteNº inv. 652

Parte dos objetos expostos nesta sala foram adquiridos pelo marquês de Cerralbo no Hôtel Drouot de París, cidade onde foi leiloada a coleção de instrumentos musicais de Adolphe Sax, inventor do saxofone, ao qual pertenceu este violino até 1877.

Sabre (Wakizashi)Japão, período Edo (1614-1868) - Aço, bronze, madeira, pele de zapa, laca e têxteisNº inv. 731

Este tipo de espada samurai se utilizava para duelos e combates corpo a corpo e para o suicídio ritual conhecido como hara-kiri ou eppuku. O tamanho corresponde à maior medida que pode ter um wakizashi.

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Idealizado inicialmente como estufa onde manter protegidas da intempérie plantas exóticas ou de interior. Um espaço muito do gosto da segunda metade do século XIX como adaptação, aos palacetes urbanos, do modelo de pavilhão ou estufa fria frequente em parques e jardins depois da apresentação na Exposição Universal realizada em Londres em 1851, do pavilhão de ferro e cristal construído por Paxton. O Marquês não deve ter visto nenhuma vantagem neste envidraçado, projetado pelos arquitetos do palácio, pouco prático para um clima como o de Madrid, com grandes extremos de calor e frio, e condenou as janelas cobrindo-as com tapeçarias a modo de cortinados. O salão foi, então, convertido num autêntico gabinete de colecionador onde se misturam matérias, estilos e épocas com os objetos arqueológicos. Destes últimos destacam-se os exemplares de machados e têxteis neolíticos procedentes das culturas palafíticas dos grandes lagos suíços, o vaso campaniforme de Malpartida de Plasencia (Cáceres), os vasos gregos áticos e itálicos e as armas ibéricas. Adquiridos na sua grande parte pelo marquês de Cerralbo no comércio de antiguidades, nada têm a ver com os seus achados, fruto de escavações arqueológicas e paleontológicas que o Marquês legou ao Museu Arqueológico Nacional e ao Museu Nacional de Ciências Naturais.

SALÃO ESTUFA

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Busto e mãos de um ApóstoloEscola castelhana Cerca de 1700 Madeira policromada Nº inv. 799

A imagem de vestir foi um tipo de escultura de procissão que abundou na Espanha durante o Barroco. Neste exemplo, o busto e as mãos articulavam-se com uma estrutura que ficava oculta sob a túnica que devia vestir a figura para o culto ou para sair em procissão.

Ampola de peregrinoEgito, séculos VI-VII MoldeNº inv. 848

Frasco cerâmico utilizado, em sua origem, para conter azeite para acender as lâmpadas que custodiavam o sepulcro de São Mena em Abu Mena (Alexandria, Egito) e, posteriormente, oferecido aos peregrinos como lembrança da sua viagem.

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Tondo com a Adoração de Nossa SenhoraFlorença, primeiro terço do século XVI Louça esmaltada Nº inv. 811

Exemplo notável do tipo de escultura re-ligiosa criado no Renascimento por Lucca della Robbia, modelado em barro cozido e esmaltado, com figuras em branco e grinal-das policromadas. Atribui-se a um seguidor de Andrea della Robbia ou à oficina dos Buglioni.

Escifo gregoApúlia (Itália) Meados do séculoIV a de C. Técnica de figuras vermelhasNº inv. 902

Recipiente para beber vinho que mostra a um jovem defunto como Dionisos, ao qual uma Nicé oferece as fitas funerárias, e uma Ménade acompanha dançando uma dança báquica. O corno representado contém o vinho sagrado da celebração.

Natureza morta de frutas e utensílios de cozinhaLuis MeléndezEntre 1760-1765 Óleo sobre tela Nº inv. 905

Obra do mais notável pintor espanhol de naturezas mortas do século XVIII, caracteriza-se pela excepcional captação da textura particular dos objetos e pela sua representação dum ponto de vista baixo, como se o pintor tivesse trabalhado sentado muito perto deles.

JardineiraJapão, era Meiji (1868-1912)PorcelanaNº inv. 947

A função desta jardineira concorda com o desenho desta sala como estufa ou jardim de inverno. Trata-se duma peça fabricada para a exportação à raiz da Exposição Universal de Paris de 1878, onde as porcelanas japonesas decoradas em azul e branco com flores e pássaros obtiveram grande êxito.

Falcata ibéricaNecrópole de Las Angosturas, Illora (Granada)Séculos IV-III a. d. C.Ferro forjado, decoração adamascada Nº inv. 1306

Espada característica do guerreiro ibérico, com empunhadura em forma de cabeça de ca-valo. Mostra uma decoração em fios de prata de motivos vegetais na empunhadura, e um animal fantástico (um dragão?) na folha.

Semi-pedalis da Legio VII GeminaLeón, 238-244 d.C. A molde, marca impressa Nº inv. 1400

Tijolo de “meio pé romano” de comprimento, fabricado pela legião romana assentada na atual cidade de León. Estas não só garantiam a paz e a arrecadação de impostos, mas participaram na romanização dos territórios conquistados graças às suas produções industriais.

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Coche tapado e baratoFrancisco de Goya1824-1828Lápis litográfico Nº inv. 4711

Fez parte do álbum que Goya desenhou em Bordeaux representado em suas folhas dife-rentes meios de transporte ou locomoção utilizados por pobres e mendigos. Este des-enho, N.º 25 do Álbum G, representa um corcunda arrastando um carrinho-de-mão perante a soterrada diversão de três mulhe-res.

Dama sentada perante uma mesaJacobo Confortini1634-1666Lápis preto e sanguina Nº inv. 4713

Trata-se de um estudo para uma das figuras incluídas nas “Bodas de Canaã” que este pintor florentino da primeira fase do Barroco realizou no refeitório do convento da Santa Trindade de Florença em 1631. Pela soltura do traço e a desenvolvida pose da retratada, parece um estudo do natural.

Este corredor, que, em determinados momentos foi de serviço, pois nele ficavam os criados à espera de atender os senhores na Sala de Jantar de Gala, foi ornamentado pelo Marquês com parte da sua coleção de desenhos, 80 dos 558 que a compõem. A sua situação, num lugar sem luz natural direta não é casual. Sem dúvida, dom Enrique conhecia os perigos do foto-deterioro sobre a obra de papel.

Atualmente o que se exibem são reproduções fac-símiles dos originais e dos seus passepartout, conservando as antigas atribuições e encaixilhados nas suas molduras originais restauradas, quanto os autênticos originais se encontram perfeitamente preservados nos armazéns.

Entre todos os desenhos destaca-se “Coche barato e tapado” de Goya, obra realizada entre 1824 e 1828 durante o seu exílio na França. Além deste importante desenho conservam-se também notáveis trabalhos de Francisco Bayeu, José del Castillo, Salvador Maella ou Manuel Salvador Carmona, bem como de mestres de outras escolas europeias. Da escola italiana, peças de Confortini, Pietro da Cortona, Palma “O Jovem” ou dos Tiépolo. Da escola francesa são dignos de menção os estudos de Charles Mellin, Nicolas de Platmontaigne ou Antoine Ranc, enquanto que, dos países nórdicos, destacam-se as composições de Willem van Nieuwlandt, Adriaen van Ostade ou Jan Ykens.

CORREDOR DE DESENHOS

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Retrato de um rapazManuel Salvador Carmona – Cerca de 1790 Lápis preto e sanguínea Nº inv. 4698

Desenho do gravador de Câmara do rei Carlos III, poderia representar um dos seus filhos, Juan Antonio, nascido do seu segundo casamento com Ana Maria Mengs, a filha mais velha do pintor Antonio Rafael Mengs.

Projeto para a decoração de uma igrejaFrancisco Rizi de Guevara, 1614-1685Lápis preto, tinta parda e aquarelaNº inv. 4763

Esboço para a decoração mural de um setor do alçado de um camarim de igreja. Francisco Rizi aprendeu dos italianos Agostino Mitelli e Angelo Michele Colonna a técnica da quadra-tura com arquiteturas fingidas que aplicou na decoração dos camarins de vários conventos madrilenhos.

Santa (Martina?) levada ao martírioPietro da CortonaCerca de 1634 Lápis preto, pena e tinta pardaNº inv. 4766

Desenho preparatório para uma obra proje-tada provavelmente para a igreja dos Santos Luca e Martina, no Foro Romano, perten-cente à Accademia de San Luca, dirigida por Cortona en 1634; esse ano começou a re-novação da cripta, tendo-se encontrando as relíquias da Santa.

Monarca recebe um emissário-Federico Zuccaro (1542-1609)Pena, tinta parda com toques de giz, sanguínea e lápis pretoNº inv. 4705

Obra do grande pintor maneirista que trabalhou para os principais mecenas do século XVI na Itália, na Inglaterra, na Holanda e na Espanha. Entre 1586 e 1588 participou na decoração do Real Mosteiro do Escorial sob o patrocínio de Felipe II.

Chegada de Frederico V a BoêmiaAdrien Pieters Van de VenneEntre 1613 e 1618Pena, tinta parda e lápis pretoNº inv. 4744

Desenho preparatório para a estampa gravada por Van de Venne, publicada pelo seu irmão Jan em Middlenburgh em 1618. Representa a chegada a Vlissingen em 1613 da frota in-glesa que levou o eleitor Palatino do Rhin, Frederico V, e a sua mulher Isabel, princesa da Inglaterra, ao seu novo reino na Boêmia.

Jugurta atado e entregue a Sila, que o leva a MárioMariano Salvador MaellaPor volta de 1772 Pena, tinta parda e aguada cin-zenta Nº inv. 4746

Desenho preparatório para a lâmina XXX, gravada por Manuel Salvador Carmona, do livro “A conjura de Catilina e a Guerra de Jugurta”, obra de Cayo Salustio Crispo, publicado por Joaquín Ibarra em 1772, uma das mais belas edições espanholas do século XVIII.

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Esta sala, testemunho do afã colecionador do marquês de Cerralbo, teve a função de fumoir, lugar onde os homens se reuniam para falar de negócios ou para comentar os acontecimentos da convulsa política oitocentista enquanto fumavam. A denominação de Sala das Colunetas deve-se ao conjunto disposto sobre a mesa central. Uma grande variedade de figurinhas, procedentes da cultura egípcia, grega, etrusca e romana junto com outras da Idade Moderna, realizadas em terracota, mármore e bronze, erigem-se sobre outras tantas pequenas colunas de ágata, alabastro, mármores de cores e madeira dourada, a modo de pequenos monumentos. A opulência e acumulação de objetos, junto com os quadros que cobrem a totalidade das paredes –antanho sobre papel de imitação de couro gravado em relevo –, transporta-nos aos aposentos do século XVII. O conjunto pictórico está centrado, fundamentalmente, na escola barroca madrilenha. Também é barroco o estilo que prima no mobiliário, as papeleiras napolitanas com aplicações de ébano e concha –dispostas em pares segundo o costume de colocar estas mobílias em grupos de dois–, o escritório de tipo salmantino e o espelho veneziano com aplicações de madrepérola sobre a chaminé.

SALA DAS COLUNETAS

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BustoManufatura de SèvresPor volta de 1770 Porcelana terna (biscuit) Nº inv. 4656

Provável retrato do Delfim da França, realizado durante a época em que a oficina de escultura da real manufatura francesa de porcelana esteve dirigida pelo pintor Jean- Jacques Bachelier.

Tapa de vaso canópicoEgito, primeiro milênio a.C.Mármore Nº inv. 4646

Cabeça humana pertencente ao deus Amset, um dos quatro filhos de Horus que, represen-tados nos quatro vasos canópicos, continham as vísceras dos defuntos mumificados no an-tigo Egito; neste caso, o fígado.

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Nossa Senhora dos AnjosBartolomé GonzálezCerca de 1613Óleo sobre tela Nº inv. 4593

Também intitulado “Concerto celestial”, é uma réplica do quadro do altar- mor da igreja do convento dos Capuchinos de El Pardo (Madrid), que foi encarregado a Bartolomé González por Felipe III, para quem trabalhava como pintor de câmara e retratista.

A Assunção de Nossa SenhoraEugenio CaxésEntre 1615-1620 Óleo sobre tela Nº inv. 4601

Obra assinada pelo que foi o melhor pintor do rei na corte madrilenha depois da morte do seu pai, o italiano Patricio Caxés, até a chegada de Velázquez. O se estilo insere-se na tradição do tardo-maneirismo italiano.

Concerto de avesAtribuído a Juan de Arellano Entre 1650-1670 Óleo sobre tela Nº inv. 4604

Num jardim de ricas e variadas flores, aves de diferentes espécies cantam em coro, dirigidas pela coruja; o tema, de origem flamenga, não está isento de ironia, pois parece que se impõe a voz do pavão, tão belo como inútil para o canto.

Jovem com um cesto na cabeçaSebastiano RicciPor volta de 1722 Óleo sobre lienzoNº inv. 4605

Nos fins do século XIX, o marquês de Cerrralbo adquiriu, possivelmente na Itália, esta obra que resultou ser um fragmento da “Ceia de Emaús”, quadro pintado por Ricci para a igreja do Corpus Domini de Veneza.

EscritórioEspanha ou Nápoles Por volta de 1660 Madeira tingida a preto, con-cha, bronzeNº inv. 4529

Mobília de qualidade de um modelo estandar-dizado na segunda metade do século XVII, de origem napolitana, porém também fabricado em Espanha. Do tipo chamado “papeleira” por carecer de tapa frontal, servia para guar-dar documentos e pequenos objetos.

Móvel pastaEspanha, século XIX Madeira, metal, veludo de seda Nº inv. 4547

Original móvel de uso nos escritórios do século XIX, nesta sala destinava-se a guardar uma seleção de desenhos e estampas, que provavelmente o Marquês mostrava aos seus convidados, junto às obras análogas expostas no corredor contiguo.

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Relógio de chaminé com guarnição de dois castiçaisMarquís à ParisII Império (1852-1870) Bronze douradoNº inv. 4219 a 4221

A caixa deste relógio e os castiçais em conjunto foram fundidos em bronze dourado ao ouro moído por Marquís, um dos muitos fundidores de bronze ornamental para relógios que havia em Paris. Tem movimento Paris a pêndulo e sons de horas e meias-horas sobre campainha.

PoltronaFrança ou Espanhacerca de 1890 Madeira, sedaNº inv. 4175

Corresponde ao tipo de assentos chamados “de conforto”, estofados inteiramente com materiais de preenchimento e moles, moda na segunda metade do século XIX nos salões em que eram atendidas as visitas da família ou dos amigos mais próximos, nos toucadores ou vestiários e nas casas de banho.

Concebido com o mesmo sentido de representação do que estão imbuídas muitas das salas deste palácio, projetou-se como toucador do Marquês de Cerralbo, portanto recinto de âmbito masculino em contraposição com o da Marquesa, ao qual se abre imediatamente. Supõe a persistência, embora a nível apenas simbólico, do costume, nos ambientes cortesãos, e a imitação dos reis, de se vestir ou arranjar à frente de um séquito de ajudantes de câmara em quartos destinados a este fim, e inclusive receber neles. A essa ideia contribui o guarda-roupas de madeira de carvalho, com altos remates enfeitados com talhas douradas do século XVIII francês, a coleção de espadins de corte e sabres dos séculos XVIII e XIX aparatosamente dispostos sobre a mesa central e o lavatório reutilizado como mesa de toucador. Objetos e lembranças de micro-mosaico e cristal trazidos de Veneza expõem-se sobre o seu tabuleiro de mármore e a estante que oculta o depósito pelo qual se carregava a água quando era utilizado como lavatório. Duas poltronas, estofadas de veludo e seda bordada chinesa, características do século XIX, convidam à tertúlia ao calor da lareira.

SALÃO VESTUÁRIO

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Pufe - lenheiraEspanha, século XIXMadeira, seda Nº inv. 4229

O assento fofo deste tamborete abre-se como a tampa de uma caixa, em cujo interior se guardava a lenha para alimentar o fogo da chaminé. O seu uso foi habitual nas casas burguesas e aristocráticas da segunda metade do século XIX.

Suporte para vasos de plantasChina, dinastia Qing, por volta de 1750-1825 Cobre, prata, bronze, esmaltes, jade, vidroNº inv. 4211

Objeto chinês classificado como “curiosidade”. Consiste em uma jardineira que sustenta uma cena grotesca composta por figuras e objetos em miniatura: dois macacos que sustentam um suporte formado por pétalas de flores de loto e uma ave fênix pousada entre uma magnólia e uma ameixeira em flor.

A Conversão de São PauloJuan Antonio de Frías y Escalante, entre 1660-1670 Óleo sobre tela Nº inv. 4271

Obra plenamente barroca, cópia da estampa gravada por Bolswert sobre “A Conversão de São Pablo” de Rubens. Uma prática comum entre os pintores espanhóis do século XVII foi utilizar como modelos as gravuras que difundiam as obras de outros artistas.difundían las obras de otros artistas.

Espadim de honraTomás de Ayala, cerca de 1800 FerroNº inv. 4332

Embora a folha esteja assinada por um dos representantes de uma famosa dinastia de espadeiros de Toledo, compõem a empunha-dura enfiadas de contas de aço facetadas, com aparência de brilhantes, técnica criada na ma-nufatura de Matthew Boulton (Birmingham, Inglaterra).

EspelhoVeneza, por volta de 1890 VidroNº inv. 4251

O conjunto de vários espelhos e dois guar-da-joias dispostos sobre o lavatório, com guarnição de mosaico composto por peças diminutas de cristal, são lembrança da cidade de Veneza, frequentemente visitada pelo mar-quês de Cerralbo para despachar com Dom Carlos de Borbón.

Sabre de apresentaçãoEspanha, por volta de 1810 Ferro pavonado e dourado Nº inv. 4195

Sabre a capricho de um oficial espanhol, com guarnição em forma de estribeira. A folha está gravada parcialmente com o escudo da Espanha e troféus militares em dourado, em reserva sobre o fundo em pavão azul.

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Esta sala – originalmente toucador da Marquesa- foi redecorada por volta de 1900 como um gabinete de espelhos que recebeu o nome de “Salinha Império”. A sua localização entre o Salão Vestuário e a Sala de Jantar de Gala permite supor que foi um lugar de passagem no qual se paravam as damas para arrumar seus toucados ou repousar fugazmente nos cômodos divãs. Espaço alegre e luminoso, pintado em branco e cor-de-rosa, afastado da ostentosa solenidade das salas adjacentes, evoca a suntuosidade dos palacetes franceses do século XVIII e começos do XIX. Nele se recria um conceito do luxo muito feminino, patente nos estilos rococó ou Luís XV, neoclássico ou Luís XVI e, embora menos, no estilo império, quer na decoração quer no mobiliário. Este ecletismo é característico das últimas décadas do século XIX. Boiseries com franjas neoclássicas configuram uma ambientação à francesa na qual abundam os espelhos, de talha dourada ou de cristal veneziano, pendurados nas paredes e falsos tetos. As consolas e o velador acolhem um amplo repertório de objetos ornamentais: relógios, jarras, jardineiras, castiçais e candelabros de bronze, cristal e porcelana. O desenho floral predomina nos cortinados, sanefas e estofos. No interior das portas enquadram-se as telas que, para este ambiente, pintaram José Soriano Fort e Máximo Juderías Caballero, artistas protegidos pelo Marquês que colaboraram na decoração do palácio do seu mecenas. As flores e as alegorias das quatro estações reforçam com sua beleza a singularidade desta salinha que nasceu em homenagem à marquesa de Cerralbo.

SALINHA IMPÉRIO

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VeladorRússia, por volta de 1850 Malaquite, bronze Nº inv. 4167

A tampa do velador e o candeeiro estão for-mados por mosaicos de placas de malaquita, material que não permite a talha em blocos monolíticos. A técnica foi aperfeiçoada pe-los escultores russos que talhavam peças para móveis e outros objetos suntuosos em már-mores e pedras duras dos Urais.

JarraPaul Millet & Fils, Sèvres Cerca de 1890 Porcelana, bronze Nº inv. 4102

A companhia privada “Millet, Céramique d´Art” funcionou em Sèvres entre 1866 e 1945, nas proximidades da prestigiosa ma-nufatura estatal francesa, da que imitou este tipo de jarra com fundo flamée ou flambado, vanguarda da estética “arte nova” imposta por volta de 1900.

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Jarra com “Um sacrifício a Cupido”Fábrica de EtruriaPor volta de 1785-1790 Jaspe de WedgwoodNº inv. 4123

Esta jarra em duas cores com relevos de estilo neoclássico representa uma tendência europeia na decoração de interiores desenhada em sua fábrica de Staffordshire por Josiah Wedgwood, criador de uma cerâmica que chamou “jaspe” pela sua dureza, cujo aspecto é semelhante à porcelana sem vidrar (biscuit).

JarrónJarraSéculo XIX Vidro esmaltado Nº inv. 4119

No interior desta jarra encaixa-se um cilindro de vidro incolor, desmontável, que provavelmente usava-se como luminária. A luz que irradiava era matizada pela superfície fosca exterior, puída à areia, ressaltando o efeito cromático da grinalda de flores.

Relógio-miniatura de chaminéFrança, primeira metade do século XIX Bronze dourado, açoNº inv. 4085

Os relógios franceses dos séculos XVIII e XIX, contrariamente aos ingleses, apresentam um tipo de maquinaria diferente e caixas com esculturas fundidas em bronze dourado. Este relógio é singular pelo seu tamanho e pelo Cupido sobre um carro que forma a sua caixa, tema escassamente representado

Jarras de estilo ImpérioFrança, por volta de 1810 PorcelanaNº inv. 4088-4089

A cena do primeiro evoca a entrevista do im-perador austríaco Francisco I com Napoleão, dois dias após a batalha de Austerlitz, em 1805; no outro representam-se tipos popu-lares dos principados alemães independentes da Áustria no Tratado de Presburgo, assinado pelos dois imperadores.

Cravos e rosasJosé Soriano Fort, cerca de 1895 Óleo sobre tela Nº inv. 4071

Formado na Academia das Belas Artes de Valência, Soriano Fort trabalhou neste palá-cio executando várias pinturas murais e alguns quadros, como este conjunto de alegres telas de flores representadas sobre o seu arbusto no jardim, com um estilo decorativo e delicado.

Alegoria do InvernoMáximo Juderías Caballero, cerca de 1895Óleo sobre tela Nº inv. 4075

Os painéis da porta que comunica com o Vestuário enquadram quatro figuras femininas que representam as Estações. O Inverno, a Primavera e o Outono são obra de Máximo Juderías Caballero, pintor aragonês que realizou parte da decoração mural e escultórica das salas do Piso Principal desta casa-museu.

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Aqui se realizavam os jantares de cerimônia, em que foram servidos esplêndidos buffets nas noites de festa e baile. A ideia de uma grande mesa de sala de jantar, surgida na Inglaterra no último quarto do século XVIII, demorou em difundir-se na Espanha. Os primeiros exemplos são encontrados ao longo do século XIX nos palácios aristocráticos que passaram a incluir, em salas criadas para este propósito, estas grandes mesas ligadas ao ritual dos chamados “jantares de gala”. Os comensais deviam combinar a participação na conversa geral, guiada pelos anfitriões, com a atenção aos seus vizinhos imediatos. A eleição do protocolo à francesa situa os postos de presidência da mesa no centro dos lados maiores, emoldurados, no caso desta sala, por dois espelhos colocados um em frente ao outro, um sobre a chaminé e outro entre as varandas.

Quanto às formas de servir nesta casa, seguia-se também o protocolo à francesa, tal como nos informam os cardápios de diferentes celebrações conservados no arquivo. Cada comensal podia escolher entre a variedade de pratos dispostos simultaneamente sobre a mesa. Na Espanha se praticou até os fins do século XIX, embora pouco a pouco fosse sendo introduzido o serviço à russa, vigente na Europa desde os começos do século. Este constava de uma ementa de vários pratos, os mesmos para todos os comensais, que os criados iam servindo sucessivamente, sempre pela esquerda, e retirando pela direita. As mesas auxiliares ou servidoras constituíam o apoio ao serviço da mesa. Nos aparadores mostram-se peças de serviço de louça em metal prateado, entre as quais destacamos os samovares e os curiosos pratos cobertos, bem como o aquecedor para manter quentes os alimentos.

A iluminação original combinava as primeiras ampolas de luz elétrica com as velas, e se multiplicava graças à estudada disposição dos espelhos. Os vãos das varandas permaneciam quase sempre fechados, antes cobertos com cortinados realizados com tapeçarias de escudos heráldicos que, por desejo expresso do Marquês, foram enviados para a capela funerária dos Cerralbo em Ciudad Rodrigo (Salamanca).

SALA DE JANTAR DE GALA

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Resfriador de garrafasCerca de 1900Vidro óptico e metal prateado Nº inv. 3927

Peça desenhada por Gisela Von Falke, aluna das Oficinas Vienesas da Secessão e discípula dos fundadores Koloman Moser e Josef Hoffmann. Produzido para venda em grandes armazéns, o vidro apresenta o desenho “Meteor” do próprio Moser.

PratoTalavera de la Reina, por volta de 1743-1750 Louça esmaltada Nº inv. 3978

A sua delicada decoração de estilo Bérain em azuis claros e escuros revela a mão de um pintor formado na fábrica de Alcora (província de Castellón de la Plana, na região de Valência), possivelmente José Causada, que se deslocou temporariamente a Talavera de la Reina, província Toledo, introduzindo nas suas olarias os estilos decorativos da louça de Alcora.

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Porco-espinho e víbora (detalhe)Frans Snyders1625-1650Óleo sobre tela Nº inv. 3900

O gênero de pintura que representa animais vi-vos foi uma especialidade da pintura flamenga do século XVII, gênero que dominou o pintor Snyders, cujas obras foram muito apreciadas por Felipe IV e pelo marquês de Leganés, ao qual pertenceu em origem este quadro.

Cacho de uvasMiguel de Pret, por volta de 1630Óleo sobre tela Nº inv. 3898

A sala de jantar de gala expõe vinte e quatro naturezas mortas tal como foram dispostas pelo marquês de Cerralbo. Estes cachos de uvas foram muito apreciados no século XVIII pelo seu singular naturalismo. Esta pintura tem sido atribuída a Juan Fernández ‘El Labrador’ até 2013, quando novas pesquisas identificaram Miguel de Pret autor da obra.

Relógio de paredeLe Faucher/ Paris y Amant à Paris, Século XVIIIMadeira, bronze dourado, tartaruga, porcelana Nº inv. 3884

É um tipo de relógio de parede que, origi-nalmente, colocava-se sobre uma mísula. A caixa está confeccionada com preenchimento Boulle, com latão e tartaruga; os bronzes re-presentam a passagem do Tempo. A esfera e a maquinaria, de Movimento Paris quadrado, estão assinadas por relojoeiros da época de Luis XV.

Natureza morta de cozinhaCristoforo MunariCerca de1710 Óleo sobre tela Nº inv. 3876

Exemplo da melhor pintura de Munari, é seme-lhante às seis naturezas mortas que decoraram “La Ferdinanda”, casa de campo dos Médici, seus mecenas, em Florença. Caracteriza pela representação de objetos rústicos, a forte mo-delagem tridimensional das formas e o sábio domínio da cor.

Natureza morta com melancias, abóbora e floresGiuseppe ReccoCerca de 1675 Óleo sobre tela Nº inv. 3868

Obra de um dos mais reconhecidos pintores napolitanos de naturezas mortas do século XVII, mostra um forte contraste de luzes en-tre o fundo e os objetos, e a combinação de pinceladas transparentes e pinceladas opacas muito densas, em relação com a textura natu-ral de cada fruta.

Natureza morta com uvas e docesJuan de Espinosa, Entre 1630-1640 Óleo sobre tela Nº inv. 3866

Obra de um dos grandes pintores espanhóis de naturezas mortas do século XVII, ativo em Madrid entre 1628 e 1659. Contemporâneo d’ O Lavrador, imita dele a recriação naturalista das uvas, embora também represente doces e cerâmicas vermelhas seguindo a tradição das naturezas mortas de Juan van der Hamen.

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Este salão deve ter sido utilizado como lugar de apoio ao serviço da sala de jantar; assim o demonstram a presencia de uma roldana que o comunicava com a grande cozinha da cave e que ainda hoje se conserva atrás de uma estreita porta situada entre os divãs, bem como a presença do filtro de água coroado por um cálice de alabastro lavrado.

Entretanto, para além da função utilitária prima a função de distração, focalizada no jogo do bilhar, exercício favorito dos cavalheiros do século XIX. Preside a sala uma espetacular mesa de bilhar francês. O resto do mobiliário distribui-se em função do jogo, com assentos altos ou canapés de bilhar dotados de repousa-pés, graças aos quais as damas podiam seguir comodamente o andamento da partida. A luz, procedente de um candeeiro horizontal, ilumina toda a mesa por igual e concentra, graças às suas tulipas, a atenção sobre o tapete deixando na penumbra o resto da estância.

Retratos de damas e cavalheiros de diversas épocas e escolas e de diferentes estilos vestem os seus parâmentos.

SALÃO BILHAR

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Mesa de billarFrança, por volta de 1855 - Madeiras finas, bronze, baeta Nº inv. 3825

Originalmente, mesa para jogar ao billard à blouses ou “bilhar inglês”, foi depois adaptada ao jogo francês. Sobre 1900, nas crônicas que descreviam os salões do marquês de Cerralbo contava-se que era a mesa em que se tin-ham preparado as carambolas fáceis ao Rey Fernando VII.

Retrato de uma criançaEscola italiana, 1600-1630 Óleo sobre tela Nº inv. 3771

O naturalismo da representação, a proximi-dade quotidiana da personagem e o efeito tenebrista do claro-escuro, são aspectos que permitem catalogar este magnífico retrato como obra dos inícios do século XVII.

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Retrato de dama em traje de caçaEscola espanhola, século XVII Óleo sobre tela Nº inv. 3808

Obra anônima atribuída à escola de Velázquez por José de Madrazo, pintor e diretor do Museu do Prado, colecionador de uma pres-tigiosa galeria de quadros da que procedem muitas das pinturas deste Museu.

François-Joachim, duque de GèvresEscola francesa, 1725-1750 Óleo sobre tela Nº inv. 3755

Retrato cortesão de aparato, o seu estilo é próximo à obra de Jean Marc Nattier (1685-1766). A personagem rodeia-se de todos os objetos que representam o seu elevado status social e militar.

Retrato de um cavalheiroTintoretto, cerca de 1555 Óleo sobre tela Nº inv. 3740

Obra do grande pintor veneziano, é provável que represente a Agustino Doria, membro da importante família genovesa. A persona-lidade do retratado reflete-se em seu rosto e no gesto retórico da sua mão.

Autorretrato - Giulio Cesare ProcacciniPor volta de 1624 Óleo sobre madeiraNº inv. 3731

Autorretrato pintado por Procaccini em data próxima à sua morte. Enfatiza a sua condição de pintor ao chamar a atenção sobre o pin-cel e a paleta, em vez de sobre a medalha de ouro que pendura sobre o seu peito, presente do grão duque Cosme de Médicis.

Retrato de Luís XIV com couraçaOficina de Hyacinthe Rigaud 1701-1715 Óleo sobre tela Nº inv. 3729

Deriva dos dois retratos de figura inteira que Rigaud pintou ao Rei Sol em 1701 à idade de sessenta e dois anos (Museu do Luvre e Museu do Prado), embora, pelo seu formato, mais cabe catalogá-la como “obras de ofi-cina”, de grande qualidade, que difundiram a imagem real em retratos de busto de me-nor formato.

Luís I, Príncipe das AstúriasMiguel Jacinto Meléndez1712Óleo sobre tela Nº inv. 3814

Retrato do primeiro filho de Filipe V e María Luisa Gabriela de Saboya, à idade de cinco anos, que sustenta o cetro e toca o colar da Ordem do Toisón de Oro, situado sobre uma mesa ao pé da Coroa. Foi Rei da Espanha durante oito meses, em 1724.

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Ao lado da Sala Bilhar encontra-se outro recinto dedicado ao lazer, que deve seu nome ao perfil que gera na fachada do prédio pela confluência das ruas de Ferráz e de Ventura Rodríguez.

É uma sala concebida para a tertúlia, os cochichos e o descanso entre baile e baile.

A decoração plástica foi obra de Máximo Juderías (1867-1951), autor dos motivos escultóricos e de grande parte das cenas pictóricas, tanto as situadas no teto, alusivas à Música e à Pintura, como as das paredes que representam o descanso do meio-dia na ceifa, o amanhecer à beira do rio Jalón e o jardim do palácio de Santa María de Huerta, em Sória, destino de verão da família Cerralbo; enquanto o baile popular na horta valenciana é obra de José Soriano (1873-1937).

As cadeiras estilo regência, propiciam a tertúlia em grupos. O pavimento de ladrilho hidráulico, inovação técnica que irrompe nos interiores burgueses oitocentistas, está coberto por um tapete da manufatura francesa de Aubusson, do século XIX, de onde também procedem as sanefas das varandas.

Salão em ângulo

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MalgaCantão (China), dinastia Qing, século XIX PorcelanaNº inv. nº 3616

Foi modelado a torno nas olarias de Jingdezhen e decorado em Cantão com um estilo desti-nado às porcelanas chinesas de exportação, caracterizado pela heterogênea composição de motivos budistas e taoistas e pelo predomínio de um esmalte de cor-de-rosa forte (púrpura de Cassius), de origem europeia.

RelógioSegunda metade do século XIX PorcelanaNº inv. 3620

A caixa deste relógio é de porcelana de Saxe ou Dresde, como se chamava no século XIX quer às porcelanas da fábrica de Meissen quer às suas imitações francesas, inglesas e alemãs, que gozavam de uma ampla aceitação no mercado de objetos suntuosos.

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Alegoria do Verão e do OutonoSéculo XIX PorcelanaNº inv. 3623-3625

Ceres com um feixe de espigas e Baco com uma garrafa representam tanto o pão e o vinho como o Verão e o Outono. O modelo foi criado no Buen Retiro sobre 1785, em-bora neste caso encontremo-nos perante uma falsificação de excelente qualidade, situada sobre um pedestal da manufatura madrilena.

JarraJapão, período Edo ou era Meiji, circa 1870 Porcelana laqueada Nº inv. 3614

Mostra uma técnica singular entre as porce-lanas japonesas de exportação. A sua matéria cerâmica fica oculta por uma capa de laca preta decorada com motivos dourados, estilizados como o corpo da jarra, de aparente ligeireza pela forma sinuosa de abóbora dupla.

Busto femininoArístide Petrilli, sobre 1890 MármoreNº inv. 3641

Assinado pelo professor Petrilli em Florença, está inspirado nos bustos florentinos do Renascimento, porém concorda com a estética arte nova na estilização da modelo e no leve giro do seu colo. O escultor aperfeiçoou a técnica da gravura para desenhar motivos ornamentais sobre o mármore.

BandejaJapão, era Meiji (1868-1911) Madeira laqueada Nº inv. 3646

Laqueada a preto (roiro) com decoração em relevo (takamakie) e plana (hiramakie) em dourado, prateado e com toques de laca vermelha, que representa uma ameixeira em flor com aves fênix (ho-oo). Sustenta-se sobre um cavalete de madeira dourada imitando a cana de bambu, de confecção ocidental.

SinoChina, dinastía Qing, cerca de 1800 Bronze com esmalte cloissoné Nº inv. 3649

Objeto ornamental realizado para a exportação. Finos painéis de metal compõem o desenho e separam os diferentes esmaltes coloridos, representando ramas de ameixeira, peônia e crisântemo (inverno, primavera e outono) embora faltem as flores de loto que simbolizam o verão.

Inocencia Serrano y Cerver, Marquesa de CerralboÚltimo quarto do século XIX Albumina iluminada Nº inv. 3651

Retrato fotográfico de estudo realizado me-diante a técnica da albumina, posteriormente iluminado com cores transparentes que rea-lçam a cabeleira loura avermelhada e os olhos azuis da retratada, que veste traje de noite com cauda e brincos de pérolas.

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É o quarto mais estreitamente ligado à personalidade do Marquês de Cerralbo, concebido como sala de aparelho e de recepção de ilustres visitas, sem nenhum sentido utilitário. A escrivaninha de cilindro, fernandino, está repleta de grande variedade de objetos com valor de ostentação e anedótico mais do que prático. A ideia reforça-se com a ingente quantidade de peças que se apresentam tanto na mesa central, repleta de lembranças carlistas, como as pistolas nas que reza o lema de “Deus, Pátria e Rei”, como no resto da sala e que nos informam das diferentes inquietudes do Marquês de Cerralbo: a arqueologia, as antiguidades e as coleções, apartado no qual prestou especial atenção à pintura. Precisamente aqui encontramos algumas das obras que ele considerou mais importantes dentre toda a sua coleção pictórica, como o retrato de Alexandre de Médicis da oficina de Bronzino – atribuído pelo Marquês a Andrea del Sarto–, junto à campana da chaminé, ou o retrato de Maria de Médicis da oficina de Van Dyck sobre o contador com suporte. Os escudos de armas lavrados em pedra e a armadura do segundo marquês de Cerralbo informam do variado e nobre avoengo do proprietário. No vão de comunicação com a biblioteca surpreende um relógio com esfera de cristal dos chamados “misteriosos” que oculta a sua maquinaria nas setas.

ESCRITÓRIO

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Par de jarrasParis, cerca de 1845 Porcelana Nº inv. 3251-3252

As jarras em forma de ânfora destinavam-se no século XIX à decoração das zonas de recepção das grandes casas. De estilo Luis XVI, a decoração floral corresponde ao gosto da época em que reinou na França Luis-Felipe de Orleans (1830-1848).

Espada de folha pistiliformeAlhama de Aragón (Zaragoza),1150-1050 A.C.Bronze fundido a molde Nº inv. 3562

Característica da atividade metalúrgica do pe-ríodo conhecido como Bronze Final Atlântico, é originária da Bretanha francesa; utilizada como símbolo de poder e intercâmbio entre as elites que controlavam o comércio de matérias pri-mas na Europa ocidental.

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Matilde de Aguilera y Gamboa, senhora de FontagudEntre 1863-1868 Barro cozido Nº inv. 3523

Retrato de uma das irmãs do marquês de Cerralbo, realizado com o procedimento de foto-escultura, sistema patenteado por François Willéme em 1860. O busto era mo-delado com ajuda de um pantógrafo a partir de 24 clichês tomados simultaneamente num diâmetro de dez metros.

Escritório de tamborFrança, 1775-1800 Carvalho e mogno Nº inv. 3553

Com fecho em forma de quarto de cilindro, o tabuleiro desmontável para escrever está forrado em couro de cabra verde. O tipo dees-critório foi de uso exclusivamente masculino e corresponde ao estilo neoclássico francês.

Retrato de tenente-coronelEscola espanhola, cerca de 1800 Óleo sobre tela Nº inv. 3416

Esta obra não é de Goya, embora assim o indica a sua cartela, rotulada em preto sobre madeira dourada. As cartelas similares com o nome do pintor refletem em grande parte atribuições hoje obsoletas, mas respeitaram-se como elementos decorativos da ambientação original deste Museu.

Juan Vázquez de Mella, dedicada a CerralboKaulak, Madrid, cerca de 1915 Gelatina de revelação químicaNº inv. 3439

Fotografia realizada pelo famoso Antonio Cánovas del Castillo, mais conhecido como “Kaulak”. No retratado, o político tradicio-nalista Juan Vázquez de Mella, faz, com a sua amistosa dedicatória, alusão à atividade arqueológica desenvolvida pelo Marquês.

Alessandro de´MediciBronzino e oficina Florença, entre 1540-1553 Óleo sobre tábua Nº inv. 3180

Trata-se de uma das melhores versões do retrato do primeiro Duque de Florença pintado por Pontormo em 1534, grande parte realizadas por Bronzino, que neste quadro pintou o rosto do retratado. Alessandro foi filho de Giulio de Medici (posteriormente Papa Clemente VII) e de uma escrava.

Placa comemorativaMasriera Hermanos Barcelona, sobre 1890Prata e outros metais esmalta-dos, pele de cordeiro e madeira de nogueiraNº inv. 3178

Na inscrição emoldurada por uma coroa de folhas de louro e carvalho lê-se que esta placa foi custeada pela comunidade católica e monárquica em homenagem ao marquês de Cerralbo pelos acontecimentos de 10 de abril de 1890, data na qual, estando em Valência em viagem de propaganda carlista foi apedrejado por pelos republicanos.

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Perante a suntuosidade do Escritório, a Biblioteca é um lugar de estudo e de concentração intelectual, o que se percebe no tipo de objetos que se mostram sobre a mesa, poucos e de caráter utilitário, bem como na sobriedade geral que envolve a sala repleta de livros. Por volta de 10.000 volumes, desde as primeiras edições desde a invenção da imprensa até edições de 1922, além de manuscritos de grande valor artístico, literário e científico, constituem esta biblioteca considerada na época como uma das mais completas do país em matéria de Numismática e Arqueologia. Conta também com livros de outras matérias, testemunho das inquietudes intelectuais de dom Enrique: livros de viagens, história, geografia, literatura, religião, direito e política, classificados tal e como ele próprio os dispôs. As vitrines exibem uma pequena amostra da ampla coleção de selos, moedas e medalhas que reuniram Cerralbo e o seu enteado o Marquês de Villa-Huerta, formada por mais de 24.000 peças.

Os selos estão representados por matrizes e marcas papais e régias. O conjunto de moedas pertence, principalmente, à serie hispânica; destacando as moedas de necessidade que pertenceram a Prosper Mailliet, adquiridas por Cerralbo num leilão em Paris, em 1886.

As medalhas e reproduções comemorativas, papais e de proclamação, abrangem, cronologicamente, os séculos XVI a XX. Entre elas destacam as renascentistas realizadas por Jacobo Trezzo e Pompeo e Leão Leoni.

Biblioteca

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RelógioHenri Robert, París - Horloge mysterieuse, por volta de 1878 Vidro, metal Nº inv. 3155

Da Biblioteca observa-se a parte de trás deste relógio “misterioso” porque o seu funciona-mento não se compreende a simples vista. Inovação técnica na relojoaria da época, o protótipo deste modelo foi apresentado por Henri Robert na Exposição de Produtos Franceses celebrada em Paris em 1878.

Relógio de mesaAugte. MeyerParis 1800-1850 Bronze dourado Nº inv. 2546 a 2548

A figura deste relógio de estilo Carlos X repre-senta Apolo, coroado de louro, tocando a lira, instrumento que o identifica como deus mito-lógico da música. A maquinária é de Movimento Paris redondo, a pêndulo, com som de horas e meias-horas sobre timbre.

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Carta 1912Papel, tintaNº inv. 6135

Em 16 de maio de 1912, Marcelino Menéndez Pelayo deu os parabéns ao Marquês de Cerralbo por ter obtido o prestigioso prêmio Martorell pela sua obra “Páginas da História Pátria” compêndio das suas primeiras escavações ar-queológicas.

Execução de Maria AntonietaGalvanizado de cobre Nº inv. 3059

Reprodução do verso da medalha desenhada em 1794 por C. H. Küchler para o empresário M. Boulton. A medalha original responde à demanda britânica de objetos e recordações relacionados com a Revolução Francesa que acontecia em aqueles momentos.

Supremacia da Doutrina CatólicaGiovanni M. Hamerani Roma, 1673 Cobre fundidoNº inv. 3004

Medalha de Clemente X confeccionada por G. Hamerani (1649-1705), membro das mais destacadas famílias de medalhistas que trabalharam na casa da moeda papal de Roma. Pertenceu à antiga coleção de Tomás Fr. Prieto (1716-1782) que adquiriu Carlos III para a Casa da Moeda de Madrid.

Selo real de Alfonso X “El Sabio”Coroa de Castela, 1252-1284 Chumbo e seda Nº inv. 2834

A coleção de selos reais e bulas pontifícias abrange do século XIII ao XVIII. Utilizados principalmente para validar documentos, também se empregaram para fechar cartas, selar relíquias, acreditar mensageiros ou marcar pães ázimos na Páscoa judia.

Metade de EkualakosCa. 180 - 146 a.C.BronzeNº inv. 2726

Moeda espanhola de Ekualakos, cidade situada, provavelmente, entre o Alto Douro e a bacia do rio Jalón. Refere-se a uma cunha usada para fazer frente às necessidades quotidianas e aos salários; enquanto as moedas de prata eram destinadas ao pagamento de tributos a Roma.

Trinta e dois stuiversFederico PithanJuliers, Alemania, 1621Prata Nº inv. 2641

Cunhada pela cidade de Juliers, diante da falta de moeda durante os seis meses de assédio pelas tropas do general espanhol Ambrosio de Spínola, a mando de Enrique Bergh. A sua conquista supôs a primeira grande vitória militar de Felipe IV após a Trégua dos Doze Anos.

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As três galerias que se distribuem à volta do pátio interior, completam o espaço constituído pelos anteriores quartos dispostos em fila, uns em seguida dos outros, com varandas para as ruas de Ventura Rodríguez e de Ferraz. Rodeiam o Salão de Baile, constituindo um espaço comum para celebrações com muita gente. Estas galerias foram idealizadas pelo próprio marquês de Cerralbo imitando os palácios italianos para facilitar a circulação dos seus convidados, ao mesmo tempo em que contemplavam as obras mais importantes da sua pinacoteca colocadas, inclusive, no teto, como as telas do século XVII de Francesco de Ruschi e Francesco Maffei.

Na primeira delas, os quadros dos antepassados e os dos senhores da casa misturam-se com jarras de porcelana, relógios, divãs e consolas e competem com as joias e curiosidades da vitrine central.

PRIMEIRA GALERIA

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Don Manuel Isidoro Aguilera y Galarza, Marquês de Cerralbo y AlmarzaEscola espanhola, cerca de 1800 Óleo sobre tela Nº inv. 1795

Representa o bisavô de dom Enrique de Aguilera, também conde de Fuenrubia, com peruca empoada, casaca azul e cruz da Ordem de Calatrava. Faz par com o retrato também oval que representa a sua esposa, dona María Ruiz de Contreras Vargas Machuca.

Dona Luisa de Gamboa y López de León, condesa de VillalobosAntonio Mª Esquivel (?), por volta de 1835 Óleo sobre tela Nº inv. 1750

Retrato de grande valor sentimental para o Mar-quês, já que representa a sua mãe, dama ainda nova, vestida e penteada à moda isabelina. Ca-sada em 1842 com dom Francisco de Aguilera y Becerril, conde de Villalobos, foi mãe de treze filhos, sendo Enrique o primogênito.

Preconização de um cardealJacopo Negretti, Palma O Jovem, por volta de 1590 Óleo sobre tela Nº inv. 1769

Representa a posse de um cardeal tradi-cionalmente identificado com Francisco Pacheco y Toledo, antepassado do Marquês de Cerralbo, que foi preconizado por Pio IV em 1561. Entretanto, o quadro foi pintado por Palma nos finais do século XVI.

Dona Inocencia Serrano y Cerver, Marquesa de CerralboRicardo Balaca1859Óleo sobre tela Nº inv. 1814

O retrato representa a Marquesa vestida à moda isabelina, coberta com a mantilha e com o missal em uma mão, antes ou depois de assistir a um serviço religioso. No pulso direito aparece a miniatura-retrato de um cavalheiro; em 1859 estava casada com dom Antonio María del Valle Angelín.

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Relógio de sobremesaManufatura Brocot, ParisSegunda metade do século XIXMármore, alabastro, bronze douradoNº inv. 1779

A base deste magnífico relógio contém uma caixa de música atualmente inoperante, for-mada por um conjunto de tubos ou órgão de flautas. Seu mecanismo é de escape visto, si-tuado na própria esfera. A jarra que o coroa é um anexo ao relógio original.

Jarra com “Flores de maio”Fábrica de Meissen – Cerca de 1890 PorcelanaNº inv. 1742

Os dois pares de jarras de Meissen desta galeria mostram uma das especialidades mais apreciadas da fábrica de Saxe que desde o século XVIII fabricou sem interrupção vasos ornamentais com decoração pictórica combinada com decoração escultórica de figuras e flores aplicadas.

Don Enrique de Aguilera y Gamboa, XVII Marqués de CerralboJosé Soriano FortPor volta de 1900 Óleo sobre tela Nº inv. 1807

Retrato oficial do fundador do Museu, vestido como senador do Reino, com as condeco-rações que lhe outorgou Carlos de Borbón. Os livros e objetos empilhados sobre a mesa fazem referência às suas coleções e às suas investigações como historiador e arqueólogo

Toisón de OuroSéculo XIX Ouro esmaltadoNº inv. 2187

A dignidade de cavaleiro da Ordem do Toisón de Ouro foi outorgada ao Marquês de Cerralbo em 1895 por Carlos de Borbón, duque de Madrid, que agia como Grande Mestre da Ordem, ao considerar que lhe correspondia legitimamente este direito tra-dicionalmente atribuído ao Rei da Espanha.

CruzEspanha, 1610-1620Ouro esmaltado, vidro verde Nº inv. 2419

Uma das peças mais antigas da coleção de joalharia deste Museu data da época em que decaiu o uso de grandes cruzes peitorais, na moda no século XVI. A pedraria de vidro imita as esmeraldas da Colômbia das cruzes mais ricas.

AbotoadurasSéculo XIX Ouro e metal dourado Nº inv. 2194

Dois estáteros de Alexandre III Magno (336-323 a.C.) foram montados sobre lâminas decoradas com fios de filigrana para com-por esta joia, presente do monarca Jorge I da Grécia (1863-1913) a dom Carlos de Borbón, duque de Madrid, e dele ao Marquês de Cerralbo.

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SEGUNDA GALERIA

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Martírio de São SebastiãoJuan de Peralta, cerca de 1430 Óleo sobre madeira Nº inv. 1827

Segundo a antigo inventário do Museu, esta pintura gótica pertenceu à ermida de São Sebastião de Montuenga (na província de Soria). Na inscrição identificam-se os doado-res, ajoelhados perante o martírio do santo, como filhos de Luis de la Cerda, III conde de Medinaceli.

Ressurreição de CristoCorrado Giaquinto1755-1762Óleo sobre cobreNº inv. 1630

Obra singular na produção de Corrado Giaquinto, atribui-se a este pintor porque mos-tra semelhanças com as telas sobre a Paixão de Cristo que executou durante a sua estadia em Espanha a serviço de Carlos III e que decora-ram o Oratório do Rei no desaparecido palácio madrilenho do Buen Retiro.

Imaculada ConceiçãoFrancisco de Zurbarán, cerca de 1655Óleo sobre tela Nº inv. 1649

Obra tardia do pintor do Fuente de Cantos (Badajoz), do que se conhecem numerosas versões de um tema que começou a pintar em 1613, quando a sociedade sevilhana se manifestou em bloco em favor da crença na Conceição de Nossa Senhora sem pecado ori-ginal.

A PiedadeAlonso Cano, sobre 1660 Óleo sobre tela Nº inv. 1648

A cena representa a dor de Nossa Senhora e de São João perante o Corpo de Cristo, des-prendido da cruz, que jaz com a cabeça no colo da Mãe. Tema muito querido durante o século XVII, a sua composição, barroca, baseia-se na Piedade que pintou Van Dyck à volta de 1636.

A segunda galeria, decorada com um conjunto de mobílias italianas, inspiradas nas produções do barroco florentino –mesa, cadeiras e vitrine –, fabricados no fim do século XIX em madeira de ébano com motivos decorativos chapeados em marfim, está presidida pelo quadro da Pietá, pintado por volta de 1660 por Alonso Cano e, do outro lado, por uma “Alegoria sobre a morte que a todos atinge” de Pietro Paolini (1603-1682), considerada na época do Marquês como obra de Caravaggio, tal como reza em sua cartela original.

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MesaMilãoEntre 1860-1870 Pinheiro, ébano e mar-fim Nº inv. 1623

Este tipo de mesa de estilo eclético foi muito premiado nas Exposições Universais do século XIX. Combina o estilo francês na forma com o italiano na decoração, baseada no mobiliá-rio napolitano do final do Renascimento.

CadeiraItália, entre 1860-1870 Nogueira, pau-santo, osso, madrepérola, metais Nº inv. 1833

De caráter historicista, a sua forma faz lem-brar as antigas cadeiras com suporte de tesoura, chamadas “dantescas” no século XIX. Os embutidos baseiam-se nos móveis italia-nos do Renascimento e do Barroco.

Alegoria da MortePietro Paolini1640-1680Óleo sobre tela Nº inv. 1918

Obra do pintor de Luca (Italia), seguidor de Caravaggio no claro-escuro tenebrista e no naturalismo, representa homens e mulheres de diferentes idades e condições sociais, reunidos à volta da caveira que sustenta o mais velho, que parece meditar sobre o sentido da Morte.

Jarras do RegenteSéculos XVIII-XIX PorcelanaNº inv. 1624-1625-1637-1638

O conjunto de jarras de estilo Imari chinês pertenceu a Antonio de Orleans, duque de Montpensier. Mostra o escudo da sua linha-gem, a exemplo das jarras deste mesmo tipo encarregadas por primeira vez à China por Felipe II de Orleans, Regente da França, nos inícios do século XVIII.

Marinha com figurasLuis Paret, cerca de 1785 Óleo sobre tela Nº inv. 1934

Pertence à série dos Portos do Mar Oceano ou vistas de portos do Cantábrico, encomendada a Paret em 1786 por Carlos III. Representa um lugar nas imediações da antiga praia de Portugalete, que foi identificado com Peñota; a cidade representada ao fundo seria Santurce.

Diana caçadoraClunia (Peñalba de Castro, Burgos), século II Mármore, metal Nº inv. 1937

Montagem do século XIX realizado a partir de um torso romano. Originalmente, co-rrespondia a uma cópia do modelo criado pele escultor grego Leocares (S. IV a.C.) que apresentava a deusa com arco e coldre com setas às costas.

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TERCEIRA GALERIA

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JarraJapão, período Edo ou era Meiji, por volta de 1870BronzeNº inv. 1527

Fundido a molde com relevos inspirados nos bronzes arcaicos chineses. Provavelmente adquirido no Hôtel Drouot de París em 1877, representa a estima que na época atingiram na Europa as artes decorativas japonesas como objetos de coleção.

Aparição do Menino Jesus a Santo Antônio de PáduaMariano Salvador Maella, por volta de 1787 Óleo sobre tela Nº inv. 2014

O Museu conserva dois dos esboços dos três quadros que pintou Maella para a igreja matriz da Casa de Campo, conservados no Museu de História de Madrid. O templo foi reconstruído durante o reinado de Carlos III, que professava grande devoção a Santo Antônio.

Arca da Bula Pia SentençaPolicromia atribuída a oficina de Antônio de PeredaPor votla de 1661 Óleo sobre madeira, metalNº inv. 1533

Segundo a tradição e as inscrições desta arca, nela foi-lhe trazida ao Rei Felipe IV a bula outorgada em 1661 pelo Papa Alexandre VII, que permitiu o culto à Imaculada Conceição de Nossa Senhora por mediação de Luis Crespi de Borja, bispo de Orihuela, representado na tampa.

Par de capitéis coríntiosSéculo XIX PorcelanaNº inv. 1950 y 2003

De excepcional tamanho e qualidade técnica, combinam diferentes texturas no acaba-mento da porcelana, vidrada e sem vidrar. Atribuíram-se à fábrica de Sèvres ou à manu-fatura madrilenha do Buen Retiro.

Na terceira galeria encontra-se o banheiro de convidados, com uma curiosa cobertura em madeira para o penico e um lavatório em mármore. Ao longo desta última galeria distribuem-se escritórios de tipo salmantino (de Salamanca) que alternam com baús neorrenascentistas e arcas de diferentes procedências, bustos de mármore e grandes espelhos com molduras de talha dourada. As varandas abertas à escada incitavam os convidados mais pontuais a debruçarem-se para contemplar a paulatina subida do resto dos convidados, ao mesmo tempo que deixavam escapar os acordes da orquestra situada na tribuna de músicos do vizinho Salão de Baile.

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Diana e CalixtoAtribuído a Federico Cervelli (?) 1665-1670 Óleo sobre tela Nº inv. 1969

Pintura mitológica inspirada na Diana e Calixto de Liberi conservada no Museu de L’ Hermitage, embora executada por um se-guidor do pintor de Pádua, possivelmente o milanês Cervelli, pintor da escola veneziana.

PietáSebastiano Ricci 1691-1706Óleo sobre tela Nº inv. 1574

Este quadro é uma obra acabada, porém pare-ce um esboço pelo seu pequeno formato. A perspectiva em diagonal, a gesticulação das personagens e o forte claro-escuro são recur-sos que empregou Ricci, afamado pintor da escola veneziana, para enfatizar o dramatis-mo do tema.

Jacob com os rebanhos de LabánOficina de José de Ribera, por volta de 1638 Óleo sobre tela Nº inv. 1576

Graças a esta cópia conhecemos a composição completa de um quadro pintado por Ribera na sua oficina napolitana, do qual apenas se conserva um fragmento na National Gallery de Londres. Representa Jacob (Israel) junto ao rebanho de ovelhas sujas que permitiu que formasse a sua própria tribo.

Martirio de San MenaEscola espanhola, 1600-1630 Óleo sobre tela Nº inv. 1566

Este quadro atribuído a Bartolomé ou a Vicente Carducho pertenceu à igreja de São Ginés e copia a obra de Pablo Veronés (Museu do Prado) erradamente interpretada em 1657 como o martírio de São Ginés de Arlés, embora o santo, segundo a inscrição do quadro original, seja o egípcio Mena.

São Francisco em êxtaseO Greco e oficina Cerca de 1600 Óleo sobre tela Nº inv. 1982

Assinado “Doménikos Theotokópulos epoiei”, é uma das versões pintadas pelo grande pintor cretense sobre o milagre dos estigmas ou chagas de Cristo que recebeu São Francisco de Assis no seu retiro no monte Alvernia, na presença do irmão Leão.

RelógioJohn Taylor, LondonSéculo XVIIIMadeira de mogno, metais Nº inv. 2008

Seu mecanismo com movimento a pêndulo de pera e escape de paletas é característico dos relógios ingleses de tipo “bracket”. Está assinado na esfera por John Taylor, famoso relojoeiro londrino cujos bracket foram especialmente importados à Espanha.

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Decorado com painéis de ágata de Granada, mármores dos Pirineus e grandes espelhos venezianos que multiplicam luzes e reflexos até o infinito, o Salão de Baile constitui o ponto final do nosso percurso.

As pinturas do teto, realizadas a óleo por Juderías Caballero entre 1891 e 1892, são uma das poucas concessões à arte contemporânea que encontramos no Palácio. Entretanto, como podemos observar, esta novidade inscreve-se em um estilo profundamente “academicista”, muito longínquo das vias pelas que transitavam as vanguardas pictóricas do momento, mas que encaixa perfeitamente com a ambientação historicista do palácio e contribui para criar uma peculiar atmosfera de esplendor e brilho num lugar concebido para a diversão em que tudo está pensado em função do baile. A cena central representa a dança dos deuses e à sua volta interpretações do baile ao longo da História. Esta ideia de “templo da dança” fica sublinhada com a incorporação dos bustos ao estilo romano, distribuídos entre os assentos: divãs e cadeiras volantes estofadas com sedas de Lyon. Neste salão realizaram-se, além disso, importantes exposições de Arqueologia e Numismática e saraus literários.

Salão de Baile

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BorneCerca de 1885 Madeira dourada, seda Nº inv. 2512

A estrutura deste divã está formada por uma composição eclética de elementos diversos possivelmente desenhados pelo Marquês de Cerralbo, que se ocupou pessoalmente de dirigir cada detalhe da decoração dos salões do Piso Principal do Museu.

Relógio com escultura neoclássicaBarbedienne, Cíe Des Marbres, Onyx d´Algerie, París, cerca de 1870 Bronce plateado, mármolNº inv. 2495

Barbedienne - Cíe Des Marbres, Onyx d´Algerie, París – Cerca de 1870 - Bronze prateado, mármore - N.º inv. 2495Relógio “misterioso” com pendulo cônico idealizado por Farcot, que faz girar a esfera celeste ao ser arrastado por uma seta mon-tada sobre pedestal que oculta a maquinária. A escultura foi fabricada na célebre fundição de Ferdinand Barbedienne.

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Figura- candeeiroFrança, 1850-1900 Bronze ou zinco com pátina preta e dourada Nº inv. 1799

Alegoria do mundo terrestre, a criança leva a tiracolo um estojo de entomólogo, do qual saem os insetos que percorrem o seu corpo. O estilo faz lembrar a escultura barroca, uma das fontes de inspiração dos escultores fran-ceses de bronzes decorativos para candeeiros ou relógios.

Cadeira1875-1900Madeira dourada, seda Nº inv. 3606

Chaise volante, ou de fácil portabilidade pelo seu pouco peso, característica das salas de baile, que o próprio convidado transportava ao seu gosto à volta da pista para repousar ou juntar-se discretamente a diferentes grupos de conversa.

BustoSéculo XVIII Mármore Nº inv. 2501

A iconografia da personagem retratada, possivelmente um filósofo grego, insere esta obra na tradição de um tipo de retratos criado na Grécia clássica durante o século IV a.C., recuperada na época alta do Império Romano e renovada durante o neoclassicismo, nos finais do século XVIII.

Alegoria da Dança Máximo Juderías Caballero1891-1892Óleo sobre tela adherido al muro

Na abóbada, o estilo “academicista” de Juderías Caballero traduz numa evocação romântica da história da dança, cujas sequên-cias, algumas de um velado erotismo, giram à volta do baile dos deuses no Olimpo celeste.

O próprio Marquês de Cerralbo aparece retratado em um dos ângulos, vestido com casaca vermelha, exercendo o papel de per-feito anfitrião. Os convidados ao baile nesse mundo ideal são réplica das personagens da alta sociedade que dançavam neste salão o “galop”, uma dança muito popular na qual, deslocando-se em círculo, pulavam imitando o galope dos cavalos.