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Exposição: Tavira mostra Dieta Mediterrânica p. 5 www.issuu.com/postaldoalgarve 8.805 EXEMPLARES Gosto de poesia e depois... p. 9 Da minha biblioteca: O Retorno de Dulce Maria Cardoso p. 11 Grande ecrã: Cineclubes de Faro e Tavira exibem Amour p. 3 Espaço ALFA: Preto e branco é slow p. 7 Espaço Cultura: Moeda de ouro histórica regressa a casa em Portimão p. 10 Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO MARÇO 2013 n.º 55 D.R. D.R. D.R. D.R. PEDRO RUAS D.R.

Cultura.Sul55MAR

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Partilhe o seu Caderno de Artes & Letras ☺> EDITORIAL: O brilho dos Óscares, por Ricardo Claro> ESPAÇO CRIA: Os dez mandamentos do empreendedor, por Ana Lúcia Cruz> JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Eu nunca desisti, por Tiago Peres> GRANDE ECRÃ: Cineclube de Faro: Março é um mês fortíssimo pelas nossas bandas> ESPAÇO AGECAL: Por uma paisagem algarvia, Miguel Godinho> AQUI HÁ ESPECTÁCULO: Programar um teatro em tempos de crise, João Ventura> PANORÂMICA: Tavira mostra dieta mediterrânica em exposição, por Ricardo Claro> MOMENTO.S: Sem fatura, por Vítor Correia> ESPAÇO ALFA: Preto e branco é slow, por Telma Veríssimo> CONTOS DE INVERNO NA RIA FORMOSA: ArquiMendes, por Pedro Jubilot> ESPAÇO AO PATRIMÓNIO: Desafios de um arqueólogo, por Vera Teixeira de Freitas> SALA DE LEITURA: É urgente a Poesia, Paulo Pires> DA MINHA BIBLIOTECA: O Retorno – Dulce Maria Cardoso, por Adriana Nogueira> ESPAÇO CULTURA: 2020 o horizonte de sustentação das Indústrias Culturais e Criativas no Algarve

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Page 1: Cultura.Sul55MAR

Exposição:

Tavira mostraDieta Mediterrânica

p. 5

www.issuu.com/postaldoalgarve8.805 EXEMPLARES

Gosto de poesia e depois...

p. 9

Da minha biblioteca:

O Retorno de Dulce Maria Cardoso

p. 11

Grande ecrã:

Cineclubes de Faro e Tavira exibem Amour

p. 3

Espaço ALFA:

Preto e branco é slow

p. 7

Espaço Cultura:

Moeda de ouro histórica regressa a casa em Portimão

p. 10

Mensalmente com o POSTAL

em conjuntocom o PÚBLICO

MARÇO 2013n.º 55

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01.03.2013 2 Cultura.Sul

Foram esta semana atribu-ídos os Óscares e o brilho e glamour do cinema regres-saram, uma vez mais, aos ecrãs de milhões de pessoas em todo o mundo.

A sétima arte mantém a capacidade inequívoca de fazer sonhar, de proporcio-nar viagens nas geografias e nos tempos, sejam eles reais ou ficcionados, mas o cine-ma dá também sinais menos positivos, em particular em Portugal e muito em espe-cial no Algarve.

Cada vez mais a discussão já não é a da sobrevivência do cinema dito ‘alterna-tivo’ ou ‘não comercial’, face ao cinema de massas ‘hollywoodesco’ e comercial, quando nem este já resiste à crise.

As salas de cinema en-cerram umas atrás das ou-tras no país e na região, su-cumbindo aos ditames do cinema visto em casa, em suporte físico ou através de downloads da web legais ou ilegais, em plasmas e siste-mas vídeo e áudio cada vez mais sofisticados.

A romaria ao grande ecrã é cada vez menor, seja ele o comercial ou dos cineclu-bes. Os apoios aos cineclu-bes e ao cinema como um todo, soçobram perante os apertos das contingências orçamentais e para que as populações tenham acesso a esta forma de Cultura vêm agora as autarquias, força-das, dar apoio à projecção das obras cinematográficas.

Pouco, muito pouco, para garantir que a sétima arte mantém lugar merecido en-tre as formas de expressão cultural por terras de Portu-gal e dos Algarves. Assim vai a penúria a que se votam as manifestações culturais em muitos casos e que importa denunciar para que não se padeça de falta de alertas para uma situação a que importa pôr cobro atempa-damente, pelo cinema e pela Cultura.

O brilho dos Óscares

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveispelas secções:• Contos da Ria Formosa:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzJoão VenturaMiguel GodinhoTelma VeríssimoTiago PeresVera Teixeira de Freitas

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:8.805 exemplares

Os dez mandamentosdo empreendedor

A crónica de hoje é dedicada à identificação dos dez man-damentos do empreendedor. Qualquer empreendedor, para ser bem sucedido, tem de ter co-nhecimento dos principais fato-res que o vão apoiar no desen-volvimento do seu negócio. O percurso não é fácil, nem igual para todos, mas o empreende-dor deve mentalizar-se que, in-dependentemente da atividade, existem linhas de orientação a considerar, as quais identifi-camos como “Os dez manda-mentos do empreendedor”. Es-tes mandamentos foram alvo de uma profunda e rigorosa análise e não ficavam por aqui. Contudo, e em última instância, poderão invadir o facebook do CRIA com todas as sugestões que acharem necessárias.

Os dez mandamentos do empreendedor são: 1) Usarás sempre o teu processo criativo.

Este é gratuito e é a tua melhor arma para tornares a empresa mais competitiva; 2) Elaborarás o melhor Plano de Negócios de todas as “Eras”. Falharás! Mas nada temas, pois a prática faz a perfeição; 3) Estarás atento ao mercado: concorrência, clien-tes, produtos, redes de distri-buição...; 4) Reforçarás a tua

rede de contactos, respeitando os compromissos assumidos; 5) Criarás um Plano de Marketing eficiente e não o negligencia-rás em nenhum momento; 6) Promoverás um ambiente de trabalho estimulante para os teus colaboradores. Um bom líder é aquele que, entre mui-tas outras competências, sabe/aprende a comunicar de forma clara, motiva os seus colabora-

dores e valoriza-os; 7) Investirás (tempo ou recursos) de forma recorrente na inovação, seja ela de produto, processo e/ou organizacional; 8) Trabalharás de forma contínua na imagem da tua empresa. A imagem vale mais do que mil palavras e re-presenta a captação ou perda de clientes; 9) Apoiarás de for-

ma contínua a tua formação e a dos teus colaboradores; 10) Tra-balharás para o presente, sem nunca comprometer os objeti-vos futuros. A visão estratégica é alma do negócio.

Na realidade, a estes dez mandamentos, podíamos acres-centar muitos outros. Contudo, estes são os principais e não re-comendamos que sejam negli-genciados. A título de exemplo,

o Plano de Negócios e o Plano de Marketing costumam não ter a devida atenção. O Plano de Negócios, por norma, costu-ma ser feito numa fase inicial, tendo em vista a captação de financiamento. Mas este é mais do que uma mera apresentação do nosso negócio. O PN permi-te-nos perceber o que não está a correr bem, quando começa-mos a ter mais custos do que o esperado. No que concerne ao Marketing, mais especificamen-te o marketing digital, muitas vezes os conteúdos divulgados através das redes sociais não são coerentes com o Core Business da empresa. Este é um dos erros mais comuns. Por último, gos-taríamos de deixar claro, que a fórmula que funciona por vezes com uma empresa, pode não funcionar com outra. Por este motivo é premente “sair da cai-xa”, que é um excelente exercí-cio para ativar a aprendizagem contínua, tal como recorrer a especialistas. Arrisco, também, dizer que para cada manda-mento existe um especialista pronto para dar apoio. O que pode ser crucial, não só para encontrar as melhores soluções para a empresa, como também para rentabilizar ao máximo os recursos disponíveis. Portanto, dez mandamentos igual a su-cesso garantido!

Eu nunca desisti

Hoje vou contar uma his-tória.

Era uma vez um rapaz apaixonado pela arte de deslizar nas vagas. Era com uma prancha de bodyboard que entre Olhão e Sagres fa-zia quilómetros e mais qui-lómetros à procura da onda perfeita.

Não era fácil! A costa sul do Algarve chega a estar se-

manas sem receber ondula-ção. Apesar das adversidades o sonho não abrandava, ele treinava muito, os seus ob-jectivos eram claros.

Aquela vontade de evo-luir, a fome de vencer era forte. Começou por se des-tacar a nível regional. Mais tarde começou a frequentar as praias da zona de Lisboa onde o nível dos atletas era mais alto. Carcavelos, Costa da Caparica, Peniche e Eri-ceira eram alguns dos locais que serviam de palco para os seus treinos. Passados alguns anos já disputava os lugares cimeiros dos circuitos na-cional e europeu. Chegando mesmo a vencer alguns dos seus ídolos.

Hoje aos trinta e oito anos

e agora empresário continua a colocar o seu empenho, a sua criatividade e alegria no dia-a-dia da sua empresa. O

seu novo sonho.Eu nunca desisti e tu?Não esperes mais, agarra o

teu sonho e segue em frente! 

d.r.

As t-shirts da marca

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Ana Lúcia CruzGestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreen-dedorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

Tiago PeresEmpresárioMiau, miau mó/Sagres t-shirts

Page 3: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013  3Cultura.Sul

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARES

7 MAR | O Sabor do Leite Creme, Portugal, 2012 (74’), M/6Na presença de Hiroatsu Suzukie Rossana Torres 11 MAR | Half Nelson - Encurralados, Ryan Fleck, E.U.A., 2006 (106’), M/16, (10 horas, entrada livre)

11 MAR | CARANDIRU, Hector Babenco, Brasil/Argentina/Itália, 2003 (145’), M/16, (14.30 horas, entrada livre)14 MAR | Aguirre, Der Zorn Gottes (Aguir-re, O Aventureiro), Werner Herzog, Alema-nha, 1972 (93’), M/1221 MAR | Marti, Dupa Craciun (Terça, De-pois do Natal), Radu Muntean, Roménia, 2010 (99’), M/1628 MAR | Amour (Amor), Michael Haneke, França/Alemanha/Aústria, 2012 (116’), M/16

“OBJETIVO INTERIOR”Até 23 MAR | Galeria de Arte da Praçado Mar - QuarteiraExposição de fotografia e vídeo de Ana Gonzalez, Elsa Ramos, Ana Oliveira e Eduardo Pinto. Quatro olhares, conhecimentos e sonhos, um misto que cada artista reinterpretaAg

endar

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPJ | às terças-feiras | 21.30 horas | entrada paga

5 MAR | HOLy MOTORS, Leos Carax,França/Alemanha, 2012, 115’12 MAR | AMOR, Michael Haneke, França/Alemanha, 2012, 127’19 MAR | REALITy, Matteo Garrone, Itália/França, 2012, 116’26 MAR | 4:44 ÚLTIMO DIA NA TERRA, Abel Ferrara, EUA; 2011, 85’

Sede | às quintas-feiras | 21.30 horas | entrada livre

7 MAR | BARRAvENTO, Brasil, 1962, 81’14 MAR | DEUS E O DIABO NA TERRADO SOL, Brasil, 1964, 118’21 MAR | TERRA EM TRANSE, Brasil, 1967, 108’28 MAR | ANTóNIO DAS MORTES, Brasil, 1969, 100’

Março é um mês fortíssimo pelas nossas bandas

Nem sequer referimos as nomeações – ou o Óscar arrebatado – por Amor, pois isso é o que menos diz desta obra-prima, dura mas sensível, realista e lúcida, sobre um amor como o retratado entre os magníficos Eman-nuelle Riva (um escândalo não ter ganho o Óscar para Melhor Actriz) e Jean-Louis Trin-tignant. Basicamente, um amor como todos desejamos para nós.

Holy Motors, por seu lado, é um OFNI (objec-to fílmico não identificado), indefinível e qua-se indescritível, no meio de toda a sua erosão, loucura, fantasia, surrealismo, inconformismo e rebeldia. É impossível ficar-lhe indiferente.

Também Reality, ao jeito franco e sincero da veia neo-realista italiana, nos confronta com os nossos próprios preconceitos face àqueles cujo principal objectivo na vida é conseguirem participar num reality show… embora, por isso mesmo, se torne um verda-deiro libelo contra o que esse lixo televisivo provoca nos mais ingénuos e carentes.

Ferrara é Ferrara, um dos poucos autores da cinematografia norte-americana, e este seu retrato do fim do mundo é uma confissão angustiada e terna do fim dos nossos mun-dos, os pessoais, tragados pelos vórtices da-

queles que, lá fora, se encarregam de destruir os nossos sonhos.

Na nossa sede, como habitualmente, às quintas-feiras, optámos por partilhar o enor-me Glauber Rocha, unanimemente conside-rado o maior realizador brasileiro de todos os tempos, mostrando os seus quatro mais relevantes filmes, produzidos na década de 60 do século passado.

Cineclube de Faro

Cena do filme Amor

d.r.

Espaço AGECAL

Por uma paisagem algarvia

O grau de desenvolvimento de um território pode medir-se pelo tipo de apropriação que dele se faz.

Os processos de ocupação do espa-ço revelam a relação entre o meio am-biente e as populações, o modo como estas se distribuem, e dão forma aos seus hábitos e costumes, à cultura e à economia e são fundamentais para perceber o nível de adaptação das co-munidades ao território, a sua capaci-dade organizacional, tendo em conta

que a uma paisagem natural tam-bém corresponde, inevitavelmente, uma paisagem humana, económica, cultural.

Nesse sentido, a preocupação com a definição dos modelos mais adequados de desenvolvimento para cada território deve ser uma exigência constante por parte de quem nele habita, devendo estes ser revistos sempre que necessário. É fundamental uma reflexão per-

sistente e continuada sobre que ca-minhos seguir, que orientações, que padrões de apropriação.

Para o Algarve, esse trabalho de es-tudo já se vem a fazer desde há mui-to tempo, por diferentes instituições, pessoas e disciplinas, com fracos re-sultados práticos. Não precisamos de ser especialistas – basta percorrermos o território – para percebermos que, em termos de ocupação e gestão do espaço, muitos erros têm vindo ulti-

mamente a ser cometidos, por incú-ria ou incapacidade de administração, especialmente no que aos últimos 50 anos concerne. Por aqui, a utilização do solo sempre esteve adaptada às necessidades básicas das populações.

Até meados do século XX, no li-

toral, as citriculturas e horticulturas complementavam as actividades pesqueiras; no barrocal, era clara a riqueza das quintas, das hortas, do sequeiro e das várias indústrias asso-ciadas e, nos montes da serra, as pe-quenas parcelas lavradas, em terrenos frequentemente roubados às ribeiras, ali permitiam, bem ou mal, fixar as escassas populações. Uma realidade integrada numa escala local, regional, perfeitamente sustentável. Contudo, a partir dos anos 60 e 70, o progressivo abandono dos campos e da agricultu-ra tradicional, um turismo de massas crescente e a decorrente betonização do litoral, a multiplicação de equipa-mentos a partir de modelos que nada tinham a ver com a realidade do ter-ritório, foram consentidos por todos, com base numa evolução que se dizia imprescindível.

Passados 50 anos e já com uma grande e importante porção de terri-

tório adulterada, assiste-se novamen-te, um pouco por todo o lado, a uma multiplicação de grandes complexos de estufas – agora, já em alumínio – associados a novas práticas agrícolas de tipo intensivo, altamente intrusivas na paisagem, decorrentes também, é certo, das alterações nas formas de consumo das populações, mas pondo em risco aquilo que desde sempre foi a realidade mais nobre do território: a riqueza da sua paisagem natural, o seu maior activo, até em termos turísticos. É bom que se pense nisto a sério antes de nos lançarmos de cabeça numa nova cantiga de progresso, completamente desligada das necessidades mais pró-ximas (e mais salutares) das comuni-dades, e onde os riscos se começam já a evidenciar: uma paisagem altamente artificializada, com benefícios apenas para uns quantos e com todos os pre-juízos que daí advêm outra vez para a realidade da região.

Grande ecrã

Miguel GodinhoTécnico Superior de Património Cultural – Sócio da AGECAL

“ENSEMBLE DE FLAUTAS DE LOULÉ E CORODE CÂMARA VOZART”2 MAR | 18h00 | Convento de Stº António – LouléNo concerto serão interpretadas peças de autores como Tielman Susato, Jacques Arcadelt. Arcangelo Corelli, Georg Philipp Telemann, J.S Bach, Gustav Holst, José Maurício Nunes Garcia, entre outros

d.r.

Até meados do século XX, no litoral, as citriculturas e hor-ticulturas complementavam

as actividades pesqueiras

d.r.

d.r.

Page 4: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013 4 Cultura.Sul

Programar um teatro em tempos de crise

Em 2012 passaram pelo TEMPO 24.333 espectadores que assistiram a 103 sessões, 32 das quais protagonizadas por artistas ou entidades lo-cais. Apostando em parcerias com artistas e produtores, o TEMPO apresentou uma pro-gramação diversificada em

géneros, formas e expressões artísticas, pensada a partir das expectativas, necessidades e desafios culturais de diferen-tes segmentos de públicos, cruzando o que veio de fora com projectos locais como convém a um teatro de proxi-midade em que a comunida-de se revê. Uma programação artística e cultural, ainda, que visou a promoção de qualida-de de vida com sentido, e não apenas como entretenimento, mas como estratégia de cria-ção e sustentabilidade, de civi-lidade comum, de valores, de estilos e resultados de vida me-lhor, humanistas e solidários.

Em 2013, queremos con-tinuar a contrariar a crise fa-zendo do TEMPO um palco de cidadania cultural, estimulan-do iniciativas culturais locais, acolhendo propostas cívicas, promovendo parcerias com ar-tistas, pondo em prática ideias empreendedoras de forma a as-segurar a sustentabilidade do projecto com base na ideia de que mesmo em tempos de crise

é possível promover cultura e entretenimento com sentido.

Por isso, nos dias que cor-rem, e mais do que nunca, como forma de afrontar e vencer as dificuldades que a crise nos coloca, acreditamos que programar um teatro mu-nicipal deve ser mais do que fazer suceder espectáculos a espectáculos.

Daí que a programação do TEMPO, ainda que fortemente condicionada pelos limites e as possibilidades orçamentais cada vez mais reduzidas, mas também pelas ofertas dos pro-dutores e artistas numa lógi-ca de parceria, continue a ser pensada a partir de um pla-

no de actividades conforme à ideia de espectáculos e acções que mediatizam a comunica-ção no seio da comunidade em que se insere, combinan-do o que vem de fora com aquilo que acontece e se cria localmente.

Eis porque, a par das pro-gramações artísticas contem-porâneas de natureza institu-cional que o TEMPO tem vindo a apresentar desde a sua aber-tura e às quais pretende dar continuidade agora numa ló-gica de parceria com artistas e produtores, seja nossa vontade abrirmo-nos, também, a pro-gramações amadoras, alterna-tivas, perseguindo uma ideia de proximidade e predisposi-ção para receber projectos ar-tístico-culturais diferenciados que ao invés de conflituarem antes se complementam numa lógica de programação cultu-ral diversificada em géneros, formas e expressões artísticas e pensada para todos os públi-cos como se exige a um teatro municipal.

TEMPO aposta em programação diversificada

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

5 MAR | Concerto Pedagógico (exclusivamente para público escolar), 10.30 horas, duração 60’8 MAR | Comemoração do Dia Internacional da Mulher (dança, fados, música popular e tradi-cional portuguesa, jazz e folclore), 21.30 horas, duração: 140’, preço: 1 €10 MAR | Concerto Promenade - Suite Pulcinella, 12 horas, duração: 60’, preço: entre 5 e 10 €15 MAR | 9º Festival de Flamenco de Faro - Casta Flamenca, com Felipe Mato & Almudena Serrano21.30 horas, duração: 60’, preço 10 €16 MAR | 9º Festival de Flamenco de Faro - Luz de Luna, com Oscar de los Reyes & Luna Fabiola,21.30 horas, duração: 60’, preço 10 €A partir 20 de MAR | Visitas Encenadas - Atrás do Pano III, Os Cantos Confidenciais, 10, 11.15 e 14.30 horas , duração: 60’, preço 3 €De 21 a 23 MAR | DANÇARTE - 10º Concurso Internacional de Dança, 9.30 horas, duração: 120’ (gala), preço: 10 € (Gala)

Cine-Teatro LouletanoProgramação: http://cineteatro.cm-loule.pt

1 MAR | Miguel Ângelo (música), 21.30 horas, duração: 1h10, preço: 12 €5 MAR | “Gala do Desporto”, 21 horas, entrada livre7 MAR | “Conversas à 5.ª”, com Xana (ciclo), 21 horas, duração: 1h10, entrada livre9 MAR | “Jasmina Jolie & Orquestra Desvarietées – Cosmopolitan Cabaret” – Vozes de Mulheres, 21.30, preço: 10 €14 MAR | “Linha Vermelha” (cinema), 21 horas, duração: 1h20, preço: 3 €16 MAR | “O Deus da Matança”, pela ACTA, 21.30 horas, duração: 1h05, preço: 5 €17 MAR | “Mucancas – Estória de uma Escola Paga”, de Rui Sena (documentário), 21 horas, 3 €21 MAR | “Improvisos à 5.ª”, com Sextas à Solta (ciclo), 21 horas, duração: 1h20, entrada livre23 MAR | “Amália por Júlio Resende” (música), 21.30 horas, duração: 1h, preço: 10 €24 MAR | “Sininho e o Segredo das Fadas” (cinema), 15.30 horas, duração: 1h15, preço: 3 €

27 MAR | “E Tudo o Casamento Levou”, com Maria João Abreu e Almeno Gonçalves (teatro), 21.30 horas, duração: 1h40, preço: 10 €28 MAR | “Deste Lado da Ressurreição”, de Joaquim Sapinho (cinema), 21.30 horas, duração: 1h56, preço: 3 €

AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio

16 a 28 MAR | Exposição de Henrique Dentinho – Formosa Ria (escultura)16 MAR | Mestre André (música infantil)22 MAR | “Canções – Pedro Abrunhosa”, 21.30 horas

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

8 MAR | “Cinemas às 6.ªS – Womens Are Heroes”, 21.30 horas, duração: 1h25, preço: 3 €9 MAR | “O Bicho da Malha” (teatro), 16 horas, duração: 0h35, preço: 6 € / 4 € (crianças até 12 anos)15 MAR | “Cinemas às 6.ªS – Uma Vida Melhor”, 21.30 horas, duração: 1h50, preço: 3 €16 MAR | “Os Reis da Comédia” (teatro), 21.30 horas, duração: 2h, preço: 15 €22 MAR | “Água – A Seiva da Terra” (música), 21 horas, duração: 1h, preço: 6 €

Aqui há espectáculo

João VenturaDirector Artístico do TEMPO - Teatro Municipal de Portimão

Primeiro começamos por acompanhar este casal em situações banais, situações por que todos já passamos. Depois acha-mos que eles são extremamente engraça-dos e rimo-nos a bom rir. Rimo-nos do dia

atribulado do seu casamento, da condu-ção dela, das saídas dele, da maneira como planeiam as suas férias, de como falam dos seus pais, dos seus amigos. Rimo-nos a bom rir de tanto e tão pouco.

Dest

aque 27 MAR | “E Tudo o Casamento Levou”, com Maria João Abreu e Almeno Gonçalves

(teatro), 21.30 horas, duração: 1h40, preço: 10 €

Rodrigo Leão leva ao palco o seu mais recente trabalho “Songs (2004 – 2012)”, um álbum que reúne canções

cantadas em inglês que desde Cinema têm pontuado a discografia e ainda três inéditos.De

staq

ue 2 MAR | SONGS TOUR 2013 (música), Rodrigo Leão, 21.30 horas, duração: 75’, preço: 25 €

O Coração dos meus espectáculos tem nome: Canção. E tem uma função: Contar Histórias, minhas e de outros, onde não há heróis nem vilões mas sim palavras que apetece cantar.

A Canção bate por si ao ritmo fugaz que atravessa o tempo. Pode ser uma valsa fran-

cesa ou uma arriscada acrobacia de Dylan, mas todas as Canções empurram esse cor-po fugidio a que se chama espectáculo para os braços do público. E, assim abraçados, celebramos juntos o pulsar de versos re-motos, agora aprisionados pela nossa Voz comum.

Dest

aque 22 MAR | “Canções – Pedro Abrunhosa”, 21.30 horas

d.r.

Page 5: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013  5Cultura.Sul

A missão de dar a conhecer a impor-tância da participação portuguesa na candidatura transnacional da Dieta Mediterrânica a Património Cultural Imaterial da Humanidade conhece agora uma nova e decisiva fase com a abertura da exposição Dieta Mediter-rânica - Património Cultural Milenar, inaugurada no passado sábado, no Palácio da Galeria, em Tavira.

A importância da exposição, no âmbito da candidatura apresentada a 30 de Março do ano passado, passa por divulgar o conceito multidisci-plinar da dieta mediterrânica e fazer com que os algarvios, e não só, se apercebam, contactem e reconheçam um património cultural que é nosso, mas que se alarga ao conjunto de pa-íses e comunidades que partilham o modo de vida mediterrâneo.

Numa área geográfica que abran-ge três continentes, 25 países e 473 milhões de pessoas, há algo que as aproxima numa confluência civili-zacional, quer nas formas particu-lares de vida em comunidade, quer nos usos e costumes, e que se prende com a ideia de uma dieta que é muito mais do que comida, é um modo de vida antes, durante e depois de uma típica refeição.

O conjunto de artes, conhecimen-tos, práticas e tradições que se esten-dem desde a terra ou do mar até à mesa, desde as colheitas ou da pes-ca, à preparação e confecção dos ali-mentos até aos hábitos do consumo da refeição enquanto fenómeno so-cial são paralelos comuns nos países mediterrânicos.

A candidatura a Património Cultu-ral Imaterial da Humanidade da die-ta mediterrânica agora a concurso é composta por Portugal (Tavira), Es-panha (Soria), Itália (Cilento), Grécia (Koros), Croácia (Hvar e Brac), Chipre (Agros) e Marrocos (Chefchaouen).

No que se refere aos alimentos, o pão, o azeite e o vinho compõem a tríade alimentar mediterrânica por excelência, contudo, a constante pre-sença do pomar de sequeiro com fru-tos como a alfarroba, a amêndoa ou o figo, os produtos do mar, sejam eles peixe, marisco, bivalves ou moluscos, as hortícolas e leguminosas ou as er-vas aromáticas e o próprio mel são também identificados enquanto ele-mentos comuns do regime alimentar

que dá corpo à alargada candidatura.O circuito da exposição é tão trans-

versal como a própria cultura medi-terrânica e começa por explicitar o património cultural e as paisagens culturais da região mediterrânica, para depois dar a devida atenção às especificidades da região de Tavira, representante nacional da candida-tura, continuando pelas formas ali-mentícias, desde a serra até ao mar, das colheitas e pescarias à confecção, onde há ainda uma cozinha equipada para workshops culinários represen-tativos da dieta mediterrânica.

Abertura concorrida

No dia da inauguração, o Palácio da Galeria contou com casa cheia, com pessoas de todas as idades a marcar presença numa exposição que preten-de também ser um testemunho da he-rança cultural mediterrânica que per-dura há três mil anos e que tem sabido ser mantida de geração em geração e que é agora proposta, de forma alar-gada, a património cultural imaterial.

Presente esteve Jorge Botelho, au-tarca tavirense, que lembrou a res-ponsabilidade de levar a cabo esta exposição no âmbito da candidatura e que resulta “de um esforço de dois anos em que trabalhamos em gabi-

netes de seis ministérios deste Gover-no para que a candidatura entregue a 30 de Março de 2012, na sede da UNESCO em Paris, pela mão do nosso embaixador, pudesse tomar forma”.

Para o edil, o objectivo da expo-sição passa por “mostrar às pesso-as o trabalho que estamos a fazer e que nós esperamos que no fim do ano seja o reconhecimento de Ta-vira como património imaterial da humanidade”. A importância desse

reconhecimento é, segundo Jorge Botelho, “fundamental no futuro da economia local, no âmbito do turis-mo e dos postos de trabalho para os jovens, porque uma terra que é patri-mónio da humanidade decerto trará muitos turistas, quer de Verão, quer de Inverno”.

Também Jorge Queiroz, que coorde-nou a candidatura em Tavira, salienta o carácter informativo da exposição, dada “a necessidade de haver um es-

paço relacionado com a candidatura transnacional que pudesse permitir às pessoas ter acesso às várias dimensões da dieta mediterrânica”.

Para Jorge Queiroz, a exposição é também “um instrumento que as es-colas, os nutricionistas, os médicos e os produtores agrícolas podem e devem utilizar”, adiantando que vão ser organizadas “visitas, workshops e sessões culinárias”.

O Cultura.Sul ouviu ainda a di-rectora regional de Cultura, Dália Paulo, que também enveredou pela importância de dar a conhecer este regime alimentar enquanto forma cultural, porque “só faz sentido se for apropriada pelas pessoas, pelos algarvios, que ainda hoje têm este tipo de dieta”.

Dália Paulo sublinha “o carácter didáctico da exposição que vai per-mitir abarcar um leque muito grande de pessoas e sobretudo de jovens e crianças que, com ela, podem apro-priar-se, voltar a olhar e preservar a paisagem cultural e a dieta medi-terrânica, criando uma consciência que ajudará também a preservar essa mesma identidade cultural”, conclui.

A exposição está aberta ao públi-co de terça a domingo, durante, pelo menos o resto do ano, com entrada gratuita para os residentes do con-celho de Tavira e preços que variam entre um e dois euros, consoante a idade.

Pedro Ruas / Ricardo Claro

Jorge Botelho e Jorge Queiroz

Panorâmica

“RODRIGO LEÃO”2 MAR | 21.30 | Teatro das Figuras - FaroUm dos mais reconhecidos compositores portugue-ses contemporâneos apresenta o seu último trabalho, “Songs”, reunindo canções cantadas em inglês que desde “Cinema” têm pontuado a sua discografia

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“ALGUNS ARTISTAS DA TERRA”Até 23 MAR | Galeria Zem Arte - São Brásde AlportelExposição procura abrir novas perspectivas de in-terpretação, ao reunir alguns artistas da terra, de quem ali nasceu e cresceu, mas também de quem ali enraizou a vida

Tavira mostra dieta mediterrânica em exposição

Palácio da Galeria teve casa cheia no dia da inauguração

fotos: pedro ruas

Page 6: Cultura.Sul55MAR

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Page 7: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013  7Cultura.Sul

“OUVIR A MÚSICA”Até 26 MAR | Galeria de Arte Pintor SamoraBarros - AlbufeiraOs instrumentos musicais combinados com uma temática acentuadamente naturalista dão o mote a esta exposição, em que Natallia Yaskevich recorre tanto à técnica de acrílico como ao óleo sobre tela

“CONCERTO ACADÉMICO”2 MAR | 16.00 | Armazém Regimental de LagosOs alunos da Academia de Música de Lagos, das clas-ses de canto, cravo e fagote, dos professores Joana Godinho, Elsa Mathei e Emily Mcintyre, respectiva-mente, vão proporcionar uma audição de final do segundo período lectivoAg

endar

Preto e branco é slow

Hoje, ainda encontramos fotografias a preto e branco, feitas a partir de filme e reveladas em laboratório, sobretudo em portefólios com aspirações artísti-cas. Estranha-se esta opção que implica horas de dedicação e paciência, quan-do existem alternativas aparentemente melhores.

Esta tendência aparece em movimen-tos que criticam o entusiasmo predador de todos os momentos, facilitado pela generalização do uso da fotografia di-gital. Os adeptos destas tendências dão por perdida a batalha contra o tempo e a perda de memória, que nos leva a querer registar tudo. Para eles a pressa priva-nos da reflexão. Reclamam o direi-to ao prazer de fazer, ao envolvimento com o tema e ao respeito pelos assuntos

fotografados. Primam a qualidade.Ao lado da palavra fotografia surgem

expressões como slow ou zen. Trata-se de uma forma ideológica de encarar a fotografia: fotografar por opção estéti-ca, valorizando, não apenas o resulta-do final, mas todo o processo criativo. Para além do mérito inestimável de sal-vaguarda da memória, o que conta é o poder transformador e expressivo que uma imagem pode conter: dar a ver de outras formas, suscitar emoções, parti-lhar ideias, contar histórias.

Os autores regressam aos métodos anteriores atraídos pelo lado artesanal, de contacto direto com os materiais, participando de forma ativa em todas as fases do processo. Recorrem ainda ao pin-hole ou aos fotogramas. Encantam--se com as máquinas com história e com as imagens que proporcionam.

O preto e branco em concreto tem uma longa tradição, que há muito dei-xou de se explicar pelas limitações téc-nicas. No princípio era feito desta forma porque não se conseguia fazer a cores. Agora faz-se a preto e branco e “à anti-ga” porque se quer e se gosta: funciona, é sedutor e faz lembrar as fotografias do tempo dos nossos avós.

d.r.

Espaço ALFA

Telma VeríssimoFormadora na ALFA

Momento

Sem fatura

Foto de Vítor Correia

Page 8: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013 8 Cultura.Sul

“JUNTOS QUEBRAMOS AS BARREIRAS”2 MAR | 21.00 | TEMPO - Teatro Municipalde PortimãoConcerto solidário que conta com a voz de Helena Kupert e a Orquestra de Sopros do Conservatório do Algarve, com a participação especial de Beto Kalulu e Ondina Santos, em prol da Associação Rafael Carole

“FMI E OS 40 E TAL MAMÕES”À QUI, SEX, SÁB | 21.00 | Boa Esperança Atlético Clube PortimonenseÉ seguindo as directrizes impostas pela Troika, para cortar nas despesas, mas mantendo a qualidade de sempre, que o Boa Esperança apresenta esta revista à portuguesa

ArquiMendes

Francisco Mendes terminou o cur-so de arquitectura na capital, e o so-nho de ter o seu próprio gabinete tornara-se realidade, numa vivenda que o sogro construíra para o efeito, ali em plena quinta do lago, onde os canais da ria formosa se fecham, mas se abre terra a um novo mundo prometido. Por isso lhe dedicou, a ci-tação do famoso inventor grego que ele tanto apreciava: Dêem-me uma ala-vanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo, colocando-a na parede da entrada do escritório.

As coisas até nem estavam a correr mal no primeiro ano, mas a sorte co-meçou a sorrir-lhe mais rapidamente quando teve o bonito gesto de con-vidar para sócios, João Neves, um colega de curso que estava sem tra-balho, e Carlos Desidério, um amigo advogado ainda a acabar o estágio. E para isso nem fora preciso mudar o nome inicial da firma ArquiMENDES, já que essa designação empresarial englobava as iniciais dos apelidos dos três amigos/sócios MEndes, Ne-ves & DESidério.

Em menos de três anos já tinham sido superadas todas as expectativas em relação às metas a atingir a lon-go prazo. Em qualquer deles já eram visíveis assinaláveis sinais exteriores de riqueza. Desde velozes e moder-nos carros a vivendas de luxo, até ao recentemente remodelado atelier. Mas tudo isso implicava muito tem-po passado em vertiginosas marato-nas de trabalho. Se bem que depois compensado com estadias, embora curtas, passadas em resorts paradisí-acos algures no planeta.

Numa bela manhã Francisco deslo-cava-se ao volante do seu novo bmw, quando reparou numa indicação que apontava para uma nova urbaniza-ção de condomínio fechado a inau-gurar em breve. Lembrou-se que ti-nha projectado aqueles Refúgios de Sonho dentro de um Sonho, embora já nem fizesse bem ideia onde ficavam localizados. Como ainda tinha tem-po para chegar à importante reunião

que tinha nesse dia, decidiu ir ver como tinham ficado as casas, algo que não era habitual fazer.

Saiu da via do infante. Passou por duas urbanizações mas nenhuma lhe parecia ter sido desenhada por si. Continuou estrada fora até que entrou por um caminho de terra batida e que terminava numa pequena e sossega-da clareira. Mas que sítio tão bonito, foi o que os seus sentidos leram. Cada vez, se torna mais difícil encontrar um lugar assim não habitado, um espaço assim sem casas. Não se ouvia qual-quer barulho a não ser o dos pássaros chilreando nas árvores o que aquecia o ar naquele final de inverno. Parou o carro e saiu. Respirou fundo sem es-forço. Sentiu-se estranhamente calmo,

relaxado. Viu as horas no telemóvel e reparou que não tinha rede. Sobrava--lhe ainda algum tempo. De repen-te pensou não ir à reunião para que o esperavam, como se fosse apenas uma falta a uma aula chata na escola. Seria dos comprimidos que andava a tomar para o stress que o deixavam assim tão descontraído. E ali era o sítio ideal para descansar. Estar sozinho por uns instantes. Sem casas, sem barulho, sem carros, sem pessoas. Subitamen-te sentiu nostalgia da vida de infância passada ao ar livre no campo. Podia um homem que tem tanto, contentar--se assim com tão pouco? Só queria fe-

char os olhos e descansar, sem pensar em nada, e dormir sem saber que esta-va a dormir. Sozinho. Chegou mesmo a pensar que queria ficar assim para sempre. Podia mesmo tomar mais uns quantos comprimidos e… Não chegou a fazê-lo. Adormeceu, naturalmente. Mas teria dormitado apenas durante cinco minutos ou uma ou duas ho-ras? perguntou-se. Ligou o telemóvel. Já tinha rede. Estava quase na hora marcada para a reunião e viu que ti-nha para aí uma dúzia de chamadas não atendidas. Pode um homem de negócios, bem sucedido, permitir--se a chorrilho de pensamentos ego-ístas e nefastos, nos dias de crise em que vivemos? Não, nem mesmo um pensamento desviante dura para sem-

pre. Ligou para a empresa. Adormeci, explicou-se. Daqui a quinze minutos estou aí! Até já.

Francisco voltou a ficar animado. Era habitual por estes dias ter oscila-ções de humor mas percebeu ter to-mado a decisão mais acertada. Imagi-nou o que seria a empresa sem ele, o seu ideólogo, fundador e… veio-lhe à cabeça a conhecida frase que diz que ninguém é insubstituível - a vida conti-nua, mas mesmo assim é melhor que eu lá esteja para me certificar como é feita a divisão dos lucros, pensou cheio de certezas.

Os sócios mostravam-se eufóricos

com o grande negócio que se anun-ciava para esse dia. O ambiente era de tal modo inebriante que só quando entrou na sala grande de reuniões percebeu que a reunião estava atra-sada. Comunicaram-lhe então que o advogado do inglês telefonara a dizer que tinham um problema com o voo.

Ao fim do dia quando fechou o es-critório, para ir festejar com os ami-gos, as letras no logótipo da empre-sa, pareceram-lhe mais brilhantes do que nunca. Ao voltar a casa já de ma-drugada, Francisco era um homem ainda muito mais rico do que quando saiu de manhã.

Acordou às 3 da tarde, sobressal-tado, e de repente lembrou-se que com toda esta agitação dos últimos

dias, com reuniões, projectos, viagem a Londres, entrevistas, etc… já não via os filhos e a mulher praticamente há mais de quatro ou cinco dias. Lem-brou-se que eles também eram parte da sua vida, - eram a sua vida, tentou corrigir-se do lapso, mentalmente. Levantou-se e pensou que poderia ir buscar as crianças, mas resolveu te-lefonar para o colégio antes de sair. Perguntou se o José e a Sónia Mendes já tinham saído. Responderam do ou-tro lado que os meninos nem sequer tinham ido. O que teria acontecido? Ele não sabia de nada. Apercebeu-se o quanto se estava a afastar dos seus pe-

quenos e como estava a perder tudo o que de importante estava a acontecer nas suas vidas. Ligou para a mulher. Não atendeu o telemóvel. Achou es-tranho e telefonou para o trabalho. Não tinha voltado depois do almoço.

De manhã as crianças tinham fica-do com a avó para a seguir ao almoço irem à consulta de rotina dos 6 e dos 4 anos, respectivamente. Dina esque-cera-se de tirar o telefone do silêncio depois da consulta. A seguir foram comer os seus gelados preferidos na marina antes do regresso a casa.

Achou então que a sogra teria a resposta para todas as perguntas mas esta também não estava em casa. As chamadas que fazia para a cunhada eram enviadas para a caixa de men-sagens.

Francisco estava agora sentado nos degraus da entrada de sua casa. Alguém haveria de aparecer, ou tele-fonar. Ia esperar. Tivera o bom senso de não entrar em pânico. Não queria pensar que a família o tinha aban-donado, não podia pensar sequer que eles pensassem que ele os tinha abandonado. Começou a sentir-se culpado da sua ausência, como pai e marido, de os deixar tanto tempo sós e de ele próprio se sentir só. Não queria acabar sozinho numa praia a desenhar círculos como o matemáti-co que tanto o inspirara.

Dina só se apercebeu das chama-das não atendidas, quando agarrou o telemóvel, para o colocar na mala, depois de estacionar no jardim junto à porta da garagem. As crianças cor-reram felizes para o pai que as abra-çou efusivamente.

Olha que surpresa! O que é que fa-zes aqui ? Ah!... já sei!, conseguiste encontrar o caminho para casa, mas perdeste a chave ? inquiriu a mulher ironicamente.

Estava só à vossa espera para jan-tarmos? Desculpou-se no momento.

Depois de deixar as crianças no quarto a dormir, Francisco desceu à sala, onde Dina o esperava com um ar muito sério. Precisamos conversar, Francisco Mendes! Mas a conversa não durou muito. Fizeram amor mes-mo ali no sofá da sala.

Na manhã seguinte durante o ba-nho, tal como Arquimedes, gritou ‘Eureka’, quando descobriu o que fazer nesse dia. Ao pequeno-almoço Francisco anunciou a toda a família, que estava de férias… finalmente. Hoje ficamos todos juntos em casa, boa?

Pedro [email protected]

Contos de Inverno na Ria Formosa

d.r.

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Page 9: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013  9Cultura.Sul

É urgente a Poesia

Apesar da existência, em Portugal, de alguns (poucos) projectos consis-tentes de promoção da leitura com jovens em escolas e bibliotecas, no cômputo geral verifica-se uma enor-me carência a nível quer de formação específica nesta área, quer, no tocante ao mercado editorial, de obras (fic-ção, poesia e outras) para essa faixa

etária, quer ainda de outras ferra-mentas de trabalho (orientações, la-boratórios, estudos e práticas testa-dos, descritos e sistematizados) que possam ser úteis aos diversos profis-sionais que trabalham com públicos entre os 13/14 e os 18/19 anos.

Vejamos o caso da Poesia. Subsiste ainda por vezes uma fraca prepara-ção, por falta de perfil, motivação, background teórico e/ou criatividade, de certos mediadores (entre docentes e promotores informais da leitura), o que torna difícil um conhecimento crítico, actualizado e mais abrangente e diversificado da produção poética existente no país.

É claro que a quase completa inexistência, no Algarve e não só, de livrarias (as mais mediáticas são um exemplo gritante) – e até de algumas bibliotecas – que privi-legiem simultaneamente uma políti-ca efectiva de fundos de catálogo, incluindo obrigatoriamente um “cânone” de autores e obras de re-ferência, a par de uma estratégia

de divulgação regular e sistemática das (inúmeras) novas vozes poéti-cas de qualidade emergentes no mercado prejudica claramente os profissionais que se movem neste universo cada vez mais exigente e plural. Restam a Internet e as en-comendas online, através dos sites das editoras, e as sugestões de bas-tidores entre colegas para suprir em parte essa grave lacuna.

A constante curiosidade, pesqui-sa e reflexão individuais/institucio-nais tornam-se, assim, essenciais para a aquisição de ferramentas (textos/antologias, temas e estra-tégias de “contágio” junto do pú-blico jovem) que possam combater eficazmente os preconceitos de não poucos adolescentes em relação à poesia: chata, complicada, estra-nha, vaga, inútil e (algo) “louca”/

lunar. É importante também o re-curso a diálogos interdisciplina-res como veículo de reinvenção e universalização da poesia, usan-do elasticamente a música/spoken word, cinema, artes plásticas, fo-tografia, tecnologias digitais e ou-tras áreas de forma a estimular, surpreender e desassossegar posi-tivamente os jovens. A poesia pode ter ainda um papel relevante no ensino de matérias extraliterárias, como ponto de partida e espécie de mediador/”passaporte” para se chegar depois aos objectivos didác-ticos que as chamadas disciplinas exactas procuram almejar.

Três sugestões: Contos dos subúrbios, uma pérola de estranha beleza poé-tica de Shaun Tan (Contraponto); O silêncio dos livros seguido de Esse vício ainda impune, dois ensaios saudavel-mente divergentes e polémicos de George Steiner e Michel Crépu (Gra-diva); e Bibliotecas cheias de fantasmas, um livro para quem gosta de livros, de Jacques Bonnet (Quetzal).

d.r.

Desafios de um arqueólogo

Após o convite que me foi endere-çado para escrever esta rubrica, pensei inicialmente em dedicá-la a um dos sítios arqueológicos que tenho inves-tigado. No entanto, decidi retomar um texto há muito iniciado sobre uma questão que me tem vindo a perturbar. Este foi forjado mentalmente nas pau-sas nocturnas forçadas, entre fraldas e biberons e apenas recentemente resga-tei estas ideias e decidi passá-las para o papel. Trata-se de uma reflexão pesso-al sobre o meu contributo profissional enquanto arqueóloga, relativamente à comunidade em que me insiro e a muito discutida, mas pouco esclareci-da, questão da função social da nossa profissão.

Nós, os arqueólogos, e nomeada-mente os arqueólogos que cumprem funções públicas, lidamos diariamente com diversas situações que nos obri-gam a adequar a nossa postura face à realidade em questão. A multiplicidade das nossas tarefas enquanto investiga-dores, apreciadores de licenciamentos urbanísticos, técnicos em reuniões de obra, prospectores, escavadores, etc. obriga-nos a dominar um conjunto de técnicas mas, de igual forma, a possuir características pessoais que permitam criar uma empatia com as pessoas com quem lidamos relativamente à nossa actividade. E vamos ser claros, a ar-queologia é uma actividade fascinante para a maioria das pessoas, mas o caso muda completamente de figura quan-

do ela acontece ao vivo no seu quintal e principalmente às suas custas.

Li algures que se trata de uma utopia da nossa parte pensar que um promo-tor imobiliário, ao ver a sua obra con-dicionada por razões patrimoniais, irá ficar agradado ou pelo menos irá compreender esta necessidade. Habi-tualmente a reacção inicial é considerar a condicionante, seja ela um acompa-nhamento ou escavação arqueológica, como um encargo extra sem qualquer tipo de mais-valia para o projecto em questão, situação agravada pela actual conjuntura económica do país e espe-cialmente do sector da construção.

Muitas das vezes, a forma como o promotor é informado da obrigato-riedade de realizar uma intervenção arqueológica dificulta o processo. Ge-ralmente recebe um ofício de uma enti-dade da administração pública, seja ela central ou autárquica, onde encontra uma extensa fundamentação técnica sobre a condicionante a aplicar. Trata--se de pareceres feitos por técnicos para serem lidos por outros técnicos, utilizando uma linguagem complexa, uma vez mais, de cariz iminentemente técnico. Não questiono a necessidade de os efectuar nesses termos, pois a apreciação técnica é fundamental para apoiar a decisão de quem de direito e por princípio deve ser o mais completa possível. No entanto, questiono a sua utilidade quando lida pelo tal promo-tor que falávamos anteriormente, que muitas das vezes está a ter o primeiro contacto com esta realidade e com es-ses termos. Não faz ideia do que se trata um acompanhamento arqueológico, quem o deve fazer e em que condições.

Não nos podemos nunca esquecer que nos dirigimos tanto a um arquitec-to habituado a lidar com estas questões como a um senhor que a muito custo pretende legalizar a sua obra clandes-tina ou remodelar a sua habitação com condições precárias. Com isto não pre-tendo afirmar que o arquitecto será à

partida mais sensível às questões patri-moniais do que alguém sem formação académica. A realidade desmente este pressuposto. Muitas das vezes encon-tramos mais interesse e compreensão pela actividade arqueológica em al-guém cuja vivência se encontra liga-do à terra e à sua comunidade do que alguém com habilitações académicas superiores.

A minha interrogação pessoal diz respeito ao modo como informamos as pessoas, como transmitimos a alguém a necessidade de cumprir pressupostos técnicos que lhe são desconhecidos.

Acredito que um esforço conjunto para simplificar a linguagem dos do-cumentos dirigidos ao público irá, a médio prazo, produzir efeitos benéfi-cos no modo como este percepciona a actividade arqueológica. Considero que simplificar a linguagem não é necessa-riamente sinónimo de “baixar de nível” como muitos poderão crer. Trata-se sim-plesmente de assumir que o funcioná-rio público tem a obrigação de informar com clareza e com respeito por quem lê um documento que, em última ins-tancia, o vai obrigar a custos acrescidos. Estas ideias que aqui exponho não são novidade, há muito que Sandra Fisher--Martins, fundadora da Português Claro, batalha pelo direito à informação numa linguagem clara e acessível.

Nós, os arqueológos, temos a obriga-ção, para além de garantir a salvaguar-da dos vestígios arqueológicos, de sen-sibilizar o público em geral para estas questões. Penso que esta sensibilização deverá ser feita de um modo contínuo, diário, em todos os contactos pessoais e profissionais que fazemos, de uma forma clara, perceptível, que desper-te interesse de quem nos ouve, quem nos lê, na esperança que um dia estas mesmas pessoas quando confrontadas com uma realidade arqueológica este-jam mais receptivas à sua salvaguarda. Trata-se de um desafio profissional que todos devemos assumir.

Poesia e jovens, um desafio possível

Espaço ao Património Sala de leitura

d.r.

Muitos não fazem ideia do que se trata um acompanhamento arqueológico

(ou Como fazer alguém custear uma intervenção arqueológica com um sorriso…)

Vera Teixeira de FreitasArqueóloga no Museu de Portimão/ Uniarq – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa

Paulo PiresProgramador do Departamento So-ciocultural do Município de Silves

[email protected]

Page 10: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013 10 Cultura.Sul

Áureus de Faustina regressa ao Algarve quarenta anos depois

Dos cofres da Caixa Geral de Depó-sitos para o Museu de Portimão, será este o percurso de regresso ao Algarve que fará a moeda de ouro Áureus de Faustina, retornando assim ao “con-texto histórico de onde nunca deveria ter saído”, diz José Gameiro, director do Museu de Portimão.

Quarenta e três anos depois de ter sido entregue à guarda da Caixa Ge-ral de Depósitos, a moeda romana retirada do Rio Arade no âmbito das dragagens de desassoreamento reali-zadas em 1970, é entregue à guarda do Museu de Portimão por despacho de secretário de Estado da Cultura, ca-bendo agora à Direcção Geral do Patri-mónio Cultural, em articulação com o Museu de Portimão e com a autarquia local, levar a cabo os restantes actos administrativos que tornem possível o regresso físico da moeda à cidade do Arade onde foi encontrada.

José Gameiro, em declarações ao Cultura.Sul, afirma-se convencido de que o objecto histórico “poderá estar no museu para apresentação pública por altura do quinto aniversário da

instituição, que se realizará na sema-na de 18 a 25 de Maio”.

Para a vinda da moeda o museu não necessita de criar quaisquer condições específicas, assegura o responsável pela instituição, uma vez que do ponto de vista das con-dições para acolher o objecto a insti-tuição está preparada. “O Museu de Portimão integra a Rede Portuguesa de Museus, cujas exigências técnicas tornam aptos os museus que a inte-gram para receber este tipo de pa-trimónio”, refere o responsável, que destaca a importância de “no Algarve, a par do de Portimão, os museus de Albufeira, Faro e Tavira também inte-grarem esta rede, dotando a região de um conjunto de espaços que permi-tem assegurar que o património de relevo da região pode manter-se em instituições regionais com capacida-de para assegurar a respectiva segu-rança e salvaguarda”.

Quanto à integração da moeda no acervo visitável do museu também não serão necessárias adaptações. Segundo o responsável máximo do

Museu de Portimão a moeda integra-rá o discurso museológico já existen-te na instituição, especificamente a exposição “Portimão – Território e Identidade”, que abrange o legado patrimonial resultante das dragagens do Arade e que se dedica também à compreensão da relação do Arade como porta entre o Mediterrâneo e

o Atlântico.Destaque para o facto da moeda

em causa ser a única do seu género em ouro que se sabe ter sido encon-trada na zona do Arade, o que revela bem a importância museológica e pa-trimonial do achado a par do acervo de objectos de cerâmica e várias pe-ças em metal em exibição no Museu

de Portimão e que constituem prova factual da relevância da presença ro-mana na zona de Portimão e do Rio Arade enquanto via de comunicação e palco comercial daquele tempo.

A moeda cunhada entre os anos de 152 e 156 da nossa era em honra de Faustina Junior, esposa do impera-dor Marco Aurélio, foi entregue pela então Junta Autónoma dos Portos do Barlavento Algarvio à guarda da Caixa Geral de Depósitos, onde per-maneceu até agora. Um facto que José Gameiro compreende, dada “a ine-xistência à época de um museu com condições para acolher um objecto com este valor histórico-patrimonial”.

No anverso, o exemplar apresenta o busto de Faustina à direita, com o cabelo ondulado, apanhado sobre a nuca e a legenda FAUSTINA AUG. P II AUG FIL, ou seja, Faustina Augusta Pia, filha de Augusto, título ostentado pelo Imperador em curso, Antonino Pio, ao passo que no reverso está gra-vada uma pomba caminhando, e a legenda CONCORDIA.

Ricardo Claro

Moeda de ouro romana retirada do Rio Arade volta a Portimão

d.r.

Na senda da Cultura

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Page 11: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013  11Cultura.Sul

“CONCERTO DE MIGUEL ÂNGELO”1 MAR | 21.30 | Cine-Teatro LouletanoO carismático vocalista dos Delfins regressa aos pal-cos com o seu primeiro disco a solo, que conta com a participação de Rui Fadigas (baixo), Mário Andrade (guitarra eléctrica), Rogério Correia (guitarra de 12 cordas) e Samuel Palitos (bateria)

“E TUDO O CASAMENTO LEVOU”29 MAR | 21.30 | Centro Cultural de LagosUma divertida comédia, encenada por Heitor Lou-renço e protagonizada por Almeno Gonçalves e Ma-ria João Abreu, dupla que promete um serão muito divertido

Dulce Maria Cardoso aborda a descolonização no romance O Retorno

O Retorno – Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso an-dou muito tempo esquecida das nossas livrarias, jornais e revistas literárias, mas não dos seus leitores, que cativou desde o primeiro romance. Em contrapartida, o seu quarto e último livro, O Retorno, mere-ceu atenção de todos e foi, ain-da em 2011 (apesar de ter sido lançado já em outubro) consi-derado o melhor romance, e por isso recebeu o Prémio Es-pecial da Crítica dos Prémios de Edição LER/Booktailors.

Uma das grandes qualida-des que encontro neste livro é a de poder ser compreendido mesmo por uma pessoa que não passou pela situação de retornada nem tem memória desse tempo, como é o meu caso. Apesar de acreditar que

quem tenha vivido a situação o entenderá com outra emo-ção e entendimento, acredito também que a Literatura (usei maiúsculas propositadamen-te) se faz desta capacidade de ser universal e de quebrar barreiras. Por exemplo, a von-tade de integração e de aceita-ção dentro de um grupo onde somos recém-chegados já foi sentida por muitos dos leito-res (um emprego novo, uma terra nova, uma nova escola, etc.) e é essa reminiscência que nos faz compreender tão bem a jovem Milucha: «A mi-nha irmã tem vergonha de ser retornada, finge que é de cá e esconde o cartão que tem o ca-rimbo vermelho, aluna retor-nada, o cartão que dá direito a um lanche na cantina. A mi-nha irmã cheia de fome mas sem coragem de ir à cantina para que os de cá não vejam o cartão, aluna retornada. A minha irmã a achar que pode não ser retornada apesar das roupas grandes, da pele ainda queimada pelo sol de lá, de se rir sem medo que os lábios sangrem, um sorriso bonito, a minha irmã a fingir que não é

retornada, a dizer pequeno-al-moço, frigorífico, autocarro, furos, em vez de matabicho, geleira, machimbombo, bor-las» (p. 150)

Um dos aspetos de que mais gostei, foi o do ponto de vista escolhido: o de Rui, um jovem de 15 anos, que acompanha-mos durante dois anos, atra-vés de quem vemos o mundo, mas que não nos deixa ver tudo quanto se passa à volta ou dentro de si. Uma sabedo-ria na construção da narrativa leva o leitor a surpreender-se, pois, apesar de não perder o fio à meada, a narração não segue uma linha cronológica, levando-nos a deduzir o que se passa ou passou, ou que o narrador/personagem sabe ou não, mas que não nos quer contar. A idade, longe de in-fantilizar, devolve pureza à his-tória. A pontuação escolhida, onde pontifica a ausência de marcação de discurso direto, provocando uma interseção constante entre o que é visto, o que é dito e o que é pensado, contribui para, por um lado, nos envolvermos na confusão de sentimentos por que passa

Rui, e, por outro, para irmos

acompanhando a interceção entre acontecimentos, através das lembranças (ou constru-ções da imaginação) do nar-rador. Há um exemplo muito claro, que se estende ao longo de cinco páginas (59-63). A família, sem o pai, que tinha sido levado preso perante o filho, aguarda em Luanda transporte para a metrópole. Cada um dos 18 parágrafos que constituem aquele capí-tulo onde se conta a situação vivida no aeroporto termina com uma frase da situação presenciada por Rui, contada no capítulo anterior, como se um parágrafo tivesse sido des-feito em frases a estalarem na cabeça do adolescente, com a atenção ao pormenor que sempre acontece em momen-tos de grande tensão, memória em forma de imagens soltas e de sons, sem seguir necessaria-mente a ordem dos aconteci-mentos: «O jipe desaparece de-pois da casa da Editinha». «As mãos do pai amarradas atrás das costas». «Vamo matáti cum tuá arma e tuá bala». «A poeira demora a assentar». «A balalai-ca branca do pai ensopada de sangue». «O isqueiro Ronson

Varaflame caído ao pé do can-teiro». «A mãe de braços caídos no fim da rua». «O sangue do pai no asfalto». «Os vasos da es-cada tombados». «O pai meti-do à força no jipe». «As mãos do preto no braço do pai». «A minha irmã sem conseguir descer as escadas». «A Pirata a ganir com o pontapé do pre-to». «Os olhos aflitos do pai». «Os pretos a rirem quando o jipe arranca». «A arma do pai nas mãos do preto». «A arma do pai apontada à cabeça». «A mãe a correr por dentro da po-eira que não assenta».

As personagens secundárias representam muitos tipos: os que eram contra o regime, os que eram a favor, os que se alegraram com a colonização, os que culparam os descoloni-zadores, mas não procura en-contrar culpados, mas mostrar quadros e vidas desenraizadas.

Ainda em Angola, a mãe costumava dizer: «Esta terra não nos pertence enquanto não lhe conhecermos o cora-ção, enquanto não lhe conhe-cermos o coração esta terra não guardará as nossas mar-cas nem reconhecerá os nossos passos» (p. 151). E o que Rui

vê, depois de quase dois anos a viver num quarto de hotel, é que «a metrópole é velha e já não tem um pedaço de terra selvagem onde a mãe possa inventar um coração» (p. 195).

No entanto, este livro fala de esperança. Uma esperan-ça assente da força do pai um pai que, fisicamente, também é forte, que acredita conse-guir reconstruir a sua vida. Fala de libertação. A liberta-ção dos medos que tolhem a vida. Fala de crescimento. Não apenas de Rui, mas de todos, inclusive do pai. Fala de ter-nura. Entre o casal, entre pais e filhos, entre irmãos, entre fi-lhos e pais. Mas uma ternura não lamecha. Porque a mãe tinha «crises» e «demónios», os filhos poupavam-na e não se queixavam das privações e provocações que lhes aconte-ciam na escola: desprezo, frio, fome. As professoras escreviam (pp. 149-50) «recados, a aluna tem muito frio, a aluna está sempre a tremer nas aulas, a aluna tem de vir mais agasa-lhada. Nunca mostrámos à mãe os recados […]. Era o que faltava mostrar os recados das professoras à mãe».

d.r.

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

A capa do livro de Dulce Maria Cardoso

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Page 12: Cultura.Sul55MAR

01.03.2013 12 Cultura.Sul

Os anos que nos separam do final do próximo Quadro Estru-tural Comunitário, 2020, constituirão a últi-ma oportunidade para a Região do Algarve empreen-der um caminho de construção, estrutu-ração e consolidação do que se convencio-nou chamar cluster das Indústrias Cultu-rais e Criativas.

Seguindo a Estratégia Europa 2020, o caminho que a região algarvia tem que percorrer pauta-se pela inclusão de três cate-gorias de conhecimento, complementares e particu-larmente importantes para a construção de um setor cultural e criativo dinâmico.

A necessidade de desenvol-vimento seminal deste setor respeita a toda a sociedade, tornando-se imperiosa a ne-cessidade de convocar todos os agentes que nesta área ope-ram, ou que sobre ela refle-tem. Embora seja esta a força maior do setor cultural e cria-tivo, que, ao dizer respeito a toda a sociedade, transforma todos os cidadãos em poten-ciais produtores e consumido-res, também é esta abrangên-cia o seu principal problema na definição de um cluster criativo, ao que urge chamar as entidades com responsa-bilidade regional para lhe dar consistência. Quando se fala de cultura e criatividade, pondo-lhe, ou não, o prefi-xo de indústrias, surge uma pluralidade de discursos que, embora não incorretos - pois somos todos produtos da cul-tura em que estamos inseridos e todos temos a faculdade de ser criativos -, refletem abor-dagens diferentes, muitas vezes sem nos apercebermos daquilo que queremos tratar. A economia da cultura, ao ser um campo próprio, de ativi-dade e de conhecimento, ne-cessita de ser abordada com o saber específico de quem nela trabalha, de forma a construir--se um quadro institucional próprio que permita que a

atividade floresça e seja o mais plural possível.

No tempo presente, é impe-rioso que o quadro em que as Indústrias Culturais e Criativas se vão desenvolver na região algarvia comece a ganhar a robustez de um cluster com dinâmicas próprias e capaz de ser um pólo agregador de novas “empresas”, produtos e serviços. Após as primeiras atividades de-senvolvidas pela CCDR Algarve,

torna-se imperioso o desenvol-vimento sustentado, neste ano de 2013, de ações que permi-tam estruturar, e guiar, o cami-nho a desenvolver até ao ano de 2020, sob pena de o próximo quadro estrutural de apoio co-munitário ser subaproveitado, no que respeita às indústrias culturais e criativas.

É, agora, necessário traçar as linhas com que a região vai en-frentar a construção de um teci-do forte ao nível das indústrias culturais e criativas e para isso é importante conhecermos, e re-conhecermos, o plano onde nos propomos intervir, realizando um estudo de levantamento do setor, informando, com ações de divulgação, formação e ne-tworking, intra e extra regional, propondo economias de escala, de aglomeração e de conheci-mento, onde todos os stakehol-ders sejam ouvidos, informa-dos, e se potenciem sinergias entre os agentes. É imperiosa a realização de um documen-to que contenha o diagnóstico do setor cultural e criativo, que aponte caminhos para o futu-ro, com ações concretas, e que balize os próximos sete anos de atividade que as instituições regionais têm o dever de pres-tar aos seus agentes na região algarvia.

Direção Regional de Cultura do Algarve

2020 o horizonte de sustentação das Indústrias Culturais e Criativas no Algarve

Espaço cultura

A economia da cultu-ra, ao ser um campo próprio, de atividade e de conhecimento, necessita de ser abor-dada com o conheci-mento específico de quem nela trabalha, de forma a construir--se um quadro insti-tucional específico que permita que a atividade floresça e seja o mais plural possível

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