213
Curso ARTE EM EDUCAÇÃO E SAÚDE Disciplina LINGUAGENS EXPRESSIVAS

Curso ARTE EM EDUCAÇÃO E SAÚDE LINGUAGENS EXPRESSIVAS › novo_site2 › sia_distancia › webaula › biblioteca › 52 › … · Naturais e Português. Sou pesquisadora-associada

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Curso ARTE EM EDUCAÇÃO E SAÚDE

    Disciplina

    LINGUAGENS EXPRESSIVAS

  • Curso ARTE EM EDUCAÇÃO E SAÚDE

    Disciplina

    LINGUAGENS EXPRESSIVAS

    Eveline CARRANO Gerassina COSTA

    Ivan COROMANDEL Juliana OHY

    Maria Estela LOPES Naila BRASIL Renata CURY

    Virginia Maria de SOUZA

    www.avm.edu.br

  • So

    bre

    os

    au

    tore

    s

    Olá, meu nome é RENATA CURY e sou arteterapeuta e pós-graduada em

    Arte e Educação pela Candido Mendes. Hoje, estou em formação reichiana. O estudo do corpo sempre me atraiu e não vejo como ter êxito no meu trabalho se não perceber o ser humano como um todo. Procuro trazer as minhas vivências para o meu espaço, tanto nos atendimentos

    individuais como no grupo. O estudo do corpo é muito encantador.

    Sou JULIANA OHY, formada em Psicologia. Possuo cursos na área clínica focados em psicodiagnóstico infantil, Psicologia Junguiana, Dançaterapia; Minha experiência profissional engloba tanto a área clínica em hospital psiquiátrico, atendimento clínico individual e em grupo, como a área escolar, auxiliando no processo psicopedagógico na educação infantil.

    Minha profissão é, sem dúvida, minha maior realização atualmente.

    Olá! Meu nome é GERASSINA CARVALHO. Trabalho atualmente como docente e atuo, também, como supervisora pedagógica na rede pública de

    ensino. Fico feliz com o convite de fazer parte desta instituição de ensino tanto como aluna que fui concluindo pós-graduação em Arteterapia e como professora conteudista para uma área que é a fotografia. Espero que possa ajudá-los nesta caminhada sempre que precisar.

    EVELINE CARRANO HENRIQUES PORTO, psicóloga, arteterapeuta, arte-educadora; pós-graduada com especialização em Psicoterapia Junguiana e o Imaginário (PUC-RJ) Terapia de Família (UCAM-RJ) e Arteterapia na Saúde e na Educação (UNIRIO); curso de mestrado na área de Psicologia Social e da Personalidade (FGV - RJ). Professora na pós-graduação em Arteterapia e Psicopedagogia e Terapia de Família no Projeto A Vez do Mestre (UCAM - RJ), na graduação do curso de Pedagogia (UCAM - RJ); na

    pós-graduação (UVA - RJ). Membro Fundador da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro - AARJ.

    Olá! Eu me chamo NAILA BRASIL. Sou professora de Música (estudei na Escola Nacional de Música da UFRJ), especialista em Arteterapia (UCAM) e, também, arteterapeuta (formada pela Clínica Pomar): tudo no Rio de Janeiro, onde nasci e onde resido. Tenho trabalhado dando aulas de

    música e, também, de história da arte.

    Sou VIRGINIA MARIA CASTILHO RIBEIRO DE SOUZA, carioca, de 1955, setembro. Estou mestre em Design, PUC/RJ, na linha de Pesquisa Design: Tecnologia, Educação e Sociedade, 2005: pelo LILD (Lab. Living Design,). Trata-se de Design em trabalhos lúdicos para Arteterapia em Educação e Saúde, pesquisa aplicada no Ensino Básico da rede pública, em nosso Estado do Rio de Janeiro. Um estudo de casos envolvendo materiais

    biológicos como bambu e flores, com a linguagem da música e da dança, como atividade complementar pedagógica para Matemática, Ciências Naturais e Português. Sou pesquisadora-associada do NIMA, Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente, pelo NimaEdu, sou professora I de

    Artes da rede estadual do Rio de Janeiro, Município de Nova Iguaçu, Ciep 390, Chão de Estrelas.

    MARIA ESTELA LOPES possui graduação em Psicologia pela Faculdade de Humanidades Pedro II (1975). Atualmente, é professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá. Tem experiência na área de Psicologia, com

    ênfase em Psicologia. É especialista em arteterapia na Educaçãoe e Saúde pela Universidade Cândido Mendes e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá.

    Meu nome é IVAN COROMANDEL. Sou psicanalista, ex-membro fundador da formação freudiana do Rio de Janeiro. Sou formado em Arteterapia e sou professor de História da Arte e Educação Artística. Sou arte-educador.

    Como psicólogo do município do Rio de Janeiro, formei núcleos de artes para crianças e dei supervisão para os núcleos de arte e criatividade para

    psicólogos do município do Rio de Janeiro. Faço palestras e, neste ano de 2009, lanço meu livro sobre paradigma ético-estético na Psicanálise.

  • Su

    mário

    07 Apresentação

    09 Aula 1

    Corpo e expressão

    35 Aula 2 Linguagens literárias

    65 Aula 3 Música

    97 Aula 4 Dança

    127 Aula 5 Teatro

    163 Aula 6 Fotografia

    203 AV1 Estudo dirigido da disciplina

    206 AV2 Trabalho acadêmico de

    aprofundamento

    208 Referências bibliográficas

  • Linguagens Expressivas

    CA

    DER

    NO

    DE

    ES

    TU

    DO

    S

    Ap

    res

    en

    taç

    ão

    Olá, caros alunos: neste caderno apresentaremos as diversas

    linguagens expressivas, distribuídas em seis aulas. Na primeira

    aula, trataremos do tema corpo e as mais diversas expressões,

    onde abordaremos a importância da consciência corporal. Na

    segunda aula, o nosso encontro está marcado no prazer da

    literatura e suas diversas expressões, conhecendo um pouco mais

    sobre as linguagens literárias. Na terceira aula, é hora de ouvir

    música e seus encantos, compreendendo sua importância para a

    formação do ser. Na quarta, é hora de dançar e trazer o

    movimento para o nosso dia a dia.

    Ob

    jeti

    vo

    s g

    era

    is

    Este caderno de estudos tem como objetivos:

    Conhecer a aplicar as diferentes linguagens expressivas;

    Entrar em contato com dinâmicas e conteúdos das linguagens

    expressivas;

    Aprender a utilizar as diversas formas expressivas em sintonia

    com o corpo e o movimento.

  • Corpo e expressão

    Renata Fiani Cury

    Juliana Bastos Ohy

    AU

    LA

    1

    Ap

    res

    en

    taç

    ão

    Olá, seja bem-vindo! Você agora vai entrar em contato com o

    mundo corporal. O corpo aqui vai ser abordado dentro de uma

    visão de integração entre corpo, mente, espírito e o meio. Para

    isso, vamos despertar a consciência corporal e a sua importância

    na forma de expressão. Vamos manter um diálogo com o nosso

    corpo. Para que isso ocorra, aqui vai um convite: Estamos

    entrando em um processo de percepção, onde será necessária

    uma transformação do olhar para depois poder haver a integração

    dessa linguagem no seu dia a dia. O processo requer

    envolvimento, abertura e ter um objetivo. O objetivo é trabalhar a

    consciência corporal.

    Segundo Elisabeth Bauch Zimmermann, “Quando pensamos em

    educação, surgem diante de nós os diversos níveis da existência

    humana: o do corpo, o das emoções e da energia, o da mente e

    dos valores. Tomo como exemplo um exercício meditativo:

    fazendo um gesto que contenha toda nossa pessoa naquele

    momento, tal como abrirmos uma das mãos lentamente, de olhos

    fechados: reconhecemos a presença de nossa realidade física - a

    mão com seus músculos e nervos, a realidade vital - a energia da

    moção - e a mental - a intenção de abri-la. Estamos presentes e

    vivos nesse único gesto, simples e aparentemente delimitado.

    Esse gesto simbólico talvez represente o germinar de uma

    semente, o desabrochar das pétalas de uma flor ou o despertar da

    natureza com seus primeiros sons na manhã e a expectativa da

    chegada de um novo dia. No plano humano e com referência à

    educação, pode representar o começo da formação do indivíduo.

    Esse movimento de abertura lenta da mão expressa a minha

    reflexão neste momento sobre a existência da educação e que

    significado ela tem em nossa vida.”

    Ob

    jeti

    vo

    s

    Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

    capaz de:

    Estar em contato consciente com o seu corpo;

    Entender a importância do trabalho corporal;

    Ser capaz de ministrar algumas vivências corporais, inclusive

    utilizando a arte como meio expressivo do trabalho de corpo.

  • Aula 1| Corpo e expressão 10

    História do corpo

    Abordaremos a história do corpo dentro da

    relação que o homem estabelecia com o seu corpo e

    como se dava o processo de cura desde o homem

    primitivo. Essa relação é importante, pois vamos

    perceber que cada vez mais, com o desenvolvimento do

    mundo capitalista e a era mecanicista, o homem foi se

    distanciando do seu corpo e se relacionando apenas

    com o seu mundo intelectual. Essa relação foi ficando

    fragmentada e o homem passou a ser um reflexo dessa

    fragmentação. O corpo expressa de diversas formas

    essa cisão sendo através da doença, da dor física ou na

    não expressão ou expressão parcial de estados

    emocionais.

    Modelo Primitivo

    O xamã (...) ouvia a história do

    paciente não em busca do sintoma,

    mas para descobrir qual tinha sido o

    erro do doente. A doença era sempre a

    consequência da violação de um tabu

    ou de uma ofensa aos deuses. A cura

    estava no restabelecimento da ligação

    do homem com o divino por

    intermédio de arrependimento e

    sacrifício.

    Nesse sentido, doença e transformação

    são conceitos interligados. (...) A

    doença pode ter muitas causas

    (diferentes transgressões), mas tem

    sempre uma finalidade: a

    transformação(...).

    (Ramos, Denise, p. 22)

    Neste modelo, o homem e a natureza eram um

    só. A totalidade era a existência. Não existia uma forma

    de ser separada da natureza. As relações se davam a

    um nível em que o homem era subjugado pelo poder

    das forças da natureza, as quais sua mente não era

    capaz de entender.

    História do corpo 10 O corpo e a criança 14 O corpo na adolescência 17 O corpo e a meia idade 18 O corpo e sua simbologia 19 Dica de atividade 23 Gestos e posturas 25 O corpo contemporâneo 27 Atividade 28 Respiração 30

  • Aula 1| Corpo e expressão 11

    Modelo Grego

    (...) Assim como não é possível

    tentar a cura dos olhos sem a da

    cabeça, nem a da cabeça sem a do

    corpo, do mesmo modo não é

    possível tratar do corpo sem cuidar

    da alma. (...).

    (Platão, 380 a.C., cit. Ramos, p. 25)

    No séc V a.c., surge Hipócrates, pai da medicina

    moderna. A busca do conhecimento da natureza no

    sentido de entender o funcionamento do corpo fez com

    que a palavra tivesse uma importância menor. Mas, de

    qualquer forma, a finalidade maior era a busca do

    conhecimento da natureza, e não o desejo de dominá-

    la.

    Modelo Cartesiano

    (...) O corpo podia ser comparado

    com uma máquina que funcionaria

    igualmente bem ou mal, com ou sem

    psique.

    (Ramos, Denise, p. 27)

    Modelo cartesiano, séc. XVIII. Ocorre a

    desintegração entre o corpo e a natureza. No modelo

    cartesiano, ocorre a cisão do homem e sua relação com

    o seu corpo. Prevalece o racionalismo e o

    determinismo. A visão do todo se perde.

    Modelo Romântico

    (...) na medicina do futuro, a

    interdependência da mente e do corpo

    será mais plenamente reconhecida e a

    forma como uma poderá influenciar a

    outra nem sequer é possível imaginar

    agora.

    (Lipowiski, 1984, cit. Ramos, Denise,

    p. 31)

    Meados do séc. XIX. Ocorre uma volta à busca

    do homem como um ser total e ligado à natureza.

  • Aula 1| Corpo e expressão 12

    Ênfase na maneira de ver, sentir, reagir, própria de

    cada pessoa. A doença era vista como um fator ligado a

    diversos fatores que não só biológicos, mas a fatores

    morais, psíquicos, espirituais e biológicos também.

    Modelo Biomédico

    Final do séc. XIX. Ocorrem o reducionismo, o

    determinismo e o universalismo. O homem não é visto

    na sua individualidade, mas de uma forma geral. O

    olhar clínico é deslocado dos aspectos individuais para

    os aspectos universais da patologia. Séc. XX - visão

    fragmentada do homem.

    Psicossomática

    Esse termo parece ter sido usado pela primeira

    vez em 1808. Dunbar (1935) trouxe a base principal

    para a formação desta área. A psicossomática veio

    trazer a união entre corpo e mente. Conteúdos

    emocionais e biológicos não podem ser separados.

    Existe uma relação entre eles que determina o estado

    de saúde do indivíduo. Alguns teóricos criticam este

    termo psicossomática, pois deixa de fora a relação do

    homem com o meio externo, social.

    Modelo Holístico

    Década de 80. Holos=todo. Traz a idéia do todo.

    O homem existe em muitos níveis de igual importância:

    corpo, mente, espírito, meio. Cada pessoa deve ser

    vista como única e tratada como tal. Saúde Integral:

    Físico, psíquico-emocional, social e energético.

    SOBRE A SOMATIZAÇÃO

    É de suma importância entender a o que ocorre

    no corpo quando este não se expressa. O corpo que

  • Aula 1| Corpo e expressão 13

    falo aqui não é somente o corpo físico mas também o

    corpo emocional. Quando não há espaço para

    simbolizar verbalmente a dor emocional, ela vai ser

    vivida a nível corporal. O sintoma traz a ideia de que

    algo está lhe faltando e traz consigo a possibilidade de

    cura, desde que se entenda para que aquele sintoma

    apareceu. Segundo Groddeck, pai da medicina

    psicossomática, “curar significa interpretar

    corretamente o que esta totalidade está tentando

    expressar através dos sintomas.”

    Observando pessoas que tendem a

    reagir aos conflitos internos e externos

    através de manifestações somáticas,

    Joyce MacDougall relata que muitas

    delas se revelam superadaptadas à

    realidade e mesmo às dificuldades de

    sua existência. Em seu

    comportamento, as pessoas são

    frequentemente impelidas à ação em

    vez de lidar com os conflitos pela

    elaboração psíquica, solicitando

    permanentemente dos objetos do

    mundo exterior a realização de

    funções que deveriam ser asseguradas

    por objetos internos simbólicos

    ausentes ou comprometidos.

    (Mente e Cérebro, Linguagens do

    Corpo, Edição Especial nº 14, pág. 11)

    O sintoma pode ser vivido através de uma

    rigidez corporal. Geralmente, as pessoas transitam

    muito pouco, flexibilizam pouco os seus movimentos e

    sem perceber caem em uma rotina corporal. Não

    experimentam transitar pelas diferentes plásticas ou

    personagens e ficam prisioneiras delas mesmas. Isso

    causa uma rigidez muscular e emocional, que pode ser

    flexibilizada através da consciência corporal e da

    expressividade. Essa rigidez restringe a capacidade que

    a pessoa tem de se comunicar, relacionar, de estar no

    mundo de uma forma mais prazerosa.

    É importante trabalhar o corpo expressivo desde

    cedo, mas, se isso não foi possível, sempre é tempo de

    começar.

  • Aula 1| Corpo e expressão 14

    Vamos estudar o corpo e a criança.

    O corpo e a criança

    O bebê quando nasce é todo corporal. Não há

    uma distinção entre eu-outro. Ele vivencia tudo

    corporalmente. A criança vivencia a eternidade,

    estando em um universo que a envolve, a contém, a

    circunda e a nutre. O bebê explora o seu próprio corpo.

    Esse período é chamado por Piaget de período

    sensório-motor.

    Esse período vai de 0 até 2 anos de idade e a

    criança começa a diferenciar os objetos externos e o

    próprio corpo.

    Nesta fase, os trabalhos corporais devem ser

    bastante incentivados. O trabalho deve focalizar o

    universo sensorial. Ela vai tentar elaborar, repetindo e

    vivenciando as mesmas atividades.

    Passar dentro de um túnel (o pano do túnel

    deve ter uma certa transparência para a

    criança enxergar o lado de fora), onde o

    facilitador da atividade deve estar à espera da

    criança. É importante ela ver o facilitador do

    outro lado, pois isso passa segurança.

    Dar contorno corporal. A criança nesta fase

    gosta de se esconder e aparecer. Pode se

    esconder atrás de almofadas, debaixo de

    panos... qualquer material que toque o seu

    corpo de forma suave e segura.

    Fazer trabalhos em cima de panos que

    permitem o balanceio da criança.

    Como a criança está conhecendo os objetos

    externos e o seu corpo, também, é interessante

    trabalhar com 2 bacias de água: uma com água morna

    e outra com água fria e a criança colocar as mãos na

    Dica da professora

    Procure conhecer as fases de desenvolvimento de Piaget! É muito importante para o trabalho de arte e corpo!

  • Aula 1| Corpo e expressão 15

    água sentindo essas duas temperaturas.

    Aos poucos, a criança vai criando a percepção de

    um envelope corporal. Com o passar do tempo,

    seguindo o desenvolvimento da criança, podem se

    introduzir objetos diversos como bolas grandes e caixas

    grandes.

    Na fase inicial do desenvolvimento, a criança

    arremessa objetos ao chão para em seguida a pessoa

    que cuida recuperar este objeto e retornar para a

    criança. Ela faz isso experimentando a possibilidade de

    perder e recuperar o que ama. Depois, engatinhando e

    andando, ela mesma se aproxima e se afasta dos

    objetos que deseja.

    Seguindo o desenvolvimento, a criança vai

    precisar experimentar sua força e sua capacidade de

    ação no mundo. É importante a criança vivenciar isso

    de forma segura. Pode correr, pular, soltar a voz e,

    também, fazer uso de objetos que possam soltar a

    raiva.

    Depois, a criança começa a gostar das

    brincadeiras de roda e jogos cantados. Eles

    desenvolvem a coordenação motora, linguagem e a

    consciência corporal.

    A criança vai crescendo e sempre será

    importante manter atividades que trabalhem esse lado

    corporal. Atividades de música, teatro, arte, dança,

    exercícios físicos.

    Podemos observar como nas fases de

    desenvolvimento o corpo sempre foi estimulado, pois a

    criança, inicialmente, se comunica com o adulto através

    do corpo. O desenvolvimento psíquico ocorre junto com

    o desenvolvimento corporal.

  • Aula 1| Corpo e expressão 16

    Sempre estivemos intimamente ligados ao nosso

    corpo e em um determinado momento ocorreu a

    fragmentação dessa união. É necessário recuperar este

    contato e esse olhar.

    Uma atividade que gosto de fazer com crianças

    é o contorno do corpo. Eu faço com crianças de três

    anos e meio para cima, mas vai da percepção de cada

    um.

    Atividade:

    Você pode usar papel pardo ou papel 40kg.

    Prenda o papel na parede na posição vertical. Peça para

    a criança ficar encostada no papel e enquanto isso você

    vai contornando o corpo dela com caneta ou lápis.

    Depois que terminar, peça para a criança pintar o seu

    corpo contornado no papel. Use tinta guache ou pintura

    a dedo.

    Essa atividade permite que a criança entre em

    contato com o seu corpo de uma forma plástica,

    concreta. Traz a noção corporal e o uso das cores.

    Atividade para crianças a partir de 7 anos:

    TÍTULO: Brincando com a argila.

    TEMA: Expressar os sentimentos através da

    argila.

    OBJETIVO: Se expressar através da argila

    TÉCNICA: Modelagem.

    MATERIAL: Argila, água, papel pardo, cd.

    PROPOSTA:

    Atividade corporal;

    Brincar de estátua;

  • Aula 1| Corpo e expressão 17

    Mexer na argila seguindo os comandos dados

    pelo arteterapeuta;

    Compartilhar.

    RELAXAMENTO: Movimentar pela sala ao som

    da música e se imaginar nas seguintes situações:

    Caminhar com os pés bem firmes no chão;

    Caminhar na ponta do pé;

    Atravessar a grama alta;

    Andar no barro;

    Asfalto (chão quente);

    Rodopiar;

    Se arrastar como cobra.

    Brincar de estátua. Ao desligar a música, todos

    devem se congelar no movimento.

    DESENVOLVIMENTO: Após os trabalhos de

    corpo, sentar em roda e pegar um pouco de argila.

    Ficar um momento com as mãos sobre a argila e

    respirar profundamente. Sentir como o monte de argila

    é. Fique amigo dele. Ele é liso? Mole? Ondulado? Frio?

    Quente? Seco? Molhado? Agora pegue-o e segure-o. É

    leve? Pesado? Belisque. Use as duas mãos. Belisque

    devagar, mais depressa. Dê beliscões grandes e

    beliscadas pequenas. Aperte a sua argila e alise-a

    usando cada parte da sua mão. Junte tudo formando

    uma bola. Depois, com outro pedaço, faça uma bolinha.

    Junte tudo de novo. Agora, você já o conhece bem.

    Do que você mais gostou?

    Do que menos gostou?

    O corpo na adolescência

    O adolescente passa por inúmeras

    transformações tanto corporal quanto psíquicas. Essas

  • Aula 1| Corpo e expressão 18

    transformações trazem desequilíbrios e instabilidades

    extremas. Este período é marcado por mudanças

    hormonais, corporais e emocionais e, também, por uma

    forte insegurança e ansiedade no movimento de

    conquista de um espaço no mundo dos adultos. O

    trabalho corporal traz a possibilidade da expressão dos

    conflitos de identidade, elaboração da despedida do

    corpo infantil, do papel infantil e da profunda mudança

    na relação com os pais. Todo adolescente vai passar

    por estas transformações.

    Uma boa dica para o trabalho corporal com

    adolescente é trabalhar esta nova imagem do corpo

    que está se manifestando. Como já citei antes,

    trabalhar o contorno do corpo, buscar a autoimagem,

    trabalhar com espelho. A expressão como forma de

    entrar em contato com sentimentos confusos, dúvidas e

    conflitos de identidade. A dramatização traz um suporte

    muito positivo para este tipo de trabalho. Vocês

    entrarão em contato com o teatro nas próximas aulas.

    O corpo e a meia-idade

    Ele envolve finalmente enfrentarmos

    nossas dependências, complexos e

    temores sem a mediação de terceiros.

    Requer que deixemos de culpar os

    outros pelo nosso destino e

    assumamos total responsabilidade pelo

    nosso bem-estar físico, emocional e

    espiritual.

    (Hollis, James. A Passagem do Meio.

    São Paulo, Editora Paulus, 1995)

    Torna-se fundamental na meia-idade que

    algumas questões estejam melhores resolvidas como:

    Aprimorar os relacionamentos;

    Melhor adaptação ao mundo exterior;

    Equilíbrio da psique.

  • Aula 1| Corpo e expressão 19

    Quanto mais eu souber a respeito de

    mim mesmo, maior parte do meu

    potencial poderei personificar, mais

    diversificados serão os tons e os

    matizes da minha personalidade e

    mais rica será a minha experiência de

    vida.

    (Hollis, James. A Passagem do Meio.

    São Paulo, Editora Paulus, 1995)

    Desse modo, o corpo também sofre muitas

    alterações (a hormonal e a corporal). O metabolismo

    fica mais lento. O cuidado e a atenção com o corpo

    devem ser maiores. A relação com o corpo se modifica.

    Trabalhar a respiração, a meditação, o relaxamento, os

    exercícios de alongamento e, através destes exercícios,

    trazer a consciência corporal. Abaixo, segue um bom

    relaxamento para ser trabalhado com pessoas na meia-

    idade. As atividades devem ser feitas em um ambiente

    confortável, com almofadas ou cadeiras. Se possível, as

    atividades de relaxamento pedem um ambiente

    silencioso e com uma música tranquila de fundo.

    Relaxamento: Sentar em uma posição

    confortável, fechar os olhos. Inspirar pelo nariz e soltar

    o ar pela boca. Sentir o ar chegar até os seus dedos

    dos pés... (fazer uma pausa) sentir o ar chegar até

    suas mãos... (fazer uma pausa) sentir o ar na sua

    cabeça, massageando seus cabelos... Inspire fundo

    novamente e solte o ar pela boca e se estiver sentindo

    alguma tensão em qualquer parte do corpo, respire

    nela e vá deixando com que ela se desfaça. Agora,

    inspire felicidade e expire tristeza. Inspire confiança e

    expire o medo, inspire amor e expire a raiva. Aos

    poucos, abrir os olhos e se espreguiçar.

    O corpo e sua simbologia

    O corpo é a nossa memória mais arcaica. Nosso

    corpo não se esquece de nada. Tudo que vivemos fica

    guardado em nosso corpo. E o corpo, também, nos

  • Aula 1| Corpo e expressão 20

    comunica algo. Existem centros específicos no corpo

    que devem ser trabalhados para se buscar um

    equilíbrio e harmonia. Devemos conhecer o nosso corpo

    físico para desenvolvermos através das atividades

    propostas um trabalho que ajude a modificar os

    aspectos rígidos de nossa personalidade e assim poder

    trazer à tona a criatividade.

    Nosso corpo é o meio de expressão mais direto

    de nossas emoções. Quando estas são conflituosas e

    nos fazem sofrer, reprimimos como algo nocivo no

    lugar de direcionar e harmonizar no todo. Isso produz

    um estancamento da energia em algum lugar do nosso

    corpo. Chamamos de couraças a essas cargas

    energéticas que se localizam em nossos músculos e

    articulações, impedindo de nos expressarmos como

    realmente necessitamos e causando limitações físicas,

    mal-estar e enfermidades.

    Seguem, abaixo, algumas características

    principais do nosso corpo.

    Planta dos pés, calcanhares, canelas, pernas

    O trabalho de corpo visando o desenvolvimento

    e o alongamento destas partes proporciona

    principalmente a expressão da autoafirmação e da

    confiança em si mesmo. Os movimentos rítmicos dos

    pés batendo firmes no chão trazem a confiança e a

    capacidade para enfrentar a vida. Traz o indivíduo para

    a realidade, ajuda na concentração, na capacidade de

    realizar, traz energia física, "pique", capacidade de

    criar, sexualidade, capacidade de ação.

    Atividade proposta: Trabalhar ao som de música

    tribal o movimento rítmico com os pés, como em uma

    grande dança em uma aldeia indígena. Movimentar as

    pernas e sentir bem os seus pés no chão. Será muito

    bom utilizar a argila em atividade artística. A argila

  • Aula 1| Corpo e expressão 21

    trabalha essa relação com a terra e fortalece estes

    aspectos.

    Abdômen, virilha, lombar, parte interna das

    pernas, pés.

    O trabalho de corpo visando o desenvolvimento

    e o alongamento destas partes proporciona alegria e

    prazer. Traz a necessidade de se opor às resistências e

    vencê-las, de lutar e de vencer, de conquistar espaço.

    O importante é o movimento das pernas e da cintura. O

    não desenvolvimento e o atrofiamento destas áreas

    acarreta a perda da capacidade de sentir prazer nas

    coisas da vida. É sempre bom lembrar que a

    enfermidade surge primeiramente no plano energético

    e depois no corpo físico. Então, estar consciente e

    trabalhar corporalmente, alongando e movimentando,

    reduz a depressão, fortalece a autoconfiança, re-

    equilibra a área renal, a intestinal, a capacidade de

    fazer amigos, estabelecer relações emocionais, o modo

    de encarar o cotidiano, a liberação da criatividade

    através da emoção, herança familiar na expressão

    emocional, na sexualidade.

    Atividade proposta: Colocar uma música bem

    alegre e dançar livremente movimentando bastante a

    parte da cintura. Depois expressar com tinta estes

    movimentos. A tinta usada pode ser guache.

    Estômago, fígado, vesícula e intestino.

    Esta área situada acima do abdômen traz a

    capacidade de lidar com a raiva, o medo, a tristeza e

    também com o prazer de comer e beber, de descansar

    e de sentir-se protegido na companhia de outros.

    Aprender a se expressar, dizer sim ou não de uma

    maneira correta. A função abdominal tem uma função

    de união e de separação assim como a digestão. A

  • Aula 1| Corpo e expressão 22

    emoção é entendida aqui como reação emotiva frente a

    um estímulo interno e ou externo.

    Emoções estão a serviço:

    Da vida biológica;

    Da vida psicológica: ego se sente ameaçado –

    raiva, medo, tristeza. Ego carícia afetiva –

    alegria como se o corpo tivesse recebido uma

    gratificação alimentícia ou sensorial de outro

    tipo.

    O trabalho corporal permite amenizar distúrbios

    digestivos. Consciência do ser e do querer,

    autocontrole, maior realização de desejos, maior

    progresso material.

    Atividade proposta: Fazer o contorno do seu

    corpo em uma folha de papel pardo. Ou você mesma

    pode fazer (colar o papel na parede e em pé encostada

    na folha ir contornando o seu corpo) ou pode pedir para

    contornarem o seu corpo. Depois ache figuras de

    revistas para colar em todo o corpo. Observe as figuras

    coladas. Veja o que gostou ou não. Esta atividade

    permite um olhar mais profundo sobre como você está

    lidando com o seu corpo.

    Região do tórax e parte interna dos braços

    compreendendo as palmas das mãos

    Aqui o bem-estar do outro é tão importante

    quanto o nosso. O bom desenvolvimento e a

    consciência desta região do tórax faz com que a pessoa

    veja a melhor parte dos outros e se reconheça nelas,

    em vez de buscar as diferenças. O tórax é o centro da

    pulsação. É o ponto central da nossa vida. Todo fluxo

    do organismo depende da pulsação do coração.

    Trabalhar esta área gera calor suavemente, alivia a

  • Aula 1| Corpo e expressão 23

    tensão, equilibra as emoções, liberação de trauma

    emocionalmente reprimido, consciência alma/coração,

    expressão do amor em ações, amar a si próprio e aos

    outros, autoestima, autovalorização, afetividade,

    mágoas, carências, coração. Ajuda a curar as feridas do

    coração e transformar o amor em amor incondicional

    Atividade proposta: Em uma atividade de grupo,

    pedir aos participantes que formem duplas. Uma

    pessoa deve massagear a outra e depois quem recebeu

    a massagem agora vai fazer. Uma massagem simples.

    Massageando os ombros, cervical, cabeça e braços.

    Esta atividade permite doar e receber. A música pode

    ser suave como música clássica.

    Olhos, ouvidos, nariz, língua, lábios, laringe

    Ponte entre cabeça e coração, mente e corpo.

    Inclui os órgãos dos 5 sentidos. Função principal

    expressiva e de comunicação das emoções,

    sentimentos, ideias e pensamentos. Criatividade

    superior, do mundo não material. Qualquer coisa que

    sentimos, pensamos, queremos e opinamos necessita

    de uma forma para passar do nosso mundo interno

    para o mundo exterior e se manifestar.

    Atividade proposta: Falar, cantar e criar algo

    com as mãos. Além disso, todas as funções expressivas

    estão ligadas a este centro. Na aula de teatro, vocês

    entrarão em contato com algumas atividades de

    expressão que serão muito ricas para trabalhar os

    órgãos dos sentidos.

    Assim, podemos verificar que o corpo físico é,

    também, corpo emocional.

    Dica de atividade

  • Aula 1| Corpo e expressão 24

    Esta atividade deve ser feita em grupo de

    adultos. Esta atividade traz a consciência para o corpo.

    TÍTULO: O que faria com mais quantidade de

    energia se a tivesse?

    TEMA: O que me faz perder tanta energia?

    OBJETIVO: Conscientização.

    TÉCNICA: Dramatização.

    RELAXAMENTO: Trabalhar o corpo. Alongar

    primeiro o pé direito e movimentar a cintura com

    movimentos circulatórios. Depois, o mesmo com o pé

    esquerdo. Apoiar sua mão no ombro da pessoa ao lado

    e colocar o pé sobre o joelho e inclinar a coluna

    soltando a cabeça. Esticar as mãos à frente e subir

    lentamente. Peito para frente e cabeça para trás. Soltar

    o ar. Deixar a mão descer pela perna direita e depois

    pela perna esquerda, lembrando que a cabeça sempre

    acompanha. Repetir esse movimento. Descer com a

    mão direita e elevar (empurrar) para cima com a palma

    da mão esquerda e olhar para cima. Fazer com o outro

    lado. Repetir. Ir com a cabeça até o peito e depois com

    a cabeça para trás. Depois, girar para um lado e para

    outro. Depois, me abraçar com o braço direito por

    cima. Colocar a perna direita à frente e ir até o chão. Ir

    subindo e, ainda, abraçada elevar o cotovelo e ir

    desfazendo, abrindo espaço para outras coisas

    entrarem. Fazer o mesmo com o pé esquerdo e mão

    esquerda. Voltar para o eixo. Em dupla, proporcionar

    uma massagem no ombro e no braço da outra pessoa.

    DESENVOLVIMENTO: A energia fica presa:

    atitudes repetitivas/acomodar-se a sua forma de existir

    até que algo dê errado.

  • Aula 1| Corpo e expressão 25

    Para dispor de energia, uma nova Educação se

    faz necessária. Como dispor de energia? Como usar sua

    energia?

    Depois, escolher uma frase de como perco

    energia e expressar corporalmente. Fazer

    exageradamente o movimento e desfazer. Como é? O

    que sente? O que mudou?

    Gestos e posturas

    Hoje, já sabemos como os gestos falam. Como

    diz o ditado popular, “um gesto fala mais do que mil

    palavras”. O tempo todo nosso corpo está se

    comunicando, um simples aceno pode transmitir uma

    série de desejos.

    Segue uma entrevista feita pela revista Mente e

    Cérebro à linguista Cornelia Muller, da Universidade

    Livre de Berlim. Cornelia Muller pesquisa a importância

    dos gestos na comunicação.

    Mente e Cérebro: Europeus do sul (italianos,

    por exemplo) gesticulam realmente mais que pessoas

    de outras regiões?

    Cornelia Muller: É opinião comum, mas

    empiricamente não está provada. Numa pesquisa

    comparativa entre espanhóis e alemães, não pude

    constatar que os germânicos utilizam menos gestos.

    Mas é inegável que gesticulam de outra forma, partindo

    do pulso. Espanhóis usam ombros e cotovelos mais

    frequentemente, isto é, seus movimentos são mais

    amplos e visíveis. Isso talvez despertasse a impressão

    de que eles usam gestos com maior frequência.

    Mente e Cérebro: Por que a pesquisa dos

    gestos foi negligenciada por tanto tempo?

  • Aula 1| Corpo e expressão 26

    Muller: Nos anos 70, muitos pesquisadores

    tinham a convicção de que a linguagem do corpo e a

    mímica tinham a ver só com as emoções e com as

    relações que as pessoas constroem entre si. No plano

    semântico, a comunicação verbal parecia ser a única

    responsável pelos significados. Por isso, muitos

    linguistas e psicólogos não perceberam que os gestos

    podem mais que expressar apenas sentimentos.

    Mente e Cérebro: O que os gestos dizem e as

    palavras não?

    Muller: Um único gesto é capaz de transmitir

    muitas informações ao mesmo tempo. A linguagem

    sonora precisa ordenar mais palavras. Se estendo

    minha mão com a palma da mão para cima, posso

    enviar a mensagem: “Isto está claro para você?”. Um

    movimento breve pode significar duração, então

    enfatizo um período de tempo e não um momento

    isolado.

    Mente e Cérebro: Gestos, portanto, não são

    responsáveis pela empatia?

    Muller: Certo. É um equivoco atribuir a uma

    pessoa um “emocionalismo” exacerbado só porque ela

    gesticula muito.

    Mente e Cérebro: Mas em treinamentos para

    oradores é comum que se tente atenuar o hábito que a

    pessoa tem de gesticular.

    Muller: Desde o retórico romano Quintiliano, a

    gesticulação excessiva é vista como expressão de um

    fraco domínio da linguagem falada. Muitos concluem

    que quanto menos gestos, melhor. Mas os oradores

    profissionais sabem o quão poderoso pode ser um

    movimento bem colocado. É muito mais inteligente

    Para navegar

    Vá correndo buscar mais informações no site www.berlingesturecenter.de Centro Berlinense de Pesquisa do Gesto.

  • Aula 1| Corpo e expressão 27

    usar a linguagem do corpo como canal adicional de

    informação do que reprimi-la.

    O corpo contemporâneo

    Hoje em dia, muitas pessoas se preocupam com

    o bem-estar físico e mental. Mas apesar destas

    preocupações de unir corpo e mente, em tentar trazer

    para a consciência a importância de cuidar do corpo,

    como na Yoga, meditação, Pilates, dança, biodança e

    outros, o corpo vem sofrendo fortes pressões por parte

    da mídia, no sentido da perfeição do corpo. A indústria

    e o comércio que norteiam a estética é muito sedutor.

    Com o corre-corre do dia a dia as pessoas buscam

    resultados imediatos. Mas é preciso tentar sair um

    pouco desse vício e tentar buscar uma alimentação

    mais equilibrada, um olhar para o seu corpo de uma

    forma mais natural, integrando-o, buscando atividades

    que permeiam esse olhar.

    Hoje, temos muitos procedimentos violentos

    sobre o corpo e sobre a vida psíquica para a eliminação

    de sintomas, de traços de dor, do mal-estar. A indústria

    do corpo busca anestesiar as experiências mais

    profundas de vazio. As formas de mal estar da pós-

    modernidade tem no corpo e na ação os registros de

    sua apresentação. Na ação, estão as compulsões, que

    evidenciam o descontrole dos impulsos – ânsia do

    consumo. No plano da corporeidade, vivemos o polo da

    dor que está intimamente relacionada ao narcisismo.

    As patologias contemporâneas são depressão,

    anorexia, bulimia, obesidade que tangenciam no vazio

    e nas questões narcísicas.

    Pensando nessas questões, é importante você

    entrar em contato com técnicas que promovam a

    capacidade de expressão espontânea, buscando trazer

    a pessoa para o seu centro.

  • Aula 1| Corpo e expressão 28

    Atividade

    Movimento: Trabalhar o chegar. Como está o

    seu corpo agora. Sinta os seus pés firmes no chão e

    comece a entrar em contato com a sua respiração.

    Inspire e expire lentamente cada um no seu ritmo.

    Solte o ar pela boca. Sente alguma tensão? Alguma

    parte do seu corpo que precise de cuidados? Inspire

    mais intensamente pela boca e solte o ar, soltando um

    som. Agora, leve lentamente a cabeça até os pés. Solte

    a cabeça, sinta alongar a parte de trás do pescoço,

    joelhos flexionados e esvazie os pensamentos. Solte a

    respiração, esvaziando os pensamentos. Suba

    lentamente, a cabeça é a última a voltar para o eixo.

    Alongue o corpo, gire um pouco o pescoço, apóie no

    ombro do colega do lado e vamos alongar um pouco os

    pés. (Até aqui sem música).

    Colocar a Música:

    Vamos começar entrando em contato com o

    nosso corpo e se apossar do movimento que vai ser

    feito. Acompanhar o movimento, lembrando que todas

    as partes estão presentes em cada movimento,

    inclusive o olhar, a cabeça, o tronco. Entrar em contato

    e sentir o que esse movimento está dizendo.

    Começar trabalhando mãos, braços. Movimento

    de abrir e fechar. Depois, soltar bastante o braço.

    Buscar o infinito e conter. Fazer esse movimento mais

    rápido. Conter e abrir. Mãos e braços esticados em

    lados opostos. Fazer um mergulho até o chão. Flexionar

    um pouco os joelhos e caminhar com as mãos para

    frente. Sinta abrir os espaços da coluna. Respire na

    coluna. Dobre os joelhos e fique aí um pouco.

    Experimente não fazer nada... Coloque agora os braços

    para trás. Aos poucos, vamos desenrolando a coluna e

    vamos sentar e deitar. Sinta sua coluna no chão, se

  • Aula 1| Corpo e expressão 29

    entregue ao chão. Agora, lentamente, vá levando seus

    braços para trás. Sinta o peso dos seus braços.

    Lentamente, vá voltando e entregue seus braços ao

    chão, palmas das mãos inteiras no chão. Sinta esse

    movimento de conter e se entregar. Faça mais uma

    vez. Agora leve a cabeça até os joelhos e os joelhos até

    a cabeça, mãos atrás da cabeça. O que sente? Como é

    fazer esse movimento? Faça lentamente. Conter e

    soltar e se entregar ao chão novamente. Repita esse

    movimento mais 2 vezes. Fazer a torção. Como está

    sendo torcer, está mexendo com tudo dentro de você.

    Vamos prestar atenção nessa torção. Na respiração.

    Volte à posição e fique um pouco aí. Estique as pernas

    e mantenha os braços ao longo do corpo e não faça

    nada.

    Atividade em dupla:

    Seguindo a vivência, cada dupla receberá uma

    folha de papel A3 e pastel oleoso colorido, onde deverá

    expressar com rabiscos o movimento. Cada dupla não

    deverá se comunicar verbalmente. Apenas deixar

    sentir. Esse espaço é de vocês!!!

    Depois, entre em contato com o resultado desse

    rabisco em conjunto e perceba as formas, o

    movimento, as imagens, as cores, o espaço ocupado.

    Pode se comunicar com a sua dupla verbalmente.

    Agora, vamos soltar a mão e expressar todos os

    sentimentos que surgiram durante a vivência. Não

    pense, apenas faça. Não use a crítica lembre que essa

    arte é uma arte de expressão e não uma arte estética.

    Comecem utilizando uma cor e depois de esgotá-la

    peguem outras.

    Vamos compartilhar sentando em roda.

    Primeiro, começamos a falar e depois cada um falará

    da sua experiência. Depois, falaremos da pintura final e

    vamos em conjunto buscar um título para esta pintura.

  • Aula 1| Corpo e expressão 30

    Respiração

    A respiração tem um papel funcional no

    organismo que é oxigenar o sangue e, por este motivo,

    fazer a limpeza dos órgãos e músculos. O cérebro mal

    oxigenado é responsável pelos pensamentos confusos,

    pelos pensamentos negativos, pela dificuldade de

    concentração e falta de memória.

    Já sabemos da importância de trabalhar a

    respiração de uma forma consciente, conhecendo e

    trazendo o movimento do corpo junto com a

    respiração. Em vários trabalhos com o corpo, a

    respiração é vista como fator principal de qualquer

    movimento e exercício. Já está comprovado que os

    exercícios de meditação e relaxamento ajudam na

    recuperação e no equilíbrio da saúde.

    Segundo Sylvie Lagache, a respiração com

    movimento tem o poder de:

    Descarregar as tensões;

    Facilitar o alongamento muscular graças à

    liberação de energia;

    Ajudar na concentração, porque o esforço

    para coordenar a respiração com o movimento

    torna o movimento perceptível e sensível, não

    simplesmente um ato mecânico;

    Criar um movimento circular e harmônico,

    recolhendo ao inspirar e expandindo ao

    expirar;

    A prática da respiração torna a dança mais

    livre, mais viva, inclusive no balé clássico.

    A respiração permite a liberação da tensão

    mental quando mentalizamos no movimento que o ar

    percorre ao entrar e sair pelo nariz. Depois, quando se

    inspira pelo nariz e expira pela boca, sentimos um

  • Aula 1| Corpo e expressão 31

    relaxamento da laringe, trazendo à tona a criatividade

    e a comunicação. Ajuda, também, a liberar as tensões

    emocionais, estimula as forças vitais, pois está

    relacionada com a caixa torácica e a abdominal.

    Sendo assim, é de suma importância a relação

    da respiração com os fatores emocionais. Trabalhar e

    estimular a respiração ajuda a mexer e a reacender a

    vida, pois estamos falando dos sentimentos. Não

    somente os sentimentos de medo, raiva e tristeza, mas

    também os sentimentos de alegria e amor que, por

    muitas vezes, ficaram anestesiados pelo medo de

    sofrer. Respiração é vida e deve ser trabalhada sempre

    de forma consciente.

    EXERCÍCIO 1

    Marque a alternativa correta sobre o corpo e a criança:

    ( A ) O bebê quando nasce é todo corporal;

    ( B ) O bebê não precisa de atividades que o estimule

    corporalmente;

    ( C ) Passar dentro de um túnel não é indicado para

    crianças;

    ( D ) A alternativa 1 e 2 são corretas;

    ( E ) Nenhuma das resposta anteriores.

    EXERCÍCIO 2

    Coloque Falso ou Verdadeiro:

    (oba) Corpo e mente são um só;

    (oba) Trabalhar os pés traz a questão da auto-afirmação;

    (oba) O corpo é a nossa memória mais arcaica;

    (oba) Os adolescentes não passam por transformações

    psíquicas e corporais;

    (oba) A respiração tem um papel funcional no organismo.

  • Aula 1| Corpo e expressão 32

    EXERCÍCIO 3

    Citar duas características essenciais da respiração para

    o bem-estar da pessoa.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    EXERCÍCIO 4

    Quais são as sete fases da história do corpo?

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    RESUMO

    Vimos até agora:

    Na aula de corpo, algumas questões que

    poderão ser de grande valor na sua prática

    escolar ou terapêutica. Espero que você possa

    utilizar os conhecimentos e as propostas

    sugeridas com bastante criatividade e

    proporcionar aos seus alunos ou clientes

    atividades enriquecedoras e que os auxiliem

    no crescimento pessoal;

    Em seguida, contei um pouco da história do

    corpo e espero que você se interesse em apro

  • Aula 1| Corpo e expressão 33

    fundar seus conhecimentos, pois é um estudo

    fascinante;

    Finalizando, conversamos um pouco também

    sobre a importância do corpo em cada fase da

    vida: bebê, criança, juventude e meia-idade.

    Trouxemos, também, a respiração como

    primordial para um trabalho de corpo.

  • Linguagens literárias

    Virginia Maria Castilho Ribeiro de Souza

    Maria Estela Lopes

    Renata Cury (revisora)

    AU

    LA

    2

    Ap

    res

    en

    taç

    ão

    Quem viajar no mundo da imaginação verá o que nós já vimos por

    lá: A riqueza dos contos para o desenvolvimento, principalmente,

    o da criança. Depois, falamos dos mitos, contos, lendas e fábulas

    e como o contador de histórias deverá estar atento à expressão e

    à memória.

    Foram abordadas diversas técnicas para o contador entrar em

    contato com o mundo das histórias e poder fazer uma boa

    apresentação. As histórias podem ser apresentadas de diversas

    formas, desde que quem as conta esteja em contato com quem

    ouve, interagindo e tornando a história dinâmica. Vem que você

    vai gostar.

    Ob

    jeti

    vo

    s

    Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

    capaz de:

    Trabalhar as linguagens literárias com o seu grupo;

    Diferenciar e conhecer as diferentes linguagens literárias;

    Criar novas atividades utilizando os contos;

    Estabelecer uma linha constante de contato com o mundo da

    imaginação.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 36

    O contador de histórias

    E em noite de lua cheia, o índio Taipi

    buscava em vão alcançar a lua pelo

    seu arco e flecha; às vezes chorava

    olhando aquela enorme bola prateada

    no céu escuro, pedindo a Tupã uma

    árvore bem alta para chegar até ela...

    (anônimo)

    O menino brinca de pirata

    Sua espada é de ouro e sua roupa é de

    prata

    Atravessa os sete mares

    Em busca do grande tesouro

    Seu navio tem setecentas velas de

    pano

    E é o terror do oceano

    Mas o tempo passa e ele se cansa

    De ser pirata

    E vira outra vez menino.

    (cantiga de roda – Roseanna Murray)

    No mundo mágico do faz de conta, da libertação

    das histórias, sejam contos de fada, lendas, mitos,

    fábulas ou contos populares, o essencial é compartilhar

    a fantasia.

    Nenhuma formação prescinde da

    educação do espírito, porque esta é a

    que vai formar o homem, despertando

    a sensibilidade, os valores éticos para

    a conscientização do ser humano e seu

    relacionamento.

    (Carvalho, P., 1998)

    Aqui se inclui uma discussão sobre cultura e

    civilização, seus significados e como estão relacionados.

    A cultura vai fornecê-la, através da

    Literatura, como fonte de

    conhecimentos e informação. E a

    poesia é a primeira manifestação de

    expressão literária, é pela poesia que

    se iniciam todas as Literaturas.

    (Id., 1998)

    Câmara Cascudo já nos dizia que o leite materno

    era temperado com os contos populares, considerados

    O contador de histórias 36 Expressão corporal e estudo das vozes 52 A importância da leitura 55 Conclusão 59

    Importante

    Analisar a questão cultural é muito importante quando falamos em histórias, seja no âmbito da Literatura ou do Folclore. Lembre-se sempre da questão do MULTICULTURALISMO e pense o quanto as histórias podem trazer para dentro da escola as diversas culturas regionais com as quais convivemos no cotidiano educacional.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 37

    como a “alma do povo”, pois só através deles

    conhecemos o verdadeiro perfil dos moradores de um

    lugar. O folclore, portanto, trabalha a psicologia

    coletiva, trazendo o imaginário do homem comum.

    E essa fonte também foi abordada pelo nosso

    saudoso Monteiro Lobato, com seu estilo único:

    “...Agora vou contar pra vocês uma história bem

    comprida...” Já dizia D. Benta, um dos personagens

    centrais de sua obra.

    Só de ouvir esse nome, muita gente já revive

    cenas gostosas da infância. Parece que todos os

    personagens nos chegam numa viagem da Via Láctea:

    Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa,

    todos nos convidando para cenas com tantos outros (o

    Saci, tio Barnabé, a onça pintada, fadas)...

    O autor sabia, como poucos, combinar os mais

    diversos ingredientes em seus livros, como a história de

    Peter Pan, de autoria de James Barring (viva o Capitão

    Gancho, a fada Sininho, as sereias, Wendy e seus

    irmãos) em sua obra. E, assim, ia aproximando

    elementos pouco humanos, uma vez que não possuem

    a vida humana interior da psique, de outros com quem

    é fácil nos identificarmos.

    O uso de histórias envolve vários ingredientes:

    invenção das próprias histórias trazendo elementos de

    nosso dia a dia, a leitura de histórias de livros, escrever

    histórias, ditá-las, utilizar coisas para estimulá-las

    como figuras, testes projetivos, bonecos, painel de

    feltro, mesa de areia, desenhos, fantasias de final

    aberto, entre outros.

    Sendo a história da criança uma projeção, ela

    reflete algo sobre a vida da própria pessoa; cada

    Para navegar

    Para saber mais sobre Monteiro Lobato, conhecer um pouco de sua vida e obra, consulte o site www.lobato.com.br

  • Aula 2 | Linguagens literárias 38

    história é encerrada com uma lição, uma filosofia de

    vida extraída da situação. Portanto, ao se utilizar esta

    técnica, você deve ter em mente a importância de

    perceber o outro ouvinte; é essencial saber algo sobre

    a criança (ou o participante em qualquer faixa etária) e

    entender rapidamente o tema central da história

    apresentada.

    Daí também a ênfase que o próprio contador

    enquanto orientador, deve dar ao olhar. Ao perceber

    sua “plateia”, ele dará o exemplo do que deve ser

    seguido, estará guiando o participante do grupo para se

    ver, buscando o reflexo do que está sendo contado, no

    outro. Trata-se, portanto, de uma pesquisa paciente

    que muitas vezes nos conduz a ver, ouvir, sentir e

    calar...

    “A importância do Olhar"

    Bernardo Arraes Gonzalez Cruz*

    Atualmente, as pessoas mal se falam,

    muito menos se permitem o olhar

    sincero. O olhar que existe é o da

    crítica raivosa, ofensiva, para diminuir,

    desmoralizar, confundir e estimular a

    baixa autoestima das pessoas. Nos

    desacostumamos a ver os rostos e até

    sentimos vergonha muitas vezes de

    olhar nos olhos de nosso semelhante.

    A que ponto chegamos. Nos sentimos

    cansados com tanta pressão, opressão

    e cobranças descabidas, sem o

    interesse pelo afeto e pelo calor

    humano.

    Daí a necessidade do olhar, que

    desperta na alma a troca do

    sentimento humano, da emoção do

    próximo. Quando olhamos com

    sinceridade nos olhos de uma pessoa,

    ficamos mais próximos. É esse olhar

    intenso, cheio de vontade, com

    sentimento, que permite o alcance de

    um amor sincero, que nasce do desejo

    de ajudar, porque tem vontade de

    amar. É dentro dessa proximidade que

    se permite a troca de experiências e

    até da descoberta dos desejos em co-

    Quer saber mais?

    Dicas de alguns meios e técnicas para contar histórias: Usar o próprio livro

    – Contar a história apontando as figuras ricas de ilustração;

    Figuras sobre um

    cenário – Pode ser feito de cartolina, papel cartão. Cada

    suporte pode conter figuras e cenários diversos conforme o desenrolar da história;

    Criando bonecos e

    fantoches – Criar vários personagens e narradores. As crianças também podem manusear os fantoches;

    Criação de

    cenários – Estes devem ser criados com a ajuda das crianças. Ex.: Casinha de papelão, Floresta de papel crepom;

    Avental de

    histórias – Um avental com desenhos, bolsos e personagens para contar histórias.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 39

    mum. Porque só o olhar consegue o

    saber sem palavras, o sentir sem

    dizer, o conhecer sem saber, a troca, a

    proximidade, a igualitariedade e a

    compreensão. Este olhar sincero é

    naturalmente ético e, por isso,

    puramente humano.

    Nas civilizações primitivas, bem como

    nas tribos indígenas, as pessoas

    sentavam-se em roda, olhavam-se

    umas para as outras e então os mais

    idosos, com toda naturalidade pessoal,

    contavam as histórias de seu povo, de

    sua vida e até das explicações dos

    fenômenos da natureza. Já na Idade

    Média, surgem os menestréis, que

    contavam histórias, cantando notícias.

    Estes foram os primeiros contadores

    de história.

    O contar histórias parte do princípio

    deste olhar, da necessidade de

    comunicação, do desejo de estar junto

    de outras pessoas e compartilhar o

    sentimento que se move do coração e

    sai pelo olhar, pela história oralizada,

    pela palavra.

    O contar histórias não só exige como

    resgata a questão da comunicação

    pelo olhar, como pela palavra que,

    junto ao sentimento, à voz e ao corpo,

    transmite o desejo de proporcionar ao

    outro momentos agradáveis, em que

    retornamos sentimentos puros,

    vivenciados em nossa infância. Nada

    mais agradável do que isso, neste

    mundo tão conturbado em que

    vivemos e muitas vezes não sabemos

    mais o que fazer.

    E é absorvido nesse mundo do

    imaginário, no momento em que se

    conta ou em que se ouve uma história,

    que podemos pensar em ser felizes,

    porque conseguimos levantar o sorriso

    de alguém ou até mesmo fazer feliz

    esse alguém”.

    (Entrevista -1999)

  • Aula 2 | Linguagens literárias 40

    SUGESTÃO DE ATIVIDADE PARA INICIAR OU

    FINALIZAR UMA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

    Sentados, solicita-se que todos fechem os olhos,

    se quiserem, trabalhando a respiração de forma suave,

    pedindo que se imaginem no único lugar onde

    gostariam de estar naquele instante, seu lugar especial.

    Imaginar um sol ameno, agradável e uma suave brisa

    ao redor. Pede-se que façam movimentos leves com as

    articulações, que tragam alguém para compartilhar com

    aquele lugar sugerindo-se que se abracem, se

    quiserem. Lentamente, vão retornando ao local de onde

    vieram e, num movimento lento, inclinando a cabeça e

    abrindo os olhos devagar.

    Em círculo: todos de pé, vamos procurando um

    par para desenvolvermos movimentos juntos. Sempre

    nos olhando nos olhos, procurando o reflexo do que

    estamos passando no próprio olhar, nos gestos, na

    expressão corporal.

    Uma pessoa vai ser a imagem real e a outra, a

    virtual. A primeira vai guiando os movimentos, nos três

    planos (superior, médio e inferior). E a outra, sendo o

    “espelho”, vai procurar imitá-la, sem desviar o olhar

    “dentro dos olhos’’. Num segundo momento, as duplas

    vão se alinhar umas às outras em duas filas, uma em

    frente à outra. Numa sequência, cada dupla vai

    repetindo os movimentos feitos pelas duplas que as

    antecedem à sua esquerda; o que era imagem virtual

    agora vai liderar a expressão, copiando-a e

    repassando-a para seu parceiro, sem desviar o olhar

    deste.

    Esta dinâmica deve levar cerca de 20 minutos.

    Uma vez realizada, todos podem concluir os

    movimentos com calma e retornar aos lugares.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 41

    SE VOCÊ ESCREVEU UMA HISTÓRIA, É SÓ

    CONTAR...

    Agora, incluiremos a fala de Bernardo Arraes

    (1999) sobre sua experiência como oficineiro da arte de

    contar histórias. Pois, indo ao encontro do que

    dissemos antes, saber trabalhar as propriedades de

    cada ferramenta agiliza a imaginação e potencializa a

    criação, pois favorece a desinibição:

    Não sendo um trabalho específico para

    uma editora, o contador de histórias

    poderá pesquisar e escolher com

    calma seu repertório. Esse, quando

    desenvolvido em grupo, é enriquecido

    pelas qualidades literárias existentes

    nas histórias.

    Alguns contadores escolhem as histórias

    gradativamente e cada uma delas, sendo apresentada

    mais de uma vez, torna-se um encanto para o público,

    pois novos ângulos vão sendo mostrados e a expressão

    sendo melhor elaborada. Um registro por escrito é

    importante para se preservar a forma como foi

    contada, facilitar a memorização e as futuras

    apresentações.

    Ao se fazer a seleção das histórias, os elementos

    essenciais da estrutura definem sua classificação em

    lendas, mitos, fábulas, contos populares e contos de

    fadas. Todos apresentam introdução, enredo e

    desenlace.

    Apresentam diferenças significativas entre si;

    um conto de fadas, segundo a Dra. Marie Louise von

    Franz (1993), “não é produzido pela psique do

    indivíduo e não constitui material individual” (Franz, M.,

    1993: 12-13). Podem se associar fenômenos

    parapsicológicos. Um outro tipo de conto de fadas é o

    da saga local que contém referências a um

    determinado local, o herói se torna um ser humano

    Dica de leitura

    PAVONI, A. Os contos e os mitos no ensino: uma abordagem junguiana. São Paulo: EPU, 1989.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 42

    definido e o conto é narrado associado a um evento

    concreto que realmente aconteceu, mesmo com

    características de contos de fadas. Nas sagas, os

    elementos fantasmagóricos são mais frequentes.

    Luís da Câmara Cascudo já nos anunciava que:

    O conto nasceu do povo e foi feito para

    ele. É um documento vivo,

    denunciando costumes, ideias,

    mentalidades, decisões e julgamentos.

    Para todos nós, é o primeiro leite

    intelectual.

    (Oaklander, V., 1980, p. 113)

    As mensagens simbólicas transmitidas, tanto

    nos contos de fadas como nos populares, emergem das

    profundezas da humanidade, tratam dos problemas

    existenciais, relacionando, portanto, momentos alegres,

    tristes, extremamente dolorosos, corajosos, que vão

    favorecendo, aos poucos, a estrutura psíquica da

    criança. Essa passa a incluir elementos sólidos em sua

    personalidade que vão ajudá-la a dar respostas na vida,

    sob forma lúdica.

    São compreensíveis para a criança

    como nenhuma outra forma de arte é;

    como toda arte significativa, o sentido

    mais profundo dos contos de fadas,

    por exemplo, será diferente para cada

    pessoa, e diferente para a mesma

    pessoa em momentos diversos de sua

    vida. A criança extrairá um sentido

    diferente do mesmo conto de fadas,

    dependendo de seus interesses e

    necessidades do momento. Sendo-lhe

    dada a oportunidade, ela voltará ao

    mesmo conto de fadas, dependendo

    dos seus interesses e necessidades do

    momento; quando estiver pronta a

    ampliar significados ou substituí-los

    por novos.

    (Id., 1980, p. 113)

    Os contos de fadas são verdadeiros tesouros da

    sabedoria humana, passados de geração a geração,

    estão no maravilhoso mundo da fantasia, carregados de

    Dica da professora

    Mesmo não mais na infância, os contos nos ajudam a encontrar respostas para nossa vida, não é verdade? Você se lembra de uma história que seja significativa para sua vida?

  • Aula 2 | Linguagens literárias 43

    emoções. Os contos de fada têm uma linguagem

    internacional de toda espécie humana, estão além das

    diferenças de idade, raça e cultura ou crenças.

    As famílias se reuniam em roda e o mais velho

    contava histórias que prendiam a atenção e a todos

    encantavam, principalmente as crianças, com suas

    fantasias, imaginação, alegria.

    Existe uma diferença entre contos de fadas,

    saga local e mito. Os contos de fadas não têm raízes,

    eles são de todos os lugares e não são destruídos. A

    saga local é um conto de um determinado lugar, tem

    raízes no local.

    O mito é uma produção cultural, expressa o

    caráter da civilização de onde surge, onde continua

    vivo.

    Agora, falaremos um pouco sobre as lendas e as

    fábulas.

    As lendas são uma narrativa fantasiosa

    transmitida pela tradição oral através dos tempos.

    De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas

    combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que

    são meramente produto da imaginação aventuresca

    humana. Já diz o ditado popular: “Quem conta um

    conto aumenta três pontos.”

    Também, segundo a Dra. Von Franz, a saga

    local e a lenda histórica têm fundamentos reais, que

    foram vivenciados, detalhados e depois ampliados até

    se resumirem numa história, passando a ser recontada

    durante um longo período de tempo.

    Dica de leitura

    CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Editora Palas Athena, 1990.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 44

    Estudar uma lenda é como estudar o

    corpo todo de uma nação.

    (Id, p. 15)

    Nas fábulas, os animais têm características

    humanas e transmitem lições morais de grande

    simplicidade com mensagens relacionadas ao

    comportamento no cotidiano, com singelos conselhos

    sobre lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.

    Quase sempre os animais apresentam comportamento

    humano, satirizando os defeitos dos homens e

    revelando verdades universais sobre a natureza

    humana.

    A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

    Se os contos são contados por pessoas, com

    imaginação e/ou talento de um contador de histórias,

    tornam-se mais bonitos e interessantes.

    Cada pessoa tem, em cada momento,

    os conflitos mais emergentes a serem

    enfrentados. Quando entra em contato

    Marie-Louise Von Franz nasceu em 1915, em uma

    família austríaca que veio se fixar na Suíça depois

    de 1918. Depois de terminar seus estudos literários,

    ela se encontra com o homem que iria mudar toda a

    sua vida: Jung. Ela veio a falecer em fevereiro de

    1998.

    Aprofundou-se no estudo da alquimia e se tornou

    uma colaboradora importante na tradução dos

    textos em grego e em latim.

    Tornou-se uma Analista e participou de vários

    trabalhos junto com Jung. Von Franz publicou vários

    livros, em particular sobre a interpretação dos

    contos de fadas.

    Além de sua brilhante carreira como psicoterapeuta

    e escritora, ela ainda construiu uma brilhante

    carreira como professora e conferencista no Instituto

    C.G. Jung de Zurich.

    Para saber mais sobre suas obras, acesse o site

    http://www.salves.com.br/jb-franz.htm

  • Aula 2 | Linguagens literárias 45

    com uma história que traz esse tema,

    cria-se a oportunidade de se

    estabelecer uma rede de associações

    que lhe permite chegar a um

    significado psicológico essencial. Este

    pode ser desvendado e compreendido

    através das figuras e eventos

    simbólicos que as histórias trazem.

    (Dias, C., 1999, p. 93)

    As crianças, ao ouvirem contos de bruxas, ficam

    esperando aparecer a ajuda da fada ou de um outro

    herói.

    Na história de João e Maria que se perdem de

    casa e a bruxa os coloca em uma gaiola, retrata os

    temas de abandono, medo, solidão, desamparo, mas

    faz com quem ouve entre em contato com estes temas

    e a possibilidade de poder elaborar os seus conflitos.

    As religiões e os cultos baseiam seus

    ensinamentos através dos contos de conteúdo moral.

    Da mesma forma, existem também as histórias de

    ensinamento de tradição sufi, que são documentos de

    contos que há milênios os povos do oriente usam, os

    contos são como instrumentos para ensinamentos

    importantes da humanidade.

    Exemplo:

    O empréstimo

    Na casa de chá, um homem dizia aos

    amigos:

    - Emprestei uma moeda de prata a uma

    pessoa e não tenho testemunhas.

    Receio que quem a recebeu negue que

    a pus em suas mãos.

    Os amigos ficaram com pena dele,

    mas um sufi que estava sentado a um

    canto ergueu a cabeça e disse:

    - Convide-o para tomar um chá aqui e

    diga-lhe, na presença de todas as

    pessoas, que você lhe emprestou vinte

    moedas de ouro.

    - Como posso fazer isso se só emprestei

    uma de prata?

  • Aula 2 | Linguagens literárias 46

    - É exatamente isso que ele vai

    responder indignado - disse o sufi - e

    todos poderão ouvi-lo de seus lábios.

    Você não queria testemunhas?

    (Nícia, G., 1993)

    Um conto de fadas leva você para bem longe,

    para o mundo sonhador da infância, do inconsciente

    coletivo, onde não se pode ficar e por isso toda história

    tem que ter um fim para entrarmos novamente na

    realidade.

    Os contos podem ser entendidos como materiais

    muito ricos no trabalho com arte. Normalmente, todos

    gostam de ouvir e contar histórias e através delas

    podem-se abordar diversos temas.

    Quando se inventa uma história, projetamos

    algo de nossa vida, falando de algum tema que nos é

    importante. A forma que se encerra a história mostra

    como se resolvem os conflitos e se pensa sobre outras

    alternativas. Em cada personagem, se encontra

    parte de nós mesmos.

    Na microssérie da emissora de TV, Rede Globo,

    “Hoje é dia de Maria – Segunda Jornada”, se buscou

    um imaginário popular brasileiro. Falou-se, também, do

    poder que os contos de fadas têm na arqueologia da

    infância no Brasil e na reinvenção de um território

    lúdico, tão sacrificado no cotidiano das grandes cidades.

    Em entrevista feita à Revista da TV, do jornal O

    Globo, o diretor Luiz Fernando Carvalho faz uma crítica

    social ao mundo de hoje, tão distante da nossa

    infância:

    Onde está a nossa infância? Onde ela

    foi morar? Os contos de fadas revelam

    o nosso imaginário mais arcaico, a

    origem dos nossos medos e

    fantasmas. São histórias ancestrais,

    seculares da tradição oral, que têm co-

    Dica da professora

    Por vezes nos identificamos mais com uma personagem da história. No entanto, se prestarmos atenção, todos temos um pouco do herói, do vilão, da fada, do mago e das outras personagens que compõem os contos e os mitos. Faça esse exercício. Identifique em uma história o que você tem de cada personagem.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 47

    municação muito direta, simples.

    (CARVALHO, 2005, pp. 22-24)

    Nesse conto, o autor busca o confronto não só

    das crianças, mas também dos adultos de enfrentar o

    medo e o desejo de tudo. O mundo do faz de conta foi

    utilizado para mostrar sentimentos da modernidade

    como o desejo de justiça, a necessidade de reatar uma

    relação lúdica com o mundo, confrontando com a

    descrença que assola a cidade, a falta de poesia, o

    excesso de raciocínio e a falta de criatividade e, assim,

    o apelo aparece: não fechem a porta ao sonho humano.

    O processo que se vive através da fantasia, do

    imaginário, com invenção de personagens mágicos

    como fadas, bruxas, animais e plantas que falam, todos

    têm significados que pode-se não saber o simbolismo

    real, porém ele é assimilado ao nível do inconsciente.

    Encontramos o amor, os medos, as dificuldades,

    carências, perdas, solidão, encontro, buscas,

    descobertas, entre outros. Os símbolos apresentados

    nos contos de fadas, como os monstros e as bruxas,

    representam nossos próprios temores e incapacidade

    que temos para lutar, enquanto as fadas representam

    nossas capacidades e possibilidades.

    Para as crianças pequenas, os contos devem ser

    curtos e com poucos personagens, elas acreditam que

    tudo à sua volta tenha vida (animismo), para elas a

    história está acontecendo no tempo real, pois ainda não

    separam a realidade e a fantasia. Gostam de histórias

    de animais, plantas e objetos que falam. Quando já

    alfabetizadas, elas se interessam por detalhes, prestam

    mais atenção em contos mais longos.

    Na pré-adolescência e na adolescência,

    exigem riqueza de detalhes e maior elaboração com

    diálogos e cenas. Gostam de temas ligados à realidade,

    ao social, às ficções, às aventuras e aos mitos.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 48

    Segundo Marie Louise von Franz (1993), os contos de

    fadas são parábolas que narram a trajetória de vida do

    ser humano. O período da adolescência, quando está

    iniciando uma vida independente, é uma tarefa difícil e

    nos contos são representados diante de várias

    aprovações, tendo que vencer as bruxas e gigantes até

    encontrar o verdadeiro amor que está simbolizando a

    conquista na vida real, o encontrar-se a si mesmo, o

    assumir compromissos.

    Na oficina de arte, podem-se usar os contos de

    diferentes formas. Vejamos alguns exemplos:

    Fazer um relaxamento, depois usar um

    desenho que tenha feito, um objeto, um

    brinquedo, uma planta ou qualquer outra coisa,

    pedir para inventar uma história com início,

    meio e fim;

    COMPLEXO DE CINDERELA

    Francisco Antônio Pereira Fialho

    “O tema de Cinderela é uma viagem de iniciação,

    que conduz ao estado de adulto e de maturidade. De

    acordo com a época, o país e o autor, os contornos

    da história variam tal como os cenários, mas o

    progresso da adolescência à maturidade, mantém-se

    a preocupação central. Em Cinderela é a fada-

    madrinha quem, tal como em A Bela Adormecida,

    fornece o toque mágico necessário para cumprir um

    destino que também envolve a descoberta do amor

    e os trâmites que daí vêm e advêm.

    Os contos de fadas, contados e recontados no

    decorrer dos tempos, escondem arquétipos que, ao

    serem revelados, desnudam a alma do mundo.

    Os personagens não estão lá simplesmente para

    mostrar a personagem central. O príncipe, partindo

    das cortes, tentando encontrar um verdadeiro

    significado para a sua vida; as irmãs e a madrasta,

    tentando tornar-se num ideal de beleza, o pai,

    deprimido; todas estas figuras são indispensáveis à

    emergência de Cinderela.”

    Para ler o texto na íntegra, acesse o site:

    http://www.psicologiabrasil.com.br/rev_07/capa/cap

    a.htm

  • Aula 2 | Linguagens literárias 49

    Pedir para dramatizar uma história qualquer;

    Solicitar que o participante invente um final

    ou qualquer outra parte de uma história

    contada anteriormente;

    Fazer um fantoche que represente um

    personagem que gostou muito.

    Assim como existem “contos infantis”, também

    existem os “contos de meias idade”, ou seja, contos

    para adultos acima de 40 a 50 anos, eles surgiram há

    muito tempo. Esses contos simbolizam as tarefas de

    desenvolvimento que se têm que realizar na segunda

    metade da vida, retratam o envelhecimento, mas com

    crescimento espiritual e psíquico. Ajudam a mostrar o

    sentido da vida, na maturidade e na velhice, de uma

    forma agradável, com sabedoria e autoconhecimento.

    Esses “contos de meia idade” são muito comuns

    na cultura oriental, nos países árabes, na Índia e na

    China, onde o idoso é valorizado e respeitado por sua

    sabedoria e experiência.

    O sábio mercador (conto judaico)

    Há muito tempo, um mercador e um

    filho já moço partiram em viagem por

    mar. Levaram consigo uma arca de

    jóias para vender durante a viagem. A

    ninguém falaram sobre sua fortuna.

    Um dia, o mercador ouviu os

    marinheiros cochicharem entre si.

    Haviam descoberto o tesouro e

    estavam tramando matá-los para

    roubar as jóias!

    O mercador, fora de si de tanto medo,

    andava de um lado para o outro em

    sua cabina, procurando uma forma de

    se livrar daquela situação perigosa.

    Seu filho perguntou o que estava

    acontecendo e o pai lhe contou.

    - Precisamos enfrentá-los! – o jovem

    exclamou.

    - Não – o velho respondeu - eles nos

    venceriam!

    Dica de leitura

    CHINEN, Allan B. E foram felizes para sempre. Contos de fadas para adultos. São Paulo: Cultrix. Exposição de uma psicologia da maturidade mediante a reunião de contos de fadas em que os personagens são adultos. Esses contos, ricos em significado psicológico e espiritual, ligam-se a temas arquetípicos.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 50

    Um pouco mais tarde, o mercador

    assomou, abruptamente, ao convés. -

    Você é um tolo, meu filho! – ele gritou.

    Nunca escutou os meus conselhos!

    - Velho! – gritou o filho de volta – Você

    não tem nada a dizer que valha a pena

    ouvir!

    Os marinheiros, curiosos, cercaram o

    pai e o filho que começaram a soltar

    imprecações entre si. Então o velho

    correu para a cabina e trouxe,

    empurrando com esforço, a arca

    pesada de jóias.

    - Filho ingrato! – o mercador gritou –

    Prefiro morrer de miséria do que

    permitir que você herde a minha

    fortuna! – Dizendo isso, o mercador

    abriu a arca do tesouro e os

    marinheiros engasgaram à vista de

    tanta riqueza. Então o mercador

    correu para a balaustrada do navio e,

    antes que alguém pudesse retê-lo,

    atirou seu tesouro ao mar.

    - No instante seguinte, pai e filho

    olharam para a arca vazia e se

    abraçaram chorando pelo que haviam

    feito. Mais tarde, quando a sós na

    cabina, o pai falou:

    - Tínhamos que fazê-lo, filho. Não havia

    outro meio de salvar nossas vidas!

    - Sim – respondeu o filho - seu plano foi

    o melhor.

    Em breve, o navio ancorou e o

    mercador e o filho correram para o juiz

    da cidade. Acusaram os marinheiros

    de pirataria e tentativa de homicídio e

    o magistrado os prendeu. O juiz

    perguntou aos marinheiros se haviam

    visto o mercador atirar seu tesouro no

    mar e eles responderam que sim. O

    juiz então condenou todos à morte.

    Que homem iria se desfazer das

    economias de uma vida senão por

    medo de perdê-las? – o juiz ponderou.

    Os piratas se ofereceram para dar

    novas jóias ao mercador e, em troca, o

    juiz lhes poupou a vida.

    (resumo do conto “O sábio mercador”

    da obra de G. Friedlander)

    ... E a poesia é a primeira

    manifestação de expressão literária, é

    pela poesia que se iniciam todas as

    Literaturas.

    (Carvalho, B., 1998)

  • Aula 2 | Linguagens literárias 51

    A IMPORTÂNCIA DA LIVRE EXPRESSÃO

    Quando se pede a alguém que escreva um

    poema, começam as preocupações com rimas... Essas

    podem ser trabalhadas, mas como um ponto à parte. O

    mais importante é se desenvolver a expressão livre,

    uma vez que a poesia vem do coração, podendo fluir de

    todas as formas, até sem aparente nexo.

    Exemplo de dinâmica:

    Apresentar um poema e pedir aos participantes

    que repitam frase por frase, caminhando pelo espaço

    em que estão de forma descontraída, compondo o todo.

    Depois, que se organizem em duplas e contem o

    poema, com expressão corporal.

    Em um segundo momento, cada um pode repetir

    parte do poema deixando sentenças inacabadas, a

    pessoa seguinte pode completar com criações suas. Por

    esse meio, os integrantes (de qualquer idade) são

    encorajados a falar de si próprios.

    A partir daí, pode-se pedir ao grupo que faça um

    desenho de seus sentimentos acerca do poema. Podem

    vir expressões de inúmeros sentimentos: alegria. raiva,

    tristeza, ódio. Uma janelinha se abre para o interior da

    pessoa, às vezes, facilitando a abertura de uma porta

    gradativamente.

    Outra expressão plástica - utilizando-se a

    mesa de areia, pede-se, com antecedência, que tragam

    pequenos objetos decorativos de casa: animais, anéis,

    mobiliário, bibelôs, como se fossem compor a

    “maquete” de um cenário (= modelo minimizado de um

    ambiente em tamanho natural, real). Estes são

    colocados dentro de uma caixa com areia; se houver

    possibilidade de se preencher sua parte inferior com

  • Aula 2 | Linguagens literárias 52

    água, tampando-a com um vidro e colocar a areia por

    cima deste, cria-se um espaço mais lúdico. A partir daí,

    os objetos são colocados, delineando mais uma

    história.

    O fato de podermos olhar a cena com largura,

    altura e profundidade, leva-nos a visualizar a história

    que nos pertence, que traduz uma passagem de nossas

    vidas como espectadores, ajudando a esclarecer

    situações, a clarificar problemas e cisões.

    Segue mais uma orientação do oficineiro

    Bernardo Arraes:

    Apresentando um conto popular, o

    contador fará uma estrutura oral,

    semelhante a do contador de “causos”.

    Ele usa as palavras, pausas etc. com

    uma naturalidade tão grande, que

    parece um ator, mas não é.

    (Entrevista, 1999)

    Memória

    É importante conhecer bem a história

    selecionada, com relação aos detalhes formais:

    suspense, conflitos, ações, sentimentos dos

    personagens. Ele poderá contar a história sem risco de

    esquecer momentos importantes da mesma. E recriará

    a narrativa em caso de esquecimento ou entusiasmo

    visual causado pelo envolvimento da memória.

    Não convém memorizar a história sem esquecer

    um artigo. Isso acaba com a naturalidade emotiva,

    bloqueando a espontaneidade do narrador. O

    estrelismo, também, deve ser evitado.

    Conhecer bem a história é fundamental.

    Entretanto, saber com exatidão os acontecimentos que

    a compõem não significa necessariamente decorar.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 53

    Esquecer certos detalhes podem fazer com que os

    personagens fiquem sem coerência interna entre eles.

    É fundamental perceber as nuanças do texto:

    os momentos emotivos, de humor, os momentos que

    revelam os espaços em que ocorrem os conflitos e

    desenlaces, onde está o suspense, que poderá levar ao

    desfecho; as circunstâncias que provocam a

    “plasticidade visual” do que o contador está narrando. É

    preciso estudar os personagens, sob os aspectos

    psicológicos (situação econômica, afetiva, sexual).

    O autor deve elaborar análises do texto para dar

    destaque aos elementos essenciais da história. Pode

    sublinhar no texto as passagens principais do mesmo, o

    que indicará que não podem ser esquecidas.

    Deve-se estar atento para perceber o objetivo

    principal da história e observar como os personagens se

    relacionam e solucionam os conflitos para realizar esse

    objetivo. Uma boa história desperta no leitor a vontade

    de continuar vivendo a narrativa, despertando inclusive

    o desejo de conhecer o texto para ler e reler.

    Expressão corporal e estudo das vozes

    Experimentar determinados tipos de gestos,

    brincar com as diversas vozes e falas; tudo dependerá

    de como você poderá passar para o(s) ouvinte(s) a

    história. Um contador, às vezes, não muda a voz, não

    teatraliza o texto (gestos e dramatização exagerada) e

    consegue um efeito muito forte, emocionando os

    ouvintes, apenas com a naturalidade da voz e do

    gestual. A emoção do contador será espontânea e

    descobrirá o que fazer, se ensaiou antes, e relaciona

    esse ensaio (história memorizada ou decorada) na

    comunicação com o outro.

    Importante

    No momento de contar a história, essas nuanças do texto podem aparecer na voz do

    contador. Sem ser caricatural, o tom da voz ajuda na emoção do relato.

  • Aula 2 | Linguagens literárias 54

    COMO ENSAIAR

    O ensaio deve significar uma preparação

    carinhosa para quem nos assiste. Se temos o dom da

    comunicação oral, corporal, só pode ser para

    compartilharmos pensamentos, ideias, sentimentos.

    Há algumas sugestões para se elaborar uma

    apresentação:

    Diante de um espelho;

    Com um gravador ou uma câmera de vídeo;

    Diante dos colegas do grupo que ouvem a

    história ou, em caso de não ter um grupo,

    para amigos e familiares;

    Escrevendo a história, além de estudos e

    resumos, para compor um repertório.

    APRESENTAÇÃO

    O contador de histórias utiliza como recursos,

    além das histórias, é claro, seu sentimento, a memória,

    a leitura, o olhar, a voz e o gestual. A linguagem não

    verbal também conta a história e deve ser empregada

    com frequência. Muitas perguntas podem surgir

    nesse momento:

    Qual será o público? Crianças? Adultos?

    Público misturado?

    Existe algum tema específico para a

    apresentação no qual as histórias têm que

    estar relacionadas?

    Estudar a ordem em que serão apresentadas

    as histórias pode envolver emocionalmente o

    contador e seus ouvintes?

    Como é a acústica do espaço? É necessário o

    microfone? Ou basta a projeção da voz?

    Como ficarão acomodadas as pessoas?

    Dica da professora

    Atenção a estas dicas! Elas são fundamentais para um encontro agradável para o contador da história e seu público.

    Importante

    Contar bem uma história requer prática! Já dizia Picasso que a arte é 1% inspiração e 99% transpiração! É fundamental estudar a história e ensaiar!

  • Aula 2 | Linguagens literárias 55

    Qual o espaço disponível para o contador se

    movimentar?