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CURSO DE DIREITO “HABEAS DATA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO” THAIS PIRANI FERNANDES RA: 507994-0 TURMA: 3109B FONE:50772683/78666363 E-MAIL: [email protected] SÃO PAULO 2009 1

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CURSO DE DIREITO

“HABEAS DATA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO”

THAIS PIRANI FERNANDES RA: 507994-0

TURMA: 3109B FONE:50772683/78666363

E-MAIL: [email protected]

SÃO PAULO 2009

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THAIS PIRANI FERNANDES

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito sob a orientação do Professor Paulo Hamilton Siqueira Júnior

SÃO PAULO 2009

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BANCA EXAMINADORA

Professor Doutor Orientador :_____________________ Paulo Hamilton Siqueira Júnior Professor Argüidor:_____________________ Professor Argüidor:_____________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu

orientador, Professor Paulo Hamilton

Siqueira Júnior, pela orientação desde

o meu trabalho de iniciação científica

até a monografia.

Aos meus pais: Antonio Fernandes

Filho e Tânia Regina Pirani Moraletti

Fernandes, principalmente pela vida e

também por me apoiarem em todos os

momentos da minha vida, me

proporcionando sempre o melhor. E

colaboraram para que hoje eu

conquiste e conclua mais uma etapa

importante da minha vida.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e

familiares, pelo apoio, ajuda, amor,

paciência e principalmente pela

educação e valores que me foram

passados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO E DISPOSIÇÕES GERAIS .............................................................01

CAPITULO I - A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E CARACTERISTICAS PRINCIPAIS COM REFERENCIA AOS DIREITOS HUMANOS...................................................04

CAPÍTULO II CONCEITO DE HABEAS DATA E SUAS

PRINCIPAISCARACTERISTICAS...........................................................................08

2.1) Natureza Jurídica...............................................................................................08

2.2)Proteção dos interesses individuais....................................................................08

2.3)Proteção dos direitos da personalidade..............................................................08

2.4)Direitos das pessoas em geral...........................................................................09

2.5)Objetivos principais.............................................................................................09

CAPÍTULO III HABEAS DATA FRENTE À SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO..........................................................................................................10

CAPÍTULO IV HABEAS DATA SOB ÓTICA DA LEI 9.507/97................................16

4.1) Legitimidade.......................................................................................................16

4.2) Indispensabilidade da recusa administrativa expressa......................................17

4.3)objeto da ação de habeas data...........................................................................17

4.4) Casos de concessão de habeas data................................................................18

4.5)Requisitos da petição de habeas data...............................................................18

4.6) Competência do processamento e julgamento do habeas data........................19

4.7) Decisão e coisa julgada.....................................................................................21

4.8) Habeas data e dados sigilosos..........................................................................22

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CAPÍTULO V – ENTENDIMENTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS

COM RELAÇÃO AO HABEAS DATA......................................................................24

CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES COM RELAÇÃO A IMPORTÂNCIA DO HABEAS

DATA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO............................................................29

CAPÍTULO VII – CONCLUSÃO...............................................................................33

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................38

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Resumo

O remédio constitucional tratado nesse trabalho foi uma das inovações da Constituição Federal de 1988 e está previsto em seu artigo 5°,LXXII. Divide espaço na Carta Magna com outros direitos humanos fundamentais, como habeas corpus,mandado de injunção,mandado de segurança e ação popular. Tem seu procedimento disciplinado na lei 9.507/1997. O habeas data tem como objetivo fazer com que todos tenham acesso às informações que o Poder Público ou entidades de caráter público possuam a seu respeito. A proteção de dados não é uma garantia fundamental apenas no ordenamento jurídico brasileiro, ela é dada em muitos países como EUA, Grã Bretanha e Espanha. Esse writ é uma ação constitucional, de caráter civil que se tornou fundamental na Sociedade atual, também denominada de sociedade da informação. Sociedade essa, que tem como sua maior riqueza a informação. Diante disso, o habeas data visa frear ou ainda, diminuir, o abuso e a violação aos direitos à intimidade e privacidade das pessoas, ao dispor de banco de dados que armazenam informações, atualmente de forma mais sofisticada dos cidadãos.

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INTRODUÇÃO E DISPOSIÇÕES GERAIS

A constituição federal de 1988 foi inovadora em muitos aspectos, e em um

deles foi à criação do remédio constitucional hábeas data. Criação essa que

seguiu uma linha evolutiva em diversas constituições estrangeiras como

americana, inglesa e espanhola.

No que tange a jurisprudência acerca desse tema vemos que na Revista de

Direito da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas, ano 4 de

outubro de 1990, o Professor Pedro Henrique Távora Niess, que considera que a

ação de habeas data foi inspirada na Constituição da China ( em seu artigo 37) e

na Constituição de Portugal, que dispõe:

“Artigo 35

(Utilização da Informática)

1- Todos os cidadãos têm i direito de tomar

conhecimento que constar de registros

mecanográficos a seu respeito e do fim a que se

destinam as informações, podendo exigir a retificação

dos dados e a sua atualização.

2- A informática não pode ser usada para

tratamento de dados referentes a convicções

políticas, fé religiosa ou vida privada, salvo quando se

trata do processamento de dados não identificáveis

para fins estatísticos.

3- É proibida a atribuição de um número nacional

único aos cidadãos”.

O referido autor cita também, a Constituição Espanhola:

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“Artigo 18

1- É garantido o direito á honra, à intimidade pessoal

e familiar e à imagem.

2- .................................................................................

3- .................................................................................

4- A lei limitará o uso da informática a fim de garantir

a honra e a intimidade pessoal e familiar dos

cidadãos e o pleno exercício dos seus direitos”.

Tal instituto se baseia, resumidamente, em uma ação constitucional,

conforme o disposto no artigo 5°, inciso LXXII e LXXVII da Constituição Federal, é

uma ação constitucional que salvaguarda o direito de todos os cidadãos

brasileiros, para assegurar conhecimento de informações relativas à pessoa do

impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades

governamentais ou de caráter publico; para retificação de dados, quando não se

prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

Após análise e compilação do presente trabalho, vemos que o writ habeas

data tem um papel de grande significado na sociedade atual. Sociedade essa

denominada da Informação, por muitos autores e estudiosos do tema.

Basicamente, a referida sociedade é aquela que tem seu início na transição

da era industrial para a pós-industrial.Isto é, aquela que tem como características

que o conhecimento e seu acesso são ferramentas fundamentais do dia-a-dia para

o cidadão e para a comunidade. De tal maneira, que o computador, mais

especificamente a internet representam essa possibilidade de informação.

Resumi-se de maneira ampla tal sociedade, como era do conhecimento.

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Conforme entendimento do ilustre professor Michel Temer o habeas data

surgiu da insurgência contra os órgãos de informação, isto é, a constituição de

1988 inovou nesse sentido tendo em vista que a Constituição anterior, promulgada

em um contexto histórico da ditadura militar com uma forma de governo

autoritário, o qual arquivava, de maneira totalmente unilateral e sigilosamente,

dados referentes à convicção política, filosófica, de conduta pessoal e religiosa

dos indivíduos1.

Assim, nesse trabalho será demonstrado como e o motivo que o remédio

constitucional do habeas data é considerado como remédio jurídico da sociedade

da informação, além de uma conceituação e explicação de seu procedimento,

conforme a lei ordinária que o regula, Lei 9.507/1997 e uma análise da

jurisprudência que temos do referido tema em nossos tribunais.

1 TEMER. Michel. Elementos de direito constitucional. Editora Malheiros.20° edição. P.213.

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CAPÍTULO1- A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS COM

REFERÊNCIA AOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

O direito constitucional, segundo o vocabulário jurídico do De Plácido e Silva,

é elaborado por um poder especial, denominado Constituinte, que se entende

instituído pela vontade soberana de um povo politicamente organizado, o Direito

Constitucional, como o mais fundamental dos direitos Públicos, de ordem interna,

enfeixa todos os princípios jurídicos, indispensáveis à organização do próprio

Estado, à constituição de seu governo, dos poderes públicos, à declaração de

direitos das pessoas, quer física, quer jurídica, traçando assim os limites de ação

do Estado, na defesa dos interesses da coletividade que o compõe.

A constituição federal é o conjunto de regras e preceitos ditos como

fundamentais, estabelecidos pela soberania de um povo, para servir à base de

sua organização política e firmar direitos e deveres de cada um de seus

componentes.

Os direitos assegurados no titulo II da Carta Magna, são denominados como

fundamentais e para Alexandre de Moraes tais direitos formam um conjunto

institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade

básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do

poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e

desenvolvimento da personalidade humana.

Esses direitos são previstos de forma mais elevada do que os demais direitos

previstos no ordenamento jurídico, isto é, são considerados fundamentais, e por

esse motivo, possuem algumas características particulares como:

a) Imprescritibilidade (não se perdem pelo decurso do prazo);

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b) Inalienabilidade (não podem ser transferidos, nem de forma onerosa e nem

de forma gratuita);

c) Irrenunciabilidade (esses direitos não podem ser renunciados em hipótese

alguma);

d) Universalidade (esses direitos têm abrangência em todo os indivíduos

independentemente de raça, sexo, nacionalidade, religião);

e) Inviolabilidade (são direitos que não podem ser desrespeitados por atos de

autoridades públicas ou por determinações infraconstitucionais);

f) Efetividade (o Poder Público deve agir de forma a garantir esses direitos

aos cidadãos);

g) Interdependência (as previsões constitucionais apesar de autônomas se

interligam umas com as outras visando atingir suas finalidades);

h) Complementaridade (os direitos humanos devem ser interpretados e

analisados em conjunto, uns com os outros, e nunca isoladamente, sempre

em observância de sua finalidade de alcance prevista pelo legislador

constituinte)1.

Para assegurar os direitos fundamentais temos os remédios constitucionais,

também conhecidos como writs constitucionais. Esses são instrumentos dispostos

na Constituição Federal para assegurar a proteção dos direitos humanos. São

eles: o habeas corpus, o habeas data, o mandado de segurança, mandado de

injunção e ação popular.

1 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais.p.41.Editora Atlas.5ª edição.

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Nesse sentido, o professor Paulo Hamilton Siqueira Júnior, em seu livro

Direito Processual Constitucional, fala que esses são “garantias instrumentais, ou

seja, instrumentos processuais colocados à disposição do cidadão para efetivação

dos direitos humanos fundamentais”.

Diante disso, vemos que tais garantias são instrumentos processuais

necessários para preservar os direitos humanos fundamentais previstos na Carta

Magna.

Sendo esses:

a)habeas corpus (writ que tutela a liberdade de locomoção);

b)habeas data (instrumento constitucional mediante o qual todo interessado

pode exigir o conhecimento do conteúdo de registro de dados relativos a sua

pessoa, mas que se encontrem em repartições públicas ou particulares acessíveis

ao público, solicitando ainda, eventualmente, sua retificação, quando as

informações não conferirem com a verdade, estiverem ultrapassadas ou

implicarem discriminação2;

c)mandado de injunção (é ação constitucional que visa suprir uma lacuna

legislativa);

d) mandado de segurança (é ação constitucional que tem por finalidade a

proteção de direito líquido e certo não amparado pelos remédios habeas data e

habeas corpus);

e) ação popular ( meio constitucional que está à disposição de qualquer

cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos, ilegais e

2 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional.Editora Saraiva.2003

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que ferem o patrimônio público- federal, estadual ou municipal, bem como de suas

autarquias ou entidades paraestatais);

Explica o ilustre professor José Afonso da Silva que esses são garantias “na

medida em que são instrumentos destinados a assegurar o gozo de direitos

violados ou em vias de ser violados ou simplesmente não atendidos”3.

Tais garantias são necessárias para assegurar os direitos fundamentais

previstos na constituição federal, dispostos esse em seu artigo 5° e que devem ter

seu pleno direito sem qualquer ofensa ou ameaça de ofensa.

3 SILVA, José Afonso.Curso de Direito Constitucional Positivo.p.36.

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CAPÍTULO 2 - CONCEITO DO HÁBEAS DATA E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O Hábeas data consiste em um remédio constitucional advindo com a

Constituição Federal de 1988, que consiste em assegurar o conhecimento relativo

a pessoa do impetrante dessa ação, constantes em banco de dados ou registros

de entidades vinculadas ao governo ou de caráter público, visando a retificação de

dados ou alteração de dados relativos ao impetrante.

2.1) natureza jurídica

O habeas data tem natureza jurídica de ação, declarada pela própria

Constituição Federal no artigo 5° inciso LXXVII e reafirmada pelo artigo 8° da lei

9.507/97, quando indica que os requisitos da petição inicial são os dispostos nos

artigos 282 e 285 do Código de Processo Civil.

2.2) Proteção dos interesses individuais

Conforme a Carta Magna prevê tal proteção quando trata de assegurar as

informações relativas “à pessoa do impetrante”.

2.3) Proteção dos direitos da personalidade

Tal writ constitucional é o remédio adequado para proteção de alguns

direitos da personalidade declarados pela Constituição Federal como invioláveis.

São eles: a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem. Além desses, temos

também o nome, os escritos pessoais e o direito do autor.

Isso porque, o referido remédio, é possível para responder de forma coerente

agressões aos direitos da personalidade praticadas por meio de qualquer

instrumento como publicação de uma foto, divulgação de um documento ou

exploração de um fato comprometedor da honra e da boa fama.

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2.4) Direitos das pessoas em geral

Os direitos da personalidade tutelados pelo hábeas data referem-se a

pessoas no sentido amplo, ou seja, incluindo os incapazes, os mortos, tendo em

vista que a Constituição de 1988 se refere ao “interessado”, sendo assim, sem

restrições.

2.5)Objetivos principais

O habeas data tem dois objetivos fundamentais, o primeiro tem relação ao

direito do impetrante em ter conhecimento aos dados sobre a sua pessoa,

constantes de registros ou bancos de dados governamentais ou de caráter

público. Já o segundo implica na possibilidade de retificação desses dados.

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CAPÍTULO 3- HABEAS DATA FRENTE À SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Com a revolução industrial e a era pós-industrial vemos que a sociedade

passou a ser pós-moderna e tal sociedade tem características próprias como o

relativismo e o pragmatismo. Isto é, segundo o qual todo conhecimento é relativo4

e consideração das coisas de um ponto de vista prático5, respectivamente.

A tal sociedade damos o nome de sociedade da informação, na qual temos

um “modo de desenvolvimento socioeconômico em que a aquisição,

armazenamento, processamento, valorização, transmissão, distribuição e

disseminação de informação conducente à criação de conhecimento e á

satisfação das necessidades dos cidadãos e das empresas desempenham um

papel central na atividade econômica, na criação de riqueza, da definição da

qualidade de vida dos cidadãos e das suas práticas culturais [e por demais

extensiva6” .

A sociedade da informação, também chamada de sociedade pós-moderna

tem algumas características como a exclusão da privacidade das pessoas, perda

do sentido de ser um animal social e um exemplo disso é a socialização em menor

intensidade e a utilização dos meios eletrônicos para a comunicação (torpedos via

celular, e-mail, etc.). Além disso, vemos que a referida sociedade gera alguns

problemas sociais como por exemplo o stress, a perversão, a depressão, a

obesidade e o tédio, resultantes da falta de tempo, falta de lei e principalmente,

falta de perspectiva de futuro7.

Diante desse cenário atual, o Direito, como complexo orgânico, cujo

conteúdo é constituído pela soma de preceitos, regras e leis, com as respectivas

sanções, que regem as relações humanas na sociedade, vem se transformando

4 Dicionário Michaelis. 5 idem a nota 4. 6 PAESANI, Liliana Minardi,. O Direito na Sociedade da Informação, p.12. 7 www.jus2.uol.com.br/doutrina

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para se reestruturar para regulamentar novos aspectos advindos com a sociedade

em questão. Nesse sentido cito conflitos como a oposição entre o direito á

informação e o direito á intimidade e privacidade, crimes cibernéticos.

Nessa ordem, sabe-se que a tecnologia dessa sociedade tem como

característica armazenar e transmitir informação, e ter acesso à informação

passaram a ter um valor imprescindível, sendo esse até econômico. Assim, a

realidade da sociedade anterior à Sociedade da Informação, sendo essa a

Revolução Industrial que buscava produzir em larga escala, na qual para a fábrica

o importante era o não saber do funcionário, apenas ter o conhecimento da seção

e função em que era encarregado.

A sociedade da informação vem com uma ideologia totalmente contrária a

antecedente, ou seja, visa tornar o cidadão cada vez mais informado, com mais

aptidão, especialização e não um alienado, que só tem noção de sua função e

nada mais. Nessa esteira, a informação, o conhecimento e o saber, portanto,

tornaram-se indispensáveis no cotidiano.

Diante disso, conclui-se que a principal riqueza dessa era , isso é, da própria

sociedade da informação, é a própria informação, diferentemente do que era

considerado como tal nas eras passadas, como o café, os minérios. Informação

tem origem do latim informatio,do latim informare que significa instruir. Pode ser

entendido como o conhecimento ou ainda a cognição. Sabe-se que a informação é

inerente à socialização do próprio homem bem como a comunicação em si.

Nos dias atuais, vemos que a informática processa a informação e mecaniza

suas relações culturais. Não podemos confundir informação com o conhecimento,

a informação é transmitida em larga escala, e hoje pode ser adquirida de muitas

formas como por notícias advindas dos meios de comunicação (internet, rádio,

televisão) até mesmo sem fio (tecnologia wirelles) e de qualquer lugar.

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O conhecimento, todavia, advém da capacidade intelectual de inerente a

cada indivíduo e que o detentor é quem sabe analisar as informações, isto é

repensar sobre alguma informação que lhe é transmitida, e depois dessa reflexão

distinguir o que é informação, o que é opinião de jornalista, por exemplo, ou seja,

o conhecimento é adquirido de forma progressiva. Conclui-se assim, que a

informação não precisa de um prévio consentimento e reflexão daquele que irá

recebe-la, ainda mais na sociedade da informação, que a realidade de se informar

e de se informatizar está em todas as partes e seu acesso está cada vez mais fácil

e rápido.

A informação é, portanto, na sociedade atual, o objeto de maior riqueza,

sendo de difícil preservação em razão de câmeras de segurança em todos os

locais, web sites de relacionamentos no qual os usuários expõem sua vida. Além

disso, temos uma prática cada vez mais comum de comércio dados de usuários

da internet, ou seja, um usuário compra pela internet (prática cada vez mais

freqüente na sociedade da informação) de um determinado produto. Para efetivar

tal transação preenche um cadastro e desse cadastro, dados como preferência

musical, de leitura e até mesmo objetos relacionados com aquele que adquiriu no

início do exemplo, começam a ser enviados em seu endereço de e-mail, dado

esse também vendido.

Dessa maneira, vemos que os dados que inserimos ou ainda temos que

preencher em cadastros tanto oficiais, isto é, requeridos por órgãos públicos, bem

como aqueles requeridos por instituições privadas, são constantemente

ameaçados. Ameaça essa, que pode ser uma infração a nossa Constituição

Federal, que consagra em seu artigo 5° a proteção aos dados, bem como a

privacidade e a intimidade da vida privada. Resta assim demonstrado, que os

direitos fundamentais dispostos no artigo 5 ° da Constituição Federal estão e são

constantemente ameaçados na sociedade chamada da informação.

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Diante desse cenário, temos como solução, ou melhor, remédio

constitucional o hábeas data, writ constitucional inserido na Constituição de 1988,

disposto em seu artigo 5°, LXXII.

O hábeas data é o “meio posto à respeito constantes de registros ou bancos

de dados de entidades governamentais ou de caráter público, permitindo ainda

que seja feita a retificação dos dados eventualmente inexatos”8 .

Segundo De Plácido e Silva, hábeas data é o “remédio jurídico processual de

natureza constitucional destinado a assegurar o conhecimento de informações

relativas à pessoa do impetrante, constante de registros ou bancos de dados de

entidades governamentais ou de caráter público e para a retificação de dados,

quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo”9.

Para Maria Sylvia Zanella de Pietro o “habeas data assegura o conhecimento

de informações relativas á própria pessoa do impetrante; e o objetivo é sempre o

de conhecer e retificar essas informações, quando errôneas, para evitar o seu uso

indevido”10.

Esse remédio constitucional foi regulamentado pela lei 9.507/97, que trata-se

de uma atuação legislativa fundada na experiência, conquistas e acertos, com

intuito de indicar um amadurecimento radical em nossa democracia.11

Já o conceito trazido pela doutrinadora Hely Lopes Meirelles é que o hábeas

data é “o meio constitucional posto à disposição de pessoa física ou jurídica para

lhe assegurar o conhecimento de registros concernentes ao postulante e

8 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Hábeas Data. Editora Revista dos Tribunais. 9 SILVA. De Plácido e. Vocabulário Jurídico.p.671. 10 PIETRO.Maria Sylvia Zanella de. Direito Administrativo. 20 edição.p.701. 11 Nesse sentido,Lourival Gonçalves de Oliveira no livro Hábeas Data. P.198/199.

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constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, para

retificação de seus dados pessoais”12.

Diante o exposto, conclui-se que o habeas data é uma das maneiras para

garantir à proteção contra a informação abusiva, inexata ou prejudicial às pessoas

é o acesso a banco de dados tanto públicos quanto privados com a finalidade de

atualizar, retificar, anular ou manter em sigilo, quando necessário, a informação do

particular interessado.

Dessa maneira, é uma ação constitucional que garante á pessoa física ou

jurídica reivindicar judicialmente a apresentação de registros ou arquivos, em

qualquer entidade, nas quais constem informações pessoais, para tomarem

conhecimento de seu teor, ou se for o caso, que haja a correção de dados

errados, para que assim, exista a proteção dos direitos fundamentais.

O remédio jurídico habeas data está presente em diversos ordenamentos

jurídicos de outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo, com o

Freedom of information act de 1974, posteriormente alterado pelo Feedom of

Information Reform Act de 1978. Já na Grã Bretanha, teve o Officil Secrets Act.

Além dessas, temos sua existência nas constituições latino-americanas,

portuguesa e também espanhola. Com isso, vemos que esse writ é

importantíssimo e tem resguardo jurídico em muitos países, notada sua

importância, principalmente na sociedade atual.

Em conclusão do referido acima, vemos que esse writ tem uma importância

ainda maior na sociedade da informação, tendo em vista que com o avanço das

tecnologias, a expansão do computador e da internet, tanto o Estado, quanto o

setor privado tem a sua disposição de forma célere, uma enorme quantidade de

informação sobre as pessoas que vivem em tal sociedade. Portanto, é necessário

garantir e proteger,a existência de canais concretos de acesso rápido à

12 artigo:www.pricvacyinternational.org/article.shtml?cmd%5b347%5d=x347-63549

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informação para modificar a informação correta ou sem atualização contida no

banco de dados eletrônicos, para dessa maneira, proteger o direito à privacidade

dos indivíduos.

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CAPÍTULO 4 - HABEAS DATA SOB ÓTICA DA LEI 9.507/97

A lei ordinária que regula tal instituto é a 9.507/1997, e essa trouxe algumas

diretrizes de como utilizar-se de tal remédio constitucional.

A lei em análise compõe-se de 23 artigos, estando em vigor desde a data de

sua publicação, dia 13/11/1997. Tais dispositivos prevêem duas fases distintas

quanto ao direito de obter informações a respeito da pessoa do impetrante, uma

extrajudicial e outra judicial11.

4.1) Legitimidade

Com relação à legitimidade para propor tal ação vemos que só a pessoa a

que se referem os registros impugnados pode requerer, tendo em vista que a ação

de habeas data é personalíssima e dessa forma, não admite o pedido de terceiros

e sequer sucessão no direito de pedir.

O interessado deve primeiramente requerer administrativamente à autoridade

da entidade depositária do registro ou banco de dados para que forneça ou

retifique o dado. Dependendo do caso, os dados ou informações pessoais do

autor a qual estará obrigada por lei a decidir sobre o pedido no prazo de 48 horas,

conforme o disposto no artigo 2° da referida lei.

No que tange a legitimidade passiva, sendo essa, aquela pertencente ao

titular do interesse oposto, o Professor Alexandre de Moraes, em seu livro Direito

Constitucional, observa que poderão ser sujeitos passivos da ação de habeas data

as entidades governamentais da administração pública direta e indireta, bem como

as instituições, entidades e pessoas jurídicas que prestem serviços para o público

11 SEGATTO.Carlos. O instituto do habeas data.Editora de Direito.1999. pág. 160.

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ou de interesse público, e desde que detenham dados referentes às pessoas

físicas e jurídicas12 .

4.2) Indispensabilidade da recusa administrativa expressa

Segundo o parágrafo único, a autoridade da entidade particular ou pública

deve comunicar ao requerente (autor) sobre o deferimento ou não da pretensão no

prazo de 24 horas e dando ciência da efetiva retificação, se tiver se tratado disso,

em 10 dias, confirmando-a ao requerente.

Isto é, a recusa administrativa é requisito indispensável para a propositura da

ação de habeas data, assim sendo, o autor deve primeiramente levar sua vontade

de conhecer ou retificar os dados á administração Pública ou entidade privada e

se esse se negar, pode-se impetrar habeas data.

4.3) Objeto da ação de hábeas data

A ação de hábeas data tem como principais objetos:

a) o acesso às informações;

b) retificação das informações e

c) complementação das informações (objeto esse subtraído de conclusões da

leitura e análise do artigo 7° da lei 9.507/97).

4.4) Casos de concessão de habeas data

12 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas.1997,p.127.

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Os casos de concessão desse remédio constitucional são:

“1) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do

impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades

governamentais ou de caráter Público;

2) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo

sigilosos, judicial ou administrativo;

3) para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou

explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob

pendência judicial ou amigável”13.

4.5) Requisitos da petição de habeas data

A lei que disciplina tal instituto jurídico dispõe que a petição inicial do hábeas

data deve preencher os requisitos previstos nos artigos 282 e 285 do Código de

Processo Civil, com base no artigo 8°. Além disso, a petição deverá ser instruída

com as seguintes provas:

a) Documento que comprove a recusa acesso às informações ou do

decurso de mais de dez dias sem decisão;

b) documento comprobatório da recusa em fazer-se a retificação ou do

decurso de mais de 15 dias, sem decisão, ou c) da recusa em fazer-se a

anotação em casos que não foi constatado a inexatidão do dado, se o

interessado apresentar explicação ou contestação sobre o mesmo,

justificando possível pendência sobre o fato objeto do dado, tal explicação

13 artigo 7° da lei 9.507/1997.

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será anotada no cadastro do interessado ou o decurso de mais de 15 dias

sem decisão.

Caso os requisitos retro mencionados não sejam preenchidos, a petição de

hábeas data será indeferida e dessa decisão caberá apelação, conforme disciplina

o artigo 15 da lei. Caberá o mesmo recurso em caso de deferimento de tal ação e

nessa hipótese terá o efeito meramente devolutivo, ou seja, a devolução ap órgão

superior ou ad quem do conhecimento da matéria que, por previsão, o órgão

inferior ou a quo deva encaminhar14, efeito disciplinado nos artigos 520,521,543,

parágrafo 4° e 587 do Código de Processo Civil.

Extrai-se da lei também, que os processos de hábeas data terão prioridade

sobre todos os atos judiciais, exceto hábeas corpus e mandado de segurança,

conforme preceitua o artigo 19 da mesma.

4.6 ) Competência do processamento e julgamento do hábeas data

Com relação ao julgamento desse remédio, vemos que originariamente

compete:

b) Ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do presidente da

República, das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do

Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do

próprio Supremo Tribunal Federal;

c) Ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou

do próprio Tribunal;

d) Aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou

de juiz federal;

14 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. P.508.

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e) A juiz federal, contra ato de autoridade federal, exceto nos casos de

competência dos tribunais federais;

f) A tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;

g) A juiz estadual, nos demais casos;

Em segundo grau, isto é, grau de recurso, compete:

a) Ao Supremo tribunal Federal, quando a decisão denegatória for

proferida em única instancia pelos Tribunais Superiores;

b) Ao Supremo Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em

única instância pelos Tribunais Regionais Federais;

c) Aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por

juiz federal;

d) Aos Tribunais Estaduais e ao Distrito Federal e Territórios, conforme

dispuserem a respectiva Constituição e a lei que organizar a justiça do

Distrito Federal;

Se for em algum dos casos previstos na Constituição Federal, mediante recurso

extraordinário ordinário perante o Supremo Tribunal Federal, conforme disposição

do artigo 102, inciso II da Constituição Federal.

A lei dispõe, ao final, que são gratuitos o procedimento administrativo para acesso

a informações e retificação de dados e para anotação de justificação, bem como a

ação de habeas data.

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Ainda na análise de dispositivos constitucionais e leis nesse sentido, vemos que o

Superior Tribunal de Justiça sumulou no seguinte sentido: que o procedimento

para se impetrar o Hábeas Data, e que esse só será cabível se ficar comprovada a

recusa pela entidade ou banco de dados, que pode ser comprovada pela resposta

negativa da entidade ou ainda pela não resposta dessa no prazo de dez dias, no

caso de acesso a informação, já se for retificação o prazo será de quinze dias. Ao

julgar, o juiz determina o acesso para ser corrigido ou complementado e quanto a

esse cabe recurso. Tal disposição encontra-se na súmula 2 do referido Tribunal

Superior.

4.7)Decisão e coisa julgada

Caso a decisão julgue procedente o hábeas data, o juiz designará dia e hora para

que a autoridade coatora apresente ao impetrante (autor da ação da hábeas data)

as informações ao seu respeito, ou seja, aquelas que foram anteriormente

recusadas, tanto no que diz respeito a apresentação, como retificação ou ainda,

anotação.

Decisão essa que será comunicada ao coator via postal com aviso de

recebimento, ou por telegrama, radiograma ou telefonema, conforme requerido

pelo impetrante.

Conforme o artigo da lei 9.507/97, o pedido de hábeas data poderá ser renovado

se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito. Diante disso, caso o

pedido seja negado, a coisa julgada impedirá a impetração de outro hábeas data.

Exceto se o novo pedido com as mesmas partes e o mesmo objeto, forem

baseados em dados que sofreram modificações, pois tais bancos de dados têm a

possibilidade de alteração. Assim, cabe ao impetrante demonstrar que as

informações anteriormente prestadas ou ainda corrigidas foram alteradas, pelo

decurso de um lapso temporal ou ainda por algum fato concreto.

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4.8) Habeas data e dados sigilosos

Existe uma questão no que diz respeito ao cabimento do habeas data com relação

a dados ou registros que estão em sigilo da defesa nacional. Existem

entendimentos diversos na doutrina com relação a isso.

Parte entende que o habeas data tem amplitude geral e, portanto cabe com

relação a qualquer dado ou registro, independentemente de sigilo. Uma vez que o

sigilo é referente a pessoa do interessado que impetra o habeas data e portanto

não existe sigilo quanto a isso.

Já outro ponto de vista doutrinário entende que quando os dados são sigilosos,

não podem ser objeto de habeas data, pois tal utilização não é permitida conforme

restrição constitucional do artigo 5°, XXXIII, ou seja, que trata de sigilo quando os

dados tem referência a defesa nacional.

O entendimento do professor Michel Temer com relação a esse tópico, é que não

valerá, há hipótese de habeas data, a alegação de sigilo em nome da segurança

do Estado. Tal restrição está expressamente prevista no caso do artigo 5°,XXXIII,

por meio do qual se autoriza a certificação de informações, ressalvando-se

“aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

No preceito referente ao habeas data não se verifica essa restrição. Não há como,

em matéria de direito individual, utilizar-se de interpretação restritiva. Ela há de

ser, nessa matéria ampliativa15.

Dessa divergência, concluo, que há direito e dever da sociedade em manter

dados e registros sigilosos para assegurar a defesa nacional, bem como a

segurança social e nacional. Todavia, tal sigilo deve ser mantido apenas com

relação a terceiros e não com relação ao próprio detentor dos dados, isto é, o

15 TEMER. Michel. Elementos de direito Constitucional.Editora Malheiros.20° edição. P.216.

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artigo5°, XXXIII deve ser aplicado com relação a pessoas que não tem relação

com o dado ou registro que se discute o sigilo.

Contudo, aquele que é o impetrante de habeas data, isto é, aquele que é o

verdadeiro objeto dessas informações, não pode ser privado de ter acesso as

mesmas, ainda porque, se as mesmas forem verdadeiras, o impetrante saberá o

inteiro teor. Além disso, se forem falsas ou erradas, sua retificação ou alteração

não causará nenhum dano à segurança nacional ou à defesa nacional.

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CAPÍTULO 5 - ENTENDIMENTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS COM RELAÇÃO AO

HABEAS DATA

No que diz respeito à doutrina extrai-se que tal writ, conforme entendimento

majoritário não pode ser impetrado com relação a informações sigilosas, tendo em

vista que pode por em risco a nação, ou melhor, a sociedade atual. Todavia, a

doutrina minoritária, encabeçada pelo jurista Alexandre de Moraes entende que

como a informação, a qual deseja a retificação, correção ou até mesmo o próprio

conhecimento, é relativa a pessoa do próprio impetrante, não há razão para a

existência de sigilo.

Na sociedade da informação sua existência se tornou um importante garantidor,

pois na “era do conhecimento” a coleta e o armazenamento indiscriminado de

dados acerca da vida intima das pessoas, sem controle ou permissão dessas,

assim esses atos são considerados uma ofensa à privacidade.

Além disso, tais dados podem estar errados e necessitam de sua retificação e os

detentores devem ter conhecimento dos mesmos. Dessa maneira, o hábeas data

se torna fundamental.

O hábeas data é o remédio jurídico que tem a possibilidade de diminuir as

rotineiras ofensas advindas com a globalização e com a sociedade da informação,

da qual ambas visam cada vez mais expor a intimidade e privacidade, ao, por

exemplo, dispor de bancos de dados que armazenam informações mais intimas

dessas, como até a alteração de dados chamados sensíveis como orientação

religiosa, política e sexual, desde que se utilizem dessas de forma alterada.

Apesar da informação ser um bem de interesse público e de fazer parte das

garantias fundamentas da Carta Magna de 1988, o Direito como órgão regulador

da sociedade, já que essa não existe sem o direito (“ubi societas,ibi jus15”), que no

seu sentido objetivo se utiliza da própria sociedade para fazer respeitar os deveres

15 Expressão em latim que significa onde há sociedade, há direito.

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jurídicos, que ela mesmo instituiu a fim de manter a harmonia dos interesses

gerais e implantar a ordem jurídica, deve portanto, se preocupar com o acesso, a

circulação e utilização da informação, já que essa veiculação foi ainda mais

alarmada com os avanços científicos e tecnológicos.

A doutrina acerca desse tema faz uma referência ao mandado de segurança,

posto que antes da edição da lei 9.507/97, o habeas data obedeceu às regras

dispostas na lei 1.5333/51, sendo essa a legislação do writ constitucional

mandado de segurança.

Todavia, os dois institutos tem campo de atuação diferente. O mandado de

segurança, conforme o artigo 5°, inciso LXIX da Carta Magna prevê que será

concedido para proteção de “direito líquido e certo, não amparado por habeas

corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder

for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do

Poder Público”.

No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “é a ação civil de rito

sumaríssimo pela qual qualquer pessoa pode provocar o controle jurisdicional

quando sofrer lesão ou ameaça de lesão a direito líquido e certo, não amparado

por habeas corpus nem habeas data, em decorrência de ato de autoridade,

praticado com ilegalidade ou abuso de poder15”.

Com relação aos limites ao campo de atuação do habeas data e do mandado de

segurança, vemos que apesar objetivarem finalidade diversa tiveram seu

procedimento, por um período de quase 10 anos, regido pela mesma legislação

(lei 1.533/51). Isto é, o primeiro visa assegurar o conhecimento e informações

relativas à pessoa do impetrante (seja nacional ou estrangeiro) constantes de

registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público,

assim como para a retificação de dados, quando não de prefira fazê-los por

15 PIETRO, Maria Sylvia de Zanella. Direito Administrativo. Editora Jurídica Atlas.20° edição.

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processo sigiloso, judicial ou administrativo. Já o segundo, tem a finalidade de

proteger direito líquido e certo, que não seja correspondente à liberdade de

locomoção e ao direito à informação amparável pelo instituto constitucional do

habeas data.

Dessa maneira, grande parte da doutrina chegou a considerar o habeas data

como um remédio desnecessário, sendo que a lei 1.533/51 era a aplicável ao

referido instituto, todavia, essa regia o instituto do mandado de segurança, sendo

portanto, apenas uma ação com nome diferente. Considerava-se também como

um writ descartável, ao considerar que o seu objetivo poderia ser alcançado

através do pedido administrativo (direito de petição) ou ainda, por meio de ação

ordinária.

Contudo, apesar dessas críticas feitas pela doutrina com relação ao remédio

constitucional habeas data, vemos que é fundamental sua existência, se

verificarmos sob a ótica que o Brasil é um país que teve formas de governo, bem

como constituições federais, pouco democráticas, nas quais o segredo das

informações sobre pessoas implicava na garantia da subsistência do poder

estabelecido e hoje, diferentemente dos modelos anteriores, temos um estado

democrático de direito que deve prestar informações, bem como retificá-las

quando errôneas. Importância essa, que se ampliou ao se chegar na sociedade

atual, a chamada sociedade da informação, tendo em vista que a informação além

de ser a maior riqueza da mesma, pode ser facilmente modificada ou ainda,

violada, com os meios de comunicação cada vez mais modernos e que facilitam

práticas que podem violar informações relativas aos indivíduos da mesma.

Com relação à jurisprudência acerca da ação constitucional do habeas data, cito

um julgado pelo Supremo Tribunal Federal que nega seguimento a tal ação tendo

em vista que não houve cabimento para tal pleito, uma vez que o objeto da ação

era consubstanciado na atualização de dados de processos que tramitam em seu

nome na Suprema Corte e para tal inusitado pleito, o excelentíssimo doutor

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ministro Carlos Velloso negou seguimento, tendo em vista que os dados

existentes com relação ao impetrante no Supremo Tribunal Federal são

informações divulgadas no site desse Tribunal (www.stf.jus.br), no qual qualquer

pessoa pode ter acesso a essas informações e não houve a recusa administrativa

para que se preste tais informações, portanto, tal pedido não merece prosperar e

diante disso, vemos que o doutor ministro Carlos Velloso decidiu acertadamente.

In verbis:

“HABEAS DATA N. 70 - MINISTRO CARLOS

VELLOSO

DECISÃO: - Vistos. ROBISSOM RODRIGUES DE

ASSIS impetra ordem de habeas data, em que requer

informações atualizadas sobre o andamento dos feitos

que tramitam em seu nome no Supremo Tribunal

Federal.

Autos conclusos em 22.6.2005.

Decido.

O pedido é inviável. É que o habeas data visa assegurar o direito de

conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de

registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter

público,quando não espontaneamente prestadas (C.F., art. 5º, LXXII).

No caso, as informações requeridas pelo impetrante são públicas e estão,

inclusive, disponibilizadas no site do Supremo Tribunal Federal, inexistindo,

portanto, qualquer obstáculo ao seu acesso.

Como bem ensina Alexandre de Moraes:

(...) "tendo o habeas data natureza jurídica de ação

constitucional, submetem-se às condições da ação,

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entre as quais o interesse de agir, que nessa hipótese

configura-se, processualmente, pela resistência

oferecida pela entidade governamental ou de caráter

público, detentora das informações pleiteadas. Faltará,

portanto, essa condição da ação se não houver

solicitação administrativa, e conseqüentemente

negativa no referido fornecimento" ("Direito

Constitucional", Atlas, 2000, 7ª Ed., 145).

.......

Do exposto, nego seguimento ao pedido e determino o

seu arquivamento”.

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CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES COM RELAÇÃO A IMPORTÂNCIA DO HABEAS DATA NA

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

O habeas data, conforme anteriormente já mencionado, se tornou essencial

para a Sociedade da Informação e para muitos doutrinadores é tido como o writ

dessa era do conhecimento.

Para se chegar a essa conclusão devemos primeiramente analisar no que

consiste tal sociedade de forma mais profunda.

A sociedade da informação pode ser conceituada, como “aquela em que o

desenvolvimento encontra-se calcado em bens imateriais, como os dados,

informação e conhecimento”16, ou seja, aquela em que a riqueza e o poder são

firmados a partir do saber. É, portanto, a sociedade que se destaca pelo avanço

tecnológico no que diz respeito ao tratamento da informação. Tratamento que se

destina em compartilhar, transmitir, obter informação, por qualquer meio

tecnológico, em conclusão, de qualquer lugar e a qualquer tempo.

6.1) Reflexos da Sociedade da Informação no mundo jurídico

A sociedade chamada como da informação tem reflexos no mundo jurídico

se considerarmos que temos uma evolução nas relações humanas a partir dessa

sociedade.

Isto é, a sociedade da informação é de certa maneira uma novidade e o

direito, como órgão que tutela as relações jurídicas da sociedade, deve tutelar as

relações novas trazidas pela mesma. Isto é, com a sociedade da informação,

podemos considerar que novas práticas surgiram, como, por exemplo, crimes

virtuais, sendo esses aqueles praticados na rede global da internet, como

estelionato, fraudes com relação ao hardware, manipulações para obtenções de

16 JUNIOR.Paulo Hamilton Siqueira. O Direito na Sociedade da Informação. Ed. Jurídico Atlas.

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informações, atos contra os dados ou programas do computador, crime de

interceptação informática16.

Nesse sentindo, o Direito, pelo Poder Judiciário deve regular e solucionar

algumas questões que foram trazidas de forma inovadora pela sociedade da

informação, como contratos firmados por meio eletrônico, assembléias de

condomínio por meio eletrônico, penhora on line, dentre outras questões.

Sabemos que ainda que exista um abismo digital17 ainda em nosso país,

muitos setores do Poder Público possuem cadastro já informatizado e tal prática

está cada vez mais comum. Isto é, ainda que nem todos tenham acesso a

informação e aos meios digitais em que a sociedade da informação está inserida,

o governo está cada vez mais investindo para que o Poder Público esteja inserido

no mundo digital.

Assim, temos muitos cadastros governamentais ou ainda ligados ao Poder

Público que as informações de seus bancos de dados estão informatizadas e com

fácil propensão de erro ou ainda de que podem ser violados.

Para coibir tais práticas, vemos que o habeas data é o remédio que pode

ajudar aqueles que possuem cadastros a terem acesso aos seus dados, ou ainda

ratifica-los quando existe alguma divergência, quando a autoridade administrativa

competente dessa entidade governamental se recusar a prestar informações ao

interessado ou ainda se negar a alterar qualquer informação falsa ou errônea com

relação ao mesmo.

Em conclusão, a sociedade da informação compreende no elevado número

de atividades produtivas que dependem da gestão de fluxos internacionais aliado

ao uso intenso das novas tecnologias de informação e comunicação. Leva-se em

16 Nesse sentido, livro Direito e a internet – aspectos relevantes, cap.7, pág. 207 à 233. 17 PAESANI. Liliana Minardi. O direito na sociedade da informação, apresentação, pág. XI a XVII.

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consideração sempre o coletivo, isto é, a cultura, o conhecimento e a identidade

de forma coletiva e nunca individual. Sendo assim, vivemos em uma era em que a

cultura, a informação, os costumes e usos são padronizados. Isso é uma

característica não positiva dessa sociedade que trouxe tantos avanços.

Temos, portanto um paradoxo trazido pela sociedade da informação, de um

lado avanços que encurtam as distâncias, facilidades como, por exemplo, pagar

uma conta sem sair de casa, falar com um amigo que está em outro país, ter

acesso a acervos de bibliotecas do mundo inteiro do seu computador. Do outro

lado, trouxe os crimes cibernéticos, a maior disponibilidade de afronta aos direitos

fundamentais da privacidade e intimidade dos indivíduos, além da possibilidade

aumentada de ocorrência de transtornos como dados inseridos erroneamente em

serviço de proteção ao crédito.

E cabe, portanto, ao Direito, tutelar e solucionar problemas advindos com

esse paradoxo que é a Sociedade da Informação. E com relação ao remédio em

análise desse trabalho, conclui-se que tem uma importância fundamental, tendo

em vista que nessa sociedade “a coleta e o armazenamento indiscriminado de

dados acerca da vida da pessoa com a velocidade da era tecnológica, configura-

se uma invasão da privacidade18”, configurando-se assim, uma afronta

“indiscriminada” a dispositivos constitucionais.

18 JÚNIOR, Paulo Hamilton Siqueira. Direito Processual Constitucional.Editora Saraiva. Página 323.

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CAPÍTULO 7 – CONCLUSÃO

O remédio constitucional habeas data consagrado pela Constituição Federal

de 1988 tem como significado “tenha dados” e teve sua origem como inspiração

sob um aspecto político, isto é, o Brasil passou por um longo período de

autoritarismo, no qual o Estado possuía um registro dos dados sigilosamente( com

relação a religião, convicção política e filosófica e conduta pessoal). Todavia,

aqueles que os dados se referiam não tinham acesso a esses dados, dados esses

que poderiam ser verídicos ou não.

Diante desse cenário, a Carta Magna de 1988 veio com inovações, dentre

elas o habeas data visando a proteção desses dados como direitos humanos

fundamentais, sendo regulado no artigo 5°, inciso LXXII.

Tal writ constitucional por muito tempo teve seu procedimento regulado pela

lei que rege outro remédio constitucional, o mandado de segurança (lei 1.533/51).

Assim, muitos consideram ambos os institutos parecidos. Ocorre que o mandado

de segurança pode ser utilizado para proteger direito líquido e certo não amparado

por habeas corpus e habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou

abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício

de atribuições, sendo assim, não podem ser considerados semelhantes, pois o

mandado de segurança, conforme seu próprio conceito só será usado quando o

direito liquido e certo ameaçado não for amparado pelo habeas data.

Dessa forma, entende-se que o habeas data protege direitos relativos à

informações relativas à pessoa do impetrante, sendo esse direito personalíssimo,

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de

caráter público, bem como a retificação dessas informações. Tal informação ou

retificação a mesma só pode ser objeto da referida ação em caso de recusa

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expressa da entidade pública e governamental, caso contrário faltará um requisito

para se impetrar habeas data.

O referido writ tem seu procedimento regido, desde 1997, pela lei 9.507 de

12/11/1997 que regulamenta tal instituto como uma ação de natureza

constitucional que visa garantir ao indivíduo um mandado de acesso aos registros

relativos à sua pessoa, tendo como direitos tutelados o direito de saber, de ter

acesso, conhecer e retificar os dados e registros.

Com relação a divergência doutrinária citada no trabalho com relação ao

entendimento do cabimento ou não dessa ação com relação a dados sigilosos,

conclui que a parte da doutrina que entende que não existem dados sigilosos com

relação ao impetrante de habeas data, sendo que esse será aquele que os dados

ou registros dizem respeito e portanto terá conhecimento de tais dados e não

poderá existir sigilo desses sob alegação de segurança do Estado, restrição essa

prevista na Constituição Federal ( artigo 5°, XXXIII).

Vemos também que apesar de discussão muito grande com o surgimento de

tal writ sobre sua importância, sendo considerado por muitos como desnecessário

ou ainda descartável, teve significativa importância se considerarmos que surgiu

no momento de constituição de um Estado democrático de Direito e após um

longo período de um estado totalmente absolutista vivido na ditadura militar e

atualmente possui grande importância na chamada sociedade da informação.

O motivo de tal caracterização se dá pelas características da referida

sociedade. Características essas como o pragmatismo e o relativismo. A primeira

tem relação a busca do mais fácil e prático por cada indivíduo, tentando sempre

facilitar sua vida, relações humanas e etc. Já o segunda, caracteriza-se pelo

entendimento de que nada é absoluto e tudo é relativo, ou seja, tudo temos alguns

pontos de vista e todos podem ser corretos dependendo da situação.

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Característica essa, que gera uma certa insegurança, pois hoje existe um

entendimento e amanhã podemos ter outro.

Essa sociedade repleta de progresso científico que para muitos

transformou o cotidiano das pessoas mais ágil, já que vivemos com o tempo

reduzido devido a grande quantidade de afazeres, para outros gerou alguns

problemas, ou seja, da mesma maneira que revolucionou a transmissão de

informações, aumentou a possibilidade de se lesionar à intimidade dos indivíduos,

o que é uma lesão à Constituição Federal pois essa garante a proteção da

intimidade e da vida privada daqueles que estão sob sua jurisdição.

A sociedade da informação traz para as pessoas benefícios incalculáveis

como a internet que abrange o acesso à informação com notícias atualizadas

periodicamente, facilidade na busca de artigos científicos, trechos de livros,

enciclopédias virtuais, isto é uma variedade de informações com praticidade de se

acessar e encontrar, o que nos remete a efetivação do disposto na Carta Magna

sobre o direito à informação, portanto de se manter informado e de receber

informações.

Por outro lado, a revolução tecnológica permite que exista uma invasão na

vida íntima dos indivíduos tanto no ambiente domiciliar, quanto no de trabalho,

mas estendeu-se ao lazer, ou seja, temos nossa imagem sendo exposta e filmada

em lojas, supermercados, etc. Devemos refletir também no que diz respeito à

utilização da voz e de imagens de pessoas na internet, essa revolução trouxe com

ela também avanços maléficos, como direito autorais e de voz sendo expostos na

rede sem qualquer garantia aquele que é exposto.Temos, como exemplo, sites

dos quais o usuário, ou melhor, visitante faz download de músicas sem custo

algum e o cantor não recebe qualquer pagamento por ter sua música sido

“vendida”. Casos como esse geram problemas que devem ser solucionados para

não acontecer uma crise no Estado brasileiro, já que práticas como essas, não

tem leis para serem punidas, e para gerar uma estabilidade estatal.

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A sociedade da informação se expandiu com o advento da globalização.

Assim, podemos considerá-la aquela que diz respeito a adventos que encurtaram

as distâncias, com a internet, o computador, dentre outros avanços tecnológicos e

também aquela que possui como maior riqueza, não o café, o ouro, os minérios,

ou até mesmo o petróleo, mas sim a informação.

Dessa maneira, sendo a informação um objeto de maior riqueza dessa

sociedade, vemos que o remédio constitucional que protege a informação, sendo

essa por meio de dados ou registros, é, portanto, o writ mais importante de tal

sociedade que possui a cultura e a identidade coletiva padronizada.

O habeas data é considerado por muitos autores como o remédio

constitucional que conseguirá preservar direitos humanos fundamentais garantidos

no artigo 5° como a intimidade e a privacidade das pessoas tendo em vista que

com o advento da sociedade da informação os bancos de dados e registros estão

cada vez mais sofisticados e facilitados pela internet.

Assim, as possíveis ofensas a esses direitos devem ser paradas ou ainda,

proibidas, o que se pode fazer através da referida ação, a qual, é permitido ao

indivíduo o acesso ás informações pertinentes à sua pessoa, bem como a

correção e a atualização de tais registros.

Conclui-se, portanto, que o habeas data é um instrumento fundamental na

sociedade da informação tendo em vista que o Direito deve se atualizar conforme

a sociedade e tutelar os direitos de acordo com a evolução social. E para finalizar

esse trabalho cito o ilustre professor Paulo Hamilton Siqueira Júnior ao mencionar

o motivo que devemos tutelar a informação, entendimento nesse sentido no livro O

direito na Sociedade da Informação:

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“A informação é um bem de interesse público, sendo

por isso objeto dos direitos fundamentais e,

conseqüentemente, do direito constitucional. O direito

preocupa-se com o acesso, circulação e utilização da

informação, sendo certo que o avanço científico e

tecnológico contribuiu para a ofensa da intimidade e da

vida privada”19.

19 PAESANI, Liliana Minardi (coordenadora). O direito na sociedade da informação. Página 272.

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Revistas: REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS. ANO 4, OUT 90. Sites: www.revistadoutrina.trf4.gov.br Acesso em : 16 de fev.2009

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