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1 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO M1 D1 - INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO PARTE I: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO PROFESSOR AUTOR: ENG. JOSEVAN URSINE FUDOLI PROFESSOR TELEPRESENCIAL: ENG JAQUES SHERIQUE COORDENADOR DE CONTEÚDO: ENG. JOSEVAN URSINE FUDOLI DIRETORA PEDAGÓGICA: MARIA UMBELINA CAIAFA SALGADO MAIO/2011

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA

DE SEGURANÇA DO TRABALHO

M1 D1 - INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRA BALHO

PARTE I: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ENGENHARIA DE SEGU RANÇA

DO TRABALHO

PROFESSOR AUTOR: ENG. JOSEVAN URSINE FUDOLI

PROFESSOR TELEPRESENCIAL: ENG JAQUES SHERIQUE

COORDENADOR DE CONTEÚDO: ENG. JOSEVAN URSINE FUDOLI

DIRETORA PEDAGÓGICA: MARIA UMBELINA CAIAFA SALGADO

MAIO/2011

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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Prezado aluno, prezada aluna,

Este texto foi elaborado para funcionar como Guia de Estudo da disciplina Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho, que será tratada em duas aulas:

I. A evolução histórica da engenharia de segurança do trabalho (aula do dia 31 de maio;

II. Acidentes - conceituação e classificação ( aula do dia 7 de junho).

O texto está dividido em duas partes e cada uma delas será postada na véspera do dia da aula correspondente (dias 30 de maio e 6 de junho, respectivamente).

A leitura deste Guia de Estudo é indispensável para a realização da disciplina. Logo após cada aula (no caso desta disciplina, nos dias 31 de maio e 7 de junho à noite), será postada a indicação de um texto complementar, também de leitura obrigatória. Nesse momento, serão ainda postadas 5 perguntas que devem ser respondidas diretamente no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA (veja Espaço do Aluno) até a véspera da aula seguinte (dias 6 e 14 de junho, respectivamente, no caso desta disciplina).

Os dois textos (o Guia de Estudo e o texto complementar) servirão de referência mínima para a resposta às 5 perguntas sobre o tema de cada aula. As demais referências constantes da bibliografia básica do curso serão de leitura opcional, de acordo com o interesse de cada um.

A seguir, apresentam-se os objetivos e os conteúdos das duas aulas, de modo a favorecer uma visão de conjunto da disciplina. Os objetivos expressam as aprendizagens esperadas do aluno e podem orientá-lo(a) no estudo dos textos complementares de leitura obrigatória e mesmo nos de leitura opcional.

Objetivos

Após o estudo das duas partes desta disciplina, espera-se que os alunos sejam capazes de:

• Contextualizar historicamente a Engenharia de Segurança, explicando suas relações com o binômio capital/trabalho.

• Estabelecer relação entre trabalho e ser humano, considerando a existência dos acidentes de trabalho como parte da pré-história e da história da Humanidade.

• Analisar as especificidades do surgimento da área de Segurança do Trabalho na Inglaterra, nos demais países europeus e nos Estados Unidos.

• Analisar as especificidades da área de Segurança do trabalho na América Latina e no Brasil

• Identificar os principais marcos do desenvolvimento da área de Segurança do trabalho no Brasil.

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• Conceituar prevencionismo e a importância dessa abordagem para a Segurança do trabalho.

• Identificar o surgimento da Engenharia de Segurança do Trabalho como área específica, no Brasil.

• Indicar os impactos desse surgimento sobre a formação de profissionais especializados na área.

• Destacar o papel e as responsabilidades do engenheiro de segurança, nas atividades laborais.

• Conceituar acidente de trabalho. • Classificar os acidentes segundo suas causas, consequências e

medidas de controle. • Explicar a teoria das pirâmides para os acidentes. • Descrever o processo de investigação e a gestão dos acidentes. • Interpretar a estatística atual brasileira de acidentados.

Conteúdo

I. A evolução histórica da engenharia de segurança do trabalho

Trabalho e acidente do trabalho como elementos culturais e próprios da Humanidade. Estudos precursores da Segurança do Trabalho. Segurança do Trabalho no contexto da Revolução Industrial na Europa e nos Estados Unidos: aspectos econômicos políticos e sociais. O desenvolvimento da Segurança do Trabalho no Brasil e na América Latina. A história do prevencionismo. Implicações para a Formação de Engenheiros de Segurança do trabalho.

II. Acidentes - conceituação e classificação

Conceito legal. Conceito prevencionista. Causas de acidentes: fatores pessoais e fatores de trabalho. Agente do acidente e fonte de lesão. Conseqüências dos acidentes de trabalho; lesões e danos materiais. A teoria das pirâmides de acidentes. Processo de análise e investigação de acidentes. A gestão de acidentes e incidentes. Estatísticas de acidentes.

Textos de referência (leitura obrigatória) para res olução da Lista de Exercícios do Estudo Individual Orientado

1) FUDOLI, Josevan Ursine. (2011) Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho - Parte I. Evolução Histórica da Engenharia de Segurança do Trabalho (Guia de Estudo). Espaço do Aluno no site www.satelitepitagoras.com.br.

(Adaptado de ALBERTON, Anete. Uma metodologia para auxiliar no gerenciamento de riscos e na seleção de alternativas de investimentos em segurança, Capítulo 2. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. Disponível em http://www.eps.ufsc.br/disserta96/anete/index/indx_ane.htm#index )

2) BITENCOURT, Celso Lima, e QUELHAS, Osvaldo Luis Gonçalves. (s/d) Histórico da Evolução dos Conceitos de Segurança http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART369.pdf

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PARTE I. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ENGENHARIA DE SEGURA NÇA DO

TRABALHO

(Adaptado parcialmente por JOSEVAN URSINE FUDOLI, de ALBERTON, Anete. Uma metodologia para auxiliar no gerenciamento de riscos e na seleção de alternativas de investimentos em segurança, Capítulo 2. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 1996. Disponível em http://www.eps.ufsc.br/disserta96/anete/index/indx_ane.htm#index )

1. INTRODUÇÃO

As atividades laborais nasceram com a Humanidade e sempre houve falhas humanas e situações não desejáveis no meio ambiente de trabalho que favoreceram a ocorrência dos acidentes. O problema dos acidentes e doenças profissionais acompanhou o desenvolvimento das atividades humanas através de séculos e até milênios. Partindo da atividade predatória, evoluindo para a agricultura e o pastoreio, o homem alcançou a fase de organização artesanal do trabalho e atingiu a era industrial, sempre acompanhado de novos e diferentes riscos que afetavam e ainda afetam sua vida e saúde. Conforme afirmam ANSELL e WHARTON (1992), o risco é uma característica inevitável da existência humana. Nem o homem, nem as organizações e a sociedade às quais pertence podem evitar permanentemente a ocorrência de tarefas perigosas. Correr riscos é, pois, uma história antiga.

Os primeiros homens pré-históricos procuravam proteção contra animais ferozes adestrando-se na caça e vivendo em cavernas. A maneira pela qual subsistiam e enfrentavam os perigos resultava de sua astúcia, inteligência superior e habilidade de uso das mãos, mas já estavam expostos a acidentes. A invenção do machado de pedra, por exemplo foi um avanço para garantir a alimentação para o indivíduo e sua família, mas dava lugar a graves acidentes devido às práticas inseguras no manejo da ferramenta. Com a descoberta do fogo e das armas de metal e com uma organização tribal mais complexa decorrente de melhor planejamento da ação grupal, o ser humano obteve maior proteção, porém, novos riscos foram introduzidos. Portanto, o homem pré-histórico já estava constantemente exposto a perigos na vida diária, em sua luta pela existência.

Antes da Revolução Industrial, quando a força usada era em geral a humana ou a tração animal, os acidentes mais graves eram devidos a quedas, queimaduras, afogamentos ou ataques de animais domésticos.

Quando se iniciou o uso da energia hidráulica na manufatura, seguido do uso do vapor e da eletricidade, ocorreu um grande progresso na invenção de novas e mais poderosas máquinas que impulsionaram a industrialização, ao mesmo tempo em que incorporaram novos riscos e tornaram os acidentes de trabalho mais graves e mais numerosos. Mesmo assim, pouco se falava em saúde ocupacional.

Junto com a posterior evolução industrial proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico e o domínio sobre forças cada vez mais amplas, possibilitando a construção de variadas e complexas máquinas, surgiram novos

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riscos e acidentes para a população trabalhadora: engrenagens perigosas, gases e outros produtos químicos, poeira etc. passaram a ameaçar o ser humano de tal forma que o obrigam a agir com extrema cautela enquanto trabalha, uma vez que está suscetível, a qualquer momento, de sofrer uma lesão irreparável ou até mesmo a morte. Na época atual, o trabalho humano vem-se desenvolvendo sob condições que geram riscos mais numerosos e mais graves do que aqueles que há mais de cem anos ameaçavam o homem na sua busca diária de prover a própria subsistência.

Em vista disso, as pessoas e as empresas passaram progressivamente a ter maior preocupação com o elevado índice de acidentes ocorridos. Atualmente, algumas das grandes preocupações, nos países industrializados, são a saúde e a proteção do trabalhador no desempenho de suas atividades.

Esforços vêm sendo direcionados para este campo, visando a uma redução do número de acidentes e à efetiva proteção do acidentado e seus dependentes. Não é sem motivos que as nações vêm-se empenhando em usar meios e processos adequados para a proteção do ser humano no trabalho, procurando evitar os acidentes que o ferem, destroem equipamentos e ainda prejudicam o andamento do processo produtivo.

Até nossos dias, essa área evolui e muda conceitos, ampliando sua abordagem. O processo tradicional de segurança baseado em trabalhos estatísticos que servem para determinar como o trabalho afeta o elemento humano, através de um enfoque meramente descritivo, sem implicar atitudes concretas frente ao alto índice de acidentes, deu lugar a novas abordagens sob as quais os acidentes deixam de se ser eventos incontroláveis, aleatórios e inevitáveis para se tornarem eventos indesejáveis, cujas causas podem ser conhecidas e evitadas.

Sem desmerecer os enfoques tradicionais, pois eles são um instrumento valioso e o passo inicial do processo, torna-se imperativo buscar eficazmente não apenas a correção, mas a prevenção dos acidentes. Para o desenvolvimento social e econômico de uma nação, é essencial que tanto os órgãos governamentais quanto a iniciativa privada vejam sua riqueza maior no ser humano e compreendam que investir em segurança é um ótimo negócio.

2. CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS IDÉIAS RELATIVAS À SEGURANÇA DO TRABALHO

2.1 OS PRECURSORES

Como foi dito, o trabalho e os riscos de acidentes nele implicados surgiram na Terra junto com o primeiro homem, mas as relações entre as atividades laborativas e a doença permaneceram praticamente ignoradas até pouco mais da metade do século XVI. Antes disso há muito poucos estudos sobre o tema.

As primeiras referências escritas, relacionadas ao ambiente de trabalho e aos riscos inerentes a eles datam de 2360 a.C., encontradas num papiro egípcio, o "Papiro Seller II", que diz:

Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em missões. O que vejo sempre é o operário em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. O pedreiro, exposto a todos os ventos, enquanto a doença o espreita, constrói sem agasalho; seus dois braços se gastam no trabalho; seus alimentos vivem

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misturados com os detritos; ele se come a si mesmo, porque só tem como pão os seus dedos. O barbeiro cansa os seus braços para encher o ventre. O tecelão vive encolhido - joelho ao estômago - ele não respira. As lavadeiras sobre as bordas do rio são vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha de peixe, seus olhos são abatidos de fadiga, suas mãos não param e suas vestes vivem em desalinho (SOTTO, 1978).

Em 460 a.C. Hipócrates, chamado o Pai da Medicina, também falou dos acidentes e doenças de trabalho. No início da era cristã, Plínio novamente retomou o problema. Mas foi George Bauer quem fez um estudo concreto sobre as doenças que afetam os trabalhadores.

Como refere Hunter apud NOGUEIRA (1981), em 1556, George Bauer, conhecido por seu nome latino Georgius Agrícola, publicava o livro "De Re Metallica", no qual analisa os problemas relativos à extração de minerais argentíferos e auríferos e à fundição de prata e ouro. O autor discute os acidentes do trabalho e as doenças mais comuns entre os mineiros, em destaque a "asma dos mineiros", que segundo Agrícola era provocada por poeiras corrosivas. A descrição dos sintomas e da rápida evolução da doença sugere tratar-se de silicose, cuja origem, entretanto, não foi claramente identificada pelo autor.

Onze anos após a publicação desse livro (1567) apareceu a primeira monografia sobre as relações entre trabalho e doença, de autoria de Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim - o famoso Paracelso -, intitulada "Dos ofícios e doenças da montanha". Nessa obra, o autor faz numerosas observações relacionando com doenças métodos de trabalho e substâncias manuseadas pelos trabalhadores. Fala, na sua obra, da silicose e das intoxicações pelo chumbo e mercúrio sofridas pelos mineiros e fundidores de metais.

Apesar da importância, esses estudos permaneceram ignorados por mais de um século, nada se fazendo a respeito da proteção e saúde do trabalhador. Foi apenas ao apagar das luzes do século XVII que a Engenharia de Segurança tomou forma com os estudos do médico italiano Bernardino Ramazzini - o Pai da Medicina do Trabalho. Em 1700, com a publicação da obra "De Morbis Artificum Diatriba", em que o autor descreveu uma série de doenças relacionadas a cerca de 50 profissões, o assunto de doenças do trabalho começou a ter maior repercussão. Deixando no ar a pergunta: "Qual é sua ocupação?, Ramazzini queria alertar para a desinformação quanto ao risco das inúmeras doenças que poderiam atingir qualquer trabalhador.

Mesmo sendo um marco para a Engenharia de Segurança, o estudo de Ramazzini foi praticamente ignorado por quase um século, pois, na época ainda predominavam as corporações de ofício com número pequeno de trabalhadores e sistema de trabalho peculiar, apresentando, por esse motivo, pequena incidência de doenças profissionais.

2.2. A SEGURANÇA DO TRABALHO NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS

Com o aparecimento da primeira máquina de fiar, a Revolução Industrial Inglesa entre 1760 e 1830 veio mudar profundamente toda a história da Humanidade. O advento das máquinas que fiavam em ritmo muitíssimo superior ao do mais hábil artífice, a improvisação das fábricas e a mão de obra

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destreinada, constituída principalmente de mulheres e crianças, resultou em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes de trabalho passaram a ser numerosos, quer pelo perigo inerente às próprias máquinas, quer pela falta de treinamento para sua operação, pela inexistência de uma jornada de trabalho, pelo ruído das máquinas monstruosas ou pelas más condições do ambiente de trabalho. À medida que novas fábricas se abriam e novas atividades industriais eram iniciadas, aumentava o número de doenças e acidentes, tanto de ordem ocupacional como não ocupacional.

Diante do quadro apresentado e da pressão da opinião pública, criou-se no Parlamento Britânico, sob a direção de sir Robert Peel, uma comissão de inquérito para tratar do assunto. Em 1802, conseguiu-se a aprovação da primeira lei de proteção aos trabalhadores, a "Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes", que estabelecia uma jornada de doze horas de trabalho, proibia trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavarem as paredes das fábricas duas vezes por ano e tornava obrigatória a ventilação do ambiente. Essa lei foi seguida de diversas outras complementares, mas mesmo assim, parcela mínima do problema foi resolvida, pois a legislação tornou-se pouco eficiente em consequência da forte oposição dos empregadores.

Em 1830, o proprietário de uma fábrica inglesa, descontente com as condições de trabalho de seus pequenos trabalhadores, procurou o médico inglês Robert Baker - que viria a ser nomeado pelo parlamento britânico como Inspetor Médico de Fábrica -, para auxiliá-lo quanto à melhor forma de proteger a saúde de seus operários. Baker, conhecedor da obra de Ramazzini e há bastante tempo estudando o problema de saúde dos trabalhadores, aconselhou-o a contratar um médico para visitar diariamente o local e estudar a influência do trabalho sobre a saúde dos pequenos operários, que deveriam ser afastados de suas atividades quando se notasse que elas estivessem prejudicando-lhes a saúde. Era o surgimento do primeiro serviço médico industrial em todo o mundo.

O trabalho de Baker veio a culminar em 1831 com um relatório da comissão parlamentar de inquérito, sob a chefia de Michael Saddler, que finalizava com os seguintes dizeres:

Diante desta comissão desfilou longa procissão de trabalhadores - homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores, que quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à capacidade dos fortes. (FONTE?)

Em 1833, com o impacto deste relatório sobre a opinião pública, foi baixado o "Factory Act, 1833", a Lei das Fábricas, a primeira legislação eficiente de fato no campo da proteção ao trabalhador, pois, junto com a pressão da opinião pública, levou os industriais britânicos a seguirem o conselho de Baker. Nesse mesmo ano, a Alemanha aprovava a Lei Operária. Assim, no mundo industrial, fizeram-se os primeiros esforços para o reconhecimento da necessidade de proteção dos operários.

Em 1842, na Escócia, com James Smith como diretor-gerente de uma indústria têxtil, houve a contratação de um médico cujas incumbências iam desde os exames admissional e periódico até a orientação e prevenção das

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doenças tanto ocupacionais como não ocupacionais. Desde então, passaram a existir as funções específicas do médico na fábrica.

Com o grande desenvolvimento industrial da Grã-Bretanha, uma série de medidas legislativas passaram a ser estabelecidas em prol da saúde e da segurança do trabalhador. Desde a expansão da Revolução Industrial em diversos outros países da Europa, houve o aparecimento progressivo dos serviços médicos na empresa industrial, sendo que em alguns países sua existência passou de voluntária, como na Grã-Bretanha, a obrigatória.

Nos Estados Unidos, apesar do acentuado processo de industrialização observado a partir da metade do século XIX, os serviços médicos e os problemas de saúde dos trabalhadores não tiveram atenção especial até o início do século XX, quando começaram a surgir os médicos de empresa industrial, como resposta à legislação sobre indenizações de acidentes de trabalho. O objetivo básico dos empregadores era então reduzir o custo das indenizações, sendo que, por volta de 1950, houve tal ampliação no programa, que os serviços médicos passaram a existir não somente nas indústrias cujo risco ocupacional fosse grande, mas também naquelas com risco mínimo.

Desde então, excelentes resultados foram obtidos nesse país, passando os serviços médicos industriais a serem voluntariamente instalados nas fábricas. Em 1954, foram estabelecidos pelo Council of Industrial Health da American Medical Association e revistos em 1960 pelo Council on Occupational Health da mesma associação os princípios básicos que devem guiar o funcionamento dos serviços médicos das fábricas.

A conscientização e os movimentos mundiais com relação à saúde do trabalhador não poderiam deixar de interessar à Organização Internacional do Trabalho (OIT) e à Organização Mundial da Saúde (OMS). Dessa forma, em 1950, a Comissão conjunta OIT-OMS sobre Saúde Ocupacional, estabeleceu de forma ampla os objetivos da saúde ocupacional. O tema, desde esta época, foi assunto de inúmeros encontros da Conferência Internacional do Trabalho a qual, em junho de 1953, adotou princípios, elaborando a Recomendação 97 sobre a Proteção à Saúde dos Trabalhadores em Locais de Trabalho. Em junho de 1959, a mesma entidade estabeleceu a Recomendação 112 com o nome "Recomendação para os Serviços de Saúde Ocupacional, 1959".

A OIT define o serviço de saúde ocupacional como um serviço médico instalado em um estabelecimento de trabalho, ou em suas proximidades, com os objetivos de:

• proteger os trabalhadores contra qualquer risco à saúde que possa decorrer do trabalho ou das condições em que ele é realizado;

• contribuir para o ajustamento físico e mental do trabalhador, obtido especialmente pela adaptação do trabalho aos trabalhadores e pela colocação deles em atividades profissionais para as quais tenham aptidões;

• contribuir para o estabelecimento e a manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e mental dos trabalhadores.

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2.3. A SEGURANÇA DO TRABALHO NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

No Brasil, como nos outros países da América Latina, a industrialização ocorreu bem mais tardiamente do que nos países europeus e nos Estados Unidos, iniciando-se por volta de 1930. Embora em menor escala, a experiência foi similar à de outros países e passagem pelas mesmas fases. No início dos anos 1970 falava-se no Brasil como um campeão de acidentes do trabalho.

Os serviços médicos em empresas brasileiras são relativamente recentes, e foram criados por iniciativa dos empregadores, consistindo de início em assistência médica gratuita para seus operários, geralmente vindos do campo. Esses serviços tinham caráter eminentemente curativo e assistencial e não preventivo como se define na Recomendação 112 da OIT. Os movimentos que tentaram levar o governo brasileiro a seguir a recomendação 112 não surtiram resultado. Somente em junho de 1972, o Governo Federal, baixando a Portaria nº 3.237 e estabelecendo o Plano de Valorização do Trabalhador, tornou obrigatória a existência dos serviços médicos, de higiene e segurança em todas as empresas com mais de 100 trabalhadores.

Segundo MACHER (1981), não há dúvida de que as doenças oferecem um sério obstáculo ao desenvolvimento socioeconômico de um país, pois um trabalhador debilitado tem em grande parte sua capacidade de produção restringida. Isso pode ser verificado mais claramente nos países latino-americanos, cujo desenvolvimento ainda não proporcionou uma visão realmente clara da necessidade de investir no bem-estar físico e mental dos trabalhadores. Muitos deles, vivendo em condições inadequadas de habitação, saneamento, alimentação e renda, além de terem pouca ou nenhuma instrução em termos de higiene e ficarem expostos às doenças contagiosas, acabam gerando perdas para o país, tanto no aspecto econômico-financeiro quanto no humano-social. Os acidentes e doenças ocupacionais reduzem grandemente a capacidade da parcela mais significante de uma nação, a população economicamente ativa, pela geração de incapacidade ou morte dos trabalhadores. Conforme evoca o círculo vicioso da pobreza de Winslow, "a pobreza leva à doença e esta, por sua vez, a produzir mais e mais pobreza".

Os elevados índices de incapacidade produzidos por acidentes e doenças profissionais observados nos países da América Latina, se colocados em termos monetários, resultariam em cifras realmente alarmantes. Talvez seja esse alto custo em acidentes do trabalho um dos fatores que impede muitas empresas, principalmente latino-americanas, de competir no mercado aberto. Muitos empresários, ou por ignorância ou por expectativa desmedida de lucros imediatos, ainda não perceberam que a proteção do trabalhador em suas funções e na comunidade é um bom negócio.

Na América Latina, utiliza-se frequentemente como recurso para sair do subdesenvolvimento um acelerado processo de industrialização em curto prazo, trazendo inegáveis benefícios econômicos, mas colocando o ser humano sob condições arriscadas, tanto em seu meio de trabalho quanto na comunidade. MACHER (1981) enfatiza que é antieconômico buscar o desenvolvimento industrial de um país sem resolver as conseqüências técnicas, sanitárias e sociais que este processo traz consigo, pois, no balanço

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final, verificar-se-á que somente os custos de enfermidades e acidentes já serão superiores ao valor dos novos bens produzidos.

Conforme sugere MARTHA (1981), não se pode esquecer que, por trás de qualquer máquina, equipamento ou material, está o ser humano, a maior riqueza da nação. Se não bastasse isso para avaliar a importância da Segurança e Medicina do Trabalho, pode-se pensar que, enquanto uma indústria automobilística tem capacidade de produzir mais de 1.000 automóveis por dia, com a ajuda humana, necessita-se de, no mínimo, 20 anos para formar um homem.

Torna-se pois imperativo que as próprias empresas, com o passar do tempo, passem a compreender a necessidade de prevenir acidentes e doenças ocupacionais, considerando os danos e custos que produzem. Ao se estabelecer a obrigatoriedade às empresas de disporem de serviços especializados em segurança, higiene e medicina do trabalho, têm-se o propósito de evitar que acidentes e doenças ocupacionais ocorram e, em conseqüência, de reduzir ao mínimo os danos que ocasionam.

Para concluir este tópico, apresenta-se a seguir uma cronologia do surgimento da área de Segurança do Trabalho, no Brasil, de modo a evidenciar os eventos mais significativos para a consolidação da Engenharia de Segurança do Trabalho

Antes 1940 1919 – Rui Barbosa preconiza, em sua campanha eleitoral, leis para garantir o bem-estar social e a segurança do trabalhador

Década de 1941 a 1950

1943 – publicação do Decreto Lei nº 5452, que aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho, cujo capítulo V, refere-se à Segurança e Medicina do Trabalho

1944 - criação da CIPA (Comissão Interna para Prevenção de Acidentes)

Década de 1951 a 1960

Década de 1961 a 1970

1966 - criação da FUNDACENTRO (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho)

Década de 1971 a 1980

1971 – fundação da SOBES (Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança)

1974 - fundação da Associação Paranaense dos Engenheiros de Segurança (Apes)

1978 - criação das 28 Normas Regulamentadoras e da Revista Cipa

1979 – criação da Associação Mineira de Engenharia de Segurança (AMES)

Década de 1981 a 1990

1984 – criação da ANEST (Associação Nacional de Engenharia de Segurança do Trabalho)

1985 – criação da Fundação da Associação Latino Americana de Engenharia de Segurança do Trabalho (ALAEST)

1987 - lançamento da Revista Proteção

1988 - Promulgação da Constituição Federal de 1988, incluindo o Capítulo V - Segurança e Saúde do Trabalhador.

Década de 1991 a 2000

1992 – criação da FENATEST (Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho).

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1997 – publicação da NR 29 (Segurança e Saúde no Trabalho Portuário).

Década de 2001 a 2010

2001 - ratificação da Convenção OIT 174 (Grandes Acidentes Industriais)

2002 – publicação da NR 30 (Segurança no Trabalho Aquaviário.

2005 – publicação da NR 31 (Segurança e Saúde no Trabalho da Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura).

2005 – publicação da NR 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde).

2006 - publicação da NR 33 (Segurança e Saúde no Trabalho nos trabalhos de espaço confinado).

2007 – criação da Câmara de Engenharia de Segurança do Crea-RJ, SP e ES.

2008 – criação da Câmara de Engenharia de Segurança do Crea-MG, SC e PR.

2009 – criação da Câmara de Engenharia de Segurança do Crea-MS.

2010 – criação da Câmara de Engenharia de Segurança do Crea-PE, PA e PE.

Década de 2011 a 2020

2011 - publicação da NR 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde).

2011 – criação da Câmara de Engenharia de Segurança do Crea-RN, RS

2011 – criação da Federação Mundial de Engenharia de Segurança do Trabalho.

2.3. O PREVENCIONISMO NO BRASIL

A história do prevencionismo começa com o estudo de Heinrich, em 1929, que pesquisou as conseqüências de acidentes, e observou que, em 330 acidentes estudados, apenas 30 tinham originado lesões em trabalhadores, sendo que somente uma delas apresentou maior gravidade. Concluiu que não seria razoável continuar abandonando mais de 90% de informações provenientes de acidentes sem lesão e que deveria haver uma relação entre os acidentes e seu potencial de gravidade.

De acordo com TEIXEIRA s/d, a prática de realizar e divulgar estatísticas de acidentes acabava não levando em conta os acidentados e, com isso, deixava-se de considerar os acidentes dos quais não decorressem lesões. A respeito desses, ouvia-se dizer: "não foi nada". Se não havia acidentado não havia acidente.

Em outras palavras, não se analisavam as causas do “acidente sem lesão”, perdendo-se a oportunidade de trabalhar na prevenção dos acidentes e da não apuração de suas causas.

No Brasil, as idéias prevencionistas não tardaram a disseminar-se. Governo, empregadores e empregados adquiriam progressivamente consciência da necessidade de encarar o problema de prevenção do acidente, o primeiro ditando as bases de uma legislação que visava a proteger o trabalhador da agressividade do ambiente de trabalho e os últimos obedecendo ao estipulado nessa legislação, na medida de suas possibilidades.

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Nesse contexto, o empresariado começa a despertar para o aspecto econômico dessa prevenção, e dissemina-se a idéia de que a prevenção poderia ser um bom negócio. A aceitação dessa assertiva muito contribuiu, sem dúvida, para a fundação, em 1941, da ABPA, a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes. Uniam-se, aí, os esforços de empresários, sensibilizados pelo papel negativo dos acidentes na economia, e a ação de técnicos interessados em contribuir para a prevenção de acidentes.

A indústria do petróleo, a siderurgia e tantas outras que começavam a funcionar, exigiam grande capacidade técnica. Impunha-se novo enfoque para enfrentar as novas técnicas. Não seria lógico, pois, continuar a abandonando a análise dos acidentes sem lesão. E era necessário passar a estudar a problemática do acidente a partir de suas causas.

Nessa altura tornou-se possível sensibilizar a área da Engenharia, até então preocupada principalmente com os assuntos ligados diretamente à produção, para a análise das causas de acidentes. Mas ainda havia um longo caminho a percorrer.

3. A CONSOLIDAÇÃO DA ÁREA DE SEGURANÇA DO TRABALHO E A FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS ESPECIALIZADOS

O marco inicial da consolidação da área de Segurança do Trabalho foi a Portaria nº 3237/72 do então Ministério do Trabalho e Previdência Social, que criou os Serviços Especializados de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), formados por profissionais como Engenheiros de Segurança do Trabalho, Técnicos de Segurança, Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem do Trabalho e Médicos do Trabalho, em função do número de empregados e do grau de risco da empresa. O SESMT levou a Fundacentro a criar cursos de formação para os profissionais supracitados.

Entretanto, a Portaria 3237/72 previa a existência de especialistas de Engenharia de Segurança do Trabalho, definia as áreas em que agiriam, mas não fixava a forma pela qual seriam especializados.

Promoveu, então, a SOBES, no Clube de Engenharia, a reunião das entidades ligadas à Prevenção de Acidentes, com o fim de estabelecer as bases da especialização desejada. Era a primeira vez que essas entidades se reuniam para discutir problemas de interesse comum. Além de cuidar do preparo dos profissionais previstos na portaria mencionada, caberia realizar estudos para homogeneizar os seus ditames com a legislação regulamentadora do exercício da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia (cf. TEIXEIRA, S/D).

Inicialmente, a carga horária do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho foi fixada em 360 horas, durante a realização do 11º CONPAT - Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, em Curitiba, em outubro de 1972, com a aprovação dos representantes do DNSHT – Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho, da Fundacentro, SOBES, ABPA, INPS, UFP, SENAI, COHISI DO SESI, PETROBRÁS, IBM, GM, VW, ANTARCTICA e FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO PARANÁ.

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Posteriormente, juntamente com a definição do currículo mínimo do Curso de Especialização de Engenharia de Segurança, a carga horária foi elevada de 360 para 600 horas (Parecer 19/87, do Conselho Federal de Educação).

Os estudos para definir o currículo mínimo do Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho foram realizados pela SOBES, em julho/1977, no Departamento de Assuntos Universitários do MEC, e serviram de base ao projeto de lei apresentado no Senado pelo Eng.º Saturnino Braga, Senador da República, para a aprovação do Curso de Especialização de Engenharia de Segurança e da aprovação da profissão de Técnico de Segurança do Trabalho.

Assim, em 27 de novembro de 1985 era sancionada a Lei nº 7.410 que, em seguida, foi regulamentada pelo Decreto nº 92.530, de 9 de abril de 1986.

No momento presente, verifica-se a necessidade de uma avaliação crítica do papel do Engenheiro de Segurança do Trabalho e de sua formação como especialista. De 1986 para cá, muitas foram as mudanças observadas nos domínios da Ciência e da Tecnologia, na organização da produção industrial e sua interação com outros setores da economia. O papel da gestão torna-se cada vez mais importante e inseparável da organização técnica. Novos materiais, novos usos para eles, problemas de ordem estratégica da empresa são desafios levantados pela necessidade cada vez mais urgente de preservação do ambiente e da qualidade da vida humana.

Nesse contexto, o Engenheiro de Segurança do Trabalho deixou de funcionar apenas como fiscal do cumprimento das leis e normas de segurança técnico em acompanhamento de estatísticas de acidentes. Na medida em que se passa a considerar os custos diretos e indiretos que um acidente pode representar para sua empresa, o papel daquele profissional tende a associar-se com a qualidade e a produtividade da empresa. Segundo Bittencourt e Quelhas (s/d)

a segurança expandiu suas fronteiras para além dos “muros” das fábricas e organizações em geral: atualmente o Engenheiro da Segurança é chamado a participar do desenvolvimento do projeto do produto. No projeto do produto/ serviço devem estar movidas preocupações como tratamento/descarte de rejeitos/ sucatas e reciclagem de materiais. Assim como o processo produtivo [deve] ser seguro para trabalhadores, para os bens da empresa e para o meio ambiente onde funciona.

Na Parte II deste texto, prossegue a análise das funções do Engenheiro de Segurança do Trabalho e a discussão de conceitos básicos para a delimitação de seu campo de ação profissional.

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PARTE II. ACIDENTES DE TRABALHO - CONCEITUAÇÃO E

CLASSIFICAÇÃO

1. O conceito legal de acidente do trabalho

"Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho" (Artigo 19 da Lei 8.213/91).

As doenças profissionais e as doenças do trabalho são consideradas também como acidentes do trabalho, de acordo com o artigo 20 da Lei 8.231/91, a seguir transcrito:

" Art. 20 - Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Art. 21 - Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

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d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior.

Com relação à comunicação do acidente, assim dispõe a Lei 8.213/91:

Art. 22 - A empresa deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social.

§ 1º Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria.

§ 2º Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo.

§ 3º A comunicação a que se refere o § 2º não exime a empresa de responsabilidade pela falta do cumprimento do disposto neste artigo.

Com relação à garantia de emprego, em decorrência de acidente do trabalho, assim dispõe a Lei 8.213/91:

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"Art. 118 - O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente".

O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos (Lei 8.213/91, Artigo 59)

2. O conceito prevencionista do acidente do trabalh o

A norma NBR 14.280 da ABNT define que acidente é a “ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que provoca lesão pessoal ou de que decorre risco próximo ou remoto dessa lesão”.

As normas ABNT não são obrigatórias de utilização, por falta de amparo legal, exceto se forem citadas em contrato, procedimento, normas de empresas ou em dispositivos legais, situações em que se torna obrigatório seu cumprimento.

É da NBR 14.280 que deriva os seguintes termos, amplamente utilizadas no tocante a estatísticas e da parte conceitual acidentária:

Acidente pessoal – É aquele cuja caracterização depende de existir acidentado, cuja conseqüência será a lesão do trabalhador envolvido.

Acidente de trajeto – É o acidente sofrido pelo empregado no percurso da residência para o trabalho ou deste para aquela.

Lesão imediata – é a lesão que se verifica imediatamente após a ocorrência do acidente.

Acidente impessoal – é aquele cuja caracterização independe de existir acidentado de ocorrência eventual que resultou ou poderia ter resultado em lesão pessoal.

Acidentado – é o trabalhador vítima do acidente.

Lesão mediata (tardia) – é a lesão que não se verifica imediatamente após a exposição à fonte da lesão; caso seja caracterizado o nexo causal, isto é, a relaçao da doença com o trabalho, ficará caracterizado como doença ocupacional.

Incapacidade permanente total – é a perda total da capacidade de trabalho, em caráter permanente, exclusive a morte. esta incapacidade equivale à lesão que, não provocando a morte, impossibilita o acidentado, permanentemente, de exercer o trabalho.

Incapacidade permanente parcial – é a redução parcial da capacidade de trabalho, em caráter permanente.

Acidente com perda de tempo ou lesão incapacitante – é o acidente pessoal que impede o trabalhador de retornar ao trabalho no dia útil imediato ao do acidente ou de que resulte incapacidade permanente.

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Acidente sem perda de tempo (sem afastamento) - é o acidente pessoal cuja lesão não impede que o trabalhador retorne ao trabalho no dia útil imediato ao do acidente, desde que não haja lesão incapacitante.

Morte (óbito) – cessão da capacidade de trabalho, pela perda da vida, independente do tempo decorrido desde a lesão.

Dias perdidos – são os dias de afastamento de cada acidentado, contados a partir do primeiro dia de afastamento até o dia anterior ao do dia de retorno ao trabalho, segundo a orientação médica.

Dias debitados – são os dias que devem ser debitados devido à morte ou incapacidade permanente total ou parcial. No caso de morte ou incapacidade permanente total, devem ser debitados 6.000 dias; por incapacidade permanente parcial, os dias a serem debitados devem ser retirados da norma brasileira ABNT – NBR-14.280.

CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho que deve emitida até o primeiro dia útil após o acidente típico ou acidente de trajeto e doença profissional, após o primeiro dia útil após o diagnóstico médico (Lei 8.213/91).

HHER = horas de exposição ao risco. Número de horas efetivas de trabalho dos empregados, durante o período a ser considerado.

Taxa de freqüência com afastamento – é o número de acidentados com lesão com afastamento, por um milhão de homens-hora de exposição ao risco, em determinado período.

TFCA = -

nº de acidentados com afastamento x 1.000.000 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

homens-hora de exposição ao risco

Taxa de freqüência sem afastamento – é o número de acidentados com lesão sem afastamento, por um milhão de homens-hora de exposição ao risco, em determinado período.

TFSA = nº de acidentados sem afastamento x 1.000.000 -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

homens-hora de exposição ao risco

Taxa de Gravidade – é a soma dos dias perdidos e debitados. por um milhão por milhão de homens-hora de exposição ao risco, em determinado período.

TG =

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(nº de dias perdidos + debitados) x 1.000.000 -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

homens-hora de exposição ao risco

Considerações:

1. As taxas supracitadas (TFCA, TFSA e TG) são utilizadas como indicadores de desempenho e devem ser comparadas com os resultados históricos da mesma empresa, não sendo recomendado compará-las com os resultados de outras empresas, principalmente se aquelas empresas forem de ramos de atividades diferentes.

2. Cada indicador representa uma realidade acidental e, por isso, deve ser analisado em conjunto e não isolado, podendo ser inconsistente a análise de cada indicador de per si.

3. CAUSAS DOS ACIDENTES - Teoria das Pirâmides

3.1 – Teoria de Heinrich Em 1931, Heinrich publicou um estudo sobre os custos segurados

(diretos) e não segurados (indiretos) dos acidentes, tendo encontrado uma relação de custos que foi de 4:1 custos indiretos/custos diretos, apresentando como resultado a seguinte proporção: para cada lesão incapacitante, haviam 29 lesões menores e 300 acidentes sem lesão (incidentes).

Pirâmide de Heinrich

3.2 –Teoria de Frank Bird Em 1966, Frank E. Bird Jr. baseou sua teoria de “Controle de Danos” a partir de uma

análise de 90.000 acidentes em uma empresa metalúrgica americana (Lukens Steel Company), com a seguinte proporção:

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1 – acidente com lesão incapacitante

100 – acidentes com lesões não incapacitantes

500 – acidentes com danos à propriedade

Pirâmide resultante dos estudos de Bird

3.3 – Teoria Wille Hammer Mais tarde, Wille Hammer aprofundou os estudos e defendeu a tese de que "as

atividades administrativas eram muito importantes, mas que existiam problemas técnicos que teriam obrigatoriamente que ter soluções técnicas".

Em 1969, uma grande empresa americana publicou um estudo que envolveu 297 empresas, com 1.750.000 pessoas, com 1.753.498 relatos de ocorrências, resultando na seguinte Pirâmide de ICNA (Insurance Company of North América).

Pirâmide resultante dos estudos da ICNA

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A pirâmide da ICNA incluiu os "quase-acidentes", ta mbém conhecidos como Incidentes, revelando potenciais en ormes de acidentes, sem que tenham havido perdas materiais ou pessoais.

3.4 – Teoria das múltiplas causas "A teoria das múltiplas causas é uma dos atuais modelos e sugere que um acidente

resulta da complexa interação de inúmeras causas ou eventos causais. Os especialistas entendem que o acidente é resultado de uma dinâmica e complexa seqüência de eventos que ocorrem no tempo, podendo estar relacionado ou não entre si" (Giovani Moraes de Araújo – Fundamentos para realização de perícias trabalhistas – Ed 2008 – Vol 1).

Extraído também da obra de referência acima, "alguns especialistas destacam ainda que os elementos apresentados nos documentos de sistema de gestão de SMS sugerem a existência de três grupos de desvios que contribuem,de forma significativa, individual ou isoladamente, para a ocorrência do acidente, também denominados de "causas imediatas e causas básicas", conforme descrição abaixo:

Pessoal – está relacionado aos aspectos comportamentais, como, por exemplo, quebra de disciplina operacional, não usar EPI´s, não seguir ou pular etapas do procedimento, indiscplina, atitudes imprevisíveis.

Operacional – envolve aspectos físicos relacionados à organização da produção e às condições do meio ambiente do trabalho, proteção de máquinas e equipamentos, utilização de ferramentas improvisadas e anulando as proteções existentes.

Organizacional – envolve desvios relacionados aos elementos do sistema de gestão de SMS, como por exemplo: divergência entre a política e a prática gerencial, falha de qualificação e treinamento, falta ou falha nos procedimentos".

6 – Definições de termos técnicos

Incidente - evento que deu origem a um acidente ou que tinha o potencial de levar a um acidente. Um incidente em que não ocorre doença, lesão, dano ou outra perda também é chamado de "quase-acidente" (OHSAS 18001:2007)

Acidente – evento não-planejado que resulta em morte, doença, lesão, dano ou outra perda (OHSAS 18.001:2007).

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Perigo - fonte ou situação com potencial para provocar danos em termos de lesão, doença, dano à propriedade, dano ao meio ambiente do local de trabalho, ou uma combinação destes (OHSAS 18001:2007)

Risco - Combinação da probabilidade de ocorrência e da(s) conseqüência(s) de um determinado evento perigoso (OHSAS 18.001:2007)

Não-conformidade – qualquer desvio das normas de trabalho, práticas, procedimentos, regulamentos, desempenho do sistema de gestão, etc, que possa levar, direta ou indiretamente, à lesão ou doença, dano à propriedade, dano ao meio ambiente de trabalho, ou uma combinação destes" (OHSAS 18001:2007)

07 - Por que implantar a gestão em Acidentes, Incid entes e Desvios

De acordo com a OHSAS 18.001:2007, o Sistema de Gestão de SSO é "parte do sistema de gestão global que facilita o gerenciamento dos riscos de SSO associados aos negócios da organização. Isto inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política de SSO da organização".

Princípios básicos do processo de ger enciamento de riscos

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Nesse sistema de gestão de SSO, convém que seja incluído o processo de registro, investigação, análise, apuração das causas básicas e imediatas, medidas corretivas e preventivas, preparação de relatório, divulgação do relatório e verificação da eficácia das medidas adotadas, com relação aos acidentes, incidentes e desvios ocorridos, com o objetivo de reduzir, minimizar ou evitar a repetição de eventos semelhantes e bloquear suas causas.

Segundo ainda os requisitos gerais da OHSAS 18.001:2007, a organização deve estabelecer e manter um Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho com elementos de gestão, tais como:

Política de Segurança e Saúde no Trabalho

Deve existir uma política de Segurança e Saúde no trabalho (SST), autorizada pela alta administração da organização, que estabeleça claramente os objetivos globais de segurança e saúde e o comprometimento para melhorar o desempenho da SST.

Planejamento

A organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificação contínua de perigos, a avaliação de riscos e a implementação das medidas de controle necessárias, sendo que tais procedimentos devem incluir:

- atividades de rotina

- atividades não rotineiras

- atividades de todo o pessoal que tem acesso aos locais de trabalho (incluindo subcontratados e

visitantes)

Ainda segundo a OHSAS 18.001:200, a metodologia da organização, para a identificação de perigos e avaliação de riscos deve:

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- ser definida com respeito no seu escopo, natureza e momento oportuno para agir, para assegurar que ela seja proativa ao invés de reativa;

- assegurar a classificação de riscos e a identificação daqueles que devem ser eliminados ou controlados, através de medidas de controle.

- ser consistente com a experiência operacional e a capacidade das medidas de controle de riscos empregados.

- assegurar o monitoramento das ações requeridas, para garantir tanto a eficácia como o prazo de implementação das mesmas.

Implementação e Operação

A organização deve treinar e conscientizar todas as pessoas para o desempenho de suas tarefas, em SSO, levando-se em conta os diferentes níveis de responsabilidade, habilidade e instrução.

A organização deve ter procedimentos para assegurar que as informações pertinentes de SSO são comunicadas para e a partir dos empregados e de outras partes interessadas.

As providências para o envolvimento e consulta aos empregados devem ser documentadas e as partes interessadas informadas.

A organização deve estabelecer e manter procedimentos atualizados para o controle de todos os documentos de SSO, de forma que possam ser:

a) localizados,

b) periodicamente atualizados;

c) remoção de documentos obsoletos;

d) identificação de documentos arquivados por motivos legais e/ou para preservação do conhecimento.

Verificação e ação corretiva

A organização deve estabelecer e manter procedimentos para monitorar e medir, periodicamente, o desempenho em SSO, tais como: grau de atendimento aos objetivos de SSO, medidas proativas, medidas reativas e registro de dados.

08 - O envolvimento das gerências, supervisores e empregados

A Norma OHSAS 18.001 apresenta os elementos para a implementação de um sistema de gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SSO), visando a melhoria contínua das condições de trabalho e redução dos riscos no ambiente de trabalho.

Estes elementos de gestão são importantes para comprovar o nível de envolvimento e comprometimento da Alta Administração, gerências e supervisão, com a implementação do processo e da melhoria contínua.

Na esteira deste raciocínio é que a OHSAS 18.001, requisito 4.2 – Política de SSO – recomenda que a alta gerência deve definir a política de segurança e saúde ocupacional da organização e o subitem 4.3.1

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complementa que a organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os perigos e implementar as medidas de controle adequadas para minimizar a probabilidade de ocorrência de acidentes.

O sistema de gestão de SSO, aprovado pelas gerências, chancela o processo, estimula todos os níveis da empresa a buscar os resultados planejados, cria responsabilidade de linha em todos os setores e quebra o paradigma de que os profissionais do SESMT é que são os únicos responsáveis pelas ações de SSO, quando, na verdade, a responsabilidade é de linha.

A questão da falha humana, entendido como qualquer ação ou falta da ação que exceda as tolerâncias definidas pelo sistema com o qual o ser humano interage, necessita ser melhor compreendida e trabalhada pela cadeia gerencial, para que as tarefas executadas não ultrapassem os limites de aceitabilidade.

Desta forma, as falhas humanos podem ser causadas por falhas de gestão, tais como:

Procedimentos inexistentes, desatualizados ou deficientes

Instrumentação inadequada ou inoperante

Conhecimento insuficiente

Prioridades conflitantes

Sinalização inadequada

Discrepâncias entre política e prática

Ferramentas inadequadas

Comunicação deficiente

Lay out inadequado

Situações anti-ergonômicas de projeto

09 - O treinamento da força de trabalho O subitem 4.4.2 da OHSAS estabelece que todo os trabalhadores devem ser qualificados, treinados e familiarizados com as tarefas que podem impactar o desempenho de SSO. Os treinamentos devem levar em conta os distintos níveis de responsabilidade, devendo a organização estabelecer e manter procedimentos para garantir que seus empregados e contratados sejam conscientes, dentro de suas esferas de competência.

10 – Investigação de Acidentes e Incidentes O subitem 4.5.3 da OHSAS 18.001:2007 orienta que a organização deve estabelecer procedimento, destacando a responsabilidade de todos para:

- investigar acidentes e não-conformidades.

- adotar medidas para reduzir os impactos dos acidentes, incidentes e não-

conformidades.

- planejar e implementar ações corretivas e preventivas.

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- confirmar a eficácia das ações corretivas e preventivas adotadas.

De acordo com a OHSAS 18.001:2007, qualquer ação corretiva ou preventiva adotada para eliminar as causas das não-conformidades, reais e potenciais, deve ser adequada à magnitude dos problemas e proporcional ao risco de SSO verificado.

As ações corretivas são medidas tomadas para eliminar a causa raiz de não-conformidade, acidentes ou incidentes identificados, a fim de evitar sua repetição (OHSAS 18.001:2007).

A organização deve implementar e registrar quaisquer mudanças nos procedimentos documentados, resultantes de ações corretivas e preventivas.

A investigação visa reunir informações e dados gerais ocorridos, através de entrevistas, reuniões, evidências de campo, documentos, devendo ser verificada a extensão do potencial, efeitos e conseqüências, enfim, de todas as informações capazes de levar à reconstrução dos fatos que levaram à ocorrência do acidente.

Juntamente com a investigação, deve-se proceder à análise do acidente que é o ato de buscar as causas básicas do acidente, incidente ou desvio, entendendo-se por causas básicas aquelas que, se eliminadas, o acidente não ocorreria.

Cada empresa deve implementar sua metodologia de investigação e análise.

Sugere-se a seguinte sistemática para o caso de acidentes com lesão com afastamento, acidentes com lesão sem afastamento e Incidentes significativos.

Criação de Comissão específica, pelo Gerente da emp resa, para investigar e analisar especificamente os acidentes com lesão com afastamento, os acidentes com lesão sem afastamento e os Incidentes significativos, incluindo-se nessa Comissão, no mín imo: o supervisor do acidentado/Incidente significativo, profissional ex periente de SSO, membro da CIPA, trabalhador experiente na atividade do acidentado/Incidente significativo e testemunha do evento.

Fixação de prazo para essa Comissão entregar o rela tório.

Determinação para que o processo de investigação oc orra com base em um procedimento que contenha:

a) modelo padronizado de relatório

b) papel do Coordenador da Comissão de Investi gação

c) forma de levantamento e coleta de dados

d) cronologia do evento

e) as causas (básicas e imediatas)

f) guia para determinação das causas básicas e imediatas

g) aplicação da técnica de investigação mais a dequada.

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h) a identificação dos elementos do sistema de gestão que necessitam ser melhorados

i) recomendações de ações corretivas e prevent ivas

j) forma de documentação dos resultados

k) divulgação do evento no âmbito da empresa

l) verificação da eficácia das ações corretiva s ou preventivas implementadas

13 - Os planos de ação para Acidentes, Incidentes A empresa deve estabelecer plano de ação para os acidentes com lesão com afastamento, acidentes sem afastamento e Incidentes.

Para os Incidentes de baixo potencial devem tomadas ações imediatas para sua correção, exceto de tais Incidentes ganharem o status de sistêmicos ou repetitivos, mesmo sendo de baixa gravidade ou com outra denominação que a empresa vir a implantar.

O objetivo das ações é bloquear as causas que deram origem aos acidentes, incidentes ou Desvios. Mesmo aplicando ou não planos de ação, convém verificar, na próxima Inspeção ou na próxima auditoria comportamental, se as causas foram realmente bloqueadas.

14 – Controle de Registros de Acidentes, Incidentes

De acordo com o subitem 4.5.4 da OHSAS 18.001:2007, a organização deve estabelecer e manter procedimentos para identificação, manutenção e eliminação de registros obsoletos de SSO e de resultados de auditorias e análises críticas.

Os registros de SSO devem ser legíveis e identificáveis, permitindo rastrear as atividades envolvidas. Tais documentos devem ser arquivados e mantidos de forma a permitir sua pronta recuperação, devendo ser protegidos contra avarias, deterioração ou perda. O período de retenção no arquivo deve ser estabelecido e registrado.

15. ESTATÍSTICA DE ACIDENTES

Em 2009 foram registrados no Brasil 723.452 acidentados do trabalho, entre a massa de segurados da Previdência Social, não estando incluídos os trabalhadores autônomos (contribuintes individuais) e as empregadas domésticas. Entre esses registros contabilizou-se 17.693 doenças relacionadas ao trabalho, tendo afastado 623.026 trabalhadores, por incapacidade temporária, sendo 302.648 com afastamento até 15 dias e 320.378 com tempo de afastamento superior a 15 dias e 13.047 trabalhadores por incapacidade permanente. O óbito atingiu 2.496 segurados.

Para termos uma noção da importância do tema saúde e segurança ocupacional basta observar que no Brasil, em 2009, ocorreu cerca de 1 morte a cada 3,5 horas, motivada pelo risco decorrente dos fatores ambientais do trabalho e ainda cerca de 83 acidentes a cada 1 hora na jornada diária. Em 2009 observamos uma média de 43 trabalhadores/dia que não mais retornaram ao trabalho devido a invalidez ou morte.

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Se considerarmos exclusivamente o pagamento, pelo INSS, dos benefícios devido a acidentes e doenças do trabalho somado ao pagamento das aposentadorias especiais decorrentes das condições ambientais do trabalho em 2009, encontraremos um valor da ordem de R$ 14,20 bilhões/ano. Se adicionarmos despesas como o custo operacional do INSS mais as despesas na área da saúde e afins o custo - Brasil atinge valor da ordem de R$ 56,80 bilhões.

A dimensão dessas cifras apresenta a premência na adoção de políticas públicas voltadas à prevenção e proteção contra os riscos relativos às atividades laborais. Muito além dos valores pagos, a quantidade de casos, assim como a gravidade geralmente apresentada como conseqüência dos acidentes do trabalho e doenças profissionais, ratificam a necessidade emergencial de construção de políticas públicas e implementação de ações para alterar esse cenário. (Fonte: INSS)

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