141
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy 1. TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1.1. Conceito - Wilson de Souza Campos Batalha, Carlos Coqueijo Costa, Waldemar Ferreira utilizam a expressão Direito Judiciário do Trabalho. - Crítica: A disciplina abrange todo o sistema processual (partes, procedimentos, termos etc.) e não se limita ao estudo das atividades do Judiciário Trabalhista. - “Direito Processual do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à relação do trabalho”. (MARTINS, p. 18). - Carlos Henrique Bezerra Leite conceitua “o direito processual do trabalho como ramo da ciência jurídica , constituído por um sistema de normas, princípios, regras e instituições próprias , que tem por objeto promover a pacificação justa dos conflitos decorrentes das relações de emprego e de trabalho , bem como regular o funcionamento dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho” (grifo acrescentado, LEITE, p. 81). 1.2. Posição Enciclopédica - O Direito Processual do Trabalho é espécie do Direito Processual, ramo do Direito Público. (MARTINS, p. 25). 1.3. Autonomia - Em relação à autonomia do DPT, apresentam-se duas teorias: a Monista e a Dualista. - Para a Teoria Monista, o Direito Processual seria único. Portanto, o DPT não possuiria autonomia. (Ramiro Podetti). - A Teoria Dualista defende a autonomia do DPT, havendo várias correntes: a) Radical (Hélio Sarthou): O DPT é completamente independente do direito processual, não se sujeitando nem os princípios da teoria geral do processo. b) Autonomia Relativa (Wilson de Souza Campos Batalha): A aplicação subsidiária das normas de processo civil demonstra a relatividade da autonomia do DPT (CLT, art. 769). c) Inominada (Coqueijo Costa, Wagner Giglio, Délio Maranhão, Tostes Malta): O DPT é autônomo. Matéria extensa, doutrina homogênea e método próprio. - Uma vasta matéria, que mereça estudo de conjunto; princípios próprios e institutos peculiares caracterizam a autonomia de uma ciência. - Para Sérgio Pinto Martins, o DPT possui autonomia sob o ponto de vista doutrinário, jurisdicional e científico. Porém, pela inexistência de um código sobre a matéria, não se pode falar que haja autonomia legislativa. (MARTINS, p. 20/22). - Carlos Henrique Bezerra Leite também entende que o DPT é autônomo, mas reconhece que “não desfruta de métodos tipicamente próprios, pois a hermenêutica, que compreende a interpretação, a integração e a aplicação das normas jurídicas processuais é a mesma da teoria geral do direito processual” (LEITE, p. 80). - O fato de ser autônomo, como ciência, não quer dizer que o DPT esteja isolado. Tanto é assim que mantém relação com diversos ramos: Direito Constitucional (Justiça do Trabalho e competência); Direito do Trabalho (Direito Material a ser aplicado); Direito Processual Comum (CLT, art. 769); Direito Administrativo (Organização dos Tribunais); Direito Penal (crimes praticados no processo); Direito Civil (capacidade, domicílio, parentesco); Direito Comercial (Falência, Recuperação extrajudicial e judicial); Direito Tributário (CLT, art. 889; Lei 8.830/80; CTN, art. 186). 1

Curso+de+Processo+Do+Trabalho

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

1. TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

1.1. Conceito- Wilson de Souza Campos Batalha, Carlos Coqueijo Costa, Waldemar Ferreira utilizam a expressão Direito Judiciário do Trabalho.- Crítica: A disciplina abrange todo o sistema processual (partes, procedimentos, termos etc.) e não se limita ao estudo das atividades do Judiciário Trabalhista.- “Direito Processual do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à relação do trabalho”. (MARTINS, p. 18).- Carlos Henrique Bezerra Leite conceitua “o direito processual do trabalho como ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de normas, princípios, regras e instituições próprias, que tem por objeto promover a pacificação justa dos conflitos decorrentes das relações de emprego e de trabalho, bem como regular o funcionamento dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho” (grifo acrescentado, LEITE, p. 81).

1.2. Posição Enciclopédica- O Direito Processual do Trabalho é espécie do Direito Processual, ramo do Direito Público.(MARTINS, p. 25).

1.3. Autonomia- Em relação à autonomia do DPT, apresentam-se duas teorias: a Monista e a Dualista.- Para a Teoria Monista, o Direito Processual seria único. Portanto, o DPT não possuiria autonomia. (Ramiro Podetti).- A Teoria Dualista defende a autonomia do DPT, havendo várias correntes:a) Radical (Hélio Sarthou): O DPT é completamente independente do direito processual, não se sujeitando nem os princípios da teoria geral do processo.b) Autonomia Relativa (Wilson de Souza Campos Batalha): A aplicação subsidiária das normas de processo civil demonstra a relatividade da autonomia do DPT (CLT, art. 769).c) Inominada (Coqueijo Costa, Wagner Giglio, Délio Maranhão, Tostes Malta): O DPT é autônomo. Matéria extensa, doutrina homogênea e método próprio.- Uma vasta matéria, que mereça estudo de conjunto; princípios próprios e institutos peculiares caracterizam a autonomia de uma ciência.- Para Sérgio Pinto Martins, o DPT possui autonomia sob o ponto de vista doutrinário, jurisdicional e científico. Porém, pela inexistência de um código sobre a matéria, não se pode falar que haja autonomia legislativa. (MARTINS, p. 20/22).- Carlos Henrique Bezerra Leite também entende que o DPT é autônomo, mas reconhece que “não desfruta de métodos tipicamente próprios, pois a hermenêutica, que compreende a interpretação, a integração e a aplicação das normas jurídicas processuais é a mesma da teoria geral do direito processual” (LEITE, p. 80).- O fato de ser autônomo, como ciência, não quer dizer que o DPT esteja isolado. Tanto é assim que mantém relação com diversos ramos: Direito Constitucional (Justiça do Trabalho e competência); Direito do Trabalho (Direito Material a ser aplicado); Direito Processual Comum (CLT, art. 769); Direito Administrativo (Organização dos Tribunais); Direito Penal (crimes praticados no processo); Direito Civil (capacidade, domicílio, parentesco); Direito Comercial (Falência, Recuperação extrajudicial e judicial); Direito Tributário (CLT, art. 889; Lei 8.830/80; CTN, art. 186).

1

Page 2: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

1.4. Fontes- Fonte seria aquilo que origina ou produz; origem; causa.- Fontes podem ser materiais ou formais.- “Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos etc. São os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica.” (MARTINS, p. 30).- Fontes formais correspondem à exteriorização do Direito.- As fontes formais podem ser:a) Heterônomas – Impostas de forma coercitiva. Normalmente de origem estatal.b) Autônomas – Produzidas pela vontade das partes.- No DPT somente podem ser concebidas as fontes heterônomas, pois não é permitido às partes criar, segundo sua vontade, regras processuais (entendimento majoritário).- Lição interessante é a do Prof. Carlos Henrique Bezerra Leite, que divide as fontes formais do DPT em: a) fontes formais diretas, que abrangem a lei em sentido genérico e o costume; b) fontes formais indiretas, que são extraídas da doutrina e da jurisprudência; c) fontes formais de explicitação, que são fontes integrativas (analogia, princípios gerais do direito e eqüidade).Como exemplo das primeiras, cita Constituição Federal, CLT, Lei 5.584/70, CPC, Lei 6.830/80 (Execução Fiscal), Lei 7.701/88 (Especialização das Turmas dos Tribunais do Trabalho), LC 75/93 (LOMPU), Lei 7.347/85 (Ação Civil Pública), CDC, ECA, Decreto-Lei 779/69 e Regimentos Internos dos Tribunais (CF, art. 96, I, a).Em relação às segundas, destaca a importância da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, apesar de discordar de algumas posições deste.Já em relação às terceiras, afirma que o art. 769 da CLT permite a utilização de outras normas integrativas previstas no CPC, como o art. 126 (“O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito”) e art. 127 (“juiz só decidira por equidade nos casos previstos em lei”).O referido doutrinador entende que costume é fonte normativa apenas quando o ordenamento jurídico prevê autorização para o juiz aplicá-lo. O “protesto nos autos”, segundo ele, seria exemplo de costume como fonte do DPT.Em relação aos tratados internacionais, assevera que essas fontes são de origem estatal, pois firmadas por pelo menos dois Estados soberanos. Também diverge da posição do STF, pois defende que os tratados internacionais firmados pelo Brasil que versem direitos humanos são, por força do art. 5º, § 2º, da CF/88, também normais constitucionais.- Com a EC 45/04, esses tratados, caso sejam aprovados pelo mesmo quorum das emendas constitucionais, passaram a ostentar status de norma constitucional.- O STF alterou seu posicionamento quanto aos tratados internacionais que versem sobre direitos humanos. Eles ostentariam o status de normas supralegais (acima da legislação infraconstitucional, mas abaixo da Constituição). Pacto de S. José da Costa Rica, Súmula Vinculante 25 e Precedentes RE 562051 RG, RE 349703, RE 466343, HC 87585, HC 95967, HC 91950, HC 93435, HC 96687 MC, HC 96582, HC 90172, HC 95170 MC.

1.5. Princípios- Os princípios constituem a base de um sistema jurídico, proporcionando sua coesão, harmonia e unidade.- Princípios são os alicerces da ciência (CRETELLA JR apud MARTINS, p. 37).

2

Page 3: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

“PRINCÍPIOS. No sentido jurídico, notadamente no plural, quer significar as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa.

E, assim, princípios revelam o conjunto de regras ou preceitos, que se fixaram para servir de norma a toda espécie de ação jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica.

Desse modo, exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica. Mostram-se a própria razão fundamental de ser das coisas jurídicas, convertendo-se em perfeitos axiomas.

Princípios jurídicos, sem dúvida, significam os pontos básicos, que servem de ponto de partida ou de elementos vitais do próprio Direito. Indicam o alicerce do Direito.

E, nesta acepção, não se compreendem somente os fundamentos jurídicos, legalmente instituídos, mas todo axioma jurídico derivado da cultura jurídica universal. Compreendem, pois, os fundamentos da Ciência Jurídica, onde se firmaram as normas originárias ou as leis científicas do Direito, que traçam as noções em que se estruture o próprio Direito.

Assim, nem sempre os princípios se inscrevem nas leis. Mas, porque servem de base ao Direito, são tidos como preceitos fundamentais para a prática do Direito e proteção de direitos.” (SILVA, 1973, p. 1220).

- Conflito entre princípios e conflito entre regras: Ronald Dworkin e Robert Alexy. Neoconstitucionalismo. As regras se aplicam de acordo com a lei “all-or-nothing” (tudo ou nada). São analisadas pelo critério da validade. Os princípios, por sua vez, são mandados de “otimização”. Os princípios são valorados, têm uma dimensão de peso. - Princípios distinguem-se de peculiaridades: Princípios são gerais; informam orientam e inspiram outros preceitos; dão organicidade a institutos e sistemas processuais; constituem a regra. Peculiaridades são restritas a poucos preceitos; delas não derivam normais legais; esgotam sua atuação em âmbito restrito; constituem a exceção. (GIGLIO apud MARTINS, p. 38).- Sérgio Pinto Martins cita 13 peculiaridades do DPT, dentre elas: função normativa; recursos, regra geral, só com efeito devolutivo; execução começar por ato do juiz, de ofício (ibidem).

1.5.1. Princípios Gerais- MARTINS (p. 39/40) aponta aqueles consagrados no texto constitucional: direito de petição (art. 5º, XXXIV, a), devido processo legal (art. 5º, LIV), contraditório e ampla defesa (art. 5º, LV), juiz natural (art. 5º, XXXV), inadmissibilidade de provas ilícitas (art. 5º, LVI), publicidade e fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX). Afirma que alguns autores confundem princípios do Direito Processual Comum com os Princípios do Direito Processual do Trabalho. Segundo MARTINS, celebridade, a busca pela simplificação e até mesmo o jus postulandi não são exclusividade do DPT e que também são buscados no Direito Processual Comum.- Com a EC 45/04: acrescentou-se o princípio da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII).

1.5.2. Princípios de Direito Processual do Trabalho- Não há consenso entre os juristas especializados quanto a esses princípios. - Bolívar Viegas Peixoto enumera, de forma exaustiva, 35 princípios. São eles: Princípio da instrumentalidade, Princípio do devido processo legal, Princípio da indisponibilidade, Princípio da oralidade, Princípio da celeridade, Princípio da unicidade das audiências, Princípio da concentração, Princípio do jus postulandi, Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, Princípio na dúvida pro operário, Princípio da informalidade, Princípio da conciliação, Princípio dispositivo, Princípio inquisitivo, Princípio do ônus da prova, Princípio da imediatidade, Princípio da norma mais favorável, Princípio da

3

Page 4: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

eventualidade, Princípio da economia processual, Princípio do contraditório, Princípio da publicidade, Princípio da igualdade das partes, Princípio da lealdade e da boa-fé, Princípio da imparcialidade do juiz, Princípio do livre convencimento, Princípio da identidade física do juiz, Princípio da onerosidade, Princípio da sucumbência, Princípio da gratuidade da Justiça, Princípio do duplo grau de jurisdição, Princípio unirrecorribilidade das sentenças, Princípio da preclusão, Princípio do non reformatio in pejus, Princípio das nulidades e Princípio da fungibilidade (apud GIGLIO, p. 69/123).- Coqueijo Costa entende que os princípios que regem o processo do trabalho são os básicos do processo civil, porém com as devidas adaptações, especialmente no processo coletivo do trabalho (COSTA, p. 17).- Christóvão Piragibe Tostes Malta enumera 17 métodos e princípios relacionados ao processo trabalhista: oralidade, concentração, eventualidade, imediação e identidade física do juiz, métodos dispositivo e inquisitivo, contraditório ou método da igualdade ou da audição jurídica, convencimento racional do juiz, instrumentalidade da forma dos atos processuais, publicidade, duplo grau de jurisdição, lealdade processual, economia, livre dicção do direito objetivo, imparcialidade do juiz, preclusão, verossimilhança e congruência (MALTA, p. 37/44).- José Martins Catharino aponta os princípios: a) da adequação (à finalidade do direito material); b) do tratamento desigual; c) teleológico ou da finalidade social específica (impedir os efeitos violentos da questão social); d) normatividade jurisdicional (apud MARTINS, p. 40/41).- Wagner Giglio (p. 66/68) cita como princípios próprios do DPT: o protecionista, o da jurisdição normativa, o da despersonalização do empregador e o da simplificação procedimental.- Para Carlos Henrique Bezerra Leite (p. 69/77), os princípios peculiares do DPT são: princípio da proteção, princípio da finalidade social, princípio da busca da verdade real, princípio da indisponibilidade, princípio da conciliação, princípio da normatização coletiva e outros (princípio da simplicidade das formas, princípio da despersonalização ou desconsideração da personalidade jurídica do empregador e princípio da extrapetição)- Sérgio Pinto Martins entende que o verdadeiro princípio do processo do trabalho é o da proteção, estando nele englobadas diversas peculiares. Argumenta que aquilo que os demais autores denominam como princípios específicos do DPT são, na verdade, princípios gerais e comuns à ciência processual ou peculiaridades do processo laboral. Para o que Wagner Giglio denominou de princípios ideais do processo do trabalho (ultra ou extrapetição, iniciativa de ofício e coletivização das ações), asseverou que seriam tendências, ou seja, no futuro, serão as orientações a serem utilizadas. Defendeu a maior utilização do princípio da iniciativa ex ofício e do princípio da coletivização das ações (p. 43/45).

4

Page 5: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

2. JUSTIÇA DO TRABALHO

2.1. Órgãos- Evolução:a) Conselho Nacional do Trabalho, Conselhos Regionais do Trabalho e Juntas de Conciliação e Julgamento (Poder Executivo);b) Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Juntas ou Juízes de Conciliação de Julgamento (CF/46, arts. 94 e 122: Justiça do Trabalho passa a fazer parte do Poder Judiciário);c) Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Juntas ou Juízes de Conciliação de Julgamento (CF/88, art. 111, redação original);d) Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Juízes do Trabalho.1ª instância: JCJ → VT.(CF/88, arts. 111 e 116, com redação dada pela EC 24/99).- A Constituição Federal de 1937 concedeu maior autonomia à Justiça do Trabalho, mas foi silente quanto sua inserção ou não no Judiciário. Todavia, conforme relata Carlos Henrique Bezerra Leite, o STF reconheceu-lhe o caráter jurisdicional. (LEITE, p. 103)- Sérgio Pinto Martins aponta os seguintes aspectos peculiares da Justiça do Trabalho: a) dá efetividade ao Direito do Trabalho; b) não há divisão em entrâncias nas Varas do Trabalho; c) na primeira instância não existem órgãos ou Varas especializadas; d) os tribunais são criados por regiões e não por Estados. (MARTINS, p. 73).

2.2. Investidura- Carreira: Juiz do Trabalho Substituto → Juiz do Trabalho (Titular) → Juiz do TRT.- Exigências: a) bacharel em Direito; b) ter, no mínimo, três anos de atividade jurídica (CF, art. 93, I); c) idade entre 25 e 45 anos (CLT, art. 654, §4).- Segundo Sérgio Pinto Martins, “tem-se entendido que não há mais a exigência de idade mínima para inscrição ao concurso de juiz do trabalho, apenas a idade máxima não poderá ser superior a 65 anos, que é a idade limite para que um juiz possa ser indicado para os tribunais superiores”. (MARTINS, p. 73)- Segundo a Resolução n. 11, de 31/01/06 do Conselho Nacional de Justiça, somente será computada a atividade jurídica após a obtenção do grau de bacharel em Direito (art. 1º) e considera-se atividade jurídica “aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito, bem como o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico, vedada a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior à colação de grau” (art. 2º).

2.3. Garantias, Vedações e Prerrogativas- Idem ao de todo membro do Poder Judiciário.- Garantias: “I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.” (CF/88, art. 95).- Vedações:“I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

5

Page 6: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

III - dedicar-se à atividade político-partidária; IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.” (CF/88, art. 95, parágrafo único).- “O exercício de cargo de magistério superior, público ou particular, somente será permitido se houver correlação de matérias e compatibilidade de horários, vedado, em qualquer hipótese, o desempenho de função de direção administrativa ou técnica de estabelecimento de ensino” (grifo acrescentado, LC 35/79, art. 26, § 1º).- “Não se considera exercício do cargo o desempenho de função docente em curso oficial de preparação para judicatura ou aperfeiçoamento de magistrados” (grifo acrescentado, LC 35/79, art. 26, § 2º).- Prerrogativas: arts. 33 e 34 da LC 35/79 (LOMAN)

Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:I - ser ouvido como testemunha em dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade ou Juiz de instância igual ou inferior;II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado (vetado);III - ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado-Maior, por ordem e à disposição do Tribunal ou do órgão especial competente, quando sujeito a prisão antes do julgamento final;IV - não estar sujeito a notificação ou a intimação para comparecimento, salvo se expedida por autoridade judicial;V - portar arma de defesa pessoal.Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.Art. 34 - Os membros do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Federal de Recursos, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Superior do Trabalho têm o título de Ministro; os dos Tribunais de Justiça, o de Desembargador; sendo o de Juiz privativo dos outros Tribunais e da Magistratura de primeira instância.

2.4. Organização da Justiça do Trabalho

2.4.1. Tribunal Superior do Trabalho- Antecedente histórico: Conselho Nacional do Trabalho instituído pelo Decreto n. 16.027/23, órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, instância recursal em matéria previdenciária e autorizava dispensa de servidor público portador de estabilidade.- CF/1946: CNT → TST.- Decreto-lei 9.797/46: 11 integrantes do TST.- CF/67: 17 Ministros, sendo 11 togados e vitalícios e 6 classistas e temporários.- CF/88 (redação original): 27 Ministros, 17 togados e 10 classistas.- EC 24/99: 17 Ministros.- EC 45/04: 27 Ministros (dentre os brasileiros com mais 35 e menos de 65 anos).- Nomeação: É realizada pelo Presidente da República, após prévia aprovação do Senado Federal.- Dos 27 ministros: a) um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.MPT ou OAB → lista sêxtupla → TST → lista tríplice → Presidente da República.

6

Page 7: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

27 : 5 = 5,4 que será arredondado para 6 (seis), conforme entendimento do STF. b) os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.- As regras de obrigatoriedade para promoções por antiguidade ou merecimento não se aplicam para o TST.(MARTINS, p. 84/86).- São órgãos do TST:a) Tribunal Pleno: composição – 27 Ministros; quorum – 11; deliberação – maioria absoluta;b) Seção Administrativa: composição – Presidente, Vice e Corregedor, 2 Ministros mais antigos e 2 eleitos pelo plenário; quorum – 5;c) Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC): composição – Presidente, Vice e Corregedor, 6 Ministros mais antigos; quorum – 6;d) Subseção I da Seção Especializada em Dissídios Individuais (SBDI-1): composição – Presidente, Vice e Corregedor, 4 Presidentes de Turmas, 4 Ministros; quorum – 7;e) Subseção II da Seção Especializada em Dissídios Individuais (SBDI-2): composição – Presidente, Vice e Corregedor, 6 Ministros; quorum – 5;f) Turma: composta por 3 Ministros, presidida pelo mais antigo; quorum – 3.(LEITE, p. 105/107)- Funcionarão junto ao TST a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CF/88, art. 111-A, §2º).- O endereço eletrônico: www.tst.jus.br

2.4.2. Tribunais Regionais do Trabalho- Antecedentes históricos: Conselhos Regionais do Trabalho (Decreto-lei n. 1237/39).- CF/1946: CRT’s → TRT’s.- CF/67: lei fixaria o número de membros. TRT: 2/3 togados e vitalícios (participação de advogados e MPT); 1/3 classistas e temporários (paridade). EC 1/69: idem.- CF/88, art. 112, redação original: exigência de um TRT por Estado.- CF/88, art. 112, redação dada pela EC 45/04: não consta mais essa exigência.- Os TRT’s estão divididos em 24 Regiões: 1ª – RJ; 2ª – SP; 3ª – MG; 4ª – RS; 5ª – BA; 6ª – PE; 7ª – CE; 8ª – PA e AP; 9ª – PR; 10ª – DF e TO; 11ª – AM e RR; 12ª – SC; 13ª – PB; 14ª – RO e AC; 15ª - SP (Campinas); 16ª – MA; 17ª – ES; 18ª – GO; 19ª – AL; 20ª – SE; 21ª – RN; 22ª – PI; 23ª – MT e 24ª – MS.- Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, 7 juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65, sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes; II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente (grifo acrescentado, CF/88, art. 115).- Os TRT’s poderão instalar a justiça itinerante ou funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais (§§ 1º e 2º do art. 115). TRT 3ª Região criou a Turma Recursal de Juiz de Fora.- Constituição do órgão especial, nos termos do art. 93, XI, da CF/881.

1 nos tribunais com número superior a 25 julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de 11 e o máximo de 25 membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno.

7

Page 8: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Possuindo 4 turmas ou mais, é facultada a criação de Seção Especializada em dissídios coletivos. Caso contrário, será da competência do pleno a decisão de dissídios coletivos.- Turma: composição – 5 juízes; quorum – 3.(MARTINS, p. 80/84)- TRT’s têm competência para julgar, por exemplo, dissídios coletivos, mandados de segurança e ações rescisórias (original); recurso ordinário, agravo de petição e agravo de instrumento (recursal).(LEITE, p. 107/109)- O endereço eletrônico do TRT da 3ª Região (Minas Gerais) é www.trt3.jus.br.

2.4.3. Varas do Trabalho- Antecedentes históricas: Juntas de Conciliação e Julgamento (Decreto 22.132/32), subordinadas ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Ministro nomeava componentes e poderia avocar processos.- CF/1946: JCJ → Poder Judiciário.- EC 24/99: JCJ (colegiado) → VT (monocrático).- “A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho” (CF/88, art. 112).- Segundo a Lei 6.947/81, são critérios para criação de novas Varas:a) de 2 em 2 anos TST analisa as propostas;b) mais de 24 mil empregados na localidade ou mais de 240 reclamações anuais, em média, nos últimos três anos;c) nos locais onde já existam Varas só serão criadas quando ultrapassar 1.500 processos por ano;d) jurisdição pode se estender até um raio de 100 km da sede, desde que exista acesso.(MARTINS, p. 72/73).- O TRT da 3ª Região alterou a jurisdição de algumas Varas do Trabalho e criou Postos Avançados (v.g. PA Viçosa).

2.5. Órgãos Auxiliares da Justiça do Trabalho- Secretaria;- Oficial de Justiça Avaliador;- Distribuidor;- Contadoria (SLJ – Setor de Liquidação Judicial).

8

Page 9: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

3. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

3.1. Origem- A palavra “ministério” provém do latim ministerium, que significa amplo ofício, cargo, função ou mister. Já a expressão “parquet” é da tradição francesa. Antes de adquirir a condição de magistrados e ter assento ao lado dos juízes, ficavam os procuradores do rei, inicialmente, sobre o assoalho (parquet).- Origem: Ordenança, de 25.03.1302, do rei francês Felipe IV, o Belo.- “No regime francês, os procuradores do rei preocupavam-se apenas com a defesa dos interesses privados do rei, mas, com o correr do tempo, eles passaram a exercer funções de interesse público e do próprio Estado.” (LEITE, p. 120/121).- “No Brasil, a vinculação do Ministério Público ao Executivo tardou em ser rompida, de vez que somente a Constituição de 1988 implementou-a, ao estabelecer que o Ministério Público constitui-se em função essencial do Estado, competindo-lhe a defesa do Estado Democrático de Direito, dos direitos sociais e interesses individuais indisponíveis). (FONSECA, p. 33).

3.2. Órgãos- O Ministério Público abrange: I - o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II - os Ministérios Públicos dos Estados. (CF/88, art. 128). MP = MPU (MPF+MPM+MPT+MPDFT) e MP's estaduais.- Também contará com o Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP (CF/88, art. 130-A, acrescentado pela EC 45/04).- São órgãos do Ministério Público do Trabalho (LC 75/93, art. 85):I - o Procurador-Geral do Trabalho – representante maior da instituição, competindo-lhe a sua administração, sendo indicado em lista tríplice pelo Colégio de Procuradores e nomeado pelo Procurador-Geral da República;II - o Colégio de Procuradores do Trabalho – Assembleia soberana que elege os órgãos representantes, constitui listas sêxtuplas para o quinto constitucional (TST e TRT’s) e delibera sobre questões institucionais;III - o Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho – colegiado composto pelo Procurador-Geral e nove Subprocuradores-Gerais, exerce a função fiscalizatória e deliberativa (regimento interno, concurso, promoção, avaliação, estágio probatório) e decide sobre arquivamento de inquéritos civis e procedimentos investigatórios;IV - a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho – promove a integração e a coordenação dos órgãos institucionais do MPT;V - a Corregedoria do Ministério Público do Trabalho – exerce a função fiscalizatória da atividade funcional e da conduta dos membros, sendo dirigida pelo Corregedor-Geral (Subprocurador-Geral indicado por listra tríplice do Conselho Superior e nomeado pelo Procurador-Geral do Trabalho);VI - os Subprocuradores-Gerais do Trabalho – atuam primordialmente junto ao TST e compõem privativamente o Conselho, a Câmara de Coordenação e Revisão e a Corregedoria;VII - os Procuradores Regionais do Trabalho – atuam perante os TRT’s e substituem os Subprocuradores-Gerais em caso de afastamento por mais de 30 dias;VIII - os Procuradores do Trabalho – atuam perante os TRT’s e a primeira instância.(FONSECA, p. 35).- Carreira do MPT: Procurador do Trabalho → Procurador Regional do Trabalho → Subprocurador-Geral do Trabalho (LC 75/93, art. 86).- Endereço eletrônico do MPT: www.mpt.gov.br .

9

Page 10: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Endereço eletrônico da PRT 3ª Região (MG): www.prt3.mpt.gov.br .

3.3. Garantias, Vedações e Prerrogativas- Idem ao de todo membro do Ministério Público.- Garantias (CF/88, art. 128, § 5º, I):“a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado;b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I.”- Vedações (CF/88, art. 128, § 5º, II):“a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais;b) exercer a advocacia;c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério;e) exercer atividade político-partidária;f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.”- Também é vedado o exercício da advocacia no juízo ou tribunal em que, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (CF/88, art. 128, §6º, incluído pela EC 45/04).- As regras sobre impedimento e suspeição também se aplicam ao membro do MPT, que deve agir imparcialmente, “o que conduz a uma curiosa metáfora, bem expressa por Piero Calamandrei, segundo quem, o membro do MPT concentra em sua atividade a passionalidade do advogado e a imparcialidade do juiz, pois deve agir com veemência e parcimônia, visto que defende o interesse geral” (FONSECA, p. 36).- As prerrogativas estão previstas no art. 18 da Lei Complementar 75/93, dentre as quais:I – institucionais: sentar-se no mesmo plano e imediatamente à direita dos juízes singulares ou presidentes dos órgãos judiciários perante os quais oficiem; ter ingresso e trânsito livres, em razão de serviço, em qualquer recinto público ou privado, respeitada a garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio; o porte de arma, independentemente de autorização;II - processuais: ser preso ou detido somente por ordem escrita do tribunal competente ou em razão de flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação àquele tribunal e ao Procurador-Geral da República, sob pena de responsabilidade; ser recolhido à prisão especial ou à sala especial de Estado-Maior, com direito a privacidade e à disposição do tribunal competente para o julgamento, quando sujeito a prisão antes da decisão final; e a dependência separada no estabelecimento em que tiver de ser cumprida a pena; ser ouvido, como testemunhas, em dia, hora e local previamente ajustados com o magistrado ou a autoridade competente; receber intimação pessoalmente nos autos em qualquer processo e grau de jurisdição nos feitos em que tiver que oficiar.- “Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por membro do Ministério Público da União, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá imediatamente os autos ao Procurador-Geral da República, que designará membro do Ministério Público para prosseguimento da apuração do fato.” (Parágrafo único).

10

Page 11: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- “Os órgãos do Ministério Público da União terão presença e palavra asseguradas em todas as sessões dos colegiados em que oficiem” (LC 75/93, art. 20).

3.4. Atribuições- Previstas nos arts. 83 e 84 da LC 75/93:

Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:I - promover as ações que lhe sejam atribuídas pela Constituição Federal e pelas leis trabalhistas; II - manifestar-se em qualquer fase do processo trabalhista, acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse público que justifique a intervenção;III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos;IV - propor as ações cabíveis para declaração de nulidade de cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores;V - propor as ações necessárias à defesa dos direitos e interesses dos menores, incapazes e índios, decorrentes das relações de trabalho;VI - recorrer das decisões da Justiça do Trabalho, quando entender necessário, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir revisão dos Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho;VII - funcionar nas sessões dos Tribunais Trabalhistas, manifestando-se verbalmente sobre a matéria em debate, sempre que entender necessário, sendo-lhe assegurado o direito de vista dos processos em julgamento, podendo solicitar as requisições e diligências que julgar convenientes;VIII - instaurar instância em caso de greve, quando a defesa da ordem jurídica ou o interesse público assim o exigir;IX - promover ou participar da instrução e conciliação em dissídios decorrentes da paralisação de serviços de qualquer natureza, oficiando obrigatoriamente nos processos, manifestando sua concordância ou discordância, em eventuais acordos firmados antes da homologação, resguardado o direito de recorrer em caso de violação à lei e à Constituição Federal;X - promover mandado de injunção, quando a competência for da Justiça do Trabalho;XI - atuar como árbitro, se assim for solicitado pelas partes, nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho;XII - requerer as diligências que julgar convenientes para o correto andamento dos processos e para a melhor solução das lides trabalhistas;XIII - intervir obrigatoriamente em todos os feitos nos segundo e terceiro graus de jurisdição da Justiça do Trabalho, quando a parte for pessoa jurídica de Direito Público, Estado estrangeiro ou organismo internacional.Art. 84. Incumbe ao Ministério Público do Trabalho, no âmbito das suas atribuições, exercer as funções institucionais previstas nos Capítulos I, II, III e IV do Título I, especialmente:I - integrar os órgãos colegiados previstos no § 1º do art. 6º, que lhes sejam pertinentes;II - instaurar inquérito civil e outros procedimentos administrativos, sempre que cabíveis, para assegurar a observância dos direitos sociais dos trabalhadores;III - requisitar à autoridade administrativa federal competente, dos órgãos de proteção ao trabalho, a instauração de procedimentos administrativos, podendo acompanhá-los e produzir provas;IV - ser cientificado pessoalmente das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, nas causas em que o órgão tenha intervido ou emitido parecer escrito;V - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, desde que compatíveis com sua finalidade.

- O MPT atuará como parte, por exemplo, nas hipóteses previstas no art. 83, incisos I, III, IV, V, VII e X, ao propor ação civil pública, ação anulatória de cláusula convencional, ação rescisória e dissídio coletivo de greve e, por fim, quando atuar como substituto processual.- Como custo legis, a elaboração de parecer seria obrigatória nos dissídios individuais em que figurem, como partes ou interessados, menores, incapazes e índios; nas ações civis públicas;

11

Page 12: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

nos mandados de segurança; nos dissídios coletivos em caso de greve que possa acarretar lesão à ordem e à segurança pública; bem como nos demais casos de interesse público.(LEITE, p. 132/133).- Houve controvérsia acerca de qual ramo do Ministério Público teria a atribuição sobre as medidas de prevenção de acidentes de trabalho, Ministério Público dos Estados ou MPT. “A matéria pacificou-se no Supremo Tribunal Federa (STF), inicialmente, por decisões reiteradas, que culminaram com a Súmula 736 daquele egrégio Tribunal, o qual fixou, recentemente, entendimento lastreado no artigo 114, VI, da Constituição Federal (CF), de que as ações de dano moral decorrentes de acidente do trabalho ou doença profissional também competem à Justiça do Trabalho e, portanto, as ações civis públicas, que incluam pedidos reparatórios dessa natureza, cabem ao Parquet laboral. (FONSECA, p. 34).

3.4.1. Coordenadorias do Ministério Público do Trabalho- O MPT atuaria em sete ramos coordenados:1) Administração Pública (CONAP) – preservar os princípios constitucionais (CF, art. 37) e assegurar a contratação por concurso público;2) Trabalho Escravo (CONAETE) – combater o trabalho escravo, inclusive com atuação conjunta com demais órgãos;3) Trabalho Infantil (CORDINFÂNCIA) – combater o trabalho infantil, também com atuação em conjunto com ONG’s, empresas e Poder Executivo;4) Discriminação (COORDIGUALDADE) – combater a discriminação nas relações de trabalho;5) Meio Ambiente do Trabalho (CODEMAT) – combater a doença profissional e o acidente de trabalho;6) Formalização do Trabalho (CONAFRET) – combater as fraudes nas relações de emprego, como terceirização irregular, trabalho informal, cooperativas e estágios fraudulentos;7) Trabalho Portuário e Aquaviário – combater a exploração nessas atividades.(FONSECA, p. 37).- Mais informações: www.pgt.mpt.gov.br .

12

Page 13: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4. COMPETÊNCIA TRABALHISTA – PARTE I

4.1. Competência e Jurisdição- Competência é medida da jurisdição de cada órgão judicial.- Todo juiz tem jurisdição, mas competência é delimitada por lei.- Critérios para determinação da competência: de acordo com a matéria (ratione materiae), a qualidade das partes (ratione personae), a função ou hierarquia dos órgãos julgadores (em razão da função ou da hierarquia) ou o lugar (ratione loci).

4.2. Competência Trabalhista e a Emenda Constitucional n. 45/2004- A EC 45/04 ampliou o rol de competência da Justiça do Trabalho:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas.§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais mínimas de proteção de trabalho.§ 3º Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.(grifo acrescentado, redação anterior)

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II as ações que envolvam exercício do direito de greve;III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. (grifo acrescentado, redação dada pela EC 45/04).

13

Page 14: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.3. Competência em Razão da Matéria

4.3.1. Ações Oriundas da Relação de Trabalho- Relação de Trabalho é gênero; Relação de Emprego é espécie.- Relação de trabalho refere-se “a toda e qualquer atividade humana em que haja prestação de trabalho, como relação de trabalho: autônomo, eventual, de empreitada, avulso, cooperado, doméstico, de representação comercial, temporário, sob a forma de estágio etc. Há, pois, a relação de trabalho pela presença de três elementos: o prestador do serviço, o trabalho (subordinado ou não) e o tomador do serviço”. (LEITE, p. 148).- Qual é o alcance do termo “relação de trabalho”? Há várias correntes.- AMPLIATIVA IRRESTRITA (minoritária): Toda e qualquer relação jurídica que envolva a prestação de serviços, sem qualquer exceção. Abrangeria também a prestação de serviços por pessoas jurídicas. Crítica: Transformaria a Justiça Especializada em Comum.- AMPLIATIVA MODERADA (majoritária no âmbito da Justiça do Trabalho): O termo “relação de trabalho” teria ampliado a competência da Justiça Especializada. Esta compreenderia todo labor humano, salvo se o prestador de serviços for uma pessoa jurídica. Há divergências quanto aos critérios para definição ou exclusão.- RESTRITIVA. O termo “relação de trabalho” seria sinônimo de relação de emprego. Logo, por si só, não teria havido ampliação de competência. A Justiça do Trabalho somente apreciaria a relação de emprego, salvo se houver previsão expressa em lei para a relação de trabalho (inciso IX do art. 114 da Constituição). STJ tem prestigiado essa corrente.- “[...] a Justiça do Trabalho terá competência para analisar questões envolvendo trabalhador autônomo, representante comercial autônomo (Lei n. 4.886/65) empresários, estagiários, trabalhadores eventuais, trabalhador voluntário e os respectivos tomadores de serviços, assim como as ações entre parceiros, meeiros, arrendantes e arrendatários, questões de empreitada, quando houver lei ordinária federal tratando do tema. Enquanto isso, a competência será da Justiça Comum Estadual.” (MARTINS, p. 105, adepto desta última corrente). - Carlos Henrique Bezerra Leite (p 154), ao analisar o conflito entre o inciso I e IX do art. 114 da Constituição, conclui que a Justiça do Trabalho será competente para conciliar e julgar as lides que derivem da relação de trabalho. Porém, o referido autor estipula duas condições: 1ª) haja lei dispondo expressamente que é da Justiça do Trabalho essa competência;2ª) não haja lei dispondo expressamente que tal competência é da Justiça Comum.Por isso o doutrinador entende que a relação de trabalho de representação comercial ainda seria da competência da Justiça Comum, pois há disposição legal (Lei 4886/65, art. 39) prevendo a competência desta justiça.LEITE é adepto da corrente majoritária moderada.- As relações que envolvam consumidor e fornecedor (relações de consumo) passariam ou não a ser submetidas à Justiça do Trabalho? Polêmica.- Existe o entendimento no sentido de que haveria competência da Justiça do Trabalho para as demandas propostas apenas pelo fornecedor de serviços pessoa física. Crítica: A Justiça do Trabalho deixaria de ser “mão-dupla”, pois não seriam admitidas as demandas do consumidor em face do prestador de serviços.- As relações de consumo não devem ser atribuídas à competência da Justiça do Trabalho, pois não haveria como conciliar o conflito entre dois hipossuficientes, o trabalhador (fornecedor) e o consumidor (tomador). Defendem esse posicionamento, dentre outros, Antônio Loureiro, Ministro Ives Gandra Martins Filho e Carlos Henrique Bezerra Leite.

14

Page 15: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.3.1.1. Relação de Trabalho Eventual- O trabalhador eventual não está tutelado pelo direito material do trabalho (CLT, art. 3º, a contrario sensu).- Por força do inciso I do art. 114 da CF/88, a competência para julgar demanda envolvendo relação de trabalho eventual é da Justiça do Trabalho. (LEITE, p. 160).

4.3.1.2. Relação de Trabalho Autônomo- Com a EC 45/04 as ações oriundas da relação de trabalho autônomo (profissional liberal e empreiteiro) passaram a ser da competência da Justiça do Trabalho.- Carlos Henrique Bezerra Leite, contudo, exclui dessa competência as ações oriundas da relação de consumo. “Vale dizer, quando o trabalhador autônomo se apresentar como fornecedor de serviços e, como tal, pretender receber honorários do seu cliente, a competência para a demanda será da Justiça Comum, e não da Justiça do Trabalho, pois a matéria diz respeito à relação de consumo, e não à de trabalho. Do mesmo modo, se o tomador do serviço se apresentar como consumidor e pretender a devolução do valor pago pelo serviço prestado, a competência também será da Justiça Comum. Isso porque relação de trabalho e relação de consumo são inconfundíveis.” Após fornecer as definições de consumidor e tomador, conclui: “Afinal, a gênese do direito do trabalho e do direito processual do trabalho é a proteção do trabalhador, isto é, do prestador do serviço, e não do tomador de serviços, enquanto a gênese do direito das relações de consumo repouso sempre, na proteção do consumidor e nunca do prestador ou fornecedor de serviços.” (LEITE, p. 161/162).

4.3.1.3. Relação de Trabalho no Âmbito da Administração Pública- Duas espécies: a relação estatutária e a relação empregatícia.- Súmula 137 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário”. - A Lei 8112/90, art. 240, d e e: direito à negociação coletiva e competência da Justiça do Trabalho. STF julgou inconstitucionais esses dispositivos (ADI 492-1, RDT 80/168) que, posteriormente, foram revogados pela Lei 9527/97.- A polêmica retornou com a redação do inciso I do art. 114 da CF/88, dada pela EC 45/04.- Todavia, o Presidente do STF, Nelson Jobim concedeu liminar na ADI 3395 (já confirmada pelo Pleno) no sentido de afastar a competência da Justiça do Trabalho a apreciação das causas envolvendo servidor estatutário e a Administração Pública.- Relação empregatícia → Justiça do Trabalho.- Servidor Público Temporário (CF/88, art. 37, IX), após EC 45/04, seria da competência da JT (LEITE, p. 172). Já para o TST, somente haverá competência se houver fraude. OJ 205.- O STF, conforme informativo de março/2008, manifestou entendimento de que a irregularidade na contratação de servidor temporário não é da competência da Justiça do Trabalho, mas sim da Justiça Federal (União) ou da Justiça Estadual (DF, Estados e Municípios. O regime jurídico seria administrativo-público. - Diante do posicionamento do STF, o TST cancelou sua OJ 205 (Res. 156/2009).

15

Page 16: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4. COMPETÊNCIA TRABALHISTA – PARTE II

4.3. Competência em Razão da Matéria

4.3.2. Ações que envolvam o direito de greve- Natureza: Autotutela (Sérgio Pinto Martins) ou Direito (Maurício Godinho Delgado).- Lei 7783/89, art. 1º: “Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador”.- Com o inciso II do art. 114 da Constituição, a competência da Justiça do Trabalho agora abrange todas as ações que decorram do exercício do direito de greve, tais como dissídios coletivos, ações de responsabilidade civil propostas pelo empregador contra o sindicato, ações possessórias (manutenção da posse, interdito proibitório). Danos morais e materiais decorrentes do exercício do direito de greve também serão da competência da Justiça do Trabalho.(MARTINS, p. 119/120).- No ano passado (2007), o STF, em diversos mandados de injunção, acabou para rever seu posicionamento anterior quanto ao direito de greve dos servidores públicos. Entendeu-se pela possibilidade de utilização da Lei de Greve (Lei 7.783/1999), aplicável aos empregados da iniciativa privada, quanto aos serviços essenciais. Com isso, o exercício do direito de greve passou a ser possível. Segundo esse novo entendimento, a norma referente ao direito de greve passou a ser compreendida como de eficácia contida (ou contível), tendo aplicabilidade imediata. Nas decisões anteriores, o voto vencido do Ministro Moreira Alves era justamente nesse sentido.- Súmula Vinculante 23: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.” Precedentes RE 579648, CJ 6959, RE 238737, AI 611670, AI 598457, RE 555075 e RE 576803.

4.3.3. Ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores- Justiça do Trabalho passou a ter competência para dirimir conflitos a respeito da representação sindical, que decorre do Princípio da Unicidade Sindical (CF/88, art. 8º, II); da contribuição sindical (CLT, art. 578), bem como processar e julgar ação anulatória promovida pelo MPT ou ações entre sindicatos, entre sindicato e trabalhador(es) ou entre sindicato e empregador(es) que tenham por objeto a controvérsia sobre contribuição confederativa e assistencial.

4.3.4. Mandado de Segurança - A Justiça do Trabalho é competente “para processar e julgar o mandado de segurança, não só contra ato judicial prolatado em processo trabalhista originário da relação jurídica de emprego ou de trabalho, mas, também, contra ato administrativo que se enquadre na moldura do inciso VII do art. 114 da CF, bem como contra ato praticado por autoridade da Justiça do Trabalho, desde que, é claro, tal ato seja ilegal ou arbitrário e, paralelamente, viole direito, individual ou coletivo, líquido e certo”. (LEITE, p. 832).- Agora, a VT passou a ter competência funcional para apreciar e julgar o MS. Exemplo típico: MS impetrado pelo empregador contra ato da autoridade de fiscalização do trabalho (auto de autuação).

16

Page 17: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.3.5. Habeas Corpus- Havia dissenso entre o STF e o TST quanto à competência para apreciação de habeas corpus impetrado contra ato de juiz do trabalho de primeira instância que determinava a prisão do depositário infiel.- TST: Juiz do Trabalho → MS → TRT → RO → TST- STF: Juiz do Trabalho → MS → TRF- Após EC 45/04, não há mais dúvida acerca da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar habeas corpus quando o ato questionado envolver matéria sujeita à jurisdição trabalhista. (LEITE, p. 886).- Todavia, diante do entendimento do STF quanto à inconstitucionalidade da prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito (Súmula Vinculante 25 e Precedentes RE 562051 RG, RE 349703, RE 466343, HC 87585, HC 95967, HC 91950, HC 93435, HC 96687 MC, HC 96582, HC 90172, HC 95170 MC), é questionável a competência da JT para apreciação de habeas corpus.

4.3.6. Habeas Data- Sérgio Pinto Martins não vislumbra aplicabilidade dessa ação constitucional na Justiça do Trabalho, pois o empregador não dispõe de banco de dados de caráter público. Acredita que o habeas data também não serviria para obtenção de dados para fins do estabelecimento de participação dos lucros, pois o empregado poderá se utilizar de medida cautelar de exibição de documentos (MARTINS, p. 119).- Carlos Henrique Bezerra Leite, por sua vez, vislumbra “o cabimento do habeas data impetrado na Justiça do Trabalho, desde que tal demanda seja oriunda da relação de trabalho, como no caso em que um servidor esteja sendo impedido de obter informações sobre seus registros funcionais que seriam utilizados para sua candidatura à promoção na carreira do órgão público ao qual está vinculado. [...] Outra hipótese reside na possibilidade de impetração de habeas data pelo empregador em face do órgão de fiscalização da relação de trabalho que esteja se negando a fornecer informações sobre o processo administrativo em que ele esteja sofrendo penalidade administrativa” (LEITE, p. 888/889).- STF afastou a competência da Justiça do Trabalho para ações envolvendo servidores estatutários e Administração Pública (ADI 3395) e já decidiu que Banco do Brasil não figura como entidade governamental, pois explora atividade econômica nem se enquadra no conceito de registros de caráter público (RE 165.304/MG, Informativo 208).

4.3.7. Conflitos de Competência entre Órgãos com Jurisdição Trabalhista- O conflito pode ser POSITIVO (dois órgãos se julgam competentes) ou NEGATIVO (dois órgãos se julgam incompetentes).- Há previsão na CLT, arts. 803 a 812.- Legitimados: Juízes do Trabalho, MPT, parte ou interessado (CLT, art. 805).- CLT, art. 806: “É vedado à parte interessada suscitar conflitos de jurisdição quando já houver oposto na causa exceção de incompetência.” Razões: preclusão lógica, pois os institutos de conflito e exceção têm a mesma finalidade (LEITE, p. 216); vedação à admissão de expedientes protelatórios (MARTINS, p. 141).- CF/88 (EC 45/04): órgãos com Jurisdição Trabalhista → JT, salvo competência do STF (“os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal” – Art. 102, I, o).- STJ (“os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, ‘o’, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos” – Art. 105, I, d).

17

Page 18: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

• Vara do Trabalho TRT versus Vara do Trabalho TRT = TRT• Vara do Trabalho TRT versus Juiz de Direito (jurisdição trabalhista TRT) = TRT• Vara do Trabalho TRT versus Juiz de Direito (sem jurisdição trabalhista) = STJ • Vara do Trabalho TRT "A" versus Vara do Trabalho TRT "B" = TST• TST versus Juiz de Direito = STF• TST versus STJ = STF

4.3.8. Dano Moral ou Patrimonial decorrentes da Relação de Trabalho- STJ: dano moral – matéria de Direito Civil → Justiça Comum- STF e TST: dano moral – decorrente relação de emprego – irrelevância aplicação do Direito Civil → Justiça do Trabalho.

SÚMULA Nº 392 DO TST. DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 327 da SBDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho.

- Súmula Vinculante 22: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional no 45/04.” (Precedentes CC 7204, AI 529763 AgR-ED, AI 540190 AgR e AC 822 MC).- Competência para julgamento de ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho proposta pelos sucessores do empregado falecido. Competência da Justiça Laboral (STF, Pleno, CC 7545-7 SC, Rel. Min. Eros Grau, Julg. 03.06.2009).- A Corte Especial do STJ, julgando o CC 101.977-SP, na sessão de 16.09.2009, deliberou pelo cancelamento de sua Súmula 366.

4.3.9. Penalidades Administrativas aplicadas pelo Poder Executivo (MTe)- A competência abrangeria mandado de segurança contra ato administrativo da autoridade fiscalizadora do trabalho, ações de execução da dívida referente à penalidade, bem como as ações anulatórias e declaratórias sobre o tema. As multas aplicadas pelo INSS estariam de fora, pois dizem respeito à contribuição previdenciária. O mesmo ocorre em relação às multas aplicadas pelos órgãos de fiscalização de profissão, como OAB e CREA. (MARTINS, p. 115). - Com a criação da Receita Federal do Brasil, esta passou a ter competência para a arrecadação das contribuições previdenciárias.- O Prof. Carlos Henrique Bezerra Leite entende que “penalidades administrativas” abarcariam tanto os “crimes” quanto as “multas administrativas”. Por isso, assevera que “a Justiça do Trabalho passou a ser competente para processar e julgar as ações que tenham por objeto a prática de crime de falsidade ideológica, consistente em anotação falsa quanto ao contrato de trabalho feito pelo empregador.” E prossegue ao arrematar que “restaria superada a Súmula 62 do STJ, que apontava a Justiça Comum Estadual para tais ações”. (LEITE, p. 181).- O STF, no ano de 2007, manifestou o entendimento de que a Justiça do Trabalho não tem competência penal, mesmo após o advento da EC 45/2004.

18

Page 19: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

“Competência criminal. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC n. 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida, com efeito, ex tunc. O disposto no art. 114, I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional n. 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais.” (ADI 3.684-MC, Rel. Min. Cezar Peluso, Julg. 1º.02.07, Plenário, DJE de 03.08.07)

4.3.10. Execução de Ofício das Contribuições Previdenciárias- Não constitui uma inovação, vez que esta competência decorreu da EC 20/98.- Há um aparente conflito entre a Súmula 368, I, do TST e o parágrafo único do art. 876 da CLT, com redação dada pela Lei 11.457/2007.

DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO. (conversão das Orientações Jurisprudenciais nos 32, 141 e 228 da SDI-1) Alterada pela Res. 138/2005, DJ 23.11.2005I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário-de-contribuição. (ex-OJ nº 141 - Inserida em 27.11.1998)(...)

Parágrafo único. Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.

- A questão ainda está pendente de definição pelo STF, o qual já se manifestou, conforme os seguintes julgados:

"Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Competência da Justiça do Trabalho. Alcance do art. 114, VIII, da Constituição Federal. A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança apenas a execução das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir." (RE 569.056, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 11-9-08, Plenário, DJE de 12-12-08). No mesmo sentido: AI 757.321-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 20-10-09, 1ª Turma, DJE de 13-11-09; RE 560.930-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 28-10-08, 1ª Turma, DJE de 20-2-09.

"Recursos extraordinários – Medida cautelar incidental – Competência da Justiça do Trabalho para declarar a natureza de verbas fixadas em acordo trabalhista – Matéria pendente de julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (AC 1.109/SP) – Pretendida suspensão de exigibilidade de débito previdenciário contestado pela instituição financeira interessada – Cumulativa ocorrência dos requisitos concernentes à plausibilidade jurídica e ao periculum in mora – Outorga de eficácia suspensiva a recursos extraordinários, que, interpostos pela parte requerente, já foram admitidos pela presidência do tribunal recorrido – Decisão referendada pela turma." (AC 1.556-MC-QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 6-3-07, 2ª Turma, DJ de 23-3-07)

- Competência não abrange período em que não houve reconhecimento judicial, ou seja, o período incontroverso de vínculo. A competência, neste caso, é da Justiça Federal.

19

Page 20: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4. COMPETÊNCIA TRABALHISTA – PARTE III

4.4. Competência em Razão da Pessoa- Pessoas Jurídicas: Sindicatos (CF/88, art. 114, III); Entes de Direito Público Externo (CF/88, art. 114, I); Administração Direta, Autárquica e Fundacional (CF/88, art. 114, I); União Federal (CF/88, art. 114, VII).- Trabalhadores: empregado urbano; empregado rural; empregado doméstico (Decreto 71.885, art. 2º); empregado público, empregado temporário (Lei 6019/74, art. 19); trabalhador avulso (CLT, art. 643); atleta profissional de futebol (Lei 6.354/76, art. 29); autônomo (controvérsia), eventual (controvérsia).- Para o Prof. Carlos Henrique Bezerra, não haveria controvérsia quanto à competência da Justiça do Trabalho para as lides entre os trabalhadores subordinados típicos (empregados urbano e rural) e os tomadores de seus servidores. Todavia, para as lides entre os trabalhadores atípicos (doméstico, avulso, temporário, eventual etc.) e os tomadores de seus serviços a competência da Justiça do Trabalho estaria condicionada: a) permissão legal em tal sentido; b) inexistência de norma prevendo a competência para a Justiça Comum; c) nessa última hipótese, superveniência de lei transferindo a competência para a Justiça do Trabalho.(LEITE, p. 192).

4.4.1. Entes de Direito Público Externo- “À primeira vista, nenhum Estado pode submeter outros Estados internacionais a seu direito interno, pois prevaleceria o princípio de que iguais não podem submeter iguais a seu mundo (par in parem nom habet imperium).”- Imunidade de Jurisdição e Imunidade de Execução.- O Estado deve indenizar os danos ou prejuízos que resultarem de seus atos. Questão de justiça e constitui regra de cortesia internacional (Comitas Gentium).- A partir de 1970, a European Convention on State Immunity and Additional Protocol alterou a idéia de imunidade, pois não se admite que o Estado a alegue quanto a obrigações que tenha que ser executadas no território de outro país, inclusive o contrato de trabalho.- Foreign Sovereign Immunities Act (Estados Unidos, 1976) e State Immunity Act (Reino Unido, 1978): ausência de imunidade em relação a atos de gestão.- Brasil: caso Genny de Oliveira versus Embaixada da República Democrática Alemã – “não há imunidade de jurisdição para o Estado estrangeiro, em causa de natureza trabalhista” (STF AC 9.696-3 – SP, Rel. Min. Sidney Sanches). Destaque: voto do Min. Francisco Rezek, especialista em direito internacional.- Antes da CF/88, a competência era da Justiça Federal.- Imunidade de Execução ainda deve ser observada.(MARTINS, p. 98/101).

4.4.2. Servidores de Cartórios Extrajudiciais- Servidores públicos lato sensu: competência da Corregedoria dos Tribunais de Justiça (entendimento dominante da jurisprudência).- CF/88, art. 236: “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”. (grifo nosso).- É competente a Justiça do Trabalho do Trabalho e não a Justiça Comum para resolver a pendência entre o cartório e seu funcionário (STF, Pleno, AC 69642/110, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 10-4-1992).

20

Page 21: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Lei 8935/94 (DOU 21-11-1994):

Art. 48. Os notários e os oficiais de registro poderão contratar, segundo a legislação trabalhista, seus atuais escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial desde que estes aceitem a transformação de seu regime jurídico, em opção expressa, no prazo improrrogável de trinta dias, contados da publicação desta lei.§ 1º Ocorrendo opção, o tempo de serviço prestado será integralmente considerado, para todos os efeitos de direito.§ 2º Não ocorrendo opção, os escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial continuarão regidos pelas normas aplicáveis aos funcionários públicos ou pelas editadas pelo Tribunal de Justiça respectivo, vedadas novas admissões por qualquer desses regimes, a partir da publicação desta lei.

- Para Sérgio Pinto Martins, quando a competência é fixada pela Constituição (art. 114), não se deve aplicar a lei ordinária.(MARTINS, p. 101/102).

4.5. Competência em Razão da Função (Competência Funcional)- “Concerne à distribuição das atribuições cometidas aos diferentes órgãos da Justiça do Trabalho, de acordo com o que dispõem a Constituição, as leis de processo e os regimentos internos dos tribunais trabalhistas” (LEITE, p. 194).

4.5.1. Varas do Trabalho- CLT, art. 652 (v.g. os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão do contrato individual de trabalho; os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice; os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho);CLT, art. 653 (v.g. julgar as exceções de incompetência que lhes forem opostas; exercer, em geral, no interesse da Justiça do Trabalho, quaisquer outras atribuições que decorram da sua jurisdição);- Processar e julgar Ação Civil Pública promovida pelo MPT ou associação sindical (LC 75/93, art. 83, III; Lei 7.347/85, art. 2º; Lei 8078/90, art. 93);- CF/88, art. 114 (ressalvadas as competências originais do TRT e TST).

4.5.2. Tribunais Regionais do Trabalho- CLT, arts. 678 e 679 (v.g. originariamente: mandados de segurança, ações rescisórias; última instância: ações rescisórias; turmas: recurso ordinário, agravo de petição e agravo de instrumento).

4.5.3. Tribunal Superior do Trabalho- Função: Uniformizar a jurisprudência trabalhista.

4.5.3.1. Pleno- CLT, art. 702; RITST, art. 70, exemplos:a) decidir sobre declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, quando aprovada a arguição pelas Seções Especializadas ou Turmas;b) aprovar, modificar ou revogar, em caráter de urgência e com preferência na pauta, Súmula da Jurisprudência predominante em dissídios individuais e os Precedentes Normativos da Seção de Dissídios Coletivos.

21

Page 22: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.5.3.2. Seção Administrativa- Competência prevista no art. 71 do RITST. Todavia, este dispositivo foi revogado pelo Ato Regimental 7/2005, que passou a tratar da matéria (v.g. julgar os recursos de decisões ou atos do Presidente do Tribunal em matéria administrativa; julgar os recursos interpostos das decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho em processo administrativo disciplinar envolvendo magistrado, estritamente para controle da legalidade).

4.5.3.3. Seção Especializada em Dissídios Coletivos - RITST, art. 72, exemplos:- originariamente: julgar os dissídios coletivos de natureza econômica e jurídica, situadas no âmbito de sua competência ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei;- última instância: os recursos ordinários interpostos contra as decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho em dissídios coletivos de natureza econômica ou jurídica.

4.5.3.4. Seção Especializada em Dissídios Individuais- RITST, art. 73, exemplos:- Pleno: julgar, em caráter de urgência e com preferência na pauta, os processos que contenham incidentes sobre a uniformização da jurisprudência em dissídios individuais, surgidos nas Turmas, nas Seções ou Subseções e que tenham determinado a suspensão de outros processos;- Subseção I (SBDI-1): julgar os embargos interpostos das decisões divergentes das Turmas, ou destas com decisão da Seção de Dissídios Individuais, com Orientações Jurisprudenciais ou com Súmula e, ainda, as que violarem literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República;- Subseção II (SBDI-2): originariamente: julgar as ações rescisórias propostas contra suas decisões e as das Turmas do Tribunal; única instância: julgar os conflitos de competência entre Tribunais Regionais e os que envolvam Juízes de Direito investidos da jurisdição trabalhista e Varas do Trabalho em processos de dissídios individuais; última instância: julgar os recursos ordinários interpostos contra decisões dos Tribunais Regionais em processos de dissídio individual de sua competência originária.

4.5.3.5. Turmas- CLT, art. 702, §2º.- RITST, art. 74:

I - os recursos de revista interpostos de decisão dos Tribunais Regionais do Trabalho nos casos previstos em lei;II - os agravos de instrumento dos despachos de Presidente de Tribunal Regional que denegarem seguimento a recurso de revista; eIII - os agravos e os agravos regimentais interpostos contra despacho exarado em processos de sua competência; eIV – os recursos ordinários em ação cautelar, quando a competência para julgamento do recurso do processo principal for atribuída à Turma.

22

Page 23: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4. COMPETÊNCIA TRABALHISTA – PARTE IV

4.6. Competência em Razão do Lugar- Estabelecida em lei federal que cria a Vara do Trabalho.- Objetivo: facilitar a propositura e produção de prova.

4.6.1. Local da Prestação do Serviço

“A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro” (grifo acrescentado - CLT, art. 651, caput).

- Vários locais de prestação de serviço: a) simultâneos – todos; b) sucessivos - último.- Prevalece a competência do lugar da prestação de serviço, ainda que não seja a localidade da residência do empregado (LEITE, p. 205).

4.6.2. Empregado Agente ou Viajante Comercial

“Quando for parte de dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Junta da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a localidade mais próxima” (grifo acrescentado - CLT, art. 651, §1º).

- O viajante deverá ser comercial: atividade de vendas.- Critérios: 1º) localidade da agência ou filial a que esteja subordinado o empregado; 2º) se não houver agência ou filial, localidade do domicílio ou a vara da localidade mais próxima.

4.6.3. Empregado Brasileiro que Trabalha no Estrangeiro

“A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário” (grifo acrescentado - CLT,art.651, §2º).

- Sérgio Pinto Martins entende que é indispensável que a empresa estrangeira tenha repartição no Brasil, sob pena de se inviabilizar a ação, pois a empresa poderá não querer se sujeitar à jurisdição brasileira. (MARTINS, p. 127).- Carlos Henrique Bezerra Leite discorda e afirma que a aceitação ou não da empresa estrangeira e os problemas operacionais com a sua citação são alheios à questão da competência (LEITE, p. 208).- O direito material a ser aplicado poderá ser o do país da prestação de serviços.

SÚMULA Nº 207 DO TST. CONFLITOS DE LEIS TRABALHISTAS NO ESPAÇO. PRINCÍPIO DA "LEX LOCI EXECUTIONIS” A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação. (Res. 13/1985, DJ 11.07.1985)

- A Lei 7064/1982 que, antes regulava a situação dos trabalhadores contratados no Brasil, ou transferidos por empresas prestadoras de serviços de engenharia (consultoria, projetos e obras, montagens, gerenciamento e congêneres) para prestar serviços no exterior, passou, com o advento da Lei 11962/2009, a regulamentar a situação de qualquer trabalhador contratado no Brasil ou transferido por seu empregador para prestar serviços no exterior.

23

Page 24: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.6.4. Empresas que Promovem Atividades Fora do Lugar da Celebração do Contrato

“Em se tratando de empregador que promova realização de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços” (grifo acrescentado - CLT, art. 651, §3º).

- Sérgio Pinto Martins argumenta que, por se tratar de exceção, o §3º do art. 651 da CLT deve ser interpretado restritivamente, sob pena de esvaziamento da regra geral prevista no caput. Assim, a norma se aplica ao “empregador que desenvolve suas atividades em locais incertos, transitórios ou eventuais”, tais como atividades circenses, auditorias, feiras reflorestamento, empresas de limpeza e de construção civil. (MARTINS, p. 128). Adota a corrente clássica.- Carlos Henrique Bezerra Leite adota interpretação teleológica no sentido de que a norma deve ser aplicada à empresa que realize atividades em locais diversos da contratação, pouco importando se a título permanente ou esporádico. Para ele “deve-se analisar a questão sob a perspectiva do alargamento do acesso ao Judiciário e, sobretudo, enaltecendo o princípio da economia processual, máxime quando não há prejuízo para defesa”. (LEITE, p. 209). Adota a chamada corrente moderna ou vanguardista.- O TST já prestigiou esta última corrente.- A respeito da interpretação do art. 651, §3º, da CLT, foi elaborado o Enunciado n. 07 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho realizada no TST:

“ACESSO À JUSTIÇA. CLT. ART. 651, §3º. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO. ART. 5º, INC. XXXV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Em se tratando de empregador que arregimente empregado domiciliado em outro município ou outro Estado da federação, poderá o trabalhador optar por ingressar com a reclamatória na Vara do Trabalho de seu domicílio, no do local da contratação ou na do local da prestação de serviços.”

4.7. Foro de Eleição- No Direito Processual do Trabalho não se admite o foro ou domicílio de eleição2, porque não haveria compatibilidade, conforme entendimento que prevalece na seara trabalhista.- Não haveria incompatibilidade ou impedimento para os sujeitos das relações de trabalho, autônomo, eventual, estagiário, avulso, cooperado etc, em vista do princípio da liberdade contratual. Logo, eles poderiam dispor do foro de eleição. (LEITE, p. 211).

4.8. Prorrogação de Competência- Haverá prorrogação da competência territorial quando houver aceitação, expressa ou tácita, do autor e do réu.- Interpretação sistemática e não literal do art. 795, §1º, da CLT3.

4.9. Conexão e Continência- A CLT é omissa e não há incompatibilidade: possibilidade de aplicação das regras do CPC.

2 Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. (CC/2002, art. 78).3 Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro. Nesse caso, serão considerados nulos os atos decisórios.

24

Page 25: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

4.10. Prevenção - No processo trabalhista não há despacho inicial. Então, qual seria o critério para prevenção?- Tostes Malta: 1º) data do recebimento da notificação; 2º) data da expedição pelo Correio; 3º) data da distribuição. José Augusto Rodrigues Pinto e Carlos H. B. Leite: Data do Protocolo (distribuição). Sérgio Pinto Martins menciona a existência de entendimentos no sentido de que é a realização da audiência que previne a jurisdição, mas, segundo ele, o mais correto é o critério da distribuição, vez que demonstra qual ação que foi proposta em primeiro lugar.

25

Page 26: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

ANEXO: COMPETÊNCIA TRABALHISTA

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHOInstrução Normativa 27(Resolução n° 126/2005 - DJ 22-02-2005)

EmentaDispõe sobre normas procedimentais aplicáveis ao processo do trabalho em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional nº 45/2004.

TextoArt. 1º As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por disciplina legal expressa, estejam sujeitas a rito especial, tais como o Mandado de Segurança, Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento.

Art. 2º A sistemática recursal a ser observada é a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho, inclusive no tocante à nomenclatura, à alçada, aos prazos e às competências.Parágrafo único. O depósito recursal a que se refere o art. 899 da CLT é sempre exigível como requisito extrínseco do recurso, quando houver condenação em pecúnia.

Art.3º Aplicam-se quanto às custas as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho.§ 1º As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão.§ 2º Na hipótese de interposição de recurso, as custas deverão ser pagas e comprovado seu recolhimento no prazo recursal (artigos 789, 789-A, 790 e 790-A da CLT).§ 3º Salvo nas lides decorrentes da relação de emprego, é aplicável o princípio da sucumbência recíproca, relativamente às custas.

Art. 4º Aos emolumentos aplicam-se as regras previstas na Consolidação das Leis do Trabalho, conforme previsão dos artigos 789-B e 790 da CLT.Parágrafo único. Os entes públicos mencionados no art. 790-A da CLT são isentos do pagamento de emolumentos. (acrescentado pela Resolução n° 133/2005)

Art. 5º Exceto nas lides decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência.

Art. 6º Os honorários periciais serão suportados pela parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária da justiça gratuita.Parágrafo único. Faculta-se ao juiz, em relação à perícia, exigir depósito prévio dos honorários, ressalvadas as lides decorrentes da relação de emprego.

Art. 7º Esta Resolução entrará em vigor na data da sua publicação.

Fonte: endereço eletrônico do TST (www.tst.jus.br).

26

Page 27: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

PRESCRIÇÃO NAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS POR ACIDENTES DO TRABALHO AJUIZADAS APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004

Sebastião Geraldo de Oliveira (4)

De acordo com o entendimento que está prevalecendo na doutrina e jurisprudência, nas ações indenizatórias por acidente do trabalho ajuizadas após a vigência da Emenda Constitucional n. 45/2004 deve-se aplicar a prescrição trabalhista(5). No entanto, o início da contagem do prazo prescricional poderá sofrer alguns ajustes de transição quando o acidente que dá suporte ao pedido de indenização tiver ocorrido antes da Emenda Constitucional mencionada.

Com efeito, se o dano indenizável ocorreu até 2004 mas a reclamação correspondente foi ajuizada após a vigência da EC n. 45, será necessária a observância de uma regra de transição quanto ao início da fluência do prazo prescricional, porquanto, em algumas hipóteses, a aplicação automática da prescrição trabalhista levaria a conclusão injusta, que molesta gravemente o valor da segurança jurídica.

Cita-se, como exemplo, a hipótese de um empregado que sofreu acidente do trabalho em setembro de 1992, mas só ajuizou a ação indenizatória em agosto de 2005. Um primeiro e superficial raciocínio poderia concluir que, se o ajuizamento ocorreu após a Emenda Constitucional n. 45/2004, o prazo da prescrição é o trabalhista e, sendo assim, a pretensão já estaria fulminada pela prescrição. Ora, o acidentado que até então dispunha do prazo de vinte anos para reclamar judicialmente a indenização, ou seja, até setembro de 2012, mesmo após a vigência do Código Civil de 2002 (art. 2.028), seria surpreendido com o pronunciamento imediato da prescrição trabalhista. Como poderemos afastar essa conclusão desarrazoada?

Sempre que ocorre a redução do prazo prescricional, é usual adotar regras transitórias, como fez o legislador do novo Código Civil no art. 2.028, para não surpreender o lesado.

Aliás, no campo do Direito do Trabalho há regra legal a respeito, que entendemos perfeitamente aplicável na hipótese em estudo. Trata-se do art. 916, da CLT, cujo enunciado preceitua:

“Os prazos de prescrição fixados pela presente Consolidação começarão a correr da data da vigência desta, quando menores do que os previstos pela legislação anterior”. Fazendo o devido ajustamento no teor desse antigo dispositivo, pode-se concluir que, se o prazo da

prescrição trabalhista, diante do caso concreto, implica redução do lapso temporal previsto no Código Civil, para os acidentes ocorridos antes da vigência da Emenda Constitucional n. 45/2004, somente deveremos iniciar a contagem da prescrição trabalhista a partir 1º de janeiro de 2005. Esse marco temporal deve ser considerado porque o STF no julgamento do Conflito de Competência n. 7.204 fixou entendimento de que a mudança da competência ocorreu com a promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004. A mudança do texto constitucional, mesmo sendo regra de natureza processual, teve o efeito prático de tornar visível a natureza jurídica da indenização por acidente do trabalho e a conseqüente prescrição aplicável. No exemplo acima mencionado, a prescrição trabalhista somente seria pronunciada a partir de 1º de janeiro de 2010 ou de 2007, dependendo da variável se o contrato de trabalho foi ou não extinto antes do ajuizamento.

Adotando essa linha de raciocínio, diante do caso concreto, ao analisar a prescrição para os danos provenientes dos acidentes ou doenças ocupacionais ocorridos até 31.12.2004, será imprescindível apurar tanto a prescrição civil que seria aplicável quanto a trabalhista. Se restar evidenciado que a prescrição trabalhista reduziu o lapso temporal da prescrição civil em curso, então a contagem do prazo daquela prescrição somente terá início a partir da vigência da Emenda Constitucional n. 45/2004, ou seja, 1º de janeiro de 2005. Essa conclusão, mutatis mutandi, está em sintonia com o Enunciado n. 50 adotado durante a I Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal, com o seguinte teor: "Art. 2.028: a partir da vigência do novo Código Civil, o prazo prescricional das ações de reparação de danos que não houver atingido a metade do tempo previsto no Código Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos termos da nova lei (art. 206)”.

Conclui-se, portanto, que a regra transitória de contagem de prazo, prevista no art. 916 da CLT, deverá ser aplicada nas ações indenizatórias por acidente do trabalho ou doenças ocupacionais sempre que, no caso concreto, a consumação da prescrição trabalhista ocorrer antes do tempo previsto pela regra do Código Civil. Nessa hipótese excepcional, o prazo da prescrição fluirá por inteiro a partir de 1º de janeiro de 2005, data da vigência da Emenda Constitucional n. 45/2004, e não desde a data da violação do direito.

Fonte: endereço eletrônico do TRT da 3ª Região (www.trt3.jus.br).

4 Sebastião Geraldo de Oliveira. Juiz do TRT da 3ª Região. 5 No nosso Livro intitulado “Indenizações por Acidentes do Trabalho ou Doenças Ocupacionais”, publicado pela Editora LTr, cuja 2ª Edição foi lançada recentemente abordamos com vagar as correntes doutrinárias a respeito da prescrição aplicável.

27

Page 28: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

5. PARTES E PROCURADORES

5.1. Partes

5.1.1. Conceito- “Em sentido processual parte é aquele que pede (autor) e em face de quem se pede (réu) a tutela jurisdicional” (NERY JÚNIOR e NERY, p. 369).- Equiparados: substituto processual, terceiros intervenientes, terceiro prejudicado, assistente simples. Ministério Público como custo legis é interveniente. Assistente simples é terceiro interveniente. Os auxiliares da justiça - perito, oficial de justiça, escrivão etc. - não são partes. (Ibidem).- Denominações: reclamação trabalhista – reclamante e reclamado (justificativa: origem da Justiça do Trabalho ou expressão de sua autonomia); execução – exequente e executado; dissídio coletivo – suscitante e suscitado; inquérito para apuração de falta grave – requerente e requerido; recurso – recorrente e recorrido; agravo – agravo e agravante; exceção – excipiente e exceto (ou excepto); embargo – embargante e embargado etc.

5.1.2. Litisconsórcio- Pluralidade de parte no polo ativo, no polo passivo ou em ambos. - Cumulação subjetiva de lides. - Reclamatória plúrima: “Sendo várias as reclamações e havendo identidade de matéria, poderão ser acumuladas num só processo, se se tratar de empregados da mesma empresa ou estabelecimento”. (CLT, art. 842).- Litisconsórcio Facultativo: Formação subordinada à vontade das partes (CPC, art. 46)- Litisconsórcio Necessário: Formação imposta por lei. - Litisconsórcio Unitário: Ocorre quando o pronunciamento do juízo tiver que ser igual para todos os litisconsortes. É autônomo em relação ao obrigatório, embora normalmente estejam juntos. - Para MARTINS (p. 207/208), “não há litisconsórcio necessário no processo do trabalho, pois mesmo no caso de empresas do mesmo grupo econômico, que são solidárias entre si quanto às dívidas de natureza trabalhista (§2o do art. 2o da CLT), não é preciso o chamamento de todas ao processo, pois este só se admitiria em relação às empresas secundárias quanto à principal. No entanto, qualquer empresa pode pagar o débito trabalhista da empresa do grupo, em razão dessa solidariedade, e de o empregador ser considerado o próprio grupo econômico”.

5.1.3. Capacidade de Ser Parte e Capacidade Processual- Capacidade de ser parte: “É decorrente da capacidade de direito, significando a aptidão para ser autor, réu ou interveniente em ação judicial. (...) Têm-na os que têm capacidade de direito. O incapaz tem capacidade de ser parte, mas não possui capacidade processual”. (NERY JUNIOR e NERY, p. 370).- Capacidade processual: “É pressuposto processual de validade (CPC 267 IV), sendo manifestação da capacidade de exercício no plano do direito processual. (...) Os incapazes devem ser representados ou assistidos, na forma da lei. Têm capacidade os que possuem capacidade plena de exercício”. (ibidem).- O ordenamento jurídico reconhece a capacidade para estar em juízo de alguns entes despersonalizados: espólio, massa falida, condomínio, sociedade sem personalidade, massa insolvente civil, órgãos públicos com prerrogativas próprias (ex.: Mesas do Legislativo).

28

Page 29: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Capacidade trabalhista: menor de 16 anos - incapacidade absoluta, salvo na condição de aprendiz e a partir de 14 anos; entre 16 e 18 anos - incapacidade relativa, podendo firmar recibos de salários, mas não termo de rescisão contratual, sendo imprescindível a assistência; maior de 18 anos - capacidade plena.- Representação: o representante manifesta a vontade do representado. Pode ser legal (CPC, art. 12) ou convencional (CLT, art. 843, § 1º).- Assistência: complementação da vontade do relativamente incapaz.- Preposto: deve ser necessariamente empregado, salvo quanto à reclamação de empregado doméstico ou contra micro e pequeno empresário (Súmula 377 do TST).- Sérgio Pinto Martins entende que o empregador doméstico poderá ser representado por qualquer membro da família e constituir outro empregado doméstico - v. g. mordomo, motorista, jardineiro - como seu preposto (MARTINS, p. 180).

5.1.4. Ius Postulandi- “Direito que a pessoa tem de estar em juízo, praticando pessoalmente todos os atos autorizados para o exercício do direito de ação, independentemente do patrocínio de advogado”. (MARTINS, p. 181).- Também conhecido por capacidade postulatória.- Está previsto nos artigos 791 e 839 da CLT.

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.§ 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.§ 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por advogado.

Art. 839 - A reclamação poderá ser apresentada:a) pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, e pelos sindicatos de classe;b) por intermédio das Procuradorias Regionais da Justiça do Trabalho.

- Corrente Clássica: O jus postulandi tem aplicação apenas no âmbito da Justiça do Trabalho. Para a interposição de Recurso Extraordinário (STF) ou Recurso Especial (STJ) é imprescindível o advogado.- Corrente Vanguardista: O jus postulandi se restringe às Varas do Trabalho e aos TRT's, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do TST. Consagrada pela Súmula 475 do TST.- Não haveria conflito entre o art. 791 da CLT e o art. 133 da CF/88, pois este reconhece a função de direito público exercida pelo advogado, não criando qualquer incompatibilidade com as exceções previstas em lei que permitem o ajuizamento pessoal.- Outras possibilidades: credor na ação de alimentos (Lei 5478/68, art. 2º); retificação do registro civil (Lei 6015/77, art. 109); declaração judicial de nacionalidade brasileira (Lei 818/49, art. 6º); juizados especiais até 20 salários mínimos (Lei 9099/95, art. 9º); pedido de revisão criminal (CPP, art. 623).

- Conforme STF:a) Não há necessidade de causídico para impetração de habeas corpus devido a sua natureza emergencial. Segundo o Min. Celso de Mello, a indispensabilidade do advogado refere-se à composição dos tribunais e participação em concursos para a magistratura.

29

Page 30: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

b) Suspensão do inciso I do art. 1o da Lei 8906/94, no que diz respeito à necessidade do advogado na Justiça do Trabalho e no juizado especial (ADI 1.127-8). Não é inconstitucional o art. 9o da Lei 9099/95 (ADI 1539).

- Quem detém o ius postulandi é o empregado ou o empregador. Por isso, o estagiário não pode postular em nome de um deles. Pode praticar atos não privativos da advocacia e nunca assinar petições e recursos sem a assistência do advogado.- Crítica: A ausência de advogado implica desequilíbrio na relação processual.(MARTINS, p. 181/185).

5.2. Representação por Procuradores Habilitados (Advogados)- No processo do trabalho a representação por advogado é facultativa.- A procuração poderá ser para o foro em geral (ad judicia) ou com poderes especiais: receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso (et extra).- O advogado poderá propor ação sem exibição da procuração, nos termos do art. 37 do CPC.

5.2.1. Mandato Tácito e Procuração Apud Acta- O mandato tácito dá-se pelo comparecimento da parte acompanhada de advogado à audiência e com aceitação dos atos praticados em seu nome e em sua presença pelo causídico. Há presunção da existência de mandato judicial.

SÚMULA Nº 164 DO TST. PROCURAÇÃO. JUNTADA - Nova redação - Res. 121/2003, DJ 21.11.2003 - O não-cumprimento das determinações dos §§ 1º e 2º do art. 5º da Lei nº 8.906, de 04.07.1994 e do art. 37, parágrafo único, do Código de Processo Civil importa o não-conhecimento de recurso, por inexistente, exceto na hipótese de mandato tácito.

OJ-SDI1-200. MANDATO TÁCITO. SUBSTABELECIMENTO INVÁLIDO. Inserida em 08.11.00 (inserido dispositivo, DJ 20.04.2005) É inválido o substabelecimento de advogado investido de mandato tácito.

OJ-SDI1-286. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRASLADO. MANDATO TÁCITO. ATA DE AUDIÊNCIA. CONFIGURAÇÃO (alterada) – Res. 167/2010, DEJT divulgado em 30.04.2010 e 03 e 04.05.2010 I - A juntada da ata de audiência, em que consignada a presença do advogado, desde que não estivesse atuando com mandato expresso, torna dispensável a procuração deste, porque demonstrada a existência de mandato tácito. II - Configurada a existência de mandato tácito fica suprida a irregularidade de-tectada no mandato expresso.

- O mandato tácito confere apenas poderes para o foro geral. Para a concessão de poderes especiais é necessário o mandato expresso.- “A procuração apud acta difere do mandato tácito. Apud tem sentido de ao pé, junto. Acta vem a ser os autos forenses. A procuração apud acta é a que é dada nos próprios autos ou registrada na ata de audiência. Tal procuração equipara-se à por instrumento público.” (MARTINS, p. 185).- Para a renúncia, o advogado deverá atender às disposições do art. 45 do CPC6.

6 O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para Ihe evitar prejuízo.

30

Page 31: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

5.2.2. Honorários Advocatícios na Justiça do Trabalho- Nas relações de emprego, os honorários advocatícios não são devidos pela mera sucumbência: a parte deve estar assistida por sindicato da categoria profissional e ser beneficiária da gratuidade da justiça (Súmulas 219 e 329 do TST).- Com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho, o entendimento predominante é que nas demais relações de trabalho ou demandas, são devidos honorários advocatícios pela mera sucumbência. (Instrução Normativa 27/05, art. 5º).

5.3. Assistência jurídica, Assistência Judiciária e Justiça Gratuita- Apesar de serem utilizados indistintamente como sinônimos, possuem significados diferentes.- Assistência jurídica está prevista no art. 5º, LXXIV, da CF/88: abrange atividades judiciárias e extrajudiciárias. Constitui um plus em relação à assistência judiciária. - Assistência judiciária: patrocínio gratuito da causa por advogado.- Justiça gratuita: isenção de pagamento de custas e despesas processuais.- Na Justiça do Trabalho a assistência judiciária a que se refere a Lei 1060/50 será prestada pelo sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador (Lei 5584/70, art. 14).- A gratuidade da justiça está prevista no § 3º do art. 790 e no art. 790-B da CLT:

Art. 790 (...)§ 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Art. 790-B. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária de justiça gratuita.

5.4. Sucessão Processual- Não se confunde com substituição processual (legitimação extraordinária).- Alteração do polo ativo ou passivo no decorrer da relação processual.- Empregado é sucedido pela viúva e filhos (certidão do INSS comprovando a dependência - Lei 6858/80).- Empregador:a) pessoa jurídica - sucessão de empresas (artigos 10 e 448 da CLT).b) pessoa física - espólio representado pelo(a) inventariante.

31

Page 32: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

5.5. Substituição Processual- “Consiste a substituição processual numa legitimação extraordinária, autorizada pela lei, para que alguém pleiteie em nome próprio, direito alheio em processo judicial”. (MARTINS, p. 197).- Diferenças: a) Representação processual - não é parte, atua em nome alheio e defende direito de outrem. b) Sucessão processual - o sucessor defende direito próprio.- Casos de substituição processual pelo sindicato: adicional de insalubridade ou periculosidade (CLT, art. 195, §2º), ação de cumprimento (CLT, art. 872, parágrafo único), correção salarial (Leis 6708/79, 7238/84, 7788/89, 8073/90 e MP 190/90), recolhimento do FGTS (Lei 8036, art. 25). - Sérgio Pinto Martins entende que a previsão do inciso III do art. 8o da CF/88 trata-se de legitimação ordinária por determinação constitucional. - O STF entende, contudo, que o referido dispositivo legal contém hipótese de substituição processual, ampliando consideravelmente a atuação do sindicatos.

32

Page 33: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

6. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

6.1. Conceito- “Dá-se a intervenção de terceiros quando uma pessoa ou ente, não sendo, originariamente, parte na causa, nela ingressa para defender seus próprios interesses ou os de um das partes primitivas da relação processual.” (LEITE, p. 318).- Omissão da CLT: aplicação supletiva do CPC. Entretanto, existe acirrada cizânia doutrinária e jurisprudencial sobre o cabimento da intervenção de terceiros no processo do trabalho.

6.2. Classificação- A intervenção de terceiros pode ser:a) Provocada - É aquela em que uma das partes originais provoca o incidente. Ex.: chamamento ao processo e nomeação à autoria.b) Espontânea ou voluntária - Aqui o próprio terceiro, independentemente de provocação, requer ao juiz a intervenção no feito. Ex.: oposição e embargos de terceiros.c) Ad coadjuvando - Dá-se quando um terceiro auxilia uma das partes. Ex.: assistência simples.d) Ad excludendum - Ocorre quando o terceiro pretende a exclusão de uma ou de ambas as partes. Ex.: nomeação à autoria e oposição. (LEITE, p. 319).

6.3. Tipologia

6.3.1. Assistência- Previsão: CPC, arts. 50 a 55. Apesar de não localizada na seção reservada à intervenção de terceiros, é pacífico o entendimento de que a assistência trata-se de uma de suas modalidades. Para ser aceita, é indispensável a demonstração do interesse jurídico (Súmula 82/TST).- A assistência pode ser simples (ou adesiva) ou litisconsorcial.- Assistência simples: prevista no art. 50 do CPC: "Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la."- Assistência litisconsorcial (art. 54 do CPC): “Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.”.- Assemelha-se a uma espécie de litisconsórcio facultativo, na medida em que o assistente litisconsorcial poderia, desde o início, participar da relação processual.- Diferenças apontadas por Cláudio Armando Couce de Menezes (apud LEITE, p. 320/321):

a) na assistência simples, a relação jurídica é com o assistido e na assistência litisconsorcial é com a parte contrária à do assistido;b) na assistência litisconsorcial, o direito é tanto do assistido quanto do assistente; já na assistência simples o direito é somente do assistido;c) na assistência litisconsorcial, não se aplica o dispositivo no art. 53 do CPC, pois o assistente litisconsorcial poderá se opor à desistência do assistido, à procedência do pedido, à transação e ao acordo, porque ele é parte, é litisconsorte;d) o assistente coadjuvante não pode assumir, em face do pedido, posição diversa da do assistido; o assistente litisconsorcial pode fazê-lo;e) a assistência simples cessa nos casos em que o processo termina por vontade do assistido (art. 53); a litisconsorcial possibilita a defesa do interveniente, mesmo que a parte originária tenha desistido, transacionado ou reconhecido.

33

Page 34: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

6.3.2. Oposição- Prevista no art. 56 do CPC: "Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos".- Para Carlos Henrique Bezerra Leite, a oposição trata-se de uma ação incidental ao processo de conhecimento. Esse caráter é extraído do art. 57, parágrafo único, do CPC. Se há processo principal entre o autor e réu, haverá entre o opoente e opostos um processo acessório. (LEITE, p. 322).- Para o referido autor há uma relação entre oposição e embargos de terceiro. Ambos são processos incidentes, instaurados por meio de ação. Ressalva apenas quanto ao formalismo: nos embargos de terceiro há formação de novos autos; na oposição, as duas relações processuais ocorrem nos mesmos autos. Os embargos de terceiro cabem em qualquer processo; a oposição não cabe no processo de execução, porque só tem lugar antes da sentença, conforme art. 56 do CPC. (LEITE, p. 322/323).

6.3.2.1. Cabimento no Processo do Trabalho- Além do retardamento na prestação jurisdicional, outro entrave para o cabimento da oposição no processo do trabalho é a incompetência da Justiça do Trabalho para julgar a demanda trazida pela oposição.- Tostes Malta, citado por Sérgio Pinto Martins, oferece o seguinte exemplo: empregador ajuíza ação contra um empregado para reaver determinado mostruário de vendas, mas um terceiro (outro empregado) se opõe ao direito controvertido na ação principal, entre o empregado e o empregador, alegando que é dele o mostruário. Se houver contestação à oposição, surgirão duas demandas: uma entre o opoente e o empregador e outra entre o opoente e empregado. Para essa segunda relação, a Justiça do Trabalho seria incompetente (questão de direito real).Se houver reconhecimento do pedido pelo empregado da relação processual principal, a oposição passará a ser considerada ação comum, entre empregado e empregador. Mas aqui não se pode falar numa situação semelhante à oposição. Em face disso, Sérgio Pinto Martins entende que a oposição é inaplicável ao processo do trabalho, salvo quando se tratar de dissídio coletivo a respeito de disputa intersindical, nos termos do art. 114 da Constituição Federal. (MARTINS, p. 210/211). Carlos Henrique B. Leite também entende difícil a oposição na seara do processual do trabalho (LEITE, p. 323).

6.3.3. Nomeação à Autoria- Regulada nos arts. 62 a 69 do CPC. Verifica-se apenas no processo de conhecimento.- Registre-se o magistério do Prof. Carlos Henrique Bezerra Leite (p. 324):

A nomeação à autoria ocorre quando o possuidor ou detentor de determinada coisa alheia nomeia o proprietário ou o possuidor indireto desta, a fim de evitar as consequências processuais pertinentes. Numa palavra, a finalidade da nomeação à autoria é corrigir a legitimação ad causam, a fim de que o réu, parte ilegítima, seja substituído pelo nomeado à autoria, que assume a titularidade passiva da demanda.

- Sérgio Pinto Martins registra que há orientação de que a nomeação não seja aplicável ao processo do trabalho. Assim, “aquele contra quem se ingressou com ação na Justiça do Trabalho, v.g., o gerente da empresa, não poderá nomear à autoria o verdadeiro empregador. Na verdade, será parte ilegítima no polo passivo da ação, devendo processo ser extinto sem resolução de mérito (art. 267, VI, do CPC), que inclusive pode ser decretado de ofício pelo julgador (art. 295, II, c/c art. 301, § 4º, do CPC).” (MARTINS, p. 211).

34

Page 35: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Quanto à aplicabilidade no processo do trabalho, oportunas as palavras de Cláudio Armando Couce de Menezes, no sentido de que “nomeação à autoria se restringe a direitos sobre bens móveis e imóveis, ou seja, direitos reais sobre coisas alheias e de garantia, propriedade, posse ou indenização de danos causados aos bens, de modo que não tem aplicação alguma no Direito do Trabalho, que é fundado no direito obrigacional”. (apud LEITE, p. 324/325).

6.3.4. Denunciação da Lide - Prevista nos arts. 70 a 76 do CPC.- O Ministro Sydney Sanches, citado por Sérgio Pinto Martins, conceitua denunciação da lide como a “ação incidental proposta por uma das partes (da ação principal), em geral contra terceiro, pretendendo a condenação deste à reparação de prejuízo decorrente de sua eventual derrota na causa, seja pela perda da coisa (evicção), seja pela perda de sua posse direta, seja por lhe assistir direito regressivo previsto em lei ou em contrato (relação jurídica de garantia)”. (MARTINS, p. 212).- Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, apenas as hipóteses previstas nos incisos I e II do art. 70 do CPC é que seriam realmente obrigatórias, sendo facultativa na hipótese do inciso III desse dispositivo legal. (LEITE, p. 325).

6.3.4.1. Cabimento no Processo do Trabalho- As hipóteses previstas nos incisos I e II do art. 70 do CPC, por envolverem, respectivamente, de direito de evicção e direito das coisas (proprietário, possuidor indireto, usufrutuário, credor pignoratício, locatário) não cabem no processo laboral. Há controvérsia quanto ao inciso III do art. 70 do CPC.- Como exemplo de denunciação da lide, cita-se o art. 455 da CLT, que trata da responsabilidade subsidiária do empreiteiro em relação aos débitos trabalhistas não adimplidos pelo subempreiteiro. Admitida a denunciação da lide, haveria duas demandas: uma entre o empregado e a empresa (empreiteiro) e outra entre esta e a subempreiteira.- Carlos Henrique Bezerra Leite entende incabível a denunciação da lide no presente caso, pois a Justiça do Trabalho não teria competência para dirimir a segunda lide, entre duas empresas. E pondera o referido autor: “Ora, a competência da Justiça do Trabalho, desenhada no art. 114 da CF/88, com a nova redação dada pela EC n. 45/2004, concerne apenas às lides entre empregado e empregador (relação de emprego) ou entre trabalhador e tomador de seu serviço (relação de trabalho), inexistindo previsão na CF ou lei para a Justiça do Trabalho processar e julgar as ações entre tomadores de serviço”. (LEITE, p. 326).- Sérgio Pinto Martins, após expor diversas razões, conclui que “é inaplicável a denunciação da lide, tal qual prevista no CPC, no processo do trabalho”. (MARTINS, p. 216).

6.3.4.2. “Factum Principis”- Está previsto no art. 486 da CLT.- O factum principis também é apontado pela doutrina como exemplo de denunciação da lide no processo do trabalho.- Na verdade, o art. 486 da CLT faz menção expressa ao chamamento à autoria, modalidade de intervenção de terceiros prevista no CPC de 1939, que correspondia à denunciação da lide romana, que não se assemelha às hipóteses do art. 70 do CPC de 1973 (teoria germânica), tendo por base fundamental a evicção e objetivo principal era notificar o denunciado para que promovesse a defesa do denunciante.- A esse respeito, conclui o Prof. Sérgio Pinto Martins: "Nas hipóteses do art. 70 do CPC, o procedimento é totalmente diverso, e não se assemelha ao art. 486 da CLT. Logo, não estamos diante da figura processual da denunciação da lide." ( p. 217).

35

Page 36: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

6.3.5. Chamamento ao Processo- Está regulamentado nos arts. 77 a 80 do CPC.- “Trata-se de intervenção facultada ao réu para solicitar ao juiz que seja convocado para integrar a lide, como seus litisconsortes, o devedor principal ou os co-responsáveis ou coobrigados solidários que deverão responder pelas obrigações correspondentes.” (LEITE, p. 327).- Carlos Henrique Bezerra Leite, acompanhando Cláudio Armando Couce de Menezes, diferencia a litisdenunciação e o chamamento ao processo, pois, na primeira, o terceiro não tem qualquer vínculo ou obrigação com a parte contrária da ação principal; e, no segundo, todas as pessoas aludidas no art. 77 do CPC estão vinculadas à parte contrária. (LEITE, p. 328). O referido doutrinador (ibidem) ainda assevera:

Nos domínios do processo do trabalho, a única hipótese plausível de cabimento do instituto sob exame é a prevista no inciso III do art. 77 do CPC. Os exemplos mais aceitos são os seguintes: a) “grupo

empresarial”, também chamado de “solidariedade de empregadores”, consubstanciado no art. 2o, § 2o, da CLT; b) condomínio residencial que não possui convenção devidamente registrada, situação em que o condômino demandado pode chamar ao processo os demais condôminos como co-responsáveis pelas obrigações trabalhistas; c) sociedade de fato irregularmente constituída, na qual todos os sócios são solidariamente responsáveis pelas obrigações trabalhistas.

- Opinião diversa é a do Prof. Sérgio Pinto Martins:

Entendo, ao contrário da responsável orientação de Manoel Antonio Teixeira Filho (1991:238), que não se pode fazer um temperamento ou adaptação do instituto do chamamento ao processo previsto no CPC para o processo do trabalho sob pena de termos de fazê-lo também em relação à nomeação à autoria, à oposição e à denunciação da lide, o que desnaturaria os referidos institutos do processo civil no processo do trabalho, que tem condições e circunstâncias, muitas vezes, totalmente distintas. Na verdade, a sentença trabalhista proferida não valerá como título executivo em relação ao chamado e a quem o chamou no processo, pois será preciso que a ação de regresso seja ajuizada na Justiça Comum. (MARTINS, p. 218).

6.4. Conclusões- Segundo Sérgio Pinto Martins, apenas a assistência e a oposição em dissídio coletivo seriam intervenções de terceiros aplicáveis ao processo do trabalho. Prossegue o referido autor, afirmado que, na prática, acontece um reforço do polo passivo da ação, que poderá ser determinado de ofício pelo juiz, antes da instrução do feto, com fundamento no poder geral de direção do processo (CLT, art. 765) e não com base nos artes. 62, 70 e 77 do CPC. (MARTINS, p. 218).

36

Page 37: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

7. ATOS, TERMOS E PRAZOS PROCESSUAIS

7.1. Atos Processuais- Atos processuais são os acontecimentos voluntários que ocorrem no processo. (LEITE, p. 264).- Regulamentação: CPC, arts. 154 a 261; CLT, arts. 770 a 782.- Regra geral: Os atos processuais são públicos. Exceções: interesse público ou intimidade. (CF/88, art. 5º, LX; e art. 93, IX).- Realização dos atos processuais: Dias úteis, das 6 às 20 horas (CLT, art. 770). A penhora poderá ser realizada em domingo ou feriado, mediante autorização expressa do juiz (CLT, art. 770, parágrafo único). Equivalência: CPC, art. 172.- Forma dos atos processuais: A tinta, datilografados ou a carimbo (CLT, art. 771).- A Lei n. 9.800/99 permite a utilização de fac-símile ou afim para a prática de atos processuais. Aplicação: Súmula 387/TST.

RECURSO. FAC-SÍMILE. LEI Nº 9.800/1999 (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 194 e 337 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005I - A Lei nº 9.800/1999 é aplicável somente a recursos interpostos após o início de sua vigência. (ex-OJ nº 194 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000)II - A contagem do quinquídio para apresentação dos originais de recurso interposto por intermédio de fac-símile começa a fluir do dia subsequente ao término do prazo recursal, nos termos do art. 2º da Lei nº 9.800/1999, e não do dia seguinte à interposição do recurso, se esta se deu antes do termo final do prazo. (ex-OJ nº 337 da SBDI-1 - primeira parte - DJ 04.05.2004)III - Não se tratando a juntada dos originais de ato que dependa de notificação, pois a parte, ao interpor o recurso, já tem ciência de seu ônus processual, não se aplica a regra do art. 184 do CPC quanto ao "dies a quo", podendo coincidir com sábado, domingo ou feriado. (ex-OJ nº 337 da SBDI-1 - "in fine" - DJ 04.05.2004)

- A proibição de lançar cotas marginais ou interlineares, prevista no art. 161 do CPC, é aplicável ao processo do trabalho. (LEITE, p. 265).

7.1.1. Comunicações: Notificação, Citação e Intimação.- No processo do trabalho, a expressão “notificação” abrange a citação e a intimação.- Espécies de notificação: a) por postagem; b) pessoalmente, por intermédio de Oficial de Justiça ou do Diretor da Secretaria; c) por publicação do edital no Diário Oficial ou no órgão que publicar o expediente da Justiça do Trabalho; d) por afixação do edital na sede do juízo ou Tribunal. (LEITE, p. 266).- “Tratando-se de notificação postal, no caso de não ser encontrado o destinatário ou no de recusa de recebimento, o Correio ficará obrigado, sob pena de responsabilidade do servidor, a devolvê-la, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Tribunal de origem.” (Parágrafo único do art. 774 da CLT). Interpretação do TST (Súmula 16): "Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua postagem. O seu não-recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo constitui ônus de prova do destinatário." - Para Carlos Henrique Bezerra Leite, todos os meios lícitos são admissíveis para derrubar a presunção referida no verbete supracitado (LEITE, p. 266).- “No processo do trabalho, não há necessidade de que a intimação seja pessoal, bastando que seja entregue no endereço indicado ou na Caixa Postal. Assim, não se observa o parágrafo único do art. 223 do CPC, que determina que a citação deve ser recebida pelo próprio demandado ou por pessoa com poderes de gerência ou administração, diante da regra contida no art. 774 da CLT.”

37

Page 38: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- Também não se aplica ao processo do trabalho o disposto no inciso I do art. 241 do CPC, pois o art. 774 da CLT declara que os prazos são contados a partir da data em que for feita pessoalmente ou recebida a notificação.(MARTINS, p. 149).- Sérgio Pinto Martins concorda com o entendimento de Wagner Giglio no sentido de que “o prazo de cinco dias estabelecido no art. 841, in fine, é fixado para a marcação da audiência, e não para o preparo da defesa”. Todavia, aquele autor registra que o entendimento predominante nos Tribunais Trabalhistas é no sentido de que o reclamado deve ter pelo menos 5 dias para preparar a defesa e obter documentos. Aduz, também, que, como no processo do trabalho a citação é postal, a parte terá que indicar que recebeu a citação nas hipóteses do art. 217 do CPC e pleitear a nulidade. Por fim, afirma que se o correio devolver a notificação após já decretada a revelia do reclamado, o juiz deverá anular o processo a partir da sentença e proceder nova citação (MARTINS, p. 156). - “Se o reclamado for citado por edital e ocorrer a revelia, não é preciso ser nomeado curador especial para o revel, pois não se aplica o inciso II do art. 9º do CPC. A CLT explicita que somente no caso do art. 793 é que se dará curador especial. Inexistindo omissão na CLT, não se aplica o inciso II do art. 9º do CPC.” (MARTINS, p. 157/158).- Em relação às comunicações por carta (Precatória, Rogatória e De Ordem), aplicam-se supletivamente as normas previstas no CPC (arts. 200 a 212) e legislação processual extravagante. Observação: Após a EC 45/04, passou a ser da competência do STJ para a concessão do exequatur às cartas rogatórias (CF/88, art. 105, I, “i”).

7.2. Termos Processuais- “Redução a escrito de certos atos processuais praticados nos autos de um processo.” (MARTINS, p. 147).- Termo é a reprodução gráfica do ato processual.- Os registros processuais devem ser feitos de forma indelével.- Os atos processuais devem ser assinados pelas partes interessadas.

7.3. Prazos Processuais- Prazo processual corresponde ao lapso de tempo para prática ou abstinência do ato processual. (LEITE, p. 267).- Nos termos do Decreto-Lei n. 779/69, a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as autarquias ou fundações de direito público federais, estaduais ou municipais que não explorem atividade econômica têm o quádruplo do prazo previsto no art. 841, in fine, da CLT (20 dias) e em dobro para recorrer (regra geral: 16 dias).- Para Sérgio Pinto Martins, o referido decreto-lei não foi recepcionado pela CF/88. Referido autor também entende que a disposição de prevista no §5º do art. 5º da Lei n. 1060/50 (intimação pessoal e prazo em dobro para o Defensor Público) não tem aplicação no processo do trabalho, porque neste a notificação não é pessoal, existe o ius postulandi e a assistência judiciária é regulamentada por outro diploma, a Lei n. 5584/70. (MARTINS, p. 151/152).- Não se aplica o art. 191 do CPC no processo do Trabalho.

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 310 DA SBDI-1 DO TST.LITISCONSORTES. PROCURADORES DISTINTOS. PRAZO EM DOBRO. ART. 191 DO CPC. INAPLICÁVEL AO PROCESSO DO TRABALHO. DJ 11.08.03A regra contida no art. 191 do CPC é inaplicável ao processo do trabalho, em decorrência da sua incompatibilidade com o princípio da celeridade inerente ao processo trabalhista.

38

Page 39: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

7.3.1. Espécies de Prazos- Classificação ofertada por Marcelo Abelha Rodrigues (apud LEITE, p. 267/269):- Quanto à origem: a) legais – fixados por lei (ex.: interposição de recurso); b) judiciais – fixados pelo juiz (ex.: apresentação de laudo técnico); c) convencionais – objeto de acordo entre as partes (ex.: suspensão do processo para tentativa de acordo – CPC, art. 265, II).- Quanto à natureza: a) dilatórios – decorrem de normas de natureza dispositiva e permitem a prorrogação; b) peremptórios (fatais ou improrrogáveis) – decorrem de normas de natureza cogentes, imperativas ou de ordem pública.- Quanto aos destinatários: a) próprios – destinados às partes e informados pelo fenômeno da preclusão; b) impróprios – destinados aos juízes e servidores do Poder Judiciário e não são atingidos pela preclusão.

7.3.2. Contagem de Prazos- “A contagem dos prazos no processo do trabalho é feita com base nos arts. 774 e 775 da CLT, aplicando-se as regras supletivas dos arts. 177 e seguintes do CPC, quando isso não implicar incompatibilidade com a principiologia do processo especializado.” (LEITE, p. 269).- É preciso distinguir dois momentos. O primeiro é designado início do prazo e ocorre quando o interessado toma ciência do ato processual. Porém, esse dia não se computa no prazo – “dies a quo non computatur in termino”. O segundo momento corresponde ao início da contagem e ocorre no dia seguinte ao do início do prazo, sendo que o dia final é computado – “dies ad quem computatur in termino”.- Exemplos: a) notificação por publicação – Se a publicação é realizada no dia 10.5.2002 (sexta-feira), o início do prazo ocorre no dia 10.5.2002 e o da sua contagem no dia 13.5.2002 (segunda-feira); b) notificação postal – Se a notificação postal é expedida no dia 10.5.2002 (sexta-feira), presume-se o seu recebimento 48 horas depois (na prática contam-se 2 dias úteis), ou seja, no dia 14.5.2002 (terça-feira). A contagem do prazo inicia-se no dia 15.5.2002 (quarta-feira).(LEITE, p. 270/271).- Os prazos não têm início nem término em dia de sábado, domingo ou feriado, prorrogando-se para o primeiro dia útil seguinte (inteligência das Súmulas 1 e 262/TST e Súmula 310/STF).

7.4. Suspensão e Interrupção de Prazos- Em face da omissão da CLT, aplica-se ao processo do trabalho, de forma supletiva, as disposições do CPC, com as devidas adaptações. (LEITE, p. 271).- Na suspensão, a contagem do prazo é paralisada e recomeça de onde parou quando cessada a causa suspensiva. Já na interrupção, cessada a causa interruptiva, o prazo é integralmente devolvido à parte.- Apesar de a Lei 5.010/66, art. 62, I, prever expressamente que “os dias compreendidos entre 20 de dezembro e 6 de janeiro” serão feriados na Justiça Federal, há divergência em sua interpretação, pois para uns o referido recesso trata-se de mero feriado; enquanto para outros o recesso suspende a contagem do prazo processual, aplicando-se por analogia o art. 179 do CPC, que trata das férias forenses. (LEITE, p. 272/273).- O entendimento que prevalece é de que os prazos ficam suspensos durante o período de recesso (20.12 a 06.01), conforme Súmula 262/TST e regimentos internos dos tribunais.- No âmbito do TRT da 3ª passou a ser comum a prorrogação desse período de suspensão, em atendimento a requerimento da OAB-MG.

39

Page 40: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

8. NULIDADES PROCESSUAIS

8.1. Noções Gerais- Há dois sistemas que tratam sobre nulidades processuais:1) Sistema do absolutismo da lei – Adotado anteriormente na França. Conhecido pela máxima “la forme emporte le fond”. Um ato que não observasse a determinação da lei anulava todo o processo. 2) Sistema da equidade (ou Sistema Alemão) – Ficaria a critério do juiz a análise se o ato acarretaria ou não nulidade pela inobservância da forma prevista em lei. - No Brasil adotou-se o sistema francês e, em parte, o sistema alemão, na medida em que a lei determinada que o juiz, ao pronunciar a nulidade, esclareça a partir de que momento o processo é nulo.(MARTINS, p. 162).

8.2. Definição- Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, “a nulidade de um ato significa o estado em que se encontra em determinada fase do processo e que pode privá-lo de produzir efeitos ou destruir os efeitos já produzidos”. (LEITE, p. 275). E pontifica o referido autor:

É importante destacar que alguns atos processuais, embora nulos continuam produzindo efeitos, sendo portanto, necessário o ajuizamento de ação própria para que deixem de produzir tias efeitos. É o que se dá, por exemplo, com a sentença (ato processual) definitiva proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente que produz todos os efeitos até que seja desconstituída por ação rescisória. (LEITE, p. 275/276).

- Para Sérgio Pinto Martins, “nulidade é a sanção determinada pela lei, que priva o ato jurídico de seus efeitos normais, em razão do descumprimento das formas mencionadas na norma jurídica.” (MARTINS, p. 161).

8.3. Classificação- As nulidades processuais diferem-se das nulidades de direito material. No direito civil haveria os atos nulos e os atos anuláveis. No Direito do Trabalho, quanto aos atos anuláveis, divergem os doutrinadores, sendo que para os atos nulos há previsão expressa no art. 9º da CLT7. No Direito Processual (Civil ou Trabalhista) as nulidades estariam classificadas em atos nulos, anuláveis e inexistentes.- Os vícios processuais podem ser agrupados em 4 (quatro) grupos:a) meras irregularidades sem consequências – Ex.: uso de abreviaturas;b) irregularidades com sanções extraprocessuais – Ex.: juiz retarda prática de algum ato;c) irregularidades que acarretam nulidades processuais – A depender da gravidade, as nulidades podem ser absolutas ou relativas;d) irregularidades que acarretam a inexistência do ato processual – Ex.: sentença sem assinatura e hipótese do parágrafo único do art. 37 do CPC8.

7 Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.8 Art. 37.Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz.

Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos.

40

Page 41: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- As nulidades podem ser:a) sanáveis (nulidade relativa ou anulabilidade) – Dependem de provocação para ser reconhecidas e não podem ser pronunciadas de ofício pelo juiz. Ex.: incompetência relativa.b) insanáveis (nulidade absoluta ou inexistência) – Não dependem de provocação, podendo ser pronunciadas de ofício pelo juiz. Ex.: carência de ação.(LEITE, p. 275/277). - Sérgio Pinto Martins aponta 5 (cinco) vícios processuais: Inexistência, Nulidade absoluta, Nulidade relativa, Anulabilidade e Irregularidades, sendo sanáveis os três últimos e insanáveis os dois primeiros. Referido autor diferencia nulidade relativa de anulabilidade, pois esta é “decorrente de violação de norma dispositiva”, enquanto aquela ocorre “quando o interesse da parte for desrespeitado e norma descumprida tiver por base o interesse da parte e não o interesse público”. Quanto às irregularidades, as subdivide em duas hipóteses: 1ª) as que podem ser corrigidas – ex.: inexatidão material ou erro de cálculo (CPC, art. 463, I; CLT, art. 833); e 2ª) as que não podem, ou não necessitam de correção – ex.: sentença concisa, mas que possui relatório, fundamentação e dispositivo.(MARTINS, p. 163/164).

8.4. Princípios- A CLT tem previsão expressa quanto às nulidades (arts. 794 a 798). Por isso a aplicação do CPC (arts. 243 a 250) somente poderá ocorrer de forma subsidiária.

8.4.1. Princípio da Instrumentalidade das Formas- “É aquele segundo o qual, quando a lei prescrever que o ato tenha determinada forma, sem cominar nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.” (LEITE, p. 277).- Está consagrado nos arts. 154 e 244 do CPC.

Art. 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.Parágrafo único. Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP - Brasil. (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)

Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

- Também é possível constatá-lo nos arts. 795; 796, a; e 798, da CLT.

Art. 795 - As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos.

Art. 796 - A nulidade não será pronunciada: a) quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato;

Art. 798 - A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele dependam ou sejam consequência.

41

Page 42: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

8.4.2. Princípio do Prejuízo ou da Transcendência- “O princípio do prejuízo, também chamado de princípio da transcendência, está intimamente ligado ao princípio da instrumentalidade da forma. Significa que não haverá nulidade sem prejuízo às partes interessadas.” (LEITE, p. 280).- Inspirado no sistema francês: “pas de nullité sans grief”.- O prejuízo deve ser sempre de natureza processual.- Este princípio está expresso no art. 794 da CLT.

Art. 794 - Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes.

8.4.3. Princípio da Convalidação ou da Preclusão- Segundo esse princípio, se a parte não suscitar a nulidade na primeira oportunidade, haverá convalidação do ato.- Não se aplica às nulidades absolutas.- Consagrado no art. 795 da CLT.

Art. 795 - As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos.§ 1º - Deverá, entretanto, ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro. Nesse caso, serão considerados nulos os atos decisórios.§ 2º - O juiz ou Tribunal que se julgar incompetente determinará, na mesma ocasião, que se faça remessa do processo, com urgência, à autoridade competente, fundamentando sua decisão.

- A interpretação do § 1º do art. 795 deve ser lógica ou teleológica e não literal. Por isso a palavra “foro” deve ser entendida como “justiça”, “foro trabalhista”, “competência material”. (LEITE, p. 282/283).

8.4.4. Princípio da Economia Processual- Implicitamente contido no art. 796, a, da CLT e Consagrado no art. 797 da CLT e no art. 249 do CPC. (LEITE, p. 284).

Art. 796 - A nulidade não será pronunciada: a) quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato;

Art. 797 - O juiz ou Tribunal que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.

Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.§ 1o O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.§ 2o Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.

8.4.5. Princípio do Interesse- “A parte tem o ônus de demonstrar manifesto prejuízo ao seu direito de demandar em juízo, mas somente estará autorizada a arguir a nulidade do ato se, e somente se, não concorreu direta ou indiretamente para a ocorrência da irregularidade.” - Previsto no art. 796, b, da CLT.

Art. 796 - A nulidade não será pronunciada: a) quando arguida por quem lhe tiver dado causa.

42

Page 43: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- “Corolário9 do princípio geral do direito que não admite que alguém obtenha vantagem valendo-se de sua própria torpeza”.- Alcança apenas as nulidades relativas.(LEITE, p. 285/286).

8.4.6. Princípio da Utilidade- Decorrente do princípio da economia processual.- Os atos válidos anteriores à nulidade não são maculados nem aqueles que dela não sejam dependentes.- Consagrado no art. 798 da CLT.(LEITE, p. 287).

Art. 798 - A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele dependam ou sejam consequência.

8.5. Disposições do CPC relativas às nulidades processuais

Art. 243. Quando a lei prescrever determinada forma, sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa.Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão.Parágrafo único. Não se aplica esta disposição às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão, provando a parte legítimo impedimento.Art. 246. É nulo o processo, quando o Ministério Público não for intimado a acompanhar o feito em que deva intervir.Parágrafo único. Se o processo tiver corrido, sem conhecimento do Ministério Público, o juiz o anulará a partir do momento em que o órgão devia ter sido intimado.Art. 247. As citações e as intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais.Art. 248. Anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os subsequentes, que dele dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras, que dela sejam independentes.Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.§ 1o O ato não se repetirá nem se lhe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.§ 2o Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.Art. 250. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que forem necessários, a fim de se observarem, quanto possível, as prescrições legais.Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que não resulte prejuízo à defesa.

- Em sua essência as disposições do CPC e da CLT a respeito da nulidade são praticamente as mesmas. A diferença, conforme bem assevera o Prof. Sérgio Pinto Martins, é que a CLT apresenta-se de forma sintética, enquanto o CPC, de forma mais detalhada. (MARTINS, p. 167).

9 Proposição que imediatamente se deduz de outra demonstrada. Decorrência, dedução, conseqüência, resultado, consectário. (Fonte: Dicionário Eletrônico Aurélio).

43

Page 44: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

9. PROCEDIMENTOS TRABALHISTAS – Parte I

9.1. Generalidades: Diferença entre Processo e Procedimento- Processo: Conjunto de atos processuais que se sucedem de forma coordenada dentro da relação processual.- Procedimento (ou rito): É a forma como os atos processuais se desenvolvem dentro da relação processual. Constitui o modus faciendi, o aspecto exterior do processo.

9.2. Classificação- Os procedimentos no processo do trabalho classificam-se em: a) Comum - que se subdivide em ordinário, sumário e sumaríssimo; b) Especial – adotado para as ações especiais previstas na CLT, como inquérito judicial para apuração de falta grave, dissídio coletivo e ação de cumprimento.

9.3. Procedimento Comum

9.3.1. Procedimento Ordinário- Previsão: CLT, arts. 837 a 852.- A rigor, audiência deveria ser contínua. Todavia, na prática forense, passou a ser fracionada em inicial, de instrução e de julgamento.A) Audiência inicial ou inaugural:- Objetivo principal: Tentativa de conciliação.- O termo de conciliação lavrado valerá como decisão irrecorrível e somente poderá ser atacado pelas partes por meio de ação rescisória (Súmula 259 do TST).- Não havendo acordo, ao reclamado serão concedidos 20 minutos para defesa (art. 847). Na prática, entretanto, a defesa é apresentada de forma escrita.- Havendo pedidos de adicional de insalubridade ou de periculosidade, o Juiz do Trabalho está obrigado a designar perícia (CLT, art. 195, § 2º).- O Juiz do Trabalho suspende a sessão e designando outra data para instrução do feito.B) Audiência de Instrução:- O comparecimento das partes é obrigatório, sob pena de confissão quanto à matéria de fato.

SÚMULA Nº 74 DO TST. CONFISSÃO. Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005I - Aplica-se a pena de confissão à parte que, expressamente intimada com aquela cominação, não comparecer à audiência em prosseguimento, na qual deveria depor. II - A prova pré-constituída nos autos pode ser levada em conta para confronto com a confissão ficta (art. 400, I, CPC), não implicando cerceamento de defesa o indeferimento de provas posteriores.

- Objetivo principal: produção da prova oral.- Testemunhas: número de 3 para cada parte (CLT, art. 821) e deverão comparecer independentemente de intimação (CLT, art. 825). Na prática podem ser arroladas e intimadas.- Encerrada a instrução, as partes poderão aduzir razões finais orais pelo prazo de 10 minutos. Na prática tem-se aceitado memoriais escritos. Em seguida, o Juiz do Trabalho deverá tentar novamente a conciliação (Segunda tentativa obrigatória). Não sendo obtida esta, designará data da audiência de julgamento (publicação de sentença).C) Audiência de Julgamento:- Na prática não existe audiência. Trata-se, na verdade, de prazo para publicação da sentença.

44

Page 45: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

SÚMULA Nº 197 DO TST. PRAZO. O prazo para recurso da parte que, intimada, não comparecer à audiência em prosseguimento para a prolação da sentença conta-se de sua publicação. (Res. 3/1985, DJ 01.04.1985)

9.3.2. Procedimento Sumário (ou rito de alçada)- Previsão: Lei 5.584/70, art. 2º, §§ 3º e 4º.- Abrangência: até dois salários mínimos.- Características mais importantes:a) Dispensável o resumo do depoimento: conclusão quanto à matéria de fato.b) Não cabe recurso, salvo matéria constitucional.- Polêmicas:1ª) Inconstitucionalidade por violação do duplo grau de jurisdição:- O princípio não é absoluto, comportando exceções.- A Constituição Federal prevê julgamento em única instância (art. 102, III).2ª) Inconstitucionalidade por vinculação ao salário mínimo:- Súmula 356 do TST:

ALÇADA RECURSAL. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO.O art. 2º, § 4º, da Lei nº 5.584, de 26.06.1970 foi recepcionado pela CF/1988, sendo lícita a fixação do valor da alçada com base no salário mínimo. (Res. 75/1997, DJ 19.12.1997)

- O procedimento sumário não é aplicável às Pessoas Jurídicas de Direito Público, devendo ser observada a obrigatoriedade da remessa necessária (“recurso ex officio”), conforme previsto no Decreto-Lei n. 779/69, art. 1º, V.- Opinião pessoal: Na prática o rito sumaríssimo substitui o rito ordinário, uma vez que disciplinou as regras procedimentais para ações trabalhistas com valor inferior a 40 salários mínimos. Remanesce apenas a peculiaridade da irrecorribilidade das ações com valores até o dobro do salário mínimo, salvo matéria constitucional.

9.3.4. Procedimento Sumaríssimo- Previsão: CLT, arts. 852-A até 852-I (Lei 9.957/00).- Controvérsia: Conflito com o procedimento sumário.- Incompatibilidade com ações coletivas lato sensu, que envolvam interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos (LEITE).- Em caso de omissão, aplicação do procedimento sumário do CPC (MARTINS).- Abrangência: dissídios individuais até 40 salários mínimos.- Características:a) Não se aplica à Administração Pública direta, autárquica e fundacional.b) O pedido deve ser certo, determinado e líquido, sob pena de arquivamento.c) Não se admite citação por edital.d) Prazo para apreciação: 15 dias.e) Incidentes e exceções: decisão de plano pelo juiz.f) Concentração: Instrução e julgamento em audiência única (a critério do juiz). A sessão única não é absoluta, pois poderá haver adiamentos e suspensões (ex.: pedido de adicional de insalubridade e periculosidade).g) Testemunhas: 2 por parte, devendo ser convidadas. Indispensável a prova do convite.h) Prova pericial: somente quando a prova do fato exigir ou for imposta legalmente.i) Sentença: dispensada a elaboração do relatório.j) Há outras peculiaridades em matéria recursal, as quais serão abordadas oportunamente quando for tratado o tema recursos trabalhistas.

45

Page 46: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

9. PROCEDIMENTOS TRABALHISTAS – Parte II

9.4. Procedimentos Especiais previstos na CLT 9.4.1. Inquérito Judicial para Apuração de Falta Grave

DEFINIÇÃO: “ação constitutiva (negativa) necessária para apuração de falta grave que autoriza a resolução do contrato de trabalho estável por iniciativa do empregador” (LEITE).

APLICAÇÃO OBRIGATÓRIA:a) Estabilidade decenal ou celetista (CLT, art. 494);b) Dirigente Sindical (CF/88, art. 8º, VIII; CLT, art. 543);c) Representante no Conselho Curador do FGTS (Lei 8.036/90, art. 3º, §9º);d) Dirigente de Cooperativa de Empregados (Lei 5.764/71, art. 55);e) Representante no Conselho Nacional de Previdência Social (Lei 8.213/91, art. 3º, §7º).f) Representante na Comissão de Conciliação Prévia (CLT, art. 625-B, §1º).- Opção de dispensa para o Servidor Público Celetista (CF/88, art. 41 e ADCT, art. 19).

NÃO É NECESSÁRIO:a) Gestante (ADCT, art. 10, II, b);b) “Cipeiro” (ADCT, art. 10, II, a);c) Acidentado (Lei 8.213/91, art. 118).

CARACTERÍSTICAS:1) Petição inicial: escrita. (CLT, art. 840, §1°).2) Propositura: prazo decadencial (Súmula 62/TST).- Quando há suspensão do empregado, o prazo será de 30 dias.- Se não houver, o empregador terá o prazo de até 2 anos para ajuizar o inquérito (LEITE).- Controvérsia: Perdão tácito.3) Procedimento: CLT, art. 853 a 855. Adoção do rito ordinário, com adaptações.

Art. 853 - Para a instauração do inquérito para apuração de falta grave contra empregado garantido com estabilidade, o empregador apresentará reclamação por escrito à Junta ou Juízo de Direito, dentro de 30 (trinta) dias, contados da data da suspensão do empregado.Art. 854 - O processo do inquérito perante a Junta ou Juízo obedecerá às normas estabelecidas no presente Capítulo, observadas as disposições desta Seção.Art. 855 - Se tiver havido prévio reconhecimento da estabilidade do empregado, o julgamento do inquérito pela Junta ou Juízo não prejudicará a execução para pagamento dos salários devidos ao empregado, até a data da instauração do mesmo inquérito.

A interpretação do art. 855 é muito controvertida: a) alguns deduziam a possibilidade de prosseguimento do inquérito ajuizado após 30 dias de suspensão, porém os salários seriam exequíveis; adotada pela jurisprudência a tese de ser prazo de decadência o conferido para promover o inquérito, é insustentável tal interpretação; b) há quem veja obrigatoriedade de pagamento imediato de salários anteriores ao inquérito, mesmo que tenha havido suspensão do empregado (Russomano, Comentários à CLT, art. 855), o que contraria a tradição jurisprudencial brasileira e o entendimento do vocábulo suspensão (pena disciplinar ou desaparecimento temporário das obrigações dos contratantes);

46

Page 47: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

c) a única interpretação possível é a de que os salários exigíveis são os anteriores à suspensão ou aos de todo o tempo se o trabalhador não foi suspenso; isto é, nem a falta grave nem a suspensão adiam ou fazem desaparecer a obrigação de pagar os salários anteriores; neste caso, execução deve ser admitida como reclamação, ou seja, ação trabalhista. (CARRION, p. 707).

4) Testemunhas: até 6 (seis), nos termos do art. 821 da CLT.5) Ação de natureza dúplice:Procedência – o contrato é extinto. A data a ser considerada é a do ajuizamento. O Juiz poderá fixar outra data.Improcedência – o empregador é obrigado a reintegrar o empregado estável e pagar-lhe os salários e demais vantagens a que teria direito no período de afastamento, que passa a ser considerado como período de interrupção.Quando a reintegração não for aconselhável, devido à incompatibilidade, o juiz poderá converter a obrigação de fazer em indenização. Trata-se de pedido implícito, sendo dispensável o pedido expresso do trabalhador.

RECONVENÇÃO E INQUÉRITO JUDICIAL:Se o empregado ajuizar reconvenção, ele será carecedor de ação, por lhe faltar interesse, já que o bem da vida perseguido pode lhe ser dado independentemente da propositura da reconvenção. Mas, se o objeto da reconvenção for mais amplo, como danos morais e outras parcelas, haverá interesse. A jurisprudência não é unívoca. (LEITE, p. 402).

9.4.2.Dissídio Coletivo

CONCEITO“Direito Coletivo é o processo que vai dirimir os conflitos coletivos, por meio de pronunciamento do Poder Judiciário, criando ou modificando condições de trabalho para certa categoria ou interpretando determinada norma jurídica.” (MARTINS, p. 590).

PODER NORMATIVOFunção anômala da Justiça do Trabalho de criar normas heterônomas gerais e abstratas aplicáveis às categorias profissionais e econômicas e que produzirão efeitos nas relações individuais de trabalho. Passou a ser condicionado a partir da EC 45/04 (a questão do “de comum acordo”).

PRESSUPOSTOS DE CABIMENTOI – PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:a) Subjetivos:- Competência: TRT ou TST.- Capacidade processual: Entidades Sindicais e Empresas.b) Objetivos:- Negociação coletiva prévia (Para LEITE, trata-se de interesse de agir).- Inexistência de norma coletiva em vigor, salvo hipótese de greve (Lei 7.783/89, art. 14, parágrafo único).- Observância da época própria (CLT, art. 867 c/c art. 616, §3°): preservação da data-base. Possibilidade do Protesto Judicial (IN 4/93).- “Comum acordo entre as partes” (EC 45/04)- Petição inicial apta.Escrita (CLT, art. 856; CPC, art. 282).

47

Page 48: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Requisitos objetivos (documentos): i) edital de convocação da assembleia geral da categoria; ii) ata da assembleia geral; iii) lista de presença da assembleia geral; iv) correspondências, registros e atas referentes à negociação coletiva tentada; v) norma coletiva anterior, para o caso de dissídio de revisão; vi) procuração passada ao advogado; vii) comprovação da concordância da parte contrária.Requisitos subjetivos: i) designação da autoridade competente (Presidente do TRT ou TST); ii) qualificação dos suscitantes e suscitados; iii) bases da conciliação (pauta de reivindicação); iv) fundamentos da demanda (razões fáticas que justifiquem a instituição ou alterações das condições).

II – CONDIÇÕES DA AÇÃO:- Legitimação ad causam: Entidades sindicais, Presidente do Tribunal do Trabalho, Ministério Público do Trabalho (CLT, art. 856; CF/88, art. 114, §§2° e 3°).- Interesse processual: prévio exaurimento da negociação coletiva ou impossibilidade de recurso à arbitragem.- Possibilidade jurídica do pedido: não haja vedação expressa no ordenamento jurídico.

CLASSIFICAÇÃOOs dissídios coletivos podem ser: a) de natureza econômica (ou constitutiva); b) de natureza declaratória (ou jurídica); c) de natureza mista (ex.: greve).Outras classificações: a) originários, quando há criação de condições de trabalho (CLT, art. 867); b) de revisão, destinado a rever normas e condições coletivas preexistentes (CLT, arts. 873 a 875); c) de declaração sobre paralisação de trabalho decorrente de greve; d) de extensão, que visa estender as condições a outras pessoas (CLT, arts. 868 a 871).

PROCEDIMENTOS

A – DISSÍDIO COLETIVO NATUREZA ECONÔMICA OU JURÍDICA:- CLT, arts. 856 a 867.- Designação de audiência de conciliação, que será realizada perante o Presidente do Tribunal (ou aquele indicado segundo o regimento interno).- Havendo acordo, o Presidente submete o dissídio ao Tribunal para homologação, que terá força de sentença normativa.- Frustrada a conciliação, o dissídio é distribuído ao relator.- Do relator ao revisor. - Julgamento pelo Tribunal ou órgão especial.- O MPT poderá emitir parecer escrito (antes da distribuição) ou oral (na sessão de julgamento).- O procedimento é de total flexibilidade em face da ausência de normas formais. Não há lugar para revelia ou confissão, pois está em debate o interesse abstrato da categoria profissional ou econômica. A decisão transcende a iniciativa das partes, “já que se busca o exercício do poder normativo, manifestado pela criação de regras jurídicas, instituídas em dado contexto jurídico, político, econômico e social” (LEITE).

B – DISSÍDIO COLETIVO DE EXTENSÃO- CLT, arts. 868 a 871.

C – DISSÍDIO COLETIVO REVISIONAL- CLT, arts. 873 a 875.

48

Page 49: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

- “Trata-se de um dissídio derivado do dissídio coletivo de natureza constitutiva (de interesse), quando a sentença normativa respectiva tiver fixado condições de trabalho que se tenham modificado em função de circunstâncias alheias à vontade das partes, como as condições que se hajam tornado injustas ou inaplicáveis.” O Presidente do Tribunal nem o MPT têm legitimidade, por força do art. 114, § 2°, da CF/88. (LEITE)

SENTENÇA NORMATIVA- A sentença normativa poderá criar as seguintes cláusulas ou condições: a) econômicas (salários, reajustes, abonos etc.); b) sociais – versam sobre garantia no emprego e outras vantagens não econômicas (conservação do meio ambiente do trabalho); c) sindicais – dispõem sobre as relações entre os sindicatos ou entre estes e as empresas (desconto de contribuições sindicais em folha, garantia dirigente sindical etc.); d) obrigacionais – estabelecem multas pelo descumprimento.- Não há execução da sentença normativa (não tem carga condenatória). O que há é propositura de ação de cumprimento.- Há controvérsia se a sentença normativa produz coisa julgada material:NÃO: a) permite seu cumprimento definitivo antes do trânsito em julgado; b) é possível dissídio de revisão; c) não comporta execução; d) as condições vigoram no prazo assinalado, não integrando de forma definitiva o contrato (Súmula 277/TST); e) dissídio coletivo produz apenas coisa julgada formal (Súmula 397/TST); f) ação de cumprimento produz coisa julgada atípica (OJ 277 da SDI-1).SIM: a) CLT, art. 872, parágrafo único, parte final: proíbe rediscussão de matérias de fato e de direito já decididas; b) contra a sentença normativa cabe ação rescisória.Contudo, a tese que prevalece é a de que a sentença normativa não produz coisa julgada material. A propósito, Súmula 397/TST e cancelamento das OJ's 49 e 116 da SDI-2.

9.4.3. Ação de Cumprimento- CLT, art. 872.- Procedimento: semelhante ao dissídio individual, vedada a discussão das questões de fato ou de direito que já foram apreciadas na sentença normativa (ainda que não tenha transitado em julgado).- Legitimação concorrente: sindicatos (Súmula 286/TST) ou empregados.- Prazo prescricional: conta-se da data do trânsito em julgado da decisão normativa (Súmula 350/TST).- Se a sentença normativa perde sua eficácia executória, extingue-se a ação de cumprimento.

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL N. 277 DA SDI-1 DO TST.AÇÃO DE CUMPRIMENTO FUNDADA EM DECISÃO NORMATIVA QUE SOFREU POSTERIOR REFORMA, QUANDO JÁ TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA CONDENATÓRIA. COISA JULGADA. NÃO-CONFIGURAÇÃO. A coisa julgada produzida na ação de cumprimento é atípica, pois dependente de condição resolutiva, ou seja, da não-modificação da decisão normativa por eventual recurso. Assim, modificada a sentença normativa pelo TST, com a consequente extinção do processo, sem julgamento do mérito, deve-se extinguir a execução em andamento, uma vez que a norma sobre a qual se apoiava o título exequendo deixou de existir no mundo jurídico.

- Se o empregado já recebeu? Por força do §3° do art. 6° da Lei n. 4.725/65, nada terá que devolver (PINTO, 2005, p. 306).

49

Page 50: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

10. PETIÇÃO INICIAL

10.1. Noções PreliminaresPrincípio da Inércia: “nemo procedat iudex ex officio”.Princípio da Demanda: CPC, art. 262: “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.”Denominações: petição inicial, peça exordial, peça vestibular, peça de ingresso, inicial etc.Distribuição: CLT, arts. 783 a 788.Vara ou Juízo único: CLT, art. 837.

10.2. RequisitosCLT, art. 840, §1°:

Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do Presidente da Junta, ou do juiz de direito a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante.

1) Designação da autoridade judiciária a quem for dirigida: “Excelentíssimo Juiz do Trabalho da Vara de Ponte Nova” “Excelentíssimo Juiz do Trabalho da ___ Vara de Belo Horizonte”

2) Qualificação das partes: Nome e endereço (mínimo). Outras informações: nacionalidade, estado civil, profissão, CTPS, CPF, CNPJ etc.

3) Breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio:Narração dos fatos. Motivo do dissídio.Controvérsia: necessidade de indicação dos fundamentos jurídicos.

4) Pedido: Objeto da ação, mérito, “res in iudicium deducta”, bem da vida.Regulamentação – aplicação subsidiária do CPC.Classificação:a) Simples ou cumulados (cumulação objetiva).b) Principal e pedidos acessórios.c) Pedido implícito – Em regra, não é admitido. Porém, há controvérsia jurisprudência quanto à validade desse pedido. Ex.: 1) Pede-se anotação da CTPS ou verbas rescisórias, estando implícito o pedido de reconhecimento do vínculo empregatício; 2) Pede-se a reintegração, estando implícito o pedido de conversão em indenização.d) Alternativos – Há duas formas de cumprimento da obrigação. Uma exclui a outra.e) Sucessivos – Somente se conhece do posterior se não for acolhido o anterior. Há ordem de preferência, prejudicialidade. Possibilidade com a EC 45/04 (vínculo e relação de trabalho).f) Líquidos e ilíquidos.g) Cominatórios - “astreintes” para as obrigações de fazer e não fazer e de entrega de coisas.

5) Data: Dia em que a ação foi ajuizada.

6) Assinatura: Ausência gera inexistência do ato.

7) Valor da causa:Não está previsto expressamente na CLT.

50

Page 51: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

A doutrina e jurisprudência majoritárias acrescentam esse requisito por ser indispensável para se saber o rito processual em que tramitará a ação.Para o procedimento sumaríssimo é obrigatório.Procedimento ordinário ou sumário: Se o autor não der o valor à causa, deverá o juiz fazê-lo. Lei n. 5.584/70, art. 2°: “Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido.” Recurso "Pedido de Revisão" (§§1º e 2º): Impugnação em razões finais → juiz mantém → pedido de revisão em 48h → Presidente do TRT julgará em 48h. (Obs.: em desuso).

10.3. Petição Inicial: Processo Civil e Processo do Trabalho – Quadro Comparativo

Processo Civil Processo do Trabalho

Previsão Legal:CPC, arts. 282, 283 e 39, parágrafo único.

Previsão Legal: CLT, art. 840, § 1°.

o juiz ou tribunal, a que é dirigida Presidente da Junta, ou do juiz de direito a quem for

dirigida

os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio

e residência do autor e do réu

a qualificação do reclamante e do reclamado

o fato e os fundamentos jurídicos do pedido uma breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio

o pedido, com as suas especificações o pedido

o valor da causa * valor da causa: acrescentado pela doutrina e pela jurisprudência.

as provas com que o autor pretende demonstrar a

verdade dos fatos alegados

* desnecessário: inteligência do art. 845 da CLT.

o requerimento para a citação do réu * desnecessário: citação é automática, nos termos do art. 841 da CLT.

* não está prevista como requisito legal. Mas por uma questão lógica, a inicial contém a data.

a data

* também não está prevista. Mas, por óbvio, que deverá conter a assinatura, sob pena de inexistência.

a assinatura do reclamante ou de seu representante

instruída com os documentos indispensáveis à

propositura da ação

A reclamação escrita deverá ser formulada em 2 (duas)

vias e desde logo acompanhada dos documentos em

que se fundar (CLT, art. 787)

Indicação do endereço em que o advogado do autor receberá a intimação

* desnecessário em virtude da vigência do ius postulandi (CLT, arts. 791 e 839)

51

Page 52: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

10.4. AditamentoCPC:

Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei. Art. 294. Antes da citação, o autor poderá aditar o pedido, correndo à sua conta as custas acrescidas em razão dessa iniciativa.

A CLT é omissa. É possível o aditamento no processo do trabalho?Três correntes:1ª) Sim. É possível o aditamento, desde que antes da citação (notificação). Aplicação do CPC.2ª) Sim. No processo do trabalho não há citação. A estabilização da demanda ocorre em audiência, com a apresentação da defesa. Assim, é possível o aditamento, desde que antes da apresentação da defesa. Todavia, admitido o aditamento, o juiz deverá designar nova audiência para garantir o direito de defesa (quinquídio legal), salvo se o réu abrir mão do prazo. Apresentada a defesa, não será possível aditar sem a anuência do réu.3ª) Intermediária. Defendida por Manoel Antônio Teixeira Filho. Nem a citação nem a audiência seriam os marcos para o aditamento. Este seria possível desde que o réu dele ficasse ciente até 5 dias antes da audiência. Observância do quinquídio legal.

10.5. Indeferimento e EmendaNão há despacho inicial no Processo Trabalhista. Normalmente, o juiz tomará o primeiro contato com a causa em audiência. Geralmente, aguarda-se a manifestação da defesa.Há uma tendência em aproveitar o máximo possível a petição inicial.Se a inicial possibilitar a defesa eficaz do réu, o juiz tende a não indeferir a inicial por inépcia.Tem-se entendido pela aplicabilidade do art. 284 do CPC. Nesse sentido, a Súmula 263/TST.

PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO. INSTRUÇÃO OBRIGATÓRIA DEFICIENTE - Salvo nas hipóteses do art. 295 do CPC, o indeferimento da petição inicial, por encontrar-se desacompanhada de documento indispensável à propositura da ação ou não preencher outro requisito legal, somente é cabível se, após intimada para suprir a irregularidade em 10 (dez) dias, a parte não o fizer.

Art. 295. A petição inicial será indeferida:I - quando for inepta;II - quando a parte for manifestamente ilegítima;III - quando o autor carecer de interesse processual;

IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (art. 219, § 5o);

V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal;VI - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando:I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III - o pedido for juridicamente impossível; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Em relação ao indeferimento da inicial, Valentin Carrion (2006, p. 685) obtempera: “Em nenhuma hipótese de indeferimento da inicial o juiz está aplicando penalidade propriamente dita. Está praticando ato legal de efeito dinâmico para o processo. A oportunidade de tal medida (indeferimento) é a audiência, por ou sem provocação.”Apesar de alguma controvérsia, o entendimento majoritário é que não cabe emenda da inicial no rito sumaríssimo. Interpretação do §1° do art. 852-B da CLT.

52

Page 53: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

11. AUDIÊNCIA

11.1. Noções GeraisA audiência “é o lugar e o momento em que os juízes ouvem as partes. Também significa a sessão marcada ou determinada pelo juiz, perante o qual as partes comparecem e onde são produzidos atos processuais e decisões” (LEITE, p. 364).Princípio da Inércia: “nemo procedat iudex ex officio”.

Art. 813 - As audiências dos órgãos da Justiça do Trabalho serão públicas e realizar-se-ão na sede do Juízo ou Tribunal em dias úteis previamente fixados, entre 8 (oito) e 18 (dezoito) horas, não podendo ultrapassar 5 (cinco) horas seguidas, salvo quando houver matéria urgente.§ 1º - Em casos especiais, poderá ser designado outro local para a realização das audiências, mediante edital afixado na sede do Juízo ou Tribunal, com a antecedência mínima de 24 (vinte e quatro) horas.§ 2º - Sempre que for necessário, poderão ser convocadas audiências extraordinárias, observado o prazo do parágrafo anterior.Art. 814 - Às audiências deverão estar presentes, comparecendo com a necessária antecedência. os escrivães ou secretários.

Regra geral: Publicidade. Exceções: intimidade e interesse público (CF/88, art. 5°, LX; art. 93, IX).

11.2. Poder de PolíciaCLT, art. 816: “O juiz ou presidente manterá a ordem nas audiências, podendo mandar retirar do recinto os assistentes que a perturbarem.”

CPCArt. 445. O juiz exerce o poder de polícia, competindo-lhe:I - manter a ordem e o decoro na audiência;II - ordenar que se retirem da sala da audiência os que se comportarem inconvenientemente;III - requisitar, quando necessário, a força policial.

11.3. Comparecimento e Ausência Injustificada

JUIZCLT. Art. 815 - À hora marcada, o juiz ou presidente declarará aberta a audiência, sendo feita pelo secretário ou escrivão a chamada das partes, testemunhas e demais pessoas que devam comparecer.Parágrafo único - Se, até 15 (quinze) minutos após a hora marcada, o juiz ou presidente não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar do livro de registro das audiências.

Lei n. 8.906/94 (ESTATUTO DA OAB)Art. 7° São direitos do advogado:(...)XX – retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após trinta minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo.

PARTES

CLT. Art. 843 - Na audiência de julgamento deverão estar presentes o reclamante e o reclamado, independentemente do comparecimento de seus representantes salvo, nos casos de Reclamatórias Plúrimas ou Ações de Cumprimento, quando os empregados poderão fazer-se representar pelo Sindicato de sua categoria.

53

Page 54: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 1º - É facultado ao empregador fazer-se substituir pelo gerente, ou qualquer outro preposto que tenha conhecimento do fato, e cujas declarações obrigarão o proponente.§ 2º - Se por doença ou qualquer outro motivo poderoso, devidamente comprovado, não for possível ao empregado comparecer pessoalmente, poderá fazer-se representar por outro empregado que pertença à mesma profissão, ou pelo seu sindicato.

Art. 844 - O não-comparecimento do reclamante à audiência importa o arquivamento da reclamação, e o não-comparecimento do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato.

OJ-SDI1-245 REVELIA. ATRASO. AUDIÊNCIA (inserida em 20.06.2001) Inexiste previsão legal tolerando atraso no horário de comparecimento da parte na audiência.

- Preposto: Deve ser empregado, salvo nas reclamações domésticas ou contra micro e pequeno empresário (Súmula 377/TST).- Preposto e advogado: Vedação de exercício cumulativo. Art. 23 do Código de Ética.- Ações Plúrimas:Possibilidade de representação dos empregados pelo Sindicato.Tem se admitido a representação por um grupo ou comissão dos litisconsortes a fim de evitar tumulto em audiência.- Ação de Cumprimento: Sindicato (substituto processual – legitimação extraordinária).

TESTEMUNHASAs testemunhas devem comparecer à audiência independentemente de intimação.CLT, arts. 825, 845, 852-H, §§ 2° e 3°.Todavia, na prática, os juízes têm admitido o arrolamento de testemunhas para que a Justiça efetue a intimação.

11.4. Unidade e FracionadaA rigor, a audiência no rito ordinária deveria ser CONTÍNUA (CLT, art. 849). Todavia, na prática, fraciona-se em três:1) INICIAL ou INAUGURAL;2) INSTRUÇÃO e 3) JULGAMENTO.No rito sumaríssimo a audiência é sempre UNA. Somente em casos excepcionais admite-se o seu fracionamento (CLT, art. 852-C).

54

Page 55: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

12. RESPOSTA DO RÉU

12.1. Noções GeraisFundamentos: inafastabilidade da Jurisdição (CF, art. 5°, XXXV), devido processo legal (CF, art. 5°, LIV) e contraditório e ampla defesa (CF, art. 5°, LV).A resposta do réu é um corolário do princípio do contraditório. Se há ação, deve haver defesa.

12.2. Espécies Em face da ação que lhe é proposta, o réu poderá adotar diversas condutas: omitir-se (revelia), reconhecer a procedência do pedido (CPC, art. 269, II) ou apresentar resposta (CPC, art. 297).As respostas são a exceção, a contestação e a reconvenção.No Processo do Trabalho a resposta do réu deve ser apresentada em audiência (CLT, art. 847).

12.2.1. ExceçãoEm sentido amplo, significa oposição, defesa.Em sentido estrito, trata-se de defesa processual ou indireta, visando dilatar o trâmite do processo ou extingui-lo. A rigor, trata-se de defesa processual dilatória.A CLT prevê as exceções de suspeição e de incompetência relativa (art. 799).Entretanto, a doutrina majoritária (inclusive LEITE e MARTINS) entende ser possível a exceção de impedimento. Justificativa: CPC/1939 previa apenas os casos de suspeição. Foi o CPC/1973 que desdobrou os casos de parcialidade do juiz em suspeição e impedimento.A exceção será processada nos mesmos autos. O art. 299 do CPC não é aplicável.

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO E DE IMPEDIMENTOAs causas de impedimento têm natureza objetiva e representam presunções absolutas de parcialidade do juiz. CPC, art. 134.

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:I - de que for parte;II - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;III - que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;IV - quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;V - quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;VI - quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.Parágrafo único. No caso do nº IV, o impedimento só se verifica quando o advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no processo, a fim de criar o impedimento do juiz.

As causas de suspeição têm natureza subjetiva, constituindo presunções relativas de parcialidade do juiz. CLT, art. 801 e CPC, art. 135.

Art. 801 - O juiz, presidente ou vogal, é obrigado a dar-se por suspeito, e pode ser recusado, por algum dos seguintes motivos, em relação à pessoa dos litigantes:a) inimizade pessoal;b) amizade íntima;c) parentesco por consanguinidade ou afinidade até o terceiro grau civil;d) interesse particular na causa.

55

Page 56: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Parágrafo único - Se o recusante houver praticado algum ato pelo qual haja consentido na pessoa do juiz, não mais poderá alegar exceção de suspeição, salvo sobrevindo novo motivo. A suspeição não será também admitida, se do processo constar que o recusante deixou de alegá-la anteriormente, quando já a conhecia, ou que, depois de conhecida, aceitou o juiz recusado ou, finalmente, se procurou de propósito o motivo de que ela se originou.

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:I - amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;III - herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;IV - receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio;V - interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

As hipóteses previstas na CLT não são numerus clausus. Utilizam-se também as do CPC.Se a parte não apresentar exceção de suspeição no momento oportuno, haverá preclusão.

Art. 802 - Apresentada a exceção de suspeição, o juiz ou Tribunal designará audiência dentro de 48 (quarenta e oito) horas, para instrução e julgamento da exceção.§ 1º - Nas Juntas de Conciliação e Julgamento e nos Tribunais Regionais, julgada procedente a exceção de suspeição, será logo convocado para a mesma audiência ou sessão, ou para a seguinte, o suplente do membro suspeito, o qual continuará a funcionar no feito até decisão final. Proceder-se-á da mesma maneira quando algum dos membros se declarar suspeito. § 2º - Se se tratar de suspeição de Juiz de Direito, será este substituído na forma da organização judiciária local.

LEITE entende que o art. 802 da CLT atrita-se com a EC 24/1999 (a que extinguiu com a representação classista), pois o próprio juiz peitado ou impedido estaria instruindo e julgando a exceção contra ele oposta. O julgamento deveria ser feito por órgão colegiado, dele não participando o juiz interessado.Na prática, a CLT não é aplicada. Os regimentos internos dispõem a respeito do procedimento de julgamento da exceção de suspeição e de impedimento dos Juízes do Trabalho pelos TRT's.A suspeição e impedimento também se aplicam ao membro do Ministério Público, ao serventuário da justiça, ao perito e ao intérprete.

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL

Art. 800 - Apresentada a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos autos ao exceto, por 24 (vinte e quatro) horas improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na primeira audiência ou sessão que se seguir.

No rito sumaríssimo, o juiz julga o incidente em audiência. No rito ordinário, deveria ser aplicado o art. 800/CLT, mas na prática o juiz acaba julgando em audiência. Inexistindo exceção, haverá prorrogação de competência.

Contra a decisão que julgar exceção de incompetência territorial não cabe recurso imediato, pois trata-se de decisão interlocutória. Exceção ocorre quando for terminativa de feito (CLT, art. 799, §2°). Nesse sentido a Súmula 214 do TST:

56

Page 57: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipótese de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

12.2.2. ContestaçãoDefesa, peça de resistência, peça de bloqueio etc.Aplicam-se à contestação os princípios da concentração, da eventualidade e da impugnação específica (art. 302/CPC).“O réu deve alegar todo e qualquer tipo ou modalidade de resistência à pretensão do autor (concentração), para que o juiz conheça das posteriores eventualmente (eventualidade), se as anteriores forem repelidas.” (LEITE).A contestação poderá ser contra o processo ou contra a ação, bem como contra o mérito.

A) CONTESTAÇÃO PROCESSUALAlega-se que não foram satisfeitos os pressupostos processuais (incompetência absoluta, inépcia, coisa julgada, litispendência etc.) ou a ausência das condições da ação (legitimidade ad causam, possibilidade jurídica do pedido e interesse processual).Pode ser dilatória (se acolhida, não há extinção processual - Ex.: incompetência absoluta) ou peremptória (se acolhida, há extinção processual - Ex.: coisa julgada).Obs.: Devido ao fato de ser comum a existência de pedidos múltiplos, o acolhimento da incompetência absoluta em relação a um ou alguns pedidos provoca a extinção do feito, sem resolução do mérito, quanto a ele ou a eles (art. 267, IV, do CPC). Impossibilidade de desmembramento da ação e de remessa de “parte” da ação para o juízo competente. Somente quando a incompetência absoluta abranger a integralidade dos pedidos, há remessa do feito ao juízo competente.

B) CONTESTAÇÃO DO MÉRITOPode ser direta ou indireta.

B.1) DIRETANega-se a existência dos fatos constitutivos ou dos seus efeitos.Não pode ser genérica. Deve ser específica (CPC, art. 302).

B.2) INDIRETAO réu reconhece o fato constitutivo do direito do autor, mas opõe fato impeditivo, modificativo ou extintivo do pedido formulado na petição inicial.

* A forma de contestação do mérito influencia o ônus da prova. Na contestação direta, o ônus da prova permanece com o autor (arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC). Na contestação indireta, o ônus da prova passa para o réu (arts. 818 da CLT e 333, II, do CPC).

12.2.3. ReconvençãoÉ o contra-ataque. Constitui a ação que o réu propõe em face do autor.Com a reconvenção haverá cumulação objetiva de ações (principal e reconvencional).Há controvérsia quanto ao cabimento no Processo do Trabalho. Principais argumentos contrários: compensação e retenção são matérias típicas de defesa.

57

Page 58: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

A corrente majoritária (inclusive LEITE e MARTINS) entende pelo cabimento, por medida de acesso ao Judiciário e celeridade e economia processuais.Requisitos:a) juiz não pode ser absolutamente incompetente para conhecer da reconvenção;b) compatibilidade entre os ritos procedimentais;Sustenta-se a incompatibilidade com o rito sumário (Lei n. 5.584/70, art. 2°, §§ 3° e 4°) e/ou com o rito sumaríssimo (analogia ao art. 31 da Lei n. 9.099/95).c) haver processo pendente (ação principal em curso).d) haver conexão entre a reconvenção e a ação principal ou entre a reconvenção e alguns dos fundamentos da defesa.Nas ações de natureza dúplice (v.g. Inquérito judicial e consignação em pagamento) não haveria interesse processual para interposição de reconvenção, salvo se esta contiver objeto mais abrangente.

Segundo LEITE, a compensação poderá ser invocada: a) como matéria de defesa, desde que o montante a ser compensado seja igual ou inferior a uma remuneração mensal (art. 477, §5º); b) por meio de reconvenção, desde que presentes os pressupostos processuais e requisitos especiais, se o montante a ser compensado for superior ao limite anterior.A reconvenção e a ação principal são autônomas entre si. Portanto, o resultado de uma não interfere na outra. Ambas, no entanto, devem ser julgadas na mesma sentença (CPC, art. 318), sob pena de nulidade.

58

Page 59: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

13. PROVAS

13.1. Conceito“É o meio lícito para demonstrar a veracidade ou não de determinado fato com a finalidade de convencer o juiz acerca da sua existência ou inexistência.” (LEITE, 2005, p. 414).

13.2. Princípios Carlos Henrique Bezerra Leite (2005) aponta os seguintes princípios quanto às provas:

a) Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa (CF, art. 5°, LV)Impõe a garantia de manifestação recíproca sobre as provas apresentadas e igualdade de oportunidades para a produção das provas.

b) Princípio da Necessidade da ProvaÉ necessária a demonstração das alegações, pois os fatos alegados e não provados são tidos por inexistentes.

c) Princípio da Unidade da ProvaA prova deve ser examinada em seu conjunto.O juiz deve analisar o “conjunto probatório”.

d) Princípio da Proibição da Prova Obtida Ilicitamente (CF, art. 5°, LVI)

As provas ilícitas não se confundem com as provas ilegais e as ilegítimas. (...) as provas ilícitas são aquelas obtidas com infringência ao direito material; as provas ilegítimas são as obtidas com o desrespeito ao direito processual. Por sua vez, as provas ilegais seriam o gênero do qual as espécies são as provas ilícitas e as provas ilegítimas, pois, configuram-se obtenção com violação de natureza material ou processual ao ordenamento jurídico. (MORAES, 2003, p. 125).

Este princípio é mitigado pelo Princípio da Proporcionalidade.

A doutrina constitucional passou a atenuar a vedação das provas ilícitas visando corrigir distorções a que a rigidez da exclusão poderia levar em casos de excepcional gravidade. Esta atenuação prevê, com base no Princípio da Proporcionalidade, hipóteses em que provas ilícitas, em caráter excepcional e em casos extremamente graves poderão ser utilizadas, pois nenhuma liberdade pública é absoluta, havendo possibilidade em casos delicados, em que se percebe que o direito tutelado é mais importante que o direito à intimidade, segredo, liberdade de comunicação, por exemplo, de permitir-se sua utilização. (MORAES, 2003, p. 126).

Em resumo, as liberdade públicas não podem servir de escudo para práticas ilícitas. Logo, haveria ausência de ilicitude quando a prova fosse produzida em legítima defesa de direitos humanos fundamentais.

e) Princípio do Livre Convencimento ou Persuasão RacionalPrevisto expressamente no art. 131 do CPC: “O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento.”Está implicitamente previsto nos arts. 765 e 832 da CLT.

59

Page 60: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

f) Princípio da Oralidade As provas devem ser produzidas, preferencialmente, em audiência.CLT, art. 845: “O reclamante e o reclamado comparecerão à audiência acompanhados das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas.”

g) Princípio da ImediaçãoÉ o juiz quem colhe, direta e imediatamente, a prova.CLT, arts. 848 e 852-D.

h) Princípio da Aquisição ProcessualA prova produzida é adquirida pelo processo.A prova é de interesse público e não de interesse privado.

i) Princípio do “in dubio pro misero”Em caso de dúvida razoável, o juiz poderá interpretar a prova em benefício do empregado. Constitui reflexo do princípio protetor.Todavia, há controvérsia quanto a sua aplicação no Processo do Trabalho.A melhor doutrina entende pela não aplicação na esfera processual. Em matéria de prova, o critério a ser aplicado é o da distribuição do ônus da prova.Nesse sentido, o seguinte aresto:

PRINCÍPIO IN DUBIO PRO MISERO. APLICABILIDADE. Não se aplica o princípio in dubio pro misero na valoração da matéria fática, se o empregado não se desincumbe do ônus que lhe compete, a teor do art. 818, da CLT. No magistério de Manoel Antônio Teixeira Filho, referido princípio tem aplicação apenas "em matéria de interpretação de norma legal, seja substancial ou processual, deve o Juiz decidir sempre que houver dúvida em prol do empregado, porque essa atitude estará perfeitamente cônsona com o caráter tuitivo que anima tais normas, notadamente as primeiras." (in "A prova no processo do trabalho", LTr Editora, 4 ed., p. 106).(TRT 3ª R. - 5 T. – RO 9987/01 – Relator Juiz Emerson Alves Lage – DJMG 15/09/2001 – P. 21).

Sérgio Pinto Martins, por sua vez, enumera os seguintes princípios da prova: Necessidade, Unidade, Lealdade, Contraditório, Igualdade da oportunidade, Oportunidade da prova, Comunhão da prova, Legalidade, Imediação, Obrigatoriedade da prova e Aptidão para a prova. Merece destaque esse último princípio que significa “que a parte que tem melhores condições de fazer a prova o fará, por ter melhor acesso a ela ou porque é inacessível à parte contrário”. (MARTINS, 2006, p. 308).

13.3. Objeto da ProvaConstituem o objeto da prova os fatos relevantes, pertinentes e controvertidos.O direito objetivo não é objeto de prova. São as máximas mini factum, dabo tibi jus e jura novit cura. Exceções: direito municipal, estadual, distrital, internacional e consuetudinário (CPC, art. 337).No Processo do Trabalho, a parte deverá demonstrar a existência de instrumento normativo (Convenção Coletiva, Acordo Coletivo e Sentença Normativa) e de norma interna (v.g. Regulamento de empresa) que ampare sua pretensão.Também não constituem objeto de provas os fatos notórios, confessados, incontroversos e em cujo favor milita presunção (CPC, art. 334).Jurisprudência sobre presunção: Súmulas 12, 16, 32, 43, 212, 287 e 338.

60

Page 61: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

SÚMULA 12 DO TST.CARTEIRA PROFISSIONAL. As anotações apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado não geram presunção "juris et de jure", mas apenas "juris tantum".

Existe corrente doutrinária e jurisprudencial que defende que as anotações na CTPS teriam presunção jure et de jure contra o empregador. Contra ela, cabe registrar a ponderação feita por Raymundo Antonio Carneiro Pinto (2005, p. 63):

Discute-se se a presunção seria jure et de jure com relação ao empregador. A nosso ver – posição que tem apoio na doutrina e jurisprudência -, o tratamento, no caso, deve ser igualitário. O chefe de um setor de pessoal ou um preposto pode – por equívoco ou até má-fé – efetuar uma anotação errada na CTPS, gerando prejuízos à empresa. Naturalmente que esta deve ter a oportunidade de provar que o fato ocorreu nessas circunstâncias.

13.4. Ônus da ProvaNo Direito Romano havendo dúvida quanto ao julgamento de determinada causa, o juiz declarava o non liquet.No Direito Germânico Medieval o juiz extinguia o processo sem julgamento do mérito.Nos sistemas jurídicos contemporâneos o juiz não se exime de julgar.Daí a importância das regras de ônus da prova, que servem ao juiz e também às partes (orientam a sua atuação).Elas estão previstas no art. 818 da CLT e art. 333 do CPC.

Art. 818 - A prova das alegações incumbe à parte que as fizer.

Art. 333. O ônus da prova incumbe:I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando:I - recair sobre direito indisponível da parte;II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.

A doutrina costuma afirmar que o art. 818 da CLT é incompleto e que deve ser complementado pelo art. 333 do CPC. Destoando desse posicionamento, registre-se o ensinamento de Bento Herculano Duarte Neto (2006, p. 172):

O artigo 818 é mais sintético, dispondo que aquele que alega é que tem que provar, segundo a tradição do direito romano. Mas não se diferencia do conteúdo material do art. 333 do CPC, que repete, nos incisos I e II, que quem alega tem que provar. Apenas situa a hipótese de afirmações recíprocas, quando somente o réu conserva seu ônus, pois a assertiva do autor restou incontroversa.

As regras de ônus da prova vêm sendo mitigadas (Princípios da Capacidade Probatória e da Distribuição Equânime do Ônus Probatório). É o que a doutrina denomina de inversão do ônus probatório ou ônus dinâmico da prova, conforme consagrado pelo CDC, art. 6°, VIII:

a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.

É controvertida a questão, mas existe corrente que defende a possibilidade de o juiz do trabalho inverter o onus probandi em outras hipóteses que não a evidência da alegação ou a capacidade probatória das partes.Há corrente que defende que o juiz, caso inverta o ônus da prova, deverá comunicar às partes, de modo a que elas tenham a possibilidade de se desincumbir do ônus atribuído.

61

Page 62: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Outra corrente afirma que a inversão do ônus da prova é técnica de julgamento prevista em lei e, portanto, seria desnecessária a comunicação às partes.

EXEMPLOS DE ÔNUS DA PROVA:

a) Existência da relação de emprego – Se o reclamado admitir a prestação de serviços, mas alegar relação jurídica diversa como trabalho autônomo ou trabalho eventual, atrairá o ônus probatório. O trabalho subordinado é presumido. Entendimento majoritário.

b) Término da relação de emprego – Súmula 212 do TST.

DESPEDIMENTO. ÔNUS DA PROVAO ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.

c) Equiparação salarial – Súmula 6, VIII, do TST.

EQUIPARAÇÃO SALARIAL. ART. 461 DA CLT(...)VIII - É do empregador o ônus da prova do fato impeditivo, modificativo ou extintivo da equiparação salarial. (ex-Súmula nº 68 - RA 9/1977, DJ 11.02.1977)(...).

d) Jornada de Trabalho – Súmula 338 do TST.

JORNADA DE TRABALHO. REGISTRO. ÔNUS DA PROVA. I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário. II - A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por prova em contrário.III - Os cartões de ponto que demonstram horários de entrada e saída uniformes são inválidos como meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo a jornada da inicial se dele não se desincumbir.

e) Vale-Transporte – Orientação Jurisprudencial 215 da SDI-1 do TST.

VALE-TRANSPORTE. ÔNUS DA PROVA. É do empregado o ônus de comprovar que satisfaz os requisitos indispensáveis à obtenção do vale-transporte.

f) Diferenças de FGTS – Orientação Jurisprudencial 301 da SDI-1 do TST.

FGTS. DIFERENÇAS. ÔNUS DA PROVA. LEI Nº 8.036/90, ART. 17.Definido pelo reclamante o período no qual não houve depósito do FGTS, ou houve em valor inferior, alegada pela reclamada a inexistência de diferença nos recolhimentos de FGTS, atrai para si o ônus da prova, incumbindo-lhe, portanto, apresentar as guias respectivas, a fim de demonstrar o fato extintivo do direito do autor (art. 818 da CLT c/c art. 333, II, do CPC).

62

Page 63: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

13.5. Meios de ProvaCF, art. 5º, LVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”.CPC, art. 332: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.”

13.5.1. Depoimento PessoalCom base no art. 848 da CLT, há o entendimento de que a parte não teria o direito de requerer o depoimento pessoal da outra, pois seria uma faculdade do juiz a oitiva das partes.Todavia, o referido dispositivo deve ser conjugado com o art. 820 (“As partes e testemunhas serão inquiridas pelo juiz ou presidente, podendo ser reinquiridas, por seu intermédio, a requerimento dos vogais, das partes, seus representantes ou advogados.”). Logo, o interrogatório ou depoimento pode ser realizado de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes.Para Valentim Carrion (2006, p. 700): “O depoimento dos litigantes é a mais pura e direta fonte de informação e convicção; o ônus da prova que pesa sobre cada uma das partes não pode depender da disposição do juiz em ouvir ou não o adversário, e seu indeferimento constitui gravíssimo cerceamento de defesa.”A ordem de depoimentos prevista no art. 452/CPC poderá, em situação excepcional (v.g. parte sem advogado), ser invertida.Depoimento pessoal é diferente de interrogatório, pois este o juiz poderá realizar e, até mesmo repetir, a qualquer momento.

CONFISSÃOÉ a admissão da verdade de um fato que é contrário ao seu interesse e favorável ao seu adversário. CPC, arts. 348/354.A confissão pode ser: a) real – ocorre de forma expressa e é realizada através de depoimento (presunção absoluta); b) ficta – gera apenas a presunção juris tantum, prevalecendo enquanto não houver outros meios probatórios capazes de afastá-la. Exemplo: Súmula 74 do TST.c) judicial – ocorre no processo (espontânea ou provocada, por meio do depoimento).d) extrajudicial – realizada fora do processo. Tem a mesma eficácia da judicial se feita à outra parte ou a seu representante. Se feita a terceiros, será valorada pelo juiz.* A confissão extrajudicial é cabível no processo do trabalho? Em relação à reclamada, não há problema. Quanto ao reclamante, parte da doutrina entende que não se aplica, em face do princípio da indisponibilidade e diante de seu estado de subordinação. Há quem defenda a sua possibilidade, desde que a confissão seja idônea (sem vícios), sempre sendo possível ao juiz fazer essa averiguação.* Pode haver confissão do menor? O representante pode confessar? Para Cristiano Chaves de Farias (2005, p. 568/569), somente o titular da relação jurídica de direito material pode confessar. Não se permite a confissão do absolutamente incapaz (indisponibilidade). O ato poderá ser valorizado pelo juiz (arts. 93, CF; e 131, CPC). O representante convencional pode confessar, desde que tenha poderes para tal. A confissão do representante legal não produz efeito em relação ao representado, tendo em vista o conflito de interesses.

13.5.2. Prova TestemunhalCrítica: meio de prova considerado mais inseguro, pois carrega muito subjetivismo.Não mais prevalece o adágio testis unus testis nullus.

63

Page 64: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

A limitação prevista no art. 401 do CPC (“A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.”) não se aplica ao Processo do Trabalho. Incompatível.

CAPACIDADE, IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃOTodas as pessoas podem depor como testemunhas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. CLT, art. 829 e CPC, art. 405.Não há suspeição pelo simples fato da testemunha estar litigando ou ter litigado contra o mesmo empregador (Súmula 357 do TST). * A questão da “troca de favores”. Relativização, cautela.* Menor pode depor? Sim, nos termos do art. 228, parágrafo único, do CC. Todavia, STJ tem exigido também que a oitiva possa resguardar um direito dele (incapaz), deve beneficiá-lo.As testemunhas colaboram com a Justiça e por isso não poderão sobre qualquer desconto pelas faltas ao serviço (CLT, art. 822).Aplicam-se as disposições do CPC referentes à ordem de oitiva de testemunhas (art. 413) e à contradição (art. 414, §1º).

NÚMERONo Processo do Trabalho, as partes poderão trazer 2, 3 e 6 testemunhas, conforme se tratar de rito sumaríssimo, ordinário e inquérito judicial para apuração de falta grave. Esse limite é para as partes (total), não para o juiz ou para as chamadas “testemunhas do juízo”.Não há obrigatoriedade de apresentação de rol de testemunhas (CLT, arts. 825 e 845).Rito sumaríssimo: a testemunha é convidada.

REGISTROO depoimento das testemunhas ficará registrado: a) rito ordinário - o resumo (CLT, art. 828, parágrafo único); b) rito sumaríssimo – essencial e informações úteis (CLT, art. 852-F) e c) rito sumário – conclusão quanto à matéria fática (Lei 5.584/70, art. 2º, § 3º).

LIMITE TEMPORAL: Orientação Jurisprudencial 233 da SDI-1 do TST.

HORAS EXTRAS. COMPROVAÇÃO DE PARTE DO PERÍODO ALEGADO.A decisão que defere horas extras com base em prova oral ou documental não ficará limitada ao tempo por ela abrangido, desde que o julgador fique convencido de que o procedimento questionado superou aquele período.

13.5.3. Prova DocumentalA CLT dispõe de forma assistemática sobre a prova documental: arts. 777, 780, 787 e 830.Aplicação subsidiariamente o CPC.Os documentos públicos e privados têm valor probante relativo. Os públicos geram presunção dos fatos que ocorrem para sua produção e presenciados pela autoridade que os produziu.Devem ser juntados com a inicial ou com a defesa, podendo ser juntados posteriormente se forem novos (CLT, art. 787; CPC, arts. 396 e 397 e Súmula 8 do TST). O art. 830 da CLT já vinha sendo mitigado. Nesse sentido a OJ 36 da SDI-1 do TST, a qual assevera que a cópia de instrumento normativo possui valor probante quando não impugnado o seu conteúdo. A redação do art. 830 da CLT foi alterada pela Lei 11.926, de 2009.Alguns fatos somente são demonstrados por prova documental como, por exemplo, pagamento de salários (CLT, art. 464) e acordo de prorrogação de jornada (CLT, art. 59).A validade da quitação é tratada pela Súmula 330 do TST:

64

Page 65: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

A quitação passada pelo empregado, com assistência de entidade sindical de sua categoria, ao empre-gador, com observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art. 477 da CLT, tem eficácia libera-tória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas.I - A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e, consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse recibo.II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado no recibo de quitação.

INCIDENTE DE FALSIDADE E EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOSCLT é omissa. CPC, arts. 355/363 e 390/395.STJ: Vício meramente formal – incidente de falsidade; Vício do consentimento – ação autônoma de nulidade.O CPC considera que o incidente deve ser resolvido por sentença (art. 395), formando-se coisa julgada inter partes (majoritária).No processo do trabalho, independentemente do vício, processa-se o incidente de falsidade. Porém, sem os formalismos do CPC. Normalmente a questão é resolvida na instrução processual. A decisão que julga o incidente de falsidade, conforme jurisprudência e doutrina dominante trabalhista, possui natureza interlocutória, não cabendo, em regra, recurso.

13.5.4. Prova PericialAs definições e disposições do CPC, arts. 145 e 420/439 são aplicáveis, desde que não contrariarem disposições expressas da CLT.Cabe destacar que em relação ao adicional de insalubridade ou periculosidade a produção de prova pericial é obrigatória, nos termos do art. 195, caput e §2º, da CLT, ainda que o reclamado seja revel e haja confessio ficta quanto à matéria de fato. Poderá ser realizada por engenheiro ou médico, nos termos da OJ 165 da SDI-1/TST.A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, salvo se beneficiária de justiça gratuita (CLT, art. 790-B).Nas reclamações decorrentes de relação de emprego, adiantamento ou depósito prévio dos honorários periciais não é compatível com o processo trabalhista. Nesse sentido, OJ 98/SDI-2:

MANDADO DE SEGURANÇA. CABÍVEL PARA ATACAR EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO DE HONORÁRIOS PERICIAIS. É ilegal a exigência de depósito prévio para custeio dos honorários periciais, dada a incompatibilidade com o processo do trabalho, sendo cabível o mandado de segurança visando à realização da perícia, independentemente do depósito.

Todavia, nas relações de trabalho, esse adiantamento ou depósito poderá ser exigido, conforme parágrafo único do art. 6º da Instrução Normativa n. 27/2005 do TST.Procedimento: designação de perícia → apresentação de quesitos e indicação de assistentes técnicos (5 dias) → laudo → vista às partes.Poderá o juiz ouvir o perito em audiência (CLT, art. 827) ou designar nova perícia. Juiz não está vinculado ao laudo (art. 436 do CPC). Cautela e moderação. Razoabilidade.

PROVA PERICIAL EMPRESTADAPossibilidade de realização da prova pericial emprestada, nos termos da OJ 278 da SDI-1 do TST:

65

Page 66: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. PERÍCIA. LOCAL DE TRABALHO. DESATIVADO. A realização de perícia é obrigatória para a verificação de insalubridade. Quando não for possível sua realização, como em caso de fechamento da empresa, poderá o julgador utilizar-se de outros meios de prova.

13.5.5. Inspeção JudicialNão é meio de prova. Ato de conhecimento dos fatos pelo juiz.A CLT é omissa.Aplicação subsidiária do CPC (arts. 440/443). Não é muito usual. Em determinadas situações, pode ser eficaz.

Art. 440. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse à decisão da causa.Art. 441. Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais peritos.Art. 442. O juiz irá ao local, onde se encontre a pessoa ou coisa, quando:I- julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva observar;II- a coisa não puder ser apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou graves dificuldades;III- determinar a reconstituição dos fatos.Parágrafo único. As partes têm sempre direito a assistir à inspeção, prestando esclarecimentos e fazendo observações que reputem de interesse para a causa.Art. 443. Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa. Parágrafo único. O auto poderá ser instruído com desenho, gráfico ou fotografia.

13.5.6. Indícios e PresunçõesSegundo Sérgio Pinto Martins (2006, p. 344):

O indício decorre de uma circunstância conhecida, a qual mediante um processo indutivo chega-se à existência de outras situações.Distingue-se a presunção do indício. A primeira decorre de um fato conhecido para um fato ignorado. O indício mostra circunstâncias que conduzem à admissibilidade de outras situações.(...)Presunção não é meio de prova, tanto que não consta nesse sentido do CPC. É uma espécie de raciocínio lógico.Na presunção, parte-se de um fato conhecido para outro desconhecido, mediante raciocínio indutivo. Nas máximas de experiência, observa-se o que costumeiramente ocorre.

As presunções podem ser absolutas (jure et de jure), relativas (juris tantum) ou comuns (hominis vel iudicis).Exemplos de presunções: Súmulas 12, 16, 43, 212, 338, do TST.Máximas de experiência, segundo Leo Rosenberg (apud MARTINS, 2006, p. 346), “são tanto as regras de experiência e cultura gerais como as regras de uma perícia ou erudição especiais nas artes, ciência, ofício ou profissão, comércio e tráfico (...)”.Possibilidade de aplicação das máximas de experiência no rito sumaríssimo (CLT, arts. 852-D). Todavia, quando há lei específica para reger determinada situação, o juiz não poderá utilizar-se das máximas de experiência.

66

Page 67: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

14. SENTENÇA TRABALHISTA

14.1. ConceitoSão atos do juiz: a sentença, a decisão interlocutória e o despacho.“Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa” (CPC, art. 162, § 1º, antiga redação).“Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei” (CPC, art. 162, § 1º, redação dada pela Lei n. 11.232/05). Em outras palavras: o juiz extingue o processo, sem resolução ou com resolução do mérito.“Sentença é o ato pelo qual o juiz extingue o procedimento no primeiro grau de jurisdição” (LEITE, 2005, p. 460).

14.2. ClassificaçãoAs sentenças classificam-se em:1) Declaratórias, constitutivas e condenatórias (teoria trinária)Parte da doutrina acrescenta as mandamentais e as executivas lato sensu (teoria quintenária). Em regra, inexiste "pureza", mas sim predominância.2) Terminativas (sem resolução do mérito) ou definitivas (com resolução do mérito).Sentença homologatória é definitiva e, no Processo do Trabalho, somente é impugnável mediante ação rescisória (CLT, art. 832, parágrafo único; Súmula 100, V, TST).

14.3. RequisitosA sentença deve ser: Completa, Clara e Concisa (FABREGUETTES apud LEITE, 2005).CLT, art. 832, 852-I; CPC, art. 458.

Art. 832 - Da decisão deverão constar o nome das partes, o resumo do pedido e da defesa, a apreciação das provas, os fundamentos da decisão e a respectiva conclusão.§ 1º - Quando a decisão concluir pela procedência do pedido, determinará o prazo e as condições para o seu cumprimento.§ 2º - A decisão mencionará sempre as custas que devam ser pagas pela parte vencida.§ 3º - As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso. (Incluído pela Lei nº 10.035, de 25.10.2000)§ 4º - A União será intimada das decisões homologatórias de acordos que contenham parcela indenizatória, na forma do art. 20 da Lei no 11.033, de 21 de dezembro de 2004, facultada a interposição de recurso relativo aos tributos que lhe forem devidos. (Redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007)§ 5º - Intimada da sentença, a União poderá interpor recurso relativo à discriminação de que trata o § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.457, de 2007)§ 6º - O acordo celebrado após o trânsito em julgado da sentença ou após a elaboração dos cálculos deliquidação de sentença não prejudicará os créditos da União. (Incluído pela Lei nº 11.457, de 2007)§ 7º - O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado, dispensar a manifestação da União nas decisões homologatórias de acordos em que o montante da parcela indenizatória envolvida ocasionar perda de escala decorrente da atuação do órgão jurídico. (Incluído pela Lei nº 11.457, de 2007)

Art. 852-I. A sentença mencionará os elementos de convicção do juízo, com resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 12.1.2000)§ 1º - O juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem comum. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 12.1.2000)§ 2º - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.957, de 12.1.2000)§ 3º - As partes serão intimadas da sentença na própria audiência em que prolatada. (Incluído pela Lei nº9.957, de 12.1.2000)

67

Page 68: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem.

RELATÓRIOTem por objetivo a comprovação de que o juiz examinou e estudou os autos. Sua ausência gera nulidade, salvo tratar-se de processo submetido ao rito sumaríssimo (CLT, art. 852-I).

FUNDAMENTOS OU MOTIVOSBase intelectual, razões de decidir. Exigência constitucional, nos termos do art. 93, IX. Ausência gera nulidade absoluta.

DISPOSITIVO OU CONCLUSÃOObservância do princípio lógico ou da congruência: “a conclusão deve guardar rigorosa sintonia com as demais partes da sentença, ou seja, com as razões fáticas e jurídicas que conduziram o raciocínio do juiz e com os elementos noticiados no relatório”. (LEITE, 2005, p. 472).Ausência implica em inexistência da sentença. O dispositivo que se reporta à fundamentação sem especificar as parcelas deferidas é nula. Pode ser direto (especificação da condenação) ou indireto (referência à inicial ou à fundamentação).

REQUISITOS COMPLEMENTARESEm caso de procedência (total ou parcial): fixação do prazo e condições para cumprimento da sentença.Fixação das custas pelo vencido, observadas as normas do art. 789 da CLT.Indicação da natureza jurídica das parcelas constantes da condenação (ou do acordo homologado), bem como do limite de responsabilidade de cada parte (CLT, art. 832, §3º).* Parcelas de natureza indenizatória: Previsão legal - Lei 8.212/91, art. 28, § 9º.

14.4. VíciosA contradição, a obscuridade, a omissão sobre ponto que o juiz deveria pronunciar, além do julgamento ultra (quantidade superior), extra (qualidade diversa) ou citra petita (aquém do pedido, omissão) constituem vícios da sentença.Tais vícios são impugnáveis por recurso ou por ação rescisória (CPC, art. 485, V, c/c arts. 832/CLT e 460/CPC). A contradição, a obscuridade e a omissão podem ser objeto de Embargos de Declaração.Inexatidões materiais, erros de grafia ou cálculo podem ser corrigidos de ofício pelo magistrado (CLT, art. 833; CPC, art. 463, I).LEITE (2005) assevera que, em algumas hipóteses, há autorização legal para o julgamento extra (CLT, art. 496; Súmula. 396/TST), ultra (CLT, art. 467) e citra petita (CLT, art. 484).

14.5. Remessa Necessária ou Duplo Grau de Jurisdição ObrigatórioAs sentenças preferidas contra a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias e fundações, estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeitos senão após a sua confirmação pelo Tribunal (DL 779/69). Mitigação: CPC, art. 475 (NR da Lei 10.352/01) e Súmula 303 do TST.

68

Page 69: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

14.6. Coisa JulgadaAnteriormente, a coisa julgada era entendida como efeito da sentença. Atualmente é entendida por qualidade especial da sentença.

14.6.1. Espéciesa) Coisa julgada formal - CJF. Representa a estabilidade que a sentença adquire no processo em que foi proferida, quer tenha havido análise do mérito, quer não tenha ocorrido tal investigação.Também conhecida por “preclusão recursal”.Qualidade atribuída tanto às sentenças terminativas (CPC, art. 267) quanto às definitivas (CPC, art. 269).b) Coisa julgada material - CJM.A definição de coisa julgada é encontrada no CPC, art. 467: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”Qualidade atribuída apenas às sentenças definitivas, tornando-as imutáveis fora do processo. Podem, no entanto, ser rescindidas (CPC, art. 485), o que não ocorre com a CJF.Consagração do princípio da segurança jurídica (CF/88, art. 5°, XXXVI).O objetivo da coisa julgada material é “estabilizar a relação jurídica que foi submetida à prestação jurisdicional do Estado-juiz” (LEITE, 2005, p. 482).A doutrina ainda menciona a "coisa julgada soberana" ou “soberanamente julgada”, correspondendo à sentença transitada em julgado após o decurso do prazo para ajuizamento da ação rescisória.

14.6.2. Limites

a) Subjetivos.Quem é atingido pela autoridade da coisa julgada?Para as ações individuais, a regra geral é que somente as partes do processo são atingidos pela coisa julgada. Excepcionalmente terceiros interessados são atingidos.

A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros. (CPC, art. 472).

Para as ações coletivas lato sensu, a regra geral é a produção de coisa julgada erga omnes ou ultra pars, conforme se infere dos art. 103 do CDC. Tais ações possuem regramento próprio: CRFB, CDC, LACP e LOMPU (LEITE, 2005).

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

69

Page 70: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.(...)Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

b) Objetivos.O que adquire autoridade coisa julgada?É o decisum, conclusão ou dispositivo da sentença.

Art. 469. Não fazem coisa julgada:I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5º e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide.Art. 471. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide, salvo:I - se, tratando-se de relação jurídica continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito; caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença;II - nos demais casos prescritos em lei.

14.6.3. AutonomiaA jurisdição civil (aqui abrangida a trabalhista) é independente da jurisdição penal, salvo quanto à autoria e à materialidade decidida nesta última.

A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. (CC/2002, art. 935).

Dessa forma, um ato poderá não configurar um ilícito penal, mas isso, por si só, não afasta a possibilidade de caracterização da justa causa (CLT, arts. 482 e 483). O entendimento dominante do TST, conforme registrado por LEITE (2005), é no sentido de que o juiz do trabalho, para fins de responsabilidade trabalhista, não está obrigado a suspender o processo e aguardar o desfecho do processo criminal.

70

Page 71: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15. RECURSOS TRABALHISTAS

15.1. Teoria Geral

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARESA palavra recurso vem do latim recursus, que significa repetição de um caminho anteriormente percorrido.Justificativa: Inconformismo natural das partes, falibilidade do juiz e presunção de que os tribunais são compostos por magistrados mais experientes.Os recursos não são os únicos meios para impugnar as decisões judiciais. Existem também as ações autônomas de impugnação (ex.: mandado de segurança, ação rescisória, embargos do devedor e embargos de terceiro).

CONCEITOPara Carlos Henrique Bezerra Leite (2005, p. 490):

recurso, como espécie de remédio processual, é um direito assegurado por lei para que a(s) parte(s), o terceiro juridicamente interessado ou o Ministério Público possam provocar o reexame da decisão proferida na mesma relação jurídica processual, retardando, assim, a formação da coisa julgada.

De forma mais concisa, Sérgio Pinto Martins (2006, p. 380) conceitua recurso como “meio processual estabelecido para provocar o reexame de determinada decisão, visando à obtenção de sua reforma ou modificação.”

NATUREZA JURÍDICAHá duas correntes. Uma defende que o recurso como ação autônoma de impugnação, ou seja, tratar-se-ia de uma nova ação, de natureza constitutiva negativa. O direito de recorrer seria o exercício do próprio direito de ação. São seus defensores Gilles, Betti, Mortara, Guasp e Del Pozzo.A outra, por sua vez, entende que o recurso trata-se de mero prolongamento do exercício do direito de ação. É a corrente majoritária. São seus adeptos Rocco, Barbosa Moreira, Manoel Antônio Teixeira Filho, Carlos Henrique Bezerra Leite e outros.

CLASSIFICAÇÃONão há unanimidade na doutrina, podendo ser citadas as seguintes:a) recursos próprios – julgados por órgãos de jurisdição superior; ou recursos impróprios – julgados pelo mesmo órgão prolator da decisão.b) recursos ordinários – visam a obter a revisão do julgado, devolvendo ao juízo ad quem o exame completo e amplo da matéria impugnada; ou recursos extraordinários – versam eminentemente sobre matéria de direito, sendo vedado o exame de matéria fático-probatório.c) recurso total – quando há impugnação a todo o conteúdo da sentença; ou parcial – quando há impugnação de parte do conteúdo da sentença.d) recurso principal – possui existência própria; ou recurso adesivo – sua existência dependente de outro.

SISTEMAS RECURSAISAmpliativo – Admite diversos recursos, garantindo-se o exercício do direito à ampla defesa. Prima pela segurança jurídica.

71

Page 72: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Limitativo – Não se admite recursos para as decisões proferidas. Exemplo: rito de alçada (Lei 5.584/70, art. 2°, §4°. Visa a garantir a celeridade.

EFEITOS DOS RECURSOS

a) Devolutivo.Decorre do princípio dispositivo e do duplo grau de jurisdição.Entende-se por efeito devolutivo “a delimitação da matéria submetida à apreciação e julgamento pelo órgão judicial destinatário do recurso” (LEITE, 2005, p. 503).Aplicação do apotegma latino tantum devolutum quantum appellatum. Origem: Roma.O recurso recebido apenas no efeito devolutivo permite a execução provisória.Constitui a regra no Direito Processual do Trabalho.

b) SuspensivoCom o efeito suspensivo a produção dos efeitos da decisão impugnada é adiada, impossibilitando a execução provisória do julgado. Constitui a exceção no Direito Processual do Trabalho.

c) TranslativoÉ a possibilidade de o juiz ou tribunal decidir questões não abrangidas no recurso ou nas contrarrazões. Ocorre com as questões de ordem pública. Trata-se de exceção ao efeito devolutivo. Leciona Carlos Henrique Bezerra Leite (2005, p. 504):

(...) o novel §3° do art. 515 do CPC, com redação dada pela Lei n. 10.352/2001, autoriza a ampliação do efeito translativo, na medida em que faculta ao tribunal julgar desde logo a lide (mérito), se a causa versar questão exclusivamente de direito “e” estiver em condições de imediato julgamento, isto é, não houver necessidade de produção de outras provas.Parece-no que o conectivo aditivo “e” deve ser interpretado sistematicamente como disjuntivo alternativo “ou”, uma vez que o juízo ad quem pode na mesma sessão de julgamento apreciar o mérito tanto num caso (questão apenas de direito) quanto noutro (questão fática que independe de outras provas).

d) SubstitutivoA decisão proferida pelo juízo apreciador do recurso substitui a decisão recorrida.Nesse sentido, o art. 512 do CPC: “O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso”.Somente haverá substituição se o órgão julgador apreciar e julgar o mérito do apelo, ainda que para manter na íntegra a decisão guerreada.Na impugnação recursal por error in judicando sempre haverá efeito substitutivo. Todavia, em se tratando de error in procedendo, o efeito substitutivo somente ocorrerá quando for negado provimento ao recurso, pois, em caso de provimento, haverá anulação de decisão recorrida. (José Janguiê Bezerra Diniz apud Leite, 2005).Em suma, não há efeito substituição quando o órgão recursal não conhece do recursal ou quando anula a decisão.

e) Extensivo Consiste na possibilidade do recurso aproveitar outra pessoa que não o recorrente.Ocorre na hipótese de litisconsórcio unitário. Inexiste na hipótese prevista na S. 128,III,TST.

72

Page 73: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

f) RegressivoDiz respeito à possibilidade de retratação ou de reconsideração pelo órgão julgador. É próprio dos recursos de agravo de instrumento e agravo regimental.Para Carlos Henrique Bezerra Leite (2005), o disposto no art. 296 do CPC tem aplicação no processo trabalhista.

g) ObstativoImpede a formação da coisa julgada.Efeito inerente a todo recurso.

15.2. Princípios

Há divergência doutrinária quanto à enumeração dos princípios, havendo aqueles que são comuns a dois ou mais ramos da ciência jurídica.

PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃOObjetivo: Evitar o abuso de poder e garantir a justiça da decisão.Em relação a esse princípio, há duas correntes:1ª) Está implícito no art. 5°, LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.2ª) O duplo grau de jurisdição não é princípio constitucional, mas tão somente regra de organização judiciaria.

PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO ou IRRECORRIBILIDADE IMEDIATA DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIASPeculiaridade do processo laboral.CLT, art. 893, §1°: “Os incidentes do processo são resolvidos pelo próprio Juízo ou Tribunal, admitindo-se a apreciação do merecimento das decisões interlocutórias somente em recursos da decisão definitiva.”Exceções: Súmula 214 do TST.

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. IRRECORRIBILIDADENa Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, § 1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipótese de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho; b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal; c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT. (Nova redação - Res. 127/2005, DJ 16.03.2005)

PRINCÍPIO DA MANUTENÇÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇANo processo trabalhista, os recursos são dotados apenas do efeito meramente devolutivo (regra geral).CLT, art. 899, caput: “Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora.”Também é uma peculiaridade do processo do trabalho.Exceção: Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo (Lei 7.701/88, art. 7°, §6°).

73

Page 74: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE, UNIRRECORRIBILIDADE ou UNICIDADE RECURSALAdmite-se apenas um recurso contra a mesma decisão. Os recursos não podem ser utilizados simultaneamente, mas sim sucessivamente.

PRINCÍPIO DA CONVERSIBILIDADE ou FUNGIBILIDADEPela fungibilidade aproveita-se o recurso erroneamente interposto, desde que: a) haja dúvida razoável sobre o recurso cabível (divergência doutrinária e jurisprudencial); b) inexistência de erro grosseiro; c) interposição no prazo para o recurso cabível. (MARTINS, 2006, p. 383).

INTERPOSIÇÃO DE RECURSO “POR SIMPLES PETIÇÃO” E PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE OU DISCURSIVIDADEA regra geral no processo trabalhista é a de que os recursos podem ser interpostos por simples petição, ou seja, sem necessidade de fundamentação (CLT, art. 899). Não tem aplicabilidade para recursos técnicos como recurso de revista e embargos. Essa inexigibilidade de fundamentação somente pode ser utilizada quando o recorrente estiver sob o jus postulandi. (MARTINS, 2006).Carlos Henrique Bezerra Leite, por sua vez, entende que o art. 899 da CLT não deve ser interpretado de forma literal, “pois é da índole dos recursos, mesmo os previstos na Consolidação, que o recorrente decline as razões de seu inconformismo com a decisão hostilizada” (2005, p. 508). Referido autor enumera diversos argumentos contrários à ausência de fundamentação, tais como, o recurso seria genérico, impediria a outra parte de exercer seu direito de defesa, não seria possível saber qual parte da sentença transitou em julgado (parte não impugnada), endossaria recursos meramente procrastinatórios. Em resumo, assevera que o recurso deve ser discursivo, dialético, cabendo ao recorrente indicar as razões pelas quais impugna a decisão (LEITE, 2005).

PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADEA interposição de recursos constitui manifestação do princípio dispositivo.A remessa ex officio não é recurso, mas sim exigência legal para que a sentença contra a Fazenda Pública transite em julgado.

PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA “REFORMATIO IN PEJUS”Decorre dos princípios do duplo grau de jurisdição e do dispositivo.Proíbe-se que o órgão julgador priore a condição do recorrente. As partes do julgado não impugnadas são imodificáveis.Não alcança questões consideradas de ordem pública, a teor do §3° do art. 267 do CPC (Efeito translativo).Também não abrange a hipótese em que ambas as partes recorrem. O recurso do ex adverso pode gerar prejuízo à parte contrária e vice-versa.

PRINCÍPIO DA VIGÊNCIA IMEDIATA DA LEI NOVAA lei processual tem vigência imediata.

74

Page 75: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15.3. Pressupostos Recursais Gerais

15.3.1. Subjetivos

a) Legitimidade:Partes, terceiro prejudicado ou interessado e Ministério Público do Trabalho.Presidente do TRT (em dissídio coletivo), nos termos do art. 898/CLT. Questiona-se a constitucionalidade desse dispositivo, em virtude do princípio da inércia do Poder Judiciário e, recentemente, em face do que teor do § 2º do art. 114 da CF.

b) Capacidade:No momento da interposição o recorrente deve encontrar-se plenamente capaz.Sobrevindo incapacidade, a parte deverá ser representada ou assistida.

c) Interesse:Repousa no binômio UTILIDADE – NECESSIDADE.Há quem defenda que o interesse é mero corolário da sucumbência, o que não sempre ocorre.Interesse pressupõe prejuízo processual.

15.3.2. Objetivos

a) Recorribilidade do ato:Ausência de vedação legal para recurso contra a decisão judicial.Exemplo: Lei 5.584/70, art. 2º, § 4º: "Salvo se versarem sobre matéria constitucional, nenhum recurso caberá das sentenças proferidas nos dissídios da alçada a que se refere o parágrafo anterior, considerado, para esse fim, o valor do salário mínimo à data do ajuizamento da ação."

b) Adequação:O recurso tem que ser adequado e próprio para atacar a decisão judicial.Ex.: sentença – recurso ordinário; despacho que não recebe recurso – agravo de instrumento.A adequação é mitigada pelo princípio da fungibilidade dos recursos.LEITE (2005) entende que esse princípio não se aplica ao MPT, que tem o dever de utilizar o recurso adequado.

c) Tempestividade:O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto por lei.Regra geral: 8 dias (Lei 5.584/70, art. 6º).Administração direta, autárquica e fundacional: prazo em dobro (DL 779/69, art. 1º, III).Não se aplica o art. 191 do CPC, conforme OJ 310 da SDI-1.Ministério Público do Trabalho: prazo em dobro (aplicação supletiva do art. 188 do CPC). Uns entendem que somente haverá prazo em dobro quando intervém como custo legis. LEITE (2005) defende o prazo em dobro para qualquer hipótese.O prazo em dobro é apenas para recorrer e não para contrarrazões.

d) Regularidade da Representação:Se a parte estiver assistida por advogado, esta representação deverá está regularmente demonstrada nos autos.Admitem-se o mandato tácito (Súmula 164 e OJ 286 da SDI-1) e a procuração apud acta.

75

Page 76: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

e) Preparo:Consiste no pagamento das custas e no recolhimento do depósito recursal.

CUSTAS PROCESSUAIS

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações e procedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e serão calculadas: I – quando houver acordo ou condenação, sobre o respectivo valor; II – quando houver extinção do processo, sem julgamento do mérito, ou julgado totalmente improcedente o pedido, sobre o valor da causa; III – no caso de procedência do pedido formulado em ação declaratória e em ação constitutiva, sobre o valor da causa; IV – quando o valor for indeterminado, sobre o que o juiz fixar. § 1o As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal. § 2o Não sendo líquida a condenação, o juízo arbitrar-lhe-á o valor e fixará o montante das custas processuais. § 3o Sempre que houver acordo, se de outra forma não for convencionado, o pagamento das custas caberá em partes iguais aos litigantes. § 4o Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou pelo Presidente do Tribunal. (...)Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. § 1o Tratando-se de empregado que não tenha obtido o benefício da justiça gratuita, ou isenção de custas, o sindicato que houver intervindo no processo responderá solidariamente pelo pagamento das custas devidas. § 2o No caso de não-pagamento das custas, far-se-á execução da respectiva importância, segundo o procedimento estabelecido no Capítulo V deste Título. § 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem, sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

Art. 790-A. São isentos do pagamento de custas, além dos beneficiários de justiça gratuita: I – a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e respectivas autarquias e fundações públicas federais, estaduais ou municipais que não explorem atividade econômica; II – o Ministério Público do Trabalho. Parágrafo único. A isenção prevista neste artigo não alcança as entidades fiscalizadoras do exercício profissional, nem exime as pessoas jurídicas referidas no inciso I da obrigação de reembolsar as despesas judiciais realizadas pela parte vencedora.

DEPÓSITO RECURSALPrevisão §§ 1º a 6º do art. 899 da CLT.

§ 1º Sendo a condenação de valor até 10 (dez) vezes o salário-mínimo regional, nos dissídios individuais, só será admitido o recurso inclusive o extraordinário, mediante prévio depósito da respectiva importância. Transitada em julgado a decisão recorrida, ordenar-se-á o levantamento imediato da importância de depósito, em favor da parte vencedora, por simples despacho do juiz.

76

Page 77: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 2º Tratando-se de condenação de valor indeterminado, o depósito corresponderá ao que for arbitrado, para efeito de custas, pela Junta ou Juízo de Direito, até o limite de 10 (dez) vezes o salário-mínimo da região. § 3º - (Revogado pela Lei nº 7.033, de 5.10.1982)§ 4º - O depósito de que trata o § 1º far-se-á na conta vinculada do empregado a que se refere o art. 2º da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966, aplicando-se-lhe os preceitos dessa Lei observado, quanto ao respectivo levantamento, o disposto no § 1º. § 5º - Se o empregado ainda não tiver conta vinculada aberta em seu nome, nos termos do art. 2º da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966, a empresa procederá à respectiva abertura, para efeito do disposto no § 2º. § 6º - Quando o valor da condenação, ou o arbitrado para fins de custas, exceder o limite de 10 (dez) vezes o salário-mínimo da região, o depósito para fins de recursos será limitado a este valor. § 7º – No ato de interposição do agravo de instrumento, o depósito recursal correspondente a 50% (cinquenta por cento) do valor do depósito do recurso ao qual se pretende destrancar (acrescentado pela Lei 12.275, de 29.06.2010).

Regulamento: Instrução Normativa 03/1993 e Instrução Normativa 26/2004.Obrigação imposta apenas ao empregador.Administração Pública direta, autárquica e fundacional (DL 779/69), Ministério Público do Trabalho e Herança Jacente (IN 3/93) estão dispensados.Sua natureza é de garantia do juízo recursal e não de taxa judicial.Os valores são fixados anualmente pelo TST e publicados no órgão de imprensa oficial.Conforme Ato 334/2010 (DEJT em 21.07.2010), os valores dos depósitos recursais são os seguintes: RO – R$5.889,50; RR, EMBARGOS PARA TST, RE e Recurso em Ação Rescisória – R$11.779,02.

SÚMULA 86. DESERÇÃO. MASSA FALIDA. EMPRESA EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005Não ocorre deserção de recurso da massa falida por falta de pagamento de custas ou de depósito do valor da condenação. Esse privilégio, todavia, não se aplica à empresa em liquidação extrajudicial.

SÚMULA 128. DEPÓSITO RECURSAL- Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005I - É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, integralmente, em relação a cada novo recurso interposto, sob pena de deserção. Atingido o valor da condenação, nenhum depósito mais é exigido para qualquer recurso. II - Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para recorrer de qualquer decisão vi-ola os incisos II e LV do art. 5º da CF/1988. Havendo, porém, elevação do valor do débito, exige-se a complementação da garantia do juízo.III - Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide.

SÚMULA 161.DEPÓSITO. CONDENAÇÃO A PAGAMENTO EM PECÚNIA.Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 899 da CLT. Ex-prejulgado nº 39. (RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ 15.10.1982)

SÚMULA 245. DEPÓSITO RECURSAL. PRAZOO depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo alusivo ao recurso. A interposição antecipa-da deste não prejudica a dilação legal. (Res. 15/1985, DJ 09.12.1985)

OJ 140 DA SDI-1. DEPÓSITO RECURSAL E CUSTAS. DIFERENÇA ÍNFIMA. DESERÇÃO. OCORRÊNCIA. (nova redação, DJ 20.04.2005)Ocorre deserção do recurso pelo recolhimento insuficiente das custas e do depósito recursal, ainda que a diferença em relação ao “quantum” devido seja ínfima, referente a centavos.

77

Page 78: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

f) Inexistência de Fato Extintivo ou Impeditivo do Direito de Recorrer:Extraído dos arts. 501 a 503 do CPC, aplicáveis subsidiariamente (CLT, art. 769).

Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso.Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer.Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer.

Renúncia e concordância (fatos extintivos) e desistência (fato impeditivo). A distinção entre a renúncia e a desistência diz respeito ao momento da manifestação da vontade quanto ao direito de recorrer. Na segunda o recurso já existe, enquanto na primeira, não. Ambos independem da anuência da parte contrária. Para LEITE (2005), desistência deve ser expressa.

15.4. Interposição por Terceiros, pelo MPT e pela União

a) Terceiros:Necessidade de demonstração do interesse jurídico.* Perito tem legitimidade para recorrer? Controvérsia. MARTINS (2006) entende que perito não tem legitimidade. Não pode ser considerado terceiro, pois é auxiliar do juízo e possui interesse meramente econômico. No mesmo sentido, Robortella. Todavia, há corrente doutrinária e jurisprudencial (Alice Monteiro de Barros) que defende a possibilidade do perito recorrer.

b) MPT: Previsão: Lei Complementar n. 75/93, art. 83, VI - "recorrer das decisões da Justiça do Trabalho, quando entender necessário, tanto nos processos em que for parte, como naqueles em que oficiar como fiscal da lei, bem como pedir revisão dos Enunciados da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho".Todavia, o TST tem interpretado restritivamente a legitimidade do MPT para recorrer nos seguintes temas: OJ's 130 (arguição de prescrição em favor de ente público - Prejudicada em face da nova redação do §5º do art. 219 do CPC dada pela Lei 11.280/2006), 237 (defesa de interesse patrimonial de empresas públicas e sociedades de economia mista), 350 (nulidade de contrato não suscitado por ente público), Reconhece a legitimidade para recorrer de sentença que declara existência de vínculo empregatício com sociedade de economia mista ou empresa pública, após a CF/1988, sem aprovação em concurso público (OJ 338).

c) UniãoCom a edição da Lei 11.457/2007, a prerrogativa para intervenção do processo do trabalho, inclusive com a prerrogativa para interposição de recurso, é da União.Nesse sentido, os §§ 4º a 7º do art. 832 da CLT.

15.5. Juízos de AdmissibilidadeSão realizados pelo juízo a quo e pelo juízo ad quem e limitados aos pressupostos recursais subjetivos e objetivos (regra geral).Alterações do art. 557 do CPC (Lei 9.139/95 e, posteriormente, Lei 9.756/98) modificaram o sistema recursal, dando-lhe mais celeridade.

78

Page 79: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15.6. Espéciesa) Embargos no âmbito do TST (CLT, arts. 893 e 894); b) Recurso Ordinário (CLT, arts. 893 e 895);c) Recurso de Revista (CLT, arts. 893 e 896);d) Agravo de Petição (CLT, arts. 893 e 897, a e §§1º, 3º e 8º);e) Agravo de Instrumento (CLT, arts. 893 e 897, b e §§ 2º, 4º, 5º, 6º e 7º);f) Embargos de Declaração (CLT, art. 897-A; CPC, art. 535 c/c CLT, art. 769);g) Pedido de Revisão (Lei 5.584/70, art. 2º);h) Recurso Adesivo (CPC, art. 500 c/c art. 769 e Súmula 283 do TST);i) Recurso Extraordinário para o STF (CF/88, art. 102, III).

15.6.1. Recurso Ordinário - RO

DENOMINAÇÃO

(...) é o recurso clássico, por excelência, para impugnar as decisões finais desfavoráveis no âmbito da processualista laboral, já que, por meio dele, torna-se possível submeter ao juízo ad quem o reexame das matérias de fato e de direito apreciadas pelo juízo a quo.Trata-se, portanto, de recurso de larga utilização pelas partes no quotidiano forense trabalhista, mormente para atacar, em regra, as sentenças terminativas ou definitivas proferidas pelos órgãos de primeiro grau da jurisdição trabalhista no processo de conhecimento. (LEITE, 2005, p. 559).

CABIMENTO

Art. 895 - Cabe recurso ordinário para a instância superior:a) das decisões definitivas das Juntas e Juízos, no prazo de 10 (dez) dias; b) das decisões definitivas dos Tribunais Regionais, em processos de sua competência originária, no prazo de 10 (dez) dias, quer nos dissídios individuais, quer nos dissídios coletivos. § 1º - Nas reclamações sujeitas ao procedimento sumaríssimo, o recurso ordinário: I - (VETADO). II - será imediatamente distribuído, uma vez recebido no Tribunal, devendo o relator liberá-lo no prazo máximo de dez dias, e a Secretaria do Tribunal ou Turma colocá-lo imediatamente em pauta para julgamento, sem revisor;III - terá parecer oral do representante do Ministério Público presente à sessão de julgamento, se este entender necessário o parecer, com registro na certidão;IV - terá acórdão consistente unicamente na certidão de julgamento, com a indicação suficiente do processo e parte dispositiva, e das razões de decidir do voto prevalente. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a certidão de julgamento, registrando tal circunstância, servirá de acórdão.§ 2º Os Tribunais Regionais, divididos em Turmas, poderão designar Turma para o julgamento dos recursos ordinários interpostos das sentenças prolatadas nas demandas sujeitas ao procedimento sumaríssimo. (destaques acrescentados). OBS.: A lei 5.584/70 fixou o prazo de recursos para 8 dias.

Na verdade, cabe RO contra decisões definitivas (CPC, art. 269, I, II, IV e V) ou terminativas (CPC, art. 267, I, II, III, IV, V, VI, VIII, X; CLT, art. 844), bem como algumas decisões interlocutórias terminativas do feito (CLT, art. 799, §2º; Súmula 214/TST).Cabe RO para o TST das decisões finais de competência originária do TRT em: dissídio coletivo, ação rescisória, mandado de segurança, habeas corpus e decisões que aplicam penalidades a servidores da Justiça do Trabalho.

79

Page 80: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

EFEITOMeramente devolutivo. Apenas em dissídio coletivo permite-se ao Presidente do TST conceder o efeito suspensivo (Art. 9º da Lei 7.701/88).A jurisprudência admite, em situações excepcionais, a utilização de ação cautelar inominada, com pedido liminar, para a finalidade de se dar efeito suspensivo ao RO.

SÚMULA 414, I, DO TST MANDADO DE SEGURANÇA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA (OU LIMINAR) CONCEDIDA ANTES OU NA SENTENÇA. I - A antecipação da tutela concedida na sentença não comporta impugnação pela via do mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso ordinário. A ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a recurso. (destaque acrescentado).

FINALIDADECorreção de errores in judicando (função reformadora ou rescisória) e de errores in procedendo (função anulatória ou rescindente).

DEVOLUTIVIDADERegra: tantum devolutum quantum appellatum.Aplicação subsidiária das regras alusivas ao recurso de apelação.

Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.§1º - Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.§2º - Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.§3º - Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 2001)§4º - Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação. (Incluído pela Lei nº 11.276, de 2006)Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença, ainda não decididas. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 1994)Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

Em relação à aplicabilidade do §1º do art. 515 do CPC, o TST editou a Súmula 393:

RECURSO ORDINÁRIO. EFEITO DEVOLUTIVO EM PROFUNDIDADE. ART. 515, § 1º, DO CPC. Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005O efeito devolutivo em profundidade do recurso ordinário, que se extrai do § 1º do art. 515 do CPC, transfere automaticamente ao Tribunal a apreciação de fundamento da defesa não examinado pela sen-tença, ainda que não renovado em contrarrazões. Não se aplica, todavia, ao caso de pedido não apreci-ado na sentença. (ex-OJ nº 340 - DJ 22.06.2004)

O verbete deixa claro que somente as matérias impugnadas em defesa podem ser conhecidas. O Tribunal, porém, não poderá conhecer de pedidos não apreciados, caso contrário, haveria supressão de instância. Há matérias, contudo, que devem ser conhecidas ex officio por serem de ordem pública (v.g. pressupostos processuais e condições da ação). Trata-se aqui do efeito translativo.

80

Page 81: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

QUESTÕES POLÊMICAS:

* Pode o juízo ad quem, ao dar provimento ao recurso contra sentença que pronuncia a prescrição total, adentrar no mérito da causa, ou seja, apreciar os pedidos? Há três correntes:1ª) Não. A prescrição é prejudicial de mérito. Consequentemente, a apreciação do mérito configuraria supressão de instância com prejuízo à ampla defesa.2ª) Sim, A prescrição é matéria de mérito, conforme sistemática do CPC/1973 (art. 269). Logo, o RO devolve o conhecimento amplo do mérito.3ª) Eclética. Sim, desde que a causa esteja devidamente instruída para julgamento. Interpretação ampliativa do §3º do art. 515 do CPC.

* Pode o tribunal, ao reexaminar a sentença que julga improcedente o pedido, se manifestar sobre a prescrição arguida na contestação e não renovada nem em recurso nem em contrarrazões?1ª) Sim, porque não haveria preclusão consumativa. As contrarrazões constituem faculdade, já que desnecessário o prequestionamento em sede de recurso ordinário. Art. 515, §1º, CPC.2ª) Não. A prescrição somente pode ser acolhida se for renovada no recurso ordinário, pois o juízo ad quem fica adstrito ao exame da matéria efetivamente impugnada.Observação: A polêmica acima perderia sua importância em vista da edição da Lei 11.280/06, que revogou o art. 194 do CC e alterou a redação do §5º do art. 219 do CPC, para determinar que o juiz pronuncie, de ofício, a prescrição. Todavia, há grande controvérsia jurisprudencial e doutrinária na seara trabalhista quanto à aplicabilidade desse preceito.

* Pode o tribunal ingressar no mérito da causa e apreciar os pedidos, ao anular sentença que, após instrução probatória, declarou o autor carecedor?1ª) Não, pois configuraria supressão de instância e violação ao princípio do duplo grau de jurisdição. 2ª) Sim, com fundamento no §3º do art. 515 do CPC. LEITE (2005) entende que, para a aplicação do preceito supra, deverá haver pedido expresso do recorrente para o julgamento do mérito, pois, caso contrário, haveria violação do princípio da inércia com possibilidade de ocorrer até a reformatio in pejus. Exemplo: Sentença julgou inepta a ação e em grau de recurso o tribunal, depois de afastar a inépcia, julga improcedente o pedido.

TRAMITAÇÃO

Instância RecorridaSentença/acórdão → RO (petição de interposição e razões) → juízo a quo (1ª análise da admissibilidade) → intimação para contrarrazões → juízo a quo (possibilidade de retratação): a) denegação de seguimento (ausência dos pressupostos recursos) → agravo de instrumento.b) admissibilidade → juízo ad quem (TRT ou TST).

Instância RecursalDistribuição → MPT ou MPT → Distribuição (depende do regimento interno)→ relator: juízo de admissibilidade (negativo → agravo regimental para a Turma)→ revisor → sessão de julgamento (análise de admissibilidade e de mérito).

Observação: No rito sumaríssimo haverá distribuição imediata ao relator (10 dias para voto); não haverá revisor; parecer do MPT é facultativo e poderá ser oral, se for requerido; o acórdão

81

Page 82: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

consistirá de certidão de julgamento; o TRT poderá organizar turmas especializadas (§§1º e 2º do art. 895 da CLT).

15.6.2. Recurso de Revista - RR

NATUREZA JURÍDICARecurso de natureza extraordinária. Cabível apenas nos dissídios individuais.

OBJETIVO

(...) o recurso de revista se presta a corrigir a decisão que violar a literalidade da lei e a uniformizar a jurisprudência nacional concernente à aplicação dos princípios e normas de direito material e processual do trabalho. (LEITE, 2005, p. 585).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

A) GENÉRICOS:- Subjetivos: legitimidade, capacidade e interesse;- Objetivos: recorribilidade do ato, adequação, tempestividade, regularidade da representação e preparo.

SÚMULA 25. CUSTAS. SENTENÇA REFORMADA. A parte vencedora na primeira instância, se vencida na segunda, está obrigada, independentemente de in-timação, a pagar as custas fixadas na sentença originária, das quais ficara isenta a parte então vencida. (RA 57/1970, DO-GB 27.11.1970)

SÚMULA 128. DEPÓSITO RECURSAL. Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005I - É ônus da parte recorrente efetuar o depósito legal, integralmente, em relação a cada novo recurso in-terposto, sob pena de deserção. Atingido o valor da condenação, nenhum depósito mais é exigido para qualquer recurso. II - Garantido o juízo, na fase executória, a exigência de depósito para recorrer de qualquer decisão viola os incisos II e LV do art. 5º da CF/1988. Havendo, porém, elevação do valor do débito, exige-se a com-plementação da garantia do juízo. III - Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide.(destaques acrescentados).

B) ESPECÍFICOS:

1) Decisão proferida em grau de recurso ordinário em dissídios individuais - Não cabe RR contra decisões em: agravo de instrumento, matéria administrativa ou reclamação correicional dos TRT’s. Somente nos processos que se iniciam na 1ª instância. Esquema: VT → RO → TRT → RR → TST.- No procedimento sumaríssimo somente será admitido RR por contrariedade à Súmula do TST ou violação direta da Constituição (§6º do art. 896).- Ao contrário do que se possa imaginar, cabe RR no processo de execução. Porém, somente na hipótese de ofensa direta e literal de norma da Constituição Federal (§2º do art. 896).- Da decisão proferida em dissídio coletivo, mandado de segurança e ação rescisória (competência ordinária dos TRT’s) não cabe RR, mas sim RO. Em suma, não cabe RR no dissídio coletivo.- Na remessa de ofício também não cabe RR, conforme OJ 334 da SDI-1/TST:

82

Page 83: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

REMESSA "EX OFFICIO". RECURSO DE REVISTA. INEXISTÊNCIA DE RECURSO ORDINÁ-RIO VOLUNTÁRIO DE ENTE PÚBLICO. INCABÍVEL. DJ 09.12.2003Incabível recurso de revista de ente público que não interpôs recurso ordinário voluntário da decisão de primeira instância, ressalvada a hipótese de ter sido agravada, na segunda instância, a condenação imposta.

2) PrequestionamentoRequisito específico próprio dos recursos de natureza extraordinária.

O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento. (Súmula 356/STF).

SÚMULA 184.EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO EM RECURSO DE REVISTA. PRE-CLUSÃO. Ocorre preclusão se não forem opostos embargos declaratórios para suprir omissão apontada em re-curso de revista ou de embargos.

SÚMULA 297. PREQUESTIONAMENTO. OPORTUNIDADE. CONFIGURAÇÃO.I. Diz-se prequestionada a matéria ou questão quando na decisão impugnada haja sido adotada, expli-citamente, tese a respeito.II. Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso principal, opor em-bargos declaratórios objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena de preclusão.III. Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso principal sobre a qual se omi-te o Tribunal de pronunciar tese, não obstante opostos embargos de declaração.

Embargos de declaração manifestados com o notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório. (Súmula 98/STJ).Sobre prequestionamento: OJ’s 62, 118, 119, 151, 256.

3) Impossibilidade de reexame de fatos e provasOs recursos de natureza extraordinária ao se prestam a reexame de fatos e provas.“Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.” (Súmula 279/STF).“A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.” (Súmula 7/STJ).“Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, "b", da CLT) para reexame de fatos e provas.” (Súmula 126/TST).

4) Transcendência

Art. 896-A. O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. (Redação dada pela MP 2.226, de 4.9.2001).

Art. 2º. O Tribunal Superior do Trabalho regulamentará, em seu regimento interno, o processamento da transcendência do recurso de revista, assegurada a apreciação da transcendência em sessão pública, com direito a sustentação oral e fundamentação da decisão (MP 2.226, de 4.9.2001).

* O TST ainda não regulamentou o processamento do recurso de revista em seu regimento interno aprovado em 2008.

PRAZOObservância da regra geral: 8 dias (Lei 5.584/70, art. 5º).

EFEITOMeramente devolutivo (CLT, art. 896, §1º).

83

Page 84: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

HIPÓTESES DE CABIMENTOPrevistas nas alíneas a, b e c do art. 896 da CLT.

1) Divergência jurisprudencial na interpretação de Lei Federal- Interpretação diferente entre TRT’s ou entre um TRT e a SDI do TST quanto ao mesmo dispositivo legal.- Possibilidade de invocação de Orientação Jurisprudencial da SDI do TST (OJ 219).- Não cabe quando a divergência ocorre entre turmas de um mesmo TRT ou entre um TRT e turma do TST.

2) Divergência jurisprudencial na interpretação de lei estadual, convenção coletiva, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento de empresa- Necessidade dessas normas terem observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do TRT recorrido.- Somente no Estado de São Paulo é que poderá ocorrer divergência de interpretação de lei estadual por TRT’s distintos (2ª e 15ª Regiões, com sedes em São Paulo e Campinas).- Apesar de questionamento quanto à inconstitucionalidade dessa hipótese de cabimento de RR, o TST entendeu pela sua constitucionalidade (Súmula 312/TST).

3) Violação de literal dispositivo de lei federal ou da Constituição- “Lei federal”, segundo a doutrina, é a norma de aplicação restrita à esfera da União. Todavia, na hipótese em questão, “lei federal” deve ser entendida como lei nacional, norma de aplicabilidade em todo território brasileiro, elaborada pelo Congresso.

SÚMULA 221. RECURSOS DE REVISTA OU DE EMBARGOS. VIOLAÇÃO DE LEI. INDICA-ÇÃO DE PRECEITO. INTERPRETAÇÃO RAZOÁVEL. Res. 129/2005 – DJ 20.04.2005I - A admissibilidade do recurso de revista e de embargos por violação tem como pressuposto a indica-ção expressa do dispositivo de lei ou da Constituição tido como violado. II - Interpretação razoável de preceito de lei, ainda que não seja a melhor, não dá ensejo à admissi-bilidade ou ao conhecimento de recurso de revista ou de embargos com base, respectivamente, na alí-nea “c” do art. 896 e na alínea “b” do art. 894 da CLT. A violação há de estar ligada à literalidade do preceito. (destaques acrescentados).

* A divergência jurisprudencial deverá ser atual no sentido de que não foi suplantado por Súmula ou Orientação Jurisprudencial da SDI/TST. ** A divergência jurisprudencial interna do TRT não dá ensejo ao RR. Todavia, os TRT’s deverão proceder, obrigatoriamente, à uniformização de sua jurisprudência, nos termos do CPC, arts. 476 a 479. A súmula do TRT não ensejará RR se contrariar a do TST. *** O relator poderá denegar seguimento ao RR: se a decisão recorrida estiver em consonância com Súmula do TST ou nas hipóteses de intempestividade, deserção, falta de alçada e ilegitimidade de representação (CLT, art. 896, §§3º, 4º e 5º).

TRAMITAÇÃO

TRTAcórdão → Presidente (ou quem prever o regimento interno) → análise de admissibilidade:a) denegação → agravo de instrumento para o TST.b) recebimento → contrarrazões e/ou RR adesivo → Presidente (ou quem prever o regimento interno) → TST.

84

Page 85: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

TSTDistribuição → Relator: juízo de admissibilidade:a) denegação → agravo regimental para a Turma.b) recebimento → revisor → sessão de julgamento (admissibilidade e mérito).

15.6.3. Embargos no TSTO art. 894 da CLT, em sua redação anterior, tinha sido parcialmente derrogado pela Lei 7.701/1988, que tratou da especialização do TST e esvaziou a competência do Pleno, transferindo grande parte para suas seções especializadas (SDC e SDI).Existiam 03 (três) espécies: Embargos Infringentes, Embargos de Divergência e Embargos de Nulidade. Com o advento da Lei 11.496/2007, que deu novas redações aos arts. 894/CLT e 3º, III, b, da Lei 7.701/1988, passou a existir apenas as duas primeiras espécies.Para interposição dos embargos é necessário o depósito (R$11.779,03 – Ato 334/2010), caso não esteja garantido o valor da condenação.

15.6.3.1. Embargos Infringentes

PREVISÃO Lei 7.701/88, art. 2º, II, c:

Art. 2º - Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou seção normativa:(...)II - em última instância julgar:(...)c) os embargos infringentes interpostos contra decisão não unânime proferida em processo de dissí-dio coletivo de sua competência originária, salvo se a decisão atacada estiver em consonância com procedente jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho ou da Súmula de sua jurisprudência pre-dominante; (destaques acrescentados).

OBJETIVO Garantir o duplo grau de jurisdição para as decisões não unânimes em dissídio coletivo de competência originária do TST.

NATUREZA JURÍDICA Recurso de Natureza Ordinária

EFEITOMeramente devolutivo. Todavia, a devolutibilidade é ampla, alcançando matéria fática e jurídica.

PROCEDIMENTO Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho (RITST-2008):

Art. 232. Cabem embargos infringentes das decisões não unânimes proferidas pela Seção Especializa-da em Dissídios Coletivos, no prazo de oito dias, contados da publicação do acórdão no órgão oficial, nos processos de Dissídios Coletivos de competência originária do Tribunal. Parágrafo único. Os embargos infringentes serão restritos à cláusula em que há divergência, e, se esta for parcial, ao objeto da divergência.

85

Page 86: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Art. 233. Registrado o protocolo na petição a ser encaminhada à Secretaria do órgão julgador compe-tente, esta juntará o recurso aos autos respectivos e abrirá vista à parte contrária, para impugnação, no prazo legal. Transcorrido o prazo, o processo será remetido à unidade competente, para ser imediata-mente distribuído. Art. 234. Não atendidas as exigências legais relativas ao cabimento dos embargos infringentes, o Relator denegará seguimento ao recurso, facultada à parte a interposição de agravo regimental.

15.6.3.2. Embargos de Divergência

PREVISÃO Lei 7.701/88, art. 3º, III, b, com redação dada pela Lei 11.496/2007:

Art. 3º - Compete à Seção de Dissídios Individuais julgar:(...)III - em última instância:(...)b) os embargos das decisões das Turmas que divergirem entre si, ou das decisões proferidas pela

Seção de Dissídios Individuais;

(destaques acrescentados)

CABIMENTO Contra decisão proferida por Turma que divergir de decisão de outra Turma e de decisão da SDI. Por óbvio, a decisão da Turma também não poderá contrariar OJ nem Súmula do TST.

OBJETIVO Uniformizar a jurisprudência interna do TST.

NATUREZA JURÍDICA Recurso de Natureza Extraordinária.

EFEITO Meramente devolutivo. Aqui a devolutibilidade é restrita.Mesmas especificidades do Recurso de Revista.(v. Súmulas 297, 333, 337 e OJ’s 95, 147, 219, 257, 295).

PROCEDIMENTO Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho (RITST-2008):

Art. 231. Cabem embargos, por divergência jurisprudencial, das decisões das Turmas do Tribunal, no prazo de oito dias, contados de sua publicação, na forma da lei. Parágrafo único. Registrado o protocolo na petição a ser encaminhada à Coordenadoria da Turma prolatora da decisão embargada, esta juntará o recurso aos autos respectivos e abrirá vista à parte con-trária para impugnação no prazo legal. Transcorrido o prazo, o processo será remetido à unidade com-petente para ser imediatamente distribuído.

86

Page 87: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15.6.3.3. Embargos de Nulidade

PREVISÃO Estavam previstos na antiga redação da Lei 7.701/88, art. 3º, III, b (2ª parte), antes do advento da Lei 11.496/2007:

Art. 3º - Compete à Seção de Dissídios Individuais julgar:(...)III - em última instância:(...)b) os embargos interpostos às decisões divergentes das Turmas, ou destas com decisão da Seção de Dissídios Individuais, ou com enunciado da Súmula e as que violarem literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República;(destaque acrescentado)

CABIMENTO Eram cabíveis contra decisão proferida por Turma que violasse literalmente preceito de lei federal ou da Constituição da República.Deveria ser indicado no recurso o dispositivo legal ou constitucional violado, sendo que a violação deverá estar ligada à literalidade do preceito legal e não à sua interpretação (S. 221/ST).A distinção entre Embargos de Divergência e Embargos de Nulidade era dada pela doutrina por questões didáticas.

OBJETIVO, NATUREZA JURÍDICA, EFEITO e PROCEDIMENTO Idem Embargos de Divergência.

CRÍTICAA doutrina criticava a existência dos Embargos de Nulidade, pois, no âmbito da Justiça do Trabalho, era possível recorrer sobre questão de lei federal e constitucional ao TST, num primeiro momento, por meio de Recurso de Revista, apreciado por uma de suas Turmas, e, posteriormente, por meio de Embargos de Nulidade, agora apreciado pela SDI. Havia nítido prejuízo à celeridade processual e excesso de recursos.

15.6.4. AgravoNa sistema recursal trabalhista têm-se três espécies: a) agravo de petição; b) agravo de instrumento; e c) agravo regimental.

15.6.4.1. Agravo de Petição - AP

PREVISÃOCLT, art. 897, a.

CABIMENTO Contra decisões proferidas no processo de execução.

87

Page 88: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

QUESTÃO POLÊMICAO agravo de petição é cabível contra qual espécie de decisão? Conforme lição de LEITE (2005), existem três correntes:1ª) Restritiva. O agravo de petição somente é cabível contra as sentenças (terminativas ou definitivas). Fundamento: Princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias. Tem W. Giglio como um de seus defensores.2ª) Ampliativa. O agravo de petição também é cabível contra decisão interlocutória. Amauri Mascaro do Nascimento adota essa corrente.3ª) Eclética ou restritiva moderada. Regra geral, o agravo de petição somente é cabível contra as sentenças (terminativas ou definitivas). Todavia, em situações excepcionais (v.g. questões de ordem pública), caberá agravo de petição contra decisão interlocutória terminativa de feito.Tem como um de seus expoentes o jurista José Augusto Rodrigues Pinto.

QUESTÃO PACÍFICA Cabimento do agravo de petição contra a decisão de embargos e/ou a decisão que julga a impugnação à liquidação (CLT, art. 884 e parágrafos).

NATUREZA JURÍDICARecurso de Natureza Ordinária.

EFEITOMeramente devolutivo. Contudo, a devolutibilidade é restritiva às matérias e valores impugnados, de modo a permitir a execução imediata e até o final, nos próprios autos ou por carta de sentença, daquilo que não foi impugnado. (CLT, art. 897, §1º).Quanto à matéria impugnada, será possível a execução provisória. Há possibilidade de efeito translativo para as questões de ordem pública.LEITE (2005) entende que o AP comporta juízo de retratação ou efeito regressivo.

PREPAROExige-se que o juízo executório esteja garantido.A exigência de pagamento prévio de custas para agravar de petição era controvertida, tendo em vista o entendimento do STF de que o tal exigência dependeria de previsão legal.Atualmente o art. 789-A da CLT (redação dada pela Lei 10.537/02) prevê as hipóteses de custas no processo de execução, sempre de responsabilidade do executado e pagas ao final.A controvérsia é saber se essas custas são exigíveis para fins de interposição de AP.* Sugestão: Em vista o valor módico das custas (R$44,26), particularmente não correria o risco de ter o AP interposto denegado por deserção. Por isso e por cautela, efetuaria o recolhimento das custas.

PROCEDIMENTO:Decisão no processo de execução → Agravo de Petição → Juiz do Trabalho:a) denegar seguimento → Agravo de Instrumento.b) admissão → contraminutas pelo agravado → Juiz do Trabalho → TRT

88

Page 89: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15.6.4.2. Agravo de Instrumento - AI

PREVISÃOCLT, art. 897, b.Importante: A Lei 12.275/10 deu nova redação ao inciso I do §5º do art. 897 e acrescentou o §7º ao art. 899 da CLT, alterando a sistemática do AI para passar a exigir depósito recursal.

CABIMENTO Contra decisões que denegarem seguimento a recursos (v.g. Recurso Ordinário, Recurso de Revista, Recurso Extraordinário, Agravo de Petição, Pedido de Revisão etc.).Tem por objetivo "destrancar" recursos.

PRAZO: 8 (oito) dias.

NATUREZA JURÍDICARecurso de Natureza Ordinária.

EFEITOMeramente devolutivo. Contudo, a devolutibilidade é restritiva à denegação do recurso.O agravo de instrumento não suspende a execução da sentença (§2º do art. 897 da CLT).Comporta efeito regressivo, ou seja, juízo de retratação.

QUESTÕES POLÊMICAS

* A execução da sentença será definitiva ou provisória na pendência de AI?José Augusto Rodrigues Pinto (apud LEITE, 2005) interpreta o §2º do art. 897 da CLT no sentido de que não se permitirá a execução com atos de alienação. Caso contrário, o devedor estaria sujeito à perda definitiva de seu patrimônio.LEITE (2005), por sua vez, conclui que o agravo de instrumento não suspende a execução trabalhista. Todavia, o executado poderá valer-se da ação cautelar para obter a suspensão da execução.

* Qual é o meio processual que deve ser utilizado para impugnar a decisão do juízo a quo que nega seguimento a Agravo de Instrumento?Uma corrente doutrinária (Gabriel Saad), que é a minoritária, defende o cabimento da correição parcial.A majoritária entende cabível o mandado de segurança.

PROCEDIMENTOCLT, art. 897, §§ 4º, 5º, 6º, 7º e 8º.O agravo de instrumento será interposto no juízo prolator da decisão denegatória de recurso e processado em autos apartados.Em vista da revogação dos §§ 1º e 2º do inciso II pelo Ato GDGCJ.GU n. 162/2003, não há mais a possibilidade do agravo de instrumento tramitar nos autos principais.O agravo não será conhecido se o instrumento não contiver as peças necessárias para o julgamento do recurso “trancado”. Após a edição da Lei 12.275/10, passou a ser exigida a comprovação do recolhimento de custas e do depósito recursal equivalente a 50% do valor de depósito do recurso que se pretende destrancar.

89

Page 90: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Haverá juízo de retratação. Mantida a decisão, o agravado será intimado para apresentar contraminuta e documentos que entender necessários.Formados os autos apartados, serão encaminhados ao Tribunal que tem competência para julgar o recurso “trancado”.Provido o agravo de instrumento, o Tribunal, imediatamente, processará o recurso “trancado” e procederá ao seu julgamento.

Decisão denegatória de recurso → agravo de instrumento → juízo a quo:a) retratação e o recurso “trancado” seguirá sua tramitação normal.b) mantida a decisão → contraminuta pelo agravo → juízo a quo → juízo ad quem (se este der provimento ao AI, desde logo julgará o recurso "trancado")

15.6.4.3. Agravo Regimental

PREVISÃOCLT, art. 709, §1º; Lei 5584/70, art. 9º, parágrafo único; Lei 7.701/88, art. 3º.Questionamento quanto à constitucionalidade das previsões em regimentos internos por ofensa ao art. 22, I. Entretanto, a jurisprudência dominante entende que não haveria inconstitucionalidade, porque os regimentos internos estariam apenas regulamentando a lei.

CABIMENTOÀ semelhança do agravo de instrumento, é cabível contra as decisões que denegarem seguimento a recursos. Também é utilizado para impugnar decisões para as quais a lei não prevê um recurso específico.

EFEITOMeramente devolutivo e efeito regressivo (juízo de retratação).

PROCEDIMENTOCada regimento interno apresentará um procedimento próprio.

RITST-2008:

Art. 235. Cabe agravo regimental, no prazo de oito dias, para o Órgão Especial, Seções Especializa-das e Turmas, observada a competência dos respectivos órgãos, nas seguintes hipóteses: I - do despacho do Presidente do Tribunal que denegar seguimento aos embargos infringentes; II - do despacho do Presidente do Tribunal que suspender execução de liminares ou de decisão con-cessiva de mandado de segurança; III - do despacho do Presidente do Tribunal que conceder ou negar suspensão da execução de liminar, antecipação de tutela ou da sentença em cautelar; IV - do despacho do Presidente do Tribunal concessivo de liminar em mandado de segurança ou em ação cautelar; V - do despacho do Presidente do Tribunal proferido em pedido de efeito suspensivo; VI - das decisões e despachos proferidos pelo Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho; VII - do despacho do Relator que negar prosseguimento a recurso, ressalvada a hipótese do art. 239; VIII - do despacho do Relator que indeferir inicial de ação de competência originária do Tribunal; e IX - do despacho ou da decisão do Presidente do Tribunal, de Presidente de Turma, do Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho ou Relator que causar prejuízo ao direito da parte, ressalvados aqueles contra os quais haja recursos próprios previstos na legislação ou neste Regimento. Art. 236. O agravo regimental será concluso ao prolator do despacho, que poderá reconsiderá-lo ou determinar sua inclusão em pauta visando apreciação do Colegiado competente para o julgamento da ação ou do recurso em que exarado o despacho.

90

Page 91: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 1.º Os agravos regimentais contra ato ou decisão do Presidente do Tribunal, do Vice-Presidente e do Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho, desde que interpostos no período do respectivo mandato, serão por eles relatados. Os agravos regimentais interpostos após o término da investidura no cargo do prolator do despacho serão conclusos ao Ministro sucessor. § 2.º Os agravos regimentais interpostos contra despacho do Relator, na hipótese de seu afastamento temporário ou definitivo, serão conclusos, conforme o caso, ao Juiz convocado ou ao Ministro nomeado para a vaga. § 3.º Os agravos regimentais interpostos contra despacho do Presidente do Tribunal, proferido durante o período de recesso e férias, serão julgados pelo Relator do processo principal, salvo nos casos de competência específica da Presidência da Corte. § 4.º O acórdão do agravo regimental será lavrado pelo Relator, ainda que vencido.

15.6.5. Embargos de Declaração - ED

PREVISÃO CPC, art. 535 e CLT, art. 897-A.

OBJETIVOEsclarecimento, integração ou complementação do julgado.

PRAZO05 (cinco) dias. Exceção à regra geral dos prazos recursais trabalhistas (8 dias).

NATUREZA JURÍDICAControvérsia quanto à natureza recursal dos embargos de declaração. Uns entendem que não seriam recurso, porque são julgados pelo próprio juízo recorrido, não há previsão de contraditório e, regra geral, não objetivam a reforma de decisão.Outros entendem que seriam recurso, pois estão previstos pela lei como tal.

CABIMENTOSentenças e decisões interlocutórias.Parte da doutrina defende a possibilidade de interposição de ED contra despachos meramente ordinatórios. Corrente minoritária e contrária à disposição legal (art. 504/CPC).ED são utilizados para fins de prequestionamento (Súmula 297, II, TST).

EFEITOSOs embargos de declaração produzem efeito interruptivo, salvo se forem intempestivo.Modificativo: nas hipóteses de omissão e contradição e equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso. Possibilidade consagrada pelo STF e pelo TST. Necessidade de concessão de vista à parte contrária (OJ 142 da SDI-1).

PROCEDIMENTOSentença ou acórdão → embargos de declaração → juízo a quo:a) sem possibilidade de efeito modificativo → julgamento.b) possibilidade de efeito modificativo → vista ao embargado → julgamento.

91

Page 92: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

15.6.6. Recurso Extraordinário em Matéria Trabalhista - RE

PREVISÃOCF, art. 102, III.CPC, arts. 541 a 546, com alterações dadas pela Lei 11.418/2006.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

A) GENÉRICOS:- Subjetivos: legitimidade, capacidade e interesse;- Objetivos: recorribilidade do ato, adequação, tempestividade, regularidade da representação e preparo (depósito recursal - R$9.987,56 – Ato GP 251/2007).

B) ESPECÍFICOS:

1) Decisão proferida em única ou última instânciaÚltima instância: SDI ou SDC do TST.Única instância: Rito de Alçada ou Rito Sumário (Lei 5.584/70, art. 2º, §4º), conforme entendimento de Carlos Henrique Bezerra Leite (2005) e Estêvão Mallet (apud LEITE, 2005).

2) Questão constitucional A violação deverá ser direta e frontal (Súmulas 399 e 400 do STF).

3) Repercussão geral da questão constitucionalDemonstração da repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso e somente poderá ser recusado pela manifestação de dois terços dos membros do STF (§3º do art. 102, acrescentado pela EC 45/04).Procedimento: arts. 543-A e 543-B do CPC, acrescentados pela Lei 11.418/2006.

4) PrequestionamentoDeverá constar de forma explícita da decisão guerreada a matéria impugnada.Súmula 356 do STF.

NATUREZA JURÍDICARecurso de Natureza Extraordinária.

EFEITOMeramente devolutivo. Todavia, a devolutibilidade é restrita (prequestionamento).“Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário” (Súmula 279/STF).Mesmas especificidades do Recurso de Revista.A interposição de Recurso Extraordinário não prejudicará a execução do julgado, a teor do §2º do art. 893 da CLT.

QUESTÃO POLÊMICAA execução da sentença será definitiva ou provisória na pendência de RE?A questão é bastante controvertida. Entretanto, Valentim Carrion, Manoel Antonio Teixeira Filho e Carlos Henrique Bezerra Leite entendem que a execução deverá ser definitiva, com base na exegese do art. 893, §2º, da CLT.

92

Page 93: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Por outro lado, há a Súmula 228 do STF, bem como no julgamento do RE 84334 (RTJ 78/638), em sessão plenária, o Senhor Ministro Relator entendeu que, em face do Código de Processo Civil de 1973, é provisória a execução de sentença enquanto pende o julgamento do recurso extraordinário. Nesse sentido veja RE 82902 (RTJ 78/274), RE 82926 (RTJ 83/158) e RE 85761 (DJ de 25/4/1977). Com o advento da Lei 8038/1990, que introduziu modificação no art. 497 do Código de Processo Civil de 1973, a execução continua sendo provisória (essa lei apenas incluiu o recurso especial, que é da competência do STJ).Além disso, há a OJ 56 da SDI-2 do TST, no sentido de que o credor não tem direito líquido e certo à execução definitiva na pendência de RE e de AI para destrancar RE.

PRAZO 15 (quinze) dias.

PROCEDIMENTOObservância das normas previstas na Lei 8.038/90 (arts. 26/29) e no CPC (arts. 541/546).

Decisão em única ou última instância → Recurso Extraordinário → juízo a quo:a) denegar seguimento → Agravo de Instrumento → STF.b) admissibilidade → contrarrazões → juízo a quo → STF.

15.6.7. Recurso Adesivo

PREVISÃOArt. 500 do CPC. No processo civil é admitido na Apelação, nos Embargos Infringentes, no Recurso Extraordinário e no Recurso Especial. NATUREZA JURÍDICANão é um recurso autônomo, mas sim uma forma de interposição de recurso (Nelson Nery Jr)

OBJETIVOEvitar a interposição de recursos voluntários.

INCONSTITUCIONALIDADE?Parte da doutrina (Manoel Antônio Teixeira Filho) entende que o recurso adesivo é inconstitucional, pois impede a formação normal da coisa julgada. Posição minoritária.

COMPATIBILIDADE COM O PROCESSO DO TRABALHO?Sim, no prazo de 8 dias (contrarrazões), nas hipóteses de interposição de RO, AP, RR e Embargos, conforme Súmula 283 do TST. Não cabe recurso adesivo na remessa obrigatória.Apesar da Súmula 283 do TST não mencionar expressamente, cabe recurso adesivo no Recurso Extraordinário, nos termos do art. 500, II, do CPC.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOSa) Sucumbência recíproca. Há quem diferencie da sucumbência parcial (quantidade).b) Ausência de recurso próprio.c) Existência de recurso principal.d) Atendimento dos mesmos pressupostos do recurso principal.

93

Page 94: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Não é possível uma mesma parte recorrer com recurso principal e adesivamente ao recurso da parte contrária. Princípio da unirrecorribilidade. Preclusão.

LEGITIMAÇÃOAlém do autor e do réu, o terceiro juridicamente interessado e o Ministério Público poderão recorrer adesivamente (LEITE, 2005).Todavia, com base no disposto do art. 500 do CPC, a corrente doutrinária predominante assevera que somente quem for parte poderá interpor recurso adesivo.

EFEITOSOs mesmos do recurso principal a que aderiu.

PROCEDIMENTOPrazo para contrarrazões do recurso principal → recurso adesivo → juízo a quo:a) denegação do recurso adesivo → agravo de instrumento.b) admissão → juízo ad quem (recurso principal e recurso adesivo).Havendo desistência do recurso principal ou se ele não for admitido, o recurso adesivo ficará prejudicado.

15.6.8. Pedido de Revisão

PREVISÃO

Lei 5.584/70.Art. 2º Nos dissídios individuais, proposta a conciliação, e não havendo acordo, o Presidente, da Junta ou o Juiz, antes de passar à instrução da causa, fixar-lhe-á o valor para a determinação da alçada, se este for indeterminado no pedido. § 1º Em audiência, ao aduzir razões finais, poderá qualquer das partes, impugnar o valor fixado e, se o Juiz o mantiver, pedir revisão da decisão, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ao Presidente do Tribunal Regional. § 2º O pedido de revisão, que não terá efeito suspensivo deverá ser instruído com a petição inicial e a Ata da Audiência, em cópia autenticada pela Secretaria da Junta, e será julgado em 48 (quarenta e oito) horas, a partir do seu recebimento pelo Presidente do Tribunal Regional.(...)

NATUREZA JURÍDICAPara LEITE (2005), o pedido de revisão possui natureza de “agravinho”, porque ataca decisão tipicamente interlocutória. Logo, constitui exceção ao princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOSa) Valor atribuído pelo juízo for igual ou inferior a dois salários mínimos;b) Impugnação do valor da causa em audiência (até razões finais);c) Ausência de retratação pelo juiz.

EFEITOMeramente devolutivo. Porém, a devolutibilidade é restrita à fixação do valor da causa.

PROCEDIMENTOPetição inicial omissão → fixação do valor da causa pelo juiz → impugnação → juiz mantém decisão → pedido de revisão (48 h) → Presidente do TRT → julgamento (48 h).

94

Page 95: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

16. EXECUÇÃO TRABALHISTA – Parte I

16.1. ConceitoAtividade jurisdicional desenvolvida, de ofício ou mediante iniciativa do interessado, com o objetivo de compelir o devedor ao cumprimento da obrigação contida no título executivo (Manoel Antonio Teixeira Filho, modificado).

16.2. Títulos ExecutivosPrevisão caput do art. 876 da CLT (redação dada pela Lei 9.958/2000).Judiciais: decisões transitadas em julgado ou contra as quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; acordos, quando não cumpridos.Extrajudiciais: termos de ajuste de conduta firmados perante o MPT; termos de conciliação firmados perante as CCP's.

16.3. Natureza Jurídica - Execução: Fase ou Processo Autônomo?A doutrina majoritária defende a execução como processo autônomo. Fundamento básico: artigo 880 da CLT.Há também uma corrente que defende ser a execução uma mera fase do processo de conhecimento. Esta corrente vem ganhando força em razão das alterações do CPC (Leis 11.232/2005 e 11.382/2006).Nesse sentido, Mauro Schiavi leciona:

Na verdade, para os títulos executivos judiciais, a execução trabalhista nunca foi, na prática, considerada um processo autônomo, que se inicia por petição inicial e se finaliza com a sentença. Costumeiramente, embora a liquidação não seja propriamente um ato de execução, as Varas do Trabalho consideram o início do cumprimento da sentença mediante despacho para o autor apresentar os cálculos de liquidação e, a partir daí, a Vara do Trabalho promove, de ofício, os atos executivos.

De outro lado, no Processo do Trabalho, em se tratando de título executivo judicial, a execução é fase do processo e não procedimento autônomo, pois o juiz pode iniciar a execução de ofício (art. 878, da CLT), sem necessidade de o credor entabular petição inicial. (SCHIAVI, 2009, p. 764).

16.4. Estrutura Orgânica da ExecuçãoA execução pode ser dividida em três fases ou estruturas orgânicas: a) Quantificação (fixação do montante da obrigação devida); b) Constrição (apreensão do patrimônio do devedor ou do responsável); c) Expropriação (satisfação do direito do credor).

16.5. Princípios da Execução Trabalhista Não há um consenso absoluto, pois cada doutrinador enumera os princípios segundo o seu entendimento. Por isso, apenas para fins de um conhecimento básico, citemos aqueles mencionados por Carlos Henrique B. Leite (LEITE, 2005, p. 687/691).1. IGUALDADE DE TRATAMENTO DAS PARTES - CF, art. 5º. Igualdade substancial.2. NATUREZA REAL DA EXECUÇÃO - Responsabilidade patrimonial. CPC, art. 591.3. LIMITAÇÃO EXPROPRIATÓRIA - Restringe-se tanto no que se refere à qualidade quanto à quantidade de bens necessários à satisfação do débito. CPC, art. 659.4. UTILIDADE PARA O CREDOR - A execução deve ser útil ao credor. CPC, §§ do art. 659; Lei 6.830/1980, art. 40, §3º.5. NÃO-PREJUDICIALIDADE DO DEVEDOR - CPC, art. 620. Mitigação no processo trabalhista. "A execução deve ser processada de maneira menos grave ao credor."

95

Page 96: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

6. ESPECIFICIDADE - O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, na impossibilidade da satisfação in natura. Há tendência à primazia da execução "específica", com utilização de diversas "medidas de apoio" (CPC, artigos 461 e 461-A). Somente em último caso haverá a conversão.7. RESPONSABILIDADE PELAS DESPESAS PROCESSUAIS - Em regra, as despesas processuais da execução são de responsabilidade do executado.8. NÃO-AVILTAMENTO DO DEVEDOR - Corolário do princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III; CPC, art. 649; Lei 8.009/1990).9. LIVRE DISPONIBILIDADE DO PROCESSO PELO CREDOR - O credor tem diversas faculdades para a condução do processo executivo. Acrescente-se ao rol supra, o princípio da APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA - Primeiramente, da Lei de Execução Fiscal (Lei 8.830/1980). Posteriormente o CPC. Inteligência do art. 889 da CLT c/c art. 1º da LEF.Citem-se, ainda, para fins de informação, outros princípios mencionados por Mauro Schiavi (SCHIAVI, 2009, p. 758/766), tais como os da primazia do credor trabalhista, do título executivo, da redução do contraditório, da efetividade e da função social da execução trabalhista.

16.6. Liquidação

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICATrata-se de pressuposto essencial à execução. Não é processo autônomo, mas "fase preparatória da execução".Com as alterações do CPC promovidas pela Lei 11.232/2005, a liquidação de sentença deixou de ser um processo autônomo para se tornar um incidente processual preliminar ao cumprimento da sentença.

ESPÉCIESNos termos do art. 879 da CLT, a liquidação poderá ser realizada por cálculo, por arbitramento ou por artigos.Alguns doutrinadores chegaram a defender que, a partir da vigência da Lei 8.432/1992, que acrescentou o §2º ao art. 879 da CLT, as três modalidades previstas no caput foram substituídas pela liquidação por cálculos, que passou a ser a única. Entendimento minoritário.

LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULOSNo processo civil, a liquidação por cálculos deixou de existir desde a vigência da Lei 8.898/1994, que deu nova redação ao art. 604 do CPC. Atualmente, em vista das alterações promovidas pela Lei 11.232/2005, a matéria está disposta no art. 475-B do CPC.Em vista das disposições contidas no art. 879 e seus parágrafos, não há espaço para aplicação das disposições do CPC (art. 889 c/c art. 769 da CLT).Questões controvertidas: É obrigatória a intimação das partes nos termos do §2º do art. 879 da CLT? Se houver intimação e as partes não se manifestarem, haverá preclusão?Carlos Henrique Bezerra Leite entende que a intimação não é obrigatória, podendo o juiz proceder de duas formas: 1ª) Homologar a conta, sem observar o contraditório. Nesse caso, a impugnação deverá ser realizada nos termos do §3º do art. 884 da CLT.2ª) Conceder vista às partes. A impugnação deve ser específica e fundamentada. Haverá preclusão temporal (se escoado in albis o prazo para manifestação) ou consumativa (se houver

96

Page 97: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

impugnação). Se não houver impugnação, estará preclusa a oportunidade prevista no §3º do art. 884 da CLT. Não haverá preclusão pro judicato.* Observação: Há entendimento no sentido de que a faculdade de concessão de vista contida no §2º do art. 879 da CLT não afasta a oportunidade prevista no §3º do art. 884 da CLT, inexistindo preclusão.

LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTOAplicação subsidiária das regras previstas no CPC (artigos 475-C e 475-D).Forma subsidiária de liquidação (impossibilidade de utilização das demais).

LIQUIDAÇÃO POR ARTIGOSAplicação subsidiária das regras previstas no CPC (artigos 475-E e 475-F).Depende de iniciativa da parte.O que é "fato novo" para fins desta modalidade de liquidação?Segundo José Augusto Rodrigues Pinto, a denominação de fato novo seria imprópria. "O que realmente ocorre é a presença de um fato cuja existência já é reconhecida pela sentença (logo, não é novo), mas incompletamente investigado, de modo a faltar algo, ainda, de sua exata dimensão. A investigação que se faz é apenas complementar da intensidade com que o fato contribui para a quantificação do crédito a ser exigido."

SENTENÇA DE LIQUIDAÇÃONão há consenso quanto à sua natureza jurídica.Para uns, trata-se de decisão interlocutória. Para outros, trata-se de decisão declaratória.Na primeira hipótese, não seria cabível a ação rescisória. Já na segunda, sim.A respeito da questão, o TST editou a Súmula 298, inciso IV (antiga OJ 85): "A sentença meramente homologatória, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, não se mostra rescindível, por ausência de prequestionamento."

16.7. Legitimação Ad Causam

ATIVAEstá prevista no art. 878 da CLT: qualquer interessado ou ex officio (pelo próprio juiz ou pelo presidente do tribunal competente).Qualquer interessado: dada a omissão da CLT, aplicam-se subsidiariamente os artigos 566 e 567 do CPC, com as devidas adaptações.O cessionário e o sub-rogado são hipóteses de rara aplicação no processo laboral, em função da natureza personalíssima da posição jurídica do trabalhador. O Provimento TST/CGJT n. 6/2000 dispõe que a "cessão de crédito prevista em lei é juridicamente possível, não podendo, porém, ser operacionalizada no âmbito da Justiça do Trabalho, sendo como é um negócio jurídico entre empregado e terceiro que não se coloca em qualquer dos polos da relação processual trabalhista".

PASSIVARegra geral é o empregador. Todavia, o empregado também pode figurar no polo passivo.Em vista da omissão da CLT, imperativa é a aplicação subsidiária do art. 4º da Lei 6.830/1980 (ou do art. 568 do CPC).O novo devedor e o fiador judicial são hipóteses de difícil aplicação no processo laboral, tendo em vista a incompetência da Justiça do Trabalho para apreciar ações envolvendo sujeitos que não figuram na relação de trabalho.

97

Page 98: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Tratando-se de sucessão trabalhista, o sucessor responde integralmente pelas dívidas trabalhistas.No Processo do Trabalho é comum a aplicação da teoria da disregard of legal entity (teoria da penetração ou teoria da desconsideração da personalidade jurídica). Há previsão no ordenamento jurídico brasileiro: CDC, art. 28, e CC, art. 50.

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. (* TEORIA MAIOR ou SUBJETIVA)§ 1° (Vetado).§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. (*TEORIA MENOR ou OBJETIVA).

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

16.8. EXECUÇÃO DEFINITIVA E EXECUÇÃO PROVISÓRIA

EXECUÇÃO DEFINITIVAFundada em sentença transitada em julgado ou em título extrajudicial.Valentim Carrion, Manoel Antonio Teixeira Filho e Carlos Henrique Bezerra Leite entendem que a execução deverá ser definitiva também na hipótese de pendência de recurso extraordinário, com base na exegese do art. 893, §2º, da CLT.A execução definitiva abrange diversos procedimentos que serão abordados posteriormente.

EXECUÇÃO PROVISÓRIAFundada em sentença não transitada em julgado.A execução também seria provisória na pendência de Recurso Extraordinário, conforme entendimento do STF (RE 84334, RTJ 78/638) e do TST (OJ 56 da SDI-2).Não é possível ser iniciada ex officio.Na hipótese prevista no §1º do art. 897 da CLT (agravo de petição), a decisão poderá ser executada de forma definitiva (parte incontroversa) e de forma provisória (parte controvertida). Interpretação restritiva, não se aplicando a outras modalidades recursais.Nos termos do art. 899 da CLT, a execução provisória vai até a penhora.Há corrente doutrinária e jurisprudencial que admite a prática de outros atos posteriores à penhora, relativamente ao seu aperfeiçoamento (embargos à execução, agravo de petição etc).Possibilidade de realização de atos expropriatórios, com base na aplicação subsidiária do disposto no §2º do art. 475-O do CPC.Há controvérsia quanto à possibilidade da execução provisória de sentença contendo obrigação de fazer. A jurisprudência vem evoluindo e já está admitindo a antecipação de tutela (execução lato sensu provisória) de obrigação de fazer, conforme OJ 65 da SDI-2 do TST.

98

Page 99: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Carlos Henrique Bezerra Leite entende ser possível a penhora em dinheiro na execução provisória.Todavia, o TST posicionou-se em sentido contrário, conforme Súmula 417, III.

Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC.

99

Page 100: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

16. EXECUÇÃO TRABALHISTA – Parte II

16.9. Execução por Quantia Certa Contra Devedor Solvente

CITAÇÃOArt. 880 da CLT:

Art. 880. Requerida a execução, o juiz ou presidente do tribunal mandará expedir mandado de citação do executado, a fim de que cumpra a decisão ou o acordo no prazo, pelo modo e sob as cominações estabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuições sociais devidas à União, para que o faça em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execução, sob pena de penhora. (Redação dada pela Lei nº 11.457, de 2007)§ 1º - O mandado de citação deverá conter a decisão exequenda ou o termo de acordo não cumprido.§ 2º - A citação será feita pelos oficiais de diligência.§ 3º - Se o executado, procurado por 2 (duas) vezes no espaço de 48 (quarenta e oito) horas, não for encontrado, far-se-á citação por edital, publicado no jornal oficial ou, na falta deste, afixado na sede da Junta ou Juízo, durante 5 (cinco) dias. (destaques acrescentados).

Condutas do executado: a) pagamento; b) garantia do juízo (depósito judicial ou oferecimento de bens); c) inércia.

Questão controvertida: Aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC.1ª Corrente: Não aplicação. CLT não é omissa. Sistemática do CPC é diferente e incompatível.2ª Corrente: Aplicação. O dispositivo legal constitui uma evolução e deve ser aplicável ao processo trabalhista, tendo em vista o objetivo de quitação de crédito de natureza alimentar. É compatível com os princípios de celeridade e de efetivação da justiça. Divergência quanto à forma de sua aplicação (com ou sem adaptações).

PENHORAA inércia do executado dá ensejo à penhora (art. 883/CLT).Ordem legal: art. 655 do CPC, nos termos do art. 882 da CLT (dinheiro, veículos, móveis, imóveis, navios e aeronaves, ações e quotas, percentual do faturamento de empresa, pedras e metais preciosos, títulos da dívida pública com cotação em mercado, títulos e valores mobiliários com cotação em mercado, outros direitos).O exequente poderá recusar a nomeação, com fundamento no art. 656 do CPC.

Bens Impenhoráveis: CPC, artigos 649 e 650; Lei 8.009/1990 (Bem de Família).

Penhora de CréditoAplicação subsidiária do CPC (omissões da CLT e da LEF).Efetivação: apreensão do título ou intimação (terceiro devedor ou credor do terceiro). Terceiro somente se exonera mediante depósito em juízo.O credor se sub-roga no direito do devedor.Penhora no "rosto do autos". Modalidade de penhora de crédito. Art. 674/CPC.Penhora de crédito futuro. Controvérsia. Posição do TST: Não caracteriza a condição de depositário infiel, autorizando a concessão de habeas corpus, conforme OJ 143 da SDI-2.

100

Page 101: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

"Penhora de Empresa" – Arts. 677 e 678, CPC.Situações excepcionais. Equilíbrio entre o proveito do credor e a função social da empresa.Nomeação de um depositário (administrador). Apresentação plano administração (10 dias).Pode recair sobre renda (Art. 655-A, §3º, CPC), alguns bens ou todo o patrimônio..Penhora sobre navio ou aeronave. Possibilidade de operação, desde que faça seguro.

"Penhora On Line" – Art. 655-A, CPC.Bloqueio de crédito. Convênio BACENJUD: Banco Central e Poder Judiciário. Substituição das comunicações de papel por comunicações eletrônicas. Maior agilidade. Funcionamento semelhante: Convênios INFOJUD (Receita Federal) e RENAJUD (Órgãos de Trânsito).

DEPÓSITO E DEPOSITÁRIO INFIELA penhora é ato complexo e só se torna perfeita e acabada com a apreensão e o depósito.Na Justiça do Trabalho, na maioria dos casos, é o executado quem assume o encargo de depositário, salvo em caso de dinheiro, metais e pedras preciosas, cujo depósito deverá ser realizado em instituição bancária.Não é recomendável que o nomeação recaia em empregado do executado. Preferência nomeação de diretores, administradores ou empregados com poderes de gestão.A prisão do depositário infiel poderia ser decretada no próprio processo em que se constituiu o encargo (Súmula 619 do STF; §3º, art. 666, CPC).Nessa seara, era entendimento do TST que não seria é válida a nomeação compulsória do executado.

"HABEAS CORPUS". DEPOSITÁRIO. TERMO DE DEPÓSITO NÃO ASSINADO PELO PACIENTE. NECESSIDADE DE ACEITAÇÃO DO ENCARGO. IMPOSSIBILIDADE DE PRISÃO CIVIL (inserida em 27.05.2002) A investidura no encargo de depositário depende da aceitação do nomeado que deve assinar termo de compromisso no auto de penhora, sem o que, é inadmissível a restrição de seu direito de liberdade. (OJ Nº 89 da SDI-2).

Se o depositário concorresse culposa ou dolosamente para o perecimento do bem penhorado, poderia ser caracteriza como infiel e, consequentemente, se decretada a sua prisão civil.A prisão civil do depositário infiel, após evolução da jurisprudência do STF com julgamentos paradigmáticos a respeito dos direitos humanos, tornou-se ilícita, qualquer que seja a modalidade do depósito (Súmula Vinculante 25 e seus Precedentes: RE 562051 RG, RE 349703, RE 466343, HC 87585, HC 95967, HC 91950, HC 93435, HC 96687 MC, HC 96582, HC 90172 e HC 95170 MC).Meio processual utilizado para atacar decisão judicial que determina a prisão civil do depositário infiel continua sendo habeas corpus. Contudo, atualmente também há a possibilidade de reclamação perante o STF (Art. 103-A, §3º, da CRFB).

AVALIAÇÃOO Oficial de Justiça, ao proceder à penhora, já promove, de imediato, a avaliação.Na hipótese de impugnação, adotar-se-á o procedimento previsto no art. 13 da Lei 6.830/80, aplicada por força do art. 889/CLT.As hipóteses de realização de nova avaliação estão taxativamente previstas no art. 683/CPC.

101

Page 102: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Art. 683. É admitida nova avaliação quando: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).I - qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador;II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem; ouIII - houver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V).

EXPROPRIAÇÃO ANTECIPADADar-se-á quando os bens penhorados estiverem sujeitos à deterioração ou haja manifesta vantagem econômica (art. 670/CPC), observado o procedimento artigos 1.113 a 1.119 do CPC.

PRAÇA E LEILÃOPraça - hasta pública realizada no átrio do fórum; Leilão - hasta pública realizada no lugar onde estiverem os bens ou outro lugar designado pelo juiz. O art. 697 estabelecia que, recaindo a penhora sobre imóvel, a alienação far-se-ia em praça. Assim, para os bens móveis, far-se-ia o leilão. Esse dispositivo, entretanto, foi revogado pela Lei 11.382/06, sendo questionável essa diferenciação.A hasta pública está submetida ao princípio da publicidade (expedição de editais e intimações). Controvérsia quanto a necessidade de intimação pessoal do devedor. Mas, por cautela, é de todo recomendável a realização dessa intimação pessoal.

ARREMATAÇÃO"É o ato processual que implica a transferência coercitiva dos bens penhorados do devedor a um terceiro" (LEITE, p. 770).Procedimento previsto no parágrafos do art. 888/CLT:

Art. 888 - (...)§ 1º A arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados e os bens serão vendidos pelo maior lance, tendo o exequente preferência para a adjudicação. (Redação dada pela Lei 5.584/70)§ 2º O arrematante deverá garantir o lance com o sinal correspondente a 20% (vinte por cento) do seu valor. (Redação dada pela Lei 5.584/70)§ 3º Não havendo licitante, e não requerendo o exequente a adjudicação dos bens penhorados, poderão os mesmos ser vendidos por leiloeiro nomeado pelo Juiz ou Presidente. (Redação dada pela Lei 5.584/70)§ 4º Se o arrematante, ou seu fiador, não pagar dentro de 24 (vinte e quatro) horas o preço da arrematação, perderá, em benefício da execução, o sinal de que trata o § 2º deste artigo, voltando à praça os bens executados. (Redação dada pela Lei 5.584/70)

Segundo a jurisprudência dominante, o lance não poderá ser vil (art. 692/CPC), mas essa qualificação é dada pelo juiz após criteriosa análise do caso concreto.Quanto à possibilidade do credor oferecer lanço, há divergência. Uns defendem que o lance deverá ser, no mínimo, igual ao da avaliação. Outros advogam a possibilidade do lance em valor inferior, desde que em igualdade de condições com terceiro lançador.Formalização: Antes de adjudicados ou alienados os bens, pode o executado, a qualquer momento, remir a execução (art. 651/CPC). Assinado o auto, a arrematação torna-se perfeita, acabada e irretratada (art. 694/CPC), mas é possível ser tomada sem efeito (§1º, art. 694, CPC). Na ausência de embargos à arrematação ou se estes forem rejeitados, extrai-se carta de arrematação. Carlos Henrique Bezerra Leite entende que, a partir de então, não é cabível nenhum recurso ou medida nos mesmos autos, podendo o interessado desconstituir a decisão homologatória da arrematação por meio de ação rescisória (p. 774). Entretanto, a jurisprudência dominante do TST não admite ação rescisória (Súmula 399, I).

102

Page 103: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

ADJUDICAÇÃO"É o ato processual pelo qual o próprio credor incorpora ao seu patrimônio o bem constrito que seria submetido a hasta pública" (LEITE, p. 774).O credor tem direito à adjudicação, desde que formule requerimento antes da assinatura do respectivo auto de arrematação. Poderá adjudicar pelo valor do maior lance oferecido, mas, se não houver licitantes, a adjudicação deverá ser feita pelo valor da avaliação.Conforme jurisprudência dominante do TST, contra a decisão homologatória da adjudicação não é cabível ação rescisória (Súmula 399, I) nem mandado de segurança, mas sim embargos à adjudicação (OJ 66 da SDI-2).

REMIÇÃOA remição da execução está prevista no art. 13 da Lei 5.584/70 (bem como no art. 651 do CPC), sendo deferida apenas se o executado oferecer preço igual ao valor total da condenação. Trata-se de hipótese de extinção da execução.A remição de bens pelo devedor estava prevista no art. 787 do CPC, mas esse dispositivo foi revogado pela Lei 11.282/2006, a qual conferiu apenas ao cônjuge, aos ascendentes ou descendentes do executado o direito de requerer a adjudicação dos bens penhorados, oferecendo preço não inferior ao da avaliação. Igual direito possuem o exequente, o credor com garantia real e os credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem. (§2º do art. 685-A do CPC).

EXTINÇÃO DO PROCESSOOcorre quando o devedor satisfaz a obrigação a que estava obrigado pelo título executivo.Há controvérsia quanto à possibilidade de transação, remissão e renúncia na execução de dívida trabalhista.Contudo, penso ser possível a aceitação dessas modalidades de extinção do processo executório. Trata-se da aplicação do princípio da razoável ou da proporcionalidade.Prática adotada pelo TRT da 3ª Região: arquivamento dos autos na hipótese de ausência de fornecimento de meios para o prosseguimento da execução, após suspensão por 1 ano, com expedição de certidão de dívida trabalhista (interpretação dada ao art. 40 da Lei 6.830/80).

QUESTÕES CONTROVERTIDAS*Aplicabilidade do art. 475-J do CPC ao Processo do TrabalhoHá divergências na doutrina e na jurisprudência quanto à possibilidade de utilização da norma prevista no art. 475-J no âmbito do processo laboral.Uns negam a aplicação ao argumento de que a CLT não é omissa. Dentre eles Manoel Antonio Teixeira filho. Outros defendem a sua aplicação. Incluem-se aqui Mauro Schiavi, o qual cita os seguintes argumentos: a) ausência de autonomia da execução em face do processo de conhecimento; b) lacuna de efetividade da legislação trabalhista; c) celeridade, efetividade e acesso real do trabalhador à Justiça do Trabalho; d) Interpretação sistemática dos arts. 841 e 880 da CLT. (SCHIAVI, 2009, p. 855).* Parcelamento da execução (art. 745-A, CPC), Arrematação parcelada de bens imóveis (art. 690, CPC), Adjudicação antes da hasta pública (art. 685-A, CPC), Alienação por iniciativa particular (art. 685-C, CPC), Alienação pela internet (art. 689-A, CPC) e a compatibilidade com o Processo Trabalhista Mauro Schiavi defende a aplicação de todas as inovações supracitadas ocorridas no processo civil, porque não causam qualquer prejuízo ao credor trabalhista e podem servir como importantes ferramentas para a celeridade e efetividade da execução. (SCHIAVI, 2009, p. 909, 926, 943, 945 e 946).

103

Page 104: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

16. EXECUÇÃO TRABALHISTA – Parte III

16.10. Execução para a Entrega de Coisa Certa ou IncertaCoisa certa: aquela perfeitamente individualizada, inconfundível e, em regra, infungível.Coisa incerta: determinada pelo seu gênero e quantidade (CC, art. 243). Em regra, fungível. Antes da escolha, que pertence ao devedor, salvo disposição em contrário do título da obrigação (CC, art. 244), o ônus da perda ou da deterioração ficam a cargo do devedor, inclusive nas hipóteses de caso fortuito e força maior (CC, art. 246).Exemplos no processo do trabalho: a) ocupação, pelo empregado, do imóvel do empregador; b) detenção ilegal da CTPS do empregado; c) entrega de guias para levantamento do FGTS ou para requerimento do seguro-desemprego.Execução: omissão da CLT. Adoção do CPC, com as devidas adaptações.Título executivo judicial: procedimento previsto no art. 461-A do CPC. Tutela específica: descumprida a obrigação no prazo fixado pelo juiz, expede-se mandado de busca e apreensão (bens móveis) ou de imissão na posse (bens imóveis).Somente quando se verificar a impossibilidade da tutela específica é que se converterá a obrigação em perdas e danos, sem prejuízo da multa aplicada (§§1º e 2º, art. 461).Faculdades do juiz: tutela antecipada (§3º), astreintes (§4º), medidas de apoio (§5º) e modificação da multa (§6º, art. 461).Título executivo extrajudicial: procedimento previsto nos artigos 621 e 631 do CPC.Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar astreintes, que podem ser alteradas.Citação do executado para satisfação da obrigação (prazo de 10 dias).Cumprimento da obrigação: lavratura de termo e extinção da execução, salvo quanto ao ressarcimento dos prejuízos e ao pagamento dos frutos.Garantia do juízo: oposição de embargos (aplicação do art. 884/CLT).Acolhimento dos embargos: extinção da obrigação.Rejeição dos embargos ou inércia: expedição de mandado de busca e apreensão (bens móveis) ou de imissão na posse (bens imóveis), inclusive em face de terceiros, quando já alienada a coisa. Indenização das benfeitorias e compensação dos créditos (saldo em favor do executado: depósito, pelo exequente, da diferença; saldo em favor do exequente: prosseguimento da execução nos próprios autos).Peculiaridade da execução por coisa incerta: citação do executado para entrega da coisa já individualizada, quando a escolha a ele competir. Cabendo ao exequente, este fará a escolha na inicial. A impugnação da escolha poderá ser realizada no prazo de 48 horas pela parte contrária, devendo o juiz decidir de plano ou ouvir, se necessário, perito.

16.11. Execução das Obrigações de Fazer ou Não FazerObrigação de fazer: conduta positiva.Obrigação de não fazer: conduta negativa, omissão, abstenção.Exemplos no processo do trabalho: a) anotação da CTPS; b) reintegração do empregado estável ou portador de garantia no emprego; c) reenquadramento funcional; d) proibição de transferência ilegal ou abusiva; e) proibição da alteração unilateral lesiva (art. 468/CLT).Execução: omissão da CLT. Adoção do CPC, com as devidas adaptações.Semelhante à execução das obrigações de entregar coisa certa e incerta.Título executivo judicial: procedimento previsto no art. 461 do CPC.

104

Page 105: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Tutela específica: descumprida a obrigação, "o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento".Somente quando se verificar a impossibilidade da tutela específica é que se converterá a obrigação em perdas e danos, sem prejuízo da multa aplicada (§§1º e 2º, art. 461).Faculdades do juiz: tutela antecipada (§3º), astreintes (§4º), medidas de apoio (§5º) e modificação da multa (§6º, art. 461).Título executivo extrajudicial: procedimento previsto nos artigos 632 a 643 do CPC.Execução de obrigação de fazer.Citação do executado para satisfação da obrigação (prazo assinalado pelo juiz ou constante do título).Cumprimento da obrigação: lavratura de termo e extinção da execução.Garantia do juízo: oposição de embargos (aplicação do art. 884/CLT).Acolhimento dos embargos: extinção da obrigação.Rejeição dos embargos ou inércia: Se o fato puder ser prestado por terceiro, este o fará às custas do executado. O credor também poderá realizar o fato às custas do devedor. Caso contrário, converter-se-á a obrigação em perdas e danos.Execução de obrigação de não fazerCitação para desfazimento do ato no prazo assinalado pelo juiz.Em caso de recusa ou de mora, desfazimento à custa do executado, sem prejuízo das perdas e danos.Impossibilidade de desfazimento: conversão em perdas e danos.

16.12. Execução por Prestações SucessivasCLT, artigos 891 a 892.

Art. 890 - A execução para pagamento de prestações sucessivas far-se-á com observância das normas constantes desta Seção, sem prejuízo das demais estabelecidas neste Capítulo.Art. 891 - Nas prestações sucessivas por tempo determinado, a execução pelo não-pagamento de uma prestação compreenderá as que lhe sucederem.Art. 892 - Tratando-se de prestações sucessivas por tempo indeterminado, a execução compreenderá inicialmente as prestações devidas até a data do ingresso na execução.

16.13. Execução contra a Massa FalidaSegundo Carlos Henrique Bezerra Leite (2005, p. 744/746), não é pacífico o entendimento da competência da Justiça do Trabalho quando a executada é a massa falida, havendo três correntes tratando do tema. 1ª) Tradicional – Sustenta que, se no curso do processo de execução sobrevier o decreto de falência do devedor, a execução dos créditos trabalhistas é atraída pelo juízo universal da falência. Posição do TST, STJ e STF.2ª) “Vanguardista” - Advoga que a competência prevista no art. 114 da CF exclui a competência do juízo universal da falência, pouco importando que o decreto de falência tenha ocorrido antes ou depois dos atos de constrição.3ª) Eclética – Se os bens do devedor forem penhorados antes da decretação da falência, não são alcançáveis pelo juízo falimentar. Se os atos de constrição ocorrerem após a quebra, cessa a competência da Justiça do Trabalho, devendo ser expedida certidão de habilitação perante o juízo falimentar.A decretação de falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor pelo prazo improrrogável de 180 dias (art. 6º da Lei 11.101/2005).

105

Page 106: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Contudo, o Pleno do STF já decidiu que a execução de créditos trabalhistas em processos de recuperação judicial é da competência da Justiça Estadual Comum, com exclusão da Justiça do Trabalho (RE 583.955/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Julg. 28.05.2009).Os créditos trabalhistas, limitados a 150 salários mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho são preferenciais (art. 83, I, da Lei 11.101/2005).Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa (art. 151 da Lei 11.101/2005).

16.14. Execução contra Empresas em Liquidação ExtrajudicialA liquidação extrajudicial difere-se da falência, sendo que a execução promovida em face do devedor em liquidação extrajudicial continua tramitando na Justiça do Trabalho até a satisfação do credor. Não há deslocamento de competência.Nesse sentido, a OJ 143 da SDI-1/TST:

A execução trabalhista deve prosseguir diretamente na Justiça do Trabalho mesmo após a decretação da liquidação extrajudicial. Lei nº 6.830/80, arts. 5º e 29, aplicados supletivamente (CLT, art. 889 e CF/1988, art. 114).

16.15. Execução contra a Fazenda PúblicaObservância de dois princípios: 1º) Impenhorabilidade e inalienabilidade dos bens públicos; 2º) Universalidade orçamentária.Transitada em julgado a sentença condenatória em face da Fazenda Pública e apurado o crédito exequendo, adota-se o rito especial previsto nos arts. 730 e 731 do CPC (SCHIAVI, 2009, p. 834).A Fazenda Pública será citada para apresentação de embargos, devendo ser feita na pessoa do Procurador-Federal (PGF ou PFN, a depender da matéria, tratando-se da União, fundação pública e autarquias federais), do Procurador do Estado (tratando-se do Estado), do Prefeito ou do Procurador do Município (tratando-se de Município).O prazo para apresentação de embargos é de 30 dias (Medida Provisória 2.180-35, de 24.08.2001, alterou o art. 1º-B da Lei 9.494/1997). Há vozes na doutrina (v.g. Carlos Henrique Bezerra Leite) que entendem que a elevação do prazo em favor da Fazenda Pública seria inconstitucional.Decorrido o prazo in albis, inicia-se o procedimento do precatório (art. 730, incisos I e II, CPC; art. 100, CF; art. 86, ADCT) ou da requisição de pequeno valor (art. 100,§3º, CF; art. 87, ADCT).Apresentados os embargos, segue-se a sua tramitação até o trânsito em julgado da decisão. Após, tem início o procedimento do precatório ou da requisição de pequeno valor.“Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.” (Súmula Vinculante 17).“A Fazenda Pública, quando condenada subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas devidas pela empregadora principal, não se beneficia da limitação dos juros, prevista no art. 1º-F da Lei n.º 9.494, de 10.09.1997.” (OJ 382 da SDI-1/TST).O STF firmou o entendimento de que somente se legitima o sequestro de veras públicas para pagamento de precatórios quando se verificar a preterição ao direito de procedência.Para fins do procedimento de pequeno valor, consideram-se os seguintes valores: a) União – 60 salários mínimos (Arts. 3º e 17, §1º, da Lei 10.259/2001); b) Estados, DF – 40 salários mínimos (ADCT, art. 87), salvo valor inferior previsto em legislação própria (conforme

106

Page 107: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

entendimento do STF); c) Municípios - 30 salários mínimos (ADCT, art. 87), salvo valor inferior previsto em legislação própria (conforme entendimento do STF). “Tratando-se de reclamações trabalhistas plúrimas, a aferição do que vem a ser obrigação de pequeno valor, para efeito de dispensa de formação de precatório e aplicação do disposto no §3º do art. 100 da CF/88, deve ser realizada considerando-se os créditos de cada reclamante.” (OJ 9 do Tribunal Pleno do TST). Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite (2005, p. 791), alguns juízes vêm deferindo sequestro de dinheiro público em conta bancária nas hipóteses de execução de créditos trabalhistas de pequeno valor, após esgotado o prazo de 60 dias para pagamento (aplicação analógica do art. 17 da Lei 10.259/2001).

16.16. Execução de Ofício das Contribuições PrevidenciáriasA competência da Justiça do Trabalho para a execução das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir teve início com a EC 20/1998, o qual acrescentou o §3º ao art. 114 da Constituição da República.Atualmente esta competência está prevista no inciso VIII, do art. 114 da Constituição da República, conforme redação dada pela EC 45/2004.Foi editada a Lei 10.035, de 25.10.2000, a qual alterou alguns dispositivos da CLT.Posteriormente, com o advento da Lei 11.457, de 16.03.2007 (Lei da “Super-Receita”), novas alterações foram promovidas, pois as atribuições relativas à arrecadação das contribuições previdenciárias foram transferidas para a União (por meio da Receita Federal do Brasil).Passou a existir uma execução incidente no processo trabalhista de contribuições previdenciárias fundadas em sentença trabalhista que não necessita da inscrição na dívida ativa.O acordo homologado pelo Juiz do Trabalho vale como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social (União) quanto às contribuições que lhe forem devidas, conforme disposição expressa do parágrafo único do art. 831 da CLT.A União deverá ser intimada das decisões homologatórias de acordo que contenham parcela indenizatória, de forma pessoal na pessoa de seu procurador e com remessa dos autos (art. 20 da Lei 11.033/2004), sendo facultada a interposição de recurso relativos aos tributos que lhe forem devidos (§4º, art. 832, CLT). O prazo para interposição do recurso será de 16 dias (DL 779/69). Tal manifestação poderá ser dispensada pelo Ministro de Estado da Fazenda, na forma e nos termos do §7º do art. 832 da CLT.As decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso (§3, art. 832, CLT).As parcelas incluídas no salário-de-contribuição estão previstas no art. 28 da Lei 8.212/1991 e as excluídas (“não salariais”) estão prevista no §9º do referido dispositivo legal.Nas sentenças judiciais ou nos acordos homologados em que não figurarem, discriminadamente, as parcelas legais relativas às contribuições sociais, ou for realizada discriminação em percentual, as contribuições sociais incidirão sobre o valor total apurado em liquidação de sentença ou sobre o valor do acordo homologado (§1º, art. 43, Lei 8.212/1991; §§2º e 3º, art. 276, Decreto 3048/1999).Intimada da sentença, a União poderá interpor recurso relativo à discriminação das parcelas. Prazo recursal: 16 dias (DL 779/69).Elaborada a conta de liquidação, que deverá incluir as contribuições previdenciárias, o juiz procederá à intimação da União, para manifestação no prazo de 10 dias, sob pena de

107

Page 108: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

preclusão, podendo o Ministro de Estado da Fazenda dispensa essa manifestação (§§1º-A, 3º e 5º do Art. 879 da CLT).A União poderá impugnar a liquidação, nos termos do §§3º e 4º do art. 884 da CLT, bem como interpor agravo de petição (prazo de 16 dias), nos termos do art. 897, a, e §§1º, 3º e 8º.O recolhimento das contribuições previdenciárias deverá ser feita na forma prevista no art. 889-A da CLT, sendo que a concessão de parcelamento pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, suspenderá a execução das contribuições previdenciárias (§1º do art. 889-A da CLT).Mensalmente, as Varas do Trabalho encaminharão à SRFB informações a respeito do recolhimento das contribuições previdenciárias efetivadas nos autos (§2º do art. 889-A da CLT).

108

Page 109: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

ANEXO – Questões Polêmicas

Competência da JT quanto às contribuições previdenciárias decorrentes do reconhecimento do vínculo de emprego – quadro panorâmico e evolutivoNum primeiro momento, a jurisprudência do TST consolidou-se, por meio de sua OJ 141 da SDI-1, inserida em 27.11.1998, no sentido de a competência da Justiça do Trabalho para a execução das contribuições previdenciárias também alcançaria as parcelas integrantes do salário-de-contribuição, pagas em virtude de contrato de emprego reconhecido em juízo ou decorrentes de anotação da CTPS, objeto de acordo homologado.Posteriormente, a OJ 141 foi convertida no item I da Súmula 368.Em novembro de 2005, por meio da Res. 138, o TST alterou seu entendimento, dando nova redação ao inciso I da Súmula 368, in verbis:

A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário-de-contribuição. (destaque acrescentado).

A lei 11.437, de 16.02.2007 (DOU 19.03.2007) deu nova redação ao parágrafo único do art. 876 da CLT:

Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido. (destaque acrescentado).

Com a vigência da referida lei, parte da doutrina e jurisprudência passou a defender que o entendimento consubstanciado na Súmula 368, I, do TST, com a redação dada pela Res. 138/2005, diante da nova redação do parágrafo único do art. 876 da CLT.Contudo, o Pleno do STF, no julgamento do RE 560.056/PA, Rel. Min. Menezes Direito, realizado em 11.09.2008, com os efeitos da repercussão geral e abordando, inclusive, a alteração legislativa promovida pela Lei 11.457/2007, entendeu, por unanimidade10 que “a competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF alcança apenas a execução das sentenças que proferir”. Em seu voto, o Min. Menezes Direito destacou que a sentença que reconhece o vínculo, de natureza predominantemente declaratória, não comporta execução, não constituindo um título executivo judicial no que se refere ao crédito tributário. Destacou, ainda, a dificuldade de se conhecer o valor a ser executado nessa situação. O Min. Ricardo Lewandowski, acompanhando o voto do relator, acrescentou que também haveria violação do direito ao contraditório e à ampla defesa.Acompanhando o andamento processual do RE 569056/PA até agosto/2010, verifica-se, a teor dos despachos proferidos, que foram interpostos embargos de declaração, os quais não comportam reapreciação da matéria de fundo, mas que possuem potencial modificativo quanto à modulação temporal dos efeitos da decisão. A decisão dos ED ainda está pendente de julgado.Em suma, apesar de haver dispositivo legal prevendo a competência da Justiça do Trabalho para execução das contribuições previdenciárias decorrentes do reconhecimento do vínculo de emprego, o Plenário do STF firmou entendimento de que a competência prevista no art. 114, VIII, da CF alcança apenas a execução das sentenças que a JT proferir, havendo, contudo, a possibilidade de modulação temporal dos efeitos da decisão.

10 Estiveram ausentes no julgamento os Ministros Celso de Mello, Carlos Ayres Britto e Joaquim Barbosa.

109

Page 110: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Acordo trabalhista na fase de execução e as contribuições previdenciáriasHá controvérsia quanto ao tema.Uma corrente entende que o acordo firmado entre as partes, após o trânsito em julgado, não poderia afetar o crédito da União, já consolidado no título executivo.Outra corrente entende que as contribuições previdenciárias são acessórios do crédito trabalhista. Em vista disso, as contribuições previdenciárias deveriam incidir apenas sobre o crédito trabalhista de natureza salarial efetivamente disponibilizado ao trabalhador.Coroando a primeira corrente, a Lei 11.457, de 16.03.2007 (DOU 19.03.2007), acrescentou o §6º ao art. 832 da CLT, o qual dispôs que “O acordo celebrado após o trânsito em julgado da sentença ou após a elaboração dos cálculos de liquidação de sentença não prejudicará os créditos da União”.Todavia, a Medida Provisória 449, de 03.12.2008 (DOU 04.12.2008), convertida na Lei 11.941, de 27.05.2009 (DOU 28.05.2009), deu nova redação ao art. 43 da Lei 8.212/1991, cujo §5º estabelece que “Na hipótese de acordo celebrado após ter sido proferida decisão de mérito, a contribuição será calculada com base no valor do acordo”.Surgiu, portanto, uma aparente antinomia de normas.Adotando-se os critérios cronológico e da especialização, forçoso reconhecer que, após o advento da Medida Provisória 449 e da Lei 11.941/2009, prevalece o entendimento da segunda corrente, ressaltando-se, contudo, o princípio da segurança jurídica quanto à consolidação das situações na vigência do §6º do art. 832 da CLT (Lei 11.457/2007).

Sistemática para apuração das contribuições previdenciárias – fator gerador e direito intertemporalA Medida Provisória 449/2008, convertida na Lei 11.941/2009, alterou a sistemática de apuração das contribuições previdenciárias, cujo fator gerador passou a ser a data da prestação de serviço, incidindo, a partir de então, os acréscimos legais moratórios.A sistemática anterior era aquela prevista na Súmula 368, II e III, do TST, com base nos termos do art. 276 do Decreto 3.048/1999 (Regulamento da Previdência Social), cujo fato gerador era o pagamento das verbas salariais.Pergunta-se: A partir de que momento será aplicada a nova sistemática?Entende-se que, com base no princípio da segurança jurídica e levando-se em conta o princípio da anterioridade nonagesimal (90 dias) para as contribuições sociais (art. 195, §6º, da CF) e levando-se em conta a regra prevista no §1º, art.8º, da LC 95/1998, a nova sistemática somente pode ser aplicável aos títulos executivos cuja liquidação tenha se efetivado em 04.03.2009 em diante.

110

Page 111: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Aviso prévio indenizado integra ou não o salário-de-contribuição para fins de apuração e recolhimento da contribuição previdenciária?Apesar da celeuma e da controvérsia existente, tem-se que a resposta deve ser buscada na legislação própria, qual seja, a legislação previdenciária.A Lei 8.212/1991, art. 28, §9º, alínea “e”, em sua redação original, incluía o aviso prévio indenizado dentre as parcelas que não integravam o salário-de-contribuição.Todavia, a Lei 9.528, de 10.12.1997 (DOU 11.12.1997), deu nova redação ao art. 28, §9º, da Lei 8.212/1991, excluindo o aviso prévio indenizado do rol das parcelas que não integram o salário-de-contribuição.Portanto, em face do princípio da anterioridade nonagesimal (art. 195, §6º, CF), desde 10.03.1998 o aviso prévio indenizado poderia ser exigido como parcela componente da contribuição previdenciária.Registre-se que o reconhecimento do aviso prévio indenizado como integrante do salário-de-contribuição passou a ser majoritário e amplamente conhecido somente a partir da edição do Decreto 6.727, de 12.01.2009 (DOU 13.01.2009), o qual revogou o letra “f” (aviso prévio indenizado) do item V, §9º, do art. 214 do Decreto 3.048/1999 (Regulamento da Previdência Social).

111

Page 112: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

16. EXECUÇÃO TRABALHISTA – Parte IVMeios de Defesa na Execução

16.17. Embargos à Execução - Embargos do DevedorCarlos Henrique Bezerra Leite entende que embargos à execução são o gênero de que são espécies os embargos do devedor, os embargos à penhora, os embargos à adjudicação, os embargos à arrematação etc.Parte da doutrina entende que os embargos à execução teria natureza jurídica de ação de cognição incidente na execução.Todavia, após a Lei 11.232/2005, alguns doutrinadores passaram a defender que os embargos à execução adquiriram a natureza jurídica de meio de defesa, impugnação, incidente no processo de execução.Quanto às matérias que podem ser arguidas, há controvérsia. Uma corrente assevera que é taxativo o rol de matérias previstas no §1º do art. 884 da CLT. Entretanto, a corrente majoritária admite outras matérias além daquelas ali expressamente previstas.Mauro Schiavi defende a aplicação do art. 475-L do CPC na execução de título executivo judicial e do art. 745-A do CPC na execução de título executivo extrajudicial.Exemplo de conteúdo dos embargos: Nulidade de citação (controvertido); prescrição (superveniente ou intercorrente – controvérsia TST x STF); cumprimento ou quitação; inexigibilidade do título (condição ou termo); excesso de execução; excesso de penhora.A constitucionalidade do §5º do art. 884 da CLT (acrescentado pela MP 2.180-35) e do §1º do art. 475-L do CPC é questionada por Mauro Schiavi, o qual menciona outros que possuem esse mesmo entendimento (Jorge Luiz Souto Maior, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Estêvão Malet).Na execução por carta, os embargos serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação dos bens (art. 747, CPC). Disposição semelhante está prevista no art. 20 da Lei 6.830/80.O prazo para apresentação de embargos é de 5 dias. A Medida Provisória 2.180-35/2001 teria alterado o prazo para 30 dias. Sérgio Pinto Martins defende que esse novo prazo beneficia a todos. Todavia, a corrente majoritária faz um interpretação teleológica e restritiva, no sentido que a ampliação do prazo para 30 dias somente beneficia a Fazenda Pública (Administração direta, autarquias e fundação pública).A constitucionalidade da ampliação do prazo em benefício da Fazenda Pública também é objeto de questionamento por alguns doutrinadores (dentre eles, Carlos Henrique B. Leite).Constitui requisito ou pressuposto para admissibilidade dos embargos a garantia do juízo.Mauro Schiavi defende a mitigação desse requisito em situações excepcionais.O prazo para impugnação e para julgamento dos embargos à execução é de 5 dias.O recurso cabível contra essa decisão é o agravo de petição (regra geral: prazo de 8 dias; Fazenda Pública: 16 dias).

16.18. Embargos à PenhoraCarlos Henrique B. Leite afirma que em relação aos embargos à penhora existem três correntes.1ª) Defendida por Manoel Antonio Teixeira Filho, para quem não existem embargos à penhora. As alegações de irregularidades da constrição deveriam ser feitas por simples petição ou por meio de embargos de terceiro.2ª) Tem como um de seus expoentes José Augusto Rodrigues Pinto e defende que há tanto os embargos à execução quanto aos embargos à penhora.

112

Page 113: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

3ª) Consideram os embargos à execução e os embargos à penhora como sinônimos.Mauro Schiavi entende que existem apenas os embargos à execução e que os embargos à penhora não constituiria uma categoria autônoma de embargos.Aplicam-se aos embargos à penhora o mesmo procedimento previsto para os embargos à execução.Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de liquidação, cabendo ao exequente igual direito e no mesmo prazo (§3º, art. 884, CLT).Serão julgados pela mesma sentença os embargos e as impugnações à liquidação (§4º, art. 884, CLT).

16.19. Embargos à Arrematação e Embargos à AdjudicaçãoTambém chamados simplesmente de embargos à alienação.A corrente majoritária entende ser cabível no Processo do Trabalho os embargos à alienação. Nesse sentido a OJ 66 da SDI-II/TST.Existe, contudo, uma corrente minoritária que afirma que a CLT não prevê os embargos à arrematação ou embargos à adjudicação. Valentin Carrion, citado por Mauro Schiavi, assevera que contra à adjudicação seria cabível a interposição de agravo de petição.O prazo para apresentação dos embargos à alienação é de 5 dias, contados da assinatura do auto de adjudicação ou de arrematação.O prazo para impugnação e para julgamento dos embargos à execução também é de 5 dias.O recurso cabível contra essa decisão é o agravo de petição (regra geral: prazo de 8 dias; Fazenda Pública: 16 dias).Mauro Schiavi entende ser compatível com o Processo do Trabalho os artigos 694 e 746 do CPC. Afirma, ainda, que decorrido o prazo dos embargos à alienação, caberia apenas a ação anulatória (art. 486, CPC).

16.20. Exceção ou Objeção de Pré-ExecutividadeNão está prevista em lei, mas é acolhida pela jurisprudência.Teria sido defendida por Pontes de Miranda (caso da Siderúrgica Mannesman – execução por título contendo assinatura falta de um de seus diretores).A doutrina diverge quanto às matérias que podem ser arguidas.Segundo Carlos Henrique B. Leite, haveria 3 correntes quanto à sua aplicação no Processo do Trabalho:1ª) Restritiva: não admite a exceção de pré-executividade. Fundamento: §1º, art. 884, CLT.2ª) Eclética: admite, desde que restrita a matérias de ordem pública (condições da ação e pressupostos processuais).3ª) Ampla: defende, além das matérias de ordem pública, a arguição de causas extintivas, como quitação, transação, novação e prescrição. Mauro Schiavi se filia à terceira corrente, mas assevera que a prova das causas extintivas devem ser robusta e pré-constituídas, à semelhança do mandado de segurança.A exceção de pré-executividade não suspende a execução.Contra a decisão que não admite a exceção de pré-executivo, por ser interlocutória (art. 893, §1º, CLT), não cabe recurso.Possibilidade de renovação das questões por meio de embargos (após garantia do juízo).Contra a decisão de embargos, cabe agravo de petição, o qual não exige depósito recursal, pois tem como pressuposto a garantia do juízo.

113

Page 114: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

16.21. Embargos de TerceiroTrata-se ação autônoma, de natureza possessória, incidental ao processo de conhecimento ou de execução, que visa à proteção contra esbulho e turbação provocado por constrição judicial.Diferem-se da oposição, pois nesta o opoente também pretende o objeto da demanda, enquanto nos embargos de terceiro, o embargante pretende excluir seu bem da execução da qual não é parte.Os embargos de terceiro não estão regulamentos na CLT, sendo aplicável subsidiariamente as disposições contidas no CPC. O ajuizamento dos embargos de terceiro suspende a execução, total ou parcialmente, a depender de seu objeto (art. 1052, CPC).Os legitimados ativos estão previstos no art. 1046, caput, e §§1º, 2º e 3º, do CPC.Nos termos do art. 1048, “Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença, e, no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação,adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.”Requisitos da inicial: art. 1050 do CPC, não sendo aplicável o art. 840, §§1º, da CLT.Mauro Schiavi afirma que também é imprescindível a representação por advogado, não sendo aplicável o art. 791 da CLT.A citação será pessoal, se o embargado não tiver constituído procurador na ação principal (§3º, art. 1050, CPC, incluído pela Lei 12.125/2009).Se o juiz entender que a posse está suficientemente provada, deferirá, liminarmente, os embargos, nos termos do art. 1051 do CPC.Prazo para contestação é de 10 dias, findo o qual proceder-se-á de acordo com o disposto no art. 803 do CPC (art. 1053 do CPC).Se não houver contestação, presumem-se verdadeiros os fatos alegados pelo embargante, caso em que o juiz decidirá em 5 dias.Se houver contestação, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, se houver prova a ser produzida.Após, o juiz proferirá a sentença. Nesse caso, entende-se aplicável o prazo geral previsto no art. 189, II, do CPC.Quando a execução estiver sendo processada por carta precatória, aplica-se o disposto na Súmula 419 do TST, in verbis:

Na execução por carta precatória, os embargos de terceiro serão oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem, unicamente, sobre vícios ou irregularidades da penhora, avaliação ou alienação dos bens, praticados pelo juízo deprecado, em que a competência será deste último.

Segundo Mauro Schiavi, tratando-se de embargos de terceiro opostos na fase de conhecimento, as custas são calculadas com base em 2% sobre o valor da causa, com fundamento no art. 789 da CLT. Já na fase de execução, as custas serão de R$44,26, a cargo do executado, nos termos do art. 789-A, V, da CLT.Se a decisão de embargos de terceiro é proferida na fase de conhecimento, caberá recurso ordinário. Se for proferida na fase de execução, caberá agravo de petição, observada a sistemática recursal prevista na CLT.

114

Page 115: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

17. AÇÕES “CIVIS” ADMISSÍVEIS NO PROCESSO TRABALHO

17.1. Tutelas de Urgência – Tutela Antecipatória, inibitória e cautelar

17.1.1. Noções Gerais

CONCEITOTratam-se de instrumentos processuais destinados a tutelar pretensões que exijam uma pronta resposta ou uma resposta célere do Poder Judiciário, visando a resguardar o direito (tutela cautelar), antecipar os efeitos do provimento final (tutela antecipatória) ou impedir a ocorrência de um dano (tutela inibitória).A CLT prevê duas hipóteses de tutela de urgência nos incisos IX e X do art. 659. Apesar da divergência, prevalece o entendimento de que se tratam de tutela antecipada.

DA FUNGIBILIDADE DAS TUTELAS DE URGÊNCIAEncontra-se prevista no §7º do art. 273 do CPC.Para Mauro Schiavi, o referido dispositivo é de mão dupla (tutela antecipada para cautelar ou cautelar para tutela antecipada). Esse autor também defende que, diante do princípio da fungibilidade, é possível a concessão da tutela inibitória (preventiva) quando presentes os seus requisitos e se o autor equivocadamente postular tutela antecipada ou cautelar (SCHIAVI, p. 989).

17.1.2. Tutela Antecipatória ou Tutela Antecipada

CONCEITO“Consiste a tutela antecipada na concessão da pretensão postulada pelo autor, antes do julgamento definitivo do processo, mediante a presença dos requisitos legais. Trata-se de medida satisfativa, pois será entregue ao autor o bem da vida pretendido antes da existência do título executivo judicial” (SCHIAVI, p. 989/990).

NATUREZA JURÍDICAA tutela antecipada possui natureza jurídica mandamental.

EFEITOSA tutela antecipada produz o efeito que somente poderia ser produzido ao final. Permite que sejam realizadas antecipadamente as consequências concretas da sentença de mérito.

ESPÉCIES E PREVISÃO LEGALGeral ou genérica: art. 273 do CPC.Obrigação de fazer e não fazer: art. 461 do CPC.Obrigação de entregar coisa: art. 461-A do CPC.Observação: Sérgio Pinto Martins distingue e traça diferenças entre a tutela antecipada geral (art. 273 do CPC) e a tutela antecipada de obrigações de fazer e não fazer (art. 461 do CPC), chamando esta última de tutela específica de obrigação de fazer e não fazer e classificando-a como espécie do gênero tutela urgente. (MARTINS, p. 529/534).

REQUISITOS OU PRESSUPOSTOSConforme disposição legal e doutrina dominante, são requisitos ou pressupostos da tutela antecipada:

115

Page 116: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

1) Requerimento do autor: Devido as suas consequências e aos seus efeitos, a tutela antecipada não pode ser concedida de ofício pelo juiz.2) Prova inequívoca: Elementos probatórios convincentes, provas idôneas à formação do convencimento do juiz. 3) Verossimilhança da alegação: Plausibilidade, probabilidade de veracidade dos fatos alegados (Mais que fumus boni juris).4) Ausência de perigo de irreversibilidade do provimento antecipado: Este requisito deverá ser apreciado com prudência e com reserva pelo juiz, sempre em atenção aos princípios da razoabilidade e da efetividade do processo.Os requisitos acima devem estar presentes e ainda serem cumulativos com pelo menos uma das hipóteses a seguir:a) haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (perigo da demora ou periculum in mora).b) fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu (penalidade ao abuso do direito de defesa).c) existência de pedido ou pedidos incontroversos.

EFETIVIDADE DA TUTELA ANTECIPADAPara dar efetividade à tutela antecipada, o juiz poderá tomar as medidas necessárias, fixando, de ofício, ou a requerimento, multa pecuniária pelo descumprimento da medida (art. 461, §§4º e 5º, e art. 461-A, do CPC).

TUTELA ANTECIPADA E PROCESSO DO TRABALHOA tutela antecipada é compatível com o Processo do Trabalho (art. 769 da CLT).

IMPUGNAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA NO PROCESSO DO TRABALHOQuando concedida antes da sentença, cabe a impetração de mandado de segurança (Súmula 414, II, do TST).Quando concedida na própria sentença, não cabe o mandamus, mas sim recurso ordinário e ação cautelar para obter o efeito suspensivo do recurso (Súmula 414, I, do TST).

EXECUÇÃO/CUMPRIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA NO PROCESSO DO TRABALHOSeguirá as normas previstas para execução provisória (art. 475-O do CPC).No caso de crédito trabalhista, cabe com mais frequência a aplicação do disposto no §2º do art. 475-O do CPC (Hipóteses para liberação de dinheiro e para prática de atos que importem alienação).

TUTELA ANTECIPADA EM FACE DA FAZENDA PÚBLICAHá vedações legais (Lei 9.494/97 e Lei 8.437/92, por exemplo) ao deferimento de liminares e tutelas antecipadas em face da Fazenda Pública.Embora o STF tenha declarado a constitucionalidade dessas vedações in abstrato (ADI 223-6 MC/DF), a doutrina, após a analisar o inteiro teor dos votos dos Ministros, firmou o entendimento de que, no caso concreto, quando as vedações representarem óbice ao livre acesso à ordem jurídica justa, deverão ser afastadas, em controle difuso de constitucionalidade, uma vez aplicado o princípio da proporcionalidade. (DIDIER JR., BRAGA e OLIVEIRA, p. 587/589)

116

Page 117: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

17.1.3. Tutela Inibitória

CONCEITOTrata-se de prestação jurisdicional que visa a impedir a prática, a continuação ou a repetição do ilícito.

FUNDAMENTO JURÍDICOA tutela inibitória tem fundamento jurídico nos princípios do acesso à Justiça (CRBF/88, art. 5º, XXXV) e da efetividade da tutela jurisdicional, bem como no art. 461 do CPC e art. 84 do CDC.

NATUREZA JURÍDICA E EFEITOSA tutela inibitória possui natureza jurídica mandamental. Prescinde de processo de execução para ser efetivada no mundo fático, pois seus efeitos são de execução lato sensu.

TUTELA INIBITÓRIA E PROCESSO DO TRABALHOA tutela inibitória é compatível com o processo do trabalho, tendo, inclusive, sido aplicada como medida preventiva das seguintes condutas: a) antissindicais; b) discriminatórias na relação de emprego; c) cláusula contratuais abusivas; d) interdito proibitório em caso de greve, dentre outras. (SCHIAVI, p. 1001).

17.1.4. Tutela Cautelar

CONCEITOProvimento jurisdicional que tem por objetivo resguardar um direito ou o resultado de um processo. Não se destina à satisfação do direito, mas sim à sua conservação.

CARACTERÍSTICASSegundo Mauro Schiavi (p. 1002/1003), são características da ação cautelar:a) acessoriedade e provisoriedade: A ação cautelar é acessória a uma ação principal e provisória, pois sua existência é temporária (enquanto houver necessidade de resguardar uma pretensão).b) instrumentalidade: Não é um fim em si mesmo, pois objetiva garantir o resultado de um outro processo.c) revogabilidade: A tutela pode ser revogada a qualquer momento.d) fungibilidade: As medidas cautelares são fungíveis entre si uma vez presentes os seus requisitos.e) autonomia: O processo cautelar tem existência própria.

REQUISITOS OU PRESSUPOSTOS (PIM e FBI)I) Periculum in mora – Perigo da demora do provimento jurisdicional.II) Fumus boni iuris – Fumaça do bom direito. Plausibilidade do direito invocado.

PODER GERAL DE CAUTELAPrevisto nos artigos 798 e 799 do CPC.Sempre que for necessário, deverá o juiz tomar as medidas, de ofício ou a requerimento, destinadas a preservar o processar o processo ou o resultado útil deste.

ESPÉCIES DE TUTELAS CAUTELARES

117

Page 118: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Nominadas ou típicas – previstas no CPC (arresto, sequestro, etc).Inominadas ou atípicas – não previstas expressamente, sendo decorrentes do Poder Geral de Cautela.Preparatórias – anteriores a uma ação principal a que visa a proteger ou conservar.Incidentais – propostas no curso da ação principal.

PROCEDIMENTO NO PROCESSO DO TRABALHONos termos do art. 1º da Instrução Normativa 27/2005, por ter rito especial, este deve ser seguido.Logo, se inominadas, seguir-se-ão os artigos 800 a 812 do CPC. Se nominadas, seguir-se-ão as regras próprias (artigos 813 e seguintes do CPC).

17.2. Ação Rescisória

CONCEITO“A ação rescisória tem o corpo de uma ação, mas a alma de um recurso” - Liebman.“Ação de rito especial destinada a desconstituir a coisa julgada material, nas hipóteses previstas em lei” (SCHIAVI, p. 1018).“Em rigor, a rescisória é uma ação especial, com previsão, até mesmo, em sede constitucional, destinada a atacar a coisa julgada. Trata-se, pois, de uma ação de conhecimento, de natureza constitutivo-negativa, porquanto visa à desconstituição, ou, como preferem alguns, anulação da res judicata.” (LEITE, p. 850).

NATUREZA JURÍDICAAção autônoma de natureza constitutivo-negativa ou desconstitutiva.

OBJETO DA AÇÃO RESCISÓRIAO objeto primordial da ação rescisória é a sentença de mérito.Todavia, no processo do trabalho, a decisão que homologa acordo firmado entre as partes (conciliação) somente pode ser atacável por ação rescisória (Súmula 259 do TST).Para as decisões homologatórias de adjudicação e de arrematação, a ação rescisória é incabível (Súmula 399, I, do TST). Caberá ação rescisória para impugnar a decisão homologatória de cálculos se esta decisão tiver enfrentado as questões envolvidas na elaboração da conta de liquidação (Súmula 399, II, do TST).

HIPÓTESES DE CABIMENTO

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;IV - ofender a coisa julgada;V - violar literal disposição de lei;Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória;Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença;IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;

118

Page 119: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 1º - Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido.§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamentojudicial sobre o fato.

LEGITIMIDADE ATIVAParte no processo ou seu sucessor, terceiro interessado e Ministério Público (art. 487/CPC).Quanto à legitimidade do MP, vale a pena registrar o entendimento consagrado pela Súmula 407do TST:

AÇÃO RESCISÓRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE "AD CAUSAM" PREVISTA NO ART. 487, III, "A" E "B", DO CPC. AS HIPÓTESES SÃO MERAMENTE EXEMPLIFICATIVAS (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 83 da SBDI-2) - Res. 137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005 A legitimidade "ad causam" do Ministério Público para propor ação rescisória, ainda que não tenha sido parte no processo que deu origem à decisão rescinden-da, não está limitada às alíneas "a" e "b" do inciso III do art. 487 do CPC, uma vez que traduzem hipóteses meramente exemplificativas. (ex-OJ nº 83 da SBDI-2 - inserida em 13.03.2002)

COMPETÊNCIA FUNCIONALCompetem aos TRT's ou ao TST a apreciação e o julgamento das ações rescisórias.A Vara do Trabalho não possui essa competência.

PROCEDIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHOArt. 836 da CLT (com redação dada pela Lei 11.495/07) e Instrução Normativa n. 31/07 do TST: exigência de depósito prévio de 20% do valor da causa, salvo prova de miserabilidade jurídica.CPC, artigos 488 a 495.

Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art. 282, devendo o autor:I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento da causa;II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou improcedente. * Art. 836/CLTParágrafo único. Não se aplica o disposto no no II à União, ao Estado, ao Município e ao Ministério Público.Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatória de tutela. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de 2006)Art. 490. Será indeferida a petição inicial:I - nos casos previstos no art. 295;II - quando não efetuado o depósito, exigido pelo art. 488, II.Art. 491. O relator mandará citar o réu, assinando-lhe prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias nem superior a 30 (trinta) para responder aos termos da ação. Findo o prazo com ou sem resposta, observar-se-á no que couber o disposto no Livro I, Título VIII, Capítulos IV e V.Art. 492. Se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova, o relator delegará a competência ao juiz de direito da comarca onde deva ser produzida, fixando prazo de 45 (quarenta e cinco) a 90 (noventa) dias para a devolução dos autos.Art. 493. Concluída a instrução, será aberta vista, sucessivamente, ao autor e ao réu, pelo prazo de 10 (dez) dias, para razões finais. Em seguida, os autos subirão ao relator, procedendo-se ao julgamento:I - no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, na forma dos seus regimentos internos; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).II - nos Estados, conforme dispuser a norma de Organização Judiciária.Art. 494. Julgando procedente a ação, o tribunal rescindirá a sentença, proferirá, se for o caso, novo julgamento e determinará a restituição do depósito; declarando inadmissível ou improcedente a ação, aimportância do depósito reverterá a favor do réu, sem prejuízo do disposto no art. 20.

119

Page 120: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.

SÚMULAS DO TST (assunto e teor resumido)

83 – Matéria Controvertida: I - Não cabe AR por violação literal da lei se a interpretação for controvertida. II - Marco da cessação da controvérsia: inclusão na OJ do TST.99 – Deserção. Prazo: O depósito recursal, quando exigível, deve ser efetuado no prazo previsto para o RO.100 – Decadência: estipula as hipóteses e variações de contagem do prazo para ajuizamento da ação rescisória.192 – Competência e Possibilidade jurídica do pedido: estipula as hipóteses de competência do TST e dos TRT's, bem como as hipóteses de impossibilidade jurídica do pedido.298 – Violência da Lei. Prequestionamento: estipula as hipóteses de prequestionamento em ação rescisória.299 – Decisão rescindenda. Trânsito em julgado. Comprovação: Importância e efeitos da comprovação ou não do trânsito em julgado da decisão rescindenda para o ajuizamento da ação rescisória.397 – Art. 485, IV, do CPC. Ação de cumprimento. Ofensa à coisa julgada emanada de decisão normativa modificada em grau de recurso. Inviabilidade. Cabimento de mandado de segurança: Dissídio coletivo somente produz coisa julgada formal. Impugnação da execução por meio da exceção de pré-executividade ou mandado de segurança.398 – Ausência de defesa. Inaplicáveis os efeitos da revelia.399 – Cabimento. Sentença de mérito. Decisão homologatória de adjudicação, de arrematação e de cálculos.400 – Ação rescisória de ação rescisória. Violação de lei. Indicação dos mesmos dispositivos legais apontados na rescisória primitiva: O vício apontado deve nascer na decisão rescindenda, não sendo admissível a rediscussão do acerto do julgamento da rescisória anterior.401 – Descontos legais. Fase de execução. Sentença omissa. Inexistência de ofensa à coisa julgada: Caracterização da ofensa à coisa julgada somente se o título exequendo, expressamente, afastar os descontos legais.402 – Documento novo. Dissídio coletivo. Sentença Normativa: Hipóteses em que a sentença normativa não é considerada documento novo para fins de ação rescisória.403 – Dolo da parte vencedora em detrimento da vencida. Art. 485, III, do CPC: Explicitação de hipóteses que não caracterizam dolo da parte vencedora: silêncio e acordo. 404 – Fundamento para invalidar confissão. Confissão ficta. Inadequação do enquadramento no art. 485, VIII, do CPC: Hipótese legal se aplica à confissão real.405 – Liminar. Antecipação de tutela: Recebimento como medida acautelatória, pois não se admite tutela antecipada em sede de ação rescisória.406 – Litisconsórcio. Necessário no polo passivo e facultativo no ativo. Inexistente quanto aos substituídos pelo sindicato.407 – Ministério Público. Legitimidade “ad causam” prevista no art. 487, III, “a” e “b”, do CPC. As hipóteses são meramente exemplificativas.

120

Page 121: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

408 – Petição inicial. Causa de pedir. Ausência de capitulação ou capitulação errônea no art. 485 do CPC. Princípio “iura novit curia”.409 – Prazo prescricional. Total ou parcial. Violação do art. 7º, XXIX, da CF/1988. Matéria infraconstitucional: Construída no plano jurisprudencial.410 – Reexame de fatos e provas. Inviabilidade.411 – Sentença de mérito. Decisão de Tribunal Regional do Trabalho em agravo regimental confirmando decisão monocrática do relator que, aplicando a Súmula nº 83 do TST, indeferiu a petição inicial da ação rescisória. Cabimento.412 – Sentença de mérito. Questão processual: uma questão processual pode ser objeto de rescisão, desde que consista em pressuposto de validade de uma sentença de mérito.413 – Sentença de mérito. Violação do art. 896, “a”, da CLT: A decisão que não conhece de recurso de revista, com base em divergência jurisprudencial, não se trata de sentença de mérito, sendo incabível contra ela a ação rescisória.

17.3. Ação Civil Pública

CONCEITO“A Ação Civil Pública consiste numa ação prevista em lei especial, de natureza condenatória, destinada à tutela dos interesses metaindividuais.” (SCHIAVI, p. 1034).“Com o escopo de oferecer modesta contribuição para o adequado estudo da matéria, parece-nos factível propor que a ação civil pública é o meio, constitucionalmente assegurado ao Ministério Público, ao Estado ou a outros entes coletivos autorizados por lei, para promover a defesa judicial dos interesses ou direitos metaindividuais.” (LEITE, p. 895).

NATUREZA JURÍDICAAção condenatória, mas também pode se revestir de natureza cautelar, quando destinada a prevenir ou evitar o dano, desde que presentes o FBI11 e PIM12 (art. 4º da Lei 7.347/85).

OBJETO Reparar a lesão aos interesses metaindividuais, aqueles que transcendem o aspecto individual, por meio de obrigações de fazer, de não fazer e pecuniárias (art. 3º da Lei 7.347/85).

INTERESSES METAINDIVIDUAISA definição legal encontra-se no art. 81, parágrafo único, do CDC (Lei 8.078/90).

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, denatureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

11 Fumus boni iuris12 Periculum in mora

121

Page 122: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

INTERESSE COLETIVO PARA FINS TRABALHISTASO interesse coletivo para fins trabalhista seria “o que transcende o aspecto individual para irradiar efeitos sobre um grupo ou categoria de pessoas, sendo uma espécie de soma de direitos individuais, mas também um direito próprio do grupo, cujos titulares são indeterminados, mas que pode ser determinados, ligados entre si por uma relação jurídica base. Em razão disso, no Direito do Trabalho, cada categoria pode defender o próprio interesse e também, por meio de negociação coletiva, criar normas a viger no âmbito da categoria.” (SCHIAVI, p. 1037).Exemplos enumerados por Raimundo Simão de Melo: “eliminação dos riscos no meio ambiente de trabalho, no interesse exclusivo dos trabalhadores da empresa; demissão coletiva de trabalhadores durante uma greve; descumprimento generalizado de cláusula convencional.” (idem).

INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS NA ESFERA TRABALHISTA Para Mauro Schiavi, o interesse individual homogêneo “é o que tem origem comum, envolvendo diversas pessoas determinadas, interligadas entre si por uma relação fática, buscando a mesma pretensão. Trata-se de interesse divisível e disponível, entretanto, a soma dos interesses individuais adquire feição coletiva, configurando uma espécie de feixe de direitos individuais.” (idem).São exemplos pedidos de pagamento de adicionais de periculosidade, insalubridade a trabalhadores de uma empresa, pagamento de horas extras etc. Nos interesses individuais homogêneos, a pretensão posta em juízo tem natureza condenatória pecuniária.

PROCEDIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHOComo a Lei 7.347/85 (LACP) não disciplina rito especial, nos termos da IN 27/05, a ação civil pública deverá ser processada pelo rito ordinário da CLT. Não se aplica o rito sumaríssimo, o qual tem aplicação exclusiva para conflitos individuais trabalhistas.Se a ação civil pública for de natureza cautelar, aplicar-se-ão as regras previstas no CPC.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHOSe a ação civil pública versar sobre matéria de conteúdo trabalhista, ou seja, se os interesses difusos ou coletivos forem decorrentes da relação de trabalho ou relacionados às demais hipóteses previstas no art. 114 da Constituição da República, a competência para apreciação e julgamento será da Justiça do Trabalho.A competência funcional é do 1º grau de jurisdição (Vara do Trabalho), pois, embora a pretensão tenha natureza coletiva, não se equipara a um dissídio coletivo.O C. TST acolheu a regra de competência fixada no art. 93 do CDC, conforme sua OJ 130 da SDI-II:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. EXTENSÃO DO DANO CAUSADO OU A SER REPARADO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 93 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CON-SUMIDOR (DJ 04.05.2004) Para a fixação da competência territorial em sede de ação civil pública, cumpre tomar em conta a extensão do dano causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência analógica do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar-se ao âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito suprar-regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal.

122

Page 123: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Parte da doutrina critica esse posicionamento do TST, pois defende que as ações coletivas para a defesa de direitos difusos e coletivos devem ser propostas no local do dano, conforme expressamente prevê o art. 2º da LACP competência esta que teria status de competência funcional. Essa disposição legal facilita o acesso à Justiça, bem como favorece as melhores possibilidades para a produção da prova.

LEGITIMIDADEAs pessoas e os entes relacionados nos artigos 5º da LACP e 82 do CDC possuem legitimidade ativa para ajuizar ação civil pública.

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública;III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;V - a associação que, concomitantemente:a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordemeconômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. § 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. § 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. § 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público,II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.§ 2° (Vetado).§ 3° (Vetado).

A legitimidade para a defesa dos interesses difusos e coletivos na esfera trabalhista é autônoma e concorrente.Para a defesa de interesse individual homogêneo a legitimidade dos entes previstos nos artigos 5º da LACP e 82 do CDC se dá sob a modalidade de substituição processual (art. 6º do CPC), pois o direito pertence aos substituídos.

123

Page 124: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Pode figurar como réu na ação civil pública qualquer pessoa, natural ou jurídica, de direito público ou privado.

PRESCRIÇÃOSegundo Mauro Schiavi, as pretensões para a defesa de interesses e direitos difusos ou coletivos são imprescritíveis, pois o interesse é indisponível. Já para a pretensão decorrente de direito individual homogêneo incide a prescrição, pois se trata de direito divisível e disponível. (SCHIAVI, p. 1043).

LITISPENDÊNCIANão há litispendência entre as ações coletivas e ações individuais. Contudo, os autores das ações individuais somente se beneficiarão da coisa julgada coletiva referente aos direitos coletivos e aos direitos individuais homogêneos se requererem a suspensão de suas ações individuais no prazo de 30 dias, a contar da ciência da ação coletiva (inteligência do art. 104 do CDC).

COISA JULGADAA coisa julgada na ação civil pública dá-se secundum eventum litis, nos termos dos artigos 16 da LACP e 103 do CDC.Em se tratando de direitos difusos e de direitos coletivos, haverá a produção de coisa julgada (erga omnes e ultra partes, mas limitado ao grupo, categoria ou classe), salvo se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas. Nessa última hipótese, qualquer outro legitimado poderá intentar outra ação civil pública com idêntico fundamento e pedido, desde que apresente nova prova.Em se tratando de direitos individuais homogêneos, haverá a produção de coisa julgada (“erga omnes”) apenas em caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas. Em caso de improcedência, qualquer outro legitimado poderá intentar outra ação coletiva com idêntico fundamento e pedido, independentemente de apresentação de nova prova.Também não há coisa julgada entre as ações coletivas e ações individuais. Contudo, os autores das ações individuais somente se beneficiarão da coisa julgada coletiva referente aos direitos coletivos e aos direitos individuais homogêneos se requererem a suspensão de suas ações individuais no prazo de 30 dias, a contar da ciência da ação coletiva (inteligência do art. 104 do CDC).

17.4. Ação Civil Coletiva

CONCEITO“A ação civil coletiva, como espécie do gênero ação civil pública, é instrumento novo de defesa dos interesses metaindividuais, destinado especificamente à tutela dos interesses individuais homogêneos” (Raimundo Simão de Mello citado por SCHIAVI, p. 1046).“Cuida-se, pois, de uma das espécies do gênero 'ação coletiva', cujo objeto repousa exclusivamente na defesa de interesses ou direitos individuais homogêneos.” (LEITE, p. 906).

NATUREZA JURÍDICAAção condenatória.

OBJETORessarcir aqueles que sofreram danos de origem comum. Busca-se a condenação do ofensor ao pagamento de certa quantia reparatória do dano.

124

Page 125: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

LEGITIMIDADEOs mesmos legitimados para propor a ação civil pública poderão propor, em nome próprio e no interesses das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva pelos danos individualmente sofridos, nos termos do art. 91 do CDC.Pode figurar como réu na ação civil coletiva qualquer pessoa, natural ou jurídica, de direito público ou privado.

AÇÃO CIVIL COLETIVA NA JUSTIÇA DO TRABALHOA ação civil coletiva pode ser ajuizada perante a Justiça do Trabalho, sendo completamente compatível com o Processo Trabalhista (art. 769 da CLT).Referida ação tem sido utilizada pelos Sindicatos, para a defesa de direitos individuais homogêneos da categoria. A substituição processual dos Sindicatos é ampla para tal finalidade, nos termos do art. 8º, III, da Constituição da República.

COMPETÊNCIA FUNCIONALIdem ação civil pública.

PROCEDIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHOComo o CDC não disciplina rito especial, nos termos da IN 27/05, a ação civil pública deverá ser processada pelo rito ordinário da CLT. Não se aplica o rito sumaríssimo, o qual tem aplicação exclusiva para conflitos individuais trabalhistas.

PROCEDÊNCIA, LIQUIDAÇÃO E EXECUÇÃO – Artigos 95 a 100 do CDC.Se o pedido for procedente, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.A execução poderá ser coletiva, sendo neste caso promovida pelos legitimados para a defesa dos interesses coletivos lato sensu (art. 82/CDC) e abrangerá as vítimas cujas indenizações já tiverem sido fixadas em sentença de liquidação. A execução coletiva não prejudicará o ajuizamento de outras execuções e será realizada com base em certidão das sentenças de liquidação, a qual mencionará a ocorrência ou não do trânsito em julgado.A competência para processamento da execução coletiva será do juízo da ação condenatória.Em caso de execução individual, será competente tanto o juízo da liquidação de sentença quanto o da ação condenatória.Se houver concurso entre créditos decorrentes de condenação por ofensa a direitos difusos e coletivos (LACP) e créditos decorrentes de indenizações de prejuízos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estes últimos terão preferência.Enquanto estiverem pendentes de decisão de 2º grau as ações de indenizações individuais, o recolhimento da importância da condenação para o fundo criado pela LACP ficará sustado, salvo se o patrimônio do devedor for manifestamente idôneo economicamente para suportar todas as condenações.Decorrido 1 ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, os legitimados para a defesa dos interesses coletivos lato sensu poderão promover a liquidação e a execução da indenização devida. Nesse caso, o produto da indenização deverá ser revertido para o fundo criado pela LACP.

125

Page 126: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

17.5. Ação de Consignação em Pagamento

CONCEITO“A ação de consignação em pagamento constitui ação de rito especial, prevista no Código de Processo Civil que tem por objeto o depósito de quantia ou de coisa devida que o credor se recusa a receber, a fim de desonerar o devedor a obrigação”. (SCHIAVI, p. 1047).

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHOA presente ação tem sido bastante utilizada na Justiça do Trabalho, principalmente com a finalidade de desonerar o empregador da obrigação de pagamento das verbas rescisórias e afastar a incidência da multa prevista no §8º do art. 477 da CLT.A ela se socorre o empregador quando o empregado se recusa injustificadamente a receber as verbas rescisórias ou quando há dúvida sobre quem deve receber o acerto rescisório (por exemplo, no caso de morte do empregado).Referida ação mostra-se compatível com o processo trabalhista, nos termos do art. 769 da CLT.Sérgio Pinto Martins entende que é possível a utilização das disposições contidas nos artigos 890 a 900 do CPC.Por sua vez, Mauro Schiavi defende que o procedimento extrajudicial a ação de consignação em pagamento é incompatível com o Processo do Trabalho, pois a legislação trabalhista exige formalidades especiais para a quitação de parcelas trabalhistas (p. ex.: homologação perante órgão do Ministério do Trabalho e Emprego ou assistência do sindicato da categoria profissional).Apesar da ação de consignação em pagamento estar regida pelo rito especial, a praxe e o costume forense acolheram a adoção do mesmo procedimento da reclamação trabalhista (rito ordinário ou sumaríssimo, a depender do valor da causa).Também têm sido adotadas as mesmas regras para a competência territorial da reclamação trabalhista (art. 651, caput e seus parágrafos, da CLT).O jus postulandi (art. 791 da CLT) igualmente tem sido aceito.O art. 893 do CPC prevê que a inicial deverá conter o requerimento para depósito da quantia ou da coisa e o requerimento de citação do réu para levantar o depósito ou oferecer resposta.O art. 896 do CPC limita as matérias de arguição da contestação.

Art. 896. Na contestação, o réu poderá alegar que:I – não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;II – foi justa a recusa;III – o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;IV – o depósito não é integral.Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.

No procedimento trabalhista, a apresentação da defesa ocorre em audiência, após frustrada a tentativa de conciliação. E a revelia ocorre se o réu injustificadamente não comparecer à audiência. No caso específico da ação de consignação em pagamento, a revelia do réu implicará na procedência do pedido e extinção da obrigação do autor.No processo trabalhista, é facultado ao juiz e aos tribunais conceder, até mesmo de ofício, os benefícios da gratuidade da justiça, nos termos do art. 790, §3ª, da CLT. Por isso, se verificado os pressupostos de sua concessão, poderá o juiz isentar o réu (normalmente o empregado hipossuficiente) do pagamento das custas processuais.Na Justiça do Trabalho e tratando-se de relação de emprego, os honorários advocatícios não decorrem automaticamente da sucumbência, sendo imprescindível o preenchimento de dois

126

Page 127: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

requisitos: I) comprovação da hipossuficiência econômica; e II) assistência pelo sindicato da categoria profissional (art. 5º da Instrução Normativa 27/2005; Súmulas 219 e 329 e OJ 305 da SDI-1, todas do TST).Portanto, o comando referente à condenação ao pagamento das custas e honorários advocatícios previsto no art. 897 do CPC deve ser adequado às normas específicas do processo trabalhista.Quando a impugnação do réu se limitar à alegação de o depósito não é integral (art. 899/CPC), poderá o autor completá-lo, dentro de 10 dias. O réu poderá também levantar, desde logo, o depósito parcial, prosseguindo o processo em relação à parcela controvertida. Nessa hipótese, se a sentença concluir pela insuficiência do depósito, determinará, sempre que possível, o montante devido, e valerá como título executivo, facultado ao credor promover a execução nos próprios autos.O cabimento da reconvenção na ação de consignação em pagamento na Justiça do Trabalho é matéria controvertida. Contudo, Mauro Schiavi entende ser cabível a reconvenção, conforme ensinamentos a seguir:

Pensamos que o consignado, na ação de consignação em pagamento, pode por meio de reconvenção formular pretensão mais ampla do que a discutida os autos da consignatória, desde que guarde conexão com os fatos deduzidos na Ação de Consignação. Por exemplo: por meio de reconvenção, o consignado, além de não concordar em receber as verbas rescisórias, formula pedido de reintegração no emprego em razão de doença profissional e indenização por danos materiais decorrentes da alegada doença. A jurisprudência trabalhista tem, acertadamente, admitido a reconvenção na consignação, convertendo o rito especial em ordinário, o que, no nosso sentir, está correto, pois facilita o acesso do trabalhador à Justiça, e também prestigia os princípios da efetividade e celeridade processual, bem como evita decisões conflitantes sobre a mesma matéria na mesma Vara do Trabalho. (SCHIAVI, p. 1050).

Os juízes do trabalho tem adotado um expediente interessante e que, na prática, tem atendido aos interesses tanto do consignante-empregador quanto do consignado-empregado.Os magistrados sugerem uma conciliação, na qual o consignado-empregado aceita o depósito efetuado, com ressalva e sem prejuízo de posterior ajuizamento de ação trabalhista para discussão sobre questões relativas ao extinto contrato de trabalho. Aceita a proposta, a conciliação é homologada. Com isso, o consignante-empregador afasta a possibilidade de aplicação da multa prevista no §8º do art. 477 da CLT; e o consignado-empregado mantém aberta a possibilidade de discussão de outras questões, inclusive quanto à modalidade de extinção contratual ou quanto às parcelas rescisória, numa outra ação.

17.6. Ação Monitória

CONCEITO“Ação monitória é o instrumento processual colocado à disposição do credor de quantia certa, de coisa fungível ou de coisa móvel determinada, com crédito comprovado por documento escrito sem eficácia de título executivo, para que possa requerer em juízo a expedição de mandado de pagamento ou de entrega da coisa para satisfação de seu crédito” (NERY JUNIOR e NERY, p. 1383).

127

Page 128: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

NATUREZA JURÍDICAHá divergência na doutrina. Uns entendem que se trata de ação de conhecimento13. Outros afirmam que é uma ação de execução14. Há, ainda, os que defendem que a ação monitória possui natureza híbrida, pois se trata de um misto de execução e conhecimento15.Mauro Schiavi, por sua vez, entende que “a ação monitória não tem natureza de conhecimento, ou de execução. É uma ação de rito especial que se situa entre os processos de cognição e execução” (SCHIAVI, p. 1079).

AÇÃO MONITÓRIA E DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHOApesar de não ser um consenso, prevalece o entendimento de que a ação monitória é compatível com o Direito Processual do Trabalho.A ação monitória pode ser utilizada tanto pelo trabalhador como pelo tomador de serviços.A competência da Justiça do Trabalho seria fixada com base no documento escrito, sem eficácia de título executivo extrajudicial, oriundo ou decorrente da relação de trabalho ou se estiver relacionado com as matérias previstas no art. 114 da Constituição da República.Mauro Schiavi cita os seguintes exemplos cabimento da ação monitória na Justiça do Trabalho após a EC 45/04: a) trabalhador, em razão de um contrato de prestação de serviços por empreitada, recebeu um cheque sem fundos em pagamento de seus serviços; b) cobrança de contribuições previdenciárias incidentes sobre os acordos firmados perante a Comissão de Conciliação Prévia. (SCHIAVI, p. 1084/1085).Para a fixação da competência territorial, aplicar-se-iam as regras previstas no art. 651, caput e seus parágrafos, da CLT.

PROCEDIMENTO DA AÇÃO MONITÓRIA NA JUSTIÇA DO TRABALHOMauro Schiavi afirma que não é possível aplicar totalmente o procedimento da ação monitória prevista no CPC, pois haveria incompatibilidades com as disposição do processo trabalhista a respeito de prazos, audiência e necessidade de propostas de conciliação. Diante disso, ele recomenda a adoção do seguinte procedimento:

a) propositura da ação, tendo a inicial que preencher os requisitos do art. 840, da CLT e 1102-A do CPC, com a juntada da prova escrita sem eficácia de título executivo extrajudicial;b) apreciação da inicial, pelo Juiz do Trabalho e, segundo seu livre convencimento, determinar ou não a expedição do mandado monitório em decisão irrecorrível. Caso o Juiz indefira de plano a inicial, esta decisão pode ser atacada pelo Recurso Ordinário (art. 895, da CLT);c) expedição de Mandado monitório, assinalando o prazo de 15 dias para cumprimento pelo reclamado, podendo este apresentar embargos, em audiência, que já deve ser previamente designada. A audiência é necessária, pois este é o momento da apresentação da defesa (arts. 841 e 847, ambos da CLT) e também a apresentação das provas;d) se o mandado for espontaneamente cumprido pelo reclamado, extingue-se o processo, com resolução do mérito;

13 “A ação monitória é ação de conhecimento, condenatória, com procedimento especial de cognição sumária e de execução sem título. Sua finalidade é alcançar a formação de título executivo judicial de modo mais rápido do que na ação condenatória convencional.” (NERY JUNIOR e NERY, p. 1383).14 “Nesse sentido argumenta Edilton Meireles: Em suma, só se entendendo a ação monitória como de natureza executiva, tal como trazida para nosso ordenamento jurídico, estaremos alcançando o objetivo da reforma processual (…) (Ação de execução monitória. 2. ed. São Paulo: Ltr, 1998, p. 67).” (citado por SCHIAVI, p. 1078).15 “Nesse diapasão é a respeitada opinião de Antonio Carlos Marcato: '(...). Dotado de uma estrutura procedimental diferenciada, o processo monitório representa o produto final da conjugação de técnicas relacionadas ao processo de conhecimento e de execução, somadas à da inversão do contraditório, aglutinando, em uma só base processual, atividades cognitivas e de execução' (Procedimentos especiais. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 299).” (citado por SCHIAVI, p. 1078).

128

Page 129: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

e) havendo os embargos, o Juiz do Trabalho decidirá o pedido por sentença, recorrível mediante Recurso Ordinário;f) se não houver a apresentação dos embargos em audiência, haverá a revelia (arts. 844, da CLT e 319 do CPC), transformando a prova escrita em título executivo judicial;g) após o trânsito em julgado da decisão proferida pela Vara ao apreciar os embargos monitórios, a execução da decisão se faz pelas regras da CLT (Capítulo V “Da execução”), aplicando-se em caso de omissão e compatibilidade (arts. 889 e 769, da CLT), as regras da Lei n. 6.830/80 e do Cumprimento da Sentença, fixadas no CPC, pela Lei n. 11.232/2005.

De outro lado, Sérgio Pinto Martins entende que não é possível fazer adaptações no procedimento da ação monitória para adequá-lo ao processo laboral, sendo incisivo “Ou se aplica o instituto da forma determinada nos arts. 1.102a a 1.102c, ou não se o utiliza” (MARTINS, p. 536).

AÇÃO MONITÓRIA EM FACE DA FAZENDA PÚBLICAHavia acirradas discussões doutrinárias a respeito do cabimento da ação monitória em face da Fazenda Pública.Carlos Henrique Bezerra Leite não via incompatibilidade ou vedação:

Para os que, como nós, enaltecem que a monitória tem natureza de ação cognitiva condenatória, não há qualquer vedação ou incompatibilidade quanto ao seu manejo em face das pessoas jurídicas de direito público, uma vez que em qualquer caso o mandado de citação, caso não haja apresentação de embargos, tem eficácia de título executivo judicial (LEITE, p. 936).

Por sua vez, Sérgio Pinto Martins seguia outra vertente. Para ele seria impossível o ajuizamento de ação monitória em face da Fazenda Pública para pagamento de quantia em dinheiro, tendo em vista a exigência constitucional do procedimento do precatório. Contudo, o i. jurista via a possibilidade de ser proposta ação monitória contra a Fazenda Pública visando à entrega de coisa certa ou incerta, uma vez que, nesse caso, não ensejaria execução por precatório (MARTINS, p. 538).No âmbito jurisprudencial, a questão restou pacificada por meio da edição da Súmula 339 do STJ, cujo teor não deixa dúvidas: “É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública.”

17.7. Ação Anulatória

CONCEITOA ação anulatória é o remédio jurídico que tem fundamento no art. 486 do CPC e que visa à desconstituição de atos jurídicos para cuja formação não há intervenção do Poder Judiciário ou quando a decisão judicial, nesse caso, for meramente homologatória.

NATUREZA JURÍDICAA ação anulatória possui natureza constitutiva negativa.

APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHOO art. 486 do CPC é compatível com os princípios do processo trabalhista e por isso pode ser aplicado subsidiariamente (art. 769 da CLT) para a finalidade de se desconstituir atos jurídicos firmados no âmbito da relação de trabalho ou decisões judiciais meramente homologatórias que não enfrentam o mérito.A ação anulatória tem sido utilizada nas seguintes hipóteses:a) ação de nulidade de termo de conciliação firmado perante a Comissão de Conciliação Prévia;

129

Page 130: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

b) ação de nulidade de termo de homologação de rescisão de contrato de trabalho;c) nulidade de decisão que homologa, na execução, arrematação e adjudicação, quando já passada a oportunidade para os embargos;d) ação anulatória de acordos ou convenções coletivas, ou de algumas de suas cláusulas.Cumpre registrar que se as decisões meramente homologatórias na execução (cálculos, arrematação, adjudicação e remição) foram objeto de impugnação por meio de embargos, agravo de petição ou outro meio judicial, não caberá a possibilidade de ação anulatória, pois terá havido pronunciamento do mérito.Para a ação anulatória, a competência será do mesmo juízo em que praticado o ato supostamente eivado de vício, conforme OJ 129 da SDI-2/TST.O prazo prescricional na Justiça do Trabalho será de 2 anos (prescrição bienal trabalhista e prescrição intercorrente).(SCHIAVI, p. 1051/1054).

17.7.1. Ação Anulatória de Normas Coletivas

HIPÓTESES DE CABIMENTOAs convenções e os acordos coletivos de trabalho poder ser anulados quando não atenderem os requisitos formais:a) norma escrita;b) publicidade, que se dá por meio do registro efetuado junto ao Ministério do Trabalho e Emprego;c) publicação nos sindicatos;d) aprovação pela assembleia geral dos interessados;e) observância do quorum;f) prazo máximo de vigência de 2 anos.(hipóteses dadas por Raimundo Simão de Melo, citadas por SCHIAVI, p. 1055/1056).As normas coletivas também podem ser anuladas quando violarem os direitos indisponíveis do trabalhador, os princípios do Direito do Trabalho, as garantias mínimas trabalhistas, os princípios de dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, bem como quando exorbitarem as hipóteses de flexibilização previstas nos incisos VI, XIII e XIV do art. 7º da Constituição da República. (SCHIAVI, p. 1056).

LEGITIMIDADEA doutrina e a jurisprudência dominante entende que somente o Ministério Público do Trabalho possui legitimidade ativa para propor ação anulatória de cláusulas convencionais.Contudo, assumindo uma posição vanguardista, Mauro Schiavi entende que além do MPT, podem propor a ação anulatória as partes que firmaram o instrumento normativo (entidades sindicais e empresas), os empregados e os empregadores, individualmente, bem como a associação sem caráter sindical.(SCHIAVI, p. 1058/1062).

COMPETÊNCIA FUNCIONALA competência funcional depende da abrangência da decisão.Se proposta individualmente por empregados ou empregadores, a competência é da Vara do Trabalho, pois os efeitos da coisa julgada da decisão de anulação de cláusula coletiva abrangerá apenas os litigantes. Nessa hipótese, a norma jurídica não é excluída do mundo jurídico, mas apenas deixar de ter eficácia quanto às partes.

130

Page 131: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Se a ação anulatória for proposta pelo Ministério Público do Trabalho adquirirá a mesma feição de um dissídio coletivo de natureza jurídica, pois a norma jurídica será excluída do ordenamento jurídico, atingindo as categorias econômica e profissional envolvidas.Mauro Schiavi, contudo, defende que a competência funcional, mesmo quando a ação anulatória é promovida pelo MPT, deveria ser do 1º grau de jurisdição, conforme regra geral, pois a lei não fixou critério especial. Acrescenta que, se cabe ao 1º grau de jurisdição decidir sobre questões de representação sindical e controvérsias entre sindicatos entre si e entre empregados e empregadores (art. 114, inciso III, da CRFB), não haveria razão para que todas as ações anulatórias não fossem julgadas também pelo 1º grau de jurisdição, inclusive aquelas envolvendo as normas convencionais. (SCHIAVI, p. 1066/1067).

17.8. Mandado de Segurança

CONCEITO“O mandado de segurança é uma garantia fundamental, portanto, de natureza constitucional, exteriorizado por meio de uma ação especial, posta à disposição de qualquer pessoa (física ou jurídica, de direito público ou privado) ou de ente despersonalizado com capacidade processual, cujo escopo repousa na proteção de direito individual ou coletivo, próprio ou de terceiro, líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, contra ato de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica de direito privado no exercício delegado de atribuições do Poder Público”. (LEITE, p. 829).

NATUREZA JURÍDICAAção civil de natureza constitucional.

PREVISÃO NORMATIVAConstituição da República, art. 5º, inciso LXIX e LXX:

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:a) partido político com representação no Congresso Nacional;b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.

Lei 12.016, de 7.9.2009, que revogou as Leis 1.533/51, 4.166/62, 4.348/64 e 5.021/66.A nova lei contém a consolidação dos entendimentos jurisprudenciais do c. STF e do c. STJ a respeito do mandamus, apresenta inovações, alguns conceitos legais, hipóteses expressas de não admissibilidade da ação e ainda dispõe sobre o seu procedimento, tratando e regulando tanto o mandado de segurança individual quanto o mandado de segurança coletivo.Citem-se seus artigos 1º a 5º, que podem ser entendimentos como disposições preliminares:

Art. 1º Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.§ 1º Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

131

Page 132: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

§ 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.§ 3º Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer omandado de segurança.Art. 2º Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada.Art. 3º O titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente.Parágrafo único. O exercício do direito previsto no caput deste artigo submete-se ao prazo fixado no art. 23 desta Lei, contado da notificação.Art. 4º Em caso de urgência, é permitido, observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada.§ 1º Poderá o juiz, em caso de urgência, notificar a autoridade por telegrama, radiograma ou outro meio que assegure a autenticidade do documento e a imediata ciência pela autoridade.§ 2º O texto original da petição deverá ser apresentado nos 5 (cinco) dias úteis seguintes.§ 3º Para os fins deste artigo, em se tratando de documento eletrônico, serão observadas as regras da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil.Art. 5º Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução;II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;III - de decisão judicial transitada em julgado.Parágrafo único. (VETADO)

APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHOAntes da EC 45/04, o mandado de segurança impetrado perante a Justiça do Trabalho referia-se basicamente a impugnações de atos judiciais e era apreciado pelo TRT. Excepcionalmente, na hipótese em que o Diretor da Secretaria praticasse ato que pudesse configurar abuso de autoridade (por exemplo, recusa injustificada de conceder carga de processo a um advogado), o mandado de segurança também era utilizado.Conforme jurisprudência dominante, verifica-se que o mandamus tem sido considerado cabível para atacar decisão interlocutória que concede liminar ou antecipação de tutela antes da sentença (Súmula 414/TST) ou determinação judicial de penhora em dinheiro na hipótese de execução provisória (Súmula 417/TST).Após a EC 45/04 e a respectiva ampliação da competência da Justiça do Trabalho, o mandado de segurança passou a ser cabível em face de atos de outras autoridades, tais como os Auditores Fiscais, Superintendentes e Delegados do Trabalho, contra autos de infração; autoridade do Ministério do Trabalho e Emprego, quando se recusa injustificadamente a proceder a registro sindical; e membros do MPT, contra Inquéritos Civis Públicos sem fundamentação, com fundamento no art. 114, III, IV e VII, da Constituição da República.Em matéria administrativa (questão interna corporis, por exemplo, ato administrativo do Presidente do TRT), o mandado de segurança igualmente é cabível perante a Justiça do Trabalho.A respeito da fixação da competência, Mauro Schiavi leciona:

Na Justiça do Trabalho, a competência para o mandado de segurança se fixa, diante da EC n. 45/04, em razão da matéria, ou seja, que o ato praticado esteja submetido à jurisdição trabalhista. O critério determinante não é a qualidade da autoridade coatora e sim a competência jurisdicional para desfazer o ato praticado. Desse modo, ainda que a autoridade coatora seja Municipal, Estadual ou Federal, se o ato questionado estiver sujeito à jurisdição trabalhista, a competência será da Justiça do Trabalho e não das Justiças Estadual ou Federal. Não obstante, fixada a competência material da Justiça do Trabalho, a competência funcional será da Vara do Trabalho do foro do domicílio da autoridade coatora, salvo as hipóteses de foro

132

Page 133: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

especial, conforme disciplinado na Constituição Federal. Se o ato impugnado for de autoridade judiciária, a competência está disciplinada nos arts. 678 e seguintes, da CLT e Lei n. 7.701/88, bem como nos Regimentos Internos dos TRTs e TST. (SCHIAVI, p. 1091).

PROCEDIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA NA JUSTIÇA DO TRABALHONos termos do art. 1º da Instrução Normativa 27/05 do TST, o procedimento a ser adotado deverá ser aquele previsto na Lei 12.016/09, principalmente quanto aos artigos 6º a 23, que tratam da petição inicial até publicação da sentença, aspectos a respeito dos recursos cabíveis, da concessão e suspensão de liminares, da tramitação nos tribunais, das especificidades do mandado de segurança coletiva e do prazo decadencial para a sua impetração.

Art. 6º A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.§ 1º No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição.§ 2º Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da notificação.§ 3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática.§ 4º (VETADO)§ 5º Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei n o 5.869, de 11 dejaneiro de 1973 - Código de Processo Civil.§ 6º O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito;III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do atoimpugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.§ 1º Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento, observado o disposto na Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil .§ 2º Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.§ 3º Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença.§ 4º Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento.§ 5º As vedações relacionadas com a concessão de liminares previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se referem os arts. 273 e 461 da Lei n o 5.869, de 11 janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.Art. 8º Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou a requerimento doMinistério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.Art. 9º As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da notificação da medida liminar, remeterão ao Ministério ou órgão a que se acham subordinadas e ao Advogado-Geral

133

Page 134: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

da União ou a quem tiver a representação judicial da União, do Estado, do Município ou da entidade apontada como coatora cópia autenticada do mandado notificatório, assim como indicações e elementos outros necessários às providências a serem tomadas para a eventual suspensão da medida e defesa do ato apontado como ilegal ou abusivo de poder.Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração.§ 1º Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão competente do tribunal que integre.§ 2º O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da petição inicial.Art. 11. Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório corra o feito juntará aos autos cópiaautêntica dos ofícios endereçados ao coator e ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, bem como a prova da entrega a estes ou da sua recusa em aceitá-los ou dar recibo e, no caso do art. 4º desta Lei, a comprovação da remessa.Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7o desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias.Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para adecisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício, por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante correspondência com aviso de recebimento, o inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada.Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o disposto no art. 4º desta Lei.Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação.§ 1º Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição.§ 2º Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.§ 3º A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente, salvo noscasos em que for vedada a concessão da medida liminar.§ 4º O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial.Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada ou do Ministério Público e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o presidente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão seguinte à sua interposição.§ 1º Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste artigo, caberánovo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.§ 2º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o § 1º deste artigo, quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se refere este artigo.§ 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão a que se refere este artigo.§ 4º O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do direito invocado e a urgência na concessão da medida.§ 5º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única decisão, podendo o presidente do tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original.Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a defesa oral na sessão do julgamento.Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.Art. 17. Nas decisões proferidas em mandado de segurança e nos respectivos recursos, quando não publicado, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do julgamento, o acórdão será substituído pelas respectivas notas taquigráficas, independentemente de revisão.

134

Page 135: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos, e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo habeas corpus.§ 1º Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que forem conclusos ao relator.§ 2º O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de 5 (cinco) dias.Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.§ 1º O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.§ 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Conforme art. 2º da referida instrução normativa, a sistemática recursal a ser aplicada será a da CLT. Nesse caso, o recurso de “apelação” previsto na Lei 12.016/09 deverá ser substituído pelo “recurso ordinário”, observado o prazo do processo trabalhista (8 dias ou 16 dias, quando o recorrente for o Poder Público).O “agravo de instrumento” previsto na Lei 12.016/09 é diferente do “agravo de instrumento” utilizado no processo trabalhista. Este tem por objetivo o destrancamento de um recurso, enquanto aquele visa a atacar decisão interlocutória.No Processo do Trabalho, as decisões interlocutórias não são recorríveis de imediato, mas sim juntamente com o recurso contra a decisão definitiva (art. 893, §1º, da CLT e Súmula 214/TST).Em vista dessa peculiaridade, entendemos que contra a decisão que concede liminar em mandado de segurança é cabível a impetração de mandado de segurança perante o TRT, conforme inteligência da Súmula 414, II, do TST.Como no âmbito da Justiça do Trabalho não existe recurso especial (dirigido ao STJ), entendemos que o “recurso especial” aludido na Lei 12.016/09 deverá ser substituído pelo “recurso de revista” (dirigido ao TST), observado o prazo do processo trabalhista (8 dias ou 16 dias, quando o recorrente for o Poder Público).Quanto ao recurso de “agravo”, trata-se de recurso que normalmente é previsto nos regimentos internos dos tribunais para atacar decisões monocráticas. Tal espécie de recurso

135

Page 136: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

também é adotado no âmbito da Justiça do Trabalho e por isso não há qualquer óbice à sua utilização e aplicação.Diante do teor da Súmula 425 do TST, entendemos que o jus postulandi (art. 791 da CLT) não se aplica ao mandado de segurança. Consequentemente, é imprescindível a assistência de advogado.

17.9. Habeas Corpus

CONCEITO“O habeas corpus é um remédio constitucional, exercido por meio de uma ação mandamental que tem por objetivo a tutela da liberdade do ser humano, assegurando-lhe o direito de ir, vir e ficar, contra ato de ilegalidade ou abuso de poder. Pode ser preventivo, quando há iminência da lesão do direito de liberdade, ou repressivo, quando já tolhida a liberdade.” (SCHIAVI, p. 1071).

NATUREZA JURÍDICAA doutrina e a jurisprudência majoritária, aqui incluída a do STJ e do STF, entendem que o habeas corpus tem natureza de ação penal.Divergindo dessa opinião, Mauro Schiavi afirma que a natureza do habeas corpus é de “um remédio constitucional para tutelar a liberdade de locomoção contra ato ilegal ou de abuso de poder, não sendo exclusivamente uma ação de natureza penal” e afirma que Estêvão Mallet também possui o mesmo posicionamento (SCHIAVI, p. 1071).

PREVISÃO NORMATIVAConstituição da República, art. 5º, inciso LXVIII:

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHOApesar de estar previsto no art. 114, inciso IV, da Constituição da República (com redação dada pela EC 45/04) a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar habeas corpus, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição, entendemos que o aludido remédio constitucional terá pouco aplicação no âmbito trabalhista doravante.Isso em razão da jurisprudência do c. STF no sentido de ser ilegal a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito (Súmula Vinculante 25) e no sentido de afastar a competência penal da Justiça do Trabalho (v.g., CC 6.979, 15-8-91, Velloso, RTJ 111/794; HC 68.687, 2ª T., 20-8-91, Velloso, DJ 4-10-91, citados pelo HC 85.096, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 28-6-05, 1ª Turma, DJ de 14-10-05; bem como ADI 3.684-MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1º-2-07, Plenário, DJE de 3-8-07).Convém ressalvar o posicionamento de parte da doutrina, como Mauro Schiavi, que cita como hipótese de cabimento de habeas corpus na Justiça Laboral a prisão determinada pelo Juiz do Trabalho decorrente do descumprimento de suas decisões, pois a natureza da prisão seria cautelar e não penal. O referido doutrinador ainda defende a possibilidade de impetração de habeas corpus na Justiça do Trabalho quando o empregador ou tomador de serviços restringirem a liberdade de locomoção do empregado ou trabalhador por qualquer motivo. (SCHIAVI, p. 1073/1075).

136

Page 137: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

17.10. Habeas Data

CONCEITO“Instituto destinado a assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público para permitir a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de modo sigiloso”16.

NATUREZA JURÍDICAAção civil de natureza constitucional.

PREVISÃO NORMATIVAConstituição da República, art. 5º, inciso LXXII:

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

Lei 9.507/97, art.7º:

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público;II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHOO habeas data, no âmbito do processo trabalhista, tem raríssima aplicação, citando a doutrina poucos exemplos: a) determinado empregador pretende ter acesso à “lista negra” do Ministério do Trabalho e Emprego a respeito do trabalho escravo e forçado, para saber se seu nome está na lista; b) servidor público regido pela CLT pretende ter acesso ao seu prontuário existente na entidade pública em que presta serviços.

PROCEDIMENTO DO HABEAS DATA NA JUSTIÇA DO TRABALHONos termos do art. 1º da Instrução Normativa 27/05 do TST, o procedimento a ser adotado deverá ser aquele previsto na Lei 9.507/97, principalmente quanto aos artigos 8º a 14, que tratam da petição inicial até publicação da sentença, aspectos a respeito dos recursos cabíveis e da prioridade de sua tramitação.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou

16 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 588.

137

Page 138: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão.Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo impetrante, com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de dez dias, preste as informações que julgar necessárias.Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data, ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15.Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem como a prova da sua entrega a este ou da recusa, seja de recebê-lo, seja de dar recibo.Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministério Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser proferida em cinco dias.Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário para que o coator:I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros ou bancos de dadas; ouII - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos do impetrante.Art. 14. A decisão será comunicada ao coator, por correio, com aviso de recebimento, ou por telegrama, radiograma ou telefonema, conforme o requerer o impetrante.Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofônica ou telefônica deverão ser apresentados à agência expedidora, com a firma do juiz devidamente reconhecida.Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito meramente devolutivo.Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presidente do Tribunal ao qual competir o conhecimento do recurso ordenar ao juiz a suspensão da execução da sentença, desse seu ato caberá agravo para o Tribunal a que presida.Art. 17. Nos casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos demais Tribunais caberá ao relator a instrução do processo.Art. 18. O pedido de habeas data poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.Art. 19. Os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto habeas-corpus e mandado de segurança. Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem conclusos ao relator.Parágrafo único. O prazo para a conclusão não poderá exceder de vinte e quatro horas, a contar da distribuição.

Conforme art. 2º da referida instrução normativa, a sistemática recursal a ser aplicada será a da CLT. Nesse caso, o recurso de “apelação” previsto na Lei 9.507/97 deverá ser substituído pelo “recurso ordinário”, observado o prazo do processo trabalhista (8 dias).Pensamos que, em face de sua natureza jurídica e sua semelhança com o habeas corpus, seria aceitável o jus postulandi. Mas essa questão ainda carece de uma solução definitiva a ser elaborada e consolidada pela doutrina e pela jurisprudência.

17.11. Mandado de Injunção

CONCEITOTrata-se de remédio constitucional que tem por finalidade viabilizar direitos e liberdades constitucionais, bem como prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

NATUREZA JURÍDICAAção civil de natureza constitucional.

PREVISÃO NORMATIVAConstituição da República, art. 5º, inciso LXXI:

138

Page 139: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHOEm vista de sua natureza e das suas finalidades, o mandado de injunção é de difícil visualização no âmbito do processo do trabalho.A respeito do tema, Sérgio Pinto Martins afirma que o aludido remédio constitucional poderá ser utilizado, desde que diga respeito a matéria trabalhista, dentro dos direitos e liberdades constitucionais. Entretanto, afirma o i. doutrinador que “A Justiça do Trabalho é incompetente para analisar a matéria, pois a ela não faz referência o inciso IV do art. 114 da Lei Maior”. Conclui a sua explanação afirmando que a competência, nesse caso, é do STF, por força do disposto no art. 102, I, q, da Constituição da República. (MARTINS, p. 551)

17.12. Correição Parcial

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICAHá divergência na doutrina quanto ao conceito e à natureza da correição parcial, também denominada reclamação correicional.Para Mauro Schiavi, “trata-se de uma ação especial que se assemelha ao mandado de segurança, tendo por objetivo fazer cessar ato tumultuário praticado pelo Juiz no Processo que subverte a boa ordem processual” (SCHIAVI, p. 1067)Já para Carlos Henrique Bezerra Leite, “a correição parcial não é recurso, nem ação, pois não se submete ao contraditório. Trata-se de medida judicial sui generis não contemplada na legislação processual civil codificada ou extravagante, cuja finalidade é coibir a inversão tumultuária da boa marcha processual surgida no curso do processo em virtude de erro, abuso ou omissão do juiz” (LEITE, p. 939).Sérgio Pinto Martins, a esse respeito, manifesta-se nos seguinte termos:

A natureza da correição parcial é de incidente processual e não de recurso, de uma providência de ordem disciplinar, inclusive no que diz respeito aos procedimentos atinentes a impedir atos tumultuários existentes no processo. Trata-se mais de um procedimento administrativo, previsto nos regimentos internos dos tribunais, que não se presta a modificar situações as quais já se operou a preclusão. Tem mais importância o comportamento do juiz no processo do que o ato jurisdicional praticado. Não é julgada por um colegiado, mas de forma unipessoal, pelo corregedor. Não pode interferir na independência do juiz, além de ser incabível quando haja recurso específico. (MARTINS, p. 460).

Pedindo vênia aos ilustres juristas, ousamos a emitir nossa opinião. Pensamos que a correição parcial trata-se de medida administrativa, derivada do direito constitucional de petição, no sentido de “acionar” os órgãos correicionais para que os mesmos exercer seus misteres contra ato ou conduta de um juiz que, por abuso, omissão ou erro, provoca a inversão tumultuária da marcha processual, provocando prejuízos a uma ou a ambas as partes e contra o qual não há nenhum recurso disponível.

139

Page 140: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

PROCEDIMENTO NA JUSTIÇA DO TRABALHOPor uma questão de hierarquia administrativa, o Ministro Corregedor do TST julgará as correições parciais contra atos dos Desembargadores Federais do Trabalho (denominação atual dos magistrados que atuam perante os TRT's) e os Corregedores Regionais julgarão as correções parciais promovidas contra os Juízes dos Trabalhos (titulares e substitutos que atuam perante as Varas do Trabalho).Para Carlos Henrique Bezerra Leite, a correição parcial pressupõe o preenchimento cumulativo dos seguintes requisitos: “a) existência de uma decisão ou despacho que contenha erro ou abuso, capaz de tumultuar a marcha normal do processo; b) o dano ou a possibilidade de dano para a parte; e c) inexistência de recurso específico o mandado de segurança para sanar o error in procedendo” (LEITE, p. 940).Mauro Schiavi, por sua vez, afirma que “a correição parcial não será cabível quando houver recurso específico para a decisão e não se presta a atacar decisão interlocutória no Processo do Trabalho” (SCHIAVI, p. 1069).A correição parcial ou reclamação correicional encontra-se prevista nos regimentos internos dos tribunais, nos quais estarão os requisitos para a sua promoção, prazo e recursos.No caso do TRT da 3ª Região, o seu regimento interno atual apenas menciona uma única vez a correição parcial, em seu art. 30, III, “b”, no sentido de que é da competência do corregedor processá-la e, se admitida, julgá-la no prazo de 10 dias, após instrução.

140

Page 141: Curso+de+Processo+Do+Trabalho

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Professor: Ricardo Tupy

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2006.COSTA, Coqueijo. Princípios de direito processual do trabalho: na doutrina, na constituição, na lei, nos prejulgados e súmulas do TST e nas súmulas do STF. São Paulo: LTr, 1976.DIDIER JR., Freddie; BRAGA, Paula Sarno e OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação da sentença e coisa julgada. Volume 2. rev. e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2007.DUARTE NETO, Bento Herculano. O instituto da prova no processo do trabalho. In IESDE Brasil S.A. Direito processual do trabalho. Curitiba: IESDE, 2006. FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Civil – Teoria Geral. 3 ed. São Paulo: Lumen Júris, 2005.FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Ministério Público do Trabalho: sua estrutura e atribuições. In IESDE Brasil S.A. Direito processual do trabalho. Curitiba: IESDE, 2006.GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 11 ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2005.MALTA, Christóvão Piragibe Tostes. Prática do processo trabalhista. 28 ed. São Paulo: LTr, 1997.MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2003.NERY JÚNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 5a. ed. rev. e ampl. São Paulo: RT, 2001.PINTO, Raymundo Antonio Carneiro. Súmulas do TST comentadas. 8. ed. São Paulo: LTr, 2005.SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009.SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. volume III: J – P. 3 ed. São Paulo: Forense, 1973.

141