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Vera Lúcia do Amaral Psicologia da Educação DISCIPLINA A escola como espaço de socialização Autora aula 12

D I S C I P L I N A - ead.uepb.edu.br · escola pode se desenvolver como uma instituição conservadora, mas que também abre espaço para o surgimento de instituições criativas

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Vera Lúcia do Amaral

Psicologia da EducaçãoD I S C I P L I N A

A escola como espaço de socialização

Autora

aula

12

Aula 12  Psicologia da EducaçãoCopyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância- SEDIS

Coordenadora da Produção dos MateriaisMarta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky

Projeto GráficoIvana Lima

Revisores de Estrutura e LinguagemEugenio Tavares BorgesJânio Gustavo BarbosaThalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

Revisora TipográficaNouraide Queiroz

IlustradoraCarolina Costa

Editoração de ImagensAdauto HarleyCarolina Costa

Diagramadores

Bruno de Souza MeloDimetrius de Carvalho Ferreira

Ivana LimaJohann Jean Evangelista de Melo

Adaptação para Módulo MatemáticoAndré Quintiliano Bezerra da SilvaKalinne Rayana Cavalcanti Pereira

Thaísa Maria Simplício Lemos

Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

(Secretaria de Educação a Distância) - UFRNFotografias - Adauto HarleyStock.XCHG - www.sxc.hu

Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

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Janaina Tomaz CapistranoSandra Cristinne Xavier da Câmara

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Imagens UtilizadasBanco de Imagens Sedis

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Amaral, Vera Lúcia do. Psicologia da educação / Vera Lúcia do Amaral. - Natal, RN: EDUFRN, 2007.208 p.: il.

Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação – A inteligência – A vida afetiva: emoções e sentimentos – Crescimento e desenvolvimento – A psicologia da adolescência – A formação da identidade: alteridade e estigma – Como se aprende: o papel do cérebro – Como se aprende: a visão dos teóricos da educação – Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto – A dinâmica dos grupos e o processo grupal – A família – A escola como espaço de socialização – Sexualidade – A questão das drogas – Os meios de comunicação de massa.

1. Psicologia. 2. Psicologia educacional. 3. Didática. I. Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0

CDU 159.9RN/UF/BCZM 2007/49 CDD 150

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Apresentação

Em disciplinas anteriores você já discutiu o tema escola. Por exemplo, em Educação e Realidade, foram analisados os desafios da escola nos dias de hoje e, nessa discussão, você visitou uma escola de seu município; e em Fundamentos da Educação, acompanhou

um extenso estudo sobre a educação brasileira no que diz respeito ao espaço institucional da escola. A perspectiva de estudo desta aula aqui é discutir a escola enquanto espaço de socialização dos indivíduos, contribuindo, assim, para o seu desenvolvimento psíquico; e enquanto instituição, na qual vão estar presentes as características de grupos sociais.

Objetivos

Conhecer o conceito de socialização e como ela ocorre.

Reconhecer a escola como importante espaço de socialização.

Discutir as funções da escola.

Conhecer como ocorrem as relações de poder dentro da escola.

Aula 12  Psicologia da Educação2 Aula 12  Psicologia da Educação

Atividade 1su

a re

spos

ta

O processo de socialização secundária

Em aulas anteriores, vimos que quando a criança nasce já pertence a um grupo social familiar, que lhe provê suporte e lhe transmite valores, hábitos e comportamentos da sua cultura. A família é, pois, o primeiro espaço de socialização do indivíduo. A escola,

por sua vez, exerce um papel fundamental na consolidação desse processo. Vamos entender um pouco mais o que é socialização.

Vamos, mais uma vez, começar nossa aula com uma pergunta cuja resposta é fácil e óbvia: para que serve a escola? Reflita um pouco sobre isso e liste a seguir alguns dos papéis da escola que lhe pareçam mais importantes.

Chama-se socialização o processo interativo, fundamental para o desenvolvimento, através do qual o indivíduo assimila a cultura do seu grupo social, ao mesmo tempo em que perpetua esse grupo.

De acordo com Colls (2004), a socialização ocorre através de três processos:

1. os processos mentais de socialização – correspondem ao conhecimento dos valores, normas, costumes, instituições, aquisição da linguagem e dos conhecimentos transmitidos pela escola;

Aula 12  Psicologia da Educação Aula 12  Psicologia da Educação 3

2. os processos afetivos de socialização – manifestam-se por meio da empatia, do apego e da amizade;

3. os processos condutuais de socialização – envolvem a aquisição de condutas consideradas socialmente aceitáveis, evitando-se as não aceitas.

Um dos objetivos principais dos processos de socialização é fazer com que a criança aprenda o que é correto e o que não é correto dentro de seu meio social, ou seja, que adquira um conjunto de valores morais que regem a sociedade da qual faz parte. A interiorização desses valores permite desenvolver na criança mecanismos reguladores de sua conduta. Quando os pais dizem aos seus filhos, por exemplo que não devem bater em crianças menores, que não podem tomar o brinquedo dos coleguinhas, ou que devem respeitar os mais velhos, estão transmitindo normas que com o tempo ficam interiorizadas, de modo que a criança passa a regular sua própria conduta.

A forma como a criança lida com essas normas e regras vai variar de acordo com o seu desenvolvimento e, com isso, não se pode esperar que uma criança muito pequena já consiga interiorizá-las. Para Piaget (1977), o indivíduo desenvolve suas próprias crenças, através da interação com o meio, a partir da formação de um juízo moral que passa por uma fase que ele chama de heteronomia (quando não concebe as regras como um contrato firmado entre as pessoas), até uma fase de autonomia (quando já compreende as regras como esse contrato). Essas fases seguiriam as mesmas etapas do seu desenvolvimento cognitivo, demonstrando que o desenvolvimento das atitudes morais pressupõe uma reorganização seqüencial relacionada com a idade da criança.

E é somente a partir dos 7 anos de idade, portanto na idade escolar, que a criança começa a evoluir para uma autonomia moral. Na escola, em contato com outras de mesma faixa etárias, a criança descobre que é necessária a reciprocidade para agir conforme as regras, na medida em que essas regras somente são efetivas se as pessoas concordarem com elas. A escola é, pois, o espaço no qual as crianças: produzem seus conhecimentos sociais; começam a compreender as características dos outros e de si mesmas; estabelecem diferentes graus de relacionamentos; necessitam absorver novas regras de funcionamento diferentes do seu espaço familiar.

Empatia

Empatia é uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa e não à própria situação, ou seja, quando o sujeito responde afetivamente, colocando-se na situação vivida pelo outro. A empatia predispõe as pessoas a tomarem atitudes altruístas.

Figura 1 – A escola, um importante espaço de socialização

Aula 12  Psicologia da Educação4 Aula 12  Psicologia da Educação

Nesse sentido, a escola é concebida como o lugar onde ocorre o processo de socialização secundária, conforme os três aspectos descritos por Colls: mental, com a aquisição de conhecimentos; afetivo, com o estabelecimento de relações de apego e amizade; condutural, desenvolvendo novas condutas. Ao chegar à escola, a criança traz consigo os aspectos vivenciais familiares, mas o ambiente escolar será peça fundamental no seu desenvolvimento.

As funções da escolaJá vimos, então, que a escola contribui decisivamente para o processo de socialização

das crianças. Outras funções, porém, podem ser listadas, como as provavelmente enumeradas por você na atividade 1. Vejamos algumas delas.

Se analisarmos as propostas pedagógicas de todas as escolas, é muito provável que encontremos como sua principal missão a transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade, a fim de levar as pessoas a assumirem posições de destaque na sociedade. Assim, o lugar que o indivíduo ocupará na sociedade vai depender do seu grau de cultura, atestado por diplomas e certificados conferidos pela escola.

Se, por um lado, isso é verdade, por outro, podemos questionar o fato de que o grau de cultura adquirido pelo indivíduo depende significativamente do lugar social que sua família ocupa. Nesse sentido, um jovem que provenha das camadas populares terá muito mais dificuldade em ocupar uma posição de destaque na sociedade, por mais que se esforce para obter títulos e diplomas. Por outro lado, um jovem de família rica, mesmo que não queira estudar, não sofrerá mudanças quanto ao seu padrão social.

Outra função bastante destacada da escola é a de preparar o indivíduo para a vida, de formar o cidadão, de construir a cidadania. E ela apareceria como o espaço privilegiado para isso, uma vez que trabalha com o saber, mas também com valores, crenças e atitudes. Ocorre, porém, que a escola, na qualidade de instituição social, defronta-se com um dilema: de um lado, por ser parte de uma sociedade, tem a tarefa de formar indivíduos que zelem pela preservação dessa sociedade; e de outro, deve também cuidar do desenvolvimento da sociedade, necessitando, portanto, formar cidadãos capazes de inovar, de inventar, de transformar. Nessa ambigüidade, a escola pode se desenvolver como uma instituição conservadora, mas que também abre espaço para o surgimento de instituições criativas e transformadoras.

Uma outra função da escola é capacitar o profissional para, através do trabalho, sustentar a si mesmo e contribuir com o desenvolvimento da sociedade.

A crítica feita a essa função em particular diz respeito ao caráter de instituição fechada que a escola vem assumindo, quando as teorias pedagógicas a concebem como isolada do cotidiano da sociedade. Esse isolamento pode ser notado pela observação dos seguintes aspectos: ensino de conteúdos que nada têm a ver com a realidade dos alunos; adoção de uniformes

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Atividade 2

sua

resp

osta

que pretensamente iguala a todos; tipo de avaliação de aprendizagem que valoriza apenas o trabalho desenvolvido dentro da escola e não leva em conta o aprendizado cotidiano.

Um dos críticos mais contundentes da escola foi o pensador vienense Ivan Illich (1926-2002), com o seu livro “Sociedade sem escolas”, lançado no início dos anos 70 do século passado. Illich propõe “desinstalar” a escola porque

Ela escolariza para confundir processo com substância. Alcançando isso, uma nova lógica entra em jogo: quanto mais longa a escolaridade, melhores resultados; ou, então, a graduação leva ao sucesso. O aluno é, desse modo, ‘escolarizado’ a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de grau com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Sua imaginação é ‘escolarizada’ a aceitar serviço em vez de valor (ILLICH, 1973, p. 21, grifos do autor)

Para Illich, a escola tem a finalidade de reproduzir a mão de obra submissa e a ideologia dominante. Essa idéia é ratificada por outros estudiosos do papel da escola, como Bourdieu e Passeron (1975), que propõem uma estreita relação entre reprodução cultural e reprodução social, e o sociólogo francês Durkheim (1858-1917), que afirma: “longe de a educação ter por objeto único e principal o indivíduo e seus interesses, ela é antes de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência”. (DURKHEIM, 1973. p. 52).

Vamos retomar a atividade 1, na qual você listou o que julgava serem as funções da escola. À luz do que discutimos até então, reveja sua lista e faça uma apreciação crítica sumarizada.

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Atividade 3su

a re

spos

taAs relações de poder na escola

Como vimos, a escola é uma instituição social na qual convivem grupos sociais, que podemos caracterizar como grupos secundários. Baseado em sua própria experiência, nos pontos discutidos na aula 10 e nas observações que você fez na disciplina Educação e Realidade, descreva a seguir a sua percepção das dinâmicas estabelecidas na escola.

Para além da dinâmica estabelecida entre e dentro dos grupos sociais que existem na instituição escolar, vamos agora discutir como se estabelecem as relações de poder dentro da escola. Porque se a escola é um espaço reprodutor das redes de relações existentes na sociedade, é interessante conhecer como essas relações se estabelecem e qual o contexto que lhes permite acontecerem.

O filósofo francês Michel Foucault (1977), estudioso das relações de poder nas instituições, descreveu os conceitos de sociedades disciplinares e sociedade de controle. Para ele, as relações que se estabelecem em instituições como a família, a escola, os quartéis e as prisões são marcadas pela disciplina, com o objetivo de produzir corpos dóceis, eficazes e submissos política e economicamente.

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Figura 2 – Michel Foucault (1926-1984)

Para caracterizar suas idéias, Foucault tomou como exemplo o Panóptico, um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura etc. Na torre, havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas, de postigos semi-cerrados, de modo a poder ver tudo sem que ninguém, ao contrário, pudesse vê-lo. O panoptismo corresponde à observação total, é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo. Ele é vigiado durante todo o tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado.

Figura 3 – Panóptico

Para Foucault, o Panóptico poderia servir de modelo, uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana, com sua essência centrada na situação de inspeção, ou na construção, de uma espécie de “inspetor central”, onipotente, onipresente e, principalmente, onividente. Não há mais necessidade de punir porque o ato de vigiar já é suficiente para manter a ordem.

Aula 12  Psicologia da Educação� Aula 12  Psicologia da Educação

Do século XVIII até a Segunda Guerra Mundial, prevalecia o modelo de sociedades disciplinares, cujo objetivo eram as relações de disciplina observadas no panoptismo. A partir daí, começa a surgir outro modelo, com novos mecanismos de vigilância, em que a disciplina passa a ser interiorizada, sem a necessidade de aparatos explícitos de vigilância: é o modelo de sociedades de controle. Agora há um processo de vigilância constante, intensificada pela disseminação de dispositivos tecnológicos de vigilância presentes até mesmo “ao ar livre”. Todos podem e querem espiar todos. E o exemplo mais atual desse modelo é o programa de televisão Big Brother, que surgiu em 1999 na Holanda e teve o seu formato disseminado em vários países, inclusive e infelizmente, também no nosso.

Figura 4 – Câmaras de vigilância substituem hoje o Panóptico

Para Foucault, a escola é o espaço no qual o poder disciplinar produz o saber. Na escola, ser observado, olhado, contado detalhadamente passa a ser um meio de controle, de dominação, um método para documentar individualidades. Ao dividir os alunos e os saberes em séries, a escola reforça as diferenças, recompensando os que se submetem ao sistema escolar e punindo com “reprovação” os que não se submetem. O modelo pedagógico permite vigilância constante, tornando a escola um espaço de controle constante de sua população através da burocracia acadêmica, do orientador educacional, do professor e dos alunos.

Observemos a disposição de uma sala de aula: um estrado mais elevado onde se situa o professor, cadeiras linearmente dispostas colocadas abaixo para os alunos. Fica evidente a relação saber/poder.

Figura � – A organização da sala de aula: evidência do poder

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Resumo

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O professor, por sua vez, subordina-se às autoridades superiores e essa submissão leva-o a desenvolver uma dominação compensadora junto aos alunos. Ele assume como papel a imposição da ordem e da obediência. Outro momento em que esse poder professoral se manifesta é por meio do sistema de avaliação com provas e exames, o que lhe retira o caráter de instrumento, passando a ser um fim em si mesma.

Todos esses aspectos das relações de poder apontadas por Foucault devem ser um ponto de partida para uma reflexão das nossas práticas enquanto professores ou futuros professores, porque não se pode negar que a escola é – ou deveria ser – um importante espaço de troca, de aprendizado, de obtenção de informação. O necessário é que a escola seja transformada, e definir essa transformação é o grande desafio que enfrentamos.

Por outro lado, a escola é apenas uma entre tantas outras instituições na nossa sociedade, não podendo ser a única responsabilizada pela reprodução dos valores dominantes. As transformações sociais ocorrem de maneira mais ampla e abrangem outras instituições como a família, como já vimos, e os meios de comunicação, como veremos em uma aula próxima.

Nesta aula, começamos analisando o conceito de socialização para situarmos a escola como o espaço no qual se dá a socialização secundária. Em seguida, discutimos e elaboramos algumas críticas às funções da escola. Por fim, estudamos as relações de poder dentro da escola, a partir dos conceitos foucaultianos de sociedade disciplinar e sociedade de controle.

Auto-avaliação

O que é socialização e como ela ocorre?

Quais os processos envolvidos na socialização, segundo Coll?

Descreva criticamente as funções da escola.

Aula 12  Psicologia da Educação10 Aula 12  Psicologia da Educação

4O que é o Panóptico e qual relação pode ser feita entre este e a relação de poder na escola?

Descreva dois aspectos da escola que representem a estrutura de poder.

ReferênciasBOURDIEU, P.; PASSERON, J.C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

COLLS, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. (Psicologia evolutiva, v. 1).

DURKHEIM, E. Educación y sociología. Buenos Aires: Editorial Shapire, 1973.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977.

ILLICH, I. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes, 1973.

PIAGET, J. O julgamento moral da criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

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Anotações

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