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DA ELABORAÇÃO A ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA: INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL Neste painel, pesquisadores do Ensino de Química convidam à discussão dos resultados da análise de temas atuais sobre as influências da política pública educacional no âmbito do processo realizado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); desde a elaboração até a escolha dos livros didáticos de Química, pelos professores da educação básica. Os pesquisadores evidenciam o livro didático como produto das políticas públicas educacionais brasileiras e, ressaltam o importante papel desse material didático nas salas de aula, na mediação durante o desenvolvimento da prática pedagógica do professor, na formação do aluno e nas pesquisas na área de educação, entre as quais, a de química. Com reflexões subsidiadas por teóricos que discutem as políticas públicas educacionais (BALL, GOLD e BOWE, 1992; HOFLING, 2000; 2007), e sobre livro didático e livro didático de Química (BITTENCOURT, 2004; MORTIMER e SANTOS, 2008), com abordagens metodológicas qualitativas, recorrem a interpretações de situações vividas por professores da educação básica e por autores das obras didáticas selecionadas, apontando para limitações e avanços do Programa. As três pesquisas encontram, respectivamente: a complexidade do Programa e as mudanças contínuas que as obras didáticas sofrem no decorrer dos processos de seleção, e ainda a presença das influências envolvidas nesse processo, que não se dá apenas por meio das especificações do Edital; possíveis influências do mercado tecnológico, com a inclusão das obras didáticas digitais no PNLD 2015 e as limitações na formação dos professores para trabalharem com esses novos recursos; e no processo de escolha, como fatores de influência tem-se a pouca utilização do Guia Didático, as interferências das editoras e, novamente, os aspectos relacionados à formação docente. Concluem acreditando potencializar importantes reflexões que transitam por questões culturais implicadas na seleção das obras didáticas; na interpretação e ressignificação do texto político; e na prática pedagógica do professor. Palavras-chave: Livros Didáticos de Química. Livro Didático Digital. PNLD. XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira 6415 ISSN 2177-336X

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DA ELABORAÇÃO A ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA:

INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL

Neste painel, pesquisadores do Ensino de Química convidam à discussão dos resultados

da análise de temas atuais sobre as influências da política pública educacional no âmbito

do processo realizado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); desde a

elaboração até a escolha dos livros didáticos de Química, pelos professores da educação

básica. Os pesquisadores evidenciam o livro didático como produto das políticas

públicas educacionais brasileiras e, ressaltam o importante papel desse material didático

nas salas de aula, na mediação durante o desenvolvimento da prática pedagógica do

professor, na formação do aluno e nas pesquisas na área de educação, entre as quais, a

de química. Com reflexões subsidiadas por teóricos que discutem as políticas públicas

educacionais (BALL, GOLD e BOWE, 1992; HOFLING, 2000; 2007), e sobre livro

didático e livro didático de Química (BITTENCOURT, 2004; MORTIMER e

SANTOS, 2008), com abordagens metodológicas qualitativas, recorrem a interpretações

de situações vividas por professores da educação básica e por autores das obras

didáticas selecionadas, apontando para limitações e avanços do Programa. As três

pesquisas encontram, respectivamente: a complexidade do Programa e as mudanças

contínuas que as obras didáticas sofrem no decorrer dos processos de seleção, e ainda a

presença das influências envolvidas nesse processo, que não se dá apenas por meio das

especificações do Edital; possíveis influências do mercado tecnológico, com a inclusão

das obras didáticas digitais no PNLD 2015 e as limitações na formação dos professores

para trabalharem com esses novos recursos; e no processo de escolha, como fatores de

influência tem-se a pouca utilização do Guia Didático, as interferências das editoras e,

novamente, os aspectos relacionados à formação docente. Concluem acreditando

potencializar importantes reflexões que transitam por questões culturais implicadas na

seleção das obras didáticas; na interpretação e ressignificação do texto político; e na

prática pedagógica do professor.

Palavras-chave: Livros Didáticos de Química. Livro Didático Digital. PNLD.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6415ISSN 2177-336X

CURRÍCULO E POLÍTICA PÚBLICA: O ENSINO DE QUÍMICA NO

PROCESSO DE ELABORAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS

Gahelyka Aghta Pantano Souza – UFMT

Irene Cristina de Mello – UFMT

Resumo

Este trabalho consiste em um recorte de uma pesquisa maior, desenvolvida no âmbito

de um programa de mestrado. Nosso objetivo é apresentar as relações de influência que

se estabelecem entre Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), como política

pública educacional, e os processos de (re)elaboração de uma obra didática de Química.

Assim como Ball, Gold e Bowe (1992), compreendemos que a política pública se

desenvolve em ciclo, como é chamado pelos autores Ciclo de Políticas. Constituído de

três principais contextos, a saber: contexto de influência, contexto de produção de texto

e contexto da prática. Cada um deles apresentam arenas, lugares, e grupos de interesse

envolvendo disputas e embates. Por isso, toda a política pública que envolve a

(re)elaboração dos livros didáticos brasileiros refletem as características dos contextos

apresentados. Porém, esses três contextos encontram-se inter-relacionados, de maneira

não linear e não apresentam dimensão temporal ou sequencial. Nos moldes de uma

pesquisa de abordagem qualitativa, por meio da análise dos módulos e livros didáticos

que compõem a Coleção Química Cidadã, objeto deste estudo, descrevemos e

analisamos como os autores conduziram as mudanças sofridas na proposta didático-

pedagógica e teórico-metodológica, no decorrer dos processos de seleção realizados

pelo PNLD. Além disso, apresentamos as Mônadas que demonstram a partir da fala dos

colaboradores da pesquisa, se houve ou não transformações nesse aspecto. Os resultados

apontam que apesar das orientações encontradas nos Editais de seleção, os autores

conservem a essência principal da obra, e continuam a propor um livro didático com

perspectiva à formação cidadã dos alunos do ensino médio regular no Brasil, contudo,

situações como a da experimentação investigativa que os autores afirmam existir, na

nossa compreensão não está presente na Coleção.

Palavras-Chave: Livros didáticos de Química. Formação Cidadã. PNLD

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6416ISSN 2177-336X

INTRODUÇÃO

Objeto de múltiplas faces o livro didático pode vir a assumir diferentes funções,

de acordo com o lugar e o momento em que é elaborado e utilizado. É pesquisado como

produto cultural, como mercadoria (produto do mercado editorial), mas também como

um portador do conhecimento e dos métodos de ensino das diversas disciplinas do

currículo escolar. Assim, compreendemos que o livro didático atua como um dos

parâmetros que influência a formação do currículo escolar.

Para Quadros, Lélis e Freitas (2015), “o livro didático tem sido um dos recursos

mais utilizado pelos professores e também muito discutido na literatura. Em algumas

escolas, inclusive, ele é a base de toda a prática docente” (p. 105). Nesse sentido,

políticas públicas educacionais são continuamente (re)elaboradas, como o Programa

Nacional do Livro Didático, criado com o objetivo de subsidiar o trabalho pedagógico

do professor, selecionando e distribuído gratuitamente livros didáticos para as escolas

públicas brasileiras, atendendo atualmente todas as modalidades de ensino.

Por meio de um Edital especifico realizado para cada processo de seleção das

obras didáticas, o PNLD seleciona, compra e distribui gratuitamente livros didáticos a

estudantes e professores das escolas públicas de educação básica, além de garantir um

material didático nas salas de aula, o Programa proporciona uma melhor qualidade

desse material a professores e alunos.

Há alguns anos, professores universitários, principalmente aqueles dos cursos de

licenciatura, têm direcionado seus esforços para discutirem os currículos que estão em

vigor no país, para que além de compreendê-los eles possam ainda contribuir para sua

qualificação. Encontros, eventos e cursos de formação continuada proporcionam aos

professores de Química um espaço para que discussões que circundam por essa

perspectiva possa ser partilhada, neste momento de reflexão novas ideias e propostas

surgem dos diálogos e discussões coletivas, o que nos permite compreender que a

escolha de um currículo adequado à realidade escolar atual não é apenas decisão pessoal

e pedagógica do professor, mas é também uma decisão política e portanto, deve ser

compreendida como um processo coletivo (RAMOS, FANTINEL e RIBEIRO, 2012).

Para Lopes (1999) “a política curricular trata de um processo de seleção e de

produção de saberes, de visões de mundo, de habilidade, de valores, de símbolos e

significados, portanto, de culturas capazes de instituir formas de organizar o que é

selecionado, tornando-o apto a ser ensinado”. Compreendemos que a elaboração dos

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livros didáticos de Química perpassa por discussões dessa natureza, dessa forma, o

currículo e a proposta do ensino de Química brasileiro se constitui a partir de discussões

realizadas entre os pares de uma mesma comunidade cientifica. Essa movimentação

entre o grupo ocorre de acordo com as necessidades formativas de cada região, bem

como de acordo com a política pública educacional em vigor.

Com base nas experiências adquiridas durante a vida professores, grupos

políticos, alunos e movimentos sociais passam a contribuir para a elaboração de um

livro didático de Química que atenda às necessidades da sociedade atual.

O LIVRO DIDÁTICO COMO PRODUTO DA POLÍTICA PÚBLICA

As pesquisas e grupos de estudos relacionados às políticas públicas educacionais

começaram a se intensificar no final do século XX. Culminando na promoção de um

campo distinto de investigação (BALL e MAINARDES, 2011). As pesquisas

pautavam-se nos Parâmetros e nas Diretrizes Curriculares Nacionais elaborados ao final

da década de 1990 (LOPES e MACEDO, 2011). Segundo Oliveira (2014), essas

pesquisas em sua maioria eram direcionadas à crítica dos documentos e dos resultados

por eles apresentados, em vez de se pautarem em investigações teóricas e empíricas

relacionadas às políticas de currículo da época.

Novas pesquisas têm procurado superar a distinção existente entre proposta e

implementação, dentre elas destaca-se a abordagem formulada pelo sociólogo inglês

Stephem Ball e seus colaboradores, por permitir uma análise crítica e contextualizada de

programas e políticas de educação, considerando os diversos contextos sociais que

envolvem sua elaboração seguindo até a sua implementação no contexto da prática, bem

como seus resultados correspondentes (MAINARDES, 2006).

Ball (1994) assume a política como:

[...] uma “economia de poder”, um conjunto de tecnologias e práticas as quais

são realizadas e disputadas em níveis locais. Política é texto e ação, palavras

e fatos, tanto o que é praticado, quanto o que é pretendido (BALL, 1994,

p.10) [Tradução nossa].

O autor nos direciona a compreensão da política como um processo de

intervenções textuais na prática, ao afirmar a existência de um terceiro espaço, “há

muito mais além da escola e da sala de aula, outras preocupações, demandas, pressões,

propósitos, desejos” (BALL, 1994, p.11) [Tradução nossa].

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Nesse sentido, Ball, Bowe e Gold (1992), propõe um ciclo de políticas, o termo

nada mais é que uma denominação atribuída pelos seus idealizadores, com o intuito de

melhor explicar as políticas educacionais, bem como os processos que envolvem os

profissionais que convivem com as políticas, desde a sua elaboração até a sua execução

na prática.

Para Mainardes (2006), ciclo de políticas é definido como uma abordagem, e:

Essa abordagem destaca a natureza complexa e controversa da política

educacional, enfatiza os processos micropolíticos e a ação dos profissionais

que lidam com as políticas no nível local e indica a necessidade de se

articularem os processos macro e micro na análise de políticas educacionais

(p. 49).

Em entrevista concedida a Mainardes e Marcondes (2009), Ball, denomina o

ciclo de políticas como método e sua referência faz-se no que diz respeito a não

explicação das políticas, convertendo-se em um modo de pesquisar e teorizar as

políticas. De modo que, entende-se que as políticas não podem dizer o que deve ser

feito, mais podem proporcionar situações para serem analisadas e executadas. Por esse

motivo, o autor considera que a política não pode ser implementada de maneira linear,

ou seja, como se existisse alguém para planejar as políticas e alguém para executá-las,

sugerindo um processo linear onde a política segue em direção à prática de maneira

direta e perfeita.

Considerando os três contextos basilares do ciclo de políticas, toda a política

pública que envolve a (re)elaboração dos livros didáticos brasileiros refletem as

características dos contextos apresentados. O contexto de influência articula todas as

relações de poder e influência, posteriormente conjecturadas no contexto da produção

de textos, com a elaboração dos Editais específicos, documentos de cunho nacional que

norteia a realização de cada seleção de livros, e refletido também na elaboração dos

livros didáticos pelos autores, que a partir de suas experiências ressignificam sua prática

docente na elaboração de seus livros didáticos mediante as orientações dos documentos

oficiais.

Aos serem selecionados, os livros didáticos indicam estarem de acordo com as

orientações estabelecidas nos Editais de seleção, bem como com a legislação vigente

atendendo ao currículo estabelecido para cada período escolar. Considerando os livros

didáticos brasileiros como produtos de disputas pautadas nas decisões e ações

curriculares, um currículo escrito como é considerado por Goodson (1995).

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Não se pode negar que os livros didáticos sofrem transformações quando estão

inseridos no contexto da prática, no desenvolvimento da prática escolar, na sala de aula,

seus textos são interpretados e ressignificados com base nas histórias vividas que

acompanham a vida de cada professor, além de suas percepções curriculares e da cultura

escolar da qual fazem parte. Todo esse processo de recontextualização da política

exerce influência na elaboração desses materiais didáticos, como ressalta Abreu, Gomes

e Lopes (2005):

[...] salientamos que uma das ações das políticas de currículo é fazer desses

textos menos polissêmicos, menos abertos a serem reescritos, em virtude dos

discursos que os constituem e das condições de leitura. [...] em função do que

se supõe ser o controle de qualidade da prática curricular. Tal controle é

exercido não apenas pelo contexto de produção das definições curriculares,

mas também pelo mercado editorial, pelos grupos produtores dos Livros

Didáticos, por discursos de valorização do Livro Didático e por mecanismos

de avaliação centralizados dos livros (ABREU, GOMES e LOPES, 2005,

p.407).

Em acordo com os autores supra citados, defendemos que “os Livros Didáticos

são produções recontextualizadas por hibridismo em diferentes contextos e relações

sociais”(idem, p. 407). E assim, ao compreendermos como são elaborados os discursos

híbridos que envolvem esse processo de recontextualização, será possível identificarmos

as relações de poder instituídas pela política.

Como Ball, compreendemos que as políticas públicas educacionais não podem

ser implementadas de maneira linear, por serem produto de um amálgama de interesses

e proposições de organizações, grupos sociais e culturais, empreendimentos privados e

públicos, comunidade acadêmica e escolar, associações, partidos políticos, dentre

outros.

METODOLOGIA

Nessa perspectiva e com o intuito de compreender as mudanças provocadas na

proposta didático-pedagógica e teórico-metodológica da Coleção Química Cidadã, é que

descrevemos e analisamos as obras aprovadas mediante seleção realizada pelo PNLD, e

ainda uma coleção constituída por quatro Módulos Didáticos, elaboradas e impressas

antes do PNLEM 2007, quando surge o primeiro Edital para seleção de livros didáticos

de Química.

Realizamos entrevista com dois dos autores da Obra, depois de transcritas, elas

foram tomadas como narrativas, na perspectiva de Walter Benjamin (2012), para o autor

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“o narrador retira o que ele conta da experiência: de sua própria experiência ou da

relatada por outros. E incorpora, por sua vez, as coisas narradas à experiência dos seus

ouvintes” (p. 217).

A partir das narrativas textualizadas, produziu-se um conjunto de mônadas. Elas

são compreendidas como pequenos fragmentos de história, que juntas conseguem contar

sobre o todo, ainda que esse todo possa ser contado por apenas um fragmento, pois, “em

cada mônada, estão presentes todas as outras”. (PETRUCCI-ROSA et al, 2011, p. 205).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A proposta científico-pedagógica tem como base um conjunto de escolhas

teórico-metodológicas, as quais são responsáveis pela coerência interna da obra e por

sua posição relativa no confronto com outras propostas e/ou possibilidades, portanto,

são aqui definidos como elementos essenciais na instrumentalização do aluno.

De maneira geral a Obra apresenta uma proposta de trabalho associada aos

conceitos químicos e sua aplicação na sociedade, de forma que se bem conduzida pelo

professor, poderá oportunizar ao aluno o desenvolvimento de um pensamento crítico e

autônomo em relação às diversas questões sociais e ambientais apresentadas nos textos

das seções de cada um dos volumes do livro.

Os autores circundam ao redor do tema Meio Ambiente, desde que o livro

didático Química e Sociedade foi selecionado no PNLEM, nos Módulos Didáticos, os

autores transitavam por diferentes situações cotidianas que englobavam tanto os

cuidados com o meio ambiente como os cuidados com a saúde. Nas obras Química

Cidadã PNLD/2012 e Química Cidadã PNLD/2015 os autores enfatizaram mais a

temática Meio Ambiente, no entanto, eles a desenvolvem a partir de situações

coadjuvantes a temática, nesse processo temas como o cuidado com a saúde e a

alimentação, são trabalhados em segundo plano nos livros didáticos.

No decorrer da análise percebe-se que os autores atendem o que é orientado

pelos Editais, como no que se refere à linguagem e a organização do conteúdo Químico,

incentivando principalmente a formação de conceitos que se relacionam com as

vivencias dos alunos do ensino médio, por meio de textos, ilustrações e representações

conforme compreendido no texto da política pública.

Como na fala da professora Marie Curie:

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A linguagem do livro está perfeita, em todo o contexto, apesar de existir

alguns alunos que desconhecem muitas palavras, o interessante é que

dependendo do conteúdo que você está trabalhando e da sua experiência,

você pode trazer para sua aula situações que complemente o que é trabalhado

pelos autores no livro. Além disso, você pode também substituir uma

temática por outra (Marie Curie – Mônada 37)

Para Lopes (2007), o trabalho educativo consiste essencialmente em uma relação

dialógica, na qual não se desenvolvem apenas o intercâmbio de ideias, mas sua

construção (p.58). Em outros termos, o processo de ensino aprendizagem não se

desenvolve apenas pelo ver e ouvir nas aulas de Química, mas também pelas mudanças

que ocorrem nas concepções cidadãs dos alunos, dessa maneira “as informações só se

transformam em conhecimento à medida que modificam o espirito do aprendiz” (idem,

p.58).

Nesse contexto, o livro didático atua como um disseminador dos conceitos e da

linguagem química, por meio dos símbolos, códigos e expressões matemáticas próprias

desta ciência, uma vez que se consideram nessa elaboração os interesses e as

concepções dos autores e editoras. O fato de pouco alterarem a organização dos

conteúdos disciplinares, reforça a ideia da estrutura disciplinar já existente para o ensino

de química, comum no ensino médio.

A proposta de se desenvolver um trabalho por meio de temas principais iniciada

ainda na elaboração dos Módulos Didáticos vem posteriormente de encontro ao que é

solicitado nos Editais de seleção, para a Interdisciplinaridade e Contextualização, que é

prontamente atendido pelos autores, pois além de relacionarem os conteúdos e conceitos

químicos com situações cotidianas dos alunos eles procuram ainda relacionar os

conteúdos químicos entre si e também com aqueles conceitos aprendidos em outras

ciências, por exemplo, a Física, a Biologia e a Matemática.

Os autores tentam articular a interdisciplinaridade e a contextualização à

proposta didático-pedagógica da Coleção, à medida que buscam uma organização

diferenciada dos conteúdos disciplinares no interior das obras, como observado na fala

da professora Marie Curie na Mônada 26.

Eu trabalho com três terceiros anos, e não tem o livro para todos, só que eles

já foram meus alunos e não querem outros livros, mesmo porque, o livro do

terceiro ano trás conteúdos do primeiro ano, como o atomismo, as ligações

químicas e a tabela periódica. Trás, também, matéria do segundo ano. Então,

não tem como usar o livro anterior e ser a mesma coisa, será completamente

diferente. Por exemplo, eu achei melhor começar a trabalhar com os terceiros

anos, pelos últimos capítulos do livro. (Marie Curie – Mônada 26)

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Nela, a professora identifica conteúdos do primeiro ano, que comumente estão

no primeiro volume também são encontrados no terceiro volume onde se encontram os

conteúdos do terceiro ano para o Ensino Médio. Para os autores essa relação não

acontece apenas com os conteúdos e conceitos de outras áreas, mas com as atividades

de experimentação voltadas para o ensino de Química, que são propostas no decorrer

dos livros.

Por ser a proposta didático-pedagógica da obra, os autores em todo o momento

trabalham os conteúdos e conceitos químicos aglutinados a uma temática principal e na

sua maioria tratam do meio ambiente. Com isso a Coleção acaba por enfatizar

problemas reais, com foco principalmente nas questões ambientais, que são do cotidiano

dos alunos, isso favorece a formação da opinião crítica em relação à influência e

participação dos processos Químicos nessas situações. Procurando romper com

discursos maniqueístas da Química. Nesse caso os autores apresentam pontos de vista

divergente para essas situações como apresentado no Livro Química e Sociedade, onde

eles iniciam a obra exibindo situações para problemas ambientais, de saúde e na

produção de novos materiais, porém no decorrer do texto discutem situações

divergentes a essas, demonstrando tanto benefícios como limitações do

desenvolvimento da Química e como isso tem impactado o ser humano.

Compreendemos que esse posicionamento dos autores é resultado da

compreensão do texto do Edital, no entanto eles não direcionam os alunos para a

construção de uma única opinião a respeito dos benefícios ou malefícios ocasionados

pelo desenvolvimento da Química, mas sim para a existência de dois momentos que

precisam ser desenvolvidos de maneira equilibrada e consciente.

A experimentação tem sido outro item de discussão pois os Editais orientam o

favorecimento de propostas de experimentação que se alinha a perspectiva investigativa,

“que contribua para que os jovens pensem a ciência como campo de construção de

conhecimento permeado por teoria e observação, pensamento e linguagem” (BRASIL,

2015, p. 66).

Ao observarmos as Coleções, consideramos que os experimentos são em sua

maioria adequados à realidade escolar, com alerta aos riscos e cuidados específicos no

roteiro da atividade experimental quando necessário e ao final do livro. Contudo

discordamos dos autores, quando afirmam que os experimentos apresentados nas

Coleções são de caráter investigativo.

Para um dos autores a experimentação mudou:

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Algumas coisas mudaram, como é o caso da experimentação, que no início

estava bem mais presente. Na hora em que você propõe um material que não

é para uso no Distrito Federal, e, sim, a nível Brasil, você acaba por

considerar uma realidade mais diversificada, então algumas como a

experimentação foi diminuindo um pouco, porém, a identidade nós não

perdemos (Pierre Curie – Mônada 38).

Hodson (1994) compreende que as atividades experimentais devem estimular o

desenvolvimento conceitual dos alunos, fazendo com que os mesmos participem

ativamente desse processo. Por isso, compreendemos que a experimentação

investigativa deve permitir a participação ativa dos alunos durante as aulas, de forma

que eles possam propor discussões argumentando sobre a problemática proposta. Os

alunos são os responsáveis por formularem hipóteses, planejarem o experimento, coletar

e analisar os resultados obtidos bem como propor conclusões sobre o fenômeno

estudado.

Considerando a função da experimentação investigativa e analisando as

atividades experimentais dos livros didáticos do aluno, observamos que eles não

atendem aos critérios para o desenvolvimento de uma atividade experimental

investigativa, por orientarem os alunos durante o desenvolvimento da prática, não pelo

roteiro que é proporcionado ao aluno, mas durante o desenvolvimento da atividade,

direcionando os alunos a um resultado já esperado, desfavorecendo a discussão e a

posição de novas conclusões para o fenômeno estudado.

O meio acadêmico é um dos diversos grupos capaz de influenciar a criação das

políticas públicas, inclusive as que versam sobre a produção de livros didáticos de

Química. Nesse sentido, compreendemos que a obra didática Química Cidadã elaborada

no âmbito do PNLD ao ser reformulada assume em cada nova edição, percepções,

legendas, formatos e aspectos recomendados nos documentos oficiais, a fim de justificar

as novas elaborações impressas, evidenciando as características presentes nos contextos

que constituem o ciclo de políticas, essas assimilações se desenvolvem de diferentes

maneiras, de acordo com os atores envolvidos em cada contexto, bem como suas

vivências, o que contribui para uma ressignificação da prática docente em cada contexto

do ciclo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de não ser tão importante ou tão considerado nas salas de aula da

educação básica brasileira, o livro didático continua a ser um material importante na

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formação de estudantes em todo o país. Compreendemos que o processo de seleção

realizado pelo PNLD é complexo e que envolve inúmeros participantes, e entendemos

também que a (re)elaboração dos livros didáticos se constitui em um processo

complexo, envolvendo em alguns casos, um número menor de sujeitos por isso,

consideramos nesta investigação a essência subjetiva, histórica e social dos autores e de

seus conhecimentos. Ressaltamos que no decorrer da elaboração de cada coleção

Química Cidadã, houve mudanças continuas que não se deram apenas por meio das

especificações orientadas nos Editais do PNLEM/PNLD.

Os processos de seleção do PNLEM/PNLD orientam a avaliação dos livros

didáticos prezando principalmente pela qualidade das obras, estabelecendo padrões para

a seleção, compra e distribuição das coleções aos estados brasileiros. Por diversos

momentos os Editais não especificam a fundo alguns dos critérios estabelecidos para as

análises das coleções submetidas às seleções, isso faz com que as interpretações do

texto político pelos autores sejam realizadas conforme suas experiências e vivencias e

assim, a Coleção é elaborada também com traços das concepções desses autores, o que

acaba por caracterizar o livro didático como uma produção cultural (LOPES, 2007).

O Aspecto Teórico-Metodológicos está diretamente aglutinados à Proposta

Didático-Pedagógica que vem se mantendo o mesmo em meio as mudanças sofridas

pela Coleção. Os autores conservam os aspectos metodológicos e pedagógicos da Obra

Química Cidadã, a proposta de se desenvolver um material que trabalhe o ensino de

Química na perspectiva da formação cidadã está presente na Coleção, por meio dos

textos complementares (Tema em Foco) e das discussões que se seguem a partir da

leitura desse material, já situações como a da experimentação investigativa que os

autores afirmam existir, e que na, nossa compreensão não está presente na Coleção.

Esse aspecto é conservado e poucas são as mudanças pois os autores conseguem

manter a cada novo Edital de seleção a mesma proposta didático-pedagógica, de se

trabalhar o ensino de Química voltado a formação cidadã. Isso fica evidente na fala da

autora Irène Curie, para ela o livro possui uma identidade própria, eles apenas faziam as

adaptações “dentro da proposta metodológica desenhada por nós” (IRÈNE CURIE –

MÔNADA 33). A fala de Irène nos permite compreender que os autores conservam esse

aspecto na Coleção, mudando apenas a temática trabalhada de uma coleção para outra,

como diz o outro autor “nós fomos apenas fazendo ajustes” (PIERRE CURIE –

MÔNADA 34).

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6427ISSN 2177-336X

POLÍTICA PÚBLICA EDUCACIONAL: SOBRE OS LIVROS DIDATICOS

DIGITAIS DE QUÍMICA E O PNLD 2015

Edimarcio Francisco da Rocha - IFMT

Irene Cristina de Mello - UFMT

Resumo

Este trabalho apresenta parte de uma pesquisa mais ampla relacionada com as políticas

públicas educacionais voltadas a universalização de livros didáticos para a escola

pública. Pesquisas apontam que é crescente os estudos sobre políticas educacionais no

Brasil, principalmente nas duas últimas décadas e, em se tratando de livros didáticos, os

mesmos podem ser entendidos como produtos dessas políticas educacionais sendo

destacadas nesse trabalho, a que resultou na aprovação de obras digitais de química no

Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2015. Como as obras didáticas são

avaliadas a cada três anos pelo Ministério da Educação (MEC) e em cada período

ocorrem avanços nos critérios de avaliação, fazemos uma análise desse programa a

partir do método Ciclo de Políticas proposto por Stephen Ball e colaboradores. O

método descreve que ao analisar uma política educacional, é necessário entender as

diversas faces de três contextos, sendo eles, o da Influência, da Produção de Textos e o

da Prática. Esses contextos atuam de forma não linear e se inter-relacionam de tal modo,

que uma disputa onde envolve grupos diversos, entre eles, políticos, empresários e

pesquisadores, contribui para a reestruturação da política. Dessa forma, em nossa

análise sobre o PNLD 2015, fazemos uma discussão sobre como cada contexto pode ser

empregado para explicar as mudanças no programa, enfatizando a implementação de

recursos digitais nas obras didáticas conforme previsto em edital e que resultou na

aprovação dos livros didáticos digitais de química. Em seguida, fazemos uma síntese de

alguns dos Objetos Educacionais Digitais (OEDs) que acompanham as coleções de

química que foram avaliadas e aprovadas pelo PNLD em relação a proposta desses

objetos como alternativa para o ensino do assunto a que se destinam, abordando

questões de ordem didático-metodológica.

Palavras-chave: Livro didático digital. PNLD 2015. Ciclo de políticas.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6428ISSN 2177-336X

Introdução

O livro didático tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas na área de

ensino, sendo considerado o material didático mais utilizado por professores e alunos. É

tido como essencial nos processos de mediação pedagógica e ganharam destaque na

política educacional nos últimos dez anos devido, entre outros, a universalização do

acesso e sua inclusão no ensino médio por meio do Programa Nacional do Livro

Didático para o Ensino Médio (PNLEM).

A dinâmica de avaliação trienal de obras didáticas realizada pelo ministério da

educação (MEC), permite discussões constantes acerca da produção de livros didáticos,

levando em consideração todo o contexto que o permeia como, por exemplo, os

documentos curriculares, atualização de conceitos e linguagem e, inovações

tecnológicas.

De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a

utilização de novas tecnologias na educação escolar torna as aulas mais modernas e

atrativas, permitem a complementação dos estudos e auxiliam a aprendizagem e, assim,

uma questão nova e relevante passou a integrar os documentos oficiais sobre livros

didáticos: a inserção de obras digitais na escola pública brasileira por meio de um

programa oficial do Governo. Este processo teve início em 2012 quando foram lançados

Editais que permitiam a submissão de objetos educacionais digitais (OEDs) para as

obras impressas e, de convocação para a inscrição e avaliação dos livros didáticos

digitais para o Programa Nacional do Livro Didático de 2015 (PNLD 2015).

Diante do exposto, realizamos uma pesquisa documental no âmbito do PNLD

2015, onde analisamos o Edital, os livros didáticos e o Guia de Livros Didáticos (GLD),

tendo como suporte teórico, o Ciclo de Políticas proposto por Stephen Ball e

colaboradores com o objetivo de identificar possíveis influências de grupos diversos na

política pública educacional que inseriu os livros didáticos digitais na escola pública.

Por fim, apresentamos uma análise, ainda que sintética, de alguns OEDs

presentes nas coleções aprovadas referentes as possíveis contribuições didático-

metodológicas.

O PNLD nos Contextos da Influência e Produção de Textos

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6429ISSN 2177-336X

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A digitalização de livros não é algo novo. Em 1971, o americano Michel Hart

desenvolveu um projeto cujo objetivo era digitalizar livros para a disponibilização ao

público (ALMEIDA e NICOLAU, 2013). Para Lévy (1993), a digitalização surge como

uma evolução da impressão e a disseminação do uso de computadores, permitiriam uma

nova forma de aprendizagem e conhecimento epistemológico. Vários pesquisadores da

área e ensino de química, dentre eles, Giordan (2008), Mello (2009) e Souza e Mol

(2013), apontam que o uso das TIC no ensino de química, podem contribuir de forma

ativa para a aprendizagem.

Por outro lado, Almeida (2009) apresentou um trabalho retrospectivo sobre a

apropriação do uso de TIC na educação brasileira contemporânea, onde esse processo é

impregnado de questões que colocam o uso das tecnologias como uma maneira de

resolver os problemas educacionais e que sua introdução nas escolas remete a situações

de obediência e subordinação ao mercado dominado por empresas estrangeiras em um

contexto político neoliberal, respaldadas por um discurso modernizante, porém,

tecnicista, onde a escola daria formação tecnológica aos alunos sem a devida

preocupação metodológica de construção de conhecimentos.

Ao incluir os livros didáticos digitais no PNLD, o MEC oferece novos meios

(atrativos, dinâmicos e moderno) para que alunos e professores possam desenvolver as

relações existentes no processo de ensino-aprendizagem e, em se tratando de química,

os materiais digitais permitem trabalhar de forma lúdica, questões intrínsecas “à

simulação de fenômenos, à linguagem química, à dinâmica de símbolos e imagens que

contribuem nos processos de construção de modelos e conceitos científicos” (BRASIL,

2014, p. 12).

Contudo, a importância pedagógica do livro didático no contexto da educação

pública brasileira, vai além da filosofia de um material pensado para auxiliar

professores e alunos em seus estudos. Conforme Echeverría, Mello e Gauche (2010), o

livro didático é um produto destinado ao consumo e “tem como finalidade apresentar

uma proposta pedagógica dos conteúdos selecionados no vasto campo do conhecimento

em que se insere a área do saber” (p.267).

Para Choppin (2008), o livro didático é um objeto destinado a atender um

segmento industrial e comercial. Percebemos que este objeto que por um lado atende a

demandas de ordem educacional, sendo um instrumento de alto valor pedagógico, tem

para outros, a finalidade de um produto destinado a gerar lucro e, dessa maneira, deve

ser elaborado considerando o contexto político, social, econômico, científico e

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6430ISSN 2177-336X

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tecnológico inseridos na realidade a qual ele se aplicará, entretanto, sem desconectá-lo

das propostas oficiais e de toda a história da ciência que ele representa. Portanto, os

livros didáticos são um produto da política educacional estabelecida ao longo de sua

história.

A complexidade que envolve a produção e utilização de livros didáticos, bem

como sua implementação por uma política pública, vai além de uma visão linear sobre

as benfeitorias no processo de ensino-aprendizagem proporcionados pelos livros que

estão disponíveis para os estudantes das escolas públicas. Se faz necessário entender, os

diversos contextos que resultam na política que os institui, na elaboração das obras

didáticas, considerando aspectos políticos curriculares e didático-metodológicos e,

ainda, nas relações de reestruturação tanto das políticas quanto dos próprios livros

didáticos.

Nessa conjuntura, o sociólogo inglês Stephen J. Ball e seus colaboradores

descreveram um método para pesquisar e avaliar políticas educacionais com o objetivo

de entender como essas são pensadas, construídas e executadas. Esse método,

denominado de Ciclo de Políticas (BALL, BOWE e GOLD, 1992), é atemporal, não

linear, de contextos inter-relacionados (MAINARDES, FERREIRA & TELLO, 2011;

OLIVEIRA, 2014) e descreve as relações existentes em três contextos assim

denominados: o Contexto da Influência, o Contexto da Produção de Textos e o

Contexto da Prática. Todos esses contextos constituem-se de um pluralismo de agentes

que sofrem influência de causas mais complexas do que apenas econômicas, em um

ciclo contínuo no qual as políticas são recriadas (MAINARDES, FERREIRA &

TELLO, 2011).

Ball e col. (1992) descrevem que o Contexto da Influência, em geral, é onde a

política se inicia, onde grupos com interesses distintos permeiam e direcionam o texto a

ser escrito. Neste Contexto, a preocupação com fundamentos teóricos, metodológicos e

pedagógicos toma voz por meio de grupos de pesquisa da área de ensino de química, e

de certa maneira, acabam influenciando nas políticas educacionais, atuando inclusive na

maneira de pensar e produzir os livros didáticos (LOPES, 2005) e, por consequência,

fazendo parte do Contexto da Produção de Textos.

Por outro lado, grupos empresariais brasileiros e estrangeiros, agências de

fomento internacionais, como o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), também atuam na produção dessa política, uma vez que são

financiadores de programas destinados a distribuição de livros didáticos não só no

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6431ISSN 2177-336X

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Brasil, mas também em ouros países da América Latina (CASSIANO, 2007;

ECHEVERRÍA, MELLO e GAUCHE, 2012; OLIVEIRA, 2014).

De acordo com Shiroma, Garcia e Campos (2011), grupos empresariais

ancorados em princípios do BM, tiveram influência na elaboração de uma agenda

política educacional, sobre tudo, no início da década de 1990 com o neoliberalismo em

alta. Echeverría, Mello e Gauche, (2012), descrevem que neste período, a política

neoliberal promoveu a implantação de um projeto liberal-conservador que resultou em

“mudanças profundas nas políticas educacionais” (p. 79) e, dessa forma, permitindo a

influência de grupos externos em todos os níveis políticos relacionados ao meio

educacional.

Esses grupos tinham como objetivo, direcionar os textos políticos de modo a

atender os “interesses privados do grande capital nacional e internacional” (SHIROMA,

GARCIA e CAMPOS, 2011, p. 226). Nesse aspecto, no governo de Fernando Henrique

Cardoso, o então Ministro da Educação Paulo Renato, transitava como membro do BID

e consultor do grupo Espanhol Santillana, que no início da década de 2000, viria a

adquirir a editora Moderna (OLIVEIRA, 2014), até então controlada por Ricardo Feltre,

um tradicional e renomado autor de livros didáticos de química.

O interesse capital pode estar associado aos recursos financeiros destinados aos

programas de livros didáticos. Somente para o PNLD 2015, foram gastos em torno de

R$ 1,33 bilhões (BRASIL, 2015). A editora SM de origem espanhola, por exemplo,

(CASSIANO, 2007) é uma das grandes fornecedoras de livros didáticos para o Governo

brasileiro e, no PNLD 2015, receberam recursos federais na ordem de R$ 95 milhões

(BRASIL, 2015).

A ruptura de fronteiras econômicas e mercantis, também colaboram com a

reestruturação das políticas educacionais. Rodrigues, Chimenti e Nogueira (2014)

descrevem a necessidade de um modelo de mercado para o processo de inovação que

atingiu as obras didáticas, sobretudo, a digitalização dos livros didáticos que concorrem

aos editais do FNDE para avaliação e aquisição pelo PNLD. Essa inovação promovida

não somente por questões pedagógicas, mas também por modelos de mercado

tecnológico fora da indústria editorial impressa, está sob forte influência de

conglomerados empresariais ligados a empresas de tecnologia da informação.

Empresas como a Google e a Apple, investem de forma maciça na produção de

materiais digitais que possam ser empregados na educação. Ainda conforme esses

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autores, editoras de didáticos norte-americanas gastaram bilhões de dólares na compra

de companhias de softwares com o intuito de produzir livros didáticos digitais.

Entretanto, no mercado brasileiro, editores questionam a inclusão de obras

digitais no PNLD, alegando que a estrutura das escolas brasileiras não suporta tais

tecnologias, que os professores não possuem formação para lidarem com esse tipo de

material e, que essa ação do governo, reduz os lucros e gera incertezas quanto ao futuro

da indústria de didáticos impressos (RODRIGUES, CHIMENTI e NOGUEIRA, 2014).

A empresa norte-americana Amazon, que atua no segmento de comércio

eletrônico e e-books, firmou acordos com o MEC para digitalização de obras a serem

distribuídas nas escolas públicas (GOMES et al., 2014) e de acordo com Pinsky (2013,

p. 43), a Amazon “vende mais livros digitais do que livros físicos”.

Observa-se uma disputa de mercado entre empresas ligadas ao desenvolvimento

de materiais digitais e a indústria de didáticos impressos. Essa disputa sob a ótica de

Ball (1992), promove embates na arena política e movimenta o ciclo político em torno

do PNLD.

Ao fazer essa análise, consideramos que não só a importância social que recai

sobre os livros didáticos contribuiu para as reformulações no PNLD, mas também,

contextos políticos (por exemplo, política externa e influências partidárias),

mercadológicos e econômicos. Esses fatores fazem parte de uma agenda política que

influencia diretamente a produção dos textos políticos, “envolve intenções e

negociações dentro do Estado” (MAINARDES, FERREIRA e TELLO, 2011, p. 157).

Esses cenários descritos, convergem para o Contexto da Influência descrito por

Ball, em relação a reelaboração de uma política, estabelecendo ligações com o Contexto

da Produção de Textos. É neste último que a política pensada se transforma em texto,

que nem sempre é consenso entre os grupos envolvidos. É onde surgem os documentos

oficiais que direcionarão por exemplo, o PNLD. Esses dois Contextos, segundo

Mainardes (2006), são simbióticos, um interfere no outro e, a política do PNLD, passa a

ser reescrita a cada Edital.

Dessa maneira, o poder econômico de grandes empresas, a oportunidade de

negócios existentes entre o mercado didático e a indústria tecnológica, as pesquisas que

apontam que o uso de TIC podem melhorar a aprendizagem e, em uma projeção futura,

a redução de custos para o Estado, são fatores que podem ter influenciado as

reestruturações nas políticas educacionais, resultando na inclusão dos livros didáticos

digitais no Edital referente ao PNLD 2015.

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6433ISSN 2177-336X

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O PNLD no Contexto da Prática: O livro didático digital de química como produto

dessa política

Consideramos aqui, o livro didático digital como produto da política educacional

e a comunidade escolar como agentes do Contexto da Prática, representada

principalmente pelos professores.

No Contexto da Prática, Ball coloca os sujeitos da ação, neste caso os

professores, como atores essenciais na implementação das políticas. Suas histórias e

experiências, sua identidade social e coletiva, seu conhecimento e capacidade crítica,

influenciam suas leituras e por consequência, na interpretação da política criada e

escrita nos outros dois Contextos (BALL, BOWE e GOLD, 1992; BALL, 2011).

Para Oliveira (2014, p. 46), “o cotidiano escolar, prenhe de invenções, carrega

também intensas potencialidades de produção de políticas que são mobilizadas não só

no contexto da prática, mas em outros também” e, assim, se estabelece relações entre os

três Contextos, conforme é mostrado na figura 1.

Figura 1: representação das inter-relações entre o Ciclo de Políticas proposto por Ball e colaboradores e a

política educacional direcionada aos livros didáticos digitais.

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Fonte: Elaborado pelos autores.

Na prática, a adoção dos livros didáticos digitais dependerá da interpretação e

significação sobre os documentos oficiais a respeito do PNLD que será dada pelos

professores que trabalharão na escolha das obras didáticas e sua utilização nas aulas.

Echeverría, Mello e Gauche (2012), apontam que estas questões também se relacionam

com a formação docente. Há ainda que ser considerado, o suporte tecnológico

necessário para o funcionamento desses recursos e na disponibilidade dos alunos em

utilizá-los.

Discussões e Resultados

No PNLD 2015, a inclusão de livros didáticos digitais de química veio ao

encontro do que dizem diversas pesquisas, dentre as quais destacamos os trabalhos de

Giordan (2008), Mello (2009) e Souza e Mól (2013), com relação as potencialidades

que o uso de ferramentas tecnológicas no ensino de química podem agregar ao

conhecimento e, “nesse sentido, os objetos educacionais digitais servem não apenas

para acionar a dimensão lúdica da aprendizagem, mas também para apresentar situações

significativas de interação com vistas à reconstrução de conhecimentos científicos”

(BRASIL, 2014, p. 12), uma vez que estes recursos permitem simulações de fenômenos,

trabalhos interativos relacionados a linguagem química, que são questões primordiais

para o desenvolvimento de modelos e conceitos pertencentes a química.

De acordo com o edital de convocação 01/2013 (BRASIL, 2012) que trata sobre

o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o PNLD 2015, autores e

editoras poderiam concorrer com suas obras em duas categorias, a saber: Tipo 1 - Obra

Multimídia composta de livros digitais e livros impressos; Tipo 2 - Obra Impressa

composta de livros impressos e PDF.

A avaliação das obras inscritas, seguiram critérios estabelecidos pelo edital,

considerando aspectos curriculares contemporâneos condizentes a realidade do ensino e

da educação brasileira, sendo que havia uma ficha de avaliação para obra impressa e

outra para a digital, onde foi considerado, questões relacionadas a abordagem teórico-

metodológica, princípios éticos, atualização e contextualização de conceitos,

interdisciplinaridade, novas tecnologias, as orientações no manual do professor, entre

outros, além de critérios específicos do componente curricular Química (BRASIL,

2014).

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22

Assim, das quatro coleções aprovadas no PNLD 2015 (tabela 1), três possuem

obras do tipo 1 que apresentam o mesmo conteúdo da versão impressa, com a mesma

paginação e que incluem OEDs.

Tabela 1: Obras aprovadas pelo PNLD 2015

Coleção Autores Editora Tipo

Química Martha Reis Marques da Fonseca Ática 1

Química Eduardo Fleury Mortimer e Andréa Horta Scipione 1

Química Cidadã

Eliane N. F. de Castro, Gentil de S. Silva

Gerson de S. Mól, Roseli T. Matsunaga, Sálvia B. Farias

Sandra M. de O. Santos, Siland M. França Dib.

AJS

2

Ser Protagonista Murilo T. Antunes SM 1

Fonte: Brasil, 2014. Química: Guia de livros didáticos, PNLD 2015.

De acordo com o Edital, “entende-se por objetos educacionais vídeos, imagens,

áudios, textos, gráficos, tabelas, tutoriais, aplicações, mapas, jogos educacionais,

animações, infográficos, páginas web e outros elementos” (BRASIL, 2012, p. 3) e os

três volumes de cada coleção do tipo 1, possuem OEDs estando assim, de acordo com o

previsto em edital como um dos critérios para aprovação da obra.

A ideia de inovação, modernidade e dinamismo trazidas como avanço no PNLD

referente aos OEDs (representados pelas figuras 2 e 3) das obras digitais, pelo menos na

área de química, em nossa análise demonstrou-se pouco satisfatória considerando as

potencialidades que esses recursos podem oferecer.

Figura 2: OED sobre grandezas. O texto apresentado no material possui narração, entretanto, a

interatividade permitida ao usuário é restrita em clicar em „Avançar‟. Em caso de dúvida, não é possível

retornar a tela anterior.

Fonte: Coleção Ser protagonista. Química, volume 1.

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Para Giordan (2008), a simulação computacional é um meio distinto de

mediação que permite construir conceitos de modo a estabelecer relações entre os

mundos macro e microscópico do fenômeno observado. No entanto, o OED

representado na figura 2, apenas reproduz o que está no livro impresso, demonstrado o

mal aproveitamento da ferramenta para, pelo menos, amenizar um problema escolar que

é a falta de recursos laboratoriais e, ainda, a não linearidade na apresentação dos

conteúdos é um ponto forte para que o processo se torne dinâmico, característica que

não é permitida no material exposto pela figura.

Outro OED (Figura 3), traz o assunto chuva ácida apenas com a reprodução de

imagens estáticas e com texto sobre o assunto. O usuário interage apenas avançando ou

trocando a imagem apresentada. Essa característica apresentada de pouca interatividade

exemplificada aqui pelas figuras 2 e 3 aparece em diversos outros OEDs presentes nas

coleções.

Figura 3: A esquerda, a tela do livro digital que dá início ao assunto chuva ácida. No destaque, a seta

amarela indica o ícone que dá acesso ao OED. A direita, a tela do OED que demonstra efeitos da chuva

ácida em estátuas, reduzido apenas a reproduzir o que está descrito no livro impresso.

Fonte: Coleção Química, editora Ática, volume 1.

As obras também apresentam OEDs em formato de vídeo, simulações, links

para páginas de internet e infográficos. Ressaltamos que muitos desses recursos apenas

apresentam o conteúdo de maneira diferente ao que está proposto no livro impresso

devido a suas limitações didático-metodológicas.

Uma outra questão que merece atenção, é o fato de que os livros didáticos

digitais apresentam o mesmo layout de página em relação ao livro impresso. Esta

característica que está prevista no item 4.2.16 do Edital (BRASIL, 2012, p. 3) acaba

tornando a leitura do conteúdo no livro digital muito cansativa devido ao tamanho da

fonte utilizada. Ainda, conforme o Edital, o acesso ao conteúdo digital deve ser possível

em múltiplas plataformas e em diversos sistemas operacionais, inclusive Android e IOS,

que estão presentes em smartphones e tablets, logo, o tamanho da fonte e o layout

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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dificultam a leitura e a navegação nesses equipamentos, podendo se tornar fatigante,

levando ao desinteresse pelo material.

Nos limitamos a esses exemplos de OEDs uma vez que a proposta central deste

trabalho é trazer para o debate as políticas públicas educacionais que incluíram as obras

digitais, sendo que as questões pedagógicas merecem uma análise mais detalhada e com

maior aprofundamento teórico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A breve análise de alguns itens dos livros didáticos digitais, direcionam para

uma arena repleta de complexidade em relação as políticas educacionais. O material que

chega nas escolas, muitas vezes não compreendidos pelos docentes devido a falhas em

sua formação, é produto de uma política ampla e complexa, elaborada em ocasiões onde

o interesse de grupos ligados ao mercado capital e político prevalece sobre aqueles que

enfatizam a importância social e democrática dos livros didáticos.

A inclusão de obras digitais no PNLD, demonstra que outras influencias, por

exemplo, a do mercado tecnológico, provavelmente interferiu nessa política, e,

consequentemente, na produção das obras didáticas, além do amparo de pesquisas que

apontam para possíveis melhoras na aprendizagem de conceitos científicos mediados

pelo uso de tecnologias digitais.

Dessa forma, a compreensão dos contextos que cercam a política educacional,

permite entender para além dos problemas e resultados de um programa tão essencial

para que o Estado brasileiro garanta o que está determinado na constituição. Permite

compreender que a política educacional deve ser pensada e reelaborada não só pela

figura do Governo, mas também por aqueles que irão colocá-la em prática.

Esses materiais como produtos dessa política, sob influência de diversos

contextos, ainda carecem de melhorias e, sob a ótica do Ciclo de Políticas, as

caracterizações aqui dadas para esses OEDs, mesmo que de forma sintética, permitem

novas ressignificações sobre como a política textualizada é compreendida na prática e,

dessa forma, como o PNLD pode ser reestruturado a cada ano.

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6440ISSN 2177-336X

27

ESCOLHA DO LIVRO DIDÁTICO DE QUÍMICA PELOS

PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE CURITIBA

Jussara Turin – UFPR

Joanez Aires – UFPR

Resumo

O Livro Didático continua sendo a principal referência para a prática pedagógica do

professor, conforme afirmam Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2007) e com este

mesmo argumento Selles e Ferreira (2004) observam que as concepções teóricas e

metodológicas presentes nos livros didáticos acabaram por condicioná-los na seleção e

organização, tanto dos conteúdos quanto das atividades e métodos de ensino. Tendo em

vista a importância do Livro Didático na educação brasileira e, os altos investimentos

do Governo Federal na operacionalização do Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD), esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar os fatores que

influenciaram os professores da rede pública de ensino de Curitiba na escolha do Livro

Didático de Química (PNLD/2012). Os dados foram produzidos a partir de documentos

acerca do Livro Didático, aplicação de questionário para cento e trinta e dois

professores e entrevista com dez desses professores, docentes da disciplina escolar

Química da Educação Básica da rede estadual do Paraná. As reflexões foram

subsidiadas por teóricos que discutem o Livro Didático (FREITAG, 1997;

BITTENCOURT, 2004; MORTIMER E SANTOS, 2008), as Políticas Públicas

Educacionais (HOFLING, 2000, 2007; LAJOLO, 2006) e, particularmente a Política do

PNLD (TOLENTINO NETO, 2003; FRACALANZA E MEGID NETO, 2003). Os

resultados apontam como fatores de influência no processo de escolha, a pouca

utilização do Guia Didático, as interferências das editoras e aspectos relacionados à

formação do professor. Concluímos que o PNLD necessita de uma adequação no que se

refere à etapa final do Programa, o qual envolve justamente o processo de escolha nas

escolas.

Palavras-chave: Políticas Educacionais. Programa Nacional do Livro Didático. Livro

Didático de Química.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6441ISSN 2177-336X

28

INTRODUÇÃO

O PNLD é uma política pública de avaliação, aquisição e distribuição de livros

didáticos que têm como principal objetivo subsidiar o trabalho pedagógico dos

professores por meio da distribuição destas obras didáticas aos alunos da educação

básica (BRASIL, 2001). É um programa de grande porte no qual o Governo Federal

dispõe de um alto investimento financeiro, que envolve diferentes instâncias, tais como

o Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), Instituto Nacional de

Pesquisas Tecnológicas (IPT), Secretaria da Educação Básica (SEB), escolas de

Educação Básica estaduais, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira (INEP), e a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT).

Essas instâncias são responsáveis pelas várias etapas do PNLD, que se inicia

com a publicação do edital, inscrição e posterior seleção dos livros didáticos, avaliação

e elaboração do Guia PNLD pelos especialistas e, por fim, a compra dos livros, e o

envio destes para as escolas da Educação Básica do Brasil.

Dada a importância do Livro Didático no sistema educacional brasileiro pelo

exposto acima, este trabalho traz uma reflexão sobre o Livro Didático, no que se refere

à definição, funções, importância, seleção, uso e toda a complexidade que envolve o

tema e apresenta o processo de escolha do Livro Didático de Química, no âmbito do

PNLD/2012 na cidade de Curitiba e as reflexões obtidas em relação aos fatores que

influenciaram/interferiram na escolha desses livros pelos professores e o impacto do

PNLD 2012 na rede pública de ensino desta cidade.

LIVRO DIDÁTICO

Influências sobre produção do Livro Didático

Choppin (2004) concebe o livro didático como produto de relações pedagógicas,

sociais e políticas de um país ou região. Corroboram com esta afirmação Fracalanza e

Megid Netto (2003) que apontam para adequações realizadas sem aprofundamento

teórico, apenas para apresentarem esteticamente de acordo com os padrões oficiais

existentes naquele dado momento.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6442ISSN 2177-336X

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Fracalanza e Megid Netto (2003) assinalam que no Brasil pelo menos quatro

Instituições influenciam o livro didático, sendo elas: as Instituições Públicas Executivas

e Legislativas, o Mercado Editorial, as Escolas e as Instituições de Pesquisa.

As Instituições Públicas são responsáveis pela elaboração e execução dos

programas que avaliam os livros didáticos, tendo como primazia uma educação de

qualidade.

O Mercado Editorial envolve autores e editores de livros didáticos. As editoras

inscrevem as obras didáticas no PNLD e atuam nas escolas promovendo suas

respectivas obras.

As Escolas constituem-se pelos professores, técnicos, alunos e pais e estes são

responsáveis pelas ações que tratam da escolha dos Livros Didáticos sua utilização e de

produzir propostas para o Livro Didático.

As Instituições de Pesquisa executam ações ligadas a novas metodologias e

materiais didáticos diferenciados, discussões curriculares, atualização dos professores e

divulgação de análises realizadas sobre o Livro Didático (FRACALANZA e MEGID

NETO, 2003). Entretanto, no que se refere especificamente às pesquisas:

(...) poucas das informações assentadas pelas investigações chegam aos

professores, pois muitos dos trabalhos circulam quase que exclusivamente na

própria academia ou, então, não são convenientemente divulgados

(FRACALANZA e MEDIG NETO, 2003, p.18).

O excerto acima permite uma reflexão acerca da relação entre as pesquisas

referentes ao Livro Didático, neste caso referindo-se especificamente ao PNLD e a

formação do professor. Tagliani (2009) corrobora esta afirmação quando se refere a

falta de embasamento teórico de muitos dos professores da Educação Básica,

decorrentes desse distanciamento entre a produção teórica da academia e os professores

da Educação Básica. O resultado desse distanciamento entre as pesquisas sobre livros

didáticos, bem como a falta desse tipo de reflexão durante a formação dos professores,

acaba contribuindo para que estes estejam mais vulneráveis ao marketing das editoras,

no processo de escolha dos livros. Por estas razões é que um dos aspectos que

defendemos é de que o PNLD precisa adequar o momento final do Programa, no sentido

de dar maior suporte aos professores para que possam realizar a escolha de modo mais

consciente e crítico, minimizando tais interferências.

As Políticas Educacionais e o Livro Didático de Química

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

6443ISSN 2177-336X

30

As Políticas Educacionais Brasileiras voltadas para a disciplina de Química são

delimitadas a partir da Reforma Francisco Campos (1931), implantado no currículo

escolar o qual visava despertar o interesse nas Ciências a partir da vida cotidiana

(LOPES e MACEDO, 2002).

Nos anos de 1950 a 1971, o ensino de Química/Ciências é determinado pelo

método científico positivista, pela descoberta e redescoberta, tendo por influencia os

programas norte-americanos para o ensino de Química (MORTIMER e SANTOS,

2008).

Após a LDB 5692/71 nos livros didáticos de Química os conteúdos pertinentes à

disciplina foram reduzidos drasticamente, pois a mesma tinha por pressuposto a

profissionalização obrigatória no ensino secundário, como uso da pedagogia tecnicista a

qual é fundamentada na aprendizagem por estímulo e resposta. Essa concepção

pedagógica é consolidada no Brasil, principalmente porque as instituições federais

passam a utilizar como método de admissão, o vestibular unificado, tendo por base as

questões de múltipla escolha (MORTIMER, 1988).

A partir dos anos de 1990 o Ensino de Química passa por um diferencial, pois se

incluem disciplinas específicas nos cursos de licenciatura em Química, apontando para

uma formação de professores qualificados (MORTIMER e SANTOS, 2008, p.99).

A partir de 1993 são disponibilizados recursos para o PNLD, programa este

responsável pela distribuição de livros didáticos para os alunos da rede pública de

ensino (BRASIL, 2007), porém somente para o ensino fundamental. Apenas no ano de

2004, os livros didáticos foram distribuídos para o Ensino Médio, todavia de forma

gradual, iniciando por Português e Matemática, sendo que em 2007 ocorre a

universalização do PNLD, a qual permite que toda a Educação Básica se beneficie com

os livros, com ampliação de distribuição de livros didáticos gratuitos para todas as

disciplinas (BRASIL, 2007).

METODOLOGIA

No questionário aplicado a 132 professores de Química da rede pública de

Curitiba, foram abordados aspectos relacionados à atuação profissional, conhecimento

sobre o PNLD, no que tange à estrutura do Programa, acesso ao Guia do Livro Didático

PNLD 2012 e às resenhas dos livros aprovados para a escolha; pressupostos teórico-

metodológicos do Livro Didático de Química e a influência do mercado editorial no

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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processo de escolha do Livro Didático. Após a aplicação do questionário foram

selecionados 10 professores para serem entrevistados tendo como critérios para a

seleção, os professores deveriam pertencer ao quadro próprio do magistério (QPM) e

possuir mais de 5 anos de magistério na rede pública estadual, o que os classifica numa

situação estável no estabelecimento de ensino que trabalha, como também confirma sua

participação no programa anterior (PNLEM/2008).

Na análise dos dados foram utilizados elementos da metodologia da Análise

Textual Discursiva (MORAES e GALIAZZI, 2011), na qual o corpus da pesquisa

corresponde aos textos provenientes da transcrição das entrevistas com os professores, a

partir dos quais foram elencadas as categorias emergentes, seguida da elaboração de

metatextos, categorização e posterior construção de proposições que são “teses parciais”

para as categorias definidas, construídas a partir dos metatextos.

Serão apresentadas e discutidas a seguir as cinco categorias desenvolvidas na

dissertação, quais sejam: Processo de escolha do PNLD 2012; Critérios de seleção;

Uso do Livro Didático; Interferências no Processo de escolha do livro didático de

Química no âmbito do PNLD 2012 e Relevâncias do Manual do Professor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No que diz respeito à categoria Processo de escolha do livro no PNLD 2012

na escola, foram construídas três preposições, tendo por base as questões do

questionário referentes ao conhecimento do Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD), tanto no que se refere a sua estrutura e meio de informação do professor da

existência do PNLD.

Proposição I: na maioria das escolas de Curitiba faltam informações sobre as etapas

do PNLD e, principalmente, faltam momentos específicos para que os professores

discutam, reflitam e realizem escolhas mais conscientes do Livro Didático de Química.

A partir dos depoimentos dos professores, foi possível observar que não houve

momentos destinados especificamente para a escolha do Livro Didático PNLD/2012.

Verificou-se que algumas escolas realizaram apenas uma reunião dos professores com a

equipe pedagógica e direção e, em outras escolas a direção fez contato com os

professores de modo individualizado, desta forma o professor não tem clareza do

processo de escolha.

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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32

Conforme os dados obtidos pelo questionário aplicado aos professores, embora

nossa pesquisa aponte que 68% destes conheceram os livros aprovados pelo PNLD na

escola, consideramos que este conhecimento ocorreu de modo superficial, quando

observamos os depoimentos dos professores nas entrevistas:

“(…) já veio determinado opções e dentre as opções que foram

poucas do universo total de livros, só quatro opções e nós temos

várias e já veio meio direcionado (...)” (Professor Cláudio).

Outro problema relativo à escolha do Livro Didático nas escolas, diz respeito ao

fato de a maioria dos encontros entre os professores ocorreram na hora-atividade ou no

intervalo das aulas, como pode ser observado a seguir:

“(...) na hora atividade, ou na hora que a gente se encontrava na escola

conversava. - Você já viu tal livro eu gostei de tal coisa, (...) então o

outro dizia: - vou olhar” (Professora Soraia).

A partir das falas, foi possível observar que o processo de escolha do Livro

Didático nas escolas se caracteriza como apenas mais uma das muitas atividades que o

professor necessita desenvolver, não sendo promovidos pela escola momentos

específicos para a entrega do material para a escolha (Guia PNLD e livros selecionados)

e para a discussão entre os professores.

Em relação a esta questão, Miranda (2009) também aponta em seus trabalhos a

necessidade de maior envolvimento da escola no processo de escolha do Livro Didático,

em especial no que se refere à disponibilidade de tempo dos professores para realizar as

discussões e conhecer os livros e Guia.

A Proposição a seguir teve por base a pergunta do questionário referente ao

acesso ao Guia PNLD 2012. Primeiramente foi questionado se os professores tiveram

conhecimento do mesmo e em caso afirmativo, como foi tal acesso, se por iniciativa

própria, encaminhamento da Secretaria de Educação, encaminhamento da escola, outras

formas. Também foi questionado se os professores leram as resenhas dos livros,

presentes no Guia.

Na entrevista foi dada ênfase a primeira questão, ou seja, foi perguntado se o

professor entrevistado teve acesso ao Guia PNLD/2012 e como teve acesso a este.

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Proposição II: A falta de divulgação do Guia PNLD/2012, como material para a

escolha do Livro Didático de Química resulta no desconhecimento ou desinteresse de

consulta por parte dos professores.

Os dados obtidos pelos questionários indicam que 75% dos professores tiveram

acesso ao Guia PNLD/ 2012, sendo que a maioria teve acesso a este por intermédio da

escola. Entretanto, ao realizar o cruzamento de dados entre os resultados obtidos nos

questionários e nas entrevistas, grande número de professores que disseram conhecer o

Guia PNLD/2012 remetem a provável confusão entre o Guia e os catálogos

provenientes das editoras.

Dos 10 professores entrevistados, apenas 2 afirmaram que leram as resenhas do

Guia PNLD/2012. Inclusive quando da ocasião das entrevistas, foi mostrado pela

pesquisadora o Guia PNLD/2012 impresso e 3 dos 10 professores entrevistados

apresentaram total desconhecimento sobre o material, como pode ser verificado nos

depoimentos transcritos a seguir:

“(...) a única coisa que tinha eram os panfletos das editoras, mas esse

Guia de análise, não vi” (Professora Soraia).

“(...) o que veio foi o que as editoras mandaram livros para as escolas

(...) Guia PNLD? Não cheguei a ver isso” (Professora Rita).

Esta situação de desconhecimento do Guia PNLD, por grande parte dos

professores evidencia a necessidade da divulgação ampla deste, uma vez que o

conhecimento do conteúdo do Guia pelo professor é essencial para o bom

desenvolvimento do processo de escolha (TOLENTINO NETO, 2003).

As falas dos professores também apontaram atraso na chegada dos Guias PNLD

na escola. Este atraso é mais um fator que contribui para que os professores

desconheçam o material que foi cuidadosamente elaborado por uma equipe para ser

utilizado como instrumento para auxiliar na escolha do Livro Didático.

Para a Proposição III foram utilizados os dados obtidos a partir da pergunta do

questionário referente ao critério utilizado pelo professor para a escolha, se esta se deu a

partir da leitura das resenhas, da análise da obra ou do conhecimento do autor.

Proposição III: Os professores, em sua maioria, escolhem o Livro Didático de Química

utilizando como material para tal escolha apenas os exemplares das obras didáticas

enviadas pelas editoras, as quais realizam uma análise rápida, apenas folheando os

mesmos.

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6447ISSN 2177-336X

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A partir dos questionários aplicados aos professores, pode ser observado que a

maioria dos professores (79,2%) respondeu que o critério que utiliza para a escolha dos

Livros Didáticos, consiste em “folhear o livro”. Poucos (8,4%) leem as resenhas e

outros poucos (8,4%) escolhem livros de autores e/ou livros conhecidos.

Tais critérios apontados nos questionários pelos professores foram corroborados

nas entrevistas como observado no trecho a seguir:

“(...) recebemos os livros, cada um foi avaliando, olhando

particularmente um” (Professora Eloisa).

Estes dados corroboram o estudo de Miranda (2009), o qual também aponta que

dos professores participantes da sua pesquisa, 81% informou que apenas folheou o livro

e que somente 16% dos professores leu o Guia PNLD antes da escolha.

Conforme demonstrado, o critério mais utilizado pelos professores para a

escolha dos livros parece consistir em um “folhear” pouco crítico das obras que chegam

as escolas. Foi possível diagnosticar que alguns dos fatores que levam a esta situação

está relacionado tanto ao acesso ao Guia PNLD/2012, pelo atraso em chegar às escolas,

quanto pelo desconhecimento por parte dos professores desse material, bem como, e

talvez, principalmente, pela falta de um momento específico para as discussões,

análises, reflexões.

Com relação à categoria que corresponde aos critérios de seleção, foram

construídas três proposições:

Proposição I: Os professores em sua maioria escolhem livros que apresentam uma

concepção de ensino tradicional.

Pelos relatos apresentados pelos professores, 7 dos professores buscam uma

concepção conteudista, tradicional, conforme o exposto a seguir:

“(...) a concepção é a conteudista mesmo, que o livro traz de conteúdo

(...) gente olhou aquele que tinha mais conteúdo” (Professora Bianca).

Segundo Giani (2004), a escolha por um livro tradicional reflete a concepção

arraigada de um ensino tradicional, portanto o professor não se sente à vontade para

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escolher um Livro Didático que tenha uma abordagem inovadora, embora tenham

consciência de que é preciso modificar a sua prática pedagógica.

Proposição II: Os professores possuem critérios específicos individuais relevantes na

escolha do Livro Didático, muitos deles são semelhantes aos utilizados pelo MEC/SEB,

entretanto existem outros que não são levados em conta pelo professor.

A partir dos dados obtidos e que podem ser visualizados no Quadro 1, todos os

professores apontaram como concepção de conteúdo e apresentação os principais itens a

serem analisados, seguido do critério de maior importância para menor importância, o

aprofundamento teórico, exercícios, experimentação e diagramação.

Quadro 1 – Grau de relevância dos aspectos individuais de escolha

Concepção

de ensino

Apresentação

de conteúdos

Aprofundamen

to teórico

Exercícios Experimentaçã

o

Diagramaçã

o

1º 2º 3º 4º e 5º 6º 7º

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tais critérios apontados como principais pelos professores apontam que a

maioria prefere um livro com características tradicionais, nas quais a disposição dos

conteúdos nos Livros Didáticos facilite os encaminhamentos metodológicos. SANTOS

(2007).

Proposição III: Os professores em sua maioria escolhem livros que apresentam

exercícios de vestibular e ENEM.

No que se referem aos Livros Didáticos que apresentam exercícios de vestibular

e ENEM, as falas dos professores remetem a preocupação com os estes exercícios,

“visando pré-vestibular, pra fazer o aluno ficar concorrente a uma

vaga numa universidade federal, estadual tem um nível bom, tem

textos, mas não sufoca o aluno. Não adianta colocar texto, texto, e não

se trabalha pra uma preparação futura para ENEM, vestibulares”

(professora Rita).

Os professores apontam que em sua maioria o vestibular está presente de modo

indireto nos seus encaminhamentos metodológicos (MIRANDA, 2009), porém estão

conscientes da importância de livros que contenham exercícios de vestibulares e ENEM.

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A categoria que corresponde às Interferências no Processo de escolha do livro

didático de Química no âmbito do PNLD/2012. Para a construção da proposição

referente a esta categoria, utilizou-se a pergunta do questionário relacionada ao contato

dos professores com as editoras, enquanto que na entrevista se a fato de alguns autores

de livros proferirem palestras, interferiu nas escolhas dos professores de modo geral e

na sua própria escolha.

Proposição Única: A presença das editoras dentro das escolas da cidade de Curitiba,

bem como as palestras proferidas pelos autores dos livros, tem interferido no processo

de escolha do Livro Didático pelos professores.

De acordo com os dados obtidos, referente ao contato da editora com a escola,

51% professores que responderam ao questionário, respondeu que esta presença

interferiu na suam escolha e 49% respondeu que não interferiu. Esses dados

representam que a metade dos professores que participou do processo de escolha do

PNLD teve contato direto com as editoras.

Segundo depoimento dos professores, o acesso das editoras nas escolas pode,

muitas vezes, induzi-los a optar por determinado Livro Didático, conforme as falas a

seguir:

“(...) algumas editoras vieram na escola, apresentaram os livros,

fizeram a propaganda (...) o que foi crucial mesmo pra despertar a

escolha foi a visita das editoras na escola” (Professor Pedro).

Esses resultados são corroborados em vários estudos entre eles o de Mantovani

(2009), nos quais também observaram a interferência das editoras.

Em relação à essa interferência das editoras e autores na escolha dos livros, se

faz necessário lembrar que este ato é proibido pela Portaria MEC nº 7 de 2007.

Portanto, editoras e autores que realizam tais ações devem ser punidos nos termos da

lei, cabendo a todos nós, envolvidos com educação denunciar os casos de que tivermos

conhecimento.

Também salientamos que se o professor tem como material para a escolha do

Livro Didático apenas os exemplares de livros encaminhados pelas editoras, e se os

Guias nem sempre chegam em tempo hábil em todas as escolas, é muito provável que as

editoras que estão cumprindo a lei, ou seja, aquelas que não fazendo este marketing

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6450ISSN 2177-336X

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forte nas escolas, não tenham seus livros escolhidos pelos professores, muito embora

possam, eventualmente, serem estes os melhores livros selecionados pelo PNLD.

CONCLUSÕES

O levantamento desses principais fatores serviu de base para se traçar um perfil

da escolha dos Livros Didáticos de Química na cidade de Curitiba. Tal perfil demonstra

que na maioria das escolas de Curitiba faltaram informações sobre as etapas do PNLD

e, principalmente momentos específicos para que os professores discutissem,

refletissem e realizassem escolhas mais conscientes do livro. Faltou divulgação do Guia

PNLD/2012, os professores, em sua maioria, escolheram o livro utilizando apenas os

exemplares das obras didáticas enviadas pelas editoras, realizando uma análise rápida,

apenas folheando os mesmos. E, finalmente, a presença das editoras nas escolas da

cidade de Curitiba, bem como as palestras proferidas pelos autores dos livros, tem

interferido no processo de escolha do Livro Didático de Química pelos professores

desta cidade.

Os professores não se sentem parte do processo, pois em geral ocorrem rápidas

reuniões e, quando estas acontecem, é somente para o repasse do material (entrega do

Guia PNLD e exemplares dos Livros Didáticos selecionados, enquanto que as

discussões sobre os livros entre os professores são normalmente realizadas em hora-

atividade ou nos intervalos das aulas).

As falas dos professores da cidade de Curitiba demonstraram que estes são

fortemente assediados pelas estratégias de marketing das editoras, por meio de

distribuição de brindes, palestras com autores dos livros selecionados, os quais têm seus

nomes conhecidos pelos professores, e acaba influenciando na decisão de escolha pelo

professor. Também foram distribuídos catálogos de propaganda de livros que não foram

selecionados pelo PNLD, o que pode confundir os professores com relação às obras

didáticas que efetivamente participaram do processo de seleção, além da presença dos

representantes das editoras visitarem as escolas e distribuírem livros, fato que, conforme

já foi salientado, é proibido pela Portaria MEC nº 7 de 5 de abril de 2007.

No que se refere às propostas de ensino/aprendizagem, os professores, na sua

maioria, optam por propostas mais tradicionais, em detrimento daquelas mais

inovadoras, pois se sentem mais seguros com metodologias tradicionais e sistemáticas.

Este fato pode se dar pela fragilidade na sua formação acadêmica e pela falta de

XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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investimentos em formação continuada. Os professores compreendem a importância de

escolherem o livro que será trabalhado na escola pelos próximos três anos, têm

seriedade, comprometimento, entretanto, é necessário que ocorra um processo de

escolha em que o professor se sinta também envolvido e realize uma escolha com olhar

crítico, que atenda ao projeto político pedagógico da escola.

Todos esses fatores têm grande influência/interferência no processo de escolha

dos livros, fazendo com que parte da operacionalização do PNLD seja prejudicada, o

que leva a consideração de que este Programa parece estar sendo eficaz no que diz

respeito à melhoria da qualidade dos livros, porém, ainda é preciso rever este momento

final e crucial que é a escolha dos livros pelos professores, fato este que aponta para o

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XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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