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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · cerimônia do chá, ... E teve o céu Ao alcance das mãos. ... é quase o dobro, de dez horas. Reafirmando essa informação, também o

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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ME I

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UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO COM O GÊNERO LÍRICO HAICAI, COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO A PARTIR DA TEORIA DA ESTÉTICA DA

RECEPÇÃO, NA PERSPECTIVA DO MÉTODO RECEPCIONAL E LETRAMENTO LITERÁRIO

Autora: Helena Maria Medina Marques1

Orientadora: Jane Deise Bezerra Duarte2

Resumo

O artigo tem por objetivo relatar uma experiência de ensino e refletir a respeito de uma prática pedagógica (Implementação de Proposta de Intervenção Pedagógica do PDE), com leitura e produção de textos do gênero literário haicai no Ensino de Médio. Os princípios teóricos que nortearam a atividade estão pautados na proposta de Letramento Literário, na Hermenêutica e na Estética da Recepção de Hans Robert Jauss. A didatização da proposta tem inferências metodológicas de Rildo Cosson, de Maria da Gloria Bordini e Vera Teixeira Aguiar, de Magda Soares e de Regina Zilberman especialmente. A atividade teve como objetivos estimular, no discente, a produção de leitura do texto literário e despertar, no aluno-leitor, o gosto pelo gênero poético haicai. A implementação desenvolveu-se seguindo os cinco passos do Método Recepcional, promovendo fruição e conhecimento literário. Como atividade final prevista no projeto, ocorreu o Chá Literário com os poetas paranaenses Alice Ruiz, Helena Kolody e Paulo Leminski, evento em que os alunos declamaram poesias incluindo suas produções e apresentaram números de danças e músicas à comunidade escolar e externa. A atividade culminou com a cerimônia do chá, servido após as apresentações. Palavras-chave: Letramento literário. Poetas paranaenses. Chá literário.

Abstract The article aims at describing a teaching experience and reflecting on the teaching practice (Implementation of Pedagogical Intervention Proposal of PDE), with reading and text production in the literary genre of haicai in High School. The theoretical principles that guided the activities are founded on the proposed Literary Hermeneutics and Aesthetics of Reception of Hans Robert Jauss. The didactization of the proposal has methodological inferences of Rildo Cosson, Maria da Gloria Bordini e Vera Teixeira Aguiar, Magda Soares and                                                             1 Professora NRE e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da UNIOESTE. 2 Professora Unioeste e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras UNIOESTE /

UFBA.

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Regina Zilberman especially. The activity aimed at awakening in the student-reader a taste for haicai poetic genre. The implementation was developed following the five steps of the Receptional method, promoting knowledge and enjoyment of literature. As a final activity planned in the project, there was the Literary Tea with works by the following poets from Paraná: Alice Ruiz, Helena Kolody and Paulo Leminski, in which students recited poems, including their own, and performed dances and musics to the school and the outside school communities. The activity culminated with the tea ceremony, served after the presentations. Keywords: Literary literacy. Poets from Paraná State. Literary Tea.

1 Introdução

Pintou estrelas no muro

E teve o céu

Ao alcance das mãos.

Helena Kolody

Num país ainda tão castigado pela falta de estimulo à leitura e com necessidades de novos posicionamentos em relação a métodos de Ensino de Literatura, projetos de incentivo à prática de leitura e produção textual envolvendo gêneros literários, em especial o gênero lírico, são fundamentais e imprescindíveis, por se tratar, consequentemente, da melhoria do desempenho da capacidade leitora e da habilidade interpretativa dos alunos.

Segundo a Câmara Brasileira do Livro (2008), os dados estatísticos são reveladores e preocupantes, pois cada brasileiro lê somente pouco mais de dois livros por ano. Na Inglaterra, estima-se que a média seja de 4,9; nos Estados Unidos, de 5,1. Outro dado inquietante é que o tempo médio dedicado à leitura não passa de 5,5 horas por semana, enquanto na Índia – um país em desenvolvimento cuja situação econômica é semelhante a do Brasil – a média é quase o dobro, de dez horas. Reafirmando essa informação, também o Lucena (2008) com dados do Ministério da Cultura (2008) revela dados assustadores nos quais, num país de quase 200 milhões de habitantes, apenas 28 milhões de brasileiros são leitores assíduos, isto é, que leem mais de três

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livros ao ano. Esse breve panorama nos sinaliza para a necessidade de medidas que podem e devem ser tomadas no sentido de, senão reverter, ao menos amenizar essa situação.

Neste artigo apresentamos e refletimos a respeito do resultado de uma experiência de ensino com o gênero haicai, com alunos do ensino médio a partir da teoria da estética da recepção, na perspectiva do método recepcional e letramento literário. Tal experiência se deu através do projeto PDE intitulado Chá Literário com Poetas Paranaenses: Alice Ruiz, Helena Kolody e Paulo Leminski, que culminou com sua implementação em novembro de 2010. Faremos reflexões, análises e sugestões acerca dessa grata experiência. Cremos, portanto, ser este um dos caminhos possíveis, que, de forma planejada e concretizada, nos possibilitou verificar a sua aplicabilidade, o que poderá contribuir com outros estudos que se debruçam sobre o mesmo tema.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) consideram importante uma reflexão sobre o Ensino de Literatura enquanto veículo de comunicação social, levando-nos a analisar também as contradições de nossa sociedade, visto que vivemos numa época denominada “era da Informação” e, por isto mesmo, há um acesso rápido à leitura de “uma gama imensurável de informações”. No entanto, há um índice estarrecedor de analfabetismo funcional em nosso país e os resultados são visíveis nas avaliações educacionais, em que se faz presente o baixo desempenho dos alunos em relação ao que eles leem.

1.2 A importância da lírica como fator de humanização

Candido (1972) considera que a literatura possui uma função social, função a qual retrata os diversos segmentos da sociedade. Se ela é a representação social e humana, compreendemos a necessidade de um ensino voltado também para as necessidades de saberes dos seus integrantes. Assim pensamos que novos rumos devam ser tomados dentro da escola, e é nesse sentido que este projeto foi desenvolvido, considerando também essa função.

Acreditamos que o Ensino da Literatura pode proporcionar essa “humanização” de que fala Candido (1972), humanização em relação a qual seria coerente dizer que a leitura é um mecanismo de inclusão. Essa inclusão é

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condição imprescindível quando se pretende formar um cidadão capaz de exercer com consciência e liberdade a cidadania.

Face ao que estamos expondo, num mundo dominado mais pela tecnologia e desumanização, a literatura, entre outras, é uma das artes de educação pela sensibilidade, sobretudo de “humanização do homem coisificado” (BRASIL, 1999, p. 53). De fato, literatura é construída com palavras, do encantamento por elas produzido, visto que nenhuma tem sentido único, e é justamente isso que diferencia um texto literário de outro, já que aquele não tem o objetivo de trabalhar com a realidade, nem de ater-se à veracidade dos fatos, ao contrário de um não literário.

Assim, consideramos o que poderia proporcionar o ensino de poesias – haicai - na escola pública: além de melhorar a habilidade interpretativa do leitor-aluno (da aquisição da leitura-interpretativa), também poderia ser fonte de uma rica experiência de letramento literário, acionando, dessa forma, os saberes construídos por intermédio da literatura. Citando Bosi (2006), cabe dizer: “Ora, a literatura, para que valha alguma coisa, há de ser o resultado emocional da experiência humana”.

2 Letramento Literário, Estética da Recepção e Hermenêutica

Tomamos como fundamentação os estudos de Cosson (2009), Jauss (2002), Ferreira, (2001), Bordini e Aguiar (1993), Zilberman (1989) e Candido (1972). As noções teórico-críticas foram embasadas em Eagleton (2003). Também nos pautamos nas Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1999), entre outros documentos. Procuramos, primeiramente, fazer uma revisão teórico-crítica que servisse a uma análise e um entendimento da relevância de formar leitores de textos literários com vistas ao letramento.

2.1 Letramento literário

Este projeto fez parte de uma proposta no âmbito do Ensino de Literatura com uma visão comprometida com um processo de ensino-

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aprendizagem mais participativo, visando à ampliação da capacidade leitora do aluno, com bases fundamentadas nos estudos de Cosson (2009), que trata da habilidade interpretativa e com fundamentos da hermenêutica. Segundo esse autor, para que a literatura cumpra seu papel, precisamos mudar os rumos da sua escolarização, promovendo o que ele denomina de letramento literário, termo que será mais bem detalhado a seguir.

Tais teorias, aplicadas às abordagens metodológicas, têm a intenção de contribuir no Ensino de Literatura na formação de leitores, ampliando seu horizonte de expectativas, sendo essa uma das possibilidades ao incentivar o gosto literário nos alunos. Dessa forma, para tornar efetiva essa abordagem, consideramos importante eleger um gênero literário que fosse significativo ou fosse da curiosidade do aluno-leitor. Dentro da poesia oriental, os haicais se destacam por sua leveza, criatividade e acessibilidade, e, segundo nossa sondagem, era um gênero interessante, envolvente e relativamente simples (no entanto, dentro de uma grande complexidade, por fazer parte da cultura oriental), podendo ser instigador e por fim também pelo fato de ser desconhecido no meio escolar, fato que pôde tornar motivadora a sua leitura.

Nosso estudo demonstrou-nos ser esse um dos caminhos viáveis para envolver alunos com a leitura e a produção de textos literários, em especial os haicais, um gênero literário ainda pouco trabalhado em sala de aula. Para auxiliar na nossa reflexão, citamos Chiappini (1983) que salienta que as práticas de leitura exigem navegar no rumo aventureiro da criação, sem resistir à vontade de escrever, representar, compor, desenhar, ou reler, recompor e reinventar.

O projeto, organizado em unidade didática, composto por uma única unidade de um mesmo tema, conteve textos de fundamentação teórica com as respectivas atividades desenvolvidas.

O referido plano foi desenvolvido com alunos do 3º Ano A, B e C do Ensino Médio do Colégio Estadual Marques de Paranaguá - EFM, do Município de Vera Cruz do Oeste, no período de agosto a novembro de 2010. Entendemos ser relevante ressaltar que o trabalho foi desenvolvido com estudantes oriundos da zona rural. Grande parte desses estudantes vem de um meio social em que não há muito acesso à leitura, seja pela falta de condições, seja pela falta de incentivo familiar, ou ainda em consequência de um crescente interesse pelas novas formas de comunicação através de redes sociais (informática, como jogos e músicas) e ambientes virtuais (MSNs, Orkut,

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Chats, Twitters, Facebook, entre outros), o que, a nosso ver, diminui o tempo que poderia ser dedicado à leitura de textos literários.

Dentre os objetivos deste trabalho, buscamos contribuir para formar leitores literários e críticos, despertando o gosto deles pela literatura, com o intuito de conhecer, através de alguns poetas paranaenses, parte da literatura do Estado do Paraná.

Depois de desenvolvida a temática do projeto, A brevidade da vida, demos início ao estudo dos haicais e, consequentemente, dos poetas paranaenses contemporâneos: Helena Kolody, Alice Ruiz e Paulo Leminski. Começamos o trabalho conhecendo um pouco mais sobre esse gênero e suas origens no Japão e como o gênero chegou ao Paraná, sempre nos reportando aos três poetas referidos. Ao longo deste artigo, apresentaremos a aplicação da implementação durante os meses sequenciais e analisaremos, com base no referencial teórico, os resultados dessa sequência didática.

2.1.1 Letramento literário com gênero lírico haicai

A leitura como prática social, no Brasil, encontra-se muito aquém do

desejado e esperado. Isto vem ao encontro do que se tratará ao longo deste

artigo. Cosson (2009) é um dos estudiosos do letramento literário no país. Esse

autor salienta que devemos compreender que o letramento literário é uma

prática social de responsabilidade da escola, que, como tal, tem a função de

nos ajudar a ler melhor com instrumentos necessários para conhecer e articular

com proficiência o mundo feito linguagem (COSSON, 2009, p. 30). Também

Soares, afirma ainda que a questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou

não escolarizar a literatura, mas, sim, como fazer essa escolarização sem

descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma.( SOARES

Apud COSSON, 2009,p.30).

Assim, portanto, ao fazermos uso da “prática social de letramento

literário” estamos oferecendo condições para que o aluno tenha a possibilidade

de compreender o texto literário dentro de uma prática que não se esgota em

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si, pois há toda uma relação social envolvendo outra época, outro contexto,

mas sendo capaz de dialogar com o presente.

A partir dessas considerações, elaboramos o projeto tendo por tema o estudo das poesias de diferentes obras dos autores contemporâneos do Paraná, a saber: Alice Ruiz, Paulo Leminski e Helena Kolody. A escolha desses escritores foi de grande importância, porque visava instigar nos alunos o desejo de ampliar o seu conhecimento literário com o gênero haicai e seu repertório de leitura, além de conhecer melhor esses poetas contemporâneos do Estado do Paraná.

A partir desses pressupostos, entendemos que o ensino de poesias do gênero haicai, nas escolas públicas, pode proporcionar, além da aquisição da leitura-interpretativa, também uma experiência de letramento literário.

2.2 Estética da Recepção e o Método Recepcional no estudo da lírica

Em vista de que escolhemos o método recepcional para o desenvolvimento do projeto, foi necessário, pois, entendermos, de modo mais objetivo, sua organicidade e, para tanto, foi imprescindível relacioná-lo às ideias de Hans Robert Jauss (2002) e a teoria do efeito estético de Wolfgang Iser (1999).

Compreendermos os estudos de Bordini e Aguiar (1993) e Zilberman (1982) acerca da estética da recepção no Brasil foi fundamental para que pudéssemos entender o sucesso da tese de Jauss. Este compreende justamente o fato de revalorizar a experiência humana na figura do leitor como condição da compreensão do sentido e a atualização do texto literário.

Inaugurada por Jauss e seu colega Iser em 1967, na Universidade de Constança, a Estética da Recepção foi uma das primeiras teorias a considerar o papel do leitor na ativação dos sentidos dos textos através da leitura, ou seja, dessa relação leitor-obra como ato de ler tornado discurso, enfatizando a importância da dimensão histórica no ato de interpretação do texto literário. São esses autores os dois maiores expoentes dessa teoria e que fundamentam suas bases na hermenêutica.

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A partir dessas acepções, pode-se analisar que a relação leitor-texto se completa no ato da leitura. Jauss configurou suas teorias em etapas, que implicam a participação ativa do leitor, sem, no entanto, alterar a “autonomia” da obra. O estudioso tinha ciência de que era urgente restaurar o processo dinâmico entre obra e leitor, fundamentando-se no processo hermenêutico, técnica da interpretação das perguntas e respostas, assunto que será abordado na próxima seção.

O ponto de partida de suas reflexões emergira da forma mecanizada e estruturalista como a literatura vinha sendo apresentada nas escolas e universidades. Ele então considerou “[...] o processo de interação entre leitor e texto leva-o a interferir criadoramente no texto, a dialogar com ele, de igual para igual, num verdadeiro ato de comunicação” (ZILBERMAN, 1989, p. 55). Ia, portanto, muito além do que se tinha até então.

Os estudos de Zilberman (1989), que discorrem acerca da estética da recepção, salientam que é imprescindível uma “atitude de interação” como precondição para que texto e leitor estejam “mergulhados em horizontes históricos”, precisando “fundir-se” para que a comunicação ocorra e foi isso que Hans Robert Jauss nominou como horizontes de expectativas.

Aqui passaremos a apresentar a implementação segundo o método recepcional com base na estética da recepção.

O primeiro passo seria a apresentação do texto literário, que eles leriam/analisariam/ouviriam de acordo com o conhecimento, o conceito e as preferências deles. Como dito acima, o horizontes de expectativas dos alunos. O professor acompanha esse diálogo, detectando as aspirações, os valores, as dúvidas, a familiaridade dos alunos com relação ao apresentado.

O segundo passo é o que ele chama de atendimento do horizonte de expectativas, ou seja, proporcionar experiências com as obras literárias. Não há interrogações às pessoas. Sua consulta é dirigida às próprias obras, o que, por sua vez, determina a recepção de acordo com sua experiência, sua vivência de mundo. Isso é como cada leitor pode reagir individualmente ao texto.

A terceira etapa é a ruptura do horizonte de expectativas. Para Jauss, o valor da obra decorre da percepção estética que esta é capaz de suscitar, isto é, a introdução às obras literárias e atividades de leitura que abalem as

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certezas e os costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivência cultural.

A quarta etapa é o questionamento do horizonte de expectativas ou também denominada hermenêutica, quando se começa a examinar melhor as relações do texto com a época de seu aparecimento, quando se examina melhor o material já trabalhado e se usa já um nível mais alto de reflexão pelo conhecimento já adquirido.

A quinta etapa é nominada de ampliação do horizonte de expectativas e é fruto do relacionamento com a obra. O leitor é o aspecto fundamental de uma teoria fundada na recepção. Nessa fase já é possível ver os resultados do trabalho, pois o aluno já ampliou seus horizontes e apresentará o fruto de seu trabalho ao grupo.

Escolhemos tal método por o considerarmos relevante e prático, com etapas as quais podem ser planejadas e acompanhadas. Na sequência, trataremos, em linhas gerais, a respeito da hermenêutica.

2.3 Hermenêutica como uma possibilidade para a compreensão de haicais

Compreender o que é Hermenêutica se faz necessário, pois, dentro da teoria da estética da recepção, Jauss enfatiza o uso da mesma técnica para a compreensão dos textos literários.

Segundo a sugestão de Jauss (2002), o fato de o texto literário suscitar novas interpretações no decorrer da sua historiografia é comprovação da atualização desse texto no momento de sua recepção e, também, da manutenção do funcionamento social enquanto obra de arte. Para o autor, eis a importância do texto literário, com efeito, ser observado enquanto resposta. Entretanto, as perguntas a que ele responde também devem ser outras quando consideramos outros leitores e outros horizontes de expectativas. Através do conhecimento adquirido por essas novas interpretações, torna-se, como dito anteriormente, uma nova possibilidade de existência do fato literário.

Assim, Ricouer (RICOURER apud FERREIRA, 2001, p.113) salienta que

hermenêutica é a tentativa de leitura do passado à luz do presente. É,

igualmente, extração e interpretação de sentido em qualquer discurso.

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Chegamos então à conclusão de que é justamente essa compreensão de

hermenêutica que se fazia necessária para o desencadeamento deste estudo:

quando se daria a prática do método recepcional, na qual o aluno teria a

oportunidade de acompanhar a(s) leitura(s) possíveis ao examinar as relações

do texto, tendo ideia do momento de sua produção e o da sua recepção. Ele

poderia se sentir capaz de “dialogar” com o texto, fazendo relações entre a

literatura e o respectivo caráter estético e histórico. Eagleton (2003) enfatiza a

necessidade de uma atenção concentrada tanto na produção literária quanto

na crítica, que cada vez mais atua como mediadora da experiência da

literatura. Fica evidente, nas suas exposições, a diferença que faz uma

abordagem da literatura marcada por uma visão histórica. E é justamente

nesse sentido que ocorre o letramento literário, quando o leitor tem condições

de examinar as relações do texto com a época de seu surgimento e o momento

atual.

3 Didatização da proposta de implementação de acordo com o Método Recepcional

Apresentaremos, a seguir, de forma didatizada, os cinco passos do método recepcional que foram adotados para o desenvolvimento da implementação deste projeto. É importante elucidar que o método utilizado foi adaptado em nosso país pelas estudiosas Bordini e Aguiar, fundamentadas nas teorias de Hans Robert Jauss. Tomamos como ponto de partida as suas reflexões sobre o processo de interação entre leitor e texto e que este o leva a interferir criadoramente no texto ao dialogar com ele de igual para igual, num verdadeiro ato de comunicação (ZILBERMAN, 1989, p. 55). Nesse aspecto, o texto possui sentidos e o leitor é partícipe para a construção desses sentidos.

3.1 Determinações dos horizontes de expectativas dos alunos em relação ao hábito de leitura literária e literatura paranaense

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Esses dados servem para reafirmar esta nossa preocupação, bem como para alertar sobre a baixa média de leitura dos brasileiros. Segundo dados do Ministério da Cultura (2008), cada brasileiro lê, em média, 1,8 livro/ano, diferentemente de outros países, como Espanha (5 livros por ano), França (mais de 7). No Brasil, na Região Norte praticamente só se lê o que a escola pede. A nossa situação também é diferente da dos nossos vizinhos latino-americanos, por exemplo, a Argentina (5,8 livros per capita ao ano). Esses dados nos permitem inferir que estamos muito aquém do mínimo esperado. Longe, no entanto, de desanimarmos ou de entregarmo-nos ao descaso, propusemos este estudo, que é um dos caminhos possíveis para amenizar dados como esses.

Os desafios da educação brasileira são muitos e superá-los exige, necessariamente, uma política consistente e que promova a apropriação da leitura e da escrita ao longo da vida escolar.

3.2 Atendimento do horizonte de expectativas

No segundo passo, após uma análise das expectativas dos alunos, verificamos que eles possuíam pouco ou nenhum conhecimento quanto ao gênero poético haicai e poetas paranaenses, como se observou nos gráficos acima. Selecionamos então uma série de atividades/oficinas que ajudariam a atender a seus horizontes de expectativas. Isso é o que o estudioso nomina de atendimento do horizonte de expectativas. Jauss alerta que cabe ao professor perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção de seus alunos, buscando similares nas obras literárias de que dispõe.

Essa segunda etapa teve duração de aproximadamente 35 horas/aula. Começamos por apresentar, com o auxílio de recursos midiáticos, os poetas contemporâneos paranaenses: Alice Ruiz, Helena Kolody e Paulo Leminski. Exibimos imagens, fotos, poesias e músicas sobre tais poetas. Realizamos oficinas com poemas musicalizados dos poetas a serem estudados, bem como poesias diversas e, por fim, haicais propriamente ditos. Concluímos ser necessária uma explanação sobre a literatura no Paraná, desde a sua emancipação até os dias atuais, intitulada: Um breve estudo sobre a literatura paranaense.

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A seguir, por se tratar de um estudo também sobre haicais, entendemos ser imprescindível um histórico sobre a origem desse tipo de poemas, bem como os principais poetas orientais. Julgamos relevante que eles conhecessem as características desta poesia tão pouco referenciadas nos livros. Nesse sentido, os alunos aprenderam a estrutura do haicai tradicional de origem nipônica, bem como a relação do haicai com a observação da natureza. Após esse entendimento, tiveram também oportunidade de conhecer os principais haicaístas orientais como Bashô, Buson e Issa, bem como parte de suas produções.

Depois que os alunos compreenderam a estrutura e a essência desse gênero poético, tiveram a oportunidade de produzir seus próprios haicais. Usamos, para isso, temas interessantes e motivadores, alguns sugeridos por eles mesmos, que os produziram e ilustraram sob a forma de haiga (haicai ilustrado). Os alunos tiveram oportunidade de aprender, mergulhar num mundo mágico de pinturas, cores, sentidos, música e poesias, natureza, enfim nas artes como um todo.

Após essa fase, eles aprenderam que os haicais ilustrados se titulam haigas. Oportunizamos algumas aulas no laboratório de informática, para que também pudessem visitar alguns sítios sobre escritores que utilizam dessas técnicas. Conheceram também o escritor Rogério Viana, jornalista, redator de publicidade, autor de contos, poesias e haicais. Ainda sobre haigas, conheceram um belo livro de Estela Bonini (1995) intitulado Haicais para Van Gogh, em que a escritora escreve haicais a partir das Obras de Van Gogh. Assim, os alunos puderam conhecer e entender melhor esse gênero literário, que, como define Ruiz (2010), é como uma fotografia em palavras, onde o autor expressa sua arte sem aparecer nela.

Desse modo, já tiveram condições de produzir seus haicais, inicialmente, nos moldes tradicionais nipônicos, com o kigo e a referência a uma estação do ano. Mais à frente, puderam produzir haicais de estilos mais livres, como os de Guilherme de Almeida, de Leminski ou de Kolody.

3.2.1 Oficinas

A seguir apresentamos um exemplo de como direcionamos as oficinas de haicais com o fim de motivarmos os alunos a produzirem seus textos. Todas

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as oficinas foram realizadas nesse formato: primeiramente uma explanação sobre o assunto com uso das tecnologias.

Nesse estágio, os alunos já tinham estudado a história dos haicais, sua métrica e a relação com as quatro estações, bem como o surgimento no Japão, no Brasil e no Paraná.

Haicais das Cerejeiras - Sakuras

No Japão, a flor da cerejeira é o símbolo

da transitoriedade da vida, chamada de Sakurá. O desenho

dessa flor é usado largamente em roupas e em decoração.

Os pilotos kamikazes da Segunda Guerra pintavam a flor da

cerejeira na lateral dos seus aviões antes de partirem para

os ataques suicidas. A flor da cerejeira é símbolo da

impermanência. Nesta oficina, eles aprenderam sobre essa

cultura. Ao final produziram um haicai/haiga ilustrando as

flores de cerejeiras.

Haicai dos samurais e kamikazes

Os antigos samurais adotaram a flor de cerejeira

como símbolo para representar a sua prontidão de morrer

para o seu senhor, pois, no auge de sua beleza, a flor da

cerejeira já vai soltando suas pétalas, como se estivesse nos

ensinando o desapego. É diferente de outras flores, que

murcham e ficam feias antes de se soltar do galho.

Posteriormente tal tradição foi seguida pelos kamikazes.

Haicais dos Tapetes de Sakuras

Em março, no Japão, o branco, a neve e o frio se

vão desmanchando. A primavera, tão esperada, chega,

enfeitando de muitas cores a paisagem, dentre elas, a

Sakurá, cerejeira muito comum, típica do arquipélago.

Depois de meses de paisagem gelada, sem cores, o

inverno se vai e, vinda do sul do país, a primavera surge. Os

hamanis aparecem para admirar o espetáculo.

E, quando a florada acaba, pois dura apenas três

dias, o chão fica colorido, os hamanis passeiam entre

caminhos, admirando a obra da natureza e contemplando a

poesia deles.

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E assim, sucessivamente, desenvolvemos uma série de oficinas: Haicai das Quatro Estações, Haicai das Chuvas, Haicai das Frutas, Haicais do Amanhecer, Haicais da Lua Cheia, entre outras. Podemos afirmar que, em todas elas, houve uma participação muito grande e efetiva por parte dos alunos, que se contagiaram com a poesia nipônica e mergulhando no mundo das artes plásticas através de suas ilustrações. Mesmo os alunos do período noturno mostraram-se empolgados e fascinados com esse mundo mágico de poesias tão enxutas e com tanto conteúdo.

É importante ressaltarmos que trabalhamos todas as oficinas com cartões de cartolina americana, de diversos tamanhos e cores. Utilizamos técnicas diferenciadas a fim de estimularmos a criação poética, no entanto, nada vultoso ou dispendioso, que não possa ser utilizado por qualquer professor de escola pública onde os recursos são escassos.

3.3 Ruptura do horizonte de expectativas

A terceira etapa é, no nosso entendimento, aquela de que, segundo Jauss, decorre o valor da percepção estética que a obra é capaz de suscitar no leitor. É aquela em que a introdução de poesias e de atividades de leitura abala as certezas e os costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivência cultural. A proposta deve representar sempre um desafio por caminhos não percorridos anteriormente pela turma.

Nessa etapa, em que os alunos já conheciam um pouco das produções dos poetas e já se haviam familiarizado com eles, oportunizamos a leitura de alguns livros, inclusive com visitas ao laboratório de informática onde os alunos tiveram ainda mais acesso às poesias desses escritores paranaenses e a práticas de produção textual com esse gênero.

Em duplas, os educandos selecionaram vários haicais, sendo dois de cada poeta, num total de seis, que abordaram a questão da temporalidade, da passagem do tempo mesmo, relacionando com o que já haviam estudado: o carpe diem. Eles conversaram entre si, compreenderam a essência do poema e desenvolveram as atividades propostas.

Propusemos então a ruptura do horizonte de expectativas a partir da solicitação de uma pesquisa em grupo com algumas sugestões de temas: as

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origens do haicai; a importância do haicai no Japão; os primeiros haicaístas do Japão e do Brasil; as estações do ano – kigo; as cerejeiras no Japão – símbolo da transitoriedade da vida; hamanis - apreciadores de sakurás; Matuso Bashô; alguns haicais sobre flores de cerejeiras; os ipês no Brasil, que têm a mesma simbologia das sakuras, pela sua semelhança e brevidade das flores. Também propusemos, como desafio, para que trouxessem novidades sobre o assunto para a sala de aula e cada grupo teria que apresentar algo inovador em termos de músicas, filmes, lendas e vídeos sobre as sakuras (no projeto de implementação há uma lista de sites com sugestões de filmes, músicas, poesias e vídeos sobre o assunto estudado).

Essa atividade teve como objetivo despertar a curiosidade e o desejo de instigá-los a aprender mais sobre os haicais. Tal atividade foi realizada sempre com a nossa presença, ocasiões em que oportunizamos alguns sites específicos. Vale ressaltar que os alunos apresentaram seus trabalhos em sala de aula. Usaram a criatividade e o conhecimento já adquiridos, assim como as tecnologias disponíveis. De modo geral, os resultados foram melhor que o esperado.

3.4 Questionamento do horizonte de expectativas

O quarto passo, identificado como o questionamento do horizonte de expectativas, também denominado de hermenêutica por Jauss, é também a quarta fase da teoria da estética da recepção. Essa etapa foi realizada em duas aulas em que os alunos tiveram condições de avaliar melhor a poesia paranaense, em especial os haicais. Nela, os alunos fizeram explanações, elaboraram suas análises, interpretação e críticas, sendo que, nesse estágio, possuíam um nível maior de reflexão pelos conhecimentos já adquiridos.

Nesse caso, fomos o que se chama de mediador do trabalho e promovemos um debate sobre o assunto estudado ao longo dos meses com as seguintes indagações: – O que eles esperavam e/ou conheciam antes de iniciar o trabalho? – Foi possível conhecer um pouco mais sobre a poesia contemporânea paranaense? – A ideia inicial que alguns tinham, e outros nem tinham, sobre haicais foi ampliada? – A construção poética e o uso da linguagem figurada foram trabalhados? – Foram feitas muitas questões que levaram os alunos a pensar, refletir, analisar sobre o assunto estudado? Nessa

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etapa eles tiveram condições de avaliar o progresso que tiveram ao desenvolvermos o assunto por quatro meses.

Enfim, o momento foi propício para que promovêssemos o diálogo com os alunos quanto ao seu aprendizado, identificar o que de novo foi aprendido, avaliar o seu crescimento e o que ainda pode ser ampliado, havendo um grande empenho e participação dos alunos.

3.5 Ampliação do horizonte de expectativas

A quinta etapa é a ampliação do horizonte de expectativas, fruto do relacionamento do leitor com a obra. É o aspecto fundamental de uma teoria fundada na recepção. Compõe-e de três etapas inter-relacionadas: a poiésis, pois o aluno-leitor participa da produção de texto; a aisthesis, quando este alarga o conhecimento que tem do mundo; e a katharsis, durante a qual ocorre o processo de identificação com a obra, em que está consciente de suas novas possibilidades de manejo e vai à busca de novos textos que atendam a suas expectativas ampliadas (JAUSS apud ZILBERMAN, 1979). Observa-se, ainda, que, seguindo paulatinamente as cinco etapas, os alunos terão seus horizontes de expectativas cada vez mais ampliados, o que fará com que, por sua vez, seu conhecimento literário seja, também, cada vez maior.

A ampliação do horizonte de expectativas se deu quando os alunos-leitores compreenderam esse gênero literário e, depois disso, passaram para a ruptura e o questionamento desse mesmo horizonte. Para tanto, foi necessária a intervenção do professor através da motivação e do desenvolvimento de ações concretas.

Para realizarem essa tarefa, eles se organizaram e se encaminharam para ações concretas. A duração desse trabalho foi de oito horas/aula: escolhas dos poemas, bem como a organização para a apresentação no Chá Literário. Nas reuniões, elaboramos um planejamento das apresentações, o cardápio, a lista de convidados, etc., assim como a produção de convites ilustrados com haicais para o evento, decoração/adequação do ambiente para o Chá Literário e ensaios diversos. A apresentação e realização do evento.

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4 Considerações Finais

Durante o planejamento e a implementação do projeto abordamos a teoria e a prática em consonância com um ensino voltado às escolas públicas. Foram dois anos de leituras, estudos, pesquisas, discussões e práticas para a concretização dessa atividade dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), um programa que visa a um projeto de melhoria destinado ao ensino público do Estado do Paraná.

Ações como esta demandam sempre a passagem necessária pelo estudo apurado, pela reflexão e crivo da comunidade pedagogia/acadêmica no que se refere à sua proposta e sua implementação e, sobretudo, confrontando a relação entre teoria e prática, seja para que tivéssemos êxito na sua elaboração e realização, seja para que tivéssemos subsídios para entender e avançar nessas relações: escola pública X ensino de literatura X aluno.

Nesse sentido, a implementação deste projeto resultou numa participação ativa no que diz respeito ao seu planejamento e ao seu desenvolvimento, o que culminou numa prática positiva do letramento literário, princípio adotado como estratégia de ensino desenvolvida por Cosson, efetivando um movimento que propõe ao aluno-leitor que se reconheça como membro ativo de uma comunidade de leitores (COSSON, 2009).

Ainda com relação aos resultados obtidos, ao adotarmos o letramento literário adaptado à seqüência básica de Cosson (2009), seguimos uma proposta sistematizada de ensino-aprendizagem da literatura e, como dito anteriormente no início do artigo, segundo Soares, a questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, mas, sim, não fazer dessa escolarização um simulacro de si mesma que mais nega que confirma seu poder de humanização. (SOARES apud COSSON, 2009, p.23)

É importante ressaltar que, a partir da visão da autora, é fundamental trazer o texto literário para o contexto vivido pelo aluno. Refletimos sobre esse fator como um dado positivo e acreditamos que a primeira perspectiva metodológica sugerida na sequência básica de Cosson, e aqui analisada, diz respeito à ludicidade, e tem o caráter de ”aprender fazendo”. Assim, consideramos que as oficinas realizadas fizeram parte dessa primeira perspectiva, para dar conta de adotar uma nova forma de enfocar o texto

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literário, no sentido de efetivamente propiciarmos ao aluno a oportunidade de produzir os seus haicais e haigas.

Com relação à segunda perspectiva do método compreendido no letramento literário, realizamos o que Cosson denomina andaime, ou troca de conhecimento entre o docente e o aluno. Neste sentido, entendemos que neste momento aconteceu o compartilhamento do conhecimento literário através das atividades desenvolvidas, como as pesquisas e o desenvolvimento de projetos por parte dos alunos.

Por fim, na terceira perspectiva na proposta de Cosson (2009), por ele chamada de portfólio, tornou-se possível o registro das diversas atividades realizadas no curso e que encadearam a implementação desenvolvida ao longo da duração do projeto. Ao registrar, temos a possibilidade de comparar conhecimentos adquiridos e ampliados dos resultados iniciais com os finais, tanto referentes a cada aluno, quanto a cada turma como um todo.

Nossa atividade final ocorreu numa noite literária em que os alunos declamaram poesias e apresentaram números de danças e de músicas à comunidade escolar como forma de divulgar e de valorizar o que eles aprenderam durante vários meses, referente ao estudo dos poetas contemporâneos do Paraná. Esta atividade de conclusão culminou com a cerimônia do chá, servido a todos os convidados após a apresentação das produções textuais dos alunos, atingindo, dessa forma, o nosso objetivo. Acreditamos que esta prática literária, seja pela sua leitura ou pela produção textual, explorou potencialidades linguísticas e proporcionou ao aluno-leitor uma experiência de ampliação de sua capacidade leitora e interpretativa, bem como, por conseguinte, de letramento literário.

Sabemos que este é mais um dos caminhos possíveis e viáveis, "pintar estrelas no muro", como dito pela poetiza Helena Kolody no início do artigo, ou em haicais poderá ser uma maneira de instigar nos alunos a compreensão, o gosto e a produção desse gênero literário. Esperamos que este trabalho possa contribuir, através da socialização desta grata experiência, estendendo-se aos professores (PDE) e àqueles que se interessam e acreditam numa prática mais expressiva do Ensino de Literatura.

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5. REFERÊNCIAS

 

BONINI, Estela. Haicais para Van Gogh. 2. ed. São Paulo: Aliança Cultural Brasil, 1995. BORDINI, M. da G.; AGUIAR, V. T. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 1993. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira: São Paulo: Cultrix, 2006. BRASIL.Secretaria de Educação Média e Tecnológica. (1999). Parâmetros curriculares nacionais: Ensino Médio. Brasília, DF: MEC. CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura, v. 24, n. 9, 1972. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009. EAGLETON, Terry. A idéia de cultura. Lisboa: Actividades Editoriais, 2003. FERREIRA, L. S. Produção de leitura na escola: a interpretação do texto nas séries iniciais. Ijuí, RS: Ed. UNIJUÍ, 2001. ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo, 1999. JAUSS, H. R. O prazer estético e as experiências fundamentais da poiesis, aisthesis e katharsis. In: Jauss H. R. et al. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Coordenação e tradução de L. Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 63-82. JAUSS, Hans Robert. Estética da recepção: colocações gerais. In: A literatura e o leitor - Textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. KOLODY, Helena. Haikais, Curitiba, Criar Edições, 2001. LEITE, Ligia Chiappini Moraes. Invasão da catedral: literatura e ensino em debate. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Diretrizes curriculares do ensino médio. Curitiba: 2008. ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

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 6. REFERÊNCIA NA WEB:  RUIZ, A. Entrevista ao Diário de Iguape. Disponível em:

http://diariodeiguape.com/2010/06/17/brasil-so-perde-para-o-japao-na-

producao-de-poesia-hai- kai-diz-alice-ruiz/. Acesso em abril de 2011.

 LUCENA, Marcelo. Ministério da Cultura. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/site/2008/01/17/brasileiro-le-18-livro-ao-ano/. Acesso em junho 2011.