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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Versão Online ISBN 978-85-8015-037-7Cadernos PDE
2007
VOLU
ME I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
ANA ZAPOROSZENKO
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA – RECURSOS DIDÁTICOS E DE EXPRESSÃO
Maringá
2008
2
ANA ZAPOROSZENKO
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA – RECURSOS DIDÁTICOS E DE EXPRESSÃO
Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2007, como requisito parcial para conclusão da participação no programa.
Orientadora: Profª. Ms. Gizeli Aparecida
Ribeiro de Alencar
Maringá
2008
3
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA – RECURSOS DIDÁTICOS E DE EXPRESSÃO
RESUMO
A comunicação é fundamental na vida de todas as pessoas, como via de interação com o outro e como forma de adquirir o conhecimento. Os paralisados cerebrais, na maioria dos casos, evidenciam dificuldades em exprimir-se oralmente, por apresentarem problemas motores associados a seu comprometimento cerebral. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi apresentar um trabalho pedagógico alternativo desenvolvido na Escola de Educação Especial Albert Sabin, de Maringá – PR, no primeiro semestre de 2008, com uma criança paralisada cerebral seriamente comprometida em suas habilidades motoras e de linguagem. Nele procurou-se disponibilizar a essa criança um instrumento que lhe possibilitasse a comunicação e expressão e a apropriação do conhecimento. Na pesquisa adotou-se como referencial teórico a Teoria Histórico-Cultural. Para o desenvolvimento da pesquisa, as estratégias empregadas incluíram a observação sistemática e a intervenção intencional. O material empregado se constituiu de cartões pictográficos pertinentes ao conteúdo específico objeto do processo de ensino/aprendizagem desenvolvido. Dentre os resultados alcançados destaca-se o reconhecimento, por parte do sujeito da pesquisa, de fotos e figuras de forma compreensível, denotando estar preservado o seu potencial intelectual. Palavras-chave: Comunicação alternativa. Paralisia cerebral. Conhecimento.
ABSTRACT
Comunication is fundamental in the life of all people as a way of interaction with the others as well as a way of getting knowledge. Mental paralised people, in most of the cases, show difficulty of oral expression, since they present motor problems associated to the cerebral problem. Thus the finality of this study, wich was realized in Educational School Albert Sabin in Maringá, in the first semester of 2008, was to show an alternative pedagogic work developed with the help of a child with mental paralysis, seriously demaged in relation to his motor and lingual hability. We tryed by this proposition give to the searched person an instrument that allows him to communicate, to express himself and to acquire knowledge. The theoric reference adopted in this research is based on the authors of the historic-cultural boarding. For the research development, the employed strategics included sistematic observation and intentional intervention. The employed material was composed by pictoghraphed cards appropriated to the content in which the student is inserted. Among the reached results detaches the recognization of the pictures and photos by the student comprehensibly, denoting his preserved intelectual. By this oportunity the analysed child evidenced his notable intelectual potency. Key words: Alternative Communication. Mental Paralysis. Knowledge.
4
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA – RECURSOS DIDÁTICOS E DE EXPRESSÃO
Ana Zaporoszenko1 Gizeli Alencar2
INTRODUÇÃO
O Brasil vive neste momento a execução da proposta de inclusão escolar. Entre
os desafios que se impõem ao sucesso da proposta está o de assegurar a interação
efetiva entre a criança especial e os demais alunos das escolas regulares. Como pode a
escola regular atender os alunos com necessidades especiais que apresentam
dificuldades motoras e de expressão?
Vêm sido realizados estudos em busca de formas alternativas que possam
auxiliar indivíduos comprometidos em sua comunicação e já foram desenvolvidas
estratégias para minimizar as dificuldades do aluno com deficiência motora e de
linguagem. Destaca-se, nessa via, a tecnologia assistida, que oferece condições para um
atendimento adequado a essa clientela e viabiliza sua participação no processo
educativo. Trata-se do projeto denominado Comunicação Alternativa e Ampliada
(C.A.A.).
Por meio da C.A.A., uma das áreas da tecnologia assistida, os profissionais que
atuam com alunos que apresentam dificuldades na comunicação podem dispor de uma
proposta didático-pedagógica na qual é possível elaborar materiais capazes de subsidiar
não só a comunicação, mas também a alfabetização.
Dentre as pessoas que necessitam de C.A.A., paralisados cerebrais ou com outras
deficiências que comprometam seu quadro motor, destacam-se as crianças com paralisia
cerebral, as quais apresentam comprometimentos físicos diversos, alguns leves, outros
mais severos. Em muitos casos, a lesão, no que tange aos aspectos cognitivos, é pouca
ou nula (CAPOVILLA 1997), mas a disfunção neuromuscular associada às alterações ou
à incapacidade de articulação da fala compromete o desenvolvimento, a aquisição de
conhecimentos e, por conseguinte, as interações sociais.
1 Profª. Da Escola de Educação Especial Albert Sabin, Maringá, Participante do PDE, Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. 2 Profª. Mestre da Universidade Estadual de Maringá, UEM. Orientadora do PDE.
5
Para a realização de um trabalho pedagógico efetivo com esses alunos
desprovidos da capacidade de falar é necessário buscar formas de comunicação que
possibilitem estabelecer um elo entre o aluno e o meio que o cerca. Para tanto, é
necessário dispor de metodologias, instrumentos e recursos que favoreçam a
comunicação e a expressão.
Neste contexto, a comunicação alternativa e ampliada configura-se pela
utilização de gestos, língua de sinais, expressões faciais, pranchas de alfabeto ou
símbolos pictográficos, alfabeto móvel, cadernos com alfabeto, cadernos em madeira,
sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada (Glennen, 1997) e adaptações
em computador.
Segundo Johnson (1999, p. 6), “a Comunicação Alternativa e Ampliada” refere-
se aos recursos, estratégias e técnicas que complementam modos de comunicação
existentes ou substituem as habilidades de comunicação inexistentes. Assim sendo,
C.A.A. é toda forma de comunicação utilizada pelo indivíduo para se fazer entender
quando lhe falta a linguagem oral.
Acreditamos que com recursos adaptados o aluno com necessidades especiais
poderá participar com melhor desempenho no processo de ensino-aprendizagem e ter
acesso ao conteúdo sistematizado.
Não se pode negar que a ausência de uma linguagem interfere tanto nas
interações sociais como na aquisição de sistemas simbólicos mais complexos, como
leitura, escrita e matemática.
À luz do que foi colocado, o presente estudo, baseado no método experimental,
tem por objetivo auxiliar professores de escolas regulares e especiais em seu trabalho
pedagógico mediante uma experiência desenvolvida com um aluno da capacidade de
falar. Para tanto, o trabalho consistiu em uma breve fundamentação teórica sobre
paralisia cerebral, comunicação, comunicação alternativa e ampliada e na apresentação
do estudo de caso desenvolvido.
PARALISIA CEREBRAL
A paralisia cerebral, de acordo com a literatura especializada, é entendida como
uma doença resultante de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter
não-progressivo, mas permanente, que atinge o desenvolvimento motor, podendo
ocorrer ao longo do desenvolvimento intra-uterino, durante o parto ou ainda na primeira
6
infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e
movimentos associados a tônus postural anormal. A lesão, que atinge o cérebro quando
se encontra ainda em desenvolvimento, interfere no desenvolvimento motor da criança
(BOBATH, 1979).
Muitos autores consideram inadequado o termo paralisia cerebral, por sugerir
um quadro de parada total de atividade física e mental, que não é o caso apresentado, e
preferem o termo Encefalopatia Crônica Não Progressiva ou Não Evolutiva. Esse
termo evidencia o caráter persistente, mas não-evolutivo da deficiência, embora as
manifestações clínicas possam mudar com o crescimento ou algum fator de
agravamento. Assim sendo, a lesão cerebral pode comprometer a locomoção, a postura,
o movimento, o uso das mãos, a linguagem e outras atividades ou funções. Dizendo de
outra forma, os movimentos podem ser limitados, pode ocorrer espasticidade e falta de
marcha, e a linguagem oral pode ser deficitária ou inexistente. Embora a cognição nem
sempre fique comprometida, em alguns casos a lesão do sistema motor pode afetar o
cérebro, originando a deficiência mental.
Algumas crianças com paralisia cerebral podem também apresentar problemas
visuais, como estrabismo, hipermetropia, catarata, corioretinite e fibroplasia, além de
problemas auditivos e distúrbios perceptivos motores e táteis, mas nem sempre esses
quadros estão presentes conjuntamente. Além do atendimento pedagógico adequado,
essas crianças necessitam de acompanhamento constante da área da saúde. As crianças
com paralisia cerebral não devem ser assim rotuladas apenas por seu deficit motor, pois
sendo estimuladas adequadamente, poderão realizar atividades diárias normais,
freqüentar escola e trabalhar.
A avaliação tanto educacional quanto da saúde deve ser cuidadosa, pois a
criança, quando impossibilitada de se expressar, pode não responder adequadamente aos
testes realizados por professores, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos ou outros
profissionais. O diagnóstico da paralisia cerebral deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar o mais precocemente possível e a criança afetada por essa deficiência
deve receber acompanhamento médico e escolar adequado para que possa ser trabalhada
e estimulada o quanto antes.
7
COMUNICAÇÃO
Segundo Nunes (2002), a comunicação é uma necessidade básica entre os
homens. Faz-se necessária nas relações sociais, constituindo-se num aspecto
fundamental para a sobrevivência. A criança, desde seu nascimento, faz uso do choro ou
do riso para expressar suas vontades. Aprende a falar aos poucos, utilizando-se de
gestos e postura, mantendo assim contato com outras pessoas e tornando-se ativa em
seu meio.
Com efeito, a comunicação se refere a comportamentos sinalizadores que
ocorrem na interação de duas ou mais pessoas e proporcionam uma forma de criar
significados entre elas (BRYYEN; JOICE, 1985, apud NUNES, 1992).
A linguagem, por sua vez, é entendida como um sistema composto por símbolos
construídos e convencionados socialmente e governado por regras, que representam
idéias sobre o mundo e servem primariamente ao propósito da comunicação (BLOOM;
LAHEY, 1978 apud NUNES, 1992).
A fala, nesse sentido, é apenas um dos veículos possíveis da linguagem, embora
seja, de longe, o mais freqüentemente usado. A língua de sinais, a escrita e o sistema
Bliss são exemplos de formas alternativas à linguagem oral (McCORMICK;
SCHIEFELBUSCH, 1984, apud NUNES, 1992).
Cumpre frisar que a capacidade de usar a linguagem torna-se essencial não só
para a aquisição dos demais sistemas simbólicos - leitura, escrita e matemática - mas
também para o desenvolvimento de habilidades de relacionamento interpessoal. Quando
a criança não desenvolve a linguagem oral sob as contingências naturais de sua
educação, muitos aspectos de sua vida são adversamente afetados (WARREN;
KAISER, 1988; SCHUMAKER; SHERMAN, 1978 apud NUNES, 1992).
Vygotsky (1988), em sua teoria, enfatiza o papel da aprendizagem no
desenvolvimento do indivíduo, valorizando a escola, o professor e a intervenção
pedagógica. Dessa forma, em sua concepção, a aprendizagem resulta de um processo
complexo, no qual estão incluídas inúmeras variáveis, como aluno, professor, contexto
escolar, família, concepção teórica, organização curricular e outras.
Nem todos os alunos aprendem do mesmo modo, ao contrário, a aprendizagem
ocorre de forma específica em cada indivíduo. É necessário criar formas para atender às
dificuldades individuais de cada educando a partir de suas potencialidades e de seus
saberes, dando-lhe condições de adquirir o conhecimento.
8
Sem poder se expressar, o indivíduo comprometido em sua comunicação tem
reduzidas as suas possibilidades de manifestação e minimizado o seu universo, o qual se
torna restrito e individualizado. Nessa condição a pessoa não tem como explorar,
socializar-se, buscar novas experiências e interagir com o meio, e a falta de informação
dificulta-lhe a aquisição de conhecimentos.. Assim sendo, cumpre à escola e ao
professor buscar meios que propiciem a esse indivíduo maneiras de interagir e o
estimulem a adquirir o conhecimento.
COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E AMPLIADA
O termo Comunicação Alternativa e Ampliada (C.A.A.), de acordo Glennem
(1997), é definido como um conjunto de formas de comunicação que não a modalidade
oral, como o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de
alfabeto, símbolos pictográficos, uso de sistemas sofisticados de computador com voz
sintetizada, dentre outras.
Dessa forma, a comunicação é considerada alternativa quando o indivíduo não é
capaz de usar a forma mais comum de comunicação, que é a linguagem oral, e é
considerada ampliada quando ele possui alguma forma de comunicação, mas, por algum
motivo, esta não é suficiente para manter elos comunicativos e estabelecer trocas
sociais.
Vários são os sistemas de CAA disponíveis. Os profissionais da educação e
saúde podem optar por recursos de baixa tecnologia ou de alta tecnologia.
Os recursos de baixa tecnologia são mais acessíveis financeiramente e
possibilitam a comunicação quando inexiste a linguagem oral, configurando-se em
gestos manuais, expressões faciais, código Morse e signos gráficos como a escrita,
desenhos, gravuras, fotografias. Podem ser também utilizados o sistema de símbolos
Bliss, o Pictogram Ideogram Communication System – PIC - e o Picture
Communication Symbols – PCS.
Os símbolos utilizados nesses sistemas podem ser trabalhados em pranchas,
painéis, carteiras ou outra forma acessível a quem as utilize.
Os recursos de alta tecnologia são sistemas de comunicação mais sofisticados,
com utilização do computador, como: Bliss-Comp, PIC-Comp, PCS-Comp
ImagoAnaVox, Comunique, dentre outros.
9
CLASSIFICAÇÃO DOS SÍMBOLOS A SEREM UTILIZADOS
Os símbolos são as formas de representação de objetos, pessoas, ações, relações
e conceitos. São utilizados para expor pensamentos e conceitos concretos ou abstratos.
Podem ser acústicos, gráficos, gestuais ou táteis, ou constituir-se de expressões faciais
ou visuais e movimentos corporais.
A comunicação por símbolos pode ser classificada em comunicação assistida e
não assistida (LLOYD, QUIST e WINDSOR, 1990, apud NUNES 2002).
Para a comunicação não assistida não são necessários símbolos na reprodução do
pensamento, apenas o corpo do indivíduo; já na comunicação assistida, o indivíduo
necessita de materiais como objetos, palavras escritas, fotografias e outros recursos para
se comunicar.
A comunicação assistida é ainda entendida como estática e permanente. Na
comunicação estática e permanente podem ser usados recursos como objetos, código
Morse, figuras diversas, símbolos Bliss, PIC, alfabeto escrito, Braille, os quais podem
ser explorados de forma dinâmica - por meio de mímica, voz digitalizada, língua de
sinais ou meios computadorizados.
Cada cultura percebe o significado dos símbolos através de sua iconicidade,
podendo eles ser translúcidos, transparentes ou opacos. Os símbolos translúcidos estão
relacionados a referentes específicos ou ideográficos (conceito), sendo colocados em
forma de símbolos pictográficos. Os transparentes, por sua vez, são colocados em forma
de miniaturas de objetos, fotografias, pictografias, de maneira que mantenham
semelhança física com o objeto a que se referem. Já os símbolos opacos necessitam de
ensino, pois não são claros, ou seja, não são legíveis, podendo ser representados por
convenções sociais e referir-se a objetos ou a conceitos (NUNES, 2002).
ALUNOS QUE NECESSITAM DA COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E
AMPLIADA
A C.A.A. pode ser utilizada com a população de paralisados cerebrais, pessoas
com deficiência mental e autistas e outras. A comunicação alternativa aqui apresentada
pretende atender a todas as deficiências, já que o material visual, além de subsidiar as
questões lingüísticas, pode também contribuir para a aquisição de conhecimentos de
10
forma geral, pois o educando com necessidades especiais trabalhado adequadamente
pode compreender o mundo que o cerca.
Assim, a população que necessita de formas alternativas de comunicação, de
acordo com Nunes (2002), pode valer-se de um dos seguintes tipos de linguagem:
1. Linguagem expressiva;
2. Linguagem de apoio;
3. Linguagem alternativa.
O primeiro tipo interessa aos indivíduos que compreendem a linguagem oral,
mas, por terem dificuldades na fala decorrentes de problemas fonoarticulatórios, devem
recorrer a outras formas de comunicação.
Já o segundo tipo se aplica a indivíduos com atraso no desenvolvimento da fala
que apresentam dificuldades, como os paralisados cerebrais, pessoas com Síndrome de
Down e outros, que podem utilizar-se temporariamente de recursos alternativos de
comunicação apenas para alcançarem-na.
A linguagem alternativa deve ser desenvolvida para suprir as dificuldades de
indivíduos com grande defasagem na comunicação, como autistas, pessoas com
deficiência mental severa e surdos.
AVALIANDO O ALUNO
É notório que crianças, adolescentes e adultos com necessidades de CAA
apresentam níveis diversificados de competência lingüística. É necessário conhecer o
aluno antes de introduzir um sistema de CAA, o qual deve ser elaborado com base
numa avaliação que defina a capacidade do aluno de estabelecer elos comunicativos.
Assim, o professor, juntamente com equipe pedagógica, quando a houver,
deverá avaliar o aluno para definir qual sistema de comunicação pode ser mais útil e
funcional em sua situação, verificando aspectos como competências lingüísticas, formas
de expressão, habilidades físicas, emocionais e cognitivas, autonomia pessoal, nível de
conhecimento e problemas de comportamento.
Competências lingüísticas: Verificar a capacidade de comunicação em
diferentes contextos com diferentes pessoas;
Formas de expressão: Verificar como o aluno se expressa e se compreende
o que os outros expressam.
Ex. O aluno entende tudo o que você fala?
11
Ele puxa pela mão e leva até o objeto/lugar de interesse, emite
sons, usa determinados lugares para expressar alguma
necessidade?
Lembre-se: é difícil obter uma idéia clara do nível de compreensão.
Há muito exemplos em que se atribui um elevado nível de
compreensão a crianças/jovens, na realidade, quando são
avaliados, demonstram não compreender as palavras, mas sim os
gestos que as acompanham ou outros dados específicos da
situação.
Formas não verbais auxiliam na compreensão da linguagem oral;
Habilidades:
1. Físicas: Avaliar a acuidade auditiva e visual, habilidades motoras
(preensão, manual, flexão e extensão dos membros superiores),
habilidades perceptivas, dentre outras;
2. Emocionais: Com quem o sistema será utilizado? pais,
professores, amigos;
3. Cognitivas – verificar nível de escolaridade, compreensão, por
parte dos alunos dos acontecimentos cotidianos;
Competências de autonomia pessoal;
Nível geral de conhecimento;
Problemas de comportamento.
DEFININDO O SISTEMA A SER UTILIZADO
O professor deverá optar por um sistema de CAA considerando as condições de
ser usado pelo aluno conforme avaliação realizada.
Após a avaliação o professor decidirá qual o recurso mais adequado para sua
situação, sugerindo-se, entre outros possíveis, os seguintes:
sistema de baixa tecnologia composto por fotografias, figuras, desenhos;
sistema composto por objetos concretos em miniaturas;
comunicação gestual;
sistema de alta tecnologia (pictográficos, ideográficos);
sistemas PIC, computadorizado, Bliss, entre outros;
12
sistemas combinados;
ortografia.
Tanto a avaliação quanto a escolha do recurso a ser utilizado são de suma
importância, pois evidenciarão as habilidades já existentes no aluno, bem como seu
potencial de utilização.
DISPOSIÇÃO DO SISTEMA DE COMUNICAÇÃO
O artefato onde o professor dispõe o sistema de comunicação é denominado
prancha de comunicação. As pranchas de comunicação podem ser construídas com
materiais simples, como cadernos, álbuns, quadros de pregas, flanelógrafo, painel de
alumínio para fixar cartões com imãs, pastas, coletes, aventais, livros, fichários tipo
pasta-arquivo, cavalete de pintura, cartões fixos em chaveiros e outros. (JOHNSON,
1998). Nelas é possível expor figuras, números, símbolos, letras, palavras. As pranchas
devem ser personalizadas de acordo com as possibilidades de ação do aluno, ou seja,
com sua condição motora (ALENCAR, 2002).
Seguem-se exemplos de pranchas de comunicação.
Figura 1: Pasta porta cartão de crédito com símbolos
Figura 2: Painel de alumínio com imãs para fixar cartões
13
Figura 3: Imagem capturada no site: www.comunicacaoalternativa.com.br
Figura 4: Imagens do programa Boardmaker para compor sistema de comunicação na carteira do aluno ou na cadeira de rodas
Figura 5: Prancha de comunicação para atividades matinais (pode ser colocado em pastas)
Figura 6: Imagem do programa Boardmaker
Os cartões que compõem o sistema de comunicação devem ficar em local de
fácil acesso para o aluno, por exemplo, na carteira, em caixas de sapato, na mesa do
professor ou outros.
O QUE O SISTEMA DEVE COMUNICAR
Após a avaliação, o professor deverá identificar tanto as necessidades básicas e
reais dos alunos quanto as suas necessidades comunicativas mais imediatas, para, em
um momento posterior, buscar atender a outras.
Recomenda-se que o professor elabore uma lista para registrar as necessidades
comunicativas de seu aluno. Após a identificação das necessidades básicas, o professor
deverá selecionar imagens (se possível, juntamente com o aluno), para compor o
sistema. As imagens selecionadas (fotos, recortes de revistas, encartes, jornais,
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desenhos) devem retratar o objeto, ou seja, o aluno tem que reconhecer nela (imagem) o
que de fato quer expressar ou comunicar.
OBJETIVOS
Geral:
O estudo teve como objetivo geral oferecer ao professor de aluno(s)
comprometido(s) fisicamente por dificuldade de comunicação uma forma que
lhe possibilite se comunicar de maneira expressiva.
Específicos;
implementar um sistema pictográfico de comunicação para subsidiar o processo
de aquisição de conhecimentos por parte de uma criança acometida de paralisia
cerebral;
identificar as imagens apresentadas no material de comunicação alternativa e
ampliada;
propiciar ao aluno o uso das imagens como meio de comunicação;
Oferecer ao professor a possibilidade de usar as imagens em atividades
pedagógicas dirigidas.
METODOLOGIA
As informações foram coletadas por meio de diagnóstico fornecido pela escola e
observação em sala. De acordo com diagnóstico efetuado pela equipe multidisciplinar
da escola e profissionais médicos, o aluno participante da pesquisa era paralisado
cerebral com alto grau de dificuldade motora. Sentado em sua cadeira de rodas
adaptada, permanecia com as pernas dobradas, encolhidas. Constantemente entrava em
padrão, tendo espasmos musculares, virando a cabeça para o lado direito e, dessa forma,
perdendo o foco de visão. Com esse quadro motor, apresentou dificuldade em selecionar
as figuras trabalhadas. Ele desejava apreender o cartão com os dedos dos pés para
contemplá-lo, mas o comprometimento físico apresentado não lhe permitia fazê-lo.
Dessa forma, para a identificação da imagem ele usava os pés, levantando a perna
esquerda para expressar o SIM e a direita para expressar o NÃO. Tinha visão lateral
15
direita dos cartões que lhe eram apresentados pelo experimentador. Essa foi a melhor
opção encontrada para a realização do trabalho.
A seleção das imagens foi realizada a partir de informações advindas da família
e da observação do aluno, e ainda de sugestões da professora de sala e da pesquisadora.
Nessa sistematização, focou-se a apresentação de atividades que possibilitam o
trabalho com o paralisado cerebral com dificuldades específicas de comunicação. Os
cartões empregados contemplaram as categorias de:
- necessidades básicas: água, comer, banheiro, banho, lanche, escovar os dentes,
pentear o cabelo, lavar as mãos, dormir, café, fazer barba, janta, roupa limpa, brincar,
descansar;
- roupas e acessórios: tênis, boné, meia, calça, sapato, vestido, bolsa, anel, blusa, touca,
luva, saia, cueca, shorts, camiseta, camisa, bermuda, colar;
- animais: macaco, leão, urso, pingüim, zebra, elefante, pato, galinha, pombo, porco,
cachorro, passarinho, boi, peixe, quati, lagarto, formiga, jacaré, girafa, gato, barata,
cobra, cavalo, sapo;
- escola: tesoura, leitura, estudar, escrever quadro, lápis, estojo, borracha, régua,
rabisco, caderno, lápis de cor, giz de cera, mochila, mesa, cadeira, prancha, cola, sulfite,
apagador, recorte, mural, computador, educação física, livro;
- brinquedos: bola, boneca, carrinho, ursinho, ioiô, encaixe, viola, fantoche, máscara,
Papai Noel, porquinho, fazendinha, arco, dominó, vídeo-game, trenzinho, boliche, dado,
casinha, baralho, quebra-cabeça, corda;
- alimentos: cachorrão, óleo, banana, morango, pão, catchup, mamão, pimenta,
cenoura, chocolate, bolo, carne, peixe, biscoito, bolacha, chocolate quente, pipoca,
queijo, suco, ovo, abacaxi, alface, arroz, sorvete, maçã, melão;
- pessoas: mãe, avó, irmã menor, irmã maior, irmão, professora de sala, fonoaudióloga,
fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicóloga, diretora, supervisora, professora da
sessão - PDE, motorista, cozinheira, atendente;
- frutas (laranja, mamão, melão, goiaba, jaca, pêssego, morango, abacaxi, manga, uva,
melancia, coco, banana, castanha, limão, mexerica, pêra, caqui, jabuticaba, carambola,
maracujá;
- partes do corpo: (braço, nariz, mão, joelho, perna, orelha, queixo, olho, língua, dente,
pé, boca, cabelo, umbigo, lábios, cotovelo, dedo).
16
Os cartões apresentados foram confeccionados em cartolina-americana,
apresentando a medida de 17x21cm e a imagem de 10x11cm. Para representar classes
de palavras ou estórias usaram-se cores, como colocado abaixo:
- cartão vermelho - substantivos;
- cartão verde – verbos;
- cartão azul – adjetivos;
- cartão branco – artigos;
- cartão amarelo – histórias.
Após esse momento inicial, apresentava-se uma imagem e dizia-se o nome
correspondente a ela. Em seguida, mais um cartão era apresentado solicitando-se ao
aluno que apontasse a imagem solicitada. Devido ao grave comprometimento motor
apresentado pelo aluno, os cartões, que a princípio poderiam estar expostos em quadro
imantado para a visualização e identificação, passaram a ser segurados à sua direita,
onde o foco de visão do aluno, por ser lateral, era melhor, especialmente quando entrava
em espasmos musculares, o que ocorria constantemente.
IDENTIFICAÇÃO/RECONHECIMENTO DO SISTEMA
Para a intervenção foi utilizado um sistema de baixa tecnologia, consistente de
cartões contendo imagens variadas, referentes à rotina domiciliar e escolar vivenciada
pelo aluno. Os cartões foram extraídos de material didático organizado pela
pesquisadora em caderno pedagógico. Esse caderno foi disponibilizado em página da
SEED-PR, podendo ser utilizado por professores da educação regular e especial com
alunos que apresentam dificuldades na fala. Nessa sistematização focou-se a
apresentação de atividades que possibilitam o trabalho com o paralisado cerebral com
dificuldades específicas de comunicação.
Iniciando-se o trabalho foram apresentados os cartões por categoria, para que o
aluno pudesse identificar as imagens e fazer seu reconhecimento. Cada categoria foi
apresentada em duas sessões, em dias alternados. O aluno observava as figuras
lateralmente, sendo-lhe solicitada determinada gravura. Era necessário indagar-lhe qual
fora a pedida, ao que ele respondia levantando a perna esquerda para significar SIM se
fosse a correta. Não emitia sons, pois não apresentava dispositivos de fala, apenas
sorria, especialmente em seus acertos, demonstrando prazer, felicidade.
Abaixo são apresentadas algumas imagens do trabalho efetuado.
17
RESULTADOS
Os resultados quantitativos em relação ao desempenho do participante que este
apresentou nas categorias necessidades básicas, roupas e acessórios, animais, escola,
brinquedos, alimentos, pessoas, frutas e partes do corpo podem ser visualizados nos
quadros abaixo.
NECESSIDADES BÁSICAS
12
3
14
1
0
2
4
6
8
10
12
14
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
18
ESCOLA
21
3
24
0
5
10
15
20
25
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
ACERTOS
ROUPAS E ACESSÓRIOS
18 18
02468
1012141618
1ª Sessão 1ª tentativa 2ª Sessão 1ª tentativa
ACERTOS
19
BRINQUEDOS
17
5
21
10
5
10
15
20
25
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
ANIMAIS
19
5
21
3
0
5
10
15
20
25
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
20
ALIMENTOS
21
5
24
2
0
5
10
15
20
25
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
PESSOAS
14
2
15
102468
10121416
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
21
FRUTAS
16
5
19
2
02468
101214161820
1ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
2ªSessão
1ªTentativa
2ªTentativa
ACERTOS
CORPO HUMANO
17 17
02468
1012141618
1ª Sessão 1ª Tentativa 2ª Sessão 1ª Tentativa
ACERTOS
22
Em todas as categorias constatou-se que já na 1ª sessão o desempenho
ultrapassou 75% de acertos.
Os resultados indicaram elevação dos níveis de acerto na segunda sessão, em
todas as categorias.
A maior dificuldade em utilizar o sistema deveu-se ao comprometimento motor,
como ilustram as figuras abaixo:
Na trajetória desenvolvida pôde-se observar o envolvimento do aluno, o qual
demonstrou interesse em participar e mostrar sua capacidade de forma natural. O
sucesso do aluno nos resultados, que pôde ser notado desde sua disposição em participar
até o final do trabalho, possibilitou-lhe atingir um maior conhecimento, fato que sugere
ser importante dar continuidade a essa proposta.
CONSIDERAÇÕES
O aluno participante da pesquisa, mesmo tendo consideráveis dificuldades
motoras, apresenta bom nível de compreensão. Em nosso entendimento, alguns
objetivos devem ser perseguidos com essa criança nas próximas etapas de seu processo
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de aprendizagem e desenvolvimento das habilidades comunicativas. Dentre esses
destacamos primeiramente, as habilidades de expressão, percepção, coordenação
motora, habilidades matemáticas como a classificação de objetos, além de outros. Em
complemento a essas habilidades apontamos a necessidade de aquisição da língua
escrita. A escrita se constitui em uma ferramenta vital para sujeitos que vivem em uma
sociedade letrada. Por meio de recursos tecnológicos, a escrita facilitaria a adoção de
recursos tecnológicos avançados como estratégia para tornar cada vez mais eficiente a
comunicação do sujeito em estudo.
Mesmo em um programa de intervenção relativamente curto (1º semestre-2008),
os dados mostraram que o uso da comunicação alternativa é eficiente tanto para dar voz
ao aluno como para ampliar seu repertório comunicativo.
O sistema possibilita, além do desenvolvimento das funções básicas da
comunicação (como solicitar objetos e outras), a ampliação do sistema, com a ajuda de
mediador, de sentenças mais elaboradas, de alfabetização, de trabalhos com literatura e
outros meios.
Não obstante, tanto a implementação desse recurso como a própria proposta de
inclusão constituem-se em desafios à tarefa de oferecer condições de desenvolvimento
às pessoas com necessidades especiais. Nessa interface, há o desafio metodológico de
verificar se o procedimento assistido, seja ele qual for, com a aplicação de seus
instrumentos diferenciados responde qualitativa e pedagogicamente às necessidades dos
alunos.
Espera-se que os resultados aqui demonstrados possam inspirar e subsidiar as
práticas pedagógicas dos profissionais da educação e abrir caminhos para novas
possibilidades de intervenção e investigação no campo das dificuldades severas da
comunicação.
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