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Rio de Janeiro: 40 graus de violência e as políticas de segurança. Folha de São Paulo 22 de novembro de 2010. Rio tem série de arrastões O Rio de Janeiro sofreu uma série de arrastões ontem. Um deles aconteceu por volta das 20h nas imediações do Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Estado. Em um Peugeot, quatro homens armados com pistolas fecharam a rua Presidente Carlos Campos, no bairro Laranjeiras, e roubaram bolsas e relógios de ocupantes de três veículos. Na rua Bogari, na Lagoa, quatro homens também armados abordaram três carros por volta das 22h e levaram até as chaves dos veículos. No começo da tarde, o arrastão foi na Linha Vermelha, uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Seis homens armados com fuzis fecharam a pista na altura do km 14, sentido centro, atearam fogo em dois veículos e roubaram pertences dos ocupantes de outros dois. O arrastão ocorreu nas imediações da favela Vigário Geral (zona norte) e perto de uma unidade da Aeronáutica. Um Fiat Doblô da Diretoria de Materiais Aeronáuticos e Bélicos, da Aeronáutica, foi metralhado durante o arrastão, mas ninguém se feriu. Os bandidos fugiram e não tinham sido localizados até 17h. O Rio de Janeiro enfrenta arrastões em série, desde o fim de setembro. O problema tem sido atribuído à implantação de Unidades de Polícia Pacificadora em parte das favelas, com a consequente expulsão de integrantes das quadrilhas de traficantes. 23 de novembro de 2010 Rio atribui arrastões a traficantes “emburrados” Pela primeira vez desde o começo da onda de arrastões e incêndios de carros iniciada em setembro na cidade, a cúpula da Segurança Pública do Rio atribuiu os ataques a ação orquestrada por uma única facção criminosa. Para as autoridades, os crimes são uma reação às UPPs

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Rio de Janeiro: 40 graus de violência e as políticas de segurança.

Folha de São Paulo

22 de novembro de 2010.Rio tem série de arrastõesO Rio de Janeiro sofreu uma série de arrastões ontem. Um deles aconteceu por volta das 20h nas imediações do Palácio das Laranjeiras, sede do governo do Estado.Em um Peugeot, quatro homens armados com pistolas fecharam a rua Presidente Carlos Campos, no bairro Laranjeiras, e roubaram bolsas e relógios de ocupantes de três veículos.Na rua Bogari, na Lagoa, quatro homens também armados abordaram três carros por volta das 22h e levaram até as chaves dos veículos.No começo da tarde, o arrastão foi na Linha Vermelha, uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Seis homens armados com fuzis fecharam a pista na altura do km 14, sentido centro, atearam fogo em dois veículos e roubaram pertences dos ocupantes de outros dois.O arrastão ocorreu nas imediações da favela Vigário Geral (zona norte) e perto de uma unidade da Aeronáutica.Um Fiat Doblô da Diretoria de Materiais Aeronáuticos e Bélicos, da Aeronáutica, foi metralhado durante o arrastão, mas ninguém se feriu. Os bandidos fugiram e não tinham sido localizados até 17h.O Rio de Janeiro enfrenta arrastões em série, desde o fim de setembro. O problema tem sido atribuído à implantação de Unidades de Polícia Pacificadora em parte das favelas, com a consequente expulsão de integrantes das quadrilhas de traficantes.

23 de novembro de 2010Rio atribui arrastões a traficantes “emburrados”Pela primeira vez desde o começo da onda de arrastões e incêndios de carros iniciada em setembro na cidade, a cúpula da Segurança Pública do Rio atribuiu os ataques a ação orquestrada por uma única facção criminosa.Para as autoridades, os crimes são uma reação às UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) e às transferências de detentos de maior periculosidade para presídios federais.O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, diz que a política de segurança do Estado não vai mudar. "Se o tráfico apostar que vamos desistir, nós dobramos a aposta. Já mandei 40 [para presídios federais] e a fila agora vai andar", disse ele, que chamou os mandantes de "traficantes emburrados" com ações do governo.Apesar de não citar o nome do Comando Vermelho, a ordem para a execução dos crimes, para a PM, vem dos líderes da facção nos presídios e nas favelas.Desde o início do ano, já ocorreram cerca de 50 arrastões -25 desde setembro. No fim de semana, foram pelo menos quatro, um deles contra um carro da Aeronáutica, e outros em regiões como a Lagoa. Ontem, cinco carros foram queimados e uma cabine da PM, metralhada.O governo reforçará o policiamento das linhas Vermelha e Amarela. As ações de final de ano da Polícia Militar foram antecipadas e as folgas reduzidas.

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24 de novembro de 2010Rio investiga união de facções para ataquesOs serviços de inteligência da Polícia do Rio capturaram conversas entre traficantes de duas facções criminosas articulando eventual mega-ação de confronto para o próximo sábado, dia 27, segundo a Folha apurou.O policiamento nas ruas foi reforçado, com os agentes colocados em estado de alerta, e operações foram deflagradas para impedir que o confronto se materialize.Durante a madrugada, dois homens foram presos e dois adolescentes apreendidos com bombas caseiras em Copacabana. A polícia fez incursões em 18 favelas.Nas conversas entre traficantes interceptadas pela polícia aparecem sugestões de atirar contra as sedes dos governos estadual e municipal e lançar explosivos em áreas de grande aglomeração, como shopping centers na zona sul e pontos de ônibus.Foram ventiladas por integrantes das facções criminosas o planejamento de ações para atingir diretamente familiares do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

REUNIÃO DE BANDIDOSNo final de semana, de acordo com informações obtidas pelo serviço de inteligência, um grupo de traficantes da Rocinha, do círculo próximo a Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico no morro da zona sul e maior liderança da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), pernoitou no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, principal área de atuação do Comando Vermelho.Esses traficantes acertaram com Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e Fabiano Atanazio da Silva, o FB, lideranças do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, uma ação conjunta que visa confrontar o governo e as operações da polícia."Temos percebido que pode haver a ligação entre o CV e a ADA", admitiu ontem em entrevista o secretário José Mariano Beltrame.A Secretaria de Segurança rastreia conversas sobre reações do tráfico às chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) com mais intensidade desde agosto. Relatos de informantes e escutas detectaram articulações para uma ação orquestrada de criminosos no dia 2 de outubro, nas vésperas do primeiro turno da eleição. Falava-se de um "show de horror" em locais próximos a comunidades com UPPs e em áreas de grande movimentação da zona sul.

REDUÇÃO DE LUCROA articulação da operação não prosperou, mas a retomada de ações contra as UPPs era esperada pela polícia. As unidades inibem pontos de venda do tráfico e, por consequência, a arrecadação de dinheiro das facções.Esquematizadas como "microempresas", as bocas de fumo têm compromissos como pagamentos semanais -do olheiro ao gerente, incluindo propinas a policiais.Para cumprir essas "obrigações", buscam dinheiro em assaltos e arrastões.A operação policial feita ontem não atingiu o que se considera o centro das operações de confronto, o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro. Nesta última, chegou a haver

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operação nas ruas de acesso, mas sem entrar na favela. São dessas favelas e da Mangueirinha, em Duque de Caxias, que partem os chamados "bondes" para tentar espalhar terror pela cidade, de acordo com investigadores. Por se tratarem dos grupos mais bem armados do Rio, uma ação da polícia nesses lugares pode levar a um número elevado de mortes.

UPPs são passo importante, mas insuficiente para combater crime

PLÍNIO FRAGADO RIO

As UPPs são um importante instrumento para a redução da criminalidade no Rio, mas não são suficientes para fazê-la por si sós.Onde foram criadas, as UPPs têm apresentado bons resultados, medidos por indicadores razoavelmente confiáveis. Persistem vozes que apontam arbitrariedade, violência e achaques por parte da polícia, mas em níveis menores do que antes.Ao reassumir o controle para o Estado, as UPPs aniquilam pontos de vendas de drogas, origem do dinheiro que compra armas necessárias à manutenção das áreas de influência dos traficantes.Resta ao tráfico buscar recursos por meio de outros tipos de crime e, obviamente, insurgir-se contra a continuidade e ampliação das UPPs.Do lado policial, o deficit de homens na tropa dificulta a expansão das unidades em favelas e a ronda nas ruas, necessárias contra a criminalidade cotidiana. Para recrutar homens, a polícia precisa de mais verbas. O investimento total é estimado em R$ 4 bilhões (UPPs, pessoal, veículos e equipamentos).Homicídios e roubos de rua estão em queda, mas enfrentaram picos de alta, mostrando a instabilidade dos resultados obtidos até aqui.Não há solução fácil nem barata para reduzir a criminalidade. Mais planejamento, mais recursos e mais investigação são requisitos mínimos para uma política de segurança eficiente. O Rio progrediu, mas continua muito longe do desejável.

Cartas de presos mostram plano contra as UPPs

DO RIO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CASCAVEL (PR)

No dia 20 de outubro, uma mulher foi presa em flagrante após ser submetida a revista na penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas (487 km de Curitiba). Na sua roupa íntima, foi encontrado um bilhete com planos de ataque no Rio.A Folha teve acesso às cartas, dirigidas a um codinome de um integrante do Comando Vermelho."Eu estou aqui aguardando a UPP. A bala vai come sério [...]. Vamos ficar aqui mesmo entendeu mano. Estou com os bico [fuzis] maneiro", escreveu FB a Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, chefe da facção, preso em Catanduvas."Liberdade pra vc e a rapaziada em geral. Meus irmãos em relação de dá um lance nos

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bruxos [policiais] nas Upps. Esse papo já foi dado nos amigos que estão aqui, na hora ums fecharam e outros não, o lance tem que ser numa só pra abalar tudo não só em algumas, mas vamos dá outro papo neles", escreveu Pezão para VP, sempre de acordo com a interpretação policial. Os textos foram mantidos com a ortografia original.A penitenciária de segurança máxima de Catanduvas vai trocar de comando. A direção da unidade e o Sistema Penitenciário Federal negam que haja relação entre a troca de comando e as cartas.

25 de novembro de 20104º dia de ataques tem 31 veículos queimadosNo quarto dia da onda de ataques criminosos no Estado do Rio, 19 pessoas foram mortas, quatro delas durante ação do Bope na Vila Cruzeiro (zona norte), considerada o principal reduto de traficantes na cidade.Entre as vítimas está Rosângela Barbosa Alves, 14, atingida por um tiro nas costas durante a incursão da tropa de elite da PM do Rio.Além da garota, as outras três vítimas da Vila Cruzeiro levadas para o hospital estadual Getúlio Vargas e que acabaram morrendo são: Janaina Romualdo dos Santos, 43, Rafael Felipe Gonçalves, 29, e um homem identificado como Geraldino, aparentando entre 60 e 70 anos.A PM não tem informação de que eles tivessem alguma ligação com o tráfico.Desde domingo, já são 27 os mortos no Rio. Desses, 15 morreram em confronto com a polícia, nas 13 ações de ontem em 28 favelas.Para o hospital, também foram levados moradores feridos na Vila Cruzeiro, como Valdete Carvalho, 33, que levou um tiro na barriga.Desde domingo, 43 veículos foram incendiados- 31 apenas ontem, dia em que os ataques se intensificaram.Às 23h40, o motorista de um ônibus foi baleado na avenida Brasil, na Penha (zona norte). O veículo foi incendiado. Em Mesquita, na Baixada Fluminense, outro ônibus foi queimado.Em Vicente de Carvalho (zona norte), um bilhete foi achado em um dos ônibus incendiados: "Se continuarem as UPPs, não vai ter Copa e nem Olimpíada".Foram detidos 31 suspeitos -são 159 presos desde segunda. Houve a apreensão de 17 pistolas e revólveres, 9 fuzis, 1 espingarda, 1 submetralhadora, 1 granada, 2 bombas caseiras, mais de 1 t de drogas (maconha, cocaína e crack) e material inflamável.O governador Sérgio Cabral (PMDB) afirmou ao "Jornal Nacional" que a Marinha dará apoio no combate aos ataques na Vila Cruzeiro. Segundo ele, não haverá ação de militares, mas "apoio logístico com transporte, viaturas e equipamentos".Disse que os ataques são "um ato de desespero" porque os criminosos estão "enfraquecidos e perdendo território". "Não vão nos inibir. Vamos seguir com o trabalho de pacificação de diversas comunidades", disse à CBN.As ações continuam hoje. Estão de prontidão 17,5 mil homens da PM.

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Beltrame culpa falhas no sistema prisional

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, responsabilizou o sistema penitenciário pelos ataques feitos por criminosos desde o final de semana.Há indícios de que a ordem para as ações tenha saído da penitenciária federal de Catanduvas (a 487 km de Curitiba), onde estão líderes do CV (Comando Vermelho)."Como um chefe de crime, dentro de um estabelecimento prisional, comanda os negócios como se estivesse na sua área?", disse Beltrame em entrevista à TV Globo.Ele defendeu mudança no sistema de visitas a presidiários -as ordens teriam sido levadas ao Rio por visitantes dos presos. "Isso só vai mudar se a sociedade organizada cobrar do sistema uma mudança com urgência."Segundo o juiz-corregedor da penitenciária, Nivaldo Brunoni, os presos do Rio em Catanduvas serão removidos para Porto Velho (RO).A transferência, conforme o juiz, foi decidida em agosto porque eles estão há mais de três anos em Catanduvas. "O [caso do] Rio só acelerou a medida", afirmou. Os primeiros removidos serão Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco.Brunoni disse que não tem como garantir "que a ordem não saiu do presídio". "Posso dizer o seguinte: há indícios", relatou, citando duas cartas, contendo plano de ataques, apreendidas em outubro com uma visitante.Os bilhetes eram dirigidos a dois chefes do CV. Após a descoberta das cartas, ambos ficaram isolados dos demais internos, mas mantiveram direito às visitas íntimas e de familiares. Segundo o juiz, visitantes podem ter levado recados a internos de presídios do Rio, que os teriam retransmitido a traficantes nas favelas."Vai de boca em boca. Dá para concluir que um presídio de segurança máxima tem de tirar todos os direitos, inclusive o de visita íntima."Sandro Torres Avelar, diretor do Sistema Penitenciário Federal, disse que "não se pode garantir que não haja orientação [dos presos] para que se cumpra alguma ordem fora", mas defendeu a segurança nos estabelecimentos. "Os presídios têm aparelhos de raio X, câmeras e agentes penitenciários preparados. Não há falhas no sistema", afirmou."As cartas [para os presos] foram detectadas pelo próprio sistema, a penitenciária de Catanduvas. Nós avisamos a Secretaria de Segurança do Rio e a Polícia Federal para que tomassem as medidas pertinentes", disse.

TRANSFERÊNCIASO ministro Luiz Paulo Barreto (Justiça) disse que ofereceu até 50 vagas nas penitenciárias caso o governo do Rio queira fazer transferências.No final da noite de ontem, estavam sendo transferidos, com o apoio da Marinha e da Aeronáutica, oito internos do Complexo de Bangu, zona oeste, para Catanduvas.O governo disse que fez um acordo com a Justiça estadual para que todos os que forem presos nas operações desses dias sejam transferidos automaticamente para presídios federais, o que já deve acontecer com os dois presos em Copacabana.

26 de novembro de 2010Policia vai intensificar ações contra ataques

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A Polícia Militar afirmou que intensificará hoje as operações "de guerra" contra ataques de criminosos no Rio, o que pode levar à repetição de cenas de confronto a tiros com narcotraficantes.Questionado ontem à noite no "Jornal Nacional", da Rede Globo, se o Rio terá um dia melhor hoje, o governador Sérgio Cabral (PMDB) não arriscou prognóstico."Eu posso garantir à população que nós estamos atentos, que é um ato de desespero [dos marginais], de desarticulação desses criminosos, que estão perdendo território", respondeu.Durante o dia, Cabral anunciou que o governo vai continuar com a instalações de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas e que a população deve manter a calma. Os ataques seriam represálias às unidades.O porta-voz da PM, coronel Lima Castro, disse que as ações policiais não têm data para acabar e chamou o confronto de "guerra"."Não começamos esta guerra, nos provocaram para que entrássemos nela e vamos sair vitoriosos. Se demorar dois dias, ótimo, se demorar dez, 30, não será tão bom, entretanto temos capacidade técnica", disse."Continuaremos com as operações de incursão, faremos comboios, viaturas estarão patrulhando as ruas da cidade, haverá mais blitze, o efetivo retirado da área administrativa continuará atuando na zona sul, na Grande Niterói e na zona oeste. Teremos ainda um aumento do policiamento, este embarcado em ônibus, atuando na Tijuca e no Méier", afirmou ainda o coronel.Segundo a PM, 17.500 homens estão de prontidão e as folgas foram reduzidas.Apesar do clima de guerra, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que a cidade "vai virar a página"."Temos a nítida percepção da angústia das pessoas, mas a polícia está respondendo a esses episódios. Não é uma tarefa fácil", afirmou ao telejornal "RJTV", da Globo."Não podemos esquecer que a repressão não resolve. Temos que ter um plano para que essas coisas não aconteçam mais. Quero dizer que o trabalho de repressão tem que ser feito, nós temos que atender à demanda desses cidadãos que estão angustiados, mas temos que pensar na frente", concluiu o secretário.

27 de novembro de 2010Exército troca tiros com bandidos em cerco a morroO Exército entrou ontem na guerra contra os traficantes, no Rio. Oitocentos homens da Brigada Paraquedista iniciaram o cerco ao Complexo do Alemão, conjunto de favelas da zona norte, para onde centenas de bandidos da Vila Cruzeiro, área vizinha agora dominada pela polícia, fugiram na quinta-feira.A bordo de 30 veículos, cinco deles blindados, os militares foram recebidos a tiros. Os soldados revidaram.O tiroteio durou pelo menos duas horas e assustou moradores, que corriam em busca de abrigo.Nove pessoas foram levadas ao Hospital Getulio Vargas, duas delas chegaram mortas. Uma menina de dois anos levou um tiro de raspão.Três militares se feriram, um deles do Exército, mas sem gravidade.Diferentemente da véspera, quando imagens aéreas da invasão da Vila Cruzeiro e da fuga de traficantes foram transmitidas por emissoras de TV, ontem helicópteros não

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puderam sobrevoar a região do conflito.A pedido da polícia, o espaço aéreo dos complexos da Penha e do Alemão foi fechado, por tempo indeterminado, sob alegação de risco para as aeronaves.A maior parte dos militares que cercaram o Alemão atuou na missão de paz da ONU, no Haiti. No complexo de favelas carioca, enfrentarão cerca de 600 traficantes, de acordo com estimativas da Polícia Militar e terão como missão inicial apenas o patrulhamento e o cerco dos acessos ao complexo.

SEM DATA PARA SAIRO comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, disse que o trabalho não tem data para terminar."Quanto tempo nós vamos ficar lá vai depender do plano da Secretaria de Segurança Pública. Entramos hoje [ontem], mas não posso dizer quando vamos sair."Pela manhã, os criminosos já haviam sinalizado que ofereceriam resistência. Atiraram contra um helicóptero da Polícia Civil que fazia o reconhecimento da região.A sexta-feira registrou uma diminuição no número de ataques a veículos: nove foram incendiados ontem; na quinta-feira, 37. Desde domingo, já são 99 ataques.No sexto dia de confrontos com traficantes, nove pessoas morreram. A guerra que toma conta da cidade já matou 45 pessoas. Foram feitas 192 prisões.Pela manhã, policiais vasculharam a Vila Cruzeiro e encontraram uma espécie de enfermaria do tráfico, com grande quantidade de materiais hospitalares. Foram apreendidas armas e cerca de duas toneladas de drogas.

Tiroteios ferem moradores e militares Nove pessoas baleadas ontem foram levadas para o hospital Getúlio Vargas, na Penha (zona norte do Rio), preparado para receber exclusivamente as vítimas dos tiroteios entre criminosos e militares. Duas chegaram mortas ao hospital.Um era Thiago Ferreira da Silva, 24, também conhecido como Thiaguinho G3 e apontado como traficante da favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão. Ele levou um tiro no tórax.Uma menina de dois anos foi ferida de raspão no braço esquerdo quando estava em casa, na favela Nova Brasília. Após o susto, às 19h30, ela deixou o hospital com a avó, Emília Penha. "Até chegar aqui foi um susto muito grande, porque tinha muito sangue", disse a avó.Das forças policiais e militares, foram três feridos, sem gravidade. Ao sair do hospital, o tenente Rafael Querido, 28, do 16º Batalhão da PM, baleado na perna, contou que os homens que o atingiram estavam atrás de uma parede falsa de uma casa.O soldado do Exército Walbert Rocha da Silva,19, atingido na coxa direita, chegou ao hospital de "caveirão".Maria Luiza de Moraes, 61, atingida por estilhaços de uma bala, e Rogério Cavalcante, 34, gravemente baleado na barriga, ficaram internados no Getúlio Vargas.

DINHEIRO DESAPARECIDOO pastor evangélico Ronai Braga, 32, acusa a Polícia Civil de arrombar sua casa na Vila

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Cruzeiro (zona norte) e levar R$ 31 mil que ele guardava para dar entrada num apartamento em área fora da favela, no bairro da Penha.O dinheiro seria resultado da rescisão do contrato de trabalho em uma loja de roupas e era a metade do valor do imóvel que ia comprar.Braga mora com a mulher e dois filhos na parte térrea de um sobrado na favela. A família teria saído e encontrou a casa revirada ao voltar.Além do dinheiro, teriam sumido um relógio e uma bolsa com cartões, segundo ele. O pastor evangélico foi orientado a registrar ocorrência na 22ª DP, na Penha.Titular da 22ª a delegada Márcia Beck afirmou que vai investigar o fato. Até 19h de ontem, não havia registro de apreensão de dinheiro na operação da Vila Cruzeiro.Na delegacia estavam também as irmãs Carla da Costa Pinheiro, 34, e Patrícia da Costa Pinheiro, 32. Elas registraram uma ocorrência de tentativa de intimidação.Segundo Carla, policiais do Bope foram à sua casa e queriam forçá-la a confessar vínculo com o tráfico."Tudo que temos foi adquirido com trabalho nosso e dinheiro da pensão da minha mãe", disse Carla.

Moradores do Complexo do Alemão (zona norte do Rio) relatam que centenas de traficantes, muitos com rosto pintado e roupas pretas ou camufladas, se escondem na favela da Grota, uma das 12 comunidades da região.Afirmam que, num vaivém de motos, traficantes gritam que pretendem explodir o teleférico que está sendo construído no complexo, dentro do programa de obras do PAC, e ameaçam atacar posto de saúde, repartições públicas e trens que circulam em linhas férreas próximas.Por meio de redes sociais, moradores têm afirmado que haveria mais de dez corpos na serra da Misericórdia, maciço no qual crescem as favelas do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha.A Folha viu um corpo estirado na Vila Cruzeiro.Tiros contínuos, em especial na região conhecida como Alvorada, vizinha da Grota, também são narrados. São constantes as ameaças de fechamento da avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio, situada a 5 km do complexo.

SEM LUZ, SEM TVUm dia depois da ocupação pela polícia, os moradores da Vila Cruzeiro, que fica no complexo da Penha, voltaram às ruas com um misto de revolta e desconfiança.O motivo da revolta era a falta de energia elétrica, desde o dia anterior. Muitos reclamaram que perderam alimentos que guardavam na geladeira e a grande maioria se queixava de não poder assistir à televisão.A Light, empresa de energia elétrica do Rio, informou que tinha dificuldades de acesso para reparo da rede.Segundo a empresa, os funcionários aguardavam condições que permitam efetuar os consertos e as possíveis substituições de equipamentos com segurança.Na rua Jacks Maritain, um dos acessos à Vila Cruzeiro e, segundo os moradores, local de uma boca de fumo, havia um cheiro de queimado no ar, resquícios dos veículos incendiados para impedir a entrada da polícia.Por volta de meio-dia, ainda havia carcaças queimadas, muito lixo, fios pendurados dos

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postes e várias motos -inteiras e semidestruídas- caídas pelas ruas."Se tivesse TV, a gente nem estaria na rua", disse Maria do Socorro, 38, que, sentada à porta de casa com as duas filhas, observava o ir e vir de policiais armados em incursões pelas ruas em busca de traficantes escondidos, armas e drogas.Socorro é uma das poucas que aceitaram conversar e se identificar. A maioria tem medo. Dois homens disseram à Folha que, se conversassem, havia pessoas que os podiam delatar. "A gente mora aqui. Se falar, depois que a polícia sair, a gente morre."

Jobim só comunicou militares após decisão O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tomou a decisão de enviar tropas, equipamentos e armas militares para o Rio diretamente com o governador Sérgio Cabral e só depois comunicou aos três comandantes militares.O do Exército, general Enzo Martins Peri, estava numa formatura militar no Rio quando recebeu a ligação do ministro. Embarcou tarde da noite para Brasília e voltou ontem cedo junto com Jobim.Segundo o ministro, as ações de Exército, Marinha e Aeronáutica ficarão sob o comando do recém-criado Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, chefiado pelo general José Carlos de Nardi, enquanto a ação policial continua comandada pelas autoridades do Estado do Rio.Questionado sobre a resistência dos militares, sobretudo do Exército, de participar sem assumir o comando geral da operação, Jobim disse que "não há que se fazer discussão sobre comandos, não há nenhuma possibilidade de nenhum tipo de fricção".Em Georgetown, na Guiana, o presidente Lula falou da cooperação. "Tudo o que Cabral pedir, que estiver dentro da lei, pode ficar certo que faremos para o Rio."Oficiais ouvidos pela Folha dizem que a operação no Rio cria "novo paradigma" no uso das Forças Armadas na chamada GLO (Garantia da Lei e da Ordem), prevista na lei 97 de 1999.À Folha Jobim disse que a estratégia segue a "teoria dos subconjuntos": as forças policiais do Rio participam diretamente da operação de assalto aos morros; o Exército é responsável pela retaguarda, na entrada e saída; e a Aeronáutica e a Marinha fornecem helicópteros e blindados, com suas "guarnições" (equipes que os operam).Os três helicópteros da FAB são para monitoramento da área e para transporte de atiradores de elite do Bope. Os blindados, 15 da Marinha e 5 do Exército, serão usados também para levar as tropas policiais. Não há previsão de que os militares usem armas e atirem, a não ser em defesa própria.Os 800 homens do Exército, recrutados principalmente entre os que atuaram na operação de paz no Haiti, devem ficar concentrados nos cerca de 40 pontos de entrada e saída da Vila do Cruzeiro e do Complexo do Alemão.O ministro disse que a missão deles é impedir o envio de armas, munições e até de comida para os narcotraficantes, como também evitar que eles possam fugir depois dos confrontos com a polícia.Os oficiais e soldados do Exército têm a autorização, inclusive, para fazer prisões, mas

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devem entregar suspeitos o quanto antes à polícia.Só na tarde de ontem, Jobim se reuniu no Palácio da Guanabara com Cabral e comandantes militares para discutir detalhes da ação.O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse, em entrevista coletiva conjunta com o general De Nardi e os comandantes regionais das três Forças Armadas, que a operação está sendo bem sucedida."O que se demonstrou na Vila Cruzeiro é que, com o equipamento correto, entramos em qualquer lugar a qualquer hora neste Estado."

Ordem para ataques no Rio saiu de prisão federal, diz Justiça As ordens para ataques criminosos partiram dos traficantes Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, de dentro do presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR), afirma a Justiça do Rio.O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira decretou a prisão preventiva dos dois, que já estão condenados por outros crimes, como homicídio.Também mandou prender três advogados dos traficantes: Luiz Fernando Costa, Beatriz da Silva Costa de Souza e Flávia Pinheiro Fróes -até o fechamento deste edição, eles não haviam sido detidos; foi presa a mulher de Marcinho VP, Márcia Nepomuceno, pela acusação de lavagem de dinheiro.Segundo o juiz, os três levavam as ordens para os ataques até os traficantes em liberdade do Comando Vermelho, facção que domina o Complexo do Alemão."Existem indícios de que a indiciada Beatriz mantinha relacionamento amoroso com Marcinho VP e, utilizando-se deste tipo de vínculo sentimental, recebia as ordens; repassadas posteriormente aos demais", afirmou o juiz em sua decisão.Teixeira proibiu ainda Marcinho VP e Elias Maluco de receberem visita íntima na penitenciária federal de Porto Velho (RO), para onde foram transferidos na quinta.Os pedidos de prisão partiram do Ministério Público Estadual e basearam-se em ligações dos advogados gravadas. Já se suspeitava de que a ordem saíra de Catanduvas.Ontem, o juiz federal Nivaldo Brunoni, corregedor da penitenciária, autorizou a transferência para Catanduvas de mais nove presos envolvidos nos ataques. Outros dez presos já haviam chegado do Rio na quarta.A autorização é liminar. "Vamos analisar o perfil de cada um para saber se devem ficar em presídios federais."Enquanto uns chegaram a Catanduvas, outros -como Elias Maluco e Marcinho VP- foram anteontem para Porto Velho. No total, houve troca de 15 presos de Catanduvas para Porto Velho. Segundo Brunoni, o "rodízio" entre presídios federais já era analisado, mas os ataques anteciparam esse processo.

Governo faz rodízio de chefes de facções em prisões federais O juiz corregedor da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), Nivaldo Brunoni, 47, autorizou na tarde de ontem a transferência de mais nove presos envolvidos nos ataques no Rio de Janeiro, para o presídio paranaense.

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Outros dez presos já haviam chegado na quarta-feira do Rio à penitenciária de Catanduvas (487 Km de Curitiba), de segurança máxima.Brunoni disse ontem que a autorização das transferências se deu em caráter de liminar. "Depois vamos analisar o perfil de cada preso para saber se devem permanecer em presídios federais."Enquanto chefes do crime organizado chegaram a Catanduvas, outros -como Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Marco Antônio Firmino da Silva, o My Thor- foram enviados anteontem para Porto Velho (RO).No total, houve uma troca de 15 presos de Catanduvas para Porto Velho. De Catanduvas saíram 12 presos do Rio de Janeiro e três do Espírito Santo, ligados ao CV (Comando Vermelho) e ADA (Amigos dos Amigos).Segundo Brunoni, o rodízio de presos entre presídios federais já estava sendo analisado pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional), mas os episódios do Rio anteciparam esse processo."Não é salutar um preso cumprir mais do que um ano no mesmo presídio, a ideia é fazer um sistema de rodízio entre as penitenciárias federais", disse. Há presídios federais também em Campo Grande (MS) e Mossoró (RN).De acordo com o Sistema Penitenciário Federal, há no total 832 celas nesses presídios -497 estão ocupadas.

ISOLAMENTOBrunoni disse que Marcinho VP e My Thor estavam em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) desde 20 de outubro, quando a mulher de um detento foi presa com bilhete para os dois falando sobre atentados no Rio.Segundo Brunoni, o regime é uma punição por ato infracional no presídio. O preso fico isolado na penitenciária, mas pode ter visita de familiares e advogados. "A lei determina essas visitas. Não há como impedir", disse.

Policiais ocupam a fortaleza do tráfico Uma operação conjunta do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), das polícias Militar e Civil, que contou ainda com o inédito apoio logístico da Marinha, expulsou ontem o tráfico da Vila Cruzeiro (zona norte), favela considerada a principal fortaleza do crime no Rio."A comunidade [da Vila Cruzeiro] hoje pertence ao Estado", anunciou ao fim das operações o delegado Rodrigo Oliveira, subchefe operacional da Polícia Civil.Não havia informações sobre mortos nessa operação até o fechamento desta edição. Em outras ações ontem, houve 9 mortes em Jacarezinho e 2 em Rocha Miranda, totalizando 38 mortos no Estado desde domingo.A ação, transmitida passo a passo ao vivo pelas TVs por meio de helicópteros, teve toques cinematográficos e foi o momento de maior tensão do quinto dia da onda de ataques criminosos no Rio.Veículos blindados cedidos pela Marinha -dez no total, sendo seis do modelo americano M113, que foi usado na Guerra do Iraque- avançaram por ruas fechadas até chegarem à favela.

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Sob aplausos de moradores, os veículos -cada um conduzido por dois fuzileiros navais e tripulado por homens do Bope- entraram na Vila Cruzeiro por volta de 12h30. Às 17h, foi decretada a "vitória", com a debandada dos traficantes para o vizinho Complexo do Alemão.A operação na Vila Cruzeiro não impediu novas ações criminosas -pelo contrário. Depois da entrada dos policiais na favela, ao menos 23 novos veículos foram queimados em diversas partes da cidade e da região metropolitana. No dia inteiro, foram 37; desde domingo, são 80.Por volta das 20h, bandidos atearam fogo a um ônibus na av. Presidente Vargas (principal ligação entre a zona norte e o centro), a 600 m da sede da Secretaria de Segurança, onde o secretário José Mariano Beltrame dava uma entrevista coletiva.A operação da polícia contou com cerca de 450 policiais, sendo pelo menos 200 homens do Bope, 40 do 16º BPM e 60 da Polícia Civil. Sessenta fuzileiros navais foram postos à disposição."É isso aí, vamos botar ordem na casa", gritaram moradores no momento da ocupação policial.Os bandidos tentaram retardar ao máximo a entrada da polícia na favela, incendiando um caminhão da loja Casas Bahia e usando blocos de concreto como barricada.Os obstáculos não detiveram os blindados, à exceção de um, que parou por "problemas mecânicos" -embora tenha levado oito tiros.

FUGACom o avanço da polícia, os criminosos começaram a fugir para o vizinho Complexo do Alemão. Pelas imagens feitas dos helicópteros, foi possível acompanhar mais de cem homens, armados com fuzis, fugindo numa picape, em motos e a pé.As câmeras flagraram ainda os bandidos numa longa fila subindo um morro.Também foram filmados moradores da favela às janelas das casas com panos brancos, num pedido de paz.O Alemão foi palco, em 27 de junho de 2007, de megaoperação policial com 1.350 agentes. Houve 19 mortos. (RODRIGO RÖTZSCH, LUIZA SOUTO e FELIPE CARUSO)

Tráfico impede morador de deixar morro Traficantes do Complexo do Alemão impediram que moradores deixassem suas casas ontem durante a operação policial, como forma de dificultar a ação dos agentes.À noite, parentes de moradores disseram que os criminosos estavam colocando botijões de gás nas ruas, para que pudessem explodi-los com tiros em caso de investida da polícia.Ameaçavam também explodir o teleférico que está sendo construído na comunidade e que faz parte das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).Moradores que tentavam sair com seus pertences em direção a casas de parentes e amigos eram obrigados a retornar pelas centenas de homens armados que circulavam pelas vielas."Os bandidos não deixaram minha mãe vazar. Não estão deixando ninguém sair de lá", disse um morador, pedindo anonimato.Não só os moradores passaram por momentos difíceis ontem. A dona de casa Jacinta Dias Ferreira, 56, soube por telefone, às 6h, que o filho único, Reginaldo Dias Peixoto, 36, havia sido baleado na Penha, vítima do conflito que aterroriza o Rio.Motorista de ônibus, ele foi atingido na cabeça enquanto trabalhava na madrugada."Meu Deus, que mundo é esse? Quantas mães estão chorando agora como eu? Eu

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entreguei meu filho nas mãos de Deus e Ele está me atendendo", disse Jacinta, à tarde, depois de visitar o filho no hospital Getúlio Vargas, onde ele foi operado e está em recuperação.O servente de pedreiro José Pereira voltava para casa, no alto da favela Chatuba, vizinha da Vila Cruzeiro. Era quase meio-dia quando foi atingido por um tiro no pé."Quem não tem nada a ver com o assunto é que paga o pato. Isso é chato, chato, chato. É preciso saber quem é bandido e quem é trabalhador", disse Pereira, sem saber se o tiro que o atingiu partiu da polícia ou de bandidos.Ele foi liberado por volta das 14h, com a perna enfaixada, a bala ainda no pé. Até as 16h30, continuava na porta do hospital, com medo de subir o morro e ser novamente alvo de tiros.Com medo dos incêndios, empresas de transporte reduziram o número de veículos em circulação de madrugada. Ontem, por volta de 1h, dezenas de cariocas esperavam transporte em direção à zona norte nos pontos ao longo da rua 1º de Março e da avenida Presidente Vargas, no centro.Nas ruas desertas não se viam ônibus, vans nem táxis. Muitos pareciam ter desistido de esperar e andavam ao longo da Presidente Vargas.No início da tarde, a Prefeitura do Rio anunciou que moradores da região dos complexos da Penha e do Alemão que não conseguissem -ou temessem- voltar para casa poderiam ficar abrigados no Grêmio Recreativo Industrial da Penha. Lá seria montado um posto com alimentação e colchonetes.

28 de novembro de 2010Moradores deixam o morro assustados"Deixa eu passar! Deixa eu passar! Não dá mais para ficar nesse inferno", disse uma mulher na faixa dos 40 anos, que não quis se identificar, carregando uma cadeira branca de sala de jantar e estofado laranja, no intervalo de um tiroteio.Quase correndo, tentava driblar os carros de polícia e de imprensa parados na rua Itararé, que margeia o Complexo do Alemão. Ao lado, uma menina carregava um micro-ondas no meio da rua.Dois rapazes na faixa dos 18 anos equilibravam às pressas um fogão. Não quiseram falar, disseram que não havia tempo a perder.Desde a manhã, a cena se repetiu em várias ruas da favela da Grota: fila de pessoas saindo a pé, carregando móveis, eletrodomésticos ou apenas com sacolas e roupas na mão. De tarde, no intervalo de um intenso tiroteio uma nova leva de moradores desceu da favela.Uma dona de casa de 32 anos saiu apressada da entrada principal da favela. Acompanhada de três filhas e da mãe, carregava em cada mão uma sacola plástica com as roupas da família. "Cresci aqui, nunca vi isso assim. Não me sinto segura para ficar", disse.Ela pretende ficar na casa da irmã em Piabetá, na Baixada Fluminense. "Só volto daqui a uma semana", disse. Ela afirmou que deixou a casa fechada e torce para encontrar tudo de volta. "Não deu tempo de pegar nada."A doméstica Vânia, 40, saiu junto com as duas netas, uma de sete e outra de três anos. "Moro aqui há 12 anos e estou com muito medo da invasão", disse. "Só volto quando

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isso acabar."

DO OUTRO LADONo outro lado da serra da Misericórdia, onde fica a favela Vila Cruzeiro, ocupada pela polícia desde quinta-feira, as pessoas começaram a retomar suas rotinas.As ruas e vielas da favela ficaram congestionadas pelo vai-vai de moradores, boa parte carregava sacolas plásticas nas mãos."Isso aqui está uma beleza. Tomara que fique como está. Livre. Estou bebendo faz dois dias para comemorar", disse um aposentado de 63 anos.Uma dona de casa de 62 anos, evangélica, carregava sacos cheios de lixo doméstico. Por imposição do tráfico, os caminhões não sobem a favela para coleta e os moradores precisam descer até um depósito montado na saída do local. "Só espero que agora, se Deus quiser, o caminhão vá buscar o lixo na porta da minha casa como num bairro comum", disse.Além da limpeza das ruas, a companhia de energia elétrica iniciou o restabelecimento da energia elétrica.Grande parte dos moradores comemora a ocupação, mas teme que ela seja apenas temporária. "Eles [traficantes] voltam num veneno ainda maior. Vão atrás de quem ficou rindo e de quem não os ajudou", disse um vendedor de 19 anos.

Policiais e fuzileiros zombam de traficante baleado

Em frente a um pequeno televisor instalado no 16º batalhão, em Olaria, zona norte do Rio, soldados da PM e da Marinha se acotovelam para assistir às imagens dos traficantes fugindo da Vila Cruzeiro. Todos comemoram.Ao verem um traficante ser baleado e ir ao chão, caem no riso e decretam: "Vacilão".Eles haviam vivenciado aquelas cenas pouco antes, mas pareciam precisar de mais informação para conseguirem acreditar que, enfim, a "fortaleza do tráfico" do Rio havia sido tomada.Muitos cariocas passaram a tratar a última quinta-feira como o "Dia D" da luta contra o tráfico. Essa alusão à invasão da Normandia, na Segunda Guerra, vai um pouco além do batido jargão.A entrada nos domínios de Fabiano Atanásio da Silva, o FB, ex-""dono" de um dos morros mais violentos do Rio, usou táticas de ocupação de territórios em guerra.Os Clanfs, carros anfíbios da Marinha, lideraram a ocupação porque só eles poderiam resistir ao impacto de um projétil de arma de calibre .50 -FB, segundo policiais, tinha uma dessas.Os chamados caveirões da PM são cortados "como papel", segundo os policiais. Além dos Clanfs, também foram utilizados os M113 (um outro blindado da Marinha).Havia tantos homens do Bope querendo participar daquele momento que não respeitaram a capacidade dos blindados. "Onde cabiam 13, foram 16", diz um deles.Os Clanfs foram crivados de balas, de todos os tipos, incluindo a .50. "Você só escutava na lataria: pim, pim, pim", diz um deles.Os PMs do Bope esperaram quatro anos para vingar, como gostariam, a morte de um colega no local. "O FB disse que não deixaria o morro, que resistiria. Quando viram

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nossa força, com os blindados, não tiveram jeito senão fugir", afirma um PM.A ocupação selou uma parceria que os homens da Marinha comemoram. "Juntaram os dois Bopes", dizia um soldado. "Até os símbolos são iguais, de caveiras."A comemoração dos fuzileiros navais era, segundo eles, pelo reconhecimento que já mereciam. "Sempre que veem a nossa farda verde, pensam que é o Exército. É a Marinha", diz um deles.

Operação visa dinheiro dos traficantes

Além da ofensiva militar aos traficantes no Complexo do Alemão, com o objetivo de retomada do território, a operação contra o tráfico no Rio passou a fechar o cerco aos bens e dinheiro dos traficantes do Comando Vermelho, facção que comanda as favelas onde os criminosos estão concentrados. A Folha apurou que nos últimos dez anos os traficantes Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Alexander Mendes da Silva, o Polegar, acumularam uma fortuna de R$ 60 milhões. Apontado pela Justiça do Rio como autor das ordens para os ataques na capital fluminense, dadas de dentro da penitenciária federal de Catanduvas (487 km de Curitiba), Marcinho VP teria acumulado R$ 40 milhões. Ele foi transferido nesta semana para a penitenciária federal de Porto Velho (RO). Na noite de sexta-feira, a Polícia Civil prendeu em Jacarepaguá, zona oeste, a mulher dele, Márcia Gama, acusada de lavagem de dinheiro do narcotráfico. Ontem o alvo da operação foi Polegar, um dos chefes do tráfico na região. A polícia prendeu sua mulher, Viviane Sampaio, na Barra da Tijuca, zona oeste. Na casa dela, foram apreendidos cinco laptops que podem conter informações sobre o tráfico. Ela tem aos menos cinco imóveis avaliados em R$ 3 milhões e costumava fazer viagens de cruzeiro. Polegar estaria escondido no Complexo do Alemão, onde o Exército montou desde sexta barreiras em 44 pontos de acesso. Por ele teriam passado ordens de Marcinho VP para os ataques na cidade. A polícia também prendeu ontem o empresário Henrique Herman Oliveira, acusado de administrar um investimento financiado pelo traficante Marcinho VP.

DÓLARES Também o Exército busca cercar os bens e dinheiro do tráfico nos bloqueios montados no Alemão; e já apreendeu dinheiro. O chefe da Comunicação Social do Comando Militar do Leste, coronel Ênio Zanan, disse que os soldados prenderam um homem com US$ 50 mil e mais R$ 20 mil dentro de uma mochila, o que totaliza aproximadamente R$ 106 mil. O dinheiro estava sendo retirado de um dos morros do complexo. "Os militares nunca viram tanto dinheiro", disse o coronel. A Polícia Civil afirma que a estratégia é cortar o braço financeiro do Comando Vermelho, tirando o dinheiro em poder das famílias dos traficantes líderes da facção. Outro alvo é o traficante Márcio Batista da Silva, o Dinho Porquinho. Até o fechamento desta edição, a polícia procurava sua mulher para prendê-la.

Rigor com preso pode aumentar, afirma ministro

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O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, disse que determinou um estudo sobre o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) para ampliar o rigor aos criminosos considerados perigosos.Há possibilidade de elevar o número de presos no regime e o tempo de permanência. No RDD, os detentos ficam isolados, não têm visita íntima, tomam banho de sol sozinhos e não têm acesso a jornais e TV."O RDD é necessário, principalmente quando presos tentam, de dentro da cadeia, organizar o crime", disse o ministro, que disponibilizou para o Rio de Janeiro 50 das 300 vagas disponíveis nos presídios federais de segurança máxima.

29 de novembro de 2010Forças de segurança ocupam o ‘coração’ do tráfico no RioPraticamente sem resistência dos traficantes, a polícia do Rio e as Forças Armadas dominaram em menos de duas horas o Complexo do Alemão, coração do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio.Das centenas de traficantes escondidos lá, 20 foram presos e 3 mortos.Pouco segundos antes das 8h, blindados começaram a se movimentar em direção ao interior da favela pela rua Joaquim Queiroz, enquanto centenas de homens entravam a pé por outros lados.Pouco depois das 9h, o comandante da PM do Rio, Mario Sergio Duarte anunciou: "Vencemos".Os policiais esperavam uma resistência sangrenta por se tratar do principal reduto do Comando Vermelho, facção temida até pelos outros grupos criminosos, com um dos maiores arsenais cariocas. E reforçados pelos traficantes que fugiram da Vila Cruzeiro na quinta.Dois sinais foram a recusa à proposta de rendição pacífica, anteontem, e a troca de tiros por duas horas, na sexta, dia do cerco ao complexo.Ontem, quando os policiais se posicionavam numa avenida para iniciar a ação, às 6h58, houve troca de tiros.Ao iniciar a subida à favela, os policiais civis e federais demonstravam tensão. Subiram no morro andando, sem carros blindados.Logo nos primeiros metros, começou nova troca de tiros. Helicópteros da polícia davam apoio ao grupo com voos rasantes e com disparos em direção ao morro.Em seguida, vieram os blindados da Marinha e homens do Bope. Eles subiram por outras ruas destruindo os bloqueios montados há anos pelo tráfico, como trilhos de ferro cravados no asfalto e blocos de concreto.Ao todo, entre policiais e homens das Forças Armadas, foram 2.700 pessoas, além de veículos blindados de guerra e armas de vários tamanhos e calibres.Um sinal de fumaça no topo do morro era o sinal que ele estava retomado.Às 14h, um helicóptero com um bandeira do Brasil sobrevoou o complexo. Policiais civis hastearam a bandeira nacional e outra da Polícia Civil -depois trocada pela do Estado do Rio- no alto do morro. Era a coroação da vitória."Aqui era a fortaleza, o coração da facção maior (CV), com maior poder de fogo, da

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facção que tinha interesse em dominar as outras facções. Essa era a mais esperada de todas as missões", disse o comandante da PM.Para especialistas, a ação só terá resultado se a ocupação pelo Estado do complexo de favelas for permanente.De acordo com a polícia, os traficantes fugiram deixando armas e drogas.Os policiais disseram que parte dos criminosos ainda poderia estar dentro da favela e, por isso, o cerco ao morro deveria permanecer por tempo indeterminado.A PM realizou buscas de casa em casa. Moradores reclamavam de invasões pela polícia, que não foram não autorizadas pelo morador.A operação foi desencadeada após série de atentados ocorridos na cidade desde o dia 21, com 106 veículos queimados. Ontem, não houve nenhum ataque.

Fuga de chefe do tráfico faz seus aliados debandarem A fuga do chefe da venda de drogas no Complexo do Alemão, antes da ocupação ontem pela polícia, ajudou a minar a resistência de centenas de traficantes escondidos nas favelas naquela região da zona norte do Rio.Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, escapou sem avisar seus pares, que foram surpreendidos com seu desaparecimento no sábado.Os traficantes, que já estavam acuados em razão da clara supremacia bélica da polícia e das Forças Armadas, registraram uma debandada entre seus aliados quando se espalhou que seu principal chefe havia fugido.Pezão não participou de reunião com mediadores que tentavam no sábado convencer os traficantes mais experientes a se renderem.Testemunhas relataram diálogo entre dois chefes de tráfico: "Chama seu bonde para formar com a gente", pediu um. " Do meu bonde, só sobrou eu", disse outro.A polícia busca confirmação da fuga de Pezão por temer que os relatos visem tirar o foco das buscas. Sua casa foi vasculhada e não havia vestígios de sua presença.Para policiais, ele pode ter escapado disfarçado entre moradores. São poucas as fotos recentes dele e seu rosto é tido como de padrão comum entre os habitantes da favela.O principal preso é Elizeu Ferreira de Souza, o Zeu. Condenado em 2002 pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, ele estava foragido desde julho de 2007, quando obteve permissão para visitar a família e não retornou.Sete foram condenados pelo crime. O líder do grupo, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, e mais cinco estão presos. Zeu estava escondido em uma casa abandonada.Cerca de 20 foram presos, entre eles Emerson Ventrapane da Silva, o Mão, um dos supostos chefes do Comando Vermelho, e Filé, que trazia o nome de Fernandinho Beira-Mar tatuado no braço.O eletricista Ivanildo Dias Trindade, 55, entregou o filho Carlos Augusto Trindade, conhecido como Pingo, por temer que ele fosse morto.Houve três mortes de supostos traficantes na operação -sem documentos, não tinham sido identificados.

BALANÇOSegundo dados oficiais preliminares, foram apreendidos 40 toneladas de maconha, 200

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kg de cocaína, 10 kg de crack, 500 frascos de lança-perfume, além de 50 fuzis, 9 metralhadoras ponto.30, 10 mil munições, 50 coletes, balanças e uma prensa.(PLÍNIO FRAGA, FÁBIA PRATES, ELVIRA LOBATO, LUIZA SOUTO, FERNANDO MAGALHÃES, DENISE MENCHEN E FELIPE CARUSO)

Força Nacional só aguarda pedido de Sérgio Cabral, diz ministro

O governo federal só aguarda pedido do governo do Rio de Janeiro para mandar a Força Nacional de Segurança Pública ajudar na guerra contra os traficantes.Apelidada de "tropa de elite" nacional, ela reúne policiais e bombeiros de 25 a 40 anos, com cinco anos de experiência, escolhidos pelas polícias estaduais.Depois de três semanas de treinamento, o contingente fica à disposição dos Estados para fazer "cercos e contenções" em áreas de perturbação da ordem pública.No caso do Rio, contudo, o governador Sérgio Cabral (PMDB) preferiu a ajuda da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e das Forças Armadas. "Entenderam que ainda não é necessário já que uma ação está sendo feita pela própria polícia do Rio. Mas a Força Nacional segue de prontidão", disse o ministro Paulo Barreto (Justiça).Criada em 2004 pelo presidente Lula, a Força Nacional, que tem 7.676 homens, tem orçamento anual de R$ 98 milhões -neste ano, gastou R$ 80 milhões.Em 2007, o Rio solicitou o envio de tropas federais para os Jogos Pan-Americanos. Ao término do evento, foi montada uma operação para o policiamento da orla, pontos turísticos, vias expressas e Complexo do Alemão. Depois dessas ocasiões, a Força Nacional não voltou ao Estado, segundo lista de operações no site do governo.

Moradores falam de excessos de policiais

Após a tomada do Complexo do Alemão, moradores voltaram às ruas para observar a intensão movimentação de policiais e carros blindados, e manifestaram apoio ao fato de a ocupação ocorrer sem confrontos, diferentemente do que se esperava.Mas muitos reclamavam da forma utilizada pelos policiais na abordagem. No final da noite, circulavam no twitter boatos de que moradores teriam sido espancados.Na rua de acesso à favela, era grande o número de curiosos. Crianças chegaram a cantar a música tema do filme Tropa de Elite e um carro de som passou pela avenida Itararé, onde estava o QG policial, tocando o Hino Nacional, após a ocupação.Dentro da comunidade, muitas pessoas se recusaram a falar, com medo de represálias. Entre os que aceitam conversar, a avaliação era de que a ação foi "boa". Mas muitos moradores reclamaram da abordagem. Policiais civis inspecionavam as casas em busca de suspeitos escondidos, drogas e armas.Por volta das 13h, um homem de aproximadamente 50 anos chorava nas imediações do ponto de apoio da polícia, em um dos acessos à favela. Ele se disse indignado por ter chegado em casa e encontrado o espaço revirado."Parabéns a eles por esse trabalho, mas não deve ser desse jeito", disse. O filho dele foi retido como suspeito.Bianca, 24, estava na cama com o marido Luiz, 26, quando os policiais chegaram. Ela diz que o marido foi pressionado para assumir que tinha drogas. "Quem eles devem pegar, eles não pegam. Meu marido é trabalhador".O delegado Ronaldo Oliveira disse que a polícia faz varredura em casas abandonadas ou

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que sejam suspeitas, segundo indicação de moradores . "Os moradores estão colaborando com a polícia", afirmou.Waldemir Carlos da Rocha, 44, contou que circulava pela rua quando um policial lhe disse que ele estava passando muitas vezes por ali. "Não é hora de ficar andando pra lá e pra cá", teria dito o policial. "Eu estou no meu direito de ir e vir", disse Rocha.Suspeitando de Rocha teria vínculo com o tráfico, os policiais foram à casa dele, olharam e foi embora. A mulher contou que os policias mandaram o marido calar a boca. "Se fosse bandido, você ia ficar quietinho, não é? Bandido chega aqui e come até a sua mulher", teria dito o policial na frente das filhas do casal.COLABOROU ROGÉRIO PAGNAN, ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Zona sul festeja ocupação, mas teme ação na Rocinha VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃOENVIADO ESPECIAL AO RIO

O domingo foi de sol e 30C no Rio de Janeiro e os cariocas comemoraram a ocupação do conjunto de favelas do Complexo do Alemão pela polícia do jeito de que mais gostam, na praia.Nas areias lotadas de Copacabana, Ipanema e Leblon, na zona sul, a preocupação agora é que o conflito chegue à Rocinha.A maior favela da cidade -e também a mais lucrativa para o tráfico- fica bem no meio do caminho entre a zona sul e o bairro de classe média da Barra da Tijuca, na zona oeste, e em frente à praia de São Conrado."O aplauso para o pôr do sol hoje vai ser dedicado aos policiais que subiram o morro. O Rio ganhou um novo bairro, até a semana passada a região da Penha não pertencia à cidade", afirma a psicóloga Rosana Pimentel."Uma coisa é a Vila Cruzeiro e o Alemão, no meio da pobreza. Na zona sul, o cartão postal do Rio e do Brasil, a coisa é diferente e muito mais complicada. Uma ação na Rocinha isolaria vários bairros", diz o comerciante Júlio Cesar Meneses."Foi um sopro de autoestima, achávamos que estava tudo perdido, que não tinha mais jeito", afirma a professora Jussara Freire.

ESTOQUE DE COMIDANa Rocinha, moradores dizem viver um clima de apreensão com a possibilidade de a favela ser ocupada pela polícia e com os boatos de que Fabiano Atanazio da Silva, o FB, antigo chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, tomada na semana passada, teria se refugiado por lá.A ida de FB para a Rocinha é investigada pela polícia.Vizinhos dizem que já se prepararam para um conflito no morro com estoques de comida e de água."Compramos até velas. A primeira coisa que vão cortar é o fornecimento de energia", diz a manicure Janeide Silva. Ainda segundo os moradores da Rocinha, um carro de som da associação do bairro tem circulado nos últimos dias pedindo calma e que as pessoas mantenham a rotina porque não haveria incursões policiais como na zona norte naquela área.

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Exército ficará em favelas do Rio por até sete mesesO governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou ontem que já acertou com o Ministério da Defesa a permanência do Exército nas ruas dos recém-ocupados Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro até a instalação de duas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).Cabral estimou em seis a sete meses a permanência dos militares, embora a Polícia Militar acredite poder fazer a transição em menos de quatro meses. A principal crítica feita a ocupações anteriores do complexo era o fato de serem temporárias -a polícia subia o morro, entrava em confronto com traficantes, prendia alguns e saía alguns dias depois. Com isso, os criminosos voltavam.Para implantar a UPP do Alemão será preciso um efetivo de 2.000 policiais, o equivalente a 5% da corporação e número pouco inferior ao que já atua nas 13 UPPs em atividade - 2.272.Isso acarretará um acréscimo de ao menos R$ 4 milhões na folha salarial -4% dos gastos do Rio com pessoal da PM. O custo para implantar e equipar as unidades deve passar de R$ 2 milhões, financiados por doações da iniciativa privada.

EFETIVOEm 2011, a corporação ganhará mais 7.000 policiais que estão em cursos de formação. O efetivo da nova UPP, como de costume, será formado por policiais recém-formados, para diminuir riscos de corrupção.Criadas em 2008, as UPPs consistem em postos de policiamento comunitário instalados em favelas para garantir a manutenção da paz após operações policiais que desmantelaram o tráfico nesses locais. Até agora, a maior em funcionamento era a da Cidade de Deus, inaugurada em 2009, com 326 policiais.O tempo entre a retomada da comunidade e a instalação do posto de policiamento será maior que o normal. No caso do morro dos Macacos, onde será inaugurada hoje a 13ª UPP da cidade, a ocupação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) começou em outubro.O governador disse que falta ainda acertar questões técnicas, como o número de militares da operação -atualmente, 800 homens do Exército cuidam do policiamento dos acessos ao Complexo do Alemão.Cabral se reuniu ontem com a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), em Brasília. Ele deve formalizar hoje o pedido de permanência do Exército para um "policiamento ostensivo permanente" até a instalação das UPPs.

Polícia suspeita que bandidos fugiram pela rede de esgoto

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Os principais chefes do tráfico no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro seguem foragidos após as operações de retomada das comunidades pela polícia do Rio de Janeiro. Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, que chefiava o Comando Vermelho no Complexo do Alemão, e Fabiano Atanázio da Silva, o FB, comandante do tráfico na Vila Cruzeiro, têm paradeiro desconhecido.Também está foragido o chefe do Comando Vermelho fora da cadeia, Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que, segundo informações da inteligência policial, estava no Alemão.O Bope investiga denúncias de que bandidos teriam fugido do complexo por meio de galerias de esgoto.O comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique de Moraes, disse que moradores relataram que criminosos obrigaram funcionários das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) a fazer dutos largos para eles fugirem.As obras no complexo foram iniciadas em março de 2008 e incluem, além da construção de conjuntos habitacionais, a recuperação de ruas e instalação de redes de saneamento e iluminação pública, além de equipamentos sociais.Em nota, a Secretaria Estadual de Obras e a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio (Emop), responsáveis pelas obras, disseram que "as obras seguem rigorosamente os projetos aprovados pela Caixa Econômica Federal, são sistematicamente fiscalizadas e medidas, e não podem ser alteradas".Ontem, a operação pente-fino das polícias Militar e Civil no Complexo do Alemão apreendeu ao menos 95 quilos de cocaína, uma quantidade não especificada de maconha e crack, além de 12 fuzis, dez granadas, pistolas, facas e bombas caseiras.

MEDOApesar da ocupação da polícia e dos militares no Complexo do Alemão, funcionários terceirizados da Light, distribuidora de energia do Rio, se recusavam a entrar nas favela da Grota, ponto base da operação integrada polícia e Forças Armadas.Eles temiam um ataque de traficantes escondidos, que teriam interesse nos uniformes que usavam, para saírem disfarçados da comunidade."Só vamos entrar se a polícia nos acompanhar no trabalho. Nosso uniforme é bastante visado", afirmou o medidor Jorge Luiz Costa.José Lourenço Guimarães, 46, que há 15 anos trabalha como marcador dos medidores de consumo de luz em comunidades da zona norte, estava na mesma situação. Ao lado de outros seis funcionários, lembrava quando foi espancado por traficantes sob suspeita de ser um policial disfarçado. (DIANA BRITO, CIRILO JÚNIOR E LUIZA SOUTO)

Drogas e armas ainda compõem cenário da Rocinha O clima de que a situação no Rio está "dominada" pela polícia não existe na maior favela da cidade. Na Rocinha, a venda de drogas e circulação de homens armados ainda ocorre à luz do dia.Nem é preciso desbravar os becos e travessas para ver homens armados de pistolas e aviõezinhos vendendo papelotes de cocaína e de maconha no varejo. As cenas de tráfico são vistas na estrada que liga o bairro da Gávea à praia de São Conrado.Por estar na zona sul, entre os bairros de classe média, a Rocinha é o centro de distribuição de drogas mais lucrativo para o tráfico no Rio. A comunidade é o próximo alvo da polícia, diz o governo.No início da tarde de ontem, não havia policiamento. Homens com pistola na cintura

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subiam em motos, outros carregavam pacotes de um pó branco e adolescentes enrolavam cigarros de maconha e preparavam papelotes do que parecia ser cocaína.Apesar da promessa de ocupação policial, o movimento na favela era normal para uma segunda-feira, segundo relato de moradores.No fim de semana, moradores disseram à Folha que já estocam comida e água à espera de incursões policiais. Médicos do pronto-socorro da prefeitura dizem que colegas abandonaram o plantão.Com a ocupação do Alemão surgiram boatos de que chefes do tráfico teriam se refugiado na Rocinha. Os médicos temiam incursões.A prefeitura nega e diz que há apenas o registro de uma médica que pediu transferência da unidade, mas que trabalha normalmente.As operações até agora não impactaram no preço da droga, segundo especialistas. "Boa parte é entregue em domicilio", diz o sociólogo Inácio Cano, da UERJ (Universidade do Estado do Rio).

Polícia destruiu TVs, dizem moradoresNo final de 2009, numa festa da empresa, Márcio ganhou num sorteio uma TV de LCD de 32 polegadas. Para receber o bem mais valioso da casa, sua mulher mandou pintar as paredes e comprou um móvel novo.Ontem, ao voltar para o imóvel no Complexo do Alemão, o casal chorou ao encontrar o prêmio com a tela furada, bem no meio.Segundo Flávia, a mulher, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado, o buraco na tela foi feito pelo fuzil de um dos policiais, conforme relatos de vizinhos."Eu deixei as chaves da casa com minha vizinha. Disse que era para entregar aos policiais se eles quisessem revistá-la. Coloquei até a nota fiscal na gaveta para mostrar que era tudo certinho", diz.As polícias Militar e Civil informaram não ter recebido nenhuma reclamação formal. Ao todo, cinco famílias ouvidas pela Folha reclamaram de portas arrombadas por policiais que reviraram tudo e destruíram as TVs.Em várias ruas e becos, viam-se ontem moradores trocando as portas quebradas na operação policial.No domingo, o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, ordenou que seus homens revistassem todas as casas "rua por rua, beco por beco, buraco por buraco".Por lei, a polícia pode entrar se houve flagrante ou autorização do dono da casa.O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirma que os policiais só entram em casas do Complexo do Alemão se houver consentimento dos moradores ou for situação de flagrante de algum crime.A sede da Central Única de Favelas (Cufa) na favela da Pedra do Sapo, no complexo do Alemão, foi arrombada por policiais, diz o fundador do movimento. Celso Athayde fez a afirmação em seu Twitter e se disse dividido sobre a forma como policiais estão agindo após a ocupação do conjunto de favelas.Moradores têm denunciado a existência de corpos na mata que divide os complexos do Alemão e da Penha. De acordo com eles, policiais impedem a entrada de famílias para

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procurar os corpos.Segundo os moradores, 60 homens morreram na fuga da Vila Cruzeiro para o morro do Alemão, na tarde de quinta. A polícia conta três mortes desde quinta na operação.

Estado vai criar setor para ouvir as reclamações O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, orientou moradores do Complexo do Alemão que se queixaram a procurarem a ouvidoria que será aberta hoje no 16º BPM (Olaria).O comandante percorreu a rua Joaquim Queiroz, principal entrada da favela da Grota, entre 19h30 e 20h de ontem, até o Beco do Abacate, onde ouviu reclamações de três moradores.Mais cedo, as polícias Militar e Civil do Rio haviam informado que não tinham recebido nenhuma reclamação sobre abusos nas revistas.O objetivo da ouvidoria criada é agilizar as apurações de eventuais transgressões, segundo a PM. A PM informou que preservará a identidade dos denunciantes.A Polícia Civil disse, por sua vez, que recebeu dos moradores até agora apenas elogios. A instituição não soube informar se foram registrados furtos ou depredação de objetos nas casas.

Tráfico em baixa dá espaço a milícias A Secretaria de Segurança do Rio não aponta elo entre a derrota dos traficantes no Complexo do Alemão e o fortalecimento das milícias. Mas a retomada do morro, chamado pelo secretário José Mariano Beltrame de "coração do mal", mostra o narcotráfico vulnerável, enquanto os milicianos têm avançado no crime organizado.Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania no governo Anthony Garotinho (1999 a março de 2000) e secretário nacional de Segurança Pública no governo Lula (2003), "o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio".Ele é coautor de "Elite da Tropa 2", que tem como foco o avanço dos milicianos (policiais, bombeiros e agentes penitenciários que cobram taxa de moradores em troca de suposta proteção).Em um texto publicado em seu blog (http://luizeduardosoares.blogspot.com), Soares afirma que "a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la -isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes".Segundo ele, o tráfico é incapaz de competir com milicianos, pois estes ganham com drogas e com muitas outras atividades, como gás e TV a cabo clandestina."O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado,

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antieconômico: custa caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que são policiais)", acrescenta o antropólogo.Delegado da Polícia Civil que está à frente do combate às milícias, Cláudio Ferraz, coautor de "Elite da Tropa 2", endossa: "Os milicianos não têm investimento, só cobrança [de dinheiro]". Ferraz diz que os "cuidados devem ser constantes" para evitar que as milícias ocupem território.Até a operação no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, das 1.006 favelas do Rio, as milícias dominavam 41,5%; o tráfico, 55,9%; e as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), 2,6%, segundo dados do Nupevi (Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj). Implantadas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), as UPPs teriam motivado os recentes ataques."As milícias continuam crescendo. O que elas perderam foi representatividade política e aceitação pública", diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias em 2008, referindo-se às prisões do vereador Jerônimo Guimarães, então no PMDB, em 2007, e do deputado estadual Natalino Guimarães (ex-DEM), em 2008.

UPP do Alemão será a maior do Estado A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) que o governo do Estado planeja instalar no Complexo do Alemão será a maior do Estado do Rio.Embora constasse do pacote de 40 comunidades onde o governo quer instalar o programa até 2014, a UPP no Alemão não estava prevista para os próximos meses por falta de efetivo.Agora, o governo do Rio deve destinar cerca de 2.200 dos 7.000 policiais militares que se formarão no ano que vem para lá e para a vizinha Vila Cruzeiro, após a retirada dos militares, que voltarão a suas atividades normais.Exército, Marinha e Aeronáutica têm 324.138 militares e prestam assistência médica a comunidades isoladas, atuam em operações de paz e patrulham fronteiras.O Exército auxilia nas obras e serviços de engenharia para o governo. A Aeronáutica, por sua vez, vigia o espaço aéreo e ajuda na política aeroespacial. Já a Marinha presta socorro e faz o patrulhamento marítimo.

01 de dezembro de 2010Segurança do Rio apura desvio de armas e drogasA cúpula da Segurança do Rio investiga desvios de dinheiro e armas do tráfico de drogas, além de facilitação de fuga de traficantes, supostamente informados com antecedência por policiais sobre as operações.Com 1.600 homens envolvidos na ação, as polícias Militar e Civil não relataram nenhuma apreensão de dinheiro nem apresentaram números e a descrição exata das armas apreendidas.Um dos indícios de irregularidade é que o Exército, com 800 militares, relatou a apreensão de "US$ 50 mil mais R$ 20 mil" no sábado, totalizando R$ 106 mil.

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Mas, na versão da 22ª Delegacia de Polícia, na Penha, a quantia apreendida pelo Exército foi menor: de US$ 27 mil mais R$ 29 mil (total de R$ 75,1 mil) . Procurado de novo, o Comando Militar do Leste não quis comentar.A Polícia Federal, que participou com 300 policiais, informava ter apreendido R$ 39.850 de um traficante.Uma autoridade que pediu para não ter o seu nome divulgado disse que está havendo no Alemão "uma verdadeira caça ao tesouro", o que está deixando vários policiais indignados.Suspeita-se que o dinheiro que deveria ter sido apreendido tenha saído da favela em mochilas de policiais, enquanto carros de polícia eram usados para levar pertences como televisores.Contrariados por presenciar esses furtos, integrantes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) atiravam nas telas de TVs que estavam sendo levadas, disse uma fonte à Folha.Sobre as armas, uma pessoa envolvida na operação disse que a PF apreendeu em menos ações mais armas, de maior poderio e mais novas.Ontem, a secretaria disse que apreendeu 135 armas -velhas, em sua maioria.Só em dois carros do traficante Negão, a PF achou oito fuzis, sendo dois AK 47, um AR-15 e um FAL 762, além de oito pistolas e um revólver. Todos em bom estado.O Bope levou 11 armas apreendidas, incluindo duas metralhadoras, à PF. Poderia ter levado para a Polícia Civil.A cúpula da segurança também investiga denúncias e indícios de que policiais teriam avisado traficantes sobre o cerco, em troca de dinheiro, permitindo a fuga dos bandidos.Em agosto, a Folha revelou que a Secretaria de Segurança investiga a existência de uma "caixinha" do tráfico da Rocinha para pagar policiais que dão informações sobre ações contra o tráfico.

Tráfico perdeu R$ 100 milhões, diz PMO secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, apresentou ontem o resultado do trabalho das polícias Civil e Militar no Complexo do Alemão: 33 toneladas de maconha, 235 quilos de cocaína, 135 armas de longo alcance, entre fuzis e metralhadoras, além de bombas, granadas e munições que, segundo ele, ainda não tinham sido contabilizadas. A droga será incinerada hoje.O comandante-geral da PM do Rio, Mario Sergio Duarte, estimou em ao menos R$ 100 milhões o prejuízo causado ao tráfico com a ocupação do Alemão. Ele definiu a cifra como "uma paulada" nas finanças do tráfico.Beltrame minimizou o baixo número de presos no Alemão. Até ontem, eram pouco mais de 30, diante da estimativa de que haveria mais de 500 criminosos nas favelas. "O mais importante é a conquista do território", disse.Ele disse que os traficantes que escaparam serão buscados pela polícia. "Não houve falha no cerco. Se olhar o que cada preso significa, o resultado é positivo. O objetivo principal é recuperar território. Se prendermos pessoas e armas, melhor ainda", afirmou o secretário.À noite, a PM divulgou um balanço de apreensões do dia: 638 kg de maconha (mais 205 trouxinhas), 3 quilos de cocaína (mais 4.391 papelotes) e 260 ampolas de lança-perfume.

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Entre armas, estavam cinco fuzis, uma submetralhadora MT12, de calibre 9mm, uma espingarda calibre 12, uma carabina Puma 38, duas pistolas Glock, uma espada, nove carregadores de pistola, um carregador de fuzil Ruger, um carregador de fuzil 556, 200 balas de fuzil 762, 60 balas de 40mm e 30 balas de pistola 9mm.

EXÉRCITO FICAO governador Sérgio Cabral (PMDB) pediu ontem, formalmente, a permanência do Exército na cidade até outubro de 2011.O governo decidiu não incluir no pedido o número de soldados, embora estime que 2.000 homens sejam necessários para a tarefa.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que as tropas federais continuarão na cidade por tempo indeterminado."[As tropas] ficarão pelo tempo que for necessário para garantir a paz", disse, após visita às obras da Usina Hidrelétrica Estreito (MA)."Se em determinado momento o comandante da operação entender que precisa de mais gente, nós vamos atendê-lo", disse Lula.(CIRILO JUNIOR, HUDSON CORRÊA, RODRIGO RÖTZSCH, FELIPE CARUSO e BRENO COSTA)

02 de dezembro de 2010Suspeitas de abuso policial não freiam avanço, diz secretárioEm visita ontem ao complexo de favelas do Alemão, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse que as denúncias de excessos de policiais e as suspeitas de desvios de armas, dinheiro e drogas apreendidos serão apuradas "caso a caso".A Folha revelou ontem que a cúpula da Segurança do Rio investiga o envolvimento de policiais militares e civis nos desvios dentro do complexo e, também, na facilitação de fugas de traficantes durante sua ocupação. "Houve acusação, vamos levantar, vamos punir, mas não podemos parar. O passo que se deu é determinante para consolidar essa ocupação", afirmou o secretário.Para Beltrame, "é temerário acusar sem provas". "A suposição atrapalha a todos nós. As denúncias existem de toda ordem. Na medida em que tivermos o saldo de todas as ocorrências registradas, vamos analisar caso a caso."

ATÉ BANANASNa visita de Beltrame ao complexo, uma moradora parou a comitiva para denunciar um policial que invadiu sua casa para "roubar dinheiro" e "um cacho de bananas". Só saiu, disse ela, após ser ameaçado com uma panela de água fervente."Ele tentou levar R$ 2.000 da rescisão de emprego do meu filho e R$ 400 meus, além da câmera fotográfica que só paguei uma prestação", afirmou a diarista Cleonice Madalena de Freitas.Com uma equipe de 19 policiais no Alemão, a CGU (Corregedoria Geral Unificada) da Secretaria de Segurança apura "informes de desvio de dinheiro, armas, ouro [possivelmente joias] e drogas do tráfico", disse o corregedor Giuseppe Vitagliano.

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A CGU investiga também se policiais, atrás de dinheiro, agrediram moradores.Conforme a Folha apurou, o governo do Rio considera dignas de crédito as suspeitas de que policiais corruptos possam ter facilitado a fuga de criminosos do Alemão.Não quer, no entanto, que a investigação sobre o caso ganhe muita visibilidade para não ofuscar a visão que predominou até aqui na mídia e na sociedade de que a operação foi um sucesso.Ontem, o governador Sérgio Cabral se reuniu com o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, para discutir os próximos passos da operação de ocupação no Alemão. (VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO, RODRIGO RÖTZSCH, DIANA BRITO E HUDSON CORRÊA)

Morador diz que foi amarrado por policiais em blitz Amarrado com as mãos para trás por um fio de ventilador, amordaçado com a fralda do sobrinho de um mês, imobilizado em uma cadeira de espaldar alto, um biscateiro de 19 anos diz ter passado meia hora de terror em sua casa, na Vila Cruzeiro, na manhã de ontem.A mãe, mulher, irmã e o filho de 3 anos dele, que estavam no imóvel na hora em que os policiais chegaram, foram expulsos do local pelos soldados. Ficaram na porta, gritando por socorro.A Folha entrou na casa do biscateiro poucos minutos depois de os quatro policiais se retirarem em um carro azul claro e branco, as cores da PM. As crianças berravam. O rapaz teve uma crise de choro convulsivo. Mãe, mulher e irmã gritavam, assustadas e revoltadas. "Onde é que está o dinheiro? O que é que tu tem aí pra perder?, perguntavam todo o tempo. Falavam que se o dinheiro não aparecesse, me matariam", disse o biscateiro.Os policiais vasculharam a casa. Com os canos de suas armas, estouraram o forro de plástico no teto, em busca de algo que pudesse estar escondido. Segundo a família, não encontraram nada.A casa fica no segundo piso de um imóvel que era, até quinta passada, ocupado por um homem suspeito de ligações com o narcotráfico.A polícia já vistoriou o piso inferior, que foi depois saqueado. Teto com sanca de gesso e lâmpadas embutidas agora estão quebrados. Sofás e móveis modulares da cozinha e banheiro também foram revirados.

SEGUNDA VEZSegundo a irmã do biscateiro, policiais do Batalhão de Operações Especiais e da Tropa de Choque já estiveram em sua casa."Eles vieram, revistaram tudo e nos deixaram em paz. A gente achou até que era correto, porque tinha um sujeito meio bandido bem embaixo de nós. Mas hoje foi diferente. Quando viram que não tinha nada aqui em casa, mandaram todos nós sairmos de casa e ficaram aqui só com meu irmão. Para nós, parecia que nunca mais íamos revê-lo com vida."A doméstica Maria, 52, mãe do biscateiro, gritou tanto pedindo para entrar em sua casa que mal conseguia falar com a Folha. Segundo ela, os policiais haviam retirado as

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identificações de seus uniformes. "Eu só vi que um deles era O+", disse, referindo-se ao tipo sanguíneo de um dos soldados.A assessoria da PM do Rio afirma que as denúncias de abusos cometidos por policiais serão investigadas e que o comando da tropa punirá "com rigor" os envolvidos em "desvios de conduta".A família do rapaz não pretende denunciar os policiais. "Quando vocês forem embora, eles vêm e acertam contas com a gente", disse a mãe.

03 de dezembro de 2010Exército terá poder de polícia dentro do AlemãoAs favelas do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, no Rio, que até a semana passada pertenciam ao tráfico, passarão a ser patrulhadas pelo Exército nos moldes do que ocorre no Haiti. Esta será a primeira vez, após a redemocratização, que o Exército atuará nas ruas com poder de polícia. Os militares poderão revistar casas, prender pessoas e até perseguir suspeitos e atuar em possíveis confrontos. Segundo o Exército, essa força de pacificação será empregada numa segunda etapa da operação, que pode ocorrer ainda neste ano. A primeira fase da ocupação será concluída, segundo o comandante do Exército, general Enzo Peri, quando o trabalho da polícia, que ainda procura por traficantes, armas e drogas, for concluído -não há prazo previsto. A previsão do governo do Rio é que o Exército fique por cerca de sete meses, até que sejam implantadas as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nessas favelas. De acordo com o comando do Exército, ainda faltam algumas questões legais. Uma delas é uma diretriz sobre os moldes da ocupação a ser feita pelo Ministério da Defesa. Para o coordenador do Centro de Estudos de Direito Militar, João Rodrigues Arruda, o uso do Exército, por meio de diretriz ministerial, é inconstitucional. "Tinham que decretar intervenção, mas fizeram uma diretriz ministerial. Isso não existe." Relatório do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, de 2007, sugere que haja emprego das tropas para a preservação da ordem pública só quando houver decretação de intervenção federal, estado de sítio ou estado de defesa. Nos demais casos, é indicado o apoio logístico.

ATUAÇÃOHoje, cerca de 800 militares fazem o cerco no Alemão e na Vila Cruzeiro. Os soldados não entram nas favelas, mas revistam suspeitos. Não há definição de como ficará o papel das outras polícias, mas não há dúvidas de quem vai mandar. "O comando é militar", disse Peri. Não está definido também qual será o efetivo, mas pode ser algo em torno de 2.000 homens, segundo militares. Os policiais cariocas dizem que o pedido de apoio partiu do governo e que, por eles, o Exército não teria sido acionado. Mas, oficialmente, dizem que a relação é muito boa

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com os militares. Ontem, a Marinha, que dava apoio logístico às ações, deixou de atuar nas ruas.

Estratégia se assemelha à do HaitiLUIS KAWAGUTIDE SÃO PAULO

A tomada do Complexo do Alemão foi semelhante às operações de pacificação conduzidas por tropas da ONU, comandadas pelo Brasil, na favela de Citè Soleil, no Haiti, entre 2006 e 2007. Nos dois casos foi preciso um cerco para encurralar os criminosos. Também nos dois casos, muitos fugiram. No Haiti houve mais resistência. Por causa disso, a ação em Citè Soleil precisou de várias fases. Já no Alemão tudo ocorreu em duas horas. No Haiti, as tropas conquistavam uma região, construíam bases permanentes e avançavam para a seguinte. O processo ocorreu de maio de 2006 a março de 2007. Os soldados da ONU tinham respaldo legal mais sólido. Obedeciam às leis da ONU e tinham autorização para matar em caso de ameaça, sem necessidade de que o adversário atirasse primeiro. Não precisavam de mandado para entrar na casa onde estavam rebeldes e podiam prendê-los -depois do interrogatório, tinham de entregá-los à polícia haitiana. Segundo o coronel da reserva do Exército Cláudio Barroso Magno, que comandou operações em Citè Soleil, apesar de as tropas da ONU também terem sido incapazes de impedir a fuga de criminosos, desde março de 2007 não há confrontos. "Nosso foco no Haiti foi mudar a atitude da população, que deixou de aceitar a dominação dos bandidos. O Rio pode usar essa mobilização e a união das forças de segurança para dar os novos passos para a pacificação", afirmou o coronel Magno.

PARCERIAO governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse ontem em Buenos Aires que a parceria com as Forças Armadas permitirá que o governo mantenha seu cronograma de instalação de UPPs. "A operação do [Complexo do] Alemão gerou um ganho na estratégia e no planejamento muito grande", disse.

Forças Armadas permitem manter cronograma de UPPs, diz CabralO governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), disse ontem em Buenos Aires que a parceria com as Forças Armadas para ocupar morros da capital fluminense permitirá que o governo mantenha seu cronograma de instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora)."A operação do [Complexo do] Alemão gerou um ganho na estratégia e no planejamento muito

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grande", disse."Com essa parceria com o Ministério da Defesa, o nosso planejamento de pacificação permanece inalterado", afirmou na capital argentina.Cabral foi a Buenos Aires participar da inauguração de uma unidade de saúde inspirada nas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) do Estado do Rio.Segundo o governador, a presença dos militares nos morros permitirá que os policiais militares que estão sendo formados especificamente para trabalharem em UPPs sejam destinados a outras comunidades, conforme o planejamento anterior à recente crise na segurança pública.

ABUSOS POLICIAISQuestionado sobre as suspeitas de abuso por parte de policiais nas ocupações, o governador disse que o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, e os comandantes das corporações policiais "não têm nenhum tipo de pacto com a má conduta" e "não passam a mão na cabeça de maus policiais"."Eu posso garantir que essa [prática de abusos] é uma exceção à regra", afirmou o governador do Rio."Não adianta a gente ficar com elucubrações. Temos de apurar tudo para saber se [as denúncias] têm a intenção de desmoralizar a operação ou se era má conduta mesmo. Se foi, será punida. Aquele que usou de má-fé em denúncias também será punido", concluiu Cabral.

04 de dezembro de 2010Lula descarta Exército por muito tempo no RioO presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Nelson Jobim (Defesa) não acataram o pedido do governador Sérgio Cabral (PMDB) para ampliar o emprego das Forças Armadas por mais sete meses no combate à criminalidade no Rio de Janeiro.Lula telefonou anteontem para Jobim, que estava na Polônia, perguntando sobre a proposta de ampliação.Presidente e ministro acertaram que o governo federal aceita manter as tropas no Rio, mas sem estabelecer prazos -muito menos longos, como quer Cabral.Como a Folha revelou no início da semana, há um temor do Comando do Exército com o risco de "contaminação" dos militares por marginais e traficantes caso a permanência no local fosse ampliada por tanto tempo.Lula publicou ontem no "Diário Oficial" da União a autorização para que o ministro emita uma nova diretriz oficial sobre as Forças Armadas no Rio. A diretriz estabelece a continuação da operação militar, mas sem datas preestabelecidas."É preciso ter flexibilidade para avaliar de tempo em tempo", disse Jobim à Folha. Hoje, ele vai para o Rio, onde terá encontro com Cabral para detalhar a continuação do trabalho militar no Estado.O ministro pretende dizer claramente que o governo federal não aceita a formalização de mais sete meses dos militares na operação.Segundo Jobim, uma permanência das tropas por um tempo longo iria desvirtuar o objetivo da entrada militar: "Em nenhum momento se pensou em transformar o Exército em polícia. Isso não vai acontecer", garantiu.Ele explicou que as Forças Armadas entraram numa ação de emergência extraordinária

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e que não há sentido em ampliá-la "sine die", criando um padrão.Disse que, além de estar em contato direto com Lula, tem discutido todas as questões envolvendo o Rio com os três comandantes: general Enzo Peri (Exército), almirante Julio Soares de Moura Neto (Marinha) e brigadeiro Juniti Saito (Aeronáutica).Conforme a Folha apurou, Lula, Jobim e a presidente eleita, Dilma Rousseff, acham que Cabral tem falado mais do que devia.Cabral já criou constrangimento a Dilma, por exemplo, ao anunciar o nome de seu secretário Sérgio Cortês para o Ministério da Saúde. Pressionada pelo PMDB, Dilma teve de desautorizá-lo.O mesmo se repete agora, ao anunciar prazos sem consultar o governo. Incomodou militares e obrigou o presidente e o ministro a negarem.

Ministro definirá regras para ação militar

Ao emitir uma nova diretriz sobre o emprego das Forças Armadas no combate ao crime no Rio, provavelmente hoje, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, vai tentar colocar a operação em um eixo de legalidade mais definido do que tem sido até agora.A nova diretriz terá três objetivos: estabelecer uma área específica de atuação, nomear um só comandante para essa área específica e possibilitar que as tropas sejam recolhidas a qualquer momento, sem se eternizarem numa operação que é basicamente policial.Na diretriz anterior, Jobim determinou o emprego de 800 homens do Exército para "fiscalizar o perímetro" (as entradas dos morros) e de helicópteros de apoio da Aeronáutica (para transportar atiradores de elite da PM).Ele, porém, não definiu que os militares assumissem o controle da ação, como cabia. Mandou apenas designar um oficial para "promover a integração dos comandos militares e a ligação com as autoridades".

QUESTÃO LEGALPor lei, o uso das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, atuando como polícia, ocorre quando o governador admite formalmente insuficiência de meios para combater o crime, pede intervenção e entrega o comando de ação à força federal.Como não houve nenhuma dessas condições -nem reconhecimento de insuficiência, nem pedido de intervenção, nem a entrega do comando ao Exército-, as tropas só poderiam atuar no apoio logístico, e não, como acontece na prática, no combate direto aos bandidos.Por isso, militares questionam a legalidade da ação -que ironizam como "heterodoxa". Eles, porém, reconhecem os ganhos de imagem para as Forças Armadas.O desafio de Jobim será usar seus dons de advogado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal para compatibilizar a lei com o interesse do Rio de ter as tropas militares e a satisfação das tropas em atuar no Rio.(ELIANE CANTANHÊDE)

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Polícia prendeu 118 desde o início dos ataquesBalanço divulgado ontem à noite pela Polícia Civil informa que 118 pessoas foram presas e 21 menores apreendidos desde o dia 21, quando começaram os ataque do tráfico na cidade.Dos presos, 82 são suspeitos de associação com o tráfico e 36 de dano qualificado -incêndios e depredações.O governo ainda não tem o total de mortos, prisões e as apreensões feitas. Segundo a secretaria, há "pelo menos" 40 pessoas mortas.Ainda de acordo com a secretaria, o número de mortos deve aumentar nos próximos dias já que a pasta enfrenta "problemas burocráticos" para receber informações dos IMLs do Estado. A Folha registrou no período ao menos 51 pessoas mortas -sendo 37 registradas pela PM, 7 pela Polícia Civil e 7 em hospitais públicos do Rio.Foram apreendidos também 136 fuzis, 169 pistolas, 56 revólveres, 18 carabinas, 34 espingardas, 35 metralhadoras -sendo três bazucas- 18 submetralhadoras e 38 granadas, além de drogas.

05 de dezembro de 2010Onde estão os mortos?O adolescente Davi Basílio Alves, de 17 anos, morreu na quinta-feira (25/11). Soldado do tráfico -a própria família o admite-, o jovem foi alvejado por policiais e caiu morto em uma rua de terra da Vila Cruzeiro, quando tentava fugir para o Complexo do Alemão. A mãe de Davi mora em uma viela suja, pichada com um imenso C.V. do Comando Vermelho, na parte baixa da favela.A mulher logo recebeu a notícia de que o filho não conseguiu escapar. Quando o tiroteio amainou, ela correu ladeira acima. Viu Davi morto ao lado de um campinho de futebol e pediu aos soldados vasculhando as quebradas em busca de armas e drogas para que removessem o corpo de lá."Eles disseram que tinham mais o que fazer. Que, se ela tinha sido capaz de pôr um bandido no mundo, seria capaz também de enterrá-lo", rememorou uma vizinha.A mãe telefonou para a funerária. "Disseram que não dava para fazer o trabalho." E não dava mesmo. Rajadas de tiros ainda cortavam a favela.Choveu na noite de quinta. A manhã úmida veio com um calor de 29ºC na sexta. O corpo do adolescente grandalhão começou a incomodar. Rondavam urubus, que se empoleiravam às dezenas na torre de transmissão elétrica, a poucos metros dali.

AOS PORCOSDas mais de 20 pocilgas localizadas nos terrenos baldios próximos, saíam porcos magros, em estado de fome crônica. No sábado, o cadáver amanheceu dilacerado.A mãe arrumou um carro -a vizinhança já não suportava o cheiro. O corpo foi enrolado em uma lona e conduzido ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha.Oficialmente, o jovem morreu naquele dia. Ficou assim registrado na planilha divulgada pelo Instituto Médico Legal: Davi Basílio Alves, 17 anos, pardo, Vila Cruzeiro. Só.

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Para a Polícia Militar, 37 pessoas morreram em confrontos polícia-bandidos desde o dia 21 na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.Todo dia, a corporação solta um balanço das operações. Coisa sucinta, contabiliza mortos junto com número de garrafas PET e litros de álcool e gasolina apreendidos. Nenhum nome.Para a Secretaria de Segurança Pública, morreram 18 pessoas (17 identificadas).O número refere-se aos cadáveres produzidos a partir do dia 25. Os mortos entre os dias 21 e 24, a secretaria não contabiliza. E diz que nem o Instituto Médico Legal do Rio tem dados referentes aos mortos desse período, apesar de todos os corpos recolhidos nas favelas sinistradas pela violência terem sido encaminhados para lá.

INOCENTESCoincidentemente, a contabilidade da Secretaria de Segurança Pública, omitindo as estatísticas anteriores ao dia 25, evita mencionar incômodas mortes de inocentes óbvios. Como a da adolescente Rosângela Barbosa Alves, 14, atingida por um tiro nas costas enquanto estudava dentro de casa, na frente do computador. Ou a da dona de casa Janaína Romualdo dos Santos, 43, e de um idoso -todos atingidos por balas perdidas.Sobre as mortes ocorridas a partir do dia 25, o IML nada informa a respeito das circunstâncias em que elas aconteceram. Diz que os "detalhes sobre os laudos são peças de investigação e não serão divulgados".Assim, não se sabe se houve tiros à queima-roupa, ou o número de perfurações nos corpos, ou se houve concentração de disparos na cabeça. Nem sequer se sabe se alguém morreu esfaqueado.

SILÊNCIOA Folha pediu para entrevistar um perito do IML. Resposta: "Infelizmente, não há perito disponível para conceder entrevista sobre o laudo cadavérico dos corpos"."Esse tipo de silêncio seria inadmissível se os mortos fossem moradores ricos de Ipanema, mas, como é gente pobre, vale tudo", disse uma professora da Vila Cruzeiro.O segurança Rogério Costa Cavalcante, 34, aparece em uma lista de mortos como um dos "traficantes que trocaram tiros com os policiais", segundo informação oficial da assessoria de comunicação da Polícia Civil do Rio.Das poucas coisas que se sabe sobre os mortos nos confrontos dos últimos dias, uma das mais certas é que Rogério Costa Cavalcante não trocou tiros com os policiais. Ele foi alvejado bem na frente das câmeras de fotógrafos e cinegrafistas.Tinha os bolsos cheios de convites para a festa de aniversário de seu único filho. Iria entregá-los quando deu o azar de ficar entre os fogos da polícia e dos traficantes.Cavalcante caiu com um buraco na barriga, pediu socorro e desfaleceu na frente das câmeras. A Primeira Página da Folha de sábado passado (27/11) publicou a foto.

SEM AUTORIDADEO homem foi enterrado no cemitério do Catumbi na terça-feira (30/ 11). Com a polícia acusando-o de ligação com o tráfico, nenhum representante do Estado achou necessário levar solidariedade à família. Da imprensa que se acotovelava no Complexo do Alemão

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quando Cavalcante foi atingido, só a Folha acompanhou o enterro.O Ministério Público ainda aguarda a conclusão dos inquéritos sobre as mortes, para entrar na história. Isso pode demorar até 30 dias.Na última quinta-feira, um grupo de ONGs com atuação na área dos confrontos reuniu-se para "construir uma agenda propositiva para o conjunto de favelas do Alemão". Pediam investimentos do governo. Sobre os 37 mortos, nenhuma palavra.

06 de dezembro de 2010Governo não divulga lista de mortos e presosDuas semanas após o início dos ataques a veículos no Rio -cuja reação foi a ocupação policial dos Complexos do Alemão e da Penha-, a Secretaria de Segurança Pública ainda não divulgou uma lista completa dos nomes de presos e mortos.Até sexta-feira, o número oficial de pessoas que continuavam presas era 118. Ainda não há informações sobre quantas foram detidas e depois liberadas.Em relação aos mortos, a secretaria disse que já identificou 18 de um total de "pelo menos 40". A Polícia Militar fala em 37 e a Folha contabilizou 51.A secretaria alega "problemas burocráticos" para receber informações dos IMLs (Institutos Médico-Legais) do Estado.Nas delegacias próximas ao Alemão e à Penha, policiais disseram à reportagem que é nítida a redução de ocorrências. Na 38ª DP (Brás de Pina), o índice de roubos a pedestres caiu de uma média de 30 casos diários para nove, diz o inspetor Paulo Roberto Alves. (FERNANDO MAGALHÃES)

12 de dezembro de 2010Rio quer minar QGs do tráfico em 2 anosA Secretaria de Segurança do Rio fala em ocupar os "quartéis-generais" do tráfico em dois anos. A meta é atingir o caixa das facções criminosas e desarticulá-las antes da Copa de 2014. Seis favelas estão na mira oficial.Enfraquecido com a ocupação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no dia 28 de novembro, o Comando Vermelho ainda mantém outros importantes entrepostos de drogas e armas, como as favelas de Manguinhos, Jacarezinho e Mangueira, na zona norte.A facção ADA (Amigos dos Amigos) também tem redutos em áreas sensíveis, como a Rocinha, zona sul, e o Complexo do São Carlos, centro.Completa a lista o Complexo da Maré, conjunto de 22 favelas disputadas por três facções. Ela fica às margens da Linha Vermelha, único acesso ao aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim.A promessa de campanha do governador reeleito Sérgio Cabral Filho (PMDB) é acabar com o controle territorial do tráfico no Rio até 2014.A secretaria avalia que o momento para ocupar as favelas mais lucrativas é na primeira metade do governo.

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"Os anos de 2011 e 2012 serão definitivos da consolidação dessa política", diz o superintendente de Planejamento Operacional da pasta, Roberto Alzir, responsável pelo planejamento de instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs.Com a ocupação das seis favelas, as demais comunidades, para a secretaria, perderiam força e haveria mais facilidade para desarticular as quadrilhas locais.A secretaria prevê instalar 40 UPPs até 2014. A dificuldade é a ampliação do efetivo da PM. São necessários 12.500 homens para concluir o plano. Dois mil estão lotados hoje nestas unidades.Além de servirem como pontos de distribuição de maconha e cocaína para outras favelas, os "QGs" são destino de veículos e cargas roubadas, bem como esconderijo de quadrilhas de ladrões. No Alemão, foram encontrados carros roubados a mais de 150 km da cidade.Para a polícia, a ação no Alemão desarticulou o CV, a mais violenta facção do Rio. Além de perder drogas e armas, acumulou dívidas por comprar entorpecentes em consignação e, agora, não ter mais o produto para vender.Sua substituição como principal entreposto está indefinida em razão da fuga dispersa dos chefes. "Podemos ter o acréscimo de marginais nas favelas A ou B, mas nada que se compare com o que havia no Alemão. Resolvemos 60% dos problemas", diz Ronaldo Oliveira, diretor das delegacias especializadas da Polícia Civil.Mas restam áreas dominadas pela ADA, que tem a Rocinha e o Complexo de São Carlos como seus redutos.A primeira área, diz a polícia, tem atualmente a quadrilha mais bem estruturada, já que os pontos de venda de drogas na zona sul são os mais lucrativos por causa da clientela de classe média.Só que ninguém tem mais, segundo o governo, o armamento que havia no Alemão e na Penha -foram apreendidos fuzis (147), metralhadoras (39), submetralhadoras (19) e pistolas (213).

Milícias não se combatem com UPP, afirma governoO combate às milícias não depende de instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), avalia a cúpula da Secretaria de Segurança. Para o órgão, investigação e prisão dos líderes é o suficiente para enfraquecer os grupos paramilitares.Alçadas ao topo do debate pelo filme "Tropa de Elite 2", as milícias já dominam mais áreas do que a principal facção do tráfico, o Comando Vermelho, aponta estudo do Nupevi (Núcleo de Pesquisa das Violências), da Uerj.Embora não descarte a instalação de unidades nas áreas de atuação desses grupos criminosos, a pasta avalia que uma atuação mais efetiva das corregedorias e de investigações em conjunto com a Polícia Federal podem desarticular as quadrilhas."Essas pessoas [integrantes de milícias] têm endereço, família, responsabilidade familiar. Com investigação, liberando a polícia dessa guerra do tráfico, a gente controla as milícias talvez sem a necessidade de ocupação física da polícia", afirma o superintendente de Planejamento Operacional da secretaria, Roberto Alzir.

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FORMAÇÃOAs milícias são formadas, em geral, por policiais e ex-agentes. Cobram taxas de moradores e comércio, principalmente na zona oeste do Rio, e impõem "penas" aos que se negam a pagá-las.Entre as 13 UPPs instaladas, só uma foi posta em área de influência de milícias.O Batam, favela com 45 mil moradores, foi ocupado em fevereiro de 2009, logo após a tortura de uma equipe do jornal "O Dia" feita pela quadrilha que atuava ali."Se não conseguirmos controlar [as milícias] com ações regulares de polícia, teremos que ocupar. São cenários a serem avaliados", afirma Alzir. (ITALO NOGUEIRA)

Secom, 24 de dezembro de 2010Acordo que autoriza e define as regras dos trabalhos no complexo Penha-Alemão foi assinado entre Defesa e governo do estadoAcordo que autoriza o início dos trabalhos e define as regras de implementação da Força de Pacificação (FPaz) no complexo Penha-Alemão foi assinado na quinta-feira (23) pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Constituída pelo Exército e pelas polícias Civil e Militar, a Força atuará para garantir a lei e a ordem na área abrangida pelo complexo. O acordo detalha os fundamentos constitucionais e legais para a ação das tropas federais e das equipes de segurança pública do estado. Exército e polícias Militar e Civil atuarão em coordenação, mas sob o comando de um oficial-general desta Força Armada.Dentre outros aspectos, o documento prevê que as ações da FPaz deverão ser realizadas em fiel observância à legislação vigente no País, sobretudo nas questões relativas à área penal e à proteção a direitos fundamentais previstos na Constituição da República. Desse modo, estabelece o acordo que ninguém poderá ser acusado, preso ou detido senão nos casos expressamente previstos em lei.O documento também delimita, de maneira clara, as atribuições de cada uma das instituições que integram a FPaz. Aos militares do Exército caberão as tarefas de patrulhamento, revista e prisão em flagrante. Os policiais militares ficarão igualmente responsáveis pelo patrulhamento e pelas revistas, mas poderão realizar prisões em casos de ocorrência de crimes comuns.Na área de atuação da FPaz também funcionará uma Delegacia de Polícia Civil. Delegados e agentes civis desta delegacia ficarão responsáveis por todas as ações de Polícia Judiciária decorrentes da atuação da Força, tais como o cumprimento de mandados judiciais de diversas finalidades, a exemplo dos de busca e apreensão.O acordo delimita ainda o espaço territorial e aéreo que permanecerá sob a jurisdição da FPaz nos complexos da Penha e Alemão, o qual foi denominado Área de Pacificação. Ele também explicita como será constituída a Força, além de fixar as normas de subordinação. A coordenação das ações será feita pelo comandante da unidade militar, que se subordinará ao Comando Militar do Leste (CML) do Exército. A FPaz ainda contará com duas forças-tarefas do Exército com cerca de 2 mil homens ao todo, um comando e três batalhões da Polícia Militar, além da delegacia de Polícia Civil.O Comando da Força, segundo o texto, ainda poderá solicitar ao governo estadual apoio e meios para o “restabelecimento das funções governamentais em benefício da população”.

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O acordo é resultado dos entendimentos mantidos entre o governo estadual e o governo federal para dar continuidade às ações integradas de pacificação do Rio de Janeiro. A FPaz foi criada por meio da Diretriz Ministerial nº 15/2010, assinada por Jobim.

06 de Janeiro de 201145 dias depois da invasão no Complexo do Alemão, governo do RJ ocupa novas favelas

Da Redação de CartaCapital

A partir das 8h da manhã desta quinta-feira 6 (janeiro de 2011), 250 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro ocuparam os morros do São João, do Quieto e da Matriz, no Engenho Novo. A operação aconteceu sem resistência do tráfico. A secretaria de Segurança anunciou que a Unidade de Policia Pacificadora (UPP) na favela do São João será implementada em 30 dias e contará com 200 policiais.Leia abaixo uma análise da jornalista Rachel Duarte, do portal Sul 21, sobre as operações do final de 2010, na Vila Cruzeiro e no complexo do Alemão, e os planos do governo Sérgio Cabral que se inicia.

Por Rachel DuartePouco mais de um mês depois da invasão pelas forças de segurança da Vila Cruzeiro e do complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o governo carioca segue investindo em ações sociais para manter as comunidades afastadas do crime. Paralelo a isso, o poder público amplia a atuação em territórios invadidos para alcançar a meta de pacificar 40 locais até 2014.As comunidades dos morros do Quieto e de São João, na zona norte do Rio, serão ocupadas a partir de hoje (6) pelo Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), como primeiro passo para a implantação de uma nova Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (5) pelo governador Sérgio Cabral, após participar da inauguração de uma agência bancária na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade. As duas comunidades ficam no outro lado do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, onde uma UPP foi implantada em novembro de 2010.Cabral também disse que o Rio terá novas comunidades pacificadas este ano. Ele, contudo, não quis adiantar quantas e nem os locais onde as UPPs serão implantadas. “Não posso falar tanto. Aí vou dar um drible a mais e não posso. Tenho é que cruzar a bola porque o artilheiro é o Beltrame”, afirmou numa referência ao secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.Na manhã de hoje (6), o Bope começou a ocupar três morros do Engenho Novo, na zona norte do Rio, a fim de instalar UPPs nos morros Quieto, Matriz e São João. Aproximadamente 200 policiais, entre oficiais e praças, participam da operação. Eles utilizam blindados do Bope, retroescavadeiras e um caminhão para a remoção dos obsáculos.O Rio já tem 13 UPPs instaladas e o plano do governo do estado é de pacificar 40 comunidades, dominadas por traficantes ou por milicianos, até a Copa do Mundo de 2014.

O Rio depois da pacificação do Alemão

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Além de sucessivas visitas do governador, uma delas acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as comunidades do Complexo do Alemão passaram a receber mais atenção e investimentos do governo carioca.Antes de completar um mês da invasão das forças de segurança, os moradores ganharam uma sala de cinema, a primeira de projeção construída em uma favela do Rio. O CineCarioca, como foi chamado, tem programação para todas as idades, inclusive com exibição de lançamentos de grande apelo popular tanto nacionais quanto internacionais. Moradores do complexo do Alemão e adjacências, estudantes, professores, idosos e portadores de necessidades especiais pagam meia-entrada em todas as sessões.Outra ação, mas de médio prazo, foi a implantação de um dos projetos do Pronasci – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, o Justiça Comunitária. Uma pesquisa etnográfica encomendada pela Secretaria carioca de Assistência Social e Direitos Humanos identificou que pequenos conflitos ganharam maior visibilidade em áreas onde há tráfico de drogas ou a milícia deixou de arbitrar as regras da vida comunitária.O programa pretende democratizar o acesso à justiça por meio da participação de moradores como mediadores dos conflitos. É uma iniciativa que vai facilitar o diálogo entre o direito formal e as regras e dinâmicas comunitárias de resolução de conflitos. Os primeiros núcleos do Justiça Comunitária serão instalados na Cidade de Deus e no Complexo do Alemão. A capacitação dos 30 mediadores está prevista para ocorrer ainda em janeiro e os atendimentos devem começar em fevereiro.O governo do estado do Rio de Janeiro tem previsão de investir ainda R$ 150 milhões na construção de 15 creches, duas escolas, três clínicas da família, além de obras de pavimentação urbana e iluminação no Complexo do Alemão.

Secom, 24 de dezembro de 2010

Acordo que autoriza e define as regras dos trabalhos no complexo Penha-Alemão foi assinado entre Defesa e governo do estado.

Acordo que autoriza o início dos trabalhos e define as regras de implementação da Força de Pacificação (FPaz) no complexo Penha-Alemão foi assinado na quinta-feira (23) pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Constituída pelo Exército e pelas polícias Civil e Militar, a Força atuará para garantir a lei e a ordem na área abrangida pelo complexo. O acordo detalha os fundamentos constitucionais e legais para a ação das tropas federais e das equipes de segurança pública do estado. Exército e polícias Militar e Civil atuarão em coordenação, mas sob o comando de um oficial-general desta Força Armada.Dentre outros aspectos, o documento prevê que as ações da FPaz deverão ser realizadas em fiel observância à legislação vigente no País, sobretudo nas questões relativas à área penal e à proteção a direitos fundamentais previstos na Constituição da República. Desse modo, estabelece o acordo que ninguém poderá ser acusado, preso ou detido senão nos casos expressamente previstos em lei.O documento também delimita, de maneira clara, as atribuições de cada uma das instituições que integram a FPaz. Aos militares do Exército caberão as tarefas de patrulhamento, revista e prisão em flagrante. Os policiais militares ficarão igualmente responsáveis pelo patrulhamento e pelas revistas, mas poderão realizar prisões em casos de ocorrência de crimes comuns.Na área de atuação da FPaz também funcionará uma Delegacia de Polícia Civil. Delegados e agentes civis desta delegacia

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ficarão responsáveis por todas as ações de Polícia Judiciária decorrentes da atuação da Força, tais como o cumprimento de mandados judiciais de diversas finalidades, a exemplo dos de busca e apreensão.O acordo delimita ainda o espaço territorial e aéreo que permanecerá sob a jurisdição da FPaz nos complexos da Penha e Alemão, o qual foi denominado Área de Pacificação. Ele também explicita como será constituída a Força, além de fixar as normas de subordinação. A coordenação das ações será feita pelo comandante da unidade militar, que se subordinará ao Comando Militar do Leste (CML) do Exército. A FPaz ainda contará com duas forças-tarefas do Exército com cerca de 2 mil homens ao todo, um comando e três batalhões da Polícia Militar, além da delegacia de Polícia Civil.O Comando da Força, segundo o texto, ainda poderá solicitar ao governo estadual apoio e meios para o “restabelecimento das funções governamentais em benefício da população”.O acordo é resultado dos entendimentos mantidos entre o governo estadual e o governo federal para dar continuidade às ações integradas de pacificação do Rio de Janeiro. A FPaz foi criada por meio da Diretriz Ministerial nº 15/2010, assinada por Jobim. 

06 de Janeiro de 2011

45 dias depois da invasão no Complexo do Alemão, governo do RJ ocupa novas favelas

Da Redação de CartaCapital

A partir das 8h da manhã desta quinta-feira 6 (janeiro de 2011), 250 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro ocuparam os morros do São João, do Quieto e da Matriz, no Engenho Novo. A operação aconteceu sem resistência do tráfico. A secretaria de Segurança anunciou que a Unidade de Policia Pacificadora (UPP) na favela do São João será implementada em 30 dias e contará com 200 policiais.Leia abaixo uma análise da jornalista Rachel Duarte, do portal Sul 21, sobre as operações do final de 2010, na Vila Cruzeiro e no complexo do Alemão, e os planos do governo Sérgio Cabral que se inicia. Por Rachel DuartePouco mais de um mês depois da invasão pelas forças de segurança da Vila Cruzeiro e do complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o governo carioca segue investindo em ações sociais para manter as comunidades afastadas do crime. Paralelo a isso, o poder público amplia a atuação em territórios invadidos para alcançar a meta de pacificar 40 locais até 2014.As comunidades dos morros do Quieto e de São João, na zona norte do Rio, serão ocupadas a partir de hoje (6) pelo Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), como primeiro passo para a implantação de uma nova Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (5) pelo governador Sérgio Cabral, após participar da inauguração de uma agência bancária na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade. As duas comunidades ficam no outro lado do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, onde uma UPP foi implantada em novembro de 2010.Cabral também disse que o Rio terá novas comunidades pacificadas este ano. Ele, contudo, não quis adiantar quantas e nem os locais onde as UPPs serão implantadas. “Não posso falar tanto. Aí vou dar um drible a mais e não posso. Tenho é que cruzar a bola porque o artilheiro é o Beltrame”, afirmou numa referência ao secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.Na manhã de hoje (6), o Bope começou a ocupar três morros do Engenho Novo, na zona norte do Rio, a fim de instalar UPPs nos morros Quieto, Matriz e São João. Aproximadamente 200 policiais, entre oficiais e praças, participam da operação. Eles utilizam blindados do Bope, retroescavadeiras e

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um caminhão para a remoção dos obsáculos.O Rio já tem 13 UPPs instaladas e o plano do governo do estado é de pacificar 40 comunidades, dominadas por traficantes ou por milicianos, até a Copa do Mundo de 2014. O Rio depois da pacificação do Alemão Além de sucessivas visitas do governador, uma delas acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as comunidades do Complexo do Alemão passaram a receber mais atenção e investimentos do governo carioca.Antes de completar um mês da invasão das forças de segurança, os moradores ganharam uma sala de cinema, a primeira de projeção construída em uma favela do Rio. O CineCarioca, como foi chamado, tem programação para todas as idades, inclusive com exibição de lançamentos de grande apelo popular tanto nacionais quanto internacionais. Moradores do complexo do Alemão e adjacências, estudantes, professores, idosos e portadores de necessidades especiais pagam meia-entrada em todas as sessões.Outra ação, mas de médio prazo, foi a implantação de um dos projetos do Pronasci – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, o Justiça Comunitária. Uma pesquisa etnográfica encomendada pela Secretaria carioca de Assistência Social e Direitos Humanos identificou que pequenos conflitos ganharam maior visibilidade em áreas onde há tráfico de drogas ou a milícia deixou de arbitrar as regras da vida comunitária.O programa pretende democratizar o acesso à justiça por meio da participação de moradores como mediadores dos conflitos. É uma iniciativa que vai facilitar o diálogo entre o direito formal e as regras e dinâmicas comunitárias de resolução de conflitos. Os primeiros núcleos do Justiça Comunitária serão instalados na Cidade de Deus e no Complexo do Alemão. A capacitação dos 30 mediadores está prevista para ocorrer ainda em janeiro e os atendimentos devem começar em fevereiro.O governo do estado do Rio de Janeiro tem previsão de investir ainda R$ 150 milhões na construção de 15 creches, duas escolas, três clínicas da família, além de obras de pavimentação urbana e iluminação no Complexo do Alemão.