32
117 Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 LEONARDO DA VINCI: ARTE, CIÊNCIA E FILOSOFIA NA RENASCENÇA Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leão INTRODUÇÃO A escolha desse tema “Leonardo Da Vinci” tem a ver como minha experiência como artista plástico e a profunda admiração que desenvolvi pela pessoa e pela obra do mestre Da Vinci. A proposta de analisar o artista e sua produção, segue a metodologia da pesquisa histórica em suas diferentes etapas. O ingresso no mundo acadêmico me permitiu desenvolver uma pesquisa cientifica, no qual abordei a arte, a ciência e a filosofia do ilustre Renascentista, bem como suas contribuições para seu período histórico. Trata-se de aproximar minha vida pregressa e o vasto campo do saber que chamamos de história. Na busca da dimensão do universo de Da Vinci, proponho uma pesquisa em torno do mestre renascentista, para melhor compreender sua vida e sua obra, sem deixar de analisar o contexto histórico que viveu. Para desenvolver essa análise, estudei alguns teóricos como Agnes Heller em O homem do Renascimento, Jacob Burckhardt, com A cultura do Renascimento na Itália, entre outros, além da fonte primária sobre Da Vinci. Vários autores apontam para uma forte influência platônica presentes em suas criações, que certamente se refere aos anseios humanistas que se alastravam pela Europa no período em que viveu. Seria inviável falar de um Da Vinci único, pois o objetivo é mostrar a união que ele promovia entre a arte e ciência, sendo analisando que Leonardo viajou bastante para desenvolver suas pesquisas. Nesse sentido não é possível fazer um recorte temporal ou espacial muito definido, já que entre o final do século XV e o começo do XVI, ele empreendeu uma série viagens por vários países da Europa. Entre guerras e transformações eis o típico homem do renascimento, como artista e estudioso de outras áreas. Leonardo foi patrocinado por príncipes e mecenas, viveu boa parte de sua vida em meio à corte e a Igreja, e acabou morrendo pobre. Sua única herança foram seus manuscritos, e a Mona Lisa que nunca foi entregue a quem a encomendou. Atualmente, uma boa parte dos documentos, desenhos e rascunhos de Da Vinci, se encontram espalhados nas mãos de colecionadores. Algo bastante interessante apontado por seus estudiosos é o fato de que, quantidade e a diversidade de fontes, provoca uma sensação de desorientação, pois ele abordava noções e proporções variadas num mesmo manuscrito. Afinal, tendo esse mesmo olhar sobre relatos

Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 117Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

LEONARDO DA VINCI: ARTE, CIÊNCIA E FILOSOFIA NA RENASCENÇA

Davi Roja

Orientador: Professor Dr. Pedro Leão

INTRODUÇÃO

A escolha desse tema “Leonardo Da Vinci” tem a ver como

minha experiência como artista plástico e a profunda admiração que

desenvolvi pela pessoa e pela obra do mestre Da Vinci. A proposta de

analisar o artista e sua produção, segue a metodologia da pesquisa

histórica em suas diferentes etapas. O ingresso no mundo acadêmico

me permitiu desenvolver uma pesquisa

cientifica, no qual abordei a arte, a ciência

e a filosofia do ilustre Renascentista, bem

como suas contribuições para seu período

histórico. Trata-se de aproximar minha vida

pregressa e o vasto campo do saber que

chamamos de história.

Na busca da dimensão do universo

de Da Vinci, proponho uma pesquisa em

torno do mestre renascentista, para melhor

compreender sua vida e sua obra, sem deixar

de analisar o contexto histórico que viveu.

Para desenvolver essa análise, estudei alguns teóricos como Agnes

Heller em O homem do Renascimento, Jacob Burckhardt, com A cultura

do Renascimento na Itália, entre outros, além da fonte primária sobre

Da Vinci.

Vários autores apontam para uma forte influência platônica

presentes em suas criações, que certamente se refere aos anseios

humanistas que se alastravam pela Europa no período em que viveu.

Seria inviável falar de um Da Vinci único, pois o objetivo é mostrar

a união que ele promovia entre a arte e ciência, sendo analisando

que Leonardo viajou bastante para desenvolver suas pesquisas. Nesse

sentido não é possível fazer um recorte temporal ou espacial muito

definido, já que entre o final do século XV e o começo do XVI, ele

empreendeu uma série viagens por vários países da Europa.

Entre guerras e transformações eis o típico homem do renascimento,

como artista e estudioso de outras áreas. Leonardo foi patrocinado por

príncipes e mecenas, viveu boa parte de sua vida em meio à corte e

a Igreja, e acabou morrendo pobre. Sua única herança foram seus

manuscritos, e a Mona Lisa que nunca foi entregue a quem a encomendou.

Atualmente, uma boa parte dos documentos, desenhos e rascunhos

de Da Vinci, se encontram espalhados nas mãos de colecionadores.

Algo bastante interessante apontado por seus estudiosos é o fato de

que, quantidade e a diversidade de fontes, provoca uma sensação de

desorientação, pois ele abordava noções e proporções variadas num

mesmo manuscrito. Afinal, tendo esse mesmo olhar sobre relatos

Page 2: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

118Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

vincianos podemos entender que, Da Vinci poucas vezes se preocupou

com seus documentos “a posteriori”, sendo apenas simples anotação

de suas pesquisas e estudos. Dessa forma, mesmo sem nexo aparente,

as anotações vão se alinhando. Afinal, uma das críticas feitas a Da

Vinci era de que, muitas obras não tinham acabamento, possivelmente

tentava fazer tudo ao mesmo tempo, como se sua cabeça fervilhassem

de tantos anseios e informações, em um mundo em pleno florescimento

intelectual científico.

Um homem que de certa maneira cria um método cientifico

usando-o e aplicando-o em sua arte. Um exemplo é a profundidade

e o efeito natural do movimento, que ele imprimia em suas obras.

Costuma-se dizer que Leonardo conseguia achar a alma do que fazia e

as aplicava nos desenhos e pinturas, dando vida a elas.

Observar os desenhos ou pinturas de Da Vinci, não é apenas olhar

a arte ou a ciência, antes, parece ser a união das duas coisas. Talvez

a chave para se entender Leonardo esteja na palavra “realismo”, uma

das ferramentas que ele usou de forma primordial, sem descuidar das

técnicas para atingi-lo.

Segundo vários estudos, Da Vinci foi considerado um homem

ambivalente, pelo fato de ter conseguido juntar as duas coisas; “a arte

e a ciência”. Alguns indicam tratar-se de grande valentia, unir esses dois

estudos, sentimentos aguçados que de certa forma aplicava na ciência

e utilizava na arte.

Por exemplo, Da Vinci nunca recebeu encomendas arquitetônicas,

embora aparentemente ele não demonstrasse algum tipo de

preocupação sobre esta questão, todavia se os seus manuscritos forem

observados com cuidado, eles contém alguns projetos. O objetivo é

tentar entender quem foi esse homem que foi mistificado e é falado até

os dias atuais.

Um homem, que resistiu em agregar espaços hierarquizados,

de modo que a suas reflexões ocorreram paralelamente à vontade

humanista, um homem com referência simbólica do universo, Da Vinci

tornou-se critico se seu próprio tempo.

Leonardo sai de um momento artístico praticamente do claro

e escuro, para dar efeitos as suas composições com luz e sombra, e

entre elas a perspectiva e o “sfumato” (Sfumato é uma técnica usada

nas artes plásticas onde se sfuma a tinta, ou seja, se aplica a tinta em

uma base seca, utilizando cores opacas, para se chegar a um efeito de

profundidade. Quanto mais distante mais sfumado deve ser, podendo

ser utilizado essa técnica, também, no desenho), que aprendeu a aplicar

no ateliê de Verrocchio, a quem devemos dar o primeiro louvor a essa

historia da vida de Da Vinci. Foi seu iniciador no mundo artístico, seu

mestre Verrocchio, é com ele que Leonardo aprendeu o efeito de matize

(o efeito de matize que se dá ao fazer com que as cores entrem umas

nas outras, ou seja, misturar a cor nas artes plásticas). Da Vinci foi um

artista completo, que estabeleceu uma íntima relação entre a pintura e

a ciência.

O maior propósito nesse trabalho é tentar destacar o conhecimento

e a relevância à figura de Da Vinci e a importância que esse artista e

cientista teve a seu tempo e mesmo a posteriori.

Da Vinci foi singular, a seu modo intelectual; na conjuntura cultural

e humana em que viveu e em constantes transformações. Podemos dizer

que toda a vida e obra, como toda a criação de seu espírito humano,

continuam até hoje chamando à atenção como é o caso de Da Vinci.

Se fizermos uma analogia sobre o mestre Da Vinci, faremos uma

ligação entre algumas atividades, penetrando em uma exuberante

textura da vida e obra, tendo em vista que a arte não pode ser

compreendida ou desligada de seus pensamentos.

Page 3: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 119Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Seguindo as observações que Da Vinci fazia, da natureza através

seus estudos, o levava a penetrar sob a superfície das causas mecânicas,

que por sua vez, o levava aos estudos dos mecanismos de todos os

organismos e de uma energia primordial.

É recorrente a idéia de que cada época, produziu, especialmente em

tempos de dificuldades, alguns gênios, e esse parece ter sido o caso de

Leonardo Da Vinci, apesar das resistências daquela sociedade. Podemos

dizer que Da Vinci através das suas experiências com a natureza, extraiu

dela os seus guias, marcou o seu caminho e deu um passo a frente

de seu tempo. Podemos encarar Da Vinci como um homem que, em

sua existência, no renascimento foi um grande desafio. De certa forma,

evoluiu as técnicas artísticas até então conhecidas, entendendo que o

ser humano é repleto de potencialidades, o que para ele parecia não

ter limites.

De um modo geral, destaca-se a sua genialidade, mas se aponta

que que quase nunca terminavam suas obras. Mas, além disso, devemos

analisar outro aspecto de Da Vinci: ele foi uma pessoa com um nível de

vontade e de intelectualidade que espanta, foi um homem determinado

que não renunciava a nada. Possivelmente essas características foram

favorecidas por ter vivido por muito tempo em um ambiente riquíssimo,

na corte renascentista em Florença, que favoreceu a expansão que o

renascimento teve por toda a Europa.

Da Vinci deixou de certa maneira, uma mensagem incutida em tudo

que ele fazia. Essa incansável busca dele pelo saber cientifico, pela

perfeição, pelo belo nos dá a ferramenta para entendê-lo e apreciar

sua produção artística e científica.

Podemos pensar em um pintor e na sua pintura, mas aos olhos de

Da Vinci, ela se transformava em uma ciência, e uma ciência, fundada

na matemática e na geometria, destacando o mestre que iria tratar

de um movimento físico. Dentro do movimento renascentista que iria

ser conhecido como a culminação e as bases de do método científico

moderno.

Essa dimensão foi expressa por Agnes Heller que aponta que,

Leonardo Da Vinci foi a primeira personalidade renascentista que reagiu contra a hierarquia do dinheiro, da fama e do ouevre, e para ele só o trabalho constituía o critério da auto realização. Não sabemos se foram as suas infelicidades na vida que o levaram a esta conclusão ou se, pelo contrário, foi este princípio que deu origem a tais infelicidades. Para Leonardo, a única medida de valor de um homem é o seu trabalho, mas este devia ter um conteúdo moral; ambos eram agora inseparáveis do suporte moral do criador (1982, p.167).

Essas aspirações artísticas cientificas particulares, do Renascimento,

se deram em relação ao conceito geral de auto realização que vinha se

desenvolvendo no homem deste mesmo período, e se dá com algumas

peculiaridades conforme a região em que viviam alternado pouco a

forma afinal do homem fruto de seu próprio tempo, nesse ponto posso

observar um Da Vinci que vagou por vários lugares da Europa com suas

artes e ciências.

1 LEONARDO ARTE E RENASCIMENTO

Leonardo da Vinci nasceu em 15 de abril de 1452 em Anchiano,

vilarejo de Vinci, que aparece no mapa em forma de barco e localizado

na região da Toscana; próximo à Florença e Lucca. Tido como um dos

menores burgos da época, como outras cidades e vilarejos, ainda estava

estruturado nos moldes feudais. Aliás, o vilarejo de Vinci não mudou

muito ao longo do tempo e conserva ainda hoje as características

Page 4: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

120Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

dessa época, à exceção de uma pequena área na parte baixa, que foi

modernizada.

FIGURA 1: MAPA DE VINCI

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?q=cidade+de+vinci. Acessado em 30/09/2012. Ilustrador desconhecido 462cm X 274cm.

Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a

probabilidade seria de se chamar Leonardo Di Ser Piero, ficando

conhecido apenas por Leonardo da Vinci pela referência ao lugar de

origem, como era costume na época, e que se tornou sua assinatura

nas suas obras.

O gênio renascentista era filho de Dom Piero– daí a probabilidade

de outro nome de batismo – em uma relação extraconjugal com uma

mulher plebeia. Por este motivo foi considerado filho bastardo, mas

Leonardo não foi abandonado por seu pai, que o criou em Vinci e,

em 1469, o levou para Florença. A mudança marcou a vida do jovem

Leonardo, que, a partir dos 17 anos, aonde passou a acompanhar

mais de perto as transformações políticas, socioculturais e econômicas

do período, sobre o qual “[...] Uma mudança qualitativa como o

Renascimento necessitava de uma mudança quantitativa prévia, que se

forjou nas condições econômicas dos séculos precedentes (RACIONERO,

2008, p.29).

Sabe se que o humanismo florescia nessa época, com a qual Da

Vinci teve contato e que com esse olhar humanista ele desenvolveu as

suas obras. No mesmo espaço em que projetavam pontes e malhava o

ferro, trabalhavam a pedra e o couro, estudavam-se os clássicos e como

trabalhar a matéria para dar forma artística, aprendendo a dominar as

técnicas. Foi lá que iniciou seus estudos do natural, aproximando-se da

natureza e das leis que a governam.

Sob o poder de Lorenzo de Médici, poeta e mecenas das artes,

Florença conheceu no século XV a verdadeira idade de ouro da cultura

renascentista, permanecendo com a tradição do artesanato fortíssimo e

da arte; contexto que explica figuras como Leonardo e Maquiavel. Vale

citar Giorgio Vasari:

Não creio que em alguma outra época nessa cidade tenha ocorrido que se encontrasse maior abundância de belos engenhos, seja nos escritos gregos, latim ou em línguas vulgares ou na escultura, pintura, arquitetura ou no artesanato em madeira, ferro, bronze ou ainda quem da nossa casa se igualasse a eles ou as honrasse, premiasse e os entendessem como Lorenzo. (VASARI apud DA VINCI; HUCITEC, 1997, p.13).

O Humanismo e o Renascimento fizeram do homem o centro da

história dos séculos XV e XVI. Novas fantasias e criações colocavam em

discussão os dogmas herdados de outrora, superando a mentalidade

escolástica.

Page 5: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 121Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Aos 17 anos Leonardo já demonstrava habilidade para as artes.

Dom Piero, seu pai, passou a observar o grande potencial que o filho

tinha, e para lapidar esse diamante bruto, como bom tabelião que era

o pai de Da Vinci, queria um grande futuro a seu filho. Sendo assim, seu

pai o incentivava a estudar leis do direito e do comércio. Mas, como não

é difícil de imaginar, Leonardo jamais desenvolveu habilidades nisso.

Teve sim disposição para aprender e tinha uma enorme vocação para

música, desenho e matemática; tocava alaúde e cantava.

O crítico e historiador de arte Kenneth Chark: apontou que

“Leonardo, como outros jovens com grandes dons, passou uma

grande parte de sua juventude [...] vestindo-se bem, treinando cavalos,

aprendendo a tocar alude e desfrutando as hors d’oeuvres da vida”

(CAPRA, 2008, p. 98).

O alaúde era uma espécie de violão usado na renascença. Nesse

caso é mais uma prova da vida no meio burguês que Leonardo tinha,

em que aprendeu esses ofícios para a distração da nobreza florentina,

mas também era já admirado pela criação de várias engenhocas

mecânicas.

Da Vinci é apresentado à Andrea del Verrocchio, amigo de seu

pai e que tinha uma das maiores e mais importante oficina de arte da

época. Nessa oficina Da Vinci teve contato com grandes nomes como,

Sandro Botticelli1 (1445 – 1510), Pietro Perugino e Lorenzo de Credi.

Por ter convivido nesse ambiente artístico, com grandes nomes,

Leonardo desenvolveu diversas funções como o trabalho e fundição

de metais, escultura, pintura, estudos e reprodução de modelos

nus e vestidos, além da natureza em geral. São com esses estudos

1 Uma vez que Verrocchio trabalhava na corte de Lorenzo de Médici, um grande mecenas italiano.Leonardo teve a fantástica oportunidade de, através do mestre, mostrar as suas obras à corte do mecenas. (http://noseahistória.Wordpress.com/os-alunos-e-a-história-2/Leonardo-da-vinci. Acessado em: 26/03/13).

desenvolvidos que Da Vinci aprimora suas habilidades que conhecemos

atualmente.

Foi em uma viagem que seu mestre Verrocchio fez a Veneza, na

qual Leonardo o acompanhou e começou a ter um brilho no olhar

especial para a natureza. A natureza resplandeceu em seu olho como

se fosse o mais puro dos diamantes; podendo analisar as qualidades

das plantas, os astros no céu e tudo a seu redor, talvez aí tenha nascido

não só um pintor completo, como também o mestre da ciência, e aí

está o segredo da perfeição anatômica e de perspectiva de suas obras.

Esse foi o presente que o jovem Leonardo recebeu de seu professor

Verrocchio.

Leonardo teve a sorte de passar esse período em campo, cada vez

mais perto de um realismo que marcaria a Renascença e o mundo.

Esse desejo e técnica, ele aprimorou e levou para tudo o que fez

especialmente o desenho e a pintura. Da Vinci enfatizou que:

as sombras encontram seus limites em determinados pontos. Ignorá-los resultará em trabalhos sem relevo; e o relevo é o mais importante, a alma da pintura [...] O rosto ganha grandemente em relevo [...] e em beleza com a intensificação de luz e sombra (DA VINCI, 2007, p.17)

Os mecenas contatavam os ateliês de arte e o artista era designado

ao trabalho e, as habilidades dos mestres eram passadas aos discípulos

que, durante a execução das obras, ajudavam os mestres.

Segundo Brotton (2009, p.124 e 125), em 1478, a população

florentina contava com 60 mil pessoas e 54 ateliês de escultores, 44

ateliês de ourives e 40 ateliês de pintores, o que nos indica a dimensão

da produção artística da época.

Quando Leonardo começou na oficina de Verrocchio, em 1472

ele foi aceito como membro da Guilda de São Lucas2. Os registros,

2 Em 1472, tendo vinte anos de idade, Leonardo associou-se a Guilda de São

Page 6: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

122Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

do próprio Da Vinci (DA VINCI, Hucitec, 1997, p.15) mostram que,

em 1476, ele ainda estava empregado na oficina e a influência de

Verrocchio foi tão grande em Da Vinci que o próprio mestre quando viu

a primeira obra concluída de seu discípulo se encantou, ou melhor, se

assustou, tanto que se negou a pintar novamente, até o momento em

que ele passou a entender o dom de seu discípulo. Foi um exemplo típico

do discípulo se destacando perante seu mestre. A obra em questão foi

O Batismo de Cristo, em que Leonardo pintou o pequeno anjo no canto

inferior esquerdo. Como pode ser observado na figura 2.

FIGURA 2: BATISMO DE CRISTO

Fonte: VERROCCHIO, Andrea Del. Batismo de Cristo. (1470 – 1472 e c. 1475) 180cm X 151,3cm Da galeria de degli Uffizi. Florença. Fonte: figura extraída de ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. I. Kökn: Taschen, 2011.

Lucas, guilda esta que consistia numa espécie de corporação de artistas e doutores em medicina, na qual todos os membros da associação se entreajudavam perante situações de maior dificuldade. Leonardo passa, assim a fazer parte do círculo de pintores de Florença. Foi por volta dessa que Leonardo conseguiu, com a ajuda do seu pai, construir o seu prórpio ateliê/oficina. No entanto, continuou a estabelecer relações com Verrocchio, tendo colaborado com ele.

Verrocchio morreu em 1488 em Veneza, aos 53 anos. Nessa

época os artistas morriam muito novos, devido à utilização constante

com produtos químicos (as tintas preparadas a base de tempera e os

solventes), não sendo esse fato uma regra.

Muitos historiadores relatam que a vida de Leonardo não foi tão

diferente da de outros italianos do seu tempo. No entanto, devemos

considerar que o povo não tinha o contato com o mesmo universo

cultural que os artistas tinham. Leonardo teve uma vida de corte onde,

desfrutando de prestígios nas cortes europeias. Na França, onde morreu

em 1519, era amigo do rei Francisco I; esteve em Florença, em Milão,

em Roma, e no Vaticano podemos dizer que era praticamente incapaz

de se posicionar frente a um problema de modo orgânico. Isso porque

tinha o costume de abordar temas diversos sem um mesmo escrito, ia

tomando nota de seus experimentos e depois não os desenvolvia, o que

lhe rendeu a fama de não acabar as suas obras.

Infelizmente, muitos de seus textos são fragmentados sendo

necessário um bom trabalho de tratado filosófico para ser decifrado,

como, por exemplo: “Frades fariseus de santos querem ser chamados”

ou “a vida bem vivida longa é” (DA VINCI; HUCITEC, 1997, p.15).

Leonardo se negava a pensar em algo que desviasse dos sentidos e da

experiência.

Da Vinci, tinha pouco conhecimento de latim, diferente dos

humanistas platônicos, mas como ele mesmo afirmava, não ser um

homem de letras “significava apenas pensar e escrever não se baseando

em ‘palavras alheias’, mas na ‘experiência’, que para ele, era a única

‘mestra’ da qual se pudesse aprender algo” (DA VINCI; HUCITEC,

1997, p.16).

Podemos afirmar que Leonardo não dominou a língua latina,

mas que se esforçou para aprender, alguns de seus manuscritos

Page 7: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 123Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

mostram apontamentos sistematicamente copiados da gramática

latina de Niccolò Perotti, publicado em Roma, em 1474, sob o título

Rudimentagrammatices. Através dessa obra, Leonardo estudou a

conjugação de verbos e a declinação de substantivos e adjetivos.

Leonardo tinha uma vasta biblioteca em sua casa, que contava com

autores como Petrarca, Santo Agostinho e Ópera de San Bernardino,

no total de 116 exemplares; o que nos dá uma ideia de sua cultura e

do que gostava de ler.

Durante quarenta anos, Leonardo reuniu seus pensamentos e observações em seus famosos cadernos de notas, juntamente com discrições de centenas de experimentos, rascunhos de cartas, projetos arquitetônicos e tecnológicos, e lembretes a si mesmo sobre pesquisas e escritos futuros. (CAPRA, 2008, p. 26).

Leonardo usava uma doutrina de vida que não tinha nada a ver

com os humanistas platônicos, ele relacionava o mundo e o homem

como objetos ainda por descobrir e dominar. Mas tinha que se apoderar

desses preceitos pela ciência e fantasia: as leis que misteriosamente

dominavam a natureza, que ele ia estudando e se aprimorando na

prática. Esse conhecimento da natureza foi o que o animou por toda a

sua vida e ele dedicou toda a sua intelectualidade a isso.

Em seu Proêmio nº 3 Leonardo relata:

muitos acreditarão estarem certos ao me repreenderem alegando que minhas demonstrações vão contra a autoridade de uns quantos homens muitos respeitáveis, segundo seus juízos inexpertos, sem levar em conta que meu trabalho nasceu da pura e simples experiência, a qual é a verdadeira mestra (DA VINCI; HUCITEC, 1997, p. 18).

Essa citação aponta para algumas críticas que foram dirigidas

ao seu trabalho, mas o mestre repudiava qualquer entendimento da

natureza que partisse só através da leitura e não da experiência de

campo. O verdadeiro conhecimento para Da Vinci estava, portanto, na

prática científica de campo.

Podemos ver a análise cientifica de Leonardo em uma de suas

inscrições sobre o estudo da luz da lua, em pleno renascimento: “A

lua não tem luz própria, mas tanto quanto a que o sol lhe provê, ela

ilumina. Dessa luminosidade, vemos tanto quanto nos é refletida”

(CAPRA, 2008, p.339).

1.1 A Arte

FIGURA 3: TRINDADE DE MASACCIO

Fonte: MASACCIO. Trindade (1426 – 1428) 667 X 317 cm/ 226. 6x124in. Firenze, Santa Maria Novella. Fonte extraída de SHAARON, Magrelli; SANNA, Angela; TADDEI, Francesca SCALA, Florence (Italy), 2011, p.117.

Page 8: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

124Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

As idéias humanistas se difundiram para o resto da Europa após o

século XV, e esse estilo abrangeu a Alemanha, a França, e a Inglaterra,

como podemos ter como exemplo essa obra de Masaccio. Foi nesse

período que Leonardo foi contratado pelo rei Francisco I, da França,

que também foi um grande mecenas das artes, pois foi ele quem

também deu início ao Palácio do Louvre, hoje Museu do Louvre, entre

outras obras.

Os artistas da época não trabalhavam sem estar de mãos dadas

com a Igreja Católica, eles não davam muita vazão artística nem ao

protestantismo nem aos ateus.

Brotton (2009, p. 123) escreve:

[...] existem três razões para instituição de imagens na Igreja, primeiro, para a instrução das pessoas simples, porque elas são instruídas pelas imagens se não forem pelos livros. Segundo, desse modo, o mistério da encarnação e os exemplos dos santos podem ser mais bem atirados na nossa memória ao serem apresentados diariamente aos nossos olhos. Terceiro, para despertar os sentidos de devoção, sendo estes instigados mais efetivamente pelas coisas vistas do que pelas coisas ouvidas.

No mesmo livro, Brotton (2009) indica que as obras geralmente

eram suntuosas e feitas por várias mãos. Isso porque os artistas

da Renascença se desdobravam em várias profissões na área

artística, como escultor, pintor, engenheiro, entalhador, artesão. É só

imaginarmos a “Santa Ceia” pintada por Da Vinci, em Milão, mas que,

por tratar-se de um afresco, certamente contou com a ajuda de outros

profissionais para empregar a massa da parede. Cada demanda era

destinada conforme a habilidade de cada artista e sob as ordens do

contratado. Outro aspecto que devemos entender é que isso tinha

um custo e que dependia de um mecenas e dos ateliês, pois todas as

obras da época eram de material nobre, e isso era muito caro, como

é até hoje.

1.2 Leonardo Da Vinci: Pintor e Desenhista

Da Vinci tinha obsessão pela perfeição era tão grande que produzia

pequenos modelos em argila para treinar, desenvolvendo uma precisão

de traço, melhorando sua técnica a cada treino e esforço. Esses treinos

de desenho sempre eram feitos ao natural, dizia que, “para desenhar

ao natural, a luz deve vir do norte, para que não varie. Se receber a luz

do meio-dia, mantenha a janela coberta com um pano, de modo que o

sol que ilumina durante todo o dia, não mude”. Da Vinci (2007, p.27)

Foi aproximadamente em 1502 que Da Vinci passou a praticar

conceitos sobre arquitetura3, a traçar o que talvez seria o grande ápice

de seu nome, o aperfeiçoamento nas perspectivas e o trabalho com o

jogo de cores. É obvio que o próprio Leonardo nasce com o dom artístico

e ao decorrer de sua vida se inspira em grandes nomes relacionados a

arte como Masaccio (1401-1428), também florentino, pois os traços de

Leonardo eram muito próximo desse artista.

O que o mestre Masaccio fez foi entender muito bem a visão de

Giotto e o amadurecimento tornou essa compreensão acessível a todos

os artistas da Renascença, tanto que Leonardo se inspirou nele. A partir

de 1423, o jovem Masacio se libertou de todas as tradições góticas

e bizantinas, como se pode ver uma de suas obras hoje na Galeria

Nacional de Londres, A Virgem e o Menino com Anjo.

O mestre Masaccio fez parte do Quattrocento, com afrescos

executados sempre em honra ao humanismo, e uma plasticidade

inovadora. Foi o primeiro grande pintor depois de Giotto, e o primeiro

mestre da renascença italiana, segundo estudos feitos sobre o mesmo

período.

3 É convidado por César Borgia, duque Valentino (personificação do Príncipe de Maquiavel), para ser seu engenheiro militar e arquiteto. Viaja com ambos a Romagna. Faz a planta de Imola.

Page 9: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 125Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

A partir da segunda metade do século XV, Florença começou a

receber vários pintores Flamengos. Com eles que se deu a adoção

da pintura a óleo, que, até então, só era feita à base de têmpera

quente ou fria4, o nome que podemos citar nesse caso é o de Jan Van

Eyck, o mais célebre pintor do Renascimento nórdico.

A influência que Leonardo teve dos pintores flamengos sobre o

uso e a aplicação do realismo não foi tão impactante, mas talvez o

que mais o influenciou e o ajudou foi justamente o uso da tinta a

óleo, que ele explorou cada vez mais. Ele fez tão bem o uso dessas

técnicas que, a posteriori, inspirou os mesmos pintores.

Devido a ele unir o que aprendeu com Verrocchio e o que absorveu

dos flamengos, desenvolveu, por exemplo, o uso de uma perspectiva

de três planos, que dá uma enorme sensação de realismo; unidos às

outras técnicas aplicadas por Da Vinci, temos nas obras dele o que

conhecemos hoje. Isso foi uma revolução na pintura renascentista e

é um marco de Leonardo Da Vinci.

Podemos dizer que foi Leonardo que rompeu com o estilo

iconográfico do medievo. Isso levou à discussão uma série de

valores que vinham incrustados na sociedade ao longo da Idade

Média. Apesar de ter vindo de um berço privilegiado, talvez seja

por esta contestação iconográfica, que Leonardo desagradava a elite

dominante da época, sendo que não se encontrava mais no ateliê

de Verrocchio.

Outros mestres do mesmo período foram referência para

Leonardo. Uma das grandes relações artísticas que Da Vinci foi amigo

de Sandro Botticelli que como foi visto anteriormente frequentou, e

foi patrocinado pelos Médici.

4 Pintura a tempera fria ou quente, técnica aplicada nos primórdios do Renascimento. Nada mais é do que, temperar, (tempero) ou seja, misturar pigmentos a óleos ou clara de ovo. Atualmente tóxica, podendo ser quente ou fria.

FIGURA 4: ADÃO E EVA

Fonte: MASACCIO. La expulsión del Paraíso terrenal, (1424 – 1426). Afresco, 208 X 88 cm/ 81.8 X 34.6 in.Santa Maria del Carmine, Firenze. Fonte figura extraída de SHAARON, Magrelli; SANNA, Angela; TADDEI, Francesca, SCALA, Florence (Italy), 2011, p.117.

A primeira obra em desenho autônomo do Renascimento é de Da

Vinci. É a primeira vez que se tem relato sobre a famosa escrita invertida

de Da Vinci, que era canhoto5 e escrevia da direita para a esquerda,

de acordo com seus biógrafos e passa a sua vida toda escrevendo

assim, em sentido contrario, devido a ser canhoto, como já foi dito

anteriormente.

5 A dificuldade é que os canhotos passam os dedos e as mãos sobre a letra como se estivesse varrendo-as, e conforme a caneta borram tudo. No tempo de Leonardo, só tinha escrita à base de pena; é possível imaginar o quanto borrou até desenvolver a escrita ao contrário, que só podem ser lidas com o auxílio de um espelho.

Page 10: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

126Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

FIGURA 5: ESCRITA INVERTIDA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Estudo para um parafuso aéreo (1487 – 1490). Pena e tinta, 232 mm X 165 mm. Biblioteca do Instituto da França. Paris.Fonte figura extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Leonardo também desenvolveu o “sfumato6” para se chegar a

um efeito de distância. A técnica é bem simples, pode ser usada com

lápis, carvão ou pincel e tinta. Com o lápis ou carvão faz-se uma

contração sobre o traço, de modo que a linha suma e se integre ao

resto do desenho e é muito usada, por exemplo, para dar uma noção

de distância em montanhas; e com a tinta a técnica é a mesma, se

6 Sfumato é uma técnica usada nas artes plásticas onde se sfuma a tinta, ou seja, se aplica a tinta em uma base seca, utilizando cores opacas, para se chegar a um efeito de profundidade. Quanto mais distante mais sfumado deve ser, podendo ser utilizado essa técnica, também, no desenho.

usa o pincel embebido em tinta de óleo de linhaça, como modo de

enfraquecer o tom, fazendo-se movimentos circulares com o pincel

para se obter o efeito da perspectiva. Para fazer nuvens se dissipando

no azul do céu, por exemplo, usa-se a aplicação de base azul úmida

sobre a tinta seca.

Leonardo acreditava que só era possível confiar naquilo que os olhos

enxergam, por isso a busca excessiva em estudar a anatomia humana,

de animais e seus movimentos e a natureza, em suas múltiplas formas e

dinâmica, treinando e buscando chegar à perfeição do natural.

Leonardo foi para Milão, após muitas batalhas entre os Pazzi e

os Médici; uma grande conspiração que só cessaram com a morte

de Giuliano de Médici (1453 – 1478). Quem assumiu foi Lorenzo de

Médici (1449 – 1492), a quem Leonardo manda uma carta oferecendo

seus préstimos como engenheiro militar, segmento ao qual se dedica

até o seu fim, mas a sua paixão esplêndida era mesmo a pintura.

Nos anos entre 1483 e 1485, que Leonardo pintou A Virgem dos

Rochedos. Período em que Da Vinci se debruçou sobre o estudo do

dogma religioso. De acordo com o historiador de arte britânico, Kemeth

Clark, existem duas pinturas da Virgem Maria com poucas diferenças.

O motivo de Da Vinci pintar duas obras quase iguais foi porque essa

obra foi encomendada por franciscanos milaneses para serem usadas

em frente de um nicho em que ficava sua imagem. Os franciscanos

pediram a Leonardo e aos irmãos Giovanni Ambrozio e Evangelista

de Predis um tríptico, uma composição artística de quadros sobre um

mesmo tema. Leonardo fez o quadro central, mas, quando o tinha

quase pronto, descobriu que a medida não batia, por isso ele faz outro.

Hoje, um deles está no Museu do Louvre e o outro em Londres, na

National Gallery. O segundo é a obra encomendada para a capela de

Milão. A primeira obra é a mesma vista na figura 6.

Page 11: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 127Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

FIGURA 6: VIRGEM DOS ROCHEDOS

Fonte: Da Vinci, Leonardo. Virgem dos Rochedo (Virgem e Menino com S. João Batista e o Anjo) (1483 – 1485). Óleo sobre madeira, transferido para a tela. 197,3 X 120 cm. Musée du Louvre. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. I. Kökn Taschen, 2011.

As boas relações que tinha com Beatrice d’Este (1475 – 1497),

esposa de Ludovico Sforza (1452 -1508), fizeram Leonardo viver bem

na corte. Esse é mais um aspecto que mostra a relação monetária

na vida de Leonardo no “glamour” da corte e é esse apoio que

levou Beatrice a recomendar a Leonardo para ser o responsável

pela obra da Santa Ceia, no Convento Santa Marie Delle Grazie,

em Milão, pois era lá que Ludovico desejava fazer o seu sepulcro e

o da esposa.

Este talvez seja o maior exemplo do trabalho em grupo dos pintores

da Renascença, pois Leonardo teve o auxílio de vários discípulos, tendo

que se mudar para o convento para a execução da obra, que levaria

dois anos para a finalização. Mas a má qualidade da parede e o uso

da têmpera em uma parede externa, fez com que anos mais tarde já

estivesse se deteriorando.

O escritor e frade dominicano, Matteo Bandello relatou que, “durante

a confecção de A Ultima Ceia, Da Vinci – que estudara obsessivamente

as cores que aplicaria aos alimentos – subia no andaime e ficava ali

dias inteiros, de braços cruzados, examinando o que havia feito, antes

de providenciar outra pincelada” (DA VINCI, 2007, p. 32). Como pode

ser visto na figura 7.

FIGURA 7: ÚLTIMA CEIA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Última Ceia. (1495 – 1497) Têmpera sobre estuque, 460 X 880 cm. Santa Maria delle Grazie, Parede norte do Refeitório. Milão.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. I. Kökn Taschen, 2011.

Com essa obra concluída, Da Vinci recebeu das mãos de Ludovico

uma casa e foi nomeado engenheiro de câmara, cargo em que se

Page 12: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

128Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

ocupava do sistema de defesa do ducado de Milão, devido ao constante

risco de invasão causado pelas guerras.

O Renascimento foi repleto de conflitos e guerras, e a estadia de

aproximadamente 20 anos de Leonardo em Milão prova isso, pois

vários governos, ansiavam novas formas de governo em prol de seus

territórios, gerando sucessivas guerras; e a abertura mercantil enquanto

seus exploradores buscavam rotas para as Índias.

O projeto equestre, da figura acima, de Da Vinci é muito comentado

em sua história, a qual esboçou em 1503, e começou fazendo um

modelo em argila e nunca chegou a ser executado em bronze, que foi

utilizado para fazer canhões. Nos desenhos de Leonardo chegamos a

ver um estudo sobre cavalo, que hoje se encontra na Royal Library do

Castelo de Windsor, em que se supõe ser um estudo para a estátua

encomendada pelos Sforza.

FIGURA 8: CAVALO SFORZA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Estudos de Cavalos. (1503 – 1504). Vestígios de pedra negra e sanguínea, pena, tinta e aguada, 196 X 308mm. Windsor Castle, Royal Library.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Por volta de 1500, Leonardo voltou para Veneza. Lá se deparou com

os otomanos, após terem ocupado Constantinopla, queriam expandir

seus domínios para Veneza, diminuindo o espaço artístico, o que fez

com que Leonardo se retirasse da cidade, voltando à Florença, 18 anos

depois de sua saída.

Logo depois, no entanto, a convite de Donato Bramante, Leonardo

seguiu para Roma, talvez por não se adaptar a uma Florença

republicana, ainda no poder dos Médici, até o Papado de João de

Médici (1475-1521), o Papa Leão X.

Foi nesse período o momento que Leonardo teve de refletir sobre a

antiguidade clássica. Em Roma, Da Vinci recebeu várias encomendas,

mas estava preocupado em estudar geometria e matemática e tardava

em executar as obras, o que incomodava seus clientes.

Em 1502, convidado por César Borgia, duque da Romanha,

Leonardo atuou como engenheiro militar. Nesse período ele desenhava

fortalezas e mapas da Itália para o filho do Papa Alexandre VI, isso

ajudou tanto a paz quanto a guerra, pois fez desenhos para a defesa

quanto para o ataque.

Leonardo aplicou seu conhecimento de mecânica não apenas a sua investigação dos movimentos do corpo humano, mas também a sues estudos de máquinas. De fato, a singularidade de seu gênio reside em sua síntese de arte, ciência e criação (CAPRA, 2008, p. 193)

Em 1503, retornando à Florença Leonardo pintou a Mona Lisa,

para o mercador Francisco Del Giocondo. Até hoje é sua obra mais

famosa e sobre a qual existem muitas controvérsias, dizem que não se

trata de Gioconda esposa do mercador e sim o próprio Da Vinci, em um

experimento, se autorretratando como mulher. É um tanto assustador,

mas ao fazer a experiência de tirar as medidas dimensionais do rosto

de Da Vinci e da Mona Lisa, constata-se que são praticamente iguais.

Page 13: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 129Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Leonardo nunca entregou a obra ao mercador e a guardou até a sua

morte. Como podemos observar na figura 9.

FIGURA 9: LA GIOCONDA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Retrato de Lisa del Giocondo (Mona Lisa) (1503 – 1506). Óleo sobre madeira de choupo, 77 X 53 cm. Museu do Louvre, Paris. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. I. Kökn Taschen, 2011.

2 LEONARDO CIÊNCIA E RENASCIMENTO

Já fizemos anteriormente uma análise, em linhas gerais da

cultura artística da Renascença, e da produção artística de Leonardo.

Podemos agora avaliar a ciência de Leonardo, o que permite, de

certo modo traçar um panorama, analisar a sua intelectualidade,

Podendo desmistificar um olhar que muitas vezes parece

transcendental, o cientista não tem ideias do nada, as percepções

culturais e valores, são moldados no caso de Da Vinci. Segundo ele,

mesmo na prática de campo, relatava que o verdadeiro cientista tinha

que ter a vivência e não só teoria. Esse, sim, parece ser o paradigma

cientifico que Leonardo buscava, o contexto necessário para que ele

elaborasse as suas grandes questões, definindo as suas problemáticas

e soluções a respeito de seus estudos científicos, fundamentando-se na

prática e na pesquisa., fosse qual fosse.

Segundo Eugênio Garin,

De uma certa forma, se poderia até dizer que nisto esta a raiz, bem como a solução, do enigma de Da Vinci: no nexo entre a incansável caça aos significados de todas as coisas, de todos os seres e de todos os fenômenos, e a consciência que a sai raiz secreta está numa razão que a mente humana abriga em si mesma. De um lado justamente, aquela experiência não saciada, aberta a toda imagem mais transitória e fugidia – a nevoa que se esfuma, as nuvens que se esgarçam, as manchas de bolor que desenham bizarros arabescos sobre as parede; de outro, aquela fixação da mente num numero numa verdade absoluta. Estes são, alias os termos continuamente recorrentes nas suas paginas: experiência, sempre experiência renovada e razão. E é a maneira de sua junção o que importa; ou melhor, a maneira como Da Vinci descobriu concretamente aquele mágico ponto de união com a intenção de revelar aos homens o segredo da vida. (GARIN, 1996, p.110)

Page 14: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

130Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Esta citação exprime exatamente o olhar, a raiz de quem era e de

como pensava o mestre Leonardo, e a sua busca de campo em uma

incansável procura pela perfeição.

2.1 A Busca pelos Clássicos

Muitos estudiosos do assunto tem afirmado que Leonardo tinha

uma escrita cientifica, baseada em escritas medievais e as suas ideias

eram baseadas na Antiguidade Clássica. Isso não significa que ele

não era um cientista, e sim que Leonardo era um típico homem do

Renascimento, vivia o seu tempo. Os intelectuais do Renascimento

faziam a busca incansável dos teóricos clássicos gregos, e se atrelavam

aos moldes medievais que persistiram por muitos séculos, tendo em

vista que a historia não se rompe, e sim se desenvolve. Uma espécie

de circularidade.

Para entendermos como Leonardo desenvolveu seus métodos

científicos, é preciso fazer uma analogia com as principais ideias

filosóficas - natural antiga e medieval que traz, ao homem renascentista,

condição de formação do seu contexto intelectual tendo em vista que

esses estudos anteriores clássicos deram a base à posteriore.

A partir daí poderemos de fato entender o homem renascentista que

Agnes Heller apresenta, compreendendo a natureza transformadora

que teve o mestre Leonardo, em sua busca para entender o natural,

à ciência. A partir desse ponto veremos que o ainda jovem Da Vinci

filosofava sobre todos os seus estudos e inventos. Mas para entender

a filosofia de Leonardo uma condição primordial se faz necessário:

lembrar que, na Renascença, a filosofia ainda não era um campo

da ciência única, era parte da Ciência Natural. Tendo em vista esta

observação, faremos uma busca através da ciência grega na qual a

Renascença tanto se baseia, como fazia parte do conhecimento antigo.

Além do mais, não podemos esquecer que, para Leonardo e seus

contemporâneos, eram novas e inspiradoras as possibilidades desse

acesso intelectual, pois esses materiais estiveram perdidos por muito

tempo nas bibliotecas em poder da Igreja. Os humanistas italianos

estudavam incansavelmente os clássicos com as devidas observações

e críticas, sendo que muitos desses textos eram lidos no original ou em

sua tradução árabe.

Foi a partir desse ponto que a Renascença passou a desenvolver

um conceito de pensamento critico, se afastando aos poucos do ideal

do pensamento medievo, tendo em vista que em toda a idade média, a

literatura, a filosofia e a ciência grega e romana estiveram praticamente

esquecidas no fundo de um baú; a Europa ocidental sequer tinha ideia

desse conhecimento. A grande sorte do homem da Renascença que

teve esse acesso foi que durante o império Bizantino esses documentos

foram muito bem preservados, documentos clássicos gregos e romanos,

assim como se refere SÁNCHEZ (2000). Desse modo, foi um momento

em que os humanistas italianos viajavam seguidamente para o Oriente

na obtenção de centenas de manuscritos clássicos, levando-os para

Florença. Isso pode ser observado na citação abaixo.

Na Itália, entretanto, diferentemente do que ocorre no norte, a antiguidade torna a despertar, tão logo a barbárie tem fim, a consciência do próprio passado faz-se novamente presente em um povo ainda parcialmente ligado à antiguidade; ele a celebra e deseja reproduzi-la. Fora da Itália, o que ocorre é uma utilização erudita e refletida de elementos isolados da antiguidade; dentro dela, trata-se de uma objetiva tomada de partido ao mesmo tempo erudito e popular pela antiguidade de forma geral, uma vez que esta constitui ali a lembrança da própria grandeza de outrora. A fácil compreensibilidade do latim, o montante de recordações e monumentos ainda presentes estimula decisivamente

Page 15: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 131Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

esse desenvolvimento. Dele e de sua interação com um espírito italiano que se alterou com o passar do tempo – com as instituições do estado germano-lombardo, com a cavalaria comum a toda a Europa com as demais influencia culturais provindas do norte, com a religião e com a igreja – surge, então o novo todo: o moderno espírito italiano, destinado a tornar-se o modelo decisivo para o Ocidente. (BURCKHARDT, 2009, p. 179).

Essa observação que Burchhardt faz a respeito do Renascimento,

da busca que era feita ao passado clássico, e do desejo pela busca e

reprodução de novos teóricos. Esse é o caráter que se empregava dia

a dia no cotidiano renascentista e o espírito italiano se embebia desse

cerne aderindo a um novo olhar de filosofia e ciência. Temos que ter

em mente o seguinte aspecto sobre os textos gregos e romanos, eles

veneravam a arte, a filosofia e a ciência. Foi durante o renascimento

que se estabeleceu à cátedra de grego no Studium Generale, na

Universidade de Florença extraindo todo tipo de estudiosos gregos para

o auxílio na compreensão dos textos antigos. Os nobres com grande

frequência empregavam o auxilio de intelectuais gregos no papel de

tutores de seus filhos. No caso de Roma quase não produziu nenhuma

ciência original.

Por outro lado engenheiros e arquitetos romanos escreveram

vários tratados com muita importância. O próprio Leonardo fez uso

dessas técnicas em seus estudos, todavia temos que deixar claro que

os eruditos romanos condensaram o legado científico dos gregos em

grandes enciclopédias que foram muito populares na Idade Média e no

nosso foco de observação, a Renascença.

O povo bizantino teve muito contato com esses escritos, que

tiveram acesso a todo esse material enquanto o seu vasto império era

construído, assinalavam a ciência da Antiguidade Clássica. No caso

deles assinalaram os novos conceitos de forma crítica e introduziram o

seu próprio comentário e inovações.

Não devemos deixar, também, de lembrar o efeito das Cruzadas

nesse tempo, entre o Ocidente e o Oriente, observando obras dos

estudiosos desse mesmo contexto. Mais ou menos nessa época,

monges cristãos começam a traduzir muitos manuscritos para o latim.

Aproximadamente um século depois, grandes partes dessas obras de

legado filosófico e científico grego e árabe estavam à disposição no

Ocidente Latino. De certa forma uma parte do que foi absorvido pela

cultura renascentista se deu, portanto, pela contribuição Oriental. Como

referencia (HILÁRIO, 1981, p.38).

É um contexto interessante de se observar porque os orientais não

se preocupavam muito com a arquitetura; por outro lado, podiam

expressar-se cientificamente e filosoficamente sem ter medo da

repressão das autoridades, tendo em vista a sua realidade religiosa

diferente da cristã.

2.1.1 A ciência filosófica

A filosofia cristã da Idade Média era incapaz de ter essa

liberdade intelectual, ao contrario dos orientais. É o que se observa

nos estudos dos documentos e reescritos no ponto de vista cristão,

da teologia. Assim, temos a ideia da força que tinha a instituição

católica. Uma união entre teologia e filosofia, incluindo a filosofia

natural, a qual Leonardo estudou, existindo, também, por tentativas

cristãs da união da filosofia de Aristóteles aos ensinamentos

cristãos.

Santo Tomás de Aquino, produziu um vasto conjunto de escritos

da filosofia com precisão e sistemáticos no qual ele integrou

estudos das obras de Aristóteles e a teologia cristã medieval num

todo. Aquino foi um dos mais elevados intelectuais da Idade Média

Page 16: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

132Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

e o responsável pela incorporação da filosofia de Aristóteles aos

ensinamentos cristãos, em uma tentativa de mostrar que não pode

haver uma união completa entre a fé e a razão. O risco que se

tinha dessa fusão, entre fé e ciência é que qualquer contradição a

isso apontada por cientistas.

As mudanças que ocorreram no Renascimento vieram a

preparar o terreno para a revolução cientifica, não podendo jamais

ter acontecido sem um avanço tecnológico que mudou a face do

mundo, com o auxilio da criação da prensa mecânica, como será

trabalhado posteriormente. Essa padronização de textos foi tão

importante quanto a sua disseminação, pois com o uso da prensa

os textos podiam ser copiados idênticos. Esse aspecto permitiu que

os textos pudessem ser estudados com precisão de detalhes em

vários lugares, sem ambiguidades - o que no período medievo não

era possível devido à produção ser manual permitindo ser feitas

alterações, voluntárias ou não. Com essa mudança não podia ser

alterados e podiam ser embebidos de conceitos pessoais.

Essas produções de cópias padronizadas de imagens serviam

de ilustração de textos. Nesse momento estoura a invenção da

gravura, da qual Leonardo também se beneficiou, como já foi

relatado anteriormente, se preocupa com detalhes técnicos. É o que

revela o seu Codex Atlânticus7, entre o fim do século XV e inicio do

século XVI. Nesse Codex abaixo existe o desenho de uma anatomia

masculina com vários órgãos, por diversas vezes impressos, graças

à prensa mecânica, como se observa na ilustração a seguir que foi

reproduzida várias vezes.

7 Codex são grandes compilações de textos , sendo o Codex Atlanticus uma junção dos textos relacionados à ciência.

FIGURA 10: ANATOMIA MASCULINA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Desenho vista dos órgãos do peito e abdômen e do sistema vascular de uma mulher. (1485 – 1489). Pena, aguada, castanha; traços de sanguina e pedra negra e aguada ocre picotado para transferir, 476 X 322mm. Windsor Castle, Royal Library.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Page 17: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 133Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Quando os humanistas italianos romperam a barreira da

investigação dos textos clássicos, essa redescoberta se refletiu na

intelectualidade. Podemos designar a Renascença também como a

era de ouro da exploração geográfica.

Muitos documentos atestam o deslumbre dos europeus pelas

descobertas de um “novo mundo” como, por exemplo, a carta de Pero

Vaz de Caminha. Mas não podemos nos ater a pensar só em viagens

marítimas, novas regiões de terras também, foram exploradas, na

Europa, nas mais altas altitudes dos Alpes, sendo esse medo uma

herança do homem medievo. Até a pouco prevalecia o medo que os

“monstros” que habitavam os mares ou monstros que viviam nas altas

altitudes dos Alpes.

Leonardo fez uma busca filosófica de mudanças radicais no

século XV, fazendo um estudo implacável no trabalho de campo de

observação da natureza. Tendo em vista que filósofos e cientistas

da época evitaram esse tipo de experiência, Leonardo dizia que a

experiência direta dos fenômenos naturais, era o melhor caminho

para essa ciência natural, uma observação critica e pratica do que só

a experiência metódica. Da Vinci tinha um desprezo pelos filósofos que

não tinham o costume de ir a campo. Fazendo apenas a reprodução

de textos clássicos.

Através desse espírito de explorador da época, podemos entender

a necessidade da pesquisa de campo, seja física ou mental. Nesse

aspecto entendemos o Leonardo cientista do estudo da natureza da

botânica, para que ele estudasse tudo o que estudou quando andou

por toda a Itália, verificando, fazendo anotações e ilustrações. E

baseada nelas Da Vinci deixou vários contos e parábolas de todos os

tipos como podemos ver no livro Código Atlântico e nos mais de 5 mil

manuscritos.

Se analisarmos todas as buscas e pesquisas que Leonardo fazia,

teremos ideia de que ele estava ciente das conquistas intelectuais e

tecnológicas que aconteciam na cultura de seu tempo.

Leonardo contribuiu com seus compatriotas humanistas sobre a

sua grande confiança no individual e suas capacidades humanas.

Toda essa confiança vinha da influencia do estudo dos clássicos, era

um entusiasmo claro se analisarmos as suas viagens de exploração.

Mas por outro lado, mesmo tendo uma visão humanista Leonardo

não concordava na maioria deles que acreditava cegamente nos

ensinamentos clássicos. E Leonardo se recusava a esse pensamento,

tendo em vista que não acreditava só na teoria buscava a prática.

Nesse caso, ele fazia seus próprios experimentos e os comparava

para eliminar a dúvida e como já foi indicado anteriormente a eterna

observação direta da natureza. A partir daí podemos entender que

ele aplicava um método científico, que ficou conhecido por esse nome

muito tempo depois:

Entre os séculos XIV e XVI, houve uma mudança de equilíbrio, os “humanistas” – e com eles os artistas, os artesões, os homens de ação – substituíram as trilhas já sem perspectiva da especulação medieval por novas exigências, novos impulsos, novos fermentos... De uma forma inteiramente inédita e desconcertante, novas ideias e novas hipóteses floresceram: desaparecia assim uma forma de entender a realidade enquanto surgiam posições completamente originais: magia e ciência, poesia e filosofia misturavam-se e auxiliavam-se, numa sociedade atravessada por inquietação religiosa e por exigências praticas de todo gênero (GARIN, 1996, capa).

Nos mais diversos estudos de que se tem documentos até hoje são

os seus fólios e dentre eles o estudo sistemático e a formulação de

modelos baseados no teórico e a constante tentativa de experimentação,

e generalizações matemáticas.

Page 18: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

134Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Meus argumentos derivam da experiência, fonte de toda e qualquer evidencia, a única mãe da verdade ciência. Argumentar citandos autores não demonstra inteligência, mas boa memória (RACIONEIRO, 2008, p. 63).

Da Vinci tentava entender que não consistia apenas em

realizar a obra, mas elaborar regras que pudessem ser extraídas

da experiência, da observação direta. Por esse motivo Leonardo

fazia observações da natureza, de como ela funcionava como

mostram seus manuscritos de estudos de fluxo das águas ou

da aerodinâmica das aves. Leonardo teve várias atividades

profissionais ao decorrer de sua vida, apesar de ter tido um

problema no muito buscar a fazer. Segundo os seus biógrafos

ele se envolvia em vários projetos ao mesmo tempo. Ele teve o

seu caminho traçado por engenheiros, filósofos, historiadores e

exploradores por toda a sua vida.

Por outro lado, Leonardo nasceu em um ambiente em pleno

vapor de transformações culturais em todos os campos da sociedade

italiana, o que lhe permitiu contato com estudiosos e textos que

tratavam da antiga concepção de universo, as bases cientificas

de Aristóteles, a matemática a astronomia, a historia natural a

medicina e anatomia. Todo seu contato que teve propiciou a sua

visão e instigou a sua busca científica. Isso mais uma vez reforça

que Leonardo pode ter sido um gênio, mas ele era fruto de seu

próprio tempo, soube utilizar com clareza e muita destreza o que

seu tempo lhe oferecia, e naturalmente o meio onde viveu desde

o ateliê de Verrocchio, o ajudou a ser o que se tornou no decorrer

de sua vida.

Leonardo como se sabe era autodidata, nunca cursou uma

universidade. Durante o período que esteve em Milão, Leonardo

fez um extenso estudo sobre os clássicos, consultando grandes

manuscritos de outrora.

Ele estudou e obteve varias obras de Timeu de Platão e se

interessou muito sobre as obras de Aristóteles, por exemplo, a

Física, além de Pitágoras, Arquimedes e Euclides. Na sua maioria,

Leonardo pesquisou o famoso compêndio renascentista de Luca

Pacioli8. Esse foi o homem que quando se tornou amigo de Da

Vinci, o ajudou a aprofundar a matemática, a sua compreensão

sobre em especial a geometria, estudando elementos de

Euclides.

2.1.2 Métodos científicos

Para os homens da Renascença, a matemática era a base da

pintura, sendo esse o motivo de tão boa perspectiva.

As investidas que Da Vinci faz em seus estudos, sejam nos

desenhos artísticos ou na ciência, ou devemos dizer a união das

duas coisas, entre manuscritos de anatomia e os mais diversos temas

que são divididos por mais de 1000 fólios. Fólios porque nessa

época só existia o nome fólio para a divisão de páginas de um livro.

Enfim o conceito renascentista era assim, o primeiro dispõe sobre

a beleza e a proporção que eram inspiradas nos clássicos grego-

romanos e exerciam grande fascínio nos artistas renascentistas.

Essas proporções eram dispostas em várias áreas, na pintura, na

escultura e na arquitetura.

8 1498 Leonardo recebeu de Ludovico em doação uma vinha nas arredores de Milão. Luca Pacioli escreve que Leonardo mal terminou um livro sobre pintura e está concluindo um tratado sobre pesos e formas. (DA VINCI, 1997, p28).

Page 19: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 135Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

FIGURA 11: HOMEM VITRÚVIANO

Fonte: DA VINCI, Leonardo. As proporções do corpo humano (segundo Vitrúvio) (1490). Pena e tinta sobre ponta metálica, 344 X 245 mm. Galeria da Academia, Veneza.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

A harmonia e a essência unidas na beleza, isso é bem observado

nas obras de vários mestres da época, além de Da Vinci, Rafael e

Michelangelo. Uma tentativa entre esses mestres era típica da época e

era transpor a um cânone de medidas exatas. É lógico que Leonardo

não ia ficar de fora e entrou nessa empreitada. Por exemplo, enfim

existem medidas elaboradas por ele que são utilizadas até hoje. Maior

exemplo, o homem vitruviano e estudos de divisões proporcionais do

rosto, da figura humana de estatura mediana.

Criou o seu homem vitruviano, um homem de medidas perfeitas,

podendo ser observado na figura acima. Uma certa audácia de Da

Vinci,que praticamente refez as medidas dadas por Vitrúvio. Leonardo

não só estudou as medidas, se dedicando, principalmente, ao corpo

humano e suas funções.

Leonardo muitas vezes foi acusado através de seus desenhos de

errôneo, mas o que temos que lembrar é que muitas vezes ele usava

como base estudos feito pelos clássicos para dar início à sua pesquisa

ou criava um novo método. Talvez o maior exemplo seja o “home

vitruviano” baseando-se no desenho de uma reprodução “Vitruvium”.

Ele criou o mesmo método com medidas perfeitas. Como referenciado

no capitulo anterior figura 9.

Unindo-se dessa técnica geométrica ele aplicava em sua pintura,

belas proporções em uma face angelical, Leonardo relatava que essa

harmonia iria alcançar os olhos, assim como a música produzia efeitos

sobre os ouvidos. Se percebe, analisando esse aspecto, que Leonardo

se preocupava muito com a visão da figura humana; tendo um aspecto

angelical, o impacto sobre o próximo seria muito maior. Da Vinci

tinha noção da função religiosa que o tempo dele oferecia a todos

só observarmos a quantidade de obras que produziu que denominou

com referência ao sagrado. Além da “Santa Ceia”, várias obras foram

Page 20: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

136Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

batizado como o nome de santos e santas, e a expressão “virgem”

aparece muito, porque é denotado a uma representação da Virgem

Maria; é o caso da Virgem nos Rochedos.

Só houve uma tradução completa do método de Leonardo

recentemente, com uma datação de suas anotações, podendo-se seguir

as ideias técnicas de sua ciência. Esse tipo de estudo e datação foi

possível graças ao auxilio da paleografia que não faz só uma análise do

documento da obra, como também, de todo o contexto social.

Leonardo reconhecia que ao absorver o que os mestres passam era

importante no meio artístico, por outro lado tais mestres já eram raros.

O caminho mais coerente era observar a natureza em vez de aderir a

falsas imitações do real, para que não se adquirisse maus hábitos.

Quando Leonardo já estava idoso morando em Roma, ele trabalhava

em seus belos problemas de mecânica, desenhando com riqueza de

medidas sobre balanças e polias, podendo ser visto na figura abaixo.

FIGURA 12: POLIA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Dispositivo hidrotécnicos para transporte de água (1480-1482). Pena, tinta e tinta indiana. 291 X 400mm. Milão, Biblioteca Ambrosiana, Codex Atlanticus, fóls. 26v/ 7va.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Essa abordagem filosófica de acreditar nesse movimento empírico,

ou seja acreditar nas experiência como única formadora de ideiasé,

para Leonardo, esse ideal é natural, fazendo uma busca de campo.

Leonardo dizia que antes de considerar determinado estudo

concluído, ele sempre tinha que fazer testes para depois mostrar

nos escritos e desenhos como determinado mecanismo funcionava,

considerando que esse é o verdadeiro caminho cientifico, primeiro

a prática depois a teoria. De certa forma, parecia que Da Vinci

realmente tinha a ideia de “a posteriori” usar os seus estudos, por isso a

preocupação se funcionava, ou não, antes de lançar no papel.

Mesmo assim, podemos entender que Da Vinci era dotado de um

censo de observação e memória visuais perfeitos, a prova disso são as

suas obras, seja pintura ou desenho. Existem historiadores ou meros

especuladores que relatam em seus escritos que Leonardo passou de

pintor a cientista; isso não confere pois ele fez uma união das duas

coisas. Uma tentativa de Leonardo foi processo de produzir máquinas.

Um exemplo é o seu desenho de uma máquina de guerra, pois ele se

propôs a construí-la, como pode ser observado na figura a seguir.

FIGURA 13: MÁQUINA DE GUERRA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Carro com Gadanhas, (1483 – 1485), Pena e tinta, 210 X 290mm. Turim, Biblioteca Reale. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Page 21: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 137Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Além das máquinas mais conhecidas nos desenhos de Leonardo,

e que “a posteriori” seriam produzidas efetivamente até hoje, “O

Helicóptero, o tanque de guerra” chamado por ele de carro de assalto,

conforme visto na figura acima. E um desenho de bicicleta, entre outros,

e muitos deles envolvidos em movimento rotatórios através de manivelas

etc. Ou o que falar de um robô que ele montou em uma armadura; não

ainda tecnológico, mas cheio de engrenagens e sistemas, como pode

ser observado na figura a seguir.

Ainda no campo da engenharia militar, Leonardo desenhou

canhões, balestras e até roupa de mergulho; máquinas voadoras

imitando os movimentos do pássaro e o modelo do primeiro helicóptero

e da bicicleta, uma armadura mecanizada e pontes cobertas para

atravessar fossos e muralhas de castelos.

FIGURA 14: ROBÔ MECÂNICO

Fonte: http://www.google.com.br/imgres?q=robo+de_leonardo+de+vinciAcessado em: 20/08/2012.

Esses sistemas elaborados por Da Vinci com manivelas para

frente e para trás, poderia ser usado em processos de automação de

manufatura. Um de seus desenhos mais famosos nesse caso é o do

guindaste que tinha roldanas dentadas e uma engrenagem, através

de duas roldanas e todos os sistemas completo içava a carga pesada

sem maior esforço, entre outros. Como pode ser observado nas

figuras 14 e 15.

FIGURA 15: GUINDASTE PARA CANHÃO

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Estudo com guindaste para canhão numa fundição, (1487), Pena e tinta em papel preparado acastanhado, 250 X 183mm. Castelo de Windsor, Royal Library. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011, p.628.

Page 22: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

138Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Se pensarmos que durante a renascença, a madeira era um

material essencial, usado em quase tudo, esses guindastes e

outras máquinas eram feitos desse material, o que gerava um

atrito muito grande, entre partes de madeira em plena pressão

e no movimento das cordas, isso era um grande problema no

renascimento. Com as criações de Da Vinci, esses problemas

se amenizam, reduzindo o atrito e o desgaste das peças e um

sistema automático de lubrificação, entre esferas, cilindros, cones

truncados, etc.

Ele criou um mancal rotatório, com oito hastes de lado,

côncavas, que giram em seu próprio eixo, e intercaladas por bolas

giratórias. Isso tudo diminuía e muito o atrito, é mais ou menos a

parte interna de um rolamento hoje.

Em certo momento Leonardo demonstrou um interesse muito

grande pela resistência do ar, através do estudo dos vôos dos

pássaros, de observação através da anatomia dos pássaros que

era uma de suas grandes admirações.

Partindo desses estudos, ele projetou máquinas e estudava

primeiro o vento e ar, o ar e a pressão entre eles para depois a

estrutura dos pássaros, (figura 16) porque sem essa união não

existe vôo. Só assim ele passou a produzir os seus magníficos

projetos de suas máquinas voadoras. Podemos observar essa

paixão de Leonardo em seus estudos, com riquezas de movimentos

sobre o vôos dos pássaros. Da figura 16.

Sabemos que o homem deseja voar imitando os pássaros

desde sempre. Bem, mas pode-se afirmar que Da Vinci perseguiu

esse sonho com muito entusiasmo, que envolvia muitas ciências

que estudou, desde a anatomia até mecânica.

FIGURA 16: DESENHO VÔO DOS PÁSSAROS

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Aparelho com assas de pássaro, principalmente rígidas (1488 – 1490).Pena e tinta e sanguina, 289 X 205mm. Milão, Biblioteca Ambrosiano, Codex Atlanticus, fóls. 846V/309V-a.. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011,p.660.

Seus primeiros estudos a esse respeito datam de 1490, em Milão.

O mais interessante dessa época de vida do mestre Leonardo é que ele

começou nesse ponto a unir vários estudos científicos, por exemplo:

mecânica e anatomia, um dos objetivos que ele tinha era saber se

o homem tinha condições de tirar seu corpo do chão batendo asas,

saindo do chão, através de suas máquinas.

Vejamos o que Eugenio Garin, fala sobre essa observação do

desejo de voar de Da Vinci.

Dentre as suas maquinas, uma das que mais atingiram a fantasia dos homens foi sempre a maquina de voar. Refazendo os seus pensamentos, as observações, os seus projetos, nela podemos ver confirmado de modo muito claro o duplo processo de que falamos: primeiro a revelação do pássaro como maquina natural; depois a construção

Page 23: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 139Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

humana do pássaro artificial. Releia se a respeito, o famoso texto do Códice Atlântico: “o pássaro é instrumento que opera segundo as leis matemáticas, instrumento que o homem tem o poder de fazer com todos os seus movimentos mas não com tanta potencia...portanto direi que a tal instrumentos, composto pelo homem, não falta senão a alma do pássaro, alma essa que necessita ser fabricada pela alma do homem.” Alma significado aqui como Da Vinci bem explica da mais que força propulsora. (GARIN, 1996, p. 125 – 126).

Leonardo fez, por muito tempo, uma busca da harmonia do corpo

em movimento. O estudo do bombear do coração e o fluxo do sangue,

o que é bem observado, é que Da Vinci procurava vida e movimento em

tudo o que fazia, seja na arte ou na ciência, ou na junção das duas.

Empreenderá o primeiro vôo o grande pássaro sobre o dorso do

seu magno ceceri. Cobrindo o universo de estupor, de sua fama todas

as leituras e de gloria eterna o ninho onde nasceu. Leonardo se sente

tão comovido com sua maquina voadora imaginaria, que chega a

expressar-se quase em poesia. O monte ceceri (cisne) é uma colina nos

arredores de Florença (DA VINCI, Leonardo, Hucitec, 1997, p.213).

FIGURA 17: GEOMETRIA NA SANTA CEIA

Fonte:http://olharesnapaisagem.blogspot.com.br/2011/05/o-olhar-em-profundidade.html. Acessado em: 12/03/2013.

Leonardo trabalhou sobre estudos de geometria e álgebra, como

podemos ver no esboço da Santa Ceia (figura 17), esse são os seus

estudos matemáticos e isso ilustrado vária vezes isso em seus cadernos

de notas. Seus desenhos muitas vezes aparecem como diagramas

matemáticos. Supunha que uma linha reta era similar a distância de

tempo, discutiu trajetórias, mapas, etc.

Mapeava curvas e superfícies, explorava círculos e quadrados, além

de trabalhar o efeito da luz iniciado em várias formas e topologias.

Nesse ponto ele tentou relatar sobre as figuras geométricas, a sua

invariável quando elas eram curvas, é a esses estudos geométricos que

ele se dedicou nos últimos anos de sua vida, mais tranquilo sem muito

trabalho de campo.

Trabalhos de perspectiva e o uso de sombra e luz também são o seu

marco renascentista, tratando isso como ninguém. Leonardo dizia que

a perspectiva linear de um ponto de partida nada mais é do que ver um

lugar atrás de um vidro; observando, são desenhados as formas. Todas

as coisas são transmitidas ao olho através de linhas piramidais retas.

Dizia que, no caso da observação do vidro, que a altura da imagem

é vista inversamente proporcional à distância do objeto até o olho. Isso

pode ser visto ao observarmos um avião através de um espaço na

mão olhando para o seu ele parece caber em nossa mão. Nesse

mesmo seguimento, ele traçou raios de luz e sombra. Fez cálculos

astronômicos, convencia-se de que a lua não tinha luz própria e sim

refletia a luz do sol, e fazia cálculos da altura do sol. Mas o que

mais lhe interessava era a transmissão de luz entre os corpos celestes,

estrelas. Ou seja, trabalhou incansavelmente os conceitos de luz e os

seus efeitos.

Trabalhou também, com jogos de imagens e tentou explicar o

que, através dos olhos, era visto e como era visto, se o efeito era

Page 24: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

140Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

o mesmo para todas pessoas e a função contrária, a incisão da

imagem da luz aos olhos. A partir desses estudos se teve ideia de

que o olho processava junto ao cérebro a imagem inversa como se

fossem raios, entre a pupila e o cristalino, falando até da dilatação

da pupila após entrar no cristalino. O olho e o cérebro processam a

imagem deixando-a correta na posição certa; chegou a relatar até

a córnea. Estudou muito sobre anatomia, principalmente no que se

refere aos nervos ópticos, dutos lacrimais e a órbita dos olhos e os

nervos auditivos também.

Afinal, os anseios e os desejos dos homens, gênios ou não, partem

sempre de um sentimento pessoal ou coletivo, cientifico ou não, então

era típico do cientista da renascença filosofar sobre a questão de seu

estudo. Leonardo filosofava sobre tudo o que fazia. Um bela noite ele

fazia uma observação de uma mariposa e é um exemplo curto sobre

o filosofar que ele fazia sobre seus estudos. Segundo Leonardo Da

Vinci

A vaidosa e andarilha mariposa não se contentavam de poder voar comodamente pelo ar e, atraída pela deleitosa chama da vela, decidiu aproximar-se, mas o seu alegre movimento foi causa de súbita desgraça, pois naquela chama se consumiram as suas finas asas, e a pobre mariposa caiu toda queimada ao pé do castiçal. Depois de muito lamento e arrependimento, enxugou as lagrimas dos olhos molhados e, levantando a cabeça disse: Ó falsa luz, quantos infelizes como eu você já deve ter enganado antes? E se eu queria ver a luz, não devia também saber distinguir o sol da falsa chama que vem do sebo sujo? ((DA VINCI, Leonardo, Hucitec, 1997, p.69).

Através dessa citação, vemos a necessidade que Leonardo tinha em

filosofar sobre o que estudava. Ele escrevia em seus manuscritos com

frases sempre filosóficas. Um verdadeiro amor pelo que fazia, colocada

no papel a plena expressão de seu sentimento.

2.1.3 União entre ciência e arte

O máximo encurtamento possível na boca é igual à metade da sua extensão maior e é igual a largura maior das alertas do nariz e ao intervalo interposto entre os canais lacrimais do olho; os músculos chamados lábios da boca, ao contrair-se para o seu centro, puxam os músculos laterais, e quando os músculos laterais puxam e se tornam mais curtos, esticamos lábios da boca. E assim a boca se estende. (RACIONEIRO, 2008, p.106 – 107).

Esta citação mostra a junção que Leonardo tinha com ciência e

arte. Ele relata claramente as medidas proporcionais de como é feito

um rosto e isso só é possível através de um estudo anatômico. Ele

transitava entre várias técnicas, sem ter problemas com isso. Fazendo

dissecação de cadáveres, ele ai adquirindo qualidade na ciência e na

arte, pois sabendo acerca do funcionamento das coisas e dos órgãos se

desenhava e se pintava com melhor qualidade e exatidão.

E tu que dizes que é melhor ver a anatomia do que ver estes desenhos, dirias, bem, se fosse possível ver todas as coisas que são mostradas nos desenhos num só corpo, no qual, com todo o teu engenho, não verás senão apenas algumas poucas veias... e, como um só corpo não dura tanto tempo, é preciso proceder pouco a pouco em tantos corpos quanto seriam necessários para adquirir conhecimento completo; e isso eu repeti duas vezes para ver as diferenças.E se tivesse gosto por tal coisa, seria talvez impossibilitado pelo estomago e, se este não te impedisse, o seria certamente pelo medo de habitar nas horas noturnas em companhia de mortos esquartejados, esfolados e espantosos de ver; e, se não te impedisse talvez te faltasse desenhar bem como requer esta representação e, ainda que tenhas tal habilidade ela pode não estar unida a um conhecimento da perspectiva e, se é assim, faltar-te à ordem da demonstração geométrica e a ordem do calculo das forças e poder dos músculos; e certamente te faltara a paciência e não serás diligente.Quanto a se todas essas coisas estiverem em mim ou não, os cento e vinte livros compostos por mim darão sentença. “Não fui estornado por avareza nem por negligencia, mas somente pelo tempo.” (RACIONEIRO, 2008, p.107 – 108).

Page 25: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 141Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Por outro lado, esta citação nos mostra o quanto Leonardo se

preocupava com as duas coisas para fazer sua arte. Estudava e praticava

a ciência e aplicava uma das explicações sobre a perfeição das anatomias

desenhadas e pintadas por ele. Tais experimentos científicos deveriam ser

feitos sucessivamente de vários modos para se eliminar as dúvidas.

Podemos dizer que Leonardo era um inventor nato, se pensarmos que

Da Vinci inventou a maior parte de seus instrumentos de medição assim,

como pincéis, entre outros dispositivos como higrômetro9 e o hodômetro10.

Mesmo assim, ele nunca considerava as suas pesquisas como

definitivas, mesmo acreditando que os modos empíricos científicos

fossem o melhor caminho para se tratar. Podiam-se ter sempre novas

descobertas e Leonardo era ciente disso.

FIGURA 18: FORÇA HIDRÁULICA

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Folha de estudos sobre água transpondo obstáculos e esboço de remoinho, (1508 – 1510). Pena e tinta, 290 X 202mm. Windsor Castle, Royal Library. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

9 Dispositivo que mede a umidade do ar.10 Dispositivo que serve para a medição de distância.

Sobre o uso da força hidráulica (figura 18), Da Vinci fez um estudo com aplicações na água a fim de realizar um estudo do movimento hidráulico. Podemos entender que, nesse caso, Leonardo sempre esteve entre o bem e o mal; sabia claramente que a água era benéfica e destrutiva, que a sua força era suntuosa. Para um homem da renascença, ele foi o único de sua época a realmente estudar como engenheiro hidráulico, na prática, saindo da teoria para dispor sobre o fluxo da água. Segundo Leonardo Da Vinci:

Mas a água transbordante vai dando voltas dentro do pélago que

a prende e com redemoinhos vertiginosos vá batendo em diversos

objetos e salpicando no ar com a espuma barrenta, para recair em

seguida e fazer refletir no ar a água rebatida. As ondas circulares,

que espirram do lugar do choque, deslizem com seus impulsos de

viés sobre o movimento das outras ondas circulares, que contra

elas avançam, e depois do choque saltem de novo no ar, sem se

desprenderem de sua base. (DA VINCI, Leonardo, Hucitec, 1997,

p.215).

Observamos que nessa citação Leonardo descreve sobre o movimento da água, sobre seu fluxo. O seu desenho, do vale do Arno, aponta a água tem uma riqueza de detalhes tão boa que ele relata até os vórtices, ou seja, um padrão circular ou espiral ao redor de uma rotação, essas turbulências, esse tipo de estudo ainda não haviam sido realizado o que permitiu o desenvolvimento dos desenhos a cerca de mares, rios, e bacias, (a ciência do estudo da dinâmica de fluidos).

Ele desenha através da busca de campos, marés, rios e mapas de bacias hidrográficas completas e a correnteza, fluxo de açudes e cachoeiras, etc. Como podemos observar em seu desenho do vale do Arno de (1473).

Page 26: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

142Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

FIGURA 19: DESENHO DO VALE ARNO

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Paisagem em Arno (1473). 190 X 285mm. Pena e tinta, Florença,Galleria degli Uffizi, Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Mas o rio Arno atravessa toda a região da Toscana Italiana

percorrendo 241 km, entre Florença e Pisa, a imagem retratada

subentende que ele tentava retratar a nascente nos Apeninos da

região.

Racionero aponta que, alguns desenhos do mestre Leonardo, sobre

os estudos sobre a água foram feitos com a emersão de objetos na

água para obter resultados e usando varias formas diferentes. Esses

desenhos provam seu fascínio que se renovava perante a natureza;

esses experimentos mostram o quanto ele tentava compreender a

constante mudança da natureza.

Um exemplo desse prazer de fazer, sobre as formas e transformações

no mundo a sua volta, pode ver em seus diversos estudos de rocha, é o

maior exemplo disso, talvez seja o quadro da a “Virgem das Rochas”,

na figura 6, a qual ele pinta duas vezes uma versão quase igual à

outra. Uma está no museu do Louvre e o outro está em Londres no

National Gallery. Para essa versão ele teve o auxilio de Ambrósio de

Predis, mas o exemplo está justamente na formação rochosa atrás da

Virgem pintada com requinte de detalhes em toda a obra.

Os estudos que Da Vinci fez a respeito da geologia, não são só

precisos, mas ele formula princípios gerais, que só vão ser descobertos

séculos mais tarde. Para se ter ideia fez uma análise sobre a

temporalidade sucessiva de extratos de solo e rocha, e até fósseis no

solo, erosão e a deposição de sedimentos causados pelos rios. Como

se vê, Leonardo adorava água. Além disso, tudo, Da Vinci foi mestre

na representação de efeitos atmosféricos, desenhava como ninguém o

vento e a água ao nascer e ao por do sol, o que exige um matiz de cor.

Por outro lado, de acordo com Rancionero os cadernos de notas são

repletos de desenhos de plantas.

Raciocinando sobre as coisas naturais, Leonardo dedicou-se a descobrir as propriedades das plantas, seguiu e observou o movimento do céu, as fases da lua e o caminho do sol. Por tudo isso, formou na alma uma concepção tão herética, que já não se submetia a nenhuma religião, e ele parecia encontrar mais grandeza em ser filosofo do que cristão. (RACIONEIRO, 2008, p.92)

O final desta citação fala sobre um Leonardo dos estudos das

coisas naturais, e um Leonardo mais filosofo do que cristão. No século

XVI, a Igreja Católica a instituição religiosa era dominante, o fato é

que a filosofia nesse período fazia parte da instituição católica e a

arte também, Da Vinci esteve entranhado nesses três campo a ciência,

religião e a arte. Temos que lembrar que a instituição religiosa é antes

de qualquer coisa, uma organização política social, ou seja, longe dos

conceitos do momento, indagar sobre o aspecto religioso. Mas não é

porque Leonardo trabalhou muitas vezes para instituições religiosas,

Page 27: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 143Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

e para os principados italianos que podemos considerar um cientista

e um artista elaborando trabalhos artísticos dentro dessas instituições,

nesse caso mais artista que cientista.

2.1.4 Escrita

Algo muito bem observado em Leonardo é a impressão que ele

estava sempre com pressa, as suas anotações sempre desconexas,

pode-se ver isso claramente em seus textos filosóficos e contos; com

uma característica “idiossincrática”. No caso da escrita devido a essa

possível pressa ele muitas vezes cometia erros, por exemplo, palavras

alinhadas sem espaço. E usava uma espécie de código de anotação, de

abreviações de seus manuscritos. Leonardo não seguia uma tradição de

escrita, como era de costume, talvez como uma certa rebeldia a aderir

a costumes tradicionais, registrando até o som da palavra falada. Por

outro lado se observarmos nas artes, em especial na pintura, no qual

não aderiu a um estilo de seu tempo. Para nós sobraram poucas obras,

cerca de 15 catálogos hoje, mas de tão sublime beleza e perfeição

artística. Como pode ser observado na figura 5 do capitulo anterior.

2.2 Ciência das Formas Vivas: o Olhar de um Mestre

Eugenio Garin fala do mestre Leonardo:

Por isso os desenhos de Da Vinci, bem como as suas anotações e os seus esboços de livro, são tantos, e pouquíssimos os quadros porque mais ou menos consciente Da Vinci sabia que a ultima palavra é só uma: que num rosto ou paisagem concentra-se tudo mas sabia também que esta visão total não acontece senão a quem penetrou até o fundo o mistério do ser. Seria fácil alinhar os textos de Da Vinci sobre esta viagem de descoberta, sobre esta analise de cada zona da experiência,

a convergir na tomada de consciência do homem que se transforma na obra humana. “Todas as ciências, ou seja, a produção artificial de tudo o que esta além, para que se encontre a síntese, ou seja, o significado, numa forma” (GARIN, 1996, p.127).

Leonardo estudava tanto a natureza a ponto de se fazer vária

observações de uma variação de uma mesma espécie, em formas

orgânicas e se são similares umas das outras em seus fenômenos

naturais em seus desenhos.

Se olharmos Leonardo de um ponto de vista mais amplo e ele

fosse se encaixar em uma condição cientifica muito ampla e dinâmica,

os movimentos que ele retratava da natureza humana ou da própria

natureza é incessante, considerando as formas como movimento

e não estáticas. Todas as formas vivas se moldam e se transformam

continuamente, transformando-se em um grande processo metabólico.

Leonardo, podemos retratá-lo da seguinte maneira: na pintura ou

na ciência, ele consegue observar um mundo em pleno desenvolvimento,

um movimento inerente do mundo. Leonardo, com esse espírito de amor

à ciência e à arte, em seus mais diversos estudos nos mostra um aspecto

sistêmico da vida em pleno século XV e XVI, auge da Renascença.

2.2.1 Anatomia

Um outro campo de investigação que mereceu profundos estudos de

Leonardo foi o da anatomia. Ao se deparar com a riqueza de detalhes

que encontramos em seus estudos de anatomia, temos a nítida ideia de

que Leonardo nesse ponto estuda com muito cuidado os clássicos.

Leonardo usou uma edição italiana da anatomia aplicada por

Mondino11, foi o momento em que ele aplicou estudos de dissecação

11 Mondino de Liuzzi foi um professor de medicina e um dos precursores Anatomia como prática. A sua primeira dissecação ocorreu em 1315. (http://

Page 28: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

144Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

do sistema nervoso e outras partes do corpo humano. Como pode ser

visto na figura 10 e 11.

FIGURA 20: DESENHO DO CÉREBRO

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Desenho representação fisiológica do cérebro. (1508 – 1509). Pena e aguada castanha, 192 X135mm. Weimar, Kunstsammlungem zu Weimar, Schlossmuseum.Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

No campo da anatomia, ao estudar as cavidades do crânio e o cérebro,

ele colocava cera derretida dentro dos ventrículos com uma seringa. O

objetivo dele era exatamente o seguinte: o crânio como se fosse uma forma.

Após a cera secar, poderia se ver as formas dos ventrículos, retirando o

cérebro. A mesma técnica foi utilizada para os estudos oftalmológicos.

www.evi.com/q/biography_of_mondino_de_liuzzi).

Leonardo imergiu o olho em clara de ovo formando um coagulo em torno desse tão delicado órgão fervendo-o todo; assim poderia cortar, sem o fazer explodir.

Da Vinci relata em seus manuscritos que daí parte a característica-chave das formas vivas, da natureza, sendo o estudioso que era ele classificava varias vezes os mesmos estudos na tentativa da perfeição, da natureza e mesmo do corpo humano como pode ser visto em seus desenhos. Como esse estudo de um feto no útero, cordão umbilical e órgão genital de uma mulher.

Entre os mais diversos estudos descritos em seus códices, talvez que mais chame a atenção sejam os estudos anatômicos e, entre estes, um sobre um feto no útero, do século XVI. Aproximadamente, em 1489, com muito apreço à anatomia e à ciência, Da Vinci começou a escrever um livro sobre a figura humana, que, como outros, nunca terminou. Nessa época ele calculou as medidas do corpo de dois homens em pé, sentados e de joelhos.

FIGURA 21: FETO

Fonte: DA VINCI, Leonardo. Feto no útero. (1510 – 1512). Pena, dois tons de aguada castanha e sanguina, 304 X220mm. Windsor Castle, Royal Library. Fonte extraída de: ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.

Page 29: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 145Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Chegava a fazer uma analogia com a diferença entre a perna

de um cavalo e a humana. Em um de seus fólios sobre anatomia, fez

uma comparação das veias do corpo com a do corpo humano com a

laranja. Observou que as veias são semelhantes às cascas da laranja e,

se a casca é espessa, a polpa diminui à medida que envelhece, assim

também se dá com as veias do corpo humano.

Quando Da Vinci investigou se a similaridade entre esqueletos de

diferentes vertebrados. Seria mais ou menos o estudo de homologias;

se existia correspondência nas estruturas das espécies diferentes,

nas descendências e evoluções de um ancestral em comum, como o

estudos de músculos da face. Ao observar esse contexto entendemos

que quando ele fazia essa analogia a respeito da laranja e as veias,

ele estava estudando o processo de envelhecimento dos tecidos vivos;

aí esta a observação feita por ele que várias espécies o processo

evolutivo seguem padrões muito próximos. O mais impressionante é

que ele observa estruturas a olho nu que só seriam observados muito

“a posteriori”, e atualmente com o uso do microscópio. Ele observava

uma grande diversidade de formas, sendo que os padrões orgânicos

são diversos. Ele aplica isso várias vezes de formas diferentes.

2.2.2 Botânica

Podemos encarar Leonardo como um dos maiores humanistas de

sua época; estudou e pôs em prática a historia natural. Seu estudo

feito sobre botânica supera a seu tempo os clássicos gregos, como por

exemplo: Disputa “Pró” e “Contra” A Lei da Natureza.

Pró: A natureza, caprichosa e comprazendo-se em criar e produzir continuamente vidas e formas, porque sabe que são um incremento da sua matéria terrestre, é voluntariosa e mais rápida para criar que o tempo

para consumir, porem dispôs que muitos animais sirvam de alimento uns aos outros, e não sendo isto suficiente para seus propósitos de equilíbrio frequentemente lança certos vapores venenosos e pestilentos e males contínuos sobre as grandes multiplicações e agrupações de animais e mais ainda sobre homens, os quais aumentam consideravelmente porque os outros animais não se alimentam deles, e suprimidas as causas, desaparecem os efeitos.Contra: Então esta terra procura acabar com a vida que exista nela, ao desejar a contínua multiplicação, segundo a razão que você alegou e demonstrou. Muitas vezes os efeitos se parecem as suas causas. Os animais são exemplo da vida do mundo. Pro: Ora veja, a esperança e o desejo do homem de repatriar-se e de voltar ao caos primitivo assemelham-se a relação da mariposa com a luz. O homem, com seus contínuos desejos, espera sempre com festas a nova primavera, o novo verão, os novos meses e anos, parecendo-lhe que o que quer chega sempre demasiado tarde, e não dá conta de que deseja o seu próprio aniquilamento. Porem, este desejo é a quinta-essência, espírito dos elementos, que, encontrando-se encarcerada na alma do corpo humano, deseja sempre voltar ao seu mandatário. E saiba que este desejo faz parte da quinta essência, companheira da natureza, e que o homem é um modelo do mundo (DA VINCI, Leonardo, Hucitec, 1997, p.205).

Ao se preocupar com uma ciência de qualidade de formas, Leonardo

admirava por dias a grande diversidade e variedade das formas vivas

analisando plantas, flores, árvores, a água e animais, folhas e frutos.

O fascínio que Leonardo tinha sobre a natureza era visível através

de seus vários estudos da água, uma vez que realizou grande número

de estudos.

Em várias de suas obras ele usava a decoração com água e

movimento, o seu reconhecimento pelo papel vital da água era certo,

a reconhecer como a matriz de todas as formas vivas. Existem vários

desenhos de Leonardo quando trabalhou como engenheiro militar de

sistemas de canalização, irrigação e drenagem de pântanos etc.

Leonardo foi um homem que dedicou seu olhar a quase tosos os

campos da arte à ciência. Infelizmente seus projetos não chegaram

Page 30: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

146Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

a ser executados em seu tempo, não saindo de, seus tão, famosos manuscritos de escrita invertidas. Alguns desses projetos, aparecem em seus manuscritos, em maior quantidade sendo muito mais elaborados, pois significativa os seus sonhos, como é o caso da sua vontade de voar e de controlar a água. Como já foi relatado anteriormente.

A sua grande parte desses projetos foram colocados em práticas, sendo que a sua maioria ainda fazem parte do nosso cotidiano, mesmo tanto tempo depois.

Um homem que vivia uma vida de estudos eternos, levou suas descobertas de outras áreas do conhecimento para as artes, na qual pode ser observado a delicadeza das técnicas aplicadas. Suas pesquisas o inspirava cada vez mais a ir buscar respostas que o intrigava. Como a filosofia não foi diferente, sendo isso o reflexo do homem da Renascença, “Leonardo Da Vince”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista toda a análise feita nessa pesquisa, chegou a hora das considerações finais em torno de Leonardo Da Vinci. A parte inicial tratou do mundo em que ele viveu, na Itália, que exigiu um olhar atento, uma vez que descortinava novas situações.

Os homens desse período tinham que saber encontrar oportunidade e agir individualmente, em uma nova realidade social que vinha se instalando, com o homem no papel principal da história.

É indispensável dizer que poucas épocas tinham sido capaz de estabelecer artistas com o mérito dos da Renascença, sendo o caso de Da Vinci, que com muito entusiasmo foi um grande nome de seu tempo e “a posteriori”. Foi importante ao seu tempo deixando um considerável legado artístico e científico.

Arrisco dizer que Da Vinci foi um dos maiores nomes da história

do Renascimento e da humanidade, principalmente se pensarmos

em alguns de seus projetos que são utilizados até hoje. Ele foi um

consagrado pintor, filósofo, naturalista, escultor, arquiteto, engenheiro,

desenhista, inventor, escultor, físico, matemático, músico, anatomista,

inventor, escritor, etc. Mas é importante observar que Leonardo não foi

tudo isso de forma ou em tempo separado. Da Vinci foi um cientista que

praticava muitas coisas em campo diversos, para só depois aplicar em

sua arte, um “artista científico”.

Quando analisamos que o homem explora pouco o seu

conhecimento, Leonardo soube usar força de vontade muito bem,

explorando quase todos os ramos do conhecimento, sendo que a maior

prova disso foram os mais diversos manuscritos que ele deixou que vão

de uma recita a um desenho anatômico.

Mas ao lermos uma fonte primária de Da Vinci os da uma sensação

de completa falta de rumo no raciocínio, pois ele registrava suas

experiências não separadamente, mas tudo fazia parte de um mesmo

manuscrito. Então foi necessário anos de catalogação e estudos para se

colocar separadamente as ideias do mestre Leonardo.

O mais impressionante é,mostrar o papel científico dele, pois nunca

havia só uma escrita e sim sempre com desenhos de observações. Isso

pode ser visto como um resultado digno de um mestre em sua pintura.

Ele próprio um homem sincronizado com seu tempo, representou

o homem do Renascimento de forma profunda nos trazendo esse

exemplo até os dias atuais, estabelecendo relações entre a ciência e a

arte. Na arte ele aplicava características de leis matemáticas e princípios

geométricos e uma perspectiva espacial nunca vista anteriormente, isso

pode ser observado, por exemplo, na pintura executada por ele duas

vezes em Madona nas pedras.

Page 31: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013 147Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

Podemos refletir que para Leonardo Da Vinci, seu olhar antecipado,

a arte e a ciência, tinha a mesma finalidade de ter o conhecimento

da natureza, representando aos nossos sentidos os acontecimentos

naturais. Um homem que de certa forma criou um método científico e

excluiu toda autoridade e especulação que não fosse fundamental na

prática experimental.

O que falar de Leonardo filósofo? Ele filosofava sobre tudo e temos

que entender que na Renascença a filosofia ainda era uma ciência que

fazia parte da ciência natural, não sendo uma coisa separada.

Pode ser percebido que Da Vinci tinha o delineamento de uma

mentalidade moderna científica – experimental, uma experiência

sensível que se fez necessário para gerar o Leonardo que conhecemos

nos dias de hoje, e que foi muito importante em muitos inventos terem

sidos usados por outros homens e que ainda fazem parte da nossa

realidade, como o tanque de guerra e o macaco para carro, ou seja os

seus inventos estiveram sempre entre o bem e o mal. No seu tempo, a

maioria deles não foi usado, só mostrado um grande desejo de avanço

tecnológico, na sua maioria foi mais aplicado no campo artístico.

Para ele a natureza tinha uma ordem imensurável, precisa e de

perfeita necessidade. Pode-se dizer que esta nova concepção de ciência,

apontada por Da Vinci foi sendo elaborada anteriormente por outros

mestres, com raízes na antiguidade como Aristóteles e Platão.

O conhecimento do mundo não é físico, imutável e conclusivo.

Leonardo sempre renovou as suas experiências, repetindo-as várias

vezes. Esse grande mestre utilizou a sua arte como uma forma de

apreender a realidade, em sua essência, e não apenas em sua

aparência.

Leonardo nos trouxe uma contribuição para o desenvolvimento

tecnológico e a mudança de mentalidade da sua própria época e das

gerações posteriores. Podemos usar como um dos maiores exemplos

da contribuição da Renascença, pela mão de Da Vinci, o Homem

Vitruviano, encarada como uma mudança de paradigma no pensamento

religioso. Essa razão pode ser vista como uma substituição do caráter e

fixação do homem no centro da história. Por outro lado, reforçando o

antropocentrismo e influenciando todas as investigações da época.

Tendo essa análise de todos os aspectos, podemos entender Leonardo

Da Vinci como uma das mentes mais brilhante do Renascimento,

gerando entusiasmo na arte e na ciência, ou como se costuma dizer,

uma arte-científica, nos dias atuais. Um gênio multitalentoso, que

morreu aos 67 anos, nos deixando um legado de beleza e ciência

admirado até hoje. Exatamente 541 anos de sua morte, ainda arranca

suspiros dos seus admiradores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROTTON, Jerry. O bazar do renascimento: Da rota da seda a Michelangelo. São Paulo: Grua Livros, 2008.

BURCKHARDT, Jacob. Acultura do Renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo, Companhia das Letras, 2009.

BURKE, Peter. O renascimento italiano – Cultura e sociedade na Itália. São Paulo; Nova Alexandria, 1999.

CAPRA, Fritjof. A ciência de Leonardo Da Vinci. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008.

CASSIRER, Ernst. Individuo e Cosmos na filosofia do Renascimento. 1Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DA VINCI, Leonardo. Obras literárias, filosóficas e memoriais. São Paulo, Hucitec, 1997.

Page 32: Davi Roja Orientador: Professor Dr. Pedro Leãouniversidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_8/pdf_8/art_3.pdf · Tratando - se do seu nome de batismo de Leonardo Da Vinci, a probabilidade

148Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná | História | 2013

DA VINCI, Leonardo. Coleções grandes mestres da pintura. n. 3. São Paulo: Folha de São Paulo, 2007.

DA VINCI, Leonardo. I Códice Atlântico. Vol.1. Ed. Folio S.A, 2008

DA VINCI, Leonardo. II Códice Atlântico. Vol.2. Ed. Folio S.A.2008

DA VINCI, Leonardo. III Códice Atlântico. Vol.3. Ed. Folio S.A, 2008

DA VINCI, Leonardo. Arte e Vôo. Ed. Folio S.A 2008.

GARIN, Eugenio. Ciência e vida civil no Renascimento Italiano. São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.

GOMES, Morgana. A vida e o Pensamento de Leonardo Da Vinci. 4Ed. São Paulo: Minuano.

HELLER, Agnes. O homem do Renascimento. Editorial Presença, 1982.

NEPOMUCENO, Luis Andre. Petrarca e o Humanismo. São Paulo, Bauru: Edusc, 2008

RACIONERO, Luis. Leonardo Da Vinci. São Paulo: Ediciones Folio. S.A. 2008.

SHAARON, Magrelli; SANNA, Angela; TADDEI, Francesca SCALA, Florence (Italy), 2011.

ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. I. Kökn Taschen, 2011.

ZÖLLNER, Frank. Leonardo Da Vinci: A obra gráfica. Vol. II. Kökn Taschen, 2011.