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DEFESA DO CASO “OS EXPLORADORES DE CAVERNA”. Venho à presença de Vossa Excelência, por meio deste, apresentar minha defesa, nos termos do artigo 24 do Código Penal, com o intuito de demonstrar improcedência da acusação, evidenciando a absolvição dos réus pelos fatos e fundamentos que a partir de agora passo a narrar: I - DOS FATOS Em síntese, cinco membros de uma sociedade espeleológica, dentre eles os quatro acusados, entraram em uma caverna onde, depois que já se encontravam bem distante da entrada, houve um grande desmoronamento que bloqueou-lhes completamente a única saída. Após 23 dias sem resgate e, consequentemente, sem uma quantidade de alimentos que lhes fossem suficiente para a sobrevivência, um dos membros sugere que um deles seja sacrificado para que os outros quatro possam sobreviver. Neste ínterim, todos acordaram em sortear uma vítima através de um lance de dados e, para o seu infortúnio, Roger Whetmore foi o sorteado. Desse modo, foi morto e serviu de alimento para os quatro. Conforme se verifica, a ACUSAÇÃO denunciou os réus como está previsto nas penas do art. 121, caput, do Código Penal, por terem matado Roger Whetmore no vigésimo terceiro dia de cativeiro. Acontece que essa acusação é considerada imprópria, pois, amparados pelo artigo 24 do Código Penal, os réus em questão não podem ser condenados pelo crime de homicídio, já que agiram, naquelas circunstâncias, por ESTADO DE NECESSIDADE. Vale ressaltar que a morte da vítima não ocorreu por exigência dos demais prisioneiros, mas devido a um acordo feito por eles, inclusive pela própria vítima, de que alguém fosse sorteado para servi-lhes de alimento. II - DOS FUNDAMENTOS A fundamentação da ACUSAÇÃO pode ser claramente refutada pelo disposto no artigo 24 do Código Penal, que apresenta a seguinte redação: "Considera-se em estado de necessidade que pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se". Além do disposto no artigo 24 do Código Penal, irei fundamentar

Defesa Do Caso Exploradores de Caverna

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Defesa do caso Exploradores de Caverna

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Page 1: Defesa Do Caso Exploradores de Caverna

DEFESA DO CASO “OS EXPLORADORES DE CAVERNA”.

Venho à presença de Vossa Excelência, por meio deste, apresentar minha defesa, nos termos do artigo 24 do Código Penal, com o intuito de demonstrar improcedência da acusação, evidenciando a absolvição dos réus pelos fatos e fundamentos que a partir de agora passo a narrar:

I - DOS FATOS  Em síntese, cinco membros de uma sociedade espeleológica, dentre eles os quatro acusados, entraram em uma caverna onde, depois que já se encontravam bem distante da entrada, houve um grande desmoronamento que bloqueou-lhes completamente a única saída. Após 23 dias sem resgate e, consequentemente, sem uma quantidade de alimentos que lhes fossem suficiente para a sobrevivência, um dos membros sugere que um deles seja sacrificado para que os outros quatro possam sobreviver. Neste ínterim, todos acordaram em sortear uma vítima através de um lance de dados e, para o seu infortúnio, Roger Whetmore foi o sorteado. Desse modo, foi morto e serviu de alimento para os quatro.

Conforme se verifica, a ACUSAÇÃO denunciou os réus como está previsto nas penas do art. 121, caput, do Código Penal, por terem matado Roger Whetmore no vigésimo terceiro dia de cativeiro. Acontece que essa acusação é considerada imprópria, pois, amparados pelo artigo 24 do Código Penal, os réus em questão não podem ser condenados pelo crime de homicídio, já que agiram, naquelas circunstâncias, por ESTADO DE NECESSIDADE. Vale ressaltar que a morte da vítima não ocorreu por exigência dos demais prisioneiros, mas devido a um acordo feito por eles, inclusive pela própria vítima, de que alguém fosse sorteado para servi-lhes de alimento. 

II - DOS FUNDAMENTOS A fundamentação da ACUSAÇÃO pode ser claramente refutada pelo disposto no artigo 24 do Código Penal, que apresenta a seguinte redação: "Considera-se em estado de necessidade que pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se".

 Além do disposto no artigo 24 do Código Penal, irei fundamentar minha defesa no princípio Utilitarista, o Princípio da Máxima Felicidade. Utilizando as palavras de Jeremy Bentham, “por princípio da utilidade entendemos o princípio segundo o qual toda a ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função da sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação”. Em suma, a filosofia utilitarista defende que a ação é moralmente correta se tiver como principal consequência o bem-estar (felicidade) do maior número de pessoas envolvidas nessa determinada ação. Consequentemente, as ações caracterizadas como imorais são aquelas que têm como resultado a infelicidade da maioria dos participantes.

Minha intenção não é isentar os réus da morte de Roger Whetmore, mesmo porque isso foi declarado e confirmado pelos próprios acusados, mas tenho por objetivo inocentá-los da acusação de homicídio. Por mais absurda que pareça ser a atitude dos réus, de acordo com o Utilitarismo, não há qualquer imoralidade nessa ação, já que o fato ocorreu simplesmente por uma questão de sobrevivência dos quatro, mesmo que para isso fosse

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preciso haver uma vítima. A vida de UM foi sacrificada para que outros QUATRO pudessem viver, prevalecendo, dessa maneira, a felicidade da MAIORIA.

III - DOS PEDIDOS 

Isso posto, solicito que seja rejeitada a acusação feita aos réus, evitando-se que os mesmos respondam pelo crime de homicídio sem que tenham, de fato, cometido esse delito.