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Deficiência de ferro e anemia no paciente com câncer. Ricardo Caponero, 2013

Deficiência de ferro e anemia no paciente com cãncerbcf1.cdn.upx.net.br/ferro/pdf/mod4aula2.pdf · Níveis de ferritina normais ou elevados5 Saturação de transferrina ≤20% 5

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Deficiência de ferro e anemia no

paciente com câncer.

Ricardo Caponero, 2013

Anemia ao diagnóstico do câncer

Ludwig H, et al. Eur J Cancer 2004; 40: 2293-2306

30%

39%

25%

38%

49% 53% 53%

29%

Anemia foi definida como Hb<12g/dL

Anemia durante o tratamento

Ludwig H, et al. Eur J Cancer 2004; 40: 2293-2306

Causas de anemia relacionada à

neoplasia

• Coincidentes ( Comorbidade)

– Hereditárias

– Adquiridas

• Relacionadas ao tratamento

– Mielotoxicidade da quimioterapia citotóxica

– Bloqueio do c-KIT (& outras TKs relacionadas)

– Ablação parcial da medula óssea por radioterapia

• Relacionadas à própria neoplasia

Rizzo D. J Clin Oncol 2002; 20 (19): 4083-107

Causas de anemia relacionada à

neoplasia

• Perdas sanguíneas insensíveis

• Envolvimento da medula óssea

• Anemia da doença crônica (imunológica)

– Mudanças na homeostase do ferro

– Diminuição na proliferação de células progenitoras

hematopoiéticas

– Durabilidade dos eritrócitos

– Diminuição na produção de eritropoietina

Rizzo D. J Clin Oncol 2002; 20 (19): 4083-107

Pirker R. Support Care Cancer April 2013; 21 (4): 987-992

Efeito da quimioterapia

Anemia no câncer

Aapro M, et al. Ann Oncol 2012; 23 (8): 1954-1962

Células tumorais

1. Adamson JW, 2008; 2. Birgegard G, 2005; 3.Grotto HZW, 2008; 4

Weiss G, 2005; 5. Nowrousian MR, 2008; 6. Hedenus M, 2009

Inibibição

na produção

de EPO

Anemia

hipoproliferativa

Sistema imune

ativado

Sobre produção de

citocinas

TNF-α, Interferon-γ, IL-1 Diminuição na

absorção de Fe

Hepcidina

Inibição da

eritropoiese

IL-6

Olhos

- Amarelamento

Pele

- Palidez

- Resfriamento

- Amarelamento

Respiratório

- Dispneia

Muscular

- Fraqueza

Intestinal

- Alteração na

cor das fezes

Central

- Fadiga

- Tontura

- Desmaio

Vasos sanguíneos

- Hipotensão

Coração

- Palpitações

- Taquicardia

- Dor torácica

- Angina

- Infarto agudo

do miocárdio

Baço

- Esplenome-

galia

Sintomas da anemia

Ludwig H & Fritz D, 1998

Significado da anemia

• Impacto negativo na qualidade de vida

• Fator importante na fadiga relacionada ao câncer

• Fator prognóstico negativo para sobrevida em muitos

tipos de neoplasia.

Blanc B, Finch CA, Hallberg L, et al. WHO Tech Rep Ser (1968) 405:1–40.

Caro JJ, et al. Cancer 2001; 91: 2214-21

Em pacientes portadores de neoplasia

Ludwig H, et al. Eur J Cancer 2004;40:2293–2306

ECAS: Performance Status (OMS) & Hb O decréscimo nos níveis de Hb está associado com piora no performance status

*Dados faltantes para n=519

n*= Média (DP) OMS

score

187 1,7 (1,1)

1242 1,4 (1,0)

4214 1,0 (0,8)

8750 0,8 (0,8)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

<8,0 g/dL 8,0–9,9 g/dL 10,0–11,9 g/dL 12 g/dL

Patients

(%

)

4

3

2

1

0

Relação direta entre níves de Hb e QdV Análise longitudinal e incremental da correlação entre níveis de Hb e QdV

em pacientes com câncer recebendo quimioterapia.

Crawford J, et al. Cancer 2002;95:888–895

*Efeito da EPO no LASA score / QdV, qualidade de vida; LASA, Linear Analogue Scale Assessment

58 139 225 323 348 316 148 n=

8 9 10 11 12 13 14

Nível de Hb (g/dL)

Variação n

o L

ASA s

core

(m

m)

LASA s

core

(mm

)

3,5

2,5

65

60

55

50

45 0

0.5

1,0

1,5

2,0

3,0

Variação no LASA score*

LASA score

A fadiga tem um impacto maior que

a dor na vida dos pacientes Respostas a questão: Qual sintoma você pensa que afeta / afetou mais a sua (de

seus pacientes) vida diária, a dor ou a fadiga?

Fadiga

Dor

37

19

61 61

Pacientes Médicos

60

50

40

30

20

10

0

% P

acie

nte

s

Vogelzang NJ, et al. Semin Hematol 1997;34(3 Suppl 2):4–12

Impacto da fadiga na QdV

Vogelzang NJ, et al. Semin Oncol 1997;34(3, Suppl 2):4-12

Anemia e qualidade de vida durante a QT

Estudo Tipo de estudo Impacto na

qualidade de vida

Instrumento(s) para

avaliação da QdV

Glaspy 1997[1] Aberto Sim LASA

Demetri 1998[2] Aberto Sim LASA, FACT-An

Gabrilove 2001[3] Aberto Sim LASA, FACT-An

Littlewood 2001[4] Randomizado,

controlado por placebo Sim

LASA, FACT-An, FACT-

F, SF-36

Österborg 2002[5] Randomizado,

controlado por placebo Sim

FACT-G, FACT-F, FACT-

An

Boogaerts 2002[6] Randomizado Sim FACT-G, FACT-F, FACT-

An, SF-36,

Vansteenkiste 2002[7] Randomizado,

controlado por placebo Sim FACT-F

1. Glaspy J, et al. J Clin Oncol. 1997;15:1218-1234. 2. Demetri GD, et al. J Clin Oncol. 1998;16:3412-3425. 3. Gabrilove JL, et al. J Clin Oncol. 2001;19:2875-2882. 4. Littlewood TJ, et al. J Clin Oncol. 2001;19:2865-2874. 5. Österborg A, et al. J Clin Oncol. 2002;20:2486-2494. 6. Boogaerts M, et al. Br J Med. 2002;88:988-995. 7. Vansteenkiste J, et al. J Natl Cancer Inst. 2002;94:1211-1220.

Sobrevida mediana

0

25

50

75

100

125

150

0 25 50 75 100 125 150

SV mediana não anêmicos (meses)

Pulmão

Ovário

Cabeça & pescoço

Próstata

Linfoma

Leucemia

Outros

Mieloma múltiplo

Colorretal

Papila duodenal

Mesotelioma

Renal

Transicional metastático

Cérvix

J. Jaime Caro et al. Cancer 2001; 91 (12): 2214-21

SV

me

dia

na

an

êm

ico

s (

me

se

s)

Pacientes anêmicos versus não anêmicos

Possíveis explicações para ↓SV

• Efeitos no tumor

– Angiogênese aumentada

– Diminuição na atividade do p53

– Resistência a apoptose

• Efeitos no tratamento

– Radioterapia - Radicais oxigênio

– Quimioterapia - Radicais oxigênio & mutações resistentes

• Efeitos no hospedeiro

– Tolerância reduzida a terapia

– Qualidade de vida reduzida

– Redução na função imunológica

Radio

ssensib

ilidade r

ela

tiva

Tensão de Oxigênio (mm Hg a 37°C)

10

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

20 30 40 50 60 70 155 760

Ar 100%

Oxigênio

Radiossensibilidade relativa vs

Tensão de O2

Hall. Radiobiology for the Radiologist. 4th ed. 1994:133.

3 mm Hg

ou cerca

de 1/2%

Pior resultado operatório • Base de dados do American College of Surgeons’ National

Surgical Quality Improvement Program

• N = 227.425 pacientes com cirurgias de grande porte, não

cardíacas, em 2008

• 30,4% com anemia pré operatória

– Anemia moderada: HT >29 e <39% (♂), <36% (♀);

– Anemia moderada a severa: HT ≤29%

• Efeito mórbido composto: cardíacos, respiratórios, SNC,

urinários, cicatrização, sepse e tromboembolismo.

Musallam KM, et al. Lancet 2011; 378: 1396

Pior resultado operatório

Sem anemia Anemia moderada Anemia moderada

a severa

Mortalidade em 30 dias

N 1.240 2.037 1.115

Odds Ratio (IC95%) Referência 1,41 (1,30-1,53) 1,44 (1,29-1,60)

Morbidade em 30 dias

N 8.436 7.677 3.170

Odds Ratio (IC95%) Referência 1,31 (1,26-1,36) 1,56 (1,47-1,66)

Transfusões

perioperatórias 2,5% 10,5%** 35,9%**

** p<0,001 vs. Sem anemia

Musallam KM, et al. Lancet 2011; 378: 1396

Pior resultado operatório Anemia Anemia +

Fatores de risco

Odds Ratio (IC95%)

1,44 (1,33-1,56)

4,10 (3,59-4,69)

Musallam KM, et al. Lancet 2011; 378: 1396

Consequências da anemia

• Amplo quadro sintomático

• Pior qualidade de vida

• Agrava a evolução da doença

• Compromete a eficácia dos tratamentos

Transfusões sanguíneas

As transfusões sanguíneas elevam as concentrações de Hb mais rapidamente, mas não

resolvem as causas subjacentes da anemia e não são apropriadas para o tratamento da

anemia da doença crônica.

1. NCCN 2010; 2. Allen HJ, 2008; 3. Khorana AA,, 2008; 4.

Bennett-Guerrero E, 2007; 5. Koch CG, 2008

Riscos associados

Reações transfusionais1,2

Insuficiência cardíaca congestiva, tromboembolismo1, 3

Contaminação bacteriana1,2

Transmissão viral1,2

Qualidade do sangue estocado4

Preocupações adicionais

Disponibilidade de sangue

Inconveniência para os pacientes

Custos de hospitalização

Maior risco de complicações pós operatórias5

Agentes Estimuladores da

Eritropoiese (AEEs)

• Em pacientes anêmicos, portadores de neoplasia.

• São capazes de elevar os níveis de hemoglobina na

maioria dos pacientes.

• Reduzem a necessidade de transfusão e melhoram a

qualidade de vida, reduzindo, principalmente, a fadiga.

Calabrich A, Katz A. Future Oncol 2011; 7(4): 507–517

Agentes Estimuladores da

Eritropoiese (AEEs)

• Devem ser utilizados apenas em pacientes recebendo

quimioterapia.

• Aumentam o risco de eventos tromboembólicos.

• Devem ser iniciados quando os níveis de hemoglobina

forem< 10 g/dl.

• Não ha evidência de aumento da mortalidade quando a

hemoglobina permanece ≤ 12 g/dl.

Calabrich A, Katz A. Future Oncol 2011; 7(4): 507–517

Deficiência funcional de Fe durante o

tratamento com AEEs

Aumento inadequado nos níveis de hemoglobina em resposta à terapia com

apenas com AEEs 1-4

Níveis de ferritina normais ou elevados5

Saturação de transferrina ≤20%5

Redução no VCM e HCM originando hemácias microcíticas e hipocrômicas 6,7

Aumento nos níveis de Hb em resposta ao ferro endovenoso8-12

AEEs = Agentes estimuladores da eritropoiese, VCM = volume corpuscular médio, HCM = hemoglobina corpuscular média

1. Glaspy J, 1997; 2. Demetri GD, 1998; 3. Gabrilove JL, 2001; 4. Littlewood TJ,

2001; 5. Hedenus M, 2009; 6. WHO/CDC report, 2004; 7. National National Library

of Medicine, National Institute of Health 2009; 8. Pedrazzoli P, 2008; 9. Bastit L,

2008; 10. Auerbach M, 2004; 11. Hedenus M, 2007; 12. Henry DH, 2007

Reposição de ferro

• Neoplasia / quimioterapia estão associadas com o

metabolismo anormal do ferro.

• Baixa biodisponibilidade de ferro administrado por via

oral em pacientes com neoplasia.

• O uso de ferro endovenoso (mas não o oral) durante o

tratamento com agentes estimuladores da eritropoiese

pode melhorar os níveis de hemoglobina mesmo na

ausência de depleção das reservas de ferro (ou

deficiência absoluta de ferro).

Calabrich A, Katz A. Future Oncol 2011; 7(4): 507–517

A aplicação de ferro endovenoso à terapia com AEEs

aumenta significativamente a taxa de respostas

Auerbach M, et al. J Clin Oncol 2004; 22: 1301-1307

Respondedores são pacientes que obtém nível máximo de Hb ≥12.0g/dL ou um aumento de ≥2 g/dL durante o período do estudo

P< 0.01 vs grupo sem ferro, P<0.01 vs. grupo com ferro oral

Opções terapêuticas da anemia no câncer

Tratamento Principais vantagens, preocupações

Transfusões sanguíneas •Correção imediata da anemia1, riscos transfusionais

Ferro oral • Nenhuma – Ferro EV é superior ao ferro oral1

AEEs sem ferro •50-70% de taxa de resposta 2,3,4,5

•Redução na necessidade de transfusões5,6,7

•Melhora na qualidade de vida5,6,7,8

AEEs com ferro oral •Mesmas vantagens como sem ferro, com mais efeitos colaterais1, 8, 13

AEEs com ferro EV •Até 90% de taxa de resposta9-12

•Correção da deficiência funcional de ferro 9-12

•Redução das necessidades transfusionais9

•Melhora na qualidade de vida 10

AEEs=Agentes estimuladores da eritropoiese

1. NCCN Guidelines 2010; 2. Glaspy J, 1997; 3. Demetri GD, 1998; 4.Gabrilove JL,

2001; 5: Littlewood TJ, 2001; 6. Vansteenkiste J, 2002; 7. Bohlius J, 2006; 8.

Bokemeyer C, 2007; 9. Bastit L, 2008; 10. Auerbach M, 2004; 11. Pedrazzoli P, 2008;

12 Henry DH, 2007; 13. Aapro M, 2008

Conclusões

• Anemia é um problema significativo e frequente em

pacientes portadores de neoplasia.

• O uso de eritropoietina, dentro de diretrizes clínicas bem

estabelecidas, é seguro e eficaz.

• A suplementação de ferro por via endovenosa melhora

os resultados do tratamento com eritropoietina.

Referências Bibliográficas • Aapro M, Österborg A, Gascón P, Ludwig H, Beguin Y. Prevalence and

management of cancer-related anaemia, iron deficiency and the specific role of i.v.

iron. Ann Oncol 2012; 23 (8): 1954–1962.

• Petrelli F, Borgonovo K, Cabiddu M, Lonati V, Barni S. Addition of iron to

erythropoiesis-stimulating agents in cancer patients: a meta-analysis of randomized

trials. J Cancer Res Clin Oncol. 2012; 138 (2): 179-187.

• Calabrich A, Katz A. Management of anemia in cancer patients. Future Oncol 2011;

7(4): 507–517.

• Rizzo JD, Brouwers M, Hurley P, Seidenfeld J, Arcasoy MO, et al. American Society

of Clinical Oncology/American Society of Hematology Clinical Practice Guideline

Update on the Use of Epoetin and Darbepoetin in Adult Patients With Cancer.

2010; 28 (33): 4996-5010.

• Dicato M, Plawny L, Diederich M. Anemia in cancer. Ann Oncol 2010; 21 (Suppl 7):

vii167–vii172.

Questão 1

O uso de agentes estimuladores da eritropoiese, em

pacientes portadores de neoplasia:

a)Está indicado sempre que houver anemia.

b)Pode ser usado independentemente da administração da

quimioterapia.

c)Tem por objetivo reduzir a necessidade de transfusões

sanguíneas e os riscos inerentes a elas.

d)Tem por objetivo o retorno da hemoglobina aos níveis

pré-tratamento.

e)Não envolve riscos significativos.

Questão 2

A suplementação de ferro por via endovenosa:

a.É tão eficaz quanto a suplementação oral.

b.Está indicada apenas em casos de comprovada

deficiência de ferro.

c.Não melhora os resultados em relação ao uso isolado

dos agentes estimuladores da eritropoiese.

d.É segura e eficaz, estando indicada no uso conjunto com

os agentes estimuladores da eritropoiese.

e.É indicada apenas em pacientes com reais

possibilidades de cura.

Ricardo Caponero [email protected]

Obrigado