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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/020/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma reclamação subscrita por F., marido da utente MR visando o Hospital Privado de Braga, S.A., referindo que a utente foi internada naquela unidade para a realização de uma biópsia. Mais alega o exponente que, após dois dias de internamento, a utente teve alta, uma vez que o médico que iria realizar o referido exame se encontrava de férias. 2. A exposição foi inicialmente analisada em sede de processo de reclamação n.º REC/5895/2014, tendo posteriormente dado origem à abertura do processo de avaliação

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA … · O meu espanto foi quando ela me perguntou o que ela ... de contactar outro colega de radiologia ... clínica para o mesmo e

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de

supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades

económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/020/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma reclamação

subscrita por F., marido da utente MR visando o Hospital Privado de Braga, S.A.,

referindo que a utente foi internada naquela unidade para a realização de uma biópsia.

Mais alega o exponente que, após dois dias de internamento, a utente teve alta, uma vez

que o médico que iria realizar o referido exame se encontrava de férias.

2. A exposição foi inicialmente analisada em sede de processo de reclamação n.º

REC/5895/2014, tendo posteriormente dado origem à abertura do processo de avaliação

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registado sob o número AV/055/2015, no qual foram realizadas diversas diligências

instrutórias;

3. Após o que o Conselho de Administração da ERS determinou, por despacho de 22 de

abril de 2015, a abertura do processo de inquérito em curso.

I.2 Diligências

4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS

onde se constatou que Hospital Privado de Braga, S.A (HPB), com o NICPC 506 986

225, é uma entidade prestadora de cuidados de saúde, registada sob o n.º 20016,

detentor de um estabelecimento sito no Lugar da Igreja, Nogueira 4715 – 196 Braga

registado sob o n.º 114687.

(ii) Pedido de elementos ao HPB, em 5 de junho de 2015 e 14 de junho de 2016 e

análise das respetivas respostas;

(ii) Pedido de elementos ao reclamante F., em 26 de outubro de 2015 e análise da

respetiva resposta;

(iv) Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS, em 10 de setembro de

2016.

II. DOS FACTOS

II.1. Da reclamação e da resposta do prestador em sede de processo de reclamação

5. Em suma refere o exponente, na sua reclamação, o seguinte:

“[…] No dia 2 de julho a minha esposa M. foi sujeita a vários exames clínicos dos

quais se inclui um TAC, realizados aqui [HPB] mandados fazer por um médico que

só dava consultas externas.

No dia 7 de julho pelas 18h, a minha esposa foi sujeita a nova consulta médica a fim

de saber os resultados dos exames a que tinha sido submetida, e que vieram a

confirmar o pior.

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Tinha vários nódulos nos pulmões – foi avisada pelo médico que teria de ser feita

uma biópsia o mais urgente possível e que tinha de ser internada no dia seguinte dia

8 de julho pelas 8:30.

No dia seguinte às 8.30h comparecemos para ser feito o internamento e as primeiras

palavras da funcionária do balcão foram para proceder ao pagamento de uma

caução de 300€.

Por parte do atendimento do médico não tenho nada a dizer. Passados dois dias a

pagar 100€ diários recebo uma chamada da esposa para a ir buscar pois estava

internada para nada ser feito, a não ser uns pequenos exames que podiam ter sido

feitos em ambulatório.

No essencial ninguém fez nada.

O meu espanto foi quando ela me perguntou o que ela estava ali a fazer, pois o

médico que lhe iria fazer a biópsia marcada como urgente estava de férias.

Que hospital é este que interna pessoas para fazer tratamentos e exames urgentes

quando desconhece que os médicos estão de férias.

A minha esposa voltou para casa, expusemos o nosso desespero e angústia ao

Hospital Escala Braga e passados 3 dias deu entrada e ainda hoje se encontra

internada.

Concluindo gostava de saber se vou ser ressarcido destes 300€ pois nada de

relevante foi feito, houve apenas perda de tempo. […]”.

6. Ainda em sede do processo de reclamação, veio o prestador, pronunciar-se sobre a

situação nos seguintes termos:

“[…] A doente MR foi internada no nosso serviço no dia 8 de julho enviada da nossa

consulta de medicina no dia anterior para estudo de nódulos pulmonares e terá sido

dito à doente que poderia ter de fazer uma biópsia de alguns nódulos. Logo no 1º dia

de internamento foi solicitada uma TAC abdomino-pelvica que a doente realizou

nesse dia para despiste de um tumor 1º nessa localização e que pudesse dirigir mais

a nossa investigação; foi também observada por colega de ORL para despiste de

patologia desse foro.

No 2º dia de internamento (9/7) foi contactado o Dr. R. […] – Pneumologia no sentido

de se programar biopsia e averiguar a possibilidade de realizar biópsia de nodulo

pulmonar, dada a localização do maior nódulo ser justadiafragmática e de difícil

acesso, o colega encontrar-se dia de férias e ficou combinado voltar a contacta-lo no

dia 14/7 para discussão do caso.

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Nesse dia consegui que a colega de dermatologia observasse a doente por umas

lesões cutâneas, tendo realizado da parte da tarde, biopsia das mesmas. Dei-lhe alta

no dia 10/7 ficando depois de recontactar a doente para agendamento de

broncofibroscopia e eventual biopsia do nódulo pulmonar. Discuti o caso com o Dr.

R. […] no dia 14/7 tendo ele ficado de contactar outro colega de radiologia de

intervenção para averiguar possibilidade de biopsia do maior nódulo pulmonar, mas

que poderia ter de ser feita na Unidade da Boa Nova.

Telefonei neste mesmo dia à doente que pela possibilidade de ter de fazer mais

exames e por motivos económicos optou por iniciar acompanhamento no hospital

público. De facto os estudos que fez poderiam ter sido feitos em regime de

ambulatório, porém o internamento foi no sentido de maior brevidade. Conclui-se do

exposto que a situação clínica exige brevidade no diagnóstico e embora os exames

pudessem ser realizados em ambulatório, devido à demora que isso iria causar não

seria nesta situação uma boa prática […] – cfr. resposta endereçada pelo prestador à

utente junta aos autos.

II.2. Do pedido de informação ao HPB

7. Considerando a necessidade de obtenção de informação adicional para a análise mais

aprofundada da situação, foi solicitado ao HPB que viesse prestar os seguintes

esclarecimentos:

“[…]

1. Pronunciem-se, querendo, sobre todo o teor da exposição remetida à ERS;

2. Pronunciem-se sobre a informação prestada à utente sobre a necessidade de

internamento, a indicação clínica para o mesmo e os custos associados ao

internamento;

3. Remetam cópia das faturas emitidas à utente no decurso do internamento;

4. Remetam estimativa do valor a pagar pela utente se esta tivesse realizado os

exames em regime de ambulatório;

5. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados

necessários e relevantes à análise do caso concreto. […]”

8. Ao que o prestador veio informar o seguinte:

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“[…] 1. Quanto ao teor da exposição do reclamante e informações prestadas pelo

Hospital à utente relativamente à necessidade de internamento, indicações clínicas

para o mesmo e custos associados:

i) A reclamação apresentada pelo Sr. F. reporta-se ao episódio de internamento da

sua esposa MR no hospital, a 7 de Julho de 2014;

ii) A paciente foi observada pelo Dr. F., especialista em Medicina Interna.

iii) Nessa consulta detetou-se que a doente apresentava um quadro de nódulos

pulmonares que careciam de estudo. Por forma a determinar a melhor estratégia de

tratamento, recomendou-se a realização de exames médicos, e de estudo que

determinassem a etiologia dos nódulos.

iv) De modo a garantir a realização célere dos exames, sem intervalos e com

vigilância constante da doente e dos resultados dos exames, foi proposto, na

primeira consulta, o internamento da paciente.

v) De facto, de acordo com os especialistas, face ao quadro clínico da doente e à

necessidade de precisar o diagnóstico e a linha de tratamento, o internamento

afigurava-se como a melhor opção para tratamento mais célere e eficaz.

vi) O internamento é, segundo os especialistas, prática clínica comum para estes

casos.

vii) Assim, a paciente foi informada nesse sentido e foi-lhe então aconselhado o

internamento para estudo desses mesmos nódulos.

viii) Sucede que, num primeiro momento, a doente não aceitou o internamento, como

era sua prerrogativa, pelo que, nesse mesmo dia, acabou por regressar para casa

para ponderar acerca do mesmo.

ix) Contudo, logo no dia seguinte, a 8 de Julho de 2014, a paciente regressou ao

Hospital e deu entrada no serviço de urgência, tendo sido atendida pela Dr.a C.

(especialista em medicina interna), a quem manifestou logo vontade de ficar

internada (tanto que já trazia consigo inclusive uma mala com objetos pessoais) no

Hospital.

x) A Dr.ª C., especialista em medicina interna, atendeu à vontade da doente e

procedeu ao internamento no Hospital.

xi) No internamento a doente realizou estudo analítico e TAC abdominal , biópsia das

lesões cutâneas e observação pelas especialidades de otorrinolaringologia e

dermatologia.

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xii) O internamento correu conforme programado e sem complicações, tendo sido

realizados todos os exames com exceção de um – a biópsia de nódulos pulmonares.

xiii) Após discussão do caso, a equipa de pneumologia concluiu que em virtude do

nodulo ter uma localização justadiafragmática – sendo assim de difícil acesso – a

melhor estratégia para a doente seria uma discussão cuidadosa junto de

especialistas de radiologia de intervenção, para uma abordagem bem planeada . O

objetivo era realizar o procedimento com os maiores cuidados para benefício da

doente.

xiv) Ora, nesse dia em particular, o Hospital não tinha disponível nenhum médico

especificamente habilitado para a radiologia de intervenção.

xv) Logo que o Hospital se apercebeu deste contratempo, explicou a situação à

doente, esclarecendo que a biópsia aos nódulos teria de ser adiada para um outro

dia, em virtude da ausência de especialista de radiologia de intervenção (facto que

não era do conhecimento de nenhum dos responsáveis quando se procedeu ao

internamento da doente).

xvi) Mediante esta informação, a doente optou por ser transferida para o Hospital

público de Braga para continuar lá o tratamento.

xvii) Dessa forma, a Dr.ª C. deu alta à doente e entregou-lhe um relatório com todos

os exames e resultados dos mesmos para a mesma entregar no Hospital público,

tendo ficado a doente de ir informando a Dr.ª C. acerca da evolução do seu caso (o

que tem feito com regularidade, não existindo ainda qualquer diagnóstico definitivo).

xviii) Assim, no que concerne aos tratamentos médicos realizados à doente no

Hospital, podemos concluir que não houve qualquer erro técnico ou clínico nos

procedimentos realizados.

xix) Relativamente aos montantes alegados pelo reclamante, resta ao hospital

explicitar que os 300,00 euros reporta-se à caução que normalmente é solicitada

pelo Hospital quando o paciente entra no internamento.

xx) O montante referido serve apenas como caução, fazendo-se o ajuste e o acerto

de contas no final do internamento (como sucedeu no caso tendo o doente acabado

por liquidar o montante de 304,38 € - cfr. doc. n.º 1 – Fatura n.º BR2014/37370).

xxi) Todos os valores faturados estão corretos, não se detetando nenhum lapso a

nível da faturação. Paralelamente, cumpre ainda salientar que todos os atos e

tratamentos médicos que foram prestados no internamento seguiram todos os

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procedimentos e trâmites clínicos, não se verificando nenhuma complicação neste

âmbito.

xxii) Neste âmbito, tendo em consideração que o internamento foi expressamente

aceite e consentido pela doente e que todos os atos e tratamentos médicos foram

concluídos com sucesso e sempre com o consentimento da doente (e estando os

valores conformes, ao nível de faturação), o Hospital crê que não existe fundamento

para reembolso ao reclamante, contrariamente ao que foi solicitado por este último

na reclamação apresentada.

(xxiii) Da mesma forma, o Hospital entende que, no caso em apreço, cumpriu com os

respetivos deveres, na medida em que numa primeira fase possibilitou a livre escolha

à utente entre internamento e o ambulatório, numa fase posterior informou

devidamente da impossibilidade de realizar o exame no momento pretendido,

facultou e tratou da transferência da doente para o Hospital público - em respeito

pela decisão desta última - e esclareceu cabalmente o reclamante. (Cfr. doc. n.º 2 –

Documento de resposta à reclamação que foi junto pelo próprio reclamante e

comprovativo de envio à ERS). […]”.

9. O prestador veio aos autos juntar os seguintes documentos:

a) cópia da fatura BR2014/37071, no valor de EUR 63,00 referente a episódio de

urgência geral;

b) cópia da fatura BR2014/37070, no valor de EUR 304,38, referente ao episódio de

internamento;

c) cópia da tabela de preços e regras da Rede da ADSE.

II.3. Do pedido de informação ao reclamante

10. Após análise da resposta do prestador, constatou-se que era necessário proceder a

uma caracterização da situação denunciada, pelo que se solicitaram os seguintes

esclarecimentos ao reclamante:

“[…]

a) Informação prestada pelo médico assistente Dr. F., na consulta em que foi

diagnosticado, à utente, “um quadro de nódulos pulmonares”, sobre a necessidade

da utente realizar outros exames e/ou de permanecer internada para a realização

dos mesmos;

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b) Informação sobre a razão(ões) para a utente ter recorrido ao serviço de urgência

do Hospital Privado de Braga, no dia 8 de julho, de 2014, e se manifestou a sua

vontade de ser internada, naquele unidade, naquele dia;

c) Informação sobre se foram entregues todos os exames e relatórios dos exames

realizados nos dias 8 e 9 de julho de 2014;

d) Confirmação sobre se a utente foi informada da hipótese de realizar os exames

em regime de ambulatório ou internamento;

e) Em caso afirmativo, quem prestou a informação e em que data. […]”.

11. Nessa sequência, veio o reclamante F. prestar os seguintes esclarecimentos:

“[…] Eu F. «Marido» e minha Esposa MR «a doente» relemos com atenção a

resposta dada pelo Hospital Particular de Braga, resta-nos dizer que além de nos

extorquirem quase 400 Euros estão a agora justificar-se mentindo!... Tudo que

escrevem em nada condiz com o que se passou. E para confronto e apuro da

verdade mando esta cópia do ofício enviado pelo dito Hospital Particular em 28 de

Julho de 2014 que quase que admitem que procederam mal! Por outras palavras

será um pedido de desculpas, «cópia junta»

Vamos aos factos...

Começando pelo Médico que consultou a doente minha Esposa MR no dia 7 de

Julho de 2015 foi sim o Dr. P. portador da cédula profissional n º […] e não o Dr. F.

como o Hospital Particular vem dizendo. E foi o Dr. P. que escreveu este oficio «vai

cópia junta» para ser entregar na Agência de Viagens, para nos ser devolvida

determinada quantia de dinheiro que a doente tinha pago para uma viagem de gozo

de férias. Na Agência de Viagens não puseram nenhum entrave na devolução desse

dinheiro. Escrevendo o Dr. P. este ofício para suspender a viagem é porque havia

realmente muita urgência em ser feita a biopsia.

No dia seguinte às 8 horas da manhã com a ordem expressa de Urgência, a doente

MR apresentou-se com o relatório médico escrito pelo Dr. P., para lhe ser feita

imediatamente a biopsia aos pulmões. A primeira coisa a ser pedida foi 300 Euros de

caução.

Procedimento que eu não acho justo! Pois corra bem ou corra mal não será

problema. Está pago!!. Feito o pagamento, foi encaminhada para a Sr.ª Dr.ª C., que

acompanhou a doente até o aposento onde iria ficar, pensando eu «Marido» e minha

Esposa «doente» que seria um internamento de horas. Quando eu digo horas! É que

tinha a informação que no Hospital Público uma biopsia demoraria 3 ou 4 horas que

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neste caso foi a demora da biopsia que fizeram a minha Esposa. Mas não!... No

Hospital Particular de Braga eram dias. Mas maior foi o meu espanto quando da

parte da tarde recebo um telefonema pensando que era para ir buscar a doente. Era

realmente a doente mas a dizer que tinha sido informada pela Srª Dr.ª C. que o

Médico que lhe iria fazer a biopsia se encontrava em gozo de férias!... É caso para

perguntar que raio de Hospital será este que interna uma doente para fazer

determinado exame urgente quando desconhece que o médico está de férias.

Terá que se reconhecer que é um bom método para se ganhar dinheiro! Exigir

pagamento de 300 Euros de caução e como ainda não fosse suficiente tiveram o

desplante de cobrarem mais 63,00 Euros quando a doente resolveu sair por vontade

própria daquela unidade Hospitalar. Quantia essa que ninguém da secretaria me

soube explicar o porquê daquele pagamento quando eu F. «marido» fiz a primeira

reclamação.

Resumindo:- No Hospital Particular de Braga mesmo reconhecendo que erram

ficaram com o dinheiro.

Depois para justificar o porquê de ficarem com ele há que empatarem a doente

fazendo-lhe meia dúzia de exames que nada tinham haver com o que era para ser

feito ao ponto de minha esposa perguntar o que estava lá a fazer e que se queria vir

embora, porque esses exames podiam ser feitos em modo ambulatório. Além disso

não foi para aqueles exames que o Dr. P. a mandou internar.

Apelaram a que esperasse pelo Médico que lhe faria a biópsia «não se sabe quantos

dias seriam». Deram também sugestão de ir para Porto para outra Unidade Hospital

do Grupo Trofa. A resposta foi NÃO pois onde se iria arranjar dinheiro para lhes

pagar ao preço que eles cobravam os serviços.

Em relação ao dizerem que a doente optou por ser transferida para o Hospital

Público de Braga não corresponde a verdade. A doente não optou. A doente veio

para casa por vontade dela. Depois passados 2 dias da parte da tarde resolveu

dirigiu-se ao Hospital Público sabendo que o Dr. P. fazia lá serviço, falou com ele

expôs o que se tinha passado. Já estava informado de tudo por parte da Dr.ª C..

Dando logo ordem de internamento no Hospital Público de Braga para que no dia

seguinte pela manhã se fizesse o tratamento que realmente deveria ter sido feito no

dito Hospital Particular. Esteve 15 dias internada sendo tratada muito bem. Foi

mandada fazer através do Hospital Particular um exame ao Centro Hospitalar V. N.

Gaia-Porto.

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Quanto aos montantes do pagamento que o Hospital Particular se referem foram

realmente 304,00 Euros, mais os 63,00 pagos a saída, a tal quantia que menciono

em cima e que eles próprios na secretaria desse Hospital não sabem o porquê dessa

cobrança. Perguntaram-me também se tinha algum Seguro disse ter um cartão

MULTICARE - pediram-mo passado algumas horas devolveram-mo falta saber se

cobraram algo!

Pediram também o Cartão da ADSE da Esposa «a doente» também não sei com que

finalidade. A pedir dinheiro são muito bons. «Junto cópia da cobrança dos 63,00

Euros»

Querendo fazer diretamente a reclamação ao Sr. Diretor do Hospital Particular de

Braga ele Diretor não estava presente. É usual o Diretor só estar presente para

casos de elogios ou louvores. Para reclamações é a sua Secretária que atende.

Disse-me que iria averiguar, passados uns dias, informou que teria que fazer uma

reclamação interna por escrito. Disse-lhe que não. Que neste caso preferia o livro de

reclamações.

Então reparei que a facilidade com que entregam o livro é de pasmar. Já vi em casas

de Negócio e até Instituições quando se pede o livro de reclamações as pessoas

pedem desculpa e evitam a todo custo que se escreva no livro. Neste Hospital

Particular de Braga é diferente!... Entregam o livro com todo o gosto, dizendo para

escrever a vontade porque o livro tem muitas folhas.

Informo também que fiz queixa no Tribunal Arbitral aqui em Braga. Foi informado

pelo esse mesmo Tribunal que a resposta do Hospital Particular de Braga, era que o

problema era entre mim e eles e que se eu caso deseja-se para recorre-se para o

Tribunal Judicial.

Ora a partida para quem tem Advogados por conta deles é cortar as pernas as

pessoas em questão. Neste caso o meu. Pois sabem que vão obrigar a gastos em

despesas judiciais, sabendo que nem todos têm posses para isso. É que tanto eu

como minha Esposa vivemos da reforma.

Finalizando:- Quero agradecer pelo trabalho que tenho dado para tentarem resolver

este meu problema.

Mas no final tenho que entender que é uma luta de uma Formiga contra um Elefante.

[…]” – cfr. resposta do reclamante F. junta aos autos.

12. O reclamante vem ainda aos autos juntar os seguintes documentos:

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a) carta remetida pelo HPB, em resposta à reclamação do utente, onde se pode ler,

em letra manuscrita a seguinte informação “[…] o internamento não foi para estes

exames […]”;

b) cópia do recibo n.º BR2014/8510, referente à fatura BR2014/37071, no valor de

EUR 63,00 referente a episódio de urgência geral, onde se pode ler, em letra

manuscrita o seguinte “[…] pagamento feito que nem sabem qual o motivo deste

pagamento na secretaria. A data não corresponde à verdade esta pagamento foi feito

dia 11-07-14- quando saiu do hospital […]”;

c) cópia de informação clínica, subscrita pelo Dr. P., que se passa a transcrever:

i)“[…] a utente […] foi acometida de doença súbita, a qual configura necessidade

de realização de exames complementares invasivos para seu cabal

esclarecimento sendo que os referidos exames serão feitos em ambiente de

internamento hospitalar, o qual se considera inadiável. […]”.

II.4 Do pedido de informação adicional ao HPB e respetiva resposta

13. Considerando a necessidade de carrear para os autos informação adicional sobre o

episódio de internamento da utente MR, solicitou-se ao prestador os seguintes

esclarecimentos:

“[…] 1. Explicitem, com envio de todos os elementos documentais e factuais de que

disponham, quais os atos que compõe o “pacote fechado” da Multicare no episódio

de urgência do dia 8 de julho de 2014, e a razão(ões) por o mesmo ser mais

vantajoso para a utente beneficiária da ADSE, de acordo com a informação descrita

na fatura que se remete cópia;

2. Pronunciem-se, detalhadamente, com o envio de todos os elementos documentais

e factuais de que disponham, das razão(ões) para a realização de consulta de

dermatologia e otorrinolaringologia no decurso do internamento da utente;

3. Pronunciem-se sobre a razão(ões) para a realização de “biopsia incisional gânglio

prof. c/sutura/ato is/” e “exame histológico de produto de biópsia por agulha,

endoscópica, incisional ou excisional, raspagem ou eliminação espontânea (2 ou 3

amostras)”, bem como remetam o resultados dos dois atos referidos.

4. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados

necessários e relevantes à análise do caso concreto.[…]”.

14. Nessa sequência, veio o HPB prestar a seguinte informação:

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“[…] I — Vantagem, para o cliente, do recurso à faturacão através de "pacote

fechado "para beneficiários Multicare em face da faturacão como beneficiário

ADSE no que diz respeito ao episódio de urgência do dia 8 de julho de 2014.

A título prévio da exposição que por ora fazemos, cumpre-nos desde logo informar

[…] que independentemente da forma como é feita a faturação do "Episódio Geral de

Urgência" - seja em regime de "pacote fechado" Multicare, seja via ADSE - esse

facto não tem qualquer influência na forma como se desenrola o referido episódio de

urgência. Em concreto, existe uma perfeita identidade no que diz respeito aos atos

médicos realizados, bem como à forma e quaisquer outras características dos

serviços prestados, não se evidenciando a este título qualquer forma de

discriminação entre pacientes.

Considerando o referido supra, a diferença entre a realização de "Episódio de

Urgência Geral" na modalidade de "pacote fechado" Multicare e à realização do

mesmo episódio na qualidade de beneficiário ADSE, reside apenas na forma como

são computados os custos associados a cada uma das modalidades. Assim, caso o

paciente opte pelo "pacote fechado" Multicare, o "Episódio de Urgência Geral" terá

associado um custo fixo de €63, que engloba o preço da consulta, a realização de

exames complementares de diagnóstico e outros atos de enfermagem

(independentemente dos atos médicos e/ou exames complementares de diagnóstico

efetivamente realizados).

Caso o mesmo episódio de urgência se realize ao abrigo da ADSE, cabe ao paciente

o pagamento de um custo fixo de €19.55 a título de consulta de diagnóstico, ao qual

acresce o pagamento do custo associado a cada um dos atos médicos e exames

complementares de diagnóstico efetivamente realizados ("linha a linha "), sendo o

custo por natureza variável.

Para melhor ilustrar a situação em análise, anexamos o Doc. 7, que faz uma

simulação do "Episódio de Urgência Geral" da Sra. M., caso tivesse optado pela

faturação ao abrigo da ADSE em vez do "pacote fechado" Multicare. Poderão V.

Exas. facilmente constatar que, no caso em concreto, o custo seria de €73,14, ou

seja, superior ao custo do mesmo episódio quando faturado via "pacote fechado"

Multicare (€63).

II e III — Razões para a realização de consulta de dermatologia e

otorrinolaringologia no decurso do internamento - Razões para a realização de

"biópsia incisional gânglio prof. c/sutura/ ato is/" e "exame histológico de

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produto de biópsia por agulha endoscópica incisional ou excisional. raspagem

ou eliminação espontânea (2 ou 3 amostras)

A paciente foi transferida do serviço de urgência para o serviço de internamento para

estudo de nódulos pulmonares diagnosticados em TAC de tórax, por apresentar um

quadro de emagrecimento de 15kg em seis meses, associado a estenia, anorexia,

dispneia de agravamento progressivo e tosse seca, tendo a própria ainda referido

episódio de disfonia na semana anterior ao episódio de urgência.

No seguimento do quadro apresentado e considerando ainda os estudos já

efetuados pela paciente, bem como a evidência de múltiplos nódulos pulmonares de

etiologia pouco clara, não era possível descartar a possibilidade de metástases de

tumor primário desconhecido. Foi, pois, solicitada a avaliação por otorrinolaringologia

para despiste de tumor primário desse foro. A intervenção da especialidade de

dermatologia foi motivada pela presença de lesões eritemato-acastanhadas, tendo

por isso sido efetuada biópsia cutânea.

De acordo com o solicitado, anexamos os Doc. 2 e Doc. 3 onde juntamos os registos

clínicos da paciente, bem como os resultados dos exames efetuados.

15. O prestador veio ainda aos autos juntar os seguintes documentos:

a) simulação de fatura, para episódio de urgência através da convenção com a

ADSE, no valor de EUR 73,14;

b) resultados dos exames histológicos, solicitados na consulta de dermatologia;

c) Nota de alta.

II.5 Do Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS

16. Considerando a necessidade de carrear para os autos uma apreciação clínica da

situação, foi solicitado parecer técnico elaborado por perito médico da ERS.

17. Assim, veio o perito médico da ERS atestar o seguinte:

“[…]Trata-se de internamento realizado com o objectivo de esclarecer etiologia de

nódulos pulmonares, para o que seria necessário efectuar biópsia aparentemente por

via trans-torácica.

A doente acabou por ser observada por Dermatologia e ORL, tendo efectuado TAC

abdominal e biópsia de lesões cutâneas, mas não realizou a referida biópsia

pulmonar, motivo aparente do internamento. Na minha opinião as expectativas da

doente podem ter sido defraudadas, uma vez que não realizou o procedimento para

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o qual foi internada. Esta situação parece ter a ver com falta de coordenação interna

por parte da Instituição.

Devo referir ainda que quer as consultas, quer as biópsias, poderiam ter sido

efectuadas em ambulatório e sem necessidade de internamento. O mesmo se pode

dizer da TAC. Aliás a doente teve alta com orientação para consulta de Urologia e

Pneumologia (ver nota de alta).

Relativamente à biópsia trans-torácica que não foi efectuada, muitas instituições a

realizam em ambulatório, uma vez que necessita de uma vigilância após o

procedimento de apenas algumas horas, com controlo por radiografia de tórax.

Sendo o problema levantado pelo reclamante uma situação de contratualização entre

as partes, a realidade é que as expectativas geradas foram goradas, uma vez que

qualquer dos procedimentos efectuados poderiam ter sido realizados em ambulatório

e o procedimento que estaria na base da urgência de diagnóstico terminou não

sendo efectuado. […].”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

18. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS

aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a

regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às

atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e

social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde.

19. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica.

20. Consequentemente, Hospital Privado de Braga, S.A, com o NIPC 506 986 225, é uma

entidade prestadora de cuidados de saúde, registada no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 20016, detentor de um

estabelecimento sito Lugar da Igreja, Nogueira 4715 – 196 Braga registado sob o n.º

114687.

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21. As atribuições da ERS, de acordo como do n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS,

compreendem a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, no que respeita à garantia dos direitos relativos ao

acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem

como dos demais direitos dos utentes, e ainda, à legalidade e transparência das

relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes.

22. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c) e e)

do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios de

acesso aos cuidados de saúde, garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes e

zelar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os agentes

do sistema.

23. Competindo-lhe, na execução dos preditos objetivos, e conforme resulta dos artigos

12.º e 15.º dos Estatutos, zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à informação, e

também analisar as relações económicas nos vários segmentos da economia da

saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e da equidade do

sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses dos utentes.

24. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, zelando pela aplicação das leis e regulamentos e demais

normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas

atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como recomendações ou

advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias

relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de

medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos

e interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

25. Por fim, e considerando o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 61º dos Estatutos,

constitui contraordenação, punível com coima de 750 EUR a 3740,98 EUR ou de 1000

EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva “A

violação dos deveres que constam da «Carta dos direitos de acesso» a que se refere a

alínea b) do artigo 13.º, bem como nos n.os 1 e 2 do artigo 30.º”;

26. Por sua vez, nos termos do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 61º, constitui

contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou de 1500 EUR a

44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva, “A violação das

regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde: […] ii) A violação de regras

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estabelecidas em lei ou regulamentação e que visem garantir e conformar o acesso

dos utentes aos cuidados de saúde […] iii) A indução artificial da procura de cuidados

de saúde, prevista na alínea c) do artigo 12.º; iv) A violação da liberdade de escolha

nos estabelecimentos de saúde privados, sociais, bem como, nos termos da lei, nos

estabelecimentos públicos, prevista na alínea d) do artigo 12.º”.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados – dos direitos dos utentes à

informação e à garantia do exercício da liberdade de escolha

27. O caráter particular da prestação de cuidados de saúde impõe que o quadro de

informação, transparência e respeito pelos direitos e interesses dos (potenciais)

utentes seja elevado a um superior patamar de exigência.

28. Neste âmbito, a relação que se estabelece entre prestadores de cuidados de saúde e

os seus utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência, devendo

tais características revelar-se em todos os momentos da relação, incluindo nos

momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde, aqui incluída a

publicidade enquanto informação prestada tendo em vista a captação de clientela.

29. A informação em saúde deve ser prestada com verdade, com antecedência (para não

colocar o utente numa situação de pressão quanto à decisão a tomar), de forma clara,

adaptada à sua capacidade de compreensão, contendo toda a informação necessária à

decisão do utente, de modo a garantir que a liberdade de escolha não venha a resultar

prejudicada.

30. Assim, o direito do utente à informação extravasa substancialmente o que prevê a

alínea e) do n.º 1 da Base XIV da LBS, e bem assim no n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º

15/2014, para efeitos de consentimento informado e esclarecimento, quanto a

alternativas de tratamento e evolução do respetivo estado clínico.

31. E o direito dos utentes à informação está, ademais, ínsito à própria relação de

confiança que se pretende que estes estabeleçam com os prestadores de cuidados de

saúde, que se deve pautar, ela própria, por princípios de verdade e transparência.

32. Só que esta relação contratual de confiança não pode dissociar-se de um problema

fundamental em saúde, a assimetria de informação que frequentemente existe nas

relações prestador-utente.

33. Com efeito, o utente encontra-se, na maioria das vezes, afetado pelo facto de não

possuir informação ou, pelo menos, não possuir toda a informação relevante,

comparativamente com o prestador de cuidados de saúde.

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34. Sendo que, por esse motivo, no momento do consumo de um bem ou serviço de

saúde, regra geral, o utente delega a sua decisão sobre o que consumir, e quando

fazê-lo, numa outra entidade que possua essa informação: o agente da oferta, ou mais

concretamente, o profissional de saúde.

35. E nesta delegação de direitos de propriedade sobre o consumo – ou seja, relação de

agência, em que aquele agente é o representante do principal (utente consumidor) –, é

suposto que a tomada de decisão quanto ao consumo seja feita no respeito integral

das necessidades e preferências do utente consumidor.

36. Só assim se garante que aos utentes seja reconhecido o direito a “decidir receber ou

recusar a prestação de cuidados que lhes é proposta”, em qualquer momento da

prestação do cuidado de saúde (cfr. alínea b) do n.º 1 da Base XIV da LBS e artigo 3.º

da Lei n.º 15/2014, de 21 de março);

37. Mas também o direito de escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde

(cfr. alínea a) do n.º 1 da Base XIV da LBS e n.º 1 do artigo 2.º da Lei n.º 15/2014, de

21 de março), e o mencionado direito ao consentimento informado e esclarecido (cfr.

alínea e) do n.º 1 da Base XIV da LBS e n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º 15/2014).

38. Note-se que os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela informação

imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à saúde e à doença.

39. Com efeito se, por um lado, é natural que um utente, ou os seus representantes,

percebam a existência de um sintoma, embora tipicamente não determinem a origem e

gravidade do mesmo, será normalmente um profissional de saúde que determinará a

gravidade do problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado;

40. Bem como será este último que possuirá a informação sobre quais os atos ou meios

complementares de diagnóstico que respeitam especificamente aos cuidados de saúde

que se revelam como adequados à situação específica do utente em questão.

41. É aqui que se verifica a já aludida assimetria de informação que, concretamente,

resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento exato

dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.

42. Efetivamente, o utente comum não será conhecedor dos tratamentos de que necessita,

nem dos exames a realizar, e ainda dos custos que lhe estão diretamente associados,

sendo essa a razão que o leva a recorrer a um prestador de cuidados de saúde para o

aconselhar.

43. E é precisamente isso que justifica que um utente, ou os seus representantes, antes de

decidir(em) (ou não), a realização de um determinado exame ou tratamento, devam ser

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informados de forma completa, clara e verdadeira, atento ser o prestador de cuidados

de saúde conhecedor dos tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar

para e na resolução dos problemas diagnosticados.

44. A tudo isto acresce que, além do prestador – seja ele pessoa individual ou, como nos

autos, coletiva – dever informar dos aspetos clínicos que são por si controlados por

força do seu conhecimento científico, sob si impende igualmente, o dever de dar

conhecimento aos utentes, de forma clara e explicada, da identidade do concreto

prestador responsável pela prestação de cuidados de saúde, do valor/preço de cada

um dos atos e serviços clínicos em causa, bem como dos eventuais acordos e

protocolos que tenham sido celebrados e dos respetivos termos.

45. Por isso, e considerada a ótica do utente como um consumidor de um serviço, a

iniciativa de informar deve sempre partir do prestador que não poderá escudar-se na

desculpa de que o interessado não perguntou ou que deveria já saber ou que tinha já

sido informado em momento distinto; ou

46. Que a entidade/o prestador atuou com erro nos pressupostos que lhe foram

comunicados (erradamente) por outras entidades terceiras, como sejam, as entidades

financiadoras dos cuidados de saúde.

47. Assim, deve, pois, o prestador agir com especial cuidado na execução do seu dever de

informar os utentes de todos os aspetos que podem influenciar a sua decisão final de

escolha, designadamente sobre a existência de convenções e acordos celebrados com

subsistemas e companhias de seguros, sempre com o intuito de garantir os princípios

de transparência das relações que entre si são criadas.

48. Em face do vindo de expor, e uma vez garantido que ao utente é prestada informação

completa, verdadeira e inteligível sobre todos os aspetos relacionados com a prestação

de cuidados de saúde, qualquer utente de serviços de saúde poderá optar por recorrer,

para satisfação das suas necessidades concretas:

(i) aos prestadores de cuidados de saúde do SNS, beneficiando das suas

características de generalidade, universalidade e gratuitidade tendencial; e/ou

(ii) aos prestadores de cuidados de saúde - próprios, convencionados ou em

regime livre - de um dado subsistema (público ou privado) de saúde, caso seja

beneficiário de tal subsistema e nos termos definidos por este último; e/ou

(iii) aos prestadores de cuidados de saúde - próprios, convencionados ou em regime

livre – ao abrigo de um contrato de seguro de saúde, caso tenha contratado uma tal

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cobertura do risco de doença e nos termos acordados com a entidade seguradora;

e/ou

(iv) aos prestadores de cuidados de saúde privados ou do setor social, com ou sem

fins lucrativos, mediante a contraprestação acordada com o concreto prestador,

livremente escolhido.

49. Em qualquer caso, urge garantir que o utente beneficia de uma efetiva liberdade de

escolha do concreto prestador a que pretende recorrer.

50. A liberdade de escolha constitui um dos pilares fundamentais da relação utente-

prestador de cuidados de saúde, devendo ser assegurado que a assimetria de

informação existente entre o utente e os prestadores não resulta em prejuízo, direto ou

indireto, dos direitos daquele.

51. Nesta medida, assume especial relevância, enquanto direito fundamental dos utentes

de cuidados de saúde, o direito à informação prévia, plena e esclarecida.

52. O que passará, necessariamente, pela informação prévia e cabal sobre o diagnóstico,

exame e/ou tratamento proposto; sobre os riscos e/ou efeitos secundários do mesmo;

sobre o direito de recusar e de revogar o consentimento; sobre os meios humanos e

técnicos existentes e disponíveis no estabelecimento em causa para a prestação dos

cuidados de saúde em causa; mas também sobre todas as questões administrativas e

financeiras relevantes, nomeadamente, sobre autorizações prévias a emitir por

entidades terceiras e sobre preços e orçamentos referentes à prestação de cuidados

de saúde em causa.

53. Só tendo conhecimento efetivo e pleno de todos estes elementos, é que o utente

estará em condições de tomar uma decisão sobre a proposta terapêutica que lhe é

apresentada, mas também de exercer a sua liberdade de escolha, optando pelo

concreto estabelecimento prestador de cuidados de saúde a que irá recorrer para o

efeito.

54. Se o utente optar por recorrer ao setor privado ou social, a escolha pelo concreto

prestador de cuidados de saúde deverá ser efetuada de forma livre e sem quaisquer

restrições.

III.3. Análise da situação concreta

55. Qualquer utente que aceda a uma entidade prestadora de cuidados de saúde tem

direito a ser previamente informado sobre todos os elementos necessários ao seu

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completo e efetivo esclarecimento, para que possa tomar uma decisão sobre o

tratamento ou intervenção proposta.

56. Ao estabelecimento prestador de cuidados de saúde e ao profissional de saúde

responsável cumpre o dever de informar o utente desses elementos e de confirmar que

este compreendeu toda a informação transmitida e que está devidamente esclarecido

sobre todos os aspetos relevantes para a decisão a tomar.

57. Para esse efeito, a informação em causa deve abranger:

a) Todos os dados sobre o estado de saúde e diagnóstico, em resultado da

avaliação efetuada pelo profissional de saúde ao utente;

b) Descrição do exame e/ou intervenções terapêuticas ou medicamentosas, que o

profissional de saúde considere indicadas, incluindo a descrição dos meios que se

pretendem utilizar para o efeito, das finalidades dos mesmos e do

prognóstico/probabilidade de sucesso que se pretende alcançar, bem como, da

existência de outras soluções alternativas;

c) Informação sobre os riscos e/ou efeitos secundários do exame e intervenções

terapêuticas ou medicamentosas;

d) Informação sobre o direito de recusar e de revogar o consentimento, incluindo

informação sobre os riscos e efeitos inerentes ao exercício destes direitos;

e) Informação sobre os meios humanos e técnicos existentes e disponíveis no

estabelecimento em causa para a prestação dos cuidados de saúde;

f) Informação sobre todas as questões administrativas e financeiras relevantes,

nomeadamente, sobre autorizações prévias a emitir por entidades terceiras e sobre

preços e orçamentos referentes à prestação de cuidados de saúde em causa.

58. Para tanto, a entidade prestadora de cuidados de saúde deve garantir que qualquer

procedimento observado nos seus serviços e pelos seus profissionais, para efeitos de

obtenção de consentimento para a prestação de cuidados de saúde, é capaz de

assegurar que estas informações são prestadas e compreendidas por todos os utentes

que a si se dirigem.

59. Assim, a situação em análise visa, por um lado, determinar se foi prestada pelo

Hospital Privado de Braga, S.A. a informação necessária e correta, para que a utente

pudesse livremente escolher se pretendia ser internada ou se preferiria realizar os

exames prescritos em regime ambulatório ou, em alternativa, num outro

estabelecimento prestador de cuidados de saúde, nomeadamente do SNS;

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60. E, consequentemente, verificar se da informação prestada pelo HPB resultou, ou não,

um efetivo prejuízo para a utente.

61. Caberá à ERS aferir da adequação dos procedimentos adotados no decurso do

episódio clínico relatado e a sua compatibilidade com a necessidade de garantia da

qualidade da prestação dos cuidados de saúde e dos direitos e interesses legítimos

dos utentes.

62. Ainda, a preocupação subjacente à presente análise alarga-se necessariamente à

avaliação da existência e adequabilidade dos procedimentos dirigidos a corrigir e

prevenir situações semelhantes à ocorrida.

63. Ora, do que resulta da análise dos factos recolhidos, a utente MR foi observada em

consulta de medicina interna, em 7 de julho de 2014;

64. Nesta consulta, foi a utente informada que seria necessário realizar um estudo de

nódulos pulmonares e que estes exames necessitavam de internamento hospitalar;

65. Com efeito, de acordo com a informação do HPB, “[…] face ao quadro clínico da

doente e à necessidade de precisar o diagnóstico e a linha de tratamento, o

internamento afigurava-se como a melhor opção para tratamento mais célere e eficaz.

[…] O internamento é, segundo os especialistas, prática clínica comum para estes

casos. […]”.

66. Posto isto, foi à utente […] aconselhado o internamento para estudo desses mesmos

nódulos.”.

67. Esclarece ainda o HPB que “[…] num primeiro momento, a doente não aceitou o

internamento, como era sua prerrogativa, pelo que, nesse mesmo dia, acabou por

regressar para casa para ponderar acerca do mesmo. […]”;

68. E que “[…] logo no dia seguinte, a 8 de Julho de 2014, a paciente regressou ao

Hospital e deu entrada no serviço de urgência, tendo sido atendida pela Dr.º C.

(especialista em medicina interna), a quem manifestou logo vontade de ficar internada

[…] no Hospital.”.

69. Assim, constata-se que a utente deu entrada pelo serviço de urgência do hospital,

apenas e só, com o intuito de proceder ao internamento para realização de estudo de

nódulos pulmonares;

70. Não tendo realizado em contexto de Serviço de Urgência, para além da consulta,

qualquer outro meio complementar de diagnóstico e/ou outro ato médico ou de

enfermagem.

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71. Mais informou o HPB que “[…] o internamento correu conforme programado e sem

complicações, tendo sido realizados todos os exames com exceção de um – a biópsia

de nódulos pulmonares […]”.

72. Ora, considerando que a utente, aconselhada pelo médico assistente, foi precisamente

internada para realizar o estudo de nódulos pulmonares, e que apenas este exame não

foi realizado;

73. Não se compreende como o HPB afirma que o internamento correu como programado;

74. Uma vez que não existiu qualquer efeito útil no internamento, considerando que o único

exame que devia ser realizado no âmbito do internamento hospitalar não foi executado;

75. A tal propósito, declarou o prestador que “[…] Logo que o Hospital se apercebeu deste

contratempo, explicou a situação à doente, esclarecendo que a biópsia aos nódulos

teria de ser adiada para um outro dia, em virtude da ausência de especialista de

radiologia de intervenção (facto que não era do conhecimento de nenhum dos

responsáveis quando se procedeu ao internamento da doente).[…]”;

76. O que de resto não é afastado pelo exponente, que concorda que, uma vez informada

a utente da impossibilidade de realização imediata da biópsia, foi comunicada ao HPB

a decisão de obter alta para dar continuidade ao tratamento no âmbito de instituição

hospitalar do SNS, onde foi objeto de efetivo internamento, conforme referido pelo

reclamante deram “[…] logo ordem de internamento no Hospital Público de Braga para

que no dia seguinte pela manhã se fizesse o tratamento que realmente deveria ter sido

feito no dito Hospital Particular. Esteve 15 dias internada sendo tratada muito bem.”.

77. Tendo em consideração a situação concreta de internamento específico para

realização de biópsia pulmonar não se pode aceitar que o HPB não tivesse assegurado

a presença do médico especialista com capacidade técnica para o efeito;

78. Tanto mais que a ausência de tal profissional não se ficou a dever a uma ocorrência

extraordinária ou imprevisível, mas sim a uma situação programada com antecedência,

como é a marcação de férias.

79. Acresce que, de acordo com a informação do prestador, o médico responsável pela

realização do exame apenas foi contactado, no segundo dia do internamento, o que

reforça o facto de o HPB não ter recorrido às diligências necessárias para averiguar se

tinha capacidade para realizar o exame acordado com a utente no dia do internamento.

80. Lateralmente à não realização da biópsia acordada, sustenta o prestador o facto de a

utente ter realizado “[…] No internamento […] estudo analítico e TAC abdominal ,

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biópsia das lesões cutâneas e observação pelas especialidades de otorrinolaringologia

e dermatologia.[…]”;

81. Ora, considerando que tais atos clínicos não se mostram coincidentes com a conceção

inicial do internamento, foi auscultado o perito médico da ERS, o qual a este propósito

defende que:

“[…]Quer as consultas, quer as biópsias, poderiam ter sido efectuadas em

ambulatório e sem necessidade de internamento. O mesmo se pode dizer da TAC.

Aliás a doente teve alta com orientação para consulta de Urologia e Pneumologia

(ver nota de alta). […] - cfr. Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS, em

10 de setembro de 2016, junto aos autos.

82. Informação aliás confirmada pelo HPB que refere […] De facto os estudos que [a

utente] fez poderiam ter sido feitos em regime de ambulatório, porém o internamento

foi no sentido de maior brevidade. […]”.

83. Quanto a esta questão vem o prestador alegar que “[…] tendo em consideração que o

internamento foi expressamente aceite e consentido pela doente e que todos os atos e

tratamentos médicos foram concluídos com sucesso e sempre com o consentimento

da doente (e estando os valores conformes, ao nível de faturação), o Hospital crê que

não existe fundamento para reembolso ao reclamante, contrariamente ao que foi

solicitado por este último na reclamação apresentada.[…]”.

84. Ora, a utente aceitou e consentiu o internamento apenas para realização do estudo de

nódulos pulmonares, tendo a tal sido aconselhada pelo seu médico assistente, o que

não aconteceu;

85. Também se discorda com o prestador, quando refere que este […] cumpriu com os

respetivos deveres, na medida em que numa primeira fase possibilitou a livre escolha

à utente entre internamento e o ambulatório, numa fase posterior informou

devidamente da impossibilidade de realizar o exame no momento pretendido, […] e

esclareceu cabalmente o reclamante. […]”;

86. Uma vez que apenas informou a utente da impossibilidade da realização do exame

pretendido após o internamento, mais precisamente no último dia;

87. Não tendo por isso, esclarecido cabalmente a utente das suas opções.

88. Pelo exposto, constata-se que a conduta do HPB não se revelou suficiente à cautela

dos direitos e interesses legítimos da utente.

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89. A liberdade de escolha e decisão informadas só podem ser efetivamente garantidas se

for transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante;

90. Impõe-se ao Hospital o dever de informar os utentes não só sobre todos os

tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar, mas igualmente sobre a

disponibilidade e o custo que lhes está inerente;

91. Só depois de devidamente informado pelo prestador, poderá o utente ficar a conhecer

de forma aprofundada o seu problema de saúde, as alternativas que se lhe

apresentam e as suas implicações financeiras;

92. E prestar, de forma livre e esclarecida, o seu consentimento ao tratamento e ou exame

proposto.

93. Resulta do exposto que os procedimentos levados a cabo pelo HPB, no caso em

apreço, foram lesivos:

(i) Do direito do utente ao consentimento informado e esclarecido (al. b) e e) do n.º 1

da Base XIV da Lei de Bases da Saúde e al. c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de maio, presentemente disposto na alínea c) do artigo 10º do

Decreto – Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, que aprovou os Estatutos da ERS

(doravante Estatutos da ERS);

(ii) Do direito a escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde (al. a)

do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde e al. d) do artigo 35.º do Decreto-Lei

n.º 127/2009, de 27 de maio), presentemente disposto nas disposições conjugadas

na alínea d) do artigo 10º e alínea d) do artigo 12º dos Estatutos da ERS; e

(iii) Do direito do utente-consumidor à informação em particular, bem como, por tal

facto e de forma direta e necessária, dos seus interesses financeiros e do seu direito

à proteção dos interesses económicos, estabelecidos nos artigos 3.º; 8.º e 9.º da Lei

do Consumidor, e presentemente com as alterações introduzidas pelo Decreto – Lei

n.º 47/2014, de 28 de julho;

94. Deste modo, justifica-se a emissão de uma instrução dirigida ao HPB, de forma a

garantir que situações idênticas à agora em análise, efetivamente não se repitam no

futuro.

95. Devendo para tanto o HPB garantir que todo e qualquer procedimento administrativo

por si adotado, se revele capaz de assegurar a informação prévia, clara, completa e

inteligível de todos os utentes que a si se dirigem, sobre os preços e a disponibilidade

dos exames/tratamentos propostos, bem como proceder à revisão dos termos da

faturação dos serviços prestados à utente, por forma a considerar apenas a cobrança

25 Mod.016_01

dos cuidados efetivamente prestados como se os mesmos tivessem sido realizados

em ambulatório.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

96. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de

deliberação da ERS, o utente F. e o Hospital Privado de Braga.

97. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS não recebeu até ao

momento presente qualquer comunicação, quer do prestador, quer do reclamante,

pelo que não resultaram quaisquer factos capazes de infirmar ou alterar o sentido do

projeto de deliberação da ERS, razão pela qual se propõe a sua manutenção na

íntegra.

V. DECISÃO

98. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e

para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir

uma instrução ao Hospital Privado de Braga, S.A., nos seguintes termos:

a) Deve garantir que todo e qualquer procedimento administrativo por si adotado se

revele apto a assegurar a informação prévia, clara, completa e inteligível a todos os

utentes que a si dirigem, sobre os preços dos cuidados de saúde que se propõe

prestar, bem como, sobre a responsabilidade pelo seu pagamento;

b) Deve atualizar e/ou introduzir as alterações tidas por adequadas nos

procedimentos implementados, por forma a garantir, a todo o momento, que aqueles

são aptos a assegurar de forma permanente e efetiva o acesso aos cuidados de

saúde que se apresentem como necessários e adequados à satisfação das

necessidades dos utentes;

c) Deve garantir que os procedimentos por si adotados, previamente ao

agendamento de um episódio de internamento, seja para que efeito for, sejam aptos

a garantir uma avaliação integrada da condição clínica do utente, antecipando a sua

efetiva capacidade de realização dos procedimentos clínicos propostos;

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d) Deve proceder à revisão dos termos da faturação dos serviços prestados por

forma a considerar apenas a cobrança dos cuidados efetivamente prestados como

se os mesmos tivessem sido realizados em ambulatório;

e) Deve dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como conhecimento à

ERS, no prazo máximo de 30 dias úteis após a notificação da presente deliberação,

de cada um dos concretos procedimentos adotados para o efeito.

99. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de

22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de € 1000,00

a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos

seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios determinem qualquer

obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”;

Porto, 1 de fevereiro de 2017.

O Conselho de Administração.