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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)
Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de
supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades
económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;
Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º
dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos
no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de
agosto;
Visto o processo registado sob o n.º ERS/020/2015;
I. DO PROCESSO
I.1. Origem do processo
1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de uma reclamação
subscrita por F., marido da utente MR visando o Hospital Privado de Braga, S.A.,
referindo que a utente foi internada naquela unidade para a realização de uma biópsia.
Mais alega o exponente que, após dois dias de internamento, a utente teve alta, uma vez
que o médico que iria realizar o referido exame se encontrava de férias.
2. A exposição foi inicialmente analisada em sede de processo de reclamação n.º
REC/5895/2014, tendo posteriormente dado origem à abertura do processo de avaliação
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registado sob o número AV/055/2015, no qual foram realizadas diversas diligências
instrutórias;
3. Após o que o Conselho de Administração da ERS determinou, por despacho de 22 de
abril de 2015, a abertura do processo de inquérito em curso.
I.2 Diligências
4. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as
diligências consubstanciadas em:
(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS
onde se constatou que Hospital Privado de Braga, S.A (HPB), com o NICPC 506 986
225, é uma entidade prestadora de cuidados de saúde, registada sob o n.º 20016,
detentor de um estabelecimento sito no Lugar da Igreja, Nogueira 4715 – 196 Braga
registado sob o n.º 114687.
(ii) Pedido de elementos ao HPB, em 5 de junho de 2015 e 14 de junho de 2016 e
análise das respetivas respostas;
(ii) Pedido de elementos ao reclamante F., em 26 de outubro de 2015 e análise da
respetiva resposta;
(iv) Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS, em 10 de setembro de
2016.
II. DOS FACTOS
II.1. Da reclamação e da resposta do prestador em sede de processo de reclamação
5. Em suma refere o exponente, na sua reclamação, o seguinte:
“[…] No dia 2 de julho a minha esposa M. foi sujeita a vários exames clínicos dos
quais se inclui um TAC, realizados aqui [HPB] mandados fazer por um médico que
só dava consultas externas.
No dia 7 de julho pelas 18h, a minha esposa foi sujeita a nova consulta médica a fim
de saber os resultados dos exames a que tinha sido submetida, e que vieram a
confirmar o pior.
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Tinha vários nódulos nos pulmões – foi avisada pelo médico que teria de ser feita
uma biópsia o mais urgente possível e que tinha de ser internada no dia seguinte dia
8 de julho pelas 8:30.
No dia seguinte às 8.30h comparecemos para ser feito o internamento e as primeiras
palavras da funcionária do balcão foram para proceder ao pagamento de uma
caução de 300€.
Por parte do atendimento do médico não tenho nada a dizer. Passados dois dias a
pagar 100€ diários recebo uma chamada da esposa para a ir buscar pois estava
internada para nada ser feito, a não ser uns pequenos exames que podiam ter sido
feitos em ambulatório.
No essencial ninguém fez nada.
O meu espanto foi quando ela me perguntou o que ela estava ali a fazer, pois o
médico que lhe iria fazer a biópsia marcada como urgente estava de férias.
Que hospital é este que interna pessoas para fazer tratamentos e exames urgentes
quando desconhece que os médicos estão de férias.
A minha esposa voltou para casa, expusemos o nosso desespero e angústia ao
Hospital Escala Braga e passados 3 dias deu entrada e ainda hoje se encontra
internada.
Concluindo gostava de saber se vou ser ressarcido destes 300€ pois nada de
relevante foi feito, houve apenas perda de tempo. […]”.
6. Ainda em sede do processo de reclamação, veio o prestador, pronunciar-se sobre a
situação nos seguintes termos:
“[…] A doente MR foi internada no nosso serviço no dia 8 de julho enviada da nossa
consulta de medicina no dia anterior para estudo de nódulos pulmonares e terá sido
dito à doente que poderia ter de fazer uma biópsia de alguns nódulos. Logo no 1º dia
de internamento foi solicitada uma TAC abdomino-pelvica que a doente realizou
nesse dia para despiste de um tumor 1º nessa localização e que pudesse dirigir mais
a nossa investigação; foi também observada por colega de ORL para despiste de
patologia desse foro.
No 2º dia de internamento (9/7) foi contactado o Dr. R. […] – Pneumologia no sentido
de se programar biopsia e averiguar a possibilidade de realizar biópsia de nodulo
pulmonar, dada a localização do maior nódulo ser justadiafragmática e de difícil
acesso, o colega encontrar-se dia de férias e ficou combinado voltar a contacta-lo no
dia 14/7 para discussão do caso.
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Nesse dia consegui que a colega de dermatologia observasse a doente por umas
lesões cutâneas, tendo realizado da parte da tarde, biopsia das mesmas. Dei-lhe alta
no dia 10/7 ficando depois de recontactar a doente para agendamento de
broncofibroscopia e eventual biopsia do nódulo pulmonar. Discuti o caso com o Dr.
R. […] no dia 14/7 tendo ele ficado de contactar outro colega de radiologia de
intervenção para averiguar possibilidade de biopsia do maior nódulo pulmonar, mas
que poderia ter de ser feita na Unidade da Boa Nova.
Telefonei neste mesmo dia à doente que pela possibilidade de ter de fazer mais
exames e por motivos económicos optou por iniciar acompanhamento no hospital
público. De facto os estudos que fez poderiam ter sido feitos em regime de
ambulatório, porém o internamento foi no sentido de maior brevidade. Conclui-se do
exposto que a situação clínica exige brevidade no diagnóstico e embora os exames
pudessem ser realizados em ambulatório, devido à demora que isso iria causar não
seria nesta situação uma boa prática […] – cfr. resposta endereçada pelo prestador à
utente junta aos autos.
II.2. Do pedido de informação ao HPB
7. Considerando a necessidade de obtenção de informação adicional para a análise mais
aprofundada da situação, foi solicitado ao HPB que viesse prestar os seguintes
esclarecimentos:
“[…]
1. Pronunciem-se, querendo, sobre todo o teor da exposição remetida à ERS;
2. Pronunciem-se sobre a informação prestada à utente sobre a necessidade de
internamento, a indicação clínica para o mesmo e os custos associados ao
internamento;
3. Remetam cópia das faturas emitidas à utente no decurso do internamento;
4. Remetam estimativa do valor a pagar pela utente se esta tivesse realizado os
exames em regime de ambulatório;
5. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados
necessários e relevantes à análise do caso concreto. […]”
8. Ao que o prestador veio informar o seguinte:
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“[…] 1. Quanto ao teor da exposição do reclamante e informações prestadas pelo
Hospital à utente relativamente à necessidade de internamento, indicações clínicas
para o mesmo e custos associados:
i) A reclamação apresentada pelo Sr. F. reporta-se ao episódio de internamento da
sua esposa MR no hospital, a 7 de Julho de 2014;
ii) A paciente foi observada pelo Dr. F., especialista em Medicina Interna.
iii) Nessa consulta detetou-se que a doente apresentava um quadro de nódulos
pulmonares que careciam de estudo. Por forma a determinar a melhor estratégia de
tratamento, recomendou-se a realização de exames médicos, e de estudo que
determinassem a etiologia dos nódulos.
iv) De modo a garantir a realização célere dos exames, sem intervalos e com
vigilância constante da doente e dos resultados dos exames, foi proposto, na
primeira consulta, o internamento da paciente.
v) De facto, de acordo com os especialistas, face ao quadro clínico da doente e à
necessidade de precisar o diagnóstico e a linha de tratamento, o internamento
afigurava-se como a melhor opção para tratamento mais célere e eficaz.
vi) O internamento é, segundo os especialistas, prática clínica comum para estes
casos.
vii) Assim, a paciente foi informada nesse sentido e foi-lhe então aconselhado o
internamento para estudo desses mesmos nódulos.
viii) Sucede que, num primeiro momento, a doente não aceitou o internamento, como
era sua prerrogativa, pelo que, nesse mesmo dia, acabou por regressar para casa
para ponderar acerca do mesmo.
ix) Contudo, logo no dia seguinte, a 8 de Julho de 2014, a paciente regressou ao
Hospital e deu entrada no serviço de urgência, tendo sido atendida pela Dr.a C.
(especialista em medicina interna), a quem manifestou logo vontade de ficar
internada (tanto que já trazia consigo inclusive uma mala com objetos pessoais) no
Hospital.
x) A Dr.ª C., especialista em medicina interna, atendeu à vontade da doente e
procedeu ao internamento no Hospital.
xi) No internamento a doente realizou estudo analítico e TAC abdominal , biópsia das
lesões cutâneas e observação pelas especialidades de otorrinolaringologia e
dermatologia.
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xii) O internamento correu conforme programado e sem complicações, tendo sido
realizados todos os exames com exceção de um – a biópsia de nódulos pulmonares.
xiii) Após discussão do caso, a equipa de pneumologia concluiu que em virtude do
nodulo ter uma localização justadiafragmática – sendo assim de difícil acesso – a
melhor estratégia para a doente seria uma discussão cuidadosa junto de
especialistas de radiologia de intervenção, para uma abordagem bem planeada . O
objetivo era realizar o procedimento com os maiores cuidados para benefício da
doente.
xiv) Ora, nesse dia em particular, o Hospital não tinha disponível nenhum médico
especificamente habilitado para a radiologia de intervenção.
xv) Logo que o Hospital se apercebeu deste contratempo, explicou a situação à
doente, esclarecendo que a biópsia aos nódulos teria de ser adiada para um outro
dia, em virtude da ausência de especialista de radiologia de intervenção (facto que
não era do conhecimento de nenhum dos responsáveis quando se procedeu ao
internamento da doente).
xvi) Mediante esta informação, a doente optou por ser transferida para o Hospital
público de Braga para continuar lá o tratamento.
xvii) Dessa forma, a Dr.ª C. deu alta à doente e entregou-lhe um relatório com todos
os exames e resultados dos mesmos para a mesma entregar no Hospital público,
tendo ficado a doente de ir informando a Dr.ª C. acerca da evolução do seu caso (o
que tem feito com regularidade, não existindo ainda qualquer diagnóstico definitivo).
xviii) Assim, no que concerne aos tratamentos médicos realizados à doente no
Hospital, podemos concluir que não houve qualquer erro técnico ou clínico nos
procedimentos realizados.
xix) Relativamente aos montantes alegados pelo reclamante, resta ao hospital
explicitar que os 300,00 euros reporta-se à caução que normalmente é solicitada
pelo Hospital quando o paciente entra no internamento.
xx) O montante referido serve apenas como caução, fazendo-se o ajuste e o acerto
de contas no final do internamento (como sucedeu no caso tendo o doente acabado
por liquidar o montante de 304,38 € - cfr. doc. n.º 1 – Fatura n.º BR2014/37370).
xxi) Todos os valores faturados estão corretos, não se detetando nenhum lapso a
nível da faturação. Paralelamente, cumpre ainda salientar que todos os atos e
tratamentos médicos que foram prestados no internamento seguiram todos os
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procedimentos e trâmites clínicos, não se verificando nenhuma complicação neste
âmbito.
xxii) Neste âmbito, tendo em consideração que o internamento foi expressamente
aceite e consentido pela doente e que todos os atos e tratamentos médicos foram
concluídos com sucesso e sempre com o consentimento da doente (e estando os
valores conformes, ao nível de faturação), o Hospital crê que não existe fundamento
para reembolso ao reclamante, contrariamente ao que foi solicitado por este último
na reclamação apresentada.
(xxiii) Da mesma forma, o Hospital entende que, no caso em apreço, cumpriu com os
respetivos deveres, na medida em que numa primeira fase possibilitou a livre escolha
à utente entre internamento e o ambulatório, numa fase posterior informou
devidamente da impossibilidade de realizar o exame no momento pretendido,
facultou e tratou da transferência da doente para o Hospital público - em respeito
pela decisão desta última - e esclareceu cabalmente o reclamante. (Cfr. doc. n.º 2 –
Documento de resposta à reclamação que foi junto pelo próprio reclamante e
comprovativo de envio à ERS). […]”.
9. O prestador veio aos autos juntar os seguintes documentos:
a) cópia da fatura BR2014/37071, no valor de EUR 63,00 referente a episódio de
urgência geral;
b) cópia da fatura BR2014/37070, no valor de EUR 304,38, referente ao episódio de
internamento;
c) cópia da tabela de preços e regras da Rede da ADSE.
II.3. Do pedido de informação ao reclamante
10. Após análise da resposta do prestador, constatou-se que era necessário proceder a
uma caracterização da situação denunciada, pelo que se solicitaram os seguintes
esclarecimentos ao reclamante:
“[…]
a) Informação prestada pelo médico assistente Dr. F., na consulta em que foi
diagnosticado, à utente, “um quadro de nódulos pulmonares”, sobre a necessidade
da utente realizar outros exames e/ou de permanecer internada para a realização
dos mesmos;
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b) Informação sobre a razão(ões) para a utente ter recorrido ao serviço de urgência
do Hospital Privado de Braga, no dia 8 de julho, de 2014, e se manifestou a sua
vontade de ser internada, naquele unidade, naquele dia;
c) Informação sobre se foram entregues todos os exames e relatórios dos exames
realizados nos dias 8 e 9 de julho de 2014;
d) Confirmação sobre se a utente foi informada da hipótese de realizar os exames
em regime de ambulatório ou internamento;
e) Em caso afirmativo, quem prestou a informação e em que data. […]”.
11. Nessa sequência, veio o reclamante F. prestar os seguintes esclarecimentos:
“[…] Eu F. «Marido» e minha Esposa MR «a doente» relemos com atenção a
resposta dada pelo Hospital Particular de Braga, resta-nos dizer que além de nos
extorquirem quase 400 Euros estão a agora justificar-se mentindo!... Tudo que
escrevem em nada condiz com o que se passou. E para confronto e apuro da
verdade mando esta cópia do ofício enviado pelo dito Hospital Particular em 28 de
Julho de 2014 que quase que admitem que procederam mal! Por outras palavras
será um pedido de desculpas, «cópia junta»
Vamos aos factos...
Começando pelo Médico que consultou a doente minha Esposa MR no dia 7 de
Julho de 2015 foi sim o Dr. P. portador da cédula profissional n º […] e não o Dr. F.
como o Hospital Particular vem dizendo. E foi o Dr. P. que escreveu este oficio «vai
cópia junta» para ser entregar na Agência de Viagens, para nos ser devolvida
determinada quantia de dinheiro que a doente tinha pago para uma viagem de gozo
de férias. Na Agência de Viagens não puseram nenhum entrave na devolução desse
dinheiro. Escrevendo o Dr. P. este ofício para suspender a viagem é porque havia
realmente muita urgência em ser feita a biopsia.
No dia seguinte às 8 horas da manhã com a ordem expressa de Urgência, a doente
MR apresentou-se com o relatório médico escrito pelo Dr. P., para lhe ser feita
imediatamente a biopsia aos pulmões. A primeira coisa a ser pedida foi 300 Euros de
caução.
Procedimento que eu não acho justo! Pois corra bem ou corra mal não será
problema. Está pago!!. Feito o pagamento, foi encaminhada para a Sr.ª Dr.ª C., que
acompanhou a doente até o aposento onde iria ficar, pensando eu «Marido» e minha
Esposa «doente» que seria um internamento de horas. Quando eu digo horas! É que
tinha a informação que no Hospital Público uma biopsia demoraria 3 ou 4 horas que
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neste caso foi a demora da biopsia que fizeram a minha Esposa. Mas não!... No
Hospital Particular de Braga eram dias. Mas maior foi o meu espanto quando da
parte da tarde recebo um telefonema pensando que era para ir buscar a doente. Era
realmente a doente mas a dizer que tinha sido informada pela Srª Dr.ª C. que o
Médico que lhe iria fazer a biopsia se encontrava em gozo de férias!... É caso para
perguntar que raio de Hospital será este que interna uma doente para fazer
determinado exame urgente quando desconhece que o médico está de férias.
Terá que se reconhecer que é um bom método para se ganhar dinheiro! Exigir
pagamento de 300 Euros de caução e como ainda não fosse suficiente tiveram o
desplante de cobrarem mais 63,00 Euros quando a doente resolveu sair por vontade
própria daquela unidade Hospitalar. Quantia essa que ninguém da secretaria me
soube explicar o porquê daquele pagamento quando eu F. «marido» fiz a primeira
reclamação.
Resumindo:- No Hospital Particular de Braga mesmo reconhecendo que erram
ficaram com o dinheiro.
Depois para justificar o porquê de ficarem com ele há que empatarem a doente
fazendo-lhe meia dúzia de exames que nada tinham haver com o que era para ser
feito ao ponto de minha esposa perguntar o que estava lá a fazer e que se queria vir
embora, porque esses exames podiam ser feitos em modo ambulatório. Além disso
não foi para aqueles exames que o Dr. P. a mandou internar.
Apelaram a que esperasse pelo Médico que lhe faria a biópsia «não se sabe quantos
dias seriam». Deram também sugestão de ir para Porto para outra Unidade Hospital
do Grupo Trofa. A resposta foi NÃO pois onde se iria arranjar dinheiro para lhes
pagar ao preço que eles cobravam os serviços.
Em relação ao dizerem que a doente optou por ser transferida para o Hospital
Público de Braga não corresponde a verdade. A doente não optou. A doente veio
para casa por vontade dela. Depois passados 2 dias da parte da tarde resolveu
dirigiu-se ao Hospital Público sabendo que o Dr. P. fazia lá serviço, falou com ele
expôs o que se tinha passado. Já estava informado de tudo por parte da Dr.ª C..
Dando logo ordem de internamento no Hospital Público de Braga para que no dia
seguinte pela manhã se fizesse o tratamento que realmente deveria ter sido feito no
dito Hospital Particular. Esteve 15 dias internada sendo tratada muito bem. Foi
mandada fazer através do Hospital Particular um exame ao Centro Hospitalar V. N.
Gaia-Porto.
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Quanto aos montantes do pagamento que o Hospital Particular se referem foram
realmente 304,00 Euros, mais os 63,00 pagos a saída, a tal quantia que menciono
em cima e que eles próprios na secretaria desse Hospital não sabem o porquê dessa
cobrança. Perguntaram-me também se tinha algum Seguro disse ter um cartão
MULTICARE - pediram-mo passado algumas horas devolveram-mo falta saber se
cobraram algo!
Pediram também o Cartão da ADSE da Esposa «a doente» também não sei com que
finalidade. A pedir dinheiro são muito bons. «Junto cópia da cobrança dos 63,00
Euros»
Querendo fazer diretamente a reclamação ao Sr. Diretor do Hospital Particular de
Braga ele Diretor não estava presente. É usual o Diretor só estar presente para
casos de elogios ou louvores. Para reclamações é a sua Secretária que atende.
Disse-me que iria averiguar, passados uns dias, informou que teria que fazer uma
reclamação interna por escrito. Disse-lhe que não. Que neste caso preferia o livro de
reclamações.
Então reparei que a facilidade com que entregam o livro é de pasmar. Já vi em casas
de Negócio e até Instituições quando se pede o livro de reclamações as pessoas
pedem desculpa e evitam a todo custo que se escreva no livro. Neste Hospital
Particular de Braga é diferente!... Entregam o livro com todo o gosto, dizendo para
escrever a vontade porque o livro tem muitas folhas.
Informo também que fiz queixa no Tribunal Arbitral aqui em Braga. Foi informado
pelo esse mesmo Tribunal que a resposta do Hospital Particular de Braga, era que o
problema era entre mim e eles e que se eu caso deseja-se para recorre-se para o
Tribunal Judicial.
Ora a partida para quem tem Advogados por conta deles é cortar as pernas as
pessoas em questão. Neste caso o meu. Pois sabem que vão obrigar a gastos em
despesas judiciais, sabendo que nem todos têm posses para isso. É que tanto eu
como minha Esposa vivemos da reforma.
Finalizando:- Quero agradecer pelo trabalho que tenho dado para tentarem resolver
este meu problema.
Mas no final tenho que entender que é uma luta de uma Formiga contra um Elefante.
[…]” – cfr. resposta do reclamante F. junta aos autos.
12. O reclamante vem ainda aos autos juntar os seguintes documentos:
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a) carta remetida pelo HPB, em resposta à reclamação do utente, onde se pode ler,
em letra manuscrita a seguinte informação “[…] o internamento não foi para estes
exames […]”;
b) cópia do recibo n.º BR2014/8510, referente à fatura BR2014/37071, no valor de
EUR 63,00 referente a episódio de urgência geral, onde se pode ler, em letra
manuscrita o seguinte “[…] pagamento feito que nem sabem qual o motivo deste
pagamento na secretaria. A data não corresponde à verdade esta pagamento foi feito
dia 11-07-14- quando saiu do hospital […]”;
c) cópia de informação clínica, subscrita pelo Dr. P., que se passa a transcrever:
i)“[…] a utente […] foi acometida de doença súbita, a qual configura necessidade
de realização de exames complementares invasivos para seu cabal
esclarecimento sendo que os referidos exames serão feitos em ambiente de
internamento hospitalar, o qual se considera inadiável. […]”.
II.4 Do pedido de informação adicional ao HPB e respetiva resposta
13. Considerando a necessidade de carrear para os autos informação adicional sobre o
episódio de internamento da utente MR, solicitou-se ao prestador os seguintes
esclarecimentos:
“[…] 1. Explicitem, com envio de todos os elementos documentais e factuais de que
disponham, quais os atos que compõe o “pacote fechado” da Multicare no episódio
de urgência do dia 8 de julho de 2014, e a razão(ões) por o mesmo ser mais
vantajoso para a utente beneficiária da ADSE, de acordo com a informação descrita
na fatura que se remete cópia;
2. Pronunciem-se, detalhadamente, com o envio de todos os elementos documentais
e factuais de que disponham, das razão(ões) para a realização de consulta de
dermatologia e otorrinolaringologia no decurso do internamento da utente;
3. Pronunciem-se sobre a razão(ões) para a realização de “biopsia incisional gânglio
prof. c/sutura/ato is/” e “exame histológico de produto de biópsia por agulha,
endoscópica, incisional ou excisional, raspagem ou eliminação espontânea (2 ou 3
amostras)”, bem como remetam o resultados dos dois atos referidos.
4. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados
necessários e relevantes à análise do caso concreto.[…]”.
14. Nessa sequência, veio o HPB prestar a seguinte informação:
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“[…] I — Vantagem, para o cliente, do recurso à faturacão através de "pacote
fechado "para beneficiários Multicare em face da faturacão como beneficiário
ADSE no que diz respeito ao episódio de urgência do dia 8 de julho de 2014.
A título prévio da exposição que por ora fazemos, cumpre-nos desde logo informar
[…] que independentemente da forma como é feita a faturação do "Episódio Geral de
Urgência" - seja em regime de "pacote fechado" Multicare, seja via ADSE - esse
facto não tem qualquer influência na forma como se desenrola o referido episódio de
urgência. Em concreto, existe uma perfeita identidade no que diz respeito aos atos
médicos realizados, bem como à forma e quaisquer outras características dos
serviços prestados, não se evidenciando a este título qualquer forma de
discriminação entre pacientes.
Considerando o referido supra, a diferença entre a realização de "Episódio de
Urgência Geral" na modalidade de "pacote fechado" Multicare e à realização do
mesmo episódio na qualidade de beneficiário ADSE, reside apenas na forma como
são computados os custos associados a cada uma das modalidades. Assim, caso o
paciente opte pelo "pacote fechado" Multicare, o "Episódio de Urgência Geral" terá
associado um custo fixo de €63, que engloba o preço da consulta, a realização de
exames complementares de diagnóstico e outros atos de enfermagem
(independentemente dos atos médicos e/ou exames complementares de diagnóstico
efetivamente realizados).
Caso o mesmo episódio de urgência se realize ao abrigo da ADSE, cabe ao paciente
o pagamento de um custo fixo de €19.55 a título de consulta de diagnóstico, ao qual
acresce o pagamento do custo associado a cada um dos atos médicos e exames
complementares de diagnóstico efetivamente realizados ("linha a linha "), sendo o
custo por natureza variável.
Para melhor ilustrar a situação em análise, anexamos o Doc. 7, que faz uma
simulação do "Episódio de Urgência Geral" da Sra. M., caso tivesse optado pela
faturação ao abrigo da ADSE em vez do "pacote fechado" Multicare. Poderão V.
Exas. facilmente constatar que, no caso em concreto, o custo seria de €73,14, ou
seja, superior ao custo do mesmo episódio quando faturado via "pacote fechado"
Multicare (€63).
II e III — Razões para a realização de consulta de dermatologia e
otorrinolaringologia no decurso do internamento - Razões para a realização de
"biópsia incisional gânglio prof. c/sutura/ ato is/" e "exame histológico de
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produto de biópsia por agulha endoscópica incisional ou excisional. raspagem
ou eliminação espontânea (2 ou 3 amostras)
A paciente foi transferida do serviço de urgência para o serviço de internamento para
estudo de nódulos pulmonares diagnosticados em TAC de tórax, por apresentar um
quadro de emagrecimento de 15kg em seis meses, associado a estenia, anorexia,
dispneia de agravamento progressivo e tosse seca, tendo a própria ainda referido
episódio de disfonia na semana anterior ao episódio de urgência.
No seguimento do quadro apresentado e considerando ainda os estudos já
efetuados pela paciente, bem como a evidência de múltiplos nódulos pulmonares de
etiologia pouco clara, não era possível descartar a possibilidade de metástases de
tumor primário desconhecido. Foi, pois, solicitada a avaliação por otorrinolaringologia
para despiste de tumor primário desse foro. A intervenção da especialidade de
dermatologia foi motivada pela presença de lesões eritemato-acastanhadas, tendo
por isso sido efetuada biópsia cutânea.
De acordo com o solicitado, anexamos os Doc. 2 e Doc. 3 onde juntamos os registos
clínicos da paciente, bem como os resultados dos exames efetuados.
15. O prestador veio ainda aos autos juntar os seguintes documentos:
a) simulação de fatura, para episódio de urgência através da convenção com a
ADSE, no valor de EUR 73,14;
b) resultados dos exames histológicos, solicitados na consulta de dermatologia;
c) Nota de alta.
II.5 Do Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS
16. Considerando a necessidade de carrear para os autos uma apreciação clínica da
situação, foi solicitado parecer técnico elaborado por perito médico da ERS.
17. Assim, veio o perito médico da ERS atestar o seguinte:
“[…]Trata-se de internamento realizado com o objectivo de esclarecer etiologia de
nódulos pulmonares, para o que seria necessário efectuar biópsia aparentemente por
via trans-torácica.
A doente acabou por ser observada por Dermatologia e ORL, tendo efectuado TAC
abdominal e biópsia de lesões cutâneas, mas não realizou a referida biópsia
pulmonar, motivo aparente do internamento. Na minha opinião as expectativas da
doente podem ter sido defraudadas, uma vez que não realizou o procedimento para
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o qual foi internada. Esta situação parece ter a ver com falta de coordenação interna
por parte da Instituição.
Devo referir ainda que quer as consultas, quer as biópsias, poderiam ter sido
efectuadas em ambulatório e sem necessidade de internamento. O mesmo se pode
dizer da TAC. Aliás a doente teve alta com orientação para consulta de Urologia e
Pneumologia (ver nota de alta).
Relativamente à biópsia trans-torácica que não foi efectuada, muitas instituições a
realizam em ambulatório, uma vez que necessita de uma vigilância após o
procedimento de apenas algumas horas, com controlo por radiografia de tórax.
Sendo o problema levantado pelo reclamante uma situação de contratualização entre
as partes, a realidade é que as expectativas geradas foram goradas, uma vez que
qualquer dos procedimentos efectuados poderiam ter sido realizados em ambulatório
e o procedimento que estaria na base da urgência de diagnóstico terminou não
sendo efectuado. […].”.
III. DO DIREITO
III.1. Das atribuições e competências da ERS
18. De acordo com o n.º 1 do artigo 4.º e o n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos Estatutos da ERS
aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a ERS tem por missão a
regulação, supervisão, e a promoção e defesa da concorrência, respeitantes às
atividades económicas na área da saúde dos setores privados, público, cooperativo e
social, e, em concreto, da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde.
19. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos
mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do
setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza
jurídica.
20. Consequentemente, Hospital Privado de Braga, S.A, com o NIPC 506 986 225, é uma
entidade prestadora de cuidados de saúde, registada no Sistema de Registo de
Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 20016, detentor de um
estabelecimento sito Lugar da Igreja, Nogueira 4715 – 196 Braga registado sob o n.º
114687.
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21. As atribuições da ERS, de acordo como do n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS,
compreendem a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos
prestadores de cuidados de saúde, no que respeita à garantia dos direitos relativos ao
acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem
como dos demais direitos dos utentes, e ainda, à legalidade e transparência das
relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes.
22. Ademais, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c) e e)
do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios de
acesso aos cuidados de saúde, garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes e
zelar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os agentes
do sistema.
23. Competindo-lhe, na execução dos preditos objetivos, e conforme resulta dos artigos
12.º e 15.º dos Estatutos, zelar pelo respeito da liberdade de escolha nos
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, incluindo o direito à informação, e
também analisar as relações económicas nos vários segmentos da economia da
saúde, tendo em vista o fomento da transparência, da eficiência e da equidade do
sector, bem como a defesa do interesse público e dos interesses dos utentes.
24. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus
poderes de supervisão, zelando pela aplicação das leis e regulamentos e demais
normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas
atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como recomendações ou
advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias
relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de
medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos
e interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da
ERS.
25. Por fim, e considerando o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 61º dos Estatutos,
constitui contraordenação, punível com coima de 750 EUR a 3740,98 EUR ou de 1000
EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva “A
violação dos deveres que constam da «Carta dos direitos de acesso» a que se refere a
alínea b) do artigo 13.º, bem como nos n.os 1 e 2 do artigo 30.º”;
26. Por sua vez, nos termos do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 61º, constitui
contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou de 1500 EUR a
44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva, “A violação das
regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde: […] ii) A violação de regras
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estabelecidas em lei ou regulamentação e que visem garantir e conformar o acesso
dos utentes aos cuidados de saúde […] iii) A indução artificial da procura de cuidados
de saúde, prevista na alínea c) do artigo 12.º; iv) A violação da liberdade de escolha
nos estabelecimentos de saúde privados, sociais, bem como, nos termos da lei, nos
estabelecimentos públicos, prevista na alínea d) do artigo 12.º”.
III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados – dos direitos dos utentes à
informação e à garantia do exercício da liberdade de escolha
27. O caráter particular da prestação de cuidados de saúde impõe que o quadro de
informação, transparência e respeito pelos direitos e interesses dos (potenciais)
utentes seja elevado a um superior patamar de exigência.
28. Neste âmbito, a relação que se estabelece entre prestadores de cuidados de saúde e
os seus utentes deve pautar-se pela verdade, completude e transparência, devendo
tais características revelar-se em todos os momentos da relação, incluindo nos
momentos que antecedem a própria prestação de cuidados de saúde, aqui incluída a
publicidade enquanto informação prestada tendo em vista a captação de clientela.
29. A informação em saúde deve ser prestada com verdade, com antecedência (para não
colocar o utente numa situação de pressão quanto à decisão a tomar), de forma clara,
adaptada à sua capacidade de compreensão, contendo toda a informação necessária à
decisão do utente, de modo a garantir que a liberdade de escolha não venha a resultar
prejudicada.
30. Assim, o direito do utente à informação extravasa substancialmente o que prevê a
alínea e) do n.º 1 da Base XIV da LBS, e bem assim no n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º
15/2014, para efeitos de consentimento informado e esclarecimento, quanto a
alternativas de tratamento e evolução do respetivo estado clínico.
31. E o direito dos utentes à informação está, ademais, ínsito à própria relação de
confiança que se pretende que estes estabeleçam com os prestadores de cuidados de
saúde, que se deve pautar, ela própria, por princípios de verdade e transparência.
32. Só que esta relação contratual de confiança não pode dissociar-se de um problema
fundamental em saúde, a assimetria de informação que frequentemente existe nas
relações prestador-utente.
33. Com efeito, o utente encontra-se, na maioria das vezes, afetado pelo facto de não
possuir informação ou, pelo menos, não possuir toda a informação relevante,
comparativamente com o prestador de cuidados de saúde.
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34. Sendo que, por esse motivo, no momento do consumo de um bem ou serviço de
saúde, regra geral, o utente delega a sua decisão sobre o que consumir, e quando
fazê-lo, numa outra entidade que possua essa informação: o agente da oferta, ou mais
concretamente, o profissional de saúde.
35. E nesta delegação de direitos de propriedade sobre o consumo – ou seja, relação de
agência, em que aquele agente é o representante do principal (utente consumidor) –, é
suposto que a tomada de decisão quanto ao consumo seja feita no respeito integral
das necessidades e preferências do utente consumidor.
36. Só assim se garante que aos utentes seja reconhecido o direito a “decidir receber ou
recusar a prestação de cuidados que lhes é proposta”, em qualquer momento da
prestação do cuidado de saúde (cfr. alínea b) do n.º 1 da Base XIV da LBS e artigo 3.º
da Lei n.º 15/2014, de 21 de março);
37. Mas também o direito de escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde
(cfr. alínea a) do n.º 1 da Base XIV da LBS e n.º 1 do artigo 2.º da Lei n.º 15/2014, de
21 de março), e o mencionado direito ao consentimento informado e esclarecido (cfr.
alínea e) do n.º 1 da Base XIV da LBS e n.º 1 do artigo 7.º da Lei n.º 15/2014).
38. Note-se que os mercados de serviços de saúde são caracterizados pela informação
imperfeita que, regra geral, as pessoas possuem relativamente à saúde e à doença.
39. Com efeito se, por um lado, é natural que um utente, ou os seus representantes,
percebam a existência de um sintoma, embora tipicamente não determinem a origem e
gravidade do mesmo, será normalmente um profissional de saúde que determinará a
gravidade do problema e conduzirá o utente ao tratamento adequado;
40. Bem como será este último que possuirá a informação sobre quais os atos ou meios
complementares de diagnóstico que respeitam especificamente aos cuidados de saúde
que se revelam como adequados à situação específica do utente em questão.
41. É aqui que se verifica a já aludida assimetria de informação que, concretamente,
resulta do facto de os profissionais de saúde serem portadores do conhecimento exato
dos cuidados mais adequados às necessidades dos utentes.
42. Efetivamente, o utente comum não será conhecedor dos tratamentos de que necessita,
nem dos exames a realizar, e ainda dos custos que lhe estão diretamente associados,
sendo essa a razão que o leva a recorrer a um prestador de cuidados de saúde para o
aconselhar.
43. E é precisamente isso que justifica que um utente, ou os seus representantes, antes de
decidir(em) (ou não), a realização de um determinado exame ou tratamento, devam ser
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informados de forma completa, clara e verdadeira, atento ser o prestador de cuidados
de saúde conhecedor dos tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar
para e na resolução dos problemas diagnosticados.
44. A tudo isto acresce que, além do prestador – seja ele pessoa individual ou, como nos
autos, coletiva – dever informar dos aspetos clínicos que são por si controlados por
força do seu conhecimento científico, sob si impende igualmente, o dever de dar
conhecimento aos utentes, de forma clara e explicada, da identidade do concreto
prestador responsável pela prestação de cuidados de saúde, do valor/preço de cada
um dos atos e serviços clínicos em causa, bem como dos eventuais acordos e
protocolos que tenham sido celebrados e dos respetivos termos.
45. Por isso, e considerada a ótica do utente como um consumidor de um serviço, a
iniciativa de informar deve sempre partir do prestador que não poderá escudar-se na
desculpa de que o interessado não perguntou ou que deveria já saber ou que tinha já
sido informado em momento distinto; ou
46. Que a entidade/o prestador atuou com erro nos pressupostos que lhe foram
comunicados (erradamente) por outras entidades terceiras, como sejam, as entidades
financiadoras dos cuidados de saúde.
47. Assim, deve, pois, o prestador agir com especial cuidado na execução do seu dever de
informar os utentes de todos os aspetos que podem influenciar a sua decisão final de
escolha, designadamente sobre a existência de convenções e acordos celebrados com
subsistemas e companhias de seguros, sempre com o intuito de garantir os princípios
de transparência das relações que entre si são criadas.
48. Em face do vindo de expor, e uma vez garantido que ao utente é prestada informação
completa, verdadeira e inteligível sobre todos os aspetos relacionados com a prestação
de cuidados de saúde, qualquer utente de serviços de saúde poderá optar por recorrer,
para satisfação das suas necessidades concretas:
(i) aos prestadores de cuidados de saúde do SNS, beneficiando das suas
características de generalidade, universalidade e gratuitidade tendencial; e/ou
(ii) aos prestadores de cuidados de saúde - próprios, convencionados ou em
regime livre - de um dado subsistema (público ou privado) de saúde, caso seja
beneficiário de tal subsistema e nos termos definidos por este último; e/ou
(iii) aos prestadores de cuidados de saúde - próprios, convencionados ou em regime
livre – ao abrigo de um contrato de seguro de saúde, caso tenha contratado uma tal
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cobertura do risco de doença e nos termos acordados com a entidade seguradora;
e/ou
(iv) aos prestadores de cuidados de saúde privados ou do setor social, com ou sem
fins lucrativos, mediante a contraprestação acordada com o concreto prestador,
livremente escolhido.
49. Em qualquer caso, urge garantir que o utente beneficia de uma efetiva liberdade de
escolha do concreto prestador a que pretende recorrer.
50. A liberdade de escolha constitui um dos pilares fundamentais da relação utente-
prestador de cuidados de saúde, devendo ser assegurado que a assimetria de
informação existente entre o utente e os prestadores não resulta em prejuízo, direto ou
indireto, dos direitos daquele.
51. Nesta medida, assume especial relevância, enquanto direito fundamental dos utentes
de cuidados de saúde, o direito à informação prévia, plena e esclarecida.
52. O que passará, necessariamente, pela informação prévia e cabal sobre o diagnóstico,
exame e/ou tratamento proposto; sobre os riscos e/ou efeitos secundários do mesmo;
sobre o direito de recusar e de revogar o consentimento; sobre os meios humanos e
técnicos existentes e disponíveis no estabelecimento em causa para a prestação dos
cuidados de saúde em causa; mas também sobre todas as questões administrativas e
financeiras relevantes, nomeadamente, sobre autorizações prévias a emitir por
entidades terceiras e sobre preços e orçamentos referentes à prestação de cuidados
de saúde em causa.
53. Só tendo conhecimento efetivo e pleno de todos estes elementos, é que o utente
estará em condições de tomar uma decisão sobre a proposta terapêutica que lhe é
apresentada, mas também de exercer a sua liberdade de escolha, optando pelo
concreto estabelecimento prestador de cuidados de saúde a que irá recorrer para o
efeito.
54. Se o utente optar por recorrer ao setor privado ou social, a escolha pelo concreto
prestador de cuidados de saúde deverá ser efetuada de forma livre e sem quaisquer
restrições.
III.3. Análise da situação concreta
55. Qualquer utente que aceda a uma entidade prestadora de cuidados de saúde tem
direito a ser previamente informado sobre todos os elementos necessários ao seu
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completo e efetivo esclarecimento, para que possa tomar uma decisão sobre o
tratamento ou intervenção proposta.
56. Ao estabelecimento prestador de cuidados de saúde e ao profissional de saúde
responsável cumpre o dever de informar o utente desses elementos e de confirmar que
este compreendeu toda a informação transmitida e que está devidamente esclarecido
sobre todos os aspetos relevantes para a decisão a tomar.
57. Para esse efeito, a informação em causa deve abranger:
a) Todos os dados sobre o estado de saúde e diagnóstico, em resultado da
avaliação efetuada pelo profissional de saúde ao utente;
b) Descrição do exame e/ou intervenções terapêuticas ou medicamentosas, que o
profissional de saúde considere indicadas, incluindo a descrição dos meios que se
pretendem utilizar para o efeito, das finalidades dos mesmos e do
prognóstico/probabilidade de sucesso que se pretende alcançar, bem como, da
existência de outras soluções alternativas;
c) Informação sobre os riscos e/ou efeitos secundários do exame e intervenções
terapêuticas ou medicamentosas;
d) Informação sobre o direito de recusar e de revogar o consentimento, incluindo
informação sobre os riscos e efeitos inerentes ao exercício destes direitos;
e) Informação sobre os meios humanos e técnicos existentes e disponíveis no
estabelecimento em causa para a prestação dos cuidados de saúde;
f) Informação sobre todas as questões administrativas e financeiras relevantes,
nomeadamente, sobre autorizações prévias a emitir por entidades terceiras e sobre
preços e orçamentos referentes à prestação de cuidados de saúde em causa.
58. Para tanto, a entidade prestadora de cuidados de saúde deve garantir que qualquer
procedimento observado nos seus serviços e pelos seus profissionais, para efeitos de
obtenção de consentimento para a prestação de cuidados de saúde, é capaz de
assegurar que estas informações são prestadas e compreendidas por todos os utentes
que a si se dirigem.
59. Assim, a situação em análise visa, por um lado, determinar se foi prestada pelo
Hospital Privado de Braga, S.A. a informação necessária e correta, para que a utente
pudesse livremente escolher se pretendia ser internada ou se preferiria realizar os
exames prescritos em regime ambulatório ou, em alternativa, num outro
estabelecimento prestador de cuidados de saúde, nomeadamente do SNS;
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60. E, consequentemente, verificar se da informação prestada pelo HPB resultou, ou não,
um efetivo prejuízo para a utente.
61. Caberá à ERS aferir da adequação dos procedimentos adotados no decurso do
episódio clínico relatado e a sua compatibilidade com a necessidade de garantia da
qualidade da prestação dos cuidados de saúde e dos direitos e interesses legítimos
dos utentes.
62. Ainda, a preocupação subjacente à presente análise alarga-se necessariamente à
avaliação da existência e adequabilidade dos procedimentos dirigidos a corrigir e
prevenir situações semelhantes à ocorrida.
63. Ora, do que resulta da análise dos factos recolhidos, a utente MR foi observada em
consulta de medicina interna, em 7 de julho de 2014;
64. Nesta consulta, foi a utente informada que seria necessário realizar um estudo de
nódulos pulmonares e que estes exames necessitavam de internamento hospitalar;
65. Com efeito, de acordo com a informação do HPB, “[…] face ao quadro clínico da
doente e à necessidade de precisar o diagnóstico e a linha de tratamento, o
internamento afigurava-se como a melhor opção para tratamento mais célere e eficaz.
[…] O internamento é, segundo os especialistas, prática clínica comum para estes
casos. […]”.
66. Posto isto, foi à utente […] aconselhado o internamento para estudo desses mesmos
nódulos.”.
67. Esclarece ainda o HPB que “[…] num primeiro momento, a doente não aceitou o
internamento, como era sua prerrogativa, pelo que, nesse mesmo dia, acabou por
regressar para casa para ponderar acerca do mesmo. […]”;
68. E que “[…] logo no dia seguinte, a 8 de Julho de 2014, a paciente regressou ao
Hospital e deu entrada no serviço de urgência, tendo sido atendida pela Dr.º C.
(especialista em medicina interna), a quem manifestou logo vontade de ficar internada
[…] no Hospital.”.
69. Assim, constata-se que a utente deu entrada pelo serviço de urgência do hospital,
apenas e só, com o intuito de proceder ao internamento para realização de estudo de
nódulos pulmonares;
70. Não tendo realizado em contexto de Serviço de Urgência, para além da consulta,
qualquer outro meio complementar de diagnóstico e/ou outro ato médico ou de
enfermagem.
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71. Mais informou o HPB que “[…] o internamento correu conforme programado e sem
complicações, tendo sido realizados todos os exames com exceção de um – a biópsia
de nódulos pulmonares […]”.
72. Ora, considerando que a utente, aconselhada pelo médico assistente, foi precisamente
internada para realizar o estudo de nódulos pulmonares, e que apenas este exame não
foi realizado;
73. Não se compreende como o HPB afirma que o internamento correu como programado;
74. Uma vez que não existiu qualquer efeito útil no internamento, considerando que o único
exame que devia ser realizado no âmbito do internamento hospitalar não foi executado;
75. A tal propósito, declarou o prestador que “[…] Logo que o Hospital se apercebeu deste
contratempo, explicou a situação à doente, esclarecendo que a biópsia aos nódulos
teria de ser adiada para um outro dia, em virtude da ausência de especialista de
radiologia de intervenção (facto que não era do conhecimento de nenhum dos
responsáveis quando se procedeu ao internamento da doente).[…]”;
76. O que de resto não é afastado pelo exponente, que concorda que, uma vez informada
a utente da impossibilidade de realização imediata da biópsia, foi comunicada ao HPB
a decisão de obter alta para dar continuidade ao tratamento no âmbito de instituição
hospitalar do SNS, onde foi objeto de efetivo internamento, conforme referido pelo
reclamante deram “[…] logo ordem de internamento no Hospital Público de Braga para
que no dia seguinte pela manhã se fizesse o tratamento que realmente deveria ter sido
feito no dito Hospital Particular. Esteve 15 dias internada sendo tratada muito bem.”.
77. Tendo em consideração a situação concreta de internamento específico para
realização de biópsia pulmonar não se pode aceitar que o HPB não tivesse assegurado
a presença do médico especialista com capacidade técnica para o efeito;
78. Tanto mais que a ausência de tal profissional não se ficou a dever a uma ocorrência
extraordinária ou imprevisível, mas sim a uma situação programada com antecedência,
como é a marcação de férias.
79. Acresce que, de acordo com a informação do prestador, o médico responsável pela
realização do exame apenas foi contactado, no segundo dia do internamento, o que
reforça o facto de o HPB não ter recorrido às diligências necessárias para averiguar se
tinha capacidade para realizar o exame acordado com a utente no dia do internamento.
80. Lateralmente à não realização da biópsia acordada, sustenta o prestador o facto de a
utente ter realizado “[…] No internamento […] estudo analítico e TAC abdominal ,
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biópsia das lesões cutâneas e observação pelas especialidades de otorrinolaringologia
e dermatologia.[…]”;
81. Ora, considerando que tais atos clínicos não se mostram coincidentes com a conceção
inicial do internamento, foi auscultado o perito médico da ERS, o qual a este propósito
defende que:
“[…]Quer as consultas, quer as biópsias, poderiam ter sido efectuadas em
ambulatório e sem necessidade de internamento. O mesmo se pode dizer da TAC.
Aliás a doente teve alta com orientação para consulta de Urologia e Pneumologia
(ver nota de alta). […] - cfr. Parecer técnico elaborado por perito médico da ERS, em
10 de setembro de 2016, junto aos autos.
82. Informação aliás confirmada pelo HPB que refere […] De facto os estudos que [a
utente] fez poderiam ter sido feitos em regime de ambulatório, porém o internamento
foi no sentido de maior brevidade. […]”.
83. Quanto a esta questão vem o prestador alegar que “[…] tendo em consideração que o
internamento foi expressamente aceite e consentido pela doente e que todos os atos e
tratamentos médicos foram concluídos com sucesso e sempre com o consentimento
da doente (e estando os valores conformes, ao nível de faturação), o Hospital crê que
não existe fundamento para reembolso ao reclamante, contrariamente ao que foi
solicitado por este último na reclamação apresentada.[…]”.
84. Ora, a utente aceitou e consentiu o internamento apenas para realização do estudo de
nódulos pulmonares, tendo a tal sido aconselhada pelo seu médico assistente, o que
não aconteceu;
85. Também se discorda com o prestador, quando refere que este […] cumpriu com os
respetivos deveres, na medida em que numa primeira fase possibilitou a livre escolha
à utente entre internamento e o ambulatório, numa fase posterior informou
devidamente da impossibilidade de realizar o exame no momento pretendido, […] e
esclareceu cabalmente o reclamante. […]”;
86. Uma vez que apenas informou a utente da impossibilidade da realização do exame
pretendido após o internamento, mais precisamente no último dia;
87. Não tendo por isso, esclarecido cabalmente a utente das suas opções.
88. Pelo exposto, constata-se que a conduta do HPB não se revelou suficiente à cautela
dos direitos e interesses legítimos da utente.
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89. A liberdade de escolha e decisão informadas só podem ser efetivamente garantidas se
for transmitida ao utente, completa e atempadamente, toda a informação relevante;
90. Impõe-se ao Hospital o dever de informar os utentes não só sobre todos os
tratamentos, atos adequados e bens e serviços a utilizar, mas igualmente sobre a
disponibilidade e o custo que lhes está inerente;
91. Só depois de devidamente informado pelo prestador, poderá o utente ficar a conhecer
de forma aprofundada o seu problema de saúde, as alternativas que se lhe
apresentam e as suas implicações financeiras;
92. E prestar, de forma livre e esclarecida, o seu consentimento ao tratamento e ou exame
proposto.
93. Resulta do exposto que os procedimentos levados a cabo pelo HPB, no caso em
apreço, foram lesivos:
(i) Do direito do utente ao consentimento informado e esclarecido (al. b) e e) do n.º 1
da Base XIV da Lei de Bases da Saúde e al. c) do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º
127/2009, de 27 de maio, presentemente disposto na alínea c) do artigo 10º do
Decreto – Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, que aprovou os Estatutos da ERS
(doravante Estatutos da ERS);
(ii) Do direito a escolher livremente o agente prestador de cuidados de saúde (al. a)
do n.º 1 da Base XIV da Lei de Bases da Saúde e al. d) do artigo 35.º do Decreto-Lei
n.º 127/2009, de 27 de maio), presentemente disposto nas disposições conjugadas
na alínea d) do artigo 10º e alínea d) do artigo 12º dos Estatutos da ERS; e
(iii) Do direito do utente-consumidor à informação em particular, bem como, por tal
facto e de forma direta e necessária, dos seus interesses financeiros e do seu direito
à proteção dos interesses económicos, estabelecidos nos artigos 3.º; 8.º e 9.º da Lei
do Consumidor, e presentemente com as alterações introduzidas pelo Decreto – Lei
n.º 47/2014, de 28 de julho;
94. Deste modo, justifica-se a emissão de uma instrução dirigida ao HPB, de forma a
garantir que situações idênticas à agora em análise, efetivamente não se repitam no
futuro.
95. Devendo para tanto o HPB garantir que todo e qualquer procedimento administrativo
por si adotado, se revele capaz de assegurar a informação prévia, clara, completa e
inteligível de todos os utentes que a si se dirigem, sobre os preços e a disponibilidade
dos exames/tratamentos propostos, bem como proceder à revisão dos termos da
faturação dos serviços prestados à utente, por forma a considerar apenas a cobrança
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dos cuidados efetivamente prestados como se os mesmos tivessem sido realizados
em ambulatório.
IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS
96. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos
termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do
Procedimento Administrativo, aplicável ex vi do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,
tendo para o efeito sido chamados a pronunciar-se, relativamente ao projeto de
deliberação da ERS, o utente F. e o Hospital Privado de Braga.
97. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS não recebeu até ao
momento presente qualquer comunicação, quer do prestador, quer do reclamante,
pelo que não resultaram quaisquer factos capazes de infirmar ou alterar o sentido do
projeto de deliberação da ERS, razão pela qual se propõe a sua manutenção na
íntegra.
V. DECISÃO
98. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e
para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º
dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir
uma instrução ao Hospital Privado de Braga, S.A., nos seguintes termos:
a) Deve garantir que todo e qualquer procedimento administrativo por si adotado se
revele apto a assegurar a informação prévia, clara, completa e inteligível a todos os
utentes que a si dirigem, sobre os preços dos cuidados de saúde que se propõe
prestar, bem como, sobre a responsabilidade pelo seu pagamento;
b) Deve atualizar e/ou introduzir as alterações tidas por adequadas nos
procedimentos implementados, por forma a garantir, a todo o momento, que aqueles
são aptos a assegurar de forma permanente e efetiva o acesso aos cuidados de
saúde que se apresentem como necessários e adequados à satisfação das
necessidades dos utentes;
c) Deve garantir que os procedimentos por si adotados, previamente ao
agendamento de um episódio de internamento, seja para que efeito for, sejam aptos
a garantir uma avaliação integrada da condição clínica do utente, antecipando a sua
efetiva capacidade de realização dos procedimentos clínicos propostos;
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d) Deve proceder à revisão dos termos da faturação dos serviços prestados por
forma a considerar apenas a cobrança dos cuidados efetivamente prestados como
se os mesmos tivessem sido realizados em ambulatório;
e) Deve dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como conhecimento à
ERS, no prazo máximo de 30 dias úteis após a notificação da presente deliberação,
de cada um dos concretos procedimentos adotados para o efeito.
99. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do
artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de
22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de € 1000,00
a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos
seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios determinem qualquer
obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”;
Porto, 1 de fevereiro de 2017.
O Conselho de Administração.