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DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURA ESTRANGEIRAS
MARÍLIA MEZZOMO RODRIGUES
TRADUÇÃO E LEGENDAGEM DO DOCUMENTÁRIO LE PROCÈS CÉLINE:
UMA ANÁLISE EM RETROSPECTO
FLORIANÓPOLIS
2018
MARÍLIA MEZZOMO RODRIGUES
TRADUÇÃO E LEGENDAGEM DO DOCUMENTÁRIO LE PROCÈS CÉLINE:
UMA ANÁLISE EM RETROSPECTO
FLORIANÓPOLIS
2018
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
apresentado para a obtenção do grau de
Bacharel em Língua e Literatura
Francesas, na Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC)
Orientadora: Profa. Dra. Noêmia
Guimarães Soares
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Rodrigues, Marília Mezzomo Tradução e legendagem do documentário Le Procès Céline : uma análise em retrospecto / Marília Mezzomo Rodrigues ;orientadora, Noêmia Guimarães Soares, 2018. 32 p.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -Universidade Federal de Santa Catarina, Centro deComunicação e Expressão, Graduação em Letras Francês,Florianópolis, 2018.
Inclui referências.
1. Letras Francês. 2. Tradução Audiovisual, Skopos,Legendagem, Tradução Amadora. I. Guimarães Soares, Noêmia .II. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação emLetras Francês. III. Título.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, profa. dra. Noêmia Guimarães Soares, de quem tive o
privilégio de ser aluna em língua francesa, linguística, estudos da linguagem,
literatura, leitura expressiva e dramática, tradução. Tantas coisas aprendidas num
curto tempo, que pareceu se expandir enormemente em função de tudo o que pude
aprender em suas aulas, atividades e conversas. O que este trabalho puder conter
de bom é graças a ela.
À doutoranda Juliana de Abreu e ao prof. dr. Sergio Romanelli – cujas seriedade e
qualidade dos trabalhos são mais que nunca necessários na universidade – pela
disposição de integrarem a banca examinadora deste TCC.
À turma de Letras Francês que chegou à UFSC em 2015, amig@s querid@s com
quem eu dividi aulas, cafés, corredores, pontos de ônibus, burn book e muito mais,
principalmente, Heloá Barroso, Fabrício Leal Cogo, Walter Costa Filho, Jamila
Delavy, Renata Zoldan; Gustavo Stopassoli, Adriene Tomaz, Bruno Popenga,
Kamile Coutinho, Maria Paula, Bruna Inácio; ao trio do bacharelado Lúcia Dória,
Francieli Guarienti e Wesam Ashour.
Às “boas”, Neuza Silveira Pereira, Elise Freitas e Janny Fioravante – a “vizinha” de
todas as horas, trabalhos em grupo, discussões acadêmicas e sobre a vida, em
várias travessias da ponte.
Aos integrantes do NEHLIS, em especial os drs. Luiz Alberto Souza e Kelly Yshida,
o me. Guilherme de Castro, incentivadores da tradução e da legendagem do
documentário, e o professor dr. Adriano Duarte (curso de História/UFSC).
A mon cher et tendre Alain Rojo, pelo apoio de sempre, em tudo, a cada novo permi
de conduire...
Democracia acima de tudo; Estado laico acima de todos.
RESUMO
Tradução e legendagem do documentário Le Procès Céline:
uma análise em retrospecto
Em 2014, o documentário Le Procès Céline (FRA. Dir.: Antoine de Meaux, 2011) foi
traduzido e legendado do francês para o português, de forma amadora e informal,
para exibição e posterior discussão em um grupo de estudos formado por alunos e
professores universitários, pesquisadores e pessoas externas ao ambiente
universitário com interesse nas relações entre história e literatura (NEHLIS). Mesmo
sem embasamento teórico, apenas conhecimentos adquiridos na prática, a atividade
se guiou pelo público alvo, não falante de francês. Esta legendagem foi escolhida
como objeto de análise pela possibilidade de discutir e rever algumas escolhas
intuitivas à luz de uma visão teórica mais ampla sobre a tradução, principalmente a
partir das premissas da Teoria do Skopos, sistematizada por Christiane Nord, e
também mais específica, em se tratando da tradução audiovisual (TAV), tendo em
vista as proposições de Yves Gambier e Jorge Díaz-Cintas.
Palavras-chave: Teoria do skopos; tradução audiovisual; documentário; Louis-
Ferdinand Céline
RESUMÉ
Traduction et sous-titrage du documentaire Le Procès Céline :
une analyse a posteriori
En 2014, le documentaire Le Procès Céline (de Antoine de Meaux ; France, 2011)
fut traduit et sous-titré, de manière amatrice et informelle, pour l’exhibition et le débat
dans un groupe d’études (NEHLIS) formé par des élèves et professeurs
universitaires, chercheurs et membres extérieures à l’université ayant pour intérêt les
relations entre l’histoire et la littérature. Ce sous-titrage fut choisi comme objet
d’analyse parce qu’il permet de discuter et revoir des choix intuitifs à partir d’une
conception théorique plus ample à propos de la traduction, principalement la Théorie
du Skopos, systématisée par Christiane Nord, et aussi d’une théorie plus spécifique,
celle de la traduction audiovisuel (TAV), avec les propositions de Yves Gambier et
Jorge Díaz-Cintas.
Mots-clés : Théorie du Skopos ; traduction audiovisuel ; documentaire ; Louis-
Ferdinand Céline
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – O tribunal ................................................................................................. 3
Figura 2 – Print screen com o Subtitle Edit (SE)...................................................... 10
Figura 3 – A pesquisadora e profa. Anick Duraffour fala sobre Céline.................... 10
Figura 4 – Capa do DVD de Le Procès Céline, do Canal ARTE ............................. 15
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:39 do documentário
................................................................................................................................. 21
Quadro 2 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:17:21 do documentário
................................................................................................................................. 21
Quadro 3 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e texto alvo que figura na legenda aos 00:24:36 do documentário
................................................................................................................................. 22
Quadro 4 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:09:30 do documentário
................................................................................................................................. 23
Quadro 5 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:37:02 do documentário
................................................................................................................................. 23
Quadro 6 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:48:52 do documentário
................................................................................................................................. 24
Quadro 7 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:50:51 do documentário
................................................................................................................................. 24
Quadro 8 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:23 do documentário
................................................................................................................................. 25
Quadro 9 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:31 do documentário
................................................................................................................................. 25
Quadro 10 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:13:35 do documentário
................................................................................................................................. 26
Quadro 11 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:04:43 do documentário
................................................................................................................................. 27
Quadro 12 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua
tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:11:01 do documentário
................................................................................................................................. 27
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................1
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: OLHANDO O PROCESSO DE LEGENDAGEM
A POSTERIORI ...........................................................................................................4
3. LE PROCÈS CÉLINE: ASSUNTO, FORMATO E SKOPOS DA LEGENDAGEM
................................................................................................................................... 11
4. ANÁLISE DE ALGUNS EXCERTOS DA LEGENDAGEM .................................. 18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................29
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 32
1. INTRODUÇÃO
Em 2014, realizei a tradução e a legendagem francês-português de um
documentário sobre o escritor Louis-Ferdinand Céline. À época, eu ainda não havia
iniciado a graduação em Letras-Francês na Universidade Federal de Santa Catarina,
mas o francês já era minha “segunda língua”, por questões familiares.
O documentário é Le Procès Céline (O processo Céline), exibido pelo canal
franco-alemão ARTE em 2011, na ocasião dos 50 anos da morte do escritor. Ele traz
depoimentos de escritores, historiadores, críticos literários, ativistas e
contemporâneos do autor, que foi soldado, empregado em uma companhia de
exploração agrícola na África, médico, escritor, polemista, fugitivo da justiça. Foi
reconhecido como referência por Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Henry Miller,
Charles Bukowski, Jean Genet, Michel Audiard, Jim Morrison, Jean-Luc Godard,
Phillip Roth, Martin Scorsese, Sergio Leone entre outros. De início, entre seus
leitores mais entusiastas estavam Leon Trotsky, Simone de Beauvoir, Louis Aragon,
Joseph Stalin. Entre seus detratores, Jean-Paul Sartre. O escritor era pacifista e
anti-imperialista, não tolerava a burguesia e nem a esquerda, não acreditava nas
idealizações sobre “o povo” e era antissemita panfletário. Preso um ano e meio ao
final da Segunda Guerra por colaboração com os nazistas, parece nunca ter pago o
suficiente por seus engajamentos – muitos são os que pedem, ainda hoje, o
banimento de seus livros, pois obra e autor seriam indissociáveis. Para outros,
pouco importariam as ações execráveis de um autor, se seus livros são marcos
literários.
Ao debruçar-se sobre essas discussões, o documentário também trata de
questões mais amplas relativas à literatura, ao engajamento político de artistas e à
história contemporânea. Por esse motivo, em 2014, foi escolhido para uma das
discussões no Núcleo de Estudos História, Literatura e Sociedade (NEHLIS/UFSC),
que eu integrava. Foi necessário então traduzir e legendar o material, inédito no
Brasil.
Até aquele momento, minha formação era na área de história (graduação,
especialização, mestrado e doutorado). Aprendi o francês oralmente, de início, e vivi
dois anos na França (2001-2003). Pude aprofundar esse conhecimento da língua no
trabalho (elaboração, digitação e publicação online de anúncios imobiliários) e num
2
curso de francês para estrangeiros, que frequentei por três meses no Lycée René
Cassin (Paris). De volta ao Brasil, realizei traduções eventuais de textos acadêmicos
e publicitários, de maneira informal, mas sempre mantendo contato com a oralidade,
leituras, filmes e programas de TV franceses, cotidianamente. No segundo semestre
de 2015, iniciei a graduação em Letras Francês na UFSC. Durante a disciplina
Elaboração do Projeto de TCC, em março de 2018, surgiu a ideia de utilizar a
tradução e legendagem do documentário como tema para o trabalho, sob orientação
da professora doutora Noêmia Guimarães Soares.
Assim, este TCC discute e revê essa legendagem, agora apoiando-se em
conhecimentos adquiridos nos estudos da tradução. Acreditamos que o trabalho
pode ser de interesse, já que a atividade foi realizada com base apenas no
conhecimento implícito, prático e intuitivo que eu possuía sobre tradução e tradução
audiovisual (TAV). Tais características têm sido cada vez mais abordadas em
pesquisas na área, por conta de sua expansão, proporcionada por séries e
programas de TVs a cabo, games, canais on demand ou em redes sociais
(YouTube, por exemplo), que também contam com traduções não profissionais.
Para apoiar essas reflexões a posteriori sobre a legendagem, utilizei
pressupostos funcionalistas da Teoria do Skopos, sistematizada por Nord (2016), e
estudos sobre tradução audiovisual, principalmente os de Gambier (2004) e Díaz-
Cintas (2003; 2005). Isso orientou a análise sobre a situação de comunicação na
qual se insere a tradução e também uma visão a posteriori dos aspectos práticos de
criação e inserção das legendas e as escolhas em função dos elementos
socioculturais específicos do texto fonte.
O trabalho possui três capítulos, além da Introdução e das Considerações
Finais. No primeiro, apresenta-se a fundamentação teórica para a análise a
posteriori da tradução/legendagem de Le Procès Céline, com a discussão de
pressupostos das teorias do Skopos e da Tradução Audiovisual (TAV). No segundo
capítulo, apresenta-se o documentário em seus aspectos técnicos (equipe e período
de produção, contexto de exibição e difusão); formato (organização das entrevistas,
apresentação dos entrevistados, seleção de imagens, músicas, trechos de livros,
entre outros); biografia e produção literária de Louis-Ferdinand Céline; e o skopos da
legendagem, com suas motivações. O terceiro capítulo apresenta alguns excertos
com escolhas de tradução feitas na época, que exigiram soluções para além de uma
3
pretensa equivalência no texto alvo, bem como as estratégias encontradas para a
legendagem, em função de tempo, espaço e coerência com as imagens.
Com relação ao texto deste trabalho, mesmo entendendo a pesquisa
acadêmica como processo coletivo, fruto de contribuições variadas e nunca uma
atividade individual e isolada, optei pelo uso da primeira pessoa na sua
apresentação e dos impessoais no restante. Como realizei a tradução e legendagem
em um momento anterior e realizo sua análise neste trabalho, foi importante marcar
os dois momentos como distintos através das “duas vozes”.
O documentário Le Procès Céline com as legendas em português está
disponível como vídeo não listado em <https://youtu.be/icIJWlB3Lxo>, apenas como
parte integrante deste TCC.
Figura1. O tribunal.
Fonte: imagem do documentário Le Procès Céline (ARTE, 2011), captada em 00:26:41.
4
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: OLHANDO O PROCESSO DE
LEGENDAGEM A POSTERIORI
A tradução/legendagem do documentário Le Procès Céline, realizada em
2014, foi escolhida como objeto desta análise por conta dos desafios que a atividade
representou. Além disso, pela possibilidade de discutir e retomar a tradução como
um todo e algumas escolhas, feitas intuitivamente na época, à luz de uma visão
funcional.
No Prefácio da edição brasileira em português de Análise textual em
tradução: bases teóricas, métodos e aplicação didática, Christiane Nord (2016, p. 5)
cita o vivo interesse que seu livro continua suscitando, desde sua publicação em
1988. Este permanece relevante nas leituras de alunos de estudos de tradução, que
“se referem a este livro e não a qualquer outro que eu tenha escrito”. Este texto foi
fundamental1 para a análise da legendagem do documentário, permitindo chaves de
leitura mais sofisticadas e esclarecendo procedimentos na relação texto-contexto,
tendo em vista a coerência intratextual e a coerência intertextual. Assim, não se
entende a função do texto alvo a partir da análise do texto fonte, mas compreende-
se que essa função é pragmaticamente definida pelo propósito que levou à ação
tradutória (NORD, 2016, p. 30).
De acordo com Nord (2016, p. 22), na ação tradutória, há um iniciador que
contrata um tradutor, pois necessita que um texto alvo chegue a determinado
receptor. Este iniciador
desempenha um papel fundamental. Além de ser um indivíduo (a não ser que, evidentemente, o papel do iniciador seja feito pelo tradutor, o receptor do TA etc.), com suas próprias características pessoais, o iniciador é o fator que começa o processo e determina seu curso (NORD, 2016, p. 27).
No caso do documentário analisado, iniciador e tradutor eram a mesma
pessoa.
1 Publicada por Rafael Copetti Editor, a tradução brasileira em português de Análise textual em
tradução: bases teóricas, métodos e aplicação didática foi realizada por Hutan do Céu Almeida, Juliana de Abreu, Meta Elisabeth Zipser, Michelle de Abreu Aio e Silvana Ayub Polchlopek. A revisão final da tradução é de Meta Elisabeth Zipser e Juliana Abreu, que em 2017 ministraram a disciplina Pesquisa em Letras Estrangeiras, da qual fui aluna e que foi fundamental para as primeiras reflexões deste trabalho.
5
O tradutor deve saber qual é a função do texto que traduz na cultura-alvo, ou
seja, o skopos do texto alvo. Nesse sentido, o princípio orientador dos processos
tradutórios é a sua finalidade, a saber, as necessidades e expectativas dos
receptores, bem como as condições situacionais da tradução (por que se traduz e
para quem). A partir dessa teoria funcional da tradução, compreende-se que a
finalidade do texto alvo e a situação comunicativa na qual será produzido têm tanta
relevância para o tradutor quanto o texto-fonte. (REUILLARD; FURTADO, 2013).
Na legendagem de Le Procès Céline, para além dos aspectos biográficos do
autor e da possibilidade de discussões sobre história e literatura, observa-se que,
mesmo sem o conhecimento teórico a respeito da tradução, um dos principais
determinantes das escolhas tradutórias foi o público a quem se dirigiu a
legendagem.
Era um grupo que começou suas atividades em 2011, chamado NEHLIS, que
se reunia no espaço físico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sem
vinculação institucional. Contava com professores, alunos de história, letras,
sociologia, educação e também pesquisadores e pessoas interessadas sem ligação
com a universidade. Em suas reuniões semanais, depois quinzenais, se estudavam
as conexões entre história e literatura, levando em conta diferentes aspectos sociais,
políticos, culturais e econômicos, suas múltiplas expressões na sociedade, assim
como sua interação com outras linguagens. A maior parte não possuía
conhecimentos da língua francesa, e os conhecimentos que alguns integrantes
tinham do idioma não lhes permitia assistir a um documentário sem legendas em
português. Mesmo sem esse conhecimento linguístico, tratava-se de um grupo
familiarizado com o vocabulário da literatura, das ciências humanas e sociais. Logo,
o público do texto alvo não era o mesmo público do texto fonte, ainda que pudesse
haver alguma similaridade entre ambos.
Nesse sentido, Nord (2016, p. 26) aponta a importância de se ter em mente
que os textos podem existir “fora da sua situação original, podendo assim ser
aplicados a novas situações — um processo que pode mudar completamente sua
função ou suas funções. Uma dessas situações novas é a tradução”.
Produzido em francês, o texto fonte em questão se dirigiu primeiramente ao
público telespectador do canal franco-alemão ARTE, habituado a programas,
espetáculos, entrevistas e reportagens de cunho literário, artístico e cultural em
6
geral. O documentário foi realizado e veiculado em 2011, por ocasião dos 50 anos
da morte de Céline, quando houve reedições e leituras públicas de suas obras,
debates, redifusão de suas entrevistas, entre outros. Ou seja, a função deste texto
fonte (documentário) referia-se a um público, em menor ou maior escala já
familiarizado com o tema, o autor, suas obras e, claro, falante de francês (para a
difusão na Alemanha, houve voice over e algumas legendas).
Segundo Nord (2016, p. 136), quando se analisa a função do texto, a intenção
do emissor e as expectativas do receptor são “dimensões cruciais”, mesmo que
outros fatores também possam reduzi-la, como o emissor, o meio, o lugar, o tempo.
“As relações pragmáticas entre emissor, receptor, meio e motivo fornecem ao
tradutor uma série de pré-sinais que anunciam uma função especial, que será na
sequência confirmada ou descartada pela análise das características intratextuais”.
Assim como a relação qualitativa e quantitativa entre texto fonte e texto alvo
se dá em função do skopos da tradução em sentido amplo, definindo “elementos do
TF-em-situação que podem ser ‘preservados’ e os que podem, ou devem, ser
‘adaptados para a situação alvo” (NORD, 2016, p. 62), na tradução audiovisual
(TAV) ocorrem situações similares. A legendagem do documentário orientou um tipo
de tradução (oral à escrito) também muito relacionada às limitações da modalidade.
Nesse sentido, é possível pensar num diálogo entre a Teoria do Skopos e a TAV.
O pesquisador Yves Gambier afirma que a atividade é uma tradução seletiva
com adaptação, compensação e reformulação. Ele fala em tradaptação
(tradaptation), definindo-a como um conjunto de estratégias (explicitação,
condensação, paráfrase) e atividades, incluindo revisão e formatação. Para
Gambier, a TAV também é entendida como um todo, levando em conta os gêneros,
os estilos de filmes e programas, da mesma forma que os receptores em sua
diversidade sociocultural. A acessibilidade deve ser seu principal objetivo, levando
em conta a aceitabilidade, definida linguisticamente (escolhas linguísticas, retóricas,
terminológicas); a legibilidade, em termos de velocidade de exibição das legendas e
caracteres tipográficos; a sincronicidade, no caso da dublagem; a pertinência ou o
volume de informações a oferecer, omitir ou completar, para que não se aumente o
esforço cognitivo na escuta ou leitura; o estranhamento, definido em termos
culturais, ou seja, o limite do acolhimento de outras formas de narração, valores,
comportamentos, entre outros (GAMBIER, 2004, p. 4-9).
7
Nessa perspectiva, o texto fonte é adaptado em função dos receptores.
Porém, ele chama a atenção para dois entraves possíveis: o tradutor se conformar à
“mercantilização generalizada” da indústria cultural, com divisão de públicos em
categorias discriminatórias; e a tradução misturar-se à domesticação ou
naturalização de programas e filmes, manipulando-os para atender às preferências
dominantes, transmitindo o que é considerado “assimilável” como alteridade,
chegando ao limite de reforçar purismos linguísticos, censurar diálogos ou mesmo
modificar partes de uma intriga.
Gambier também aponta temas de interesse dentro da TAV que se firmam
desde o início dos anos 2000, como as dimensões multisemióticas, por conta da
complexidade tecida entre linguagem, imagem, música, sons, cores, ritmos, que
tornam a interdisciplinaridade inevitável; o lugar e a influência da TAV para além das
fronteiras nacionais e culturais, incluindo escolhas políticas; a expansão de
modalidades mais recentes de TAV, incluindo a áudio-descrição, a legendagem para
surdos e a legendagem para óperas e outros espetáculos teatrais; o perfil do público
que prefere a legendagem e o do público que opta pela dublagem, assim como os
problemas contextuais encontrados nessa última (palavrões, estereótipos, censura).
Para o autor, mesmo com o interesse sobre essas questões, outras têm
permanecido relegadas, como a formação do tradutor de audiovisual, competências,
problemas relativos a direitos intelectuais, os impactos da TAV sobre os estudos da
tradução, com relação a noções de texto, original, sentido, interpretação, normas
descritivas, equivalência, skopos, relação escrita e oralidade (GAMBIER, 2004, p.
11).
O que se percebe é que a TAV continua conquistando mais espaços. Para
Jorge Díaz-Cintas (2005, p. 320), “as universidades finalmente notaram que a TAV é
uma área de especialização em demanda por parte dos alunos, os quais estão
aderindo a ela com muito entusiasmo”, em função das possibilidades tecnológicas
(vídeo games, programas de legendagem grátis, fansubbing2, tecnologia digital, uso
de emoticons). Ele percebe cada vez mais acadêmicos, do mundo todo, dedicados à
TAV, porém, ainda trabalhando isoladamente, quando poderiam criar amplos
projetos coletivos de pesquisa com bons resultados. Também cita a existência de
estudos na área que adotam abordagens tradicionais, comparando texto fonte e
2 Fansubbing é a atividade de legendagem realizada por fãs, principalmente de séries e filmes, de
forma amadora e sem autorização dos canais exibidores. A palavra é a contração de fan e subtitling.
8
texto alvo em uma perspectiva linguística apenas; e estudos realizados por
pesquisadores que se debruçam na tradução de referentes culturais e na tradução
do humor.
Díaz-Cintas (2005, p. 316) acredita que temas abordados em outras áreas da
tradução devem integrar as discussões sobre a TAV, como por exemplo, “estudos
de corpora, a luta de poder entre os diferentes agentes no processo tradutório, a
manipulação consciente do texto alvo e as perspectivas pós-coloniais e de gênero”.
Dessa forma, abordagens linguísticas e abordagens culturais não seriam mais vistas
em oposição, mas de forma complementar. Assim como Nord e Gambier em seus
trabalhos específicos, o professor e pesquisador espanhol entende que “uma
perspectiva puramente linguística é claramente insuficiente” (DÍAZ-CINTAS, 2005, p.
316). Pode-se citar aqui, entre outras, a necessidade de uma prática de TAV que
leve em conta elementos mais complexos, como regionalismos, gírias ou expressões
ligadas a situações bem particulares, por conta de seu conteúdo histórico e cultural.
Para a legendagem do documentário Le Procès Céline, utilizou-se o Subtitle
Edit (SE), editor de legendas gratuito e de código aberto desenvolvido pelo
dinamarquês Nikolaj Lynge Olsson para criar, editar, ajustar ou sincronizar legendas
para vídeos. O SE possui mais de 200 tipos de formatos de legendas, sendo os mais
utilizados SubRip, Timed Text, SubStation Alpha, Micro DVD, SAMI, D-Cinema,
BdSub, em 29 idiomas. Para o documentário foi utilizado o formato SubRip (srt.),
com utilização de configurações-padrão, já mais ou menos definidas para a inclusão
das legendas.
Uma vez que o vídeo em questão é selecionado e aberto no editor, existem
indicadores de início de inserção de texto e sua duração. Além disso, o próprio editor
indica se a legenda na qual se trabalha contém linhas sobrecarregadas, que venham
a dificultar sua leitura. Essa indicação se dá a partir de cores aplicadas aos
caracteres: uma vez ultrapassados 38 caracteres com espaços numa mesma linha,
esses passam a ser apresentados em alaranjado. A partir de 44 caracteres com
espaços numa mesma linha, o texto da legenda aparece em vermelho. As linhas não
correspondem a frases inteiras, pois os indicadores se referem à legibilidade da
legenda. Assim, é possível “quebrar” as frases, ou seja, reparti-las em várias linhas –
não sendo indicadas mais de duas linhas por legenda.
9
Pode-se afirmar que um conhecimento mais aprofundado do SE e uma
exploração mais completa de suas possibilidades antes de iniciar a legendagem
imprimiriam muito mais qualidade aos resultados. Mas da mesma forma que na
tradução das falas e narração do documentário, na utilização do SE observa-se
também um trabalho com “ensaio e erro”, no qual se adquiria prática e se percebiam
as possibilidades à medida que a atividade era realizada.
Esses elementos também serão explorados nos capítulos a seguir.
10
Figura 2. Print screen com o Subtitle Edit (SE), indicando espaços de inserção de legendas,
marcações de início e término, tempo de exibição e frame do documentário.
Figura 3. A pesquisadora e profa. Anick Duraffour fala sobre Céline
Fonte: imagem do documentário Le Procès Céline (ARTE, 2011), captada em 00:28:54.
11
3. LE PROCÈS CÉLINE: ASSUNTO, FORMATO E SKOPOS DA
LEGENDAGEM
Para se compreender melhor o documentário Le Procès Céline, o motivo de
sua seleção para um debate sobre história e literatura e, principalmente, a retomada
de sua tradução e legendagem, é importante começar conhecendo o assunto que os
motivou, ou seja, o autor e seu contexto.
Louis-Ferdinand Céline é um dos escritores franceses mais traduzidos no
mundo. Nasceu em 1894 em Courbevoie, na região parisiense, como Louis
Ferdinand Destouches, numa família de pequenos comerciantes. Viveu até os 13
anos em Paris, depois foi aluno interno na Alemanha e na Inglaterra. De retorno à
França 1910, foi aprendiz numa chapelaria e numa joalheria. Como a perspectiva de
tornar-se comerciante como os pais não o agradasse, alistou-se no exército em
1912, integrando a cavalaria. Foi voluntário na Primeira Guerra Mundial, chegando
ao posto de marechal-de-logis (sargento). Ferido no início do conflito, foi
condecorado e reenviado da linha de frente ainda em 1914.
A experiência nas trincheiras marcou-o para sempre: “Das semanas de 14
sob os aguaceiros viscosos, nessa lama atroz e nesse sangue e nessa merda e
nessa asneira dos homens, eu não vou me recuperar”3 (CÉLINE [1930], apud
PEDRAZZINI, 2013, p. 4). A descrição que o historiador inglês Eric Hobsbawm fez
do conflito vai ao encontro das experiências do escritor:
[...] uma máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história da guerra. Milhões de homens ficavam uns diante dos outros nos parapeitos de trincheiras barricadas com sacos de areia, sob as quais viviam como – e com – ratos e piolhos. [...] Dias e mesmo semanas de incessante bombardeio de artilharia [...] “amaciavam” o inimigo e o mandavam para baixo da terra, até que no momento certo levas de homens saíam por cima do parapeito, geralmente protegidos por rolos e teias de arame farpado, para a “terra de ninguém”, um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvores calcinadas, lama e cadáveres abandonados, e avançavam sobre as metralhadoras que os ceifavam, como eles sabiam que aconteceria. (HOSBABWM, 1995, p. 33)
3 Céline escreve a Joseph Garcin, em 1930 : Des semaines de 14 sous les averses visqueuses, dans
cette boue atroce et ce sang et cette merde et cette connerie des hommes, je ne me remettrai pas (tradução minha). As demais informações biográficas sobre o autor foram retiradas do documentário Le Procès Céline; da Encyclopédie Larousse (verbete Louis Ferdinand Destouches, dit Louis-Ferdinand Céline); e de La série documentaire de France Culture – Louis-Ferdinand Céline, citados em detalhe nas referências.
12
Reformado ainda durante a guerra, Céline parte aos Camarões, onde
administra uma grande propriedade agrícola francesa. De retorno à França ao fim do
conflito, casa-se, tem uma filha e inicia os estudos de medicina, terminados em
1924, com a defesa de uma tese higienista (La vie et l'oeuvre de Philippe-Ignace
Semmelweis/ A vida e a obra de Philippe-Ignace Semmelweis). O resultado das
eleições legislativas nesse ano o revoltam, pois uma aliança entre os socialistas e os
comunistas consegue eleger a maioria no parlamento. É o período em que ele
começa a construir uma imagem de si como “filho do povo”, trabalhador, “médico
dos pobres”. Tenta publicar uma peça de teatro, L’Église (A Igreja), assim como sua
tese médica. Ambas são recusadas pela editora Gallimard, uma das mais
importantes e influentes casas de edição francesas no século XX, pois são
consideradas violentas e panfletárias do antissemitismo. Ele escreve
constantemente aos jornais, os quais publicam trechos de seus textos e também
suas opiniões.
Em cartas a amigos próximos, define a si próprio como “um fenômeno” e a
crítica literária, como ambígua. Então, se faz de fanfarrão, bravateia, provoca,
inventa, aguardando sua vez de ser incensado. Isso ocorre em 1932, quando a
editora Denoël publica Voyage au bout de la nuit (Viagem ao fim da noite). Mesmo
indicado, não recebe o Prêmio Goncourt. Recebe o Prêmio Renaudot e ocupa as
páginas literárias dos maiores jornais franceses, em resenhas e elogios vindos de
autores consagrados. Céline se torna conhecido e reconhecido. Seu livro é narrado
pelo personagem principal, Bardamu. Assim como o autor, o personagem foi um
poilu (peludo), ou seja, soldado na Primeira Guerra (1914-8), se aventurou na África,
esteve nos Estados Unidos e, de volta à França, terminou os estudos de medicina e
se consagrou às pessoas dos subúrbios pobres de Paris. Num tom cínico, niilista,
misantropo e com um humor corrosivo, Céline/Bardamu reforça seu pacifismo, o
anticapitalismo, o anarquismo e o anticolonialismo. Assim como seu personagem, o
autor “persegue a verdade”, para ele biológica, inscrita nos corpos humanos. O
futuro é o apodrecimento desses corpos, a evolução da doença e do vício. Após a
Primeira Guerra, a fisiologia como parte da caracterização dos personagens
literários está presente em toda a literatura ocidental, assim como a concepção da
sociedade como um organismo.
13
Cenários prosaicos figuraram como meio privilegiado para o desenvolvimento das narrativas, apresentando também o que poderia haver de miserável, sujo, repugnante até. Elementos como doença, sensações e deformações físicas, sangue, pruridos em geral e corpos mutilados participaram da caracterização do meio e dos personagens não apenas como dados de uma descrição, mas também como metáforas para o que de pior havia no mundo. (RODRIGUES, 2009, p. 117)
Os pressupostos do higienismo e da eugenia estavam na ordem do dia. A
eugenia, entendida como a “higiene da raça”, foi teorizada na Inglaterra do século
XIX e ficou para sempre colada à ascensão do nazismo e seus infames campos de
extermínio. Mas até a década de 1930, tinha vários sentidos, e muitos de seus
defensores foram ativistas da justiça social. Na América Latina, era sinônimo de
saúde e higiene, por exemplo. Na França, estava associada à medicina social e ao
saneamento (STEPAN, 2005). Certamente o viés racista também integrava o
entendimento sobre a eugenia, e muitos foram os médicos a preconizá-la nesse
sentido. Céline foi um deles, associando o racismo à crítica da injustiça social
aprofundada pelo capitalismo.
Outra característica da narrativa de Céline é o trabalho com a língua, de
maneira a soar como o linguajar das ruas transposto diretamente para o texto
literário, o que não é exatamente o caso. Há um trabalho sobre as expressões e
gírias para que soem “naturais” e “populares”. Como explica a tradutora Rosa Freire
d’Aguiar (2009, p. 6), “era comum que ele esticasse uma frase com interjeições e
expletivos só para reforçar sua oralidade.” Céline imprime um efeito de real em suas
descrições e diálogos, ou seja, o leitor tem uma experiência intensificada do real
também em função das descrições físicas dos personagens e do meio –
características peculiares, evolução de doenças, sujeira, miséria.
Após Voyage..., ele publica Mort à crédit (Morte a crédito, 1936), também com
Bardamu servindo de narrador. Desta vez, o livro traz a experiência do personagem
na Primeira Guerra e, em retrospecto, suas infância e adolescência, misturadas às
próprias experiências de Céline (pais comerciantes, o cotidiano nas passages e suas
variadas butiques, a vivência escolar, as férias, até o alistamento e os fatos
traumáticos no front e após o fim do conflito). A crítica recebeu mal este segundo
livro, no qual o trabalho com a linguagem se intensificou, quase transformando a
própria narrativa em personagem, e no qual a denúncia social aparece mais
14
matizada, entrelaçada à memória. Publica Mea Culpa (1936) e, em seguida, os
textos que ficaram conhecidos como os três panfletos: Bagatelles pour un massacre
(Bagatelas para um massacre, 1936), L’École des cadavres (Escola de Cadáveres,
1938) e Beaux Draps (Belos Panos4, 1941). Nestes, o autor critica comunistas,
nazistas, nacionalistas, socialdemocratas e a própria democracia ocidental.
Constante nos três textos é o ódio dirigido contra os judeus que, para Céline, são
todos os que forem passíveis de sua crítica, não apenas as pessoas com
ascendência judaica. Nos panfletos, judeu transforma-se em insulto, sendo utilizado
para avaliar pessoas, ações políticas ou expressões artísticas. Assim, um escritor de
quem ele desgostasse por conta do estilo, por exemplo, recebia a pecha de “judeu”.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e a ocupação nazista da
França (1940-4), Céline colaborou com os alemães, mesmo que desprezasse Hitler,
Pétain (o marechal francês à frente do governo de Vichy, alinhado aos nazistas) e
outros dirigentes. Teve uma vida tranquila no período, ao lado da bailarina Lucette
Almanzor, incensado por colaboracionistas (les colabos) e uma intelectualidade
reacionária que ele menosprezava, mas da qual se aproveitava. Chegou a denunciar
algumas pessoas, o que podia ter lhes valido a prisão ou a perda de empregos.
Assim que a lei proibindo judeus em postos públicos e de direção passou a vigorar
na França, ele denunciou às autoridades o médico-chefe do dispensário em que
trabalhava, buscando obter o cargo para si.
Em 1944, pressentindo a derrota alemã pelos aliados, Céline e Lucette
Almanzor fogem para a Alemanha, evitando a prisão e a morte. Mesmo foragido, ele
é condenado na França por Indignité Nationale (indignidade nacional), o que lhe
retirava o direito ao voto, de ser eleito, à aposentadoria, entre outros. O casal se
refugia, então, na Dinamarca, onde Céline cumpre um ano e meio de prisão e depois
retornam à França no fim da década de 1940. Julgado por suas ações
colaboracionistas, teve metade de seus bens confiscados e foi absolvido. Mesmo
assim, artistas, jornalistas e intelectuais continuam a condená-lo moralmente,
evitando que ele seja indicado a prêmios, desprezando suas novas publicações5,
4 Há algumas versões em português para o título: Os belos panos, Bonitos os panos, Belos panos.
Encontrei-as online, citadas em críticas literárias e páginas de jornais, sem referência a editoras ou tradutores. Seja como for, creio que o título faça referência a uma expressão: drap em francês é lençol, e a expressão dans de beaux draps (“em belos lençóis”) refere-se a uma situação complicada. Pode-se pensar na expressão em maus lençóis. 5 Guignol’s Band (1944), Casse-Pipe (1949), Féerie pour une autre fois (1952), Normance (Féerie II)
1954, Entretiens avec le Professeur Y (1955), D'un château l'autre, (1957/ De castelo em castelo,
15
Fonte: ARTE Boutique. <boutique. arte.tv/detail/louis_ferdinand_celine>
enfim, condenando-o ao ostracismo. Até 1961, ano de sua morte, Céline buscou
retomar seu lugar entre os literatos franceses.
Mesmo excluído dos círculos oficiais, por conta da baixeza de suas atitudes e
engajamentos, ele continua sendo lido e elogiado, influenciando escritoras e
escritores de diferentes gerações. Esses pontos polêmicos são o fio condutor de Le
Procès Céline.
Figura 4. Capa do DVD do documentário Le Procès Céline, do Canal ARTE (2011).
1968), Nord (1960/ Norte, 1972), Guignol's band II (1964), Rigodon (1969). Quando voltou à França, o próprio Céline proibiu que seus chamados quatro panfletos fossem republicados (mesmo que houvesse exemplares em bibliotecas). Ao final de 2017, a editora Gallimard, que detém atualmente os direitos de publicação na França, anunciou a reedição desses textos, mas desistiu dela no início de 2018, por conta da polêmica causada pelo anúncio. Há uma publicação quebequense, Écrits Polémiques de Céline (Huit, 2012), que inclui os panfletos. A publicação foi autorizada por Lucette Destouches, viúva do escritor, hoje (novembro de 2018) com 106 anos.
16
O documentário foi escrito por Alain Moreau e dirigido por Antoine de Meaux6,
com realização da produtora francesa Program33 e difusão do canal franco-alemão
ARTE em 17 de outubro de 2011. Possui 55 minutos de duração, é narrado em
língua francesa, com depoimentos, análises, imagens de arquivo e entrevistas
igualmente em francês.
Seu formato lembra um julgamento, com cenas em uma sala de júri vazia e
entrevistados participando como se dessem depoimentos nesse julgamento. Fotos,
filmes e objetos são apresentados como se fossem provas. Trechos dos livros,
panfletos e cartas de Céline são lidos em off, com encenações de marionetes
(guignols), provavelmente em referência a seu livro Guignol’s Band. Apesar do
formato, Le Procès Céline não se propõe a “inocentar” ou “condenar” o autor por
suas escolhas pessoais, mas a compreender o século XX e como a literatura o
abordou. Nesse sentido, também busca entender o contexto da ocupação nazista na
França (1940-4) e também o anterior, nos quais ideias racistas eram discutidas
abertamente, notadamente o antissemitismo, acentuado no país desde o século XIX
(o caso Dreyfus é um dos exemplos mais flagrantes).
Com essas informações, quer-se mostrar que, Céline não foi o único a pensar
e agir dessa forma na França durante a guerra, mas, por ser conhecido e pela
difusão de suas ideias, foi julgado e serviu de exemplo, como vários outros,
enquanto muitos na mesma situação passaram incólumes. O documentário também
busca perceber a originalidade das criações literárias do autor, tanto em termos de
linguagem quanto em termos da construção de temas, pois são elementos que
geraram e fixaram uma possibilidade de expressão na literatura do século XX. Da
mesma forma, Le Procès Céline permite mostrar como os diversos momentos de
uma existência podem alimentar a literatura, sem que se confundam.
Os entrevistados são identificados pelo nome e profissão, quando se trata de
pesquisadores, historiadores, biógrafos, escritores, ou nome e o tipo de relação e
contato que tiveram com Céline até 1961 (ano da morte do autor). Assim, a não ser
que se conheça previamente os participantes, não se sabe a priori se são críticos do
autor ou admiradores de suas obras. Isso se depreende de suas falas durante o
documentário. Os participantes são Annick Durafour, Dominique Pinson, Émile
6 Antoine de Meaux nasceu em Lyon (1972), é escritor (Mémoire cavalière, 2007; Le Fleuve guillotine,
2015), roteirista e diretor de filmes e documentários para a televisão. Alain Moreau é ator, produtor, diretor, cenarista e diretor de fotografia, engenheiro de som, em cinema e televisão.
17
Brami, Emmanuèle Amiot Pinson, François Gibault, Frédéric Vitoux, Henri Godard,
Madeleine Chapsal, Marc-Edouard Nabe, Pascal Ory, Pierre Assouline, Pierre-André
Taguieff, Philippe Alméras, Philippe Sollers, Serge Klarsfeld, Serge Perrault,
Stéphane Zagdanski e Yves Pagès.
Trechos de entrevistas com o próprio Céline, feitas para a televisão francesa
nos anos 1950-60, ocupam uma parte do documentário, que também traz uma das
duas músicas compostas pelo autor na década de 1930 e gravadas por ele próprio
em 1955 (Le nœud coullant e Règlement).
O documentário também trata de questões relativas à literatura, ao
engajamento político de artistas e à história da primeira metade do século XX. Por
isso, como já mencionado, foi escolhido para uma das discussões no Núcleo de
Estudos História, Literatura e Sociedade (NEHLIS). Cada uma das discussões do
grupo organizava-se a partir da leitura de um texto literário específico e de textos
teóricos, para um debate posterior. Em alguns momentos, contou também com a
apresentação de determinada obra por professores de literatura, assim como a
discussão sobre filmes. Le Procès Céline foi o único documentário apresentado, cuja
exibição foi sugerida em uma das reuniões. Assim, juntamente com a legendagem,
as escolhas tradutórias se fizeram em função desses interesses e do perfil do grupo.
18
4. ANÁLISE DE ALGUNS EXCERTOS DA LEGENDAGEM
Este capítulo é mais extenso, pois apresenta e examina algumas escolhas
tradutórias à luz dos pressupostos discutidos anteriormente, principalmente com
relação ao skopos da tradução e à TAV.
Para a tradução e a legendagem em português de Le Procès Céline, o
documentário foi assistido três vezes, nas quais foram anotadas as expressões e
palavras mais difíceis a serem entendidas, além daquelas mais exigentes para a
tradução. Em seguida, iniciou-se a transcrição do áudio e a tradução propriamente
dita. A legendagem se deu de maneiras diferentes, em função do texto a ser
traduzido e das especificações técnicas do programa utilizado. Em alguns
momentos, foi realizada simultaneamente com a tradução, quando se tratava de
frases consideradas sem maiores problemas semânticos ou gramaticais.
A tradução dos períodos mais complexos foi feita mais lentamente,
demandando pesquisas e o registro de versões com diferentes possibilidades. Em
seguida, essas eram testadas no editor de legendas, em função de espaço, tempo,
informações que pudessem ser suprimidas, acrescentadas, simplificadas ou
adaptadas. Algumas dúvidas foram sanadas pela escuta repetida de determinados
trechos. Outras, pela pesquisa sobre determinado assunto ou período, na qual eram
esclarecidos termos que haviam passado despercebidos ou mesmo que não tinham
sido compreendidos anteriormente.
Houve consultas a um locutor francês sobre determinadas expressões, o que
possibilitou que alguns erros de tradução fossem assinalados e corrigidos antes da
exibição do documentário. Isso aconteceu quando, na descrição das atividades de
Céline no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial (1914-8),
compreendeu-se que ele servira num cuirassé, ou seja, num encouraçado. Em
pesquisas sobre a biografia do autor, a informação parecia confirmar-se. Como este
tipo de navio de guerra blindado foi utilizado no período, aparentemente não havia
contradições nos dados, logo, a primeira versão de uma legenda do documentário
informava que Céline havia servido num encouraçado. Na verdade, ele fora
cuirrasier, ou seja, couraceiro, um soldado da cavalaria que portava uma cuirasse
(couraça), espécie de colete de metal que cobria o peito e as costas. Somente a
19
escuta da informação e depois a pesquisa de dados não foram suficientes para
detectar o erro.
No decorrer do documentário, são apresentados trechos de livros, panfletos e
entrevistas na imprensa escrita de autoria de Céline. Estes foram traduzidos para as
legendas de maneiras diferentes. Para os trechos de Voyage au bout de la nuit
(Viagem ao fim da noite), o áudio foi comparado à tradução de Rosa Freire d’ Aguiar
para a Companhia das Letras (2009) e adaptado por conta do espaço das legendas
e seu tempo de exibição, para que pudessem ser sincronizadas e lidas facilmente.
Para trechos de Morte a crédito (Mort à crédit), a tradução disponível foi a de Vera
de Azambuja Harvey e Maria Arminda de Souza-Aguiar, da Editora Nova Fronteira
(1982). Nesta comparação, houve mais propostas diferentes para a tradução em
português, não apenas para adaptação do texto ao espaço das legendas, mas
porque foram percebidos outros sentidos não presentes na edição em questão. Os
trechos de panfletos não publicados no Brasil foram traduzidos diretamente do
documentário. Alguns dos panfletos estão disponíveis na internet em traduções
portuguesas não profissionais, mas que permitiram comparações com o texto
traduzido para o português brasileiro.
Neste ponto, é interessante retomar algumas proposições de Christiane Nord
(2016, p. 51) relativas a uma pretensa reprodução fiel da totalidade de elementos do
texto fonte que a tradução deveria buscar. Ela alerta que, em muitos casos, até
linguistas e críticos literários sustentam essa ideia, referindo-se a equivalência. E
sublinha que equivalência deve significar a maior correspondência possível entre
texto fonte e texto alvo, mas que a “equação pouco aprofundada da tradução e
equivalência parece ser responsável pelos eternos debates acerca da fidelidade ou
da liberdade na tradução, debates esses que não nos têm levado a lugar nenhum.”
De volta a Le Procès Céline, o documentário também apresenta fatos
históricos e trechos de periódicos do início do século XX, como L’Illustré National,
Aujourd’hui, Je suis partout. Existem uma voz narradora para o documentário e outra
para os trechos dos livros Viagem ao fim da noite, Morte a Crédito, Bagatelas para
um massacre, Guignol’s Band, De um castelo a outro. Há também os depoimentos
de pesquisadores, biógrafos, escritores e pessoas que conviveram com o autor. Em
alguns casos, percebe-se que o volume de informações de determinada fala ou da
narração do documentário foi reduzido na tradução, pois sobrecarregavam o espaço
20
possível da legenda ou dificultavam a leitura e a sincronização. Ou seja, trata-se
aqui de um aspecto da tradução funcional.
Nesse sentido, ao analisar a tradução e a legendagem, Sabine Gorovitz
aponta que há uma “redução significativa dos elementos semânticos”, pois:
O tradutor, pelas limitações técnicas impostas, deve resumir e sintetizar ao máximo o diálogo, tentando produzir uma mensagem curta e clara e tendo unidade semântica. Essas restrições são condicionadas pelas necessidades do olho físico em relação ao tempo de leitura. Assim, a mensagem deve estar contida em, no máximo, duas linhas de até 56 caracteres. A posição da legenda, a fonte utilizada, a cor, o tempo de exposição, a escolha de palavras facilmente apreensíveis devem respeitar regras rígidas e, assim, limitam a liberdade do tradutor (GOROVITZ, 2006, p. 65-6).
Outra questão importante para a compreensão a posteriori das escolhas de
tradução e legendagem para Le Procès Céline pode ser encontrada nas discussões
de Nord (2014, p. 330). Trata-se do conhecimento sobre as culturas nas quais se
inserem o texto fonte, o texto alvo e o público deste último. Quando o tradutor se
depara com convenções culturais, uma boa estratégia para lidar com a língua-alvo é,
segundo a pesquisadora, atentar para as convenções culturais, não linguísticas.
Outros definidores dos textos finais da legendagem foram o programa de
edição SE e a leitura das legendas na tela à medida que ficavam prontas. Estas
serviram como balizas para as modificações do texto. Por exemplo, entre duas
versões para uma mesma frase, a escolha se dava em função do tempo de
exposição da legenda para determinado frame. Se o texto da legenda se referia a
uma imagem específica, como uma fotografia, era necessário que o tempo de
exposição do texto acompanhasse essa imagem, caso contrário a compreensão da
ideia ficaria comprometida para o público do texto alvo. Isso reforça a importância
dessas questões na legendagem do documentário.
A seguir, apresentam-se algumas dessas escolhas, dispostas em quadros
que contêm o texto fonte e sua localização temporal no documentário; a tradução
integral desse texto fonte, muitas vezes literal; e o texto final que aparece nas
legendas. É possível perceber, para além das questões de espaço da legendagem,
que a tradução privilegiou o público do texto alvo e suas expectativas, que eram
diversas daquelas do público do texto fonte.
Por exemplo, com relação a essas informações:
21
Quadro 1 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:39 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:10:39
Décoré de la Médaille Militaire et de la Croix de Guerre, puis reformé.
Condecorado com a Medalha Militar e a Cruz de Guerra e, em seguida, reformado.
Condecorado e depois reformado.
Nesta frase, a tradução priorizou as duas informações principais sobre a
participação de Céline na Primeira Guerra Mundial: ele foi condecorado e em
seguida reformado. A especificação das condecorações (a primeira, do século XIX,
concedida a soldados e suboficiais por bravura, assim como a segunda, instituída na
Primeira Guerra) não foi considerada essencial para a compressão desse contexto.
A informação “condecorado” traz subentendida a ideia de alguma ação de destaque,
de merecimento. Foi o dado escolhido também por conta das limitações de tempo, já
que o texto acompanha uma fotografia do autor, em 1915, fardado e condecorado.
Outro exemplo é a fala do escritor Stéphane Zagdansky:
Quadro 2 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:17:21 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:17:21
Et, ça il ne dit pas, mais en effet, on peut faire un parallèle étonnant, c’est que lui-même, il va, d’une certaine manière, parce qu’humainement c’est un maladroit et parce qu’il a besoin de se mettre en transe, s’inoculer la fièvre antisémite.
E, isso ele não diz, mas realmente, podemos fazer um paralelo espantoso, é que ele mesmo, ele vai, de certa maneira – é humanamente desastrado e porque precisa entrar em transe – se inocular a febre antissemita.
Ele não diz, mas podemos traçar um paralelo espantoso
Pois Céline, um desajeitado que precisa se colocar em transe Vai se inocular a febre antissemita
O enunciado apresentado acima traz marcas da oralidade, como repetições e
apostos. A tradução trouxe para a legenda a ideia de um “paralelo espantoso” entre
o antissemitismo de Céline e um higienista acidentalmente inoculado com a doença
que estudava. Assim, as frases foram estrategicamente simplificadas, para caber
nas três legendas correspondentes ao período em que o entrevistado fala.
Da mesma forma, a explicação do historiador Pascal Ory também sofreu
reduções:
22
Quadro 3 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:24:36 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:24:36
La gauche n’a pas vraiment des préoccupations stylistiques dans cette affaire. Elle considère, au moment même où elle prend de plus en plus au sérieux, la proximité d’arriver au pouvoir, où il y a rapprochement entre les socialistes, les communistes, voire les radicaux, des choses incroyables cinq ans auparavant… Céline reste indecrottablement noirâtre, désespérant. Il désespère Billancourt, Meudon et Courbevoie.
A esquerda não tem, verdadeiramente, preocupações estilísticas neste caso. Ela considera, no mesmo momento em que leva cada vez mais a sério, a proximidade de chegar ao poder, em que há uma aproximação entre os socialistas, os comunistas e mesmo os radicais, coisas inacreditáveis cinco anos antes... Céline permanece incorrigivelmente sombrio, desesperador. Ele desespera Billancourt, Meudon e Courbevoie.
A preocupação da esquerda não é estilística nesse caso. Ela leva a sério a possibilidade de chegar ao poder Há uma aproximação entre socialistas, comunistas, radicais Coisas impensáveis antes E Céline continua incorrigivelmente sombrio, desesperador.
Distribuída em cinco frases curtas no texto alvo, percebe-se que a fala no
texto fonte é longa, com muitos adjetivos e informações socioculturais que não são
evidentes ao público desse texto alvo, pois se referem a detalhes da vida política da
França nos anos 1930. É o caso da referência a Billancourt, Meudon e Courbevoie,
cidades em torno de Paris. Billancourt e Courbevoie fazem pensar no grande
número de operários que ali habitava na década de 1930 e mesmo em movimentos
sociais e sindicais. Mas não é o caso de Meudon. Em comum, há o fato de as três
cidades pertencerem ao departamento de Hauts-de-Seine. Certamente há outros
fatores que as ligam e as fazem ser citadas pelo historiador no documentário. Mas
essas informações não aparecem na tradução, o que não comprometeu o sentido e
o entendimento da fala do pesquisador. De acordo com Nord (2016, p. 101)
O background comunicativo do público, ou seja, toda a sua bagagem de conhecimentos de disciplinas e assuntos específicos, é de especial importância para a análise textual orientada para a tradução. De acordo com sua avaliação da bagagem do público, um autor não só seleciona os elementos particulares do código que será utilizado no texto como também corta ou omite todos os detalhes que podem, “supostamente”, ser conhecidos pelo receptor, ao mesmo tempo em que sublinha outros (ou mesmo apresenta-os com informações adicionais) de forma a não esperar demais (nem muito pouco) do público leitor.
23
Por outro lado, houve momentos nos quais foram acrescentadas algumas
(poucas) informações no texto alvo, para caracterizar melhor as afirmações dos
entrevistados e orientar a compreensão de determinados sentidos. Foi o caso desta
passagem:
Quadro 4 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:09:30 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:09:30
Parce que son père, de temps en temps, signe avec la particule, donc, il s’appelle Des Touches
Porque o pai, de tempos em tempos, assina com a partícula, assim, ele se chama Des Touches.
Pois o sr. Destouches, o pai Às vezes assina com a partícula “Des” Assina “Des Touches”
A “partícula” a que se refere o escritor François Gibault é o de ou o des dos
sobrenomes franceses que indicam uma origem aristocrática. Muitos foram
incorporados aos sobrenomes durante a Revolução Francesa, para encobrir ou
rebaixar essa origem. Assim, o pai de Céline (cujo verdadeiro sobrenome era
Destouches), assinava Des Touches para enobrecer o próprio nome.
A mesma questão aparece em outro momento:
Quadro 5 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:37:52 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:37:52
Et donc, on ira chercher quelqu’un qui est tout aussi vulgaire, mais qui a une particule, lui, qui s’appelle Darquier de Pellepoix.
E então, vão procurar alguém tão vulgar quanto, mas que tem uma partícula, ele, que se chama Darquier de Pellepoix.
Então, vão buscar alguém tão vulgar quanto Mas com “estirpe”: Darquier de Pellepoix
Neste caso, o termo “partícula” foi traduzido como “estirpe”, pois o que o
biógrafo Émile Brami quis sublinhar foi o fato de as origens aristocráticas terem
influenciado a escolha de Darquier de Pellepoix para um determinado cargo, mesmo
que ele fosse vulgar (tão vulgar quanto Céline, que foi preterido para o mesmo
cargo). Mais uma vez, para o público do texto fonte, o termo “partícula” dá conta do
sentido, mas isso não ocorreria com o público do texto alvo.
24
Essa carga cultural de determinadas palavras também determinou o
acréscimo de termos para orientar o sentido de algumas afirmações, como esta a
seguir:
Quadro 6 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:48:52 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:48:52
Or, comme il est antisémite, il ne dit pas “j’étais fait pour m’entendre avec les juifs”, il dit “j’étais fait pour m’entendre avec les ‘youtres’.”
Ora, como ele é antissemita, ele não diz “eu fui feito para me entender com os judeus”, ele diz “eu fui feito para me entender com os ‘youtres’.”
Ele não diz: “Fui feito para me entender com os judeus” Como é antissemita, ele usa o pejorativo “youtre”.
A explicação, também de Zagdansky, foi simplificada para a legendagem e
adaptada, indicando que o termo youtre é um pejorativo para designar judeu. A
indicação não aparece no documentário, mas trata-se de uma gíria racista, utilizada
na França entre o final do século XIX e o início do século XX, com mais força
durante a Segunda Guerra. O termo pejorativo foi então inserido para que o sentido
ficasse claro, já que se relaciona à condição antissemita de Céline.
Da mesma forma, houve acréscimo de informações nesta passagem:
Quadro 7 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:50:51 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:50:51
Brasillach, on le pardonne, parce qu’il a payé
Brasillach, nós o perdoamos, porque ele pagou
Perdoamos Brasillach porque ele pagou (fuzilado em 45)
No contexto em que se insere a frase acima, François Gibault explica que o
fato de Céline ter sido absolvido da acusação de colaborar com os nazistas gerou
mal-estar em parte da opinião pública, que não o perdoou. O entrevistado cita,
então, outros autores que “pagaram” pelo mesmo motivo, como o escritor e jornalista
Robert Brasillach. Ligado à extrema-direita, anticomunista e simpatizante do
nazismo, foi preso em 1944 e condenado à morte. Apesar de suas posições, vários
escritores e intelectuais fizeram uma petição contra sua condenação (entre eles,
Paul Valéry, Paul Claudel, François Mauriac, Albert Camus, Marcel Aymé, Jean
25
Cocteau, Colette, Jean Anouilh, Jean-Louis Barrault), mas o general De Gaulle não
concedeu o perdão. Brasillach então “pagou pelo crime”, aos 35 anos, tendo sido
fuzilado.
O público do texto fonte provavelmente identifica mais facilmente essas
informações sem a necessidade de mais explicações. Mas para quem não conhece
a história da Épuration (depuração) pós-guerra na França e todas as suas
contradições, a frase “Perdoamos Brasillach porque ele pagou” não explica o que
aconteceu. A inserção da informação “(fuzilado em 45)” veio nesse sentido, visando
o público do texto alvo. Além disso, a tradução aproveitou a possibilidade de uma
frase curta na legenda, que não ultrapassava o número ideal de caracteres. Para o
debate no qual o documentário se inseria (relação história e literatura, escritores e
escolhas pessoais), o dado era importante.
O mesmo procedimento de acréscimo de informação ocorreu na passagem
sobre o soldado cuirassier, citado no início do capítulo:
Quadro 8 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:23 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:10:23
… le jeune Louis s’engage, à 19 ans, dans les cuirassiers
... o jovem Louis se engaja, aos 19 anos, nos couraceiros
O jovem Louis se alista aos 19 anos como couraceiro (na cavalaria)
Aqui, além do acréscimo de informação (na cavalaria), a expressão “se
engaja” foi substituída por “se alista”, para frisar o sentido deste engajamento.
Houve situações nas quais não foi possível um acréscimo de informações
para garantir o sentido pretendido no texto fonte, por conta das questões culturais,
mas principalmente por conta de questões históricas. Por exemplo:
Quadro 9 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:10:31 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:10:31
Volontaire dans une mission, le maréchal des logis Destouches …
Voluntário numa missão, o “marechal des logis”...
Voluntário numa missão, o sargento Destouches...
O posto “marechal de logis” designava um suboficial do Exército francês
durante a Primeira Guerra Mundial. Foi substituído pela patente de sargento
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(sergent), como no similar brasileiro. A tradução atualizou o termo, sem prejuízo do
sentido do texto fonte.
Na passagem seguinte, a tradução baseou-se em uma solução similar:
Quadro 10 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:13:35 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto das legendas
00:13:35
Les histoires, il y en a plein dans la rue, n’est-ce pas ? Je vois partout, des histoires. Plein aux commissariats, plein dans les correctionnelles
As histórias, há muitas na rua, não é? Eu vejo por toda parte, histórias. Está cheio [delas] nos comissariados, cheio nas correcionais
Histórias, há muitas na rua. Vejo histórias por toda parte. Delegacias estão repletas, tribunais estão repletos.
As frases acima são ditas por Céline durante uma entrevista para a televisão
(1960). Nas legendas, algumas marcas da oralidade desapareceram, como no caso
de repetições, e a ordem das frases foi invertida, para que ficassem mais diretas e
acessíveis em uma leitura mais rápida. No caso do termo correctionelles
(correcionais), variante antiga para tribunals correctionnels (tribunais correcionais), a
tradução conservou somente tribunais.
Em outros momentos, gírias e expressões idiomáticas exigiram soluções
específicas para a tradução. É importante destacar que:
Para a legendagem, talvez o problema linguístico mais intimidante seja a falta de correspondente para uma expressão na língua-alvo. A paráfrase, recurso ao qual o tradutor pode recorrer no caso da tradução de texto escrito, pode não caber no tempo e espaço correspondente à legenda, exigindo do tradutor um esforço de síntese ou uma reformulação completa da frase. Os problemas próprios do texto a ser traduzido citados por Nord são as figuras de retórica, os neologismos e os jogos de palavras. Também representam um problema para a legendagem e exigem do tradutor o mesmo esforço e criatividade exigidos por uma tradução de texto escrito. (REUILLARD, FURTADO, 2013 )
Por exemplo:
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Quadro 11 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:04:43 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:04:43
Ou il se paye notre tête…
“Ou ele se paga nossa cabeça” (tradução literal)
Ou ele está curtindo com a nossa cara...
A expressão se paye notre tête, utilizada nesta frase por um dos entrevistados
no documentário, exigiu uma tradução que desse conta da informação e de sua
informalidade. Se payer la tête de quelqu’un quer dizer debochar de alguém. Por
isso, optou-se pela expressão curtindo com a nossa cara.
Vejamos o seguinte exemplo:
Quadro 12 – Comparação entre trecho de Le Procès Céline (texto fonte), sua tradução integral e o texto alvo que figura na legenda aos 00:11:01 do documentário
Tempo
Texto fonte Tradução integral Texto da legenda
00:11:01
Il ne pense pas que c’est la Der des ders
Ele não pensa que é a “última das últimas”
Ele não pensa que aquela foi a última das guerras
A expressão la Der des ders está ligada ao contexto histórico francês da
Primeira Guerra Mundial. O horror foi tamanho que as pessoas se referiam ao
conflito como La Der des Ders, simplificação de la dernière des dernières, desejando
que aquela tivesse sido a última das últimas guerras. Na legenda, a solução foi a
expressão “a última das guerras”, principalmente por conta da velocidade de fala do
entrevistado e o pouco tempo para a exibição da informação combinada com o
frame da imagem do entrevistado.
Em todos os casos apontados, as substituições, reduções ou acréscimos
buscaram preservar o sentido das palavras dos entrevistados e do roteirista do
documentário. Ao mesmo tempo, o público do texto alvo orientou as escolhas, que
não foram simplificações, mas soluções que também preservaram certos elementos
da cultura fonte.
A situação de um tradutor pode ser comparada à do produtor do texto. Apesar de ambos terem de seguir as instruções do emissor ou iniciador e cumprir as normas e regras da língua e da cultura alvo, geralmente lhes é permitido exercer o livre arbítrio quanto à sua própria criatividade e às suas preferências estilísticas, se assim o
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desejarem. Por outro lado, podem decidir manter as características estilísticas do texto fonte, desde que sua imitação não viole as normas e convenções textuais da cultura alvo. (NORD, 2016, p. 86)
Por meio das comparações vistas acima, é possível perceber momentos nos
quais o fator determinante da tradução, ou seja, seu skopos, foi tornar o
documentário acessível a uma audiência com conhecimentos acerca da literatura e
da história contemporâneas, mas não de detalhes específicos ligados à língua e à
cultura francesas. Recorrentes, estes eram necessários à compreensão geral em
alguns momentos, ou passíveis de elipses em outros. Nesse sentido, pode-se
entender que as inserções, reduções e substituições foram realizadas a partir
desses objetivos.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O documentário Le Procès Céline foi apresentado num canal da televisão
francesa não disponível no Brasil. Sua tradução, informal e intuitiva, teve como
objetivo a difusão do material para um número maior de pessoas – estudantes de
história e literatura, professores e demais interessados no tema. Foi realizada, assim
como sua legendagem, sem conhecimentos teóricos dos estudos da tradução e da
tradução audiovisual especificamente, mas orientadas pela ideia do que poderia ser
mais importante a transmitir aos participantes. Havia apenas o conhecimento prático
sobre estas, adquiridos em situações anteriores, igualmente informais e amadoras.
Para entender de maneira ampla essa ação de tradução realizada
anteriormente, foi utilizada a teoria funcionalista, havendo a necessidade de se
lançar mão da teoria da tradução audiovisual, por conta das limitações impostas pela
modalidade da tradução para legendagem.
Além do conhecimento da língua, a formação em história auxiliou no
processo, pois no trabalho historiográfico é necessário explorar as fontes,
contextualizá-las e explicá-las. Muitas vezes, há expressões, nomes e funções de
instituições, produtos, procedimentos, hábitos, entre outros, que não existem mais. É
necessário descrevê-los e/ou “traduzi-los” para quem não tem familiaridade com os
termos. Ou seja, o trabalho do historiador também é, em certo sentido, uma
tradução.
E se vários conhecimentos, para além dos acadêmicos e específicos do
ensino de um idioma, são acessados no momento de uma tradução, buscou-se
analisar aqui a hipótese que, mesmo intuitivamente, as escolhas do tradutor se
fazem em função dos receptores do material a ser traduzido e da intenção que
motivou essa atividade, como preconiza a teoria funcionalista da tradução.
O documentário Le Procès Céline traz informações sobre literatura, crítica
literária, sociologia e história. Mas as apresenta a partir de uma cultura específica,
com expressões da cultura francesa, relativas ao passado, conhecidas pelo público
do texto fonte. Um conhecimento acerca da cultura e da história possibilitou
escolhas no momento de traduzir, como se viu nos exemplos analisados. E por mais
limitado que fosse, o conhecimento prático da língua francesa possivelmente supriu
lacunas na tradução.
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As questões mais complexas na tradução para o público alvo brasileiro
recaíram sobre os regionalismos, gírias ou expressões muito específicas. Elementos
que Paulo Rónai (2012, p. 56) definiu como holófrases, para ele, “palavras que
designam noções peculiares a uma civilização, sem correspondente nos demais
ambientes culturais”. Assim, ficou clara a necessidade de se conhecer temas da
história literária, no que se refere ao contexto no qual Céline começou a publicar,
aos seus referenciais familiares e sociais, às revistas literárias em circulação na
França, à crítica; da história contemporânea, por conta do vocabulário da belle-
époque, da Primeira Guerra e suas expressões (La Der des Ders, poilus, cuirassé),
do período da Ocupação e o da Liberação na França (youtre, colabo, épuration,
l’Indignité Nationale, gouvernement de Vichy); da história da mídia, para
contextualizar algumas das imagens presentes no documentário (programas de
televisão e alguns jornais franceses dos anos 1950 e 60); da história da medicina
(hygiénisme, eugenisme), para compreender a tese de Céline sobre Semmelweis e
o imaginário racista da França no início do século XX; das expressões idiomáticas e
gírias mais atuais, utilizadas pelos entrevistados.
Da mesma forma que esta tradução e legendagem, outras se produzem
diariamente, em grande quantidade e nem sempre são consideradas nas discussões
acadêmicas (mesmo que atualmente esse panorama esteja se modificando).
Conhecimentos que não apenas aqueles indicados nos pressupostos teórico-
metodológicos mais tradicionais da tradução profissional são acessados, sejam eles
técnicos ou oriundos de experiências pessoais ou profissionais e contribuem nos
processos tradutórios, oferecendo mais possibilidades para o trabalho de tradução e
seus receptores. Certamente que isso ocorre em todas as atividades de tradução,
mas nem sempre são apontados como válidos. De acordo com Nord (2016, p. 65):
Em nossa opinião, a tradução não é um processo linear e progressivo que vai de um ponto de partida F (= TF) a um ponto de chegada A (= TA), mas, sim, basicamente, um processo circular e recursivo que inclui um número indeterminado de retroalimentações (...).
Como a autora também sublinha, tradutores trabalham “tendo em vista as
necessidades comunicativas do iniciador ou do público do TA [texto alvo], como se a
leitura do TF fora feita pelo olhar do Outro.” (2016, p. 32) É possível perceber que a
prática da pesquisa histórica, assim como teorias historiográficas, influenciaram as
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escolhas tradutórias, visto que o público era, se não majoritariamente, ao menos em
grande parte, ligado a essa área. Além disso, o skopos da tradução do documentário
era, após tê-lo assistido, debater sobre relações entre história e literatura.
Mesmo sem os conhecimentos dos estudos da tradução, a prática levou às
questões que Nord (2014, p. 319) aconselha ter em mente antes de se iniciar um
trabalho: “quem lerá isso? Não é para usar muita terminologia? O leitor-alvo é um
especialista na área ou alguém que não sabe muito sobre os conceitos e termos?
Qual será o meio de comunicação? [...] Há limitações de espaço?”.
Por fim, pode-se dizer que o elemento definidor das escolhas tradutórias e de
legendagem para o documentário foi o público e o meio (a legendagem), tanto para
sua exibição quanto para discussão.
Em quase todas as abordagens relevantes de análise textual para tradução, o público (a quem nos referimos principalmente como “receptor”) é considerado fator muito importante, se não o mais importante. (...) a situação do público é a dimensão pragmática por excelência. (NORD, 2016, p. 97)
Foi possível compreender igualmente que, em alguns casos, as situações
reais de tradução levam esse aspecto em conta, de maneira intuitiva. Serem bem
sucedidos ou não é algo que requer conhecimentos da língua, obviamente, mas não
somente aqueles gramaticais e semânticos de um ensino mais tradicional. São
importantes, claro, mas há um volume de conhecimentos que os tradutores
amadores podem ter que ultrapassa esse âmbito e que pode contribuir
qualitativamente na atividade tradutória. Nord (2013, p. 32) entende que o tradutor
não lê o texto a traduzir “de forma ingênua ou intuitiva”, mas que realiza “uma
análise crítica, global e de boa compreensão orientada para a tradução”. Talvez seja
possível argumentar que, por mais que uma tradução seja intuitiva, ela não é
necessariamente ingênua, já que outros conhecimentos, referenciais e valores são
acessados para tanto.
32
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