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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - ESTATUTO DO DESPORTO EVENTO: Audiência Pública N°: 0247/02 DATA: 10/04/02 INÍCIO: 14h20min TÉRMINO: 15h52min DURAÇÃO: 01h32min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h32min PÁGINAS: 37 QUARTOS: 19 REVISÃO: Antonio Morgado SUPERVISÃO: Márcia, Maria Luíza CONCATENAÇÃO: Letícia DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO VITAL SEVERINO NETO - Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro. FRANCISCO MAIA BARBOSA - Cronista do jornal "Hoje em Dia". SUMÁRIO: Discussão sobre a matéria objeto de análise da Comissão Especial. OBSERVAÇÕES

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - ESTATUTO DO DESPORTOEVENTO: Audiência Pública N°: 0247/02 DATA: 10/04/02INÍCIO: 14h20min TÉRMINO: 15h52min DURAÇÃO: 01h32minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h32min PÁGINAS: 37 QUARTOS: 19REVISÃO: Antonio MorgadoSUPERVISÃO: Márcia, Maria LuízaCONCATENAÇÃO: Letícia

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOVITAL SEVERINO NETO - Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro.FRANCISCO MAIA BARBOSA - Cronista do jornal "Hoje em Dia".

SUMÁRIO: Discussão sobre a matéria objeto de análise da Comissão Especial.

OBSERVAÇÕES

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Estatuto do DesportoComissão Especial - Estatuto do DesportoNúmero: 0247/02 Data: 10/04/02

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Declaro abertos os

trabalhos da 14ª reunião desta Comissão Especial destinada a apreciar e proferir

parecer ao Projeto de Lei nº 4.874, de 2001, que institui o Estatuto do Desporto.

Comunico que, em virtude de o Deputado Aloysio Nunes Ferreira ter

reassumido seu mandato nesta Casa, deixou de fazer parte desta Comissão o

Deputado Silvio Torres.

Ordem do Dia.

Esta reunião foi convocada para ouvir, em audiência pública, o Sr. Vital

Severino Neto, Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, e o Sr. Francisco Maia

Barbosa, jornalista e cronista do jornal Hoje em Dia.

Para melhor andamento dos trabalhos, adotaremos os seguintes critérios:

cada convidado disporá de vinte minutos para sua exposição, não podendo ser

aparteado nesse período; os Deputados interessados em interpelar os convidados

deverão fazê-lo estritamente sobre assunto da exposição e pelo prazo de três

minutos, tendo cada expositor igual tempo para responder; são facultadas a réplica e

a tréplica pelo mesmo prazo, sendo vedado aos expositores interpelar qualquer dos

presentes.

Antes de passarmos às exposições, faremos comentário adicional.

Em razão do rigor adotado na Casa quanto ao início da Ordem do Dia no

plenário, estamos começando nossas reuniões no horário previamente estabelecido.

Por isso mesmo, a chegada dos Srs. Deputados só deverá ocorrer depois que todas

as Comissões se instalarem. Então, vamos iniciar os trabalhos, cumprindo o horário,

com a presença do Presidente e do Relator, para que possamos, às 16h, conforme

determinação do Presidente da Casa, encerrar esta audiência pública.

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Convido para fazer parte da Mesa o Sr. Vital Severino Neto, Presidente do

Comitê Paraolímpico Brasileiro, a quem concedo a palavra pelo tempo de vinte

minutos.

O SR. VITAL SEVERINO NETO – Sr. Presidente, Sr. Relator, caro

companheiro de exposição, Sras. e Srs. Deputados, demais presentes.

Em primeiro lugar, o Comitê Paraolímpico deseja expressar seu

agradecimento por participar desta Comissão e trazer algumas informações

adicionais para que o Sr. Relator, com mais subsídios, possa proferir seu parecer

final.

Será interessante fazer um pequeno histórico do desporto paraolímpico

brasileiro. É sempre bom trazer mais informações.

O desporto para pessoas portadoras de deficiência é relativamente novo, ao

contrário do desporto olímpico convencional. Em 1944, ao final da 2ª Grande Guerra,

quando o Dr. Ludwig Guttmann, na Inglaterra, entendeu que uma das grandes

ferramentas que teria para recuperar física, social e psicologicamente os lesionados

de guerra seria a aplicação de técnicas, de métodos e da prática desportiva. Ali,

então, nasceu o desporto para pessoas portadoras de deficiência.

A primeira competição realizada na Inglaterra ocorreu em 1948, segundo

informações colhidas, junto com a Olimpíada, que retomava seu curso normal, após

a guerra.

Os primeiros jogos aconteceram no Hospital de Stoke Mandeville, onde o Dr.

Guttmann desenvolveu todo o seu trabalho, toda a sua técnica. Esses jogos

passaram a se realizar de quatro em quatro anos na Inglaterra. Em 1952, aconteceu

um fato inusitado: a Holanda solicitou ao Dr. Guttmann que abrisse a possibilidade

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de portadores de deficiência daquela país participarem dos jogos de Stoke

Mandeville. Esse foi o primeiro passo para que os jogos internacionais de Stoke

Mandeville passassem a ser realizados anualmente.

A Paraolimpíada propriamente dita começou a ser realizada em 1964, no

Japão, logo após os Jogos Olímpicos de Tóquio. Em 1960, quando a Itália

preparava os Jogos Olímpicos de Roma, O Dr. Guttmann foi convidado para realizar

em Roma os jogos internacionais de Stoke Mandeville. Pela primeira vez, os jogos

saíram da Inglaterra e foram realizados em Roma; dele participaram 23 países. A

partir daí, começou a história do desporto paraolímpico. Isso em 1964, em Tóquio,

Japão. De 1968 a 1984, ele perdeu a ligação com as cidades sede dos jogos

olímpicos. Foi sempre realizado nos mesmos anos, mas em outras cidades, ou em

outros países. A partir de 1988, na Coréia, na Olimpíada de Seul, os Jogos

Paraolímpicos retomaram seu curso normal e passaram a ser realizados pouco

depois do término dos Jogos Olímpicos.

Em 2000, o Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Paraolímpico

Internacional iniciaram estudos e acabaram fechando, em 2001, acordo que torna

obrigatório, a partir de Pequim, a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos na

mesma cidade. O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos passa a organizar os

Jogos Paraolímpicos, um grande avanço para o desporto de competição e para o

paraolimpismo de altíssimo rendimento. Assim, os Jogos Paraolímpicos passaram a

usufruir das mesmas facilidades dos Jogos Olímpicos.

O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos sempre bancou a participação de

todos os atletas, técnicos e dirigentes inscritos nas delegações oficiais e que

estivessem alojados na Vila Olímpica. Até a Olimpíada de Sydney, os comitês

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paraolímpicos nacionais tinham de pagar uma taxa de inscrição para cada membro

participante dos jogos. A partir de Atenas essa taxa será revogada. E esse é um dos

pontos positivos que se apresentam para o desporto paraolímpico, no momento em

que o Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Paraolímpico Internacional

trabalham em sistema de cooperação mútua.

Como nasceu e como se encontra hoje o desporte paraolímpico no Brasil?

Nasceu, no dia 1º de abril de 1958, o primeiro movimento em favor da prática

desportiva para portadores de deficiência. Precisamente nessa data, um jovem

brasileiro que, lesionado e em uma cadeira de rodas, retornava dos Estados Unidos

teve a idéia de desenvolver esse trabalho: a prática do esporte, com a perspectiva

de prestar assistência à pessoa com deficiência físico-motora. Foi criado então, por

Robson Sampaio de Almeida, infelizmente já falecido, o Clube do Otimismo.

Obviamente, o trabalho iniciado por Robson veio caminhando da maneira que

era possível. Nos anos 60, o Brasil começava a ver seus primeiros eventos

esportivos para deficientes físicos. Temos relatos de grupos que saíram pelo Brasil

fazendo apresentações de basquete em cadeira de rodas, com a finalidade de

propagar o esporte e divulgar a potencialidade da pessoa portadora de deficiência.

O esporte seria essa ferramenta. Pensar que o portador de deficiência faz esporte

apenas por esporte é incorrer em grande engano. Aliado ao esporte, há todo um

processo de qualidade de vida e, fundamentalmente, de inserção social.

Para nós, o esporte é a ferramenta mais eficaz para o processo de inserção

social das pessoas portadoras de deficiência. Ao utilizar o esporte como

propaganda, como marketing, como veículo difusor, os brasileiros daquela época

começaram a fazer apresentações esportivas por todo o País numa tentativa de

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sensibilizar e conscientizar a sociedade e as autoridades quanto às suas

potencialidades.

Em 1975, nasceu a primeira organização com a finalidade de coordenar o

esporte dos portadores de deficiência no Brasil. Refiro-me à Associação Nacional de

Desporto para Excepcionais — ANDE, que agora se chama Associação Nacional de

Esportes para Deficientes —, mas mantém a sigla.

Essa primeira organização veio ordenar o esporte para pessoas portadoras

de deficiência no Brasil. Ela só foi criada depois da desastrada participação do Brasil

nos Jogos Pan-Americanos do México, realizados dois anos antes. Naquela ocasião,

chegaram à Cidade do México duas equipes brasileiras, uma do Rio de Janeiro e

outra de São Paulo, como se fossem dois brasis. Os dois estavam inscritos e ambos

estavam prontos para participar. Quando lá chegaram, porém, foi dito que apenas

um poderia participar. Entraram em acordo, e o Brasil, que lá chegou dividido em

dois, tornou-se um só. Ao retornarem ao Brasil, esses grupos tiveram o bom senso

de criar uma organização que representasse o País.

Os anos 80 foram marcados por forte movimento para as pessoas portadoras

de deficiência. Houve, naquela década, um ano internacional dedicado ao portador

de deficiência. No Brasil, foram criadas associações e organizações de portadores

de deficiência que tinham como objetivo lutar pelos seus direitos, pelo exercício da

cidadania, ou seja, de se fazerem respeitados e terem preservados os seus direitos,

inclusive os constitucionais, como qualquer cidadão.

Obviamente, o esporte passou a ser uma bandeira de praticamente todas

essas organizações. Houve então grande demanda: o Brasil começou a criar

organizações nacionais por área de deficiência. Dessa forma, contamos, a partir dos

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anos 80, com a Associação Brasileira de Desporto para Cegos, com a Associação

Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas e com a Associação Nacional de

Desporto para Deficientes.

No final dessa década e no início dos anos 90, surgiram associações de

desporto para amputados e a Associação de Desporto para Deficientes Mentais;

pouco depois, foi criada a Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de

Rodas. O Brasil entrou na era da massificação do desporto das pessoas portadores

de deficiência, tudo isso feito quase que exclusivamente na base do voluntarismo. E

essa foi a grande marca do desenvolvimento do esporte para deficientes em nosso

País.

Como se tratava de trabalho voluntário, o seu desenvolvimento foi acelerado

e desacelerado ciclicamente, de acordo com a disponibilidade de mão-de-obra, isto

é, de voluntários. Normalmente, nas faculdade de Educação Física havia

acadêmicos para trabalhar com os deficientes. Durante o tempo em que cursavam a

faculdade, esses voluntários empreendiam aquele trabalho, e apareciam os

resultados. Depois que se formavam, porém, surgia um emprego, e eles tinham de

cuidar da vida, ganhar dinheiro. Como a organização de portadores de deficiência

não tinha estrutura para remunerá-los, perdia esses profissionais. Assim, o processo

recomeçaria com outros acadêmicos que teriam de aprender todo o trabalho. Essa

foi a marca maior do nosso trabalho nos anos 80.

A partir dos anos 90, nova idéia começou a tomar corpo, surgiu o apoio

governamental.

A meu ver, o portador de deficiência no Brasil passou por três ciclos bem

determinados. Primeiro, o ciclo da tutela total do Estado, que determinava o que o

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portador de deficiência poderia fazer. O segundo momento foi o da tutela do saber,

quando os profissionais começaram a estudar e a se aprofundar sobre todas as

questões atinentes à deficiência, seja ela sensorial, física ou mental. Na condição de

detentores do saber, os profissionais também passaram a determinar o que o

portador de deficiência deveria, poderia e até gostaria de fazer. A partir da metade

dos anos 90, vivemos outra fase: por meio da releitura da Constituição de 1988, o

portador de deficiência toma agora conhecimento de seus direitos e de como

exercitar sua cidadania.

O Congresso Nacional tem exercido papel fundamental ao aprovar diversas

leis que dão ao portador de deficiência essa prerrogativa.

V.Exas., muito mais do que eu, sabem que o Brasil seguramente tem uma

das legislações mais avançadas nessa área. Falta apenas que ela seja cumprida na

íntegra, ou à risca. Aí, cabe grande culpa ao segmento dos portadores de

deficiência, que ainda não acordou, ou ainda não percebeu o que tem na mão para

usufruir de todos os benefícios que a legislação lhe concede. Estamos tentando

mudar um pouco esse pensamento das pessoas portadores de deficiência.

Pode parecer paradoxal o fato de o Presidente do Comitê Paraolímpico

Brasileiro estar falando de cidadania, mas o esporte — penso assim — deve fazer

parte de todo processo de ensino, de aprendizagem e de reabilitação de

deficiências.

O portador de deficiência deve ser tratado como um todo. Não podemos

dividi-lo, como se um pedaço representasse a profissionalização; outro, a educação,

e outro, por último, o esporte. Ele é um cidadão, uma pessoa, um ser uno. Temos de

trabalhar essa questão de forma completa.

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Quanto à atual estrutura esportiva do Brasil, estamos concluindo alguns

trabalhos e estudando, Sr. Presidente, Sr. Relator, a possibilidade de apresentarmos

emendas ao Relator, se S.Exa. nos permitir. Temos dúvidas quanto ao prazo para

apresentação do parecer, ou se o procedimento é de ida das emendas ao plenário

diretamente. Já detectamos alguns aspectos que precisam ser melhor ajustados.

Hoje, o Comitê Paraolímpico, ao cumprir seus objetivos e finalidades, está

restrito a desenvolver as modalidades chamadas paraolímpicas, embora nem toda

modalidade esportiva praticada por portador de deficiência seja paraolímpica.

Temos de analisar esses pontos com V.Exas., membros desta Comissão, e

com os demais Parlamentares. O Comitê Paraolímpico, amparado e contemplado

pela legislação, vai continuar sendo uma organização estritamente voltada para

modalidades do paraolimpismo, seja qual for a área for, seja qual for a modalidade

esportiva.

Teremos de analisar e discutir esses aspectos com V.Exas e com os vários

segmentos de pessoas portadoras de deficiência. Precisamos ter uma definição

clara, para que, amanhã, o Comitê Paraolímpico não venha a ser considerado

omisso por não ter participado de ação que se imaginava dele, ainda mais que seus

objetivos não contemplam esse tipo de atividade. Estamos absolutamente abertos

para discutir e encontrar o melhor caminho.

Uma coisa é certa: o desporto competitivo precisa também de atenção.

Estamos aqui hoje tratando desse assunto principalmente por causa dos resultados

obtidos pelo desporto competitivo brasileiro nos Jogos Paraolímpicos de Sydney e,

mais do que resultados, da divulgação empreendida pelo Comitê Paraolímpico

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Brasileiro, desde Sydney, mostrando para todo o País a potencialidade das pessoas

portadoras de deficiência de praticarem esportes competitivos.

Temos de trabalhar essa questão da competitividade, mas não podemos nos

esquecer daquela modalidade esportiva que não tem o condão de ser modalidade

de alto rendimento, de alta competitividade, mesmo que esteja incluída nos Jogos

Paraolímpicos.

Hoje, principalmente no exterior, o portador de deficiência mais severa está

ficando alijado das grandes competições, porque essas modalidades deixam de ser

interessantes para a mídia, deixam de ser vendáveis. Então, temos de criar

condições de convivência para esses dois mundos, sem segregação, sem tirar a

possibilidade de um ou de outro.

O portador de deficiência severa precisa de lazer, de recreação, mas também

de competições conforme o seu nível, a sua expectativa. Também ao portador de

deficiência com menos comprometimento devem ser dadas condições de participar

de um campeonato pan-americano, de um campeonato mundial e de uma

paraolimpíada. Por que não?

Sr. Presidente, Deputado Jurandil Juarez, e Sr, Relator, Deputado Gilmar

Machado, fiz uma abordagem mais genérica sobre a questão paraolímpica e do

portador de deficiência. Estamos dispostos e prontos para, nas respostas, prestar os

esclarecimentos necessários.

De antemão, solicito à Presidência e à Relatoria a possibilidade de

aprofundarmos esse estudo, com as devidas adequações, porque, sem dúvida, por

mais que se desenvolvam ações paralelas, como vem fazendo o Comitê Olímpico,

há diversas peculiaridades que têm de ser tratadas de forma diferente. Como já

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disse o grande Rui Barbosa: tratar de forma igual os desiguais é, no mínimo, uma

grande injustiça. Sabemos do interesse e do papel desta Comissão e dos Srs.

Parlamentares, que querem dar ao cidadão brasileiro condições de viver dentro da

maior amplitude de justiça possível.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Sr. Vital

Severino Neto, Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

Com satisfação, tomamos conhecimento da posição do Comitê Paraolímpico.

Já tínhamos tomado conhecimento, no Rio de Janeiro, acerca da posição do Comitê

Olímpico, e é desejo desta Comissão, na realização de seu trabalho, ouvir todos os

segmentos do desporto, a fim de que tenhamos, ao final dos nossos trabalhos,

proposta que contemple todos os aspectos referentes ao desporto brasileiro e tudo

aquilo que diga respeito a essa particular modalidade de ação.

O desporto é considerado patrimônio cultural do povo brasileiro. E, dessa

forma, não poderia ter de nossa parte tratamento que não fosse plural e que não

contemplasse todas as camadas que o praticam.

Em continuidade às exposições, passo a palavra, também por vinte minutos,

ao jornalista Francisco Maia Barbosa, colunista do jornal Hoje em Dia. Tem V.Sa. a

palavra.

O SR. FRANCISCO MAIA BARBOSA – Sr. Presidente, Sr. Relator,

primeiramente, gostaria de agradecer a todos a oportunidade de estar aqui. Também

estou tendo a honra redobrada de conhecer pessoalmente o Deputado Gilmar

Machado, nosso coestaduano. Faz S.Exa. belo trabalho por Minas Gerais.

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Na condição de jornalista esportivo especializado em futebol, quero dizer que

é muito importante estarmos aqui para contar nossa experiência e dar nossa opinião

sobre o que está acontecendo com o esporte brasileiro.

Gostei muito da exposição do Sr. Vital Severino. O Presidente do Comitê

Paraolímpico conhece muito a realidade do nosso esporte, não só dos

paraolímpicos, como também dos olímpicos de modo geral.

Em 2000, acompanhamos a delegação brasileira em Sydney, onde pudemos

ver de perto as dificuldades pelas quais passam as federações dos esportes

olímpicos brasileiros.

Naquela oportunidade, o Presidente Carlos Arthur Nuzman fez um relato a

respeito das dificuldades enfrentadas pelo COB, comparando nossa situação com a

de outros países. A Itália, por exemplo, que destina a arrecadação total de uma

loteria nacional para seus esportes olímpicos e conta com uma das equipes mais

fortes do mundo, está sempre entre as primeiras no quadro de medalhas dos Jogos

Olímpicos. A Austrália, que realizou trabalho de dez anos para conseguir chegar ao

ponto alcançado em 2000, quando obteve número recorde de medalhas em sua

história — num impressionante crescimento geométrico — graças às iniciativas do

poder público local no sentido de facilitar a participação da iniciativa privada,

apoiando o esporte de forma mais intensa e proporcionando o surgimento de atletas,

além da contratação de especialistas, treinadores e técnicos de várias modalidades

esportivas visando melhorar a situação do esporte olímpico daquele país.

É muito interessante a proposta do Estatuto do Esporte. Em Minas, temos

debatido muito esses assuntos. Um dos problemas que mais tem crescido em todo o

País — e em Minas Gerais nos tem preocupado de forma especial — é a violência

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nos estádios. Sobre isso, ainda ontem houve uma reunião entre a Polícia Militar, a

Polícia Civil, o Ministério Público, a Magistratura e órgãos diretamente ligados ao

futebol, como a Administração de Estádios de Minas Gerais — ADEMG, que controla

o Mineirão e o Mineirinho, e os clubes Atlético, Cruzeiro e América, bem como a

Federação Mineira de Futebol.

Algumas medidas estão sendo tomadas no sentido de prevenir e coibir a

violência nos estádios em Minas Gerais. Vivemos uma violência crescente. Ficou

acertado que haverá restrições em relação a bebida alcóolica nos estádios em Belo

Horizonte. Alguns defendem a manutenção da atual situação, entendendo que não

há necessidade de se proibir a venda de bebida alcóolica, mas, para os próximos

grandes jogos, vai haver algumas mudanças, algumas medidas restritivas ao álcool

de modo geral, especialmente no Mineirão, nosso principal estádio.

Num de nossos programas na TV Bandeirantes em Belo Horizonte,

apresentamos sugestão que foi bem acatada. Sua concretização, porém, não

depende apenas dos órgãos esportivos, a atuação do Judiciário será fundamental. A

nossa proposta, tal qual a já adotada na Europa para coibir a ação dos hooligans,

principalmente na Holanda, na Inglaterra e na Alemanha, precisa do respaldo do

Judiciário. Trata-se de medida simples: todo elemento detido por fazer baderna ou

algum tipo de delinqüência nos estádios tem de se apresentar a uma autoridade

policial duas horas antes do início do jogo e cumprir a pena determinada pelo juiz.

Poderia ser uma pena comunitária ou detenção pura e simples, de acordo com a

decisão do juiz.

Em Belo Horizonte, desde 2000, existe um juizado especial no Mineirão e no

Estádio Independência. Há sempre um juiz de plantão em cada espetáculo

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desportivo, e os incidentes são resolvidos no mesmo instante. A simples presença

de um magistrado e o anúncio dessa medida pela imprensa, por incrível que pareça,

fizeram com que houvesse diminuição no número de incidentes e de ocorrências. Os

juízes realmente têm atuado muito bem e são pessoas normalmente ligadas ao

futebol e que gostam do esporte. Independentemente da paixão pelo clube, eles têm

realizado um trabalho espetacular. Certamente poderiam ser muito úteis na

implantação dessa medida, que deveria ser estendida a todo o País.

Com a obrigatoriedade de esses meliantes se apresentarem duas horas antes

do início do espetáculo e só serem liberados duas horas após o término, inibiríamos

a prática de novas ações de violência nos estádios.

Esta é a sugestão que faço tendo em vista tudo o que li nessa proposta para

a criação do Estatuto do Desporto.

Outro assunto que temos debatido muito em Minas Gerais — e o Deputado

Gilmar Machado, desportista e mineiro, o conhece bem — é a situação da

Federação Mineira de Futebol. Lamentavelmente, o Presidente Elmer Guilherme

Ferreira fez com que Minas Gerais fosse motivo de chacota nacional no depoimento

prestado à CPI desta Casa, e ficamos por entender como a impunidade prevalece

para dirigentes esportivos neste País.

O Clube Atlético Mineiro passou por situação em que foi depenado —

podemos usar este termo — por dirigentes que prestaram péssimo serviço ao

Atlético e a Minas Gerais. Hoje, porém, esses dirigentes estão tranqüilamente

levando suas vidas, e não sofreram nenhum tipo de punição a não ser a execração

pública. O Atlético ainda passa por dificuldades, mas, felizmente, já conseguiu

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mudar bastante o quadro. A impunidade no esporte incomoda a todos nós,

principalmente, na maior paixão do brasileiro, o futebol.

Em Minas Gerais, a Federação é comandada por um dirigente que foi

execrado nacionalmente. Como disse, não há mecanismos para puni-lo. A

Assembléia dos Clubes seria insuficiente, porque o voto das ligas amadoras do

interior predomina na eleição da Federação. Isso acontece não só em Minas, mas

em todo o Brasil, porque essas ligas são maioria. O processo eleitoral da Federação

Mineira de Futebol é absolutamente arcaico e absurdo, com dirigentes, muitas vezes

mal intencionados ou incompetentes, perpetuando-se no poder.

É incrível que o futebol brasileiro continue permitindo isso. Entendo que só

por meio de mecanismos criados por esta Casa poderemos ver o fim ou a

diminuição desse tipo de problema. E a Câmara dos Deputados tem dado grandes

exemplos, punindo inclusive Parlamentares, mas dirigentes esportivos continuam

incólumes. Tenho certeza de que esse tipo de impunidade agride todo cidadão de

bem deste País.

Vivemos hoje situação de impotência absoluta. Os principais clubes estão

impotentes para tocarem seus projetos. O embrião da criação das ligas, do qual a

Liga Sul Minas faz parte, é um grande exemplo de boa administração do futebol,

mas vem sendo bombardeado pela CBF e pelas federações estaduais, o que é

lamentável.

De modo geral, era o que gostaria de sugerir em relação à segurança nos

estádios, além da criação de mecanismos que possam punir dirigentes esportivos

pelos seus atos, uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal adaptada ao

futebol. Seria o ideal. Todo dirigente deveria ser responsável pelos seus atos, assim

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como acontece hoje com os administradores públicos, que podem penalizados. Há

previsão de penas na própria Lei de Responsabilidade Fiscal. É urgente que se

criem também mecanismos no esporte, para que maus administradores e

responsáveis por administrações fraudulentas sejam punidos com o devido rigor da

lei.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradeço ao jornalista

Francisco Maia Barbosa a contribuição que traz aos trabalhos desta Comissão.

Passaremos agora à fase dos debates.

Inicialmente, concedo a palavra o Relator.

O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Muito obrigado, Sr. Presidente.

Quero agradecer ao Sr. Vital Severino Neto, Presidente do Comitê Paraolímpico

Brasileiro, por ter atendido ao convite desta Comissão, bem como ao Sr. Francisco

Maia Barbosa, nosso conterrâneo, pela presença e contribuição a este debate.

Vou fazer algumas perguntas a cada um.

Recebemos várias sugestões por escrito do Comitê Olímpico Brasileiro.

Vamos entregar também ao Comitê Paraolímpico uma primeira versão do nosso

relatório no início de maio. Assim, daremos quinze dias de prazo para que as

entidades e toda a sociedade o conheçam e mandem novamente suas

contribuições. Esperamos votar nosso relatório ainda no mês de maio. O Deputado

Silvio Torres tem cobrado, assim como o Presidente desta Comissão e, tenho

certeza, o Presidente Aécio Neves também, a votação do Estatuto ainda neste

primeiro semestre. Depois, a responsabilidade será dos Senadores. A nossa

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intenção é a de deixar essa tarefa concluída no primeiro semestre deste ano.

Estamos abertos a contribuições, as quais, desde já, gostaríamos de agradecer.

Sr. Vital, um dos pontos que deveremos transcrever no Estatuto é o

instrumento que chamo de Lei Agnelo/Piva. Os recursos advindos dessa lei são

evidentemente os maiores de que dispomos, uma vez que o Ministério vem

diminuindo as verbas das entidades. Na verdade, é essa lei que tem garantido ao

Comitê Olímpico e ao Comitê Paraolímpico os recursos com que vêm trabalhando.

Vamos ter de aperfeiçoá-la, porque surgiu uma dúvida sobre os outros 15%, o

quantum que os Comitês Olímpico e Paraolímpico poderão gastar na área

universitária e educacional. Ao elaborar a lei, da qual fui o Relator, a idéia que

prevalecia era a de que os Comitês Olímpico e Paraolímpico fizessem convênios

com as universidades e com as escolas para a promoção dessas atividades. Hoje,

parece-me, está havendo problemas de entendimento. Gostaria que V.Sa.

abordasse o assunto e nos dissesse qual é o entendimento do Comitê.

Outra pergunta: há patrocínio para o esporte paraolímpico? Como o Comitê

tem enfrentado esse problema? O Comitê Paraolímpico só dispõe desse recurso?

Como conseguir patrocínios para ampliar seu trabalho?

A saúde é de suma importância tanto na formação como no treinamento

cotidiano do atleta paraolímpico. Quanto ao projeto, o Comitê já têm condições de

afirmar que esse tema já está contemplado e resolvido, ou precisamos melhorar sua

redação?

Em relação ao atleta paraolímpico, o que poderia ter sido contemplado no

projeto e não foi?

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Considero muito importante a contribuição do jornalista Francisco Maia

Barbosa, que abordou o problema da violência nos estádios. Fui Deputado Estadual,

morei oito anos em Belo Horizonte e não vi esse tipo de problema nos estádios.

Podíamos ir tranqüilos ao Mineirão, onde não víamos tanta violência como já existia

em outros lugares. Realmente, esse último jogo entre o Corínthians e o Cruzeiro,

ocorrido em Belo Horizonte, foi um negócio absurdo. Alguma coisa precisa ser feita.

No que diz respeito à mídia — e V.Sa., além de trabalhar na TV

Bandeirantes, faz parte da mídia escrita —, especificamente quanto ao direito de

imagem, o que poderia ser melhorado no projeto? Na sua opinião, o que poderia ser

aperfeiçoado quanto ao direito de imagem?

Trabalhando na mídia, V.Sa. tem contato permanente com os atletas.

Pergunto: eles estão mesmo interessados ou fazem de conta que nem estão vendo?

Qual a sua opinião? Estamos muito preocupados com essa situação.

A nossa preocupação é grande, porque depois que votamos uma lei aqui vêm

com aquela reclamação no sentido de que não sabiam. Inclusive, o Sr. Presidente

está-se esforçando para chamar atletas para virem aqui, mas a dificuldade para

chegar a um atleta é enorme. Como homem da mídia, de que forma você está vendo

isso? O atleta está realmente acompanhando a questão? Está sabendo que

estamos votando isso aqui? Leio sempre os jornais e não tenho visto muitos debates

sobre o Estatuto, que, depois de votado, terá de ser cumprido. E aí vem aquele

argumento: "Mas eu não sabia. Não tive oportunidade". Estamos chamando todos os

órgãos da imprensa para que pelo menos um representante de cada setor possa

falar e apresentar sugestões. Assim, poderemos ter uma lei que, de fato, seja

executada e melhore realmente o desporto no País.

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Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Com a palavra o Sr. Vital

Severino Neto, Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, para responder as

indagações feitas pelo nosso Relator, Deputado Gilmar Machado.

O SR. VITAL SEVERINO NETO – Deputado Gilmar Machado, vou cobrar um

pouco de V.Exa. (Risos.) Ao cumprimentar o nosso conterrâneo Francisco Maia,

V.Exa. se esqueceu de que também sou mineiro, do Triângulo Mineiro.

Quanto ao esporte universitário e escolar na área paraolímpica, realmente a

nossa intenção é fazer o trabalho previsto e mencionado por V.Exa. Até por suas

próprias características, não temos hoje no Brasil condições de desenvolver

esportes na universidade, pois temos um número tão pequeno de portadores de

deficiência que ficaria um pouco complicado falar sobre isso. Estamos analisando a

possibilidade de firmar convênios com as universidades, objetivando a capacitação

de recursos humanos para a área do portador de deficiência. Temos várias

universidades no Brasil — inclusive a de Uberlândia, que desenvolve grande

trabalho nesse sentido —, com as quais vamos poder fazer esse trabalho. Acredito

que esse seja o ponto em que tenhamos de aplicar os nossos recursos.

Em relação ao desporto escolar, vivenciamos no Brasil situação um pouco

complicada. Existem escolas especiais para cegos, para deficientes mentais e

também para paralisados cerebrais. Nesses setores, é possível desenvolver esse

trabalho. Além disso, o programa do desporto escolar visa ao trabalho inclusivo, ou

seja, busca esse tipo de trabalho.

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Estamos estudando o assunto, mas ainda não aplicamos um tostão sequer

dos nossos recursos na área do esporte escolar universitário, porque, em primeiro

lugar, esperávamos a regulamentação do TCU, que saiu apenas, via instrução

normativa, em 25 de janeiro. Depois, fomos estudar a forma de regulamentação, ou

seja, como o Comitê Paraolímpico faria a utilização desses recursos. Com a

regulamentação, estaremos prontos para começar a atender aos projetos nessas

áreas.

Pelas características do desporto paraolímpico, pelo envolvimento do Comitê

Paraolímpico e pela nossa estrutura orgânica, estamos subordinados a um conselho

que define como o Comitê deve gastar seus recursos, de acordo, obviamente, com a

legislação. Estamos discutindo com esse conselho e tentando mostrar que esses

recursos têm de ser aplicados, se não diretamente pelo Comitê, em convênios, em

acordos com escolas e universidades. Mas têm, depois de serem descentralizados,

de ser encaminhados a essas duas áreas.

Quanto ao patrocínio, estamos tendo seriíssimos problemas na sua busca —

inclusive, as negociações estão adiantadas —, porque as empresas estão sofrendo

pressões de vários matizes sobre como fazer o convênio ou firmar o contrato com o

Comitê. A estrutura interna do Comitê Paraolímpico tem enfrentado problemas,

porque só se consegue patrocínio — ou seja, dinheiro — quando há um produto

para ser vendido. Se o Comitê Paraolímpico não é o titular do produto como um todo

— o titular são as associações nacionais —, ele fica sem condições de montar um

produto que seja vendável e atrativo. Isso tudo faz parte da pauta de discussões

internas, com o objetivo de resolver esses problemas da forma mais adequada

possível.

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Em relação aos atletas paraolímpicos, li o projeto ainda no ano passado,

quando do seu encaminhamento ao Rio de Janeiro. Agora, quando fomos

convidados a vir aqui — confesso minha falta —, não tive tempo de reler todo o

projeto; tanto que estaremos estudando-o em grupo, para depois apresentarmos

sugestões. Já havia assumido com o Deputado Gilmar Machado o compromisso de,

até o dia 25 de abril, entregar a S.Exa. por escrito nossas sugestões, inclusive

abordando suas observações a respeito do atleta paraolímpico.

Em relação a esses atletas especificamente, quero dizer que o Comitê

Paraolímpico vem dando suporte aos 28 atletas medalhistas em Sidney. Desde que

os recursos da Lei Piva começaram a chegar no Comitê Paraolímpico, firmamos

contrato de cessão de imagem com esses atletas e estamos repassando aos atletas

medalha de ouro 3 mil reais por mês; aos de prata, 1.800 reais; e aos de bronze,

1.200 reais. A partir deste ano, as equipes paraolímpicas em treinamento também

receberão bolsa-incentivo, na faixa de 500 reais por mês, para cada atleta, enquanto

estiverem a serviço da equipe paraolímpica permanente.

Não sei se respondi completamente...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Agradeço ao Sr. Vital

Severino Neto pela sua participação.

Concedo a palavra ao jornalista Francisco Maia Barbosa, para responder as

indagações do nosso Relator.

O SR. FRANCISCO MAIA BARBOSA – Sr. Relator, a primeira pergunta foi

sobre o direito de imagem. Infelizmente, esse direito vem sendo utilizado como um

artifício para burlar o Fisco. Esta é a realidade. Os clubes, quando chamam o

jogador para assinar contrato, sabem que terão de pagar Imposto de Renda. E o

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direito de imagem é usado para isso. Muitos clubes, com salários em dia, estão com

o pagamento de direito de imagem atrasado. Isso é muito comum no futebol.

Em relação ao interesse do atleta, posso dizer que ele é quase zero. Os

atletas em atividade acham que são deuses, que nunca vão precisar dos seus

sindicatos e de suas entidades de classe. Em Minas Gerais especificamente, a

AGAP — e o Warley Ornelas, seu presidente, foi jogador de futebol, ex-lateral do

Atlético — tem uma estatística muito interessante: 80% dos jogadores que pararam

de jogar futebol estão em situação financeira ruim, porque se preocuparam muito

pouco com escolaridade ou com outra atividade. Depois que param de jogar, a

situação fica muito difícil. Aí, sim, esses ex-atletas correm atrás de seus sindicatos.

Em Minas Gerais é a AGAP. Enquanto estão jogando futebol, o interesse é quase

zero. Se fizermos uma pesquisa, em Minas Gerais principalmente, veremos que 99%

dos jogadores de futebol não têm conhecimento do tipo de trabalho que se realiza

aqui. E não é só em relação a esse trabalho. Eles não se preocupam com nada que

diga respeito ao futuro. Só se preocupam com o presente. É a triste realidade do

nosso futebol.

Sobre a mídia, infelizmente também temos de fazer um mea culpa, com raras

exceções. De modo geral, a mídia está completamente desinformada,. Não conhece

a legislação, nem os importantíssimos trabalhos desenvolvidos aqui. Somente houve

atenção especial em relação às CPIs, quando surgiram casos rumorosos. Aí, sim,

houve grande destaque nacional. Contudo, de modo geral, companheiros que

cobrem o esporte, principalmente o futebol, passam ao largo da política e da criação

de leis. Lamentavelmente, o que se vê é muita desinformação, muita gente falando

bobagens.

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Por exemplo, sábado passado, em Belo Horizonte, houve aquele cai-cai do

time do Pelotas, no jogo contra o Atlético, na Copa Sul—Minas. Pior que isso foram

os comentários de alguns repórteres: “Ah, o promotor, aqui no estádio, mandou

prender o dirigente do Pelotas e tudo o mais". Fato lamentável, porque não apareceu

ninguém, nenhum comentarista para corrigir aqueles comentários. Afinal, promotor

não prende ninguém. De modo geral, o pessoal que cobre o esporte, sobretudo o

futebol, é muito desinformado, e isso cria um círculo vicioso. Infelizmente esta é a

realidade.

O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO – Sr. Presidente, vou fazer dois

comentários. Primeiro, quero pedir desculpas ao Vital Severino Neto, companheiro

de Uberlândia. Não poderia deixar de parabenizá-lo pelo trabalho que vem

desenvolvendo na nossa gloriosa Universidade Federal de Uberlândia. É uma das

poucas universidades no País que trabalham especificamente com esses atletas,

além de se preocupar com a formação de professores e técnicos que irão lidar com

essas pessoas. Considero esse trabalho muito importante. Vamos aguardar as

contribuições, que serão valiosas para formulação do nosso relatório.

Em relação às CPIs — é triste ter de admitir isso —, como disse V.Sa., faz-se

aquele bombardeio, há denúncias aqui e ali, mas, no momento em que se discute

uma lei ou um projeto é apresentado exatamente para organizar a legislação, como

a Agnelo/Piva, ninguém dá a devida importância ao processo. Só agora as pessoas

estão entendendo, porque o dinheiro começou a chegar e os atletas vêem os

resultados, o trabalho realizado. Já ouvi comentário neste sentido: “Ah, mas foi lá na

Câmara que se votou essa lei.” Muita gente passa horas e horas aqui até encontrar

alguém para criticar, porque isso dá notícia, dá ibope.

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Sua presença aqui, com certeza, vai nos ajudar na elaboração do nosso

relatório. Estamos tentando fazer um Estatuto que organize o desporto brasileiro —

tanto o futebol, quanto os esportes olímpico e paraolímpico —, sem esquecer a

questão educacional; outra grande preocupação, que, no meu relatório, receberá

tratamento especial.

O projeto apresentado é bom, mas queremos aprimorá-lo. É fundamental

melhorar o desporto educacional brasileiro. Este é o nosso grande objetivo: fazer a

melhor legislação possível e aplicá-la. É uma pena que nossos atletas continuem

desinteressados. Nós vamos continuar insistindo nesse ponto, porque, no final,

quem irá sofrer os efeitos do que estamos discutindo e votando serão eles mesmos.

Por isso mesmo, queremos mais participação deles, para que possamos fazer um

bom trabalho e não sejam cometidas injustiças posteriormente.

Mais uma vez, muito obrigado pelas respostas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Deputado

Gilmar Machado.

Concedo a palavra ao Deputado Eurico Miranda.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, Sr. Relator, quero

aproveitar a presença dos dois palestrantes para dizer que o Comitê Paraolímpico

Brasileiro obteve grande conquista recentemente. Refiro-me ao trabalho realizado

pelos interessados e até pelo ex-presidente, que também batalhou muito. Acho que

o atual presidente vem batalhando da mesma forma. Conseguiu-se a equiparação

dos benefícios, atingindo também o Comitê Paraolímpico.

Contudo — e agora precisamos ter o mesmo cuidado dispensado à chamada

Lei Agnelo/Piva —, os recursos não chegam aonde deveriam chegar. Temos de ter o

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cuidado de saber se o formador — aquele que realmente cuida do atleta, que forma

o atleta — foi beneficiado. Está sendo beneficiado um grupo pequeno de atletas,

mas acho que deve haver outra forma de distribuição.

Por exemplo, os recursos destinados à modalidade judô, que tem muitas

reclamações, não devem ser entregues integralmente à confederação, nem se deve

selecionar três ou quatro atletas para recebê-los. Acho que o Comitê sabe quais são

as entidades, os clubes, as associações que efetivamente formam esses atletas e

onde eles têm possibilidade de praticar suas atividades, porque, no futuro, podem

estar representando o Brasil. Quer dizer, é importante essa contribuição, esse

fomento aos clubes.

Outro cuidado que se deve tomar — e o presidente do Comitê Paraolímpico

está presente — é no sentido de que o Comitê não seja esquecido. É evidente que o

Comitê Olímpico chama muito mais a atenção. Agora, o Comitê Paraolímpico não

pode ser relegado a um segundo plano, depois da conquista na lei, em que obteve

os mesmos benefícios do Comitê Olímpico.

Quero aproveitar também a presença do Sr. Francisco Maia. — S.Sa.

abordou tema da maior importância —, para dizer que, na verdade, toda legislação

feita até hoje privilegia um número muito pequeno de atletas, principalmente no

futebol. Ela foi voltada para beneficiar atletas que não precisavam desse benefício.

Falou-se em escravidão, quando se referiu ao passe. Entretanto, esses atletas não

têm problema de passe. Eles é que foram os grandes beneficiados. Como

conseqüência — e os depoimentos aqui são importantes, principalmente de homens

da mídia, no sentido de mostrar que a grande maioria dos atletas no futebol não

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foram beneficiados; pelo contrário, foram prejudicados —, os atletas estão sem

saber sobre o seu futuro.

S.Sa. abordou, por exemplo, o direito de imagem. Meia dúzia de atletas tem

direito de imagem. Outros, muitas vezes, não recebem dois salários mínimos —

valor esse que muitos clubes não têm condições de pagar. Portanto, temos de dar

garantias a esses atletas, dar-lhes condições de praticar o esporte. Eles podem

trazer uma contribuição muito grande para este debate, porque vivem o dia-a-dia e

sabem muito bem o que está acontecendo.

Infelizmente, a mídia vem abordando assuntos mais palpitantes, como por

exemplo se o Ricardo Teixeira ou o Romário vão ou não ser convocados. É esse tipo

de assunto que interessa, como também dizer que o clube tal está atrasado três ou

quatro meses no pagamento, sem querer saber as razões. De repente querem

buscar as razões, porque acham que foi o dirigente que desviou o dinheiro, quando

na verdade ele não recebeu absolutamente nada. Não interessa falar do clube

grande, mas da grande maioria. É a constatação do desconhecimento de grande

parte da mídia, formadora de opinião. Mesmo assim, sem ter conhecimento, quer

passar sua visão. Alguns formadores de opinião acham que deve ser assim. Passam

sua opinião dessa forma e não como efetivamente acontece. Comentam-se casos

rumorosos, mas não se comenta que um clube por dia fecha suas portas no Brasil,

que os clubes, infelizmente, não têm a mínima condição de sobreviver e que o

mercado de trabalho está cada vez mais restrito.

Aproveito a presença do jornalista Francisco Maia para solicitar sua

colaboração, principalmente ao Relator. É muito importante que o Relator tenha

conhecimento disso tudo ao formar sua convicção. Não quero nem trazer minha

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opinião, porque vivo isso no dia-a-dia, sei o que está acontecendo. Trago um

depoimento, e quero também ouvir depoimentos de outras pessoas.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Permite-me V.Exa. um aparte?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Claro, claro.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Só quero aproveitar esse gancho, porque

sou torcedor e não entendo muito bem como funciona o desporto brasileiro. Fiquei

preocupado com o que V.Exa. afirmou sobre o direito de imagem. V.Exa. acabou de

dizer que há jogadores que não recebem dois salários mínimos. O direito de imagem

não é a distribuição do valor que cabe aos clubes, quando se apresentam, para ser

dividido entre os 22 jogadores? São onze jogadores de um time e onze do outro —

22 no total. O direito de imagem não teria de ser divido por 22?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Desculpe, há uma diferença entre o

direito de arena...

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Seria o direito de arena?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – O direito de arena é dividido

igualmente.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Esse funciona?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Não, o clube, ao receber o direito

de arena, deveria repassá-lo aos jogadores. Porém, a maioria dos clubes não tem

direito de arena, porque não recebe da televisão. Apenas uma pequena parcela de

clubes recebe.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – O que é uma injustiça. Nosso Estatuto

deveria prever essa modalidade.

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O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Acho que uma das propostas

apresentadas aqui foi no sentido de, nos contratos de televisão, destinar

obrigatoriamente um percentual aos clubes de menor investimento, a outras divisões

etc. Quer dizer, se hoje a grande fonte é a televisão, a única maneira de beneficiar

os pequenos clubes é destinar-lhes pequena parcela desse contrato. Já foi

apresentada proposta nesse sentido.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – O que é então o direito de imagem?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – O direito de imagem foi criado...

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – É individual?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – O direito de imagem é totalmente

individual. Ao se fazer um contrato com um jogador, pode haver contrato de um

salário normal e o direito da imagem que ele tem. O jogador constituiu uma empresa.

Ela, mediante determinada remuneração, cede a imagem do jogador por um

período.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Os colegas dele não recebem nada?

Porque os colegas dele participam para que ele seja...

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Não, mas é o contrato...

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – ...estrela também.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Mas aí é um direito de cada um.

Não se deve misturar o direito de arena com o de imagem. Criou-se no País uma

nova situação. Um jogador, quando vai assinar o contrato, diz: “Quero receber 100

mil reais por mês, livres”. Não existe negócio livre. Você não pode pagar nada sem

fazer os devidos descontos. Ora, se você faz um contrato, por exemplo, de 100 mil

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reais, com os descontos normais — desconto normal, só para o Imposto de Renda,

são 27% —, ele não receberia os chamados 100 mil reais livres.

Então, ao se criar o direito de imagem da empresa, ele paga na sua empresa

menos do que os 27% que iria descontar. Fica na faixa dos 12% ou 13%; em alguns

Estados, até em 15% — uma facilidade para ele poder receber mais.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Ele pode inserir nesse contrato o seu

possível direito de imagem também?

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Não, direito de imagem é um

contrato à parte.

O SR. DEPUTADO IÉDIO ROSA – Para efeito...

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Não, direito de imagem é um

contrato que ele faz à parte. É feito um contrato — Atleta Profissional de Futebol — e

a pessoa recebe “x” por ele. Depois, faz um contrato com uma empresa por ele

constituída, que cede ao clube sua imagem. Isso é feito à parte.

Acho que já perdemos muito tempo. Volto a pedir a contribuição do Francisco

Maia e que o Relator dê preferência à sugestão apresentada e baseada na sua

vivência, no dia-a-dia desse relacionamento, quando se aplica isso.

V.Sa. disse que houve alguma melhora em relação à formação do atleta. É

verdade, está na lei, embora a maioria não cumpra isso — ou seja, obrigar que o

atleta tenha outra formação. Seria muito bom que tivesse pelo menos outra

formação profissional, porque o atleta, ao encerrar... Não estou me referindo ao que

ganhou bem, porque esse também joga dinheiro fora. Falo daquele que ganhou

muito pouco e que não tem outra formação. Quando muito, ele pode ser um

trabalhador comum, se encontrar emprego, sem nenhuma especialidade. Pode ser

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um ajudante de obra, e olhe lá. É outro aspecto que o nosso Relator deve olhar com

muito cuidado, e não estou me referindo à formação escolar ou universitária. Essas

AGAPs teriam, por obrigação, de dar cursos profissionalizantes a esses atletas que

estão encerrando suas carreiras.

Agradeço ao Presidente o tempo que me foi concedido e parabenizo o

Presidente do Comitê Paraolímpico. Acho que os dois Comitês são iguais. Quer

dizer, os senhores obtiveram grande conquista com a elaboração da lei, os mesmos

benefícios dados ao Comitê Olímpico.

Quero parabenizá-lo pela continuidade do trabalho. Lembro que sugeri ao

Francisco Maia o encaminhamento de suas sugestões ao Relator. Elas retratam sua

vivência, especificamente em relação ao futebol, área muito discutida, e a mídia quer

formar opinião em relação a ela. Como homem da mídia, ele pode trazer sugestões

importantes para o Relator.

Obrigado, Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Obrigado, Deputado

Eurico Miranda.

Vou passar a palavra ao jornalista Francisco Maia, para que teça as

considerações que julgar convenientes sobre a sugestão apresentada pelo

Deputado.

O SR. FRANCISCO MAIA BARBOSA – Perfeitamente.

Sr. Relator, o caro Deputado Eurico Miranda fez uma advertência muito

importante. Realmente, é fundamental fazer esse registro sobre a destinação das

verbas.

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Em Belo Horizonte, caro Deputado, o Sindicato dos Jogadores de Futebol

Profissional de Belo Horizonte, que é apenas cartorial, não existe na prática,

recebeu o direito de arena dos jogadores mineiros, e não houve nenhuma satisfação

daquela arrecadação para os jogadores de futebol. Quando apurado, verificou-se a

compra de uma casa para o Sindicato em Belo Horizonte, e o resto do dinheiro

simplesmente desapareceu. Foi uma quantia vultosa — quase um milhão de dólares

— que chegou ao Sindicato. Então, é preciso que se tenha muito cuidado com a

destinação dessas verbas. Temos esse exemplo em Belo Horizonte. Os próprios

atletas, tão desinteressados pela profissão, não viram passar quase um milhão de

dólares. É um caso pendente em Belo Horizonte.

Em relação aos privilégios, realmente há uma casta de privilegiados no

mundo do futebol. Temos debatido muito esse tema em Belo Horizonte.

Participamos de programas na TV Bandeirantes, e tenho discutido o assunto na

minha crônica, no jornal Hoje em Dia. Os jogadores querem muito os seus direitos.

Agora, na hora de cumprir os seus deveres, aparecem vários exemplos de maus

profissionais.

Um exemplo bem interessante que temos usado é que raramente um clube

põe um jogador para receber, por exemplo, pelo INSS, quando ele fica inativo por

longo período. Está previsto em lei. Clubes que têm consideração pelos seus atletas

não fazem esse tipo de coisa, enquanto alguns atletas não pensam duas vezes em

brigar pelo passe na Justiça, quando há algum tipo de atraso.

Recentemente, houve um caso terrível em Belo Horizonte. O América estava

devendo ao Rui, importante jogador de sua equipe, o Fundo de Garantia, embora os

salários estivessem em dia. E assim como existe o advogado de porta de cadeia na

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Justiça Criminal, também na porta do clube de futebol surgem advogados

oportunistas e inescrupulosos, que sabem que o futebol, além de trazer projeção, é

uma forma fácil de ganhar muito dinheiro. Pois bem. Um advogado desses —

inclusive, está sendo processado, conforme o Código de Ética da OAB de Minas

Gerais —, que trabalhava para o América, vendo que defendendo a outra ponta

poderia ganhar mais, entrosou-se com o pai do Rui e o orientou a entrar na Justiça

para requerer o passe, pelo fato de — e ele tinha conhecimento disso — o América

não estar recolhendo o Fundo de Garantia. Hoje, o Rui está no Cruzeiro. Criou-se

uma pendência judicial. No julgamento do mérito, a Justiça determinou que o

jogador não poderia atuar pelo Cruzeiro, mas ele continua jogando naquele time.

Quer dizer, a determinação judicial foi desrespeitada. Tal fato ocorre em todo o

Brasil. Estou citando casos específicos de Minas Gerais, porque lá os jogadores,

lamentavelmente, vêm agindo dessa forma, muitas vezes impulsionados por

interesses de profissionais inescrupulosos que ali atuam, ainda que de acordo com a

lei.

No que diz respeito a ex-atletas, em Belo Horizonte aconteceu uma

experiência interessante. A Prefeitura local — à época era Secretário o Sr. Adson

Lima, ex-técnico da seleção brasileira feminina de vôlei — firmou convênio com a

AGAP, que passou a fornecer treinadores para os núcleos de formação de

jogadores de futebol. Foi uma forma de dar emprego a esses ex-profissionais. Eles

foram escolhidos pela AGAP. Foi feita uma triagem e deu-se treinamento a eles.

Esse projeto está sendo levado adiante, com certo sucesso, na Capital mineira.

O Wilson Piazza, Presidente da Federação das Associações de Atletas

Profissionais — FAAP no País, reclama da dificuldade que tem até de conversar

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com os atletas. Em Belo Horizonte, os clubes não gostam muito da atuação da

AGAP e da FAAP, porque, segundo o Piazza, eles acham que vai haver incentivo a

movimentos de reivindicação e tudo o mais. Trata-se de pessoa muito séria e, tenho

certeza, sua participação contribuiu muito com os trabalhos desta Comissão.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Sr.

Francisco Maia Barbosa.

Antes de encerrar esta reunião, dada a ausência do nosso companheiro

Gilmar Machado, que foi cumprir sua tarefa como Relator em outro projeto, gostaria

de fazer uma indagação ao Presidente do Comitê Paraolímpico.

Gostaria de saber a opinião do Comitê Paraolímpico sobre a proposta que

vem sendo encaminhada a esta Comissão, no sentido de se elaborar duas leis, ou

uma lei com uma parte geral e duas partes específicas, uma sobre futebol e outra

sobre outros esportes.

O SR. VITAL SEVERINO NETO – Obrigado, Sr. Presidente. Antes de

responder a sua indagação, quero fazer justiça e dizer que, em 1997, quando da

discussão do projeto de lei que se transformou na Lei nº 9.615, numa Comissão

Especial do Congresso Nacional, o Deputado Eurico Miranda foi um dos grandes

defensores do nome “Comitê Paraolímpico”. Quer dizer, onde estivesse escrito

“Comitê Olímpico”, que se passasse a escrever “Comitê Paraolímpico”. Hoje, o

nosso Comitê vem ressaltar o importante trabalho desenvolvido pelo Deputado

Eurico Miranda e por seus pares àquela época, reconhecendo o Comitê

Paraolímpico.

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Falando especificamente sobre sua pergunta, Sr. Presidente, entendemos

que uma única lei não deve contemplar eqüidade de ações e atividades — no caso,

desporto profissional e desporto de rendimento —, com cunho amador. Acho que

seria meio complicado.

O Comitê Paraolímpico acredita numa legislação enxuta, que cuide do

desporto profissional, em que todas as atenções estejam direcionadas para ele; e

que haja uma outra lei, um outro encaminhamento, em que se desenvolva um

trabalho em favor do desporto de rendimento, com cunho amador. Se nos fosse

dado optar, seguramente optaríamos por essa fórmula.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Muito obrigado, Sr.

Presidente do Comitê Paraolímpico.

Antes de encerrar, já que imagino que não teremos mais manifestações,

quero prestar um esclarecimento aos Srs. Deputados da Comissão.

Estamos começando nossos trabalhos mais cedo, porque houve

determinação do Presidente da Casa no sentido de que eles se encerrassem no

máximo às 16 horas. Já houve um incidente na semana passada. Estávamos nas

Comissões e acabamos levando falta, por causa desse espírito, que não consigo

entender bem, de que a pirotecnia do plenário é que vale, desprestigiando os

trabalhos das Comissões, onde realmente as coisas acontecem.

De qualquer maneira, são determinações que devemos cumprir. Acredito que

menino de Jardim de Infância é que tem de ter horário certo para a merenda, a

entrada e a saída. Não é bem o caso deste Parlamento, em especial dos trabalhos

das Comissões. Mas quero repetir que há essa determinação e por isso começamos

os trabalhos cedo.

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Peço a V.Exas. que permaneçam para votar a ata. Iniciamos a reunião, mas

acabamos não votando a ata.

Agradeço aos palestrantes a grande contribuição aos nossos trabalhos.

Estamos pedindo prorrogação de prazo para apresentação do relatório final, que

deverá acontecer até o final deste mês, no máximo no início do mês de maio. Cada

vez mais entramos no assunto e ficamos instigados a procurar mais. Tivemos pouca

presença de jogadores. Não colhemos praticamente a opinião deles. Acho que

vamos ter de nos deslocar a São Paulo e a Minas Gerais, para, num esforço maior,

coletar essas informações.

Permito-me, neste momento — e peço desculpas se estou me valendo do fato

de presidir a reunião —, fazer referência ao jornal Hoje em Dia; não especificamente

ao jornalista Francisco Maia Barbosa, a quem conheci hoje e que me impressionou

bastante pela forma como trouxe os problemas esportivos, mas a um colega seu

chamado Eduardo Almeida Reis.

Gostaria que V.Sa. dissesse ao jornalista Eduardo Almeida Reis que existem

amapaenses.

Num momento infeliz de sua carreira, o jornalista publicou um artigo, no dia

24 de dezembro de 2001, com o seguinte comentário: “Todos sabemos da existência

de gaúchos, catarinenses, paulistas, paraibanos, alguns deles ilustres, mas a figura

do amapaense lembrava certas partículas elementares da Física, como os neutrinos,

de quem a existência todos sabem, mas ninguém nunca viu".

Estou, portanto, apresentando-me como amapaense, para ressaltar a

infelicidade de quem não conhece o Brasil. O jornalista brincou, primeiro, com uma

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questão delicadíssima nos dias de hoje, a da Palestina, exacerbada ao seu limite,

interessando a todo o mundo.

Considerando que o Amapá não existe e que aquela faixa do globo terrestre é

inviável, ele propõe que se venda o Amapá para a Palestina, ou para quem o

patrocine, de tal maneira que, em primeiro lugar, se recebam recursos para pagar a

dívida externa. Ainda há o aspecto colonial inserido na cabeça de muita gente que

defende que devamos vender um pedaço dos outros para poder pagar uma dívida

que é de todos. O Amapá não constituiu tal dívida. Aliás, levaram todo o manganês

do Amapá, e parte da colonização do Brasil se fez em detrimento de regiões como a

nossa.

Brincando com a questão palestina, o jornalista afirma que a venda do Amapá

resolveria o problema do Brasil — porque daria para pagar a dívida externa — e o da

Palestina, pois, com seus petrodólares, as nações árabes poderiam constituir no

Amapá um país supimpa. Eu nunca tinha visto alguém, desconhecendo a realidade

brasileira, ser tão infeliz, usando essa nobre arte de escrever e de formar a opinião

pública.

Aproveito esta oportunidade, desculpando-me, mais uma vez, por fazê-lo

numa Comissão Especial, para dizer que sou amapaense e disso me orgulho. Sou

um tipo peculiar de brasileiro, ou seja, brasileiro por opção. O Amapá se constituiu a

partir de lutas de brasileiros para incorporarem esse pedaço ao Brasil. Acho que os

outros que aqui nasceram são tão brasileiros quanto nós. Mas nós temos o privilégio

de dizer que optamos por ser brasileiros. Talvez até estivéssemos melhor se

tivéssemos continuado sob o domínio francês, hoje membros da Comunidade

Européia.

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O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Permita-me discordar de V.Exa.,

apenas em relação à influência francesa, concordando com tudo o que se falou até

agora. Só discordo desse aspecto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Com certeza, feita a

opção, nós mereceríamos o reconhecimento, no sentido de termos acrescido 43 mil

quilômetros ao Brasil, e não seríamos merecedores de tão debochado e

inconseqüente comentário de alguém que se diz jornalista.

Quero fazer a ressalva de que V.Sa. não tem nada a ver com isso. Só queria

me apresentar ao jornalista e dizer um pouquinho da nossa história.

Informo também que a Justiça do Amapá, fazendo uso das prerrogativas

constitucionais, acionou o jornal e o jornalista, e ambos apresentaram suas

desculpas, o que, para nós, foi o de menos. Só queríamos que ele soubesse que o

Amapá não é nada disso. Queríamos que ele se interessasse por conhecer um

pouquinho mais sobre o Brasil, de quem ele tinha a pretensão de falar.

Vou submeter à apreciação as atas das duas reuniões anteriores, o que, pelo

dinamismo da última reunião, acabou não ocorrendo. As cópias encontram-se nas

bancadas.

Indago aos Srs. Parlamentares se há necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO EURICO MIRANDA – Sr. Presidente, solicito a dispensa

da leitura das atas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Jurandil Juarez) – Por solicitação do

Deputado Eurico Miranda, está dispensada a leitura.

Em discussão as atas. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-las, em votação.

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Os Srs. Deputados que concordam com o seu teor permaneçam como se

encontram. (Pausa.)

Aprovadas.

Antes de encerrar, quero agradecer ao Sr. Vital Severino Neto, Presidente do

Comitê Paraolímpico Brasileiro, e ao jornalista Francisco Maia Barbosa, cronista do

jornal Hoje em Dia, a presença e as excelentes contribuições que nos deram. Como

já expliquei, houve correria, mas isso, em nenhum momento, diminuiu a importância

dos dois depoimentos não só para a Comissão, mas em particular para o trabalho do

nosso Relator. Esta foi uma das reuniões que mais contribuíram para a produção de

um substitutivo que certamente irá atender às melhores aspirações da sociedade

brasileira pelo Estatuto do Desporto.

Não havendo mais quem queira fazer uso da palavra, encerro os trabalhos,

convocando reunião para o dia 17 de abril, quarta-feira, às 14 horas, com pauta a

ser definida oportunamente.

Está encerrada a presente reunião.