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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIAS EVENTO: Audiência Pública N°: 0250/02 DATA: 10/04/02 INÍCIO: 14h29min TÉRMINO: 16h17min DURAÇÃO: 01h48min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h50min PÁGINAS: 34 QUARTOS: 23 REVISÃO: Andréa Macedo, Odilon, Waldecíria SUPERVISÃO: Amanda, Ana Maria, Debora CONCATENAÇÃO: Letícia DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO FRANCISCO SIMEÃO - Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados — ABIP. REINALDO APARECIDO DE VASCONCELOS - Diretor-Substituto do Programa de Gestão de Qualidade Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente. GERARDO TOMMASINI - Presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos — ANIP. GUILHERME FRANCO NETTO - Coordenador-Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, do Ministério da Saúde. HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL - Representante do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. SUMÁRIO: Debate sobre a aplicação da Resolução nº 258, de 1999, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, no combate à epidemia da dengue. OBSERVAÇÕES Há exibição de vídeo. Há exibição de imagens. Há intervenções inaudíveis.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · SUMÁRIO: Debate sobre a aplicação da Resolução nº 258, de 1999, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, no combate à

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Audiência Pública N°: 0250/02 DATA: 10/04/02INÍCIO: 14h29min TÉRMINO: 16h17min DURAÇÃO: 01h48minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h50min PÁGINAS: 34 QUARTOS: 23REVISÃO: Andréa Macedo, Odilon, WaldecíriaSUPERVISÃO: Amanda, Ana Maria, DeboraCONCATENAÇÃO: Letícia

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

FRANCISCO SIMEÃO - Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados— ABIP.REINALDO APARECIDO DE VASCONCELOS - Diretor-Substituto do Programa de Gestão deQualidade Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente.GERARDO TOMMASINI - Presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos —ANIP.GUILHERME FRANCO NETTO - Coordenador-Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, doMinistério da Saúde.HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL - Representante do Ministro do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior.

SUMÁRIO: Debate sobre a aplicação da Resolução nº 258, de 1999, do Conselho Nacional doMeio Ambiente, no combate à epidemia da dengue.

OBSERVAÇÕES

Há exibição de vídeo.Há exibição de imagens.Há intervenções inaudíveis.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0250/02 Data: 10/04/02

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O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Havendo número regimental,

declaro aberta a presente reunião de audiência pública da Comissão de Defesa do

Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, que tem como objetivo discutir a aplicação da

Resolução nº 258, de 1999, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, no combate à

epidemia de dengue.

Como haverá várias exposições nesta reunião, para facilitar o acompanhamento

nomearemos os expositores, que permanecerão no plenário, para visualizar melhor o

painel. Após as apresentações, formaremos a Mesa para o debate.

Estão convidados para esta reunião de audiência pública a Sra. Gisela Alencar,

Diretora de Programas de Meio Ambiente; o Sr. Reinaldo Aparecido de Vasconcelos,

Diretor-Substituto do Programa de Qualidade Ambiental, do Ministério do Meio

Ambiente, representando o Sr. Ministro de Estado do Meio Ambiente; o Dr. Guilherme

Franco Netto, Coordenador-Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, representando o

Sr. Ministro de Estado da Saúde; o Dr. Henrique Augusto Gabriel, Consultor Jurídico,

representando o Sr. Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior; o Dr. Gerardo Tommasini, Presidente da Associação Nacional da Indústria de

Pneumáticos — ANIP, que também estará representando os Srs. Eugênio Carlos

Deliberato, Presidente da Bridgestone Firestone do Brasil, Giorgio Della Seta,

Presidente da Pirelli Pneus S.A., e Eduardo Aníbal Fortunato, Diretor-Presidente da

Goodyear do Brasil; e o Dr. Francisco Simeão, Presidente da Associação Brasileira

da Indústria de Pneus Remoldados — ABIP.

Dando início aos nossos trabalhos, vamos dar oportunidade a que o Dr.

Francisco Simeão faça a sua apresentação.

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(Exibição de vídeo.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Concedo a palavra ao Sr.

Francisco Simeão.

O SR. FRANCISCO SIMEÃO – Sr. Presidente da Comissão de Defesa do

Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, Deputado José Borba, Sras. e Srs.

Deputados, demais expositores já nominados, senhoras e senhores, a apresentação

de vídeo dispensa muitas explicações. Nesses onze anos de litígio, chamados pela

imprensa nacional de guerra dos pneus, tivemos a oportunidade de trazer para o Brasil

a discussão que fez aflorar o problema do pneu inservível e sua solução: a Resolução

nº 258/99 do CONAMA e o Projeto de Lei nº 1.259/95. Ao longo de todos esses anos,

amadurecemos nossas idéias e convencemo-nos de nossos erros.

Confesso que, abrigados na nossa associação, a ABIP, tivemos de expulsar

companheiros porque não pactuavam com os estatutos da associação e com os

compromissos por ela assumidos. Temos maus e bons exemplos.

Devemos reconhecer nossos erros, saber ouvir e analisar os fatos. Não se pode

tratar desiguais de forma igual. Infelizmente, em função de o Ministério do Meio

Ambiente, o IBAMA e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

terem razão no tratamento de alguns do nossos ex-colegas, acabamos sendo

alcançados e, efetivamente, não merecemos o mesmo tratamento.

Perdoem-nos a falta de modéstia neste momento, mas temos implantada em

Curitiba a maior e a melhor indústria de pneus remoldados do mundo, a mais bonita,

com o mais belo jardim, com a equipe mais bem treinada, com o melhor produto e a

melhor produtividade. Estamos cumprindo com nossa obrigação antecipadamente ao

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prazo da resolução do CONAMA, dando um exemplo ao País. Somos, sem dúvida, um

dos responsáveis por Curitiba não apresentar um só caso de dengue, já que,

convocados pelo Secretário da Saúde do Estado do Paraná, começamos a perseguir

o mosquito Aedes aegypti, que foi morto no ninho em maio e junho do ano passado,

antes do final do verão, quando os óvulos iam eclodir e naturalmente nos somaríamos à

epidemia de dengue que grassa no País.

Quero dizer que discutimos, digladiamos, estamos machucados, mas estamos

amadurecidos. Temos de enxergar a realidade. Recentemente, tivemos um embate no

CONAMA que acabou culminando em pequenas modificações no texto, felizmente. O

IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente, na minha opinião amadurecidos,

apresentaram proposta diferente daquela de 12 de dezembro e que serviu a todos.

Portanto, só falta cumprir a resolução do CONAMA nos portos e fora deles, cobrando,

inclusive, o que já foi embarcado desde o dia 1º de janeiro deste ano.

Feito isso, quero propor paz à Goodyear, à Firestone, à Pirelli, contra as quais

temos litigado, ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ao

Ministério do Meio Ambiente, ao IBAMA, para que possamos cooperar. Seremos bons

companheiros na mesma trincheira. Temos condições de ajudar, temos talento e boa

vontade.

É esse o apelo que faço aqui.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Para facilitarmos nossos

trabalhos, passaremos a compor a Mesa. Convido para tomar assento a Dra. Gisela

Alencar, Diretora de Programas do Ministério do Meio Ambiente; o Sr. Reinaldo

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Aparecido de Vasconcelos; o Dr. Guilherme Franco Netto, Coordenador-Geral de

Vigilância Ambiental; o Dr. Henrique Augusto Gabriel, Consultor Jurídico representando

o Sr. Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; o Dr. Gerardo

Tommasini, Presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos; e o Dr.

Francisco Simeão, Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneus

Remoldados — ABIP.

Dando continuidade aos nossos trabalhos, passo a palavra ao Dr. Reinaldo

Aparecido de Vasconcelos. Logo em seguida, abriremos a discussão.

O SR. REINALDO APARECIDO DE VASCONCELOS – Sr. Presidente da

Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, Deputado José

Borba, estou aqui representando o Ministério do Meio Ambiente e, em nome do

Ministro José Carlos Carvalho, agradeço à Comissão o convite para discutirmos a

Resolução nº 258.

Quero também apresentar a Dra. Gisela Alencar, Diretora da área de Qualidade

Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, bem como alguns consultores e

funcionários do IBAMA, que acompanharam toda a discussão desde quando foi

proposta a regulamentação até o último momento, quando foi aprovada a alteração. Na

verdade, não foi uma alteração, mas um clareamento sobre o entendimento e os

objetivos daquela resolução.

Preparei uma apresentação em termos de marcos regulatórios, dando uma

cronologia dos instrumentos de regulação da matéria sobre pneus. Peço desculpas ao

representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, porque

estão mencionados alguns instrumentos de regulação da sua área, mas deixo-o à

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vontade para tecer qualquer comentário ou explicação a respeito do instrumento que

estarei apresentando nesta explanação.

Antes de apresentar o primeiro slide sobre o assunto, gostaria de dizer que

nós, da área ambiental, sentimo-nos muito confortáveis por estar trabalhando numa

regulamentação com enfoque ambiental que tem a ver com a saúde. Normalmente,

nossos instrumentos enfocam o meio ambiente, e não necessariamente o homem, num

primeiro momento, porque essa é uma atribuição do Ministério da Saúde. Hoje, após

três ou quatro anos de discussão, esse instrumento, que, inicialmente, foi discutido e

apresentado com justificativas ambientais, serve também à saúde humana, como a

proliferação da dengue causada pelo mosquito, que tem criatórios também em pneus

em que há acúmulo de água.

É importante dizer que a Resolução nº 258 do CONAMA não veio resolver o

problema da dengue. Coincidentemente, ela vem ajudar a solucioná-lo. É uma

resolução de caráter eminentemente ambiental.

(Exibição de imagens.)

O pneu é um problema ambiental. Eu não preciso dizer. As imagens aqui

mostradas valem mais do que mil palavras, mais do que mil especialistas tentando

explicar o problema que causa ao meio ambiente: assoreamento de rios, com o

conseqüente transbordamento, ocupação de áreas e uma série de outras

inconveniências. O pneu não é um resíduo perigoso, mas é incômodo, porque, à

medida que se torna inútil, surge o inconveniente da disposição. Normalmente, a

disposição é essa mostrada no vídeo do Sr. Francisco Simeão: ou os pneus são

depositados em aterros sanitários, que são muito poucos, ou em lixões. Ele tem meia

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vida não de utilização, mas de degradação no meio ambiente, imensurável. Não foi

calculado quanto tempo ele fica na natureza até se degradar totalmente. Realmente, o

pneu é um resíduo incômodo. Não adianta querer livrar-se dele enterrando-o, porque já

foi comprovado que, com o passar do tempo, com a compactação do solo, ele tende a

emergir. Trata-se de um problema para o meio ambiente.

Vou apresentar uma cronologia em termos dos instrumentos legais hoje em

vigor que tocam direta ou indiretamente na questão do pneu usado, do pneu inservível.

Farei uma explanação rápida, para, então, discutirmos efetivamente a Resolução nº

258.

Quanto ao primeiro instrumento de que temos conhecimento sobre bens de

consumo usados, cabe dar uma explicação. Essa introdução tem muito a ver com a

parte de proibição de inserção no mercado brasileiro de pneu usado. É bom que fique

claro que estamos falando de proibição, e não da utilização, da destinação final.

A Resolução nº 258, um dos últimos instrumentos que regulamentam a matéria,

versa sobre diretrizes e gestão dos resíduos. Vamos falar inicialmente dos

instrumentos que começam a regulamentar o pneu usado.

A proibição da importação do pneu usado dá-se primeiramente com a edição

de uma portaria de 1991 do antigo Departamento de Comércio Exterior, hoje

Secretaria, do Ministério da Indústria e Comércio. Entre vários outros pontos tratados

na portaria, o art. 27 estabelece a proibição de inserção no País de bens de consumo

usados. Essa portaria está em vigor até hoje. Não está escrito “pneu” em lugar

nenhum, mas ela fala de bens de consumo usados. No caso, o pneu inservível, já

usado, ficou afetado por essa portaria e é proibido de entrar no País.

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Posteriormente, em 1992, surge uma instrução normativa do IBAMA que proíbe

a importação de determinados resíduos, entre eles o pneumático usado.

Vou explicar. Nessa época, entre 1990 e 1992, o Brasil estava começando a

regulamentar, por conta de um acordo internacional, a inserção de resíduos no País.

Nesse período, começou a adentrar o País uma série de carcaças de pneus

inservíveis.

Sou morador de Brasília e presenciei pessoalmente, em algumas instalações

comerciais, a chegada de pneus impossíveis de serem utilizados, com bolhas, sem

nenhum friso, sendo vendidos para reutilização. Houve várias denúncias ao IBAMA, à

época, sobre o assunto, como também algumas expulsões a pedido do Ministério de

Indústria e Comércio, que contou com a participação do próprio DENATRAN,

levantando o problema da segurança desses pneus que estariam rodando. Nessa

oportunidade, o IBAMA assumiu a responsabilidade de também proibir a entrada de

pneus usados no País. Esse foi um dos motivos de ter sido baixada essa portaria, em

1992: a preocupação com a importação de pneus usados pelo País, vigente até hoje.

Em 1995, uma portaria interministerial, dos Ministérios da Fazenda e de

Indústria e Comércio, no seu art. 1º começa a enumerar algumas exceções, pois, em

virtude da primeira portaria de 1991, estava proibida a entrada de bens de consumo

no País. Mas alguns países do Primeiro Mundo, como os Estados Unidos, começaram

a fazer doações ao Brasil de veículos já utilizados por eles para serem usados por

hospitais e casas de saúde. O Ministério de Indústria e Comércio — e o Dr. Henrique

poderia explicar melhor posteriormente — abriu exceção para doação ao País desses

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bens de consumo usados, mas permaneceu a proibição de importação de pneus.

Essa portaria só abriu algumas exceções.

Já em 1996, a Resolução nº 23 do CONAMA, no seu art. 4º, diz que os resíduos

inertes, classe 3, não estão sujeitos a restrições de importação, à exceção dos

pneumáticos usados cuja importação é proibida.

Essa resolução foi posteriormente complementada pelo detalhamento do Anexo

10, na Resolução nº 235, de 7 de janeiro de 1998, mantendo essa proibição. Então,

em 1996, o CONAMA aprovou uma resolução, na qual havia algumas alterações do

Anexo 10, complementando uma listagem com outros resíduos que ao Brasil não

interessava importar, mas manteve a proibição de pneus usados.

Em setembro de 2000, a portaria da Secretaria de Comércio Exterior, do

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no seu art. 1º determina

que não será deferida licença de importação a pneumáticos recauchutados e usados,

seja como bem de consumo, seja como matéria-prima, classificados na posição nº

4.012, da Nomenclatura Comum do MERCOSUL — NCM.

Deixo ao Dr. Henrique as explicações dessa portaria, caso S.Sa. queira

apresentar maiores detalhes, porque sou do Ministério do Meio Ambiente e essa

portaria é da SECEX, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior. Apenas estou dizendo que a portaria mantém a proibição, apesar

desse novo instrumento manter a posição de importação de pneus usados.

Em setembro de 2001, foi publicado o Decreto nº 3.919, que acrescentou um

artigo à Lei de Crimes Ambientais, punindo o importador de pneus usados em 400

reais por unidade, ou seja, quem importar, armazenar, estocar ou comercializar um

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pneu usado importado é punido em 400 reais por unidade. Todos podem ver que esse

decreto é recente e está em vigor.

Essa seria a cronologia de instrumentos legais concernentes à importação de

pneus usados. Entendemos como correta a afirmação que é inconveniente e um

absurdo termos esses pneus aqui. Para que queremos mais lixo? Para que queremos

importar mais pneus usados? Existe toda essa regulamentação que proíbe a

importação de pneus usados.

Comecemos, então, a discutir seriamente a Resolução nº 258.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – A Mesa lembra que, por

determinação do Presidente da Câmara dos Deputados, a Ordem do Dia começa às

16h, e teremos de suspender os trabalhos. Apelo aos expositores que utilizem o menor

espaço de tempo possível em suas explanações, para que todos possam participar.

O SR. REINALDO APARECIDO DE VASCONCELOS – Sr. Presidente,

precisaria um pouco mais de tempo, pois cedi minha vez de falar para o Dr. Francisco

Simeão, que utilizou quarenta minuto. Sinto-me prejudicado.

Terminada a regulamentação de importação de pneus usados, começamos a

discutir a questão dos pneus inservíveis.

Gostaria de corrigir o Dr. Simeão. S.Sa. foi componente importante no grupo de

trabalho, mas não é dono, nem propôs a discussão da regulamentação de pneus

inservíveis. Essa foi uma decisão tomada por um grupo de trabalho do CONAMA,

conselho seriíssimo, representado por toda a sociedade, constituído por câmaras

técnicas e grupos de trabalho. A proposta surgiu dentro do grupo de trabalho com mais

de quinze instituições presentes. A resolução foi para plenário e foi votada por setenta

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membros. Ela tem caráter educativo e de responsabilidade para o fabricante e o

importador. Quem gera esse produto, que vai se tornar lixo posteriormente, adota o

princípio do poluidor/pagador.

A matéria apresentada pelo Dr. Simeão sobre o incômodo do pneu é

verdadeira. Temos que dar uma solução para o problema.

O Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA, trabalharam seriamente com outras

instituições para que essa resolução tivesse efeito, e não mais fosse uma

regulamentação não aplicada. Por isso, esse prazo de dois anos de carência para as

empresas prepararem-se para começar a recolher esse pneu.

A resolução determina a obrigatoriedade do recolhimento proporcional ao

produto produzido. Tenho um quadro para mostrar o que ela determina. No primeiro

ano, a partir de 2000, para quatro pneus importados, ou fabricados, devem ser

destruídos, e não recolhido, um deles, seguindo técnica ambientalmente aceitável. O

IBAMA está identificando as tecnologias de destruição ambientalmente adequadas.

Essa da produção de pneus em óleo, abordada pelo Sr. Simeão, é adequada, mas

também foram aprovadas a de massa asfáltica e a de co-processamento em fornos de

cimento, assim como outras estão sendo identificadas. Opções e possibilidades que

os responsáveis por colocar esse resíduo no nosso ambiente terão que acionar mais

cedo ou mais tarde.

A resolução foi correta, mas pecou quando não incluiu “importação de pneus

novos” para deixar bem claro, porque o pneu usado estava proibido por essa

legislação que apresentei a V.Exas. Por não ter acrescentado essa expressão, houve

brecha para alguns importadores começarem a importar pneus usados, servindo-se de

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liminares. Eles chegam com essa resolução, dizendo ser importação de pneus. Como

não está discriminado, e os juizes não conhecem a legislação que proíbe, liberam uma

liminar. Um dado a ser confirmado é de que no ano de 2001 o Brasil importou 6

milhões de unidades de pneus usados por meio de liminares.

Agora, não temos condições de fazer esse acompanhamento. A SECEX foi

intimada a liberar essa importações por decisão judicial. Não sei se por

desconhecimento ou má-fé.

Realmente o Dr. Simeão apresentou um caso grave. Devemos dar destinação

final e adequada a esses pneus. Por outro lado, há um buraco na legislação: pessoas

estão utilizando uma falha no processo, que veio a ser corrigida agora pelo CONAMA,

para importar grande quantidade de pneus. Se formos averiguar, possivelmente

encontraremos pneus importados jogados em nosso meio ambiente, acrescidos dos

que já possuímos.

Devemos deixar claro para os senhores nossa responsabilidade como técnicos

da área do meio ambiente, pertencentes institucionalmente a um Conselho Nacional de

Meio Ambiente. Essa reformulação, ou adendo à Resolução nº 258 do CONAMA, deu-

se justamente para fechar essa brecha, porque a importação de pneu usado está

proibida, segundo toda essa regulamentação.

Encerro minha participação. Estou à disposição para prestar os

esclarecimentos necessários sobre a matéria.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Em seguida, vamos ouvir a

palavra do Sr. Gerardo Tommasini, Presidente da Associação Nacional da Indústria de

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Pneumáticos — ANIP, também representante dos Srs. Eugênio Carlos Deliberato,

Presidente da Firestone do Brasil, Giorgio Della Seta, Presidente da Pirelli Pneus S.A.

e Eduardo Aníbal Fortunato, Diretor-Presidente da Goodyear do Brasil.

Com a palavra o Sr. Gerardo Tommasini.

O SR. GERARDO TOMMASINI – Sr. Presidente, muito obrigado pela atenção

que V.Exa. acaba de me conferir cedendo-me esse espaço.

Quero prestar a este Plenário algumas informação relativas a nossa situação.

Não temos filmes ou comerciais para serem exibidos. Limitar-me-ei, no tempo mais

curto possível, pois sei que a Casa hoje está empenhada em votar assuntos muito

mais importantes do que esse, a transmitir algumas informações verdadeiras.

Vamos começar a dizer que o mérito da Resolução nº 258 pertence à

sociedade, e não a nenhum de nós. De qualquer forma, é bom saber que, em 1º de

julho de 1998, quando começaram os trabalhos relativos ao problema dos resíduos

sólidos, em que os pneumáticos foram incluídos, nossa associação estava presente.

Nessa época, fomos chamados a integrar um grupo de trabalho, criado pelo Ministério

do Meio Ambiente, com a participação de várias entidades representativas, os

fabricantes, que somos nós, importadores, reformadores, enfim, todos os segmentos

envolvidos. Portanto, ninguém é dono da Resolução nº 258; ela pertence à sociedade,

que praticamente a criou junto com o Ministério do Meio Ambiente.

Em seguida, o tema coleta e reciclagem de pneus passou a ser discutido no

âmbito da Câmara Técnica de Controle Ambiental do CONAMA. E após várias

reuniões — às quais a ANIP sempre esteve presente, mas nunca foi a dona dessas

reuniões, apenas participava a título de contribuição —, chegou-se a um texto

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consensual que, submetido ao plenário do CONAMA, em 26 de agosto de 1999, foi

aprovado pela maioria dos conselheiros. Esta é a certidão de nascimento da

Resolução nº 258, que acabou por ser publicada alguns meses depois, mais

precisamente em 2 de dezembro de 1998.

A resolução foi inteiramente aceita por parte das indústrias fabricantes de

pneus; não é verdadeira qualquer informação em contrário. As nossas associadas

aceitaram imediatamente todas as propostas, e a resolução foi por nós divulgada em

vários países da América do Sul e da Europa, além dos Estados Unidos, do Canadá e

do Japão.

Tal divulgação resultou na formulação de convite extremamente honroso para

minha pessoa. Fui convidado a participar de reunião promovida pela associação que

congrega todos os fabricantes europeus de borracha — e refiro-me não apenas aos

fabricantes de pneus novos, mas também aos reformadores. Participei da importante

reunião denominada Meeting of International Scrap Tire Group, realizada na Alemanha,

nos dias 15 e 16 de julho de 2000.

Fiquei muito orgulhoso por ter provocado curiosidade nos japoneses, franceses,

italianos, americanos e canadenses, que não acreditavam ser possível que tivéssemos

chegado à perfeição representada pela Resolução nº 258. Os representantes desses

países não aceitavam o fato de sermos capazes de fazer algo que até eles não

conseguiram e que estavam tentando há 25 anos. Eles ficaram extremamente

admirados e, com ar quase que de desafio, disseram que, provavelmente em 2002,

estariam promovendo reunião de igual magnitude no Brasil a fim de poderem verificar

o que estamos sendo capazes de fazer. Essa foi a realidade observada na Alemanha.

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Pasmem os senhores — mas é bom que se diga —, embora estivessem

empenhados há mais de 25 anos na solução do problema de reciclagem dos pneus,

em 1999, tanto a Europa quanto os Estados Unidos destinavam mais de 30% de seus

pneus usados aos aterros sanitários. De maneira mais precisa, pode-se dizer que, em

1999, os Estados Unidos destinavam 31%, e a Europa, 39%.

Por outro lado, o Brasil possui a Resolução nº 258, a qual dispõe que o pneu

pode ser destinado aos aterros sanitários, mas com restrições. Inclusive, há

Prefeituras que não aceitam o pneu nem picado nem inteiro. Vejam a que ponto

chegamos.

Naqueles países, outra alternativa importante é a utilização dos pneus velhos

como combustível alternativo — o que é feito na proporção de 37% nos Estados

Unidos e de 20% na Europa. Os pneus usados são também utilizados na produção de

artefatos, o que é feito por meio da granulação, e aproveitados na construção civil

como isolantes térmicos e acústicos.

Uma das tecnologias mais apaixonantes e recentes, desenvolvida tanto na

União Européia quanto nos Estados Unidos e no Canadá, é a mistura de borracha de

polímeros no asfalto, que dá origem ao chamado asfalto modificado. Como agora as

maiores estradas do País estão em via de privatização, os detentores dos consórcios

responsáveis pela aquisição de tais rodovias estão extremamente interessados em um

tipo de asfalto diferente, capaz de proporcionar durabilidade imensamente maior e

com manutenção extremamente mais barata, apesar de o custo inicial ser maior. Em

outras palavras, não é preciso fazer um asfalto de 10, 15 ou 20 centímetros; a partir

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desse sistema, pode-se fazer um asfalto de apenas 5 centímetros, mas que possui

durabilidade muito maior.

No caso brasileiro, para se cumprir o disposto na Resolução nº 258, adotamos

em nossos vários projetos todas as afirmativas acima descritas, de maneira a dar

maior segurança e a criar um leque mais amplo de possibilidades, caso alguma de

nossas alternativas viesse a falhar.

Vale dizer que hoje nossa preferência em termos de reciclagem reside na

utilização de pneus usados como combustível alternativo. Os pneus possuem poder

calorífico igual ou superior ao carvão ou ao óleo combustível; portanto, os pneus

usados podem substituir essas duas matérias-primas com grande vantagem para o

usuário, que, no caso, é a indústria cimenteira. E, como disse o Sr. Reinaldo

Aparecido de Vasconcelos, estamo-nos referindo às cimenteiras licenciadas pelos

órgãos estaduais, que são uma alternativa interessante.

Também vale dizer que, de acordo com a Resolução nº 258, no prazo de três

anos estará sendo dada destinação final ambientalmente adequada a toda a produção

nacional voltada para o mercado interno. Este ano, a relação é de um para cada quatro

pneus. No próximo ano, a relação será de um para cada dois. E, finalmente, em 2004 a

relação subirá para todos os pneus produzidos. Portanto, em três anos teremos

dominado a atual produção de pneus.

Hoje, a produção nacional de pneus gira em torno de 46 milhões de unidades.

Para fins estatísticos, desse total deve ser retirado o montante destinado ao mercado

externo, que, no ano de 2000, alcançou 16 milhões de unidades. Devido à crise,

infelizmente, em 2001, perdemos o mercado norte-americano e, por isso, vendemos

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um milhão a menos. De qualquer forma, no ano passado, o mercado nacional ficou

com 30 milhões; em 2000, esse número foi de 32 milhões. A moral da história é que,

em três anos, estaremos dando destinação ambientalmente adequada a toda a

produção, o que já é um grande passo. Para se ter idéia, basta dizer que os Estados

Unidos terão de dominar sua produção, que é de 350 milhões de pneus por ano —

número quase que semelhante ao da produção européia. E eles ainda não chegaram

lá.

A partir de 2005, enfrentaremos o problema do passivo ambiental. Há algum

tempo, estimamos que tal passivo era de 100 milhões de unidade, mas hoje pensamos

que esse número talvez seja um pouco menor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Lembro ao nobre expositor

que S.Sa. dispõe de dois minutos para concluir sua apresentação.

O SR. GERARDO TOMMASINI – Pois não, Sr. Presidente.

Levando-se em conta os 30 milhões e dividindo-se tal número por quatro, para

este ano nossa meta é de 7,5 milhões de unidades. No próximo ano, tal meta deverá

subir para 15 milhões; e, em 2004, a meta deverá ser de 30 milhões. Para tal cálculo,

considerou-se que a produção se manterá constante; se a produção aumentar um

pouco, é evidente que a meta de reciclagem também deverá aumentar.

De qualquer forma, desde o início do trabalho, em 1998, estamos nos

preparando para cumprir nossos objetivos com afinco e determinação. De maneira

solene, afirmo que queremos cumprir nossa meta. E tal afirmação desmente qualquer

informação em contrário. Não pretendemos, e tampouco defendemos em momento

algum, qualquer mudança no texto original da Resolução nº 258. Nunca pedimos a

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qualquer pessoa que o texto fosse modificado. Nos setenta anos em que a indústria se

encontra no Brasil, sempre acatamos as instruções e orientações do Governo.

Portanto, carece de fundamento a assertiva de que tentamos alterar a referida

resolução. Não foi esse o nosso estilo de trabalho nos 42 anos de existência da ANIP

e 43 anos de fundação do sindicato.

Concluo minha exposição dizendo que vamos cumprir fielmente a Resolução nº

258. As ações nesse sentido foram iniciadas no ano passado. O IBAMA já detém

grande parte da demonstração de que tais ações estão sendo executadas; cabe a

esse órgão divulgar o que está sendo feito, e não a nós. Afinal, não temos interesse

em fazer publicidade sobre o que executamos ou deixamos de executar. Investimentos

monstruosos foram feitos na compra do maquinário necessário, que foi importado dos

Estados Unidos e da Europa. Tais máquinas estão trabalhando para que possamos

cumprir a Resolução nº 258; quem disser o contrário está mal informado ou está

mentindo.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Concedo a palavra ao Sr.

Guilherme Franco Netto, Coordenador-Geral de Vigilância Ambiental em Saúde, que

aqui está representando o Sr. Barjas Negri, Ministro de Estado da Saúde.

O SR. GUILHERME FRANCO NETTO – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, senhoras e senhores, o Presidente da Fundação Nacional de Saúde

incumbiu-me de aqui representar o Ministério da Saúde.

Procurarei ser bastante breve. Não vou discorrer a respeito da dengue; todos

sabem que essa é uma preocupação fundamental do Ministério da Saúde e de todo o

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Sistema Único de Saúde. Vou apenas ater-me a alguns dados informativos, a fim de

que possamos contribuir com o debate.

A informação coletada pela Fundação Nacional de Saúde no Brasil há mais de

20 anos mostra o perfil da grande maioria dos depósitos e dos criadouros do mosquito

Aedes aegypti. Em 1.316 Municípios, o primeiro colocado é a categoria que engloba

tambores, tanques, barris, tinas, tonéis e depósitos de barro. Esclareço que o grande

depósito do Aedes aegypti está na casa das pessoas, ou seja, os recipientes

mantidos próximos à população convertem-se em criadouros, pois possuem a água

limpa e parada necessária para a reprodução do mosquito. Em segundo lugar, em 523

Municípios, o primeiro grupo constitui-se de garrafas, latas e material plástico. Em

terceiro lugar em grau de importância, temos os pneus.

A partir de números bastante evidentes e sem desconsiderar a importância dos

pneus para a manutenção da reprodução do Aedes aegypti, deixo claro que, mesmo

que eliminemos todos os pneus no Brasil, não haverá corte na transmissão da doença.

Tal afirmativa é verdade porque o grande problema desse mosquito não é o pneu,

mas, sim, os depósitos aos quais me referi. Entretanto, é importante esclarecer que,

embora 366 Municípios no Brasil apresentem os pneus enquanto primeira forma de

criação do mosquito, esse material está sempre presente como um dos três depósitos

mais importantes.

Tais esclarecimentos são importantes do ponto de vista da saúde pública para

que Estados e Municípios não sejam iludidos pela afirmação de que, se eliminarmos

os pneus, o problema da dengue estará resolvido.

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Outro ponto importante é que, historicamente e principalmente a partir de 1986,

quando se observou o grande crescimento da dengue no País, ocorreu grande

concentração da transmissão da doença no Nordeste e no Sudeste. As Regiões Norte

e Sul, ao longo desses últimos dezesseis anos, em muito pouco contribuíram para a

transmissão da dengue. Ou seja, não há possibilidade de se fazer uma correlação de

causa e efeito como o seguinte: se eliminarmos os pneus, eliminaremos o problema do

Aedes aegypti e, conseqüentemente, da transmissão da dengue.

Esta é uma informação importante do Ministério da Saúde, porque temos hoje

responsabilidade extremamente grande com o processo da descentralização das

ações que historicamente deveriam ser feitas por nós e agora passam a ser

assumidas por Estados e Municípios. Cabe ao Ministério esclarecer a esses entes da

Federação o que de fato possibilita a existência dessas doenças nas suas

comunidades. É esse o esclarecimento fundamental que gostaríamos de dar.

Quero dizer ainda que o Ministério da Saúde está muito atento a todo o

processo tecnológico que propõe tratamento adequado de resíduos e que somos

favoráveis a qualquer medida relevante para a redução de resíduos neste País.

Temos acompanhado o problema. Sou integrante do CONAMA, onde

represento o Ministério da Saúde, e tenho acompanhado o empenho daquele

Conselho no sentido de fazer valer suas resoluções.

Coloco-me à disposição dos senhores para qualquer esclarecimento

suplementar.

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Concedo a palavra ao

próximo expositor, Sr. Henrique Augusto Gabriel, Consultor Jurídico, representante do

Sr. Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O SR. HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL – Agradeço à Comissão

oportunidade de participar desta reunião.

Nossa exposição será breve.

Em princípio, a proibição geral de importação de bens usados, citada pelo Dr.

Reinaldo, tem como destinação a proteção da indústria nacional. Este é o grande

objetivo: proteger a indústria nacional contra bens que, nos seus países de origem,

perderam o valor econômico ou têm valor econômico muito baixo. Tendo em vista que

somos um País com grande população de baixíssima renda e sem condições de

adquirir produtos novos, e, portanto, potenciais consumidores desses produtos que no

exterior não valem mais nada, esses produtos inundariam o mercado brasileiro,

causando prejuízos terríveis a todos os segmentos da indústria nacional.

O objetivo dessa resolução, que data de 1990 — justamente a época em que o

Brasil abriu seus mercados à importação de bens — era, e creio que seja até hoje, a

proteção da indústria nacional.

O que nos assustou na questão específica da importação de pneus? Há grande

frota de carros usados no Brasil, que vai envelhecendo a cada dia. As pessoas que

adquirem esses carros não têm poder aquisitivo para dar manutenção adequada a

eles. Então, cada vez mais, vão atrás de peça usada. As pessoas compram seu carro,

mas não têm condições de comprar novos pneus e, muitas vezes, sequer pneus

remodelados. Dessa forma, vão ao borracheiro da esquina comprar um pneu usado,

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para rodarem mais dois ou três mil quilômetros e, depois, executarem a mesma

operação.

Essa é a realidade comercial brasileira: temos uma população de baixíssima

renda que possui automóvel e é consumidora de pneus. Tal fato estimula países

europeus, asiáticos e aqueles detentores de economia mais avantajada, como os

Estados Unidos, a se livrarem do seu gravíssimo problema de lixo ambiental,

especificamente o pneu. Na Europa, a situação chegou ao ponto de navios serem

carregados com pneus usados, que são doados para a África.

Na maioria das vezes, nossos importadores de pneus usados sequer pagam

pela mercadoria, apenas por seu transporte. O pneu é doado por países da Europa,

porque, caso não se livrem do produto ou lhe dêem destinação adequada, sofrerão

pesadas sanções. Vale lembrar que a destinação ecologicamente correta é cara; por

isso, ela não é feita até hoje. Corrijam-me se eu estiver errado.

Diante dessa realidade, estávamos vendo milhões e milhões de pneus entrando

pelos portos brasileiros. Para quê? Para serem remodelados? Não. Entrando pelos

portos brasileiros para atender à população de baixa renda, ou seja, para rodarem até

seis mil quilômetros e, depois, serem jogados no lixo, porque são vendidos a preços

baratíssimos.

Portanto, tínhamos a situação de pessoas que sequer possuíam uma empresa

remodeladora ou de recauchutagem, mas que iam à Europa, recebiam o pneu e

pagavam o transporte, o que é feito a preços muito baixos. Dessa forma, o pneu entra

no Brasil praticamente sem sofrer tributação nenhuma, e pára nas mãos do

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borracheiro, que possui uma pequena loja e o vende para alguém que tenha um carro,

mas que não tem condições de comprar um pneu melhor.

Esse é o primeiro problema industrial.

O segundo problema refere-se aos remodeladores que, na verdade, não o são.

A pessoa diz que importa o pneu para remodelar; o produto entra no País pela porta da

frente, recebe um banho de sabão para que tenha melhor aparência, ganha uma

levíssima camada de borracha e, depois, sai da empresa pelas portas do fundo. Às

vezes, a empresa possui equipamento para remodelar cinco mil pneus por mês, mas

consegue colocar cinqüenta mil pneus no mercado. Obviamente, tais empresas não

agregam qualquer valor ao pneu. Falo tanto sobre as empresas que vendem o pneu

usado, quanto sobre as que fazem a malandragem de passar apenas uma leve

camada de borracha.

A terceira categoria de problemas parece-me ser a do Sr. Francisco Simeão,

que, aliás, é um péssimo exemplo para nós, porque ele é um dos únicos que faz a

coisa certa. Ele é um em mil. O que assistimos aqui é feito por um em mil

importadores. De todos os empresários que hoje importam — hoje temos 5,5 milhões

de pneus remodelados, e acredito que não tenha sido somente o Sr. Simeão a

importar tudo isso —, pelo que eu saiba, a única fábrica que os destrói é a dele. Ou

seja, temos mil empresários fazendo errado para um tentando fazer o correto. É por

isso que eu digo que esse é o pior dos exemplos, porque ele é exceção. O problema

está em que o Governo tem de tratar a regra, o problema real. E este é que estamos

importando pneus da Europa, sem que se agregue valor, sem que se forneça emprego

no mercado brasileiro, sem que se gere nada de interessante na economia, e aliviando

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o problema ambiental de todos esses países, enquanto sobrecarregamos nosso

problema ambiental, porque esse pneu, diferentemente daquele que de fato será

remodelado e que poderá eventualmente rodar mais 20 mil, 30 mil, 40 mil quilômetros,

rodará 5 mil quilômetros e rapidamente se transformará num lixo ambiental.

Sr. Presidente, sei que o tempo é curto, mas gostaria de explicar por que o

Governo resiste tanto à importação de pneus usados. Isso ocorre porque a maioria dos

importadores não lhe agrega valor nenhum, não lhe dá uma sobrevida que seja

compatível, digamos assim, que valha o custo do passivo ambiental que vai gerar.

Como, no caso da nossa resolução, a maioria dos Estados dá ganho de causa

à União, quando esta proíbe a entrada de pneu usado e bens usados de modo geral,

perdendo somente no Rio de Janeiro e no Ceará, os importadores de todo o Brasil —

de São Paulo, do Paraná, do Rio Grande do Sul, do Amazonas, do Acre — vão para

esses dois Estados para obter suas liminares, com as quais infelizmente têm entrado

cinco milhões e meio de pneus. A Advocacia-Geral da União está lutando bravamente,

conseguindo cassar algumas liminares, outras, não. A maioria esmagadora das

causas a União Federal ganha, mas, como há aquelas que perde, é aí que conseguem

entrar com os pneus no Brasil, que ficam dois anos, e depois a liminar se torna

satisfazível, ou seja, o pneu some: foi vendido ou jogado no meio do mato, e não

adianta a União ganhar a causa, porque o mal já foi feito.

Então, propusemos uma alteração nessa resolução. V.Exas. poderão observar

que ela está no art. 13º. Partimos do seguinte princípio: é proibida a entrada de pneu

usado, mas, se alguém conseguir entrar com esse passivo ambiental por intermédio

de uma liminar, de uma decisão judicial que eventualmente não possamos ganhar — o

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que é raríssimo ocorrer, mas ocorre uma ou outra vez, porque cada tribunal ou juiz

pensa de uma forma, embora nossa vitória seja superior a 90% —, que ele não ganhe

duas vezes, primeiro, por ter conseguido entrar com um bem que o Brasil entende que

não poderia entrar e, segundo, pelo fato de haver entrado via decisão judicial, não ser

atingido pela resolução do CONAMA, ou seja, não ter responsabilidade nenhuma com

aqueles pneus que fez entrar no País.

Por isso, agora é proibido o ingresso de pneu usado no País, sim! Estamos

lutando todo dia para que isso não aconteça por questões ambientais e de proteção à

indústria e à economia. Se alguém conseguir burlar todas as barreiras, ou uma liminar

ou mesmo permissão por decisão judicial definitiva, este terá as mesmas obrigações

que têm nosso produtor nacional e remodelador nacional.

Por isso, acrescemos em qualidade a resolução, de modo a atingir um universo

maior de mais de 5,5 milhões de pneus só neste ano.

Muito obrigado a todos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Com a palavra o autor do

requerimento, nobre Deputado José Borba.

O SR. DEPUTADO JOSÉ BORBA - Sr. Presidente, nobres pares, senhores

expositores, como autor do requerimento de realização desta reunião de audiência

pública, visava ao que estamos presenciando neste momento. Ficaram acima da

nossa expectativa a qualidade, o carinho, a responsabilidade com que os senhores

expositores abordam a questão. Os pronunciamentos dos Srs. Reinaldo Aparecido,

Gerardo Tommasini, Henrique Augusto, Guilherme Franco pontuaram o tema com

muita responsabilidade, ainda que o tempo concedido a cada um tenha sido curto.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 0250/02 Data: 10/04/02

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Nesta oportunidade, eu, o Deputado Werner Wanderer e o Deputado Luciano

Pizzatto parabenizamos nosso Estado, o Paraná, por ter um empreendedor da

qualidade do nosso amigo Francisco Simeão, de espírito progressista, que visa à

geração de empregos e riquezas, nunca desprezando o espírito patriótico que todos

devemos ter.

Estou convencido de que estamos alcançando o objetivo de consolidar a

Resolução nº 258, sem dar lugar a temer distorção, relaxamento ou coisa parecida.

Acredito, como bem disse o Sr. Gerardo, que se trata de uma questão de tempo e de

silêncio, mas S.Sa., que está à frente de uma organização tão poderosa, assume o

compromisso, ainda que sem alarde, de exibir o exemplo a ser seguido e a

responsabilidade de aplicá-lo em benefício de todos.

Ainda que o Sr. Guilherme não tenha priorizado esse ponto, ao ocupar-se de

outras fontes, a questão dos pneus é o carro-chefe que tem preocupado as

autoridades.

O Ministro José Serra esteve no Paraná, juntamente com o Governador Jaime

Lerner e o Prefeito da Capital, cuja cidade tem sido um exemplo para o Brasil,

desejada por todos os brasileiros por sua qualidade de vida, e ao empreender, ao

implantar, seguiu os moldes da qualidade de vida que a Capital está oferecendo e,

mais do que isso, serviu e servirá de exemplo para as outras Unidades da Federação.

Portanto, estão de parabéns o Sr. Francisco Simeão e os demais convidados

pelas suas exposições, nas quais demonstraram preocupação e vontade de somar

forças, todas convergidas para um só ponto, a fim de adquirirmos melhores condições

de vida e promovermos um Brasil melhor para todos nós.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Adotaremos o sistema de

blocos de três Deputados, para que os expositores possam, eventualmente, de acordo

com o pronunciamento de cada um, elaborar suas respostas.

Dando prosseguimento, passo a palavra ao primeiro orador inscrito, nobre

Deputado Luiz Ribeiro.

O SR. DEPUTADO LUIZ RIBEIRO - Sr. Presidente, senhoras e senhores

convidados, minha pergunta é rápida, até pelo adiantado da hora. Vou me prender a

um assunto específico. Sou do PSDB do Rio de Janeiro.

Fiquei muito preocupado com a afirmação do Dr. Henrique Augusto Gabriel

sobre as liminares concedidas, que se concentram em dois Estados, sendo um deles

o meu. Quando isso acontece, é evidente que queiramos saber um pouco mais.

Pergunto ao senhor se já foram pesquisadas as razões pelas quais essas liminares só

são dadas nesses dois Estados.

O SR. PRESIDENTE (Deputado José Borba) – Com a palavra o Deputado

Luciano Pizzatto.

O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sr. Presidente, Srs. Deputados,

senhores expositores, antes de mais nada, parabenizo o Ministério do Meio Ambiente,

que tem tratado esse assunto com extrema seriedade.

Particularmente, participo dessa discussão há dez anos na Casa, tendo

presidido várias Comissões Especiais, inclusive a Comissão Parlamentar de Inquérito

da TORMB, quando investigamos a ação do IBAMA — e é necessário que se diga

que todos os funcionários do IBAMA foram isentados naquela CPI, em especial sua

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área jurídica. Também debati várias leis que tentam tramitar na Casa e não

conseguem.

Faço aqui uma pequena crítica ao Ministério do Meio Ambiente: é lamentável

para o País que um Congresso Nacional, que representa o povo brasileiro, não

consiga aprovar leis ambientais e o Poder Executivo aprove sistematicamente normas

de legislações ambientais — não é responsabilidade dos que estão aqui presentes —

em um fórum que passou a ser o Congresso Brasileiro de Meio Ambiente, quando o

Congresso brasileiro é esta Casa de leis.

O Ministério do Meio Ambiente só tem a receber de minha parte congratulações

pelo esforço em acertar. A resolução do CONAMA quanto à obrigatoriedade prévia de

reciclagem de pneus, em especial, na questão de importações, foi uma das maiores

vitórias ambientais do País. Estive presente no dia da sua aprovação e disse isso na

reunião do CONAMA.

Não vejo como instrumento de propaganda ou de contrapropaganda o

cumprimento de uma norma. Fico feliz por saber que a ANIP tem reciclado os pneus

necessários para estar importando desde 1º de janeiro de 2002.

Aproveito para requerer ao Ministério do Meio Ambiente a relação de todos os

atestados de reciclagem das empresas brasileiras que estão importando de acordo

com a determinação e o controle que o MDIC faz e estão importando desde o dia 1º de

janeiro de 2002. Espero que haja no País contêineres presos de pneus novos que não

tenham a prévia reciclagem, porque o mesmo esforço de combate à importação de

pneus usados deve ser aplicado a toda categoria de produto importado que não

cumpra a lei.

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Em relação à lei, peço compreensão para fazermos uma revisão de dez anos

de discussão. É muito fácil formular uma opinião ou um julgamento assistindo ao

videoteipe. Eu jamais julgaria alguém assistindo a um videoteipe. Os fatos que

aconteceram hoje nos dão condição de fazer uma análise melhor sobre a situação.

Peço desculpas ao Dr. Reinaldo por haver pego emprestado os seus

documentos, mas gostaria de fazer uma análise que nos permita sentir as filigranas do

processo que nos trouxe até hoje a essas seleta resolução.

Gostaria de destacar um ponto da Portaria nº 08, de 1991. No seu art. 27, foi

textual e curta, dizendo: “Fica proibida importação de bens usados”. Não é isso? E

como ficou a importação dos aviões usados e de tanques usados? Estive na União

Soviética providenciando sua importação para os militares. Como fizemos com todos

os produtos que foram usados como matéria-prima de outros setores? A lei foi relativa

naquela época.

Em conseqüência disso, logo depois, a Portaria nº 138-N/92, do IBAMA,

normatizou a importação de bens usados.

Diz essa portaria:

“Considerando que os setores metalúrgicos e

siderúrgicos, os resíduos importados constituem-se em

importante matéria-prima” — e traz mais alguns detalhes —

“e que a proibição poderia prejudicar esses segmentos

industriais (...)"

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E autoriza toda a importação daquele monte de lixo que importamos para o setor

siderúrgico, mas que no fundo não é lixo, nem resíduo, é a matéria-prima básica do

setor siderúrgico.

Ora, esse foi o princípio que norteou a Portaria nº 138, o mesmo princípio que

autorizou a importação de baterias usadas para manter as nossas fábricas de

baterias; é o mesmo princípio que norteia a importação de vários produtos usados

para manter indústrias brasileiras. E seria um choque para mim, Dr. Henrique, o senhor

me dizer que conheceu uma empresa modelo no País, que, graças a Deus, está no

nosso Estado do Paraná, uma empresa que deveria ser exemplo nacional, e que o

senhor diz que só porque ela é uma exceção, vamos acabar com ela. Não é essa a

sua expressão, mas o senhor vai tirar o oxigênio. Vamos lembrar que, desde 1992, o

Governo foi sensível, o Governo teve a atenção devida, e o IBAMA fez isso desde 1992

— portanto, não posso criticar o IBAMA em relação a isso —, já notando que

segmentos de nossa sociedade dependiam de matéria-prima, que é a atual

discussão. Porque o fato da importação de pneus usados, que foi importante para

esse País, perdoe-me, Dr. Tommasini, mas tenho todas as cópias de depoimentos

gravados e sei o que a indústria brasileira disse nesta Casa há vários anos, que, com

muito amadurecimento, não é mais a posição de hoje, mas que foi há alguns anos.

Mas, excluindo essa questão, que não é o tema dessa discussão, estamos discutindo

matéria-prima. Nessa linha, surgiu a Resolução nº 23, de 1996, do CONAMA, que, em

seu art. 5º, excetuou a importação de todos os produtos da categoria Classe 2, inertes,

com as finalidades de reciclagem. E observe que coisa incrível: essa portaria, em seus

anexos, criou uma Classe 3, “Produtos Inertes Proibidos de Importação”. Sabe quantos

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produtos há lá? Um: pneus. Nós aceitamos uma categoria inteira inerte para

reciclagem, para a matéria-prima da indústria brasileira, mas para pneus nós criamos

uma Categoria 3 e proibimos até como matéria-prima. Esse já é um aspecto com o

qual não concordo, porque me despertou para um problema que não acho correto.

Já a Portaria nº 8, de 2000, simplesmente proibiu a importação até para a

matéria-prima. Não li, nessa portaria, a exceção para o setor siderúrgico, como as

baterias, que são exemplos mais clássicos. Foram proibidas naquele mesmo

momento, com o mesmo rigor: mandaram prender nos portos os importadores de

pneus, como mandaram fazer lá no Ceará. Mandaram prender? Se não mandaram, foi

utilizado um peso desmedido para um setor. Se mandaram, foi também usado um

peso desmedido para industriais brasileiros que foram protegidos em 1996 com o

considerando de uma portaria que dizia ser fundamental para o País e para o setor,

como também disseram as Resoluções nº 23/96 e 138, do CONAMA, da sua matéria-

prima. Isso é histórico. Está escrito.

Para concluir, Sr. Presidente, o Decreto nº 3.919 transformou em crime importar

pneus usados e reformados. A Portaria nº 2, publicada logo depois em função da

questão do MERCOSUL, autorizou importar remoldado. Não vi a portaria revogar o

Decreto nº 3.919. Primeiro, porque portaria não revoga decreto. E, por sinal, o decreto

não poderia incluir, na Lei de Crimes Ambientais, da qual fui Relator na Casa, um item

que nela não está contido. Isso é um detalhe. Mas ela recuou e esqueceu de arrumar o

decreto.

Por último, a Resolução nº 258 diz, no seu primeiro considerado:

“Considerando” — no caso dos pneus — “o risco à saúde pública (...)”. E o Ministério

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da Saúde diz que não é importante. Transcrevi suas palavras: “Pneus não são

importantes”. Eu acho que deveria ter entendido o seguinte: pneu não é um fator

determinante para o problema da dengue. Tem 10% de peso no processo, é a terceira

causa da geração de larvas, mas não é o fator determinante. Essa é a maneira correta

de eu poder entender, mas foi a justificativa. Se não me engano, não tenho meus

alfarrábios, há uma resolução ou portaria assinada em conjunto com o Ministério da

Saúde ou é um documento interno, posso depois procurar para o senhor.

Sr. Presidente, concluindo, o Brasil autoriza a importação do pneu Remold e

proíbe sua fabricação internamente. Não encontro, mesmo com a função de Governo

que tive aqui durante longo tempo, nenhuma justificativa de política institucional nesse

sentido. Se não é esse o caso, o Brasil precisa deixar claro que permite a importação

da matéria-prima pneu a ser remoldado aqui. Se existe uma falha de controle, temos

de estimular todos os mecanismos possíveis para instrumentalizar o Governo nessa

fiscalização. Espero que a exceção da fábrica apresentada passe a ser a regra,

porque foi graças às exceções no Brasil que conseguimos construir um País com

regras. Caso contrário, sempre ficaríamos proibindo as exceções e sempre teríamos

as regras existindo na clandestinidade.

O processo está caminhando para uma estabilização. O maior problema da

interpretação da resolução do CONAMA já foi superado na última reunião do

Conselho. Os órgãos ambientais e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior seguem para uma boa caracterização da situação.

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Espero que o caso da matéria-prima e a questão de se agregar valor social e

econômico no Brasil sejam solucionados de maneira tranqüila, estimulando a criação

de mais fábricas no País, se for possível, obviamente.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Recebemos a intimação

da Presidência da Câmara para encerrar os trabalhos.

Concederei a palavra ao Sr. Henrique Augusto Gabriel para que preste alguns

esclarecimentos aos pronunciamentos dos três Parlamentares, a fim de encerrarmos

definitivamente os trabalhos.

O SR. HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL – Sr. Presidente, serei o mais breve

possível.

Peço licença para, primeiro, responder a questão sobre o Rio de Janeiro. A

Resolução nº 8, de 1990, criou a regra geral: “não ao usado, em defesa da indústria

nacional”, mas “sim ao usado naquelas hipóteses em que a indústria nacional não

fabrica o produto, que, de alguma forma, é estrategicamente importante no território

nacional”. Apresentarei um exemplo aos senhores, talvez não seja o mais feliz.

No Brasil, autorizamos a importação de pneus remoldados e usados de avião

há muitos anos, porque ninguém fabrica ou remolda pneus de avião no País, e o pneu

novo de avião é muito caro. As regras internacionais de comércio e de estratégia para

manutenção desse tipo de empresa dizem que devemos importar pneu usado ou

reformado de avião. Para isso, existem outras hipóteses. V.Exas. perguntam: “Isso é

bom ou mau?” Respondo-lhes sinceramente que não sei. “Concordo ou não

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concordo?” Também nunca fiz juízo de valor. Mas a regra geral existe, e existem as

exceções, justamente para que a economia possa andar.

A segunda questão me parece a mais grave de todas, a que trata da

importação de matéria-prima. Os senhores acham justo entender que um pneu é

matéria-prima para fabricar pneu? É justo entender que um sapato é matéria-prima

para fabricar sapato? Ora, a remoldagem de um pneu significa acrescentar a esse

bem até 30% desse bem. Ou seja, se importo um sapato e troco o seu salto, ele é

matéria-prima por eu ter trocado o salto? Se uso 70%, 80% do pneu como um bem e

simplesmente coloco uma borracha em cima — não estou desprezando a remoldagem

—, posso chamar isso de matéria-prima? Para mim, isso é um bem reformado. Dentro

dessa categoria que se quer dar para os pneus, vamos começar a importar sapato e

trocar seu salto; a comprar roupa e cortá-la...

(Intervenção inaudível.)

O SR. HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL - A remoldagem do pneu nacional é

autorizada e estimulada.

Parece-me que o Deputado Fernando Gabeira quer dizer alguma coisa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – Com a palavra o Deputado

Fernando Gabeira.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Na verdade, essa é uma velha

discussão aqui. Felizmente temos avançado muito, tanto que o subproduto positivo

dessa discussão é a reciclagem. Quero, diante do argumento do Deputado Luciano

Pizzatto, apresentar um dado.

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O PT fez, em 1999, uma nota mostrando que, segundo o manual de

gerenciamento do lixo municipal, o Brasil acumula 10 milhões de carcaças de pneus

por ano. De 1995 a 1999, havia 40 milhões. Há hoje possivelmente, a julgar pela

evolução dessas estatísticas, 70 milhões de pneus inservíveis no Brasil!

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA – Sim. Esse é um passivo

ambiental de que os senhores teriam de tratar.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Apesar de eu haver chegado

tarde aqui, soube que não foi muito bem discutida a Resolução do CONAMA nesta

audiência pública. Portanto, é uma questão que teremos de discutir também. Antes de

se discutir importação dessa matéria-prima, vejamos o que fazer com a matéria-prima

que está no Brasil e não é utilizada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) – O Sr. Henrique tem a

palavra para concluir.

O SR. HENRIQUE AUGUSTO GABRIEL – Concluindo, é por isso que o

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior entende que um pneu

não é matéria-prima para fabricar pneu. Se se trouxer uma borracha usada do exterior

para fabricar o pneu, podemos entendê-la como matéria-prima ou o arame do flap

lateral usado para se fazer o pneu aqui. No entanto, entender um pneu como matéria-

prima de pneu, um sapato como matéria-prima de sapato, desculpe-me, mas é forçar

demais a compreensão do que seja processo industrial.

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No Brasil, a remoldagem é estimulada, sim, porque é uma forma de aumentar a

vida útil do bem, para que ele demore a se transformar em lixo, e é importante porque

agrega valor ao produto, cria emprego, dá dinâmica à economia e atende à população

de baixa renda que tem automóvel. Mas, nesse caso, é o pneu nacional. Quer dizer,

poderia durar 60 mil quilômetros, e estamos fazendo com que ele dure 70 mil

quilômetros, diferente do pneu importado, que é usado e vai durar apenas 30 mil

quilômetros.

Finalmente, o caso das liminares do Rio de Janeiro e do Ceará é questão de

distribuição da competência, Deputado. No Brasil, os Tribunais Regionais Federais

têm autonomia muito grande e a possibilidade de não respeitar decisões ou

jurisprudência de Cortes mais altas, como o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo

Tribunal Federal, por falta da chamada jurisprudência vinculante, o que permite a

esses Tribunais continuar tendo absoluta liberdade na interpretação da lei e dos fatos.

Portanto, respeitamos a posição do Tribunal do Rio de Janeiro, mas a

Advocacia-Geral da União está lutando e conseguindo reverter a situação nos

Tribunais Superiores. O problema é que, quando a revertemos, o pneu já virou sucata,

já foi vendido e já causou todos os danos possíveis.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pinheiro Landim) - Lamento não poder dar

continuidade à discussão, mas essa é uma decisão da Mesa da Câmara, a qual tenho

de acatar.

Agradeço aos expositores e aos demais convidados a presença e convoco

reunião ordinária para a próxima quarta-feira, às 9h.

Declaro encerrada a presente reunião.