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Dery Delson Cardoso Andrade UMinho|2014 outubro de 2014 Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da Enamorata para o Mercado Caboverdeano Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da Enamorata para o Mercado Caboverdeano Dery Delson Cardoso Andrade

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Dery Delson Cardoso Andrade

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Escola de Economia e Gestão

Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da Enamorata para o Mercado Caboverdeano

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Relatório de Estágio Mestrado em Negócios Internacionais

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor José Carlos Pinho

Dery Delson Cardoso Andrade

outubro de 2014

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da Enamorata para o Mercado Caboverdeano

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ii

DECLARAÇÃO

Nome: Dery Delson Cardoso Andrade

Endereço eletrónico: [email protected]

Título do Relatório de Estágio: Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da

Enamorata para o Mercado Caboverdeano

Orientador:

Professor Doutor José Carlos Pinho

Ano de conclusão: 2014

Designação do Mestrado: Negócios Internacionais

DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR, NÃO É PERMITIDA A

REPRODUÇÃO DE QUALQUER PARTE DESTE RELATÓRIO DE ESTÁGIO.

Universidade do Minho, _____/____/_____

Assinatura:____________________________________________________________

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iii

Agradecimentos

Para a elaboração deste relatório de estágio de Mestrado foi de extrema importância a

contribuição e o apoio de várias pessoas e instituições, a quem gostaria, nesta parte, de

manifestar o meu profundo agradecimento.

Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus por ser a fonte onde vou buscar as energias e por

sempre me ter guiado pelos bons caminhos. Aos meus pais e irmãos por serem o meu suporte

emocional e a minha fonte de energia para que eu lute todos os dias para superar todos os

obstáculos que aparecem na minha vida. A minha namorada, por estes três anos de dedicação

e por estar sempre ao meu lado com a energia positiva e estimulante para o meu percurso

académico. E principalmente ao meu filho Enzo, que nasceu durante a elaboração deste

Relatório e em quem encontrei aquela força e coragem necessárias para a conclusão do

mesmo.

Quero também agradecer a preciosa e fundamental contribuição do Professor Doutor José

Carlos Pinho, orientador científico deste Relatório de Estágio de Mestrado, pela grande

colaboração, incentivo e partilha dos seus conhecimentos desde a cadeira de Marketing

Internacional lecionada no 1º ano de Mestrado e ao longo da realização deste Relatório. Esta

influência intelectual marcou sobremaneira o meu percurso académico e foi crucial para a

realização do presente trabalho.

Em seguida, quero agradecer a Dra. Susana Ribeiro e a Dra. Fátima Costa por me terem

acolhido nas suas empresas e terem confiado a minha pessoa um Projeto de tão elevada

importância que passaria pela elaboração de uma estratégia de internacionalização da

Enamorata para o mercado caboverdeano. E também pela partilha das suas idéias e pelo

fornecimento de toda a informação necessária para a elaboração deste relatório.

Um sincero agradecimento também aos Professores Jorge Cerdeira e Elisabete Sampaio de Sá

pelos conhecimentos teóricos partilhados nos ramos de Economia Internacional e

Empreendedorismo, respetivamente.

Uma palavra de agradecimento também ao Professor Dr. Francisco Carballo-Cruz, pelo apoio

prestado na fase de procura de Estágio e pelas informações que permitiram um melhor

enquadramento dentro do objetivo real do relatório.

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Resumo

Uma Análise Estratégica sobre a Internacionalização da Enamorata para o Mercado

Caboverdeano

Este relatório aborda a temática da Internacionalização das empresas e analisa os fatores e as

estratégias utilizadas por pequenas e médias empresas no processo de internacionalização.

O presente relatório serve também para descrever um estágio de três meses realizado de forma

conjunta entre a empresa de Consultoria “Amazing Ideas” e a empresa “Enamorata” com o

objetivo de se delinear um projeto estratégico e proativo que se basea numa análise objetiva e

rigorosa sobre a empresa e sobre o mercado caboverdeano permitindo a criação de bases

sólidas para uma futura internacionalização desta última empresa que é especializada em

produtos swimwear para o mercado caboverdeano. Pretende-se, então, aliar a teoria à prática

através da busca da investigação acadêmica pertinente aos nossos objetivos, bem como

adequar esta teoria a realidade social, econômica e cultural em que a Enamorata está inserida.

Este relatório alicerçou-se primeiramente nos conhecimentos teóricos adquiridos no primeiro

ano (parte curricular) do Mestrado. Pretendeu-se, no mesmo, fazer um enquadramento teórico

através da seleção criteriosa de estudos e teorias pertinentes ao processo de

internacionalização das PME´s como os fatores que estimulam as mesmas a exportar; os

critérios de escolha do mercado e os modos de entrada e/ou de estabelecimento adotados,

dando maior enfâse a Teoria sobre a exportação. Toda esta analise é feita sobre o arcaboiço

teórico existente na literatura sobre a Internacionalização, não se descurando uma

metodologia qualitativa baseada num estudo de caso e em entrevistas que serviram de base

para a elaboração de uma estratégia de internacionalização da Enamorata para o mercado

caboverdeano.

Palavras-chave: Análise estratégica, internacionalização, mercado caboverdeano, Teoria sobre

a exportação.

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Abstract

A Strategic Analysis on the Internationalization of Enamorata® to the Cape Verdean Market

This report addresses the theme of the internationalization of companies and analyzes the

factors and the strategies used by small and mid-size companies in the process of

internationalization.

This report also describes a three month internship accomplished in a combined effort

between the consulting company “Amazing Ideas” and the company “Enamorata” with the

objective of outlining a proactive strategic plan based on rigorous and objective analysis

about the company and the Cape Verdean market allowing the creation of solid bases for a

future internationalization of this company that specializes in swimwear products to the Cape

Verdean market. It is intended to combine theory and practice through academic research

relevant to our objectives as well as suiting this theory to the social, cultural and economic

reality in which Enamorata is a part of.

This report’s foundations are based on the theoretical knowledge obtained during the first

year of the master’s program. It was also intended during the first year to make a theoretical

framework using a rigorous selection of studies and theories relevant to the process of

internationalization of small and mid-size companies such as the factors that stimulate

exports; the choice of market criteria and the ways of entering and establishing itself in it,

giving more emphasis on the theory of exporting. All this analysis is made under the

theoretical structure existent on the literature about internationalization, not neglecting a

qualitative methodology based on a case study and on interviews that served as foundations

for the elaboration of an internationalization strategy of Enamorata to the Cape Verdean

market.

Keywords: Strategic analysis, Internationalization, Cape Verdean market, Theory of

Exporting

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ÍNDICE GERAL

Agradecimentos …………………………………………………………………………….. iii

Resumo ……………………………………………………………………………………… v

Abstract ……………………………………………………………………………………... vii

Índice Geral ………………………………………………………………………………… ix

Lista de Abreviaturas e Siglas ………………………………………………………........... xiii

Índice de Figuras ……………………………………………………………………........... xv

Índice de Quadros ………………………………………………………………………….. xvi

PARTE I – INTRODUÇÃO ……………………………………………………………… 1

1 – Introdução ………………………………………………………………………………. 3

1.1 Contextualização do Tema ………………………………………………………….. 3

1.2. Objetivos e Procedimentos metodológicos ………………………………………… 5

1.3.Estrutura do Relatório de Estágio …………………………………………………… 7

PARTE II – APRESENTAÇÃO DA EMPRESA DE ACOLHIMENTO …………….. 9

2 – Empresa de acolhimento ………………………………………………………………. 11

2.1. Dados de Identificação da Empresa ………………………………………….......... 11

2.2. Breve Historial da Empresa ………………………………………………….......... 12

2.3. Organograma ………………………………………………………………………. 14

2.4. Gama de Produtos …………………………………………………………………. 15

2.5. Indicadores Financeiros da Empresa ………………………………………………. 18

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PARTE III – O MERCADO CABOVERDEANO …………………………………... 19

3.1. Enquadramento do País ………………………………………………………….. 21

3.2. As Relações Comerciais entre Portugal e Cabo-Verde …………………………. 25

3.3. Exportar para Cabo Verde ………………………………………………………. 34

3.4. Análise SWOT do mercado caboverdeano …………………………………....... 37

PARTE IV – ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO TEMA …………………........ 39

4 – Revisão de Literatura ………………………………………………………………. 41

4.1. O Processo de Internacionalização ……………………………………………... 41

4.2. Os determinantes do Processo de Internacionalização ………………………… 44

4.3. As Teorias da Internacionalização …………………………………………....... 45

4.3.1. Conceito de PME’s ……………………………………………………........ 45

4.3.2. Modelo de Uppsala ……………………………………………………........ 47

4.3.3. Teoria das Redes ………………………………………………………........ 49

4.3.4. Visão Baseada nos Recursos ………………………………………………. 51

4.3.5. Teoria do Empreendedorismo Internacional …………………………........ 54

4.4. Seleção dos Mercados Externos ………………………………………………… 57

4.5. Determinantes da Escolha do Modo de Entrada ……………………………….. 61

4.6. Classificação dos Modos de Entrada ………………………………………....... 70

4.6.1. Modos sem Participação de Capital ……………………………………….. 73

4.6.1.1. Acordos Contratuais ………………………………………………….. 74

4.6.2. Modos com Participação de Capital ………………………………………. 80

4.6.2.1. Equity Joint Ventures ………………………………………………… 80

4.6.2.2. Subsidiária de Controlo Integral ……………………………………... 82

4.7. Análise dos Fatores estimulantes das Exportações nas PME’s ………………….. 84

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xi

4.8. O Processo de Exportação ………………………………………………….......... 94

4.8.1. Exportação Direta ………………………………………………………… 94

4.8.2. Exportação Indireta ………………………………………………………. 96

4.8.3. Outras Formas de Exportação …………………………………………..... 98

PARTE V – METODOLOGIA APLICADA A PESQUISA ……………………… 101

5. Metodologia aplicada a Pesquisa …………………………………………………… 103

5.1. A Abordagem Qualitativa ……………………………………………………… 103

5.2. A análise das Entrevistas. Verificação dos Objetivos da Investigação ……….. 106

5.2.1. As motivações empresariais e a estratégia inicial

de Internacionalização …………………………………………………….. 109

5.2.2. A Seleção do mercado …………………………………………………….. 111

5.2.3. As Especificidades do Processo de Exportação ………………………...... 113

5.2.4. Os Obstáculos à Internacionalização ……………………………………... 114

PARTE VI – CONCLUSÃO ………………………………………………………. 117

6. Conclusão …………………………………………………………………………. 119

6.1. Implicações práticas ………………………………………………………...... 119

APÊNDICES ……………………………………………………………………..... 127

Apêndice I – Pauta Aduaneira de Cabo Verde ……………………………………... 129

Apêndice II – Guião das Entrevistas ……………………………………………….. 131

Apêndice III – Síntese da Entrevista à Enamorata ………………………………..... 133

Apêndice IV – Síntese da Entrevista à Giliana ……………………………………... 137

BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………………..... 141

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APEC Asia-Pacific Economic Cooperation

CAE Classificação de Atividades Econômicas

CEDEAO Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental

CEO Chief Executive Officer

CIF Custo, Seguro e Frete

CL Classe da Mercadoria

CTT Correios, Telégrafos e Telefones de Portugal

CV Cabo Verde

DI Direitos de Importação

DIMO Direct Investment Marketing Operations

DIPO Direct Investment Ptoduction Operations

ECOWAS Economic Community of West African States

ECV Escudo Caboverdeano

EIU The Economic Intelligence Unit

EJV Equity Joint Ventures

EUA Estados Unidos da América

FMI Fundo Monetário Internacional

ICE Imposto de Consumo Especial

IDE Investimento Direto Estrangeiro

INE Instituto Nacional de Estatística

ITC International Trade Centre

IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado

I & D Investimento & Desenvolvimento

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JAN. Janeiro

JUL. Julho

MN Empresa Multinacional

NIMO Non-Investment Marketing Operations

NIPO Non-Investment Production Operations

OMC Organização Mundial do Comércio

PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PIB Produto Interno Bruto

PME Pequena e Média Empresa

SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

TE Taxa Ecológica

TEA Taxa Estatística Aduaneira

TC Taxa Comunitária

UC Unidades de medida utilizada na quantificação da mercadoria

UPS United Parcel Service

USD Dólares americanos

UV Ultra-violeta

VAR. Variação

VBR Visão baseada nos Recursos

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Organigrama da Enamorata, em 31 de Dezembro de 2013 ……………….......... 14

Figura 2 – Dados explicativos do ambiente de negócio em Cabo Verde …………………... 22

Figura 3 – O mecanismo básico de internacionalização ……………………………............ 48

Figura 4 – Modelo de fluxo lógico relativo ao processo de decisão de entrada

num mercado ……………………………………………………………............ 58

Figura 5 – Fatores a considerar na decisão do modo de entrada segundo Root ……............ 66

Figura 6 – Modelo hierárquico de escolha do modo de entrada ………………………........ 73

Figura 7 – Classificação dos Estímulos à Exportação ……………………………………… 87

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Dados relativos aos diferentes funcionários da Enamorata …………………… 15

Quadro 2 – Caraterização dos vários produtos oferecidos pela Enamorata ……………….. 17

Quadro 3 – Indicadores Financeiros da Enamorata ………………………………………... 18

Quadro 4 – Principais Indicadores Macroeconómicos …………………………………….. 24

Quadro 5 – Principais Clientes de Cabo Verde …………………………………………...... 25

Quadro 6 – Principais Fornecedores de Cabo Verde ……………………………………..... 25

Quadro 7 – Posição e Quota de Cabo Verde em relação a Portugal ……………………...... 26

Quadro 8 – Balança comercial superavitária de Portugal em relação a CV

relativo ao comércio de Bens ………………………………………………...... 27

Quadro 9 – Posição e Quota de Portugal em relação a CV ………………………………… 27

Quadro 10 – Exportações portuguesas para CV por Grupos de produtos e

Variação percentual entre 2013 e 2012 ………………………………………. 29

Quadro 11 – Exportações portuguesas para CV por Grupos de produtos e Variação

percentual entre o 1º semestre de 2014 e o mesmo período de 2013 ………… 30

Quadro 12 – Importações portuguesas provenientes de CV por Grupos de produtos

e Variação percentual entre 2013 e 2012 …………………………………...... 32

Quadro 13 – Importações portuguesas prov. de CV por Grupos de produtos e Variação

percentual entre o 1º semestre de 2014 e o mesmo período de 2013 ………... 33

Quadro 14 – Análise SWOT do mercado caboverdeano …………………………………… 38

Quadro 15 – Categorização das empresas ………………………………………………….. 46

Quadro 16 - Relação entre os recursos de uma empresa e a estratégia de entrada ……….... 65

Quadro 17 – Fatores que afetam a decisão do modo de entrada no mercado estrangeiro

Segundo Hollensen …………………………………………………………… 69

Quadro 18 – Variação do nível de impacto dos estímulos à exportação ………………….. 93

Quadro 19 – Pauta Aduaneira de Cabo Verde – Parte que incide sobre os produtos

exportados pela Enamorata …………………………………………………. 130

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I- INTRODUÇÃO

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização do Tema

A globalização da economia e os instrumentos a ela associados tem propiciado às empresas

um acesso mais vasto, rápido e de forma simples, do que alguma vez tiveram aos mercados de

todo o mundo. Esta maior interdependência entre os países permite que as mercadorias sejam

vendidas em mais países, em maiores quantidades e em maior variedade. E além disso, há

uma maior difusão de informações e dos meios tecnológicos, o que permite às empresas

conhecerem melhor os mercados onde pretendem transacionar e, desta forma, reduzirem os

riscos de insucesso. Tudo isto acaba por levar à um aumento do processo de

internacionalização das empresas que queiram ganhar uma vantagem competitiva em relação

aos concorrentes. Dessa forma, os gestores de empresas têm de se adaptar às novas condições

de mercado através da alteração das estratégias da sua organização como forma de aumentar o

lucro.

A Constituição da República Portuguesa estabelece como encargo do Estado português

incentivar “...a atividade empresarial, em particular das pequenas e médias empresas..,”. Esta

obrigação compreende as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) que se encontram presentes

em todos os setores da indústria e dos serviços e evidenciam uma grande capacidade de

adaptação face à evolução da situação económica e social. Segundo dados recentes do INE, as

PME’s representam 99,5% das empresas portuguesas, por isso deve-se fazer análises teóricas

que permitam oferecer às empresas um background das teorias que abordam as atividades

destas empresas, permitindo assim que as mesmas possam agir de forma eficiente num

contexto global cada vez mais exigente.

E neste contexto de crise económica, e níveis de crescimento nacionais muito baixos (ou

nulos), é essencial para as empresas portuguesas a entrada em novos mercados internacionais,

tratando-se da sobrevivência das próprias empresas. Desta forma, o tema da

Internacionalização das PME´s ganha importância no debate teórico pois é de extrema

importância que as empresas optem pelas melhores estratégias e modos de entrada em outros

mercados como forma de aumentar os seus lucros e evitar a sua falência, que é o que acontece

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4

com muitas destas empresas que não têm capacidade para identificar eventuais oportunidades

que poderão existir nos vários mercados internacionais.

É neste contexto que as empresas começam a adotar uma opção estratégica de

internacionalização. Uma análise criteriosa dos fatores que estimulam este processo é de suma

importância para que os gestores saibam analisar os sinais e tenham a perceção do momento

adequado para se internacionalizar e a capacidade de decisão sobre a forma de entrada nos

mercados externos. Esta análise sobre o momento e a forma ideal de entrada num mercado

externo não é fácil de ocorrer, principalmente nas PME´s devido a sua pequena dimensão.

Contudo este fator por si só não deve constituir uma inibição do processo de

internacionalização e do aproveitamento das oportunidades que surgem nos mercados

externos, mas sim um desafio que as pequenas empresas têm de enfrentar para fazer face à

diminuição da procura interna. Um fator muito importante é o facto do gestor ter um espírito

empreendedor, pró-ativo e dinâmico; neste caso, as exportações podem ser o “mote” inicial no

processo de internacionalização, podendo envolver menos riscos e ter um impacto positivo e

direto nos resultados.

Os mercados dos PALOP, e em particular o mercado caboverdeano, são mercados onde as

empresas portuguesas poderão encontrar oportunidades de crescimento para os seus negócios.

Muitos autores defendem a “distância psíquica” como sendo um fator muito importante no

processo de internacionalização e sendo Cabo Verde uma ex-colónia portuguesa com uma

cultura muito influenciada pelos hábitos portugueses e com uma aceitação generalizada dos

produtos portugueses, é de se prever uma maior probabilidade de sucesso quando uma

empresa portuguesa decide entrar neste mercado. Este Relatório de Estágio visa, então,

desenvolver uma estratégia de internacionalização de uma empresa portuguesa para o

mercado caboverdeano – a Enamorata.

Devido à necessidade da compreensão das variáveis estruturais e estratégicas subjacentes ao

processo de internacionalização das PME´s para a elaboração objetiva e estruturada do

processo de internacionalização da Enamorata é que surge este relatório que pretende ser,

num ambiente de crise económica e de poucas oportunidades de mercado, uma ferramenta

para ajudar não só esta empresa mas também outras PME´s que pretendam desenvolver uma

maior capacidade de aproveitar as oportunidades de se expandirem a outros mercados e de

encontrarem soluções lucrativas em mercados mais apetecíveis.

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5

1.2. Objetivos e Procedimentos metodológicos

Este trabalho tem como objetivo geral a descrição das atividades e conhecimentos adquiridos

ao longo do estágio realizado em conjunto com as empresas Amazing Ideas e Enamorata e

que teve a duração de 3 meses (entre 4 de Novembro de 2013 a 7 de Fevereiro de 2014). Este

estágio visa a criação de um projeto para a internacionalização da empresa Enamorata

(produtos swimwear de luxo) para o mercado caboverdeano e implica uma análise minuciosa

desta empresa (valores, objetivos, canais de distribuição e posicionamento no mercado

português), como também, um estudo do mercado caboverdeano para se perceber a

viabilidade do sucesso deste empreendimento e as estratégias que acarretassem menos riscos

para a empresa.

Para que a análise tivesse uma coerência e uma objetividade tão necessárias nestes tipos de

projeto, este relatório teve um cuidado de fazer um estudo do arcaboiço teórico relevante e

pertinente existente sobre o processo de internacionalização das PME´s. Este estudo foi feito

com base na informação documental fruto de uma pesquisa bibliográfica exigente realizada

através de livros científicos e artigos publicados em revistas internacionais conceituadas cujo

enfoque está centrado na teoria clássica do processo de internacionalização, na teoria existente

sobre a exportação e nos fatores que estimulam este modo de entrada em outros países.

Em termos metodológicos, este relatório baseia-se num estudo de caso, visto analisar um tema

que é investigado num contexto real (Yin, 2003). A metodologia é baseada no paradigma

fenomenológico pelo fato da pesquisa se desenvolver no campo (no terreno) e pelo facto da

investigação ter um maior nível de profundidade e extensão fruto da amostra ser pequena (1

empresa). Neste caso concreto, o estudo de caso está associado a uma pesquisa exploratória

pois o seu enfoque incide sobre a obtenção de conhecimento e familiaridade com a área de

estudo através de dados baseados na observação, experiência e através de entrevistas. Através

da metodologia qualitativa, mais concretamente de entrevistas, busca-se a análise de

perceções e ideias subjetivas de uma amostra de duas empresas como forma de verificar e

atingir os objetivos e as questões de investigação.

O principal objetivo do estágio era elaborar um projeto sobre as estratégias de

internacionalização da empresa Enamorata para o mercado caboverdeano. Para o alcance

deste objetivo foi necessário conhecer o funcionamento da empresa bem como os fatores que

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6

fundamentaram a escolha da exportação como a estratégia adequada para se entrar no

mercado pretendido.

Os objetivos específicos deste Relatório compreendem:

- Analisar detalhadamente a Empresa Enamorata em relação aos seus recursos internos, a sua

visão, a sua missão, aos seus objetivos e aos processos de internacionalização anteriormente

efetuados;

- Fazer uma análise geral sobre o mercado caboverdeano e as suas relações comerciais com

Portugal, como também fazer um estudo deste mercado através de uma análise swot que

permita analisar os pontos fortes, fracos e as oportunidades que poderão ser exploradas neste

mercado, além de uma análise da concorrência que permita perceber o nível em que se

encontra o negócio swimwear e definir a estratégia adequada a este mercado;

- Realizar uma pesquisa comparativa entre a Enamorata e uma outra Empresa portuguesa (a

Giliana) que já iniciara o Processo de internacionalização para Cabo Verde para se tirar

ilações importantes e perceber as potencialidades e obstáculos que a empresa poderá enfrentar

e adaptar a sua estratégia de forma a aproveitar as potencialidades e a ultrapassar os

obstáculos;

- Fazer contatos com empresas caboverdeanas com o objetivo de estabelecer canais

privilegiadas de negócio (ou parcerias) que possam tornar-se grandes oportunidades de

exportação direta;

- Elaborar e definir a(s) estratégia(s) de internacionalização da empresa para o mercado cabo-

verdeano, além de apoiar a Proprietária da empresa no planeamento e controlo de toda a

atividade internacional da empresa para este País.

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7

1.3. Estrutura do Relatório de Estágio

O presente relatório de estágio encontra-se organizado da seguinte forma. Após esta

introdução, no Capitulo 2 é efetuada a apresentação e a caraterização da empresa de

acolhimento, incluindo uma breve história, a gama de produtos, os indicadores financeiros,

dentre outros aspetos.

O Capitulo 3 centra-se no mercado caboverdeano, e nomeadamente descreve o seu perfil

demográfico, socioeconómico e comercial que irá servir de base para a elaboração da

estratégia mais eficiente e eficaz por parte da empresa Enamorata. Esta análise servirá de base

para se efetuar uma análise swot sobre o mercado cabo-verdeano, análise esta que permitirá

delinear os pontos fortes e fracos, como também as potencialidades e as ameaças existentes

no mesmo. É também neste capitulo que se fará uma avaliação das condições existentes no

mercado cabo-verdeano, dos canais apropriados para apresentar os produtos da empresa

Enamorata à população e assim, se delineará a estratégia adequada para se efetuar a

exportação inicial. Esta análise permitirá oferecer à empresa Enamorata as ferramentas

necessárias para um maior conhecimento deste mercado, e consequentemente, a possibilidade

desta empresa delinear a forma mais propícia e mais rentável de acordo com os seus recursos

disponíveis e de acordo com as características deste mercado-alvo.

No Capitulo 4 desenvolve-se o enquadramento teórico do tema, onde são abordadas as teorias

e modelos de internacionalização, os determinantes do processo de internacionalização, a

seleção dos mercados-alvo e os modos de entrada, os fatores que estimulam as PME´s a

exportar e as teorias sobre o processo de exportação.

O Capitulo 5 serve para apresentar a metodologia aplicada à pesquisa, utilizando num

primeiro momento uma análise aprofundada das teorias e dos trabalhos académicos

desenvolvidos sobre o tema em questão através de uma revisão bibliográfica. Dessa forma, se

fará uma análise de várias bases de dados, como forma de encontrar um quadro teórico e

conceptual que serviria de base a este estudo. A parte empírica do trabalho baseia-se numa

pesquisa exploratória para a melhor definição do problema e da estratégia através de

entrevistas a Empresa Enamorata, e também a Empresa Têxteis Giliana(empresa que já

iniciou a internacionalização para o mercado caboverdeano através de uma Filial de Vendas).

A metodologia baseia-se numa aproximação qualitativa que é subjetiva por natureza pois

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8

envolve o exame e a reflexão das perceções, neste caso de duas pessoas que fazem parte de

duas empresas diferentes, de forma a melhor compreender as atividades humanas e sociais,

mais especificamente as atividades de internacionalização e as vantagens de estas ocorrerem

para o mercado em questão.

No Capítulo 6 é feita a conclusão do Relatório através das implicações práticas. É nesta Parte

do Relatório que se irá delinear a estratégia definitiva a ser implementada pela Enamorata no

mercado caboverdeano. Esta Seção é o culminar da investigação realizada no período de 1

ano e apresentará as implicações pragmáticas de toda esta investigação, permitindo a empresa

Enamorata uma ferramenta de grande utilidade e importância para o sucesso do seu

empreendimento e de todo o processo de internacionalização para Cabo Verde.

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II- APRESENTAÇÃO DA EMPRESA DE ACOLHIMENTO

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11

2. EMPRESA DE ACOLHIMENTO

Neste capítulo faz-se a caraterização da empresa onde o estágio foi realizado. Também é feita

uma breve descrição da sua história tal como a apresentação da sua gama de produtos como

alguns indicadores financeiros do ano de 2012.

2.1. Dados de Identificação da Empresa

Designação Social: Enamorata, Lda.

Forma Juridica: Sociedade por quotas

CAE: 74100 - Atividades de Design

14131 – Confeção de outro vestuário exterior em série

Capital Social: 7.500,00€

Número de matricula: 510092233

Data de constituição: 02/01/2012

Volume de negócios (ano 2012): 18.500,00€

Nº de funcionários: 3 funcionários (Uma Gerente, Uma Diretora comercial e Uma

Designer). Um estagiário num Projeto de Internacionalização (de 04/11/2013 a

07/02/2014)

Endereço da empresa: Av. Marechal Humberto Delgado, nº 103, 3º Sala G, 4480-

905- Vila do Conde

Contatos:

- Telefone: (+351) 252631253

- Email: [email protected]

- Página Web: www.enamorata.pt

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12

Logótipo:

Atividades:

- Fabrico, comercialização, importação e exportação de artigos de vestuário, de artigos

têxteis, acessórios e complementos de moda;

- Atividades de design, atividades de consultoria para os negócios e a gestão,

exploração de gabinetes de engenharia de produção;

- Criação, produção e distribuição de roupa de banho para mulher, homem e criança; e

de toalha de banho repelente (nova aposta da empresa).

2.2. Breve Historial da Empresa

A Enamorata é uma empresa com marca registada que se dedica a criação, produção e

distribuição de coleções próprias de swimwear para senhora, homem e criança. O seu início

de atividade foi em Janeiro de 2012.

Trata-se de uma empresa jovem que se inspira nas tradições e cultura portuguesas, que

incentiva o espirito de iniciativa, a criatividade, fomenta a curiosidade e a irreverência de

modo a possibilitar a criação de peças únicas e diferentes.

As coleções da Enamorata resultam da reinterpretação das tradições, dando origem a

estampados e bordados únicos, conjugando pormenores que resultam de técnicas ancestrais.

Assim surgem peças de requinte, com a qualidade da produção “Made in Portugal”. A

primeira coleção nasce da reinterpretação de motivos tão conhecidos de todos os portugueses-

os Lenços dos namorados.

Page 30: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

13

A Enamorata cria as suas coleções a pensar em pessoas independentes, amantes da vida, de

estilo urbano e personalizado, que apreciam o design, a qualidade e o conforto dos materiais,

assim como a versatilidade das peças.

Atualmente a Enamorata não possui loja própria de venda ao público. Os seus produtos

encontram-se em diversas lojas situadas nas seguintes localidades: Apúlia, Vila do Conde,

Figueira da Foz, Guimarães, Leça da Palmeira, Maia, Povoa de Lanhoso, Viana do Castelo,

Nazaré, Alcácer do Sal e Santarém.

A missão desta empresa passa por garantir a satisfação do cliente com soluções criativas,

ideias inovadoras e serviços de qualidade que superem as suas expetativas, criando uma

identidade pela diferenciação assente na contemporização das tradições e cultura portuguesas

que apaixona os seus clientes pela sua singularidade, os seus colaboradores pela excelência e

os seus parceiros pelo compromisso.

O objetivo da Enamorata consiste na busca por um posicionamento no mercado que lhe

permita ser uma marca portuguesa de referência, diversificar mercados e aumentar a

notoriedade aos olhos dos seus clientes, colaboradores e parceiros. Para atingir este desígnio,

a empresa assenta em valores como: a ética, a criatividade, a inovação, o pormenor e as

soluções ajustadas, a paixão, a irreverência e a ousadia.

A estratégia de comunicação da empresa se assenta em objetivos como:

Apresentar, Comunicar e Aproximar a marca junto do seu target;

Informar e cativar os consumidores finais através da comunicação no ponto de venda;

Comunicar o conceito de marketing;

Sensibilizar as equipas de trabalho da Enamorata para a importância de criar valor

para a marca;

Posicionar a marca no mercado nacional e cabo-verdiano.

Para suportar a sua estratégia de marketing e atingir o público-alvo de forma inteligente e

cativante, a Enamorata desenvolve planos de ação que passam por:

Produtos estratégicos

Produções de moda

Eventos

Participação em feiras

Page 31: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

14

Campanhas

Datas Especiais

Ações de Charme

2.3. Organograma

A figura seguinte representa o organograma da empresa em 31 de Dezembro de 2013. A

estrutura organizacional da Enamorata baseia-se na Gerência e em dois departamentos: o

departamento comercial e o departamento de design.

Fig.1 Organigrama da Enamorata

A equipa da Enamorata é constituída atualmente por 4 elementos licenciados: sócia

gerente, designer, comercial e um estagiário responsável pelo projeto de

internacionalização da empresa. Conforme nos evidencia o quadro seguinte, trata-se de

uma equipa jovem (gerente:49 anos, designer e comercial: 23 anos, estagiário académico:

28 anos).

Page 32: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

15

Nome Data

Nascimento

Habilitações Função Ano de

admissão

David Manuel

Martins Pires (3)

29/11/1975 Licenciatura Sócio Gerente 2012

Mª de Fatima

Ferreira da Costa

13/03/1964 Licenciatura Diretora

Executiva (sócia

gerente a partir de

23/10/2013)

2012

Marta Sofia

Carvalho (1)

24/06/1991 Licenciatura Comercial 2012

Mª João Mano

Pinto (2)

06/05/1990 Licenciatura Designer 2013

Madalina

Gherman (4)

05/04/1990 Licenciatura Comercial/

Marketing

2013

Dery Andrade (5) 31/07/1985 Licenciatura Projeto de

exportação

2013

Quadro 1– Dados relativos aos diferentes funcionários da Enamorata

(1) Deixou de pertencer à empresa a 31/08/2013

(2) Situação de estágio profissional de 12 meses- admitida a 01/10/2013

(3) Deixou de pertencer à empresa a 23/10/2013

(4) Situação de estágio profissional de 12 meses- admitida a 27/12/2013

(5) Situação de estágio académico de 3 meses- admitido a 04/11/2013

2.4. Gama de produtos

Fatos de banho e biquínis para mulher, homem e criança são os produtos que, atualmente, a

Enamorata coloca no mercado. As toalhas de praia repelentes são uma nova aposta da

empresa, que foi colocada recentemente no mercado.

A empresa pretende oferecer aos seus clientes soluções criativas, ideias inovadoras e serviços

de qualidade que superem as suas expetativas, criando uma identidade pela diferenciação

assente na contemporização das tradições e cultura portuguesas.

Page 33: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

16

“Elegante”, “Prática”, “Ousada”, “Única”, “Confortável”, “Informal”, “Versátil”, “com

Qualidade”, “Inovadora”, “Criativa”,… são adjetivos que a empresa pretende ver sempre

associados às suas coleções.

Além de todas estas características a Enamorata está atenta às questões específicas

relacionadas com as diferentes formas do corpo, idade e saúde, implicando para isso uma

constante inovação face aos materiais que vão surgindo de forma a proporcionar produtos

atuais e diferentes.

O quadro seguinte apresenta o tipo de produtos que a Enamorata tem a disposição do público

além de uma divisão socioeconómica e comportamental face as diversas opções oferecidas

pela empresa.

Page 34: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

17

Enamorata

Segmento p/

beneficio

Demografia Geográfica Comportamento Psicografia

Swimwear casual

Mulheres dos 31

aos 50,

Rendimento

médio-alto,

Elegância

Citadinas Praia, After

sunset, Beach and

pool Parties,

Cruzeiros, Termas

Luxo, Beleza,

Executivas lato,

Qualidade

elevada, Imagem

Mulheres dos 18

aos 30,

Rendimento

médio-alto,

Elegância

Citadinas Praia, After

sunset, Beach

parties, Festivais

Beleza, Imagem,

Sentido de

pertença a um

grupo/ícones a

seguir, Estudantes/

1ºemprego

Homens dos 30

aos 50

Citadinos Praia, Piscina,

Cruzeiros e Termas

Beleza, Qualidade

elevada, Imagem, Confiança,

Diferença

Crianças Citadinas Praia, Piscina,

Cruzeiros

Prescritores

(conforto,

liberdade

movimento,

imitação/ligação

mãe ou pai)

Swimgerie Mulheres, Noivas,

Rendimento

médio-alto, 30 aos

50, Elegância,

Sofisticação

Citadinas Iates, Resorts,

Private Pool

Parties

Luxo, Beleza,

Qualidade

elevada, Imagem,

Confiança,

Diferença

Swimwear Design Peça exclusiva que é desenvolvida para apresentação da marca, exposição em feiras internacionais, embora perfeitamente integrada na coleção. Especial, com

valor acrescentado(matéria prima ou mão de obra) e disponível sob encomenda

Swimwear

Desportiva

Mulheres,

Atleta(hobbie) 30

aos 50, Elegância,

Exigência

Citadinas Piscina, SPA,

Triatlo, Health

Clubs

Alta performance

e qualidade dos

materiais, focada

nos resultados.

Leveza e conforto

Homem,

Atleta(hobbie) 30

aos 50, Elegância,

Exigência

Citadinos Piscina, SPA,

Triatlo, Health

Clubs

Alta performance

e qualidade dos

materiais, focada

nos resultados.

Leveza e conforto

Swimwear

Tailor-made

Mulheres,

Rendimento alto, 35 aos 65,

Sofisticação

Citadinas Praia, Resort, SPA

e Termas

Exclusividade,

Luxo, Qualidade, Perfect Fit,

Exigência

Quadro 2 – Caraterização dos vários produtos oferecidos pela Enamorata

Page 35: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

18

2.5. Indicadores Financeiros da Empresa

O quadro seguinte apresenta os dados financeiros relativos ao ano de 2012, ano em que a

empresa foi constituída. Não se considerou importante fazer uma análise exaustiva destes

indicadores devido ao facto da Enamorata ser uma empresa nova e incipiente no mercado, o

que leva a haver menos dados disponíveis.

Quadro 3 – Indicadores Financeiros da Enamorata

Como se pode verificar a empresa apresenta, em 2012, um resultado liquido positivo. Os

gastos com o pessoal e os fornecimentos e serviços externos totalizam 21.635,76€, valor

superior ao volume de negócios. No entanto, existem subsídios à exploração de 7.667, 63€

que contribuem para o resultado positivo de 1.623,43€.

Quanto à liquidez (capacidade da empresa satisfazer as suas obrigações a curto prazo com

ativos circulantes) podemos dizer que a empresa conseguiria fazer face às responsabilidades,

visto que os rácios de liquidez são superiores a 100%. Contudo, com as disponibilidades

(caixa e depósitos bancários) apenas poderia fazer face a 55% do passivo.

No que respeita à autonomia financeira (participação do capital próprio no financiamento da

empresa) em 2012 foi de 15% ; tendo em conta que é inferior a 1/3 (33%) significa que existe

uma excessiva dependência de capitais alheios (85%).

Page 36: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

19

III – O MERCADO CABOVERDEANO

Page 37: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

20

Page 38: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

21

3. O MERCADO CABOVERDEANO

3.1. Enquadramento do País

A globalização veio conferir ao arquipélago de Cabo Verde uma acrescida centralidade no

palco da economia regional onde usufrui de condições ímpares de projeção. Cabo Verde

localiza-se, geograficamente, no centro das importantes rotas comerciais que ligam a África e

a Europa aos mercados da América do Sul e da América do Norte, encontrando-se plenamente

integrado regionalmente.

Cabo Verde é reconhecido como uma democracia multipartidária estável, com progressos

significativos, ao longo dos últimos vinte anos, em termos da abertura dos mercados e da

liberdade negocial. Apesar de uma conjuntura macroeconómica menos favorável, Cabo Verde

tem continuado a merecer o apreço das principais instituições internacionais. Na edição de

2014, do Índice de Liberdade Económica, do Wall Street Journal e da Heritage Foundation,

Cabo Verde é o terceiro país africano melhor classificado na África Subsaariana (apenas atrás

da Maurícia e do Botswana). O arquipélago surge bem classificado em todas as 10 categorias

que contribuem para a pontuação final do referido Índice, sobretudo nas liberdades monetária,

financeira e de investimento. Igualmente, no Índice Ibrahim de Governação Africana, Cabo

Verde surge classificado em 3º lugar entre os 52 países africanos analisados, em 2013. Deste

modo, resulta reforçada a competitividade da economia do país e legitimada a ambição em se

tornar uma referência para projetos empresariais e institucionais de internacionalização para a

região da África Ocidental. O indicador de facilidade em fazer negócios do World Bank,

Doing Business 2014 (DB 2014), coloca o país na posição 121ª entre as 189 economias

analisadas, 2ª melhor classificada na África Central e Ocidental. No Índice de

Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas, Cabo Verde surge entre os

países posicionados na classe “desenvolvimento humano médio”, sexto país melhor

classificado da África Subsaariana.

Page 39: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

22

Fig. 2 – Dados explicativos do ambiente de negócio em Cabo Verde ( Fonte: FMI, Banco Mundial, INE

Cabo Verde, World Economic Forum)

A competitividade da economia, em termos dos requerimentos básicos (infraestruturas,

instituições e contexto macroeconómico), dos potenciadores de eficiência (funcionamento dos

mercados) e do nível de inovação e sofisticação tem permitido o posicionamento do

arquipélago entre as mais competitivas economias do continente africano, sétimo lugar no

ranking, apesar das limitações ainda reconhecidas, sobretudo, ao nível do mercado de trabalho

e do contexto macroeconómico, paralelamente à incontornável exiguidade do mercado

interno.

Cabo Verde beneficia do facto de se situar geograficamente no centro das importantes rotas

comerciais que ligam a África e a Europa aos mercados da América do Sul e da América do

Norte. A posição geoestratégica e a estabilidade económica, política e social, diferenciam

Cabo Verde da maioria dos países africanos. Esta diferenciação positiva atraiu ao arquipélago

Page 40: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

23

a ajuda pública ao desenvolvimento, as remessas dos emigrantes e, a partir da década de

noventa, o investimento privado dirigido essencialmente para o setor do turismo.

A economia cabo-verdiana assenta, sobretudo, no setor dos serviços, com o comércio, os

transportes, o turismo e os serviços públicos a representar cerca de 72% do PIB. Os recursos

naturais são escassos, existindo graves e prolongadas faltas de água- potenciadas por longos e

cíclicos períodos de seca - e solos pouco férteis em várias ilhas. Se bem que cerca de 40% da

população habite em zonas rurais, a produção alimentar tem um peso muito reduzido no PIB

(9,3% em 2014), o que implica que mais de 80% dos bens alimentares necessários ao país

tenha de ser adquirida ao exterior.

Cabo Verde é uma pequena economia aberta, muito condicionada pela conjuntura externa, o

que se explica pela elevada dependência face às importações de energia e de alimentos e face

aos fluxos de capitais oriundos do estrangeiro (por exemplo, remessas de emigrantes e

donativos). É uma economia terceirizada, onde os serviços, incluindo o turismo, representam

cerca de 75% do PIB, sendo a base produtiva da indústria pouco desenvolvida

(essencialmente ligada aos setores dos têxteis, do calçado e das pescas).

Numa perspetiva setorial a economia cabo-verdiana continuou, em 2013, a afirmar-se,

fundamentalmente, como uma economia de serviços, cerca de 75% do PIB, com grande

preponderância do turismo. Contudo, embora reconhecendo a centralidade do setor do

turismo na economia do arquipélago, tal fato não tem reduzido o empenho das autoridades do

país no sentido da projeção futura da economia das ilhas como uma eficaz plataforma

alargada de serviços para toda a região da África Ocidental. Neste contexto, a par do turismo,

outros setores de atividade têm vindo a ser privilegiados na diversificação da economia de

Cabo Verde, garantindo a sustentabilidade do desenvolvimento a médio e longo prazo, como

a logística e a segurança marítima, os transportes aéreos, as tecnologias de informação e da

comunicação, as energias renováveis e o próprio setor financeiro.

A figura seguinte quantifica os principais indicadores macroeconômicos desde 2011 até 2014,

apontando também as expetativas para os anos de 2015 e 2016.

Page 41: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

24

Unidade 2011 2012 2013 2014 2015* 2016*

População Milhares 491 494 509 506 512 519

PIB a preços de

mercado

106 USD 1 867 1 795 1 920 2 071 2 221 2 382

PIB per capita USD 3 805 3 630 3 837 4 090 4 335 4 594

Crescimento real do

PIB

% 4,0 1,2 0,5 2,5 2,7 3,5

Taxa de inflação % 4,5 2,5 1,6 1,6 2,3 2,0

Taxa de desemprego % 16,0 16,8 17,0 12,0 10,0 9,0

Saldo do Setor

Público

% do PIB - 7,7 - 10,0 - 8,3 - 7,0 - 6,3 - 7,6

Divida Externa % do PIB 77,8 89,4 95,0 104,1 109,9 113,6

Saldo da Balança

Corrente

% do PIB - 16,3 - 11,9 - 2,7 - 6,8 - 9,2 - 10,4

Taxa de câmbio

Eur/Escudo cv

1Eur=xcv 110,3 110,3 110,3 110,3 110,3 110,3

Quadro 4 – Principais Indicadores Macroeconómicos ( Fonte: The Economist Intelligence Unit (EIU);

FMI) Nota: *- previsão

Os próximos quadros apresentam os países principais clientes e fornecedores de Cabo Verde

no período compreendido entre 2011 a 2013.

Page 42: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

25

Mercado 2011 2012 2013

Quota (%) Posição Quota (%) Posição Quota (%) Posição

Espanha 66,6 1ª 72,0 1ª 66,7 1ª

Portugal 15,7 2ª 15,1 2ª 16,5 2ª

Itália 0,0 81ª 0,1 10ª 5,4 3ª

França 3,3 5ª 0,0 11ª 3,4 4ª

El Salvador 3,5 4ª 4,6 3ª 3,4 5ª

Quadro 5 – Principais Clientes de Cabo Verde (Fonte: International Trade Centre (ITC), INE)

Mercado 2011 2012 2013

Quota (%) Posição Quota (%) Posição Quota (%) Posição

Portugal 39,1 1ª 39,9 1ª 40,2 1ª

Países Baixos 15,6 2ª 12,5 2ª 20,0 2ª

Espanha 10,0 3ª 7,7 4ª 7,9 3ª

Brasil 3,8 4ª 4,1 5ª 3,5 4ª

China 2,6 9ª 3,0 6ª 3,1 5ª

Quadro 6 – Principais Fornecedores de Cabo Verde (Fonte: International Trade Centre (ITC), INE)

3.2. As relações comerciais entre Portugal e Cabo Verde

Cabo Verde, apesar da pequena dimensão da sua economia, é um importante parceiro

comercial de Portugal, designadamente enquanto destino das exportações portuguesas (17º

cliente em 2010 e 27º em 2013), já que no que se refere à origem das importações a sua

Page 43: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

26

posição é bastante modesta (101º fornecedor em 2010 e 95º em 2013). Tendo como referência

o conjunto de países africanos de língua oficial portuguesa, Cabo Verde é atualmente o 2º

maior destino de exportações nacionais e superado apenas por Angola, e o 3º em termos de

origem das importações, a seguir a Angola e Moçambique.

Posição e quota de

Cabo Verde

Unidade 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Jan/Jul

Cabo Verde como

cliente de Portugal

Posição

% Saídas

15

0,70

18

0,70

22

0,59

26

0,48

27

0,43

27

0,43

Cabo Verde como

fornecedor de Portugal

Posição

% Entradas

104

0,01

101

0,01

91

0,02

96

0,02

95

0,02

96

0,02

Quadro 7 – Posição e Quota de Cabo Verde em relação a Portugal (Fonte: INE)

Em 2013, as exportações portuguesas para Cabo Verde ascenderam a EUR 271 milhões,

correspondendo 75% a exportação de bens. O saldo comercial entre os dois países é

superavitário para Portugal, no valor de EUR 188 milhões, em 2013. Não obstante as

exportações portuguesas de bens e serviços para Cabo Verde terem aumentado apenas 1% em

2013, Portugal viu reforçada a sua posição destacada de principal fornecedor, com um

aumento de quota de 30%, em 2012, para 33%, em 2013. É de se referir que, apesar do

quadro positivo e favorável a Portugal na relação comercial com Cabo Verde, a evolução

recente da taxa média de variação anual entre 2010 e 2013 demonstra um recuo das

exportações nacionais com destino a Cabo Verde (-8.2%) e um incremento das importações

(15.0%).

Page 44: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

27

BALANÇA

COMERCIAL

2010 2011 2012 2013 2013

Jan/Jul

2014

Jan/Jul

Exportações 262.590 253.786 215.611 202.089 117.509 121.851

Importações 7.476 9.971 9.114 11.384 6.548 6.896

Saldo 255.114 243.815 206.497 190.706 110.961 114.955

Quadro 8 – Balança comercial superavitária de Portugal em relação a CV relativo ao comércio de Bens

(Fonte: INE) | Unidade: Milhares de Euros

Em termos do comércio externo cabo-verdiano, e de acordo com os dados divulgados pelo

International Trade Centre, verifica-se que Portugal mantém o primeiro lugar enquanto

fornecedor, representando 40,2% das importações em 2013. Enquanto cliente, Portugal detém

a segunda posição, a seguir a Espanha, com uma quota de 16,5%. É de realçar que no período

2009-2013, as exportações portuguesas apresentaram um decréscimo médio anual de 1,6%,

enquanto as importações registaram um crescimento de 13,2%.

Posição e Quota de

Portugal

Unidade 2009 2010 2011 2012 2013

Portugal como cliente

de Cabo Verde

Posição

% Export. CV

2

38,17

2

24,88

2

15,67

2

15,05

2

16,48

Portugal como fornecedor

de Cabo Verde

Posição

% Import. CV

1

42,27

1

45,50

1

39,05

1

39,85

1

40,24

Quadro 9 – Posição e Quota de Portugal em relação a CV (Fonte: INE)

De um padrão de especialização setorial das exportações assente, principalmente, em produtos

industriais transformados (mais de 94%), o grupo das máquinas e aparelhos tem sido

Page 45: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

28

dominante nas exportações portuguesas para Cabo Verde (16,9% do total em 2013), embora

tenha registado, no último ano, uma evolução negativa de 15,3% face a 2012. O grupo dos

produtos agrícolas manteve a segunda posição no ranking das exportações (15,5% do total).

Seguem-se, por ordem decrescente de valor, os produtos alimentares, os metais comuns, os

produtos químicos e os minerais e minérios. O conjunto formado por estes seis principais

grupos de produtos, tradicionalmente os mais representativos das exportações portuguesas

para Cabo Verde, representou 75,3% do total em 2013 (74,5% em 2012 e 74% em 2011).

Dados relativos a 2013 indicam que 40,4% das exportações portuguesas para Cabo Verde de

produtos industriais transformados incidiram em produtos classificados como baixa

tecnologia. Seguem-se os produtos de média-baixa intensidade tecnológica (26,7%), de

média-alta tecnologia (23,3%) e de alta intensidade tecnológica (9,7%).

Os quadros seguintes apontam as exportações de Portugal para Cabo Verde. Os quadros estão

divididos pelas quantidades dos vários grupos de produtos e suas respetivas quotas.

Page 46: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

29

Exportações

(Grupos de produtos)

2009 % Tot

2009

2012 % Tot

2012

2013 % Tot

2013

Var %

13/12

Máquinas e Aparelhos 40.233 18,1 40.462 18,8 34.288 17,0 -15,3

Agrícolas 21.360 9,6 30.522 14,2 31.493 15,6 3,2

Alimentares 29.215 13,1 29.225 13,6 28.848 14,3 -1,3

Metais comuns 22.133 9,9 22.317 10,4 21.640 10,7 -3,0

Químicos 18.864 8,5 18.867 8,8 18.872 9,3 0,0

Minerais e minérios 24.086 10,8 19.442 9,0 17.311 8,6 -11,0

Plásticos e Borracha 13.047 5,9 11.355 5,3 10.456 5,2 -7,9

Pastas celulósicas e papel 6.879 3,1 7.097 3,3 6.376 3,2 -10,2

Veículos e outro mat.

transporte

13.695 6,1 7.039 3,3 5.537 2,7 -21,3

Madeira e cortiça 4.663 2,1 3.995 1,9 4.153 2,1 3,9

Matérias textêis 3.956 1,8 2.967 1,4 3.342 1,7 12,6

Instrumentos de ótica e

precisão 3.151 1,4 3.159 1,5 3.162 1,6 0,1

Peles e couros 1.520 0,7 1.916 0,9 2.866 1,4 49,6

Combustíveis minerais 3.592 1,6 4.587 2,1 2.168 1,1 -52,7

Vestuário 2.439 1,1 2.629 1,2 2.006 1,0 -23,7

Calçado 690 0,3 365 0,2 305 0,2 -16,4

Outros produtos 13.009 5,8 9.666 4,5 9.267 4,6 -4,1

Total 222.532 100,0 215.611 100,0 202.089 100,0 -6,3

Quadro 10 – Exportações portuguesas para CV por Grupos de produtos e Variação percentual entre 2013

e 2012 ( Fonte: INE) Unidade: Milhares de €

Page 47: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

30

Exportações

(Grupos de produtos)

2013 Jan/Jul % Tot

2013

2014 Jan/Jul % Tot

2014

Var %

14/13

Máquinas e Aparelhos 20.717 17,6 21.608 17,7 4,3

Agrícolas 18.840 16,0 18.013 14,8 -4,4

Alimentares 16.194 13,8 14.778 12,1 -8,7

Metais comuns 12.920 11,0 13.625 11,2 5,5

Químicos 11.097 9,4 12.392 10,2 11,7

Minerais e minérios 9.838 8,4 11.506 9,4 16,9

Plásticos e Borracha 6.111 5,2 5.961 4,9 -2,5

Pastas celulósicas e papel 3.522 3,0 3.765 3,1 6,9

Veículos e outro mat.

transporte

3.050 2,6 4.160 3,4 36,4

Madeira e cortiça 2.341 2,0 2.824 2,3 20,6

Matérias textêis 1.674 1,4 2.372 1,9 41,7

Instrumentos de ótica e

precisão 1.445 1,2 1.686 1,4 16,7

Peles e couros 1.712 1,5 1.479 1,2 -13,6

Combustíveis minerais 1.261 1,1 978 0,8 -22,4

Vestuário 1.205 1,0 1.404 1,2 16,5

Calçado 166 0,1 304 0,2 83,5

Outros produtos 5.414 4,6 4.996 4,1 -7,7

Total 117.509 100,0 121.851 100,0 3,7

Quadro 11 – Exportações portuguesas para CV por Grupos de produtos e Variação percentual entre o 1º

semestre de 2014 e o mesmo período de 2013 ( Fonte: INE) Unidade: Milhares de €

Page 48: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

31

As importações originárias de Cabo Verde são claramente mais concentradas do que as

exportações portuguesas para este mercado, com o calçado e o vestuário (produtos

essencialmente fabricados pelas empresas portuguesas instaladas em Cabo Verde) a

representarem, em conjunto, 62,6% do total importado em 2013 (58,7% no ano anterior). Se

considerarmos ainda as máquinas e aparelhos (12,1%) e os produtos agrícolas (12,1%),

significa que apenas quatro grupos de produtos são responsáveis por 86,8% das importações

totais.

Mais de 78% das importações portuguesas de produtos industriais transformados provenientes

de Cabo Verde (que representam 90,1% das importações totais de 2013) corresponde a

produtos de baixa intensidade tecnológica, seguindo-se os produtos de média-alta tecnologia

(17,0%).

Portugal tem uma quota bastante significativa em vários produtos importados por Cabo

Verde. Destacam-se os produtos alimentares, como por exemplo o leite onde 80% das

importações do país deste produto foram fornecidas por Portugal (em 2013), os sumos de

fruta (82%), a cerveja (91%) e o vinho (80%).

Os quadros seguintes demonstram as importações de Portugal provenientes de Cabo Verde.

Os quadros estão divididos pelas quantidades dos vários grupos de produtos e suas respetivas

quotas.

Page 49: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

32

Importações

(Grupo de Produtos)

2009 % Tot

2009

2012 % Tot

2012

2013 % Tot

2013

Var %

13/12

Máquinas e Aparelhos 204 2,8 1.742 19,1 1.381 12,1 -20,7

Agrícolas 352 4,9 992 10,9 1.380 12,1 39,1

Alimentares 1.161 16,0 304 3,3 289 2,5 -4,9

Metais comuns 40 0,6 220 2,4 287 2,5 30,6

Químicos 17 0,2 13 0,1 1 0,0 -88,3

Minerais e minérios 3 0,0 25 0,3 65 0,6 161,6

Plásticos e Borracha 4 0,1 32 0,3 97 0,8 205,1

Pastas celulósicas e

papel

21 0,3 17 0,2 24 0,2 39,1

Veículos e outro mat.

transporte 306 4,2 226 2,5 417 3,7 84,8

Madeira e cortiça 1 0,0 10 0,1 0 0,0 -96,7

Matérias textêis 6 0,1 39 0,4 164 1,4 318,0

Instrumentos de ótica e

precisão 40 0,6 37 0,4 122 1,1 229,7

Peles e couros 0 0,0 34 0,4 10 0,1 -70,1

Combustíveis minerais 0 0,0 5 0,1 6 0,1 26,8

Vestuário 2.161 29,8 1.739 19,1 3.146 27,6 80,9

Calçado 2.892 39,9 3.605 39,6 3.983 35,0 10,5

Outros produtos 21 0,4 75 0,8 12 0,1 -84,1

Total 7.230 100,0 9.114 100,0 11.384 100,0 24,9

Quadro 12 – Importações portuguesas provenientes de CV por Grupos de produtos e Variação percentual

entre 2013 e 2012 ( Fonte: INE) Unidade: Milhares de €

Page 50: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

33

Importações

(Grupo de Produtos)

2013 Jan/Jul % Tot

2013

2014 Jan/Jul % Tot

2014

Var %

14/13

Máquinas e Aparelhos 552 8,4 378 5,5 -31,6

Agrícolas 819 12,5 475 6,9 -41,9

Alimentares 169 2,6 458 6,6 170,2

Metais comuns 171 2,6 220 3,2 28,4

Químicos 1 0,0 14 0,2 §

Minerais e minérios 14 0,2 24 0,3 73,0

Plásticos e Borracha 50 0,8 37 0,5 -25,0

Pastas celulósicas e papel

9 0,1 0 0,0 -97,5

Veículos e outro mat.

Transporte 369 5,6 66 1,0 -82,2

Madeira e cortiça 0 0,0 1 0,0 139,9

Matérias textêis 163 2,5 14 0,2 -91,4

Instrumentos de ótica e

precisão 55 0,8 13 0,2 -75,8

Peles e couros 10 0,2 -100,0

Combustíveis minerais 0 0,0 §

Vestuário 1.682 25,7 2.496 36,2 48,5

Calçado 2.480 37,9 2.699 39,1 8,8

Outros produtos 4 0,1 1 0,0 -81,2

Total 6.548 100,0 6.896 100,0 5,3

Quadro 13 – Importações portuguesas prov. de CV por Grupos de produtos e Variação percentual entre o

1º semestre de 2014 e o mesmo período de 2013 ( Fonte: INE) Unidade: Milhares de €

Page 51: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

34

Ao longo dos últimos anos e até 2008, registou-se um aumento contínuo do número de

empresas portuguesas que exportaram produtos para Cabo Verde (2.633 em 2004 que

compara com 3.697 em 2008). No entanto, em 2009, verificou-se uma queda significativa,

não indo além das 2.784 empresas exportadoras, situação que se inverteu nos dois anos

seguintes, 2.832 e 2.942 empresas, respetivamente. Em 2012, último ano disponível, o total

caiu para 2.823 empresas.

Os reduzidos níveis de produção e de industrialização de Cabo Verde são os principais fatores

que levam ao recurso às importações para satisfação da procura interna. O país importa cerca

de 80% dos produtos alimentares que consome, pelo que há oportunidades de exportação de

produtos de consumo generalizado e gourmet, tais como produtos lácteos, azeite, óleos

alimentares, frutas, leguminosas e vegetais enlatados, sumos, vinhos, cervejas e produtos

congelados, como peixe e vegetais. É neste sentido, que as empresas portuguesas encontram

bastantes potencialidades nas exportações para este país, beneficiando das boas relações

históricas e institucionais existentes para posicionar Portugal como a parceiro comercial mais

importante para Cabo Verde.

3.3. Exportar para Cabo Verde

A liberalização do comércio externo em Cabo Verde tem vindo a ser executada de forma

gradual e progressiva, quer através da simplificação dos procedimentos legais, quer da adoção

de medidas de descontingentação das operações de importação. Com o objetivo de efetuar

uma aproximação às normas da OMC em matéria de simplificação dos procedimentos e

circuitos de registo e licenciamento das operações de comércio externo foi publicado o

Decreto nº 68/2005, que revê o regime legal em vigor nesta matéria, revogando o Decreto-

Lei nº 51/2003.

Com esta reforma, é definido um quadro liberal em matéria de comércio externo, ou seja, as

operações de importação e exportação são livres para os importadores e exportadores

devidamente credenciados nos termos da lei. No que respeita ao licenciamento das

importações, o sistema administrativo compreende três modalidades:

Page 52: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

35

- Importações dispensadas de licenciamento;

- Importações sujeitas a licenciamento automático;

- Importações sujeitas a licenciamento não automático.

Entre as mercadorias dispensadas de licenciamento encontram-se: aquelas sem valor

comercial (definidas por lei); as operações de aperfeiçoamento ativo e passivo, de importação

temporária, reimportação no Estado, reexportação e de trânsito; e as importações sujeitas a

regimes aduaneiros especiais.

Como princípio geral, todas as mercadorias estão sujeitas ao licenciamento automático, salvo

as que estão submetidas a controlos sanitários, fitossanitários e de segurança e as mercadorias

objeto de restrições(obrigatoriamente definidas por lei).

O licenciamento automático será efetivado mediante a apresentação da declaração aduaneira

na Alfândega, cuja emissão é da competência do Ministério responsável pela área do

comércio. Quando se tratar de licenciamento não automático, os operadores económicos

necessitam de obter autorização prévia junto das autoridades competentes.

A Pauta Aduaneira de Cabo Verde baseia-se no Sistema Harmonizado de Designação e

Codificação de Mercadorias, correspondente à Nomenclatura Económica dos Estados da

África Ocidental (CEDEAO), de que Cabo Verde é membro. Aprovada em 2002, esta pauta

contempla direitos aduaneiros ad- valorem, variando as respetivas taxas entre 0% e 50% (ex.:

cacau; águas e refrigerantes; cervejas; vinhos e bebidas espirituosas; tabaco; sabões; peles em

pêlo em bruto, curtidas ou acabadas; tratores usados com mais de 10 anos; móveis de metal,

madeira ou plástico; obras de marfim). A Pauta Aduaneira pode ser consultada no site das

Alfândegas de Cabo Verde.

Importa referir, a este propósito, que depois da adesão à OMC em 2008, após sete anos de

negociações, o país concordou numa consolidação tarifária com taxas a variar de 0% a 55%,

envolvendo algumas das condições a redução progressiva dos direitos aduaneiros até 2018, o

que determinará uma taxa máxima média de 15%. Quanto aos produtos agrícolas, Cabo Verde

concordou numa consolidação tarifária nos 19%. Ainda neste contexto, e para fazer face aos

compromissos da OMC, está em curso o projeto “Reforma Aduaneira” que visa apoiar e

facilitar a participação ativa do país no sistema multilateral de comércio, aumentando o grau

de aplicação do regime aduaneiro.

Page 53: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

36

Além dos direitos de importação, existe ainda um conjunto de direitos específicos e outros

encargos que incidem sobre os produtos importados:

- Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) – Introduzido em janeiro de 2004, estabelece

uma taxa geral no valor de 15% e uma de 6% para os serviços de hotelaria e restauração.

Alguns bens (considerados essenciais no consumo) estão isentos (taxa 0%). A taxa do IVA é

aplicada sobre o valor CIF (custo, seguro e frete) + DI (direitos de importação).

- Imposto de Consumos Especiais (ICE) – Aplicável aos bens supérfluos, de luxo ou

indesejáveis por razões de política económica, social ou ambiental (ex.: bebidas espirituosas,

os vinhos, os espumantes, a cerveja e o tabaco). A taxa base é de 10%, havendo alguns

produtos com taxas mais elevadas de 20% (ex.: cigarros e charutos), 40% (ex,: cerveja,

vinhos, bebidas espirituosas), 40%, 80% ou 150% (veículos automóveis, para o transporte de

pessoas e para transporte de mercadorias, até 5 toneladas, usados, respetivamente, com mais

de 4 e até 6 anos de idade, mais de 6 e até 10 anos de idade e mais de 10 anos de idade).

- Taxa Ecológica (TE) – Estão sujeitos à Taxa Ecológica os produtos constantes do Anexo I

da Lei n.º 17/VIII/2012, de 23 de agosto (ex.: pilhas, artigos de transporte ou de embalagem

de plástico-incluindo rolhas- vidro, metal, papel e cartão revestidos, caixotes e caixas de

madeira, entre outros). O valor da taxa é fixado em função de cada quilograma de produtos

importados e consta da Tabela I da referida Lei.

- Taxa Comunitária (TC) – Decorre do Tratado da CEDEAO/ECOWAS, com a finalidade de

gerar recursos para financiar as atividades da Comunidade. A base tributária de aplicação

desta taxa é constituída pelo valor das mercadorias importadas para consumo no espaço da

CEDEAO, provenientes de países terceiros, havendo, no entanto, algumas situações de

isenção. A taxa base deste imposto é de 0,5% sobre o valor CIF da mercadoria.

- Serviços aduaneiros – Pela prestação de serviços aduaneiros é cobrada uma taxa de 1,04%

sobre o valor CIF da mercadoria.

- Taxa Estatística Aduaneira (TEA) – Criada através do Orçamento de Estado para 2013

incide sobre as utilidades prestadas aos particulares através do sistema SYDONIA++ e é

cobrada por declaração aduaneira (5000 ECV por declaração), por cada adição de mercadorias

à declaração aduaneira (1500 ECV por adição), por cada pedido de levantamento (3000 ECV

Page 54: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

37

por pedido), por cada processo de isenção aduaneira (6000 ECV por processo), entre outros

casos.

- Serviços de inspeção zoossanitária e fitossanitária – Pela inspeção de animais, produtos de

origem animal, vegetais, produtos de origem vegetal e produtos de pesca são cobradas taxas

de acordo com o número de animais ou quilogramas de produtos efetivamente inspecionados.

No Apêndice 1 será apresentado as taxas alfandegárias e os impostos que incidem,

especificamente, sobre os produtos exportados pela Empresa Enamorata.

3.4. Análise Swot do Mercado caboverdeano

Pontos Fortes Pontos Fracos

Crescimento demográfico

Rendimento per capita crescente

Língua comum (português)

Forte ligação histórico-cultural entre CV

e Portugal

Habituação do consumidor aos produtos e

marcas portuguesas

Forte presença das empresas portuguesas

no mercado

Boas relações institucionais e de

cooperação entre os governos

caboverdeano e português

Estabilidade politica e econômica

Ligação da moeda local ao euro (taxa de

câmbio fixa e sobrevalorizada para o

Euro)

Sistema de transporte e logística mais

favorável( ligações aéreas diárias e bons

aeroportos internacionais)

Curta distância geográfica e “curta

distância psíquica” (Johansson &

Vahlne,2009) entre CV e PT

Dificuldades logísticas (p.e., Porto de

Palmeira, Sal)

Fraca produção local

Rede de abastecimento de água potável

insuficiente e deficiente

Sistema de saneamento básico

insuficiente e deficiente

Recolha de lixo deficitária

Rede elétrica deficiente

Rede viária de fraca qualidade

Dispersão do mercado (país insular)

Alta taxa de desemprego

Custo de vida elevado

Page 55: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

38

(Continuação do Quadro anterior)

Oportunidades Ameaças

Falta de produção interna

Maior poder aquisitivo da população

Baixa concorrência a nível de produtos

requintados e de alta qualidade

Maior procura de produtos de alta

qualidade devido ao aumento de turistas e

da população com ensino superior

Crescente taxa de crescimento da

economia caboverdeana

Crescimento do fluxo turístico e das

infraestruturas de transporte e

comunicação

Incentivos fiscais e legislação favorável

ao investidor português oferecidos pelo

Estado

Mercado caboverdeano pode funcionar

com um “bom teste” antes da penetração

a outros mercados africanos

Aumento da criminalidade

Pequena dimensão do mercado e forte

competitividade de grandes empresas

Elevada quota de mercado já detida por

Portugal

Custos de transporte e logística

Comércio informal (produtos brasileiros,

chineses, etc.)

Falta de informação qualificada sobre os

parceiros locais

Emergência de novos países investidores

(novos fluxos comerciais como a China,

Brasil e Espanha)

Recessão econômica dificulta a

internacionalização de uma marca não

conhecida e de preços elevados.

Marcas concorrentes com preços mais

reduzidos

Quadro 14 – Análise SWOT do mercado caboverdeano ( Elaboração própria)

Page 56: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

39

IV- ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO TEMA

Page 57: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

40

Page 58: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

41

4. REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura efetuada incide numa análise teórica sobre as teorias e modelos de

internacionalização, sobre os determinantes do processo de internacionalização, a seleção dos

mercados-alvo e os modos de entrada. Esta investigação também debruçará sobre as teorias e

abordagens cujo foco é o processo de exportação e os fatores que estimulam as PME´s a

exportar.

4.1. O processo de Internacionalização

A globalização tem levado as empresas, tanto as Multinacionais (MNs) como as Pequenas e

Médias Empresas (PMEs), a internacionalizarem as suas operações através da expansão para

novos mercados externos. Desta forma, há uma necessidade crescente para uma maior

compreensão de quais os fatores influentes nas estratégias de internacionalização das PMEs,

dado que estas representam a generalidade do tecido empresarial em Portugal. A conjuntura

económica atual também acaba por influenciar a busca por parte destas empresas por uma

maximização da sua eficiência, por uma valorização do conhecimento e inovação e uma busca

pela cooperação através do contato com novos mercados.

Como refere Philippe Defarges (1993), a tendência crescente da globalização da economia

mundial pode ser vista sob cinco prismas:

Liberdade de circulação de capitais e forte intensidade dos movimentos de capitais à

escala planetária, quer sob a forma de investimentos de “carteira”, quer de

Investimento Direto Internacional;

Forte crescimento do comércio internacional de bens e serviços, com o surgimento de

novo pólos de oferta competitiva de bens e serviços; mas com um peso crescente e

dominante do comércio intra-empresas e intra-redes, tornando mais difícil o recuo

para soluções protecionistas;

Page 59: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

42

Investimento Direto Internacional, subcontratação internacional e alianças

empresariais à escala mundial, levando a criação de redes mundiais integradas de

produção;

Concentração das zonas de prosperidade a nível mundial- resultantes de uma plena

inserção na dinâmica global- em torno de “pólos” e “corredores”, nalguns casos de

natureza transfronteiriça, onde se localizarão indústrias e serviços que disporão de

excelentes acessos “ao mundo”, através de portos, aeroportos telecomunicações.

Difusão generalizada de um modelo de consumo e do respetivo capital simbólico, em

especial entre as jovens gerações, apoiada na mundialização dos “media”.

Este Liberalismo económico, fruto da maior globalização, é muito importante para a análise

do processo de internacionalização dado que permite uma maior abertura de países que

anteriormente praticavam políticas protecionistas aos produtos estrangeiros, como também

permite um aproveitamento de economias de escala decorrentes dos grandes blocos

comerciais (como a UE, Mercosul, APEC) para, através de uma estandardização dos produtos

e estratégias, atingir um maior número de mercados.

Deve-se então a esta progressiva liberalização do comércio internacional, em conjunto com

uma maior criação de oportunidades externas e aumento da concorrência, a intensificação do

processo de internacionalização por parte das empresas como forma de estas sobreviverem

perante alguns condicionantes como o aumento da concorrência, a saturação do mercado

doméstico ou a procura de novos e mais recursos levando assim a uma maior capacidade de

inovação dos seus produtos finais, um aumento das vendas e dos lucros e a uma minimização

dos riscos de investimento (Daniels et. al,2011).

Cabe então inicialmente, nesta secção deste Relatório, analisar o conceito da

internacionalização. Simões(1997) afirma que a ambiguidade na definição do conceito de

internacionalização se deve a existência de duas grandes dicotomias: de um lado, a oposição

macro-micro que estabelece a comparação entre a internacionalização na perspetiva da

economia nacional e na ótica da empresa e, de outro lado, a polarização inward-outward que

contrasta as operações que têm lugar “do exterior para o interior” (importações, contratos de

franquia ou tecnologia e investimento estrangeiro no país) e as operações que se verificam

Page 60: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

43

“do interior para o exterior” (exportações, contratos de licenciamento ou tecnologia no

estrangeiro, investimento direto no estrangeiro)

Para Beamish (1990), a internacionalização é um processo pelo qual as empresas aumentam o

seu futuro conhecimento, direto e indireto, em transações internacionais estabelecendo e

gerindo-as com empresas noutros países. O processo ou a forma de internacionalização vai

definir o grau do envolvimento da empresa nas suas atividades internacionais. Esta ideia é

desenvolvida por Welch e Luostarinen (1988) segundo os quais a internacionalização é um

processo através do qual as empresas vão aumentando o seu envolvimento nas operações

internacionais.

Wu e Zhao (2007) realizaram uma análise convergente de todas as definições da

internacionalização para concluir que existe um consenso entre os autores de que o conceito

inclui os seguintes princípios: i) trata-se de um processo que implica várias decisões

estratégicas e incrementais, ii) envolve os fluxos de vários produtos, serviços e recursos do

interior para o exterior e do exterior para o interior, através das fronteiras nacionais e iii)

existem uma série de fatores inerentes às empresas e ao seu ambiente que influenciam a

internacionalização.

Todo o processo de internacionalização exige a escolha de estratégias mais eficazes para que

se consiga, primeiramente, a propagação do conhecimento de uma empresa, marca ou produto

além-fronteiras e, posteriormente, o aumento das exportações, ou caso a escolha do modo de

entrada seja diferente, o aumento dos investimentos e dos recursos no mercado-alvo sendo

que o objetivo último será o aumento dos lucros.

Chandler (1962) defende que a estratégia consiste na determinação dos objetivos de longo

prazo de uma empresa e na adoção de ações consideradas adequadas e na afetação dos

recursos para atingir esses objetivos. Cavusgil et al. (2010) entendem a estratégia como um

plano de ação que encaminha os recursos de uma empresa de forma a permitir-lhe diferenciar-

se dos seus concorrentes e atingir objetivos específicos e realizáveis.

Page 61: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

44

4.2. Os determinantes do processo de Internacionalização

De acordo com Dunning e Lundan (2008), a internacionalização tem como motivações

principais a procura de recursos naturais, mercados, eficiência e ativos estratégicos, sendo que

uma empresa pode ter várias motivações que, por seu turno, podem variar nas diferentes fases

de internacionalização.

Uma empresa pode ser motivada a procurar recursos como as matérias-primas ou a mão-de-

obra inexistentes no seu país de origem ou que possam ser encontrados num preço mais

barato num outro mercado. Por outro lado, a internacionalização provocada pela procura de

mercados destina-se ao abastecimento do mercado nacional, podendo inserir-se numa lógica

de exploração de novos mercados, ou de fortalecimento ou proteção da aposta em mercados

em que já estão presentes, reforçando assim sua posição na rede internacional de negócios.

Stremtan, Mihalache e Pioras (2009) são de opinião de que os determinantes da

internacionalização são os seguintes:

- Um mercado nacional saturado ou de pequena dimensão, uma feroz concorrência no

mercado interno, um mercado onde as oportunidades são cada vez mais escassas; todos estes

fatores fazem com que as empresas tenham um interesse numa prospeção para novos

mercados.

- Outro aspeto tem a ver com as empresas que produzem bens únicos, especializados e

elitistas pois estas empresas têm uma atividade especifica direcionada a um pequeno número

de potenciais compradores, como tal, o mercado não pode ser limitada ao mercado doméstico.

Assim sendo, uma internacionalização destas empresas permite evitar a especialização em

outros produtos e manter o foco num produto em que se é o líder, ao oferecer perspetivas de

desenvolvimento sem sair do ofício original.

- A internacionalização permite uma empresa encontrar novos mercados e fazer frente a

períodos de desaceleração do crescimento econômico no seu mercado. O crescimento da

competição de preços determina que a empresa deslocalize a produção para áreas onde há

baixos custos (mão de obra, logística e materiais), e numa fase posterior reimporte estes

Page 62: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

45

mesmos produtos. É dessa forma que a empresa cria subsidiárias de produção no exterior, a

fim de abastecer os mercados locais.

- Os fatores de oportunidade representam a última categoria do processo de

internacionalização e eles se referem ao fato de que os eventos de comércio, o pedido de

informações de correio, a possibilidade de encontro com delegados de outras empresas

representa uma boa oportunidade para a empresa perceber que os seus produtos são

necessários no exterior. Esse tipo de solicitação deve estimular a empresa a adotar uma

abordagem racional para o estabelecimento de uma relação sustentável com seus fornecedores

e clientes estrangeiros.

4.3. As teorias da Internacionalização

Nesta secção deste Relatório realizar-se-á uma análise focada nas teorias explicativas do

processo de internacionalização e dado que o nosso interesse está focado numa PME, faz-se

necessário uma breve abordagem sobre este tipo de empresa para depois efetuar-se aquela

análise que se pretende que seja precisa e focalizada nas teorias que toquem os princípios e

características inerentes às PME´s, evitando-se assim uma investigação enviesada e

generalista sobre teorias cujos princípios não se aplicam e não explicam o caráter especifico e

próprio desta tipologia de empresa.

4.3.1. Conceito de PME´s

Na definição proposta pela União Européia, as empresas que constituem a categoria das

micro, pequenas e médias empresas são todas aquelas cujo volume de negócios anual não

excede os 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede os 43 milhões de euros

e que empregam menos de 250 pessoas. Segundo o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias

Empresas, 99,7% do tecido empresarial português é constituído por PME´s que geram 72,5%

do emprego e realizam 57,9% do volume de negócios nacional (dados referentes ao ano de

2008).

Page 63: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

46

Categoria Nº trabalhadores Volume de negócios

Micro Empresa Menos de 10 < ou = 2 Milhões €

Pequena Empresa Entre 10 a 50 < ou = 10 Milhões €

Média Empresa Entre 50 a 250 < ou = 50 Milhões €

Quadro 15 – Categorização das empresas

Singh et al. (2008) observaram que as PME´s são consideradas a maior fonte do crescimento

económico. No entanto, os autores constatam que a ausência de um desenvolvimento de

estratégias de longo prazo (foco apenas nas de curto prazo) confirma a prioridade atribuída à

gestão do funcionamento. Por outro lado, identificam os recursos limitados e a ausência de

inovação em relação aos seus ativos estratégicos, isto é, este tipo de empresa demonstra uma

fraca habilidade para gerar e administrar a implantação de inovações tecnológicas e/ou

organizacionais levando a constrangimentos à capacidade exportadora destas empresas.

Por outro lado, estas empresas apresentam, como resultado da sua dimensão e flexibilidade na

adaptação à mudança, diversas vantagens em relação as grandes empresas. Salavou et al.

(2004) afirmam que as PME´s orientadas para o mercado e para a aprendizagem, e que

enfrentam forte concorrência, tendem a ter uma maior capacidade inovadora.

Outros fatores como as competências de oportunidade, relacionamento e inovação tais como

as características humanas e estratégicas do empreendedor são apontados por Man et. al

(2008) como sendo importantes para a performance de longo prazo das PME´s. Fatores

externos como a globalização dos mercados e das operações, os avanços tecnológicos e o

aumento da concorrência (que ameaça a sobrevivência das empresas) influencia na mudança

de paradigma das PME´s ao levar que estas desenvolvam estratégias de inovação que lhe

conferem maior vantagem competitiva e maior capacidade exportadora.

Feita esta análise pertinente sobre as PME´s, passaremos a dedicar os subcapítulos posteriores

a análise de algumas teorias sobre a internacionalização.

Page 64: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

47

4.3.2. Modelo de Uppsala

Este Modelo foi, inicialmente, proposto por Johanson e Vahlne, em 1977, num artigo

publicado no Journal of International Business Studies e tem como caraterística fundamental

o facto de ser de carácter modular e de ocorrência sequencial e incremental (Whitelock,2002).

A base deste modelo foi uma pesquisa desenvolvida através de estudos empíricos em algumas

empresas da Suécia e dos EUA que tinha como objetivo a partir destes a apresentação de um

Modelo de internacionalização com um valor explicativo do processo de internacionalização.

A partir deste Modelo houve uma mudança de paradigma na análise dos negócios

internacionais, passando estes a serem encarados não apenas numa perspetiva econômica mas

também (e sobretudo) numa perspetiva do comportamento organizacional. É neste sentido que

Johanson e Vahlne concluem que a internacionalização das empresas dá-se de uma forma

progressiva e sequencial. Portanto, o foco deste modelo é o desenvolvimento da empresa

individual e, concretamente, as suas aquisições graduais, integração e uso do conhecimento

sobre as operações internacionais e sobre os mercados externos, e consequentemente sobre o

seu sucessivo aumento de comprometimento nestes mercados.

No Modelo Uppsala, a questão da distância psíquica é também preponderante, no sentido em

que a propensão para internacionalizar para um determinado mercado é tanto maior quanto

menor for essa distância entre o mercado de destino e o mercado de origem. Johanson e

Vahlne (1977) referem-se a este conceito como sendo definido pela soma dos fatores que

condicionam a fluidez da informação entre os dois mercados em questão. Esses fatores são,

por exemplo, as diferenças na língua, na educação, nas práticas empresariais, na cultura, e no

desenvolvimento industrial. A tendência natural será, portanto, a internacionalização para

mercados em relação aos quais a distância psíquica seja menor, deixando para uma fase

posterior a entrada em mercados onde essa distância é maior, aproveitando, dessa forma, o

conhecimento entretanto adquirido. Este conceito de “distância psíquica” e sua natural

aplicação no processo de internacionalização é que confere um caráter incremental a este

modelo explicativo.

O caráter sequencial do Modelo Uppsala baseia-se na ideia de que a internacionalização é

feita por etapas (módulos), havendo entre estas uma sequência lógica. Através de uma cadeia

de estabelecimento formado por vários estágios sucessivos é que se dá o aumento de

Page 65: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

48

comprometimento de uma empresa em relação a um novo mercado exterior. A evolução típica

passa, inicialmente, por exportações esporádicas resultantes de encomendas pontuais,

seguindo-se as exportações através de representantes ou agentes independentes. O estágio

posterior passa pelo estabelecimento de uma subsidiária de vendas, culminando o processo,

em alguns casos, com a introdução de alguma atividade de produção no mercado de destino.

No estágio final há a introdução de unidades de produção com a função inicial de operações

de reparação, passando por embalamento, acabamento, processamento e montagem, até se

chegar à manufatura integral.

O conhecimento dos mercados e operações externas está no centro do modelo. A empresa

tende a aumentar gradualmente o seu empenho nos mercados externos à medida que cresce o

seu conhecimento sobre esses mercados, principalmente o obtido através da experiência que é

tido como o principal num processo de internacionalização. No mercado, as empresas

desenvolvem um conhecimento que lhes permite a identificação e avaliação de oportunidades

de negócio, e assim, criar novos compromissos de mercado. Estes compromissos levam, por

sua vez, à identificação de novas oportunidades (Johanson e Vahlne, 2009).

Aspetos fixos Aspetos de mudança

Fig. 3 – O mecanismo básico de internacionalização (Fonte: Johanson e Vahlne,1977)

Apesar da ampla citação em vários artigos sobre o tema da internacionalização de empresas,

este Modelo não está isento de criticas. O carater incremental do modelo é contestado, por

exemplo, pelo fenómeno das born globals. Segundo Gabrielsson e Kirpalani (2004) uma

empresa born global é aquela que desde a sua criação segue a visão de se tornar global e que

frequentemente se globaliza rapidamente sem qualquer período prévio dedicado a atividades

domésticas ou à sua internacionalização. Normalmente este tipo de empresa adota uma visão

e uma estratégia claramente tendente para se tornar internacional ou mesmo global

praticamente desde a data da sua criação, através de produtos com um elevado potencial

Conhecimento do

mercado

Compromisso de

mercado

Decisões de

compromisso

Atividades correntes

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49

global de mercado aliado a uma capacidade empreendedora para detetar novas oportunidades

fruto do maior conhecimento e da maior experiência dos seus empresários. Por seu turno, os

conceitos de aprendizagem e distância psíquica são postos em causa, nomeadamente, pelas

novas tendências comerciais, como o comercio eletrónico ou via internet, que permite a

disponibilização de um determinado produto virtualmente a todos os mercados.

4.3.3. Teoria das Redes

O intuito de compreender o desenvolvimento e a evolução das redes, bem como o impacto

destas no processo de internacionalização das empresas, tem sua base em dois estudos

desenvolvidos inicialmente por Johanson e Mattsson em 1988 com a Teoria das Redes e,

posteriormente, por Johanson e Vahlne em 2009 com o Modelo de Uppsala atualizado.

No que concerne a Teoria das Redes, Johanson e Mattsson (1988) abordam a

internacionalização através de uma perspetiva de existência de redes de relacionamento entre

empresas inerentes aos mercados industriais. Este Modelo considera as interdependências

entre os vários atores e como estas influenciam a atuação e a performance das empresas nos

mercados estrangeiros. Os autores desta Teoria definiram, então, as redes de negócio como

sendo um conjunto de dois ou mais relacionamentos de negócios entre empresas (através de

atores como os fornecedores, os clientes, clientes de clientes, os distribuidores, os agentes

governamentais, os concorrentes). Portanto, estes intervenientes se encontram interligados

nesse processo de relacionamento onde têm possibilidade de criar e desenvolver uma base

comum de conhecimentos e de confiança recíprocos.

Nesse sentido, a internacionalização de uma empresa ocorre como resultado do

desenvolvimento de relações (formais ou informais) em rede com indivíduos e/ou empresas

estrangeiras que possuem recursos e experiencia, que permite um mais rápido e menos

dispendioso acesso à informação e ao conhecimento. O beneficio destas relações duradouras

entre as empresas e outras empresas ( que podem ser fornecedoras ou compradoras) é o facto

de se alcançar um conhecimento extensivo e uma confiança mutua em relação a aspetos

relevantes das trocas industriais como: características do produto, qualidade, prazo de entrega,

serviços de pré e pós-venda, recursos, etc.

Page 67: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

50

Muitos autores como por exemplo Osarenkhoe (2008) defendem que, no contexto das PME´s,

existe uma elevada dependência deste tipo de empresa em relação à natureza e qualidade das

relações que estabelecem com outras empresas e o mundo exterior. É esta teia de

relacionamentos que lhes permite posicionarem-se com maior confiança e menos riscos no

mercado internacional, aproveitando os recursos, a experiência e o posicionamento de outras

empresas que se encontram nessa rede. O mesmo ponto de vista é defendido por Coviello e

Munro (1997) ao afirmar que as relações de rede internacionais são muito importante e

cruciais para que as PME´s procedam à seleção do mercado-alvo e à escolha do modo de

entrada. Assim, há uma transferência de algumas atividades antes desenvolvidas na empresa

para outras empresas como forma de se obter vantagens competitivas nas cadeias de valor

através do fluxo de bens e serviços permitindo assim um melhor posicionamento daquela

empresa dentro da rede.

Em forma de conclusão, pode-se aferir que, com base na Teoria das redes, as PME´s ao

estarem interligadas em redes internacionais, têm os mecanismos necessários para uma mais

rápida aquisição de conhecimento e de acesso a fluxos de informação sendo que esta

aprendizagem internacional é fulcral para a partilha dos recursos e conhecimentos e para o

acesso a uma vantagem competitiva que lhes assegurem uma posição destacada dentro de uma

rede. Se uma pequena empresa não possui recursos e conhecimentos essenciais para operar e

expandir-se internacionalmente (como geralmente ocorre com as PME´s), então a solução

será o estabelecimento de cooperação estratégica e alianças com outros atores domésticos

e/ou estrangeiros (Ilhéu, 2009).

Portanto, uma PME poderá ter sucesso num mercado caraterizado pelo Modelo de Uppsala

como tendo uma grande distância psíquica em relação a mesma, desde que esta empresa esteja

inserida numa rede cujo algum(ns) parceiro(s) já tenha(m) um posicionamento favorável

dentro da mesma. Dessa forma, a PME poderá elaborar a sua estratégia de internacionalização

em torno das suas redes de relacionamento e de acordo com os conhecimentos, experiencias e

de acordo com a confiança adquirida em relação aos outros intervenientes da rede

internacional de negócios permitindo-lhe adquirir uma vantagem competitiva e uma redução

dos riscos e incertezas, fatores estes fundamentais para um processo bem-sucedido de

internacionalização.

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51

4.3.4. Visão baseada nos Recursos (VBR)

O modelo proposto pela VBR significa um grande contributo para a compreensão da

internacionalização das empresas e das PME´s em particular, e é um marco na mudança de

paradigma em relação aos fatores determinantes para a criação de vantagens competitivas das

empresas. Na década de 1980, o paradigma dominante era o Modelo de planejamento

estratégico defendido por Michael Porter e de acordo com o qual os fatores externos à

empresa como as oportunidades e as ameaças ambientais influenciam a estratégia a seguir

para estabelecer uma posição privilegiada nesse mercado e a partir daí, gerar as vantagens

competitivas que a empresa procura, para a melhoria da sua performance.

Resumidamente, este Modelo das “cinco forças” de Porter defende que num ambiente

complexo e em constante mudança como é o atual mundo globalizado, são cada vez mais

necessárias estratégias bem definidas e elaboradas através do conhecimento sobre a estrutura

do setor de atividade em que se encontra, bem como do ambiente externo em que se pretende

inserir (Porter, 1980). O autor fala das seguintes cinco forças: o número de concorrentes e o

nível de rivalidade do setor, em determinado momento; entrada de novos concorrentes; poder

negocial dos clientes; poder negocial dos fornecedores e o aparecimento de produtos

substitutos. O principal objetivo deste modelo passa por permitir à empresa encontrar uma

posição no mercado, onde se possa defender melhor contra essas forças, ou influenciá-las a

seu favor gerando, assim vantagens competitivas em relação à concorrência.

A mudança de paradigma para a Teoria dos recursos dá-se com os trabalhos de Wernerfelt

(1984), Barney (1991), Grant (1991), Peteraf (1993), entre outros. Mas a génese deste

pensamento remonta a 1959 com o trabalho da economista Edith Penrose, o qual postula que

as empresas não apenas se ajustam às condições ambientais necessárias para o sucesso de suas

ações, mas principalmente sabem que podem alterá-las e que o ambiente não é independente

de suas próprias atividades (Penrose, 1959).Portanto esta nova visão desloca a origem da

vantagem competitiva de fora para dentro das organizações (combinação das perspetivas

externa e interna) e sugere que a adoção de novas estratégias deve restringir-se a organização

dos seus recursos internos e suas competências para se atingir aquela vantagem. Tal

abordagem considera as competências, as capacidades e as habilidades como sendo a base de

conhecimento produtivo e organizacional, e por sua vez, a fonte mais importante da vantagem

competitiva e da lucratividade das empresas a longo prazo. A contribuição básica deste

Page 69: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

52

Modelo é uma análise minuciosa das condições sob as quais os recursos geram benefícios, ou

seja, heterogeneidade, imobilidade e dificuldade de imitação dos ativos estratégicos geradores

de vantagens para as empresas.

O início da real sistematização da visão baseada em recursos é normalmente associado ao

trabalho de Wernerfelt (1984). Wernerfelt sistematiza a visão baseada em recursos e define

estes como sendo qualquer coisa que possa ser pensado como uma força ou fraqueza de uma

dada empresa. Mais formalmente, os recursos de uma empresa podem ser definidos como

aqueles ativos (tangíveis e intangíveis) que estão presentes de forma semi-permanente na

firma. A relação entre recursos e lucratividade é outro ponto focado por este autor, e é

explicada em termos dos retornos gerados pelos recursos determinados pelo poder de

negociação dos fornecedores (poder de monopólio dos produtores de um recurso, como

detentor de patentes, por exemplo) e compradores (poder de monopólio resultante do uso de

um recurso pelo produtor, como máquinas desenvolvidas que são completamente

idiossincráticas a um consumidor, por exemplo), bem como das ameaças impostas pelos

recursos substitutos disponíveis. Assim sendo, Wernerfelt defende que uma empresa deve

adquirir somente recursos adequados (atrativos) ao pacote de recursos disponível, de modo

que novas combinações resultem em novas maneiras de usá-los e, por sua vez, em retornos

mais elevados, no sentido de protege-la e ajudá-la a defender uma vantagem competitiva

sobre outro detentor do recurso.

A visão de Barney (1991) enaltece que as vantagens competitivas que as empresas possuem

nos mercados internacionais são impulsionadas pelos seus recursos específicos e pelas suas

características heterogéneas e residem na forma como estas empresas aplicam o conjunto de

recursos de que dispõem. Segundo o mesmo autor, os recursos das empresas devem possuir os

seguintes atributos: i) serem valiosos, no sentido em que permitem explorar as oportunidades

que surgem bem como neutralizar as ameaças do ambiente de negócios; ii) serem raros, na

medida em que a empresa os obtêm devido à sua organização, capital próprio, localização,

cultura, e na medida que não se encontrem acessíveis aos concorrentes; iii) serem

reproduzidos imperfeitamente ou serem de muito difícil imitação, implicando que a

concorrência deverá desconhecer em absoluto quais as ações e métodos que a empresa utiliza

para duplicar esse recurso; iv) serem imperfeitamente substituíveis, de forma a que não

existam recursos idênticos que permitam a replicação de produtos/resultados idênticos.

Page 70: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

53

Em relação aos tipos de recursos, há diferentes classificações por parte dos autores.

Wernerfelt (1984) e Grant (1991) defendem uma classificação dicotómica diferenciando os

recursos em recursos tangíveis e recursos intangíveis. Os primeiros são facilmente observados

e avaliados, como por exemplo, as instalações, os equipamentos, os recursos financeiros, os

recursos humanos. Já os segundos não podem ser quantificados diretamente, como por

exemplo, a imagem e reputação da empresa, os conhecimentos e capacidades dos recursos

humanos, as capacidades tecnológicas não documentadas, a capacidade de gestão e de

coordenação, e a imagem dos seus produtos nos mercados.

Barney (1991) distingue 3 categorias de recursos: i) recursos de capital físico que incluem os

ativos imobiliários de uma empresa (fábricas, escritórios, armazéns, terrenos), os seus

equipamentos, a sua localização geográfica, o acesso às matérias-primas e à tecnologia; ii)

recursos de capital humano que incluem os gestores, os funcionários, os técnicos de uma

empresa, tais como os seus conhecimentos, experiências, relacionamentos, capacidades; iii) os

recursos de capital organizacional que englobam toda a estrutura da empresa, o planeamento

formal e informal, os sistemas de coordenação e controlo dos recursos físicos e humanos, as

relações informais na organização.

Fladmoe-Lindquist e Tallman (1997) apresentam uma tipologia baseada em cinco categorias,

sendo que três delas são os já referidos pelo Barney (os recursos de capital físico, os recursos

de capital humano e os recursos de capital organizacional). Por conseguinte, estes autores

acrescentam, então, duas categorias: i) recursos financeiros- inclui o capital financeiro

fornecido pelas instituições financeiras internacionais, como o FMI, o Banco Mundial, e

principalmente pelas instituições nacionais como os Bancos e o Estado (através de subsídios);

ii) recursos políticos-engloba as instituições políticas do país de origem através das suas

políticas comerciais e financeiras, do seu sistema fiscal e cambial, e das relações entre os

governos do país de origem e do país estrangeiro.

A Visão baseada nos Recursos encara o processo de internacionalização como “um

alargamento do âmbito de desenvolvimento dos ativos e capacidades existentes, para

melhorar os resultados das tecnologias chave, criando oportunidades através da exposição a

novos mercados” (Ilhéu, 2009). Nesse sentido, haverá novas oportunidades e novos desafios

para as empresas, fazendo com que estas adquiram novos recursos, conhecimentos e

competências através do contato com novos clientes e novos parceiros oriundos de mercados

estrangeiros. Tudo isto permitirá a criação de uma vantagem competitiva dos seus produtos, a

Page 71: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

54

redução do risco na expansão internacional, um posicionamento forte e eficiente nas redes de

negócio estrangeiras e o objetivo final que passa pelo aumento do lucro.

4.3.5. Teoria do Empreendedorismo Internacional

Os primeiros estudos sobre o tema surgiram no final da década de 1980. Morrow (1988) foi o

primeiro acadêmico a utilizar a expressão. Para o autor, o empreendedorismo internacional

trata-se de uma consequência de avanços tecnológicos, aprendizados culturais e aberturas de

mercados exteriores para novos negócios. J.F. Morrow destaca a relevância de uma análise

apurada por parte das empresas sobre as diferenças culturais para que consigam compreender

a mentalidade do consumidor nos diferentes mercados e assim, conquistá-los com a sua

marca/produto. Outro aspeto salientado por este autor é a importância do fenómeno da

globalização no aumento de participação das empresas no mercado internacional devido ao

facto deste fenómeno proporcionar uma aproximação entre a empresa e o consumidor. Este

fenômeno gerou, ainda, mudanças institucionais entre os agentes reguladores do comércio

internacional, em especial no tocante às políticas tarifárias, que permitiram a diminuição das

barreiras de entrada para produtos e serviços advindos de outros países. Em suma, esta

abordagem inicial do Empreendedorismo Internacional baseia-se em fatores externos e

conjunturais para explicar este processo de expansão e aproveitamento das oportunidades que

aparecem nos mercados estrangeiros.

A abordagem do Empreendedorismo sofre uma sistematização e um maior desenvolvimento

com a primeira pesquisa teórico-empírica nesta área realizada por McDougall e Oviatt (1994)

relacionando o fenómeno do empreendedorismo com a internacionalização das empresas.

Estes autores definem empreendedorismo internacional como sendo “uma organização

comercial que, desde o seu estabelecimento, obtém significante vantagem competitiva na

utilização de recursos e na venda de produtos finais em vários países”. McDougall e Oviatt

(1994) também defendem que este fenômeno passa pela descoberta, determinação, avaliação e

exploração de oportunidades – através das fronteiras nacionais – para criar bens e serviços

futuros. Ilhéu (2009) vai de acordo com esta premissa, ao afirmar que a internacionalização

constitui um ato de empreendedorismo devido ao fato de se tratar de uma estratégia que visa o

crescimento da empresa através da procura de oportunidades e expansão internacional. Nesse

Page 72: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

55

sentido a internacionalização não é mais tratada simplesmente como um resultado, mas sim

como uma condição para criação de valor.

É de extrema importância analisar-se o fenômeno das born globals no estudo do Teoria do

Empreendedorismo Internacional pois o aparecimento do conceito deste tipo de empresas em

1993 coincide com a abordagem desenvolvida por Oviatt e McDougall um ano depois e na

qual estes autores aplicam as premissas já apontadas no parágrafo anterior a estas empresas

cuja atividade internacional ocorre desde o seu estabelecimento. Rennie (1993) foi o primeiro

autor a sugerir o conceito de born global fruto de um estudo realizado com base em algumas

empresas australianas. Este estudo descreve um grupo de empresas que iniciaram as suas

exportações nos primeiros dois anos de vida e cujas vendas externas demonstraram uma

percentagem significativa do total (76%), comprovando assim ser possível ter sucesso nos

mercados mundiais sem ter uma base estabelecida nos mercados domésticos. Surge assim, a

alusão a um novo tipo de empresas que vêm o mundo como o seu mercado de atuação,

desafiando, desta forma, os modelos tradicionais de internacionalização.

Segundo Andersson e Wictor (2003) as born globals são aquelas empresas que possuem no

mínimo 25% do seu volume de faturação proveniente de vendas para fora do seu país num

prazo de três anos depois da sua criação, e que possuem vantagem competitiva no uso de

recursos e na venda de produtos em vários países. Gabrielsson e Kirpalani (2004) salientam

que estas empresas seguem , desde a sua criação, a visão de se tornarem globais e que

frequentemente se globalizam rapidamente sem qualquer período prévio longo dedicado a

atividades domésticas.

Oviatt e McDougall (1994) aponta alguns fatores responsáveis pelo surgimento das born

globals como: i) influência das inovações tecnológicas recentes nos meios de comunicação e

transporte que reduziram os custos das transações internacionais; ii) um grande aumento da

procura para os produtos nos mercados estrangeiros que torna estes mais apetecíveis do que o

mercado doméstico; iii) a especialização numa categoria especifica de produto para o qual a

procura no mercado interno é demasiado pequena; iv) o número crescente de recursos

humanos com experiência em negócios internacionais; v) a crescente especialização dos

mercados e o surgimento de nichos que podem ser explorados por empresas de pequena

dimensão devido aos avanços tecnológicos.

Em 2000, McDougall e Oviatt estendem a análise sobre o Empreendedorismo Internacional

para as empresas já estabelecidas no mercado domestico e preenchem a lacuna que existia

Page 73: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

56

nesta teoria baseada na aplicação da mesma apenas a empresas born globals. Outra idéia

inovadora é a de que o comportamento empreendedor internacional não depende das

características, da dimensão e da atividade das empresas; e o facto de uma empresa se

globalizar logo após a sua criação não confere uma condição sine qua non para um

comportamento empreendedor.

Ocorre também uma perceção individualista e subjetiva inerente a corrente do

Empreendedorismo Internacional que confere uma importância dos indivíduos no processo e

na estratégia empreendedora de uma empresa no contexto internacional. McDougall et al.

(1994) definem o empreendedor como aquele individuo que está atento a todas as

informações relativas a possíveis combinações de recursos que dão origem a lucros, e que não

são percebidas por outros ou que poderiam ser percebidas muito mais tarde. Já Andersson

(2000) define-o como aquele individuo que, através dos seus conhecimentos internacionais e

estratégicos, desenvolve ações empreendedoras e não apenas aquele que toma decisões

críticas. Assim, é função do empreendedor desenvolver as ações e capacidades necessárias e

processar as informações para o inicio do processo de internacionalização.

Segundo Andersson (2000) o que importa mais para uma capacidade empreendedora não é a

posição funcional do empreendedor dentro da empresa quer ele seja o fundador da empresa, o

proprietário da empresa, o diretor-geral ou um simples colaborador; mas sim, qualidades

subjetivas relacionadas com o empreendedorismo como: a capacidade de identificar novas

combinações entre tudo aquilo que a empresa consegue e sabe fazer no universo daquilo que a

empresa poderia fazer, a capacidade de iniciativa e de desenvolvimento destas combinações

estratégicas, a perceção de que agir de acordo com a sua própria filosofia e visão se revela

mais importante do que seguir cálculos racionais, a capacidade de convencer os outros a

investirem nos seus empreendimentos e, por fim mas não menos importante, a capacidade de

escolher o tempo certo para agir.

De acordo com as ideias de Simões e Dominguinhos (2005) as características distintivas dos

empreendedores compreendem as suas atitudes e motivações, o seu conhecimento e

experiencia, além da sua inclusão nas redes sociais domésticas e internacionais são fatores

que exercem um papel relevante na identificação de oportunidades e no desenvolvimento de

alianças estratégicas e, dessa forma, acabam por influenciar a tendência de

internacionalização dos novos empreendimentos.

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57

4.4. Seleção dos Mercados Externos

A seleção de mercados no âmbito de um processo de internacionalização é fundamental para

o sucesso das empresas em novos mercados e terá de ser realizada numa fase anterior a

escolha do(s) modo(s) de entrada. Nesse sentido, têm sido propostos por vários autores,

modelos que permitem às empresas levar a cabo processos racionais e sistemáticos para a

análise e avaliação dos mercados. No entanto, Papadopoulos et al. (1988) defendem que, em

alguns casos, o processo de seleção pode basear-se em fatores como experiências pessoais,

crenças, ideologias dos tomadores de decisão.

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58

A figura seguinte sintetiza como Root (1994) percebe o desenvolvimento lógico que ocorre na

seleção de um mercado externo:

Não

Sim

Não

Sim Não

Sim Não

Sim

Não

Não Sim

Não Sim

Não Sim

Sim

Não Não

Sim

Não

Fig. 4 – Modelo de fluxo lógico relativo ao processo de decisão de entrada num mercado externo (Fonte:

Root, 1994)

A sua empresa possui produtos que

provavelmente podem ser vendidos no exterior?

Devemos pesquisar mercados estrangeiros?

Devemos entrar agora no mercado estrangeiro?

O nosso plano de marketing é o mais apropriado,

dados os nossos recursos e objetivos?

O nosso modo de entrada é o mais apropriado,

dados os fatores externos e nossos objetivos?

A fonte de dados primários (campo) dá

validade aos dados secundários?

Retirar

Ficar com um

mercado único

Reprogramar o

plano de marketing

Retardar a entrada

Reprogramar o

modo de entrada

Devemos pesquisar outros mercados?

O nosso desempenho é satisfatório?

Operações

Reprogramar a

estratégia

A triagem preliminar indica haver potencial de

mercado em países-alvo?

A análise de dados secundários indica um país

com alto potencial de vendas?

Continua a

explorar apenas o

mercado

doméstico

Page 76: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

59

Na seleção do mercado externo, a empresa deverá seguir duas etapas fundamentais: i) a

avaliação dos mercados externos potenciais (onde a empresa avaliará uma diversidade de

fatores como a atual e potencial dimensão desses mercados, os níveis de concorrência que

poderá aí enfrentar, os ambientes legal e politico e as características sociais e culturais) e ii)

avaliar os custos, benefícios e riscos inerentes à entrada em cada um dos potenciais mercados-

alvo (Griffin e Pustay, 2002).

Uma constatação importante no processo de seleção de mercados externos é o fato das

grandes empresas e as PME´s abordarem este processo de forma diferente derivado deste ser

influenciado por fatores também diferentes em cada uma das tipologias de empresa.

Hollensen (2011) aborda este tema e defende que nas PME´s o processo de seleção é

simplesmente uma reação a um estimulo que normalmente é uma encomenda esporádica e

ocasional fornecido por um “agente de mudança” (que pode ser uma outra empresa, uma

câmara de comércio, as agências de governamentais,etc.). Portanto, a seleção do mercado é

uma ação pontual fruto de um estimulo externo e uma oportunidade esporádica proveniente

de um determinado mercado.

Outro fator com uma grande influência no processo de seleção dos mercados das PME´s é a

“distância psíquica” explorada na Teoria de Uppsala. Este conceito permite uma diminuição

dos níveis de incerteza e de risco devido ao fato de uma empresa, ao escolher um mercado

cuja distância cultural é menor, aproveitar a vantagem do conhecimento que ela já tem e da

menor dificuldade em obter mais informações sobre este mercado. Portanto, através de uma

tríade de fatores como a menor distância psíquica, geográfica e cultural, a empresa faz uso de

vantagens fiscais, politicas, sociais, culturais e econômicas para selecionar tal mercado em

detrimento de outro poupando, assim, recursos que normalmente são utilizados na recolha de

informações e na sistematização do processo de seleção. No entanto, Bell (1995) salienta que

a distância psíquica tornou-se um fator menos relevante na seleção de um mercado dado que

as comunicações globais e as infraestruturas de transporte melhoraram e os mercados se

tornaram cada vez mais homogéneos.

Hollensen (2011) salienta também que para as grandes empresas que já possuem operações no

exterior o problema não é a entrada num novo mercado, mas sim, como explorar efetivamente

as oportunidades no contexto internacional da sua já existente rede de operações pois estas

empresas têm uma maior e melhor acesso a informações primárias e secundárias sobre um

determinado mercado fruto da sua maior capacidade financeira e recursos a sua disposição.

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60

Este mesmo autor classifica os determinantes da escolha do mercado externo em dois grandes

grupos: as características internas da empresa e a sua envolvente externa. O primeiro

corresponde à dimensão da empresa, a quantidade de recursos, o grau de internacionalização e

experiência internacional, a natureza do negócio e as suas redes de negócio(contatos com

clientes, distribuidores, etc.). Relativamente a sua envolvente externa, deve-se ter em conta

alguns fatores existentes no mercado-alvo como o potencial deste mercado, a concorrência, a

distância psíquica/geográfica e a similaridade com o mercado de origem.

Segundo Kumar et al. (1994) e Root (1994) o processo de seleção de mercado é composto por

três etapas fundamentais: o processo de triagem, identificação e seleção. Na primeira etapa,

deveremos analisar de forma cuidada os fatores económicos, políticos, culturais e

geográficos; na etapa seguinte, deveremos ter em consideração questões relacionadas com a

indústria como, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico, a concorrência, o potencial de

crescimento do mercado; na terceira e última etapa deveremos ter em consideração a questão

lucrativa, bem como a capacidade de adaptação dos seus produtos/serviços a uma nova

realidade.

Já Johanson (1997) apresenta um modelo com uma sequência alterada e com o aumento de

uma etapa em relação a análise anterior. Ele sugere, então, as seguintes quatro etapas:

Etapa 1: Identificação do país. Esta identificação baseia-se na população, no PIB, na

renda per capita, nas estatísticas de crescimento económico;

Etapa 2: Triagem preliminar. Nesta etapa analisa-se a estabilidade politica, o

desenvolvimento económico e a distância geográfica para eliminar já alguns países e

avaliar os custos de entrada no mercado;

Etapa 3: Triagem profunda. Aqui ocorre uma recolha e respetiva análise de dados

específicos da indústria e do produto; estima-se o potencial de mercado e é feita uma

previsão de taxas de crescimento; analisam-se as forças e as fraquezas da

concorrência, as barreiras à entrada num determinado mercado e os recursos limitados

da empresa.

Etapa 4: Seleção final. Nesta fase são comparados os resultados obtidos com os

objetivos da empresa, são elaboradas previsões de vendas e os custos são comparados

Page 78: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

61

para que a empresa possa escolher aquele mercado que melhor se enquadra num

investimento eficaz dos seus recursos.

Em suma, no processo de seleção do(s) mercado(s) externo(s), a empresa deverá ter uma

orientação policêntrica e não etnocêntrica como forma de ter uma capacidade de perceção de

que cada país tem suas características especificas que exigirão, por isso, comportamentos e

ações diferentes e adequados a cada situação por parte da empresa. Portanto, deve haver uma

adaptação dos seus procedimentos, mecanismos e orientações a cada mercado-alvo. Aaby e

Slater (1989) vai mais longe nesta análise e defende que as empresas que alterem os seus

produtos, tendo em consideração as características de cada um dos mercados onde atuam,

obtêm melhores resultados, indo de encontro aos objetivos a que se propuseram. O fator

cultural é bastante referido pelos autores como sendo uma influência muito importante no

processo de seleção dos mercados pois o conjunto de crenças, hábitos e costumes enraizados

numa sociedade de um determinado mercado irá refletir-se no comportamento e nos padrões

de consumo da mesma.

4.5. Determinantes da escolha do modo de entrada

Após a deteção de uma oportunidade num mercado exterior, deve decidir-se qual o modo de

entrada mais adequado para tirar proveito da mesma. A seleção do modo de entrada traduz-se

como uma escolha entre o fator risco e o fator retorno, onde é influenciado pelo grau de

controlo, isto é, o grau de autoridade das atividades sobre as decisões estrangeiras a nível

estratégico e operacional. Dessa forma, o modo de entrada deve ser bem ponderado, pois será

um ponto crucial que definirá o desempenho da empresa e que favorecerá os seus interesses.

Faz-se, então, necessário esmiuçar quais os fatores que influenciam a tomada de decisão em

relação a seleção do modo apropriado de entrada num mercado externo.

Em relação aos PME´s a grande parte dos estudos revela que estas empresas tendem a preferir

expandir-se, numa fase inicial, para países geograficamente próximos e, só depois de já terem

alguma experiência internacional, abordarem países mais distantes e com mercados de maior

dimensão. Esta opção inicial por países mais próximos (que foi explicada através do conceito

de “distância psíquica” pelos autores Johansson e Vahlne) pode ser explicada pelo limitado

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62

conhecimento do mercado e pela escassez de recursos financeiros e humanos (Coviello e

Munro, 1997), permitindo às empresas desenvolver a sua rede de relações, adquirir

conhecimento acerca dos mercados internacionais e aceder a recursos que lhes permitam

entrar em mercados geograficamente mais distantes e de maior dimensão. O modo de entrada

destas empresas é, geralmente, através das exportações e mesmo com o maior grau de

envolvimento fruto do maior conhecimento e experiência, a maioria destas empresas não

chega aos modos de entrada com participação de capital.

A Visão Baseada em Recursos (VBR) pode servir como uma boa base analítica para a

explicação dos fatores que determinam a escolha de um determinado modo de entrada por

parte de uma empresa. A VBR encara as empresas como um conjunto muito diferente de

recursos tangíveis e intangíveis, por isso, a diferença de desempenho e a consequente

obtenção de uma vantagem competitiva por parte destas empresas são explicadas pela

heterogeneidade dos recursos que são desenvolvidos e controlados por aquelas.

Como a internacionalização se refere a uma estratégia para se obter maior presença no

mercado internacional e as empresas precisam fazer uso de recursos estratégicos para sua

inserção no mercado internacional, há uma relação concreta entre os pressupostos da VBR e

as opções e estratégias perseguidas pelas empresas no processo de internacionalização.

Segundo Helfat e Lieberman (2002) os recursos e capacidades da empresa através da sua

relação com o mercado influenciam as decisões dessa empresa sobre o tipo de mercado, o

modo de entrada, o tempo e o sucesso da entrada no seu processo de expansão internacional.

Helfat e Lieberman (2002) também defendem que as empresas bem-estabelecidas em alguns

mercados internacionais acabam por optar em expandirem-se para outros mercados onde os

recursos, as capacidades e as competências exigidos são, de alguma forma, similares aos

requeridos nos processos de expansão anteriores. A falta de conhecimento de um mercado

local pode exigir uma maior utilização de recursos e mais riscos, que normalmente as

empresas querem evitar.

Erramilli e Rao (1990) são dois autores que abordam a relação entre os recursos da empresa e

as estratégias de internacionalização. Estes autores salientam que cada estratégia de

internacionalização demanda recursos específicos e quanto mais recursos estratégicos a

empresa possuir, mais poderá utilizar estratégias de internacionalização mais complexas e que

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63

envolvem um maior comprometimento. Portanto, os recursos que uma empresa possui são

fatores-chave na estratégia do modo de entrada.

O quadro seguinte sintetiza de forma evidente a relação entre os recursos de uma empresa e a

estratégia de entrada que oferece uma maior possibilidade de sucesso e retorno.

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64

Modo de entrada

no exterior

Montante de

recursos

comprometidos

Tipo de recursos

(determinantes da

vantagem

competitiva)

Grau de

envolvimento

Pro

du

ção l

oca

l n

o p

aís

P

Subsidiária integral

tipo Greenfield

Muito alto

Recursos relativos à

produção,

comercialização e

ativos estratégicos

não passíveis de

transferência.

Controlo total da

nova unidade.

Muito Alta

Subsidiária integral

tipo aquisição

Alto

Recursos relativos à

produção,

comercialização e

ativos estratégicos

não passíveis de

transferência.

Controlo total da

nova unidade.

Joint Venture com

participação majoritária

Moderado a alto

Recursos relativos à

produção,

comercialização e

ativos estratégicos

passíveis de

transferência.

Necessidade de uma

complementaridade

entre os recursos dos

parceiros.

Joint Venture com

participação de 50%

Moderado

Recursos relativos à

produção,

comercialização e

ativos estratégicos

passíveis de

transferência.

Necessidade de uma

complementaridade

entre os recursos dos

parceiros.

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65

Joint Venture com

participação minoritária

Moderado

Recursos relativos à

produção,

comercialização e

ativos estratégicos

passíveis de

transferência.

Necessidade de uma

complementaridade

entre os recursos dos

parceiros.

Muito Baixa

Exp

ort

açã

o

Subsidiária para exportação

Moderado

Recursos relativos à

atividades de

comercialização e

boa rede de contatos

Exportação direta

Baixo

Recursos relativos à

atividades de

comercialização e

boa rede de contatos

Exportação indireta

Baixo

Baixo nível de

recursos tanto a nível

de produção,

comercialização e

conhecimento do

mercado exterior

Licenciamentos ou franquias

Muito baixo

Recursos relativos à

atividades de

produção e ativos

estratégicos passíveis

de transferência

Quadro 16 - Relação entre os recursos de uma empresa e a estratégia de entrada (Fonte: Erramili e Rao,

1990)

Na abordagem relativamente à estratégia de negócio, Root (1987) afirmou que os modos de

entrada são influenciados por vários aspetos, verificando-se assim os mais adequados, sendo

por objetivo lucrativo ou não lucrativo, por fatores internos (produto e compromisso), e

Page 83: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

66

também pelos fatores externos (questões politico-legais, mercado e relação país de origem e

de destino). A escolha do modo de entrada, é constituída pela ótica do planeamento

estratégico que mais maximiza os lucros de longo prazo, nunca esquecendo os riscos políticos

e do próprio mercado.

Fig. 5 – Fatores a considerar na decisão do modo de entrada segundo Root ( Fonte: Root, 1994)

Uma outra abordagem que tenta analisar a seleção do modo de entrada é a proposta por

Hollensen (2011). Esta perspetiva faz uma análise abrangente sobre os fatores que

influenciam esta seleção agrupando-os em quatro grupos: fatores internos, fatores externos,

características do modo pretendido de entrada e os fatores específicos à transação.

Relativamente aos fatores internos, deve-se ter em conta a dimensão da empresa que constitui

um indicador dos seus recursos disponíveis. Este fator explica o porquê das diferentes

escolhas em relação ao modo de entrada por parte das PME´s e das MN´s. As primeiras

escolhem as exportações, em geral, devido ao fato de não possuírem os recursos necessários

para ter um elevado nível de controlo sobre as operações. Já as grandes empresas têm uma

maior capacidade em termos de recursos para selecionar modos de entrada com participação

de capital.

A experiência internacional é um segundo fator interno e está ligado ao nível de experiência e

conhecimento dos mercados externos por parte dos seus gestores. E quanto maior esta

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67

experiência, menor é o grau de incerteza e risco na abordagem a estes mercados e,

consequentemente, maior o nível de confiança na afetação dos recursos.

Outro fator interno são os produtos/serviços. As diferentes caraterísticas que os produtos ou

serviços têm influenciam o modo de entrada que a empresa irá selecionar. Produtos com

elevada relação valor/peso tendem a levar com que as empresas os exportem, aproveitando,

assim, o controlo total da produção e as economias de escala. A empresa também tende a

avaliar os custos do envio dos produtos( custos de transporte) para concluir se a exportação é

vantajosa; caso não seja, a instalação de uma unidade de produção no mercado externo será a

opção. Outro caso prende-se com o facto de não haver intermediários para os produtos e neste

caso a instalação de unidade de vendas ao consumidor faria todo o sentido.

Em relação aos fatores externos, Hollensen (2011) define seis categorias. Uma delas é a

distância sociocultural entre o mercado doméstico e o mercado-alvo. Países com uma cultura

semelhante, normas e práticas de negócio comuns, um idioma comum ou similar e países cuja

sociedade têm níveis educacionais aproximados permitem um maior nível de confiança na

empresa que está a internacionalizar-se e uma maior envolvimento dos recursos atingindo, em

muitos casos, modos de entrada como o investimento direto e/ou joint ventures.

Outro fator externo é o risco país/incerteza da procura. Os riscos políticos, sociais e

econômicos inerentes a um determinado mercado têm uma influência importante na escolha

do modo de entrada. Portanto, quando estes riscos são elevados, há um clima de incerteza e

imprevisibilidade no ambiente do país estrangeiro contribuindo para o aumento da incerteza

da procura; toda esta envolvente influencia a escolha de modos de exportação devido ao baixo

comprometimento dos recursos intrínseco a este modo de entrada.

Um terceiro fator externo é a dimensão do mercado e o seu potencial crescimento. Existe,

então uma relação positiva entre estes indicadores e a maior propensão da empresa em

comprometer muitos recursos nesse mercado via investimento direto como forma de garantir

uma rentabilidade a longo prazo e a oportunidade de realização de economias de escala. Já

nos mercados mais pequenos, as empresas optam pelos modos de exportação e/ou acordos de

licenciamento.

As barreiras comerciais diretas e indiretas são um outro fator externo que afeta a escolha do

modo de entrada. A proteção da economia e da indústria desenvolvida em alguns países

favorecendo os fornecedores nacionais influencia a decisão de se escolher modos de entrada

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68

que permitam a partilha dos recursos e do controlo como a joint ventures ou modos

contratuais com empresas locais. Nestes países em que se praticam restrições aduaneiras

como as tarifas e as quotas impostas à importação há um incentivo para que as empresas

evitem as exportações e privilegiem o estabelecimento de uma unidade de produção como

forma de escapar a estas limitações alfandegárias.

O nível da concorrência no mercado externo também influencia o modo de entrada. Quando a

intensidade da concorrência é elevada no país estrangeiro, as empresas que queiram se

internacionalizar para o mesmo evitarão a internalização em prol de modos de entrada como a

exportação dado que a saturação deste mercado não aconselha um alto comprometimento de

recursos.

Ainda há um outro fator externo que é o pequeno número de intermediários relevantes.

Devido a menor oferta de intermediários, eles acabam por ter uma maior margem de

negociação e podem aproveitar desta situação para agir de forma oportunista e vantajosa.

Neste contexto, não é preferível adotar a exportação indireta ou os acordos contratuais, mas

sim modos de entrada com participação de capital (investimento).

Quanto as características do modo pretendido de entrada ( 3º grupo de fatores), o autor aponta

os seguintes fatores: a aversão ao risco e o controlo. O primeiro fator tem a ver com as

empresas que preferem modos de entrada com o menor nível de risco e com um baixo

comprometimento dos recursos. As opções passariam pelas exportações onde uma eventual

perda limita-se ao valor da mercadoria exportada; ou pelo licenciamento onde pode-se ter um

bom controlo sobre a interface com os consumidores e ser o próprio canal de marketing da

marca evitando, assim, que intermediários propaguem de forma errada a marca/produto. Já o

fator seguinte tem a ver com o grau de controlo pretendido na gestão das operações nos

mercados internacionais. O controlo é muitas vezes relacionado com o grau de envolvimento

dos recursos, sendo que se uma empresa opta pelas joint ventures o controlo é limitado e

partilhado com outra empresa; no entanto, se a mesma opta por uma subsidiária detida a

100%, há um controlo total sobre as operações o que permite um melhor conhecimento sobre

o mercado- em dimensões como o comportamento dos consumidores, preços de mercado,

quotas de mercado das empresas concorrentes, níveis de satisfação, politicas governamentais,

etc.

Page 86: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

69

O quarto e último grupo de fatores proposto pelo Hollensen (2011) são os fatores específicos

a transação. Nesta matéria, a proteção do know-how da empresa e a prevenção da ameaça de

spillover decorrentes da transferência de conhecimento e/ou tecnologia entre entidades

orgânicas distintas têm um caráter de grande importância. Este problema decorrente do

oportunismo em relação ao conhecimento técnico e codificável e à experiência adquirida pela

empresa surge, em geral, nos modos de entrada que envolvem parcerias, como é o caso das

joint ventures, pelo que essa potencial ameaça poderá levar as empresas a evitar tais

estratégias de internacionalização, preferindo, por outro lado, as subsidiárias detidas a 100%

que apesar de exigirem um elevado comprometimento dos recursos, permitem um maior

controlo de todo o tipo de conhecimento (individual, organizacional, técnico) garantindo

assim, uma maior proteção na transferência de todo o tipo de know-how pertencente a

empresa.

Grupo de fatores Fatores

Fatores internos - Dimensão da empresa

- Experiência internacional

- Produto/serviço

Fatores externos

- Distância sociocultural entre o mercado doméstico e o mercado alvo

- Risco país/ incerteza da procura

- Dimensão do mercado e crescimento

- Barreiras comerciais diretas e indiretas

- Intensidade da concorrência

- Pequeno número de intermediários relevantes dísponiveis

Carateristicas do

modo pretendido

- Aversão risco

- Controlo

- Flexibilidade

Fatores específicos

à transação - Natureza tácita de know-how

Quadro 17 – Fatores que afetam a decisão do modo de entrada no mercado estrangeiro segundo Hollensen

( Fonte: Hollensen, 2011)

Page 87: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

70

4.6. Classificação dos modos de entrada

Há uma abundante pesquisa acadêmica sobre os modos de entrada nos mercados externos.

Existe uma grande variedade de modos de entrada em mercados externos de entre os quais as

empresas podem selecionar aquele, ou aqueles, que considerem o mais adequado aos seus

recursos e objetivos. A classificação desses modos de entrada em categorias é apresentada de

forma diferente pelos autores, porém há muitos pontos em comum nas várias classificações

apresentadas. De acordo com vários autores, o modo de entrada refere-se ao arranjo

institucional pelo qual a empresa opta para operar num mercado externo, constituindo-se esta

como uma das suas decisões estratégicas mais importantes já que afetará toda a sua atividade

futura nesse mercado.

A análise feita por Leersnyder (1986) propõe que os diferentes modos de entrada devem

basear-se no grau de envolvimento das empresas nos mercados externos e no grau de controlo

que as empresas detêm nas suas operações internacionais. O grau de envolvimento pode ser

medido através do nível de investimento e da quantidade de recursos comprometidos para o

efeito. Já o grau de controlo pode ser avaliado através do grau de liberdade de decisão e de

ação da empresa e na maior delegação destes a outra entidade. Este autor relaciona quatro

estratégias de modo de entrada às várias categorias do mesmo. As estratégias são: delegar sem

investir, controlar sem investir, investir e delegar, e investir e controlar. A estratégia delegar

sem investir compreende os modos de entrada exportação indireta, licenciamento,

franchising, transferência de tecnologia e contratos de produção. A estratégia controlar sem

investir engloba a exportação direta, contrato de serviço e o contrato de gestão. Já a estratégia

investir e delegar inclui os modos joint venture e consórcio. Por fim, a estratégia investir e

controlar reúne a sucursal, filial comercial, filial industrial e filial integrada.

Luostarinen (1994) apresenta uma classificação baseada em quatro grupos e assente sobre os

conceitos dicotômicos de internalização e externalização:

Operações de marketing sem investimento (non-investment marketing operations-

NIMOs), baseadas na externalização e que inclui a exportação indireta, a exportação

direta e a exportação própria;

Operações de marketing com investimento direto (direct investment marketing

operations- DIMOs) que se efetuam através da internalização dos recursos e dos

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71

custos e que incluem as subsidiárias de promoção de vendas, de armazenamento, de

serviços e de vendas;

Operações de produção sem investimento (non-investment production operations-

NIPOs) realizadas com base na externalização e que compreendem: licenciamento,

projetos parciais, franchising, contratos de produção e projetos chave-na-mão;

Operações de produção com investimento direto (direct investment production

operations- DIPOs) que se desenvolvem através da internalização e que incluem a

subsidiária de montagem e de produção.

Uma perspetiva diferente e mais voltada para as estratégias e operações é sugerida por Root

(1994) ao propor três distintos modos de entrada: a via da exportação que inclui a efetuada de

forma indireta, ou direta via um agente ou distribuidor, ou ainda a direta via uma filial ou

subsidiária; a via contratual que não implica a participação de capital e que engloba o

licenciamento, o franchising, os acordos técnicos, os contratos de serviços, os contratos de

gestão, os contratos de construção chave-na-mão, os contratos de produção e os acordos de

co-produção; e, por fim, a via do investimento que abarca novos investimentos em sole

venture, aquisições em sole venture, joint ventures em novos empreendimentos ou aquisições.

Driscoll (1995) ordena, também, três modos de entrada que são os seguintes: exportação,

contratualização e investimento; e os analisa sob o prisma de cinco variáveis: controlo,

disseminação do risco, comprometimento dos recursos, flexibilidade e propriedade. A

variável controlo tem a ver com a capacidade da empresa em assegurar que os resultados

comprovam os objetivos propostos, ao nível, por exemplo, do processo de produção,

coordenação de atividades, logística, entre outros. O risco de disseminação é o risco que uma

empresa poderá incorrer no caso do seu know-how ser expropriado por um parceiro

contratual. O comprometimento de recursos baseia-se no grau de envolvimento dos recursos

humanos, físicos e financeiros de uma empresa no mercado externo. Já a flexibilidade tem a

ver com a possibilidade da empresa poder alterar os modos de entrada de forma rápida e com

baixo custo face às circunstâncias do meio envolvente. E, por fim, a propriedade é a

participação de capital utilizada num modo de entrada. O quadro seguinte sintetiza a relação

entre os modos de entrada e as variáveis:

Após se efetuar uma profunda análise bibliográfica sobre os modos de entrada, chega-se a

conclusão que o Modelo hierárquico de Pan e Tse (2000) é o mais consensual e o mais

utilizado pelos autores para explicar as formas disponíveis para as empresas se

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72

internacionalizarem para os mercados externos. Este modelo defende que os modos de entrada

podem ser divididos em: modos de entrada sem participação de capital (Non-equity Modes) e

modos de entrada com participação de capital (Equity Modes). Os fatores que Pan e Tse

(2000) utilizam para analisar e diferenciar as várias formas de entrada num mercado externo

comportam: o grau de comprometimento dos recursos, a exposição ao risco de cada uma

dessas formas de entrada, o controlo e gestão sobre o investimento e sobre o retorno

financeiro.

Para fundamentar a análise deste Relatório de Estágio, tomaremos em conta as premissas do

Modelo de Pan e Tse (2000) e analisaremos detalhadamente cada modo de entrada proposto

por este Modelo dado que a performance de uma empresa no mercado externo depende muito

de uma seleção rigorosa da forma de entrada que permita garantir uma vantagem competitiva,

uma maior margem de lucro e uma maior visibilidade e propensão da sua

marca/produtos/serviços. A figura seguinte permite a visualização do Modelo hierárquico de

Pan e Tse e uma apresentação dos diferentes modos de entrada.

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73

Fig. 6 – Modelo hierárquico de escolha do modo de entrada (Fonte: Pan e Tse, 2000)

4.6.1. Modos sem participação de capital

Os modos de entrada sem participação de capital são aqueles que não requerem o

envolvimento, por parte das empresas, em termos de participação no capital social, como

também não exigem o estabelecimento de uma organização independente nem uma

participação acionária ou em termos de propriedade. Dessa forma, o controlo das operações

externas é partilhado ou totalmente realizado por outras empresas, o que viabiliza um baixo

comprometimento dos recursos próprios da empresa que se internacionaliza. Assim, o risco, o

investimento de recursos e o controlo sobre o negócio são relativamente baixos porém o

Escolha dos modos de entrada

Modos de entrada sem

Participação de capital

(Non-Equity Modes)

Modos de entrada com

Participação de capital

(Equity Modes)

Equity Joint

Ventures (EJV)

Subsidiária

Integral

Acordos

Contratuais

Exportação

Licenciamento

Outros

Exportação

Direta

Outros

Alianças

Contratos

de I&D

Greenfield

Aquisição

Outros EJV

Maioritária

EJV com

Participação de

50%

EJV

Minoritária

Exportação

Indireta

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74

retorno do investimento e a margem de lucro normalmente são menores em relação aos

modos de entrada com participação de capital.

Estes modos de entrada podem ser divididos em dois grupos segundo Pan e Tse (2000): a

exportação e os acordos contratuais. A primeira pode ser direta, indireta ou ter outras formas.

Já os acordos contratuais envolvem o licenciamento, os contratos de investigação &

desenvolvimento, as alianças e outras formas de contrato. Neste subcapítulo analisaremos a

tipologia dos acordos contratuais de forma detalhada e só se abordará todos os aspetos

relativos a exportação num capítulo exclusivo deste Relatório totalmente dedicado a este

modo de entrada nos mercados externos. Esta opção de abordar este tema de forma particular

e aprofundada advém do facto de esta estratégia de entrada ser a mais adequada a empresa na

qual realizei o Estágio, a Enamorata, e a que mais se encaixa nos desígnios e objetivos da

mesma como também nas características do mercado caboverdeano. Esta forma de entrada

nos mercados apresenta-se, assim, como uma oportunidade para as PME’s, dando a estas

rápido acesso aos mercados externos, implicando um baixo investimento e sendo igualmente

uma excelente forma destas empresas obterem experiência internacional a longo prazo.

4.6.1.1. Acordos Contratuais

Os modos de entrada efetuadas através da contratualização constituem-se como uma

associação de longo prazo entre uma empresa que pretende internacionalizar-se e uma

entidade num mercado alvo externo, envolvendo a transferência de tecnologia ou know-how

da primeira para a segunda. Esta estratégia de entrada difere da exportação por ser um meio

de transferência de conhecimento e capacidades enquanto esta se baseia na transferência de

mercadorias. Os acordos contratuais, apesar de não envolverem um investimento em

propriedade, podem abrir caminhos entre a empresa e o mercado externo que favoreçam

futuras exportações ou ainda uma evolução do modo de entrada para uma estratégia com

participação de capital.

Root (1994) defende que através das licenças, uma empresa transfere para uma entidade

externa e por um período de tempo determinado, o direito de utilização da sua propriedade

industrial (patentes, know-how, ou marcas), da sua capacidade tecnológica e/ou da sua

capacidade humana (recursos humanos que poderão transferir capacidades e qualificações)

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75

recebendo em troca, uma compensação que, por norma, se traduz em royalties. Segundo este

autor, as razões que levam uma empresa a licenciar no estrangeiro são as seguintes: i) obter

rendimentos adicionais com tecnologia já explorada ao limite no mercado interno; ii) ter

acesso a resultados de pesquisas e investigações levadas a cabo por empresas estrangeiras em

troca da divulgação das suas próprias pesquisas; iii) proteger patentes e marcas num mercado

externo, contra as perdas potenciais da sua não utilização ou decorrentes do seu uso abusivo;

iv) facilitar o repatriamento e a recuperação de capitais em situações de restrição de

pagamento de dividendos ou outras imposições legais desvantajosas através da inclusão de

cláusulas nos acordos ou contratos com as entidades externas fazendo com que estas utilizem,

mas não sejam detentoras, das patentes e marcas; e, por fim, logicamente v) penetrar em

novos mercados externos.

A entrada em mercados externos através de acordos contratuais tem diversas vantagens, sendo

a mais óbvia das quais a capacidade de contornar barreiras à importação, como tarifas

alfandegárias ou quotas impostas por alguns governos de determinados mercados externos.

Esta estratégia permite ainda contornar outros problemas associados à exportação como é o

caso de custos de transporte elevados ou taxas de câmbio depreciativas da moeda do país alvo

o que leva a uma menor margem de lucro. Uma outra vantagem deste modo de entrada reside

no baixo risco politico que acarreta quando comparado com o investimento em propriedade

dado que uma licença não é passível de expropriação por parte do governo, já que não se trata

de um bem tangível. Outro facto também relevante é que certos setores, como o equipamento

militar e as comunicações, são considerados críticos para o interesse nacional e, por isso, o

único modo de entrada é através de uma licença. Por fim, se tivermos em conta uma análise

no âmbito dos fatores internos das empresas, os acordos contratuais e licenças são os modos

de entrada mais atrativos quando há necessidades de se adaptar o produto aos requisitos do

mercado alvo e se a empresa não estiver disposta a comprometer demasiados recursos

técnicos e financeiros com o mercado de destino em causa (Root,1994).

Segundo Pan e Tse (2000) os acordos contratuais englobam o licenciamento, os contratos de

I&D, as alianças, e franchising. Reiteramos que existem outros tipos de acordos contratuais,

no entanto, para este Relatório, a abordagem destas quatro tipologias é suficiente e abrange os

aspetos mais importantes.

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76

a) Licenciamento

Segundo Ball et al. (2010) o licenciamento é um acordo contratual em que uma empresa

(licenciador) concede a outra empresa (licenciado) o direito (licença) de utilizar qualquer tipo

de conhecimentos, tais como processos de produção (patenteados ou não patenteados),

segredos comerciais, marcas registadas de um ou mais produtos do licenciador, mediante o

pagamento de royalties. Este modo de entrada está, portanto, restringido a empresas que

detenham tecnologia e/ou marcas de utilização atrativa para empresas externas.

Martins (2011) reitera que esta forma contratual concede a empresa licenciada o direito sobre

patentes, fórmulas, processos, marcas, métodos, programas, sistemas, desenhos ou peças

literárias, usufruindo também esta empresa do direito de produzir e comercializar, através das

capacidades industrial, tecnológica e/ou humana da empresa (licenciador), um produto ou

serviço dentro de uma área previamente determinada, por um período determinado. Ilhéu

(2009) observa que este modo de entrada confere uma vantagem tanto para o licenciador que

consegue penetrar num mercado estrangeiro com pouco risco e baixo custo, quanto para o

licenciado que ganha o know-how da produção de um produto, uma marca ou um conceito de

negócio que já tem um sucesso e um posicionamento de mercado sem ter de começar do zero.

O licenciamento é, normalmente, utilizado por empresas detentoras de conhecimentos

tecnológicos avançados ou com uma forte imagem de marca e que pretendem a rentabilização

dessa vantagem competitiva sem investimento e sem risco. Há vantagens e desvantagens

inerentes a esta estratégia de entrada nos mercados externos. Entre as primeiras, pode-se

referir as seguintes:

Capacidade de entrar em mercados mais fechados à importação devido as tarifas e

quotas impostas pelos governos para proteger a indústria nacional. E também o

licenciamento permite contornar problemas como os custos de transporte elevado ou

as flutuações das taxas de câmbio;

Rapidez de entrada no mercado externo derivado da imagem e do maior conhecimento

do mercado do licenciado. Além disso, uma licença nunca pode ser expropriada por

um governo estrangeiro dado que não se trata de um bem tangível;

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77

Menor comprometimento dos recursos o que permite uma entrada com pouco risco e,

ao mesmo tempo, uma remuneração dos seus fatores em forma de royalties e a

possibilidade de lucros adicionais devido à venda de outros produtos ou componentes;

O licenciamento pode ser a forma inicial e o caminho que permita a identificação de

parceiros estratégicos e um maior conhecimento do mercado e do comportamento dos

consumidores no mesmo, facilitando assim outras formas de entrada futuras como

exportações, ou até formas com participação de capital.

Em relação as desvantagens de se optar pelo licenciamento como modo de entrada, pode-se

salientar os seguintes:

Perda de controlo sobre o plano de marketing e a operacionalização do negócio no

mercado alvo;

Custos das transferências do conhecimento e da adaptação da tecnologia às condições

locais;

Receitas bastante reduzidas quando comparadas as de exportação ou investimento já

que estas são limitadas por fatores como praticas correntes das indústrias ou a

concorrência no mercado externo;

Elevado risco comercial- pode ocorrer o aparecimento de um novo concorrente que

pode tirar vantagem do know-how, do conhecimento e das competências do

licenciador;

Os contratos têm tempo determinado e/ou implicam concessões em exclusividade, o

que pode impedir o licenciador de entrar naquele mercado caso o comportamento do

licenciado não seja satisfatório ou caso aquele conclua que o mercado é atraente e

pode oferecer um retorno lucrativo através de outros modos de entrada.

b) Contratos de I&D

O contrato de I&D é quando uma empresa cede a outra empresa estrangeira, através de um

contrato, o direito de uso de determinada tecnologia ou know-how. Cavusgil et al. (2010)

defende que este tipo de contrato é importante para a redução do custo de inovação nas

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78

indústrias onde a velocidade dos avanços tecnológicos é rápida e exige uma inovação

constante, evitando, assim, uma duplicação de pesquisas. Por outro lado, se analisarmos as

empresas licenciadas conclui-se que muitas vezes é mais vantajoso adquirir tecnologia ou

know-how de outras empresas através do licenciamento do que investir montantes avultados

de capital em investigação e desenvolvimento. Outra vantagem reside no fato de que uma

empresa ao adquirir uma tecnologia ou know-how irá fazer com que outras empresas façam o

mesmo para se manterem competitivas, o que vai levar a uma maior competitividade neste

mercado e, consequentemente, a um aumento de nível dos produtos ou serviços oferecidos.

c) Alianças estratégicas

Relativamente aos fatores que levam a que uma empresa escolha uma aliança estratégica

como modo de entrada, Kotabe e Helsen (2000) apontam quatro razões: i)defesa das posições

de liderança; ii) conquista de novos mercados; iii) permanência da empresa num ramo de

negócio; e iv) a reestruturação de um negócio. As alianças estratégicas consistem na

combinação de recursos e capacidades entre empresas através de uma politica de cooperação

permitindo um aproveitamento por parte destas de ativos que antes destas alianças não

estavam a sua disposição.

É de realçar que alguns autores como Vitor Simões (1997) e Mohammed Uddin et al. (2011)

defendem que estas alianças podem implicar ou não a participação de capital. As que

envolvem a participação de capital, no entanto, não são relevantes serem abordadas dado que

o objetivo deste subcapítulo é analisar as formas de entrada baseadas na transferência de

capacidades, conhecimentos, recursos tecnológicos sem o investimento de capital.

Teixeira e Diz (2005) definem as alianças estratégicas como acordos entre empresas

caraterizados pela reciprocidade ou pela conjugação de esforços e de competências entre as

empresas participantes. Por seu lado, Ilhéu (2009) carateriza estas alianças como verticais ou

horizontais. As primeiras verificam-se entre fornecedores e compradores, pelo que estão

relacionadas com a cadeia de abastecimento da empresa dando origem a uma cooperação

complementar. Já as alianças horizontais são aquelas que ocorrem entre empresas

concorrentes que pretendam tirar partido de uma complementaridade dos ativos originando,

assim, uma cooperação similar.

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79

d) Franchising

Root (1994) define franchising como uma forma de licenciamento caraterizado pelo facto de

uma empresa (franchisador) facultar, a um individuo ou a outra empresa (franchisado), o

direito de fazer negócio, de forma prescrita, por um determinado período de tempo, num local

especifico e mediante o pagamento de direitos de entrada e de royalties. Tal direito pode

incluir a venda dos produtos do franchisador, usar o nome deste, adotar os seus métodos, ou

copiar os seus ícones, marcas e arquitetura (Hackett,1976).

Hackett (1976) também aponta os principais fatores para as empresas expandirem no mercado

internacional através do franchising como o desejo de tirar proveito e de propagar a marca da

empresa em mercados com grande potencial de crescimento. Shane (1996) acrescenta a

vantagem que o franchisador tem baseada na posse de uma capacidade superior para reduzir o

potencial oportunismo do franchisado, através da sua aptidão de incentivar e de monitorizar

de perto as ações da empresa franchisada. No entanto, Fladmoe-Lindquist et al. (1995)

adverte que o franchisador tem de ter uma capacidade administrativa eficiente e uma

capacidade de gestão à distância e de adaptabilidade cultural, pois estas capacidades são

essenciais para um controlo eficaz da performance do franchisado.

Welch et al. (2007) apontam as diferenças entre o franchising e o licenciamento ao nível do

controlo. Neste último modo de entrada o controlo está mais nas mãos dos licenciado e, por

isso, este desenvolve o negócio de forma mais independente, enquanto que no franchising, a

empresa franchisada está altamente restringida principalmente em termos de estratégia de

marketing e promoção dado que nesta estratégia de entrada é acordado entre as empresas que

o franchisado pode utilizar os métodos, o nome ou marca do franchisador, mas por outro lado

aquele tem de ser controlado e monitorado para que siga os mecanismos e as estratégias de

mercado que este adota.

Page 97: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

80

4.6.2. Modos com participação de capital

Os modos de entrada com participação de capital são aqueles que exigem o comprometimento

de recursos próprios da empresa ao nível da propriedade e/ou participação do capital. Estes

modos de entrada ocorrem quando a empresa estabelece presença no mercado estrangeiro no

seu processo de internacionalização, sendo que esta empresa envolve uma participação parcial

ou total do seu capital na criação ou na aquisição de uma nova organização, ou também na

junção com uma organização já existente no mercado alvo.

A diferença entre esta estratégia de entrada e os modos sem participação de capital é que a

primeira permite uma incorporação do fluxo de lucros que não ocorre no segundo caso dado

que neste os lucros são auferidos por agentes, licenciados e franchisados. Por outro lado, os

modos com participação de capital exigem um elevado investimento em recursos financeiros,

uma maior alocação dos seus ativos e um risco mais elevado.

Cavusgil et al. (2010) relaciona o grau de controlo que uma empresa possa pretender com as

opções de entrada com participação de capital que a mesma pode escolher. Portanto, uma

empresa pode optar por uma decisão estratégica de ter o controlo parcial ou total dos assuntos

da empresa, como as decisões sobre novos produtos, o marketing e divulgação da marca, a

posse total ou a distribuição dos lucros, etc, sendo que esta escolha influencia o investimento

financeiro que a empresa irá efetuar na entrada no novo mercado. No caso de pretender um

controlo total sobre os assuntos da organização, a empresa pode optar pelo empreendimento

de propriedade total (uma subsidiária integral); ou caso queira um controlo parcial e menos

investimento, ela pode optar por uma joint venture.

Nos próximos subcapítulos desenvolveremos as duas tipologias dos modos de entrada com

participação de capital: as Joint Ventures e as Subsidiárias de controlo integral

4.6.2.1. Equity Joint Ventures

As Equity Joint Ventures (EJV) – também conhecidas como empresas de capitais mistos - são

sociedades em co-propriedade formadas por duas ou mais empresas através do investimento

Page 98: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

81

direto de capital de cada um dos parceiros que as constituíram. Ferreira et al. (2011) afirmam

que uma EJV se forma quando duas ou mais empresas juntam-se, para constituir uma nova

entidade que é juridicamente independente, partilhando, assim, o investimento, a posse, os

custos, os riscos e os potenciais lucros da nova entidade. Uma das vantagens da formação de

uma joint venture consiste em facilitar à empresa estrangeira uma rápida entrada em novos

mercados através do acesso a rede de relacionamentos e a experiência de gestão local que a

empresa nativa detém. Esta empresa consegue, também, a utilização dos estabelecimentos

físicos e equipamentos da empresa local como o acesso a fatores de produção a um baixo

custo. Uma joint venture também permite uma diminuição da distância psíquica da empresa

estrangeira em relação ao mercado alvo pois uma empresa local já tem um conhecimento da

língua e cultura locais, já tem uma perceção sobre o perfil e os gostos dos consumidores e já

tem uma quota de mercado, levando estes fatores a uma aproximação segura e com um nível

baixo de incerteza da empresa estrangeira no mercado alvo. Por outro lado, a empresa local

também usufrui de vantagens derivado das qualificações e conhecimentos da empresa

estrangeira: a capacidade de gestão e controlo do negócio, a tecnologia, know-how do

processo produtivo, acesso a recursos e ativos estratégicos, acesso a produtos novos.

Para Viana e Hortinha ( 1997) os motivos que levam a formação de joint ventures são: i)

razões politicas, relacionadas a restrições governamentais à propriedade total de empresas por

estrangeiros e à redução do risco de expropriação que uma entrada através de subsidiária de

controlo integral poderia acarretar; ii) a possibilidade de penetração em mercados protetoras

que, através de tarifas e quotas, dificultam as exportações de empresas estrangeiras; iii) razões

ligadas a economias de escala ao nível da produção, pesquisa e distribuição que permitem

uma redução dos custos; e iv) acesso a mão-de-obra barata ou maior proximidade dos fatores

produtivos ( por exemplo, as matérias primas).

No caso das PME´s as equity joint ventures podem ser uma estratégia de entrada bem-

sucedida pois estas empresas têm limitações de recursos que inviabilizam uma participação

total do seu capital num processo de internacionalização, além do risco que, no caso das joint

ventures, são repartidos. Por isso, as PME´s têm tendência por optar por modos de entrada

onde o investimento, o risco e os recursos possam ser partilhados, e nesse sentido, o maior

conhecimento de mercado e a posse de informações privilegiadas do ambiente de negócio por

parte de uma empresa local juntamente com a posse de instalações físicas e equipamentos por

parte desta leva a que uma PME estrangeira aborde a internacionalização com mais confiança

e com um menor nível de investimento e de riscos.

Page 99: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

82

O controlo das joint-ventures depende da participação de capital, maioritárias ou minoritárias

- para quem tem mais ou menos de 50% do capital da empresa, ou 50% (igualitárias) para

ambos, quando querem ter o mesmo nível de responsabilidade, quer a mesma capacidade de

decisão.

4.6.2.2. Subsidiária de controlo integral

Uma subsidiária de controlo integral ou Sole Venture é, segundo Welch et al. (2007), uma

forma de entrada num mercado externo que assegura a empresa-mãe o controlo total sobre

todo o processo de tomada de decisão que ocorre naquela empresa, quer seja sobre as suas

políticas e estratégias, quer seja sobre ativos-chave que são transferidos para a subsidiária tais

como a tecnologia e o know-how. Esta empresa filial poderá ser de produção ou apenas

comercial, ou também poderá ser uma filial integrada que faça parte de toda a cadeia de

atividades da empresa-mãe.

Comparativamente as Joint Ventures, a adoção das Sole Ventures permitem um alto nível de

controlo, uma maior flexibilidade e independência estratégica e operacional, a possibilidade

de conseguir o protecionismo do governo como as empresas locais, e um baixo risco de

disseminação da capacidade tecnológica, industrial e humana devido ao facto de esta

estratégia não envolver uma cooperação entre empresas distintas e tudo o que esta relação de

co-propriedade compreende como: a tomada de decisões em conjunto, a partilha do capital e

dos lucros, a transferência de know-how, tecnologia e o compartilhamento de recursos e, em

muitos casos, de ativos estratégicos.

Relativamente à forma, Cavusgil et al. (2010) classificam esta forma de investimento direto

externo (IDE) como: i) investimentos greenfield, que são operações de estabelecimento de

raíz de uma nova empresa e ii) aquisições, que constituem uma compra de uma empresa já

existente. Segue-se, então, a análise destas duas formas que uma subsidiária de controlo

integral pode incorporar.

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83

a) Investimento Greenfield

Ferreira et al. (2011) definem os investimentos de raíz como a forma de expansão

internacional de maior compromisso de recursos, em que a empresa cria uma nova subsidiária

no estrangeiro. Com isso, a empresa internacional assume um maior risco mas detém um

maior poder de decisão e de controlo sobre todas as operações. Cavusgil et al. (2010)

consideram que o investimento greenfield ocorre quando uma empresa investe para construir

uma nova unidade de produção, ou uma nova instalação administrativa ou de marketing, em

vez de realizar este investimento em instalações já existentes.

Alguns motivos que influenciam uma empresa internacional a construir uma nova empresa

num mercado estrangeiro baseiam-se na possibilidade daquela empresa implantar os seus

sistemas, suas tecnologias e equipamentos, e enraizar a sua cultura organizativa e o seu

método de gestão e controlo através de um investimento inicial e de base, escapando, assim,

aos inconvenientes de ter de alterar um padrão de comportamento organizacional que já se

encontra enraizado e evoluído numa empresa pré-existente. Estrategicamente, a preocupação

em estabelecer um investimento greenfield ocorre em situações onde a empresa-mãe sente

necessidade em transferir uma tecnologia muito complexa (tecnologia de ponta) para a

subsidiária estrangeira ou produtos de elevado valor, situações em que é indispensável um

maior nível de controlo.

b) Aquisições

De acordo com Cavusgil et al. (2010) a aquisição ocorre quando uma empresa, sozinha ou

com um ou mais parceiros, realiza um investimento para a compra de uma empresa já

existente e em funcionamento. Estes mesmos autores defendem que a preferência de muitos

autores por esta forma de entrada prende-se não só com o acesso a funcionários experientes da

empresa adquirida e o benefício da propriedade de ativos existentes como instalações,

equipamentos e recursos humanos, mas também com o acesso a fornecedores, intermediários

e clientes antigos. Outra vantagem é que a aquisição fornece um fluxo imediato de caixa e

acelera o retorno da empresa sobre o investimento, em comparação com o IDE tipo

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84

greenfield. Todas estas vantagens aliadas ao facto de esta estratégia de entrada ser rápida e

exigir menos detalhes burocráticos é que permitem a grande frequência da ocorrência das

aquisições.

Para aquelas empresas que pretendem entrar num determinado setor de um mercado

estrangeiro que esteja saturado devido a existência de várias empresas, as aquisições

constituem uma opção muito vantajosa para a obtenção de marcas já com forte presença nesse

mercado estrangeiro, acesso imediato aos canais de distribuição, quotas de mercado, rede

operacional e à tecnologia. Desta forma, a empresa adquirente evita a grande concorrência

existente neste mercado e todo o risco inerente a uma entrada no mesmo através de uma

aquisição de uma empresa pré-estabelecida, que tem um conhecimento e uma experiência dos

parâmetros de negócio neste mercado e que já possui uma quota de mercado e uma carteira de

clientes, evitando assim um investimento de raíz e um inicio de negócio “do zero” com todos

os custos e riscos inerentes aos mesmos.

4.7. Análise dos fatores estimulantes das exportações das PME´s

Nesta parte do Relatório, que antecede a abordagem das tipologias e especificidades do

processo de Exportação, iremos analisar as razões que podem estimular uma pequena empresa

a exportar sendo que, segundo Leonidou et al. (2007), algumas destas razões levam a uma

abordagem oportunista para exportar, enquanto outras influenciam para uma abordagem

estratégica e de longo prazo para exportar. Estes autores salientam também que, apesar de

existirem muitos fatores estimulantes com um menor impacto sobre a exportação, estas não

devem ser subestimados porque sua importância pode aumentar de acordo com as mudanças

dos contextos e das circunstâncias.

A exportação é a forma mais rápida e fácil para as PME´s se internacionalizarem devido ao

facto de ela exigir menos comprometimento dos recursos organizacionais, oferecer uma maior

flexibilidade de ações gerenciais e envolver menos riscos de negócio. Ela traz vantagens tanto

aos governos nacionais como às organizações privadas. Aos primeiros, a exportação permite o

aumento dos níveis de emprego, fornece uma fonte de divisas estrangeiras, permite o

desenvolvimento de inovações tecnológicas e leva a uma melhoria da qualidade de vida. Já as

empresas privadas melhoram, por seu turno, a sua situação financeira, desenvolvem vantagens

Page 102: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

85

competitivas, e as exportações permitem uma melhor utilização das capacidades e habilidades

produtivas e, enfim, promovem o crescimento destas empresas (Leonidou et al., 2007).

Um estudo muito pertinente e detalhado sobre os fatores que estimulam as PME´s a exportar

foi desenvolvido através de um artigo publicado na Revista International Marketing Review

em 2007 por quatro autores: Leonidou, Katsikeas, Palihawadana e Spyropoulou. Ele é

baseado numa revisão de 32 estudos empíricos realizados no período entre 1974 a 2005 e o

seu objetivo é apresentar uma análise classificatória dos estimulantes da exportação (cerca de

quarenta estímulos) e o seu impacto na decisão da empresa em exportar baseado numa

descrição abrangente das caraterísticas, conteúdo e influência de cada estímulo sobre o

comportamento das empresas.

Segundo Wiedersheim-Paul et. al (1978) os estimulantes da exportação, também chamados de

incentivos ou motivações referem-se a todos os fatores desencadeantes da decisão da empresa

de iniciar e desenvolver as atividades de exportação. No entanto, estes fatores podem

constituir uma verdadeira força motriz apenas se forem do conhecimento dos tomadores de

decisão, e isto é possível através de um processo de aprendizagem organizacional onde as

informações-chave são disponibilizadas levando, assim, à expansão a nível internacional.

Assim, a simples criação ou existência de um estímulo de exportação é uma condição

necessária, mas não uma condição suficiente para a empresa decidir exportar pois há outras

variáveis que devem ser tidos em conta como as relacionadas com o ambiente (por exemplo,

as condições econômicas, o tamanho do mercado, as infra-estruturas), a organização (por

exemplo os objetivos e as estratégias, a disponibilidade dos recursos , a natureza dos

produtos), e o perfil do gerente (por exemplo, o estilo de gestão, as competências e qualidades

gerenciais).

Os estímulos que influenciam as empresas a optarem pela exportação podem ser, segundo o

Artigo de Leonidou et al (2007), internos e externos. Os primeiros estão associados às

influências endógenas a empresa como por exemplo a acumulação de estoques não vendidos,

o desejo de crescimento das empresas e a posse de um produto único. Já os estímulos externos

são derivados do ambiente em que a empresa opera ou pretende operar como por exemplo

solicitações de empresas estrangeiras, taxas de câmbio favoráveis e incentivos de agências

governamentais. Outra classificação divide os estímulos à exportação em pró-ativos e

reativos. Os primeiros indicam um interesse da empresa em explorar uma competência

organizacional única de forma estratégica ou uma oportunidade de mercado (por exemplo,

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86

posse de uma vantagem financeira, e capacidade de produção inutilizada). Os estímulos

reativos denunciam o interesse da empresa nas exportações devido a pressões ambientais (por

exemplo, a intensa concorrência interna, a saturação do mercado interno, e o escoamento de

um produto sazonal que está com pouca venda no mercado interno).

As empresas cujas exportações são motivadas pelos fatores internos são descritas como tendo

uma orientação mais racional e objetiva em comparação com aquelas estimuladas por fatores

externos. E também, as empresas influenciadas por estímulos pró-ativos são mais agressivas e

têm uma orientação estratégica no processo de exportação, enquanto que aquelas motivadas

por fatores reativos adotam uma abordagem bastante passiva e oportunista aproveitando

ocasiões esporádicas para proceder às exportações.

Leonidou et al. (2007) alertam também para o fato dos estímulos desempenharem um papel

ativo em qualquer fase do processo de exportação, a partir da fase de pré-exportação e dos

estágios iniciais, até os estágios mais avançados e que envolvem um maior comprometimento.

Nesse sentido, nos estágios iniciais de exportação, a empresa tem mais suscetibilidade de ser

influenciada por fatores externos e reativos (por exemplo, a receção de um pedido fortuito do

exterior), ao contrário de fases posteriores, onde os estímulos mais prováveis são os internos e

pró-ativos (por exemplo, o desejo de alcançar um crescimento organizacional através da

exportação).

Passaremos, agora, a apresentar (de forma resumida) a análise classificatória delineada por

Leonidou et al. (2007) que aborda de forma detalhada cada um dos quarenta estímulos à

exportação e os divide em internos e externos, com uma indicação adicional se os estímulos

são pró-ativos ou reativos. É necessário realçar que a nossa intenção neste Relatório não é

descrever estes estímulos já que esta descrição foi feita de forma soberba, explicativa e

através de uma linguagem bastante acessível no artigo de Leonidou et al. (2007). Por isso

faremos uma análise superficial destes estímulos, dando mais importância em analisar a

natureza pró-ativa ou reativa dos mesmos, e ao grau de impacto de cada estímulo sobre a

decisão da empresa em exportar (impacto muito baixo, baixo, moderado, alto ou muito alto).

Os estímulos internos foram divididos em aqueles relacionados com as áreas funcionais da

organização, ou seja, os recursos humanos, financeiros, de pesquisa e desenvolvimento,

produção, e marketing, enquanto os estímulos externos foram categorizados em aqueles

referentes ao mercado (interno e externo), o governo (nacional e estrangeiro), os

intermediários, a concorrência, os clientes e outros.

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87

A figura seguinte apresenta a classificação dos estímulos à exportação (Leonidou et al.,2007):

Recursos Humanos: Interesse dos gestores em em relação à exportação

Utilização de habilidades e competências gerenciais

Viagens dos gestores ao exterior

Recursos Financeiros: Estagnação/declínio nas vendas e lucros domésticos

Potencial de vendas/lucros extra através da exportação

Potencial de crescimento extra da empresa

Posse de uma vantagem competitiva financeira

Internos Recursos produtivos: Superprodução e acumulo de estoques não vendidos

Realização de economias de escala

Disponibilidade de capacidade de produção não-utilizada

Suavização da produção de um produto sazonal

Recursos de pesquisa Posse de um conhecimento técnico-proprietário

& desenvolvimento: Posse de um produto único e patenteado

Extensão do ciclo de vida dos produtos domésticos

Recursos de marketing: Posse de uma vantagem competitiva em marketing

Habilidade para adaptar o marketing no exterior

Mercado doméstico: Saturação ou retração do mercado doméstico

Necessidade de reduzir a dependência do mercado doméstico

Estímulos à Possibilidade de redução do poder dos consumidores internos

Exportação Crise ou retração da economia doméstica

Mercado externo: Posse de informações exclusivas sobre os mercados externos

Identificação de melhores oportunidades no mercado externo

Proximidade física e geográfica em rel. à um mercado externo

Governo nacional: Incentivos e assistência de agências governamentais

Incentivo do Minist. do Comércio através de missões comerciais

Subsídios e ajudas governamentais

Governo estrangeiro: Diminuição de regras e regulamentos nos mercados externos

Externos Redução de tarifas e quotas nalguns mercados externos

Intermediários: Incentivo por parte de associações industriais e comerciais

Incentivo por parte de bancos e instituições financeiras

Incentivo por parte de agentes e distribuidores

Concorrentes: Elevada concorrência doméstica

Inicio de exportações por parte dos concorrentes domésticos

Entrada de um concorrente estrangeiro no mercado doméstico

Experiência estrangeira para melhorar a competitividade interna

Clientes: Receção de encomendas de clientes estrangeiros

Receção de pedidos após a participação em feiras internacionais

Estímulos diversos: Proximidade em relação a portos e aeroportos

Taxas de câmbio favoráveis

Fig. 7 – Classificação dos Estímulos à Exportação (Fonte: Leonidou, Katsikeas, Palihawadana e Spyropoulou; 2007)

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88

Os estímulos relacionados com os recursos humanos estão relacionados com as capacidades

subjetivas dos gestores das empresas como uma gestão entusiasta e uma mentalidade aberta e

de cariz pró-internacionalização; com os talentos e habilidades dos mesmos que levam a um

maior interesse pela exportação. O conhecimento das culturas estrangeiras, a facilidade de

socialização com estrangeiros, e o forte interesse em viajar para o exterior são características

que se encontram em gestores inovadores, que gostam de arriscar e que têm mente aberta e

que levam a adoção da exportação como modo de entrada. As viagens empresariais ao

exterior, através das quais os gestores conseguem estudar melhor os mercados estrangeiros,

identificar oportunidades de negócio nestes mercados, e conhecer e ter acesso a novos

clientes, também influenciam a adoção da exportação como modo de entrada. Este tipo de

estímulo interno tem uma natureza pró-ativa pois a exportação não surge como uma reação a

um contexto ou como fruto de uma pressão de alguma circunstância. Surge, antes, devido a

ideologia, as habilidades e a vontade dos gestores em expandirem o seu negócio para o

mercado externo. Contudo, apesar do alto impacto do interesse gerencial/impulso dado que

nas PME´s as decisões são tomadas, geralmente, por um único (ou alguns) gestor(es), os

outros dois estímulos relacionados com os recursos humanos, a utilização de

habilidades/competências/talentos gerenciais, e as viagens empresariais ao exterior têm um

impacto moderado e muito baixo, respetivamente, na decisão de uma empresa em exportar.

Em relação aos estímulos financeiros, Leonidou et. al (2007) aponta quatro variáveis: a

estagnação dos lucros domésticos e o declínio das vendas; o potencial para vendas e lucros

extras; o potencial de crescimento extra; e a posse de uma vantagem financeira competitiva. A

primeira variável, a estagnação dos lucros e o declínio das vendas, ocorre devido a: o aumento

da concorrência, uma mudança no comportamento do consumidor, incapacidade de lidar com

problemas de comercialização no mercado interno, entre outros. Este estímulo é o único,

dentre os estímulos financeiros, de natureza reativa, no sentido de que a empresa pensa em

exportar apenas sob a pressão de problemas financeiros domésticos. É, também, o que tem um

impacto menor (impacto moderado) e menos influência na adoção, por parte da empresa, da

exportação.

As outras variáveis financeiras baseadas na potencialidade de vendas, lucros e um

crescimento extras, e na posse de uma vantagem financeira competitiva têm, em comum, o

facto de influenciarem as empresas a utilizarem a sua vantagem competitiva através dos seus

recursos organizacionais, humanos, estratégicos e financeiros para obterem uma expansão do

negócio pelas exportações. Através deste modo de entrada, as empresas podem aumentar os

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89

seus ativos e explorar novas oportunidades por meio da procura das necessidades dos

mercados externos e da resposta rápida as solicitações dos clientes estrangeiros. Estes

estímulos de caráter financeiro têm uma natureza pró-ativa pois a empresa agora reconhece o

valor das operações de exportação e pensa estrategicamente sobre como explorar

oportunidades de mercado no exterior, como forma de atingir os seus objetivos. Neste caso, a

empresa adota uma abordagem sistemática e de longo prazo e monta uma estratégia definida

sobre a qual irá desenvolver o processo de exportação. Leonidou et al. (2007) realçam que o

potencial para vendas e lucros extras, e o potencial de crescimento extra são os estímulos com

o maior impacto sobre a decisão das empresas em adotar as exportações dentre os quarenta

estímulos analisados. A posse de uma vantagem financeira competitiva também tem um alto

impacto sobre esta decisão. Isso se explica pelo facto das PME´s não terem muitos recursos,

por isso o pensamento no retorno do investimento financeiro e no lucro como o primeiro

objetivo.

Relativamente aos estímulos relacionados à pesquisa, desenvolvimento e marketing,

Leonidou et al. (2007) defende a existência de cinco estímulos: a posse de conhecimento

técnico-proprietária, a posse de um produto único e patenteado, a extensão do ciclo de vida

dos produtos, a posse de uma vantagem competitiva em marketing, e a capacidade de

adaptação do marketing aos mercados estrangeiros. Os cinco estímulos têm uma natureza pró-

ativa pois, tais como os últimos estímulos financeiros abordados, as empresas adotam o modo

de exportação como consequência da existência de recursos e ativos estratégicos que existem

dentro da organização e que mostraram ser um sucesso no mercado nacional pelo que a

expansão internacional apenas funciona como uma extensão destes importantes recursos para

o mercado externo. Portanto, características como: a posse de uma tecnologia específica bem-

sucedida no mercado interno; a fabricação de um produto patenteado, com qualidades

superiores e características únicas em comparação com os oferecidos pela concorrência; a

extensão do ciclo de vida dos produtos nacionais que ocorre nas exportações para os países

em desenvolvimento; a franquia de marca forte, um preço de venda competitivo, um bom

sistema de apoio de assistência técnica, uma rede de distribuição eficiente, e uma equipa de

vendas eficaz; e, a capacidade de adaptar o marketing-mix da empresa as especificidades de

um mercado externo… estas características são detidas pelas empresas e acabam permitindo

que a empresa tenha uma abordagem estratégica, sistemática, e com bases sólidas permitindo,

assim, um processo de exportação de longo prazo. Estes estímulos variam do impacto muito

baixo ao impacto muito alto sobre a decisão de exportar, sendo que o menos influente é a

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90

extensão do ciclo de vida do produto, e o mais importante e com maior poder de influência é a

posse de um produto único e patenteado.

Finalizamos a análise dos estímulos internos com a abordagem dos estímulos relacionados à

produção. Estes são divididos em: superprodução/acumulação de estoques não vendidos,

capacidade de produção inutilizada, escoamento de um produto sazonal e obtenção de

economias de escala. Os três primeiros estímulos têm uma natureza reativa no sentido de que

a empresa só começa a exportar sob a pressão de problemas produtivos internos.

Circunstâncias como adversidades no mercado interno, pressões da concorrência, o desejo de

utilizar plenamente a capacidade de produção e controle de estoque ineficiente são alguns dos

motivos responsáveis pela superprodução e consequentemente, são problemas que pressionam

as empresas a reagirem e a optarem pela exportação como forma de escoar o excesso de

produtos. Por outro lado, quando as empresas têm fábricas com uma capacidade ociosa de

produção podem aproveitar as exportações para utilizar a capacidade livre das suas

instalações sem ter custos fixos adicionais neste processo. Também um produto sazonal que

se encontra na época baixa no mercado interno pode estimular as empresas a adotarem a

exportação como forma de escoar este produto para mercados onde haja uma maior demanda

fazendo com que a empresa consiga uniformizar a sua produção e estabilizar a sua situação

financeira. Em relação ao grau de impacto destes estímulos sobre a decisão da empresa em

exportar, a superprodução/acumulação de estoques não vendidos têm um impacto baixo ou

pouco relevante, o escoamento de um produto sazonal tem um impacto moderado e já a

capacidade de produção inutilizada apresenta um impacto alto e relevante na decisão da

empresa em iniciar o processo de exportação.

Após a análise dos estímulos internos, da sua natureza e do seu impacto sobre as empresas,

faz-se necessária uma abordagem aos estímulos externos à organização. Estes são divididos

em: mercado doméstico, mercado estrangeiro, governo nacional, governo estrangeiro,

intermediários, concorrência, clientes, e estímulos diversos.

Os estímulos relacionados com o mercado doméstico podem basear-se na: saturação do

mercado doméstico, necessidade de reduzir a dependência e o risco que uma empresa pode ter

se operar apenas no mercado doméstico, possibilidade de reduzir o poder dos clientes

domésticos, condição desfavorável de uma economia doméstica, taxas de câmbio favoráveis

(através da desvalorização). Estes estímulos são, basicamente, alterações que ocorrem no

mercado doméstico como a queda das vendas e dos lucros resultantes da saturação do

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91

mercado, da deterioração das condições econômicas (uma recessão econômica), da entrada de

novos concorrentes, ou de mudanças drásticas nos hábitos de consumo. Estes estímulos têm

uma natureza reativa dado que as empresas ao se depararem com estas circunstâncias

negativas que afetam diretamente os seus lucros, acabam reagindo perante estas pressões

através da adoção das exportações e da diversificação dos mercados que permitirão uma

absorção da capacidade ociosa de produção de uma empresa (causada pela saturação e pela

diminuição da procura interna), como também ajudarão na restauração da sua posição

patrimonial e financeira, e prolongarão o ciclo de vida dos seus produtos, provendo, assim,

uma nova fonte de recursos financeiros para a empresa.

Relativamente aos estímulos relacionados com o mercado externo, Leonidou et al. (2007)

deteta a existência de três variáveis: a posse de informações exclusivas sobre os mercados

estrangeiros, a identificação de melhores oportunidades, e a proximidade física em relação aos

mercados externos. Os dois primeiros estímulos têm um caráter pró-ativo, enquanto o último

tem uma natureza reativa. Este caráter pró-ativo se explica devido ao facto da posse de

informações sobre os mercados estrangeiros e a identificação de melhores oportunidades se

basear na propriedade, por parte da empresa, de vantagens em relação à concorrência que se

traduzem em informações exclusivas e privilegiadas conseguidas através de pesquisas de

marketing que levam à redução da incerteza no processo de exportação, além de uma boa

equipa de prospeção que consegue um bom estudo de mercado e, consequentemente melhores

oportunidades nos mercados externos. Já a proximidade física e geográfica em relação a um

mercado externo pode ser um aliciante de caráter reativo para se iniciar a exportação já que a

empresa reage a uma circunstância especifica para ganhar vantagem e expandir além-

fronteiras.

Os estímulos relacionados aos governos nacionais e os relacionados aos governos estrangeiros

são, em geral, de natureza reativa e baseiam-se especificamente em: programas

governamentais de assistência à exportação, incentivos e fornecimento de dados realizados

pelo Ministério do Comércio, a diminuição de normas e regulamentos à importação praticada

pelos governos estrangeiros, e a redução de tarifas e barreiras comerciais por parte destes

mesmos governos. Todos estes incentivos oferecidos pelos governos nacionais e as

facilidades concedidas pelos governos estrangeiros permitem que a empresa encare agora as

operações de exportação com menos riscos e incertezas e pense de forma estratégica e

sistemática sobre como explorar as oportunidades concedidas pelos governos utilizando as

exportações como modo de entrada.

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Finalmente, Leonidou et al. (2007) também apontam a existência de estímulos relacionados

com os intermediários, os concorrentes e os clientes. Exemplos destes estímulos são:

incentivos por parte de associações comerciais e industriais, incentivo de bancos e instituições

financeiras, incentivos de agentes e distribuidores, a existência de uma concorrência interna

intensa, o facto dos concorrentes nacionais terem iniciado as exportações, entrada de

concorrentes estrangeiros no mercado doméstico, a receção de encomendas dos clientes

estrangeiros, e a receção de pedidos após a participação em feiras internacionais. Estes

estímulos têm, no geral, uma natureza reativa já que a empresa decide enveredar pela

estratégia das exportações como reação a uma circunstância que pode ser um incentivo, ou

uma pressão de uma empresa concorrente, ou ainda uma situação pontual e esporádica como

uma encomenda do exterior. Em relação ao impacto destes estímulos na adoção das

exportações por parte das empresas, tirando a receção de encomendas dos clientes

estrangeiros que tem um impacto muito grande e que, de facto, influencia muito uma empresa

a exportar antecipando a concorrência e aproveitando uma oportunidade sem riscos e custos

adicionais e com garantia de lucro a curto prazo, os outros estímulos têm um impacto baixo e

alguns até muito baixo. Isto é explicado pelo facto das pequenas empresas nem sempre terem

recursos suficientes para iniciar a exportação apenas porque alguns concorrentes fizeram o

mesmo, ou a concorrência interna é alta, ou apenas como retaliação pelo facto da entrada de

concorrentes estrangeiros no seu mercado doméstico.

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93

No quadro seguinte, demonstra-se a variação do nível de impacto de cada um dos quarenta

estímulos analisados por Leonidou et al. (2007):

Impacto muito alto Potencial de vendas/lucros extra através da exportação

Potencial de crescimento extra da empresa

Posse de um produto único e patenteado

Necessidade de reduzir a dependência e o risco inerente ao mercado doméstico

Receção de encomendas de clientes estrangeiros

Impacto alto Interesse ou impulso especial dos gestores em relação à exportação

Disponibilidade de capacidade de produção não-utilizada

Saturação ou retração do mercado doméstico

Posse de uma vantagem competitiva financeira

Realização de economias de escala

Posse de um conhecimento técnico-proprietário

Identificação de melhores oportunidades no mercado externo

Impacto moderado Utilização de talentos/habilidades e competências gerenciais

Estagnação/declínio nas vendas e lucros domésticos

Suavização da produção de um produto sazonal

Posse de uma vantagem competitiva em termos de marketing Posse de informações exclusivas sobre os mercados externos

Receção de pedidos após a participação em feiras internacionais

Incentivo por parte de associações industriais e comerciais

Incentivo por parte de bancos e instituições financeiras

Incentivo por parte de agentes e distribuidores

Proximidade em relação a portos e aeroportos

Impacto baixo Superprodução e acumulo de estoques não vendidos

Habilidade para adaptar facilmente o marketing aos mercados externos

Taxas de câmbio favoráveis

Incentivos e assistência de agências governamentais

Incentivo do Ministério do Comércio através de missões comerciais

Elevada concorrência doméstica Início de exportações por parte dos concorrentes domésticos

Apoio governamental às empresas como dever patriótico

Proximidade física e geográfica em relação a um mercado externo

Impacto muito baixo Viagens dos gestores ao exterior

Extensão do ciclo de vida dos produtos domésticos

Possibilidade de redução do poder de barganha dos consumidores internos

Crise ou retração da economia doméstica

Subsídios e ajudas governamentais

Diminuição de regras e regulamentos nalguns mercados externos

Redução de tarifas e quotas nalguns mercados externos

Entrada de um concorrente estrangeiro no mercado doméstico (retaliação)

Obtenção de experiência estrangeira para melhorar a competitividade interna

Quadro 18 – Variação do nível de impacto dos estímulos à exportação (Fonte: Leonidou et al., 2007)

Page 111: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

94

4.8. O processo de Exportação

A exportação corresponde a um modo de entrada sem participação de capital e é utilizada,

geralmente, pelas PME´s que iniciam a sua expansão no exterior como uma primeira forma de

abordagem dos mercados externos. Pinho e Martins (2010) defendem que a exportação é um

dos modos de entrada mais atrativos para as PME´s porque envolve riscos mínimos, requer

baixos recursos financeiros e humanos e, ao mesmo tempo, oferece uma flexibilidade elevada

de movimentos.

Segundo Osland et al. (2001) a exportação difere dos outros modos de entrada na medida em

que o produto final ou intermédio é fabricado fora do país-alvo e, subsequentemente,

transferido para ele. Dessa forma, a exportação pode ser definida como a venda de produtos

(acabados, semi-acabados e/ou matérias-primas) por parte de uma empresa de um

determinado país para uma empresa ou particular de um país estrangeiro. Muitos autores

como Axinn, Savitt, Sinkula e Thach (1994) e Burpitt e Rondinelli (1998) defendem que os

níveis de aprendizagem, de conhecimento e de experiência de uma empresa são fundamentais

para a maior inclinação da mesma em relação à exportação. O efeito da experiência baseada

na aprendizagem gerada ao nível de novas aptidões, da adoção de novas tecnologias, e do

alargamento das capacidades organizacionais é fruto do maior conhecimento das operações

internacionais por parte de uma empresa e que a coloca em boa posição para iniciar as

exportações.

A exportação pode ser direta, indireta ou revestir outras formas.

4.8.1. Exportação Direta

A exportação direta permite que a empresa assuma as operações de exportação em vez de as

delegar a outras organizações localizadas no país exportador. Esta estratégia de entrada

permite que as empresas obtenham um razoável grau de conhecimento e controle sobre o

mercado. No entanto ela exige também maiores investimentos em recursos humanos,

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95

equipamentos e instalações, aumentando assim seus riscos; sendo que, por outro lado, a

possibilidade de retorno é mais elevada do que na forma de exportação indireta.

Albaum et al. (1998) afirmam que a exportação direta se verifica quando um produtor ou

exportador vende os seus produtos diretamente a um importador, localizados num mercado

estrangeiro. Neste tipo de exportação, a empresa assume completamente todas as funções de

exportação e as tarefas inerentes a ela através da criação de um departamento de exportação, o

qual trata de todo o processo de exportação e da venda dos produtos diretamente a um

intermediário localizado num mercado estrangeiro. Contudo, Czinkota et al (2001) enfatizam

que essas empresas podem deparar-se com alguns obstáculos. Estes passam pela dificuldade

em identificar e definir os clientes estrangeiros e encontrar espaço no mercado estrangeiro.

Outro obstáculo reside na responsabilidade pelas tarefas de exportação que “ficam nas mãos”

da empresa. As demandas por recursos – humanos e financeiros – são muito mais intensas do

que na exportação indireta, e esse é um ônus a ser pago.

Para Minervini (1997), a exportação direta acontece quando a venda é realizada diretamente

entre um fabricante e um distribuidor no exterior, ou ainda, diretamente para o consumidor

final. Assim, o exportador fará todo o esforço necessário para o alcance de seus objetivos,

sem a intermediação de terceiros, o que permite um maior controle e as seguintes vantagens:

um conhecimento mais direto do mercado, uma influência direta na seleção dos

colaboradores, um controle mais regular do fluxo de vendas, e uma influência direta na

estratégia do produto, preço, promoção e distribuição (marketing-mix da empresa). De acordo

com este mesmo autor, existe muitas alternativas para que uma empresa desenvolva operações

de exportação direta como:

- Vendedor Direto: pertence ao quadro de funcionários da empresa exportadora e atua

diretamente junto a importadores, em diversos mercados no exterior. Este vendedor consegue

informação sobre os clientes e sobre a concorrência no mercado-alvo;

- Departamento de exportações: permite o controlo e a coordenação das exportações diretas.

Este departamento pode estar organizado sob a forma de: i) um departamento dentro da

empresa exportadora (que se baseia num responsável de vendas internacionais e que conta

com a colaboração dos outros departamentos); ii) um departamento de exportação autónomo

(em que a principal caraterística é a auto-suficiência que se traduz no desenvolvimento total

Page 113: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

96

das operações de exportação a tempo inteiro); iii) uma filial de exportação (que se traduz

numa maior autonomia, autoridade e responsabilidade comparada com as formas anteriores).

- Filial de Venda: é a extensão das atividades da empresa no mercado de destino onde há

funcionários da própria empresa a trabalhar. Geralmente, estas filiais possuem formas de

armazenamento para os seus produtos, o que facilita a entrega e agiliza o processo de

distribuição;

- “Rock Jobbing”: esta modalidade garante a administração das vendas por parte do

exportador e, a seu custo, num espaço dentro da loja do importador, onde, a partir deste ponto,

o exportador efetua os contatos com os clientes;

- Distribuidor: é uma pessoa jurídica que compra o produto em seu próprio nome, estoca a

mercadoria e a vende a um terceiro, aplicando um preço que cobre os gastos e dá o lucro

necessário. Portanto, um distribuidor detém a posse dos produtos, assume os riscos associados

ao crédito inerentes ao negócio, e trata da logística de distribuição até ao cliente final;

- Agentes localizados no Exterior: são pessoas físicas ou jurídicas que, através de um acordo,

vende e representa o seu contratante (empresa exportadora) e é paga através de comissão

sobre o valor vendido. Normalmente, estes agentes não têm contato com os produtos a não ser

através de amostras e material promocional dos quais se servem para efetuarem a

apresentação dos produtos aos potenciais compradores com o objetivo da venda.

4.8.2. Exportação Indireta

Albaum et. al (1998) defendem que a exportação indireta ocorre quando o produtor

exportador utiliza organizações independentes (intermediários) localizados no seu país para

vender os seus produtos no mercado internacional. Ilhéu (2009) corrobora desta definição

acrescentando que na situação de exportação indireta, a empresa é contatada no seu próprio

mercado, por intermediários, escritórios de compra estrangeiros, empresas trading ou

distribuidores nacionais que realizam vendas no estrangeiro.

Page 114: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

97

As pequenas e médias empresas normalmente iniciam as suas atividades internacionais

através da exportação indireta, pois como este processo baseia-se na venda de produtos para

os intermediários que estão sediados no país de origem daquelas empresas e que, por sua vez,

assumem o risco de revender estes produtos aos mercados externos; e como estas empresas

dispõem de poucos recursos e pouca experiência em operar nos mercados internacionais, esta

estratégia de entrada exige menos investimento, baixos custos e menos riscos. Por outro lado,

as empresas que adotam este tipo de estratégia têm um reduzido grau de controlo sobre o

processo e consequentemente têm um retorno reduzido sobre os seus produtos. Além disso, o

intermediário que coloca um pedido na empresa hoje, não tem compromisso nenhum de fazer

um novo pedido à mesma empresa, dificultando assim um planejamento de crescimento da

organização por parte desta empresa. Normalmente este “não compromisso” advém do facto

do intermediário buscar sempre a empresa que possui o menor custo para o produto que

pretende comprar.

Kotabe e Helsen (2000) apontam algumas desvantagens das exportações indiretas como o

pouco ou nenhum conhecimento que a empresa, que opta por este modo de entrada, tem de

como a sua mercadoria está a ser vendida lá fora. Outra desvantagem tem a ver com a

ineficiência na distribuição do produto que pode levar a uma diminuição das vendas. Estes

autores afirmam: “As más decisões do composto de marketing tomadas pelo intermediário

podem também destruir a imagem da marca ou o nome da empresa exportadora”.

Os intermediários mais utilizados para uma empresa efetuar suas vendas ao exterior, de forma

indireta, são os seguintes:

- Agente de compras: trata-se de um representante de compradores estrangeiros que opera

como cliente da empresa exportadora e no país desta, agindo com base nas encomendas que

recebe dos tais compradores estrangeiros em contrapartida de uma comissão que recebe

destes. Para a empresa exportadora, esta é uma forma fácil de exportar, dado que

normalmente os pagamentos são imediatos e as questões relativas ao movimento físico das

mercadorias estão por conta do agente de compras.

- Broker: é um outro tipo de agente que se encontra no mercado da empresa exportadora e é

especializado num determinado produto ou num setor específico. Os brokers operam com

maior frequência com produtos primários (as commodities) e a sua função é conseguir o

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98

melhor contrato para o vendedor exportador e satisfazer a necessidade de um comprador

estrangeiro, ganhando uma comissão por esta intervenção.

- Empresas de gestão de exportação: são empresas especializadas e que agem como um

“departamento de exportação” ao serviço de algumas empresas suas clientes. Toda a

correspondência e os contatos com os clientes são realizados em nome da empresa que

representam, bem como todos os pedidos de encomendas e condições de fornecimento estão

sujeitos à sua confirmação.

- Empresa trading exportadora: é uma empresa que opera exclusivamente no comércio

internacional, ou seja, que compra mercadorias a um grupo de produtores num mercado para

revendê-las noutro mercado por conta própria ou de terceiros. A empresa produtora obtém

alguns benefícios em trabalhar com este tipo de empresa, tais como não ter custos na pesquisa

e deteção de mercados, obter mais conhecimento sobre os mercados externos, eliminar

despesas na elaboração da documentação de exportação e usufruir de segurança no valor da

venda que é realizada em moeda nacional e, por isso, não é afetada pelas flutuações das taxas

de câmbio.

- Piggyback: ocorre quando uma empresa produtora que pretende exportar mas que tem pouca

experiência neste processo recorre a uma empresa maior (nacional ou estrangeira) e a sua rede

de contatos e de negócios internacional para vender os seus produtos no mercado estrangeiro.

Neste caso, a empresa maior aceita atuar em nome da empresa que pretende exportar,

vendendo os seus produtos e permitindo que esta penetre rapidamente nos mercados

estrangeiros. Esta empresa maior recebe, também, uma comissão por este serviço.

4.8.3. Outras formas de exportação

Além da exportação direta e da exportação indireta, Simões (1997) refere a existência de uma

terceira categoria de exportação que seria a exportação própria. Esta tipologia ocorre quando

não existem intermediários entre o produtor e o cliente final. Neste caso, o produtor é que

assume a promoção e o marketing comercial, a angariação de clientes, a fixação de preços, a

documentação de exportação e a distribuição física nos mercados estrangeiros. Esta situação

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99

exige à empresa um maior comprometimento de recursos que permita um maior

conhecimento do mercado, uma maior capacidade de organização documental e logística do

processo de exportação e uma maior capacidade de relacionamento com os clientes finais. Por

outro lado, a empresa consegue ter um lucro total sobre as vendas sem contrapartidas em

termos de comissões para os intermediários.

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100

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101

V – METODOLOGIA APLICADA A PESQUISA

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102

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103

5. METODOLOGIA APLICADA A PESQUISA

5.1. A Abordagem Qualitativa

Lakatos e Marconi (2001) definem método como um conjunto de atividades sistemáticas e

racionais que favorecem o alcance de determinados objetivos de investigação. Como já tinha

sido referido na parte inicial deste Relatório, a metodologia baseia-se numa aproximação

qualitativa que é subjetiva por natureza pois envolve o exame e a reflexão das perceções,

neste caso de duas pessoas que fazem parte de duas empresas diferentes, de forma a melhor

compreender as atividades humanas e sociais, mais especificamente as atividades de

internacionalização e as vantagens de estas ocorrerem para o mercado caboverdeano.

Segundo Yin (2003) a metodologia qualitativa, partindo da experiência, traduz-se numa forma

de aprendizagem eficaz para o desenvolvimento do pensamento e das capacidades requeridas

a nível de gestão e de liderança. Permite a investigação de questões contemporâneas, no seu

ambiente natural e é especialmente recomendada em estudos que envolvem um grupo de

casos com o objetivo de melhor compreender um determinado fenómeno. Sousa e Baptista

(2011) acrescem que os métodos qualitativos não dependem e não estão limitados à dimensão

das amostras por se basearem na análise descritiva dos comportamentos e particularidades

associadas à Investigação. Esta premissa acaba por influenciar a decisão na escolha desta

metodologia para analisar uma amostra pequena de duas empresas, mas que permite a

descrição e a exploração de dados e informações relevantes para validar os objetivos e as

questões da investigação.

Bogdan e Biklen (1994) apontam algumas características da metodologia qualitativa que são:

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o

pesquisador como instrumento chave. A presença do pesquisador, no ambiente onde

se desenvolve a pesquisa, é de extrema importância, à medida que o fenômeno

estudado só é compreendido de maneira abrangente, se observado no contexto onde

ocorre, visto que o mesmo sofre a ação direta desse ambiente;

Page 121: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

104

A pesquisa qualitativa é predominantemente descritiva. Os dados coletados são mais

uma forma de palavras ou figuras do que números. Estes dados incluem entrevistas

transcritas, notas de campo, fotografias, produções pessoais, depoimentos ou outra

forma de documento. O pesquisador qualitativo tenta analisar os dados em toda sua

riqueza, respeitando, no possível, a forma de registro ou transcrição. Na abordagem

investigativa de âmbito qualitativo nada é trivial, toda manifestação tem potencial

para fornecer pistas importantes na construção e compreensão do fenômeno estudado;

O enfoque dos dados pesquisados deve sempre demonstrar a perspetiva dos

significados atribuídos pelos participantes. A maneira como os informantes vivenciam

e informam uma situação vivida é importante e singular a cada indivíduo. O

significado ou sentido que elas dão aos fenômenos vivenciados é foco da pesquisa

qualitativa;

A análise dos dados segue um processo indutivo. Indução é um método mental por

intermédio do qual, partindo-se de dados particulares, suficientemente constatados,

infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Dessa

forma, o objetivo dos argumentos indutivos é apresentar conclusões, cujo conteúdo é

mais amplo do que as premissas nas quais se basearam. Não há preocupação em

comprovar hipóteses.

Para Bogdan e Biklen (1994) uma metodologia baseada nas entrevistas qualitativas quando

realizada de forma correta permite que os indivíduos estejam “à vontade” e falem livremente

dos seus pontos de vista. Por outro lado, deve-se evitar perguntas que não exijam uma

exploração de ideias por parte do entrevistado. Nesse sentido, estes autores referem que «as

entrevistas, devem evitar perguntas que possam ser respondidas “sim” e “não”, uma vez que

os pormenores e detalhes são revelados a partir de perguntas que exigem exploração.

Na investigação qualitativa, a entrevista, nomeadamente a entrevista semi-estruturada, tem

sido considerada como uma técnica importante, mesmo aconselhada nos estudos exploratórios

como ocorre neste estudo de caso, possibilitando uma aproximação ao contexto em estudo e a

descoberta de elementos e categorias de análise que contribuam para a formulação dos

objetivos da investigação. Bogdan e Biklen (1994) consideram a entrevista como uma técnica

recomendada “para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao

investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos

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105

interpretam aspetos do mundo”. Estes autores defendem ainda que as entrevistas semi-

estruturadas a vários sujeitos têm a vantagem de permitir que se fique com a certeza de se

obter dados comparáveis entre os mesmos.

São reconhecidas diversas vantagens na utilização desta técnica de investigação. Valles

(1997) salienta como principais vantagens: i) a possibilidade de acesso a uma grande riqueza

informativa, contextualizada e através das palavras dos atores e das suas perspetivas; ii) a

possibilidade dos investigadores esclarecerem alguns aspetos no seguimento da entrevista, o

que a entrevista mais estruturada ou o questionário não permitem; iii) é geradora, na fase

inicial de qualquer estudo, de pontos de vista, orientações e hipóteses para o aprofundamento

da investigação, a definição de novas estratégias e a seleção de outros instrumentos.

A entrevista semi-estruturada favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas

também sua explicação e a compreensão de sua totalidade, além de manter a presença

consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações. A realização deste

tipo de entrevista, necessita, para a sua operacionalização, da existência de uma orientação ou

“guião” que permite que os sujeitos falem sobre os assuntos, procurando servir a dinâmica de

conversação que a entrevista deve constituir.

Neste Relatório a entrevista semi-estruturada foi direcionada a uma amostra constituída por

duas empresas: a Enamorata e a Giliana. O guião das Entrevistas encontra-se no Apêndice II

e o resumo analítico das mesmas encontram-se no Apêndice III e IV.

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106

5.2. A análise das Entrevistas. Verificação dos Objetivos da Investigação

A amostra selecionada para se aplicar as entrevistas é pequena e constituída por duas

empresas. Deste modo optou-se pela metodologia qualitativa por ser a que não é influenciada

e limitada em termos da dimensão da amostra e a que melhor pode explicar as nossas dúvidas

de pesquisa. Estas dúvidas são as seguintes:

- Qual a melhor estratégia de entrada que pode ser adotada pela Enamorata?

- Quais as motivações e a disponibilidade empreendedora da Enamorata para entrar no

mercado caboverdeano?

- Quais os pontos fortes encontrados nos outros processos de internacionalização da

Enamorata que podem ser adaptados a este novo processo que ocorrerá no mercado

caboverdeano?

- Quais os obstáculos que podem ser encontrados no mercado caboverdeano, e como

ultrapassá-los?

Pretende-se então, através de uma metodologia baseada em entrevistas a uma amostra

selecionada, fazer uma reflexão sobre as perceções e ideias subjetivas dos entrevistados sobre

a internacionalização em geral, e a internacionalização para o mercado caboverdeano, bem

como uma exploração de dados e informações relevantes para que se consiga validar os

objetivos e as questões da investigação. Esta metodologia permite uma sistematização da

investigação já que estes dados e informações recolhidas através das entrevistas permitem a

realização do objetivo final deste Relatório que passa pela implementação de uma estratégia

bem definida de internacionalização de uma empresa para o mercado caboverdeano.

A pesquisa realizada neste Relatório possui caráter descritivo, pois tem como objetivo expor

características de um determinado fenômeno que, neste caso, é o processo de

internacionalização de duas empresas que compõe a amostra. Pretende-se a descrição de um

Page 124: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

107

fenômeno através da análise de dados primários (entrevistas às duas empresas) e dados

secundários (informações internas das empresas, estatísticas sobre o mercado caboverdeano e

sobre as relações comerciais entre Portugal e Cabo Verde, dados de fontes governamentais, e

informações encontradas em jornais e revistas).

O processo indutivo inerente a este tipo de metodologia também beneficia o facto de não

haver hipóteses que se queiram comprovar nesta investigação; mas sim, objetivos claros e

definidos que se pretende serem verificados através de entrevistas com as empresas com o

intuito final de se delinear uma estratégia de internacionalização.

A opção por uma análise comparativa explica-se pelo facto de haver uma amostra constituída

por duas empresas em que uma já iniciou o processo de internacionalização para Cabo Verde

e a outra ainda pretende iniciar este processo. Dessa forma, é importante analisar a empresa

que já iniciou o processo para que, através das ilações e conclusões que podem ser tirados de

um processo pré-estabelecido, se faça um aproveitamento dos aspetos positivos e se tente

ultrapassar os obstáculos no novo processo de internacionalização.

Após a investigação empírica desenvolvida através das entrevistas presenciais as duas

empresas, optou-se pela Técnica de análise de conteúdo para sistematizar os dados

qualitativos provenientes das entrevistas. Segundo Berelson (1952) a análise de conteúdo é

“uma técnica de investigação para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo

manifesto da comunicação”. Para que seja objetiva, tal descrição exige uma definição precisa

das categorias de análise, de modo a permitir que diferentes pesquisadores possam utilizá-las,

obtendo os mesmos resultados; para ser sistemática, é necessário que a totalidade de conteúdo

relevante seja analisada com relação a todas as categorias significativas; e para ser

quantificável a descrição deve permite a obtenção de informações mais precisas e objetivas

sobre a frequência da ocorrência das características do conteúdo.

De acordo com os métodos de análise de conteúdo, definiu-se os procedimentos fechados

como o método que melhor se adequa a este Relatório dado que permitem a partir de um

quadro teórico e de categorias pré-estabelecidas, como as desenvolvidas na Seção do

Enquadramento Teórico do mesmo, analisar o discurso e o argumento apresentado pelo

locutor, construir-se um conhecimento relativo as categorias de análise e, consequentemente,

validar os objetivos propostos no início da investigação.

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108

Numa pesquisa qualitativa o pesquisador deve ser capaz de identificar e analisar

profundamente dados não-mensuráveis, como sentimentos, sensações, perceções,

comportamentos passados e motivações de um determinado grupo de indivíduos em relação a

um problema específico. Nesse sentido, contrariamente à pesquisa quantitativa, não é

necessário uma amostragem de grande dimensão, mas sim conhecer bem a amostra que se

tem. No caso particular deste Relatório foram definidos critérios através dos quais se faria a

definição da amostra. Esta é constituída por duas empresas: a empresa sobre a qual incide este

Relatório e a estratégia de internacionalização desenvolvida- a Enamorata; e uma outra

Empresa que já iniciou o processo de internacionalização para Cabo Verde, e que por isso já

tem um conhecimento deste mercado que pode ser útil a primeira empresa. Os critérios

definidos para a definição da amostra foram intencionais e basearam-se nas seguintes

características:

- Uma empresa do mesmo ramo de atividade (têxtil) da Enamorata;

- Uma empresa já estabelecida no mercado caboverdeano (independentemente do modo

inicial de entrada) a 2 anos ou mais tempo;

- Uma empresa que já tenha experimentado pelo menos 2 estratégias de entrada diferentes no

mercado em questão.

Para facilitar a análise da metodologia de pesquisa, dividiremos a mesma em quatro grandes

temas: As motivações empresariais e a estratégia inicial de Internacionalização; a Seleção do

mercado; as especificidades do Processo de Exportação; e os Obstáculos à

Internacionalização. A metodologia será desenvolvida com base na análise de conteúdo das

entrevistas (utilização de trechos das respostas dos entrevistados) sem descurar a análise

teórica que serve de suporte à prática, e terá o objetivo final de responder as questões de

investigação.

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109

5.2.1. As motivações empresariais e a estratégia inicial de

Internacionalização

As motivações e o interesse pela internacionalização das empresas entrevistadas são

diferentes mas enquadram-se na investigação efetuada. Estas empresas, apesar das suas

pequenas dimensões, têm como objetivo inicial uma consolidação no mercado doméstico e

após esta etapa é que optam pela internacionalização e pela exploração de novos mercados.

Isto pode ser comprovado através da afirmação da Gerente da Enamorata:

“ (…) A nossa empresa é 100% portuguesa, por isso o design dos nossos produtos

acaba por encarnar os traços culturais dos Lenços dos namorados. O nosso

interesse inicial sempre foi ser uma marca de referência em Portugal no ramo de

swimwear e oferecer um produto de alta qualidade”.

Fatores como a crise econômica que tem assolado a Europa, a pequena dimensão do mercado

doméstico português e a grande concorrência existente neste mercado são alguns dos

determinantes da intenção das empresas para se internacionalizar. Estes fatores vão de

encontro aos defendidos por Mihalache et al. (2009) que apontam a saturação e a pequena

dimensão do mercado nacional aliada a escassez de oportunidades fruto de uma intensa

concorrência como aspetos que influenciam as empresas a terem um interesse maior numa

prospeção e expansão para novos mercados. Dados divulgados pelo Governo português

corroboram o aumento das exportações e a diversificação dos mercados por parte das

empresas portuguesas:

“ Portugal é hoje um país mais exportador. 2013 foi o quarto ano consecutivo de

aumento das exportações. Em termos de saldo global, a balança comercial

melhorou quase 3000 milhões de euros”.

São estas notícias otimistas que influenciam as empresas Enamorata e Giliana a se

interessarem pela internacionalização.

A busca de novas oportunidades em mercados onde há uma maior necessidade em relação aos

seus produtos e o escoamento de produtos sazonais, bem como o potencial aumento de vendas

e lucros e a resposta a encomendas provenientes de mercados exteriores são outros

Page 127: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

110

determinantes apontados pelas empresas para o início do processo de internacionalização.

Estes fatores foram apontados como estimulantes da exportação por Leonidou et al. (2007)

que por sua vez classifica as duas empresas em questão (Enamorata e Giliana) como sendo

influenciadas por fatores reativos pois a expansão internacional dessas empresas ocorreu

devido a pressões ambientais (por exemplo, a intensa concorrência interna, a saturação do

mercado interno, e o escoamento de um produto sazonal que está com pouca venda no

mercado interno).

Uma outra teoria que explica bem a opção da Enamorata pela internacionalização é a Teoria

do ciclo de vida de Vernon (1979). Segundo esta Teoria, um produto pode estar num dos

quatro seguintes estágios: introdução, crescimento, maturidade ou declínio. Neste caso

específico, onde a internacionalização ocorre com o objetivo de escoamento de um produto

sazonal (produtos swimwear) pode-se afirmar que o produto se encontra na fase de declínio

no mercado português, e na fase de introdução num novo mercado. Assim sendo, através da

expansão internacional, a empresa combate o declínio das vendas no mercado doméstico

através da introdução deste produto num novo mercado que tem o potencial de aumentar as

suas vendas e os seus lucros.

Em relação a forma como se iniciou o processo de internacionalização, ambas as empresas

optaram pela exportação direta, através da qual elas vendem os seus produtos diretamente a

um importador localizado num mercado estrangeiro. É importante referir que o primeiro

contato da Empresa Enamorata com o mercado exterior foi realizado através de Feiras de

Moda que ocorreram em Paris e que permitiram a empresa encetar contatos com

distribuidores de vários países e iniciar o processo de internacionalização através da

exportação como já fora dito. Segundo esta empresa:

“(…) O nosso primeiro contato com os mercados externos ocorreu em Feiras de

moda realizadas em Paris. E foi a partir destas que começamos a ser contatados

por alguns importadores. A nossa primeira estratégia de entrada foi através da

exportação e para um distribuidor de França”.

A empresa Giliana, apesar de ter iniciado o seu processo de internacionalização através da

exportação direta, tem evoluído em relação à sua estratégia de entrada no mercado

caboverdeano tendo optado num período posterior a um modo de entrada com participação de

capital (investimento Greenfield). Tal como apontado por Cavusgil et al. (2010), a empresa

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111

salienta as vantagens de instalar uma filial no mercado-alvo como os benefícios fiscais

concedidos pelo governo estrangeiro (ver Apêndice IV), e também a possibilidade de ter o

controlo total dos assuntos da empresa como as decisões sobre novos produtos, o marketing e

a divulgação da marca, além da posse total dos lucros. Conforme afirma o Proprietário desta

empresa:

“ (…) 3 anos atrás efetuamos a nossa primeira exportação para Cabo Verde.

Ocorreu de forma bem-sucedida porém decidimos apostar mais neste mercado e

em 2012 abrimos uma Filial de vendas para ter um maior controlo e um maior

retorno financeiro. A falta de concorrência existente neste mercado no ramo de

têxteis permite-nos ter vantagens neste mercado”.

Esta evolução em termos de estratégia de entrada da empresa Giliana vai de acordo com as

premissas da Teoria de Uppsala segundo a qual a internacionalização das empresas dá-se de

uma forma progressiva e sequencial. Segundo este Modelo de análise do processo de

internacionalização, o aumento de comprometimento de uma empresa em relação a um novo

mercado exterior dá-se através de uma cadeia de estabelecimento formado por vários estágios

sucessivos que são ultrapassados pela empresa à medida que cresce o seu conhecimento sobre

esses mercados.

5.2.2. A seleção do mercado

Como defendem Papadopoulos et al. (1988) o processo de seleção de mercado pode, em

muitos casos, basear-se em fatores como experiências pessoais, crenças, ideologias dos

tomadores de decisão. E de facto, estes fatores tiveram influência no impulso inicial das

empresas constituintes da amostra em relação a seleção dos mercados para se realizar a

expansão internacional. A influência deste fator fica claro com a declaração do Gerente da

Giliana:

“Apesar de ter saído de Cabo Verde a 30 anos atrás, ainda me sinto ligado a esta

terra, e por isso, além do aspeto financeiro, sinto uma grande gratidão e vontade

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112

de investir neste país pois dessa forma sei que estou a contribuir para o

desenvolvimento da terra que me viu nascer(…)”.

As capacidades empreendedoras, os interesses e o conhecimento dos gestores acabam

influenciando a sua triagem sobre os vários mercados e a sua escolha do(s) mercado(s) que

mais podem satisfazer os seus objetivos. No entanto, tal como refere Leonidou et al. (2007)

oportunidades esporádicas e encomendas pontuais também podem influenciar uma atitude

reativa, principalmente, dos PME´s que têm poucos recursos e que esperam por estas

oportunidades para selecionar o mercado que ofereça as mesmas. A Empresária da Enamorata

refere exatamente isto:

“ Para uma empresa pequena como a nossa, fica complicado aventurar-nos e

gastarmos muitos recursos financeiros na procura e seleção de mercados. Por

isso, acabamos por efetuar as exportações quando aparecem encomendas de

distribuidores estrangeiros.”

A distância psíquica e geográfica explicada na Teoria de Uppsala também revela como estas

empresas realizam a análise de mercado e os fatores mais importantes na seleção dos

mercados. Johanson e Vahlne (1977) referem-se a este conceito como sendo definido pela

soma dos fatores como as diferenças na língua, na educação, nas práticas empresariais, na

cultura, e no desenvolvimento industrial que acabam influenciando as relações e uma maior

proximidade entre dois mercados. Neste caso específico sendo Cabo Verde uma ex-colónia

portuguesa com uma cultura muito influenciada pelos hábitos portugueses e com uma

aceitação generalizada dos produtos portugueses por parte da população caboverdeana, é de se

prever uma maior probabilidade de sucesso quando uma empresa portuguesa decidir entrar

neste mercado. Este fator relativo a aproximação cultural entre mercados explica o grande

interesse das empresas Enamorata e Giliana no processo de internacionalização para o

mercado caboverdeano. De acordo com esta última empresa:

“Há uma relação inegável entre os Países Africanos de Língua Portuguesa e

Portugal. É neste sentido, que queremos aproveitar estas semelhanças culturais,

na língua e no perfil de consumidores para entrar com força nos mercados

angolano e caboverdeano. Esperamos ter sucesso!”

Page 130: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

113

5.2.3. As especificidades do Processo de Exportação

A análise de todo o processo de exportação realizada pelas empresas em casos anteriores é de

extrema importância para a validação dos objetivos deste Relatório e para a implementação da

estratégia a ser seguida pela Enamorata no mercado de Cabo Verde pois permite a adaptação

de situações positivas e com desfecho favorável. Além disto, pode-se fazer uma análise

comparativa entre as duas empresas dado que a Giliana já está estabelecida neste mercado e já

tem um conhecimento de toda a logística de exportação que este mercado exige, bem como a

forma ideal de transporte das mercadorias. Conforme afirma o Empresário desta última

Empresa:

“ Uma das vantagens da relação entre o mercado caboverdeano e o português é

a frequência das ligações marítimas e aéreas entre estes países, o que permite o

cumprimento dos prazos estabelecidos para a entrega das encomendas. Outra

vantagem reside no facto dos sistemas legal, politico e burocrático serem

parecidos com os de Portugal, levando assim a resolução dos problemas com

mais agilidade”.

Este mesmo Empresário afirma, em relação ao meio de transporte utilizado nas exportações

para Cabo Verde, o seguinte:

“A Giliana utiliza a via marítima através de grandes contentores para exportar

os seus produtos finais a Cabo Verde. Esta forma justifica-se devido ao facto da

nossa Empresa enviar grandes quantidades de produtos trimensalmente, ou

quando o estoque neste país acaba. É, sem sombra de dúvidas, a forma que

envolve menos custos para se enviar os produtos”.

Já a Empresária da Enamorata salienta que:

“ O nosso Processo de Exportação ainda está numa fase incipiente, por isso, nas

três exportações realizadas até agora enviamos em média 100 produtos em cada

um destes negócios. Utilizamos algumas formas de expedição dos nossos

produtos, nomeadamente através da CTT e da empresa de transporte de

mercadorias pela via aérea UPS, e todas estas despesas de transporte foram

Page 131: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

114

incluídas na fatura comercial e o importador teve a responsabilidade de as

pagar. Em relação ao mercado caboverdeano, há muitas possibilidades de

ocorrerem viagens da nossa parte para apresentar a marca e fazer contatos com

possíveis clientes diretamente neste mercado”.

Relativamente aos métodos de pagamento, foram utilizadas pelas empresas as mais variadas

formas como o pagamento antecipado, o pagamento pessoal (através da deslocação do

importador até ao país da empresa exportadora, neste caso a Portugal) e a Conta aberta através

da qual o importador paga a mercadoria numa data posterior ao recebimento da mercadoria. A

Gerente da Enamorata afirma:

“ O método de pagamento a ser implementado neste mercado dependerá das

negociações desenvolvidas com o(s) importador(es) e da confiança adquirida ao

longo dos contatos comerciais realizados entre as partes. No entanto, é de

extrema valia, saber que as ligações entre Portugal e este país africano são

diárias facilitando, e muito, a logística dos contatos e dos negócios”.

5.2.4. Os obstáculos à Internacionalização

Devido ao facto da metodologia de pesquisa desenvolvida neste Relatório se basear em duas

empresas de pequena dimensão, as dificuldades que estas empresas sentiram no processo de

exportação acabam por coincidir com as mencionadas pelas pesquisas acadêmicas no ramo da

internacionalização. A análise do conteúdo das entrevistas permite detetar os principais

obstáculos sentidos pelas empresas Enamorata e Giliana para iniciarem o Processo de

Internacionalização como: a dificuldade na alocação de recursos, no financiamento para a

aquisição de matérias-primas e os custos inerentes a uma atividade além-fronteiras que

englobam as despesas com a deslocação aos países de destino, a contratação de recursos

humanos especializados na área de internacionalização, e os custos associados às pesquisas de

mercado e a divulgação da marca nos mercados exteriores.

Page 132: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

115

Este raciocínio da Empresária ligada a Enamorata comprova a existência destes obstáculos:

“De facto, o momento econômico desfavorável que se vive hoje em dia aliado aos

custos associados ao processo de internacionalização acaba funcionando como

obstáculos que poderiam ser amenizados com um maior apoio por parte do

Estado às PME’s. No entanto, isto não acontece e, por isso, tem de se fazer um

esforço pois a diminuição da procura interna acaba por fazer com que

procuremos outras soluções noutros mercados”

Uma outra dificuldade encontrada através da pesquisa de dados secundários como estatísticas

e dados econômicos fornecidos pela INE- Cabo Verde incide na grande concorrência

existente no mercado caboverdeano em termos de produtos de baixa qualidade porém com um

preço muito competitivo levando a que os produtos de luxo tenham de investir fortemente no

marketing e numa comunicação incisiva da marca para que possa atingir o seu target que seria

a classe média alta. A facilidade com que os produtos brasileiros e chineses entram neste

mercado acaba por funcionar como um entrave a entrada de produtos distintos e de luxo como

os produtos da Enamorata. Para a Gerente desta empresa:

“ A solução para este obstáculo está na adaptação do marketing-mix da nossa

Empresa a realidade caboverdeana. Estaremos dispostos a baixar o preço como

forma inicial de expansão da nossa marca neste país. Dessa forma, nos

tornaremos mais competitivos e poderemos aumentar as nossas vendas”.

Também são referidos pelas empresas, obstáculos ligados as barreiras tarifárias impostas

pelos governos dos mercados externos. Estas tarifas alfandegárias e impostos aduaneiros

aplicados pelos Estados levam a que o preço dos produtos exportados seja mais alto levando,

assim, a uma perda de competitividade face aos produtos nacionais destes mercados. Segundo

o Proprietário da Giliana:

“ São estes tipos de obstáculos que levaram a nossa Empresa a alterar a sua

estratégia de entrada: apesar de iniciar o processo de internacionalização

através das exportações, a empresa optou pela criação de uma filial de vendas

para usufruir de mais vantagens fiscais e ter uma maior margem de controlo

sobre o negócio e uma maior margem de lucro”.

Page 133: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

116

As dificuldades em termos das condições existentes no mercado caboverdeano também são

abordadas e corroboram também as premissas e objetivos deste Relatório segundo os quais a

melhor estratégia para a Empresa Enamorata passa pelo processo de exportações. O alto custo

de produtos essenciais como a água, a energia, e as telecomunicações devido a existência de

monopólios nas empresas que oferecem estes produtos, aliado ao facto da existência de

pouquíssimas indústrias levando a que “quase” tudo seja importado faz com que haja um

custo elevado na instalação da empresa neste mercado. Dessa forma, a estratégia que

acarretaria menos riscos e custos seria a exportação direta permitindo, assim, que a empresa

ultrapassasse estes obstáculos.

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117

VI- CONCLUSÃO

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118

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119

6. CONCLUSÃO

6.1. Implicações práticas do Relatório

Como já fora dito na parte inicial deste Relatório, a empresa Enamorata atua no segmento da

criação de moda de praia, há cerca de dois anos e meio, e está sediada em Vila do Conde. É

uma empresa vocacionada para a criação de moda de praia para Adulto e Criança. Foi

fundada em inícios de 2012, e, em 2013, lançou a sua primeira coleção de moda de praia para

adulto.

A empresa é um gabinete de trabalho onde é concebido e elaborado o design gráfico

associado as diversas criações de estampados (design têxtil) para cada coleção (Homem e

Senhora) e onde é elaborado também design de vestuário de cada coleção (fichas técnicas,

especificações, Ilustrações.

O processo de venda das coleções é feito através da vendedora que contata diretamente as

lojas, para a venda dos produtos desenvolvidos. As peças são colocadas nas lojas sob a forma

de venda a comissão, isto é, a empresa dedica-se a produção de bikinis e calções de banho e,

posteriormente, fornece estes produtos finais a algumas lojas estratégicas que, por sua vez,

recebem uma comissão pelos produtos vendidos.

O target da empresa Enamorata é um público de nível médio alto, pretendendo no futuro

concorrer com marcas consideradas de luxo. No atual mercado globalizado para um produto

ser considerado de luxo, e vendido como tal, é necessário que seja produzido com materiais

de elevada qualidade, que as peças sejam confecionadas de um modo irrepreensível e que a

sua própria imagem transmita uma ideia de requinte e exclusividade. Nesta perspetiva a marca

Enamorata tem como objetivo a produção de produtos de qualidade superior e fazer parte do

grupo das marcas de prestigio 100% portuguesas.

No contexto da crise econômica que tem assolado Portugal e a Europa, as empresas começam

a procurar novos mercados para compensar o abrandamento da procura interna. É neste

sentido que surge o interesse da Enamorata em expandir-se para o mercado caboverdeano, e

para isso seria necessário uma análise deste mercado como forma de se perceber a viabilidade

Page 137: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

120

e a estratégia a se adotar para que se consiga uma internacionalização sólida e bem-sucedida

para este mercado específico.

Esta análise terá de levar em conta as características da população caboverdeana e da sua

procura; o nível de emprego, alfabetização e do poder de compra; o comportamento do

consumidor. Sendo Cabo Verde um país insular, é necessário também analisar bem quais as

ilhas que oferecem maiores benefícios para os produtos swimwear.

Cabo Verde é um país com cerca de 500.000 habitantes distribuídos de forma desigual por 10

ilhas. A estratégia de venda dos Produtos da Enamorata deverá incidir-se sobre as ilhas de

Santiago, São Vicente, Sal e Boavista pelo fato destas ilhas constituírem 78,3% da população

total do país o que se explica pelo aumento do êxodo rural e pelo fato de nestes centros

urbanos se concentrarem as melhores oportunidades de emprego e serviços tanto públicos

como privados. Outro fato que beneficia estas ilhas é a existência de portos alfandegários

desenvolvidos, além da existência de uma população com um maior poder de compra e mais

vulnerável aos produtos de luxo e de alta qualidade como são os produtos swimwear da

Enamorata.

Um outro detalhe muito importante e que deve ser tido em conta é a alta taxa de alfabetização

da população caboverdeana, o que pode indiciar uma maior sensibilidade a produtos distintos

e diferenciados. De acordo com uma pesquisa realizada pela INE em 2013 a taxa média de

alfabetização da população com 15 anos ou mais em Cabo Verde é de 82,8%. Outro fato que

reforça a hipótese dos mercados-alvo elaborada no parágrafo anterior relaciona-se com as

taxas de alfabetização existentes nas ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Boavista que são

89%, 86%, 92% e 90% respetivamente. Portanto, estas quatro ilhas têm as mais altas taxas de

alfabetização do país, o que as leva a ter uma sociedade mais instruída, com uma maior

capacidade de seleção e mais sensível a marcas/produtos novos.

Um segmento do mercado que pode ser explorado pela Enamorata são os turistas pois a oferta

turística em Cabo Verde tem-se baseado no monoproduto sol e praia e toda a estratégia de

marketing e comunicação utilizada pelos canais turísticos focam-se no turismo balnear já que

o país só tem uma estação: o verão, e a média da temperatura nos meses mais frios (Dezembro

e Janeiro) ronda os 16 graus, e nos outros meses ronda os 27 graus. Estas condições naturais

específicas, a par de uma cultura marcante e diversificada e de uma história rica, constituem

um dos mais importantes atrativos do país no que diz respeito à sua competitividade como

destino turístico. Ao longo dos últimos anos tem havido um aumento do número de turistas

Page 138: Dery Delson Cardoso Andrade.pdf

121

em Cabo Verde fruto de uma oferta mais qualitativa de hotéis e resorts e de infra-estruturas

realizadas pelo governo caboverdeano na área das telecomunicações e dos transportes. Além

disto, a crise económica mundial veio reforçar os destinos mais baratos como o caboverdeano

que devido a taxa de câmbio fixa da sua moeda em relação ao euro permite que a moeda

europeia se mantenha valorizada. Tudo isto vai totalmente de acordo com o propósito dos

produtos da Enamorata que se destinam exclusivamente a moda banho e colocam os hotéis e

resorts (através dos Gift shops e Boutiques) como importantes canais de distribuição destes

produtos, que poderão ser exploradas por esta empresa.

O crescimento da classe média e a progressiva alteração de hábitos de consumo fruto do

aumento de pessoas com ensino superior concluído (cerca de 7,5% da população total de CV)

e do aumento do salário das pessoas com ensino superior, conjugado com o desenvolvimento

do setor do turismo gera oportunidades de investimento para novas empresas/marcas e uma

maior sensibilidade a produtos de luxo que são elásticas a renda. A este ambiente mais

favorável a empresa Enamorata também não é alheio o facto de haver uma grande parte de

pessoas que concluíram o estudo superior em Portugal e que, por isso, estão muito

familiarizados e têm uma grande aceitação em relação aos produtos portugueses. Dessa

forma, estarão reunidas as condições para que a Enamorata desenvolva uma comunicação

virada para a classe média/classe média alta, devendo, no entanto, estabelecer um preço mais

baixo do que o praticado no mercado português como forma de se adaptar à intensa

concorrência dos produtos swimwear provenientes do mercado brasileiro.

Feita a análise sobre o mercado caboverdeano e as caraterísticas e potencialidades do mesmo

que podem ser exploradas pela empresa Enamorata, passaremos a fase da delineação da

estratégia adequada aos recursos que dispõem a Empresa, aos desígnios da CEO Fátima Costa

e às oportunidades do mercado-alvo que, ao serem abordadas, possam levar a um processo

bem-sucedido de internacionalização.

Como relatado pela CEO Fátima Costa na entrevista, a empresa agiu no mercado angolano

através de um Agente que atuava neste mercado com o objetivo de dar a conhecer a

população local a marca Enamorata. Este agente trabalhava em parcerias com revistas fashion

e da socialite angolana, além de patrocinar os vários concursos Miss que são culturalmente

enraizados tanto nos hábitos angolanos como caboverdeanos. Portanto, a empresa Enamorata

aproveitou o bom posicionamento e as relações privilegiadas que o Agente tinha junto dos

media “cor-de-rosa” e junto dos organizadores de concursos de beleza, para começar a ser

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122

conhecida e valorizada no mercado angolano. Este processo de implantação da marca neste

mercado durou 1 ano e após este tempo a empresa Enamorata começou a receber pedidos de

encomendas de algumas Boutiques e Lojas de roupa.

No caso do mercado caboverdeano e dado as semelhanças do perfil de consumidor deste

mercado em relação ao angolano, e dado a existência bem-sucedida de vários concursos de

Miss também neste país, optou-se por se delinear uma estratégia em alguma parte semelhante

a realizada em Angola, mas levando em conta as especificidades de um mercado de dimensão

menor, com uma população com rendimento menor, mas por outro lado, com um número de

turistas maior do que o existente em Angola.

Dada a pequena dimensão e os recursos atuais da Enamorata, os modos de entrada com

elevado controlo e risco financeiro não foram considerados, estando colocados de parte

qualquer modo de entrada com participação de capital. Dessa forma, o modo de entrada

escolhido pela Enamorata baseou-se no estabelecimento de operações internacionais em que a

empresa não estabelece uma presença no estrangeiro através da criação ou aquisição de uma

unidade independente. Assim, o modo de entrada escolhido foi a exportação direta que

permite um baixo comprometimento de recursos e um risco baixo. Como já tinha sido

referido neste Relatório, a exportação direta ocorre quando um produtor ou exportador vende

diretamente os seus produtos a um importador ou comprador localizados num mercado

estrangeiro.

Através da análise do mercado caboverdeano, conseguiu-se estabelecer uma rede de contatos

entre a Enamorata e algumas empresas, dentre as quais o Hotel Luar através do seu Gerente, o

Sr. Danielson Andrade que será o representante exclusivo da marca Enamorata no mercado

caboverdeano. Portanto, o Empresário Danielson Andrade será o distribuidor local

independente que importará os produtos da Enamorata e fará a sua distribuição para os

retalhistas e consumidores finais. Este importador conhece bem o mercado caboverdeano e

movimenta-se com facilidade no mesmo, tem um grande conhecimento e detém uma rede de

contatos em relação aos maiores Hotéis de Cabo Verde e às Boutiques razão pela qual

conseguiria a colocação com facilidade em vários pontos do país.

Este cliente negociará os preços com a Enamorata, comprará os produtos, assumirá os riscos

associados ao crédito e tratará da logística de distribuição dos produtos até ao cliente final. A

estratégia da Enamorata passaria, então, pela simples exportação dado que esta apresenta um

risco baixo em que uma eventual perda se limitaria ao valor da mercadoria transportada. A

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123

opção por este distribuidor no mercado caboverdeano reduz o grau de risco e incerteza da

Enamorata, pois a abertura de uma filial de vendas, apesar de permitir um maior controlo e

um maior retorno, exigiria um maior investimento e um maior comprometimento de recursos

e, consequentemente, um risco maior.

Outra desvantagem da exportação direta é que ela não permite a empresa Enamorata controlar

como a marca é apresentada aos consumidores caboverdeanos. Apesar de haver um baixo

risco financeiro, há um maior risco de mercado devido ao facto de que todas as decisões sobre

como os produtos serão apresentados no mercado-alvo, sobre os níveis de preço, os canais de

distribuição e as campanhas de publicidade são da exclusiva competência do importador.

Um dos fatores a levar em conta neste processo de exportação é a vantagem dos produtos da

Enamorata terem um peso relativamente baixo (bikinis, fatos de banho, calções de banho) o

que permite uma logística de transporte com custos baixos. A condição de pagamento

acordada entre as empresas é o pagamento antecipado dado a que o valor não seria muito alto.

Além disto, a relação entre as empresas é ainda incipiente e ainda não existe um histórico

longo de negociações entre as mesmas o que leva a que a Enamorata opte por uma forma de

pagamento que envolva menos riscos para a empresa.

A Enamorata será a responsável de todo o processo de transporte desde Portugal até ao porto

marítimo da Praia e o custo de transporte e de seguro é sempre introduzido na fatura. Esta

empresa após a análise do pedido a ser feito pelo importador, verificará o stock existente e as

quantidades necessárias. Neste caso, o importador negociou com a empresa a compra das

peças restantes da Coleção de 2013 para conseguir obter um preço mais baixo dado que

existia o risco da marca ainda não ser conhecida em Cabo Verde. Dessa forma, haveria

vantagens reciprocas: a Enamorata vendia peças de swimwear do ano de 2013, que tiveram

pouca saída e que foram ultrapassadas em termos de moda e design pelas peças atuais da

Coleção 2014; e por outro lado, o importador conseguia um preço competitivo por um

produto que, mesmo pertencendo à Coleção 2013, seria uma novidade e poderia ter um

impacto grande no mercado caboverdeano. Esta vantagem recíproca poderia ser explicada

pela Teoria do Ciclo de vida do Produto sem, no entanto, envolver a vertente da

deslocalização da produção. Segundo esta Teoria, um produto pode estar num dos quatro

estágios propostos por Vernon: introdução, crescimento, maturidade ou declínio. Neste caso

específico, os produtos da Enamorata da Coleção 2013 encontram-se na fase de declínio no

mercado português, isto é, nessa fase estes produtos ficam obsoletos e são

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124

gradativamente substituídos pelas peças da Coleção 2014. Eles também são retirados do

mercado ou a sua distribuição e fabricação são reduzidas. Por outro lado, estes produtos

pertenceriam a fase de introdução no mercado caboverdeano, razão pela qual haveria boas

hipóteses de constituírem boas vendas e lucros para o importador.

A Enamorata após acordar o contrato de venda com o importador, teria de calcular o peso e a

dimensão da encomenda, para depois solicitar um orçamento aos vários transitários para o

transporte desde a origem (Porto) até o destino final (Praia) e o valor do seguro. Após a

análise da melhor oferta em relação ao transporte da mercadoria, é feita a fatura pró-forma e é

acordada a forma de pagamento, que como já fora dito será o pagamento antecipado.

É de realçar que na negociação com o importador, este exigiu uma amostra dos produtos que

consistia no envio por parte da Enamorata de 12 peças de bikinis que seriam utilizados pelo

importador no processo de divulgação e expansão da marca em Cabo Verde. Estas peças

seriam utilizadas no patrocínio de Concursos Miss que iriam se realizar na cidade da Praia.

Estes Concursos são os seguintes:

- Miss Interliceu 2015: um concurso realizado com 12 concorrentes de idade compreendida

entre 15 a 18 anos. Estas concorrentes seriam as vencedoras e vice-vencedoras dos Concursos

de Miss realizados nas 6 principais Escolas Secundárias da Cidade da Praia. A data prevista

para este concurso seria no mês de Maio/2015;

- Miss Ilha de Santiago 2015: um concurso realizado com 12 concorrentes representantes de

vários concelhos e cidades da principal Ilha de Cabo Verde, a Ilha de Santiago, para se apurar

a Miss Santiago e a representante desta Ilha no maior Concurso Miss do país, o Miss Cabo

Verde. A data prevista para este concurso seria no mês de Agosto/2015;

- Miss Cabo Verde 2015: é o maior Concurso Miss do país. Conta com a presença de muitas

marcas e patrocínios, bem como a apresentação na Televisão de Cabo Verde. Neste concurso

participam 9 concorrentes representantes das 9 ilhas habitadas do país, já que apesar de

existirem 10 ilhas em Cabo Verde, uma ilha é inabitada ( a ilha de Santa Luzia). Este

concurso permitiria um conhecimento da marca Enamorata em todas as ilhas, e por uma

grande parte da população.

A empresa acordou o envio desta quantidade de bikinis, sendo o transporte e o seguro por

conta do importador. Neste caso, como em Novembro de 2014 o importador conseguiria um

portador para esta mercadoria pela via aérea, ficou-se acordado que o portador viria a Braga

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125

para tomar a mercadoria na Empresa Enamorata e levá-la até a cidade da Praia. Este foi o

primeiro passo no processo de exportação entre a Enamorata e o importador e distribuidor em

Cabo Verde.

Outro aspeto relevante tem a ver com o contato privilegiado que o importador tem com a

revista de celebridades “Uhau!” e a revista de moda “So what?”. Esta relação permite uma

forma de divulgação da marca Enamorata bastante incisiva e adequada, já que através da

revista de moda pode-se divulgar um produto com design sofisticado, de luxo e que é uma

novidade no mercado caboverdeano. Através da revista de celebridades, pode-se atingir a

classe média e a classe média alta que normalmente são as classes atingidas por este tipo de

revistas e é extremamente adequado para se divulgar um produto luxuoso e de classe como é

o produto da Enamorata.

Outro canal importante que pode ser utilizado na divulgação da marca Enamorata e que foi

sugerido pelo importador seria uma parceria com a Dirce Lima, que é uma das mais

conceituadas Consultoras de imagem em Cabo Verde e que tem um Programa de moda na

Televisão de Cabo Verde. Através da sua capacidade de influência no ramo da moda, a Dirce

Lima poderia ser uma mais-valia num momento crucial e importante que é o momento da

introdução da marca neste novo mercado. Ícones da moda têm sempre um grande peso na

divulgação de produtos novos num mercado pois transmitem confiança aos clientes em

relação a qualidade destes produtos.

A estratégia formulada para a internacionalização da Enamorata para o mercado

caboverdeano permitirá uma acumulação de conhecimento e experiência que levarão a uma

melhoria desta empresa em termos dos seus recursos humanos, produtivos e financeiros, além

deste mercado funcionar como uma “porta de entrada” para outros mercados africanos dado

que as facilidades e as boas relações institucionais entre Cabo Verde e Portugal permitem a

Eamorata uma expansão com menor possibilidade de riscos e a possibilidade do

aproveitamento das boas relações comerciais de Cabo Verde com Guiné-Bissau, São Tomé e

Senegal, para abrir novas perspetivas e quiçá beneficiar de novos mercados e oportunidades

de expansão.

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APÊNDICES

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APÊNDICE I- Pauta Aduaneira de Cabo Verde ( Pág. 123)

Código Nac. Designação das mercadorias UC CL DI ICE IVA

61.10 Camisolas e pulôveres, “cardigans”, coletes e artigos semelhantes, de malha. - De lã ou de pêlos finos 6110.11.00 00 -- De lã u C 30 15 6110.12.00 00 -- De cabra de Caxemira u C 30 15 6110.19.00 00 -- Outros u C 30 15

6110.20.00 00 - De algodão u C 30 15 6110.30.00 00 - De fibras sintéticas ou artificiais u C 30 15 6110.90.00 00 - De outras matérias têxteis u C 30 15

61.11 Vestuário e seus acessórios,de malha, para bebés. 6111.20.00 00 - De algodão kg C 30 15 6111.30.00 00 - De fibras sintéticas kg C 30 15 6111.90.00 00 - De outras matérias têxteis kg C 30 15

61.12 Fatos de treino para desporto,fatos-macacos e conjuntos de esqui, malhôs,biquinis, calções (“shorts”) e “slips”, de banho, de malha. - Fatos de treino para desporto: 6112.11.00 00 -- De algodão u C 20 15

6112.12.00 00 -- De fibras sintéticas u C 20 15 6112.19.00 00 -- De outras matérias têxteis u C 20 15

6112.20.00 00 - Fatos-macacos e conjuntos de esqui u C 20 15

- Malhôs, calções (“shorts”) e “slips”, de banho, de uso masculino: 6112.31.00 00 -- De fibras sintéticas u C 20 15 6112.39.00 00 -- De outras matérias têxteis u C 20 15

- Malhôs e biquínis de banho, de uso feminino: 6112.41.00 00 -- De fibras sintéticas u C 20 15 6112.49.00 00 -- De outras matérias têxteis u C 20 15

6113.00.00 00 Vestuário confeccionado com tecidos de malha

das

kg C 20 15

posições 5903, 5906 ou 5907. 61.14 Outro vestuário de malha. 6114.20.00 00 - De algodão kg C 20 15 6114.30.00 00 - De fibras sintéticas ou artificiais kg C 20 15

6114.90.00 00 - De outras matérias têxteis kg C 20 15

61.15 Meias-calças, meias de qualquer espécie e artefactos semelhantes, incluindo as meias-calças e meias de qualquer espécie de compressão degressiva(por exemplo, as meias para varizes), de malha.

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130

6115.10.00 00 - Meias-calças e meias de qualquer espécie de kg C 20 15

compressão degressiva(p.ex. as meias para varizes) - Outras meias-calças: 6115.21.00 00 -- De fibras sintéticas, com menos de 67 decitex, por kg C 20 15

fio simples 6115.22.00 00 -- De fibras sintéticas, com 67 decitex ou mais, por kg C 20 15

fio simples 6115.29.00 00 -- De outras matérias têxteis kg C 20 15

6115.30.00 00 - Outras meias até ao joelho e meias acima do joelho, kg C 20 15

de senhora com menos de 67 decitex por fio simples - Outros 6115.94.00 00 -- De lã ou de pelos finos kg C 20 15 6115.95.00 00 -- De algodão kg C 20 15

6115.96.00 00 -- De fibras sintéticas kg C 20 15

6115.99.00 00 -- De outras matérias têxteis kg C 20 15

Nac. - Desdobramentos nacionais

UC - Unidades de medida utilizada na quantificação da mercadoria u - unidade | kg - kilograma

CL - Classe da mercadoria C - Bens de consumo

DI - Direitos de Importação

ICE - Imposto de Consumo Especial

IVA - Imposto sobre o valor acrescentado

Quadro 19 – Pauta Aduaneira de Cabo Verde – Parte que incide sobre os produtos exportados pela

Enamorata ( Fonte: Alfândegas de Cabo Verde, página 123 da Pauta Aduaneira)

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131

APÊNDICE I I– GUIÃO DAS ENTREVISTAS

2. ENTREVISTA

2.1. Identificação do entrevistado e sua respetiva função na Empresa

2.2. Descrição da Empresa

- Nome

- Morada

- Breve História e Inicio de atividade

- Características dos produtos da Empresa

- Nº de Trabalhadores

- Valores, Missão, Visão e Objetivos da Empresa

2.3. Processo de Internacionalização

- Motivações e Determinantes da Internacionalização

- Forma ou Estratégia inicial de Internacionalização

- Quando ocorre o 1º Processo de Exportação da Empresa?

- Fatores determinantes para o impulso da Exportação?

2.4. Análise dos mercados

- Quais os mercados para o qual a Empresa já exportou os seus produtos?

- Ocorreu um estudo de mercado que levou a seleção destes mercados específicos ou

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132

a exportação surgiu como reação a encomendas esporádicas provenientes deste mercado?

2.5. O Processo de Exportação

- Análise detalhada da forma como ocorreu a Exportação ( direta ou indireta, através de

agentes, filiais, distribuidores, broker, ou através de outras formas)

- Documentação envolvida no Processo de Exportação, a logística de exportação e o

transporte, os métodos de pagamento utilizados

2.6. Obstáculos à Internacionalização

- Os principais obstáculos sentidos no processo de internacionalização

- Há uma relação entre os possíveis obstáculos que poderão ser encontrados num

determinado mercado e a estratégia de entrada a ser adotada?

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133

APÊNDICE III – SÍNTESE DA ENTREVISTA À ENAMORATA

A empresa Enamorata foi fundada em Vila do Conde no inicio de 2012 e tem a sua primeira

aparição pública na participação na gala “Namorar Portugal” em Vila Verde (Braga), durante

o mês de Fevereiro (mês do romance), com uma coleção baseada no tema dos lenços dos

namorados. O nome “Enamorata” significa enamorado em inglês mas com a troca do "i" pelo

"e", seguindo a tradição de erro ortográfico traduzida nos referidos lenços. A entrevista a esta

empresária ocorreu em 17 de Setembro de 2014 entre as 15:00 e as 18:00, pois seria de

extrema importância após o estágio realizado em conjunto na empresa Amazing Ideas e na

Enamorata, confirmar as informações recebidas durante este estágio, analisar as perceções e

ideias da CEO desta Empresa, e o seu interesse e disponibilidade para que se desenvolvesse a

estratégia de entrada no mercado caboverdeano, estratégia esta elaborada através deste

Relatório nos últimos 6 meses (desde o fim do estágio em Março/2014 até Setembro/2014)

após a análise do mercado caboverdeano, dos possíveis canais de distribuição e do contato

privilegiado com um empresário que tem todo o interesse em iniciar o processo de importação

dos produtos da Enamorata.

Na entrevista, a empresária reiterou que a Enamorata é uma empresa que se dedica à criação,

produção e distribuição de coleções próprias de swimwear para homem e senhora. É uma

instituição jovem que se inspira nas tradições e cultura portuguesas, que incentiva o espirito

de iniciativa, a criatividade e fomenta a curiosidade e irreverência de modo a possibilitar a

criação de peças únicas e diferentes. As coleções da Enamorata são concebidas a pensar em

pessoas independentes, amantes da vida e do estilo urbano, além de ter em conta a qualidade e

o conforto dos materiais, possibilitando a combinação das peças de diferentes formas

assumindo papéis versáteis, tudo com criação e produção 100% “Made in Portugal”.

Segundo a entrevistada: “ Queremos apaixonar os nossos clientes pela singularidade, os

nossos colaboradores pela excelência e os nossos parceiros pelo compromisso”. A Enamorata

tem como objetivo ser uma marca portuguesa de referência, diversificar mercados e aumentar

a notoriedade aos olhos dos seus clientes, colaboradores e parceiros. Em relação ao público-

alvo, a marca está direcionada para a classe média-alta, que exige sofisticação e singularidade,

com particular atenção ao fitting, design e qualidade dos materiais. Todas as peças são

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134

concebidas de maneira a realçar as formas femininas, incorporando materiais de ponta e

elementos romanticamente sensuais.

A gerente da Enamorata também refere que os seus produtos são elaborados de tecidos

inovadores de alta qualidade, amigos do ambiente e com um excelente poder de compressão,

resistência e proteção UV. Em relação ao preço, há a linha casual swimwear que é uma linha

para as mulheres sofisticadas e cosmopolitas, que cuidam da imagem e procuram produtos

distintos e cujo preço varia de 70€ a 110€. Uma outra linha, a swimgerie que é uma linha

exclusiva de swimwear com foco nos detalhes para os amantes do estilo urbano que queiram

destacar-se da multidão e cujo preço varia entre 200€ a 270€.

O interesse da empresa para a internacionalização começou a aparecer em Julho de 2013 com

a Feira Internacional “Mode City” que ocorreu em Paris e que reuniu artesãos internacionais e

especialistas em tecidos, com fabricantes de roupa internacionais na indústria de trajes de

banho e lingerie. Esta Feira tem um grande alcance pois os seus convidados chegam do

mundo todo e de vários setores diferentes como: lingerie, confeção, alta costura, bodywear,

roupa desportiva. Através da organização de eventos de moda como desfiles de moda de

lingerie e swimwear, fórum e conferências, esta Feira permite que as empresas exponham os

seus produtos e atraiam compradores internacionais. A Enamorata, devido ao sucesso da sua

participação em 2013, foi convidada a participar também neste ano tendo sido selecionadas

peças para o fórum de tendências nos dois anos e neste último ano a empresa teve destacados

um conjunto de mulher e outro de homem para o desfile “The selection”.

Em relação ao processo de internacionalização que é a parte que mais interessa para o

objetivo deste Relatório, a Proprietária da empresa reiterou que este processo se encontra

ainda numa fase incipiente dado que só neste ano é que começaram a se interessar mais por

esta estratégia de expansão. No mês de Julho é que ocorreu o primeiro processo de exportação

para França, após a participação bem-sucedida na Feira “Mode City”. Ainda no território

francês, a empresa foi contatada pessoalmente por um distribuidor de produtos swimwear que

mostrou interesse na compra de 100 peças. Através do Catálogo da empresa, o importador

francês escolheu as peças, e a Enamorata contatou o seu armazém para confirmar se teria esta

quantidade disponível. Após esta confirmação, a empresa concordou em enviar a mercadoria

via CTT Expresso dentro de 1 semana sendo que o custo do envio seria colocado na fatura

comercial juntamente com o custo da mercadoria. A fatura comercial, no comércio

internacional, é um documento que deve ser emitido pelo exportador no idioma do

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135

importador, e deve conter, para além das informações habituais de qualquer fatura comercial,

informações específicas, conforme exigido pela legislação do país importador. O método de

pagamento acordado entre a Enamorata e o importador francês foi uma Conta aberta, em que

este paga a mercadoria numa data posterior ao recebimento da mesma. Esta primeira

experiência ocorreu de forma exemplar, com a mercadoria a chegar ao destino na data

prevista e o pagamento a ser feito via transferência bancária no dia posterior a data de

recebimento.

No caso especifico de Angola, houve um maior interesse na entrevista para que a empresária

abordasse detalhadamente este processo de exportação pois poderia ser um modelo a ser

seguido no caso da internacionalização para Cabo Verde devido às semelhanças em termos do

perfil do consumidor e dos hábitos culturais entre este país e Angola. O contato com o

mercado angolano ocorreu no ano de 2013 através de uma parceria com uma agente que

atuava neste mercado em representação da marca Enamorata. Esta agente, através da sua rede

privilegiada de contatos, consegue ter alguma influência no mundo da moda além de ter um

contato direto com vários distribuidores, o que veio a ser uma grande mais-valia para o

processo de internacionalização. Esta parceira comercial da Enamorata tem boas relações com

duas das maiores revistas de celebridades de Angola, a “Chocolate” e a “People” e, por isso,

conseguiu divulgar a marca através de artigos de opinião e de publicidades nestas revistas.

Além disso, este agente é a interlocutora dos Concursos de Miss e conseguiu junto da empresa

Enamorata o patrocínio de biquinis (cerca de 15 peças) que foram usadas pelas concorrentes

em 2 grandes concursos que tiveram grande projeção em Angola fazendo com que a marca

fosse conhecida e admirada neste mercado. Passado 1 ano do inicio da divulgação da marca, a

agente representante da Enamorata em Angola começou a despertar a atenção de alguns

distribuidores de bikinis e fatos de banho, sendo que em Setembro de 2014, ocorreu a

primeira encomenda de 120 peças de produtos swimwear. O importador como viajava

frequentemente para Portugal, numa das suas viagens se deslocou a Vila do Conde para

comprar pessoalmente a mercadoria e a levar para Angola. Por isso, a exigência foi mínima

(apenas a fatura comercial) e o método de pagamento foi o pagamento de forma pessoal, após

o qual o importador recebeu a mercadoria. Os contatos do agente neste mercado continuam a

ocorrer, e a empresa Enamorata perspetiva novas encomendas num futuro próximo.

O outro caso de internacionalização ocorreu para o Chile em Outubro de 2014. O distribuidor

chileno conheceu a marca Enamorata na Feira “Mode City” e ficou com o contato da empresa

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136

para uma futura negociação que acabou por ocorrer no início de Outubro/2014. O importador

fez a escolha das peças que pretendia e informou a Enamorata uma encomenda de 100 peças.

Esta, por sua vez, confirmou a capacidade de enviar a encomenda no tempo estabelecido pelo

importador chileno e acordou com este o método de pagamento antecipado pela falta de um

historial de negócios sólido que permitisse uma maior confiança e um método de pagamento

diferente. Dessa forma, a Enamorata recebeu o pagamento antecipado em USD e via

transferência bancária e no qual se incluía o valor do transporte aéreo via empresa UPS

(forma de transporte exigida pelo distribuidor chileno). Depois de recebido o pagamento, a

Enamorata então embalou a mercadoria e enviou para o endereço da empresa chilena através

da empresa UPS que é atualmente a maior empresa de distribuição de pacotes do mundo e é

líder na prestação mundial de serviços especializados de transporte e logística.

A finalizar a entrevista, a gerente da Enamorata sublinhou o seu grande interesse em repetir os

processos de internacionalização que já ocorreram e com grande sucesso, no mercado

caboverdeano apesar de reconhecer que este mercado tem menor dimensão e tem

características especificas que devem ser levadas em conta no processo de expansão para este

mercado.

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137

APÊNDICE IV – SÍNTESE DA ENTREVISTA À GILIANA

A entrevista a empresa Giliana aconteceu numa das suas fábricas situadas em Mesão Frio,

Guimarães, no dia 18 de Junho de 2014 entre as 14 horas e as 16:30 horas. A sua empresa,

para além desta fábrica que tem 150 trabalhadores, tem mais uma fábrica em Vila Verde

(Braga) com cerca de 50 trabalhadores que se destina somente à produção. Esta Empresa

têxtil foi fundada em 1982 e na altura era uma empresa familiar dedicada ao fabrico de

camisas que produzia apenas para o mercado nacional. Em 1986, o compromisso com a

qualidade e a inovação conduz a Giliana à um processo novo de confeção de camisas,

destacando-se dos seus concorrentes nacionais e expandindo-se para o mercado internacional.

A esta altura cerca de 90% da produção desta empresa se destinava à exportação para a

Europa, EUA e para a África.

Nesta entrevista, o proprietário desta Empresa destacou que é a política da Giliana fornecer

aos seus clientes, produtos e serviços da mais alta qualidade, que sob todos os aspetos estejam

em conformidade com as especificações, padrões de qualidade e requisitos regulamentares

aplicáveis. O proprietário desta empresa também defendeu que a sua empresa procura

continuamente a melhoria da qualidade dos serviços através dos seguintes compromissos: i)

preocupação na produção de produtos que satisfaçam as necessidades dos nossos clientes

superando as suas expetativas no que diz respeito à qualidade; ii) formar e sensibilizar os

colaboradores para uma participação ativa na dinamização do processo de gestão da

qualidade, assegurando que todos promovem a melhoria contínua e eficaz da empresa; iii)

estabelecer relações de parceria rigorosas e justas com os fornecedores; iv) ter uma atuação

responsável perante o ambiente e a sociedade em geral.

O empresário após a apresentação da sua empresa, passou a abordar o processo de

internacionalização que realizou em 2011 para o mercado caboverdeano. Ele afirma que o

modo de entrada escolhido para o mercado caboverdeano foi a criação de uma loja, ou seja,

uma filial comercial de vendas. Segundo Welch et al. (2007), esta estratégia de entrada

assegura a empresa-mãe o controlo total sobre todo o processo de tomada de decisão que

ocorre naquela empresa, quer seja sobre as suas politicas e estratégias, quer seja sobre ativos-

chave que são transferidos para a subsidiária tais como a tecnologia e o know-how. Segundo o

gerente, a loja foi estabelecida no Centro da cidade da Praia em 2011 e o seu objetivo era

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138

fornecer peças de roupa de qualidade para que as pessoas tivessem uma oportunidade de

vestir de forma clássica.

Na entrevista, o gerente enfatizou que este empreendimento deparou-se com alguns

problemas como o facto de haver muitos gastos com produtos essenciais como a água, a

energia, e as telecomunicações pois devido a existência de monopólios nas empresas que

oferecem estes produtos, o preço dos mesmos mantém-se alto. Além disso, há o problema de

quase tudo ser importado no mercado caboverdeano e a existência de pouquíssimas indústrias,

o que faz com que o nível de preços seja alto. Dessa forma, é preferível uma filial de vendas

do que uma filial de produção, dado que a aquisição de matérias-primas para a produção teria

um custo elevado e não permitiria ter um preço final competitivo que é o que acontece no

caso da nossa empresa que importa os produtos da empresa-mãe em Portugal e os revende ao

cliente final em Cabo Verde.

O empresário aponta ainda as taxas alfandegárias que são impostas aos seus produtos pois

alerta pelo facto de ele ser um exportador e um importador ao mesmo tempo, isto é, a sua

empresa que tem a base em Guimarães produz as peças de vestuário que envia pela via

marítima para Cabo Verde onde ele tem de retirar a mercadoria e pagar as respetivas taxas

aduaneiras. Nesse sentido, ele tem de pagar cerca de 40% sobre o valor aduaneiro do produto

(que é o valor da mercadoria+ Frete+ Seguro) e ainda 15% que é o valor do IVA. Por outro

lado, o entrevistado aponta para vantagens que a sua empresa tem e que decorre da legislação

caboverdiana conceder isenção de tributação para os dividendos e lucros distribuídos ao

investidor e que sejam provenientes de investimento externo, nas seguintes condições:

- Durante um período de 5 anos contado a partir da data do registo do investimento;

- Sempre que os referidos lucros tenham sido reinvestidos, nos termos da lei, na mesma ou

noutra atividade económica em Cabo verde.

Após o período de isenção, caso os lucros não forem reinvestidos, ser-lhe-á aplicada uma taxa

de imposto único de 10%. Estes incentivos não se aplicam aos investimentos cuja produção se

destina ao mercado interno.

O gerente da Giliana ainda defende que o governo caboverdeano deveria dar mais incentivos

para que houvesse mais investimento externo principalmente nas indústrias que é a área onde

o país é mais carente. Ele também aposta muito no marketing da sua marca através do

Apresentador Giordano Custódio que veste normalmente os fatos da marca Giliana no seu

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139

programa televisivo “Nha terra, Nha cretchéu” que é transmitido uma vez por semana na RTP

África.

O entrevistado da Empresa Giliana aponta também para uma queda das vendas neste ano de

2014 fruto da crise mundial que afeta o mercado caboverdeano que é dependente do turismo e

da remessa de emigrantes. Contudo, aponta o seu amor por Cabo Verde e a vontade de ver o

seu país a desenvolver como alguns dos motivos que levam a que ele continue a investir no

país e a acreditar que existe muita potencialidade neste mercado. Tem expetativa na melhoria

e no aumento dos lucros para que possa expandir o seu negócio em Cabo Verde e contribuir

para o desenvolvimento econômico e o aumento do investimento externo no país, criando

mais postos de trabalho e oferecendo um produto de alta qualidade aos seus clientes.

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140

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