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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANSETOR DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS
MESTRADO EM CONTABILIDADE
MOACIR JOS SOARES
GESTO TRIBUTRIAUM ESTUDO SOBRE A PRTICA DE PLANEJAMENTO
TRIBUTRIO ADOTADA POR INDSTRIAS PARANAENSES
CURITIBA
2008
MOACIR JOS SOARES
GESTO TRIBUTRIAUM ESTUDO SOBRE A PRTICA DE PLANEJAMENTO
TRIBUTRIO ADOTADA POR INDSTRIAS PARANAENSES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Contabilidade, como requisitoparcial obteno do grau de Mestre emContabilidade, Setor de Cincias SociaisAplicadas, da Universidade Federal do Paran.
Orientador: Prof. Dr. Vicente Pacheco
CURITIBA
2008
Soares, Moacir Jos.Gesto Tributria - Um Estudo sobre a Prtica de Planejamento Tributrio adotada porIndstrias Paranaenses / Moacir Jose Soares Curitiba, 2008.208 p.
Trabalho apresentado ao Programa de Mestrado em Contabilidade, Setor deCincias Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paran, 2008.
Bibliografia1. Gesto Tributria; 2. Tributos; 3.Contabilidade Fiscal; 4. Apurao de Impostos;5. Regimes de Tributao; 6. Planejamento Tributrio.
I. Orientador: Pacheco,Vicente. Ttulo. II. Universidade Federal do Paran. Programa deMestrado em Contabilidade. III. Titulo.
CDD 657.61
minha querida Laci, companheira de todosos momentos. Sem tua compreenso,
colaborao e estmulo, este trabalho noteria sido concretizado.
Aos meus filhos, Guilherme, Rodrigo eMarina, por ser a razo de meus esforos.
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contriburam paraa realizao deste trabalho, especialmente as professores integrantes doPrograma de Mestrado em Contabilidade da Universidade Federal doParan, pelos valiosos ensinamentos transmitidos durante as aulas.
Ao Prof. Dr. Lauro Brito de Almeida, pelos bons ensinamentos da prticacientfica, pela compreenso e incentivo pesquisa.
Ao Prof. Dr. Vicente Pacheco, pela ateno dispensada, envolvimento,contribuies valiosas e dedicado empenho na orientao deste trabalho.
Aos Prof.s Dr.s Luiz Vamberto de Santana e Luiz Antonio Brandalise,membros das bancas de qualificao e de defesa, pelas valiosas sugestese contribuies na finalizao deste estudo.
Aos senhores Maurlio Leopoldo Schimitt e Roberto Antonio PeredoZurcher, economistas do Departamento Econmico da Federao dasIndstrias do Paran FIEP, pela colaborao na pesquisa de campo.
A todos os colegas da primeira turma (2005), pelo esprito de companheirismo,tolerncia, colaborao e sugestes nos temas abordados nas disciplinas, bemcomo pela troca de experincia durante a realizao do Curso de Mestrado.
Aos colegas professores do Departamento de Contabilidade da UFPR,pelo apoio e incentivo participao desta primeira turma do programade Mestrado.
RESUMO
Este estudo apresenta inicialmente um breve histrico do sistema tributrio no Brasil, desdea constituio de 1824, at a complexidade do sistema atual. Na seqncia, apresentam-seos fundamentos relacionados legislao tributria e conceituaes sobre o DireitoFinanceiro, visto hoje como um sistema normatizador das atividades financeiras do estado,enquanto que o Direito Tributrio tratado como um ramo autnomo da cincia jurdica.Salienta-se a Contabilidade Tributria como um dos ramos da contabilidade responsvelpelo gerenciamento dos tributos, subsidiando com informaes extremamente necessrias apurao das hipteses de incidncia tributria. So desenvolvidos exemplos prticos deapurao de tributos que incidem sobre o lucro das Pessoas Jurdicas e tambm deimpostos e contribuies que incidem sobre o faturamento ou receitas das empresas.Observa-se nos modelos de apurao de impostos e contribuies desenvolvidos nestetrabalho, as normas regulamentares de escriturao fiscal e de apresentao de informaesexigidas pela Administrao Fazendria. Destaca-se a importncia do planejamento tributriocomo uma das variveis influentes na competitividade dos negcios, pois os tributos indiretostm grande reflexo nos preos, exigindo-se cada vez mais esforos criativos, inovadores edinmicos de estratgias das empresas. Faz-se o comparativo entre a eliso e a evasofiscal, suas caractersticas e os enfoques de tributaristas sobre a norma geral antieliso. Pormeio de pesquisa junto s indstrias paranaenses, analisam-se os regimes de tributao porelas adotados, suas estratgias e medidas gerenciais em relao ao Planejamento Tributrio.Por fim, apresentam-se vrios casos sobre planejamento tributrio de empresas, estudado portributaristas, alm de trabalhos acadmicos, constante do apndice deste trabalho.
Palavras-chave: gesto tributria; tributos; contabilidade fiscal; apurao de impostos;regimes de tributao; planejamento tributrio.
ABSTRACT
This study starts with a brief historic overview of the brazilian Tax System, from the 1824Constitution up to the present system's complexity. Then, the fundaments of the taxlegislation and conceptualizations concerning Financial Law vis a vis Tax Law are presented,being the former seen as a system for the regulation of activities of the State, and the lattertreated as an autonomous branch of forensic science. Tax Accounting is highlighted as oneof the branches in Accounting responsible for the management of taxes, insomuch as itprovides important information concerning the applicability of Tax Laws. Practical examplesfor the assessment of corporate taxes on profit, revenue and income are developed. Themodels of tax assessment developed comply with the regulations for book-keeping andpresentation of data from the Tax Authority. The relevance of Tax Planning as a influentialvariable on business competitiveness, as indirect taxes are reflected on prices, which callsfor more creative, innovetive and dynamic efforts from companies' strategies. A comparisonis made between tax evasion and tax avoidance, focusing on their characteristics and theopinions of scholars of the field in regards of the anti-avoidance general norm. Fieldresearch is performed, based on the industries of Paran, and the tax regimes adopted areanalysed, as well as their strategies and management practices in regards to Tax Planning.Finally, the appendix presents some practices of Tax Planning via studies performed byrenowned jurists as well as via case studies presented in academic papers.
Keywords: tax management; taxes; fiscal accounting; tax assessment; taxing regimes;tax planning.
LISTA DE QUADROS
1 LIVRO DE APURAO DO LUCRO REAL PARTE "A" - REGISTRO DOS
AJUSTES DO LUCRO LQUIDO DO EXERCCIO............................................................... 75
2 PARTE "A" - REGISTRO DOS AJUSTES DO LUCRO LQUIDO DO EXERCCIO............. 76
3 PARTE "B" - CONTROLE DE VALORES PARA AJUSTES DO LUCRO LQUIDO DE
EXERCCIOS ........................................................................................................................ 77
4 BASE DE CLCULO PARA ESTIMATIVA DO RECOLHIMENTO MENSAL DO IRPJ ....... 78
5 DEMONSTRATIVO DA APURAO DA BASE DE CLCULO E DO IMPOSTO DE
RENDA POR ESTIMATIVA .................................................................................................. 79
6 DEMONSTRATIVO DE APURAO DA CONTRIBUIO SOCIAL SOBRE O LUCRO...... 86
7 DEMONSTRATIVO DE APURAO DA CONTRIBUIO SOCIAL S/LUCRO POR
ESTIMATIVA MENSAL ......................................................................................................... 87
8 QUADRO DEMONSTRATIVO DE REGISTRO E APURAO DO ICMS........................... 93
9 DEMONSTRATIVO DE ENTRADAS E SADAS NA INDSTRIA........................................ 98
10 DEMONSTRATIVO DA CONTA GRFICA DO IPI E DO ICMS .......................................... 98
11 LIVRO REGISTRO DE PRESTAO DE SERVIOS ........................................................ 100
12 MODALIDADES DA COBRANA DAS CONTRIBUIES................................................. 103
13 DEMONSTRATIVO DE APURAO DAS CONTRIBUIES PARA O PIS E A
COFINS - CUMULATIVAS.................................................................................................... 108
14 DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS PARA APURAO DOS DBITOS DAS
CONTRIBUIES AO PIS E COFINS NO-CUMULATIVAS.......................................... 109
15 DEMONSTRATIVO DE APURAO DOS CRDITOS DO PIS E A COFINS -
AQUISIES NO MERCADO INTERNO - REGIME NO-CUMULATIVO ......................... 110
16 RESUMO DE APURAO DAS CONTRIBUIES NO-CUMULATIVAS DEVIDAS
AO PIS E COFINS............................................................................................................. 110
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 DIAGRAMA DAS ESPCIES DE TRIBUTOS .................................................... 45
FIGURA 2 REGIMES DE TRIBUTAO DO IRPJ .............................................................. 71
GRFICO 1 ESTRATIFICAO DOS RESPONDENTES POR TAMANHO DAS
EMPRESAS ........................................................................................................ 145
GRFICO 2 QUAL O SEU NVEL EDUCACIONAL?.............................................................. 146
GRFICO 3 QUAL A SUA PRINCIPAL FORMAO ACADMICA? .................................... 147
GRFICO 4 QUAL O REGIME DE TRIBUTAO ADOTADO PELA EMPRESA? ............... 149
GRFICO 5 A EMPRESA POSSUI UNIDADE FUNCIONAL DE GESTO
TRIBUTRIA?..................................................................................................... 150
GRFICO 6 A EMPRESA POSSUI UNIDADE FUNCIONAL DE AUDITORIA
INTERNA?........................................................................................................... 151
GRFICO 7 A EMPRESA CONTRATA SERVIOS DE AUDITORIA EXTERNA?................ 151
GRFICO 8 A EMPRESA TEM ADOTADO MEDIDAS DE PLANEJAMENTO
TRIBUTRIO COM VISTAS A OTIMIZAR SUA CARGA TRIBUTRIA?........... 153
GRFICO 9 PESSOAS QUE PARTICIPAM NA TOMADA DE DECISES
RELACIONADAS AO PLANEJAMENTO TRIBUTRIO..................................... 153
GRFICO 10 AS ESTRATGIAS TRAADAS NO PLANEJAMENTO TRIBUTRIO DA
EMPRESA TM PARTICIPAO DE EMPRESAS DE CONSULTORIAS
TRIBUTRIAS? .................................................................................................. 154
GRFICO 11 NA SUA OPINIO, O ADVENTO DA NORMA GERAL ANTIELISO
DIFICULTOU A TOMADA DE DECISES EM RELAO AO
PLANEJAMENTO TRIBUTRIO? ...................................................................... 155
GRFICO 12 O PLANEJAMENTO TRIBUTRIO, QUANDO APLICADO PELA
EMPRESA, VISA POSSVEIS REDUES DIRETAS OU INDIRETAS
NOS CUSTOS MEDIANTE QUAIS DOS SEGUINTES IMPOSTOS?................ 156
LISTA DE SIGLAS
BACEN - Banco Central do BrasilBOVESPA - Bolsa de Valores do Estado de So PauloBTN - Bnus do Tesouro NacionalCF - Constituio FederalCNPJ - Cadastro Nacional das Pessoas JurdicasCOFINS - Contribuio para o Financiamento da Seguridade SocialCPMF - Contribuio Provisria sobre Movimentao FinanceiraCSLL - Contribuio Social sobre o Lucro LquidoCST - Coordenador do Sistema de TributaoCTN - Cdigo Tributrio NacionalCVM - Comisso de Valores MobiliriosDIEF - Declarao anual das Informaes Econmicas e FiscaisDIRF - Declarao de Imposto de Renda na FonteDOU - Dirio Oficial da UnioDRE - Demonstrao do Resultado do ExerccioEPP - Empresa de Pequeno PorteEVA - Valor Econmico AdicionadoFGTS - Fundo de Garantia por Tempo de ServioFIEP - Federao das Indstrias do Estado do ParanIBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaICMS - Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Prestaes de ServiosIE - Imposto sobre ExportaesII - Imposto sobre ImportaesINSS - Instituto Nacional do Seguro SocialIPI - Imposto sobre Produtos IndustrializadosIPTU - Imposto sobre a propriedade Predial e Territorial UrbanaIR - Imposto sobre a RendaIRPF - Imposto sobre a Renda da Pessoa FsicaIRPJ - Imposto sobre a Renda da Pessoa JurdicaISS - Imposto Sobre ServiosISSQN - Imposto sobre Servio de Qualquer NaturezaITBI - Imposto sobre a Transmisso de Bens ImveisITR - Imposto sobre propriedade Territorial RuralIVA - Imposto sobre Valor AgregadoIVA-F - Imposto sobre Valor Agregado FederalIVA-E - Imposto sobre Valor Agregado Estadual
JSCP - Juros sobre o Capital PrprioLALUR - Livro de Apurao do Lucro RealLC - Lei ComplementarME - MicroempresaMEC - Ministrio da Educao e CulturaMERCOSUL - Mercado Comum do SulMP - Medida ProvisriaNTN - Notas do Tesouro NacionalPASEP - Programa de Formao do Patrimnio do Servidor PblicoPIB - Produto Interno BrutoPIS - Programa de Integrao SocialPEC - Proposta de Emenda ConstitucionalRIPI - Regulamento do Imposto sobre Produtos IndustrializadosRIR - Regulamento do Imposto de RendaSRF - Secretaria da Receita FederalSTF - Supremo Tribunal FederalSTJ - Superior Tribunal de JustiaSUFRAMA - Superintendncia da Zona Franca de ManausTJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo
SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................................... 16
1.1 CONTEXTUALIZAO.......................................................................................... 16
1.2 A QUESTO DE PESQUISA ................................................................................. 18
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 19
1.3.1 Objetivo Geral...................................................................................................... 19
1.3.2 Objetivos Especficos .......................................................................................... 19
1.4 JUSTIFICATIVAS................................................................................................... 19
1.5 DELIMITAES DA PESQUISA ........................................................................... 20
1.6 TIPO DE PESQUISA.............................................................................................. 21
1.7 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS............................................................... 21
1.8 ESTRUTURA DA DISSERTAO......................................................................... 21
2 FUNDAMENTOS DA LEGISLAO TRIBUTRIA ................................................. 23
2.1 BREVE HISTRICO DA TRIBUTAO NO BRASIL ............................................ 23
2.2 O DIREITO TRIBUTRIO E AS ATIVIDADES FINANCEIRAS DO ESTADO ....... 28
2.2.1 Conceitos de Direito Financeiro e Tributrio ....................................................... 28
2.2.2 Atividades Financeiras do Estado ....................................................................... 30
2.2.3 As Fontes do Direito Tributrio ............................................................................ 32
2.2.4 Vigncia e Aplicao da Legislao Tributria .................................................... 35
2.3 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTRIO .................................................... 37
2.3.1 Princpios Constitucionais da Ordem Tributria .................................................. 37
2.3.2 Competncia Tributria ....................................................................................... 39
2.3.2.1 Competncia tributria da Unio...................................................................... 39
2.3.2.2 Competncia tributria dos estados e do Distrito Federal ............................... 40
2.3.2.3 Competncia tributria dos municpios ............................................................ 41
2.4 TRIBUTOS - CONCEITOS E CLASSIFICAO.................................................... 42
2.4.1 Conceituaes de Tributo.................................................................................... 42
2.4.2 Espcies de Tributos ........................................................................................... 44
2.4.2.1 Impostos........................................................................................................... 46
2.4.2.2 Taxas................................................................................................................ 46
2.4.2.3 Contribuio de melhoria ................................................................................. 47
2.4.2.4 Emprstimos compulsrios .............................................................................. 48
2.4.2.5 Contribuies sociais ....................................................................................... 49
2.5 CRDITO TRIBUTRIO......................................................................................... 50
2.5.1 Fato Gerador ....................................................................................................... 50
2.5.2 A Constituio do Crdito Tributrio.................................................................... 53
2.5.3 Extino do Crdito Tributrio ............................................................................. 56
2.5.4 Suspenso do Crdito Tributrio ......................................................................... 58
2.5.5 A Excluso do Crdito Tributrio ......................................................................... 59
2.5.5.1 A iseno.......................................................................................................... 59
2.5.5.2 Anistia............................................................................................................... 61
2.6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 62
3 PRTICAS DE APURAO DOS PRINCIPAIS TRIBUTOS ................................... 64
3.1 CONCEITUAES SOBRE CONTABILIDADE TRIBUTRIA .............................. 64
3.2 LIVROS DE ESCRITURAO CONTBEIS E FISCAIS....................................... 67
3.2.1 Livros Contbeis Obrigatrios ............................................................................. 67
3.2.2 Livros Fiscais Obrigatrios .................................................................................. 68
3.3 PRTICAS DE APURAO DO IMPOSTO DE RENDA DAS PESSOAS
JURDICAS ............................................................................................................ 69
3.3.1 Fato Gerador do Imposto..................................................................................... 69
3.3.2 Base de Clculo do Imposto e Alquota............................................................... 70
3.3.3 Tributao com Base no Lucro Real ................................................................... 71
3.3.4 Ajustes para Fins de Determinar o Lucro Real.................................................... 72
3.3.4.1 Adies ao lucro lquido ................................................................................... 72
3.3.4.2 Excluses e compensaes............................................................................. 73
3.3.5 Base de Clculo do Imposto................................................................................ 74
3.3.6 Escriturao do LALUR ....................................................................................... 74
3.3.7 Sistema de Recolhimento Mensal do Imposto por Estimativa............................. 77
3.3.8 Tributao com Base no Lucro Presumido.......................................................... 80
3.3.9 Tributao com Base no Lucro Arbitrado ............................................................ 82
3.4 PRTICAS DE APURAO DA CONTRIBUIO SOCIAL SOBRE O
LUCRO LQUIDO ................................................................................................... 84
3.4.1 Base de Clculo e Alquota da Contribuio Social ............................................ 84
3.4.2 Apurao dos Pagamentos Mensais da CSL por Estimativa .............................. 87
3.5 PRTICAS DE APURAO DO IMPOSTO SOBRE A CIRCULAO DE
MERCADORIAS E SERVIOS.............................................................................. 89
3.5.1 Conceituaes sobre o Imposto .......................................................................... 89
3.5.2 Fato Gerador do ICMS ........................................................................................ 89
3.5.3 Alquotas Aplicveis ............................................................................................ 90
3.5.4 Quadro Exemplificativo de Apurao da No-Cumulatividade............................ 93
3.6 PRTICAS DE APURAO DO IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS............................................................................................. 94
3.6.1 Conceituaes sobre o Imposto .......................................................................... 94
3.6.2 Fatos Geradores e Base de Clculo do Imposto................................................. 96
3.6.3 Alquotas do IPI ................................................................................................... 96
3.6.4 Sistemtica de Apurao do Imposto.................................................................. 97
3.7 PRTICAS DE APURAO DO IMPOSTO SOBRE SERVIOS DE
QUALQUER NATUREZA....................................................................................... 99
3.7.1 Consideraes Gerais ......................................................................................... 99
3.7.2 Sistemtica de Apurao do Imposto.................................................................. 100
3.8 PRTICAS DE APURAO DAS CONTRIBUIES PARA O PIS E A COFINS .... 101
3.8.1 Consideraes Iniciais......................................................................................... 101
3.8.2 Base de Clculo do PIS e Cofins ........................................................................ 102
3.8.3 Alquotas Aplicveis ............................................................................................ 103
3.8.4 Cobrana No-Cumulativa das Contribuies..................................................... 104
3.8.5 Pessoas Jurdicas que Permanecem no Sistema Cumulativo ............................ 105
3.8.6 Demonstrativo de Apurao de Contribuies Sociais (Dacon).......................... 107
3.8.7 Sistema de Apurao das Contribuies na Modalidade Cumulativa ................. 107
3.8.8 Sistema de Apurao das Contribuies na Modalidade No-Cumulativa ......... 108
3.9 AUDITORIA DE TRIBUTOS................................................................................... 111
3.9.1 Auditoria Fiscal Interna Preventiva ...................................................................... 111
3.9.2 Auditoria Externa Independente .......................................................................... 112
3.9.3 Auditoria da Administrao Fazendria (Fiscalizao)........................................ 113
3.10 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 114
4 PLANEJAMENTO TRIBUTRIO.............................................................................. 116
4.1 CONSIDERAES SOBRE O PLANEJAMENTO ESTRATGICO...................... 116
4.2 CARACTERSTICAS DO PLANEJAMENTO TRIBUTRIO................................... 118
4.2.1 Conceituaes e Objetivos.................................................................................. 118
4.2.2 O Papel do Contador no Planejamento Tributrio............................................... 120
4.2.3 reas de Atuao do Planejamento Tributrio .................................................... 122
4.2.4 Tipos de Planejamento Tributrio........................................................................ 123
4.2.5 Tipos de Sonegao e Fraude ............................................................................ 124
4.3 ELISO E EVASO FISCAL.................................................................................. 127
4.4 ENFOQUE DE TRIBUTARISTAS SOBRE A LEI ANTIELISO (LC 104/2001)..... 132
4.5 REFORMA TRIBUTRIA ....................................................................................... 135
4.5.1 Simplificao dos Tributos................................................................................... 136
4.5.2 Fim da Guerra Fiscal ........................................................................................... 137
4.5.3 Desonerao Tributria ....................................................................................... 138
4.5.4 Pontos Favorveis do Projeto.............................................................................. 139
4.5.5 Criticas ao Projeto ............................................................................................... 139
4.6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 140
5 PESQUISA SOBRE GESTO TRIBUTRIA NAS EMPRESAS ............................. 142
5.1 METODOLOGIA..................................................................................................... 142
5.1.1 Pesquisa Bibliogrfica ......................................................................................... 142
5.1.2 Pesquisa de Campo ............................................................................................ 143
5.1.2.1 Quanto ao tipo da pesquisa ............................................................................. 143
5.1.2.2 Questionamento e pr-teste............................................................................. 144
5.1.2.3 Amostra ............................................................................................................ 144
5.1.3 Perfil dos Respondentes da Pesquisa................................................................. 146
5.2 ANLISE DOS DADOS E RESULTADOS DA PESQUISA.................................... 148
5.2.1 Regime de Tributao adotado nas Empresas ................................................... 148
5.2.2 Gesto e Planejamento Tributrio Adotado......................................................... 149
5.2.3 Principais Impostos sob Planejamento Tributrio................................................ 155
5.3 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 156
6 CONCLUSES E RECOMENDAES ................................................................... 158
REFERNCIAS ................................................................................................................ 161
APNDICE 1 - CONTRIBUIES RELEVANTES.......................................................... 168
APNDICE 2 - QUESTIONRIO DE PESQUISA............................................................ 199
APNDICE 3 - RESULTADO DA TABULAO DAS RESPOSTAS ............................. 203
16
1 INTRODUO
1.1 CONTEXTUALIZAO
muito importante para o Contador conhecer os tributos que incidem
sobre as atividades da companhia para a qual trabalha. Ele deve sempre verificar
quais dispositivos da legislao tributria so pertinentes a essas atividades. Da
mesma forma, deve ter muito cuidado na interpretao das leis que contribuem para
uma boa gesto tributria.
O mercado competitivo e o pesado nus tributrio requerem constantemente
do profissional de Contabilidade a prtica de gerenciamento eficaz para preservar a
continuidade dos investimentos. Procurar formas lcitas para reduzir o pagamento de
tributos e ao mesmo tempo estar atento s mudanas da legislao tributria uma
necessidade imprescindvel para a otimizao dos lucros das empresas, para a
manuteno dos negcios e o excelente nvel de empregos. Quando se pensa em
realizar algo de forma clara e objetiva no mbito empresarial, est-se decidindo pelo
planejamento, isto , por um projeto de previso das necessidades e realizaes,
sendo o contador figura de destaque no momento de implementar essa ferramenta
valiosa de gesto (MARTINEZ, 2006).
Pohlmann e Iudcibus (2006) revelam que a matria tributria nunca esteve
to em evidncia como nos dias atuais, especialmente porque a carga tributria
brasileira uma das mais elevadas do mundo e tem crescido significativamente nos
ltimos anos, atingindo cerca de 36% do PIB (Produto Interno Bruto). No mbito
internacional, as pesquisas identificaram uma constante discusso quanto ao
balanceamento entre os tributos diretos e indiretos.
O planejamento tributrio representa um conjunto de medidas e atos
tomados pelas empresas. O objetivo principal estruturar sua vida econmico-fiscal,
a fim de possibilitar a reduo da carga tributria dentro da legalidade, visando, ao
mesmo tempo, medidas proporcionais ao aumento dos investimentos e dos lucros.
17
O Fisco, por sua vez, tem alertado para as prticas "negociais" adotadas
pelas empresas, fundamentando-se na interpretao econmica dos atos e leis fiscais.
Da mesma forma, medidas so tomadas para desconsiderar tais prticas, com o
cuidado, no entanto, de qualific-las como negcios indiretos livres de simulao.
Com a crescente aplicabilidade de dezenas de impostos, taxas e
contribuies, as empresas necessitam concentrar seus esforos na melhor forma
de gerenciar tais tributos. Por isso, na atualidade, desponta uma atividade especfica
da contabilidade voltada exclusivamente ao auxlio da gesto tributria, ou seja, a
Contabilidade Tributria.
Oliveira et al. (2004, p.36) conceituam Contabilidade Tributria como:
[...] especializao da contabilidade que tem como principais objetivos oestudo da teoria e a aplicao da prtica dos princpios e normas bsicas dalegislao tributria; ramo da contabilidade responsvel pelo gerenciamentodos tributos incidentes nas diversas atividades de uma empresa, ou grupode empresas, adaptando ao dia-a-dia empresarial as obrigaes tributrias,de forma a no expor a entidade s possveis sanes fiscais e legais.
Assim, as empresas que possuem um bom e confivel sistema de
informao contbil podem evitar possveis infraes fiscais ou penais. Tal sistema,
solidamente embasado na legislao tributria, vai resultar no bom cumprimento das
obrigaes fiscais da empresa. A parceria, portanto, necessita da participao
efetiva de um contador ou gestor especializado em tributos.
Esses gestores sempre perseguem o objetivo prioritrio que a reduo
dos custos, tendo em vista a alta competitividade entre as empresas. Tal subtrao
torna-se ainda mais necessria no que tange aos custos tributrios.
Pelo exposto, a ausncia de planejamento tributrio geralmente acarreta
desvantagem no campo da competitividade do mercado. Quando uma empresa prima
por tal planejamento surge forte perspectiva de ganhos significativos em relao aos
seus concorrentes.
Surge da a possibilidade de menor custo tributrio, de forma a planejar
com melhor capacidade sua estratgia de atuao. Com a reduo das obrigaes
18
mediante o sucesso no planejamento tributrio, a empresa poder aumentar sua
rentabilidade e diminuir as necessidades de recursos em curto prazo. Assim, torna
possvel obter uma vantagem na formao do preo final do produto ou mercadoria.
Pohlmann e Iudcibus (2006, p.2) afirmam:
outra rea frtil de pesquisa, no apenas voltada para o mundo acadmicomas, tambm, para a prtica profissional, a relacionada ao planejamentotributrio e s decises dos contribuintes. De um lado, alguns se dedicam aavaliar e prever a conduta dos agentes econmicos frente configuraodos tributos incidentes sobre determinado evento ou transao, com o fim deconstituir e testar teorias que expliquem o comportamento do contribuinte,enquanto agente racional que busca maximizar a utilidade marginal. Deoutro, h trabalhos desenvolvidos a partir da legislao tributria aplicvel,em que o objetivo indicar o caminho que leva minimizao da cargatributria firmas e contribuintes em geral.
Com efeito, o crescimento exagerado da carga tributria brasileira, acrescido
da concentrao especfica de tributos sobre o consumo, reduz significativamente a
lucratividade. Alguns desses tributos incidem praticamente sobre a mesma base de
clculo, como o caso do PIS (Programa de Integrao Social) e da COFINS
(Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social). Os reflexos dessa incidncia
recaem tambm diretamente sobre os preos ao consumidor.
Em sntese, efetivamente, os empresrios buscam seriamente a prioridade
de controlar mais de perto essa grande varivel que o tributo.
Sendo assim, levantamos o questionamento que se segue para o
desenvolvimento da presente dissertao.
1.2 A QUESTO DE PESQUISA
As indstrias paranaenses vm adotando medidas gerenciais de Planejamento
Tributrio, visando a benefcios diretos ou indiretos em sua carga tributria?
19
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
O objetivo principal desta dissertao analisar, por meio de pesquisa feita
junto s indstrias paranaenses, qual o tributo que implica maior preocupao na
adoo de medidas gerenciais em relao ao Planejamento Tributrio.
Em face da questo de pesquisa, realizou-se estudo dos fundamentos da
legislao tributria e da prtica da contabilidade fiscal, no intuito de compreender e
explicar as causas que levam os gestores tributrios adoo de tais medidas.
1.3.2 Objetivos Especficos
Como objetivos especficos, este trabalho pretende avaliar tambm os
seguintes pontos:
- Mostrar como os gestores de tributos tm recebido reciclagem nas
empresas, bem como avaliar a opinio dos mesmos em relao s
necessidades da matria tributria nas disciplinas dos cursos de
graduao em contabilidade.
- Identificar exemplos prticos, por meio de estudo da literatura e de trabalhos
acadmicos, bem como da experincia profissional do pesquisador, da
aplicao de medidas de Gesto Tributria nas empresas visando
benefcios de reduo da carga tributria.
- Contribuir, enquanto possvel, com sugestes de temas para outras
pesquisas relacionadas ao gerenciamento de impostos.
1.4 JUSTIFICATIVAS
A presente pesquisa se justifica mediante a necessidade que se coloca de
fornecer um diagnstico sobre o comportamento tributrio adotado por indstrias
20
paranaenses, especialmente as empresas filiadas Federao das Indstrias do
Estado do Paran (FIEP), em relao desonerao da carga de impostos que
incide sobre as operaes.
A partir das consideraes sobre os resultados da pesquisa, podemos
ento confirmar, por meio dos estudos tericos, a prtica devidamente planejada de
forma segura em relao reduo da carga tributria, de tal modo que se justifique
a existncia de diversos casos prticos apontados na presente dissertao.
A pesquisa tambm identifica com que freqncia feita a reciclagem dos
gestores de tributos, tendo como finalidade apurar a necessidade de oferta de
cursos de ps-graduao sobre matria tributria.
Em relao comunidade acadmica, justifica-se o presente estudo tendo
em vista que este propicia um grande nmero de informaes sobre a prtica de
apurao dos principais tributos, igualmente relevantes para futuros pesquisadores
desenvolverem estudos relacionados ao tema.
O ponto importante deste trabalho, alm do apanhado terico a que se props,
fundamenta-se na inteno de propiciar pesquisa mais ampla, preferencialmente
em mbito nacional, buscando informaes abrangentes sobre o comportamento
dos contribuintes em relao carga tributria das empresas.
1.5 DELIMITAES DA PESQUISA
Para o desenvolvimento da pesquisa de campo foram enviados os questionrios
de pesquisa s Empresas Industriais Paranaenses, devidamente filiadas Federao
das Indstrias do Estado do Paran. Portanto, o estudo no inclui as empresas do
ramo comercial e de servios. Assim, no se pode analis-las como um todo, o
que faz com que a pesquisa esteja voltada apenas para uma parte da realidade
empresarial paranaense.
21
1.6 TIPO DE PESQUISA
Quanto aos fins, a pesquisa considerada descritiva, j que descreve as
caractersticas da populao em estudo, no caso as indstrias paranaenses. Com
isso, quer-se tambm possibilitar a anlise de procedimentos relacionados prtica de
apurao dos tributos, sem o compromisso de explicar os fenmenos da tributao.
Quanto aos meios usados na investigao, a pesquisa pode ser considerada
como sendo de campo, por se tratar de levantamento emprico realizado no local
onde ocorre o objeto da prpria pesquisa, no caso a Tributao, considerando-se
que so empresas industriais.
1.7 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Os procedimentos metodolgicos adotados neste estudo so embasados
em tpicos distintos, como segue: em primeiro plano, tem-se um processo de
pesquisa bibliogrfica; em segundo, um processo de pesquisa emprica; e, a seguir,
um processo de anlise dos dados coletados.
A descrio completa da metodologia usada na presente pesquisa encontra-se
na seo 5.1.
1.8 ESTRUTURA DA DISSERTAO
A presente dissertao estruturada em seis captulos.
A Introduo sintetiza o tema da pesquisa como um todo, iniciando pela
contextualizao. Em seguida, aborda a questo da pesquisa, acrescentando os
seguintes itens: os objetivos propostos, as justificativas, as delimitaes, o tipo de
pesquisa e a sntese da metodologia aplicada.
No captulo segundo, so estudados os fundamentos da legislao tributria
mediante a apresentao da reviso de literatura, com apoio nos textos da Constituio
Federal e no Cdigo Tributrio Nacional. Inicia-se com um breve histrico da
22
tributao. Na seqncia, relatam-se as atividades financeiras do Estado, incluindo o
sistema tributrio e princpios constitucionais, e acrescentam-se conceitos e
classificaes dos tributos e constituio do crdito tributrio. Vale dizer que se fez
necessrio o estudo desse contedo por se revelarem a as fontes do Direito
Tributrio, onde nascem ou so produzidas as leis tributrias.
O terceiro captulo contempla as "Prticas de Apurao dos Principais
Impostos". Ele parte das conceituaes de Contabilidade Tributria, destacando os
livros contbeis e fiscais obrigatrios. Foi realizado criterioso estudo sobre normas,
procedimentos e apuraes em relao a estes impostos e contribuies sociais,
tendo-se especial ateno com o item "A Auditoria da Administrao Fazendria".
O captulo quarto compe o tema principal do trabalho: "O Planejamento
Tributrio". O assunto apresentado em seis subitens, desenvolvendo estudos de
como so adotadas, na prtica, medidas gerenciais de planejamento tributrio. Tais
medidas visam benefcios tributrios s empresas, utilizando-se de meios lcitos,
sem indcios de fraude ou simulao.
No quinto captulo apresenta-se o resultado da pesquisa de campo realizada
junto s indstrias paranaenses filiadas FIEP. Com o intuito de analisar medidas
gerenciais em relao ao Planejamento Tributrio, participaram desta pesquisa 87
indstrias, cujas respostas aos questionamentos so satisfatrias, pois alcanaram
os objetivos propostos.
Finalmente, tm-se as concluses do presente trabalho, bem como
recomendaes para futuras pesquisas nessa rea.
23
2 FUNDAMENTOS DA LEGISLAO TRIBUTRIA
2.1 BREVE HISTRICO DA TRIBUTAO NO BRASIL
Desde a Antigidade, todos os povos deixaram vestgios, sinais e registros de
algum sistema de arrecadao tributria. Arquelogos, historiadores e especialistas
tornaram possvel a elaborao de compndios e pesquisas sobre o assunto.
J no regime dos faras, desenhos dos monumentos interpretados pelos
observadores apontam para alguns fatos nesse sentido. A maior parte da arrecadao
garantia o sustento da "elite religiosa". A menor parte destinava-se s despesas
de interesse coletivo, cujo sistema de arrecadao era praticado pelos coletores.
Entretanto, estes usavam mais "o porrete no lombo dos contribuintes" do que
palavras de convencimento (FERREIRA, 1986).
O mesmo autor relata ainda a sabedoria do rei Salomo em explorar a
estratgia da posio geogrfica do seu pas, cobrando direitos e taxas sobre
mercadorias que por ali transitavam.
Da mesma forma, h indcios de que na Grcia antiga j se tributavam s
indstrias e profisses, aplicando-se multas e confiscos. Tributos sobre bens das
pessoas, rendas ou lucros atingiam mais e especialmente os cidados mais ricos.
Alm disso, cresciam as alquotas na medida das necessidades, especialmente
durante as guerras.
O esfacelamento do imprio romano, ocorrido nas naes que o compunham,
foi como um mergulho, uma longa viagem ao passado. O patrimnio pblico, ou
melhor, os bens comuns a toda a populao, foram divididos entre os gro-duques,
duques, condes e bispos. Historiadores so unnimes em afirmar que a partir da
surgiu o feudalismo. Os novos detentores do antigo "Patrimonium", no caso as
terras, passaram a receber, como senhores feudais, todas as rendas, os dzimos
em produtos ou em dinheiro, visto que, em matria de arrecadao de impostos,
24
impunham a cobrana com exrcitos prprios, mais ou menos nos mesmos nveis do
antigo imprio.
Os soberanos da Inglaterra e da Frana, por certo com maior viso,
aplicavam as rendas dos seus patrimnios e antigos tributos nas despesas pblicas.
S foram criando novos impostos medida que o encargo ia se avolumando, em
decorrncia do progresso que passaram a experimentar, seja no campo cientfico ou
nas novas descobertas, invenes, ou ainda em funo da ampliao do seu
comrcio com outros pases (FERREIRA, 1986).
Na Inglaterra, ficou clebre a luta dos bares contra "Joo Sem Terra", que
deu origem Carta Magna, de 1215, na qual foi proibida a cobrana de tributo sem o
consentimento do conselho do reino (MARTINS, 2007).
Com a descoberta do nosso pas, Portugal entendia que o pau-brasil era
monoplio real. Os particulares podiam explor-lo unicamente mediante contrato
com a Coroa Portuguesa, mas eram obrigados a pagar um quinto do produto da
venda. O pagamento era feito em espcie e no em moeda.
Havia ainda a cobrana de 10% sobre o valor das mercadorias importadas
e tambm das exportadas. O Quinto era a quinta parte cobrada dos metais e pedras
preciosas, como ouro, prata, diamante, esmeralda etc. O Dzimo era tambm
cobrado do pescado e das colheitas de todos os produtos da terra (MARTINS, 2007).
Com a urbanizao da economia, foi-se acentuando o sistema fiscal,
instituindo-se novos tributos, taxas e contribuies.
Martins (2007, p.21) faz uma brilhante retrospectiva sobre a tributao
no Brasil baseando-se nas Cartas Constitucionais do Pas, podendo-se resumir
conforme segue.
A Constituio de 1824 foi a que delegou poderes ao Legislativo, para
instituir impostos o suficiente para cobrir as despesas do Estado, consoante o
disposto em seu art. 15, inciso X, que diz: "[...] Fixar, anualmente, as despesas
pblicas, e repartir a contribuio direta. Ningum ser isento de contribuir para as
despesas do Estado em proporo dos seus haveres".
25
A distribuio dos tributos entre a Unio e os estados somente veio a
acontecer com a Constituio de 1891. Os municpios dependiam dos estados para
a fixao de seus impostos. O imposto federal era uniforme em todo o territrio
nacional e a Unio podia estabelecer preferncias e distines em relao a um
estado ou municpio. Havia imunidade recproca de bens, servios e rendas pblicas.
Foi na Constituio de 1934 que os municpios passaram a ter impostos
prprios. Com isso houve a independncia dos municpios na competncia tributria,
passando os tributos a serem legislados pelas trs esferas: Unio, Estados e Municpios.
A Unio ficou com os seguintes tributos: imposto sobre a importao de
mercadorias; imposto de renda e proventos de qualquer natureza; imposto de
transferncia de fundos para o exterior; imposto sobre atos emanados de seu
governo; taxas telegrficas, postais e outros servios federais; taxa de entrada,
sada e estadia, bem como a contribuio de melhoria.
Os tributos estaduais foram os seguintes: imposto sobre propriedade
territorial rural; imposto sobre transmisso de propriedade causa mortis; imposto
sobre a transmisso de propriedade imobiliria intervivos; imposto de consumo de
combustveis de motor-exploso; imposto de vendas e consignaes; imposto de
exportao de mercadorias; imposto de indstria e profisso; imposto sobre atos
emanados do governo; e, ainda, taxas de servios estaduais e contribuio de melhoria.
Quanto aos municpios, couberam-lhes os seguintes tributos: imposto de
licena; imposto predial e territorial urbano; imposto sobre diversos pblicos; taxas
de servios municipais e contribuies de melhoria.
A Carta Magna de 1937 praticamente manteve o mesmo sistema tributrio
da Constituio anterior, suprimindo apenas alguns impostos estaduais e municipais,
como o imposto sobre o consumo de combustveis de motor a exploso e o imposto
sobre a renda de imveis rurais. Com isso, parte da arrecadao dos impostos
estaduais destinava-se aos municpios, como, por exemplo, a metade da arrecadao
do imposto de indstria e profisses.
26
A Constituio de 1946 veio estabelecer nova discriminao de rendas
tributrias. Os tributos da Unio foram mantidos. Alguns receberam apenas novas
denominaes e outros foram criados, tais como: imposto extraordinrio e taxas e
contribuies; e imposto sobre negcios de sua economia, atos e instrumentos
regulados por lei federal (imposto de selo). As taxas e contribuies de melhoria
eram tributos comuns aos entes tributantes. Os municpios participavam da arrecadao
do Imposto nico, do Imposto territorial rural, do Imposto sobre o consumo, e do
Imposto de Renda, passando a ter trs sistemas tributrios autnomos.
A Emenda Constitucional n.o 18 de 1965 aprovou nova discriminao
constitucional de rendas tributrias. Instituiu uma classificao de impostos baseada
em nomenclatura econmica e no mais jurdica, como havia ocorrido nas constituies
anteriores, quando havia impostos de licena; de vendas e consignaes; de indstria e
de profisses. O novo sistema tributrio passou a ser nico e nacional, no mais
independente e autnomo.
A Unio passou a ter competncia para instituir: imposto sobre importaes
de produtos estrangeiros; imposto sobre exportaes; imposto sobre propriedade
territorial rural; imposto de renda e proventos de qualquer natureza; imposto sobre
produtos industrializados; imposto sobre operaes de crdito cambial e seguro;
impostos sobre servios de transportes e comunicao; imposto sobre combustveis
e lubrificantes, taxas e contribuies de melhoria.
Os estados passaram a ter: imposto sobre transmisso de bens imveis e
de direitos reais sobre imveis; imposto sobre operaes relativas circulao de
mercadorias; taxas e contribuies de melhoria.
Aos municpios, por sua vez, couberam os tributos: imposto sobre a
propriedade predial e territorial urbana; imposto sobre servios de qualquer natureza;
taxas e contribuies de melhoria.
importante destacar que, no ano seguinte, o sistema tributrio editado
pela Emenda Constitucional n.o 18 foi adaptado pela Lei n.o 5.172 de 25/12/1966,
27
denominada Cdigo Tributrio Nacional (a Constituio de 1946 permitia que a lei
tributria fosse editada sob forma de lei ordinria, pois no existia lei complementar).
A Carta Magna de 1967 manteve o sistema tributrio anterior e estabeleceu
como sendo apenas da Unio a competncia para instituir contribuies e emprstimos
compulsrios. As taxas no podiam tomar por base de clculo a mesma que aquela
prevista para os impostos. A Lei Complementar iria estabelecer normas gerais de direito
tributrio, dispor sobre conflitos de competncia tributria e regular as limitaes
constitucionais ao poder de tributar. Foi vedado Unio instituir impostos que no
fossem uniformes em todo o territrio nacional. Mediante lei complementar, a Unio
poderia estabelecer isenes de impostos municipais e estaduais.
A Constituio vigente, promulgada em 1988, praticamente manteve o
sistema tributrio anterior, considerando como tributos os impostos, taxas e
contribuio de melhoria. A Unio, por meio de lei complementar, pde ento instituir
emprstimos compulsrios. As contribuies sociais passaram a ser delineadas de
forma mais clara. A limitao do poder de tributar do Estado passou a integrar o
texto constitucional.
A Unio pode instituir imposto sobre: importao e exportao de produtos;
renda e proventos de qualquer natureza; produtos industrializados; operaes de
crdito, cmbio, seguro, ou relativas a ttulos ou valores imobilirios; propriedade
territorial rural e grandes fortunas.
Os Estados e o Distrito Federal podem instituir impostos sobre: transmisso
causa mortis e doaes, de bens ou direitos; operaes relativas circulao de
mercadorias e sobre a prestao de servios de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicao, ainda que as operaes e prestaes se iniciem no exterior;
propriedade de veculos automotores; adicional de 5% do que for pago Unio
por pessoas fsicas ou jurdicas domiciliadas nos respectivos territrios, a ttulo do
Imposto de Renda.
28
Os municpios podem instituir impostos sobre: propriedade predial e
territorial urbana; transmisso inter vivos; servios de qualquer natureza; vendas a
varejo de combustveis lquidos e gasosos, exceto leo diesel.
Por fim, a Emenda Constitucional n.o 3 de 1993 suprimiu o adicional de 5%
de imposto de renda estadual e o imposto de vendas a varejo de combustveis
lquidos e gasosos, exceto o leo diesel, e os demais impostos foram mantidos.
2.2 O DIREITO TRIBUTRIO E AS ATIVIDADES FINANCEIRAS DO ESTADO
2.2.1 Conceitos de Direito Financeiro e Tributrio
Anteriormente, o Direito Financeiro tratava dos tributos; hoje visto como
sistema normatizador das atividades financeiras do Estado, abrangidas pelas
prestaes pecunirias exigidas do mesmo. Alm disso, tem a funo de disciplinar
o oramento pblico, compreendendo as receitas pblicas e as regidas pelo conceito
de tributos.
Para Amaro (2007, p.1-3), o Direito Financeiro tem por objetivo disciplinar o
oramento das receitas e despesas pblicas. Em face do extraordinrio desenvolvimento
do direito pertinente aos tributos, o Direito Tributrio passou a ser entendido como um
ramo autnomo da cincia jurdica, porm segregado no ramo do Direito Financeiro.
O autor prefere resumi-lo no seguinte conceito: "o direito tributrio a disciplina jurdica
dos tributos, com isso se abrange todo o conjunto de princpios e normas reguladores
da criao, da fiscalizao e arrecadao das prestaes de natureza tributria".
Para Ichihara (2006, p.25-27), o Direito Tributrio no um ramo autnomo
e dissociado dos demais ramos do Direito, uma vez que necessita de regras
especficas para a resoluo de problemas tributrios. Tais regras surgem em razo
da relao tributria e so extradas de outros ramos do Direito, como, por exemplo:
o Direito Civil (nos casos em que houver necessidade de regras de capacidade civil
29
das pessoas) ou, ainda, o Direito Penal (quando o contribuinte ou responsvel
cometer uma infrao de natureza tributria e tambm penal).
O autor faz tambm uma comparao entre Direito Financeiro e Direito
Tributrio, dizendo que o primeiro muito mais abrangente que o segundo. Direito
Tributrio pode ser definido como o conjunto de normas jurdicas que regulam a
ao estatal de tributar, enquanto o Direito Financeiro abrange o conjunto de normas
jurdicas que estabelecem regras sobre as receitas, despesas, entradas, sadas,
aplicaes e investimentos do Estado. Na abrangncia do financeiro, no resta dvida
de que o Direito Tributrio encontra-se dentro do campo de normas relacionadas
com a administrao financeira ou administrativa das finanas pblicas.
Ichihara (2006, p.25), ao finalizar o captulo sobre o assunto, formula o
seguinte questionamento:
Ento por que os estudiosos se dedicam mais ao Direito Tributrio do queao Direito Financeiro? A razo muito simples, pois, na relao tributria, oEstado retira parte da renda ou patrimnio do particular, seja esta pessoafsica ou jurdica. Ningum, espontaneamente, gosta de pagar tributos, maspaga porque obrigatrio, e o no pagamento, quando devido, importa nasujeio a uma sano.
Amaro (2007, p.11-13) apresenta, tambm, as relaes do Direito Tributrio
com outros ramos do Direito. Destaca, neste contexto, a relao entre Direito Tributrio
e Direito Constitucional, principalmente porque se a Constituio Federal contm as
bases do ordenamento jurdico, nela se encontram os prprios fundamentos de
validade do tributo. A outorga da competncia tributria para a Unio, Estados,
Distrito Federal e Municpios define os lineamentos bsicos do sistema tributrio
nacional, ou seja: os princpios constitucionais tributrios, as imunidades, a partilha
de competncia tributria etc. tambm na Constituio que se regulam os modos
de expresso do Direito Tributrio, vale dizer, os tipos de normas vinculadoras de
preceitos tributrios e o respectivo campo de atuao.
O autor refere-se ao Direito Administrativo como a atuao do Estado
visando arrecadao e fiscalizao de tributos, operando-se por intermdio dos
30
rgos que compem a administrao pblica, cuja atuao regida pelo Direito
Administrativo. Constatamos que cada autor oferece suas prprias definies de
Direito Tributrio. Eis algumas:
Sousa (1981, p.40) assim o define: "o ramo do direito pblico que rege as
relaes jurdicas entre o Estado e os particulares, decorrentes da atividade
financeira do Estado no que se refere obteno de receita que correspondam ao
conceito de tributos".
Para Machado (2001, p.46), o Direito Tributrio constitui: "o ramo do direito
que se ocupa das relaes entre o fisco e as pessoas sujeitas a imposies
tributrias de qualquer espcie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidado
contra os abusos desse poder".
Carvalho (1991, p.11), por sua vez, ensina que:
o direito tributrio positivo o ramo didaticamente autnomo do direito, integradopelo conjunto das proposies jurdico-normativas que correspondam, diretaou indiretamente, instituio arrecadao e fiscalizao de tributos. Compete Cincia do Direito Tributrio descrever esse objeto, expedindo proposiesdeclarativas que nos permitem conhecer as articulaes lgicas e o contedoorgnico desse ncleo normativo, dentro de uma concepo unitria do sistemajurdico vigente.
2.2.2 Atividades Financeiras do Estado
Cabe inicialmente tecer algumas conceituaes sobre as atividades financeiras
do Estado. Trata-se de uma sociedade poltica e juridicamente organizada, dotada
de soberania, dentro de um territrio, sob um governo, visando ao bem-estar comum
do povo. O Estado deve realizar as aes prprias, tais como: a defesa do territrio
nacional por meio das Foras Armadas; o acesso de todos Justia por meio do
Poder Judicirio; o acesso sade, educao, habitao, saneamento bsico etc.
O Estado necessita de recursos financeiros e, para tanto, busca-os por meio
dos tributos.
31
As atividades financeiras do Estado so desenvolvidas basicamente em
trs reas: a gesto oramentria; a receita por meio dos impostos e patrimonial; e
as despesas que constituem a aplicao dos recursos em benefcio do povo.
Martins (2007, p.33) conceitua o Povo como o componente humano,
considerando-o tambm como: "o conjunto de pessoas que esto adstritas, pela
ordem jurdica estatal, sua jurisdio, por isso compreende tanto o que reside no
Estado como o que est fora dele", enquanto territrio o espao fsico do Estado,
compreendendo a superfcie do solo que o Estado ocupa, ou seja, seu mar territorial
e o espao areo. O governo a organizao necessria para o exerccio do poder
poltico. O conceito de Estado jurdico, enquanto o conceito de Nao
sociolgico.
Fabretti e Fabretti (2006, p.15-16) definem o Estado de Direito como:
"a sociedade civil poltica e juridicamente organizada. Ou seja, governantes e
governados devem estar sujeitos lei. Esta estabelece a tripartio do poder em
Legislativo, Executivo e Judicirio, e a maneira de escolha para os cargos pblicos".
O Estado exerce esses poderes com a finalidade principal de realizao do
bem-estar comum, pela prestao de servios e construo de obras pblicas que
assegurem a estrutura bsica para a sociedade civil, a qual est sob as mesmas
normas jurdicas.
Em face das necessidades de obteno de recursos para a realizao do
bem-estar da populao, o Estado tem como premissa necessria o exerccio da
atividade financeira, na qual, por seu poder coercitivo sobre o particular, arrecada e
administra suas receitas e despesas. A completa atividade financeira exercida pelo
Estado composta por arrecadao, gesto e despesa.
importante ressaltar que, no exerccio de poder, o Estado necessita de
meios materiais e humanos para cumprir seus objetivos institucionais, garantindo a
ordem jurdica, a segurana, a defesa, a sade pblica e o bem-estar de todos. Esta
tarefa, cujos valores econmicos e sociais devem ser cumpridos por meio de sua
atividade financeira, necessita obter, gerir e aplicar recursos para o estudo da Cincia
32
das Finanas. Sua regulamentao obtida mediante princpios e normas regidos
pelo Direito Financeiro, o qual considerado matria especfica do Direito Pblico
(OLIVEIRA, 2005, p.49-50).
Os tributos representam a grande fonte de arrecadao de recursos do
Estado, residindo a a maior complexidade e relevncia, como instrumento de
circulao de riqueza, bem como suas destinaes, como o custo de se viver em
sociedades do capitalismo moderno. Diante dessa complexidade foi preciso criar um
ramo especfico do Direito Pblico, que o Direito Tributrio, voltado quase que
exclusivamente para o estudo das receitas tributrias.
Ataliba (1992, p.35) leciona:
O direito tributrio um sistema conceptual que se constri a partir doconceito de tributo, que, por sua vez, s pode ser erigido juridicamente, numcontexto determinado, informado por princpios que o transcendem, j quede natureza constitucional.
2.2.3 As Fontes do Direito Tributrio
A expresso Fontes, no sentido do direito como norma de conduta,
usada para revelar onde nascem ou so produzidas as leis. O Direito revela-se por
meio de processo legislativo a partir do qual so produzidas as leis.
Entre os juristas, costuma-se dividir as fontes do Direito Tributrio em:
Materiais e Formais.
As fontes materiais expressam as situaes ou fatos tais como: a renda, o
patrimnio, a transmisso da propriedade, os servios, a importao e a exportao,
a circulao, a distribuio e o consumo. Esses elementos isoladamente nada
representam para o Direito Tributrio. Para surtirem tais efeitos, devem ser
introduzidos nesse campo de tal forma que o poder legislativo seja capaz de
elaborar uma lei tributria, com base em fonte material (CASSONE, 1997, p.33-52).
As fontes materiais representam, ainda, o complexo de fatores que ocasionam
o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. So analisados elementos
33
importantes, tais como os sociais, psicolgicos e econmicos, capazes de influenciar
na criao da norma jurdica compatvel com a realidade.
Desta maneira, o Poder Legislativo, sabedor da existncia, no mundo, das
situaes ou fatos econmicos, da renda, do patrimnio, dos servios etc.,
habilitado a elaborar leis criando ou modificando impostos como: imposto de renda,
impostos sobre a propriedade imobiliria, imposto sobre a circulao de mercadorias
e servios, entre outros.
Alguns autores afirmam que o Estado a nica fonte do Direito, pois goza
do poder de sano. Uma segunda corrente prega a existncia de vrios centros de
poder, de onde emanam as normas jurdicas (MARTINS, 2007, p.45-59).
As fontes formais, segundo os ensinamentos de Cassone (1997, p.33-52),
dividem-se em primrias e secundrias. As primrias esto contidas no art. 59 da
Constituio Federal, devendo-se incluir a prpria Constituio, que representa a
"lei das leis". As fontes secundrias so menos importantes, porque elas tm por
funo viabilizar os comandos das fontes primrias.
As fontes primrias so representadas pela Constituio Federal e as
Emendas Constituio (supremacia das leis), Leis Complementares, Leis Ordinrias,
Leis Delegadas, Medidas Provisrias, Decretos Legislativos e Resolues.
As fontes secundrias so os Decretos e Regulamentos, Instrues
Ministeriais, Circulares, Ordens de Servios e Normas Complementares (art. 100 do
Cdigo Tributrio Nacional - CTN).
Considerando a classificao dada s fontes do Direito Tributrio, podemos,
de forma breve, tecer algumas consideraes, como as que foram anotadas por
Oliveira (2005, p. 51-52).
Como fontes primrias temos:
- Constituio Federal e suas Emendas: estabelecem as competncias e os
princpios tributrios. A Constituio atribui competncia, descentralizando
o poder poltico. Cabe, portanto, aos entes: Unio, Estado, Distrito Federal
e Municpio utiliz-la ou no, isto , a instituio de tributos ser
34
determinada por convenincia de cada ente poltico, observadas as
normas constitucionais;
- Tratados e Convenes Internacionais: uma vez aprovados por decreto
legislativo do Congresso Nacional, revogam ou modificam a legislao
tributria interna; as leis posteriores a tais tratados ou convenes
devero a eles adaptar-se;
- Lei Complementar: estabelece as normas gerais em matria tributria,
que so as normas bsicas reguladoras da competncia tributria disposta
na Constituio;
- Lei Ordinria: tem funo de instituir tributos, embora alguns destes, por
fora da Constituio, necessitem ser estabelecidos por lei complementar.
Tal funo, em regra, ser exercida por lei ordinria. Deve ser observado
que o CTN foi editado na forma de lei ordinria em 1966, e, por se tratar
de normas gerais, adquiriu status de lei complementar, j que a
exigncia de lei complementar para a elaborao de normas gerais de
Direito Tributrio surgiu com a Constituio de 1967;
- Leis Delegadas: elaboradas pelo presidente da Repblica, sobre
matrias especficas obedecendo ao disposto no art. 68 da Constituio
Federal, ou seja, quando o Congresso Nacional assim autorizar;
- Medidas Provisrias: normas de iniciativa do Poder Executivo que possuem
fora de lei, mas dependem de sua converso em lei no prazo de 60 dias
da data de sua publicao, prorrogveis uma nica vez. Sua utilizao
admitida somente para instituir tributos, desde que estes no sejam
objeto de lei complementar;
- Decretos Legislativos: so atos emanados pelo Congresso Nacional
que disciplinam matrias privativas da Casa, como a ratificao dos
Tratados e Convenes internacionais celebrados pelo Executivo;
- Resolues do Senado: so utilizadas para resolver assuntos de sua
competncia, no necessitando de sano do presidente da Repblica,
35
tais como: a fixao de alquotas mximas e mnimas do ICMS nas
operaes internas, ou, tambm, a fixao das alquotas desse imposto
nas operaes interestaduais e de exportao.
E, como fontes secundrias:
- Decretos e Regulamentos: so normas expedidas pelo chefe do Poder
Executivo que regulamentam as leis, no inovando na ordem jurdica,
visando apenas dar fiel cumprimento aos ditames legais;
- Instrues Ministeriais: esto previstas na Constituio Federal para a
execuo das leis, decretos e regulamentos;
- Circulares e ordens de servios: so atos administrativos emitidos pelos
chefes dos departamentos ou sees;
- Normas Complementares: so os atos normativos, as decises
administrativas, as prticas administrativas e os convnios internos que
tm como objetivo esclarecer todas as fontes anteriores, no se
preocupando em inovar em termos da ordem jurdica.
2.2.4 Vigncia e Aplicao da Legislao Tributria
A vigncia possui caractersticas que, analisadas luz de critrios especficos,
podero demonstrar a eventual inaplicabilidade e invalidade da norma jurdica tributria
em discusso, possibilitando a identificao de vcios formais.
Em sentido especfico e restrito, a vigncia refere-se validade formal,
enquanto a eficcia se relaciona com a validade social. Pode-se afirmar que a vigncia
a qualidade da lei existente e com fora para exigir seu cumprimento, em dado
momento e lugar. A eficcia a qualidade da lei para produzir algum efeito jurdico,
ou seja, a possibilidade de aplicao na resoluo dos problemas concretos.
Ichihara (2006) afirma que uma lei poder ser vigente e no possuir eficcia,
ou seja, ela vigente, mas para poder ser aplicada necessitar, por exemplo, de
36
regulamentao. Especificamente no direito tributrio o assunto tratado no Cdigo
Tributrio Nacional nos artigos 101 a 104.
Preceitua o artigo 101:
Art. 101. A vigncia, no espao e no tempo, da legislao tributria rege-sepelas disposies legais aplicveis s normas jurdicas em geral, ressalvadoo previsto neste captulo.
No aspecto espacial ou territorial, como regra geral, a legislao tributria
da Unio se aplica em todo o territrio nacional. Assim, em relao ao Direito
Tributrio tambm de fundamental importncia conhecer as regras de aplicao e
vigncia da lei no espao. Porquanto, as competncias tributrias na maioria dos
casos so delimitadas em funo do espao territorial.
No aspecto temporal, a lei nasce, entra em vigor e se extingue. Adquire
exigncia com a publicao, recebe as sanes do Chefe do Executivo, cuja
aprovao seguida da promulgao, que o ato de ordenar a sua publicao.
Como nem sempre a vigncia da legislao tributria coincide com a da publicao,
o incio da vigncia poder ser:
a) na data da publicao: por exemplo, "esta lei entrar em vigor na data
da publicao";
b) em dia certo e predeterminado: por exemplo, "esta lei entrar em vigor
em data de...";
c) em dia determinado a contar da publicao: "esta lei entrar em vigor
90 dias da data da publicao".
Quando a vigncia da lei no coincide com a da publicao, o perodo
entre a publicao e a vigncia chamado de vocatio legis, isto , vacncia da lei.
O fato de a vigncia das leis tributrias no coincidir com a data em que
a lei comea a surtir efeitos legais decorre de alguns princpios constitucionais,
quais sejam:
37
a) irretroatividade da lei - significa que a lei no pode retroagir seus
efeitos, pois vedado pela CF que a Unio, Estados, Distrito Federal e
Municpios cobrem tributos em relao a fatos geradores ocorridos
antes do incio da vigncia da lei em questo;
b) anterioridade - este princpio constitucional veda Unio, Estados,
Distrito Federal e Municpios cobrar tributos no mesmo exerccio
financeiro em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou,
ressalvando-se os impostos: Importao e Exportaes, Imposto sobre
Produtos Industrializados, Imposto sobre Operaes Financeiras e
Impostos Extraordinrios (guerra), os quais podem ser cobrados a
partir da vigncia da lei;
c) noventena - por este princpio, as contribuies sociais para a seguridade
social, de exclusiva competncia da Unio, somente podero ser exigidas
aps 90 dias da data da publicao da lei que houver institudo
ou modificado.
De forma semelhante, os princpios constitucionais, com algumas excees,
ressaltam sobre as leis tributrias que criem ou majorem tributos. Tais leis no
podem ser aplicadas durante o prprio exerccio em que sejam editadas; ademais,
tambm com algumas excees, deve ser observado o perodo de noventa dias
entre a data da publicao e a data de vigncia da lei que crie ou majore tributos.
Considerem-se tais princpios nas hipteses excepcionadas, bem como nos casos
de reduo de tributos (AMARO, 2007, p.193-98).
2.3 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTRIO
2.3.1 Princpios Constitucionais da Ordem Tributria
A Constituio rege os princpios gerais dos tributos, consubstanciados
nos artigos 145 a 149, nas limitaes do poder de tributar, artigos 150 a 152, na
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competncia tributria conferida pelos artigos 153 a 156 e da repartio das receitas
nos artigos 157 a 162.
Esses dispositivos constitucionais permitem a imposio de impostos aos
cidados pelo Estado, em decorrncia do seu poder de mando, garantido na
Constituio pelos princpios contra a irresistvel ganncia do Estado em cobrar
tributos, quais sejam:
- Princpio da capacidade contributiva - previsto no 1.o do art. 145, que
objetiva a justia fiscal e social ao tributar, sempre que possvel, carter
pessoal a incidncia de carga tributria, em funo das condies
econmicas do contribuinte;
- Princpio da legalidade - previsto no inciso I do art. 150, que requer
sempre a existncia de lei para exigir ou aumentar tributos;
- Princpio da isonomia tributria - previsto no inciso II do art. 150, que
veda o tratamento desigual entre contribuintes em situao equivalente;
- Princpio da irretroatividade - previsto no inciso III, alnea "a" do
art. 150, que veda a cobrana de tributos sobre fatos geradores ocorridos
antes do incio da vigncia da lei que o tenha institudo ou aumentado;
- Princpio da anterioridade - previsto no inciso III, alnea "b" do
art. 150, que veda a cobrana de tributo no mesmo exerccio financeiro
em que tenha sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou;
- Princpio do no-confisco - previsto no inciso IV do art. 150, que
garante ao contribuinte a impossibilidade do ente tributante vir a tomar
totalmente o seu patrimnio ou sua renda;
- Princpio da no-cumulatividade - estabelecido para o Imposto sobre
Produtos Industrializados e o Imposto sobre Circulao de Mercadorias,
Servios de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Servios de
Comunicao, previstos respectivamente no 3.o, III do art. 153 e no
2.o, I do art. 155, visando compensao do imposto pago na etapa
anterior com o imposto devido sobre a ltima operao.
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2.3.2 Competncia Tributria
A Constituio Federal no cria tributos, mas outorga competncia
tributria, ou seja, atribui aptido para criar tributos. Obviamente, ainda que referidas
na Constituio Federal, as notas permitem identificar o perfil genrico do tributo (por
exemplo, "renda" ou "prestao de servios"). A efetiva criao de tributo sobre tais
situaes depende de a competncia atribuda a este ou quele ente poltico (Unio,
Estados, Distrito Federal e Municpios) ser exercitada, fazendo atuar o mecanismo
formal que a lei para instituir ou majorar o tributo (AMARO, 2007, p.93 -99).
Designa-se privativa a competncia para criar impostos, atribuda com
exclusividade a este ou quele ente poltico. Assim, o imposto de importao de
competncia privativa da Unio; o ICMS de competncia privativa dos estados e do
Distrito Federal, e o ISS de competncia dos municpios e do Distrito Federal.
As limitaes constitucionais ao poder de tributar ora aparecem como
verdadeiras vedaes ou proibies, que se traduzem em imunidades constitucionais,
ora aparecem na esteira da proteo dos direitos e garantias individuais, ou, ainda,
apresentam-se como limitaes da competncia tributria entre as diversas pessoas
jurdicas de direito pblico (ICHIHARA, 2006, p.51- 60).
2.3.2.1 Competncia tributria da Unio
Os artigos 153 e 154 da Constituio Federal, expressamente, relacionam
os impostos cuja instituio e cobrana so de competncia exclusiva da Unio e
que consistem nos seguintes:
I - Imposto de Importao de Produtos Estrangeiros;
II - Imposto de Exportao, para o Exterior, de Produtos Nacionais ou
Nacionalizados;
III - Imposto de Renda e Provento de Qualquer Natureza;
IV - Imposto sobre Produtos Industrializados;
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V - Imposto sobre Operaes de Crditos, Cmbio e Seguros ou relativas a
ttulos ou valores mobilirios;
VI - Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural;
VII - Imposto sobre as Grandes Fortunas;
VIII - Imposto Extraordinrio no caso de Guerra Externa;
IX - outros impostos pelo exerccio da competncia residual, desde que
sejam no-cumulativos e no tenham fato gerador ou base de clculo
prprios dos discriminados na Constituio.
Alm desses, dentro de sua competncia tributria, a Unio poder
cobrar ainda:
I - Taxas;
II - Contribuio de melhoria;
III - Emprstimos compulsrios, ordinrios e extraordinrios;
IV - Contribuies sociais, de interveno no domnio econmico e
de interesse das categorias profissionais ou econmicas, tais como:
Contribuies do FGTS, Contribuies Previdncia Social, Contri-
buio Sindical.
2.3.2.2 Competncia tributria dos estados e do Distrito Federal
O artigo 155 relaciona os impostos cuja instituio e cobrana so de
competncia exclusiva dos Estados e do Distrito Federal:
I - Imposto sobre Transmisso Causa Mortis e doaes, de quaisquer bens
ou direitos;
II - Imposto sobre Operaes relativas Circulao de Mercadorias e sobre
Prestao de Servios de Transporte Interestadual e Intermunicipal
e Comunicao;
III - Imposto sobre Propriedade de Veculos Automotores.
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Alm dos impostos relacionados, dentro de sua competncia, os Estados e
o Distrito Federal podero, ainda, instituir e cobrar:
I - Taxas;
II - Contribuio de melhoria;
III - Contribuies Sociais.
2.3.2.3 Competncia tributria dos municpios
O artigo 156 relaciona os impostos cuja instituio e cobrana de
competncia exclusiva dos municpios, que so:
I - Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana;
II - Imposto sobre Transmisso "inter-vivos", a qualquer ttulo, por ato
oneroso, de bens imveis, por natureza ou acesso fsica, e de direitos
reais sobre imveis, exceto os de garantia, bem como cesso de direito
sua aquisio;
III - Imposto sobre servios de qualquer natureza, no compreendidos no
art. 155, II, b definidos em lei complementar.
Tal como no caso dos estados, os municpios, dentro de sua competncia
tributria, podero tambm instituir e cobrar:
I - Taxas;
II - Contribuio de melhoria;
III - Contribuies sociais.
No sistema jurdico brasileiro, os territrios no so pessoas jurdicas
autnomas de direito pblico interno, constituindo uma extenso territorial da Unio.
Finalmente, destacamos que a competncia tributria abrange o poder fiscal
de "legislar", "fiscalizar" e "arrecadar" os tributos.
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Sobre a competncia legislativa plena, preceitua o art. 6.o do CTN:
Art. 6.o A atribuio constitucional de competncia tributria compreende acompetncia legislativa plena, ressalvadas as limitaes contidas na ConstituioFederal, nas Constituies dos Estados e nas Leis Orgnicas do DistritoFederal e dos Municpios, e observando o disposto nesta Lei.
A respeito, afirma Morais (1968) apud Ichihara (2006, p.73):
Diante do princpio da legalidade os tributos somente pedem ser criados eregulados por lei vemos que essa atribuio constitucional de competnciatributria compreende a competncia legislativa plena. Assim, estabelece oCdigo Tributrio Nacional (art. 6.o). A concretizao do uso da competnciatributria se d com a criao do tributo atravs da lei. O poder tributantefica, pois, com o poder de legislar sobre o respectivo tributo, respeitadas asnormas maiores. Compete ao poder tributante legislar sobre a definio dahiptese de incidncia fiscal, a base de clculo do tributo, sua alquota,infraes, penalidades etc.
2.4 TRIBUTOS - CONCEITOS E CLASSIFICAO
2.4.1 Conceituaes de Tributo
O conceito de tributo determinado no prprio Cdigo Tributrio Nacional
em seu art. 3.o, que diz:
Tributo toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valornela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito, instituda emlei a cobrana mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Ataliba (1992, p.31-33) ensina que a funo de lei no evidentemente
formular conceitos tericos. "O art. 3.o do CTN mero precepto didtico [...]."
Entende que o conceito de tributo constitucional e nenhuma lei pode alarg-lo,
reduzi-lo ou modific-lo. Tendo em vista que um "conceito-chave" para a
demarcao das competncias legislativas e balizador do "regime tributrio",
composto pelo conjunto de princpios e regras constitucionais de proteo do
contribuinte contra o chamado "poder tributrio", o qual exercido, nas respectivas
43
faixas delineadas de competncias, pela Unio, Estados, Distrito Federal e
Municpios. Da o despropsito dessa "definio" legal, cuja admisso perigosa,
por ser potencialmente danosa aos direitos constitucionais dos contribuintes.
Amaro (2007, p.18-25) destaca, na definio de tributo citada pelo art. 3.o
do CTN, o equvoco traduzido na redundncia da expresso "prestao pecuniria,
em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir". Entende que o dispositivo supe
que o tributo possa ser: "a) uma prestao pecuniria em moeda; ou b) uma
prestao pecuniria cujo valor possa exprimir em moeda, o que, alis, traduz dupla
redundncia [...]". Diz que "pecuniria" so precisamente as prestaes em dinheiro
ou em "moeda". E que a alternativa "ou cujo valor nela se possa exprimir" realmente
s faz ecoar redundncia; se a prestao pecuniria, seu valor s h de poder (ou
melhor, ele dever) expressar-se em moeda, pois inconcebvel seria que se exprimisse,
por exemplo, em "sacos de farinha". Sumarizando, entende o autor que "pecunirias"
sempre se expressam em moeda e, portanto, o seu valor uma expresso monetria.
Finalizando a discusso, o autor apresenta sua definio de tributo da seguinte
forma: "Tributo a prestao pecuniria no sancionatria de ato ilcito, instituda
em lei e devida ao Estado ou a entidade no-estatais de fins de interesse pblico".
Ichihara (2006) no faz crticas s redundncias e s falhas existentes no
conceito legal apontadas por outros autores. Ao contrrio, aceita o conceito de tributo
como ele se apresenta, extraindo de seu contedo as seguintes caractersticas:
a) a prestao em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir deve ser
compulsria ou obrigatria;
b) no deve ser decorrente de sano de ato ilcito;
c) deve ser institudo ou decorrente de lei; e
d) deve ser cobrado mediante atividade administrativa plenamente
vinculada vontade legal.
44
Assim, entende o autor que quando algum estiver na contingncia de ter
que "levar dinheiro" aos cofres pblicos, cuja obrigao tenha as caractersticas
citadas, sem dvida alguma estar diante de um tributo. Entretanto, no basta
identificarmos genericamente a figura do "tributo". necessrio identificarmos ainda
as espcies tributrias, tambm estabelecidas pelo CTN, como impostos, taxas e
contribuio de melhoria.
Sousa (1981, p.161) aborda seu conceito geral de tributo como sendo:
"a receita derivada que o Estado arrecada mediante o emprego da sua soberania,
nos termos fixados em lei, sem contraprestao diretamente equivalente, e cujo
produto se destina ao custeio das atividades prprias do Estado".
Explanando essa conceituao, o professor Rubens Gomes de Sousa
esclarece que a receita derivada porque proveniente do patrimnio dos particulares.
Os termos so fixados em lei, porque a soberania tributria no absoluta, mesmo o
Estado exercendo o poder pblico. Diversamente, a receita originria que
proveniente do Patrimnio do Estado institui e arrecada os tributos como poder pblico.
No h uma relao contratual com o contribuinte; destinada ao custeio das
atividades prprias do Estado, porque a destinao da receita tributria sempre
cobrir despesas de interesse pblico.
Sobre este assunto, a lio precisa do mestre Ataliba (1992, p.110), que diz:
Em outras palavras: no basta, no suficiente reconhecer o tributo. Deve ointrprete determinar qual a espcie tributria ("natureza especfica do tributo",conforme o diz o art. 4.o do CTN), dado que a Constituio prescreve regimesdiferentes, conforme a espcie. Tais regimes caracterizam-se por princpiose regras especiais, constitucionalmente estabelecidos.
2.4.2 Espcies de Tributos
Ichihara (2006, p.80-95) sublinha que os doutrinadores ptrios classificam
as espcies tributrias da seguinte forma:
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Ives Ganda Martins aceita o critrio adotado pelo direito positivo, entendendo
que so cinco as espcies tributrias, quais sejam: Impostos, Taxas, Contribuio de
Melhoria, Emprstimos Compulsrios e Contribuies Sociais.
No entanto, para Luciano Amaro existem apenas quatro espcies tributrias:
Impostos, Taxas (de servios, de polcia, de utilizao de vias pblicas e de melhoria),
Contribuies (sociais, econmicas e corporativas) e Emprstimos Compulsrios.
Entretanto, a maioria dos doutrinadores citados por Ichihara, dentre os quais
ele tambm se inclui: Paulo de Barros Carvalho, Sacha Calmon Navarro Coelho, Hugo
de Brito Machado, Vitrio Cassone, Kiyoshi Harada, Celso Ribeiro de Carvalho,
Wagner Balera, entre outros, adota o critrio tripartido, de IMPOSTO, TAXAS e
CONTRIBUIO DE MELHORIA.
J o Geraldo Ataliba adota a classificao bipartida, em tributos vinculados
e no-vinculados, subdividindo os vinculados em direta e indiretamente.
Em face da existncia dessas correntes doutrinrias preferimos no
analis-las profundamente, porque nosso objeto no discutir exatamente sobre as
posies dos doutrinadores, mas apenas sobre algumas conceituaes que envolvem
as espcies tributrias consoante o diagrama da figura 1.
FIGURA 1 - DIAGRAMA DAS ESPCIES DE TRIBUTOS
FONTE: O autor
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2.4.2.1 Impostos
O conceito legal de Imposto est definido no art. 16 do CTN, que afirma:
"Imposto o tributo cuja obrigao tem por fato gerador uma situao independente
de qualquer atividade estatal especfica, relativa ao contribuinte".
Ataliba (1992, p.122) ensina como reconhecer os impostos por meio da
excluso: "sempre que a hiptese de incidncia no consistir numa atuao estatal,
ter-se- imposto".
Est claro no conceito legal que, no caso do imposto, a materialidade de seu
fato gerador independe de qualquer atividade estatal. Inexistindo qualquer atuao
estatal como condio para exigncia do tributo, sem dvida alguma estamos diante
de um tributo da espcie "imposto".
Assim, quando estivermos em face de um tributo cujo fato gerador independe
de qualquer atividade especfica do estado, relativamente ao contribuinte, como,
por exemplo, circular mercadoria, industrializar produtos, exportar mercadorias,
ser proprietrio de um imvel etc., estaremos diante de uma espcie tributria
denominada "imposto".
2.4.2.2 Taxas
O conceito legal de Taxa encontra-se no art. 77 do CTN, segundo o qual
As taxas cobradas pela Unio, Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municpios,no mbito de suas respectivas atribuies, tm como fato gerador o exercciodo poder de polcia, ou a utilizao, efetiva ou potencial, de servio pblicoespecfico e divisvel, prestado ao contribuinte ou posto sua disposio.
A caracterstica da taxa reside na materialidade de seu fato gerador em
relao "atuao estatal diretamente referida ao contribuinte", em forma de
contraprestao de servio. Desta forma, quando o Estado presta um servio pblico
diretamente ao contribuinte ou exerce o seu poder de polcia tambm diretamente,
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este fica com a obrigao de pagar uma taxa, a exemplo da taxa de coleta de lixo,
taxa de licena de instalao e funcionamento.
As tarifas e os preos pblicos so diferentes das taxas das espcies
tributrias. Os legisladores e doutrinadores costumam denominar de tarifas as
relacionadas com gua, esgoto, energia eltrica, submetidas ao regime de Direito
pblico, enquanto as taxas pertencem ao regime jurdico aplicvel ao Direito, isentas
de fixao em lei. Por isso, no se poderia caracterizar um produto da espcie taxa,
uma vez que no preenche os requisitos exigidos pela lei tributria (ICHIHARA, 2006).
O poder de polcia est definido no art. 78 do CNT: constitudo
basicamente pelas atividades da administrao pblica que limitam e disciplinam
direito, interesse ou liberdade em razo do interesse pblico, concernentes
segurana, higiene, ordem, aos costumes etc. A expresso polcia refere-se
possibilidade de fiscalizar e autorizar determinadas atividades, limitando-as em razo do
interesse pblico.
2.4.2.3 Contribuio de melhoria
Esta espcie de tributo somente pode ser cobrada pelo ente pblico que
realizar obra pblica da qual resulte valorizao imobiliria. Neste caso, os contribuintes
so os proprietrios dos imveis valorizados pela obra pblica. O tributo tem como
base o custo total da obra, que ser rateado entre os beneficirios na proporo de sua
propriedade, em relao ao total da rea objeto da obra (FABRETTI; FABRETTI, 2006).
A forma de cobrana desta espcie de tributo prevista no art. 81 do CTN:
Art. 81. A contribuio de melhoria cobrada pela Unio, pelos Estados, peloDistrito Federal ou Municpios, no mbito de suas respectivas atribuies, instituda para fazer face ao custo de obras pblicas de que decorravalorizao imobiliria, tendo como limite total a despesa realizada e comolimite individual o acrscimo de valor que a obra resultar para cada imvelbeneficiado.
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Por ocasio do respectivo lanamento, cada contribuinte dever ser
notificado do montante da contribuio, da forma e dos prazos de pagamento, bem
como dos elementos que integram a base de clculo. Isto possibilita que o
contribuinte possa tempestivamente impugnar o lanamento caso no esteja de
acordo, principalmente se o valor da contribuio for superior ao acrscimo de
valorizao do imvel (MARTINS, 2007, p.121-122).
Ichihara (2006) adverte que a espcie Contribuio de Melhoria muitas
vezes acaba sendo um "peso morto" pela dificuldade de fixao da base de clculo,
bem como, muitas vezes, pela inviabilidade em relao ao critrio de diviso do
custo da obra. que, dependendo dos parmetros tomados para medir o benefcio e
a valorizao, existem, ainda, outras obras com pequeno custo e muita valorizao,
bem como obras de custo muito elevado e de pouca valorizao imobiliria.
2.4.2.4 Emprstimos compulsrios
A lei determina que somente a Unio, em casos excepcionais definidos em
lei complementar, poder instituir emprstimos compulsrios, aos quais se aplicaro
as disposies constitucionais relati