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Pratica Pedagogica

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V./Adriana Sales Barros;UEPB/Coordenadoria Institucional de Programas Especiais, Secretaria de Educação à Distância.

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  • Governo FederalDilma Vana Rousseff

    Presidente

    Ministrio da EducaoAlusio Mercadante

    Ministro

    CAPESJorge Almeida Guimares

    Presidente

    Diretor de Educao a DistnciaJoo Carlos Teatini de Souza Clmaco

    Governo do EstadoRicardo Vieira Coutinho

    Governador

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABAMarlene Alves Sousa Luna

    Reitora

    Aldo Bezerra MacielVice-Reitor

    Pr-Reitor de Ensino de Graduao

    Eli Brando da Silva

    Coordenao Institucional de Programas Especiais CIPESecretaria de Educao a Distncia SEAD

    Eliane de Moura Silva

    Assessora de EADCoord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPB

    Ceclia Queiroz

  • Prtica Pedaggica V

    Adriana Sales Barros

    Campina Grande-PB2012

  • Editora da Universidade Estadual da Paraba

    DiretorCidoval Morais de Sousa

    Coordenao de EditoraoAro de Azevedo Souza

    Conselho EditorialClia Marques Teles - UFBADilma Maria Brito Melo Trovo - UEPBDjane de Ftima Oliveira - UEPBGesinaldo Atade Cndido - UFCGJoviana Quintes Avanci - FIOCRUZRosilda Alves Bezerra - UEPBWaleska Silveira Lira - UEPB

    Universidade Estadual da ParabaMarlene Alves Sousa LunaReitora

    Aldo Bezerra MacielVice-Reitor

    Pr-Reitor de Ensino de Graduao Eli Brando da Silva

    Coordenao Institucional de Programas Especiais-CIPE Secretaria de Educao a Distncia SEADEliane de Moura Silva

    Ceclia QueirozAssessora de EAD

    Coordenador de Tecnologiatalo Brito Vilarim

    Projeto GrficoAro de Azevdo Souza

    Revisora de Linguagem em EADRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

    Reviso LingusticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

    Diagramao Aro de Azevdo SouzaGabriel Granja

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

    EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABARua Baranas, 351 - Bodocong - Bairro Universitrio - Campina Grande-PB - CEP 58429-500

    Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]

    800B277p Barros, Adriana Sales.

    Prtica pedaggica V./Adriana Sales Barros;UEPB/Coordenadoria Institucional de Programas Especiais, Secretaria de Educao Distncia._Campina Grande: EDUEPB, 2012. 180 p.: Il.

    ISBN 978-85-7879-115-5

    1. Literatura. 2. Letramento Literrio. 3. Literatura e ensino. 4.Linguagem. 5. Formao do leitor. I. Titulo. II.UEPB/ Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.

    21. ed.CDD

  • Sumrio

    I UnidadeConceituar e no definir a literatura..................................................7

    II UnidadeConcepes de literariedade: combinao seleo. Texto literrio e texto no-literrio.................................................27

    III UnidadeLiteratura-literariedade e diversidade textual: poesia e prosa..............45

    IV UnidadeLiteratura & ensino:Letramento Literrio..............................................69

    V UnidadeLiteratura & ensino: Letramento literrio: Prospostas de Ensino..................87

    VI UnidadeLiteratura Infantil...........................................................................113

    VII UnidadeLiteratura & Escola: propostas metodolgicas para educao infantil e ensino fundamental I................................135

    VIII UnidadeLiteratura & Ensino: Propostas metodolgicas para o ensino mdio...............................................159

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 7

    I UNIDADE

    Conceituar e no definir a literatura

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    Cada pessoa que passa em nossa vida, passa so-zinha, porque cada pessoa nica e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e no nos deixa s porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de ns. Essa a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas no se encontram por acaso.

    (Charles Chaplin)

    Apresentao

    Caros(as) alunos(as)

    com muita satisfao e entusiasmo que iniciamos mais um semestre do curso de Letras. Sejam bem-vindos(as) ao mundo de arte e magia da literatura, evidenciada aqui sob a tutela do ensino-aprendizagem.

    A disciplina que faz parte da composio curricular do curso de Letras intitulada: Prtica Pedaggica V tem como objetivo estabelecer as relaes inerentes trade literatura--linguagem-sociedade, e prtica pedaggica. Com o intui-to de configurar a referida relao o percurso ser iniciado com as concepes de literatura. Refletiremos ainda, sobre literariedade, literatura e ensino, letramento literrio, litera-tura e ensino fundamental e culminaremos nossa reflexo tratando da literatura e ensino mdio.

    Como o prprio nome sugere uma disciplina que alia teoria e prtica. esta caracterstica que a vincula ao curso de licenciatura em Letras que tem como alvo uma forma-o profissional voltada para o ensino-aprendizagem, e que contribui significativamente para o exerccio do magistrio.

    O desenvolvimento das unidades desta disciplina acon-tecer a partir de leituras de textos tericos subsidiando a prtica pedaggica. indispensvel o cumprimento rigoroso de todas as atividades propostas neste mdulo. Pr-requisito para o xito e concluso da disciplina aqui esboada.

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    O livro constitudo por duas partes. Sendo a primeira de cunho mais terico, composta por quatro unidades. E a segunda de cunho prtico subsidiada pelo aporte terico exposto na primeira parte da obra, tambm composta por quatro unidades. Ambas constituem a interface teoria e pr-tica no tocante ao ensino-aprendizagem de literatura.

    A primeira unidade da primeira parte, conforme dito an-teriormente, tem carter mais terico, embora compreenda-mos, e por isso contemplamos as diferentes concepes de literatura associadas com atividades de cunho didtico.

    No que se refere segunda unidade intitulada Concep-es de literariedade: combinao - seleo, e texto literrio e texto no-literrio, a reflexo inside sobre as concepes de literariedade figurativizadas pela via da combinao seleo na construo de textos ficcionais e no-ficcionais cujas particularidades resultam na identificao do texto lite-rrio, no-literrio e paraliterrio.

    Quanto terceira unidade Literatura, literariedade e di-versidade textual: poesia e prosa, a leitura desse objeto lin-gustico o texto literrio concebida como uma ativida-de que se exprime pela reconstruo, a partir da linguagem, de todo o universo simblico que as palavras encerram e pela concretizao desse universo com base nas vivncias pessoais do sujeito.

    Finalizamos a primeira parte com a quarta unidade de-nominada de Literatura e ensino: Letramento literrio, forne-cendo o arcabouo terico que configura o letramento lite-rrio como forma de estabelecer a binomia teoria e prtica no ensino-aprendizagem referente ao trabalho didtico-pe-daggico com o ensino fundamental que inclui a literatura infantil e o letramento literrio II referente ao trabalho com o ensino mdio.

    A segunda parte iniciada na quinta unidade caminha rumo ao mbito didtico pedaggico e tem como cenrio o letramento literrio, cujo foco o trabalho com a leitura li-terria e o comportamento leitor que subsidiam as propostas metodolgicas norteadoras do ensino de literatura.

    A sexta unidade prioriza a literatura infantil numa abor-dagem que discute o seu papel na formao das crianas via laos com o universo escolar pelo transitar do mundo da magia com sugestes de atividades que viabilizam essa vivncia fantstica e maravilhosa que a fantasia.

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    As duas ltimas unidades, ou seja, a stima e a oitava unidades, fornecem propostas metodolgicas para o ensino de literatura cujo norte terico o letramento literrio, sua importncia na formao do leitor pela via da leitura literria e do comportamento leitor. Na stima unidade, as propostas priorizam a educao infantil e o ensino fundamental I. E na oitava e ltima unidade as propostas pontuam o trabalho com o ensino fundamental II e o ensino mdio

    Das atividades propostas no decorrer das unidades uma ser de carter obrigatrio, uma vez que sero entregues para correo, outras sero complementares, aplicadas para a fixao do contedo abordado.

    imprescindvel, pois, que voc leia, estude, reflita e compreenda que s se aprende fazendo. Por isso, praticar com base terica a melhor maneira para formar e transfor-mar o fazer pedaggico.

    Bons estudos!

    Objetivos

    Para esta unidade, esperamos que voc consiga:

    Refletir sobre as diferentes concepes de literatura. Compreender a relao das diferentes concepes de literatura

    com o ensino-aprendizagem. Identificar as diferentes concepes de literatura nas atividades

    propostas na unidade.

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    Conceituar, e no definir, a Literatura

    Vamos comear com a concepo proposta por Aurlio (pg. 845), afirma que:

    LITERATURA [ Do lat. litteratura.] S.F. 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artsticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literrios dum pas ou duma poca. 3. Os homens de letras: A li-teratura brasileira fez-se representar no colquio de Lisboa. 4. A vida literria. 5. A carreira das letras. 6. Conjunto de conhecimentos relativos s obras ou aos autores literrios: estudante de literatura brasi-leira; manual de literatura portuguesa. 7. Qualquer dos usos estticos da linguagem: literatura oral. 8. Fam. Irrealidade, fico: Sonhador, tudo quanto diz literatura. 9. Bibliografia: j bem extensa a lite-ratura da fsica nuclear. 10. Conjunto de escritos de propaganda de um produto industrial.

    Observemos que os conceitos propostos acima apresentam dire-es diferentes acerca de um tema: Literatura. E essas diferentes di-rees acabaram por determinar as vias pelas quais a literatura foi caricaturizada. Faamos uma breve exposio, cujo intuito delinear esse percurso terico-cronolgico, para posteriormente ancor-lo ao contexto do ensino-aprendizagem.

    antiga a preocupao em conceituar a Literatura de um modo convincente e conclusivo. Porm por mais esforos que tenham sido feitos, o problema continua aberto. E por qu? Ora, pelo simples fato de que nesse particular, somente podemos usar conceitos, nunca defi-nio.

    Assim, primordial esclarecermos sobre definio e conceituao.

    A definio pertence ao campo da cincia. Definir dar uma ex-plicao precisa, exata de algo. Assim, quando dizemos que gua [H2O], estamos dando uma definio, pois os termos do enunciado correspondem essncia da gua e to somente a ela. Alm disso, tal definio aceita universalmente, pois se baseia no raciocnio, ou melhor, no emprego da razo.

    O Conceito, por sua vez, feito de acordo com as impresses mais ou menos subjetivas que cada um retira do objeto. Assim, quando con-ceituamos o amor, este conceito feito levando em conta a forma como esse sentimento se manifestou em ns. Da mesma maneira, quando dizemos que belo o que agrada, estamos tentando conceituar o belo de uma forma que procura inutilmente ser universal. Basta uma

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    anlise superficial deste enunciado para que ele se revele incapaz de satisfazer a todos. Tudo o que agrada belo? O que desagrada no pode ser belo? E quando um mesmo objeto agrada uma pessoa e desa-grada outra? O feio para uns no pode ser belo para outros?

    A definio de literatura um ponto que precisa ser verificado com cuidado, pois, por sculos, esse conceito esteve atrelado apenas a con-cepes estticas e morais, em detrimento das dimenses histricas e sociais. Passemos a exposio terico-cronolgica sobre as variadas definies no tocante aos termos literatura e literrio, desde Aristteles at os nossos dias, segundo a viso de autores contemporneos.

    A literatura e a arte so direitos aos quais o indivduo deve ter aces-so, assim como casa, comida e sade. inegvel que a obra exprime a sociedade. o ponto de vista de Cndido (1989). Para ele, a litera-tura uma manifestao universal humana, da qual os povos precisam para sobreviver, inclusive como forma de equilbrio social. A literatura faz com que o indivduo desperte para sua humanidade, auxiliando, en-tre outros requisitos, na formao da personalidade de cada um. Autor, obra e pblico so os trs fatores essenciais da comunicao artstica.

    Na concepo de Bosi (1985), toda obra de arte e, portanto, tam-bm a literatura, tem suas razes afixadas na realidade. A criao lite-rria atende necessidade de representao do mundo, sendo feita atravs do sentimento de gratuidade e de iluso. As manifestaes ar-tsticas so mantidas por todas as sociedades como necessidade de sobrevivncia, mostrando uma das formas de atuao sobre o mundo, traduzindo os impulsos de comunicao.

    Silva e Zilberman (1990) explicam que, em seus primrdios, a lite-ratura resumia-se poesia e tinha como objetivo principal a diverso da nobreza. Com o passar do tempo, a chamada literatura passou a ter uma definio voltada ao educativa. O que importa ressaltar que o texto literrio nunca deixou de ter parte na formao intelectual humana.

    Ainda sobre o conceito de literatura, Eagleton (1997) expe que a literatura fala de si mesma, que no deve ser confundida com escrita bonita e que tem valor transitivo, pois, depende dos objetivos, das expe-rincias e das situaes vividas pelos leitores, dos modos de produo em dado momento histrico. A cada nova leitura (reescritura) da obra literria por variados leitores, em tempos diferentes, novas ideologias sociais so impostas, novos sentidos e juzos de valor so atribudos e a literatura caminha sempre rodeada por novos e velhos conceitos e definies.

    Pode-se afirmar que o texto literrio retrata a atividade humana e ofe-rece recursos para que se possa compreend-la, atravs dos valores estti-cos e culturais que essa representao pode suscitar. A educao literria, por esse prisma, contribui para a formao individual, mantendo uma li-gao entre o indivduo e sua cultura, demonstrando como as geraes tm abordado a valorizao da atividade humana atravs da linguagem.

    Jauss (1994) e Iser (1999) fornecem um ponto de vista basilar: do vis receptivo, verifica-se a apreciao de uma obra de arte por sujei-

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    tos inseridos numa realidade histrica diferente, ou seja, dispensa-se a concepo unvoca de arte para abrir-se o leque para as re-significa-es provenientes da experincia dos leitores. A partir da juno entre os momentos do efeito (condicionado pela obra em si) e da recepo (trazida pelo leitor em qualquer espao ou tempo), estabelece-se a re-lao texto-leitor, que vai desencadear a fruio esttica. O terico alemo ainda enfatiza que os conhecimentos prvios do leitor sempre devem ser levados em considerao. A obra pode atender, romper, ampliar ou no as expectativas dos leitores e , exatamente, disso que resultaria a reconstruo do horizonte de expectativas do leitor. Com isso, observa-se o que Jauss chama de distncia esttica, ou seja, a diferena entre o horizonte de expectativas do leitor e da obra. Tem-se, ento, que o novo oportunizar maiores mudanas nos leitores, isto , ampliar seu horizonte de expectativas, enquanto o que apenas atender tais horizontes no lhes trar grandes acrscimos.

    Leite (1988) diz que a literatura deve perder seu aspecto monumen-tal e dar uma oportunidade ao prazer do texto. E afirma que a literatura feita da juno entre leitor e texto, produzindo sentidos que nunca esto acabados, mas sim, em processo de formao constante. A partir dos estudos de recepo literria, reflete-se sobre como o leitor afe-tado pelo livro e como ele muda da passividade para um estado ativo.

    Lajolo (1995, p.17) que afirma que a literatura iguala-se a qual-quer produto produzido e consumido em moldes capitalistas. Ela pre-tende com isso fazer que entendamos que uma obra para ser consi-derada literatura preciso que tenha certa tradio cultural, precisa de um aval de setores especializados. A escola um setor importante, pois h sculos vem sendo avalista dos livros que circulam por a, isso porque analisa e indica a leitura dos mesmos aos alunos.

    As concepes de literatura propostas importam menos do que os caminhos percorridos para chegar a elas. Embora importem. Com isso podemos entender que os caminhos no so fceis de serem percorri-dos, pois so um tanto ambguos.

    Atividade I1. De acordo com a exposio terica acerca das concepes de literatura

    estabelea a relao de cada uma delas com os conceitos expostos no dicionrio de Aurlio. Justifique suas escolhas.

    2. Ainda de acordo com as concepes de literatura tratadas acima. Quais

    as relaes de semelhanas e de diferenas entre as posies tericas apresentadas. dica. utilize o bloco

    de anotaes para responder as atividades!

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    Atividade II1. Quais as concepes de literatura que figuram no texto abaixo? Defenda o

    seu ponto de vista.

    Reflexo

    Diferentemente do que se pensa com frequncia, a Literatura pode sim ser objeto de estudo. Ao se teorizar a Literatura constri-se um objeto de reflexo e construo de novos conhecimentos. Mas, para que isso ocorra, necessrio estud-la por si mesma, e no atravs de relaes com outros meios - autor, poeta, leitor.

    A Literatura um fenmeno esttico, uma arte: a arte da palavra. Para Roberto Aczelo (1997) a literatura pode ser culturalizada; por-que corresponde a uma ideia admitida como to natural que no pode encerrar nenhum problema destituindo a pergunta O que literatu-ra?. Mas, a literatura deve ser objeto de problematizao e questio-namentos para que possa desfazer essa noo do bvio. Pode sim, ser teorizada, j que teorizar sobre algo transform-lo num objeto proble-mtico de interesse metdico e analtico. Ao empregar-se o termo te-oria num sentido amplo, admite-se dois grupos bsicos de teorias: um de natureza normativa e outro de natureza descritiva. O normativismo torna absoluto certos valores tidos como mais relevantes limitando os problemas da literatura num crculo de dogmas verdadeiros.

    Como exemplo, podemos citar as duas disciplinas que surgiram na Grcia Antiga: a retrica que objetivava tornar eficaz a argumentao atravs da palavra assim como tornar mais atraente o discurso; e a po-tica, que possua conceitos como a mimese, a cartase e modalidades

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 15

    ou gneros literrios. J o descritivismo, ao contrrio, favorece uma discusso aberta de hipteses diversas, ou seja, possibilita explicaes provveis que lhe so apropriadas.

    No sculo XIX, abandona-se essa ideia de estudo da literatura atra-vs de normas. Surge ento a noo de estudo da literatura como um objeto de pesquisa histrica (historicismo) e cientfica (positivismo). Da originou-se a busca das causas da literatura nos fatores externos a ela, identificados ou com a vida e personalidade do escritor (biogrfico- psicolgica), ou com o contexto social da produo da obra (sociol-gica). Tambm nesse perodo originou-se o modelo filolgico baseado nos princpios cientificistas e historicistas, mas limitando seu alcance constatao de fatos.

    Contrariando o estudo da literatura como objeto, desenvolveu-se nesse mesmo sculo o impressionismo crtico. Para seus adeptos, no se pode teorizar a literatura, mas registrar impresses de leitura, sem a preocupao de sistematiz-la ou torn-la conceitual. Assim, a obra literria no se destinaria ao estudo, mas a fruio. importante res-saltar que a atitude do impressionismo de se opor a teorizar a literatura, acaba tornado-a um objeto terico de estudo, pois consiste numa srie de argumentos do qual se deve tratar a literatura.

    Dessa forma, a Teoria da Literatura consiste numa modalidade his-trica e conceitualmente distinta de problematizar a literatura, de ma-neira metdica e aberta pluralidade da produo literria e de seus modelos de anlise.

    Assim sendo, a teoria da literatura no uma meia dzia de noes elementares e tericas cuja razo de ser consiste em suas aplicaes prticas. Segundo Roberto Aczelo (ibid) para se definir o objeto de estudo da teoria da literatura necessrio delimitar o significado das palavras poesia e literatura. A poesia seria um gnero de literatura caracterizado pelo uso da linguagem metrificada e do verso. Tambm englobaria as manifestaes em linguagem no-metrificada, mas que possuam propriedades artsticas e/ou ficcionais: situaes, paisagem, manifestao artstica que compem uma aparncia comovente ou bela capazes de gerar comoo no espectador. J a literatura seria o conjunto da produo escrita de uma poca ou pas (por exemplo: a literatura do sculo XIX e a literatura russa); e o conjunto de obras distinto pela temtica e bibliografia sobre determinado campo especia-lizado do conhecimento (por exemplo: a literatura mdica).

    A palavra literatura no revela automaticamente o objeto de es-tudo da teoria da literatura. Assim, seu objeto de estudo a literatura stricto sensu, ou seja, determinadas composies verbais em que a linguagem se apresenta elaborada de maneira especial, e nas quais se d a constituio de universos imaginrios ou, ento, os de natureza ficcional.

    Dessa forma, a teoria da literatura tem como objeto de estudo a elaborao especial da linguagem, ou seja, a sua literariedade, o que a torna uma certa obra em obra literria.

  • 16 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    O uso literrio da lngua caracteriza-se com um cuidado especial com a forma, visando explorao dos recursos lingusticos (fnico, lxico, morfossinttico, tambm semntico, prosdico). O que interes-sa no o tema, mas a maneira como ele explorado formalmente. Assim, no h temas especficos de textos literrios, mas um leque de opes.

    Os conceitos de literaturaComo vimos nesta unidade no fcil o trabalho de conceituar a Li-

    teratura. Por trs de todo conceito haver sempre um posicionamento crtico. Todavia, colocaremos alguns conceitos, em relevo, para que possam fazer suas avaliaes:

    Um dos mais antigos textos sobre o conceito de Literatura a Po-tica, de Aristteles (que inaugurou a longa srie de estudos). Nesse texto, o filsofo grego afirma que arte imitao (mmesis em grego). E justifica: o imitar congnito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois de todos, ele o mais imitador e, por imitao, apreende as primeiras lies), e os homens se comprazem no imitado. O que ele quer nos dizer que o imitar faz parte da natureza humana e os homens sentem prazer nisso; em sntese, arte como recriao.

    A literatura nos permite viver num mundo onde as regras inflexveis da vida real podem ser quebradas, onde nos libertamos do crcere do tempo e do espao, onde podemos cometer excessos sem castigo e desfrutar de uma soberania sem limites.

    Literatura a imortalidade da fala.

    com bons sentimentos que se faz literatura ruim. (Andr Gide, escritor francs)

    A distino entre literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrnsecos, a matria e a forma do Verbo. De que se serve o homem de letras para realizar seu gnio inventivo? No , por na-tureza, nem do movimento como o danarino, nem da linha como o escultor ou o arquiteto, nem do som como o msico, nem da cor como o pintor. E sim da palavra. A palavra , pois, o elemento material in-trnseco do homem de letras para realizar sua natureza e alcanar seu objetivo artstico. (Alceu Amoroso Lima)

    A Literatura obedece a leis inflexveis: a da herana, a do meio, a do momento.(Hypolite Taine, determinista, sculo XIX)

    A Literatura como as demais formas de arte, tem a capacidade de provocar no leitor um estranhamento diante da realidade, como se a vssemos pela primeira vez, sob um prisma diferente. (Chklovski, escritor russo)

    A Literatura arte e s pode ser encarada como arte. a arte pela arte. (Doutrina da arte pela arte, fins do sculo XIX)

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    A Literatura a expresso da sociedade, como a palavra a expresso do homem.(Louis de Bonald, pensador e crtico do Romantismo francs, incio do sculo XIX)

    O poeta sente as palavras ou frases como coisas e no como sinais e a sua obra como um fim e no como um meio; como uma arma de combate. (Jean-Paul Sartre)

    A literatura como o sorriso da sociedade. Quando a sociedade est feliz, o esprito se lhe reflete nas artes e, na arte literria, com fic-o e com poesias, as mais graciosas expresses da imaginao. Se h apreenso ou sofrimento, o esprito se concentra grave, preocupado, e ento, histrias, ensaios morais e cientficos, sociolgicos e polticos, so-lhe a preferncia imposta pela utilidade imediata. (Afrnio Peixoto, Panorama da Literatura Brasileira)

    Literatura a linguagem carregada de significado. Grande Literatu-ra simplesmente a linguagem carregada de significado at o mximo grau possvel. A literatura no existe no vcuo. Os escritores como tais, tm uma funo social definida, exatamente proporcional sua com-petncia como escritores. Essa a sua principal utilidade (Ezra Pound, poeta, terico e crtico de literatura norte-americano).

    Afrnio Coutinho, em suas Notas de Teoria Literria, contribui com este magnfico conceito: A literatura, como toda arte, uma transfigurao do real, a realidade recriada, atravs do esprito do artista e retransmitida atravs da lngua para as formas, que so os gneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, ento, a viver outra vida, autnoma, independente do autor e da experincia de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram s vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graas imaginao do artista. So agora fatos de outra natureza, diferente dos fatos naturais objetivados pela cincia ou pela his-tria ou pelo social. O artista literrio cria ou recria um mundo de verdades que no so mais medidas pelos mesmos padres das verdades ocorridas. Os fatos que manipulam no tm comparao com os da realidade con-creta. So as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experincia, uma compreenso e um julgamento das coisas humanas, um sentido de vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida. A Literatura , assim, vida, parte da vida, no se admitindo possa haver con-flito entre uma e outra. Atravs das obras literrias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque so as verdades da mesma condio humana.

    A obra literria no pura receptividade imitativa ou reproduti-va, nem pura criatividade espontnea e livre; mas expresso de um sentido novo, escondido no mundo, e um processo de construo do objeto artstico, em que o artista colabora com a natureza, luta com ela ou contra ela, separa-se dela ou volta a ela, vence a resistncia dela ou dobram-se as exigncias dela. O artista um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia de outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para critic--la, seja para afirm-la, seja para super-la, (Marilena Chau, Convite Filosofia).

  • 18 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Apesar das diferenas e por vezes antagonismos presentes nessa pequena amostragem, podemos retirar dela alguns fatos inegveis:

    a) A Literatura uma manifestao artstica.

    b) A linguagem o material da Literatura, isto , o artista literrio trabalha com a palavra.

    c) Em toda obra literria percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diante da realidade e das aspiraes humanas.

    As autoras Maria da Glria Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, discu-tindo o ensino de literatura propem como uma das alternativas meto-dolgicas o Mtodo Recepcional, por elas elaborado, embasadas nos pressupostos da Esttica da Recepo, que foram expostos, rapidamen-te, anteriormente. Assim sendo, entendem que:

    A literatura no se esgota no texto. Complementa-se no ato da leitura e o pressupe, prefigurando-o em si, atravs de indcios do com-portamento a ser assumido pelo leitor. Esse, porm, pode submeter-se ou no a tais pistas de leitura, entrando em dilogo com o texto e fa-zendo-o corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses. O processo de recepo textual, portanto, implica a participao ativa e criativa daquele que l, sem com isso sufocar-se a autonomia da obra (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 86).

    Entretanto, as autoras salientam que a aplicao do mtodo recep-cional, nas escolas brasileiras, ainda pode ser complicada, justamente pela no valorizao do leitor/aluno.

    O mtodo recepcional estranho escola brasileira, em que a preocupao com o ponto de vista do leitor no parte da tradio. Via de regra, os estudos literrios nela tem se dedicado explorao de textos e de sua contextualizao espao-temporal, num eixo positivista. O relativismo de interpretao e, portanto, de leitura no tpico de considerao no mbito acadmico, o que se explica pela tendncia ao autoritarismo da prpria cultura brasileira, que endeusa seus expo-entes, temerosa de exp-los crtica. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 81)

    Essa ressalva faz com que a avaliao do mtodo recepcional seja ainda mais positiva, j que acarreta inovaes para um sistema de en-sino em real estado de precariedade. Poder-se- verificar, nitidamente, as contribuies que o mtodo em questo poder trazer para as salas de aula. Isso se d, exatamente, pela preocupao direta com o leitor, seus conhecimentos prvios e a constatao de seus horizontes de ex-pectativas, nota-se ento que:

    O processo de recepo se inicia antes do contato do leitor com o texto. O leitor possui um horizonte que o limita, mas que pode transfor-mar-se continuamente, abrindo-se. Esse horizonte o do mundo de sua vida, com tudo que o povoa: vivncias pessoais, scio-histricas e nor-mas filosficas, religiosas, estticas, jurdicas, ideolgicas, que orien-tam ou explicam tais vivncias. Munidos dessas referncias, o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquadro de seu horizonte

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 19

    de valores. Por sua vez, o texto pode confirmar ou perturbar esse ho-rizonte, em termos das expectativas do leitor, que o recebe e julga por tudo o que j conhece e aceita. O texto, quanto mais se distancia do que o leitor espera por hbito, mais altera os limites desse horizonte de expectativas, ampliando-os. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 87)

    A parir dessa constatao sobre o processo de recepo, nota-se que so necessrias duas etapas, a determinao do horizonte de ex-pectativas e sua possvel ampliao. Porm, para percorrer esse percur-so, as autoras pensaram em mais trs etapas, sendo, ento o mtodo recepcional composto por cinco etapas, sendo elas:

    1. Determinao do Horizonte de Expectativas

    2. Atendimento do horizonte de expectativas

    3. Ruptura do horizonte de expectativas

    4. Questionamento do horizonte de expectativas

    5. Ampliao do horizonte de expectativas

    Sendo estas as cinco etapas do Mtodo recepcional, verificar-se-, seguidamente, como o professor dever agir em cada uma das etapas conforme os pressupostos das autoras. Na primeira etapa do Mtodo Recepcional o professor dever determinar quais so os horizontes de expectativas de seus alunos/leitores para que possa elaborar estrat-gias de ruptura e transformao desses horizontes. Esse procedimento indicar o sucesso a ser alcanado com este mtodo. O professor deve considerar, nesta etapa, os valores prezados pelos alunos, suas pre-ferncias e comportamentos. E isso pode ser detectado por meio de conversas informais com os alunos, observao de comportamentos em sala e de tipos de brincadeira na hora do intervalo, entrevistas, questionrios e outros.

    Tendo detectado as aspiraes dos alunos/leitores, o professor deve, ento, atender a esses interesses considerando dois aspectos im-portantes: no primeiro o professor deve oferecer, aos alunos, textos que correspondam ao esperado por eles; e no segundo deve organizar es-tratgias de ensino que sejam do conhecimento dos alunos para, aos poucos, acrescentar elementos novos nas atividades desenvolvidas.

    Atendido devidamente o horizonte de expectativas dos alunos/lei-tores, o professor deve iniciar essa terceira etapa prevista no mtodo. Para tanto, ele deve introduzir textos e atividades que abalem as certe-zas e costumes dos alunos, mas essa ruptura no deve se dar em todos os elementos de uma s vez. O papel do professor, aqui, dar condi-es para que os prprios alunos percebam que h algo de estranho, de novo, no modo de proceder no, at ento, conhecido.

    A ruptura deve dar-se de maneira equilibrada para que os alunos no rejeitem a experincia nova. Ou seja, o professor pode, por exem-plo, continuar a abordar a temtica trabalhada na etapa anterior e

  • 20 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    promover a ruptura com esta: quanto forma, linguagem, o gnero e/ou estratgias de trabalho com o texto.

    Nesta etapa, os alunos/leitores devem estar aptos para refletirem sobre o trabalho desenvolvido at o momento, comparando as etapas anteriores a fim de julgar qual delas exigiu maior grau de dificuldade e qual lhes proporcionou maior satisfao.

    Para que esse questionamento se d de maneira mais adequada, atividades que exijam mais dos alunos/leitores, maior participao e discusso, so as mais indicadas.

    Esta etapa resultante da reflexo anterior feita pelos alunos. quase que inteiramente da responsabilidade dos prprios alunos, uma vez que, so eles que devem ter conscincia das mudanas que ocor-reram no seu aprendizado sobre o ensino de literatura, cotejando seus anseios iniciais e os de agora.

    Ao professor cabe fazer com que os alunos/leitores tenham condi-es de avaliar eles prprios o seu crescimento e o que ainda resta para ampliar os seus horizontes de expectativas.

    No processo dinmico da recepo previsto no Mtodo Recepcio-nal, esta ltima etapa coincide com o incio de uma nova aplicao do mtodo porm, com a grande vantagem de poder contar com a participao dos alunos desde o incio do processo.

    Verifica-se claramente que o aluno leitor o ponto principal do Mtodo Recepcional, assim como o leitor tem lugar de destaque na Esttica da Recepo. Esta uma contribuio bastante valiosa, tendo em vista que, a partir do momento em que se parte do prprio conhe-cimento dos alunos/leitores o interessa pela leitura literria tende a ser cada vez maior. Observa-se, ainda, que, seguindo paulatinamente as cinco etapas, os alunos/leitores tero seus horizontes de expectativas cada vez mais ampliados, o que far com que, por sua vez seu conhe-cimento literrio seja, tambm, cada vez maior.

    A importncia de um mtodo que se preocupe diretamente com os alunos/leitores indiscutvel, principalmente em um ensino precrio como o que se nota nas escolas. A Literatura deve ser valorizada cada vez mais, tendo em vista sua funo formativa e, alm disso pelo fato de ela poder ajudar a formar homens crticos e reflexivos. Esse dado no se refere apenas leitura de textos literrios, mas tambm no sentido de formar cidados que saibam discernir sobre seus deveres e direitos.

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 21

    Atividade III

    1. Quais as concepes de literatura mostradas acima figuram nos textos abaixo? Justifique seu ponto de vista.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

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    Leituras recomendadas

    CNDIDO, Antnio. A literatura e a formao do homem. In: Cincia e Cultura. v. 24, n. 9. So Paulo: 1972.

    Leitura indispensvel para entender a trade literatura linguagem - sociedade como processo que constitui a humanizaodo ser hu-mano. Direito que no pode ser negado a ningum.

    JAUSS, Hans. A Histria da Literatura como provocao Teoria Literria. Trad. Srgio Tellaroli. So Paulo: tica, 1994

    A obra literria no um objeto que exista por si s, oferecendo a cada observador em cada poca um mesmo aspecto. No se trata de um monumento a revelar monologicamente seu Ser atemporal. Ela , antes, como uma partitura voltada para a ressonncia sempre renova-da da leitura, libertando o texto da matria das palavras e conferindo--lhe existncia atual. Leitura indispensvel para o entendimento sobre a Histria da literatura e a relao de provocao com a Teoria literria.

    LAJOLO, Marisa. O que literatura. 12. ed. So Paulo: Brasiliense, 1990. Pgs.06-23.

    A obra acima, como o prprio nome sugere, tem o intuito de obter es-clarecimentos sobre o conceito de literatura, destacando que praticamente impossvel defini-la, uma vez que para cada tempo existe um conceito.

    ________. O texto no pretexto. In: ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982, p. 52 - 62.

    O texto enfatiza as relaes estreitas entre o domnio da leitura e o da redao, apropria-se da realidade e delimita o sentido do objeto atravs do qual ela se concretiza. O bom texto a relao que ele per-mite instaurar entre(texto) e seu leitor.O ato de ler funciona,ento,como uma etapa intermediria e instrumental que leva ao conhecimento.

    SOUZA, Roberto Aczelo de. Teoria da Literatura. - So Paulo: tica, 1997. - Srie Princpios.

    A literatura um objeto cientfico que possui variadas formas. Por ser construda pela linguagem e, esta possui uma configurao varivel,

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    depende de vastos fatores para uma teorizao competente. Analisar a obra, ver suas possibilidades de leitura, explicar seu funcionamento so prticas da teoria literria. A teoria literria faz com que a obra tenha um sentido cientfico. Pois a considera objeto de pesquisa e para tanto procura metodologias que consigam estud-la. Eis o perfil da obra.

    Resumo

    Literatura definio ou conceito? Questionamento que iniciou a re-flexo desta unidade sobre Concepes de literatura. E seguiram-se algumas exposies tericas segundo estudiosos contemporneos. O saldo vislumbra que a literatura um direito fundamental ao ser huma-no. Por isso, ainda que um leitor no tenha particular interesse ou pre-dileo pelos textos literrios, ele no pode ser privado da possibilidade de conhec-los de desfrutar deles, razo suficiente para que a literatura seja parte dos estudos de linguagem na escola. Negar o contato com qualquer tipo de representao artstico-literria privar o sujeito de exercer sua humanidade plenamente. Eis o perfil desta unidade.

    AutoavaliaoViver! E no ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar. A beleza de ser. Um eterno aprendiz...

    Ser um eterno aprendiz, por isso use suas palavras, seu aprendizado e escreva um resumo desta unidade.dica. utilize o bloco

    de anotaes para responder as atividades!

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    Referncias

    BORDINI, M e AGUIAR, V. T. A Formao do Leitor: Alternativas Metodolgicas. 2 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

    CNDIDO, Antnio. A literatura e a formao do homem. In: Cincia e Cultura. v. 24, n. 9. So Paulo: 1972.

    JAUSS, Hans. A Histria da Literatura como provocao Teoria Literria. Trad. Srgio Tellaroli. So Paulo: tica, 1994.

    LAJOLO, Marisa. O que literatura. 12. ed. So Paulo: Brasiliense, 1990. Pgs.06-23.

    SOUZA, Roberto Aczelo de. Teoria da Literatura. - So Paulo: tica, 1997. - Srie Princpios.

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    II UNIDADE

    Concepes de literariedade: combinao seleo. Texto literrio e texto no-literrio

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    Quem conduz e arrasta o mundo no so as m-quinas, mas as ideias.

    (Victor Hugo)

    Apresentao

    Aqui estamos ns, recomeando mais uma unidade tri-lhando e vivendo a beleza de sermos eternos aprendizes. Por isso queremos proporcionar-lhe cada vez mais conhe-cimentos, e nesta unidade a reflexo inside sobre a teoria e estende-se sobre o carter artstico da literatura, servindo-se dela como modelo para arquitetar mundos fantsticos.

    Essa arquitetura configura a temtica desta unidade cuja importncia envolve aspectos que esto nos alicerces dos estudos sobre literatura.

    Estudaremos as concepes de literariedade bem como o processo de combinao seleo que figurativiza o texto literrio e o texto no-literrio.

    Naveguemos, pois pelos mares da literatura e seu carter de literariedade.

    E ...H quem fale Que um divino Mistrio profundo o sopro do criador Numa atitude repleta de amor...

    Bons estudos!!!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 29

    Objetivos

    Para esta unidade, esperamos que voc consiga:

    Refletir sobre as diferentes concepes de literariedade;

    Compreender as concepes de literariedade figurativiza a combinao seleo na construo de textos ficcionais e no ficcionais;

    Identificar as particularidades que caracterizam os textos liter-rios, os textos no literrios e os textos paraliterrios.

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    Concepes de literariedade

    O Texto Literrio distingue-se, nomeadamente, pelo fato de trans-formar a realidade, servindo-se dela como modelo para arquitetar mundos fantsticos, que s existem textualmente e que se estabele-cem atravs da metfora, da caricatura, da alegoria e pela verossimi-lhana. Residindo aqui a ficcionalidade patente no Texto Literrio. Este o elemento que mais o diferenia do Texto No Literrio, que tem por finalidade transmitir uma informao objetiva e autntica da realidade. Para isso, o Texto No Literrio vai combinar as palavras, numa suces-so coerente, sem que estas sejam independentes, mas apenas sejam teis na comunicao. O Texto Literrio, evidencia tambm coerncia no fato do texto registrar uma estrutura prpria e no simplesmente um conjunto desorganizado de frases, mas em oposio ao Texto No Literrio vai enaltecer a palavra e os recursos estilsticos. H uma se-leo rigorosa das palavras, de modo a organizarem uma estrutura que realce os diversos significados das palavras, transcendendo a sua significao. So estas caractersticas que fazem do Texto Literrio uma entidade pluri-isotpica, na medida em que constituda por diferentes nveis de expresso, que tm entre si uma relao de interdependncia, e ainda pela intertextualidade que este convoca, constituindo um todo estrutural e distanciando-se assim do discurso cientifico. Com o mesmo objetivo, Roman Jakobson vai mencionar a literatura como a expresso da funo esttica da linguagem, que vai ao encontro precisamente a esta seleo das palavras. Jakobson vai falar ainda do encadeamento de seis fatores indispensveis na conversao; a mensagem enviada pelo emissor ao receptor, atravs do mesmo canal, aplicando o mesmo cdigo e reconhecendo ambos um contexto comum. Neste esquema comunicacional, Jakobson vai diferenciar seis funes da linguagem verbal: expressiva, conotativa, referencial, ftica, metalingustica e po-tica.

    A funo potica a funo dominante da obra e da linguagem literria, embora outras funes estejam dependentes dela. Nesta fun-o, o fundamental a palavra, na sua prpria definio, e que vai ser mencionada, com um discurso atraente e original, adquirido atravs do mtodo de seleo das palavras. Da conformidade entre a combinao e a seleo, vai resultar a Literariedade, isto , o conjunto de proprie-dades que caracterizam a linguagem literria. Portanto, quanto maior for a seleo, e a combinao, mais literrio o texto. A concepo de Literariedade surgiu da vontade de definir a linguagem literria como autnoma, com funes distintas das iminentes ao Texto No Literrio. Surgiu ainda com o intuito da literatura se afirmar como cincia, pois at ao sculo XIX, as artes no eram consideradas cincias. O forma-lismo russo procurou, assim, determinar as propriedades exclusivas do Texto Literrio, como resposta a esta necessidade de comprovar a auto-nomia esttico-discursiva e a funcionalidade prpria do Texto Literrio. Paralelamente teoria de Jakobson, que indica os fatores formais como

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 31

    sinais da particularidade da linguagem literria, vo aparecer outras te-orias, tal como a de Tynianov, que nomeia condies externas ao texto, de origem histrica e social, isto , o contexto, como fontes importantes na explicao da linguagem literria. Pode depreender-se ento, que o Texto Literrio tem um conjunto de caractersticas especficas que o distinguem do Texto No Literrio, a Literariedade, caractersticas essas que dependem da estrutura formal e do contexto, e que condensam numa transformao do real.

    preciso analisar com profundidade um texto para definir sua li-terariedade. Alis, o modo como o texto lido como tambm o su-jeito que o l vo colaborar para a formao desse conceito. Priorizar alguns textos como efetivamente literrios implica em excluir outros, legitimando a imanncia da literatura naqueles que so escolhidos. A questo de valor bastante questionada nesse processo de legitima-o da literariedade de uma obra literria; denominar um texto como literrio vai depender de grandes instituies como a escola e o livro didtico, que definem o que a grande literatura e o que no . A literariedade, conforme explica Abreu (2006), um conjunto de especi-ficidades internas e externas; trata-se de elementos extratextuais (hist-ricos, sociais, culturais) que influenciam a definio de obra literria. J para Compagnon, a literariedade da literatura se d atravs da reno-vao da sensibilidade lingustica dos leitores, por meio de formas que desarranjam as formas habituais e automticas de sua percepo. Para ele, o texto literrio se distingue por dois elementos bsicos: funo e forma. Reafirma que a literatura encontra seu fim em si mesma e que a linguagem literria explora o material lingustico de forma organizada, sistemtica. Observa Compagnon (2001, p. 44): A literariedade, como toda definio de literatura, compromete-se, na realidade, com uma preferncia extraliterria. Uma avaliao (um valor, uma norma) est inevitavelmente includa em toda definio de literatura e, consequen-temente, em todo estudo literrio

    No incio do sculo XX, um grupo de tericos da literatura, mais tar-de denominados formalistas russos imaginou que seria possvel consta-tar uma propriedade, presente nas obras literrias, que as caracterizaria como pertencentes literatura. Para denominar esta propriedade, cria-ram o termo literaturnost, que foi traduzido para a lngua portuguesa como literariedade. Mas ser que esta propriedade existiria mesmo?

    A resposta poder ser decepcionante, para o leitor interessado ape-nas em opinies definitivas e irrefutveis, porque h argumentos tanto a favor de um sim quanto de um no.

    A argumentao positiva sustentaria que existe a literariedade, porque podemos verificar objetivamente a existncia de propriedades ou caractersticas que, quando presentes em uma obra qualquer, per-mitem-nos no s classific-la como literria, como tambm inscrev-la em um estilo de poca.

    A literariedade seria aquela propriedade, caracteristicamente universal do literrio, que se manifestaria no particular, em cada obra literria.

  • 32 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Contudo, bom lembrar que, em vez de imaginar que a literarie-dade um universal que se manifesta no particular, podemos tambm supor o contrrio: a literariedade seria um particular que se pretende universal. Nesta perspectiva, literariedade seria um rtulo que recebe-riam os critrios socialmente estabelecidos para se considerar uma obra como pertencente literatura. Assim, o pesquisador selecionaria, dentre todas as obras de natureza verbal, aquelas que possussem a tal litera-riedade, para formar a lista das obras reconhecidas como literrias.

    Roberto Aczelo (1995), destaca a importncia em observarmos o modo pelo qual definimos a literatura, entendida como objeto da te-oria da literatura: parte do conjunto da produo escrita e, eventual-mente, certas modalidades de composies verbais de natureza oral (no-escrita), dotadas de propriedades especficas, que basicamente se resumem numa elaborao especial da linguagem e na constituio de universos ficcionais ou imaginrios. Essa definio a que chegamos h conceitos que resultam na constituio de universos ficcionais ou imaginrios.

    Na medida em que passamos discusso dessas questes, as exi-gncias metodolgicas crescem, o que equivale a dizer que o objeto da pesquisa se aprofunda e se refina. Assim, se por demais imperfeito o mtodo que admite ser a totalidade da produo escrita, o objeto da investigao sobre a literatura mais elaborado o mtodo que prope ser esse objeto constitudo por apenas parte daquela produo, deli-mitada por critrios especficos. E mais elaborado ainda o mtodo que elege como objeto da investigao no um determinado conjunto de obras, mas justamente o critrio que permite o discernimento des-se conjunto, afirmao feita por Aczelo (ibid). Dito de outra forma o objeto da teoria da literatura no o conjunto das obras consideradas literrias stricto sensu, mas as propriedades especficas de que tais obras so dotadas.

    Uma corrente da teoria da literatura o formalismo russo situou essa questo de maneira contundente e programtica. Sua enunciao coube ao linguista russo Roman Jakobson, em trabalho de 1919: [...] o objeto do estudo literrio no a literatura, mas a literariedade, isto , aquilo que torna determinada obra uma obra literria. Longa e complexa tem sido a discusso empreendida pela teoria da literatura daquilo que Jakobson chamou literariedade, isto , a propriedade especfica das obras integrantes da literatura stricto sensu, o elemento que, uma vez presente num dado texto, permite distingui-lo de outras composies que no integram a literatura em sentido estrito, apesar de tambm constiturem mensagens verbais. Mas no ser nosso pro-psito discutir aqui essa questo da literariedade.

    Por outro lado, a argumentao contra a existncia de uma pro-priedade que possibilitasse a identificao de uma obra como literria afirma que o termo literariedade no teria um contedo permanen-te, mas varivel. Em outras palavras, Roman Jakobson poderia ter-se equivocado, ao imaginar a literariedade como aquilo que faz uma mensagem verbal uma obra de arte (Ibidem, p. IX.), porque aquilo variaria de acordo com o momento. Poderia ser algo diferente, caso

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 33

    adotssemos o ponto de vista do Renascimento ou do Modernismo, por exemplo.

    No entanto, se concebermos a literariedade como sujeita a mu-danas, ser que isto no significaria que no podemos mais determinar, com um certo grau de preciso, o que vem a ser literatura? Como ento ficariam os estudos literrios, se seu objeto no tem delimitao precisa?

    Para comear, a prpria mudana nos critrios e concepes sobre o que literatura pode ser matria de estudo para o estudioso da lite-ratura. Quando se volta para o que o passado considerou literatura, ele confronta a sua perspectiva presente com as anteriores. Os mo-dos de produo de sentido do presente interrogam os do passado, a formao social dele entra em contato com outra formao, s vezes profundamente diferente da sua. Mas, se podemos verificar, em diver-sos momentos, modificaes nas concepes e critrios sobre o que literatura, ser que isto nos conduziria necessariamente a um ceticismo de tal ordem que passaramos a duvidar da prpria possibilidade de existncia de um objeto de pesquisa, suficientemente delimitado? No, pois a mudana no implica necessariamente caos ou anomalia. Na verdade, em cada perodo histrico podemos observar uma certa or-dem, a partir da qual se estabelecem, com maior ou menor rigidez, as fronteiras do literrio.

    Texto Literrio & Texto No-Literrio

    Quando indagamos a respeito do que que distingue um texto literrio do no-literrio, percebemos que no h uma nica respos-ta e sim vrias respostas porm no definitivas, corroborando para a complexidade do assunto posto em discusso. Podemos, no entanto, apresentar os critrios mais usados atualmente para caracterizar o texto literrio e no-literrio.

    Distingui-los com base no carter ficcional ou no-ficcional j fora constatado outrora problema insolucionvel, devido a impossibilidade de diferenar o real do fictcio em certas situaes concretas. Por exem-plo, a histria de uma apario da Virgem Maria ou da interveno de um esprito provocam risos num ctico, mas so ouvidas com respeito por um crente.

    Entretanto, modernamente, tem-se buscado a demarcao dos tex-tos em outros campos. As anlises mostraram que todo texto possui uma FUNO. Com base nesta concluso, diz-se que o texto literrio apresenta uma FUNO ESTTICA, enquanto o texto no-literrio tem uma FUNO UTILITRIA (informar, convencer, explicar, responder, ordenar etc.).

    NOTCIA

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    O texto a seguir pretende unicamente informar o leitor sobre o nmero de pessoas infectadas pelo vrus da gripe suna nos Estados Unidos. Nele o texto tecido de forma clara e direta e o plano de expresso remete a um nico plano do contedo. Alis, o contedo o seu principal foco. Expliquemos melhor esse conceito do genebrino Ferdinand de Saussure.(Genebra, 26 de novembro de 1857 Morges, 22 de fevereiro de 1913).

    Autoridades dos Estados Unidos disseram nesta quinta-feira que o nmero total de casos de gripe suna no pas subiu para 109.

    Na quarta-feira, autoridades sanitrias dos Estados Unidos confir-maram que um beb mexicano de 23 meses morreu no Texas vtima de gripe suna, o que configura a primeira morte causada pela doena fora do Mxico. Kathy Barton, porta-voz do departamento de Sade de Houston, afirmou que a criana havia viajado para a cidade para fazer tratamentos mdicos.

    Novos casos

    Hoje, a Sua e a Holanda confirmaram seus primeiros casos de gripe suna e a Espanha subiu o nmero de casos confirmados para 13 pessoas e o de possveis contgios sob observao para 87.

    Saussure considera a lngua como um sistema de SIGNOS forma-dos pela unio do sentido, conceito ou ideia (SIGNIFICADO), e da imagem acstica (impresso psquica do som), que vai ser o SIGNIFI-CANTE. Cada signo ou cada conjunto de signos articulados dentro de uma estrutura textual ter, obviamente, um PLANO DE EXPRESSO e um PLANO DE CONTEDO. Levando este conceito para o nvel textual constatamos que todo signo lingustico DENOTATIVO.

    DENOTAO a significao objetiva da palavra. Pode-se dizer que a palavra em estado de dicionrio.

    Podemos concluir em primeira instncia que um texto em forma de notcia considerado um texto-no literrio porque possui, como prin-cipal caracterstica, a funo utilitria de informar o leitor. Seu tecido constitudo prioritariamente de signos lingusticos de carter denotativo cuja significao sempre objetiva.

    Agora, antes de chegarmos a FUNO ESTTICA do texto literrio, voltemos a um dado sobre o signo lingustico para melhor absorvermos esse processo sob outra forma. Um plano de expresso + um plano de contedo, eis o signo lingustico por natureza. Entretanto, sobreposto ao significado DENOTATIVO implanta-se o significado CONOTATIVO, que consiste em um novo PLANO DE CONTEDO investido no signo como um todo.

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 35

    CONOTAO a significao subjetiva da palavra. Ocorre quando a palavra evoca outras realidades por associaes que ela provoca.

    Exemplo: Minha vida um mar de dissabores.

    Observe o texto abaixo:

    Alma minha gentil, que te partiste to cedo desta vida descontente, repousa l no Cu eternamente,

    e viva eu c na terra sempre triste.Se l no assento etreo, onde subiste,

    memria desta vida se consente, no te esqueas daquele amor ardente que j nos olhos meus to puro viste.

    E se vires que pode merecer te algua causa a dor que me ficou

    da mgoa, sem remdio, de perder te,roga a Deus, que teus anos encurtou, que to cedo de c me leve a ver te, quo cedo de meus olhos te levou.

    Luis de Cames

    Se no texto no-literrio demos o exemplo da notcia, cuja funo era de informar por meio objetivo o leitor e com o foco no contedo, o texto acima remete-nos a uma outra concepo: nele o contedo (tra-ta-se, basicamente, da mulher amada que morreu e que deve repousar no cu, enquanto o amado deve viver triste na terra) fica evidentemente em segundo plano. A forma (plano de expresso) o mais importante; cada signo rompe com seu significado racional para recriar certos con-tedos na organizao da expresso.

    Nesta pintura, o artista no pretendeu transmitir nenhuma informa-o de carter utilitrio, mas apenas recriar esteticamente uma viso de mundo. Para isso, seguiu sua intuio sem obedecer a formas, pro-pores ou cores habituais. Un mundo. ngeles Santos, 1929. Madrid.

    O literrio fruto de um contedo imaginrio; exemplo, Gracilia-no Ramos, em So Bernardo, inventou um certo Paulo Honrio e uma certa Madalena para revelar como so tantos paulos honrios e tantas

  • 36 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    madalenas, respectivamente, o burgus empreendedor, enrgico, que pretende possui e dirigir o mundo, e o ser que se orienta por um hu-manismo.

    Outro critrio: o texto literrio tem uma funo esttica, enquanto o texto no-literrio tem uma funo utilitria (informar, convencer, explicar, responder, ordenar, etc.);

    Nestas duas representaes de corujas, a primeira se define pelo carter utilitrio e a segunda, pela funo esttica. Na primeira, quanto maior a semelhana com o animal retratado, e quanto mais neutra a linguagem utilizada para represent-lo, melhor. Na segunda, o artista se permite alterar formas, propores e cores do animal com o prop-sito de tornar evidente sua maneira particular de representar o mundo.

    Caractersticas do texto literrio:

    A sua intangibilidade, isto , sua intocabilidade; Quando se resume um texto no-literrio apreende-se o essencial; quando se resume um texto literrio perde-se o essencial.

    O texto literrio conotativo, isto , cria novos significados.

    O texto no-literrio aspira denotao.

    Sentido denotativoVAIDADE: substantivo feminino, qualidade do que vo, vazio, fir-

    mado sobre aparncia ilusria. Valorizao que se atribui prpria aparncia, ou quaisquer outras qualidades fsicas ou intelectuais, fun-damentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros.

    Dicionrio Houaiss

    Sentido conotativo

    Desenganos da vida humana metaforicamente

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 37

    a vaidade, Fbio, nesta vidaRosa, que de manh lisonjeada,Prpuras mil, com ambio dourada,Airosa rompe, arrasta presumida

    planta, que de abril favorecida,Por mares de soberba desatada,Florida galeota empavesada,Sulca ufana, navega destemida.

    nau enfim, que em breve ligeireza, Com presuno de Fnix generosa,Galhardias apresta, alentos preza:

    Mas ser planta, ser rosa, ser nau vistosaDe que importa, se aguarda sem defesaPenha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?

    G.M.G.

    Uso esttico da linguagem, procura-se desautomatiz-la, criar no-vas relaes entre as palavras, estabelecer associaes inesperadas e inslitas entre elas, para tornar singular sua combinatria e, assim, re-velar novas maneiras de ver o mundo.

    Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos ris...

  • 38 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Atividade I

    Texto literrio

    Correio

    Chegam cartas. Chegam pedaos do meu pas.Chegam vozes. Chega um silncio que me diz as revoltas as lgrimas. Os cansaos.Chegam palavras que me apertam nos seus braos.Chegam notcias do meu pas.Chegam palavras com guitarras de Lisboa.Chegam palavras que me sentam a sua mesa para falar das nossas coisas: trigoe tristeza. Trevo e sal.Chegam palavras que me trazem vinho e boroa.Chegam palavras que me trazem Portugal.

    Manuel Alegre. Literatura Contempor-nea. Neo-realismo. O Canto e as Ar-mas, 1967

    Brigadeiro

    INGREDIENTES

    - 1 lata de leite condensado- 1 lata de creme de leite sem soro- 1 xcara (ch) de chocolate em p- 4 colheres (sopa) de acar- 1 colher (sopa) de manteiga- 4 ovos- manteiga para untar a forma- 200 gramas de chocolate granulado para decorar

    MODO DE FAZER

    No liquidificador coloque os ovos e bata. Desligue. Junte o lei-te condensado, creme de leite sem soro e a manteiga. Torne a bater. Acrescente o acar e o chocolate em p. Bata novamente. Coloque em uma assadeira untada com manteiga. Leve ao forno pr aquecido

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 39

    180C, em banho maria por 45 minutos, coberto com papel alumnio. Desenforme. Decore com chocolate granulado e cerejas.

    1. A partir da leitura dos textos 01 e 02 identifique as caractersticas do texto literrio e do texto no lietrrio.

    2. Quais os recursos que geralmente so utilizados no texto literrio.

    Para saberPodemos distinguir os textos no literrios (TNL) dos textos literrios

    (TL)tendo em conta que nos textos no literrios predominam:

    a objetividade

    a denotao

    a funo informativa

    o respeito pela norma

    o carcter utilitrio

    E nos textos literrios predominam:

    a subjetividade

    a conotao

    as funes expressiva e potica

    o desvio da norma

    o carcter esttico

    Os textos paraliterrios apresentam simultaneamente caractersticas dos Textos literrios e dos Textos no literrios.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • 40 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Para Saber Mais Texto No- Literrio/Texto Literrio

    Quando nos deparamos com diversos tipos de textos,notamos en-tre eles diferenas (marcas,traos distintivos), umas mais ntidas, outras mais diludas, sobretudo a trs grandes nveis:

    1 DA SINTAXE: Combinatria de sinais lingusticos (signos lingus-ticos).

    2 DA SEMNTICA: Significao da mensagem.

    3 DA PRAGMTICA: Utilizaoda mensagem; efeitos prti cos pre-tendidos sobre receptor.

    Assim,

    a) Encontramos textos que contm uma informao inconfundvel, precisamente porque artstica (cheia de sugesto,de riqueza, de encanto), resultante da combinao de diferentes cdigos e tcni-cas de produo e de expresso, e da utilizao das linguagens de conotao e de recursos especficos como: as figuras de estilo, de retrica, etc.: so os textos que designamos de textos literrios.

    b) Encontramos textos que ainda tm alguns traos, algumas carac-tersticas que, aqui e ali, ainda os aproximam dos textos identifica-dos em a):so textos que designamos de textos paraliterrios.

    c) Encontramos textos que j no tm qualquer marca tpica, carac-tersticas dos textos que encontramos em a) e em b): so os textos que designamos, genericamente, de textos no literrios.

    Atividade II

    1. Quando respondes s perguntas de um teste de Histria, procuras construir um texto literrio ou um texto no literrio?

    2. Quando te pedem um poema, num teste de Portugus procuras construir um texto literrio ou um texto no literrio?

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 41

    Atividade III

    1. Pesquisar exemplos de textos literrios, no literrios e paraliterrios. Usando suas palavras identifique as particularidades pertencentes a cada um deles. Use o espao abaixo.

    a) Textos literriosb) Textos no literriosc) Textos paraliterrios

    Leituras recomendadasSOUZA, Roberto Aczelo de. Teoria da Literatura. - So Paulo: tica, 1997. - Srie Princpios.

    A literatura um objeto cientfico que possui variadas formas. Por ser construda pela linguagem e, esta possui uma configurao varivel, depende de vastos fatores para uma teorizao competente. Analisar a obra, ver suas possibilidades de leitura, explicar seu funcionamento so prticas da teoria literria. A teoria literria faz com que a obra tenha um sentido cientfico. Pois a considera objeto de pesquisa e para tanto procura metodologias que consigam estud-la. Eis o perfil da obra.

    JAKOBSON, Roman, apud SCHNAIDERMAN, Boris. Prefcio. In: TOLEDO, Dionsio, organizao, apresentao e apndice. Teoria da literatura; formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1971. p. IX-X.

    Obra importante para o entendimento sobre literariedade: texto li-terrio, texto no literrio, por pontuar a origem da referida concepo contextualizando-a historicamente no mbito espao-temporal.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • 42 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Resumo

    Nesta unidade a reflexo constitui-se num percurso que pontuou historicamente a concepo de literariedade e sua relao espao--temporal o com a combinao seleo; e a figurativizao do texto literrio e do texto no literrio. Para tanto foram realizados recortes te-ricos com o intuito de subsidiar a prtica que figurativiza e diferencia a fico da no fico, a denotao da conotao nos diferentes textos, conforme mostrados acima.

    Autoavaliao...Ah meu Deus! Eu sei, eu sei. Que a vida devia ser bem melhor

    e ser, mas isso no impede que eu repita. bonita, bonita e bo-nita...

    Convm se observar e saber que a autoavaliao de extrema importncia, pois alm de oportuniz-lo(a) a tecer seus prprios comentrios, favorece na identificao dos pontos positivos, como tambm dos aspectos que ainda necessitam de aprofundamento. Tea comentrios sobre a aula a partir do prprio ttulo desta unidade:

    Concepes de literariedade: combinao seleo. Texto literrio e texto no-literrio.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 43

    Referncias

    AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. Coimbra: Livraria Almedina, 1983. 5 ed. Vol. 1.

    CANDIDO, Antonio. Introduo. In:______. Formao da literatura brasileira:momentos decisivos. 3. ed. So Paulo: Martins, 1969. v. 1. p. 21-39.

    COMPAGNON, Antoine. O demnio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.

  • 44 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 45

    III UNIDADE

    Literatura-literariedade e diversidade textual: poesia e prosa

  • 46 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    O enigma falar coisas certas reunindo termos absurdos.

    (Aristteles in A Potica.)

    Apresentao

    Queridos (as) alunos(as), sequenciando nossas reflexes acerca da Prtica Pedaggica V o foco aqui inside na diversi-dade textual poesia e prosa. Alm dos conhecimentos adqui-ridos nas unidades anteriores, outros so decorrentes deles embora estejam a eles atrelados, quais sejam, os gneros literrios. So eles que norteiam na literatura a literariedade, cuja diversidade textual configura a poesia e a prosa.

    Nesta unidade estudaremos, pois, os gneros literrios: lrico, dramtico e pico evidenciando suas particularidades e funes no mbito da composio do estilo e da temtica. Desse modo, se faz necessrio historiar um pouco sobre o surgimento dos respectivos gneros no sentido de conhec--los espao temporalmente como tambm compreender a influncia dos mesmos para o ensino aprendizagem de literatura.

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 47

    Objetivos

    Ao final desta unidade, queremos que voc:

    Conhea sobre a histria do surgimento dos gneros literrios: lrico, dramtico e pico situadas no tempo e espao.

    Identifique as peculiaridades dos gneros literrios configura-das nos textos poesia e prosa.

    Aprenda sobre a influncia e a importncia dos gneros no ensino-aprendizagem de literatura.

  • 48 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Literatura-literiedade: texto literrio

    Em nossa segunda unidade refletimos sobre as concepes de lite-rariedade destacando a seleo-combinao na construo dos textos ficcionais e no-ficcionais, e sobre as particularidades e caracterizao do texto literrio, no-literrio e paraliterrio. Com base nos conhe-cimentos acima, esta unidade pontua a histria espao-temporal dos gneros literrios, as particularidades de cada um desses gneros, e sua importncia e influncia para o ensino-aprendizagem de literatura. Para que tal conhecimento acontea efetivamente imprescindvel ler e navegar. Navegar e ler...

    Gneros Literrios & HistriaOs gneros literrios nas poticas de Plato e de Aristteles

    No livro III de A Repblica.,Plato estabeleceu uma fundamentao e uma classificao dos gneros literrios que, tanto pela sua relevn-cia intrnseca como pela sua influncia ulterior, devem ser consideradas como um dos marcos fundamentais da teoria dos gneros literrios. Para ele, todos os textos literrios (tudo quanto dizem os prosadores e poetas) so uma narrativa de acontecimentos passados, presentes e futuros. Categorizados em trs modalidades: a simples narrativa, a imi-tao ou mimese e uma modalidade mista, conformada pela associa-o das duas anteriores modalidades. A simples narrativa, ou narrativa estreme, ocorre quando o prprio poeta que fala e no tenta voltar o nosso pensamento para outro lado, como se fosse outra pessoa que dissesse, e no ele; a imitao, ou mmese, verifica-se quando o poeta como que se oculta e fala como se fosse outra pessoa, procurando as-semelhar o mais possvel o seu estilo ao da pessoa cuja fala anunciou, sem intromisso de um discurso explcita e formalmente sustentado pelo prprio poeta. Por fim quando se tiram as palavras do poeta no meio das falas, e fica s o dilogo, a modalidade mista da narrativa compor-ta segmentos de simples narrativa e segmentos de imitao. Estas trs modalidades do discurso consubstanciam-se em trs macro-estruturas literrias, em cada uma das quais so discriminveis diversos gneros: em poesia e em prosa h uma espcie que toda de imitao, como

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 49

    tu dizes que a tragdia e a comdia; outra, de narrao pelo prprio poeta nos ditirambos que pode encontrar-se de preferncia; e outra ainda constituda por ambas, que se usa na composio da epopia e de muitos outros gneros.

    Assim, Plato lana os fundamentos de uma diviso tripartida dos gneros literrios, distinguindo e identificando o gnero imitativo ou mimtico, em que se incluem a tragdia e a comdia, o gnero nar-rativo puro, prevalentemente representado pelo ditirambo, e o gnero misto, no qual avulta a epopia. Nesta tripartio, no claro, nem em nvel conceptual nem em nvel terminolgico, o estatuto da poesia lrica .

    Atividade I

    1. Fale sobre a classificao dos gneros literrios na tica de Plato.

    2. Qual a concepo de texto literrio na viso de Plato, e como so categorizados?

    3. Registre abaixo as peculiaridades de cada uma das modalidades que categorizam o texto literrio conforme prope Plato.

    4. Explique como as modalidades que caracterizam o texto literrio so consubstanciadas em trs macro-estruturas literrias. E como ocorre a diviso tripartida dos gneros literrios de acordo com Plato.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • 50 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Segundo Aristteles, a matriz e o fundamento da poesia consistem na imitao: Parece haver, em geral, duas causas, e duas causas natu-rais, na gnese da Poesia. Uma que imitar uma qualidade cong-nita nos homens, desde a infncia (e nisso diferem dos outros animais, em serem os mais dados imitao e em adquirirem, por meio dela, os seus primeiros conhecimentos); a outra, que todos apreciam as imita-es. A mmese potica, que no uma literal e passiva cpia da rea-lidade, uma vez que apreende o geral presente nos seres e nos eventos particulares e, por isso mesmo, a poesia se aparenta com a filosofia , incide sobre os homens em ao, sobre os seus caracteres (ethe), as suas paixes (pathe) e as suas aes (praxeis). A imitao constitui, por conseguinte, o princpio unificador subjacente a todos os textos poti-cos, mas representa tambm o princpio diferenciador destes mesmos textos, visto que se consubstancia com meios diversos, se ocupa de objetos diversos e se realiza segundo modos diversos.

    Assim os meios diversos com que se consubstanciam a mimese, tor-na-se possvel distinguir, por exemplo, a poesia ditirmbica e os nomos, por um lado, pois que so gneros em que o poeta utiliza simultanea-mente o ritmo, o canto e o verso, e a comdia e a tragdia, por outro, pois que so gneros em que o poeta usa aqueles mesmos elementos s parcialmente (assim, na tragdia e na comdia o canto apenas utilizado nas partes lricas).

    Se se tomar em considerao a variedade dos objetos da mimese potica, isto , dos homens em ao, os gneros literrios diversifi-car-se-o conforme esses homens, sob o ponto de vista moral, forem superiores, inferiores ou semelhantes mdia humana. Os poemas picos de Homero representam os homens melhores, as obras de Cle-ofonte figuram-nos semelhantes e as pardias de Hegemo de Taso imitam-nos piores. A tragdia tende a imitar os homens melhores do que os homens reais e a comdia tende a imit-los piores; a epopia assemelha-se tragdia por ser uma imitao de homens superiores.

    Finalmente, da diversidade dos modos por que se processa a imita-o procedem importantes diferenciaes, j que o poeta pode imitar os mesmos objetos e utilizar idnticos meios, mas adotar modos dis-tintos de mmese. Aristteles contrape o modo imitativo, a imitao narrativa, ao modo dramtico, em que o poeta apresenta todos os imitados como operantes e atuantes. No modo narrativo, necessrio discriminar dois submodos: o poeta narrador pode converter-se at certo ponto em outro, como acontece com Homero, narrando atravs de uma personagem, ou pode narrar diretamente, por si mesmo e sem mudar. O modo narrativo permite que o poema pico tenha uma ex-tenso superior da tragdia: nesta ltima, no possvel imitar vrias partes da ao como desenvolvendo-se ao mesmo tempo, mas apenas a parte que os atores representam na cena, ao passo que, na epopia, precisamente por se tratar de uma narrao, o poeta pode apresentar muitas partes realizando-se simultaneamente, graas s quais, se so apropriadas, aumenta a amplitude do poema. Esta variedade de epis-dios da epopia contribui para dar esplendor ao poema e para recrear o seu ouvinte.

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 51

    Atividade II

    1. Descreva com detalhes sobre a matriz e o fundamento da poesia segundo Aristteles.

    2. Qual a concepo de texto literrio (potico) proposta por Aristteles?

    3. Leia com ateno, reflita e registre sobre a proposio de Aristteles acerca da diversidade dos modos como se processa a imitao.

    Horcio e os gneros literriosA Epstola ad Pisones, ou Ars poetica, de Horcio mergulha as suas

    razes doutrinrias na tradio da potica aristotlica, no decerto pelo conhecimento direto da obra do Estagirita, mas pela mediao de v-rias influncias assimiladas pelo poeta latino, em particular a influncia de Neoptlemo de Prio, um teorizador da poca helenstica vinculado ao magistrio de Aristteles e da escola peripattica sobre matrias de esttica literria. Sem possuir a sistematicidade e a profundeza ana-ltica da Potica de Aristteles, a Epstola ad Pisones dedica todavia importantes reflexes e juzos problemtica dos gneros literrios, tendo desempenhado, ao longo da Idade Mdia e sobretudo desde o Renascimento at ao neoclassicismo setecentista, uma funo historica-mente muito produtiva na constituio de teorias e no estabelecimento de preceitos atinentes quela problemtica.

    No se encontram explicitamente formuladas em Horcio, ao con-trrio do que se verifica em Plato e Aristteles, uma caracterizao e uma classificao dos gneros literrios em grandes categorias e.g., a distino entre o modo dramtico e o modo narrativo , embora es-quemas conceptuais de teor similar estejam subjacentes a muitos dos preceitos da Epstola ad Pisones.

    Horcio concebe o gnero literrio como conformado por uma de-terminada tradio formal, na qual avulta o metro, por uma determina-da temtica e por uma determinada relao que, em funo de fatores formais e temticos, se estabelece com os receptores.

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • 52 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    O poeta deve adotar, em conformidade com os temas tratados, as convenientes modalidades mtricas e estilsticas. A infrao desta nor-ma, que em termos de gramtica do texto poderamos considerar como reguladora da coerncia textual, desqualifica radicalmente o poeta.

    Os gneros literrios foram concebidos por Horcio como enti-dades perfeitamente diferenciadas entre si, configuradas por distintos caracteres temticos e formais, devendo o poeta mant-los cuidadosa-mente separados, de modo a evitar, por exemplo, qualquer hibridismo entre o gnero cmico e o gnero trgico.

    Embora Horcio faa referncia a diversos tipos de composies lricas - hinos, encmios e epincios, poemas erticos e esclios , a lrica, como categoria genrica, no aparece adequadamente caracte-rizada e delimitada na Epstola ad Pisones.

    Atividade III

    1. Qual a particularidade do pensamento de Horcio em relao ao de Aristteles no que diz respeito aos gneros literrios?

    2. Como os gneros literrios so concebidos por Horcio?

    3. Qual a contribuio das reflexes horacianas sobre a problemtica dos gneros literrios?

    dica. utilize o bloco de anotaes para responder as atividades!

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 53

    Ler e Refletir ...

    A concepo de gnero na literatura contempornea

    O formalismo russo, cuja fundamentao anti-idealista e cujo novo pathos de positivismo cientfico foram realados por Eikhen-baum, atribuiu logicamente ao gnero, quer na praxis da literatura, quer na metalinguagem da teoria, da crtica e da histria literrias, uma importncia de primeiro plano. Com efeito, um princpio teortico es-sencial do formalismo russo consiste na afirmao de que a soledade e a singularidade de cada obra literria no existem, porque todo o texto faz parte do sistema da literatura, entra em correlao com este mediante o gnero. Como escreve Tomachevski num dos captulos da sua obra intitulada Teoria da literatura, o gnero define-se como um conjunto sistmico de processos construtivos, quer a nvel tcnico--formal, manifestando-se tais caracteres do gnero como os processos dominantes na criao da obra literria.

    Rejeitando qualquer dogmatismo reducionista que originaria uma classificao rgida e esttica, os formalistas russos conceberam o g-nero literrio como uma entidade evolutiva, cujas transformaes ad-quirem sentido no quadro geral do sistema literrio e na correlao deste sistema com as mudanas operadas no sistema social, e por isso advogaram uma classificao historicamente descritiva dos gneros.

    Com a herana terica e metodolgica do formalismo russo se relaciona ainda a caracterizao dos gneros literrios proposta por Jakobson, baseada na funo da linguagem que exerce o papel de subdominante em cada gnero (o papel de funo dominante, de acor-do com a concepo jakobsoniana da literariedade, exercido pela funo potica): o gnero pico, concentrado sobre a terceira pessoa, pe em destaque a funo referencial; o gnero lrico, orientado para a primeira pessoa, est vinculado estreitamente funo emotiva; o gnero dramtico, poesia da segunda pessoa, apresenta como sub-dominante a funo conativa e caracteriza-se como suplicatrio ou exortativo conforme a primeira pessoa esteja nele subordinado se-gunda ou a segunda primeira.

    Uma das mais ambiciosas e originais snteses da problemtica te-ortica dos gneros literrios foi elaborada por Northrop Frye, na sua obra Anatomia da crtica (1957). Logo na Introduo polmica deste livro brilhante e, s vezes, paradoxal, Northrop Frye enumera entre os problemas mais importantes da potica a delimitao e a caracteriza-o das categorias primrias da literatura, sublinhando enfaticamen-te: Descobrimos que a teoria crtica dos gneros parou precisamente onde Aristteles deixou-a. Como outros investigadores contempor-neos, Frye admira na Potica de Aristteles o modelo epistemolgico e

  • 54 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    metodolgico que a teoria da literatura do nosso tempo, orientada por ideais de racionalidade cientfica, pode e deve utilizar na anlise dos fatos e dos problemas surgidos posteriormente a Aristteles.

    Em primeiro lugar, Frye estabelece uma teoria dos modos ficcionais, inspirando-se na caracterizao aristotlica dos caracteres das fices po-ticas, os quais podem ser melhores, iguais ou piores do que ns somos. Tal classificao dos modos ficcionais, que no apresenta quaisquer impli-caes moralsticas, ideada em funo da capacidade de ao do heri das obras de fico e da sua relao com os outros homens e com o meio.

    Por outro lado, Northrop Frye estabelece a existncia de quatro cate-gorias narrativas mais amplas do que os gneros literrios geralmente ad-mitidos e logicamente anteriores a eles. Estas categorias, que Frye mythoi, fundam-se na oposio e na interao do ideal com o atual, do mundo da inocncia com o mundo da experincia: o romance o mythos do mun-do da inocncia e do desejo; a ironia ou a stira enrazam-se no mundo defectivo do real e da experincia; a tragdia representa o movimento da inocncia, atravs da hamartia ou falta, at catstrofe; a comdia carac-teriza-se pelo movimento ascensional do mundo da experincia, atravs de complicaes ameaadoras.

    Finalmente, Northrop Frye constri uma teoria dos gneros, partindo do princpio de que as distines genricas em literatura tm como funda-mento o radical de apresentao: as palavras podem ser representadas, como se em ao, perante o espectador; podem ser recitadas ante um ouvinte; podem ser cantadas ou entoadas; podem, enfim, ser escritas para um leitor.

    O epos constitui aquele gnero literrio em que o autor ou um reci-tador narram oralmente, dizem os textos, perante um auditrio postado sua frente.

    O gnero lrico caracteriza-se pelo ocultamento, pela separao do auditrio em relao ao poeta. O poeta lrico pretende em geral falar consigo mesmo ou com um particular interlocutor.

    O gnero dramtico caracteriza-se pelo ocultamento, pela separao do autor em relao ao seu auditrio, cabendo aos caracteres internos da histria representada dirigirem-se diretamente a este mesmo auditrio.

    Ao gnero literrio cujo radical de apresentao a palavra impressa ou escrita, tal como acontece nos romances e nos ensaios, concede Frye a designao de fico, embora reconhecendo que se trata de uma escolha arbitrria. Na fico, ao contrrio do que acontece no epos, tende a do-minar a prosa, porque o ritmo contnuo desta adequa-se melhor forma contnua do livro.

    Numerosos e importantes estudos sobre os gneros literrios se tm ficado a dever, nas ltimas dcadas, a investigadores que se inserem na grande tradio do idealismo e do historicismo germnico. Entre esses es-tudos, avulta a obra de Emil Staiger intitulada Grundbegriffe der Poetik [Conceitos fundamentais da Potica]. Condenando uma potica apriors-tica e anti-histrica, Staiger acentua a necessidade de a potica se apoiar firmemente na histria, na tradio formal concreta e histrica da litera-

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 55

    tura, j que a essncia do homem reside na sua temporalidade. Reto-mando a tradicional tripartio de lrica, pica e drama, reformulou-a profundamente, substituindo estas formas substantivas e substancialistas pelas designaes adjetivais e pelos conceitos estilsticos de lrico, pico e dramtico. O que permite fundamentar a existncia destes conceitos b-sicos da potica? A prpria realidade do ser humano, pois os conceitos do lrico, do pico e do dramtico so termos da cincia literria para re-presentar possibilidades fundamentais da existncia humana em geral; e existe uma lrica, uma pica e uma dramtica, porque as esferas do emo-cional, do intuitivo e do lgico constituem em ltima instncia a prpria essncia do homem, tanto na sua unidade como na sua sucesso, tal como aparecem refletidas na infncia, na juventude e na maturidade. Staiger caracteriza o lrico como recordao, o pico como observao e o dramtico como expectativa. Tais caracteres distintivos conexionamse obviamente como a tridimencionalidade do tempo existencial: a recorda-o implica o passado, a observao situa-se no presente, a expectativa no futuro. Deste modo, a potica alia-se intimamente ontologia e antropologia e a anlise dos gneros literrios volve-se em reflexo sobre a problemtica existencial do homem, sobre a problemtica do ser e do tempo.

    O Fenmeno Literrio e as Manifestaes de Literariedade

    A borboleta: uma analogia com o fenmeno literrio

    Em smile ao ciclo de vida de uma borboleta, situa-se o fenmeno literrio. No inicio a palavra automatizada, conduz ao senso comum - uma lagarta-, contudo algo se interrompe, a metamorfose ocorre: ela fica por algum tempo dentro de um casulo- os procedimentos artsticos para ganhar vo e beleza de uma borboleta. Aps isso, a palavra literria ganha a forma, movimento e condensa dentro de si inmeros significados; faz voos estranhos e singulares, cuja compreenso prolon-ga-se a cada olhar. Como uma borboleta que no se deixa pegar facil-mente; necessita-se de uma leitura atenta palavra literria- forma do voo, a fim de apreend-la.

    lcito dizer que a forma do voo varia de um movimento rtmico circular, mais metafrico - a poesia - a um movimento mais voltado sequncia, metonmico - a prosa. Esta em linhas contnuas, um novelo que vai se abrindo aos poucos; aquela em linhas descontnuas, um novelo que segue e volta para o mesmo ponto inicial.

    No entanto, essa borboleta - a palavra literria - pode manifestar-se dessas duas formas em liame, de maneira a propiciar um desequilbrio entre suas fronteiras; cita-se, a exemplo, a prosa potica de Guima-res Rosa em o burrinho Pedrs. Perceba a sonoridade bem moda de poesia, as aliteraes (b e v) e rimas que produzem esse efeito.

  • 56 SEAD/UEPB I Prtica Pedaggica V

    Um boi preto, um boi pintado, cada um tem sua cor, cada corao um jeito De mostrar o seu amor.

    Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...

    Dana doido, d de duro, da de dentro, d direito...Vai, vem, volta, vem na vara, vai no volta, vai varando...GUIMARES ROSA, Joo. Sagarana.15. ed. Rio de janeiro: J. Olympio, 1972.

    E, da mesma forma a poesia com a prosa. Observe o poema a seguir de Manuel Bandeira cuja tessitura d uma idia de sequncia.

    Poema tirado de uma Noticia de Jornal

    Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro [da Babilnia num barraco sem nmero.Uma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeu Cantou DanouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

    Manuel Bandeira in Libertinagem

    A Manifestao de literariedade e sua visibilidade em o poro: Penetra surdamente no reino das palavras.

    L esto os poemas que esperam ser escritos.

    Carlos Drummond de Andrade

    O fenmeno literrio engendra-se de maneira peculiar, possui ca-ractersticas especficas s quais se d o nome de literariedade: termo, provindo do formalismo, pelo qual se distingue a linguagem literria da linguagem referencial. Em concernncia a essa ideia, Aristteles, em a Potica, j notava algo impar na Poesia - o nome que denominava qualquer espcie de obra literria para os gregos -, dizia que clara e vulgar era a linguagem formada pelas palavras correntes e, nobre e elevada, a linguagem que empregava termos raros: os metafricos e alongados e todos os que fogem aos de uso corrente.

    Deduz-se, assim, que tanto a poesia como a prosa estruturam-se concernente a suas prprias leis, no precisam necessariamente es-tarem ligadas ao mundo referencial. E, indubitavelmente, elas no o imitam perfeitamente, mas sim o desconstri para que emanem as d-vidas das aes dos homens; se assim o faz, com fim de traz-lo com suas nuanas elementares, atravs de um enigma formal; na potica de Aristteles, isso aparece explcito quando ele fala: O enigma falar coi-

  • Prtica Pedaggica V I SEAD/UEPB 57

    sas certas reunindo termos absurdos. Disso posto, pode vincular-se o con-ceito de mimese, a imitao no dos homens, mas sim de suas aes. Por isso, um isento como em A Metamorfose de Franz Kafka, por meio de aparncia absurda, no representa um homem, contudo traos, aes humanas. O absurdo traz, recupera a realidade em sua profundidade.

    Partindo desse pressuposto, considera-se um princpio errneo que-rer que a linguagem literria se comporte como a linguagem comum; os procedimentos que a arquitetam so de natureza distinta, manifes-tam-se por outro ngulo: o da forma. O que importa no o que dito, mas de que forma dito; o contedo entrelaa-se expresso. Por essa via, entende-se que um poro no teria o mesmo valor como aparece no poema de Drummond; a forma o torna o poro , ou seja, a literarie-dade o singulariza. Nesse sentido, o poema tem um corpus autnomo, o qual se deve analisar, imanentemente, tendo em vista sempre os seus aspectos intrnsecos. Conforme os formalistas Jakobson e Eichembaum, o importante o estudo do objeto literrio, isto , a obra e seus procedi-mentos artsticos. Entende-se, assim, que no interessa recorrer direta-mente b