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CONTOS CLÁSSICOS / MITOLÓGICOS / MODERNOS EDUCAÇÃO INFANTIL / Ciclos de Aprendizagem I e II / EJA APOIO À PRÁTICA PEDAGÓGICA

Caderno de Apoio a Pratica Pedagogica Contos Classicos Mitologicos e Modernos

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CONTOS

CLÁSSICOS / MITOLÓGICOS / MODERNOS

EDUCAÇÃO INFANTIL / Ciclos de Aprendizagem I e II / EJA

APOIO À PRÁTICA PEDAGÓGICA

Page 2: Caderno de Apoio a Pratica Pedagogica Contos Classicos Mitologicos e Modernos

Prefeito da Cidade de Salvador JOÃO HENRIQUE DE BARRADAS CARNEIRO Secretário Municipal da Educação e Cultura NEY CAMPELLO Coordenadora de Ensino e Apoio Pedagógico - CENAP ANA SUELI PINHO Equipe Técnica da Edição Original (1996) Coordenação da Elaboração dos Cadernos Kadja Cristina Grimaldi Guedes Consultoria Maria Esther Pacheco Soub Sistematização Antônia Maria de Souza Ribeiro Maria de Lourdes Nova Barboza Elizabete Regina da Silva Monteiro

Edição Atualizada (2007) Angela Maria do Espírito Santo Freire Zaida de Moura Guimarães Coordenação da reedição dos Cadernos Maria de Lourdes Nova Barboza Esta publicação destina-se exclusivamente para uso pedagógico nas escolas Municipais de Salvador, sendo vedada a sua comercialização. A reprodução total ou parcial deverá ser autorizada pela Secretaria Municipal da Educação e Cultura de Salvador.

A edição deste caderno atende aos objetivos da SMEC em dar suporte

didático/pedagógico às atividades de sala de aula.

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APRESENTAÇÃO É com muita satisfação que a Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico - CENAP – apresenta aos professores do Sistema Municipal de Ensino, a reedição dos Cadernos de Apoio à Prática Pedagógica. Nascidos em 1996, de um trabalho de vanguarda que conectava a teoria à prática da sala de aula das escolas municipais, tais cadernos procuravam ser – e certamente ainda são – um instrumento estratégico da nossa luta diária para aumentar os índices desempenho acadêmico dos alunos da Rede Municipal de Ensino de Salvador. Os Cadernos de Apoio à Prática Pedagógica apresentam vários blocos de sugestões com diferentes gêneros textuais e algumas atividades voltadas para aquisição da base alfabética e ortográfica dos alunos, subsidiando os professores no seu saber-fazer pedagógico.

Acreditamos que quanto mais investirmos na formação continuada, na prática reflexiva, na pesquisa de soluções originais, mais será possível uma progressiva redefinição do nosso ofício de professor, no sentido de uma maior profissionalização. Atualizamos e publicamos esses cadernos, apostando no potencial criativo dos professores, tendo em vista o bem comum de todas as crianças, jovens e adultos que freqüentam as escolas municipais de Salvador. Sucesso professor, é o que lhe desejamos! Ana Sueli Pinho Coordenadora da CENAP

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INTRODUÇÃO Desde os primórdios, os homens se reuniam ao redor da fogueira para se esquentar, dialogar, relatar acontecimentos, ouvir e contar histórias. O hábito de ouvir e contá-las é uma atividade tão antiga quanto a própria humanidade, não sabendo precisar quando esse hábito “(...) se instituiu como prática social, porém pode-se afirmar que é bem antigo, de ordem universal, ocorrendo, portanto, em todas as civilizações...”.1 Todos os povos, em todas as épocas, cultivaram seus contos, cuidadosamente transmitidos oralmente de geração em geração. Estes contos atravessaram as fronteiras do tempo e do espaço, misturando realidade e fantasia, e nesse processo, sofreram todo tipo de modificação: fusões, acréscimos, cortes, substituições e influências, mas sempre expressando, nas suas linhas e entrelinhas, ensinamentos e valores atemporais. Quem não conhece “João e Maria”, “Cinderela”, “Afrodite”, “Poseidon”...? Certamente todos nós, um dia, já ouvimos a história dessas personagens. Elas vêm povoando a imaginação de crianças, jovens e adultos, há séculos... Os contos, assim como as lendas, os mitos e as fábulas são tipos de narrativas originárias desde as mais antigas civilizações. Estes povos, através das histórias que contavam, passavam ensinamentos e preservavam sua cultura. Graças à tradição oral e mais tarde ao texto impresso, a arte de contar histórias foi passada de geração a geração, constituindo até os dias de hoje, importantes fontes de informações para entendermos a história das civilizações. Dentro deste contexto é importante perceber o trabalho dos compiladores desse gênero literário que, até então, se mantinha no ideário popular, como: Homero com sua Odisséia (poeta grego – séc. VIII a.C; Charles Perrault (França – séc. XVIII); os irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm – Alemanha - séc. XVIII) e tantos outros, pois, esses escritos, além de preservar a memória histórica de um povo, emocionam, por lidar com o imaginário, divertem, criam suspense, mostram verdades e revelam sentimentos e valores de uma época. Em cada país, surgiram novas modalidades de contos, regidos de acordo com a época e os movimentos artísticos que este momento histórico-cultural provocou e adquiriram forma literária e estética. Assim, lêem-se hoje, contos de amor, de humor, contos fantásticos, de mistério e terror, contos realistas, psicológicos, sombrios, todos com estilos próprios daqueles que os escreveram. CARACTERÍSTCAS DOS CONTOS O conto caracteriza-se por ser uma história não muito longa, que possui unidade dramática. Sendo assim, a ação da história se concentra em um único ponto de interesse: o conflito que, por sua vez, gira em torno dos propósitos dos personagens na busca de soluções, através de diversas ações que se relacionam num encadeamento temporal e causal.

1 Informações disponível no endereço; http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/cpe/tetxt3.htm, capturadas em 19/11/2007.

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Considerando que o conto apresenta um enredo que se passa num determinado espaço de tempo podemos observar o emprego de algumas palavras ou expressões lingüísticas (geralmente advérbios ou locuções adverbiais) que têm a função de marcar a cronologia da história. É através destas palavras que podemos perceber, ter transcorrido “um tempo”, na seqüência narrativa. A demarcação do tempo aparece, geralmente, no primeiro parágrafo, sendo que nos contos tradicionais iniciam com expressões tipo: Era uma vez..., Certa vez... O conto tem função literária, isto é, o autor brinca com a linguagem, pode transgredir, inventando palavras. A trama predominante é a narrativa, mas vale-se da trama descritiva para apresentar os personagens e lugares, e da trama conversacional para estabelecer o diálogo. Este último, predominante, principalmente, nos contos dirigidos às crianças, uma vez que dá grande realismo à cena, pois ela atualiza presentifica os fatos e envolve mais facilmente o leitor que o discurso indireto, que fica a cargo do narrador. O narrador é a voz que conta a história. Esta voz pode ser de uma personagem ou testemunha narrado na primeira pessoa ou de uma terceira pessoa que não intervém na narrativa, podendo adotar diferentes pontos de vista. É importante destacar a função dos verbos na construção e na interpretação dos contos: os pretéritos perfeito e imperfeito predominam na narração e o tempo presente nas descrições e nos diálogos, e também, as estratégias de definibilidade e de coesão, principalmente, pronominalização, substituição lexical e conectores de encadeamento e ruptura.

ABORDAGEM PEDAGÓGICA DOS CONTOS Os contos são gêneros textuais com o qual os alunos entram em contato logo nos primeiros anos escolares. O ato de ouvir histórias auxilia no processo de aquisição da língua escrita. É o primeiro passo para estimular a competência leitora e desenvolver a escrita por meio da sistematização das idéias. Os estudos sobre a aquisição da linguagem escrita têm demonstrado a relação entre leitura de contos e as crianças em processo de alfabetização. As investigações têm apontado que as crianças que lêem frequentemente contos sabem como manipular os livros, podem dizer o que está na capa e conhecer a direção em que se lêem os impresos. Além disso, ajuda às crianças pequenas a aprender as características da língua escrita e que esta é diferente da oral, que a letra de imprensa gera significado e que as palavras estampadas na página têm sentido. As atividades de leitura e escrita, assim como a prática de comunicação oral com contos possibilitam que os/as alunos/as pensem sobre:

• A função social da escrita. • As convenções gráficas da escrita: o direcionamento, o alinhamento,

segmentação dos espaços em branco e pontuação. • A diferença entre letras e números, letras e desenho. • A percepção da forma e do valor sonoro convencional das letras. • A constatação da conservação de letras e sílabas nas palavras.

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• A quantidade de letras necessárias para escrever as palavras. • A variedade, posição e ordem das letras em uma escrita convencional. • A natureza alfabética do sistema de escrita. • A relação grafema e fonema. • Os princípios e as regras ortográficas. • As relações do que se leu com outras leituras e experiências. • O sentido do texto lido...

Além de:

• Desenvolver a cognição, o pensamento lógico, a atenção, a escuta, a memória, a observação, a criatividade, a imaginação, a sensibilidade, a reflexão, a criticidade, as linguagens oral e escrita.

• Ampliar o repertório cultural, o volume de escrita e o vocabulário. • Possibilitar construção da base alfabética e ortográfica. • Funcionar como modelo de escrita convencional. • Trabalhar a análise lingüística da estrutura das palavras do texto (letra e silaba

(inicial e final), número de letras e sílabas, posição das letras na palavra, relação entre som e grafia).

• Trabalhar com as diferentes estratégias de leitura. • Permitir o contato com diferentes sílabas e diferentes tamanhos de palavras. • Organizar a fala.

A presença regular dos contos na sala de aula possibilita:

• Um processo de alfabetização e letramento real e significativo, posto que é um gênero textual que circula no mundo social.

• A formação de leitores competentes. • A formação intelectual. • A inserção no mundo letrado. • A descoberta de outros lugares, outras épocas, outras culturas, outros modos de

ser e de agir. Quanto ao ensino do conto, o debate pedagógico está centrado em duas questões: se os professores devem ensinar diretamente aos alunos os elementos que compõem um conto com o objetivo para aprendizagem da leitura e da escrita; ou usar os contos apenas para o ensino da leitura na sua dimensão lúdica, pessoal e independente. Diante dessas questões, optou-se por trabalhar com os contos envolvendo dois projetos:

- para a apreciação, visando à produção de leitura na sua dimensão lúdica e pessoal; - para relacionar a leitura à produção de texto, visando uma produção efetiva dos textos e de uma reflexão constante sobre o funcionamento e estrutura da língua.

A escolha dos contos: A literatura infanto-juvenil tem considerado três das diferentes fases da evolução da criança descritas pela Psicologia:

- a fase do mito (3/4 a 7/8 anos) – nesta fase a criança não diferencia entre realidade e fantasia, por isso a leitura mais adequada são os contos de fadas, os mitos, as lendas e as fábulas.

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- a fase do conhecimento da realidade (7/8 a 11/12 anos) – a criança tem maior necessidade da ação, passa do contemplativo para o executivo. A leitura adequada para a essa fase são os contos de aventura, o relato histórico, os relatos mitológicos, os heróis (sobre o princípio da vida dos povos), os de viagens e façanhas. - a fase do pensamento racional (11/12 anos até a adolescência) - nesta fase as questões pessoais adquirem valor extraordinário, por isso a leitura de romances é a mais adequada pelo caráter de seus heróis e por seus temas.

Entretanto, sendo um estudo teórico, deve-se considerar estas fases apenas como referência para a escolha dos contos, pois cada criança tem o seu desenvolvimento peculiar definido por fatores diferentes. Por isso, é fundamental conhecer a criança, sua história, suas experiências e ligações com o livro. Resumindo, as crianças, desde a Educação Infantil, necessitam serem expostas a um ambiente rico em materiais que circulam no mundo escolar e no mundo social, para que possam ir aprendendo o uso e a função social da língua escrita. Elas precisam perceber, analisar e formular suas hipóteses sobre a leitura e a escrita a que está exposta em seu cotidiano. Necessitam ouvir e contar histórias para desenvolver sua imaginação, a observação e a linguagem oral e escrita, assim como, o prazer e o interesse pela leitura. Nesta perspectiva, os contos tornam-se um importante recurso pedagógico.

ABORDAGEM PSICOLÓGICA DOS CONTOS A infância caracteriza-se como uma fase de intensas descobertas. A criança nesta fase mergulha no mundo da fantasia, da imaginação e do encantamento, o mundo dos contos. As narrativas contidas nestes contos além de entreter:

• São ricas fontes de descargas de tensões e angústias, de resolução/enfrentamento dos conflitos, ajudando a promover a estabilidade emocional.

• São poderosos recursos de estimulação do desenvolvimento psicológico e moral, ajudando na manutenção da saúde mental da criança em crescimento.

• Cria referenciais importantes ao desenvolvimento subjetivo. • Trabalha atualizando e reinterpretando questões universais, tais como a

dicotomia entre o bem e o mal, o forte e o fraco, a riqueza e a pobreza, o belo e o feio, defeitos e virtudes, ajudando assim na formação de conceitos.

• Trabalham com a aceitação das diferenças. • Misturam realidade e fantasia, transportando as crianças para o mundo dos

personagens encontrando ali alguns de seus problemas e desejos. • Ajudam a interpretar o mundo. • Auxiliam na formação e construção da subjetividade da criança. • Ajudam a elaborar conflitos inerentes ao processo de desenvolvimento e

socialização. • Aliviam pressões inconscientes, constróem um sistema metafórico e

simbólico. • Contribuem para a formação de valores.

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OBJETIVOS:

• Conhecer e apreciar a linguagem literária dos contos. • Estabelecer um vínculo prazeroso com a leitura de contos. • Ampliar o repertório do gênero. • Reconhecer os autores e obras consagradas no gênero. • Ter procedimento de ouvir contos. • Reconhecer os títulos dos contos lidos, aproximando-se do conteúdo

semântico e estabelecendo coerência na escolha do título. • Estabelecer comparação entre conto e fábula / conto e lenda. • Reconhecer elementos no texto que determinam a época que a narrativa

ocorre. • Aproximar-se da estrutura elementar dos contos tradicionais, através dos

marcadores temporais e das relações de casualidade que marcam a ambientação, o desenvolvimento da trama e a resolução.

• Apropriar-se da estrutura do gênero do conto trabalhado (tradicional ou moderno), reconhecendo suas características.

• Identificar os portadores de texto dos contos. • Organizar a seqüência narrativa do texto, utilizando as marcas típicas do

gênero como apoio. • Apropriar-se do uso literário da linguagem do conto, utilizando estratégias

de coesão: pronominalização, substituição lexical e especialmente os conectivos.

• Interagir com a leitura e a escrita. • Apropriar-se de valores culturais, sociais, morais, éticos e afetivos. • Entreter-se e divertir-se. • Fantasiar, imaginar e simbolizar. • Entender / enfrentar os conflitos. • Elaborar conceitos. • Interessar-se pela leitura demonstrando prazer. • Inserir-se no mundo da literatura.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS:

• Realização de “Oficinas literárias” – espaço de dramatização de um conto lido e escolhido pelo grupo.

• Criação com a participação dos alunos a “Biblioteca Volante” - seleção de livros de contos, dispostos em uma caixa, que deverá circular na escola.

• Instituição da “Hora do Conto” – as crianças em roda escolhem, na “biblioteca volante”, os livros para ler, fazem trocas com os colegas, ou o professor faz a leitura para elas.

• Confecção, junto com os alunos, de um cartaz com os títulos dos contos, para que eles marquem os livros mais lidos.

• Construção com os alunos de um gráfico com os dez livros mais lidos na classe.

• Oficinas de recomendação de livros de contos onde os alunos recomendam ou desaconselham os livros que leram.

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• Criação com a classe um sistema de empréstimo de livros de contos. • Mostra de Contos - mostra dos trabalhos produzidos pelas crianças. • Leitura diária de contos nas classes de alfabetização: na hora da chegada, na

volta do recreio, antes da saída. • Escrita de listas com os nomes dos personagens ou com os títulos dos contos

lidos. • Escrita coletiva de um conto: o aluno dita e o professor escreve. • Ordenação da seqüência narrativa através do desenho ou imagens e através

do texto recortado em parágrafos ou em tirinhas. • Leitura para os alunos de um conto moderno e outro tradicional para que

eles identifiquem as diferentes estruturas. • Utilização de vários procedimentos de leitura: ler o início do conto,

questionando sobre os personagens e identificando todos os elementos de sua estrutura,

• Reconto, pelos alunos, dos contos trabalhados (podendo ser em dupla, individual ou coletivamente).

• Realização atividades orais e escritas, mudando os personagens, modificando trechos e títulos.

• Reescrita de uma das partes do conto. • Investigação dos conhecimentos prévios das crianças a respeito da

modalidade do texto em estudo. • Construção do mapa do conto e utilização deste como apoio para a reescrita

do texto. • Apresentação o texto faltando uma das partes de sua estrutura. • Proposição de momentos de reescrita dos contos: coletivamente, em dupla e

por fim, individualmente. • Apresentação do texto lacunado, ora faltando os conectivos, ora os verbos,

ora os advérbio ou as locuções adverbiais. • Produção de um livro de contos.

LEMBRETES:

• O professor das classes de alfabetização deverá ler diariamente contos para seus alunos (na chegada, após o recreio, antes da saída). O contato freqüente com este gênero literário desenvolve no aluno o gosto pela leitura e facilita o processo de alfabetização.

• Ao planejar a leitura de um conto, o professor deve: motivar o grupo e deixar claro o que será lido e por que; levantar os conhecimentos e as experiências prévias possibilitando os alunos a predizerem e formularem perguntas, a partir do título; durante a leitura recapitular informações obtidas e supostas para que o aluno comprove suas hipóteses.

• Ao trabalhar com qualquer tipo de texto é importante que o professor conheça a função social e a construção interna.

• Os contos longos devem ser lidos por etapas, parar num momento emocionante que desperte o interesse para ouvir o final.

Para este trabalho foram selecionados quatro subgêneros do conto: contos de fada, contos mitológicos e contos modernos. Cabe ao professor através do conhecimento que

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tem de seus alunos definir sua escolha por um ou mais desses subgêneros e determinar como e quando trabalhar.

CONTOS DE FADA Há muito tempo atrás, num lugar bem longe daqui, em meio a bruxas, dragões, ogros, anões, fadas, duendes, príncipes, donzelas e acontecimentos sobrenaturais, e em clima de “Era uma vez...” e “Viveram felizes para sempre”, nasciam os contos de fada. Eles existem há milênios e fazem parte da herança cultural da humanidade, alguns datados do século II d.C. Em diversas culturas, em todos os continentes, existem histórias com estruturas e narrativas semelhantes aos contos que conhecemos hoje. Os contos de fada, considerados por muitos autores como sinônimo de “contos maravilhosos”, “contos de encantamentos” ou “contos populares”, foram “criados e narrados pelo povo, nasceram da oralidade e do espírito inventivo de muitos. Não se pode atribuir a eles um único autor, mais vários que, com suas idéias, contribuíram para alargar o campo da literatura oral”.2 Originalmente, estes contos não foram escritos para crianças, muito menos para transmitir ensinamentos, ao contrário, foram destinados para entrenimento dos adultos, contados em reuniões sociais, nas salas de fiar e outros ambientes onde eles se reuniam. As versões infantis dos contos de fadas nasceram no século XVII, na corte de Luís XIV, no ano de 1697, pelas mãos do escritor francês Charles Perrault (1628-1703), primeiro a coletar e organizar contos para criança em um livro chamado Contos da Mãe Gansa, constiuídos de uma coletânea de oito histórias: A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, O Barba azul, o gato de Botas, As Fadas. A Gata Borralheira, Henrique do

Topete e O Pequeno Polegar. De acordo com os historiadores, a literatura ocidental surgiu neste período com a publicação deste livro, que demonstrava uma preocupação pedagógica, uma vez que, ao final da narrativa, escrevia, sob a forma de versos, a moral da história, segundo a qual as histórias deveriam servir para instruir moralmente as crianças. Mais adiante, na Europa do século XIX, os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm (entre 1785 e 1863), na Alemanha, e Hans Christian Andersen (1805-1875), na Dinamarca, realizaram um trabalho de coletâneas de contos populares. Estes escritores tornaram um dos principais autores e adaptadores de contos de fadas para crianças. Os Irmãos Grimm recolheram, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas e sagas germânicas, conservadas pela tradição oral, com a finalidade inicial de estudar a língua alemã e registrar seu folclore. Eles registraram as histórias nas versões originais, sem as adaptações e lições morais de Perrault, e publicaram Contos da Criança e do Lar, constituídos de uma coletânea de contos, dentre eles: Os músicos de Bremen, Pequeno Polegar, A Bela Adormecida, Os Sete Anões e a Branca de Neve, O

Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira e O Príncipe Rã. Após a publicação destes trabalhos é que surgir de fato a literatura infantil, como afirma alguns autores.

2 Idem.

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Já Andersen, segundo estudiosos, foi a "primeira voz autenticamente romântica a contar histórias para as crianças" e buscava sempre passar padrões de comportamento que deveriam ser adotados pela nova sociedade que se organizava, inclusive apontando os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos", "exploradores" e "explorados". Ele também pretendia demonstrar a idéia de que todos os homens deveriam ter direitos iguais3. Entre os contos de Andersen, destacam-se: O Patinho Feio, A Pequena Sereia, O Soldadinho de Chumbo e A princesa e a Ervilha. Graças a sua contribuição para a literatura infanto-juvenil, a data de seu nascimento, 2 de abril, é hoje o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular e com conteúdos essenciais a condição humana, os contos de fada se perpetuam até hoje no imaginário coletivo, nos lares, nas escolas e em espaços em que se privilegie a formação de valores, a fantasia, a imaginação e o simbólico, numa perspectiva lúdica. Características dos contos de fada:

• São sempre assumidamente de ficção, ou seja, não pretendem ter acontecido de fato.

• Misturam realidade e fantasia, atualizando e reinterpretando questões universais, tais como a dicotomia entre o bem e o mal, o forte e o fraco, a riqueza e a pobreza, o belo e o feio, entre outras.

• Envolvem algum tipo de magia, metamorfose, encantamento, instrumentos mágicos, vozes do além, viagens extraordinárias e amigos ou inimigos sobrenaturais.

• O enredo expressa os obstáculos ou provas que precisam ser vencidos, como um verdadeiro ritual iniciático.

• Temporalidade difusa, isso é, o tempo não é definido, é remoto, é o tempo do “Era uma vez...”.

• Os personagens normalmente não possuem nomes. • A moral da história corresponde a um conjunto de normas de

comportamento destinado a regular as relações entre os indivíduos. Os contos funcionam como um canal de comunicação com o mundo psíquico da criança, que tira das histórias importantes ensinamentos para desenvolvimento do seu mundo interior. Eles elaboram de forma simbólica os conflitos entre a criança e o mundo. Ao ouvir histórias que envolvem morte, perdas, faltas, solidão, as crianças enfrentam as suas angústias e manifestam emoções importantes na construção do seu mundo interno, como, por exemplo, a raiva, a tristeza, o medo, a alegria, a insegurança, dentre outras, e descobrem formas de lidar com seus próprios problemas.

A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar, e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. As instituições de educação infantil podem resgatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes em que freqüentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte

3 Informações extraídas da Enciclopédia Wikipédia, disponível no site: http://pt.wikipedia.org, capturadas em 18/11/2006.

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de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção da subjetividade das crianças (RCN, 1998, vol.33, p.143).

De acordo com a Psicanálise, os significados simbólicos dos contos de fada estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional.

O maniqueísmo que divide as personagens em boas e más, belas ou feias, poderosas ou fracas, etc. facilita à criança a compreensão de certos valores básicos da conduta humana ou convívio social. Tal dicotomia, se transmitida através de uma linguagem simbólica, e durante a infância, não será prejudicial à formação de sua consciência ética. O que as crianças encontram nos contos de fadas são, na verdade, categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas os conteúdos rotulados de bom ou mau, certo ou errados. (...) a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta, podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto. 4

(...) suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as personagens fizeram). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – dum jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo)... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde aquele que está sendo vivido pela criança)...e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para resolução delas... (ABRAMOVICH:1989, p.17)

CONTOS MITOLÓGICOS Como todo povo da antiguidade, a Grécia criou sua mitologia. Quer dizer as verdades misturadas com a imaginação, fantasias. Heróis, deuses, ninfas, titãs e centauros habitavam o mundo material influenciando em suas vidas. Verdade ou não, isso pouco importa ao povo. O que se quer guardar é um sonho: de justiça, ou de amor, ou de medo, ou de esperança, obscuros e simbólicos caminhos para a formação da consciência coletiva. Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga:

• Heróis: seres mortais, filhos de deuses com seres humanos. Ex.: Heracles ou Hercules e Aquiles.

• Ninfas: seres femininos que habitavam os campos e bosques, levando alegria e felicidade.

• Sátiros: figura com corpo de homem, chifres e patas de bode. • Centauros: corpo formado por uma metade de homem e outra de cavalo. • Sereias: mulheres com metade do corpo de peixe, atraíam os marinheiros

com seus cantos atraentes. • Gorgonas: mulheres, espécie de monstros, com cabelos de serpentes. Ex.

Medusa. • Quimera: mistura de leão e cabra, soltava fogo pelas ventas.

4 http://www.graudez.com.br/litinf/textos.htm

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• Minotouro: espécie de monstro com corpo de homem e cabeça de touro, forte e feroz, habitava um labirinto da ilha de Creta e alimentava-se de sete rapazes e sete moças gregas.

Os deuses gregos eram imortais, habitavam o Olimpo (monte principal da Grécia Antiga), comandavam o trabalho e as relações sociais e políticas dos seres humanos e eram dotados de sentimentos iguais aos humanos tais como, o ciúme, a inveja, a traição e a violência., Muitas vezes os deuses se apaixonavam pelos mortais e acabavam tendo filhos com estes. Desta união surgiam os heróis. Os principais deuses gregos eram:

• Zeus: deus de todos os deuses, senhor do céu. • Afrodite: deusa do amor e da beleza. • Poseidon: deus dos mares. • Hades: deus dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo. • Hera: deusa dos casamentos e da maternidade. • Apolo: deus da luz e das obras de arte. • Ártemis: deusa da caça. • Ares: divindade da guerra. • Atena: deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da cidade de Atenas. • Hermes: divindade que representava o comércio e as comunicações. • Hefestos: divindade do fogo e do trabalho.

Os contos mitológicos têm uma estrutura canônica, ou seja, partem de uma estrutura fixa (início meio e fim) próprias dos contos tradicionais como os contos de fadas. Foram selecionados nove textos de mitologia grega, como sugestão para o trabalho em classe. O professor poderá ampliar este repertório, principalmente, com versões dos mesmos contos, que irão enriquecer ainda mais o trabalho. Atualmente encontramos no mercado de livros infanto-juvenil publicações de contos mitológicos.

Os contos selecionados são:

A ORIGEM DO MUNDO Num tempo que se perde nas brumas do passado, existia um deus chamado Caos. Ele vivia sozinho em um mundo completamente vazio e nada existia a seu redor. A única coisa que existia em algum ponto do universo era uma escuridão sem forma. Centenas de séculos se passaram. Até que um dia, Caos se cansou da solidão e decidiu criar o mundo. Seu primeiro trabalho foi criar a deusa Terra, cheia de vida e alegria. Graças a ela nasceu o nosso mundo. Em seguida, criou o pavoroso Tártaro, com sua corte noturna além do alegre e radiante Dia. Depois de Caos haver feito a sua parte, foi a vez da mãe-Terra criar o infinito Céu azul, Urano. Dessa união nasceram vários filhos imortais; os doze titãs, deuses gigantes que possuíam um poder incrível; os terríveis Ciclopes, criaturas gigantescas com um único olho na testa e os Gigantes de Cem mãos, os maiores e mais terríveis.

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Certo dia, Urano brigou com seus filhos porque eles o haviam desrespeitado. Resolveu então, castigá-los severamente, atirando-os às profundezas, nas terras negras de Tártaro. Entretanto, nem todos se acovardaram. Nos olhos de um deles brilhou um lampejo de coragem. Esse titã era Cronos, aquele que havia sonhado, em segredo, tornar-se o rei do mundo. Com a ajuda de sua mãe, Cronos conseguiu fugir da prisão, nas trevas, acertou o pai com um golpe certeiro, ferindo-o gravemente e tomando o poder. Já no poder, Cronos, casou-se com Réia e por medo de perder o trono por traição de um dos seus filhos, ordenou que Réia os entregasse ainda recém-nascidos, para que os engolisse, assim garantiria que não se voltassem contra ele. Havia chegado o momento de Réia ter o sexto filho, resolveu então pedir ajuda a seus pais, Urano e Terra, que a aconselharam a deixar a criança nascer em Creta, em uma caverna no monte Diete, um lugar escondido no coração da floresta a Cronos e dar uma pedra enrolada numa toalha para que ele a engolisse. Para que Cronos não escutasse o choro do pequenino Zeus, os Cuteros, guerreiros da floresta, batiam suas espadas nos escudos. O tempo foi passando e Zeus tornou-se um jovem bonito, forte e corajoso e resolveu tirar Cronos do trono dos deuses. Recorreu a Métis, uma esperta Occânide, que contou-lhe sobre uma poção que obrigaria Cronos a vomitar os filhos que havia engolido. Colocando-a numa taça, Zeus chegou até Cronos e apresentou-lhe a bebida como sendo um vinho muito especial. Assim que bebeu, Cronos foi imediatamente tomado por violentíssimas dores e, por não mais conseguir manter as crianças no estômigo, começou a vomitá-las. Zeus e os jovens deuses, seus irmão, conseguiram aliados, e iniciaram a maior guerra que o mundo já conheceu a horrível Batalha dos Titãs, que durou dez longos anos e varreu a Terra com seus efeitos destruidores. No décimo ano de batalha, a força dos titãs diminuiu exaustos, sem defesa, na tentativa de escapar à horda inimiga, fugiram correndo. Acorrentando os titãs com pesadíssimas cadeias forjadas pelos Ciclopes, os deuses do Olimpo os atiraram nas profundezas das terras de Tártaro, onde deverão permanecer prisioneiros para sempre. Com isso, os vencedores retornaram aos picos ensolarados do Olimpo. Sentiam-se orgulhosos pela vitória, mas tinham ainda uma dificílima tarefa pela frente: tornar a Terra um lugar novamente habitável. Na tentativa de voltar o mais depressa possível a antiga harmonia, os deuses dividiram o mundo entre si. Zeus, o mais forte dos deuses, tornou-se senhor dos céus. Poseidon ficou com o domínio dos mares e terremotos. Demetér tomou posse da terra com seus frutos. Hera passava a ser rainha dos céus, protetora dos casamentos. Atena, deusa da sabedoria, das belas artes e das guerras pela justiça. Apolo patrono da luz e da música. Ártemis, deusa das noites enluaradas, das flores e das caçadas. Afrodite, com seu filho Eros, era a deusa da beleza e do amor. Hefesto governava o fogo. Hermes protegia os mercadores e executava o papel de mensageiro de Zeus. Ares era o assustador deus da guerra e finalmente Héstia, que protegia os lares e os corações apaixonados. Com esses deuses e ainda outros Zeus reinava do Olimpo e mantinha ordem e paz no mundo.

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ATENA Naquele tempo, quando Zeus do Olimpo reinava sobre os céus e a terra, um grande perigo ameaçou o senhor do mundo. A deusa Mãe-Terra que tinha o dom de profetizar o destino dos deuses foi a única que viu esse perigo. Por isso, foi ate Zeus e disse: - Ouça-me Zeus, lançador dos raios! Um dos seus filhos vai tirar-lhe o trono, exatamente como aconteceu a seu pai – o grande Cronos e a seu avô Urano. Preste atenção: você terá dois filhos com a deusa Métis. A primeira será Atena que está no ventre da mãe. O segundo será cruel e ambicioso e usará seus poderes em benefício de interesses pessoais. Quando isso acontecer, você será lançado às profundezas escuras de Tártaro e vivera mergulhado em uma cela sem luz. Na tentativa de driblar o destino, Zeus, resolveu envolver Métis em seus braços, absorvendo-a dentro de seu próprio corpo. Mas coisas estranhas começaram a acontecer, porque Métis estava grávida, quase na hora de dar â luz sua filha a imortal Atena. Inexplicavelmente, Zeus começou a sofrer terríveis dores de cabeça e numa desesperada tentativa de acabar com o sofrimento, mandou chamar Hefesto e ordenou-lhe que lhe arrebentasse a cabeça. Obediente, Hefesto ergueu seu gigantesco martelo e com força controlada bateu-o na cabeça de seu pai e... que surpresa! Houve o clarão de uma estranha luz e da cabeça de Zeus saiu Atena – a deusa da sabedoria. Não era um bebê, mas sim uma linda jovem de olhos azuis dotada de sabedoria, coragem e força. Ela usava uma túnica comprida e um capacete brilhante. De seu ombro esquerdo pendia um pesado escudo e na mão direita segurava uma comprida lança. Com um grito de triunfo e um aceno com a lança pontiaguda, ela saudou os deuses, desceu ao chão e inclinou a cabeça diante de seu pai. Assim nasceu Atena, a nova deusa que seria tão sábia e poderosa quanto Zeus, a deusa da sabedoria, das belas artes e das guerras pela justiça.

O MITO DE PERSÉFONE Há muito tempo atrás, na Terra, após Deméter ensinar os homens a lavrar o solo, a colheita dos frutos, passou a ser mais abundante. O povo começou a construir cidades, nascendo assim, a civilização. Mas junto com ela veio a cobiça e a guerra, grande preocupação da deusa das colheitas. Certo dia, enquanto caminhava triste pelas colinas do Olimpo, Deméter teve um terrível pressentimento, que lhe tirou o sossego. E ao pensar em sua linda filha Perséfone, ouviu um grito que emergiu dos uivos do vento. - Mãe, estou sendo raptada! Pondo-se de pé como um passara assustado, Demétre correu a chorar à procura da filha, chegando ao florido vale de Nisa. Lá, encontrou um grupo de ninfas das águas, que eram as melhores amigas de Perséfone, mas que nada sabiam. Durante nove dias e nove noites, perambulou em vão, até que Hécate, deusa da lua resolveu ajudá-la, levando-a até Hélio, o deus-Sol. Quando o Sol viu Demeter, logo adivinhou o motivo de sua presença.

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-Querida deusa, disse ele – compartilho de sua dor. O que aconteceu a Perséfone, porém, foi o desejo de Zeus: ele a deu como noiva de Plutão. Agora, Perséfone, está no Reino debaixo da terra e nunca verá a luz do dia. A dor de tomar conhecimento da verdade não só estragou a vida de Deméter como também a beleza de tudo que ela havia criado. A partir daquele fato, nada mais cresceu na Terra, pessoas, animais e pássaros. Zeus viu tudo e chegou à conclusão que precisava encontrar um modo de reparar o mal que havia acontecido. Decidiu, então, que Perséfone deveria voltar à Terra durante meio ano para visitar sua mãe. Os outros seis meses restantes passava com Plutão no Reino das Trevas. Desde essa decisão, na primavera e no verão, as planícies e as montanhas cobrem-se de verde e a terra se enfeita com flores. Mas quando Perséfone vai embora, chegam o outono e o frio gelado do inverno, pois Deméter fica triste pelo fato de sua filha estar longe da luz do dia, mergulhada no escuro mundo de Plutão. É assim que vem acontecendo: todas as primaveras Deméter recebe sua adorada filha e, feliz recomeça sua grande tarefa procurando tornar menos dura a vida dos homens na Terra.

POSEIDON Os enormes mares que às vezes ameaçavam engolir as mais fortes embarcações ou que de outras lambem delicadamente seus cascos eram o reinado de Poseidon. O deus dos terremotos era irmão de Zeus e filho do terrível Cronos. Como os demais deuses, Poseidon sonhava em ter uma cidade especial que lhe rendesse culto e para a qual ele pudesse oferecer ajuda e proteção. O senhor dos mares tinha uma certa preferência pela Ática, lugar onde uma nova cidade, Kekropia, estava sendo construída, foi até lá e pediu ao rei Kekrops que lhe fosse dedicada a cidade que, em sua honra, deveria ter o nome de Poseidônia. E fazendo esse pedido presenteou a cidade com uma fonte de água salgada onde as pessoas que fossem partir para terras distantes poderiam encostar o ouvido e saber se deveriam ou não enfrentar a viagem. Em seguida Poseidon desapareceu. Kekrops mal havia se refeito da surpresa, quando Atena, a deusa da sabedoria, também lhe apareceu, pedindo-lhe que a cidade tivesse seu nome, portanto, deveria chamar-se Atenas. E batendo numa rocha com sua lança fez brotar uma oliveira com os galhos carregados de azeitona – galhos que cobririam toda a Ática com os frutos, para matar a fome do povo; a mesma oliveira que produziria óleo, para iluminar suas casas e ramos que seriam o símbolo da paz entre os homens. Aquele gesto feriu o orgulho de Poseidon. Furioso, desafiou Atena para um duelo. Quando os dois deuses já estavam prontos para a batalha, Zeus apareceu e resolveu convocar os demais deuses do Olimpo para que chegassem a uma definição através do voto. Quando Poseidon soube do resultado, sua fúria tornou-se incontrolável! Atirando ondas para cima, ele fez inundar toda a cidade e os atenienses levados pelo terror, foram consultar um oráculo. E a resposta foi que a zanga de Poseidon só cessaria se todas as mulheres de Atenas fossem castigadas. Para isso, teriam de perder o direito a votar, não poderiam mais ser consideradas cidadãs e seu filhos só poderiam herdar o nome do pai.

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Apesar de Poseidon haver perdido a cidade em favor de Atena, os atenienses o honravam na Acrópole ao lado de sua deusa. Por sua vez o deus do mar, ajudou-os generosamente, fazendo com que Atenas conquistasse um grande poder marítimo. Assim era Poseidon, o deus do mar, às vezes duro de coração e, às vezes, gentil e cheio de boa vontade.

APOLO Muito tempo atrás, quando Zeus era o senhor dos deuses e dos homens, a sagrada ilha de Delos não ficava no lugar onde se encontra hoje. Naquele tempo, Delos era uma ilha flutuante que, ao sabor dos rios e dos oceanos, mudava constantemente de lugar. Um dia, uma deusa chegou às praias, estampando medo e angústia em seu olhar. Seu nome era Leto. Ali implorou: - Oh, ilha irrequieta e eterna passeadora sobre as águas, Dê-lhe refúgio e um lugar segura em seu solo onde possam nascer os meus filhos! Pitão, aquele monstro horrível que a ciumenta Hera mandou-me perseguir, não tem me dado sossego pelo mundo inteiro. Receba-me, ó ilha e eu lhe prometo que Apolo, o filho que vê vai nascer, mandará construir neste chão um esplêndido templo e tornará o seu nome conhecido no mundo todo! E foi assim que Delos deu abrigo a Leto. Durante nove dias e nove noites, Leto sofreu à espera do nascimento e, finalmente, na décima noite, teve os filhos. Naquele momento, a escuridão da noite se transformou em dia, e o sol, iluminando toda a ilha com cascatas de luz, apareceu majestoso no céu, Nem poderia ser diferente, porque o filho de Leto acabava de nascer: era loiro Apolo,o deus da luz. Havia apenas passado quatro dias, e Apolo já demonstrava ser uma criança possuidor dos poderes dos deuses. Quando Hefesto lhe deu de presente um arco de prata com flechas de ouro que nunca erravam o alvo, o pequeno deus resolveu matar Pitão, o monstro que havia implacavelmente perseguido sua mãe. Sem a menor hesitação. Apolo voou até Parnaso, onde vivia o monstro e mais rápido que um relâmpago, disparou uma única flecha que cravou direto entre os olhos do monstro. Feliz com a vitória, Apolo pegou sua lira e começou a cantar uma canção maravilhosa como o mundo jamais tinha ouvido outra igual. Desde então, Apolo recebeu o título de rei da música. Feito isso, enterrou Pitão e sobre sua sepultura construiu um templo e um oráculo, lugar onde são revelados aos homens os julgamentos de seu poderosíssimo pai, Zeus.

ARES Muito tempo atrás, vivia um belo deus musculoso, com sua brilhante armadura e aparência gloriosa. Seu nome era Ares, filho de Zeus e Hera. Isso, porém, é tudo de bem que se pode dizer a seu respeito. Batalhas, mortes e sangue eram seus únicos prazeres. Para Ares não importava quem estivesse lutando nem se a causa era justa ou injusta. Para ele tudo era a mesma coisa, desde que rapazes educados e jovens

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estivessem sendo mortos, que cidades fossem transformadas em cinzas e que toda população fosse dizimada. Seus símbolos eram a lança e o abutre: a espada que mata, e o abutre que se alimenta de carnes mortas. Em sua miserável missão, Ares era auxiliado por Fobos e Deimos, seus dois filhos cujos nomes significam Medo e Terror. Também era ajudado por Éris, a deusa que se alimentava de ódio e de luta. Esses três obedeciam cegamente às ordens de Ares e empunhavam suas bandeiras de luta ao mais elevado ponto da destruição assassina. Sempre que uma batalha terminava com a morte semeada por toda parte, Ares voltava feliz para o Olimpo. Ares possuía uma única admiradora: Afrodite, a deusa do amor. Era assim porque às vezes existem pessoas que ficam impressionadas com pessoas musculosas dentro de uma armadura brilhante, sem pensar no que existe dentro delas. Para Afrodite, Ares era o poderoso herói dos carros de guerra, o deus de grande coração, o orgulhoso defensor das cidades, o lanceiro sem medo, o protetor dos reis, o verdugo dos rebeldes e a invendível fortaleza do Olimpo. Na verdade, o grande deus das guerras, deveria acabar com essa fixação por batalhas horríveis e os deuses do Olimpo nunca mais deveriam falar em guerra, palavra que toda humanidade precisaria também esquecer.

HEFESTO Há muito tempo, quando a deusa Hera casou-se com Zeus e tornou-se a rainha dos céus, a alegria o orgulho do Olimpo. Mas, em vez disso, nasceu Hefesto, um nenê aleijado e tão feio que assim que Hera o viu, agarrou-o pela perna mais curta fazendo-o dar duas voltas no ar e atirando-o do alto do monte Olimpo. Tal foi sua força que a pobre criança atravessou a terra e o mar durante um dia e uma noite, mergulhando no Oceano. Ali, sem dúvidas, o bebê teria morrido afogado se não fosse o imortal Hefesto. Tétis e Eurinome, deusas do mar ficaram com dó da criança e resolveram tomar conta dele. Todos pensavam que tendo crescido nas águas e criado por deusas do mar, Hefesto se tornaria um deus do mar. Mas tornou-se um deus de um elemento bem oposto. Certa noite, quando havia saído do mar, ele viu chamas brotando do topo de uam montanha e ficou encantado com o espetáculo. Aproximando-se do maior dos vulcões, admirou-lhe a selvagem majestade. Quando mais observava, mais pensativo ficava: “Talvez “- pensou ele – “esse mesmo fogo possa ser usado para forjar belos e úteis objetos de metal. E finalmente, construiu uma grande forja em Limnos e ali, banhando de suaor, vivia martelando na bigorna o metal vermelho em brasas, tornando-se forte. Seus ombros tornaram-se largos, seu peito forte seus músculos do braço, pareciam de aço. Levado ao Olimpo, esquecendo-se do mal que Hera lhe havia feito, Hefesto transferiu para lá sua oficina, onde criava as mais delicadas jóias e até os mais ricos ornamentos para enfeitar o palácio dos deuses. Assim era Hefesto: forte como o fogo, maleável como o ferro em brasa e de bom coração, igual a qualquer um – mortal ou imortal – que ama o seu trabalho.

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AFRODITE Muitos anos atrás, na distante Chipre,quando as ninfas e as dríades das florestas despertaram em uma certa manhã de primavera,tiveram uma grande surpresa! Mais fria e mais perfumosa, aquela era uma manhã diferente! A própria luz do sol brilhava mais, e mais denso era o verde nas plantas. Até os próprios pássaros e animais mostravam maior alegria. O mistério foi logo explicado: acabava de nascer das ondas, uma deusa da beleza e do amor, a filha de Urano, a radiante Afrodite. No dia em que Urano, rei dos deuses e dos homens, foi ferido pelo alfanje do velhaco Cronos ao tomar-lhe o trono, um pedaço de carne caiu no mar. No local em que ela caiu formou-se um punhado de espuma. Ela foi crescendo, crescendo, até que, de repente, no meio da massa branca como a neve surgiu uma jovem. Era Afrodite, a filha de Urano e da espuma, a mais linda entre as mulheres – mortais ou imortais –que jamais existiram. As Horas e as Graças foram dar-lhe as boas vinda e oferecer seus serviços. Elas vestiram a deusa com uma belíssima roupa acetinada, pentearam-lhe o cabelo, puseram-lhe um diadema de ouro adornado com violetas perfumadas na cabeça, brincos, braceletes, anéis cintilantes e um rico colar também de ouro. Puseram-na em uma nuvem fofa e transportaram-na para o Olimpo. Tão grande foi o impacto que sua beleza causou nos deuses, ao chegar lá, que, por um momento, pareceu que todos haviam ficado cegos. Ela falava suave, sorrindo tinha gestos cativantes e olhava de um jeito que deixava o interlocutor encantado. Auxiliada por seu filho, o pequeno Eros que tinha asas, que estava sempre com o arco pronto e cujas flechas nunca erravam o alvo, ela lidava com o homens provocando neles tristeza, alegria, felicidade e muitos amargos desapontamentos. Afrodite era a deusa da eterna beleza e do amor e lá do alto do Olimpo ela reinava sobre o coração dos homens.

CONTO MODERNO É um tipo de narrativa não muito longa (história curta de fatos fictícios) em que o narrador se detém num momento especial, ou seja, a ação se concentra em um único ponto de interesse um conflito maior vivido pelos personagens. Podemos destacar as seguintes características do conto moderno:

• História curta. • Poucos personagens. • Ação limitada a poucos lugares (espaço limitado). • Tempo limitado a um momento significativo na vida dos personagens. • Focaliza um momento importante, conflituoso, na vida do personagem.

Principal. Normalmente, o Conto apresenta episódios que fluem em direção ao desfecho, mantendo o leitor atento ao desenrolar dos acontecimentos. O contista moderno descreve a caracteriza apenas o essencial de seus personagens e a atmosfera em que a ação se desenvolve. Este tipo de narrativa atrai o leitor por tratar de episódios do dia a dia, nos quais qualquer pessoa pode se retratar.

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• Durante a reescrita do texto, em dupla, possibilite aos alunos a alternância de papeis: ora escritor, ora leitor, ora revisor.

• Considerar as etapas de produção de texto: reconto, reescrita, co-autoria (parceria com o autor, ex.: mudar o final da história, mudança do foco narrativo, intertextualidade - encontro de personagens de histórias diferentes); autoria (quando produz o seu próprio texto).

• A professora deve ler a biografia do autor dos textos trabalhados. • É importante que a professora estimule e acompanhe os alunos a visitar

livrarias, bibliotecas e nesses espaços folhearem os livros observando: capas, diagramação, tipo de letra.

• Chamar a atenção dos alunos para a conservação dos livros. Contos do escritor e poeta CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça: - Não há nada a fazer, Dona Colo. Este menino é mesmo um caso de poesia.

O ASSALTO A casa luxuosa no Leblon é guardada por um molosso de feia catadura, que dorme de olhos abertos, ou talvez nem durma, de tão vigilante. Por isso, a família vive tranqüila, e nunca se teve notícia de assalto a residência tão protegida. Até a semana passada. Na noite de quinta-feira, um homem conseguiu abrir o pesado portão de ferro e penetrar no jardim. Ia fazer o mesmo com a porta da casa, quando o cachorro, que muito de astúcia o deixara chegar até lá, para acender-lhe o clarão de esperança e depois arrancar-lhe toda ilusão, avançou contra ele, abocanhando-lhe a perna esquerda. O ladrão quis sacar do revólver, mas não teve tempo para isto. Caindo ao chão, sob as patas do inimigo, suplicou-lhe com os olhos que o deixasse viver, e com a boca prometeu que nunca mais tentaria assaltar aquela casa. Falou em voz baixa, para não despertar os moradores, temendo que se agravasse a situação. O animal pareceu compreender a súplica do ladrão, e deixou-o sair em estado deplorável. No jardim ficou um pedaço da calça. No dia seguinte, a empregada não entendeu bem por que uma voz. Pelo telefone, disse que era da Saúde Pública e indagou se o cão era vacinado. Nesse momento o cão estava junto da doméstica, e abanou o rabo, afirmativamente.

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O TORCEDOR No jogo de decisão de campeonato, Eváglio torceu pelo Atlético mineiro, não porque fosse atleticano ou mineiro, mas porque receava o carnaval nas ruas se o Flamengo vencesse. Visitava um amigo em bairro distante, nenhum dos dois tem carro, e ele previa que a volta seria problema. O Flamengo triunfou, e Eváglio deixou de ser atleticano para detestar todos os clubes de futebol, que perturbam a vida urbana com suas vitórias. Saindo em busca de táxi inexistente, acabou se metendo num ônibus em que não cabia mais ninguém, e havia duas bandeiras rubro-negras para cada passageiro. E não eram bandeiras pequenas nem torcedores exaustos: estes pareciam ter guardado a capacidade de grito para depois da vitória. Eváglio sentiu-se dentro do Maracanã, até mesmo dentro da bola chutada por 44 pés. A bola era ele, embora ninguém reparasse naquela esfera humana que ansiava por tornara a ser gente a caminho de casa. Lembrando-se de que torcera pelo vencido, teve medo, para não dizer terror. Se lessem em seu íntimo o segredo, estava perdido. Mas todos cantavam, sambavam com alegria tão pura que ele próprio começou a sentir um pouco de flamengo dentro de si. Era o canto? Eram braços e pernas falando além da boca? A emanação de entusiasmo o contagiava e transformava. Marcou com cabeça o acompanhamento da música. Abriu os lábios, simulando cantar. Cantou. Ao dar fé de si, disputava à morena frenética a posse de uma bandeira. Queria enrolar-se no pano para exteriorizar o ser partidário que pulava em suas entranhas. A moça, em vez e ceder o troféu, abraçou-se com Eváglio e beijou-o na boca. Estava batizado, crismado e ungido: uma vez flamengo sempre flamengo. O pessoal desceu na Gávea, empurrando Eváglio para descer também e continuar a festa, mas Eváglio mora em Ipanema, e já no estribo se lembrou. Loucura continuar flamengo a noite inteira à base de chope, caipirinha, batucada e o mais. Segurou firme na porta, gritou: “Eu volto gente! Vou só trocar de roupa” e, não se sabe como, chegou intacto ao lar, já sem compromisso clubista.

GÊMEOS Paulo nasceu gêmeo, embora sua mãe só houvesse dado à luz um filho. São dessas coisas da vida. Paulo sentia-se profunda, visceralmente gêmeo, e por falta de irmão visível considerava-se gêmeo de si mesmo. Os pais achavam estranha essa conduta e esforçavam-se por dar um irmão a Paulo. Não veio. Adotaram um menino. Paulo não quis tomar conhecimento dele. Especialistas norte-americanos foram consultados, e a todos Paulo respondia, convicto: - Sou gêmeo, e daí? Tratava-se assim mesmo como dois, convidava o irmão para passear, estudavam juntos, brigavam, faziam pazes, tinham duas namoradas distintas, que não compreendiam nada, e às vezes trocavam de Paulo para Paulo. Que diferença fazia? Um dia Paulo decidiu separar-se do outro. Gêmeos se cansam. A separação foi dolorosa, com arrependimento, reconciliação, novos conflitos. Os dois que havia em Paulo já não se entendiam mesmo. E Paulo teve uma idéia sinistra: eliminar o outro. Logo se arrependeu e preferiu eliminar só a si próprio. O outro não deixou. Paulo chorou, emocionado. O outro era tão melhor do que ele! - Nem tanto - confessou o outro. - Se você se matar, eu fico sem existência possível, isso não me convém. Sejamos egoísta, Paulo.

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- Mas ficou chato essa vida a dois. - Tenho uma idéia. E se nos tornarmos trigêmeos? Assim a conversa fica mais variada.

A MESA FALANTE Entre os móveis que pertenceram ao médium Aksakovo Feitosa, leiloados após o seu falecimento, estava a mesa falante que durante vinte anos serviu a seus trabalhos. Aparentemente não se distinguia de qualquer outra mesa, porém o longo hábito de prestar-se a experiências acabara por lhe conferir poderes independentes de iniciativa humana. Convertida em mesa de jantar na sala do funcionário do Loyd Brasileiro que a arrematara, começou a levitar quando a família festejava o aniversário da filha mais nova do casal, a menina Leonarda. O susto dos comensais foi imenso, e embargou-lhes a voz. Pálidos, ansiosos por fugir,e atados às cadeiras todos acompanhavam os movimentos da mesa sem que pudessem detê-los. Durou cinco minutos o fenômeno. A família voltou a mexer-se, mas os copos estavam trincados e o vinho escorria dele s sobre a toalha. Junto ao prato de Leonarda, a mancha rubra formava uma cruz,que foi interpretada como presságio lúgrube. O pai da menina desfez-se do móvel, doando-o a um asilo de velhos. A menina cresceu e casou-se com um nobre italiano Papavincini, cujo brasão encerrava uma cruz cor de sangue, e foram muito felizes.É a primeira vez que uma história dessas acaba em casamento e felicidade.

CASO DE BALEIAS A baleia telegrafou ao superintendente da pesca queixando-se de estava sendo caçada demais, e a continuar assim sua espécie desapareceria com prejuízo geral do meio ambiente e dos usuários. O superintendente, em ofício, respondeu à baleia que não podia fazer nada senão recomendar que de duas baleias, uma fosse poupada, e esta ganhasse número de registro para identificar-se. Em face dessa resolução, todas as baleias providenciaram registro, e o obtiveram pela maneira como se obtém essas coisas, à margem dos regulamentos. O mar ficou coalhado de números que rabeavam alegremente, e o esguicho dos cetáceos, formando verdadeiros festivais no alto oceano, dava idéia de imenso jardim explodindo em repuxos, dourados do sol, ou prateados de lua. Um inspetor da superintendência, intrigado com o fato de que ninguém mais conseguia caçar baleia, pôs-se a examinar os livros e verificou que havia infinidade de números repetidos. Cancelou-se o registro, e os funcionários responsáveis pela fraude, jogados ao mar, devorados pelas baleias, que passaram a ser caçadas indiscriminadamente.A recomendação internacional para suspender a caça por tempo indeterminado só alcançara duas baleias vivas escondidas e fantasiadas de rochedo no litoral do Espírito Santo.

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A HÓSPEDE IMPORTUNA O joão-de-barro já estava arrependido de acolher em casa a fêmea que lhe pedira agasalho em caráter de emergência. Ela se desentendera com o companheiro e este a convidara a retirar-se. Não tendo habilidades de construtor, recorreu à primeira casa de joão-de-barro que encontrou, e o dono foi generoso, abrigando-a. Sucede que o joão-de-barro era misógino, e construíra a habitação para seu uso exclusivo. A presença insólita perturbava seus hábitos. Já não sentia prazer voar e descansar, e sabe-se como os joões-de-barro são joviais. A fêmea insistia em estabelecer com ele o dueto de gritos musicais, e parecia inclinada a ir mais longe, para grande aborrecimento do solitário. Então ele decidiu pedir o auxílio de um colega a fim de se ver livre da importuna. O amigo estava justamente tomando as primeiras providências para fazer casa. “Antes de prosseguir, você vai me fazer obséquio, disse-lhe. Vamos até lá em casa e veja se conquista uma intrusa que não quer sair de lá.” O segundo joão-de-barro atendeu ao primeiro e, no interior da casa deste, cativou as graças da ave. Achou-se tão bem lá que não quis mais sair. Para que iria dar-se ao trabalho de construir casa, se já dispunha daquela, com amor a seu lado? Assim quedaram os três, e o dono solteirão, sem força para reagir, tornou-se serviçal do par, trazendo-lhe alimentos e prestando pequenos serviços. Ainda bem que construíra uma casa espaçosa – suspirava ele.

SALVAÇÃO DA ALMA

Briga de irmãos... Nós éramos cinco e brigávamos muito, recordou Augusto, olhos perdidos num ponto X, quase sorrindo. Isto não quer dizer que nos detestássemos. Pelo contrário. A gente gostava bastante uns dos outros e não podia viver na separação. Se um de nós ia para o colégio (era longe o colégio, a viagem se fazia a cavalo, dez léguas na estrada lamacenta, que o governo não conservava), os outros ficavam tristes uma semana. Depois esqueciam, mas a saudade do mano muitas vezes estragava o nosso banho no poço, irritava ainda mais o malogro da caça de passarinho: “Se Miguel estivesse aqui, garanto que você não deixava o tiziu fugir, gritava Édison. Você assustou ele falando alto... Miguel te quebrava a cara.” Miguel era o mais velho, e fora fazer o seu ginásio. Não se sabe bem porque a sua presença teria impedido a fuga do pássaro, nem ainda por que o tapa no rosto de Tito, com o tiziu já longínquo, teria remediado o acontecimento. Mas o fato é o que a figura de Miguel, evocada naquele instante, embalava nosso desapontamento e de certo modo participava dele, ajudando-nos a voltar para casa de mãos vazias e a enfrentar o risinho malévolo dos Guimarães: “O que é que vocês pegaram hoje?” “Nada.” Miguel era deste tamanho, impunha-se. Além disto, sabia palavras difíceis, inclusive xingamentos, que nos deixavam de boca aberta, ao explodirem na discussão.

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LINGUAGEM DO ÊXTASE Era uma lua tão pura que convidava à serenata, a menos que fosse a serenata que, de tão divina, chamasse a lua, Luar e serenata combinavam-se deliciosamente, mas de súbito Zeca Heliodoro depôs o violão na calçada e desfechou três tiros no ar. Zeca era pacífico e não bebera. Os companheiros ficaram atônicos, várias janelas se abriram assustadas, e a voz do Prefeito ressoou na noite: -Se querem me depor, estão muito enganados! Exercerei meu mandato até o término legal! E passando da palavra à ação, o prefeito descarregou seu revólver a esmo, pondo em fuga precipitada todos os seresteiros. Menos Zeca, imóvel na praça, inatingido pelos disparos e tentando explicar, não ao Prefeito, mas à sua filha Zulmira (invisível) que a música era insuficiente para exprimir seu êxtase diante da jovem e que, em certos momentos do coração, três tiros no ar valem por uma salva de amor.

EXCESSO DE COMPANHIA Os anjos cercavam Marilda, um de cada lado, porque Marilda ao nascer ganhou dois anjos da guarda. Em vez de ajudar, atrapalhou. Um anjo queria levar Marilda a festas, o outro à natureza. Brigavam entre si, e a moça não sabia qual deles obedecer. Queria agradar aos dois, e acabava se indispondo com ambos. Tocou-os de casa. Ficou roxinha, sem apoio espiritual mas também sem confusão. Os dois vieram procurá-la, arrependidos, pedindo desculpas. - Só aceito um de cada vez. Passa uns tempos comigo, depois mando embora, e o outro fica no lugar. Agora Marilda é o anjo da guarda dos seus anjos, um de cada vez.

COLEGUISMO

Dois assaltantes assaltaram-se mutuamente e foram separados por um terceiro assaltante, que exigiu deles o produto dos dois assaltos. Como era dois contra um, acabaram subjugando o terceiro e reclamaram não só a devolução do que lhe haviam cedido como ainda o que ele já trazia no bolso. Foram atendidos, mas continuou a pendência, pois o assaltante nº 1 queria de volta o que perdera e o que ganhara o nº 2 pretendia o mesmo, e o nº 3 tentou acalmá-los, ao mesmo tempo em que pleiteava a devolução do seu e mais 50% do que pertenciam a cada. Esclareceu que, desistindo do total, contribuía para a união e harmonia da classe. Os outros não se mostraram persuadidos e, à falta de tribunal especializado que dirimisse a fé. O senhor bem-vestido, de roupa escura, que se aproximou e ouviu a exposição do caso, abanou a cabeça lamentando: - Não posso decidir contra colegas. Também ou assaltante. E deu no pé, antes que os três lhe reclamassem o dele.

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OU ISTO OU AQUILO O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá para absorver a produção intensiva: - Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas. - Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite. - Numericamente sim, mas não têm capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga o leite for, em vez de jogar os garotos. Avaliação A avaliação é um ato diagnóstico contínuo que serve de subsídio para uma tomada de decisão na perspectiva da construção da trajetória do desenvolvimento do educando e apoio ao educador na práxis pedagógica. Nessa perspectiva, a avaliação funciona como instrumento que possibilita ao professor ressignificar a prática docente a partir dos resultados alcançados com os alunos, ou seja, o resultado é sempre o início do planejamento de intervenções posteriores. Sugerimos a utilização do instrumento avaliativo apresentado a seguir, para acompanhamento do desempenho dos seus alunos e replanejamento de suas ações.

AVALIANDO O TRABALHO COM CONTOS NO CICLO DE APRENDIZAGEM I e II

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1. 2. 3. 4. 5.

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AVALIANDO O TRABALHO COM CONTOS NO CICLO DE APRENDIZAGEM I e II

TÓPICOS DE REVISÃO Sim/ Não

O texto produzido corresponde ao tema proposto?

Foi produzido o suficiente para o desenvolvimento das idéias?

O texto apresenta clareza

Desen

volvim

ento

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equaç

ão ao

tema

O texto apresenta coesão?

O texto caracteriza-se como um conto? O texto apresenta: - Narrador/a?

- Título? - Autor/a? - Ambientação? - Personagens e suas características físicas e psicológicas? - Enredo? - Conflito (problema)? - Clímax? - Desfecho? - Seqüência cronológica?

Car

acterísticas

Do gê

ner

o

- Diálogos?

O texto foi escrito respeitando as linhas?

A letra empregada é legível? O texto é legível, ainda que com borrões e rasuras?

Estru

tura

estética

O texto apresenta margem dos dois lados da página?

De uma forma geral o aluno:

• Escreve convencionalmente as palavras ? • Apresenta separação silábica quando necessário? • Acentua adequadamente as palavras ? • Emprega a pontuação que facilita a leitura e compreensão do texto?

• Usa letras maiúsculas e minúsculas adequadamente?

Estru

tura

Lingü

ística

• Emprega o vocabulário de maneira adequada?

• Apresenta concordância nominal?

• Apresenta concordância verbal?

Page 27: Caderno de Apoio a Pratica Pedagogica Contos Classicos Mitologicos e Modernos

REFERÊNCIAS

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edição, 1994.

ANDRADE, Carlos Drummond .Contos Plausíveis, 3ª edição. Rio de Janeiro: Record,

1994.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil :Teoria, Análise, Didática.São Paulo:

Ática,1991.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática , São Paulo:

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GILLIG, Jean-Marie. O conto na psicopedagogia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

JOLIBERT, Josette .Formando Crianças Leitoras, Vol. I, Porto Alegre: Artes

Médicas, 1994.

JOLIBERT, Josette .Formando Crianças Produtoras de Textos, Vol. II, Porto Alegre:

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KLEIMAN, Ângela . Oficina de Leitura :Teoria e Prática.São Paulo: Pontes , São

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MUTH, K.D. El texto Narrativo : Estratégias para su comprension. Argentina: Aique,

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1986.

SALVADOR.PROJETO TECA (Treinamento Externo, Consultoria e

Acompanhamento), Módulos I e II. SMEC,CENAP,1996.

TEBEROSKY, Ana .Aprendendo a escrever.São Paulo: Ática, 1994.

SITES CONSULTADOS: http://www.graudez.com.br/ http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Contos_de_fadas