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Belo Horizonte abril 2011 fase Adriana Versiani Alexandre Fonseca Álvaro Andrade Garcia Amanda Bruno Ana Caetano Camilo Lara Carlos Augusto Novais Carlos Barroso Clô Paoliello Daniela Goulart diOli Dudude Herrmann Emília Mendes Fernando Constantino João Antônio Cunha Queiroz Luciana Tonelli Márcio Almeida Marco Sbicego Marco Scarassatti Marcus Vinicius de Faria Nísio Teixeira Roberto Vieira Sebastião Nunes

Dezfaces Fase 3

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Jornal de Literatura Contemporânea

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Page 1: Dezfaces Fase 3

Belo Horizonteabril2011

fase

Adriana VersianiAlexandre FonsecaÁlvaro Andrade GarciaAmanda BrunoAna CaetanoCamilo LaraCarlos Augusto NovaisCarlos BarrosoClô PaolielloDaniela GoulartdiOliDudude HerrmannEmília MendesFernando ConstantinoJoão Antônio Cunha QueirozLuciana TonelliMárcio AlmeidaMarco SbicegoMarco ScarassattiMarcus Vinicius de FariaNísio TeixeiraRoberto VieiraSebastião Nunes

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número da página

número do fascículo

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ente

nda

o editorial Novais | Carlos Augusto

expe

dien

te

hommage to cage à maneira de l. r. & f. m. & m.d.

se, acaso, você chegasse

no meu poema e encontrasse

aquela palavra que você gostou

será que tinha coragem

de trocar nosso silêncio

por ela que já lhe abandonou?

eu falo porque essa palavra

já mora no meu poema à beira

de um abismo e de um inferno em flor

de dia me cala a boca

de noite me beija rouca

e assim nós vamos morrendo de amor

?

quantos dados

são necessários lançar para

escrever o nome da poesia?

?

com quem jogar uma nova

partida e sempre esquecer a lição?

?

por que habitar páginas e

apagar os próprios rastros?

?

onde não empunhar o

demasiadamente poético

entre os humanos

demasiadamente humanos?

?

como bater palmas

com as mãos do silêncio?

?

quando a morte joga seu fim?

?

Belo Horizonte, abril de 2011

Editores Adriana Versiani, Camilo Lara, Carlos Augusto Novais.

Revisão Carlos Augusto Novais.

Capa Vaso. 2007. Roberto Vieira. Foto de Messias Mendes.

Flores horizontais

flores horizontaisflores da vidaflores brancas de papelda vida rubra de bordelflores da vidaafogadas nas janelas do luarcarbonizadas de remédiostapas pontapésescuras flores purasputas suicidas sentimentaisflores horizontaisque rezais

com Deus me deitocom Deus me levanto

Oswald de Andrade

Capa Dezfacinhas João Antônio Cunha Queiroz sobre Vaso de Roberto Vieira.

Projeto gráfico, capa, direção de arte e formatação Glória Campos e Clô Paoliello/ Mangá Ilustração e Design Gráfico.

Tiragem 1.000 exemplares

Impresso na Gráfica Editora Jornal do Comércio.

ContatosAdriana Versiani [email protected]

Camilo Lara [email protected]

Carlos Augusto Novais [email protected]

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Scarassatti | Marco

cage: no cages

John Cage foi, talvez, a grande máquina de subjetivação da Arte do século XX. Inspirada por Marcel Duchamp, sua mente criativa desenhou todos os possíveis e, os até então, impossíveis caminhos e fronteiras do fazer artístico. Uma tela de cinema em que as imagens sonoras por ele produzidas movimentam nossos olhos e ouvidos, como corpos a percorrer tudo aquilo que se cogitou em termos de arte, durante o século passado. Permanece, após 1992, a ressonância sísmica, etérea e inter-semiótica de sua obra.

Para definir o que fazia, sempre preferiu a designação experimental ao avant garde, menos bélica e marcial, palavra apta ao ato cujo re-sultado é desconhecido. Experiência indeterminada, esvazio da mente, impermanentemente envolvida no infinito das interpretações.

Escolhe o jogo. O livro das mutações. Lance de dados e moedas para (in)determinar os caminhos composicionais. Não se move em termos de acertos ou erros. Incorpora o desvio, o acaso e até, na escrita musical, as imperfeições do papel.

a harmonia. Então, Schoenberg disse que ele sempre encontraria um obstáculo, que seria tão difícil como se encontrasse um muro que não pudesse atravessar. Prontamente, Cage respondeu: “Neste caso, eu devotarei minha vida a bater minha cabeça contra este muro”.

Cage, além de um apaixonado degustador de cogumelos, atuou como compositor, poeta, pintor, intérprete, inventor do piano prepa-rado, performer, sempre atento e observante às forças estruturantes do discurso artístico, de modo a desestruturá-las. Quando Boulez, na década de 1950, chega ao cume do serialismo, com toda a determinação prévia do material composicional, ele in-troduz o acaso. Antes disso, em 1939, compôs Imaginary Landscape n.1, para toca-discos, piano, címbalos chineses, em que um fonógrafo se transforma em instrumento musi-cal. Utiliza-se do rádio em diversas peças musicais, um exemplo é a obra Imaginary Landscape n.2, de 1951, para 12 rádios e dois intérpretes que controlam os aparelhos, conforme a partitura aberta, alternando as estações e o volume. Faz uso das tecnologias correntes, subvertendo seu uso. Podemos apontar o mesmo para sua e s c r i t a poética, muito mais afeita ao ideograma do que à sintaxe linear. Frequentemente utilizava símbolos gráficos para indicação de pausa na leitura, silêncios, ruídos e outras sonoridades. Promoveu na Black Mountain College, uma universidade experimental para o ensino de artes, em 1951, o primeiro happening de que se tem notícia. Do mesmo modo fez uso do tape, do vídeotape, da eletrônica. Foi dessa forma que transitou na interdisciplinaridade, usou conceitos fronteiras e tecnologias como um barqueiro zen que, diante do vento e do mar, forças muito maiores do que a sua, aproveita-se delas pra manter-se no percurso. No seu caso, um percurso anárquico, imprevisível. Disse certa vez que a arte não tem objetivo material. Tem que ver com a mudança de mentes e de espíritos.

Por fim, relembro aqui uma história cageana que me aconteceu. Escolhi terminar assim, em alusão às conferências de John Cage. Numa delas, sobre o acaso, ele decidiu contar uma história por minuto. Se a história era curta, devia estendê-la; se era longa, devia falar rápido. Fez uma lista de todas as histórias que poderia lembrar e as enca-deou, conforme escreveu. Havia histórias das mais diversas, desde sua intoxicação com cogumelos, até as aulas com Schoenberg e outras passagens da vida lembradas. Segue o vivido por mim.

As operações de acaso propostas por Cage não são, como se pode pensar, um ato de negação, antiartístico. Como Duchamp, o compositor (que não deixa de compor) acredita na sobrevivência da arte. O que ele pretende é uma disciplina do ego, para que o artista, ao invés de impor autoritariamente o seu próprio eu, aceite a contribuição do que está fora dele e até daquilo de que ele não gosta, e, assim, libertado das preferências pessoais, possa se abrir a novas experiências. Se parece inviável imitá-lo, não há, por outro lado, como eludir a anedota exemplar, a pergunta sem resposta em que se configura a arte-em-ação de Cage e o questiona-mento ético e estético que ele propõe. 1

O que mais me chama a atenção em suas composições musicais é que toda a pulsão guerrilheira anárquica de Cage se manifesta sutilmente, uma quase não ação. É evidente que não se podia esperar os clímaxes emocionais de Beethoven, o que, segundo Cage, é até simples para um americano abrir mão, diferente da ordem redentora do Bach que, para o compositor, liga-se à cultura americana expressa no trabalho diário das nove às cinco e nas máqui-nas que as rodeiam e que, quando são ligadas na tomada, se Deus quiser, funcionam. Aliás, Cage equivale o jazz ao Bach ponderando que o jazz é mais sedutor e menos moralista. Populariza os prazeres e as dores da vida física (...) desistir de Bach, do jazz e da ordem, é difícil. Sua música abre mão da ordem, soa um enigma, por vezes complexo, outras complexamente simples. Considerando o que ele diz sobre a música como sendo os sons

de dentro e de fora da sala de concerto, realmente sua música é inconcebível à parte da vida, compõe-se no todo perceptível. Por isso muitas vezes penso que sua grande obra é a sua perfor-mance em vida.

Sua trajetória esculpe o si-lêncio, indeterminadamente. Foram esses dois assuntos os que considero mais prementes

em toda a sua produção. Si-lêncio e a indeterminância, o acaso. Sua peça 4’33’’ (1952) está talvez para a

Música assim como a Fonte, de Marcel Duchamp, está para as Artes Visuais, um marco concei-tual. O intérprete fica o tempo da peça em silêncio enquanto o pú-blico, sem perceber, a compõe na sua impaciência. Cage escreveu e refletiu acerca do silêncio no livro de 1961, Silence. Esse livro

Após algumas tentativas de sincronizar as agendas, conse-guimos marcar uma apresenta-ção do trio Sŏnax no Ibrasotope, em São Paulo, um recente e tão comentado espaço para divulga-

ção da música experimental, avant-garde, eletroa-

cústica, improvisada, ou, se preferirem, a música, sem outros

adjetivos restritivos, simplesmente ela, ou como ultimamente tenho preferido cunhar, a arte dos sons.

Era muito animador ver a força e dedicação que a progra-mação do Ibrasotope transmitia, ainda com certo charme da musa-encantadora Úrsula, que assinava os emails convidando aos concertos.

inaugura uma série de outros escritos, livros-mosaicos, entre eles, Palavras Vazias, de 1979 e De segunda a um ano, de 1967, publicado no Brasil em 1985. Guardava esse livro com o afinco da personagem de Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, até emprestá-lo a um antigo professor meu de harmonia. Ele o perdeu, sabe-se lá como. A ironia é que John Cage foi aluno de Schoenberg e este o advertiu que, para escrever música, ele deveria ter sensibilidade para a harmonia. Explicou-lhe, porém, que não tinha sensibilidade para

Cage preconiza a supressão de quaisquer cages (jaulas, gaiolas), por entender que as estruturas feitas pelo homem (inclusive as estruturas em outros campos que não os da linguagem: o governo em seus aspectos não-utilitários e os zoológicos, por exemplo) devem desaparecer se se pretende que os seres para os quais elas foram criadas — quer se trate de pessoas, animais, plantas, sons ou palavras — hão de continuar a respirar e existir sobre a terra. [Augusto de Campos]

música experiência (2)

1 CAMPOS, Augusto. Música de invenção. São Paulo: Perspectiva, 1998. p. 143.

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Havíamos lançado o cd do trio em Portugal. Na verdade, o cd fora lançado lá, em maio de 2009, pela Creative Sources Records, e nós ficamos aqui, ansiosos por fazer um lança- mento à al-tura do desembol-so feito. Após umas conversas e um café inesperado perto da Avenida Paulista com o Henrique, um dos idealizadores do espaço, fechamos a data e os detalhes. Faríamos uma espécie de intervenção no espaço da casa com minhas esculturas sonoras, a serem tocadas por mim, pelo Marcelo Bomfim e pelo Nelson Pinton, o trio Sŏnax. S e r i a o n o s s o d e b u t e com o cd nas mãos, que vinha de uma ótima recepção pelos blogs especializados portugueses e pela revista Jazz.pt, com rese-nhas animadoras e zelosas.

Enfim, o dia chegou e começamos já com uma baixa, o Nelson não pode-ria participar em virtude de uma virose. Seguimos eu e o Marcelo para São Paulo decididos a fazer uma apresen-tação acústica. A aventura da chegada ainda passou por um equívoco meu em relação ao endereço, o que me fez chegar ao

externos do recinto, seguiu-se um concerto de música eletro-acústica, bem heterogênea na qualidade e estilo, o que não é mal, ao contrário, é o que deu um caráter coletivo e anárquico para a programa- ç ã o , u m a sacudida na bem com-portada cena acadêmica da eletroacústica e mesmo da velha música nova.

Voltamos, após esse concer-to, para a finalização do intento, improvisamos um pouco mais e, como o clima coletivo sugeria, distribuímos as baquetas, arcos e instrumentos para que todos tocassem, para que a comu-nicação fosse não verbal e os devires viessem à tona. Foi o que aconteceu, sem separação entre improvisador e público, tampouco entre casa e sala de concerto, ou mesmo esculturas e a arquitetura. O Henrique e

o Mário distribuíram pelas esculturas e objetos sono-ros os bichinhos de pelú-cia, todos da família da

Úrsula, que na verdade era uma ursa cor de rosa e que,

entre outras coisas, assinava os emails. Uma genial intervenção na intervenção.

Fomos assim até o fim, até que gentilmente me pediram pra dar conta de elucidar aonde co-meçava o fim, senão ficaríamos ali como anjos exterminadores incapazes de sair.

centro velho de São Paulo, com o trânsito parado, permitindo devaneios acerca da arquite-tura neo-clássica e a música experimental difundida pelos jovens compositores Henrique Iwao e Mário Del Nunzio, idea-lizadores do Ibrasotope. Desfeito o erro após um telefonema, fui endereçado ao local certo. Cheguei e me vi diante da casa. Fui recebido pelo Henrique e pelo Mário que preparavam o sistema de som para aquela noite. Iniciamos a montagem das esculturas sonoras, entre conversas sobre o público fiel da casa, os participantes e a possível venda dos cds.

Distribuímos pela casa as es-culturas conforme o combinado e nos foi oferecida a cortesia, um copo de whisky. Daí para o horário do concerto, as conver-sas se seguiram. A casa, mistura de república de artistas com

laboratório de relações entre obras e público, foi dando mostras de seus fluxos, hábitos

e moradores, que aos poucos se misturaram às

pessoas frequentadoras. Inte-ressante, a casa passou a ser um ente habitado.

Um detalhe igualmente inte-ressante foi a chegada de outro

Lara | Camilo

nesta aldeia com seus outros

o rio que corta se chama pedra

quem olha não vê

além do espelho de narciso

as flores de Baudelaire

o circuladô de Haroldo

da casa de Beatles

ao leme de Rimbaud

há dança sob os olhos dos faróis:

a rosa da rosa da história

ainda ontem,

os monstros marinhos do atlântico.

compositor-idealiza-dor desse projeto, o incansável Valério Fiel da Costa, com sua obra mais recente, uma canja de galinha para ser vendida no intervalo, junto com as doses de pinga e o já conhecido whisky.

Depois de uma interven-ção sonora com as esculturas e instrumentos nos espaços

eu te ganhei juventude em busca da poesia

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Tonelli | Luciana déjà vu na galeria do rock

o arquetípico topete de Morrissey

na vitrine da Baratos & Afins

teve sabor de biscoitinho mágico

resolvi entrar

comprar um pouco de passado

quem sabe até provar alguns futuros

já em oferta

como aquele na vitrine de vidrilhos:

futuro com sabor de madeleine

para a minha bisavó

quem sabe não compro um espartilho?

de trem para guaianases

O trem de Guaianases vai pesadoleva para casa parte do exércitoque gira a roda da grande cidade

São atendentes, são assistentessão “colaboradores”– prodígio de eufemismo mais elegante!

São CLTs, antiga promessa de futurohoje coisa do passado

São CNPJs de um homem só, a realidade“a nova tendência do mercado”

Todos entes de carne e ossoembora nem sempre como tal sejam tratadostodos lutam para chegar a algum lugarprivado

São homens e mulheres sábiossabem das distâncias sabem dos trajetos sabem dos motivossabem dos desvios dos extraviosmas não são sabidos por quem deveria sabê-los

Homens dos palácios de vidrofaçam uma viagem para Guaianasesna hora do rush

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Bruno | Amanda

são cascos correndo no asfalto

são dois garotos correndo dos cascos

é uma maleta no chão

garotos encurralados

imobilizados

é um imbecil-social chutando a cara deles

curiosos discutindo a situação

é uma comerciante aplaudindo os cascos

é a empregada dela querendo dar água

para os garotos

e a idiota proibindo

é o carteiro que xinga o freguês do bar

que apoia o agressor

isto não é um poema

aconteceu na Savassi

em maio de 2010

às cinco

da tarde

de Faria | Marcus Vinícius

una colomba

D’altri diluvi una colomba ascoltoGiuseppe Ungaretti

uma pomba

De outros dilúvios uma pomba escuto

praia da estação

De outras lutas os ecos escuto.

tradução e transcriação

Fonseca | Alexandrefotografia

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12 settembre 1966 12 de setembro de 1966Bruno | Amanda

Sbicego | Marcotradução

transcriação

setembro no parque municipal

Sei comparsa al portone

In un vestito rosso

Per dirmi che sei fuoco

Che consuma e riaccende.

Una spina mi ha punto

Delle tue rose rosse

Perché succhiassi al dito,

Come già tuo, il mio sangue.

Percorremmo la strada

Che lacera il rigoglio

Della selvaggia altura,

Ma già da molto tempo

Sapevo che soffrendo con temeraria fede,

L’età per vincere non conta.

Era di lunedì,

per stringerci le mani

E parlare felici

Non si trovò rifugio

Che in un giardino triste

Della città convulsa.Giuseppe Ungaretti

Apareceste no portão

em um vestido rubro

para dizer-me que és fogo

que consome e reacende.

Um espinho me picou

das suas rosas rubras

para que chupasse no dedo,

como já teu, o meu sangue.

Percorremos a estrada

que corta a exuberância

da selvagem colina,

mas já há muito tempo

sabia que sofrendo com temerária fé,

a idade a ser vencida não conta.

Era uma segunda,

para dar-nos as mãos

e conversar felizes

não achamos refúgio

que em um jardim triste

da cidade convulsa.Tradução

Viestes na Afonso Pena

num vestido vermelho

para dizer-me que és fogo

que incinera e reatiça.

Um espinho picou-me

de tuas rosas vermelhas

e do dedo o meu sangue,

como já teu, chupastes.

Percorremos a trilha

que corta a natureza

exuberante e aparada,

porém, já há muito tempo

sabia que a fé audaciosa e o sofrimento

fazem da idade quesito irrelevante.

Era segunda-feira,

para nos dar as mãos

e conversar felizes

não havia outro refúgio

senão o tristonho parque

do poluído hipercentro.Transcriação

Fonseca | Alexandrefotografias

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Andrade Garcia | Álvaro eu

não trouxe caneta só o caderno satiagraha buda dionísio sem termo ermo dionísio satia comendo tudo sem parar comendo a mulher comendo a fruta comendo o mundo com meus olhos com meus sênsaros comendo sem parar o mundo sem parar

tudo mudou depois daquele beijo Almeida | Márcio

A descoberta de Michelan-gelo Antonioni não se deu com Blow-up (Londres, 1966, 111’), mas Blow-up mudou toda a minha concepção estética. Na-quela década, sob as agruras da ditadura militar, Blow-up seria o boom da minha heurística do mundo. Em um mesmo fil-me reuniam-se a arte de raro bom gosto sobre a incomuni-cabilidade de Antonioni, minha paixão cinematográfica desde a trilogia “A noite”, “A aventura” e “O eclipse”, vistos no Cine Municipal em Oliveira, bem no início dos anos 60; a maestria do realismo fantástico de Júlio Cortázar, meu autor predileto em Literatura, sobretudo por “O Jogo da amarelinha”, e Herbie Hancock e sua trilha sonora de jazz, minha música preferencial desde muito jovem, à qual ouço diariamente e estudo desde também os anos 60.

Na primeira das 10 vezes que vi Blow-up no cinema (hoje tenho cópia original em DVD), senti que me colocava ante uma obra-prima que mudaria conceitos e meus modus vivendi e modus operandi. O filme levou-me a me interessar por questões que ainda hoje me são importantes. A angústia existencial identificada antes ou concomitan-temente em “A peste”, de Camus, “A náusea”, de Sartre e na poesia de Cioran, por exemplo, vinha à tona na filmografia antonioniana em que relacionamentos sempre mal sucedidos, tédio, incertezas, justo entre pessoas ligadas por alguma forma de amor, expunham em imagens o que as palavras não conseguiam dizer mais.

O questionamento de Antonioni não é restrito a uma mensagem, a uma opção ideológica, à indicação de uma solução moral que não existe, mas a uma escola do VLER, de sinestesia, de semiótica visual o que me levou rapidinho a Roland Barthes, de silêncio que grita em fotogramas que põem o espectador frente a si mesmo e o provoca: tudo na vida é aporia. Mesmo o que comove com arte. Mexa-se. É essa a sensação que me passam os merrymakers do início e do fim do filme, cuja simbologia mímica quer falar o que a imagem é por si.

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dezfacin

has

Belo Horizonteabril2011

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Diante da descoberta bri-lhante de um suposto crime pelo fotógrafo Thomas (David Hemmings, soberbo) num parque londrino, a trama é em cada quadro um toque de mestres (Antonioni, Cortázar, Hancock + a appearance de Jeff Beck e Jimmy Page com os Yardbirds, além de todo o talento de Va-nessa Redgrave e de uma perfor-mance de top-model indelével da quase-só-osso Veruska). Tudo me levou a um encantamento patético: “Algumas vezes, a realidade é a mais estranha de todas as fantasias”, diz o teaser do narrador do fi lme.

Antonioni é genial por con-seguir escrever com imagens — fílmicas e fotográfi cas — o que em si já era muito difícil escrever com palavras. Em en-trevista a Evelyn Picón, em 1978, Cortázar diria:

En Las babas del diabo un primer problema del escri-tor que quisere contar algo muy difícil de contar, una experiência vertiginosa, y se da cuenta que los recursos lingüísticos que él tiene a sua alcance pueden traicionario y pueden no servile y enton-ces duda mucho.

O fotógrafo (no conto e no fi lme) reúne em sua façanha non sense – comunicar a alguém a veracidade de ter acidental-mente fotografado um crime na Swinging London dos anos 60, onde todos são “invólucros de nada” (J. Artur Izzo), cujo cadáver desaparece sem que ninguém o tenha visto e o iden-tifi cado – remete ao que Walter Benjamin chamou de “imagem da alteridade” (a necessidade de olhar o outro de forma legítima) e ao “fl uxo melancólico” (a perda de sentido de um ser humano morto por pressuposto idílio e por pressuposto desejo de vencer o tédio e a angústia existencial com trabalho diferenciado da rotina profi ssional) de quem não consegue contar um fato porque o que existe naquele momento é o que não existe, é a alienação, o êxtase lisérgico, a inutilidade do consumismo (como na cena em que uma guitarra Gibson é estra-çalhada por Jeff Beck e jogada como totem à galera histérica na cave de Londres).

Conto e fi lme são revolucio-nários porque encerram para o leitor/espectador uma evidência que pode ser apenas imaginária: não houve crime algum. An-tonioni e Cortázar manipulam

a realidade para dar sentido a uma busca de concretude em meio à sociedade fragmentária, vítima de suas próprias aparên-cias. Constatações como estas levaram-me à metalinguagem, e à intertextualidade, a entender o real como simulacro, a pensar veloz sobre a fi nitude, a ques-tionar valores estabelecidos e a conveniência das mudanças, a entender sem banzo meu limite existencial, o antidiscurso da pós-modernidade, cuja outra referência autoral seria Blade Runner, porque “tudo o que resta são redes fl exíveis de jogos de linguagem” (J.F. Lyotard).

Blow-up desova no que faço uma tradição de futuro em cada leitura de relação de produção multimídia. Tudo que projetou há cinquenta anos – anomia, alienação, desenraizamento, a certeza de o incomunicável manter o “apocalipse para sem-pre” (Martin Jay), a cidade como uma tela gigante (Ian Chambers), a didEYEtica, a necessidade inventiva de novas linguagens, os nervos de aço e sílica da tec-nocracia, o relativismo questio-nável das (meta)narrativas, tudo passa por aquela experiência de busca de respostas. Blow-up é a revelação.

Alécio Cunha

Carlos Augusto Novais

Fernando Constantino

João Antônio Cunha Queiroz

Nísio Teixeira

nessa Redgrave e de uma perfor-mance de top-model indelével da quase-só-osso Veruska). Tudo me levou a um encantamento patético: “Algumas vezes, a realidade é a mais estranha de todas as fantasias”, diz o teaserdo narrador do fi lme.

Antonioni é genial por con-seguir escrever com imagens — fílmicas e fotográfi cas — o que em si já era muito difícil escrever com palavras. Em en-trevista a Evelyn Picón, em 1978, Cortázar diria:

En Las babas del diabo un primer problema del escri-tor que quisere contar algo muy difícil de contar, una experiência vertiginosa, y se da cuenta que los recursos lingüísticos que él tiene a sua alcance pueden traicionario

60, onde todos são “invólucros de nada” (J. Artur Izzo), cujo cadáver desaparece sem que ninguém o tenha visto e o iden-tifi cado – remete ao que Walter Benjamin chamou de “imagem da alteridade” (a necessidade de olhar o outro de forma legítima) e ao “fl uxo melancólico” (a perda de sentido de um ser humano morto por pressuposto idílio e por pressuposto desejo de vencer o tédio e a angústia existencial com trabalho diferenciado da rotina profi ssional) de quem não consegue contar um fato porque o que existe naquele momento é o que não existe, é a alienação, o êxtase lisérgico, a inutilidade do consumismo (como na cena em que uma guitarra Gibson é estra-çalhada por Jeff Beck e jogada como totem à galera histérica

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traços de uma inesquecível tertúlia

palavras são riscos

grafite pintada em tons tristes

então olhas o outro

revolução dos pincéis

as cores mudam

desnudam o sentido

exato dos astros

tua boca sorri

(de Lírica Caduca, 1999)

Nísio Teixeira Alécio Cunha

Na tarde do dia 27 de novembro de 2010, alguns amigos e colegas do poeta e jornalista Alécio Cunha atenderam à convocação para um encontro no bar do Nonô, bairro Carmo, para minimizar um pouco da saudade deixada pela lamentável e precoce partida de Alécio, aos 40 anos, no ano anterior. Foi uma tarde ensolarada e animada, regada a cerveja, pinga, poesia e muita prosa, incluindo música, cinema e literatura - bem ao estilo aleciano. Vez por outra, a cada nome de ator não lembrado do papo cinematográfico, trecho de poema recitado ou estilo musical mencionado, um brinde era feito – não necessaria-mente pelo grupo inteiro, mas por aqueles dois ou três que discutiam na mesa assun-tos pulverizados por conversas de toda sorte. Flagrei ainda alguns brindes solitários, sussurrados entre o copo e a garrafa e um olhar lançado para cima. Enquanto os dois primeiros eram mais festivos, este era mais silencioso, comovente.

A t u r m a estava devida-mente capita-neada por Márcia Queiroz e iluminada pela lúdica presença do filho João. Além de Coca-Cola e petiscos, João solicita ao garçom parte do bloco de pedidos e, de posse de uma caneta vermelha, começa a produzir vários desenhos daqui e dali. Quando as pessoas se dão con-ta, percebem que são elas mesmas que têm suas fisionomias sendo incorporadas aos traços de João. O filho de Alécio e Marcinha simplesmente desandava a produzir caricaturas dos presentes sob a forma de animais e logo a produção artística unificou os assuntos da mesa – não só em função da qualidade dos desenhos, mas também devido à pergunta com a qual

João foi bombardeado várias vezes: por que tal pessoa fora associada a determinado animal? Jovino Machado, um sapo. Adriana Versiani, for-miga. Simone Neves, cobra. Ricardo Teixeira de Salles, tartaruga. Mário Alex, lagartixa e assim sucessivamente, incluindo alguns momentos curiosos, como transeuntes anônimos que passavam por ali, além de primeiros esboços. Aqui, o meu caso serve como exemplo intrigante: na primeira versão, a mim foi atribuído o desenho de um lobo, mas depois o veredicto gráfico do artista a mim foi um carneiro... com cara de lobo! (Ou seria um lobo em pele de carneiro?)

De uma forma ou de outra, ou melhor, seguindo várias formas e bichos, o resultado produzido por João tem um misto

de irreverência, sagacidade e observação. Não é à toa que, por exemplo, o desenho dos tran-

seuntes, estranhos ao autor, não têm, digamos, uma animalidade defini-

da, sendo mais monstruosos do que os amigos da mesa, que

com muito afeto e humor eram associados aos seus

respectivos bichos. Entre gargalhadas

e piadas recíprocas dos presentes, cada um comentando e fazendo supo-sições das razões que o levaram a ser traçado e troçado como tal animal, eu

me lembrei de que a primeira música composta

– solo – por Noel Rosa, cujo centenário de nascimento (11 de de-

zembro de 2010) se aproximava daquela data do encontro, foi, precisamente Festa no

Céu, em que coloca a bicharada para fazer uma farra nas alturas. De lá, ou de onde for, certamente Alécio terá aprovado esta farra dos bichumanos na fantástica Terra de João, ainda mais se considerarmos, para a ocasião, os apropriadíssimos versos alecianos de Água Forte:

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João Antônio C. Queiroz

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Carlos Augusto Novais

charada molhadacom que águaa águase lava?

charada de primaverame fala baixinho:na estação das floreselas perdem os espinhos?

charada rápidaresponda num salto:quantas pernastem o pula-pula?

charada filosóficaveja a lógica:o ponto de vistausa óculos?

charada lentaa lesmano espelhoé a mesma?

charada de outonoquem morre primeiroas flores de plásticoou as flores do canteiro?

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Fernando Constantino

Até o próximo número!

Herrmann | Dududepoesia e dançadança e poesia

Uma combina com a outra? É pode ser...

Quando dançamos, o corpo desenha uma poesia no ar.

Um monte de hieróglifos, de riscos e de rabiscos.

Quando escrevemos alguma coisa livre no papel, aparece uma sensação, uma emoção, uma coisa, ou um nada não.

Algo.Com sentidos, dessentidos,

onde uma linha reta pode virar uma bola de futebol e o céu apa-recer no meio de minha boca.

Penso, pode ser poesia.Imaginação imagina cria coi-

sas, cria poesia, cria dança, cria mundo, faz viver o simples.

Eu comecei a dançar aos dez anos de idade, comecei a brincar, meu corpo aprendeu a pensar movendo para cima, para baixo, para o lado e o outro lado, para dentro, para fora e não parou mais, para pensar preciso dançar, para entender o mundo vejo o movimento.

minha fruta predileta

Existe um pé de jaca

No quintal da minha vó

A cara de Darticleia

É feia de dar dó

Meu avô foi marinheiro

E aprendeu a fazer nó

Mesmo sendo uma criança

Às vezes me sinto só

Leio na poesia um lugar de movimento.

O que é poesia?O que é dança?Imagem na ação.Como pode ser a palavra

que tece a poesia e transforma transbordando, transbrotando, rasgando, invadindo campos infinitamente poderosos.

Acho uma coisa maravilhosa ler Verlaine, Beaudelaire, Rim-baud, Rainer Maria Rilke, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Pagu, Fernando Pessoa, Olavo Bilac e tantos outros...

Cresci com Henriqueta Lis-boa, recitava a poesia ...”toc, toc toc pelas ruas do caminho vão batendo os tamanquinhos toc toc...”

Com

Cec

ília

Mei

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Dançando tenho uma sensação similar, pois construo estados de conexão onde o senso comum se dispersa e entro em um campo in-visível de frequência, o que me faz também entender desentendendo um pouco mais o que estou fazendo aqui.

Uso da poesia para dançar, talvez possa ser o abstrato, aquilo que não se consegue capturar.

O substantivo poético conecta ao movimento substantivado para chegar na substância do acontecimento.

O poeta e o dançarino têm uma coisa muito forte em comum, acho, o desapego.

Barroso | Carlos

o poema

é uma farsa;

faça-o com a

perfeição de

um falsário;

não ceda;

o poema

é sede que

não se arre-

mata;

boca que

canta o que

a garganta

escracha;

lágrima falsa

na imagem

da santa

chutada;

voz aquém

da arma.

O presente do instante faz com que dance, que escreva e aconteça naquele simples mo-mento já.

Quando leio uma poesia, não penso no antes ou no depois penso no agora, a sensação de frescor sempre me visita.

Revisito poesias e é incrível sempre tenho a sensação de primeira vez, descoberta. Nunca, é incrível, sinto a mesma coisa, sempre um pouco diferente, novas paisagens.

ESCARAVELHOBESOUROHIPOPOTÁMOQual a semelhança?Adoro as palavras e tenho

deferência por algumas, parece que elas tem um enorme acervo

de significâncias, mundo do dançar, mundo do poetar, mundo do inventar, infinito como o meu saber do universo.

Aonde terminam e começam as coisas, quando fico eu e minha pessoa, não sei exatamente onde ela acaba, transporto esta sensa-ção para a Dança, para a poesia, para a arte, para as pessoas.

Pensamento de mundo corpo e corpo mundo.

Existem fronteiras, mas construídas por nós, se olhamos com olhar redondo uma coisa entra na outra, ora escrevo, ora desenho, ora danço, ora cozinho, ora converso, ora varro, ora não faço absolutamente nada e de-pois vou dormir e acordar em um ritornello sem fim.

Viva, acordada para o que vem me visitar.Como posso escrever de dança e poesia?Como dançar isto que escrevo?Como?Talvez se atrevendo a deslocar de um pé para o outro e de uma

palavra para outra.Como você sente isto?Solto? Desconexo? Vazado?Que tal dançado?

janeiro 2011

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poesia da lantejoulaGoulart | Daniela

1 FLAUBERT. Cartas Exemplares, p. 45.

2 BENJAMIM. A Pequena História da Fotografia, p. 102.

Jamais consegui ver passar sob o lampião de gás uma dessas mulheres desgarradas, sob a chuva, sem que o coração batesse, tal como as batinas dos monges com seus cordões atados na cintura que me atingem a alma em não sei que cantos ascéticos e profundos. (Gustave Flaubert, Cartas Exemplares, p. 113)

Desde 2001 fotografo o centro de Belo Horizonte, a meu ver local de infinitas possibilidades e riscos, portador de um tipo de liberdade e improviso que não se vê com frequência nos cantos nobres da cidade. O tema da liberdade é o motivo de minhas fotografias, e o centro velho e sujo é onde encontro uma forma de resistência nos pedaços de parede, portas de motel, propagandas de açougue, arranjos de flores de plásticos, retratos de prostitutas, dançarinas de gafieira, travestis, pedaços do mundo que resumem a conivência entre ternura e violência.

Meu interesse é pela Poesia da Lantejoula, nome que Gustave Flaubert deu às incapacidades esplêndidas, existências furta-cores extremamente mutáveis ao olho, bem variadas como farrapos e borda-dos, ricos de sujeiras, rasgões e galões.1 O realismo de Flaubert busca a conciliação crua entre a arte e realidade, resume a humanidade que se absorve nos Outros, sem estilizações excessivas, a recusa do tema e a elevação do trivial.

A busca da verdade no ordinário faz parte da fotografia desde Eugène Atget, que desinfetou a atmosfera sufocante dos retratos ca-fonas e libertou o objeto da ressonância exótica, majestosa, retirando assim o seu invólucro. A partir daí a câmera fotográfica estava pronta para o espaço em que toda intimidade cede lugar à iluminação dos pormenores.2 Os assuntos do cotidiano se tornaram desafiadores, e os eventos, os contatos, as emoções tornaram-se mais importantes do que o resultado final, como nas obras de Pierre Verger, Diane Arbus, Claudia Andujar e Nan Goldin.

Ao longo de quatro anos me envolvi intensamente com a região da Rua Guaicurus, tentei fazer dessa convivência um meio de acessar as experiências reais. Minha intenção foi tornar visíveis as pessoas que eu conheci, e fazer isso junto com elas. Lembro-me com muita saudade dos nomes de guerra, dos cheiros adocicados, das festas, das combinações de roupas e, principalmente, da coragem de viver longe das regras. Na Poesia da Lantejoula eu encontro a possibilidade da troca baseada numa confiança mútua, que busca reencantar o mundo como experiência a ser vivida.

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Jack Kerouac nasceu Jean Louis Lebris de Kerouac em 12 de março de 1922, na pequena cidade de Lowell, Massachussetts. Aos 20 anos, conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia, graças a sua habilidade no futebol. Nessa universidade conheceria os poetas e escritores que determinariam o curso da sua vida artística. Se alguma obra literária ou poética pode ser descrita como um verdadeiro diário de viagem, esta foi a de Jack Kerouac. Antes de ir à universidade, ele passou 3 meses na marinha mercante e 6 meses na Inglaterra onde começou, solitariamente, sua carreira de escritor. De volta a New York, tornou-se frequentador assíduo dos bares de jazz que fervilhavam na época. A partir de 1943, formou, junto com Allen Ginsberg e William Burroughs, o núcleo do grupo que se tornaria conhecido como “geração beat” ao qual Lucien Carr e Neal Cassady juntariam-se em seguida. O termo “beat”, oriundo da gíria do jazz, foi pronunciado pela primeira vez por Herbert Hunckle, figura característica da Times Square, conhecido de Burroughs. “Beat”, em inglês, possui muitos significados: ritmo musical (da bateria do jazz), batida (como um golpe), “exausto” (beated), pulsação e beatitude. Quando o movimento eclodiu, jornalistas cunharam o termo beatnik, utilizando um sufixo retirado do satélite russo Sputnik. Entre 1947 e 1950, Jack viveu com Neal Cassidy na estrada, cruzando o país inúmeras vezes. Do seu diário de viagens surgiria, em 1951, o livro On the Road. O livro, datilografado em um rolo de 30 metros de papel de telex, retoma um tema central da literatura americana: a estrada, a tradicional viagem rumo ao oeste em busca de liberdade. Entretanto, o maior trunfo do livro é, sem dúvida, a experimentação literária. A escrita livre, com pontuação pouco ortodoxa e sem parágrafos no estilo chamado por Kerouac de “prosódia bop espontânea” tentava soar como um solo de sax de Charlie Parker. Mais tarde, seria também essa inspiração no jazz o método de criação de Mexico City Blues, poema épico composto de 242 “choruses” ou “stanzas” publicado em 1959 - seu primeiro livro de poesia. Além dessas duas obras que se tornaram peças cult do universo da literatura e da cultura pop, Kerouac publicou, entre outros: Visions of Cody, Doctor Sax, Lonesome Traveler, Maggie Cassidy, Tristessa, Visions of Gerard, Desolation Angels, Satori in Paris, Dharma Bums. A geração beat foi, nos anos do pós guerra, o berço da contra-cultura americana e o embrião do movimento hippie dos anos 60. Estranhamente, no final da vida, Jack se tornou amargo e conservador, passando os últimos anos de sua vida em companhia da mãe e isolado do mundo. Morreu em 1969.

Chorus 37Mad about the Boy - Tune - Fue - Going along with the dance Lester Young in eternity blowing his horn alone Alone - Nobody’s alone For more than a minute. Growl, low, tenorman, Work out your tune till the day Is break, smooth out the rough night, Wail, Break their Beatbutton bones On the Bank of Broad England Ah Patooty Teaward Time Of Proust & bearded Majesty In rooms of dun ago in long a lash alarum speakum mansions tennessee of gory william tree - (remember that little box of tacks?)

Jack Kerouac (Mexico City Blues, 1959)

Refrão 37

Louco pelo Garoto - Música – Mística Acompanhando a dança Lester Young na eternidade Soprando seu trompete solitárioSó – ninguém está sóPor mais de um minuto. Rugido, baixo, tenor, Termine a sua canção até o dia Raiar, delicado após a áspera noite, Grite, Quebre seus ossos reBatidos No banco da branca Inglaterra Ah Hora do Pastel com Chajasmim De Proust & de barbada Majestade Em salas de passados e pássaros tempos alaridum e açoite mansões tennessee de gore william daqui - (lembra aquela pequena caixa de pregos?)

Caetano | Anatexto e tradução

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cinema e poesia- notas para um debate

Teixeira | Nísio

Cerca de quinze anos mais tarde, Pasolini anunciou

o crescimento de uma tendência que denominou de cinema de poesia: produções que buscavam uma ampliação do espaço de expressão do artista na narrativa cinematográfica. No pensamento de Pasolini, reconhece-se a proposição de um possível equilíbrio tênue entre subjetividade e objetividade. A própria imagem seria dotada de uma dupla natureza entre o concreto e o onírico, duas faces indissociáveis. (p. 27, grifo da autora).

Por fim, ao examinar os filmes de Kieslowski, a autora percebe uma relativização das propostas anteriores e os vê como uma

realização contemporânea do cinema de poesia, desvinculado de um movimento de vanguarda ou de uma atitude contestatória estrita, incorporado ao inventário cinematográfico convencionalizado (p. 30).

Para Savernini entender um cinema de poesia implica em apreender os filmes

sem menosprezar o quê o cineasta tem a dizer e nem o como ele o diz. É interes-sante observar a forma como esses artistas buscam atingir o outro, ou seja, o público, o espectador para quem se dirige o filme (p. 210, grifos da autora).

Em todo caso, nota-se na argumentação da autora, também a referência a uma “sensibilidade poética” presente nesta interlocução com o público, ao invés de pensar a poesia simplesmente como um gênero narrativo associado ao cinema.

Assim, reiterado o aspecto da sensibilidade, o que se tem diante da relação entre cinema e poesia não é propriamente só uma interlo-cução de sensibilidades distintas fílmico-textuais (e de como também entram aqui as várias técnicas e suportes para sua construção, como cor, som, enquadramento etc.) ou dos resultados dessa relação junto ao público, mas, no conjunto, um potencial projeto de estética poé-tico-cinematográfica a ser discutido e desenvolvido.

Podemos pensar numa relação entre cinema e poesia a partir de uma espécie de relação combinatória entre os dois termos. Podemos pensar, por exemplo, em filmes sobre poesia, ou seja, filmes que tenham a poesia como tema e em seu enredo trazem algum personagem ou elemento relacionado à questão poética. É o caso de Sociedade dos poetas mortos (Dead poets society, 1989, dirigido por Peter Weir) ou Gregório de Mattos (idem, 2003, Ana Carolina).

Mas também podemos seguir adiante e também incluir aqui filmes que procuram criar, no processo cinematográfico, uma proposta poé-tica. E aqui se pode apontar duas direções: filmes que têm momentos poéticos e filmes que buscam pontuar-se o tempo todo pela poesia. No primeiro caso, de uma forma quase imediata e talvez irresponsá-vel, podemos associar a poesia à sensibilidade e assim teríamos uma miríade de cenas inesquecíveis, como a do menino Bruno sorrindo e comendo seu queijo quente com o pai numa trattoria em Ladrões de Bicicletas (Ladri di bicicletti, 1948, Vittorio de Sica) ou a sequência final de Blade Runner (idem, 1982, Ridley Scott) em que o andróide Roy faz o seu discurso para Rick Deckard.

Nesses dois exemplos, contudo, percebemos como isso está associado a uma narrativa clássica do cinema, que apregoa uma invisibilidade dos recursos de produção como roteiro e montagem, para propiciar ao espectador uma imersão total no filme. Mas não podemos nos esquecer de outras abordagens que procuram evidenciar e tornar mais visível essa relação, rompendo essa imersão – algumas das quais, aliás, conectadas a movimentos da vanguarda literária de seu tempo, como o surrealismo, o dadaísmo, entre outros.

Mas aí a discussão torna-se um pouco mais complexa por-que, afinal, teríamos que definir melhor o que seria uma lingua-gem poética no cinema para, com isso, também chegarmos ao segundo caso, um cinema de poesia. Complexidade que se revela, de antemão, portanto, dentro dos próprios conceitos, pois afinal são muito variáveis os tipos de cinema (pensemos aqui em Neo-realismo, Noir, Surrealismo, entre tantos outros) bem como, afinal, a poesia (par-nasiana, concreta etc).

Em seu livro Indicadores para um cinema de poesia (editora UFMG, 2004), Érika Savernini ajuda muito a pensar a relação entre os dois termos a partir da obra dos cineastas Pier Paolo Pasolini, Luis Buñuel e Krzysztof Kieslowski. Em conferência no México sobre o cinema como instrumento de poesia, em 1953, Buñuel

apontou seus objetivos com rela-ção ao cinema: que fosse capaz de transcender o mundo tangível e desvelar aos espectadores um universo até então desconhecido, encoberto pela percepção cotidia-na das coisas. Esse desvelamen-to acontece através da própria aparência realista e verossímil, característica da imagem cinema-tográfica (p. 25).

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Versiani | Adriana

Paoliello | Clô

nave mantra da série o que é da história está guardado

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Mendes | Emília o mundo do trabalho

Que não se iludam os românticos, os poetas ingênuos, os místicos e amantes sem maldade:Não choraminguem sobre o amor... claro, o amor custa caro! Exige trabalho permanente.Com dinheiro, tudo se resolve: o amor tudo pode, exceto contra a pobreza e a dor de dente, A conquista dá dispêndio, tanto intelectual, tanto física, quanto financeiramente.O casamento é um gasto demente; haja pegar no batente para sustentar a esposa e o delinquente.O povo sabe e não me deixa forjar esta verdade latente. E já dizia um poeta bamba: Você quer comprar o seu sossego/ Me vendo morrer num emprego/ Pra depois então gozar/ Esta vida é muito cômica/ Eu não sou Caixa Econômica/ Que tem juros a ganhar.

A rotina do trabalho é por si só uma aporrinhação, reunião atrás de reunião, atrás de reunião.Tem gente que não pensa como eu, ai que trabalhão. Democracia só é boa se é a minha opinião.Abismos de trabalho sem fim, vou dormir e não acaba, sonho com o trabalho, que pesadelo!É o progresso, é preciso trabalhar por ele, é o retrocesso, é preciso sair dele.E é com base no trabalho de Marcelo Dolabela que redigo:Tire o seu trabalho do meu trabalho, que eu quero passar com meu trabalho, Se hoje pra você eu sou trabalho, trabalho não machuca trabalho.Eu só errei quando juntei meu trabalho ao seu, cuide de seu trabalho, que eu cuido do meu.

A preguiça nos livra do tédio e do vício do trabalho. O ócio é salutar.Macunaíma, o rei da preguiça, Dorival, o rei da lentidão, são coisas a se pensar.Todo mundo tem direito à vadiagem, a umas horas sem produção!Este é o manifesto da preguiça como direito do cidadão.O trabalho compra lazer, cultura e entretenimento; quando sobra tempo.O lazer é um trabalho que faz esquecer o trabalho; a felicidade se compra, A felicidade se financia. O trabalho patrocina os sonhos e também a poesia.O Ministério da Saúde adverte, pois já não aguento este trabalho: Trabalhe com moderação.

No início e no fim, tudo é trabalho. É dessa grande verdade que aqui me valho.Deixa eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar.Para haver vida, é preciso laborar no sexo, ocupa-se nove meses, uma eternidade,Depois vem o trabalho do parto, o resguardo, a maternidade, tudo muito complexo.Não há perplexidade: do trabalho vieste e ao trabalho retornarás. Não há como se safar.Todavia, morrer não acaba com o trabalho, depois que você for embora, Ainda deixa o trabalho que a putrefação dá; nem os vermes se esquivam do laborar.Tudo no mundo é condenado ao trabalho. É sórdido, mas é a vida!

A tortura está na origem do trabalho. Labor & dor, eis o lugar comum da rotina.Os trabalhos e os dias e os dias de trabalho... e mais trabalho para pôr em dia.Sem dar vez à artimanha, o mundo do laborar parece um trabalho de SísifoSobe montanha de trabalho, desce montanha de trabalho, Sobe montanha de trabalho, Desce montanha de trabalho, sobe, desce, sobe, desce, sobe desce, sobe...O trabalho é uma droga, o trabalho vicia, o trabalho mata, o trabalho demencia. Quem só encontra prazer no trabalho, decerto tem alguma doença que vivencia.O trabalho danifica o homem, mas quem sou eu para discutir psicologia?

Tudo gira em torno do trabalho, que gera, como consequência, o dinheiro. Quem trabalha é que tem razão, [pois tem cifrão] eu digo e não tenho medo de errar.Já a remuneração, é outro problema, do operário ao professor, não é preciso nem detalhar. Trabalho como um louco/ Mas ganho muito pouco/ Por isso eu vivo/ Sempre atrapalhado/ Fazendo faxina/ Comendo no china/ Tá faltando um zero no meu ordenado.Vivo sempre este dilema, preciso ter honorário, mas não quero tanto trabalho.O mundo é sempre dele, laboro feito um condenado, vou morrendo nesta armadilha. Se o trabalho fosse essa maravilha que se diz, os ricos teriam ficado com ele.

Este trabalho é baseado nos trabalhos de: Marcelo D2* Ataulfo Alves & Wilson Batista* Benedito Lacerda & Ary Barroso* Lane Kirkland* Mae West* Nássara e Orestes Barbosa* *[por ordem de aparecimento]

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Adriana VersianiAdriana Versiani dos Anjos. Nasceu em Ouro Preto–MG, 1963. Tem quatro livros de poemas publicados, dentre eles, A Física dos Beatles (2005), Conto dos dias (2007), o virtual Explicação do fato (2008. Germina literatura – Revista Virtual) e Livro de Papel (2009). Integrou o Grupo Dazibao, de Divinópolis/Belo Horizonte. Foi co-organizadora da Coleção Poesia Orbital e do jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato.

Alexandre FonsecaÉ artista plástico e trabalha na área da fotografia analógica de médio e grande formato. Explorando técnicas alternativas e convencionais busca construir discursos e atmosferas em seu trabalho. Se interessa pela fotografia como tradução, como transposição, mais do que como um mero registro.

Álvaro Andrade GarciaBelo Horizonte, 1961. É escritor e diretor de audiovisuais e de projetos multimídia. Tem publicados oito livros de poesia e dois de prosa. Escreveu crônicas e ensaios para imprensa. Criou e produziu videopoemas, videocrônicas, web documentários e portais na internet. Toda sua produção está disponível no site www.ciclope.art.br, dedicado à poiesis e à imaginação digital, no ar desde 2002.

Amanda BrunoConcluiu o ensino médio em uma escola ítalo-brasileira e atualmente estuda Letras na UFMG. Entre 2007 e 2010, publicou contos, crônicas, artigos e poemas na Revista Cultural Carpe Diem. Posta alguns escritos em seu blog, quando sobra tempo.

Ana CaetanoNasceu em Dores do Indaiá-MG, em 1960. Publicou Levianas (1984) e Babel (1994) com Levi Carneiro; e Quatorze (1997). Participou da coordenação dos projetos Temporada de Poesia, em 1994, e Poesia Orbital, em 1997; do CD Cacograma (2001); e foi co-editora da revista Fahrenheit 451.

Camilo LaraNasceu em Itaguara-MG. É professor e coordenador da Seção de Atividades Culturais do Cefet-MG. Tem dois livros de poemas publicados em co-autoria. Foi um dos organizadores da Coleção Poesia Orbital em 1997.

Carlos Augusto NovaisJoão Monlevade-MG, 1958. Poeta e professor de Literatura e Filosofia. Livros de poesia: A de Palavra, 1989; alvo. s. m., 1997; Antologia

Dezfaces, 2008. CD de poesia: Cacograma, 2001 (em parceria). Participações: Alegria Blues-Banda, 1979; Salto de Tigre, 1993. Co-editor: Mostra poética de BH, 1994-1996; Poesia Orbital, 1997 (coleção de livros de poesia), Inferno, 2000.

Carlos BarrosoCarlos Antonio Barroso Mourão, também conhecido como Carlão. Jornalista especializado em política, trabalhou na TV Bandeirantes-Minas (repórter e comentarista político), no Hoje em Dia, Diário da Tarde e Estado de Minas. Um dos fundadores da revista de poesia e artes Cemflores, publicou Poetrecos (Coleção Poesia Orbital, 1997) e Carimbalas (Edição Cemflores, 2008).

Clô PaolielloDesigner gráfico e ilustradora, é também leitora voraz. Desenha por linhas tortas, nem sempre acerta.

Daniela GoulartÉ artista plástica, Mestre em Artes Visuais pela UFMG e professora de fotografia na Escola Guignard.

diOliDavid W. Oliveira - diOli, tem 29 anos e pouca barba. Gosta de usar camisas de malha, se possível sem estampa. Quando anda na chuva, sorri. É co-editor do Barkaça (www.barkaca.com).

Dudude HerrmannNome de batismo Maria de Lourdes. Nasceu em Muriaé, na infância teve um enorme quintal para brincar e alimentar sua imaginação, fez muitos cozinhadinhos, e trepou em árvores de variados tamanhos. Na adolescência teve muitos amigos parecidos, adorava Mutantes, Ringo Star, John Lennon, Yoko Ono e muitos outros que ainda admira bastante, teve sua primeira experiência com comida macrobiótica. Aos doze começou a estudar seriamente dança, o que faz até hoje. Se tornou professora, coreógrafa, diretora de espetáculo em uma escola super bacana que não existe mais, o TransForma. Nos tempos de agora e isso já se faz desde os anos 80 trabalha com a linguagem da composição em tempo real, improvisação, performance, e ultimamente tem se transformado em escrevedora de algumas notas, composições, poesias. Sustratos devaneiantes de alguma coisa que quis dançar e migrou para o papel talvez para experimentar outro campo verdejante de criação.

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Nunes | Sebastião

Emília MendesTrabalho todo dia, de segunda a segunda, é uma agonia. Aula, orientação, congresso, pesquisa, reunião, aula, orientação, congresso, pesquisa, reunião... Oh god! Qualquer dia ainda faço uma rebelião!

Fernando ConstantinoTem 11 anos, é estudante da Escola Municipal Cruz e Souza em São Francisco do Sul e, nas horas vagas, ajuda sua mãe a fazer doce em compota.

João Antônio Cunha QueirozTenho 9 anos. Nasci em 2002, no dia 28 de janeiro, na Maternidade Otaviano Neves, em Belo Horizonte. Sou filho de Alécio Cunha e Márcia Queiroz. Torço para o Cruzeiro. Gosto muito de futebol, cinema e de ir ao shopping. Também gosto de comer, adoro hambúrguer. Sempre sonhei emsair do país. Gostaria de morar na Alemanha, mas minha mãe é dura. Se não conseguir, vou para São Paulo ou para o Rio de Janeiro. Eu gosto de Belo Horizonte, mas no Rio tem o Cristo Redentor e o Maracanã. Em São Paulo tem o time Palmeiras e vários museus. Também sempre quis morar em um condomínio fechado, mas por enquanto moro em um apartamento. Gosto de ler revistinhas e super-heróis, conversar sobre II Guerra, ver TV e desenhar. Quando crescer quero estudar fósseis.

Luciana TonelliPoeta e jornalista, atua na área de cultura e do Terceiro Setor. Fez parte da equipe de edição da revista de cultura Palavra. Trabalhos mais recentes realizados para o Ateliê Ciclope - Arte e Publicações em Meio Digital. Publicou Flagrantes do Poço, coleção Poesia Orbital (1997), da qual também participou como organizadora e Flagrantes do tempo (2011).

Márcio AlmeidaMestre em Literatura, professor universitário, jornalista e crítico de raridades. Publica com regularidade no Cronópios, Germina, Caos e Letras, SLMG, Iniciação Científica, Pensar, Gazeta de Minas (Oliveira), Agora (Divinópolis) e diversas revistas virtuais do exterior. Autor, entre outros, de Estranhos muito íntimos (bilíngue, Multifoco, Rio de Janeiro, final de 2010), A minificção do Brasil – em defesa dos frascos & dos comprimidos (crítica literária, Sociedade dos Escritores, São Paulo, final de 2010), entre muitos outros. [email protected]

Marco SbicegoÉ italiano, formado em Letras na Itália com especialização em Comunicação. Antes de se mudar para o Brasil em 2001, foi editor-chefe da revista cultural Caffè Trieste e redator das revistas Zeta e Fantacalcio. No Brasil, ensinou língua e literatura italiana e latina e escreveu sobre futebol para a mídia italiana; hoje trabalha como tradutor e redator freelancer.

Marco ScarassattiNasceu em Campinas-SP, 1971. Compositor e artista sonoro, professor de prática do ensino de música na FaE-UFMG. Autor do livro Walter Smetak: o Alquimista dos Sons, Ed. Perspectiva/Sesc, 2009.

Marcus Vinicius de FariaPublicou os livros de poemas Armadilha para hábil caçador pegar o bicho quanto antes, 1981. Desejo insano, 1987, e Outros tempos, 1997. Tem poemas e traduções publicados em diversos periódicos e antologias, dentre elas, Poesia jovem – anos 70 – Literatura Comentada.

Nísio TeixeiraProfessor de Jornalismo da Fafich/UFMG e jornalista. Atualmente colabora no site de cinema Filmes Polvo www.filmespolvo.com.br.

Roberto VieiraJuiz de Fora, 1939. Artista plástico e músico, fundou com os amigos Lótus Lobo, Nívea Bracher, Paulo Laender, Klara Kaiser e Eduardo Guimarães o Grupo Oficina onde realizou uma série de experiências minimalista-concretistas, despontando, na década de 1960, como artista inovador e experimentalista. Transita entre pintura, escultura e instalação. Presença regular nas artes plásticas brasileiras, participa de diversos salões, exposições individuais e coletivas internacionais, como: Image du Brésil na Bélgica (concepção e curadoria de Pietro Maria Bardi), a V Exposição de Artes Plásticas do Brasil no Japão, e a VII Bienal de São Paulo.

Sebastião NunesSebastunes Nião, Sebunes Nastião, Bastião Nu, Sabião Bestunes & outros mais (Bocaiúva/MG, 1938). Poeta, escritor, editor (Dubolso e Dubolsinho) e artista gráfico, não necessariamente nesta ordem. Algumas publicações: Antologia Mamaluca e Poesia Inédita (reunião, em 2 volumes, das poesias do período 1968/89), Somos todos assassinos (1980), História do Brasil — Estudos sobre guerrilha cultural e estética de provocaçam (1991), Sacanagem Pura (1996), Decálogo da classe média (1998).

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a roda da fortuna da série o que é da história está guardado