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DnUTOS HUUINOS E MuIo AUSIENTE Guido F,,S. Soar's* Qualquer vida é única e tnerece ser re,speitada, pouco intportando sua utilidade para o homent, e a.fìm de reconhecer aos outruts organisntos vivos este valor intrínseco, o homem deve guiar-se por um r:ódigo moral de aç:ão. PnnÂunuLo DA Canra Muttout oe Ntrunnzt, AssrunrÉre Gnntr ot ONU, 28/10/1982 r. TNTR}DUÇ4} Numa obra coletiva de doutrina, em que se pretende ma rcar o Cin- qüentenário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, não pode- dam faltar considerações sobre outro tema, güe, como os Direitos Huma- nos e a proteção das liberdades fundamentais da pessoa humana, tem me- recido, atualidade, um tratamento prioritário nas legislações internas dos Estados, bem como no Direito Internacional: o subsistema normativo de proteção ao meio ambiente, seja na sua vertente das legislações internas dos Estados, seja na sua formulação internacional. Numa primeira abordagem do tema da proteção ambiental, na ótica da proteção dos direitos humanos, de maneira quase que instintiva, a ten- tação tem sido reduzn a temática da necessidade de regular-se o meio >F Professor titular de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da USP.

Dh e meio ambiente

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DnUTOS HUUINOS E MuIo AUSIENTE

Guido F,,S. Soar's*

Qualquer vida é única e tnerece ser re,speitada, poucointportando sua utilidade para o homent, e a.fìm de reconhecer

aos outruts organisntos vivos este valor intrínseco, o homem deveguiar-se por um r:ódigo moral de aç:ão.

PnnÂunuLo DA Canra Muttout oe Ntrunnzt,AssrunrÉre Gnntr ot ONU, 28/10/1982

r. TNTR}DUÇ4}

Numa obra coletiva de doutrina, em que se pretende ma rcar o Cin-qüentenário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, não pode-dam faltar considerações sobre outro tema, güe, como os Direitos Huma-nos e a proteção das liberdades fundamentais da pessoa humana, tem me-recido, râ atualidade, um tratamento prioritário nas legislações internas dosEstados, bem como no Direito Internacional: o subsistema normativo deproteção ao meio ambiente, seja na sua vertente das legislações internasdos Estados, seja na sua formulação internacional.

Numa primeira abordagem do tema da proteção ambiental, na óticada proteção dos direitos humanos, de maneira quase que instintiva, a ten-tação tem sido reduzn a temática da necessidade de regular-se o meio

>F Professor titular de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da USP.

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,ltltìltit'nl(', L'()nt() unìll oll ill,lçl() intltosl;t l()fi listlrrlos, (lclct)t't'(ìltlc: rlos tlLÌvo*

Ics (l('l)t'()tcçlto lr vitllt ltuttuuìlr, or.r rrirrtllr,, tìutììl l)ct'sl)octivlr tÌìitis itl)r'opl'ilr-rllt, tlr: csl)ccil'ir:lrçiio tlc oulrt) vrÌlol'cprc rììct'occ LuÌìa pt-ol"oçãt) l)trrticulal': otlirt'ilo Ìr slttitlcr., (lr.rc Iurrlit rtu.ris sigrril'icaria c;Lro o clircito a LuniÌ vida sil.u-

tl:ivr'1, cviclonlcllrcntc, vicla c saúdc do ser hum:.Ìno.

l'r'clirn irìun'r'rcrrtc, clc rìossrÌ parte, acreditamos que qualquer reducict-ttisrtto tlos dircitos humiìnos a umíÌ úniciÌ reáÌlidade como o direito aì vidasr'.ilt crÌìl)l'olrt'ccedor de tcldcl um subsistema normativo que deve descreverutìì tutivct'so cornplexo como os direitos humanos, pois, a nosso ver, o di-rt'ilo Ìr viclu tcm o rìesmo grau de importância e ocupa a mesma hierarquia(lu(ì oulros valores como a dignidade do ser humano, que devem ser defi-rtitf trs rìr surì inteffezLr, compreendidos os valores culturais legados do pas-srtlo, l)r'cscrttes nos nossos diers e que devem ser preservados para as futu-t;rs 1Ìr:l'ltçõcs e, sobretudo, da proteção dos valores igualmente fundamen-lrris, ('orììo a liberdade, a igualdade e o acesso indiscriminado aos meca-rtisrìì()s clos sistemas de legítima proteção de tais valores. Por outro lado,l:rl rr:rlttciot-tismo traria, por conseqüência, uma inexplicável antinomia:

l)()r'(lurÌ llroteger-se, com mecanismos jurídicos poderosos de proteção am-lrir:rrtrrl., urì-ì hírbitat totalmente inóspito ao homem, como a Antârtica, ououllos (lr.rc lhe são diretamente prejudiciais, como os pântanos, charcos,nìltìgr.ros c outros ambientes onde vicejam insetos vetores de graves mo-Irislius, cotrÌo a malária, e que desde há séculos o homem tem tentado ex-lir'1xu', conl obras de saneamento e de modificação das suas característicasIutltn'rtis, ou arté mesmo com a sua completa erradicação!? Se ad arguruerl-Irtrttlttnt, o valor vida/saúde pode estar subjacente em tais normas de prote-ç'r'io rÌ determinados hábitats - em particular, pelas necessidades de prote-

çrÍo da diversidade biológica e seus reflexos em toda gama da vida exis-loltte no planeta, direta ou indiretamente referíveis ao ser humano -, acre-tlitamos que as normas de proteção ao meio ambiente, seja aquelas formu-lucllts no interior de um ordenamento jurídico interno dos Estados, seja as

originírrias nas suas relações internacionais, têm uma realidade tão rica e

I Qultnto à autonomia do direito à saúrcle, erì relação aos demais clireitos humanos, veja-se, errÌpltrticular, a clissertação de mestrado em Direito Internacional cla Bacharel Valéria Simões Liracl:t Fonseca, "O Direito Internacional face à Saúde e às Moléstias Transmissíveis", clefendiclacnr.iunho de 1990, na Faculdade de Direito da USP, orientada pelo profesor cloutor João(il'anclino Rodas. Vejarn-se, igualmente, as publicações que resultaram de um colóquio orga-Ir izado em I 9J 8,, pela Acadernia de Direito Internacional da Haia, Colloqu e l9J B, 21 -29 j uillet1978, Le Droit à la Santé en tant que Droit de I'Honune, Alphen aan den Rijn, Sijthoff &Noordhoff, 1919.

l)llil, ll'(ì,\' IIII^l,4No,\' l': ^ll,:lo

,4Allill,N I'1,;

l'tutrlrtìì(-)rtlitl cltuutto os vltlt)r'os l)r'ologitlos plclir l)ccliu'irçlo IJrrivcll'sirl tlos

I)ircitos I Iurtranos, r-ÌìiÌs quo a clos Irão se rccluzorìì; lruÍtÌ-sio clc cluus l'clrli

daclcs normativiìs, portanto dclis sLrbsistemas quc convivcrn nurìì:.r ltigica rlcr

implicação e interdependônciit, não esterndo excluídos evontuais cor-ìl'l ilosentre os respectivos objetivos, em determinados casos.

Na verdade, os Direitos Humanos e as normas de proteção iÌo ntcioambiente têm características comuns: das mais notírveis, destaca-sc o Í'ulo

de ambos os subsistemas normativos versarem sobre umÍÌ realidaclc (luo

ultrapassa fronteiras e de suas regras somente serem eficazes, niÌ me clicllem que tiverem uma formulação em nível internaciona12. A pessoa hulnl-hâ, de maneira bem mais evidente que o meio ambiente, é umiÌ enticlaclc:

que, onde quer que se encontre, se acha submetida à jurisdição de algulrr

E,stado, e em alguns casos,igualmente regida pelas normeÌs do Direito Irr-ternacional (a exemplo, naqueles espaços onde as leis nacionais inciclcrrr

por força do Direito Internacional, juntamente com as normas internacio-nais, tal o alto mar, e naqueles espaços onde as normas internacioneris sc

aplicam diretamente, como o espaço sideral dos astronautas); em quaisclLror'

das hipótese, contudo, na atualidade, existe um dever de as leis nacionaisestarem conforme padrões exigidos pela comunidade dos E,stados. Portnn-to, no século XX, a pessoa humana encontra-se internacionalizada, oLr

melhor, globalrzada3, pelo fato de as normas de sua proteção serem inter-nacionais e protegerem interesses universais, operação esta realizada peloDireito - e não poderia deixar de ser de outra forma, sob pena de desres-

peitar-se a profunda individualidade e os transcendentais valores que exis-tem em cada pessoa humana, em cada povo e em cada cultura.

O meio ambiente, no entanto, internacionalizou-se, e hoje é um temar

global, hâ atualidade, porém, por outro caminho: não foi o reconhecimen-to da transcendência dos valores de sua eminente dignidade, como se tem

feito em relação ao ser humano, pois evidentemente que animais, plantas,

hábitats, paisagens culturais e naturais não podem pretender possuir tais

2. Oúta maneira cle expressar tal realidade pode ser formulada como uma superação da esfera

do domínio reservaclo dos Estados, no que se refere às faculdades de editar normas jurídicasVeja-se, sobretudo, o artigo dos professores Alexandre Kiss e A. A. Cançado Trindade, "TWo

Major Challenges of Our Time: Human Rights and the Environment", em Boletint da Sot:ie-dade Bra,sileira de Direito Internar:ional, ano XLV jul./nov. 1992, n" 81/83,pp. 141-150.

3. Tais características podern ser comprovadas pelo título de duas obras de autores brasileiros,que considerarnos prirnorosas no assunto de direitos humanos: do professor Gerson de BritoMello Boson, Internar:ionalizaç:ão dos Direitos do Hontent, São Paulo, Sugestões LiteráriasS. 4., l9l2 e do cliplornata J. A. Lindgren Alves, Os Direitos Huntanos (ot'no Tenta Global,São Paulo, Perspectiva, 1994.

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o (;lN0lt1;1', ,l,N,,ltil(ì l),'l l)1"'(:l,4li,.t(,:,40 ltNll't, li,\"41. l)o,\' t)ttit,;lt'o,\, t)o tt()Ail,;^t

l)l avllti!l()s (ltì ll'lllittttt:lìlt), ctìì t'rìlltçlt() :t (lulristyucìt' oull'os lctì'pri vct'si1cl9s lr9l)it't'ilo; lìit vct'tllttlc, llclrt silttltlcs l'ulta clo l)ot'sonaliclado .jul'íclica clo tuiscltlitl:rtlos't., cotìstittri tutt;t uutôntica atlcrraçiÍo l'alal'-sc etìl ".ligniclaclo" cle

;ll;tltlils., ltllittrltis, pitisagctìs nuturttis otr construídas pelo hometn, bem coÍnotlt: hlillitlrls. lÌnc;ttiulto os clireitcls humiÌnos se configuram como smíÌ cons-t'iôncia clc vitltlt'es sitgritdcls, superiores, inalienírveis e de respeito exigívelllo 1ll'ti;lritl listacltl, por força de um reconhecimento internacional pela co-llìl.llriclaclo dtls Estados, foi antes a consciência da necessidade premente da

l)l'tìsol'vltçlttl ambienterl, motivada por agudas questões de desequilíbriosiltìlc)ltçltcltlres à vida - não só a humana, mas igualmente a dos demais se-lcs vlvos que cercam o mundo onde, do mesmo modo, o homem vive -,cfrì ttrclos os seus aspectos, que ztcabou por determinar a conscientizaçãotlcr collstituir o meio ambiente, um valor global, cuja preservação incumbell lotltls os E,stados, constituindo-se ele, assim, num valor universal.

Sc tls valores imanentes à dignidade do ser humano podem ser vis-Itllttbl'acltls em quaisquer sistemas jurídicos, de maneira explícita, com otfso clc cleclarações solenes inscritas nas leis maiores de natureza constitu-livir clos E,stados, ou de maneira implícita, partindo-se da constatação de(ll,to ittcxistiria um sistema jurídico que viesse a negar sua vocação de pro-lcçlitl da pessoa humana e que, por serem os sistemas jurídicos sistemas:tttlt)colltidos, deles sempre se poderiam extrair, pelo menos em teotra, osclil'citos fundamentais da pessoa humana. O fato é que a proteção do meioItttttliente, effi definitivo, não é um subsistema de valores que se possa in-f r:r'ir, de maneira abstrata, de qualquer sistema jurídico. Na verdade, semI'llÌlÍ.Ì deÍìnição legal, ou sem uma declaração de ordem normativa, as nor-lÌlas de proteção ambiental inexistiriâffi, como inexistiam, nos séculos an-toriores, seja nos ordenamentos internos dos Estados'5, seja no ordenamen-I o i nternacional.

4 As realiclades lnesrtas cle "hutnanidacle" e cle "cornuniclacle internacional", neste últirno casocolno uln conceito abstrato, ainda não têrn ulna personaliclacle juríclica no Direito Internacio-nal cla atualidade. Veja-se: de Georges Abi-Saab, "Humanité" et "Communauté Internationale"cf ans I'Evolution de la Doctrjne et de la Pratique clu Droit Internationale, em Huntanité et DroitIrtlernatirtnal, Mélanges René-Jean Dupuy, Paris Eclitions A. Peclone , lggl, pp. l-12 eClharalambos Apostolidis, "La Protection Juriclique cle I'Humanité", €ffi CharalambosApostolidis, Gérard Fntz e Jean-Claucle Fntz, organizaclores , L'Huntanité Fat:e à laMordiali.çatiort, Droit de,s Peuple,s et Envircnnernant, Paris, Montréal, Eclitions I'Harmattan eL Harmattan Inc. , 1997 , pp. 155- 186.

-5 Nos ordenatnentos internos dos Estados, em séculos anteriores, pocle-se constatar a existên-cia cle normas de proteção a alguns elementos isolaclos clo meio ambiente, em geral, com fi-

l,llil':ll'o,\' llll^1,|Níl,ï /i ^Uito

,4Aililt,:N I'ti

II /I IiMIIIIGIìNCIA D/,\ NOIÌMA,\' IN'I'IiIiNACIONAI,\ DIi I'I\O'I'I\ÇAO

ÁO M]iIO AMI]ILÌU'I'Ii, SIìU CONT'IiUDO Ii SUÁ IÌU'I']IUSIVIDADIi

A/OS DIREITOS IN']'EITNOS DOS IIS'|ÁDOS

O meio ambiente, em que pese a proí'usão inacreclitávol clo lcxtosnormativos, bilaterais e multilaterais er partir de 1960, teve utÌla tcntalivirde sua definição jurídica no Direito Internacional, apeniÌs áì partir clc 2l dcjunho de 1993, data em que os E,stados Partes do Conselho Europou c or.r-

tros da Europa adotarâffi, em Lugano, a Convenção Européia sc-rbrc lÌcs-ponsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades Prejudiciais a()

Meio Ambiente, motivada pela necessidade de regulamentíÌrem-se as rclir-

ções de Estados que, ro velho continente, se encontrerm ercobertados l)ot'um subsistema poderoso de unificaçáolharmonrzaçáo de normAs intcnìlse interestatais sobre proteção ao meio ambiente (a Comunidade Euntpóia)e outros Estados europeus6. Para os efeitos daquela convenção, que regulira responsabilidade civil dos Estados, segundo o regime da responsabilida-de por risco (responsabilidade objetiva)',, por danos ao meio ambiente, estr-:

pode ser conceituado a partir dos seguintes termos que constam na enumc-ração daquele diploma legal:

[Art. 2"] $ 10. "Meio Arnbiente" inclui:

- recursos naturais, seja abióticos seja bióticos, colÌìo o ar, a âgua, o solo, a Í'aunu

e a flora, e a interação entre tais fatores;

- propriedades que formam parte da herança cultural; e

- os aspectos característicos da paisagem.

nalidades econômicas irnediatistas e circunstanciais - tais a proteção de florestas, no séculcr

XVI e XVII na Península lbérica, para fins cle construções navais, e nos primeiros anos do

século XX, as aves ditas úteis à agricultura e os animais cuja pele constitui o rendoso negóciointernacional das peles de luxo. Veja-se rnais além.

6. Na verdade, a convenção de Lugano, ainda não vigente em nível internacional, foi, em gran-de parte, rnotivada pelo acidente com o lançamento, em novembro de 1986, nas águas do jápoluído Rio Reno, por uma fábrica da empresa Sandoz localizadaem território suíço, de subs-

tanciais quantidades de elementos químicos tóxicos, com grandes danos no território e nos

recursos hídricos dos demais Estados ribeirinhos deste rio: França, Alemanha e Países Baixos.7. Confortne estudamos em nosso trabalho Ás Re,spon,sabilidade,ï no Direito Internat:ional fut

Meio Antbiente, tese para Professor Titular em Direito Internacional Público, defendida efft

1995, na Faculdade de Direito da USP, o sistema da responsabilidade dita objetiva, se consti-tui num sistema excepcional no Direito Internacional, regulado por normas específicas e que

consiste eln canaltzar a lesponsabilidade, numa pessoa definida nas convenções, independen-temente de haver qualquer necessidade de prova de sua culpa, na eventualidade de ocorrên-cia de um dano, igualmente definido nos terrnos da norma.

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'l't ltllt sL:, l)()t'lltttlrl, tlc lnrìl tx)ssillilitlrrtlc: tlr: r'cnlizlu'-sc: utììrì colrcciItlttçtto ltutis ltlrl'ltltgerttlcl elo (luo ltrprclir l)rollicilrlrr llclus ciôlrciirs l'ísicas L)

lritlltilt it'lts, pttis, ltlóltt tlc colììl)r'octtclcr' os sor'os urrirnuctos c inlrnirnlcl1;s cll lltlc:l'ltçll() cltll'c os tììotitììos - ltsil)oclos c;uc sc lnclLlctn clcntro do conceit()ll'lrtlicitlrral clc "ocolttgiiÌ"-, ltbltrcu tantbóm Ltrì meio ambiente unicamentel't'l't.l'ívc,l lto scr hurÌÍ.Ìtlo, colrìo os bens integrantes do patrimônio natural e

cultul'rtl l'clonrbrandr)-se que "propriedade" e "herança" são conceitos dee x islôncia cxclusivÍì r'to universo da polítrca, da ética e do direito. Na ver-tlrttlc, u cr'Ìlct'gôncia do próprio conceito de "meio ambiente", em contras-It'/tttx)siição lì "ecologiA", esta r"ciência do hábitat"8, a qual se refere ape-f filfi il iutilnais e plantas, excluído o ser humano,, j6L revela tratar-se de umItssttltltt ospecífico, effi que a interveniência do homem passa a ser funda-rrrcnlul l)lÌt-iÌ iÌ determinação do objeto regulamentadoe.

Aspectos de suma importância, hâ atual definição de meio ambien-l(', rìtìr Itível de uma normatividade internacional , dtzem respeito a duasrrluirrrgôncias e uma intrusao:

it) it necessária interação entre os elementos componentes do meio;t ltt lr iclrte, f ator relevante que tem determinado a consciência da necessi-tlrrclc clo protegerem-se não apenas elementos isolados do meio ambiente -f r istol'iciìmente, as florestas para, fins de construções navais, nos séculosXVI c XVII, os rios transfronteiriços e lagos internacionais, nos finais dosóc:ulo XVIII, algumas espécies animais e vegetais, ilo correr da primeirantctacle do século XX -, mas inteiras espécies e todos os hábitatsl0, bemcolllo o reconhecimento dos fatores de interdependência entre todos ost:olllponentes do meio ambiente, nele incluídos os elementos naturais ina-Itimados - como as paisagens naturais, formações rochosas, montanhas,ctÌvernas, etc. - e o componente mais típico do hábitat do homem: o patri-rnônio cu_ltural;

lì. A felizexpressãoédePascalAcot, HistóriadaEr:ologia,Campus,RiodeJaneiro, 1990, p.2J,traclução de Carlota Gomes.

9. Ern nosso trabalho anteriormente mencionado, (Tese) apontamos as antinomias existentesentre "ecologia" e "lrÌeio ambiente", aquela, um conceito técnico cla Biologia, no qual ine-xiste a interferência do homem, "meio ambiente", conceito refericlo à atuação humana, por-tanto, próprio da política, da ética e do direito.

I 0 Constateln-se tais tendências, jâ a partir da denominação da Convenção de Ramsar, adotaclanesta cidade iraniana, €D l9l l: Convenção Relativa a Zonas Úmiclas cle Importância Inter-nacional, Particularmente como Hábitat das Aves Aquáticas, à qual o Brasil foi autorizaclo aaclerir (Decreto Legislativo n" 33 de 16/06/1992), clados os interesses que possni, na preser-vação do Parque do Pantanal Mato-grossense, no MT e MS, da Lagoa do Peixe no RS, cla

área de Mamirauá., no AM, da Ilha do Bananal, em GO e das Reentrâncias Maranhenses noMA, áreas essas que o País indicou serem cobertas pelas normas daquela convenção.

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ll) utìì closloc;uttcttlo rlos cl'cilos llroillitivos r'()tìtitlos tìltsi n()t'nìls trl

lcl'rtitc:ioltitis - iì intcit'it glìrìla clas t'cgnÌs inlonurciolrais rlo cotììlllrlr: l lorltrs

as Íorrìiìs <Je ltoluiçlto clc determinaclos mciosi arnbiontos., cotÌ'ì() ()s tììlrt.s r'oceitnos e cl alto-miÌr, a Antírrticit, o espiìço siclenrl, c t)s osl)irÇ()s llrrrsl'r'orr

teiriços entre Estardos, limítrofes ou nãr-r, e iÌspectos dc cxll'clno inlcl'-t'cllrcionamento, como o clima e a camada do ozônio quc envolvc u'l'cl'l'lr ,

para enfattzarem-se os deveres de cooperiÌção entre os llstackls - rìits sults

relações bilaterais ou multilaterais, estas, effi particular, no seio clo ot'gl-nizações internacionais ., com ênfase nos aspectos de atitudcs colrc:cl'lrr

das pata a proteção de determinados hábitats e pariÌ iÌ prevenção clc cliÌtìos

ambientais, bem como de imposição de deveres de arssistência, erÌl cuso rlr:

acidentes, com efeitos transfronteiriços.No que concerne à mencionada intrusão, â característiciÌ princillal tllrs

normas do Direito Internacional do Meio Ambiente diz respeito iÌ cluulclrrcl'

definição normativa ou qualquer dever imposto aos Estados que tôrn urìì:ì

realidade internacional, transfronteiriça e globalizante, dado o desaprìl'cci-

mento dos limites físicos - por efeito da poluição transfronteiriça e clc ou-

tros fenômenos que se prod:uzem por sobre os limites físico-políticos clos

Estados - ou jurídicos - definições das responsabilidades globais dos Iis-tados - entre meio ambiente doméstico dos Estados e o meio ambientc (lr.ro

a ele transcende, em outras palavraS, o dever de os Estados, isoladamctìlc,protegerem seus meios ambientes definidos por fronteiras reconhecidas pcloDireito Internacional, plenamente coincide com a responsabilidade de cs-

tes mesmos Estados velarem pelo meio ambiente transfronteiriço e global.No que respeita à definição mesma de fronteiras, elemento fundamen-

tal do Direito Internacional Público tradicional, tem ela sofrido o embatt:

da emergência de conceitos novos, forjados, a partir das necessidades dc

regulamentar a proteção internacional do meio ambiente, assim concebi-do como uma globalidade. O próprio conceito "internacional"rr tem sofri-do uma revisão: concebido para expressar fenômenos que se desenrolam

1 l. Ademais dos fenômenos a seguir descritos, outros conceitos têm emergido, em paralelo lr

"internacional" como: "transnacional" e "supranacional". Para uma visão atual do primeinl,veja-se do professor Marcel Merle, "Le Concept de Transnationalrté", em Humanité et DrcitInternational, Mélanges René-Jean Dupuy, Paris, Pédone,799l,pp. 223-231. Para o signiÍ-i-cado de "supranacional", vejam-se as inclicações em nosso artigo: "tlma Revisão em Pro-fundiclacle", em 1996, de: 'As Instituições clo Mercosul e as Soluções de Litígios no Seu Ârn-bito- Sugestões 'De Lege Ferenda"', effi Luiz Olavo Baptista, Aramintha de AzevecloMerdadante e Paulo Borba Casella (coordenadores), Mercosul, Das Negociaq:ões à Intpl,atrtaç:ão,2. ed., São Paulo, LTr, 1998 (no prelo).

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u ('tNQttl,Nil,^!.llilo l),1 l)1,(:l ,4li,l(,:,lo ltNll'/,/i,\".1 I l)o,\' l)llil'llo,\' l)o lloAll"Ãl

Iour tllrs lrolrlciurs f utÍ(llco ;rolÍl ir':ts tlos l',sllttlos, st:.jlt tìtìs I'r:lltç()(ìs ltillttc:-

uus, sr'.jl nlts lrrrrllil:rlcnìis, Íor rrorr sc clc irtstrlicicltlc l)lu'l cxl)t'csslÌt' l'cl:t-

ç()(ìs (llrc rlizr:rrr t'r)sl)c)ilo ir loclt) urìivcl-so, sc.j:.t dc tocllt'l'ot't';.t, s,J.ilt clo otttl'os

csl)llç()s csil)llç()s cslcs clcl'iniclos cotììo "si{.lot'a1", olrclo so encolttriurt ct't-

lr('fìltos llrnçlrclos llclo horì'rorì1, csl)cctl'os dc ondas l'terzianas, corpos celcs-

It:s t'rr.jl rrlilizaçiio .iír sc aclìiÌrìì regulartrctrtadas pelo Direito Internacional ;

"nrlrÌrrìacionul" [Írnto tcm siclcl denclminada urrìiÌ convenção bilateral, quanto

urìrir rrrtrltilatoral dc ârnbito regional (como o Tratado da Bacia do Prata),

r'()rììo irincla urÌìir multilateral de âmbito universal (como a Carta da ONU);('()rìlurlo,, l)ariÌ cleÍlnir-se um fenômeno que pode ser versado em nível re-

1',iorurl ou rr-rultilateral, mas que engloba interesses de toda Terra, inclusives('rìì r'c:l'cr'orìcial a tempo ou às presentes gerações humanas envolvidas, tem-

srì rìnìl)r'cg;rdo o termo "global". Assim, as duas Convenções adotadas em

;rrrrlro clc 1992, durante a trCO/92, no Rio de Janeiro, a Convenção Quadrotlls NaçCics LJnidas sobre Modificação do Clima e a Convenção sobre a

l)ivclsiclade Biológica, são, sem dúvida, internacionais, mas igualmenteglobais., porque legislam sobre matéria de interesse de todos os Estados,

rlrrs prcsentes e futuras gerações, e que desconhecem qualquer referencialr l'r'ontciras político-jurídicas, effi particular as relacionadas a espaços fí-sict)-políticos. Por outro lado, "internacional" era um conceito que muito

l)()r.rr:o revelava sobre as interligações entre os campos internos da compe-

tôrrcia dos E,stados e o campo a eles exterior: a exemplo,dizia-se que umrio ora internacional, porque sucessivo ou contíguo a dois ou mais Esta-

rlos' ou porque tinha um regime regulado por normas internacionais entre

os Estados ribeirinhos (vizinhos ou não). Na atualidade, drz-se de tal rio,(lLrc ele é "transfronteiriço"t', da mesma forma que "transÍionteiriços" são

clcnominados os movimentos de resíduos industriais altamente tóxicos, que

os Estados industrtaltzados tentarn transferir para orrtros Estados, de pre-

l'crência, ubicados o quanto mais longe possível tlc suas fronteirasr3, ou

ainda, transfronteiriça é a poluição atmosférica t'lLre é gerada por E,stados

12. Convenção sobre a Proteção e lJtihzação cle Cursos cl'Água Transfronteiriços e Lagos Inter-

nacionais, Helsinki, 1J ntar. 1992.

l-ì. Convenção da Basiléia sobre Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e Seu

Depósito, Basiléia, 1989, (T), promulgada pelo Decreto n'875 de 19/1/1993; Convenção de

Ilarnako sobre o Banimento de Importação para a Áf.ica e o Controle cle Movimentos Trans-

fronteiriços e o Manejo de Resíduos Perigosos clentro cla Afrtca, Bamako,20 jan. 1991. Ci-tem-se iguahnente as Decisões e Recomendações da OCDE sobre o movimento transfron-

teiriço de rejeitos perigosos, de 0I/211984, bem como a série de Diretivas da CEE, concer-

nentes a transportes transfronteiriços de rejeitos perigosos, adotadas a partir de 06/1211984.

l)lli l; I l'(ì,\' ll I lrll,ÍNí/,\' l'; illl';1O,4^l líl l"N I l';

c (lr.rc c lnuìs;lor-lltdlt ;tclr)s vcrttt)s l)anr o irrlcriol' tlr: oulros lislrtrlos tìr lor

nra clc chrrvus liciclas orr rlc clollosiçlìo rlc plu'líc:ulus stiliclrrs ltix iclrs ", lrt'rrrcor'Ìlo, trtrnsl'r-onteiriços são os cloitos l)crvcrs;os clc gnìrìrlcs acitlt:r'rlt's irr

dustriais que atingem vários paísesrs; ntais rnoclor'nlut'rortlc, rìir llru't)l):r, lc

gisloLr-se sobre obrigações de os Estadcls realizarun cstuclos o iìrìliliscs prri

vias de impacto ambiental, inclusive com consultas iìs populaçiics possi

velmente atingidas - seja zÌquela do Estatdo onde se realizanr as ulivirlltlcs,seja a de qualquer dos Estados Partes interessados, vtzinhos ou niìo - (Ìnì

grandes obras e/ou na autortzaçío de atividades perigosas ernprocrrclirlrs rì()

interior dos Estados Partes e que tenham reais ou possíveis clei(os ltlvc:r'

sos transfronteiriços ao meio ambiente de outros Esterdos-Partcsr('.

Tal como os direitos humanos, as normas de proteção intornrÌc:irlrur I

do meio ambiente podem ser vislumbradas em séculos anteriorcs., crìì al

guns erspectos isolados das legislações internas dos E,stados - os cxcrnplosjá referidos, e igualmente as instituições de parques neÌcionais nos ljllA,no final do século XIX, as normas de proteção e segurança no trabalho, rìoentreguerras, instigadas pela atuação da Org anrzação Internacional do 'l't'r-

balho ,, mas sua emergência, em nível internacional, foi um fenômorìotípico da segunda metade do século XX, num momento em que o descn-

volvimento industrial acelerado dos EUA, Japão e dos Estados da trurol)rÌOcidental principiou a revelzÌr seus efeitos devastadores, effi razã,o de corrr-

14. Convenção sobre Poluições Atmosféricas Transfronteiriças de Longa Distância, Gencllnr.I9l9; Protocolo à Convenção sobre Poluições Atmosféricas Transfronteiriças de Longa l)is-tância, relativo ao Fiuanciamento a Longo Prazo de um Programa cle Cooperação para o

Controle e Avaliação da Transmissão cle Poluentes Atrnosféricos a Longa Distância na Euro-pa (EMEP), Genebra, 1984; Protocolo à Convenção de 1919 sobre Poluições AtmosfériclsTransfronteiriças de Longa Distância, sobre a Redução cle Ernissões cle Enxofre ou Seus lrlu-xos Transfronteiriços, ao Nível cle Pelo Menos 30Vo, Helsinki, 1985; Protocolo à Convençiiode 1979 sobre Poluição Atrnosférica Transfronteiriça de Longa Distância, relativo ao Clon-

trole cle Ernissões cle Oxiclo cle Azoto ou Seus Fluxos Transfronteiriços, Sofia, 1988; ProLo-

colo à Convenção de l9l9 sobre Poluição Atrnosférica Transfronteiriça de Longa Distância,relativo ao Controle cle Ernissões cle Compostos Orgânicos Voláteis e seus Fluxos Transfron-teiriços, Genebra, lggl; Protocolo relativo à Luta contra Ernissões cle Óxiclo cle Azoto ou Scus

Fluxos Transfronteiriços, Sofia, 1988.

15. Convenção sobre Efeitos Transfronteiriços cle Acidentes Industriais, adotada em Helsinki, l7rnal'. 1992, ao Iìnal da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, e da qual, alórn

dos Estaclos clo Velho Continente, ainda participam o Canadá e os EUA (texto apud.3l ILMr 330 (t992).

16. Convenção clas Nações Unidas sobre Avaliação de hnpacto Arnbiental em um Contexto Trans-fionteiriço, adotada em Espoo, Finlândia, a 25 fev. 1991, foi votada sob a égide da Cornis-são das Nações Unidas para a Europa; da mesrna, em virtude de um "status" especial peratì-te essa Cornissão, igualmente participam o Canadíe os EUA (texto apud:30 ILM 800 (1991)

Page 6: Dh e meio ambiente

I () ( /N()tt1;7,1 ,'ltN,ltil('t l,,l l'tl,(|1 ,'lli,4(,|,4O ltNll'lili'\',ll l)O'\' l)llil';ll'O,\' l)O lloAll':^l

l)()tl:lnìt.rìl()s rlc c:tììt)r'(Ìslts (ì tlos int'r:rtlivr)si l clls tltlcllts llcltls ljslltclt)s., colìì-

porlirnì('rrlos (ìss(ìfi (lur) virrlìtrìì rlcsclo ()fi irtíc:ios cltr IÌcvtlltrçlÍtl Incluslt'iitl.,

rivitlos tlc l)r'ollr'osso c clo urn closorìvolvirtrcrtlo cconômictl rír1ridtl, indet que

('otìì () slcril'ício clc otrll'r)s valorcs, ent ospccial, tls ambientais. Do momento

(.rìì (lr,rrÌ ()s ol'citos rnalól'icos clc um crescimento industrizrl desordenado se

lizclìtìì sclrtir alónr clas fronteiras dos E,stados que os produziamrT, emer-

piu lt tìr)ccssiclacle de um rlrdeniÌmento de cunho internacional, QUe, de cer-

t:r lol'tìut, loi huscar cls modelos de preservação ambiental, então vigentes

rìos sistotÌìtrs -jurídicos internos dos E,stados mais industrializados; destes,

rrlgurìs, claclu a concentração industrial num espaço relativamente reduzido

(.(.s(lull-tc.jaclo de E,stados desenvolvidos, como a Europa então dita Oci-

tlr.tìtll,.ili tinham sentido a necessidade de um ordenamento de questões

rt'lrt'iorurclas iì preservação do meio ambiente, em nível internacional re-

1',iorrll - vcja-se a experiôncia histórica da Comunidade Européia, com uma

s i rr rr i l'ic:at iva atividade de harmo mzaçáo/uniformrzação das legislações in-

Ir'r'rurs rlos E,stados Partes, por via de inúmeras Diretivas, Regulamentos e

t)r:r'isfros. I'arerlelamente, novas exigôncias propiciaram a uma intensa ati-

vitlrrrlc lcgisladora em foros internacionais globais, como a ONIJ ou outros

('()tìstituídos para tanto, nos quais novas normas internacionais foram ela-

lrol'lr cllts.

Nn verdade, a decisiva pressão que a opinião pública exerceu para a

(ìrììcrgência das legislações de proteção ambiental nos sistemas jurídicos

ilrtcrrìos logo se faria sentir nos foros internacionais, em especial, naque-

lcrs clas organizações internacionais globais, como a ONU, flo sentido de

os Gctvernos levarem suas preocupações determinadas por seus jurisdicio-

rurclos e pelos Parlamentos Nacionais, à consideração da comunidade dos

11 Na verclacle, uma clas primeiras manifestações clo Direito Internacional do Meio Ambiente,

na sua feição atual, tem sido consiclerada a sentença arbitral no Caso da Fundição Trail ("Trail

Smelter"), que resolveu uma pendência entre os EUA e o Canadá, definitivarnente em 11/3/

1956, rnotivacla por reclamações de particulares, assumidas por aquele pais, ent tazáo de

clanos sofriclos no ten itório norte-americano, resultantes da atividade de uma fundição de

chumbo e cobre, localizacla no Canadá, devido a emanações tóxicas e deposiçôes de partí-

culas cle compostos cle enxofre, com prejuízos dos agricultores do Estado de Washington. A

clccisão firmou a regra, que hoje se acha inscrita em vários tratados internacionais e esclare-

cicla no Princípro 21 cle Estocolmo e no Princípio 2" da Declaração do Rio, este, assim redi-

giclo: "Os Estaclos, cle conformidade com a Carta das Nações Unidas e coln os princípios de

Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas

próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar

clLre ativiclades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros

Estaclos ou de áreas alérn dos limites da jurisdição nacional".

l)lltI' I l'o,\' llll/rl,lN(/,ï l,; ^ll,;lo,,1AllÌl

l,;N I'1,

lìstlrlos rllt itltutlitllrtlc; ír glollirlirlrtclc tlo l'crtíurìcrto tlo rttcio iunllir'rrlc l)nss:-tvrÌ:t cxigir soluçõlos igur.tlrttcrtto glolltis., l)ollurìlo., rìo curììl)o irtÍc:l'nlrcio

nal. l-ogo sc tinha obscrvuclo cluc o nrcio itrnbicntc e ru.ìlir rculirllrclc: (lu(ì

despreza as 1ì"onteirits dos Bstackls, cu.ja prcsor-vaçltt) sorÌronto so lonur r:l'icLrz net medida em que hqo normas internacior-rais. Ncstc csllír'ilt), c tllrrrloseguimento a uma intensa atividade de elaboração de rìonniìs inÍol'nlc ionais multilaterais, em foros particulerres, áÌ consciência da rÌcccssiclaclo tlcr

uma atuação coordenada sob a ONIJ foi rearl izadáÌ em 1972, t:ffr llstoc:ol-mo. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Ilurnarìo,por convocatórta daquela organrzação cimeira, er qual, dentre outros fcitos,instituiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnunmrs,

bem como elaborou a famosa Declaração de Estocolmo, conjunto clc 26

proposições denominadas "Princípios", QUe tem sido considerada, no l'clir-

tivo ao Direito Internacional do Meio Ambiente, o que a Declaração [)ni-versal dos Direito Humanos significou em termos de assegurar, no nível ilr-

ternacional, a proteção dos direitos do homem e das liberdades fundamerr-

tais. Naquele momento histórico, o tema da proteção internacional ao meio

armbiente, emergia numa declaração, concebida num espírito de tornar ir

Terra um espaço "limpo", onde os padrões de "limpeza" eram elaboradospelos países industrializados, que se reconheciam responsáveis pelo dese-

quilíbrio do meio ambiente global, e que, portanto, tinham a veleidade dc

impor padrões de conduta aos países em desenvolvimento - uma tentativade torná-los autênticos jardins botânicos ou zoollgicos de demonstração,

ao preço de frear-se qualquer desenvolvimento industrial destes, e sem qLte

houvesse a menor intenção de aqueles países absterem-se de quaisquer arti-

vidades industriais ou de consumerismo, effi tudo, poluidorasle.A partir de então, ilo que respeita às normas internacionais de prote-

ção ambiental, a atividade dos Estados, nos foros internacionais das orga-

I B O Pnuma (mais conhecido pela sua sigla de sua denominação em inglês: Unep, ou em fran-cês. Pnue), vem a ser o equivalente ao Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvol-vimento), no que diz respeito a programas relativos ao meio ambiente: entidade da ONU, quc

coordena estudos e clemais atividades políticas e científicas, em particular, os fundos forne-cidos pelos Estados, ern atividades relacionadas ao meio ambiente (como pagamentos cle

clespesas com estudos, pesquisas, funcionários internacionais, financiamentos de reuniões cle

peritos e de delegados governamentais, eD especial viagens de delegados de países em dc-senvolvirnento a leuniões diplornáticas internacionais).

19. Relembre-se a reivindicação dos países em desenvolvimento, durante a Conferência de Es-

tocolmo, que se expressava pelo mote dirigido aos países industrtalizados: "Si vous voulezque nous soyons propres, payez-nous le savon!" (Se querem que sejamos lirnpos, paguem-luos o sabão!).

Page 7: Dh e meio ambiente

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o (;tN()ltl"NI'1,'N,llilo l),1 l)1,;(:l,,lli,,l(,;,'lo uNll'l, li,\"ll /)(,,\' l)llil,:ll'o,\' l)o ll(ìiil"'^l

nt'/,'JÇocs iltlel'lut('r()nlts, L:lìì l)ru'licrrllr rurs Nlrçtrcs IJlticlns clo l)nutìì1, ou ctì]Iotrts ('ril)(Ìcirtllttc:ltlc irrstiltrírlos, so rììosll-ou clo sur'l)t'oonclonlo ;l'oclutivicla-tlt'. l',ltt lilluttlc lllu'lc., rrcirlcrttos rlosct)rì'n.lluris clo 1lrol)or'çõcs clcsconhecidas

rtlri clìllto ()s irciclorttcs cìorÌr sr.rl)or-potroleiros., cotn o derrarìÍ.Ìrnento de

r tl('o tle l)t'()pol'çilcs cittitstrr'll'icas - vicrarn acelel'iÌr iÌ luta corrjunta dos Es-

lrttlt)s coltll'l it poluiçao dos miÌres e oceil,nos, contra o desapeÌrecimento de

irrlt'ints r:sllccics itttirnais e vegetais, contrer o envenenamento do ar e das

irruruni tloccs sultcr'f iciais e subterrâneáÌs - estas, por efeito de uma utiltza-çrf ( ) g,rìrìcnrlir,u,Ja 'de pesticidas, pela infiltração, em lençóis freáúicos, de

l)r()(lttlos c;uírtticos de longa vida e de nocividade crescente à biosfera.l'ltt'a rÌ-ìÍÌrciÌr os 20 anos da reahzação da Conferência de Estocolmo,

('rìì l()()2, scriit convocada, pela mesma ONU, no Rio de Janeiro, a um('onl'r:r'ôrtciit clas Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-Io, (luo so clesent'olou numa atmosfera pós Queda do Muro de Berlim, por-l:t Itlo clc deslocamento das tensões Leste/Oeste para aquelas Norte/Sul20 e(f u(ì lcrn sidcl considerada a maior conferência multilateral até o momen-Itr rculizadíÌ na história da humanidade. De seu legado, destacam-se as duasrf f crtcirtnadas convenções multilaterais, a adoção da Agenda 2I, conjuntotf r: linhas políticas programáticas que os Estados deveriam adotar até osócttf o XXL, a, em particular, a Decl araçáo do Rio, "aggiornamento" e

;rl)cr'l'ciçoiÌmento da Declaração de Estocolmo. Com a introdução da te-rruitica do "desenvolvimento sustentâvel"zt ou seja, "durável" ou "visí-

l-0 Alórn clo fato temporal cle terem cessaclo as tensões Leste/Oeste, típicas cla Guerra Fria, que-

tclÌ-los significar, igualmente, naquele momento histórico, Lllrì grande prestigiamento de fo-Ios internacionais menos propícios a pressões de países industrializados, cuja valorizaçãovirtha dos ternpos dos impasses políticos no Conselho de Segurança da ONU (a paralisaçãoclc toda organização internacional, por motivo do veto dos Mernbros Permanentes, naquele(lorrselho). A ECO/92 fora convocada pela Assembléia Geral da ONU, e, elrÌ todas as dis-cussões, ficaria patente a tentativa dos países em desenvolvimento de prestigiarem-se solu-

ções que evitasselÌì os mecanismos, sobretudo financeiros, dorninados pelos países industri-alizados, colïìo o FMI e o Banco Mundial e seu Grupo, ou ainda o foro de negociações co-rnelciais, o então GATT.

2l "l)esenvolvimento sustentável" é um conceito que passou a permear toclo cliscurso diplorná-tico e normativo a partir daquela data. Elaborado por uma comissão de peritos, chefiada pelaprirneiro-rninistro da Noruega, Gro Bruntland, sob a égide das Nações Unidas, e especifica-clo no famoso Relatório Bruntland em 1981 (no Brasil, publicaclo pela Fundação GetúrlioVargas: "Cotnissão Mundial sobre o Meio Arnbiente e Desenvolvimento", Nosso FuturoComum, Rio de Janeiro, F.G.V., Instituto de Documentação, Editora da Fundação GetúlioVargas, em l99l,já na sua 2u edição), o mesmo serviria de parâmetro normativo e político

l)ara a ECO/92. Pode ser resumido como um "processo de mudança em que o uso de recur-sos, a clireção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mudan-

vel"22 rì() subsisterna intct'rìacional cllr l)r'olc:çlto tlo lttoio luttbicltlc., it | )t:

claração do Rio virieÌ tentar contrabalançitr cluits crític:tÌs., (lt,to olttãt) so l'l-zram ao Direito Internacional dcl Meio Ambiente, no seu csludo clc cvoltt-

ção: (a) uma exagerada preocupação com os elementos vivos e tì'ìiìtcl'iltis

do meio ambiente, ou seja, uma ênfase desmesurada nos itspectos dc cotì*

servação e preservação do meio ambiente local, regional ou glclbal, cotìì

um certo esquecimento de que a medida do direito continuáÌ sendo a pos-

soa humana e suas necessidades - inclusive, os seus tlireitos sub.ietivtts it

um desenvolvimento industrial, com sua catga de poluição e desequilíbrios

ambientais; e (b) o reconhecimento de que existem diferenças de natut'c-

za fundamental entre E,stados industrializados e Estados em desenvttlvi-

mento, e que exigem, sob pena de esvazrar-se a própria noção e finalicla-

de do direito, regimes diferenciados de direitos e deveres, no que respcitiì

à preservação e conservação do meio ambiente local, regional e glclbal.

Dada a importância daquelas Declarações para o Direito Internacio-

nal do Meio Ambiente, voltaremos a elas, logo além, não sem antes nos

referirmos ao que ambas constarão, na sua integralidade, como anexos destc

capítulo.Originâno de uma necessidade de estabelecer proibições a determi-

nadas atividades, normalmente sob controle dos Estados - e, da mesma for-

ffiâ, em atividades que os próprios Estados diretamente ou por concesslur

reahzam e que chegam a incentivar de maneira clara e decisiva, por umiì

política deliberada de favorecimento a um crescimento econômico geral ou

de valorrzação de regiões de seu território , o Direito Internacional do

Meio Ambiente ganharia, no seu nascimento, uffi forte conteúdo de nor-

mas proibitivas, tendo em vista a manutenção de uma dada situação, effì

princípio, presente no momento da adoção delas. Neste particular, a técni-

ca adotada foi, como tem sido, o estabelecimento de obrigações aos Esta-

ças institucionais concretrzam o potencial de atendimento das necessidades humanas do pre-

sente e do futuro" (Apud Brasil, Presidência da República, Comissão Interministerial para Pre-

paração da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,(CfMA) , O De,safio do Desenvolvimento Sustentável, Relatório do Brasil para a Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Brasília, Secretaria de Imprensa

da Presidência da República, dez. 1991, p. l82). Em outras palavras, seria sustentável urn

clesenvolvimento que não colocasse em causa o patrimônio ecológico, ou ainda: o crescimen-

to econômico que não venha a exceder a taxa de renovação dos recursos ambientais locais,

regionais e globais.22. Yeja-se uma análise atual e competente do tema, apud Jean-Claude Fritz "Le Développement

Durable: La Recherche d'Autres Logiques?", em Charalambos Apostolidis et alii, op. t:it.,

1997 , pp. I 87 -208.

Page 8: Dh e meio ambiente

() ('tN()ltl,N n,'N,ltit(ì l),t l)t,,('t,,,ui,,t(,"1(ì ttNil't,ti,\"u, /,(,,ï l)llil,:Ho,\' t)o ltoilt,Ãl

tlos, s('.ftt tlt: ltltslt:l's(ì tlt: tlr:lr:t'nìinit(l()s ('()ntl)()t'lluttotìlos, sc.jlr clc cxigil'clcs('l,ls.itrlistlic'itlttlttlos tttìì t'()ttìlx)t'lluttcltlt) sr)grntrl() l)arll'(lcs l'ixaclos l)ot' tìot'-tll:ls iltlc:l'lìll(:ioltltis; lt tltis c()tìtcúclt)s l)l'oillilivos, logr) tÌ'ìtÌis, otrtrr)s, cotn l'i-lrlrlitllttlcs l)t'ovoltlivlts., lonrrn scnclo acliciorruclos - ct'Ìl cspecial, apris Esto-t'ttllììo, cotìì tÌ olÌìcrgôncia da ncccssidaclc dc previseles, piÌriÌ áÌs atividadesiltlc:t'tìlìsi tltls Iistados, ou crrì nível intenlLÌcioniì1, e aos poucos, eì consciên-t'irt tlrt irtovitabiliclaclc dos perigos e danos áÌo meio ambiente, e, portanto,lilillt t'ogulittnentaçlto, por normáÌs internacionais, dos deveres dos Estadostlc'rç:l)rnÌr'Lrm mçicl ambiente degradetdo.Seja na sua vertente de luta con-ll'rt rì lloluiçao - com normas de grande carga proibitiva -, seja naquela delttr:tliclits pt'cventivas ou corretivas, aos poucos se assiste a um deslocamentotlrt ônlìrsc proibitiva, em direção a um enfoque mais voltado a um campoIt()t'tììltlivo permeado de deveres de cooperação internacional. Digno dertotit, otìl tal evolução, tem sido a emergência de um fenômeno inusitadorì() I)ircito Internacional do Meio Ambiente: além de estabelecer direitos e

olriglções no relacionamento internacional entre os Estados - feição tra-tliciotìal das normas do Direito Internacional Público, que criam deveres e

olll'igitções, sendo irrelevante a preocupação sobre uma eventual incorpo-I'lçlìo de tais deveres e obrigações na esfera do ordenamento interno dosf isllclos -, as normas internacionais de proteção ambiental chegam a le-gislar sobre quem devem ser os destinatários delas nos sistemas jurídicosclotttósticos dos Estados, bem como estabelecem verdadeiros códigos oulttoclelos legislativos, que os Estados têm o dever de incorporar nos respec-livos ordenamentos internos; trata-se de um modo de operar, effi que as

rì()r'muìs internacionais buscam uniformrzar ou realtzar uma harmontzaçáotlos sistemas jurídicos dos Estados Partes nos tratados ou convenções mul-tilaterais, aproximando o universo multifacetado dos Estados a uma reali-clade mais homogênea, como aquela existente nas organizações regionaiscle integração econômica, onde tal prâtica vem ser a regra. Basta uma anâ-lise superficial das principais convenções multilaterais sobre meio ambien-te, para verificar-se tais tendências invasivas e de detalhamento das nor-rÌeÌs internacionais, tâ esfera das competências tradicionais dos Estados:na Convenção Marpolz3 de prevenção da poluição do meio ambiente mari-

23 Marpol, sigla de "maritime pollution", é a denominação corrente para a Convenção Interna-cional para a Prevenção da Poluição por Navios, adotada em Londres a 19J3, sob a égicle cla

Organização Marítima Internacional, e seu Protocolo de 1978, ambos aprovaclos no Brasil,pelo Decreto Legislativo n" 4/87 (com reservas ao Protocolo II e sem a acloção clos AlexosIII, IV e v), textos que ainda não foram ratificados pelo País.

l)lli l'.t I o,\' ltll/rl,4No,\' l': /rllilo,'l/'llll l' N I I"

p59,5ír clotalIarlcnfos rlc olll'igaçircs (lt,to tììttts cltllc:l'iltltì lìtllìì ctitlig,tl llll

cional de rÌiÌvegiÌçho., lìa (lonvcnçao (litcs2a as tl()t'tÌ'ltts stlbl'o colììél'c:io tlc

animais e plantas e produtos deles retirados seguoln lttrclrõlcs clo ltttlôrlticos

regulamentos alfandegários nacionais, da mesmit fclrma quc a (ltlnvotlçlitr

da Unesco sobre o patrimônio mundi alzs estabelece comportamenttls :los

Estados, dirigidos a terem os mesmos uma legislação interna sobrc bons

culturais e naturais, de conformidade com as normas internacionais estlt-

belecidas. Tal invasividade das normas internacionais cle proteção attl Inoitr

ambiente chega a ponto de estabelecer inteiros subsistemas legislativos,

diretamente aplicáveis pelos j uízes dos Estados Partes, baseados nos mais

avançados institutos jurídicos, em matéria de reparação do dano ambien-

tal, realizando, effi nível internacional, uma autêntica obra de uniformizu-

ção legislativa interna nos Estados, como se comprova com as convençocs

que instituem a responsabilidade por risco - igualmente denominada "res-

ponsabilidade objetivà" -, mesmo nos países infensos a tal mecanismo rc-

paratório de danos, nos respectivos ordenamentos internos.

ru OS GRAA|DËS TEMAS DO DIREITO IÌ]{'TERÌI./ACIOAIAL DO MEIO AMBIENTE

Uma anáryse da verdadeira pletora dos tratados e convenções inter-

nacionais sobre o tema da proteção ao meio ambiente, que em nível bila-

teral ou multilateral (regional ou global), têm sido adotados a partir da

segunda metade do século XX, revela a existência de campos bem defini-

dos, que agrupamos em classes estabelecidas por critérios mais ou menos

razoâveis, de molde a permitir uma certa sistem atrzaçáo de uma temática

no Direito Internacional tão nova e que, no entanto, já revela uma inacre-

ditável vitalidade.Em nossos estudos anteriores26, agrupamos os temas do Direito In-

ternacional do Meio Ambiente nas l0 seguintes classes:

24. Cites (pronuncia-se "çáites"), sigla para "Convention on International Trade of Endangerecl

Species" , é adenominação cla Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora

e cla Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, aclotada em V/ashington, a 1973 (no Brasil,

promulgacla pelo Decreto n" J6.623 cle l1/11/1975), com as emendas votadas em Gaborone,

em 1983, (promulgaclas pelo Decreto n" 92.446/86) e as emendas votadas em Bonn, effi 1919

(promulgaclas pelo Decreto n" 133 de 24/0511991).

25. Trata-se cla Convenção relativa à Proteção clo Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, ado-

tacla em paris, sob a égide cla Unesco, em 1972 e, no Brasil, promulgada pelo Decreto n"

80.978 de l2/12/197726. Referirno-nos à nossa tese cle Professor Titular para a Faculdade de Direito da USP, anterior-

Page 9: Dh e meio ambiente

0 ('tNQltl,'Nll'N,llilo l).4 l)1,;(:1,,'lli,4(,:,lo ltNll'l"lt,\"41, l)0,\' l)llil,'ll'o,\'l)(ì ll()rlll'ttl

il ) ( it'lrt(l(:s lisllirç()si Arnbicnlitis, cllrssc (pro c()rììt)r'cctttlc rrsisurttos ctt.iir

Irllottllrgc,lrr sti c lx)sisívcl rìurììlr nrtiilisc rlo l)onto clc vistit ilttol'ltitciortitl, clo

lruu'rc:inr globlrl., r:onìo r.r Antlirtica., iÌ Arrt ar,õrria, o cspaço cosrtrico c os cs-

l)rços irtlcr'rìar:iottais c:or'ììuns - os dcrtotninadtx gloltul corrutlorr,t - corno o

lrllo rììrr'., os l'unclos rÌliÌr'ítirnos e oceâniccls e o espeÌço sideral; não se tráÌteÌ

tlc unì l'cnôrìlcno Í'ísico isolado, ffìiìs de umíÌ "GestAlt" no qual interagem

rrsllcclos rclitcionados iÌos componentes do meio ambiente, numa perspec-

tivrr tlc clar'-sc Llm tratamento unitirrio a determinados complexos geogrâfi-r'os, (lr.ro passiÌrn.a ser de interesse global da humanidade, inda que alguns

itr,ns cllqucles temers sejam geograficamente localizados.b) Proteçãcl aos Trabalhadores, Regulamentação da Produção e Co-

rrrcrcio 'l'r'Í"ìnsfronteiriço de Materiais Tóxicos ou Perigosos, effi vários as-

l)cclos'' a lìegulamentações de Certas Atividades Industriais, classe na qual

s(ì r:olocarn iÌs convenções da OIT sobre proteção dos trabalhadores nos lo-clris rlc traberlho, convenções gerais sobre poluentes químicos, transporteslrrnsl'r'onteiriços de substâncias de alta periculosidade (Convenção de Ba-silcil sobre Movimento Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu

l)c:ptisito), regulamentações de determinadas atividades industriais poten-

c ilr l rncnte perigosas ao meio ambiente, especialmente aquelas em que

c:nrcrgônciars ou acidente têm efeitos transfronteiriços, excluídas, contudo,rìs clrrcstões relacionadas com a uttltzação da energia nuclear2T.

c) Proteção à Fauna e à Flora, à Biodiversidade, à Pesca Internacio-nul t: o Combate à Desertificação, grupo onde se encontram as conven-

çfies gerais sobre flora e fauna, proteção a certas espécies de plantas e

runitnais considerados em perigo de extinção, regulamentação da preser-vução dos seus hábitats (a Cites), a preservação de florestas, a pesca, ou

c:rrlrtura, em certas regiões (mares regionais, ou na zona econômica ex-clusiva dos Estados, ou no alto-mar) ou de determinadas espécies (como

o atum, âs baleias); a proteção dos recursos genéticos vegetais e animais

rnente mencionada, bem coÍìo a um estudo apresentado em sessão da Universidade das

Nações Unidas, sob a patrocínio do Instituto de Estudos Avançados da USP, em novembrode 1997, effi Atibaia, SP, com o título "Comércio Internacional e Meio Ambiente: Confron-tos entre a OMC/GATT e as Normas de Proteção Ambiental", bem como a seção 10 do capí-tulo V do nosso livro Direito Internar:ional do Meio Antbiente: Sua Emergên(ia, As Obriga-

ç'õe,s e as Re,spon,sabilidades (no prelo, da Malheiros Editora, São Paulo).2l Tal exclusão se justifica pelo fato de que tudo o que toca à utilização pacífica da energia

nuclear tem um foro próprio, a Agência Intemacional de Energia Atômica, aAIEA, com sede

em Viena, (única organização especrahzada do sistema das Nações Unidas que pode repor-tar-se diretamente ao Conselho de Segurança da ONU) e conta com uma regulamentação in-ternacional especial.

l)l li l'; l l'O,\' ll ItAl,'lNíl,\' /1' Al l'; 10,4^l lll l';N I'1,:

(lr lliotlivorsiclitclo)., o, cltl'i ln., as rìor'rììirs irttcnìrcionrtis l'clittivlts lto ('()nl

llato r clotcrminitclas pnÌgas na agricultura o iÌo corì-rllulo ìs socìns c ìt tlrr-sertiÍ'icaçlto.

d) Espaços Marítimos e Oceânicos, classe cnì cluc so rcúncrÌì rìs (lurÌs

tões de poluição do meio ambiente marinho por rileo, por ali.jalnonlos (Ì

outros lançamentos de produtos tóxicos, pela poluiçao telúrica (trirzitllpelos rios, effi particular, causada pela utiltzaçã,o de agro-t(lxicos rìrÌ irgri-

cultura, que se infiltram em lençóis freírticos e são eonduzidas ao nrar')., il

conservação dos recursos vivos em determinadas águas salgadáÌs, o reginrcjurídico do mar, da plataforma continental, da zona econômica exclusivl,do alto-mar, dentre outros.

e) Cursos d'Água Transfronteiriços, Lagos Internacionais e BucilsHidrográficas, classe que compreende a regulamentação tópica de ulgturs

rios transfronteiriços (inclusive lençóis freáticos) e lagos internacionuis,bem como de inteiras bacias hidrográficas em regiões específicas ckr glo-bo, no aspecto de combate à poluição e de gestão de recursos vivr-rs e ac;tií-

feros havidos em comum; em tais aspectos, os rios e lagos não mais slio

considerados na sua função de limites geográficos e políticos entre llsta-dos, nem como meros meios de transporte ou comunicação, mas, antes ccom precedência, como receptáculos da âgua, elemento que passou a ser'

valortzado nele mesmo, dando àqueles acidentes geográficos, outras des-

tinações tão ou mais nobres além de fatores delimitadores de fronteiras ou

como meios de transporte internacional de mercadorias.

0 Atmosfera, Clima e a Proteção da Camada de Ozônio, na qual se

agrupam as questões relacionadas ao controle da poluição atmosféricirtransfronteiriça de longa distância, convenções sobre a proteção da cama-

da de ozônio da atmosfera terrestre - por efeito de gases como o CFC e

halônios - e sobre modificações do clima, por efeito dos denominados ga-

ses de efeito estufa - na maioria, provenientes da queima de combustíveisfósseis - e pela destruição dos denominados "sumidouros" - os mares e

oceanos e as florestas tropicais de grandes extensões, que extraem os men-

cionados gases de efeito estufa da atmosfera.

g) Util rzaçáo Pacífic a da Energia Nucl ear, grupo de assuntos no qual

se arrolam os temas de desnucleartzaçã,o e/ou de desarmamento nuclear,questões relativas à utilização pacífica em particular industrial da energia

nucl ear, os dois tratados nascidos após o acidente com a Usina de

Tchernobyl, sob a égide da Agência Internacional de Energia Atômica,relacionados a deveres de assistência e de informações entre Estados, nos

casos de emergências ou acidentes nucleares.

Page 10: Dh e meio ambiente

() ('lN()lt1;51 'l,N,llilo

l),,1 lì1"'(;1,,'lli.lt,;,1() ttNn'l,/i,\"t/ /)í,,\'t)lnt:ll('t,\'t)o iloÃil'tl

lr) l't olcç;to tlo l'lrlrirttírtrio ('rrlltn'ltl c Nlrlunll, c'lls*io (lu(: ('()ntl)t'cr:tì

tlt'()s rtlos ilrtcr'rìacionitis tììultilulcritis rlc llrolc:çlro tln ltcl'luìça lt'(lt,teoltigi-('1. ltislririclt L'. ru'l íslic:a., lltis ()s rììorìr.uììcrrlos rlo l)afisirdo c clr) l)t'osotìto, i.Ìs

t'itllttlt's ltolrivcis lìrtliglts, cotììo Ouro l)t'clo, or,r rttoclcnltÌs., cotÌìo Iìr'así-

lirr , :ls llrrisrìgcrìs corìslruríclus pclo honrorn, cuju regulamcntuçho rnais no-

lrivt'l t: rt ('onvortçlto cla Utìcsc() sobre Proteçlto ito Patrimônio Mundiarl, que

rrr'lui, ltlórtt clac;uoles iÌspectos, iÌ prulteção do patrimônio natural, cotrìo('rv(:r'rìrs, l)lìisr.tgons, 1'rlrmaçeres cclrais e outros dados da natureza, dignostlr'prolcrçrit) L:onlr-a a açãc-r destruidora ou modifìcadoriÌ por parte do homem.

i) lìcsponsabilidade e Reparação do Dano, classe na qual se arrolam()s nroclcr'r'ros tratados e convenções internacionais multilaterais que dispõem('xl)r'cssarÌ'ìcnte sobre o regime da responsabilidade internacional dita obje-livrr (otr lx)r risco), por danos causados a pessoas, bens e ao próprio meio:urr lricrrlc' por atividades de indivíduos, empresas ou de Estados, relativa-rncrìlo l usltectos internacionais do meio ambiente, inclusive com a obri-

1',:rlor ic,rluclc de instituição de seguros internacionais relativos às mesmas.

.i) ( lornércio Internacional e Meio Ambiente, tópico que traça os re-

lirci()rìiìrrtcntcls entre as normas de proteção ambiental e aquelas que regu-llrrr o cornércio internacional,seja em nível doméstico dos Estados, seja

r:rìì rtívcl da Organizaçáo Mundial do Comércio, OMC, sucessora do Gatt.'l'rris rclacionamentos, por vezes, são conflitantes - vide, a título de exem-plo, os vários casos dos golfinhos, apreciados no contencioso da OMC, que

ol)usoriÌm países com uma legislação interna discriminatória contra produ-Ios nacionais ou estrangeiros, que continham o atum, pescado com técni-cus dcsrespeitosas da conservação daqueles mamíferos marinhos2s, mas que

irrl'r'ingizrm normas sobre a liberdade e não discriminação no comércio in-I c r-n erc i onal2e.

2tì A pesca do atum, feita em alto-mar, é, modernamente, feita com a técnica de redes de arras-

ro (drifïnet,s), que prendem os golfinhos, mamíferos associados aos cardumes daqueles pei-xes e seln qualquer valor comercial - os golfinhos servem mesmo como indicadores da pre-sença do atum em grandes cardumes -, segurando-os nas profundezas das águas, impedin-clo-os de virem à superfície respirar o ar da atmosfera, como quaisquer mamíferos, que sãoincapazes de retirar o oxigênio da água. Os casos mencionados se encontram relatados noltosso trabalho apresentado à Universidade das Nações Unidas, bem como no capítulo dorlosso livro, ambos anteriormente mencionados.

29. Hí outras causas de oposições e conflitos entre as normas de proteção ambiental, em rela-

ção às regras da OMC, não só as normas internas ambientais dos Estados, mas igualmente,as próprias normas internacionais. Basta ter-se em mente que uma das técnicas utilizadas emalgumas convenções multilaterais protecionistas é a proibição do comércio internacional dos

bens protegidos - a título de exemplo: a Cites, no referente a espécies e espécimes de ani-

l)ilit'II(),\' illt^1,4Ní,,ï /i /'ll, lo ,4lllul';N Il,:

(latnpo bastantc clcl'irrirlr) rì() l)iroito lnlcr'rìacion:r1,, o l)iroito lrrlrrnur

cional dcl Meio Ambientc, niÌ sLriÌ intrusiviclado rìos iÌsstnttos rl:rs c'()rìll)(Ì

tências domésticas tradicionais reserviÌdas iÌos Estaclos, tcnr-sc clìr'rclcrizado, dentre as fontes mais claras, pelas normas dos trataclr)s o c:orìvorìç()cs

multilaterais, que instituem ora obrigações diretamente exigíveis clos lis-tados, ora obrigações de estes internaltzarem as normáÌs internÍìcionir is.,

segundo procedimentos vigentes em cada qual - drz-se de tais normiÌs in-

ternacionais que elas buscam uma uniformtzaçáo elo't harmonização clos

direitos internos dos Estados. Dadas tais características, tem sido propug-

nada, em particular pela Comissão de Direito Internacional da ONLJ, rl

existência, no Direito Internacional Público, de uma distinção correntc rìldoutrina interna de certos Estados - em particular a Itálrã -,, entre clbriga-

ções de conduta e obrigações de resultado: as primeiras imporiam áÌo lrs-tado um comportamento determinado com precisão, e as segundas institu-em fins a serem atingidos pelos seus destinatários, os Estados, deixando u

eles a tarefa de definir maneiras e formas de atingir os resultados impos-

tos pela norma3o.

mais e plantas protegidos, a Convenção de Montreal de proteção à camada do ozônio, no

relativo a determinados produtos que contenham os gases regulamentaclos, a Convenção cla

lJnesco, sobre o patrimônio mundial, quanto ao comércio cle antigüidades e bens do acerv<r

cultural dos povos -, em aberto confronto colïÌ as normas da OMC, que proíbem restrições c

discriminações que dificultem a liberdade entre as Partes daquela organização internacional,no que respeita a comércio de bens - inclusive a propriedade intelectual -, de serviços e cle

caprtars.

30. No referido anteprojeto da CDI, constam clois artigos, assim redigidos - na sua versão em

espanhol, uma das línguas oficiais na qual ele se encontra redigido: Artículo 20.- Violaciónde una obligación internacional que exige observar un comportamiento específicamente de-

terminado) Hay violación por un Estado de una obligación internacional que le exige obser-

var un comportamiento específicadamente determinado cuando el comportamiento de ese

Estado no está en conformidad con el que de él exige esa obligación. Artículo 21.- Violaciónde una obligación internacional que exige el logro de un resultado deterrninado.S) 1". Hayviolación por un Estado de una obligación internacional que le exige el logro, por el meclioque elija, cle un resultado determinado si el Estado, mediante el comportamiento observado,no logra el resultado que de él exige esa obligación. $) 2".. Cuando un comportamiento cle

Estado haya creado una situación que no esté en conformidad con el resultado que de él exigeuna obligación internacional, pero la obligación permita que ese resultado o un resultadoequivalente pueda no obstante lograrse mediante un comportamiento ulterior del Estado, sólohay violación de la obligación si el Estado tampoco logra mediante su comportamiento ulte-rior el resultado que de él exige esa obligación.

Page 11: Dh e meio ambiente

0 (;lNultl,;N I'l';N.llilo l),"1 l,l"'(;1,,4li,4(,;,1() ttNll'/,'/i,\".Í I l)o,\' l)llil,:ll'o,\' l)o lt()^il,,At

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t972 ti D0 Iu} DIi t9.()2

('otìì() (lr.utis(pret' normiÌs do Direit<l InterniÌcioniÌl Público, íìs normáÌs

ittlc:t'tìltciolutis cle protcção áÌo meio iìmbiente devem ser buscaders níÌs fon-Ics tÌtì u Ittcl'itclas no art. 3 8 do Estittuto da Corte Internacional de Justiça:(rr) osi lritlrtdos e convenções internacionais, gerais ou particulares - bila-It'rtis ou rtrultilatenais, de âmbito local, regional ou global -, fontes essas

tlt'rf t lrt irutcl trs .jus sc riptunt; (b) o costume internacional3t; (c) os princípiosg('t':ris rlo clireito; e (d) como meios auxiliares, âs decisões de tribunais ju-tlit'ilil'ios internitcionais, bem como a doutrina dos juristas mais qualifica-tlos tllts tliÍerentes Nações. A tal enumeração, devem acrescentar-se aindaottll'lts lìrlttcs que o costume internacional e a doutrina internacionalista ge-lì('l':llizlrtlit têm considerado como atos emanadores das normas internacio-Iutis: (c) its declarações unilaterais dos Estados; (0 as decisões cogentes das()rl',iutizltçõcs intergovernamentais; e (g) as decisões de árbitros únicos e det r i lrrrrur is arbitrais, em litígios entre Estados32.

IJrn exíÌme do jus scriptr,trn no Direito Internacional do Meio Ambien-l(' r't:vclit sLlíÌ extensiva e cada vez mais freqüente utthzação da técnica dosll'rrlrrtlos-quadro e de textos principais, acompanhados de anexos ou apên-tf it'os, cstes, de mais fácil alteração. No primeiro caso, trata-se de tratadosott cor'ìvenções multilaterais, que instituem órgãos com poderes expressa-Ittcrtrtc delegados pelos E,stados Partes, para completarem os dispositivos

ì I l)cntre o costume internacional, num ramo tão recente como o Direito Internacional do MeioAlnbiente, tem sido considerado o fato de legitimar-se a adoção cle rnecliclas unilaterais por

ltltl'te de Estados, baseadas eln nonnas vigentes, contra Estados que não reconhecem taisrlot'mas - comportamentos qlle seriam considerados ilegais e ilícitos, caso não houvesse a

tìol'tna, que o Estado contra o qual se irnpõem sanções não reconhece. Um exemplo é o casoclc irnposição de sanções contra navios - multas ou apresamento -, que arvoram bancleira deEstados que não respeitam as normas da Convenção Marpol - e, portanto, não exigem elnscus navios comportamentos no que respeita, por exemplo, à guarcla de óleos usaclos, de altatoxidade, e seu descarregamento em locais apropriados, nos portos em terra, evidentementecotn acréscimo nos custos dos fretes, exigências essas que são impostas pelas normas inter-nacionais, vigentes para a maioria dos Estados da atualiclade.

32 Aincla em grau menor que as decisões dos tribunais judiciários internacionais, colno estas,as clecisões de árbitros e tribunais arbitrais, no Direito Internacional Pírblico. têm um valorlestrito aos Estados partes na controvérsia decidida. Quanto ao valor clo precedente judiciá-rio internacional, o lneslno deve ser considerado segundo os critérios clos sistemas clos clirei-tos da farnília romano-germânica-portanto, sem o valor cogente que os stare der:i,si,s possu-cm na Conmutn Law.

l)ilt t' I t tt,\' IlltÃl,4No,\' l,: ^ll"'

lo,l/rllil l' h' I l"'

cllc;trolcs clLlc, alólrr rlc n()t'tìì:.Ìs r.rtrlolrllliclivcis, c:()tìtÔlrr tlttll'ltsi, (ltl() tìcccssl-

ttm cle um cletalharncnto ou clo Lltììa rcgulatnolttltção -- (ltto os llstlrclos l'ltl'

tes, por diversets razões, nlro se dispuseriÌm a l'.rze[, tìo lì]otÌìoltto cllt lttloçlìtr

dos textos finais33. Quanto aos uÌnexos ou apêndices, trata-sc cle pl'ov iclôll-

cias de deixar em tais partes dos tratados e convenções, mcldil'icírvcis trotì'l

mais facilidade e menos formalismos que os textos principais., itclttolas

normas que deverão sofrer alterações mais freqüentes - em geral, rìorlìliÌs

técnicas, que necessitam estar conformes aos desenvolvimentos da ciência

ou da tecnolo gra3o.

Nascido como resposta a uma situação de extremado desequilíbritr

entre o meio ambiente e os valores existenciais do homem e da biosferlt,,

propiciado por um desenvolvimento industrial e científico dos séculos iìlr-

teriores, em tudo imediatista e que não valori zata suas conseqüências parlÌ

as gerações futuras, o Direito Internacional do Meio Ambiente deve itclc-

quar suas soluções a problemas existentes, bem como dotar-se de grandc

dose de previsibilidade no sentido de evitar ou remediar situações danosas

àqueles valores protegidos, sejam elas agudas, como desastres ou emergên-

cias ambientais, sejam crônicas, como os pequenos atentados sem autoria

determinada - porque perpetrados pelos Estados industrializados, no setl

conjunto, pela simples existência de parques industriais desmesurados -,ou os inúmeros acidentes neles mesmos insignificantes, ou atividades po-

luentes de menor significado, mas cujo somatório representa verdadeirits

catástrofes ambientais - e os exemplos são inúmeros: os vazamentos de pro-

dutos tóxicos de pequenos navios e a utrhzação generahzada de agrotóxi-

cos na agricultura, com os respectivos poderes de destruição da vida aquír-

tica. Por tais motivos, suas soluções devem contar com a mesma credibili-

dade e efic âcra que os fatores que provocaram sua emergência; e tanto mais

prementes forem as necessidades de regular as atividades poluidoras, mais

33. São inúrmeros os trataclos-quaclro no Direito Internacional do MeioAmbiente. Utn, por sinal,

leva na sua clenominação tal natur eza: trata-se cla Convenção Quadro das Nações Unidas

sobre Muclança clo Clima, adotacla clurante a ECO/92, que instituíu a Conferência das Partes,

colrì pocleres cle cornpletar e cletalhar aquela Convenção, respeitada a moldura norlnativa cla

lTÌesma.

34. Tanto a téclica clos trataclos-quaclro quanto a dos anexos e apêndices, collquanto sejam ex-

peclientes que tornem os textos rnultilaterais internacionais bastante chegados às necessida-

cles clos Estaclos Partes, tornarn o conhecimento exato dos seus conteúdos, de extrema difi-

culclacle para o estuclioso e o intérprete. A rÌera leitura cle um texto normativo, tal qual Íbi

adotaclo, pocle, claclas as alterações clos anexos e apêndices ou o detalhamento e interpolações

nos textos principais, não revelar o estaclo atual do mesmo!

Page 12: Dh e meio ambiente

() t'tNQttt"Nn,'N,ltilo t),t l)1,:(:t ,ui,l(,:,lo uNu't,ti,\,,tt, /,í),\ I)ilit,:tto,\, t)o ltoAu,:^t

t'ltt'itz('s,\('l'll() ()s llìt:clllìisitìì()s siuìciorurtlot'r:s tllrs ollt'iglrç()cri rlo l)il.ciltrIltlr't nit('iorurl tlo Mr:io Altrlric:ntc.

Nlttl ltli lltll'otlll'o Ittolivo (luo, l)r'o(:isl.rrrrctìto otìì tal ciÌtìtl)o irrtclltr-t'ittltltl, olììcl'gil'ltllt lls;tl'ilrtcn'rÌs corìvcnçõcs intonracionais clLtc cstabcloce-llllìì () l'tÌgilltc tllt l'osl)otlsiÌbilidadc por risco, no Direito Internacional, que,('()lìì() so sltllc., tolÌl sicltl, tlos direitos internos dos Estados, Lltrì poderosgrrllxilill' t;ttaltttl ìts l'initlidades perseguidas por uma norma jurídica - regi-lìl('tllt l'csil)olìsiìbilidade objetivit, ou por risco, que institui uma obrigaçãotf t' 11-:f )rr|ill', clìl geral de conteúdo inden izatório, com reais reflexos na si-Ittltçlto l'i llancoir-a do causador do dano35. Segundo este regiffie, parte-se dol('('ollltccilncnttl de que existem atividades legítimas e necessárias, que, not'ltlltlìltl, llttclem causar danos a pessoas, bens e ao meio ambiente; sendoItss ilìt,, :l l'csponsabilidade se encontra can alizad,a na pessoa que venha a('lltls:lt', lltltenciatlmente, uffi dano - que se acha, igualmente, definido narforrììll -- o que dela somente poderâ exonerar-se segundo as causas elenca-tf rts, tlo IìliÌlleira categórrca, na mesma norma escrita. Por outro lado, atì()llììil ilttcrnacional já indica os juízes e tribunais que, nos sistemas inter-f ìos tlos listados Partes, serao competentes para conhecer dos pedidos del('l)lll'lçlÍo. trnfim, obrigações de seguros e outras garantias financeiras sãot'xigiclas das pessoas de direito internos, em quem a norma canal rzou aI (:sl)otìsiÌbilidade pela reparação dos eventuais danos.

Nas modernas discussões teóricas dos fontes do Direito Internacio-Itrtl, lìos dias correntes, tem sido suscitada a existência da denominada softIttn', ()Lr ltott-binding conxmitments36, normas de natureza ética, que estariam

ì5 As sanções do tipo "dói no bolso" parece sereln as mais eficazes, pelo lnenos no que respei-llt lt clissuasão. Apresentam-se elas, no Direito Internacional clo Meio Arnbiente, sob a formatlo ";'lrincípio clo poluidor-pagaclor". Contuclo, effi ativiclacles clanosas cle natureza continua-tllt - colno as poluições industriais corriqueiras, pequenas e anônimas -, poclem elas ser pe-l'igtlsas, pois podem apresentar-se coln a feição cle um clireito adquiriclo a poluir, após o pa-slttneuto de rnultas olt colno um direito prévio a pocler-se "comprar" urn clireito a poluir! Veja-sc lt polêmica sobre a denominada "implementação conjunta" a respeito cla Convenção eua-clro clas Nações Unidas sobre Mudança do Clirna, na qual se cliscute o direito a poluir - ousc.jlt, Iançar gases de efeito estufa na attnosfera, leia-se: circulação cle veículos moviclos a com-lltrstíveis fósseis. poder ser compartilhaclo, em cotas negociáveis e auto-compensáveis, en-tre países industrializados e países em clesenvolvimento!

'ìÓ' Vc.ia-se, eln particular, cle um clos integrantes cla Comissão cle Direito Intemacional cla ONU,o professor Alberto Székely, "Non-Bincling Commitments: A Commentary on the SoftelingoÍ'International Law Evidenced in the Environmental Fielcl", eüt United Nations InternationalI'ttw on the Eve o.l'tlrc Twenty-t'ír,st Century, View,ç.front tlrc International Law Comnis,sion,I'c Droit International à l'Aube du XXe. Siécle, Réftexiott,y de Codifir:ateLtrs,, Ulitecl Nations,Nova York, l99l (Sales n' E/F 97.V.4,ISBN 92-l-1335 l2-4), pp. I 13-200. Tat trabalho re-1r|csenta ulna competente síntese do atual estágio da doutrina sobr e a ,so.ft law.

l)tti t, t I (ì,\' lilt^l,4No,\' l"' /rll,:l() AMlil l"'N I 1,,

tìt,nìì cstligio clo so lnlrìslrlnììlu'orìì crìì rìor'rììlrs.jru'ícliclts., oslls irrlc.gl'rutlr:s tlrr

Lulivot'so cla ltttnl lrrv,, c clcl'i niclus corìlortttc tÌs lolttcs atìtct'irl'tttcltlr: tììrÌtl

cionadas - e, correlatamente, da rìcsrrìÍ.r lìlrmit, existem rol'cr'ôrtciirs ir unur

so.fï liability, ou seja, um subsistemet de dircitos c clcvor-os, inc:ltrsivc tlc:

níÌtureza reparatória, de cunho ético. Segundo tal terlria, a ,so.f't ltrn, lct'irt,

dentre outros conteúdos, zr finalidade de indiciìr fLrturos colÌlpol'l.iìr'ttcltttts

dos Estados, considerados como um imperativo de ordem mrlritl, inclttsivcno sentido de dar uma expressão normativa uÌos princípios nelit postulitckrs;

um misto de desiderabilidade, um wishful thinking e de previsão. 'l'ais rìor'-

mas, contudo, não teriam as características das normas jurídiciìs pt'olll'ia-

mente ditas, de criar direitos imponíveis aos E,stados e de deveres clolos

exigíveis, num universo de normatividade coercível próprio do mundo .ju-rídico37.

Como já assinalamos, avultam, effi importância, no tema da proteçlto

internacional do meio ambiente, a Declaração de Estocolmo e a Declaru-

ção do Rio, que a grande maioria dos autores dedicados ao tema tem cclnsi-

derado como os equivalentes às declarações, no tema da proteção dos cli-

reitos humanos. Uma discussão preliminar, contudo, refere-se a como con-

siderá-las: se soft law ou se princípios gerais de direito - portanto, hard luw.

De nossa parte, acreditamos ser necessário uma análise de princípiopor princípio, em ambas as declarações, a fim de examinar a natureza e o

grau de exigibilidade contida em cada qual, ou seja, se, in casu sub specic,

se trata de normas de natureza moral, ou se verdadeiras normas jurídicits.

Em tal análise, remetemos o leitor aos textos de ambas as declarações, áÌs

quais constam dos anexos deste capítulo. Por outro lado, não pretendemos

esgotar a anâlise daquelas declarações, que exigiria um confronto compiÌ-

rativo de suas formulações naqueles documentos com a miríade de atos nor-

mativos internacionais vigentes no campo da proteção internacional do

meio ambiente, como os tratados e convenções internacionais atualmente

em vigor, bilaterais ou multilaterais, os atos unilaterais das organizações

internacionais regionais e universais e as outras fontes da hard law. O que

se segue são algumas amostragens dos aspectos mais relevantes e indicati-vos da complexidade do tema.

37. Urn bom exemplo de so.t't law, no campo do Direito Internacional do Meio Ambiente, é a

Agenda 21, docrnnento complexo, que, dentre outros dispositivos, indica os comportamen-

tos desejáveis dos Estados, ern nível interno ou nas relações intemacionais, nos vários cam-

pos da proteção arnbiental.

Page 13: Dh e meio ambiente

'lirlrì('-s(:. lt rìxctììl)lo, o l'r'iltcí1lio 2 | tl:r l)c:c:llu'lrçlt() rlc lisloeolnì(),, r)

(ltlt' s(' ltt'ltlt 1'çrl)clitltl llo l'l'itte:í1lio 2 tlit l)ccliu'nçiio tlo l{io: u t'cgt'lì clc rlgcos l:sllrcltls ltlttl tlcvcltt cl.u.tslu' cllutos lro rììcio lurr[ricnlc clc ouÍl'os lÌslirclos, c(lll(: lìll() c()lìslll,, ltllcl'l:.tlttcttlo., clo ololtco clos l)iroitos llrlrnp6s, ó 1tÌìi.ì r'o-

l',r ir tllt ltttrul lrnt,, l)osto c;uc clcÍ'inicla l)ot' Ltmu urbitragem entre tlLJA e Ca-rtrttf li, lto ('ltso clll Iìtrncliçiul 'l'rail, clc 1942 e inscl'ito em vírrieÌs convençõesttrrlltilrrtcl'rtis. O l'l'ittcípio l0 da Declaração dcl Rio - direito de cerda indi-t'ttlllo lt'l'ttt:csso ltclccluado a inftrrmetções relativrÌs áÌo meio ambiente de quetllslroltlìlttìì tts lttttoridades públicas, bem como de participar em processostlt' lolttlttllt tlo dccisões -, que inexiste na Declaração de E,stocolffio, encon-llrt s!: tìxl)l'csso na Convenção das Nações Unidas sobre Avaliação de Im-Pltt'lo Alttbicntal erÌ um Contexto TransÍronteiriço, adotada em Espoo, hâI lr rr li nrl iu, a 25 de fevereiro de 199 1 .

l)ois otttros princípios constam apenas da Declaração do Rio e de,rllllltcil'lt lttttittl oblíqua, se referem aos direitos humanos; o importante prin-r'ípio tlit l)l'ccaução (cf.Princípio 15, segunda parte, âSsim redigido: "quan-tlo ltottvct-iÌmeÍÌça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absolutat't'rlLt'/,ít cicntífica não deve ser utihzada como razáo para postergar medi-tf rts c:í'icttzcs e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambi-t'ltlltl") o o não menos relevante princípio do poluidor-pagador, que se achairss(rcirtcltl ao princípio da internaltzação dos custos ambientais, conforme('()fìstrtnte no Princípio 16 (verbis: "Tendo em vista que o poluidor deve,('lìì 1ll'i llcípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridadesrìrr('itrnais devem procurar promover a internaltzaçã,o dos custos ambientais('() Lls;o de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse

;rtiblictl, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais").(Jrraltttl ao Princípio 15, acha-se expressamente consagrado na filosofia querrrspirou a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Cli-rrut, de 1992, e o Princípio 16, em todas as Convenções que instituem a res-

lx)rìsabilidade pol danos ao meio ambiente, ro regime da responsabilida-tlc pot' risco, responsabilidade objetiva.

Por outro lado , há, princípios que, tanto no que respeita ao meioItrttl'riente, quanto à proteção dos direitos humanos, são autênticas soft law;It c|r'adicação da pobreza, o reconhecimento de diferenças entre países in-tltlstrializados e países em vias de desenvolvimento - para fins de dife-rclìçiÌl-as responsabilidade que cabem A uns e outros -, o direito ao de-sclìvolvimento e, sobretudo, "o direito dos seres humanos a uma vida sau-tlrivel e produtiva, effi harmonia com a natureza" (Princípio I da Declara-ç'rÍo do Rio).

t)ltiI' I I o,\' lllt/rl,lNí/,ï l"' /'ll,;l(),411lil l, N I l'

v lN t'lili.tÌlit,AÇ0li^\' l)0 t)ililiil'} IN'l'lilÌNAcl0NAl, l)0 lvllil0 lMlìlliN'l'li, (;0Ìv'l

AS N0llMAS IÌUl'ElÌ"ÌlACl0ÌIAIS DIi PR}'fliÇA) /l0S Dllllil'l'05' llllMAN0,\'

COM P LliAL E Ì..i'I'AIÌI DAD E Ii CO Ì,,1 F I. I 1'OS

Acreditamos que os relacionermentos entre o Direito Intcl'tìitciolutl tlo

Meio Ambiente e os Direitos Humanos devam ser iÌniÌlisaclos iì lllrrlil'tllrconstatação do fato de que as normas daquele e destes pertenccrÌl Í.t sullsis-

temas distintos e bem definidos, e que, portanto, não são recipt'ocitlttcltltr

redutíveis um ao outro. Se bem que ambos os subsistemas tenhaln Í'ilrtrli-

dades gerais de proteção ao ser humano e tudo o que diga respeito uofi

valores de referência à vida humana- adjetivada como "setudítvel", {)Lt "otÌì

equilíbrio com o meio ambiente" ou, ainda, sob o prisma de umiÌ visuali-

zaçáo dita "sustentâvel", que busca integrar a idéia de desenvolvimeltlo c)

respeito ao meio ambiente -, e, por tais aspectos, possam ser consideritclos

gêmeos, não se pode negar a existôncia de reais conflitos, quando sc colì-

sideram finatidades mais imediatas das normas de um e outro subsistcnìlt.

Da mesma forma como negamos um reducionismo dos Direitos Flumiltlos

ao direito à vida, igualmente negamos que as normas de proteção do mcio

ambiente, domóstico ou global - relembrando que, na atualidade, a tenclôlt-

cta é não distinguir meio ambiente local, submetido à jurisdição exclusivit

de cada Estado e outros a ele exterior -, se dirijam unicamente à prclteção

da vida humana, esta entendida como um valor abstrato e sem referencial

a outras formas de vida e do mundo material que a cerca. Afastamos, tÌs-

sim, hâ visão de um antropocentrismo unidimensional, ou seja, o posicitl-

namento de que as normas do Direito Internacional do Meio Ambiente sL)

encontrem, com exclusividade, dirigidas à proteção da existência e da qLla-

lidade da vida do ser humano, mas antes, preferimos um enfoque de umit

antropologia solidária e mais realista, dirigidas à proteção de qualquer

forma de vida, bem como de outros elementos inanimados, naturais ou

artificiais, que compõem o meio ambiente, no qual os fenômenos da bios-

fera se inserem.A p arttr da emergência do Direito Internacional do Meio Ambiente,

o próprio conceito de "natuteza" tem sofrido um reexame. Segundo o pen-

samento tradicional da denominada civilização ocidental, ela tem sidcr

concebida como uma exterioridade ao ser humano, algo que se coloca em

contraste com a realidade humana, e que necessita ser transform ada,, se-

gundo as necessidades e desejos do homem; a paftir de tal "Weltanschau-

urÌg", a interação entre o homem e a natuteza tem sido feita a partir de

atitudes de aproprtaçã,o - definições de relacionamentos com espaços e com

Page 14: Dh e meio ambiente

Iurlr' (lut'tìt'lt'st'('n('onlr;r, ntt'lusrvL'('()nì setcs ltulìì1ilì()s, (lur) ('oltvivctìì c()tÌì

:r rt;rlru('2,:r, tlr' nriutcilt rl il'crt:rìlr:, ('(luLÌ. assirtt, siro subjugrìclos , dc co-rrlrt'r'nrìt'ltlo tlrts rrÌgrrs (lr.rc l)r'csirlcrrr () rììturclo l'ísico e de claborarção de té,c-

rìrr'rrs tlt'rrtt'llror intcrlrgir c()rÌì iì cxloliot'icladc - o papel da ciência e da tec-rrolol irr, rs rlruris, crìì r-lu'as hipriteses, colocam o questionamento de seus

r('sullrrtlos tluiìrìto ìr clcstruiçãcl de um equilíbrio entre o meio ambiente e oIrrrrrì('rìì (-), sol-r'ctudo, com er falsa presunção de que a natureza não temlrrrrilr:s c1r.uÌrìto ìr açãcl humíÌna no que respeita sua transformação, dado um:rlt'trrtlo pocler ilimitado de reciclagem e de reposição automática e mági-t'r tlr: clcrttcntos e recursos destruídos ou radicalmente modificados. Den-lro tlr: lll ospectro de valores, tudo o que dtzta respeito à natureza, enquantot'rlcrioriclacle ao homeffi, deveria ser transformado: no que concel'ne às flo-rt'slrrs ltovoatdar de lobos e outros animais perigosos ao homem -, trans-ltl'rìì()rr-sc em "selvagem", sinônimo de "ainda não domesticado" - razáopt'llr (lurìl os seres humanos, que as habitavâffi, foram tratados como ani-rruris or.r plantas e desrespeitados na sua maneira diferente de viver -, e oli'itr) l)ola engenhosidade humana - em modificação da natureza -, ou seja,( ) "rìr'l il'iciiÌl", o construído, pASSou a ter precedência sobre o "naturã1" , otlrrtlo; o que era tocado pelo interesse humano, ou seja, o domesticado, foi('nì lrrclo conservado e melhorado, e o que continuou a depender da nature-'/,ít intocada pelo homem seguiria o curso natural, enquanto o homem nãovicssc alterar as condições dos respectivos hábitats - com o conseqüente('( )rì Í'i namento de seres humanos, animais e plantas, considerados como"solviÌgens", em territórios cada vez mais reduzidos e delimitados, comoos clenominados "parques nacionais" ou "reservas indígenas".

Conquanto se deva reconhecer que "natureza", entendida como ex-tcrirtridade ao homem, é um fenômeno que sofre igualmente a atuação

hrrmíÌna, e, portanto, ã "natureza" que nós, indivíduos da virada do séculoXX, conhecemos, não é a mesma dos primeiros pensadores gregos, que a

"clescobriram", mister é admitir uma oposição subjacente entre "civiltza-çlto" e "natureza", que permeia toda a história do homem ocidental. Portcr dominado a história - pelo menos em termos de valores majoritariamen-tc vigentes na atualidade -, os valores de denominada civihzaçáo ociden-lal, igualmente dita "cristã", que se baseiam nA prevalência do valor de

tr-ocit dos bens retirados da natureza, acabaram por afastar outros valores,corrÌo aqueles que atribuem àqueles mesmos bens um valor de uso e frui-

çao, e tal fato, porque estes se configuram como geradores de menor efi-ciêncizr na transformação do meio ambiente, embora aquele modo de vidarcpresente uma filosofia de melhor preservação ambiental e de uma vida

l)llil I I ()," lltt,ll,lA/(/,\ l',lll,,l0 l,lll;l I' tt I I

Itrutìluur L)tìì luu'ntortitr ('()rìr t:1,1 "'. llrrr llru licul:u, l itlc'ilr rlt: (lu(' () lrorn('nl

lrcr-tclìco ì ltattn'cr,ít' rì() sr:rtlirlo clc (lr,tc a cll clcvc ollr:rliôrrci:r (' r'('sllt'ilt) ;rs

sLu.Ìs rcgras, salvo honr'osr-Ìs oxccçfios, l)iìr'rÌ cillu- rÌlxirìrÌs Slo lirlrrcist'o tlt:

Assis oLr uul itntropólogo corno o paclrc 'l'oillard clc (lhul'clin "', c:slrrvt: rrlsente no pensamento ocidental dominante ató nossos clius, c()n(luarìlo, tlcstlt:

o Íìnal do século XIX jâ se tinha consciência de que as leis cla [rioslcll rìir()

versam sobre uma realidade material física, composta cle clcnrcntos irrrrr

táveis e fungíveis, e que a vida tem uma fragilidade ( umíÌ inl'ungibilitllde, que em tudo repelem a utrhzação predatória e suÍÌ completa substitui

bilidade que a ciência e tecnologia dos materiais lhes pretendam irnpt)r''r0.

O fato é que a natureza principiou a mostrar os resultados de scr ll'a-

tada como um ser inexaurível. face ao crescimento industrial ern nívcis cx

ponenciais e sua expansão por todas as partes do mundo. Na verdacle.' u in

trodução de novos elementos químicos - agrotóxicos - cada vez mais l)r'r)-

38. Tal concepção é a úrnica existente nas civilizações ditas primitivas, como a clos inclígr:rurs

americanos, clos aborígenes daAustríiia, e Nova Zelãndta, das populações autóctoncs uÍì'ic:r

nas. Registrem-se, igualmente, concepções semelhantes em teorias hinduístas e no taoísrrro

Vejarn-se as aclmiráveis sínteses nos seguintes capítulos do livro coordenado pelos proÍcsso

res Charalambos Apostoliclis, Gérarcl Fritz e Jean-Claucle Frrtz, do Centre cl'Étuclcs ct ttr:Recherche Politiques (Cerpo) da Universidade de Dijon, L'Humanité Facc à ltrMondialisnliort, Droit des Peuples et Environnernent, anteriormente çitada: Gérard Fritz. r:nr

"Les Peuples Incligènes: Survivance et Défi", pp. 35-54; Giulio Girarcli, "Capitalisme, Écclcirlc,

Génocide: Le Cri des Peuples IndigèneS", pp. 55-71;e, sobretudo, Jèan-Claude Fritz, "l,r:Développement corìlne Systèrne de Dornination de la Nature et çles Honmes", pp. 87-l I l.

39. O pensamento do padre Teillard de Chardin, SJ, tem sido criticado pela ortodoxia clo Vatica-no, corno perigoso, pois à vista do racionalismo aristotélico-tomista prevalecente no oÍìcia-lisrno dominante, conduzirta a um panteísrno, no qual criador e criatura (nela compreenclicla

os seres não humanos), não estariam diferençaclos. De nossa parte, acreditamos que a scric-clade e a complexidade cla análise teillardiana repelem um julgamento de tal sirnplicidaclc!

40. Mesmo a biotecnologia anirnal ou vegetal, que tenta produzir em laboratório animais e plan-

tas, deve partir de um ser criado, tal como se encontra na natureza, mesmo que profunclu-

rnente transformado pelo homem; ainda não se chegou ao estágio de produzir, de modo to-talmente artificial, uln ser vivo em laboratório, pela combinaçío invitro de genes puros, exis-tentes fora de seres vivos, como se procede, correntemente, na química orgânica ou inorgâ-nica, coln os componentes inanimados da nattreza. Por tais motivos, as novas obtençõcsvegetais e de animais não podem ter o mesmo regime de proteção da propriedade intelcc-tual, na forma cle patentes, que se reservanì para invenções ou descobertas no mundo dos sercs

inanimados, feitas, em princípio, ex nihilo. As normas de Convenção sobre a DiversidaclcBiológica, que tornarn os recursos genéticos urn patrimônio comum da humanidade, serianr

totalmente absurdas, no que se refere aos componentes das experiências que a química ou rÌ

física realizarn em laboratório! Veja-se o capítulo do professor Gérard Frrtz, "ScienccUniverselle et Cultures des Peuples" na citada obra L'Humanité .face à Ia Mondiali,çatiottpp. I l3-130 e os estudos contidos em Philippe Kahn e Jean-Claude Fntz, coordenadores clc

La Ge.s'tion des Res,souru:e,s' Naturelles d'Or"igine Agri,cole, Paris, Librairies Techniques, 1983.

Page 15: Dh e meio ambiente

;utf tt'uris Ìr lriosl't:l'lr', c()nì lnììlt "vitllt rrliva" crttlrt vc'/, Itu.tis l)t'()loltglttllt., clt-:

nr;urt:inr l)r'()l)()fiitltllì ()u c()rìì() r.osultaclo clits;ttiviclaclos inclustriais con'iclttci-

urs ()s t'csírluos irrclrrstriiris corrcntcs o itclucles nLrcleares, estes, altamente

rorrizrrrrlcs rlrrs c:ólulas vivas -, iÌ clestruiçao de hírbitats inteiros, por uma

r('u rrr u lrrçlÍo rn i lonar dc resíduos deliberadamente lançados nas águas do-('f's ('srrlgucllìsar,, u destruição voluntârta de florestas inteiras ou a modifica-

çrì() ru't il.iciul clc sLrÍ.r composição, a utiltzaçáo de gases prejudiciais à cama-

ttrr tlo ozônio o iì estabilidade do clima terrestre, são fenômenos por demais

('otì('('tì(l'irclos e de tão grande magnitude, que escapam a qualquer capaci-

tlrrtlr: rlc rcciclagem da Terra, pelo menos nos moldes em que seus mecanis-

rìì()s clc:rutoconservação se encontram conhecidos - dos quais, a maioria,

1rr'lt) rììotìos nos dias atuais, fogem por completo ao controle direto do ho-

rìì(ìrìì. crì'r especial, o desaparecimento insubstituível de espécies animais ev('l',(:llis, com suas conseqüências imprevisíveis na corrente geracional dos

s('r'r's vivos interdependentes do planeta, os quais, uma vez desaparecidos,

rìr() llorlorn, em definitivo, ser recriados de maneira artificial.I'or-tais aspectos, o Direito Internacional do Meio Ambiente vem a

s('f' r.nÌì corrìplemento aos Direitos Humanos , flã sua formulação do direitoìr virlu., com ou sem qualificações, corno bem demonstram os relevantes

t'sturlos teciricos reunidos no recente livro editado sob a coordenação da

lrol'ossora trdith Brown Weiss, Environmental Change and Internationall,ut,: Ìr,lcw Challerlges and Dimensionsaz, effi especial os eruditos capítulos

tlos ltrofessores Alexandre Kiss ('An Introductory Note on Human RightIo I,,nvironment",pp. I99-204), R. S. Pathak ("The Human Rights System

rs rr Conceptual Framework for Environmental Law", pp. 205-43) e A. A.('unçado Trindade, da Universidade de Brasília ("The Contribution of In-tcntational Human Rights Law to Environmental Protection, with Special

.l | . Os mares e oceanos, sempre tidos como uma lixeira inesgotável da humaniclade, principia-riam a rnostrar sinais de exaustão, em especial após a ocorrência de catástrofes ambientais,

corn derramamentos acidentais freqüentes de substanciais volumes de óleo, por petroleiros

superdimensionados, criando problemas nunca dantes imaginados pela engenharia de lim-peza do meio marinho. A eficiência na diminuição dos custos internacionais de trânsporte

cle petróleo e seus derivados, por superpetroleiros, parece indicar que não haverá, tão cedo,

ulna reversão da tendência de diminuírem-se os riscos com seu transporte intemacional. Se

o sisterna da responsabilidade objetiva tem o poder de prover recursos fìnanceiros para a

lepatação dos danos arnbientais, tem, contudo, o efeito de banalizar os riscos, dada a instau-

ração de um eficiente sistema de seguros e garantias financeiras, com um certo abandono de

atitudes de prevenção de acidentes e catástrofes ambientais.tI2 Tóquio, United Nations University Press, editado emHong Kong por PermanentTypesetting

ancl Printing Co., Ltd., 7992.

lìllil,'I I (),\' llllll,4N(),\' l, Ãll,,lo,llllll l, N I'1,,

IÌcf'cr'orìco lo (ilollll llnvironntcrtlrrl ( llrlrì11c"., l)l). 244 .ì l2). Nrr v()t(lltlr',otÌ-ì vlil-ios toxlos nor'tÌlutivos clo l)ircittl lrttcr'rìiÌciorutl rlo Mcio Artrllicrtlc',

hír rcfcrôncias cxpressas ao direito à vida c u unl rnoio rÌr'ìltrionlc suurllivcl,

cuja expressão mais moderna, direta e cleÌrÍÌ, é o rrìencionuclo l'r'inc:í1lio I

da Declaração do Rio, anteriormente transcrtto.

Neste particular, mesmo que se postule uma visão de um ÍÌntro1-rt)corì

trismo unidimensional e egoísta, que não é a nossiÌ, segundo a clual lutve-

ria um único subsistema no sistema jurídico, representado pelos I)iroilosHumanos, então, as normas de proteção ao meio ambiente seriam its rnuis

importantes, uma vez que delas depende a existência mesma do ser hurììa-

ilo, e qualquer conflito entre elas e outras do mesmo subsistema seria rc-

solvido com a precedência daquelas - ou, em outras palavras, uma afir'rnrì-

ção da superioridade hierárquica das normas de proteção ambiental', lx)r'sobre as de proteção aos direitos humanos e às liberdades fundáÌmentais.

Contudo, tal simplicidade não é o que parece existir: há dois subsistern:rs'

como já referidos em nossa visão: dos direitos humanos e Ca proteçlto

ambiental, ambos com valores autônomos e de grande relevância para ohomem, e que, flo entanto, podem entrar em colisão.

As intersecções entre direitos humanos e proteção internacional clo

meio ambiente são significativas, effi especial, com as ligaduras ao direitoà vida, conforme aponta a doutrina mais atual: as Declarações de Estocol-

mo (Princípio 1) e do Rio (igualmente, Princípio l, anteriormente tmns-

crito), a Carta Africana dos Direito do Homem e dos Povos de 1981, no

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, oo Pacto Internacionalsobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. L2-2-b,..."melhoria de

todos os aspectos do meio ambiente...higiene") e em vários outros iÌtos

normativos internacionais multilaterais - como as convenções que consiÌ-

gram o conceito de patrimônio comum da humanidade, tais a Convenção

das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, adotada em Montego Bay,áÌ

1982, ou da Unesco relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e

Natural, adotada em PariS, â 1972, o conceito de direitos intergeracionais,

como a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,assinada em 1992, ro Rio, e aquelas que reconhecem a efetiva contribui-

ção de outras formas de civilizaç'ao, na preservação do meio ambiente,como a Convenção sobre a Diversidade Biológica, Rio, L992. Na doutrinir

dos autores dedicados aos direitos humanos, contudo, apontam-se as diver-gências: (a) professor A. A. Cançado Trindade, ao comentar os resultadosda I Conferência Europóia sobre Meio Ambiente e Direitos Humanos, de

I979,, assim os arrola, verbis: "direitos de livre circulação, de escolha de

Page 16: Dh e meio ambiente

o (:tN(ilttiN I'1"'N,ltito I't,l t)li(;l,,4ltÁ(,:,,1o ltNll'l, li,\'Á1, /)í/,ï l)llilill'0,\' l)o ll0^ll,Al

t('sitlôlrc'i:r, r.: lr t)r'();r'ictlrttlc., l'lcc ir rirclts or,r z()nÍts l)t'otcgitllts; tliroilt) tÌo

lr.rrlr:rllro.' l'rrcc ir rnctliclas rlo cornbittc à poluição; dircitos à igualdaclc, l'itce

:r tlispnl'itlirrlcs clc nrcdiclas administrativas dirccionadas iÌo meio ambien-

lr'; libcrclaclc clc associaçho, Í'iÌce ÍÌ meclidas contra iÌ poluição; direito a

('()lrstituit'utììa lamília, f itce it medidas de controle da população; o direitorrrr tlcsctìvolvirncnto e lazer, face a medidas de conservação da natureza"o3;

trurlo o l)l'ol'ossor Alexandre Kiss, quanto R.S. Pathak, igualmente apontam

utììlì cstl'iclcnte oposição entre os denominados direitos humanos de tercei-

rr ltcrlçiir), crn especial, o direito ao desenvolvimento, effi todas as suas for-nr;rs, irìclrrsive aquelas ligadas ao crescimento industrial - em sóculos an-

tc:rit)r'os, atividade responsável pelo desequilíbrio atual do meio ambiente

glolrll -_ o iÌs normas de proteção ambiental.

lÌclcmbre-se o que significou a consagraçáo do direito ao desenvol-

virrrt:rìlo., como um dos direitos humanos, iniciado com o movimento in-Ir'uìlc:ional de reivindicações dos países em desenvolvimento, por volta do

ruro rlc 1964, tro foro democrático da Assembléra Geral da ONU e que cul-

rrriluu'iu., dentre outros, hâ instituição da Conferência das Nações Unidas

solrc (lomórcio e Desenvolvimento, a UNCTAD, a na adoção da Parte IVrì() (;AI'T - capítulo sobre comércio e desenvolvimento, tentativa de tor-rìar':ìs rìecessidades daqueles países, uffi centro de valores a serem respei-

lrrrlos t-ìiÌ regulamentação do comércio internacional , até então um assunto

r.cscr-vado aos países industrtaltzados), movimento esse conhecido como

lcntativas de estabelecimento de uma "nova ordem econômica internacio-nul"aa. Desde aqueles fatos, e após o deslocamento das tensões Leste/Oes-

tc l)ara a confrontação Norte/Sul, âS oposições entre países industriahza-rlos o pzríses em desenvolvimento se tem feito às claras, effi todos os cam-

l)os das relações internacionais, e a fortiori, no campo da proteção inter-rìrÌcional do meio ambiente.

Por outro lado, igualmente relembre-se a gênese das normas internas

o internacionais de proteção ao meio ambiente: as ameaças ao equilíbrioclo meio ambiente como um todo, dados os ataques diretos a elementos de

scLls componentes - animais, plantas, sítios naturais e construídos no pas-

sadcl pelo homem - ou aos respectivos hábitats, provenientes de um de-

43 Apud "The Contribution of International Human Rights Law to Environmental Protection,with Special Reference to Global Environmental Change", em Edith Brown Weiss, editora,

1992, pp. 3ll-312.44 Lirna obra fundamental para a análise do tema é o livro do professor Mario Bettati, Le Nouvel

Orclre Ér,onontique International, Paris, Presses Universitaires de France, l. ecl., 1983, que

tem servido de paradigma a uma vasta bibliografia posterior sobre o assunto.

l)llll,;ll'(),\' llIl/l1,4N(,,\' /i ^ll,:1o

,4^llil l,:N I'1,:

scnvolvirtrortto irtclustriul pussaclo c 1'x'csonto,, al)oiitclt) rìurììlt ciôlrcin c le:r'

nologia unicitmento voltadas iÌ Llrn rÌulÌrcnto do proclutiviclurlo o tlc cl'ic:icrr

cia econômica r) outrunce, Lr um pri,Ìzct medido prlr intcrvalos clo tcrììlx) (luc

não ultrerpasseÌm a 20 ou 30 anosas, e sem olhos piÌriÌ a situaçao arttbiorrtul

- local, regional ou de toda Terra.

Tenham-se presentes as conseqüências da introdução de norÍniÌs clc

proteção ambiental, nos sistemas jurídicos nacionais e nils relaçCles intor'-

nacionais: proibições ou restrições de atividades poluidoras - portantr), cor'-

ceamento das veleidades de os países em desenvolvimento terem um par'-

que industrial que lhes reduza a dependôncia econômica dos países indus-

tnahzados -; obrigatoriedade de adoção de medidas de proteção zÌo mcio

ambiente, em atividades industriais sensíveis ao desenvolvimento dos paí-

ses em desenvolvimento - com o conseqüente aumento dos custos opera-

cionais, e seus reflexos nos preços dos produtos transacionados nas rela-

ções comerciais internacionais -; tentativas de congelar determinaduÌs por-

ções do mundo, até o momento não poluídas e relativamente preservadas,

como as florestas tropicais, sob o argumento de que seriam patrimôniocomum da humanidade e as únicas reservas de sumidouros de gases dele-

térios ao clima global - com uma atitude cínica de dividir responsabilida-

des por sua manutenção entre países que teriam um pretenso direito adqui-rido de continuar a poluir, e países que receberiam royaltie.ç por deixaremque aqueles continuassem a poluir, dentro de uma eventual taxa de futurapoluição a ser rateada por todos os países !.

À vista de tais fenômenos, que mostram uma aguda oposição entre o

direito ao desenvolvimento e as normas de proteção ambiental, torna-senecessário esquemattzar soluções que venham a harmonizar os dois uni-

45. As projeções econômicas tidas de longo prazo não chegam a ultrapassar os citados 20 ou 30

anos, na melhor das hipóteses. Portanto, pensar-se em deveres para com as futuras gerações

passa a ser um aberação para a visão economicista do neo-liberalismo capitalista. Adernais,dada sua idolatria ao culto da eficiência e cla racionalidade, toma por ponto de partida a

assunção cle que as futuras gerações terão melhores meios de enfrentar os desafios de ummeio ambiente degradado, na medida em que herdarem, igualmente, um desenvolvimentoindustrial científico e tecnológico rnais avançado que o atual, inda que causador de desequi-líbrios ambientais agudos. Por outro lado, como se passou na história presente e de outrosternpos, as questões futuras são imprevisíveis, bem como a responsabilidade por resolverquestões pertinentes a cada período histórico, cabe à geração que nele vive! De nossa parte,ademais de considerarmos tal posicionamento incompatível com a própria essência do ho-rnem, em qualquer período histórico, porque anti-ético, é inealista, rnefrcaz e perigoso -porque desconsiderador dos limites de reciclagem que a natureza pode suportar, effi termosde poluição e de destruição de elementos vivos insubstituíveis, que ela propicia ao homem e

que este não tem colno repor ou substituir.

Page 17: Dh e meio ambiente

o ('/N(,ltl,N ll"N llilo l).1 l)1,('l.lli,,l("1() ltNll'/,/i,ï.Í/ /){,,\' l)llil,.llo,\' l)o ltoiiltil

v('ts()s, rnrl)()s tlc: i1'trlI rclcvlltcirr, se.jrr l)lnr ()s lìslrrtlos irttlrrslritli't,ir(los,st'.jrr l)lnr ()s lÌsÍarlos (Ìrìì clc:scnvolvintclrto, os rpllris sc onc:onll'lurr nlÌ tìlcs-

rìrir n;lv(Ì, (prc luììcllçrì rìlu.r l'r'lrgur'., so jrr l)or ltliviclaclcs 1-xrssacliÌs or.r ltclas clr.lc

sL' crìcorrÍr.ultr 1lt'ulicuclas iÌ pt'cscrrtc. O cquacioniÌrne nto das soluçõles pede

ruìì:r ltigir:l nuris conlplcxa, que o sirnples reducionismo de um subsistemer

ir oulro. A oxornplo clo que se tem esboçado, pragmaticamente, nuÌ condu-

çl() tlls ol)osiçoes entre iÌs normas internacionais e internas de proteção ao

rrrc:io arnbicnte e aquelas que regulam a liberdade e a transparôncia nas

r r'lrrçiics conlerciitis internacionais, no contencioso da Org anrzação Mun-rf iirl tlo (lrmércio, eÌ OMC, esta poderia servir de paradigma.Se bem que orrrotlclo clc resoluções de conflitos interestatais de natureza comercial tem

rf rììr tipricidade única nas relações internacionais da atualid adea6, e cujalr.lnsl)()sição para o universo de conflitos direitos humanos/meio ambienterlr:va sor- l'eita com prudência, é inegável uma busca, pelos Estados, nos

Ioros contenciosos e de análise de futuras normas da OMC, de um equilí-lrrio o urrìáÌ interpretação harmoniosa entre as normas de proteção do meiorr rn bionte global e a transparência e não discriminação pretendida para

r(lr.rolus que regem as relações comerciais internacionais, mesmo porquearrrbus são de vital importância para os Estados, que foram e continuarãoir scr' os mesmos elaboradores de ambos os subsistemas, inda que em forosinlcr-niìcionais distintos e com finalidades imediatas diferentes.

W, COÌVCLT]SOES

Se existe um perigo no reducionismo dos Direitos Humanos ao di-rcitcl à vida, outro perigo representarra centrar o universo do Direito Inter-rìiìcional do Meio Ambiente, na proteção da vida humana, naquela atitude(pre denominamos de antropocentrismo unidimensional. A atitude que jul-gamos mais adequada, no equacionamento das oposições entre direitoshumanos e meio ambiente, e que denominamos de antropocentrismo soli-

46. Iìelembre-se que existe, na OMC, um procedirnento diplomático quasi-judiciário de soluçõescle conflitos cle natureza comercial entre Estados, ao final dos quais, existe a possibilidadecle irnposições de sanções cornerciais ao Estado infrator, representadas pela concessão de

favores unilaterais ao(s) Estado(s) vítima (s), que, antes de legitimados, se encontram proi-biclos pela cláusula de nação mais favorecida, por representarem discriminações de um Es-

tado em relação a outros. Veja-se, do professor Celso Lafer, "O Sistema de Soluções de Con-trovérsias da Organização Mundial do Comércio", em Docuntentos, Debate,ç, E,ytudos, SãoPaulo, Instituto Roberto Simonsen, CNI, Fiesp, Ciesp, Sesi, Senai, IRS, 1996, # 3.

cllil'io r:otìì oull'lts lol'lììls rlc virll c c()rìì clcrnclrlos ilurnilrr:rtlos tl:r rr:rlult:7,ír, ponuitc otttl'o l)osiciorìiìrììcn(o, plu'tindo-sc clas c()tìsiclol'açfir:s soll'r: ;t-q

necessidade de regulamentar o meio ambiente e cla nccessiclaclc clc utìì I'c

posicittnartento ético do atuitl honrc super-oecortorrric u^r, reclcscìobrinrlo-sr:

lhe suas verdadeiras dimensões humanas - em que iÌ eficiônciu cconônricrr

imediata é uma das várias características humanas, nem menos, notlì lnaisimportante que outros valores como o ético, o sentimental, cl dc rcsllcilo lr

outras formas de vida, em particular de seres humeÌnos exóticos, quc sc rLÌ-

cusam a viver conforme o modelo da eficiência econômica do libcralisrrrocapitalista, este sim, selvagem, mas que são atualmente vivos, j untalncnlr:conosco, com nossa mesma dignidade e todos os demais seres humanos drr

próxima geração. Parece-nos fundamental reconsiderar que, em que l)csirÌ

o crescimento econômico atual do mundo e a pretensa transformação rllrnatureza exterior pelo homem, este ainda guarda, como instinto pr(lprio rlcsua espócie, a preocupação com sua progênie, de maneira tão fundíìfflotì-tal, com a sobrevivência dos atuais indivíduos de sua espécie. Mistu' ó

reconhecer-se, juntamente com uma equipe de pesquisadores da Universi-dade de Dijon, que

nosso século é um dos raros na história do mundo a atribuir tão pouco interesse ao Í'utu-

ro de seus filhos e a tão pouco preocupar-se em transmitir-lhes um "lrìundo lnelhor",estando prestes, ao contrário, a transmitir-lhes uma situação degradada, corno o Relatti-rio Bruntland bem o anteviu: "a utilização intensiva e seln pl'ecaução do meio arnbicntc:pode traduzir-se eln ganhos, na contabilidade de nossa geração", mas "nossos filhosherdarão as perdas". "Nós emprestalnos o capital ambiental das gerações futuras, senì u

[rnenor] intenção nem [qualquer] perspectiva de reembolsá-loa7.

Em magistral obra de doutrina, resultante de um Colóquio na referi-da Universidade de Dijon, sobre o "Patrimônio Comum da Humanidade:Direito dos Povos, Cultura e Natureza", bem como de outras pesquisaslevadas a cabo naquela Universidade da Borgonh à, e publicada sob a dire-

ção dos professores Charalambos Apostolidis, Gérard Frrtz e Jean-ClaudeFrrtz, L'Humanité Face à Ia Mondialisation, Droit des Peuples etEnvirorlnenrent4s, há três trabalhos que merecem referência, dadas as per-cucientes análises atuais do tema dos relacionamentos entre o homem e íÌnatureza, e que permitem reavaliar as implicações entre direitos humanos

47. Apud Jean-Claucle Fritz, "Le Développernent Durable: La Recherche d'Autres Logiques?",em Charalarnbos Apostolidis e/ alii, op. r:it., 199J, p. 194.

48. Paris, Montréal, Eclitions I'Harrnattan e L'Harmattan Inc.. 1991 .

Page 18: Dh e meio ambiente

o (:lN()ltliN I'1,'N,llilo lì,4 l)1,(;l,,lli,4(.;,.1() ttNll'/i/i,\",1 L t)(ì,\' l)ltit,:ll'(),\' l)o u()Ãll'.Âl

('its n()l'nìls ittlc:t'tìllc'iolutis rlc l)r'otcçlto tlo Incli() lurrllictìlc: (ir) clo l)t'ol'ossol'lit rutçois ( )st, tlirs lirrcrrlclaclos IJnivcrsiitlirilrs "Suilrl l,ouis" clo lJruxolas,"f '('ttplr:s r:( lìcosystòrììcs: I'our Sorlir clc I' In.justc Miliou", l)l). 17-28; (b)tlo prol'csfior'('luu'ltlartrlros Allostoliclis, cla Universiclaclc clc Dijrlrr, "LiÌl't olcc'liolt .luriclicluo clc | 'l IurÌrÍuritó", pp. 155- 186; e (c) de um grupo de

I urlxr l ho clc l)os(lu isucklr-os, sob a responsabil idade do Mestre de Conferên-t'irrs. .f c::rrr-( llauclo I-,ritz, igualmente da [Jniversidade de Dijon, "Le| )trvr'lo1l;le rììcrìt l)urable: Let Recherche d'Autres Logiques?", pp . I87 -208.

( ) 1ll'ol'cssol' Ost desvenda, a seu ver, áÌs três maneiras de tratar-se a('('()logiir:

l. A tmclicionetl, que considera a natureza um objeto, uffi cenário,,lrít'ot', tuìì "r'oservatório de recursos" a serviço do homem - seria, na ex-

l)f ('srir( ) clucluole professor, uma shalow ecolog,), ou seja, uma "ecologia de

s r tf )e r l'ic il I iclitdes", na dualidade irredutível homem/nature za, o "dado" ao

Irorrìt.rìì o o "construído" por ele - inclusive a própria definição de nature-'/,;t (' suls rclações de subordinação às necessidades humanas de todos os

Ir'f nl)()s tôrtt prirnazra indubitável ao homeffi, com seus poderes e direi-los tlr::rl)r'opriação, inclusive com um eventual "direito a destruir" ao ladotfrr itt,s' rtlcttrli,.f'ruendi et abuttendi, inerentes ao conceito de propriedade.

'2. I)ut'tir-se de um oposicionismo à noção de natureza-objeto, tradi-t'ir rutl, l)rìr'iÌ chegar-se a dotar a natureza de uma verdadeira personalidade

iur'írf ic:rr n:Ì terminologia daquele professor, uma deep ecology, quer di-'/,\'t, urììa ccologia de profundidade -, concepção um tanto estranha, essa

r l;r rurlu rczLr-sujeito, para alguns sistemas jurídicos, como o romano-germâ-nico'r''., tì-ìiÌs, conforme aquele professor, de aceitação em outros, como dos

lrl IAt0; closcctntados os exageros - dentre os quais consideramos as tenta-

,l() lirtt l:rl sistctna de direitos, no qual se inclui o Direito brasileiro, o máximo que se conseguiulìri tlotlu'o Ministério Público de poderes estabelecidos em lei, de representar o meio ambien-Ir'. ittclusivc coln poderes de iniciativas procedimentais perante a Administração, e proces-srutis pct'ante o Pocler Judiciário. Veja-se a Le i n" J .34J de 24/1/1985 e seu regulamento bai-x:rtlo corìr o Decreto n" 1.306 de 09/Xl/1994, que instituíram a ação civil pública, claramen-Ir: c:rlcucla nas r'la.ç,; actiottç dos EUA.

\0 ( ) cit:rckr I'rof. Ost relata o sucesso que foi o artigo do jurista norte-americano, ChristopherStorrc:, "Should Trees Have Standing? Towards Legal Rights for Natural Objects", LosAltos,('rrlilìil'nia, 19J4, escrito por ocasião de uffr caso julgado perante a Corte Suprema dos EUA,('nt (luc scquóias gigantes e centenárias seriam cortadas, para a implantação de um estaçãotle cst;ui - caso cla Sociedade Walt Disney contra Sierra Club -, no qual Chr. Stone advogara:t lcsr: tlc clue ,.f á que os homens não sabem clefender a natureza, impõe-se dar às árvores o

rfircilo rlc scr partes no processo civill Cit. apud François Ost, op. r:it.,p. 11 e rodapé 3, danr('srìrl pligirur. A tese foi rejeitada por uma minoria de votos na Corte Suprema dos EUA.lÌt'lt'rrrlrrr:-sc, igu:llmeute, outro caso famoso, em que as Cortes federais do Estado de Illinois,

l)l li l'; l I o,\' II I tAl,'lNo,\' l,; Al l,; 1o,1^l lil l,;N I l"'

livus clo rlur'l)orsorurliclaclc.iur'írlica lr clorììorrlos conll)()rìonlcs rlo rrrci() rÌrìì-

bientc., inclusivc ao ;rniprio rneio iÌrnbiente -, tal posicioniÌrnctrto, corn Luniì

forte expressão holística, diríamos panteístiÌ, parte do pressuposto de que

eÌ niÌturezzÌ, tal como o homem, tem um valor intrínseco, o qual deve ser

respeitado e cuja proteção se impõe, a princípio, como um imperativo éti-

co, e, a segurr, como um lmperatrvo jurídico. Isto posto, segue-se que ohomem não mais é a medida de todas as coisas, mas, âo contrário, o ho-

mem é um simples ser vivo, dentre outros tantos da natureza,, e, sendo as-

sim, deve respeito às suas leis, effi virtude de um "contrato natural"; porconseguinte, as leis dos homens devem inspirar-se nas leis da biologiast.

3. Superar-se a atitude de inconsciência latente nos dois posiciona-mentos anteriores, quanto as ligações e implicações recíprocas entre ho-

mem e natureza e focaltzar o conceito de naturezalprocesso, que a consi-dera, não como um objeto exclusivo - perspectiva antropocêntrica egoís-

ta, no nosso dtzer - ou um sujeito de direito em prospectiva - perspectiva

biocêntrica ou ecocêntric a -, mas como um processo dialético, "que colo-ca em relacionamento e em tensão estes dois pólos". Nas palavras daquele

professor : "Poder-se-ia falar aqui de 'meio'. O meio, antes que o meio am-

biente ou a natureza"sz. O meio, ou seja, aquilo que fazemos da natureza e

ern 16/3/19J8, rejeitaram, no caso Amoco Cadtz, os pedidos de indenização deviclos a da-

nos causados ao meio arnbiente de França e formulados em seu favor (perda da biomassa na

zora acidentada), por motivos de falta de locus standing, bem como por tratar-se de uma /?.t

nullius e pelo fato de tais pedidos já estarern cobertos por indenizações pagas a prefeituras,gr upos de vítirnas e ao Estado francês, no acidente com o superpetroleiro Amoco Cadtz. Veja-se a crônica de tal j ulgamento e a bibliografia a ele referente na nossa tese já referida, A,ç Re.r-

ponsabilidades' no Direito Internat:ional do Meio Antbiente, no seu capítulo "Uma Crônicade Desastres e de Litígios Internacionais". Portanto, à vista dos precedentes, parece que noDireito federal dos EUA, pelo menos até o ponto em que estarnos informados, não existe uma

aceitação da possibilidade de conferir-se ao meio ambiente uln locus ,standi processual, ern

que pesem as afirrnações do mencionado Plof. Ost!51. Conforme citações no refericlo capítulo, dentre os expositores cle tais teorias, sem dúvida

bastante atraentes, encontram-se Michel Semes, Le Contrat Naturel, Paris, F. Bourin, l99l(traduzido eln português), e sobretudo, Marie-Angèle Hermitte, "Le Concept cle DiversitéBiologique et la Création d'un Statut de la Nature", em L'Honune, In Nature et le Droit, Paris,

Christian Bourgeois, 1988. O seu mais ferrenho opositor é Luc Ferry, Le Nouvel OrdreÉt:ologique,Paris, Grasset, Igg2.Vicle Charalarnbos Apostolidis, "La Protection Juriclique cle

l'Hurnanrté", em loc. r:i/., sobretudo pp. 158-163.

52. Esta frase do Prof. Ost assim se redige erì francês, no original: "Le milieu, plutôt que

l'environnelnent ou la nature". Note-se que, em francês, "meio arnbiente" se traduzporenvironnentent, existindo a palavra milieu para designar o que circunda, conceito neutro eseln qualquer referencial ao homem. Vejam-se os conceitos do Prof. Michel Prieur, no que

respeita a diferenças entre "meio ambiente" e "ecologia", conforme anteriormente referido:'A ecologia é urna ciência transdisciplinar por necessidade e pelo seu objeto, que é o estuclo

Page 19: Dh e meio ambiente

o (:lN(ìltl"ht l'1"N,'ltit0 l)/l l)li(:1,,4|i,4(,:,1o uNil/t,:ti,\"4t, /)í,,ï t)ttitilt'0,\' t)(ì tto/tt,:^t

() (luc l nitlutL''/,ít I'v, tlc lttis; r,uììr.t cs;lccic tlc "híllt'irlo"., l)irnì l'lrllu' cotìl()M iclrcl SLÌt't'rìs; ou lìl'tuto Lirtour',, r.uìì "irrrbroglio" (lo lurltr t'or,ír o cultura. l'arlrl:utlo, () t)t'ol'cssor Ost c:oloca conlo potìto ccntral dc suiÌs reflcxõles a idéiatlt: lttuniuticlitclc, corn scu horizonte alargadcl piÌreÌ incluir o conceito de"llcl'ltçõcs l'tttut'iÌs", c o reencontro do conceito de "patrimônio", "precisa-

rììorìlo acluilo qLre se transfere de geração a geração" (op. cit., p. 19). A in-Ir:r'iìÇiio cntre os p(llos dialéticos homem e natureza, que não deveriam ja-rnrtis ser dissclciados, mostra que ambos se encontram implicados numalristtiriu comurÌ:

Nao são somente as civilizações, que têrn ulna história, e que são mortais. Os sá-

lrios Iìos cnsinaln, agoriÌ, que a natureza também é histórica, que a vida é uma proprie-tlltrlc irrt;lrovítvcl, e que sua sobrevivência não se encontra assegurada, ainda mais quan-tlo c:lu ó pcl'Lurbada pelo mais turbulento de seus rebentos, que é precisamente a espécieIrrrnurruÌ, (prc pressiona sobre seu devft fop. cit., p.231.

Nas suas conclusões, o professor Ost deixa claro seus conceitos ana-

líl icos c sua construcão de uma éttca

Sc é verdade que aquilo sobre o que falamos hoje, não é uma natureza "natural",rìuts o "tneio", ou seja, o liarne entre a biosfera e a antroposfera, então, é necessário re-t'ortltccer que, por este "meio", somos todos coletivamente responsáveis, empresas,po-tfcrcs púrblicos, particulares e associações lop. cit., p.281.

O professor Apostolidis conclui sua anâlise na mesma linha que oprofessor Ost. Após um competente estudo sobre as necessidades de repen-srtr-se as relações homem /natuteza, e com base numa reformulação do

clas relações entre os seres vivos com seu meio Qnilieu). Cunhada por E. Haeckel em 1866,lirnita-se ela ao estudo das espécies animais e vegetais no seu rneio, (nülieu) com exclusãoclo homern. O Grande Larousse da língua francesa marca bem tal diferença, ao definir a eco-logia colno "o estudo dos seres vivos, em função do meio natural (núlieu naturel) onde vi-vern, bem colno das relações que se estabelecem entre os organismos e o meio (milieu)".Enquanto que o meio ambiente (envirorutenrcnt) leva em consideração o homem no seu meio

Qnilieu) natural ou artificial, a ecologia não se interessa senão pelos vegetais e animais. Adespeito do caráter cientificamente incontestável da ecologia e, considerando que o termorneio ambiente (environnement) tem um conteúdo bem menos preciso, a opinião [pública]procedell a ulna amálgama, conservando o termo científico, e o aplicou, por primeiro, aomovimento de idéias ligadas à proteção da natureza, e, depois, ao movimento político queas prolongaria. Ecologistas se tornaram os representantes militantes da defesa do meio am-biente (environnenrcnt), o que deterrninou os cientistas a se desvencilharem de uma usurpaçãocmbaraçosa, ao se autodenominarem "ecólogos". (Droit de l'Envirorutentent, Parts, Dalloz,1984, p. 3, em tradução livre e com itálicos, aspas e parênteses por nós adicionados).

I,l li I,,l I o,\' ll I I /rl,4No,\' l,: ^l

l,; lo,4/'l lil l"'N I l,:

r:olìcoito clo "lìutììtuìiclnrlo"., corìcltri (luo tal l'clttciolu.ttttotìto ltiÍo tlovc l)ilt'

tir, com cxclusiviclacle, notn do clbjeto do pcnsarncnto (it rritturozit)., ltettt tlo

sujeito (cl homem), meÌs de uma relaçãcl dialética (cliríutttos, tììostÌro,

simbiótica) entre o homem e a niÌtureza (p. 167), melhor dito, tìit colìtracli-

ção que une os dois pólos, essencialmente um monlentunt, e que retint o

caráter de abstração que existe no conceito de "humanidade", piÌra consi-

derar as interações entre, de um lado, o ser humano, e de outro, iÌ niÌtut'or;l" jâ hum antzada"; na verdade, as oposições homem lnatureza devem sct'

vistas ,, flà nossa leitura daquele pensamento, como um esmuÌecimento erì-

tre o "dado" e o "construído pelo homem", tendo em vista que inexistit'iu'no mundo real, uma "natureza" intocada pela ação do homem e que cstiì

seria, no fundo, o resultado de uma sua simbiose com o homem.

A equipe chefiada por Jean-Claude Fntz (op. cit., p. 196 e ss.), clLro

reahza uma interessante análise mais de cunho econômico e político clas

mencionadas oposições entre homem/natureza, revela a existência de po-

sicionamentos inconciliáveis, no que respeita ao valor atribuído ao meio

ambiente, em função do modo de representação do mundo e do aspecto ou

elemento que cada corrente considera essencial, do ponto de vista cientí-fico e/ou ético, tomando como referencial o valor de uso, por confronto iÌ

outros valores: (a) o egocêntrico, que parte do "ell", do indivíduo, consi-

derado como um átomo social e a unidade de base de qualquer anâlise; (b)

o antropocêntrico, que se funda na prevalência da sociedade humana e que

reafirma que qualquer atividade cognitiva ou operacional deve visar o seu

bem, mesmo porque existiria uma superioridade inerente da sociedade

hum ana sobre qualquer outro fenômeno da natvreza - ou, numa formula-

ção mais adequada: "a sociedade humana e o resto da natureza"; (c) o

biocêntrico, que parte do pressuposto de que os homens são parte de uma

comunidade de vida na terra, cujos elementos componentes são interdepen-

dentes e originais, nada justificando que haja uma superioridade inerente

dos homens ou de sua sociedade sobre os outros elementos vivos; e (d) oecocêntrico, que se funda numa concepção de um meio ambiente planetá-

rio, a mãe-terra e o cosmos, onde todo o conjunto dos elementos compo-

nentes do meio ambiente, ou seja, os elementos inanimados, as rochas e

minerais, e os elementos animados, como plantas e animais, categoria em

que se inclui o homem, possuem um valor intrínseco, numa inexistente hi-

erarquia de valores.

Ainda segundo aquele estudo, cada corrente comportari a além de um

componente de laicidade, materialismo, uma vertente religiosa de certit

espiritualidade - a qual, quando convertida para o plano da ação, se trans-

Page 20: Dh e meio ambiente

IoI nlr (:nì l)t()Íllltìì:rs l)()lílicos., L'()rìì o rlt)gnìlrtisrìr() c lì vclcitllrrlc tlc sL:t'ctìì

s('tts l)()slrrllutlt:s ()s tirticos rloltos rll vcrcllrtlc., c lr ilnltossiltilicllclc clc sutÌ( ()tìvtvctìcnÌ cotìì otttnts rììLuìclivisõcs. .f unlo ir outrirs lorrnlrs clc rcivinclica-

ç't )('s llolíticlts, os clcl'orìsoros clo rttcio Í.ìrììbicntc, dorìorìl inackls "os ver-cles",

r,,:uìluutì lls c()t"ìollrçõcs cle "vercles/negricicls", reaçõles do mundo do comér-t'io irtlor'rìltcitlltal c clas Í'inarnças rnternacronáÌls, que tentam aproprierr-se das

rt'ivirrclic:uçeios lrela melhorier do meio ambiente global, para integrá-las ao

s('u rtttntclo dos negócios lucrativos, de "verdes/profundos", da hipótese( ilrir, l)lutrctit terra. gigante, organismo vivo - corrente por vezes conserva-t lr rnr, l)lÌssaclista e anti-humanist a -, e os "verdes/radicais", críticos ferre-nlros clu sociedade atual, effi função de sua atitude pouco respeitosa ao meio:unlricnto - com variantes dos eco-socialistas, eco-feministas, e, na vertenterììlrx isttÌ., os "verdes-vermelhos".

Nus sLltÌs conclusões, aquele grupo de trabalho liderado por Jean-('lrrutlc liritz, da Universidade de Dijon, preconrza a necessidade de "umarcrrlrilititçhc-r do político, flo sentido filosófico do termo, com um acento nos

v:rlt)r'os de escolha conscientes, tomando-se a participação e a ação frutotlc: r'cÍ'lcxão como base para a pesquisa de outros desenvolvimentos respei-Iosos clo homem e do meio ambiente"-53.

A nosso ver, no exame dos conflitos entre as normas dos direitosItrutuuros, efl particular aquelas que asseguram um direito ao desenvolvi-tttorìto., caberá às instâncias superiores, dos valores de sobrevivência dat:s1lócie humana, determinar quais dentre aqueles e os valores ambientaistr:r'ão supremacra. Do ponto de vista do Direito Internacional da atualida-rlo, as únicas instâncias que comungam dos universos dos direitos huma-rìos c das normas de proteção ambiental ainda não são aquelas formas maisrtporl'eiçoadas de soluções de controvérsias entre Estados: os tribunais in-

.53 Na verdade, aquele estudo propõe a redescoberta das finalidades a que os sistemas políticossc propuseram, e que devem estar conforme valores que não sejam os dominantes da socie-clade atual, dominada por uma visão de eficiência neocapitalista. Aquele estudo termina portranscrever uln significativo trecho de urn romance de ,ycieru:e .fïction, de Bradbury, por sua

vcz transcrito em um estudo de J. L. Comaroff, assim redigido: 'A democracia, o mercadolivre... vocês realmente pensam que eles nos podern salvar?...O marxismo [era] uma grandeicléia, a democracia apenas uma pequena idéia. Ela promete a esperança e ela lhes clá

Kentucky Fried Chicken!", declara um personagem feminino de origem húngara. Um poucornais longe, um outro personagem filósofo descreve "a nova idade da democracia e do mer-cado livre como a idade da mídia, a idade cla simulação. A idade da não ideologia, somentecla hiper-realidade [...] muito pouco de realidade, também demasiadamente pouco. Por todasas partes, fantasmas selvagens, todo mundo busca uma ilusão violenta t..] E mesmo os filó-soÍos pensam em irrealidades, descrevem um mundo não ético, de não-humanismo, do não-ett". Op cit., p. 208.

ltl li l'.1 I (),\' lll tÀ1.1,^/(/,\' l'; ^ll',1(),ltll

lil l"N I l',

It-:l'turcionLris. Na vcl'rl;.rclc, intclrnccliunclt) os clois sulrsistctììas, rlos tlire ilos

hultranos c clas not'tn:.rs clo protoçitrt ambicntitl, sitlvo u ( lortc llrlcl'tìltciorutl

cle Justiça, com sueÌ competência por demais geral'ta, incxistcltr tl'ilrulltisjudiciários permanentes e com uma competência especiitl cotrÌutrì iì luÌìbos:

os dois tribunais de direitos humanos, o europeu e o zÌmenciÌno, cct'tiuìlolì-

te não têm competência para os assuntos de meio ambiente, e o tribunalespeciahzado em meio ambiente, o Tribunal do Direito do Mar, instituíclo

pela Convenção de Montego Bay de 1982, além de um"Ì competênciiÌ rt:s-

trita a assuntos de Direito do Mar, não tem poderes de julgar zÌssuntos clo

violações de direitos humanos.

Restam, âSsim, flâ solução dos litígios entre Estados, que eventual-

mente possam surgr quanto a um confronto entre os dois subsistemAs, dos

direitos humanos e das normas internacionais de proteção ambiental, os

métodos tradicionais: negociações, bons ofícios, mediação, conciliação o

arbitragem. Destes, acreditamos nós, oS mais adequados continuam íÌ ser'

as negociações, com sua dupla operacionalidade: prevenir situações con-

flitivas, pela elaboração de normas internacionais que possam fazer con-

vergir interesses opostos, e resolver situações para as quais as normas exis-

tentes não conseguem sequer equacionar soluções.

De qualquer forma, âs soluções que venham a integtar, num univer-

so harmonioso, âS normas de proteção aos direitos humanos e aquelas de

proteção ambiental, deverão passar por um reexame das finalidades a que

ambos os subsistemas se propõem: a salvaguarda dos valores da pessoa hu-

mana, e do seu hábitat, que compreende, igualmente, outras formas de vida

e de existência inanimada. Portanto, a nosso ver, tais soluções deverão, pelo

menos e no mínimo como um imperativo de ordem éttca, aplicar os prin-cípios do que temos conceituado como um antropocentrismo radicado nos

valores da pessoa humana, porém solid âno com outras formas de vida , além

da hum ana, e com os elementos inanimados da mãe terra, tal como a co-

nhecemos, no nosso nascimento, e respeitando sua capacidade física de

continuar a ser o hábitat de nossos filhos e irmãos das futuras gerações. Ou

seja, revalorrzar o político, no exame de finalidades maiores, reorientar o

conceito de humanidade para um universo mais englobador, além de uma

visão individualista, e recolocar o conceito de patrimônio comum da hu-

manidade, nas suas dimensões dialéticas entre o homem e a natureza.

54. No que se refere à competência da Corte da Haia para assuntos relacionados ao meio am-

biente, registrem-se tentativas de instituição de Cârnaras especiahzadas, até nossos dias não

reahzadas. Vide referências em nossa tese, anteriormente citada.

Page 21: Dh e meio ambiente

(ì (;lN()ltl,Nll"'N,llil() l),1 l)1,,(;l,lli,l(.;,1() ltNll'l'.\i,\"11, /,(/,ï l'tllil,;ll'o,\' l,() il(ìÀu'Ãt

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f rirrt't'l tlc l:t I'r'utit;uc clu l)t'oit ltrtcnurtioturlc:. Irt: l)ttt'tIY, Múlungcs lìcnó-Jcarì. Iluttuutìté

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I)t'oit lttl<'rttrtliottul à I'Atrltt'tltt XXt'.,\i{"t'lc, IÌ(llctiott,t'rlt ('rxli.l'it'rtlt'ttt',r, Illritt:tl Ntrliolrs,

Ncrv:.t Yot'k, l99l (Salcs tt" E/lì 9J.V.4, ISIìN 92-l- 1335 l2-4), pp. ll3-200.'l'ttti I.Jttn'ro NartoNs CoNpnnENCE oN IrNVtnoNMIaN't'AND l)tivtirot'MtiN'r,'l'ltc I,)l'li'('tìt,('n(,t',s'ttl'

Interrrcttional Environmental Agraament,s, A Survey ol' llxi,rtilt11 Lcgul Itt,s'lruttt(ttl,\', l'clcr'

H. Sand editor, Carnbridge, Grotius Publications Lirnitecl, 1992.

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UNTvERSIDADE DE SÃo Pnulo, Comissão Coordenadora de Atividades Relacionaclas ao Mcio

Ambiente e Desenvolvimento, Meio Ambiente e Desenvolvimento- Forum [JSI'}, Siio l'iru-

lo, Coordenadoria de Comunicação Social, maio de 1 992. Organizadores da cdiçlio: I)r'o-

fessor Dr. Oswaldo Massambani e Profa. Dra. Sylvia Suzanna Campiglia.

ANEXO I

Declaraçal das Ì{ações Unidas sobre o

Meio Ambiente Humanq Estocolmo, 'l 97255

A CoxFERÊNCIA DAS NaçÕns UxmAS soBRE o Mpro ANasrcNrE HuvrnN<>,

Tendo-se reunido em Estocolmo, de 5 a 16 de junho de L9J2, eTendo considerado a necessidade de um panorama comum e de prin-

cípios comuns que inspirem e guiem os povos do mundo na preservação e

fortalecimento do meio ambiente humarÌo.

PnoclnMA euE:1. O homem é duplamente natureza e modelador de seu meio ambien-

te, o qual lhe dá subsistência física e lhe proporciona a oportunidade para

crescimento intelectual, moral, social e espiritual. Na longa e tortuosa evo-

lução da raça humana neste planeta, foi atingido um estágio em que, com

a rápida aceleraçáo da ciência e tecnolo gra, o homem adquiriu o poder de

transformar seu meio ambiente de maneira incontâvel e numa escala sem

precedentes. Ambos os aspectos do meio ambiente do homem, o natural e

o por ele criado, são essenciais para o bem-estar e o gozo dos direitos hu-

manos básicos - mesmo o próprio direito à vida.

55. Texto conforme OnIy One Earth, United Nations Conference on the Human Environment,Stocolmo, 5-16 jun. 1972, publicação do Centre for Economic and Social Information atUnited Nations, Ruropean Headquarters, Genebra ( s.i.d.). Em nossa tradução livre.

Page 23: Dh e meio ambiente

l. A l)t'()lc:çtto c lt lttclltol'irt rlo rltc:io lunllicnlc ltrnrìltì(), ctì(lrr:urloItt;ti()l'l)l'tlhloltìlt (lt,tc ltl'ollt o llctìì-osllu'tl()s l)ov()s c tl rlcsotìvolvilÌìotìto cctl-Itírlttic'rl lx)t'ltlcllt pltt'lc., cotìslitui a rÌsl)it'itçuo ut'gcntc clos l)ovos clo rntrnclo

Iotlr ) ('. o tlcvcl' clos ( iovor-rìosi.

.ì. () ltolttcln clcvc constantemente acurrìular experiência e continuarrt tlcscobrit', iltvcntar, criar e progredir. Em nossos tempos, a capacidade doItonìorÌì dc tt'ansfor-mrÌr seu meio circundante, se usada com sabedorra, podelutzcl' r.ì tod<ls os povos os benefícios do desenvolvimento e a oportunida-tlr: rlo ttrclhclrar'a qualidade de vida. Errado ou negligentemente aplicado,() tÌìcst'Ìlo pclder pode causar incalculáveis prejuízos aos seres humanos e

l() lttcio iurÌbiente humano. Vemos, à nossa volta, as crescentes provas dos

tf rutos ciÌusados pelo homem a vânas regiões da terra: perigosos níveis deproluição na ítgua, ar, terra e seres vivos: enormes e indesej âvets distúrbiosrìo o(luilíbrio ecológico da biosfera; destruição e sangria de recursos insubs-litrrívcis; e graves insuficiências prejudiciais à saúde física, mental e so-cial clo homeffi, no meio ambiente criado pelo homem, particularmente norrrcio ambiente vivo e do trabalho.

4. Nos países em vias de desenvolvimento, muitos dos problemasrun[-rientais são causados pelo subdesenvolvimento. Milhões continuam a

vivcr bem abaixo de um nível mínimo requerido para uma existência hu-tìllÌni.Ì decente, privados de adequada alimentação e vestimenta, habitaçãoc cduczrção, saúde e condições sanitárias. Portanto, os países em vias declosenvolvimento devem dirigir seus esforços para seu desenvolvimento,tondo em mente suas prioridades e a necessidade de salvaguardar e melho-t'áìr o meio ambiente. Com a mesma finalidade, os países industrializadosclcverão reali zar esforços no sentido de reduzir os intervalos entre eles eos países em vias de desenvolvimento. Nos países industrtaltzados, os pro-blemas ambientais geralmente são relacionados com a industrialização e

o desenvolvimento tecnológico.5. O crescimento natural da população continuamente cria problemas

para a preservação do meio ambiente, e políticas e medidas adequadasdeverão ser adotadas, quando for o caso, para enfrentar tais problemas. Detodas as coisas no mundo, âs pessoas são a mais preciosa. São elas quepropelam o progresso social, criam rrqueza social, desenvolvem a ciênciae ir tecnologi à e, através de seu árduo trabalho, continuamente transformamo meio ambiente humano. Conjuntamente ao progresso social e ao avançocla produção, da ciência e tecnolo gra, a capacidade do homem de melho-riÌr o meio ambiente cres ce a cada dia que passa.

6. Um ponto foi atingido na história, no qual devemos conformar

l)llil, llu,s' llltil,4No,\' l,; /'ll, l() ,'l/.llill;N ll,

tì()ss:.Ìs aç(lcs, l)or lotlo nluntlo, c()tìì r.ilì't ctritlltrlo ltutis lttrrtlcltlc cltt l'c,lltçtt()

ìrs c:otìsccltiôncias alnlliont:ris clclus. l'cla ignol'âltciit c inclil'cl'ctìçlt, l)()(lt:lttoscáÌusiÌr um meÌciço e irreversível dano iÌo meio alttlticnto tot'rcsll'c tlo tltutl

dependem nossas vidas e bem-estar. Inverszrmentc, atritvós tlo tntt cotìlrcci-

mento mais completo e uma ação mais prudente, poderemos cotìscguit'., lllu'ltnós mesmos e nossa posteridade, melhor vida num meio attrl-riclttc ltutis

consentâneo com as necessidades e esperanças humanáÌs. Existcltt ulttllllts

vistas para a melhoria da qualidade do meio ambiente e peÌriÌ iÌ cl'iação tlc,

uma vida boa. O que se necessita é um estado de espírito entusiírstico,

porém tranqüilo, um trabalho intenso, porém ordenado. Com áì finaliclatlc

de atingir-se a liberdade no mundo da natureza, o homem necessita clc usal'

o conhecimento pafa construir, em colaboraçáo com a natureza, um tttoio

ambiente melhor. Defender e melhorar o meio ambiente para as prescltlos

e futuras gerações tem-se tornado um fim imperativo para a humaniclaclc,

um fim que deve ser visado juntamente e em harmonia com os fins estitbo-

lecidos e fundamentais da paz e do desenvolvimento social e econômico

globai s.

l. Atingir tal fim em relação ao meio ambiente exigirá a aceitação

de responsabilidades por parte de cidadãos e da comunidade, e por empro-

sas e instituições, effi vários níveis, participando todos de maneira justa rìos

esforços comuns. Os indivíduos, effi todas as caminhadas da vida, bem

como as organtzações em muitos campos, pelos valores deles e a soma dt:

suas ações, deverão dar forma ao meio ambiente mundial do futuro. Os go-

vernos locais e nacionais deverão suportar o ônus pelas políticas ambierr-

tais de longo alcance e pelas ações empreendidas dentro de suas jurisdi-

ções. A cooperação internacional, igualmente, é necessária para levantar

recursos a fim de auxiliar os países em vias de desenvolvimento a assumi-

rem suas responsabilidades nesse campo. Uma crescente espécre de pro-

blemas ambientais,seja porque são regionais ou globais no seu alcance,

seja porque afetam o domínio comum internacional, exigirão uma ampla

cooperação entre as nações e a atuação das organizações internacionais no

interesse comum. A Conferência conclama aos Governos e aos povos a de-

monstrarem esforços comuns para a preservação e a melhoria do meio uÌm-

biente humano, em benefício de todos os povos e sua posteridade.

DnclnnaçÃo op PntxcÍptos

E, DecLARA n CoNvIcçÃo Couul,t DE QUE:

Page 24: Dh e meio ambiente

o ('tN(,ltl'Nll;N,llil() l),.1 l)1,:(;1,,,ni,4(,;,,1o ttNl)'1,:ti,\",n, l)o,\'l)llil, ll(),\'l)u ll(),vl,,v

l'r'incí,lt'io I

O hotììotìì lcrtt o diroito l'utrdarnorìtal à liberdade, igualdadc e adequa-

tlits cottcliçocs clc vida, nLlm meio ambiente cuja qualidade permita umavitla dc digniclade e bem-estarr, e tem zÌ solene responsabilidade de prote-

lÌr)t'c lttclhorar o meio armbiente, pAra a presente e as futuras gerações. Alrrl rcspcito, iÌs políticas de promover e perpetuar o opartheid, a segrega-

çiro l'itcial, a discriminação, a opressão colonial e suas outras formas, e atlorttirtitçlul estrangeira, ficam condenadas e devem ser eliminadas.

Princípio 2

Os recursos naturais da terra, incluindo o ar, â,gla,terra, flora e faunao' ospecialmente as amostras representativas de ecossistemas naturais, de-vorìì ser preservadas para o benefício da presente e futuras gerações, atra-vós clc um planejamento ou gestão cuidadosos, quando for o caso.

Princípio 3

A capacidade de a terra de pro duztr recursos vitais renováveis deve

sor mantidà e, onde possível, restaurada e melhorada.

Princípio 4

O homem tem uma especial responsabilidade de defender e criterio-siÌmente administrar a herança da vida selvagem e seus hábitats, que se

cncontram agora gravemente ameaçados por uma combinação de fatoresdesfavoráveis. A conservação da natuteza, incluindo a vida selvagem,deve, assim, ser considerada importante nos planos de desenvolvimentoeconômico.

Princípio 5

Os recursos não renováveis da terra devem ser empregados de ma-neira a serem preservados contra o perigo de sua futura exaustão, e os be-nefícios de sua utrhzação deverão ser compartilhados por toda humani-d ade.

tt,ttil"'I I (),\' lllt/ll,4N(),\' l, /rlliltt,lllltl l"N I l'

l'r'intíltio 6

O lançamento dc substâncias trixicÍts ou do outl'its substâltc:ilts c it li

beraçãcl de calor, em quantidades ou concentraçClcs que cxcccliutt it cÍtl)it-

cidade de o meio ambiente torná-los inotensivcls, devem ter utìl l'iltt, [)tll'ílasseguraï-se que danos sérios e irreversíveis não sejam infligidos itos ccos-

sistemas. A justa luta dos povos e de todos os países contra a poluiçho tlcvc

ser apoiada.

Princípio 7

Os Estados deverão tomar todas as providências possíveis paÌra ovi-

tar a poluição dos mares por substâncias responsáveis por criar perigos ìvida humana, prejudicar os recursos vivos da vida marinha, causíìr danos

aos recursos de lazer ou por interferir com outros usos legítimos do miìl'.

Princípio B

O desenvolvimento econômico e social é responsável por assegurat'

ao homem uma vida benfazeja e um meio ambiente aproveitável, e por criar

condições na terra que são necessárias para a melhoria da qualidade dc

vida.

Princípio I

As deficiências ambientais geradas por condições de subdesenvolvi-

mento e desastres naturais não só colocam graves problemas, como tam-

bém podem ser remediadas por programas acelerados, através da transfe-

rência de quantidades substanciais de assistência técnica e financeira, como

um suplemento aos esforços domésticos dos países em vias de desenvolvi-

mento, e de tal oportuna assistência, quando for o caso.

Princípio t 0

Para os países em vias de desenvolvimento, a estabilidade dos pre-

ços e ganhos adequados em rel açã,o aos produtos primários e matérias-pri-

mas são essenciais à gestão ambiental, uma vez que tais fatores, bem como

os processos ecológicos, devem ser levados em consideração.

Page 25: Dh e meio ambiente

il() (:lNQltl,N ll,'N,llil() l).1 ltli(:l,,,lli,l(,;,lo ltNll'1,:li,\"u /)í/,\ l)nit"'uo,\' t)o u()iil,,v

l)'r'incíltio | |

As ltolíticus urtttricntais clc toclos os Ijstackls deverão enÍ'atizar e nho

crr,rfilu' ol'citos pro.iucliciais ao desenvolvirnento potencial presente ou futu-l'o clos paíscs ctn viits de desenvolvimento, nem impedir de se atingiremnrclltorcs condições de vida para todos, e providôncias apropriadas deve-

r'íro scr tomitdas pelos E,stados e organizações internacionais, com vistas a

r'orìsogtrir-se um acordo sobre como se lidar com as possíveis conseqüên-

c nÌs rìuc ronuÌrs e rnternaclonars, resultantes da aplicação de medidas am-lr ic nl u is.

Princípio / 2

Recursos devem ser tornados acessíveis, a fim de preservar e melho-nìr'o meio ambiente, levando-se em consideração as circunstâncias e os

t'c(luisitos particulares os países em vias de desenvolvimento, e quaisquerctrslos que possam emanar da incorporação por eles, das salvaguardas ao

Inoio ambiente nos seus planos de desenvolvimento, e a necessidade de

Iontar-lhes disponível uma assistência internacional técnica e financeira:rclicionerl a seu pedido.

Princípio 13

Para conseguir-se uma gestão mais racional dos recursos e assimrttolhorar o meio ambiente, os Estados deverã,o adotar um enfoque integra-clo e coordenado em seus planos de desenvolvimento, a fim de assegurar(lue o desenvolvimento seja compatível com as necessidades de proteger ernelhorar o meio ambiente humano, effi benefício de sua população.

Princípio / 4

IJm planejamento racional constitui um instrumento essencial para

conciliar qualquer disputa entre as necessidades do desenvolvimento e a

necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente.

Princípio 'l 5

O planejamento deve ser aplicado aos assentamentos humanos e àtrrbanizaçã,o, com a finalidade de se evitarem efeitos desfavoráveis ao meio

l)llil, lltt,s' llltAl,l/Ví/,ï 1,, ^ll,;lo

,4^llill,,N ll,

luttllicrrlc c rlc sr: olllc:t l)llur lorlos os lttiixirttos lle ltclít'ios sot'ilis, (Ì('()n()

Inicos c arnbicntais. l'um tanto, os pro.jotos, rÌìolivuclos lx)r'r,uììlÌ rlorttirur

ção colonialista tl racistáì, devem ser abandonitdos.

Princípio l6

Políticas demo grâficas, que não prejudiquem os direitos hurrrirrìos

básicos e que sejam julgadas apropriadas pelos Covernos intercssu(los,

deverão ser aplicadas naquelas regiões onde a taxa do crescimento ou rlr:concentrações populacionais tenham prováveis efeitos desfavrlrívcis r( )

meio ambiente ou desenvolvimento, ou onde a baixa densidade da populu-

ção possa prejudicar a melhoria do meio ambiente humano ou impoclir odesenvol vimento.

Princípio 17

Instituições nacionais adequadas deverão ser encarregadas da tarcl'rr

de planejar, gerir e controlar os recursos ambientais dos Estados, com vis-

tas a enfatrzar a qualidade do meio ambiente.

Princípio 7 B

A ciôncia e tecnologra, como parte de sua contribuição ao desenvol-

vimento social e econômico, devem ser aplicadas para se evitar, identiÍ-i-

car e controlar riscos ambientais e para a solução de problemas relativos

ao meio ambiente. em benefício do bem comum da humanidade.

Princípio / I

A educação em matérias ambientais, das gerações mais jovens e dos

adultos, levando-se na devida conta os menos privilegiados, é essencial, ir

fim de alargar as bases em favor de uma opinião esclarecida e uma condu-

ta responsável por parte de indivíduos, empresas e comunidades, na prote-

ção e melhoria do meio ambiente, na sua inteira dimensão humana. Assim,

é igualmente essencial que os meios de comunicação de massa evitem

contribuir para a deterrorrzação do meio ambiente, mas, âo contrário, dis-seminem informações de natureza educativa sobre a necessidade de prote-ger e de melhorar o meio ambiente, a fim de tornar o homem capaz de se

desenvolver em todos os aspectos.

Page 26: Dh e meio ambiente

/,í,,ï l)llil' I lo,\' l)() ll0,lll' )l l,llil ll(ì,\ lllt,ll,lA/í/,\ l' rlll'ltt ,l,llltll'^i ll'

l'rhu:iltio 24

Os assLultos irrtcrnacionais que dizem respoito a protcçiÍo c ltrcllrol'ilrdcl meicl ambiente deverlto ser tratitdos num espírito clc cool)ot'lçuo lx)ttodos os petíses, grandes ou pequenos, em pé de igualdade. A cool)ot'rçrioatravós de convênios multilaterais ou bilaterais, ou de outros meios ul)t.o-

priados, é essencial para efetivamente controlar, prevenir, recluzir o clirrri-nar os efeitos desfavoráveis ao meio ambiente, resultantes de ativiclirclcs

conduzidas em todas as esferas, levando-se em conta a soberania c irrto-

resses de todos os Estados.

Princípio 25

Os E,stados assegurarão que as organizações internacioneris possr.Ìtì'r

desempenhar um papel coordenado, eficiente e dinâmico, na proteção L)

melhoria do meio ambiente.

Princípio 26

O homem e seu meio ambiente devem ser poupados dos efeitos das

armas nucleares, e todos os outros meios de destruição em massa. Os Esta-

dos deverão lutar para se atingir um acordo efetivo, nos órgãos internzrcio-nais apropriados, sobre a eliminação e completa destruição de tais armeÌs.

ANEXO II

Declaraçao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenuoluimento,

Rio de Janeiro, 199256

A CoxppnÊxctA DAS NnçÕEs UxroAS soBRE o Mpro AMsrsxrE E DssBN-

VOLVIMENTO.

56. Tradução não oficial, conforme publicada como anexo, apud Ministério das Relações Exte-riores, Divisão do Meio Ambiente, Cont'brênr:ia das Nações Unidas sobre Meio Antbiente e

De.çenvolvimento, Relatório da Delegaç:ão Bra,çileira, 1992, Brasília, Fundação Alexandre de

Gusmão, Funag, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Ipri. Coleção Relações In-ternacionais n" 16. (Com apresentaçã,o de Celso Lafer).

l''ritu;íltio 20

A l)cs(prisu ciontíl'ica c o closcnvolvirtrento, Ilo contcxto clos problc-rìurri lrrrlliontuis., scia ntÌcional, seja tnultinitcional, devem ser pronìovidos('rìì loclr)s os países, ern particular nos países em vias de desenvolvimento.

St:rrtltr assirtr., o livre fluxo de informações científicas atuahzadas e iÌ trans-

Icrôrrc:iu clc experiência devem ser apoiadas e assistidas, a fim de facilitarrr soluçiìo de problemas ambientais; tecnologias ambientais deverão ser

Iol'narlas disponívpis aos países em vias de desenvolvimento, em termos que

('rìc'orir.jcm suiÌ disseminação, sem constituir um encargo econômico para

()s Iluíscs em vizrs de desenvolvimento.

Princípio 21

Os trstados têm, de acordo com a Carta das Nações Unidas e os prin-c'ípios clo direito internacional, o direito soberano de explorar seus própriosrccìr.n'sos, conforme suas próprias políticas relativas ao meio ambiente, e ã

rrìsl)onsabilidade de assegurar que tais atividades exercidas dentro de sua

.iurisclição não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou a âreas

lìrnr clos limites da jurisdição nacional.

Princípio 22

Os Estados cooperarã.o para o desenvolvimento progressivo do direi-Io internacional, relativamente a responsabilidade e reparação às vítimascla poluição e outros danos ambientais, causados por atividades geradas

clcntro das áreas de jurisdição ou controle de tais Estados, a áreas fora da

.j u risdição deles.

Princípio 23

Sem prej uízo dos critérios que poderão ser eventualmente acordados

pela comunidade internacional, quanto aos padrões que deverão ser deter-

minados em nível nacional, será essencial, em todos os casos, considerar

os sistemas de valores prevalecentes em cada país, e o alcance da aplica-

bilidade dos padrões que são válidos para os países mais adiantados, mas

que podem ser inapropriados ou de custos sociais não garantidos para os

países em vias ,Ce desenvolvimento.

Page 27: Dh e meio ambiente

W

() ('lN(ìlt1;1"1 '1,'N,4lilo

lì,'l l)1"'(;l,,4li,l(,;,1o ltNll'/,/i,\'.,1 I l)o,\' l)llil"'llo,\' l)() ll(ìllll"'il

'l'e rttlo sc: t'(Ìurritlo n() l(io tlc .lltìcit'(), clc .ì lt l4 clL: .jultlto tlc: l()()2,

l{cll'irrruutrlo u l)cclunrçiio cla ('orrl'cr'ôrìcil rlus Naçiics IJIritlus sobt'c

o Mcio Arnbicntc Ilurttiìno, uclotucliÌ crn Ilslocolrì'ìo crrì l(r cle.junho dc 1972,

rÌ llusculrclt) uvatìçal'iÌ piÌftir dela,(lom o objetivcl de estitbelecer LlmiÌ nováÌ e justa parceria global por

rrrcio clo estabelecimento de novos níveis de cooperação entre os Estados,

os sotores chave da sociedade e os indivíduos.'l'riìbalhando com vistas à conclusão de acordos internacionais que

rcspoitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema glo-bal de meio ambiente e desenvolvimento,

Iìeconhecendo a natureza interdependente e integral da Terra, nosso lar,

PnoclnMA:

Princípio I

Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvol-virnontcl sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em

Iriu'lnonia com a natuteza.

Princípio 2

Os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e comos princípios de Direito Internacional, têm o direito soberano de explorarscus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e

dcsenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua

.yurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Es-

tados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.

Princípio 3

O direito ao desenvolvimento deve ser exercido, de modo a permitirque sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de desenvolvimentoe ambientais de gerações presentes e futuras.

Princípio 4

Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambientaldeve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode

ser considerada isoladamente deste.

l,lti l"'l I (),\' lil t/'l,4N(/,ï /i At l,:lo ,.1^llil l,,N I t,,

l'rhu;ípiu ,J

'lìldos os Bstaclos o todos os rndivícluos, corìro rc(ptisilo irtrlisllc:rtsri

vel paraÌ o desenvolvimentcl sustentítvel, devenl c(x)pcrar nu tarcl'u csscrrci

al de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidados nos llaclr'()cri

de vida e melhor atender as necessidades da maioria cla popu laçiio tlomundo.

Princípio 6

A situação e necessidades especiais dos países em desenvolvinrorìlo,

em particular dos países de menor desenvolvimento relativo e daquelcs áuìì-

bientalmente mais vulneráveis, devem receber prioridade especial. Açõcs

internacionais no campo do meio ambiente e do desenvolvimento devcrrr

também atender os interesses e necessidades de todos os países.

Princípio 7

Os Estados devem cooperar, em um espírito de parceria global, pat'l

a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecos-

sistema terrestre. Considerando as distintas contribuições para a degraclit-

ção ambiental global, oS E,stados têm responsabilidades comuns, poróttt

diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade qLle

têm na busca internacional do desenvolvimento sustentâvel, effi vistat das

pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global e das

tecnologias e lecursos financeiros que controlam.

Princípio B

Para atingir o desenvolvimento sustentável e mais alta qualidade do

vida para todos, oS Estados devem reduzrr e eliminar padrões insustentír-

veis de produção e consumo e promover políticas demográficas adequadats.

Princípio I

Os E,stados devem cooperar com vistas ao fortalecimento da capaci-

tação endógena para o desenvolvimento sustentável, pelo aprimoramento

da compreensão científica por meio do intercâmbio de conhecimento ci-entífico e tecnológico, e pela intensificação do desenvolvimento, adapta-

Page 28: Dh e meio ambiente

o ('lNultl;N,',,r,r,,,,, l),'l l)t"'(;1.,,1ti,4(;,lo ttNil'/,'/i,ï,t/ /,í),ï l)llil,:H'(),\' t)o il(ì^u,'^l

ç,it(), (lilttsito LÌ ll:utsl'cl'ôtìciit rlc lcrclìologirrs, irrclrrsivc loclrologilrs tì()vlrs c

I n( )v:ttlot'lrsi.

PrincíNtio 10

A lttolltol' tììÍ.Ìncira de tratar questões ambientais é, assegurar a parti-t'iprrç:to, rìo Itívt:l apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nívelrìr('iorur l, crtclit indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativasr() rttci() utììbicrtte de que dispõem as autoridades públicas, inclusive infor-nurç()Lìs sol-rrc materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem('()rìì() r oportunidade de participar em processos de tomada de decisões.( )s f rstirrlos clcvem facilitar e estimular a conscrentrzação e a participaçãoprilrlicn., c:olocando íÌ informação à disposição de todos. Deve ser propici-rttlo rìccsso cl'ctivct íÌ mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no(luc di'r, l'ospeito iì compensação e à reparação de danos.

Princípio 11

( )s lÌstados devem adotar legislação ambiental efic az. Padrões ambi-t'nl:ris c ob.jetivos e prioridades em matéria de ordenação do meio ambien-It'tl()vcrìì l'cfletir o contexto ambiental e de desenvolvimento a que se apli-('irf ìì. l'irclrões utilizados por alguns países podem resultar inadequados paraoull'r)s, oln especial países em desenvolvimento, acarretando custos sociais(' (-Ì('onôln icos i njustificados.

Princípio / 2

Os listados devem cooperar para o estabelecimento de um sistema('('ortôrnico internacional aberto e favorâvel, propício ao crescimento eco-

rtôrttico c iìo desenvolvimento sustentável em todos os países, de modo a

l)()ssibilitar o tratamento mais adequado de problemas da degradação am-lricttta l. Medidas de pol ítrca comercial para propósitos ambientais não de-vrìrìì constituir-se meios para a imposição de discriminações arbrtrârias ouin.itrsl i lìcírve is oLr em barreiras disfarçadas ao comércio internacional. De-vcrìì sor cvitadas ações unilaterais para o tratamento de questões ambien-l:tis lorur clit.jurisdição do país importador. Medidas destinadas a tratar de

l)r'()blcrtuts iuttbicntais transfronteiriços ou globais devem, flâ medida do

lx )ssívr,l, brrscar'-so crrì um consenso internacional.

l)lll l"I I (),\' lllt/rl,lNí/,ï l' ^ll';l(,,'ltllltl

I' N I l'

l)r'irtr;$tio l,'i

Os Estitdos devem clesenvolvcr lcgislação nacioltal rclltt iva ì t'osl)otì-

sabilidade e iì indeniztrçTro das vítimas de pcllr,rição e outl'os clulros ulnhielt-

tais. Os E,stados devem ainda cooperar de formit expedita c detcrminacllt

para o desenvolvimento de normas de direito internacional itmbiental l'o-

lativas à responsabilidade e à indenizaçã.o por efeitos adversos de clitnos

ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, pí)r atividades clclt-

tro de sua jurisdição ou sob seu controle.

Princípio 7 4

Os E,stados devem cooperar de modo efetivo para desestimuletr ort

prevenir a realocação ou transferôncia para outros Estados de quaisquor

atividades ou substâncias que causem degradação ambiental grave ou que

sejam prejudiciais à saúde humana.

Princípio 15

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precauçãott deve

ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.

Quando houver ame aça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de ab-

soluta certeza científica não deve ser utihzada como razáo para postergar

medidas efic azes e economicamente viáveis para prevenir a degradação am-

biental.

Princípio | 6

Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio , arcar com o custo

decorrente da poluição58, âS autoridades nacionais devem procurar promo-

ver a internahzaçáo dos custos ambientais e o uso de instrumentos econô-

micos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comér-

cio e os investimentos internacionais.

51 . Tal princípio é igualmente denominado "princípio da prevenção", em inglês traduzido com

a expressáo pret:autionary princlple (Nossa nota).

58. Tal fato se expressa com a fórmula, ou princípio do "poluidor-pagador" Qtolluter-pay'sprinciple,, em inglês, ou pollueur-payeur, em francês) (Nossa nota).

Page 29: Dh e meio ambiente

0 (:lNQluiN t'1,;N,1til0 l)A t)l')(:1,ÁltÁ\:,4o ltNl|ililt,\'Á1, /r(/,\' l)llilill'o,\' lt0 lloNlill

I'rinr;ípio | 7

A itvrÌliaçao dc irnpacto ambicntitl, como instrumento nacional, dovo

scr'orìlprcorrdida piÌra atividades planejadas que possam vir a ter impact<r

rìcgalivo considerítvel sobre o meio ambiente, e que dependam de umáì

tlccisho cle autrlridade niÌcional competente.

Princípio 1B

Os Estados devem notificar imediatamente outros Estados de quais-(ll,ror desastres naturais ou outras emergências que possam gerar efeitosrìocivos súbitos sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforçosclovom ser empreendidos pela comunidade internacional para auxiliar os

listados afetados.

Princípio 19

Os Estados devem prover oportunamente, a Estados que possam ser

rrlctados, notificaçáo prévia e informações relevantes sobre atividades po-tcncialmente causadoras de considerável impacto transfronteiriço negati-vo sobre o meio ambiente, e devem consultar-se com estes tão logo quan-

to possível e de boa-fé.

Princípio 20

As mulheres desempenham papel fundamental na gestão do meioambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essen-

cial para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Princípio 21

A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser

rnobilizados para forjar uma parceria global com vistas a alcançar o de-

senvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos.

l)llllill'0,\' llltMAN0,\ li Illilo /ltlltlliN l'li

Princípio 22

As populações indígenas e suas comunidades, bem como oulras co-

munidades locais, têm papel fundamental na gestão do meio ambicntc c

no desenvolvimento, effi virtude de seus conhecimentos e prírticers traclicio-nais. Os Estados devem reconhecer e apoiar de forma apropriada a iderrti-dade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem comohabilitá-las a participarem efetivamente da promoção do desenvcllvimentosustentáve1.

Princípio 23

O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a opres-

são, dominação e ocupação devem ser protegidos.

Princípio 24

A guerra é, por definição, contrária ao desenvolvimento sustentável.

Os Estados devem, por conseguinte, respeitar o direito internacional apli-cável à proteção do meio ambiente em tempos de conflito armado, e coo-perar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.

Princípio 25

A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependen-tes e indivisíveis.

Princípio 26

Os Estados devem solucionar todas as suas controvérsias ambientaisde forma pacífrca, utthzando-se dos meios apropriados, de conformidadecom a Carta das Nações Unidas.

Princípio 27

Os Estados e os povos devem cooperar de boa-fé e imbuídos de um

espírito de parcerra para a rcahzaçáo dos Princípios consubstanciados nesta

declaração, e para o desenvolvimento progressivo do direito internacionalno campo do desenvolvimento sustentável.