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JULIANA ARGENTO DE SENA DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM UMA UNIDADE DE SAÚDE MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro 2018

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

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Page 1: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

JULIANA ARGENTO DE SENA

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM UMA UNIDADE DE

SAÚDE MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro

2018

Page 2: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

JULIANA ARGENTO DE SENA

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS

E COMPLEMENTARES EM UMA UNIDADE DE SAÚDE MUNICIPAL DO RIO

DE JANEIRO

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa

de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia

Farmacêutica, da Faculdade de Farmácia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Ciência e Tecnologia Farmacêutica.

Orientadora: Prof.ª Dra. Nina Cláudia Barboza da Silva

Coorientadora: Prof.ª Dra. Carla Holandino Quaresma

Rio de Janeiro

2018

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Page 5: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e aos amigos espirituais que me ajudaram nessa intensa

e inspiradora jornada.

À minha mãe/pãe e grande incentivadora Maria Luiza Argento, pela dedicação, amor

incondicional e cuidado de sempre. À minha tia/madrinha Marcia pelo apoio, ajuda,

torcida e por ser minha “official translator”. Aos meus avós maternos, pelo maior amor

do mundo.

À minha orientadora Nina Cláudia Barboza da Silva, pela amizade, inspiração,

paciência e ensinamentos. À minha coorientadora Carla Holandino por ter me aceito,

pelo incentivo e ajuda. À estagiária Daiana Condé pelo auxílio na coleta dos dados.

À Diretoria da Farmácia Quintessência, pelo incentivo e apoio nesse projeto ousado que

é fazer um mestrado concomitante ao trabalho. Sem vocês nada disso seria possível,

toda a minha gratidão pela ajuda na realização deste sonho.

À Gerência, aos Profissionais e Usuários da Clínica da Família Assis Valente (CFAV)

por toda a ajuda com as informações, por suas histórias de vida e pelas respostas aos

questionários.

Aos profissionais da área técnica de Práticas Integrativas e Complementares da SMS-

RJ, Helene Frangakis e Dr. Antônio Seixlack, pelo apoio integral a este trabalho.

Aos Professores Thiago Botelho e Adriana Passos Oliveira por terem gentilmente

composto minha banca de acompanhamento.

Aos Professores componentes da banca examinadora por terem aceito fazer parte da

avaliação desta dissertação.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Farmacêutica da UFRJ, seus

professores e funcionários pelo apoio e ensinamentos.

A todos que direta ou indiretamente auxiliaram na realização desta dissertação.

Page 6: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

“Na vida, não vale tanto o que

temos, nem tanto importa o que

somos. Vale o que realizamos

com aquilo que possuímos e,

acima de tudo, importa o que

fazemos de nós!” Chico Xavier

Page 7: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

RESUMO

SENA, Juliana Argento de. Diagnóstico situacional dos serviços de Práticas Integrativas

e Complementares em uma unidade de saúde municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,

2018. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Farmacêutica) – Faculdade de

Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

A aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

(PNPIC), em 2006, e a inclusão de suas modalidades nos serviços do Sistema Único de

Saúde (SUS) representaram um importante passo para a saúde pública. E com esta

inserção, vieram os desafios de implantar e implementar de forma hegemônica e

igualitária estes serviços em um país de dimensões continentais e com realidades tão

diversas quanto o Brasil. Este trabalho tem como objetivos a análise qualiquantitativa da

oferta dos serviços de Práticas Integrativas e Complementares (PIC), identificar o

conhecimento de usuários e profissionais sobre o assunto e promover a difusão do

conhecimento a respeito das PIC. Este foi desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde

(UBS), ligada à Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ). Para atingir

tais objetivos, foi realizado um trabalho apoiado em técnicas de pesquisa social que

incluíram entrevistas com a população atendida na unidade e aplicação de questionários

aos profissionais prescritores da UBS. Foram realizadas 365 entrevistas com usuários do

SUS que evidenciaram escasso conhecimento acerca da PNPIC e da Política Nacional de

Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). Do total dos entrevistados, 66% já haviam

utilizado alguma PIC sendo as plantas medicinais a prática mais usada. O uso do Capim

Limão para o tratamento de insônia, gripes e dores abdominais foi o mais citado.

Percebemos a necessidade de esclarecimento da população em relação a modos de

preparo, interações medicamentosas fármaco-plantas, partes específicas das plantas a

serem utilizadas e a forma de utilização. Em relação aos profissionais, foram aplicados

19 questionários, número equivalente a 22% do total de servidores da clínica e 90%

daqueles habilitados a prescrever medicamentos. Mais de 16% destes informaram

conhecer a PNPIC e as terapias, sendo as Plantas Medicinais a PIC mais conhecida, como

relatado pelos usuários. Somente 10% destes adquiriram conhecimentos relacionados

durante a graduação. Ambos os grupos se mostraram interessados em receber

informações e receptivos às capacitações em PIC. Em relação a Homeopatia foi

Page 8: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

observado que 82% dos usuários entrevistados desconhecem a terapia e 85% disseram

não saber da possibilidade do acesso a consultas homeopáticas pelo SUS. A Antroposofia

não recebeu citação de nenhum dos dois grupos, mostrando um total desconhecimento

dessa PIC na UBS pesquisada. As informações coletadas foram consolidadas e utilizadas

na elaboração de um documento entregue à gerência da unidade como forma de retorno

do projeto para a geração de dados visando à conscientização, informação e melhorias

nos serviços prestados à população, ações previstas na PNPIC e na PNPMF. Além disso,

foi produzido um folheto destinado aos usuários contendo informações acerca das formas

de preparo das plantas medicinais.

Palavras-chave: PNPIC, PIC, Plantas Medicinais, Fitoterapia, Saúde da Família.

Page 9: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

ABSTRACT

SENA, Juliana Argento de. Diagnóstico situacional dos serviços de Práticas Integrativas

e Complementares em uma unidade de saúde municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,

2018. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Farmacêutica) – Faculdade de

Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

The National Policy on Integrative and Complementary Practices (PNPIC)

approval of 2006, and the inclusion of its modalities in the Unified Health System (SUS)

services represented an important step for public health. As a result, challenges have

arisen to introduce and implement services throughout Brazil in an hegemonic and

egalitarian way. The purpose of this study is to analyze, both qualitative and quantitative,

the services offered by Integrative and Complementary Practices (ICP), to identify the

knowledge users and professionals have about them, and to promote the dissemination.

This research has been developed in a Basic Health Unity (BHU), which is associated to

the Municipal Health Secretariat (SMS-RJ). For this purpose, a technical social research

has been conducted, which included interviews with the population assisted by the unity

and the application of questionnaires to the BHU professional prescribers. The three

hundred sixty-five interviews performed with SUS users have demonstrated the absence

of knowledge about the PNPIC and about the National Policy on Medicinal Plants and

Phytotherapy (PNPMF). With regard to interviewees, 66% have already used some type

of ICP, most of which Medicinal Plants. The Lemongrass, used for insomnia treatment,

flu viruses and abdominal pain is the most popular plant among interviewees. It is pivotal

to clarify the population concerning the methods of preparation, herb-drug interactions,

specific part of plants to be used and how to use them. With regard to professionals,

nineteen questionnaires have been answered by 22% of clinic employees and 90% of

employees entitled to prescribe medicines. Over 16% of them have informed to know

PNPIC and therapies, being medicinal plants the most popular ICP. Only 10% of them

have become aware of the issue during graduation. Both groups have demonstrated

interest in further information and have been receptive to ICP training. Regarding

homeopathy, only 82% of users are unfamiliar with this therapy and 85% are unaware

about the possibility of accessing it through SUS. Anthroposophy has not been mentioned

by both groups, which shows a total unawareness about this ICP in that particular BHU.

Page 10: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

Finally, all the information collected has been consolidated in a document addressed to

the unit manager containing data to promote consciousness, information, and

enhancements to the services provided to the population, as per PNPIC and PNPMF

proposed actions. In addition, a leaflet with information about medicinal plant

preparation methods aimed to users has been prepared for future distribution.

Keywords: PNPIC, ICP, Medicinal Plants, Phytotherapy, Family Health.

Page 11: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Organograma simplificado do Ministério da Saúde .......................... 16

Figura 2: Localização geográfica da Ilha do Governador;

Bairro Galeão e Vista da entrada da CFAV (Silva, NCB)

........................

33

Figura 3: A CFAV................................................................................................... 35

Figura 4: Escolaridade dos entrevistados da CFAV ........................................ 44

Figura 5: Ocupações dos entrevistados da CFAV ..................................................... 44

Figura 6: Primeiro recurso utilizado pelos entrevistados da CFAV em caso

de doença

...............

45

Figura 7: Avaliação da CFAV pelos usuários ....................................................... 45

Figura 8: Doenças crônicas prevalentes na CFAV ................................................... 46

Figura 9: Conhecimento acerca da PNPIC e da PNPMF ............................... 47

Figura 10: Formas de preparo das plantas medicinais .................................... 62

Figura 11: Formas de obtenção das plantas medicinais ............... 63

Figura 12: Agrupamento das doenças citadas de acordo com a CID-10 ........ 65

Figura 13: Onde os profissionais da CFAV adquiriram conhecimento

em PIC

...........................

67

Page 12: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1: Marcos para a regulamentação da PNPIC nas décadas de

1980 e 1990

............

18

Quadro 2: Marcos para a regulamentação da PNPIC na década de 2000 .............. 20

Quadro 3: Décima revisão da Classificação Internacional de

doenças e problemas relacionados a saúde (CID-10)

......................

.

39

Quadro 4: Associações entre medicamentos e plantas medicinais ................. 52

Quadro 5: Plantas medicinais mais citadas ........................................... 59

Quadro 6: Plantas mais citadas e monografias em compêndios e

normativas oficiais

.................

61

Tabela 1: Perfil dos entrevistados da CFAV ....................................................... 43

Tabela 2: Uso de PIC na CFAV ........................................................................ 47

Tabela 3: Variáveis na associação ao uso de PIC .......................................... 48

Tabela 4: Relação de mulheres e homens com PIC .............................. 49

Tabela 5: Uso de plantas medicinais e sexo ........................................... 50

Tabela 6: Perfil dos profissionais prescritores da CFAV ................................. 65

Page 13: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

ABREVIATURAS E SIGLAS

AP-1 Área Programática 1

APS Atenção primária em saúde

CAM Complementary and Alternative Medicine

CEP Comitê de ética em Pesquisa

CID-10 Classificação internacional de Doenças – 10ª Revisão

CMS Centro Municipal de Saúde

DAB Departamento de Atenção Básica

FDA Food and Drugs Administration

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

MS Ministério da Saúde

NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família

OMS Organização Mundial de Saúde

PIC Práticas Integrativas e Complementares

PMAQ Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade

PNPIC Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

PNPMF Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

PROPLAM Programa Estadual de Plantas Medicinais

PSF Programa de Saúde da Família

RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais

SES Secretaria Estadual de Saúde

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UBS Unidade Básica de Saúde

Page 14: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

SUMÁRIO

1. Introdução .............................................................................................. 14

1.1 O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil ................................ 14

1.2 O Programa de Saúde da Família ............................................ 16

1.3 Práticas Integrativas e Complementares (PIC) ................................ 17

1.4 A construção da PNPIC e da PNPMF ............................................ 17

1.4.1 A PNPIC .............................................................................................. 22

1.4.2 Homeopatia .............................................................................................. 23

1.4.3 Plantas Medicinais .................................................................................. 24

1.4.4 Fitoterapia ................................................................................................ 25

1.4.5 Programa Farmácia Viva® ................................................................... 26

1.4.6 Diretrizes da PNPIC, plantas medicinais e fitoterápicos ............. 26

1.4.7 A PNPMF ............................................ 26

1.4.8 O cenário das PIC no Brasil e no mundo ............................................. 27

2. Justificativa ............................................................................................ 30

3. Objetivos .............................................................................................. 32

3.1 Objetivo geral ........................................................................................... 32

3.2 Objetivos específicos ................................................................................ 32

4. Metodologia ......................................................................................... 33

4.1 Caracterização do local ........................................................................... 33

4.1.1 O bairro do Galeão ................................................................................ 33

4.1.2 A Clínica da Família Assis Valente ........................................................ 34

4.2 Tipo de estudo ......................................................................................... 35

4.2.1 Entrevista com usuários ........................................................................ 36

4.2.2 Aplicação de questionários aos profissionais ......................................... 37

4.3 Análise dos dados .................................................................................... 37

4.3.1 Categorização das formas de preparo ................................................... 38

4.3.2 Classificação de doenças segundo a OMS ......................................... 39

4.4 Questões éticas ......................................................................................... 41

5. Resultados e discussão ............................................................................. 42

5.1 Usuários .................................................................................................. 42

5.1.1 Caracterização da amostra ...................................................................... 42

5.1.2 Cuidados com a saúde ............................................................................ 45

Page 15: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

5.1.3 Conhecimento sobre as políticas e PIC ............................................. 47

5.1.4 Uso de PIC pela comunidade ......................................................... 47

5.1.5 Relato do uso de plantas medicinais ...................................................... 50

5.1.6 Risco do uso de plantas medicinais ...................................................... 50

5.1.7 Associações de plantas medicinais e medicamentos alopáticos .......... 51

5.1.8 Conhecimento específico de PIC ............................................................ 53

5.1.9 Formas de preparo e obtenção de plantas medicinais .......................... 62

5.1.10 Agrupamento das doenças citadas de acordo com a OMS ................. 63

5.2 Questionários aplicados aos profissionais ......................................... 65

5.2.1 Caracterização da amostra ................................................................... 65

5.2.2 Conhecimento da PNPIC ..................................................................... 66

5.2.3 Conhecimento específico de PIC ......................................................... 66

5.3 Desafio às PIC ....................................................................................... 70

6. Considerações finais ................................................................................ 71

7. Referências .............................................................................................. 74

8. Anexo 1- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ......... 83

Anexo 2- Carta de anuência da UBS ......................................................... 84

Anexo 3- Formulário aplicado aos usuários ............................................ 85

Anexo 4- Questionário aplicado aos profissionais ..................................... 85

Anexo 5- Folheto aos usuários ........................................................... 92

Anexo 6- Diagnóstico Situacional à Gerência da CFAV ......................... 94

Page 16: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

14

1 INTRODUÇÃO

1.1 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) NO BRASIL

O Ministério da Saúde (MS) foi instituído em 1953, pela lei 1920, que desdobrou o

então Ministério da Educação e Saúde em dois: o da Saúde e Educação e o da Cultura.

Inicialmente fora encarregado, especificamente, das atividades até então de responsabilidade

do Departamento Nacional de Saúde, mantendo a mesma estrutura que, na época, não era

suficiente para dar ao órgão governamental o perfil de Secretaria de Estado, apropriado para

atender aos importantes problemas de saúde pública existentes. Com o apoio dos estados e

municípios, o Ministério desenvolvia, quase que exclusivamente, ações de promoção da saúde

e prevenção de doenças, como vacinação e controle de endemias.

O Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) foi

instituído em 1977 pela lei nº 6439, não tinha caráter universal, e atendia aos trabalhadores da

economia formal e seus dependentes em suas unidades. Dessa forma, os brasileiros eram

divididos em três categorias: os que podiam pagar pelo atendimento médico e hospitalar, os que

tinham direito ao INAMPS e os que não tinham condições e consequentemente não tinham

direitos. Em 1961 foi regulamentada a Política Nacional de Saúde, com o objetivo de redefinir

a identidade do MS e colocá-lo em sintonia com os avanços verificados na esfera econômico-

social (BRASIL, 2007).

Na metade da década de 70, com a crise de financiamento da Previdência, o INAMPS

começa a “comprar” serviços da rede pública (redes de unidades das Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde) e privada, e a atender os trabalhadores rurais. E nos anos 80 adotou várias

medidas que o aproximaram de uma cobertura universal, dentre as quais o fim da exigência das

carteiras de segurados. Esse processo culminou com a instituição do Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS), celebrado entre o INAMPS e os governos estaduais

(SOUZA, 2002).

No cenário internacional, neste mesmo período, a Organização Mundial da Saúde

(OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) promoveram em 1978 a

Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em Alma-Ata (Cazaquistão), na

qual expressaram o seu compromisso de incentivar os países membros na formulação,

implementação e regulamentação de políticas públicas referentes à utilização de remédios

Page 17: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

15

tradicionais de eficácia comprovada. Na mesma década, a OMS criou o Programa de Medicina

Tradicional que recomendava aos Estados membros o desenvolvimento de políticas que

facilitassem a integração entre a medicina tradicional, a complementar e a alternativa (BRASIL,

2006b). Como formas de estímulo, foram publicadas as resoluções WHA 29.72 (1976) e WHA

30.49 (1977) as quais solicitavam em seus textos que os respectivos membros desenvolvessem

políticas nacionais para a integração da medicina tradicional ao sistema de saúde de cada país

(OSHIRO et al., 2016).

A 8ª Conferência Nacional de Saúde realizada no Brasil, em 1986, foi um importante

marco, pois nesta ocasião a saúde foi definida como direito do cidadão e dever do Estado

servindo como subsídio para a Constituição de 1988, e assim o SUS começava a se materializar.

A Assembleia Mundial de Saúde (1987), reiterou as resoluções de Alma-Ata e recomendou que

os Estados membros iniciassem programas relativos à identificação, avaliação, preparo, cultivo

e conservação de plantas usadas em medicina tradicional e a qualidade de drogas derivadas de

medicamentos tradicionais extraídos de plantas (BRASIL, 2006b).

A consagração constitucional do direito fundamental à saúde, juntamente com a

positivação de uma série de outros direitos fundamentais sociais, certamente pode ser apontada

como um dos principais avanços da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

que a liga, nesse ponto, ao constitucionalismo de cunho democrático-social desenvolvido

sobretudo a partir do pós-II Guerra. Antes de 1988, a proteção do direito à saúde ficava restrita

a algumas normas esparsas, tais como a garantia de “socorros públicos” (Constituição de 1824,

art. 179, XXXI) ou a garantia de inviolabilidade do direito à subsistência (Constituição de 1934,

art. 113, caput) (SARLET & FIGUEIREDO, 2008).

A atribuição de contornos próprios ao direito fundamental à saúde, correlacionado, mas

não propriamente integrado nem subsumido à garantia de assistência social, foi exatamente um

dos marcos da sistemática introduzida em 1988, rompendo com a tradição anterior, legislativa

e constitucional, e atendendo, de outra parte, às reivindicações do Movimento de Reforma

Sanitária, que muito influíram o constituinte originário, notadamente pelo resultado das

discussões travadas durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde (SARLET & FIGUEIREDO,

2008).

A Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8080, de 19 de setembro de 1990, regulamenta, em

todo o território nacional, as ações do SUS e estabelece as diretrizes para o seu gerenciamento

e descentralização, além de detalhar a competência de cada esfera governamental envolvida

(BRASIL, 1990).

Page 18: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

16

Estão vinculadas ao MS seis secretarias, definidas como órgãos específicos singulares

(Figura 1). A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde

(SAS) e ao Departamento de Atenção Básica (DAB). As Práticas Integrativas e

Complementares (PIC) se encontram neste mesmo nível.

Figura1: Organograma simplificado do Ministério da Saúde (autoria própria)

1.2 O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

O Programa de Saúde da Família (PSF), hoje conhecido como ESF, foi adotado no

Brasil em 1994 como estratégia para contribuir na construção de um novo modelo de atenção

integral à saúde das famílias e organização da atenção básica à saúde no país. Seus objetivos

incluem: a prestação de assistência integral, a domicílio ou na unidade de saúde; intervenção

sobre fatores de risco; humanização das práticas de saúde; democratização do conhecimento do

processo saúde-doença e promover o reconhecimento da saúde como um direito de cidadania

(BRASIL, 2011a).

A ESF se propõe a ser a principal porta de entrada do sistema de saúde público e inicia-

se com ato de acolhimento, escuta e oferecimento de reposta resolutiva a maioria dos problemas

de saúde da população minorando danos e sofrimentos e responsabilizando-se pela efetividade

do cuidado, ainda que este seja ofertado em outros pontos de atenção da rede, garantindo a sua

Ministério da Saúde

(MS)

Secretaria de Atenção à

Saúde (SAS)

Departamento de Atenção Básica

(DAB)

Práticas Integrativas e

Complementares (PIC)

Estratégia de Saúde da Família (ESF)

Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)

Secretaria Especial de

Saúde Indígena (SESAI)

Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Insumos

Estratégicos (SCTIE)

Secretaria de Gestão do

Trabalho e da Educação na

Saúde (SGTES)

Secretaria de Gestão

Estratégica e Participativa

(SGEP)

Page 19: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

17

integralidade. O trabalho da equipe de profissionais e a soma de seus saberes são de extrema

importância para a concretização dos cuidados à população (BRASIL, 2011a).

1.3 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES (PIC)

A OMS define medicina tradicional (MT) como a soma de todos os conhecimentos,

capacidades e práticas baseados em teorias, crenças e experiências próprias de diferentes

culturas, sejam ou não explicadas pela ciência, utilizadas para manter a saúde e prevenir,

diagnosticar, melhorar ou tratar afecções físicas ou mentais. Define ainda a Medicina

Alternativa e Complementar (MAC) como um amplo conjunto de práticas de atenção à saúde

que não fazem parte da tradição nem da medicina convencional de um país e não costumam

estar integrados ao sistema de saúde predominante. O conceito de Medicina Tradicional e

Complementar (MTC) é considerado a fusão de ambos (OMS, 2013). A MTC no Brasil é

conhecida como Práticas Integrativas e Complementares (PIC).

O MS define PIC como práticas de saúde, baseadas no modelo de atenção humanizada

e centrada na integralidade do indivíduo, que buscam estimular os mecanismos naturais de

prevenção de agravos, promoção e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e

seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na

integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade (BRASIL, 2018).

Uma das características de cuidado das PIC está no acolhimento da pessoa adoecida,

sendo que seu cuidado se estende além da discriminação patológica e da intervenção técnica a

um problema pontual precisamente localizado (CONTATORE et al., 2015). Outro aspecto

levantado por Shaw et al. (2006) diz respeito ao potencial destas práticas em conferir autonomia

para os pacientes gerirem parte dos cuidados das suas condições crônicas.

De acordo com Kooreman & Baars (2011), em estudo realizado na Holanda, usuários

de terapias alternativas e complementares têm menores taxas de mortalidade e custos até 30%

menores ao sistema de saúde, dependendo da idade e terapia utilizada. Os custos menores são

resultantes de menos internações e drogas prescritas.

1.4 A CONSTRUÇÃO DA PNPIC

No final da década de 1970, a OMS criou o Programa de Medicina Tradicional,

objetivando a formulação de políticas nessa área. Desde então, em vários comunicados e

resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em estimular os Estados-membros a formular

Page 20: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

18

e implementar políticas públicas para uso racional e integrado da Medicina Tradicional e de

terapias complementares nos sistemas nacionais de atenção à saúde, bem como para o

desenvolvimento de estudos científicos para melhor conhecimento de sua segurança, eficácia e

qualidade. Em 2002, o documento “Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005”

reafirmou o desenvolvimento desses princípios (OMS, 2002). A mesma publicação foi

atualizada para o período de 2014-2023 e tem como foco ajudar às autoridades sanitárias a

encontrar soluções que propiciem uma visão mais ampla a respeito da melhora da saúde e a

autonomia dos pacientes. A estratégia tem dois objetivos principais: prestar apoio aos Estados

Membros para que aproveitem a possível contribuição da MTC à saúde, bem-estar e a atenção

centrada nas pessoas, e promover a utilização segura e eficaz da MTC mediante a

regulamentação de produtos, práticas e profissionais (OMS, 2013).

No Brasil, a legitimação e a institucionalização deste tipo de abordagem terapêutica

ocorreu partir da década de 80 (LUZ, 2005). Diversos documentos contendo recomendações

relacionadas foram publicados nas décadas de 1980 e 1990 (Quadro 1).

Quadro 1 - Marcos para a regulamentação da PNPIC nas décadas de 1980 e 1990

Ano Eventos

1985 Celebração do convênio entre o Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social (Inamps), a Fiocruz, a Universidade

Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e o Instituto Hahnemaniano do

Brasil (IHB), com o intuito de institucionalizar a assistência

homeopática na rede pública de saúde.

1986 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), considerada também

um marco para a oferta das PIC no sistema de saúde do Brasil,

visto que, impulsionada pela Reforma Sanitária, deliberou em seu

relatório final pela "introdução de práticas alternativas de

assistência à saúde no âmbito dos serviços de saúde, possibilitando

ao usuário o acesso democrático de escolher a terapêutica

preferida".

1988 Resoluções da Comissão Interministerial de Planejamento e

Coordenação (Ciplan) nos. 4, 5, 6, 7 e 8/88, que fixaram normas e

Page 21: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

19

diretrizes para o atendimento em Homeopatia, Acupuntura,

termalismo, técnicas alternativas de saúde mental e Fitoterapia.

1995 Instituição do Grupo Assessor Técnico-Científico em Medicinas

Não-Convencionais, por meio da Portaria nº 2543/GM, de 14 de

dezembro de 1995, editada pela então Secretaria Nacional de

Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

1996 10ª Conferência Nacional de Saúde que, em seu relatório final,

aprovou a “incorporação ao SUS, em todo o País, de práticas de

saúde como a Fitoterapia, Acupuntura e Homeopatia,

contemplando as terapias alternativas e práticas populares”.

1999 Inclusão das consultas médicas em Homeopatia e Acupuntura na

tabela de procedimentos do SAI/SUS (Portaria nº 1230/GM de

outubro de 1999).

Fonte: BRASIL, 2006a

Durante a 10ª. Conferência Nacional de Saúde, em 1996, houve a proposta de

incorporação das terapias alternativas e práticas populares ao SUS, especificamente

incentivando a Homeopatia e a Fitoterapia na Assistência Farmacêutica pública (BRUNNING,

2012).

Na década de 2000, seguindo recomendações internacionais, houve um aumento na

discussão sobre as PIC (Quadro 2). Podemos destacar a importante contribuição das

Conferências Nacionais de Saúde, de Vigilância Sanitária (2001), de Assistência Farmacêutica

(2003) e a de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (2004) que reforçaram a necessidade

da incorporação das PIC ao SUS. Essas práticas já vinham acontecendo, de forma isolada e

desigual em alguns locais, sem registro e regulamentação (BRASIL, 2006a).

Page 22: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

20

Quadro 2 - Marcos para a regulamentação da PNPIC na década de 2000

2000 11ª Conferência Nacional de Saúde que recomenda “incorporar

na atenção básica: Rede PSF e PACS práticas não

convencionais de terapêutica como Acupuntura e

Homeopatia”.

2001 1ª Conferência Nacional de Vigilância Sanitária.

2003 Constituição de Grupo de Trabalho no Ministério da Saúde com

o objetivo de elaborar a Política Nacional de Medicina Natural

e Práticas Complementares (PMNPC ou apenas MNPC) no

SUS (atual PNPIC).

2003 Relatório da 1ª Conferência Nacional de Assistência

Farmacêutica, que enfatiza a importância de ampliação do

acesso aos medicamentos fitoterápicos e homeopáticos no

SUS.

2003 Relatório Final da 12ª CNS que delibera pela efetiva inclusão

da MNPC no SUS (atual Práticas Integrativas e

Complementares).

2004 2ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovações em

Saúde à MNPC (atual Práticas Integrativas e Complementares)

que foi incluída como nicho estratégico de pesquisa dentro da

Agenda Nacional de Prioridades em Pesquisa.

2005 Decreto Presidencial de 17 de fevereiro de 2005, que cria o

Grupo de Trabalho para elaboração da Política Nacional de

Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

2005 Relatório Final do Seminário "Águas Minerais do Brasil", em

outubro, que indica a constituição de projeto piloto de

Termalismo Social no SUS.

Fonte: BRASIL, 2006a

Page 23: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

21

A 1ª. Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica, realizada em

2003, teve importantes propostas aprovadas no âmbito da Fitoterapia, Homeopatia e plantas

medicinais, dentre elas:

- Promover a educação em saúde tendo como objetivo informar sobre o uso de

medicamentos, inclusive o uso dos medicamentos homeopáticos e fitoterápicos.

- Fortalecer, incentivar, estimular intercâmbio e, se necessário, criar instituições oficiais

de pesquisa para o desenvolvimento de insumos farmacêuticos, avaliação das potencialidades

da biodiversidade nacional, desenvolvimento de fitoterápicos e outros produtos naturais,

validando seu uso.

- Agilizar a revisão da Farmacopeia Brasileira, incluindo e ampliando-a em relação a

produtos fitoterápicos, levando em consideração o caráter regional.

- Apoiar e incentivar o financiamento de pesquisas e desenvolvimento da prática do

cultivo orgânico de plantas medicinais e a implantação de serviços que utilizem fitoterápicos

na rede pública com o apoio do governo estadual e federal.

- Aproveitar a revitalização de bacias hidrográficas para implantação de hortos

medicinais comunitários, programas de fitoterapia, aproveitando a flora regional e a cultura

popular relativa às plantas medicinais (farmácia viva), com apoio das secretarias municipais e

estaduais de saúde e universidades.

- Criar um Memento Fitoterápico Regional, obedecendo à legislação em vigor.

- Definir e normatizar os serviços de Fitoterapia, organizados por nível de complexidade

da atenção à saúde, com recursos humanos qualificados, incorporando os conhecimentos

tradicionais.

-Desenvolver nas universidades públicas, instituições públicas de pesquisa e

laboratórios oficiais, pesquisas científicas à produção de medicamentos, inclusive estudando e

preservando a flora e fauna brasileira, que atendam às necessidades locais e regionais.

-Desenvolver, estruturar e implantar no SUS o programa “Farmácias Vivas” em

municípios credenciados junto a gerências estaduais de Assistência Farmacêutica, onde a

matéria-prima seja produzida em hortas comunitárias, credenciadas e fiscalizadas pelas

vigilâncias municipais, com amparo de leis estaduais, em consonância com a federal.

-Disponibilizar tratamentos complementares reconhecidos pela OMS, como:

Fitoterapia, Acupuntura e Homeopatia, com capacitação profissional, incluindo este serviço na

Tabela SIA/SUS, apoiando projetos que impliquem na redução de custos da terapêutica.

- Efetuar levantamento de informações sobre as plantas medicinais usadas nos diferentes

níveis de atenção à saúde.

Page 24: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

22

- Instituir programas para informação e conscientização da população, sobre a eficácia

e uso racional dos fitoterápicos e plantas medicinais, fortalecendo o processo de implantação

de farmácias vivas, envolvendo as universidades públicas.

- Incluir e regulamentar o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos na

Assistência Farmacêutica, do SUS como componente da Atenção Básica, criando uma lista de

medicamentos fitoterápicos para inclusão na RENAME (RENAME-Fito), capacitando recursos

humanos, desenvolvendo a pesquisa, a produção e a dispensação destes medicamentos e o

cultivo orgânico de plantas medicinais.

- Incluir os medicamentos fitoterápicos na RENAME inserindo-os na Política Nacional

de Assistência Farmacêutica.

O Departamento de Atenção Básica (DAB) realizou um diagnóstico nacional das

experiências que ocorriam na rede pública através de questionários enviados a todos os gestores

estaduais e municipais, no período de março a junho de 2004 (BRASIL, 2006a). Como

resultado destas recomendações e esforços, em fevereiro de 2006, o documento final da política

com as devidas alterações, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde e dessa forma

consolidou-se a PNPIC, publicada na forma das Portarias Ministeriais 971/2006 e 1600/2006.

Neste período, destaca-se ainda a inclusão das PIC nas diversas estratégias de ampliação

da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Como exemplo, a inclusão de profissionais

de Acupuntura e Homeopatia nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF)

(CAVALCANTI et al., 2014).

1.4.1 A PNPIC

A PNPIC, com caráter nacional, recomenda a implantação e implementação de ações e

serviços no SUS, com o objetivo de garantir a prevenção de agravos, a promoção e a

recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, além de propor o cuidado continuado,

humanizado e integral em saúde, contribuindo com o aumento da resolubilidade do sistema,

com qualidade, eficácia, eficiência, segurança, sustentabilidade, controle e participação social

no uso estando em concordância com os princípios doutrinários e organizativos do SUS. Na

PNPIC são contempladas a Medicina Tradicional Chinesa - Acupuntura, Homeopatia, Plantas

Medicinais e Fitoterapia, Medicina Antroposófica e Termalismo Social/ Crenoterapia

(BRASIL, 2006a). Com a publicação da política, o DAB foi eleito como órgão responsável pela

gestão nacional da PNPIC, desempenhando o papel de normatização, monitoramento,

sensibilização e divulgação (CAVALCANTI et al., 2014).

Page 25: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

23

A Portaria no 849 de 2017, instituiu 14 novos procedimentos à PNPIC, como a

Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia,

Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e

Yoga.

Foram realizados diversos eventos no país voltados à consolidação da PNPIC apoiados

pelo MS, tais como: 1° Encontro Nordestino de PIC; XXXI Congresso Brasileiro de

Homeopatia; III Congresso de Medicina Antroposófica da Zona da Mata Mineira; Congresso

Brasileiro de Naturologia; Congresso Internacional de Ayurveda; II Simpósio de Práticas

Alternativas, Complementares e Integrativas e Racionalidades Médicas; Fórum de Fitoterapia

de Vitória; I Mostra de Atenção Básica do Maranhão; entre outros (CAVALCANTI et al.,

2014).

Em 2018, durante o 1º Congresso Internacional de Práticas Integrativas e Saúde Pública

(INTERCONGREPICS), o então Exmo. Sr. Ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou que

haviam sido acrescentadas mais 10 práticas, a saber: apiterapia, aromaterapia, bioenergética,

constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos,

ozonioterapia e terapia de florais. E desta forma o SUS passou a ofertar 29 procedimentos à

população.

O processo de institucionalização das PIC no SUS ainda é uma jornada que está apenas

no início e ainda há muito o que ser percorrido e realizado.

1.4.2 HOMEOPATIA

A Homeopatia é um sistema médico complexo de caráter holístico, baseada no princípio

vitalista e no uso da lei dos semelhantes enunciada por Hipócrates no século IV a.C. Foi

desenvolvida por Samuel Hahnemann no século XVIII, após estudos e reflexões baseados na

observação clínica e em experimentos realizados na época, que culminaram com a primeira

publicação científica em 1796, sendo este o marco principal de criação da Homeopatia

(HAHNEMANN, 1796). Hahnemann sistematizou os princípios filosóficos e doutrinários da

Homeopatia em suas obras “Organon da Arte de Curar” e “Doenças Crônicas”. A partir deste

momento, essa racionalidade médica experimentou grande expansão por várias regiões do

mundo, estando hoje firmemente implantada em diversos países da Europa, das Américas e da

Ásia. No Brasil, a Homeopatia foi introduzida por Benoit Mure em 1840, tornando-se uma nova

opção de tratamento desde então (BRASIL, 2006a).

Page 26: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

24

Na rede municipal do Rio de Janeiro compreende a assistência médica realizada por

médicos homeopatas, distribuídos em unidades de saúde (nível ambulatorial) com cobertura

nas 10 Áreas de Planejamento (APs) da rede municipal. São previstas ações de educação

permanente envolvendo a capacitação dos homeopatas, dos oficiais e dos acadêmicos bolsistas

da farmácia homeopática. O município do RJ possui uma farmácia de Homeopatia sob

responsabilidade da Prefeitura do Rio, localizada na Policlínica Hélio Pellegrino, no bairro

Praça da Bandeira. Esta tem por objetivo prestar Assistência Farmacêutica em Homeopatia na

rede municipal e garantir a qualidade do medicamento oferecido aos usuários (RIO DE

JANEIRO, 2014). Finalmente, a qualidade do medicamento homeopático manipulado ou

industrializado é regulamentada pela ANVISA sendo os medicamentos homeopáticos

preparados de acordo com a farmacotécnica homeopática descrita na Farmacopeia

Homeopática Brasileira (BRASIL, 2007; BRASIL, 2011).

1.4.3 PLANTAS MEDICINAIS

As plantas medicinais, de acordo com a OMS, são “todo e qualquer vegetal que possui,

em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam

precursores de fármacos semissintéticos” (OMS, 1998). De acordo com a ANVISA (2018), são

espécies vegetais, cultivadas ou não, utilizadas com propósitos terapêuticos e/ou profiláticos.

Há uma heterogeneidade de saberes e práticas relacionados a plantas medicinais circulantes nas

sociedades e, assim, em alguma medida, na atenção primária em saúde (APS) brasileira. É de

interesse para a pesquisa um mapeamento dessa diversidade de saberes e práticas, devido ao

uso generalizado da expressão MAC e/ou MT na literatura (OMS, 2011).

A OMS, a partir de 1991, no intuito de auxiliar os países-membros a padronizar

metodologias de pesquisa na área de plantas medicinais, publicou guias técnicos para a

avaliação de segurança e eficácia de plantas medicinais e nos anos 2000 publicou guias

estratégicos de políticas públicas para o uso racional e integrado de MT e MAC além de

aspectos regulatórios, qualidade, eficácia de medicamentos tradicionais e integração da

medicina tradicional no sistema de saúde (OSHIRO et al., 2016).

O Brasil possui ainda grande potencial para o desenvolvimento de Plantas Medicinais e

Fitoterapia, e a sua biodiversidade é em torno de 15 a 20% do total mundial. Além do uso para

a fabricação de medicamentos, as plantas são usadas em práticas populares e tradicionais, como

remédios caseiros e comunitários. O interesse popular vem crescendo e fortalecendo sua

presença no SUS (BRASIL, 2006b).

Page 27: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

25

As Plantas Medicinais e seus derivados manipulados ou industrializados vêm cada vez

mais obtendo o reconhecimento dos órgãos de pesquisa, desenvolvimento e produção de

medicamentos, como uma alternativa terapêutica merecedora de uma abordagem mais séria e

profunda, que extrapola em muito os tradicionais conceitos de chás e tisanas, largamente

difundidos em todos os povos e etnias do mundo (HENRIQUES, 2005).

O Programa de Plantas Medicinais e Fitoterapia do município do Rio de Janeiro envolve

a assistência médica realizada por médicos capacitados da rede municipal, ações de educação

em saúde nas unidades através de grupos de usuários de plantas medicinais, ações de educação

permanente envolvendo capacitação dos médicos, farmacêuticos, dos oficiais e acadêmicos

bolsistas de Farmácia e a Assistência Farmacêutica de forma que os fitoterápicos

industrializados sejam dispensados aos usuários do SUS através de prescrição por profissional

habilitado, nas unidades de saúde (RIO DE JANEIRO, 2014). Os fitoterápicos manipulados

pelo programa e/ou industrializados com financiamento do MS se encontram no Memento

Terapêutico, que é composto por 23 produtos de uso interno ou tópico com segurança e eficácia

comprovados, contendo suas indicações, posologia, efeitos colaterais e contraindicações

descritos (SEIXLACK E AMORIM, 2010).

1.4.4 FITOTERAPIA

A Fitoterapia é uma "terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas

diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de

origem vegetal". O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de tratamento de

origens muito antigas, relacionada aos primórdios da medicina e fundamentada no acúmulo de

informações por sucessivas gerações. Ao longo dos séculos, produtos de origem vegetal

constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças (BRASIL, 2006a).

A Fitoterapia e o uso de Plantas Medicinais fazem parte da prática da medicina popular,

constituindo um conjunto de saberes internalizados nos diversos usuários e fabricantes,

especialmente pela tradição oral (BRUNING, 2012).

1.4.5 PROGRAMA FARMÁCIA VIVA ®

De acordo com Pereira et al. (2015) o programa Farmácia Viva® foi a experiência mais

antiga que influenciou a criação dos programas de Fitoterapia no Brasil. O programa foi

iniciativa do Professor Francisco de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará, que

Page 28: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

26

estudou por mais de 50 anos as plantas medicinais e originou vasta e reconhecida literatura

científica sobre o assunto (SANTOS, 2011). O programa consiste em atividades sistematizadas

que realizam cultivo, coleta, processamento, armazenamento, manipulação e dispensação de

plantas medicinais e fitoterápicos manipulados. É dedicado ao atendimento de pequenas

comunidades através da validação de plantas de amplo uso popular com o objetivo de produzir

e disponibilizar a esta população preparações extemporâneas (ANTONIO, 2013). O sistema

serviu de inspiração para diversas iniciativas no Brasil (MICHILES, 2004). A Portaria 886, de

20 de abril de 2010, instituiu a Farmácia Viva no SUS (BRASIL, 2010a).

Houve dificuldade para a implantação do sistema Farmácia Viva® no Rio de Janeiro

devido ao desconhecimento da real estrutura do sistema. O serviço de Fitoterapia implementado

em 2001 se diferenciava deste por se constituir em unidade de promoção à saúde e compreendia

atendimento clínico, oficina farmacêutica de fitoterápicos e opcionalmente, o cultivo

(MICHILES, 2004).

1.4.6 DIRETRIZES DA PNPIC PARA PLANTAS MEDICINAIS E

FITOTERÁPICOS

A PNPIC propõe as seguintes diretrizes para Plantas Medicinais e fitoterápicos:

- Elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais e da Relação Nacional de

Fitoterápicos.

- Promoção do uso racional de Plantas Medicinais e dos fitoterápicos no SUS.

- Cumprimento dos critérios de qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso.

- Cumprimento das boas práticas de manipulação, de acordo com a legislação vigente.

- Incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde,

avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segurança dos cuidados prestados.

- Incentivo à inserção da PNPIC em todos os níveis de atenção, com ênfase na atenção

básica.

-Desenvolvimento da PNPIC em caráter multiprofissional, para as categorias

profissionais presentes no SUS, e em consonância com o nível de atenção.

- Desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para profissionais no SUS, em

conformidade com os princípios e diretrizes estabelecidos para Educação Permanente.

-Divulgação e informação dos conhecimentos básicos da PIC para profissionais de

saúde, gestores e usuários do SUS, considerando as metodologias participativas e o popular e

tradicional.

Page 29: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

27

-Elaboração de materiais de divulgação, como cartazes, cartilhas, folhetos e vídeos,

visando a promoção de ações de informação e divulgação da PIC, respeitando as especificidades

regionais e culturais do País; e direcionadas aos trabalhadores, gestores, conselheiros de saúde,

bem como aos docentes e discentes da área de saúde e comunidade em geral.

- Fortalecimento da participação social.

- Garantia do monitoramento da qualidade dos fitoterápicos pelo Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária.

1.4.7 A PNPMF

No intuito de estabelecer as diretrizes para a atuação do governo na área de Plantas

Medicinais e fitoterápicos, elaborou-se a Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos, que se constitui parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente,

desenvolvimento econômico e social como um dos elementos fundamentais de transversalidade

na implementação de ações capazes de promover melhorias na qualidade de vida da população

brasileira (BRASIL, 2006b).

A PNPMF, aprovada por meio do Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006, estabelece

diretrizes e linhas prioritárias para o desenvolvimento de ações pelos diversos parceiros em

torno de objetivos comuns voltados à garantia do acesso seguro e uso racional de plantas

medicinais e fitoterápicos em nosso país, ao desenvolvimento de tecnologias e inovações, assim

como ao fortalecimento das cadeias e dos arranjos produtivos, ao uso sustentável da

biodiversidade brasileira e ao desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde.

1.4.8 O CENÁRIO DAS PIC NO BRASIL E NO MUNDO

De acordo com o MS, cerca de 3173 municípios oferecem PIC, com 78% dos serviços

concentrados na atenção básica, 18% na atenção especializada e 4% na atenção hospitalar.

Anualmente são realizados 2 milhões de atendimentos com PIC nas UBS, sendo 85 mil em

Fitoterapia e 13 mil em Homeopatia. O financiamento das PIC está inserido no bloco de média

e alta complexidade ambulatorial e hospitalar (BRASIL, 2018b). A Acupuntura é a terapia

mais difundida com 707 mil atendimentos e 277 mil consultas individuais. Em segundo lugar,

estão as práticas de Medicina Tradicional Chinesa com 151 mil sessões, como Tai chi chuan

e Lian gong. Em seguida aparece a auriculoterapia com 142 mil procedimentos. Também

Page 30: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

28

foram registradas 35 mil sessões de yoga, 23 mil de dança circular/biodança e 23 mil de

terapia comunitária (MS, 2018c).

Os resultados do primeiro ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade

(PMAQ) e do Censo das Unidades Básicas de Saúde, que avaliaram 38.000 estabelecimentos

de saúde da Atenção Básica e mais de 17.000 equipes, revelaram que mais de 7.700

estabelecimentos ofertam alguma prática integrativa, o que representa em torno de 20% das

Unidades Básicas de Saúde. Desse total, mais de 3.000 estabelecimentos oferecem Plantas

Medicinais e fitoterápicos, 2.400 ofertam acupuntura e cerca de 350 ofertam Homeopatia

(CAVALCANTI et al., 2014).

O segundo ciclo do PMAQ, realizado entre abril de 2013 e agosto de 2014, incluiu novas

informações sobre as PIC relacionadas à gestão e aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família

(NASF). Este avaliou 29.798 equipes de Atenção Básica; dessas, 5.666 realizavam PIC,

distribuídas em 3.787 estabelecimentos de saúde entre 1.230 municípios. De acordo com os

gestores, através de um módulo online, foi observado que 223 municípios ofertavam

medicamentos homeopáticos industrializados, 25 manipulados em farmácias próprias e 70 em

farmácias conveniadas (BRASIL, 2018b).

O Programa Estadual de Plantas Medicinais do Estado do Rio de Janeiro (PROPLAM)

foi criado em 1996, regulamentado pela lei n° 2537 e definiu como objetivos: propor, elaborar

e implantar diretrizes nas áreas de terapêutica, na preservação da cultura popular do uso de

plantas medicinais, no cultivo, produção industrial e produção magistral de medicamentos

fitoterápicos e sua comercialização, bem como na pesquisa, formação e capacitação de recursos

humanos para desenvolvimento das atividades do programa (REIS et al., 2004).

A resolução da Secretária Estadual de Saúde do Rio Janeiro no. 1590, de 12 de fevereiro

de 2001, aprovou regulamento técnico para a prática da Fitoterapia e funcionamento destes

serviços no âmbito do Estado do Rio de Janeiro (SES, 2001). Nesta foram elencadas os

requisitos básicos e específicos para a implantação do serviço.

No município do Rio de Janeiro, o programa de PIC está implantado em 88 unidades de

saúde (44% do total), de forma integral ou parcial. A Homeopatia se faz presente em 27% das

unidades, e 10% fazem dispensação de medicamentos homeopáticos, que são manipulados pela

farmácia existente na rede municipal. A Fitoterapia está presente em 47% das clínicas (RIO DE

JANEIRO, 2017).

Segundo Antonio et al. (2014) nos últimos 25 anos houve pequeno aumento da produção

científica sobre a Fitoterapia na atenção primária à saúde e destacou que as hipóteses para o

Page 31: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

29

fato sejam o sub-registro das ações realizadas, baixo interesse da Academia, pouco apoio

governamental e das instituições fomentadoras, além de subvalorização do tema no país.

Cavalcanti et al. (2014) ressalta que as PICs estão contempladas na “Agenda Nacional

de Prioridades de Pesquisa em Saúde” e em diversos formatos de apoio a pesquisas pelo

Ministério da Saúde. Foram apoiados projetos nas áreas de Plantas Medicinais e fitoterápicos,

Homeopatia e Acupuntura. No entanto, cabe contextualizar que, historicamente, as pesquisas

relacionadas às PIC ficaram voltadas à validação e desenvolvimento de produtos,

principalmente fitoterápicos e, em menor medida, pesquisas com medicamentos homeopáticos.

Na maioria dos países desenvolvidos, o sistema de saúde predominante se baseia na

medicina convencional e a medicina tradicional não foi incorporada ao sistema sanitário

nacional, embora o seu uso seja cada vez mais popular. De acordo com a OMS, o percentual de

indivíduos que utilizou a medicina alternativa ao menos uma vez foi de 70% no Canadá, 49%

na França, 23% na Espanha, 42% nos Estados Unidos da América e 31% na Bélgica. Todavia,

nos países em desenvolvimento, o uso da medicina tradicional é muito difundido e a cerca de

80% dos africanos a utiliza. Na China correspondem a 40% dos serviços de saúde prestados

(MINISTERIO DE SANIDAD, SERVICIOS SOCIALES e IGUALDAD, 2011).

Page 32: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

30

2 JUSTIFICATIVA

A aprovação da PNPIC no Brasil representou uma vitória e grande desafio para a saúde

pública. Com a descentralização do SUS observamos distintas situações na implantação dessas

práticas em todo o território brasileiro. Tendo em mente o princípio da Universalidade, é preciso

garantir que os Estados tenham desenvolvimento similar e que contemplem a todos os seus

usuários, o que constitui um extenso caminho.

Dados preliminares obtidos no âmbito do projeto “Uso de plantas medicinais por

pacientes atendidos na Clínica da Família Assis Valente” (SILVA e FILHO, 2014), realizado

como monografia do curso de especialização lato sensu em Manipulação Farmacêutica na

UFRJ, indicaram que a maioria dos usuários desta unidade de saúde fazia uso de Plantas

Medicinais como primeiro recurso terapêutico, sendo que mais de 50% destes usavam

concomitantemente com medicamentos sintéticos. Há ainda uma preferência por utilizar plantas

a medicamentos sintéticos. A dissertação de mestrado aqui proposta buscou dar continuidade

ao diálogo entre a UFRJ, a CFAV e o Programa Práticas Integrativas e Complementares da

Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-RJ). Os dados

quantitativos e qualitativos sobre as instalações, o perfil de usuários, a demanda e a experiência

dos profissionais que trabalham em serviços de PIC poderão contribuir com os gestores

municipais na tomada de decisões relacionadas ao tema e servir para a melhoria do sistema.

Adicionalmente, a UBS foi certificada como “Unidade Amiga das Plantas” pela Prefeitura do

Rio de Janeiro em 2014.

Destaca-se a possível contribuição deste projeto no atendimento às seguintes diretrizes

gerais da PNPIC:

-3.1. Estruturação e fortalecimento da atenção em PIC no SUS.

-3.2. Desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para profissionais no SUS,

em conformidade com os princípios e diretrizes estabelecidos para Educação Permanente.

-3.3. Divulgação e informação dos conhecimentos básicos da PIC para profissionais de

saúde, gestores e usuários do SUS, considerando as metodologias participativas e o saber

popular e tradicional.

-3.5. Fortalecimento da participação social.

-3.8. Incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde,

avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segurança dos cuidados prestados.

No âmbito da Homeopatia:

Page 33: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

31

-Diretriz H1. Incorporação da Homeopatia nos diferentes níveis de complexidade do

Sistema, com ênfase na atenção básica, por meio de ações de prevenção de doenças e de

promoção e recuperação da saúde.

-Diretriz H4. Apoio a projetos de formação e educação permanente, promovendo a

qualidade técnica dos profissionais e consoante com os princípios da Política Nacional de

Educação Permanente.

-Diretriz H6. Socializar informações sobre a Homeopatia e as características da sua

prática, adequando-as aos diversos grupos populacionais.

-Diretriz H7. Apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que avaliem a qualidade

e aprimorem a atenção homeopática no SUS.

No âmbito das Plantas Medicinais e Fitoterapia:

-Diretriz PMF2. Provimento do acesso a Plantas Medicinais e fitoterápicos aos usuários

do SUS.

-Diretriz PMF3. Formação e educação permanente dos profissionais de saúde em

Plantas Medicinais e fitoterapia.

-Diretriz PMF4. Acompanhamento e avaliação da inserção e implementação das Plantas

Medicinais e fitoterapia no SUS.

-Diretriz PMF5. Fortalecimento e ampliação da participação popular e do controle

social.

-Diretriz PMF7. Incentivo à pesquisa e desenvolvimento de Plantas Medicinais e

fitoterápicos, priorizando a biodiversidade do país.

Page 34: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

32

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Análise da oferta dos serviços de PIC na Clínica da Família Assis Valente (CFAV),

visando estabelecer estratégias para o desenvolvimento e fortalecimento da Fitoterapia, das

Plantas Medicinais e da Homeopatia nesta UBS.

3.2 Objetivos Específicos

● Coletar informações sobre as plantas utilizadas popularmente pelos usuários da

clínica.

● Identificar medicamentos fitoterápicos prescritos e/ou dispensados na UBS.

● Identificar a demanda para uso da homeopatia.

● Identificar as formas de acesso às plantas medicinais e formas de preparo mais

aceitas pelos usuários da unidade.

● Caracterizar e identificar o conhecimento explícito em PIC dos profissionais de

saúde da UBS.

● Identificar o conhecimento dos usuários sobre PIC.

● Identificar os desafios que se apresentam na oferta dos serviços de PIC na

clínica.

Page 35: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

33

4 METODOLOGIA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL

4.1.1 O BAIRRO DO GALEÃO

O bairro do Galeão se localiza na Ilha do Governador (XX Região Administrativa), no

município do Rio de Janeiro, área programática (AP) 3.1. Possui área territorial de 1895,74

hectares e a sua população estimada é de 22.971 habitantes e 7126 domicílios. Seu IDH é de

0,778, o que o coloca 102o colocado entre os 126 bairros analisados na cidade. Nele estão

localizados o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão – Antônio Carlos Jobim,

instalações militares e centros socioeducativos. Sua área residencial se restringe às vilas

militares e às comunidades da Vila Joaniza (Barbante). Esta AP ainda é composta por outros

27 bairros, com população total aproximada de 887.000 pessoas (Censo IBGE, 2010).

Figura 2: Localização geográfica da Ilha do Governador; Bairro Galeão e Vista da entrada da CFAV

Page 36: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

34

A – Localização geográfica da Ilha do Governador; B- Localização geográfica do Bairro Galeão;

C- Vista da entrada da CFAV

Fontes: A-https://pt.riomap360.com/mapa-bairros-rio-de-janeiro#.WkfpwN-nHIU;

B-http://ilhagovernador.blogspot.com.br/2009/06/mais-um-pouco-da-historia-da-ilha.html;

C- Vista da entrada da CFAV (Silva, NCB)

4.1.2 A CLÍNICA DA FAMÍLIA ASSIS VALENTE

A pesquisa foi realizada na Clínica da Família Assis Valente (CFAV). Esta foi

inaugurada em 08 de julho de 2011 e possui seis equipes de saúde da família, sendo responsável

por uma média de 7000 atendimentos por mês. A equipe multidisciplinar é composta por 91

profissionais, como médicos (clínicos gerais, residentes de saúde da família e professores

preceptores), enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde, cirurgiões-

dentistas, farmacêutico, técnicos de farmácia, técnicos em radiologia e ultrassonografia,

auxiliar de saúde bucal, técnicos de saúde bucal, agentes de vigilância em saúde, agentes

comunitários de saúde, auxiliares administrativos, assistente social, psicólogo e preparador

físico.

Na unidade existe um jardim comunitário que contém plantas para fins medicinais e

temperos, o que confere à CFAV a certificação de “Unidade Amiga das Plantas”, cujos

objetivos são o desenvolvimento de oficinas práticas de promoção de saúde, a geração de renda

e o cultivo com grupos de usuários da UBS. Esta certificação foi conferida em 2014 e até 2016

estas atividades eram desenvolvidas na clínica com regularidade. Mensalmente

são realizadas atividades na horta com a participação de voluntários da comunidade e um

técnico agrícola da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Page 37: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

35

Figura 3: A CFAV

A- Vista da entrada da CFAV; B- Jardim com plantas medicinais

Fontes: A – www.otics.org.br ; B- Sena, JA.

4.2 TIPO DE ESTUDO

Foi utilizada abordagem qualiquantitativa e as técnicas de coleta de dados escolhidas

foram a realização de entrevistas com os usuários e a aplicação de questionários aos

profissionais de saúde da UBS.

De acordo com Minayo (2001), a pesquisa qualitativa responde a questões muito

particulares. Ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores

e atitudes. A diferença entre qualitativo e quantitativo é a natureza, mas seus dados não se

opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade que abrangem interage

dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. E segundo Fonseca (2002), diferente da

pesquisa qualitativa os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados

estatisticamente, conferindo mais precisão aos mesmos. Como as amostras são grandes e

consideradas representativas da população, os resultados são tomados como se constituíssem

um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na

objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser

compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos

padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever

as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização de ambas permite

recolher mais informações do que se conseguiria isoladamente.

O primeiro contato com o campo se deu num encontro marcado com a gerente da

unidade que se mostrou muito solícita e empolgada em relação ao projeto e à nossa presença

no local. Ela colocou toda a sua equipe e instalações à disposição além de formalizar o apoio

A B

Page 38: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

36

com uma carta de anuência (Anexo 2).

Minayo (2001) destaca que a etapa de entrada no campo pode envolver alguns

obstáculos. Em primeiro lugar, deve-se buscar uma aproximação com as pessoas da área

selecionada para o estudo. Essa aproximação deve ser de preferência, gradual, onde cada dia de

trabalho seja refletido e avaliado, com base nos objetivos preestabelecidos. É fundamental a

consolidação de uma relação de respeito efetivo pelas pessoas e suas manifestações no interior

da comunidade pesquisada. Em segundo lugar, é importante que se apresente a proposta de

estudo aos grupos envolvidos. Eles devem ser esclarecidos sobre o que se pretende investigar e

as possíveis repercussões favoráveis advindas do processo investigativo. A postura do

pesquisador frente à problemática a ser estudada também é importante pois muitas vezes ele

começa a pesquisa considerando que tudo que vai encontrar serve para confirmar o que ele já

imagina saber.

4.2.1 ENTREVISTAS COM USUÁRIOS

A metodologia selecionada para esta atividade foi baseada na realização de entrevistas

semiestruturadas (ALBUQUERQUE et al., 2008) com auxílio de um formulário (Anexo 3)

composto de perguntas abertas e fechadas, testadas previamente em fase piloto. As perguntas

são relacionadas ao reconhecimento e levantamento de dados sobre as formas de tratamento de

enfermidades dos vários níveis de complexidade, e buscam identificar o perfil socioeconômico,

conhecimentos sobre Plantas Medicinais, fitoterapia e Homeopatia e uso das PIC pelos

pacientes/usuários da CFAV e seus familiares. Todos os entrevistados foram esclarecidos

previamente a respeito do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os

participantes assinaram em duas vias (Anexo 1).

A amostra calculada foi de 365 indivíduos. O cálculo amostral utilizado correlaciona o

número de atendimentos, cerca de 7000, um intervalo de confiança de 95%, erro de 5% e

considera a população como heterogênea (BARTLETT et al., 2001).

Os usuários foram selecionados aleatoriamente para participarem das entrevistas, ao

longo dos dias de visitas à UBS, enquanto aguardavam o atendimento. O único critério de

exclusão foi o indivíduo ter menos de 18 anos. A coleta de dados foi realizada de novembro de

2016 a maio de 2017.

Page 39: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

37

4.2.2 APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS AOS PROFISSIONAIS

A metodologia consistiu em um estudo exploratório descritivo de abordagem quali-

quantitativa com uma amostragem intencional entre os médicos (as) e enfermeiros (as) que

atuam na CFAV. A escolha destes profissionais se deve ao fato de que eles são o primeiro contato

que os usuários têm após a sua admissão na UBS. Este levantamento foi realizado com o auxílio

de um questionário contendo perguntas fechadas e abertas (Anexo 4).

Os profissionais foram convidados a participar e os próprios escreviam as suas respostas

e impressões. Foram aplicados 19 questionários a todos que se dispuseram a responder. A coleta

dos dados foi realizada nos meses de novembro de 2017 e janeiro de 2018.

Um dos obstáculos nesta fase da pesquisa foi a dificuldade financeira pela qual passava

o município em 2017, a qual ainda perdura no ano de 2018, o que acabou gerando atrasos nos

salários da equipe e, consequentemente, levou a ausências de profissionais e alteração nas

escalas de trabalho, dificultando a aplicação dos questionários.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

A tabulação dos dados quantitativos foi feita no programa Epi data 3.1 e as Tabelas

geradas foram analisadas com auxílio do Microsoft Excel. Para algumas análises estatísticas,

adotou-se o teste Qui quadrado de Pearson sendo adotado o nível de significância < 0,05

(HOSMER, 2000).

Os dados qualitativos foram examinados através da Análise Temática de Conteúdo, que

consiste na identificação de categorias a partir das quais o conteúdo das falas será organizado.

A categorização, para Minayo (2007), consiste num processo de redução do texto às palavras e

expressões significativas. Posteriormente, o pesquisador escolhe as regras de contagem por

meio de codificações e índices quantitativos (CAVALCANTE, 2014).

Os dados obtidos na coleta sobre a descrição dos sintomas e doenças e formas de preparo

das plantas foram agrupados em categorias pré-definidas para possibilitar a análise e

comparação dos mesmos. Este processo consistiu na comparação entre o que foi dito por cada

indivíduo e um padrão preestabelecido, e se fez necessária a uma melhor análise e padronização

das informações.

Page 40: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

38

De acordo com Caregnato e Mutti (2006) codificar ou caracterizar um segmento é

colocá-lo em uma das classes de equivalências definidas, a partir das significações, [...] em

função do julgamento do codificador [...] o que exige qualidades psicológicas complementares

como a fineza, a sensibilidade, a flexibilidade, por parte do codificador para apreender o que

importa.

4.3.1 CATEGORIZAÇÃO DAS FORMAS DE PREPARO

a) Infusão

São soluções extrativas obtidas lançando sobre uma droga, água em geral previamente

aquecida à ebulição, mantendo-se o sólido e o líquido, encerrados num vaso fechado, em

contato durante certo tempo (PRISTA, 1981).

b) Decocção

É a preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo

determinado. Método indicado para partes de drogas vegetais com consistência rígida, tais

como cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas (BRASIL, 2011c).

c) Maceração

É o processo que consiste em manter a droga, convenientemente pulverizada, nas

proporções indicadas na fórmula, em contato com o líquido extrator, com agitação diária, no

mínimo, sete dias consecutivos (BRASIL, 2011c).

d) Xarope

É a forma farmacêutica aquosa caracterizada pela alta viscosidade, que apresenta, no

mínimo, 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua composição (BRASIL, 2011c).

e) Banho

Em diversas religiões de matriz africana o banho é um recurso utilizado. De acordo com

Gomes et al. (2008), as folhas têm grande importância litúrgica no candomblé, em cerimônias

de louvação de orixás e banhos rituais. Acredita-se que os banhos podem descarregar os fluidos

pesados de uma pessoa e a erva escolhida varia de acordo com o ritual a ser realizado.

Pode ser feita uma infusão ou decocção mais concentrada que dever ser coada e

Page 41: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

39

misturada na água do banho. Outra maneira indicada é colocar as ervas em um saco de pano

firme e o deixar boiando na água do banho. Os banhos podem ser parciais ou de corpo inteiro,

e são normalmente indicados uma vez por dia (RODRIGUES, 2004).

f) Suco

Obtém-se o suco espremendo-se o fruto e o sumo ao triturar uma planta medicinal fresca

num pilão ou em liquidificadores e centrífugas. O pilão é mais usado para as partes pouco

suculentas. Quando a planta possuir pequena quantidade de líquido, deve-se acrescentar um

pouco de água e triturar novamente após uma hora de repouso, recolher então o líquido liberado.

Esta preparação deve ser feita no momento do uso (RODRIGUES, 2004).

4.3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS SEGUNDO A OMS

As informações sobre as doenças e sintomas tratados utilizando plantas medicinais

citadas neste estudo foram traduzidas e agrupadas de acordo com a Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, décima revisão (CID-10),

publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2016). É a classificação diagnóstica de

padrão internacional para propósitos epidemiológicos gerais e administrativos da saúde,

incluindo análise de situação geral de saúde de grupos populacionais e o monitoramento da

incidência e prevalência de doenças e outros problemas de saúde (DI NUBILA & BUCHALLA,

2008).

O agrupamento foi feito com o objetivo de traçar o perfil epidemiológico da região em

estudo e servir como ferramenta para a elaboração de material informativo para a comunidade.

Este sistema padroniza e agrupa as doenças e sintomas conhecidos em 22 categorias, de acordo

com o Quadro 3.

Quadro 3: Décima revisão da Classificação Internacional de doenças e problemas relacionados com a

saúde (CID-10)

Capítulo Códigos Título

I A00-B99 Algumas doenças infecciosas e parasitárias.

II C00-D48 Neoplasmas (tumores).

Page 42: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

40

III D50-D89

Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e

alguns transtornos imunitários.

IV E00-E90 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas.

V F00-F99 Transtornos mentais e comportamentais.

VI G00-G99 Doenças do sistema nervoso.

VII H00-H59 Doenças do olho e anexos.

VIII H60-H95 Doenças do ouvido e da apófise mastoide.

IX I00-I99 Doenças do aparelho circulatório.

X J00-J99 Doenças do aparelho respiratório.

XI K00-K93 Doenças do aparelho digestivo.

XII L00-L99 Doenças da pele e do tecido subcutâneo.

XIII M00-M99

Doenças do sistema osteomuscular e do tecido

conjuntivo.

XIV N00-N99 Doenças do aparelho geniturinário.

XV O00-O99 Gravidez, parto e puerpério.

XVI P00-P96 Algumas afecções originadas no período perinatal.

XVII Q00-Q99

Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas.

XVIII R00-R99

Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos

e de laboratório, não classificados em outra parte

XIX S00-T98

Lesões, envenenamentos e algumas outras

consequências de causas externas.

XX V01-Y98 Causas externas de morbidade e de mortalidade.

XXI Z00-Z99

Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato

com os serviços de saúde.

XXII U00-U99 Códigos para propósitos especiais.

Fonte: OMS, 2016

Page 43: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

41

4.4 QUESTÕES ÉTICAS

Este estudo seguiu as normas das resoluções 466/2012 e 510/2016 e a pesquisa foi

submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

(CEP-HUCFF), através da Plataforma Brasil, com parecer liberado em setembro de 2016 sob o

registro 1.728.651. Por se tratar de um projeto conjunto foi necessária ainda a submissão ao

Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

(CEP/SMDSC-RJ), cujo parecer favorável foi dado em outubro de 2016 por meio do registro

1.783.994.

Page 44: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

42

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 USUÁRIOS

5.1.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Das 365 pessoas entrevistadas, 77% são mulheres, com idades de 31 a 40 e 51 anos ou

mais (30%) e a maioria pertencente à religião Evangélica (41%), seguida pela Católica (36%).

A média de idade dos entrevistados foi de 43,8 anos. A presença maior de mulheres, segundo

Ribeiro et al. (2006) e Pereira da Silva et al. (2011), pode ser atribuída a questões de saúde

reprodutiva e pelo fato de que as mulheres percebem as suas necessidades de saúde de forma

diferente, apresentando mais queixas e doenças crônicas que os homens.

Aproximadamente 85% declararam não possuir um plano de saúde privado. De acordo

com a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2015), na cidade do Rio de Janeiro,

aproximadamente 56,6% da população não têm planos de saúde. Todos eram moradores do

bairro onde se localiza a UBS e 75% dos indivíduos afirmaram residir em domicílios com 2 a

4 moradores, o que está de acordo com o último levantamento feito pelo IBGE (2015) que

revelou 2,7 moradores/domicílio no município do Rio de Janeiro. Do total de entrevistados,

60% declararam ter renda familiar de 1 salário-mínimo (Tabela 1). Oliveira et al. (2012)

também encontrou que a maioria dos usuários do SUS na sua pesquisa pertenciam em sua

maioria à mesma faixa de renda (1-2 salários).

É importante ressaltar o apoio recebido nesta etapa por parte dos usuários, que eram

sempre muito atenciosos e interessados nos questionamentos e resultados que poderiam ser

gerados. Alguns pediam orientações sobre as terapias e se mostravam curiosos e com dúvidas

a respeito das políticas e das PIC. Esta troca propiciou que muitos deles expusessem seus pontos

de vista sobre a própria saúde, o SUS e a unidade, além de tornar possível a explicação sobre a

importância deste trabalho e os desdobramentos previstos.

Page 45: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

43

Tabela 1: Perfil dos entrevistados da CFAV

Variável Categoria Frequência Percentual (%)

Idade 18-30 anos 61 17

31-40 anos 111 30

41-50 anos 87 24

Mais de 51 anos 106 29

Nº de pessoas por

residência

1 morador 17 5

2 a 4 moradores 273 75

5 ou mais 75 20

Religião Evangélicos 150 41

Católicos 130 36

Não possui 60 16

Candomblé e

Umbanda 12 3

Espíritas 8 2

Outras 5 1

Renda familiar Nenhuma 6 2

1 salário 218 60

2 a 3 salários 131 36

4 ou mais salários 10 3

Total 365 100

Fonte: dados coletados pela autora

Em relação à escolaridade, 49% possuíam o ensino médio completo, seguido do

ensino fundamental incompleto (21%) (Figura 4).

Page 46: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

44

Figura 4: Escolaridade dos entrevistados da CFAV (dados coletados pela autora)

As principais ocupações dos entrevistados (Figura 5) foram as de donas de casa ou “do

lar” (16%), o que pode ser relacionado com o fato de que a maioria dos usuários era composto

por mulheres, e as de aposentados(as) (15%). Como outros (46%), podemos citar as ocupações

de auxiliares administrativos (as), autônomos (as), balconistas, comerciantes, costureiros (as),

mecânicos, motoristas, pensionistas, professores, recepcionistas e etc. Cerca de 7% se

declararam desempregados, fato preocupante se correlacionarmos com escolaridade baixa

observada na região. Pires et al. (2014) encontrou resultado semelhante sobre a maior parte dos

participantes terem como principal ocupação a atividade “do lar”.

Figura 5: Ocupações dos entrevistados da CFAV (dados coletados pela autora)

1%

8%

21%

49%

17%

2% 2%Analfabeto(a)

Ensino fundamentalcompleto

Ensino fundamentalincompleto

Ensino médio completo

Ensino médio incompleto

Ensino superior completo

16%

15%

7%

4%3%

3%3%3%

46%

Do lar

Aposentado(a)

Desempregado(a)

Doméstica

Auxiliar de serviços gerais

Cuidador(a) de idosos

Estudante

Motorista

Outros

Page 47: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

45

5.1.2 CUIDADOS COM A SAÚDE

Os usuários foram questionados a respeito do primeiro recurso utilizado em caso de

doença e para 65% destes foram as visitas à UBS, o que provavelmente reflete a confiança nos

profissionais e serviços prestados na unidade. Em seguida foi relatado o uso medicamentos que

estes têm em casa (27%), plantas medicinais (6%) e 2% iam às farmácias comunitárias, que são

estabelecimentos de dispensação de medicamentos, para orientação e/ou para a compra de

medicamentos sem prescrição profissional (Figura 6). De acordo com o IBGE (2015), o

primeiro recurso procurado pelos entrevistados foi a UBS (47,9%) e as farmácias foram citadas

por 2,9% destes. Observou-se que nesta unidade os entrevistados preferiram, como primeiro

recurso, utilizar a medicina convencional.

Figura 6: Primeiro recurso utilizado pelos entrevistados da CFAV em caso de

doença ( dados coletados pela autora)

Aproximadamente 20% frequentam a clínica pelo menos 1 vez ao mês e a unidade foi

avaliada como boa por 50,4% dos participantes, seguida de regular para 27% destes (Figura 7).

65%2%6%

27%

Clínica

Farmácia

Plantas Medicinais

46

184

98

28

9

13

50

27

8

2

0 50 100 150 200

Ótimo

Bom

Regular

Pode melhorar

Ruim

Percentual Número de indivíduos

Page 48: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

46

Figura 7: Avaliação da CFAV pelos usuários (dados coletados pela autora)

Quando perguntados sobre serem portadores de alguma doença crônica, houve

prevalência de hipertensão arterial (23%) entre os usuários entrevistados na unidade (Figura 8).

As doenças cardiovasculares, que incluem as doenças coronarianas, cerebrovasculares, arterial

periférica, cardíaca reumática, cardiopatia congênita, trombose venosa profunda e embolia

pulmonar, foram as causas de óbito mais importantes no mundo em 2017, e em 2015

representaram mais de 31% de todas as mortes em nível global, de acordo com a OMS. Pesquisa

realizada na década de 1990 já mostrava prevalência de hipertensão arterial para 25% para os

indivíduos da Ilha do Governador (KLEIN et al., 1995) e segundo o DATASUS, em 2009 o

percentual encontrado foi 26,8% na região Sudeste. De acordo com o IBGE (2015), a

prevalência da doença em 2013 no município do Rio de Janeiro era de 22,1%. Observa-se que

os números se mantiveram aproximados com o passar dos anos.

Em seguida, 12% declararam possuir outras doenças crônicas como Artrite

Reumatoide, Endometriose, HIV, Osteoporose, Lúpus, Fibromialgia, Hipotireoidismo, Câncer

e Obesidade Mórbida; 6% relataram ter diabetes e 4% depressão. Mais da metade dos usuários

não têm ou não informaram qualquer doença crônica. Metade destes relataram usar

medicamentos de forma contínua, dentre os quais se destacam os anti-hipertensivos,

antidepressivos e anticoncepcionais.

Figura 8: Doenças crônicas prevalentes na CFAV (dados coletados pela autora)

6%

23%

4%

12%

55%

Diabetes Hipertensão Depressão Outras Não tem

Page 49: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

47

5.1.3 CONHECIMENTO SOBRE AS POLÍTICAS

Os usuários foram questionados se tinham algum conhecimento a respeito da PNPIC e

da PNPMF, e 96% deles mostraram total desconhecimento das políticas (Figura 9). Quando foi

correlacionada a faixa etária e o conhecimento das políticas, não foi encontrada significância

estatística (p=0,7), ou seja, a hipótese que relaciona positivamente os dois parâmetros não pôde

ser comprovada e assim a faixa etária não mostrou influência no conhecimento das políticas.

Marques et al. (2011) relataram que 100% dos pacientes entrevistados na sua pesquisa não

souberam responder do que se tratavam as terapias alternativas e complementares.

Figura 9: Conhecimento acerca da PNPIC e da PNPMF (dados coletados pela autora)

5.1.4 USO DE PIC PELA COMUNIDADE

Aproximadamente 66% dos usuários relataram já ter utilizado alguma PIC para si

mesmos ou familiares e 34% destes nunca usaram nenhuma destas terapia (Tabela 2).

Tabela 2: Uso de PIC na CFAV

Uso de PIC n

%

Usaram para si ou para membro da família 242 66%

Nunca usaram 123 34%

365

Fonte: dados coletados pela autora

2% 2%

96%

Conhecem PNPIC Conhecem PNPMF e PNPIC Não conhecem

Page 50: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

48

Quando analisadas algumas variáveis em relação ao uso de PIC, identificou-se que a

mais determinante para a utilização das terapias foi a idade (p<0,05), sendo este uso

predominantes para usuários com idade superior a 51 anos. Não foi verificada significância

estatística do uso de PIC para os parâmetros sexo, religião e renda (Tabela 3).

Tabela 3: Variáveis na associação ao uso de PIC

Variável Usa PIC Não usa PIC Valor de p Total

n % n % n %

Sexo

Feminino 192 79% 88 72% 0,095 280 76%

Masculino 50 21% 35 28% 85 24%

Religião

Católicos 93 38% 37 30% 0,212 130 36%

Evangélicos 102 42% 48 39% 150 41%

Espíritas 6 2% 2 2% 8 2%

Candomblecistas 2 1% 1 1% 3 1%

Umbandistas 5 2% 4 3% 9 2%

não tem religião 31 13% 29 24% 60 16%

outros 3 1% 2 2% 5 1%

Idade

18-30 40 17% 21 17% 0,000867 61 17%

31-40 62 26% 49 40% 111 30%

41-50 54 22% 33 27% 87 24%

mais de 51 86 36% 20 16% 106 29%

Renda

Nenhuma 4 2% 2 2% 0,07 6 2%

1 salário 134 55% 84 68% 218 60%

2 a 3 salários 95 39% 36 29% 131 36%

4 ou mais

salários 9 4% 1 1% 10 3%

Legenda: se p<0,05 há significância estatística Fonte: dados coletados pela autora

Page 51: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

49

Há estudos, como o de Ribeiro et al. (2006), que mencionam correlação entre o uso de

PIC e maior nível educacional e renda em países em desenvolvimento como o Brasil, o que não

corresponde ao encontrado para a CFAV. Porém, o presente estudo foi realizado no ambiente

do SUS, onde a maior predominância é de usuários com menor escolaridade e renda. Em relação

ao sexo, estes autores observaram que houve maior aceitabilidade das terapias por parte das

mulheres, justificado por questões de saúde reprodutiva e pela percepção da saúde de forma

diferente por elas (RIBEIRO et al., 2006).

De acordo com o IBGE, na Pesquisa Nacional de Saúde (2015), aproximadamente 3,8%

de brasileiros já tinham feito uso de alguma PIC, sendo mais frequente nas regiões Norte (5,9%)

e Sul (5,2%) e em maior proporção para indivíduos maiores de 40 anos (10,4%), mulheres

(4,4%) e pessoas com nível superior completo (7,4%).

Dentre as PIC mais usadas no último ano, ao menos uma vez por mulheres, Plantas

Medicinais apareceram em primeiro lugar (35%), seguida pela Homeopatia (6%). Para os

homens foram as Plantas Medicinais (26%) e a Acupuntura (8%), conforme Tabela 4. A

Antroposofia não teve nenhuma citação provavelmente por ser uma especialidade ainda pouco

conhecida, por não ser ofertada como serviço pelas UBS ligadas à Prefeitura do RJ e também

por ser incipiente o número de profissionais habilitados a atuarem nesta especialidade.

Tabela 4: Relação de mulheres e homens com PIC

PIC

Mulheres

(n)

Percentual

(%)

Homens

(n)

Percentual

(%)

Plantas Medicinais 98 35 22 26

Homeopatia 16 6 4 5

Acupuntura 11 4 7 8

Fitoterapia 14 5 2 2

Outras 2 1 0 0

Antroposofia 0 0 0 0

Nenhuma 88 31 35 41

Mais de uma PIC 51 18 15 18

Total 280 100 85 100

Fonte: dados coletados pela autora

Page 52: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

50

5.1.5 RELATO DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS

Quando analisada a variável sexo com o uso de plantas medicinais, observa-se que há

significância estatística entre elas, p=3,48x10-6 (Tabela 5). Identificou-se o sexo como

determinante para o uso de Plantas Medicinais na unidade, sendo este uso predominantemente

ligado às mulheres. Em muitos estudos é observado o predomínio feminino, onde elas são

descritas comumente como cuidadoras da família, de alta adesão ao cultivo e uso de Plantas

Medicinais, além de transmissoras do saber popular (VASCONCELOS, 2011).

Tabela 5: Uso de plantas medicinais e sexo

Variável Usam plantas

Não usam

plantas Valor de p Total

n % n % n %

Sexo

Feminino 146 88% 134 67% 3,48x10-6 280 77%

Masculino 20 12% 65 33% 85 23%

Fonte: dados coletados pela autora

Cerca de 45% dos entrevistados faziam uso frequente de plantas medicinais, 97% nunca

relataram reações adversas devido ao uso e 66% disseram saber dos riscos envolvidos na sua

utilização sem a orientação de um profissional. Destaca-se o dado que embora não seja a

primeira escolha em caso de doenças, as Plantas Medicinais são utilizadas frequentemente por

quase metade dos usuários da CFAV. Perto de 74% disseram que gostariam de ter acesso às

plantas na UBS. Pesquisa realizada por Zeni et al. (2017) mostrou que dentre os indivíduos que

utilizavam remédios caseiros, 96% declararam usar plantas medicinais. Pires et al. (2014)

observaram que 75,5% da população de seu estudo fazia uso de plantas medicinais.

5.1.6 RISCO DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS

De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

(SINITOX), no último levantamento feito a respeito de Plantas Medicinais em 2016, houve 363

casos de intoxicação, 42% registrados em crianças de 1 a 4 anos, 55% dos registros das vítimas

eram do sexo masculino e 71% das ocorrências foram na região Sudeste. Os registros são

Page 53: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

51

realizados pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), localizados em

vários estados brasileiros, parte deles integrantes da Rede Nacional de Centros de Informação

e Assistência Toxicológica (Renaciat). As notificações são encaminhadas ao SINITOX,

responsável pela consolidação e divulgação anual dos dados, em âmbito nacional.

Existem várias causas responsáveis pelo desencadeamento de intoxicações com plantas

medicinais como, por exemplo, falta de conhecimento a respeito de condições de cultivo,

associada à correta identificação farmacobotânica da planta, informações insuficientes sobre

reações adversas, esquema posológico, período de tempo a ser empregado, entre outras e, em

especial, as interações medicamentosas decorrentes (NICOLETTI et al., 2007).

5.1.7 ASSOCIAÇÕES DE PLANTAS MEDICINAIS E MEDICAMENTOS

ALOPÁTICOS

Muitas vezes, um único fármaco não é o suficiente para a recuperação da saúde. Desta

forma, dois ou mais fármacos poderão ser prescritos e esta combinação, nem sempre, trará o

benefício almejado, isso porque drogas podem interagir entre si, causando a denominada

“interação medicamentosa” que poderá ser entendida como “mudança no efeito de uma droga,

causada por outra tomada no mesmo período” (Nicoletti et al., 2007).

Aproximadamente 5% dos usuários relataram usar plantas e medicamentos alopáticos

de forma concomitante, percentual baixo se comparado ao estudo realizado por Rosa et al.

(2012), no qual foi observado que 93,1% faziam este uso. Todos as associações citadas pelos

usuários da CFAV estão no Quadro 4. Durante as entrevistas, houve dificuldade para que estes

se lembrassem dos nomes dos medicamentos (alguns foram identificados por classe) e das

plantas utilizadas em algum momento de forma concomitante.

Algumas das interações observadas estão descritas na literatura (NICOLLETI et al.,

2010; LIMA et al., 2015), tais como: Ácido Acetilsalicílico e Camomila (pode aumentar o risco

e o tempo de sangramento); antialérgicos e Erva doce (pode potencializar poder sedativo do

antialérgico); Clonazepam e Erva cidreira (pode aumentar o efeito depressor); Ranitidina e

Hortelã (pode inibir citocromo P450 e consequente elevação do fármaco no sangue). É de

fundamental importância que os usuários sejam orientados em relação a interações

medicamentosas visto que foram constatadas algumas nas associações citadas por eles, para

que assim possam fazer o uso concomitante de forma racional, eficaz e segura. Há a necessidade

de mais estudos e informações na área para que sejam evidenciadas novas possibilidades de

interações entre plantas e fármacos.

Page 54: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

52

Fugh-Berman & Ernst (2001) em revisão sistemática sobre interações fármacos-plantas,

identificaram 108 interações suspeitas. Aproximadamente 13% delas foram consideradas “bem

documentadas” e 18,5% como possíveis interações. A varfarina foi o medicamento mais

comum e a Erva de São João a planta mais corriqueira.

Mazzari et al. (2014) reiteraram que um importante passo para que casos de interações

entre Plantas Medicinais e/ou fitoterápicos com fármacos alopáticos sejam prevenidos ou

mesmo reduzidos, é a conscientização não somente dos profissionais de saúde, mas também

das autoridades regulatórias e consumidores em geral, dos problemas que podem ocorre em

caso de coadministração. Os crescentes casos de automedicação com estes produtos colocam

em risco a saúde do paciente, principalmente quando não há acompanhamento médico.

Portanto, profissionais de saúde em geral (médico, farmacêuticos, enfermeiros, etc) devem

encorajar seus pacientes a informar-lhes sobre o uso de qualquer planta medicinal ou

fitoterápico.

No cenário da UBS, perto de 11% dos usuários afirmaram que os médicos perguntam se

eles fazem uso de plantas medicinais e 64% não informam espontaneamente aos profissionais

de saúde que as utilizam no dia-a-dia. Este resultado foi bem próximo ao encontrado por

Machado et al. (2014) em trabalho realizado com idosos, onde 60,7% disseram que também

não informavam.

Quadro 4: Associações entre medicamentos e plantas medicinais

Medicamento Planta medicinal

Ácido acetilsalicílico Camomila

Anador Erva doce

Analgésico Camomila

Antialérgico Erva doce

Antibiótico Alho

Bombinha de asma Erva cidreira

Ciprofloxacino Parietária

Ciprofloxacino Cana do brejo

Clonazepam Erva cidreira

Gripalcê Limão e alho

Losartana Erva doce

Microvilar Hibisco

Omeprazol Espinheira Santa

Page 55: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

53

Omeprazol Erva doce

Ranitidina Hortelã

Ranitidina Erva cidreira

Fonte: dados coletados pela autora

5.1.8 CONHECIMENTO ESPECÍFICO DE PIC

Foram feitas perguntas abertas aos usuários sobre Homeopatia, Plantas Medicinais e

Fitoterapia cujo objetivo foi analisar o conhecimento acerca destas, bem como a sua utilização

e doenças tratadas. Todos os usuários foram codificados de modo a preservar a sua identidade.

Nesta etapa foi observado um pouco de ansiedade e medo de errar por parte de alguns dos

entrevistados, e o entrevistador buscou tranquilizá-los já que aquele não era um teste de

conhecimentos e que tudo o que falassem teria importância para este trabalho.

a) HOMEOPATIA

Em relação ao conhecimento sobre Homeopatia, 82% declararam não ter conhecimento

a respeito. Cerca de 85% disseram não saber que é possível ter acesso às consultas homeopáticas

no SUS, 96% não sabem informar se algum hospital da região oferece a especialidade e 90%

gostariam de ser encaminhados às consultas homeopáticas. Deste modo, a população deve ser

orientada sobre as possibilidades e opções de tratamento e o resultado mais uma vez reflete a

falta de informação pelos usuários.

Aos usuários que declararam ter algum conhecimento sobre Homeopatia foi perguntado

o que eles entendiam a respeito, com as próprias palavras.

As respostas foram agrupadas de acordo com núcleos identificados mais presentes, a

saber:

Finalidade

“É um comprimido branco para bronquite e alergia.” Paciente 48, sexo masculino, 40

anos

Page 56: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

54

“É um medicamento para curar doenças crônicas. As crianças usam para alergia.”

Paciente 53, sexo feminino, 50 anos

“Líquido à base de plantas que uso para imunidade.” Paciente 41, sexo feminino, 40

anos

Medicamentos homeopáticos

“São medicamentos em bolinhas, à base de plantas.” Paciente 67, sexo feminino, 31

anos

“É um comprimido branco para bronquite e alergia.” Paciente 10, sexo feminino, 38

anos

“É um medicamento específico para cada pessoa.” Paciente 22, sexo masculino, 55

anos

“É um remédio natural.” Paciente 50, sexo feminino, 68 anos

“É um remédio mais natural, sem química.” Paciente 8, sexo feminino, 22 anos

Tratamento

“É um tratamento a longo prazo. Não agride o organismo e trata o problema.” Paciente

121, sexo masculino, 33 anos

“É um tratamento lento. Já usei e tive bons resultados.” Paciente 300, sexo feminino,

41 anos

“Tratamento com plantas medicinais, indicado por médico competente.” Paciente 88,

sexo masculino, 30 anos

“É um tratamento medicinal alternativo.” Paciente 11, sexo feminino, 37 anos

Page 57: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

55

b) FITOTERAPIA

Aproximadamente 94% responderam não saber o que é Fitoterapia e somente 2% dos

usuários se tratam com medicamentos fitoterápicos na unidade pesquisada.

Com relação à obtenção de novas informações, 92% gostariam de saber mais a respeito

de Fitoterapia. De acordo com Caccia-Bava et al. (2017) o uso da Fitoterapia compatibiliza-se

à premissa de que o conhecimento e respeito à cultura das pessoas agrega significado à

produção do cuidado e maior adesão às suas práticas, singularizadas por serem construídas a

partir das referências genuínas dos sujeitos.

A mesma pergunta foi feita aos usuários que declararam saber o que era a Fitoterapia.

Não foi necessário agrupar as respostas, pois, em geral se tratavam da mesma questão e

relatavam o que achavam a respeito do que são feitos os medicamentos. Além disso, foram

obtidas pouquíssimas respostas, sinalizando o pouco entendimento a respeito e um maior

conhecimento empírico frente às outras PIC avaliadas nesta seção. Alguns perguntaram se era

o mesmo que Fisioterapia.

“É um medicamento a base de plantas.” Paciente 45, sexo masculino, 52 anos

“É um medicamento que age rápido e não me sinto intoxicada.” Paciente 185, sexo

feminino, 40 anos

“É uma cápsula com erva processada dentro.” Paciente 84, sexo feminino, 29 anos

c) PLANTAS MEDICINAIS

Os usuários que declararam fazer uso de plantas medicinais foram questionados sobre

o porquê utilizavam esta terapia. Observa-se que ainda há o conceito de que por ser natural, o

tratamento não faz mal e é seguro. As respostas foram agrupadas em subcategorias, a saber:

Segurança

“Os medicamentos viciam e plantas são mais seguras.” Paciente 49, sexo feminino,

40 anos

Page 58: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

56

“Não faz mal e não tem mistura de outros componentes, como conservantes.”

Paciente 58, sexo masculino, 39 anos

“É mais saudável e natural.” Paciente 209, sexo feminino, 35 anos

“Porque não há contraindicações e creio no poder das plantas.” Paciente 4, sexo

feminino, 48 anos

“Porque agride menos o organismo. Mas depende da planta.” Paciente 18, sexo

masculino, 31 anos

“Não gosto de remédios convencionais. Tomando o necessário, sem abusar, faz bem.”

Paciente 89, sexo masculino, 40 anos

Uso familiar

“Adoro chás, quentes e gelados. Tomo desde pequena.” Paciente 91, sexo feminino,

55 anos

”Eu gosto dos chás e das ervas. Minha mãe sempre me dava.” Paciente 245, sexo

masculino, 58 anos

“Já uso há muito tempo. O conhecimento vem de família.” Paciente 308, sexo

feminino, 70 anos

Efeito

“O efeito é rápido. Igual a um remédio e natural.” Paciente 113, sexo masculino, 41

anos

“Gosto e acho eficiente. O chá complementa o tratamento.” Paciente 342, sexo

feminino, 70 anos

Page 59: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

57

Para os que responderam não utilizar plantas medicinais, foi perguntado o porquê.

Observa-se pelas respostas abaixo que há o receio de utilizar de modo errado, dificuldade no

acesso e obtenção, desinteresse, falta de hábito e de indicação profissional.

“Acho complicado encontrar e tenho medo de usar errado.” Paciente 135, sexo

masculino, 36 anos

“Estou grávida e tenho receio de usar.” Paciente 314, sexo feminino, 31 anos

“Conheço pouco e minha família não usa.” Paciente 19, sexo masculino, 20 anos

“Os médicos não indicam e tenho medo de usar.” Paciente 202, sexo feminino, 53

anos

“Não tenho espaço para plantar.” Paciente 341, sexo feminino, 71 anos

“Não tenho o hábito.” Paciente 99, sexo masculino, 60 anos

No quadro 5 podem ser visualizadas as plantas mais citadas pelos usuários da CFAV,

suas indicações, partes usadas e modos de preparo. Cada participante podia falar até cinco

plantas que viessem na sua memória. Um total de 70 plantas foram citadas as quais tiveram

seus nomes populares correlacionados à uma ou mais identidades botânicas com base na

literatura científica, no Formulário Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira e em obras de

referência sobre plantas medicinais. Entretanto, como as espécies não foram coletadas, não foi

feita a confirmação da identidade botânica.

A planta mais citada foi o Capim limão (Cymbopogon citratus Stapf.). Esta pertence à

Poaceae, uma das maiores famílias de plantas que engloba cerca de 500 gêneros e 8000 espécies

essencialmente herbácea, denominadas gramíneas. O centro de origem desta espécie é o

sudoeste asiático e a mesma encontra-se distribuída em regiões tropicais e subtropicais. As

utilizações desta planta são amplas, tais como: fortificante, digestivo, antitussígeno, antigripal,

analgésico, antiemético, anticardiopatias, antitérmico, anti-inflamatório de vias urinárias,

diurético, antiespasmódico, diaforético e antiálgico (GOMES & NEGRELLE, 2003). Seu chá

pode ser preparado por infusão (BRASIL, 2011c). Machado et. al (2014) também teve o Capim

Page 60: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

58

limão como a planta citada mais utilizada pelos pacientes da sua pesquisa. E nesta ainda foram

citados o boldo, o manjericão, o alecrim e o hortelã.

A Erva cidreira (Melissa officinalis L.) foi a segunda planta mais citada e as partes

indicadas para uso são as sumidades floridas secas, devendo a mesma ser preparada por infusão.

Tem indicação como antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve (BRASIL, 2001c). Há

também a espécie Lippia alba (Mill.) N. E. Brown que se trata de um arbusto aromático

medindo até 2m de altura, com ramos finos, esbranquiçados, arqueados e quebradiços. Com

folhas opostas, elípticas de largura variável, com bordos serreados e ápice agudo e flores

reunidas em inflorescências capituliformes de eixo curto. Amplamente utilizada para dores

abdominais como digestivas, é consumida principalmente nas formas de chás produzidos a

partir das folhas. Também podem ser usadas na forma de compressas para combater

hemorroidas; macerada, para o uso local, contra dor de dente; e em forma de banhos, como

febrífuga. A infusão alcoólica friccionada é recomendada para combater resfriados e a raiz é

usada no Nordeste como aperiente e no combate às afecções hepáticas (Aguiar & Costa, 2005).

Embora ambas as espécies sejam conhecidas popularmente como "ervas cidreiras", somente a

Melissa officinalis é considerada oficinal.

O boldo, terceira planta mais citada, é o nome popular de diversas espécies (Peumus

boldus Molina, Plectranthus barbatus, Plectranthus ornatus e Vernonia condensata) sendo que

quando adquirida em produtos acabados (fitoterápicos ou chás alimentícios), geralmente trata-

se da espécie Peumus boldus. Já as espécies coletadas nos quintais da região sudeste aparecem

na literatura científica como sendo P. barbatus ou P. ornatus. O Peumus boldus Molina deve

ser preparado por infusão e as partes indicadas para uso são as folhas secas. Tem indicação

como antidispéptico, colagogo e colerético (BRASIL, 2001c). A espécie Plectranthus

barbatus Andrews pertence à família Lamiaceae (sin. Labiatae) popularmente conhecida como

“falso boldo” ou “boldo brasileiro” e possui um grande número de sinonímias: Coleus

barbatus Benth, Plectranthus forskohlii Briq, Plectranthus forskalaei Willd, Plectranthus

kilimandschari (Gűrke) H.L. Maass., Plectranthus grandis (Cramer) R.H. Willemse, Coleus

kilimandschari Gűrke ex Engl, Coleus comosus A. Rich, Coleus coerulscens Gűrke e Coleus

forskohlii Briq. É utilizada na medicina popular para tratar distúrbios do sistema digestivo e

nervoso, doenças hepáticas e dentárias. Outros estudos reportaram sua atividade anti-

inflamatória, antifúngica, antibacteriana, antioxidante, inibição de enzimas do HIV-1,

citotóxica, redução da gordura total do sangue, e no tratamento de asmas, bronquites,

pneumonias e outras doenças respiratórias (SILVA et al., 2016). A planta Plectranthus ornatus

Codd é popularmente conhecida como boldo chinês, boldo gambá, boldo miúdo ou boldo

Page 61: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

59

rasteiro. Na medicina popular é indicada para males do fígado e problemas da digestão. Pode

ser também utilizada no tratamento para controle da gastrite, na dispepsia, azia e mal-estar

gástrico, o seu sabor amargo é estimulante da digestão e do apetite. Foram observadas leve

atividade sedativa, que pode estar associada à ação analgésica, bem como bactericida e

fungicida, ainda não especificadas pela literatura (MAURO et al., 2008).

No estudo feito por Silva e Filho (2014) na mesma unidade de saúde, as três plantas

mais citadas foram Boldo, Capim limão e Erva cidreira e, após 4 anos, confirmamos os mesmos

dados.

Quando realizamos a comparação entre os usos populares e a literatura oficial, como

Mementos e Formulários da Farmacopeia Brasileira, observamos que não houve discrepância

entre os motivos de utilização, a parte usada e o modo de preparo das plantas medicinais

pesquisadas.

Quadro 5: Plantas medicinais mais citadas

PLANTA No DE

CITAÇÕES

USO POPULAR PARTE

USADA

MODO DE

PREPARO

Capim Limão 91 Calmante, gripe, dor

de barriga

folhas Infusão, decocção,

xarope e suco

Erva Cidreira 84 Calmante, cólicas,

pressão alta, diarreia,

dor de barriga, dor de

estômago, dor de

cabeça, bronquite,

gases, resfriado

folhas,

planta toda

Infusão, decocção e

xarope

Boldo 70 Boldo, fígado, dor de

estômago, abortivo,

indigestão, enjoo,

ressaca, gripe

folhas Infusão, decocção e

suco

Camomila 68 Calmante, dor de

cabeça, gastrite, gases

flores, folhas Infusão, decocção,

xarope e suco

Erva doce 51 Calmante, gastrite folhas, frutos Infusão, decocção

Hortelã 21 Calmante, digestivo,

abortivo, gripe, dor de

estômago

folhas,

planta toda

Infusão, decocção e

xarope

Page 62: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

60

Quebra pedra 19 Cálculo renal folhas,

galhos,

planta toda

Infusão, decocção e

maceração

Aroeira 12 inflamações, feridas,

“limpa” o organismo

folhas,

casca, talo

Infusão, decocção,

maceração e banho

Espinheira

Santa

11 dor de estômago, anti-

inflamatório, limpa o

organismo

folhas Infusão, decocção

Saião 10 bronquite, resfriado,

inflamações,

expectorante

folhas,

planta toda

Infusão, decocção,

xarope e suco

Fonte: dados coletados pela autora

Baseado nas plantas mais citadas pelos usuários, realizamos buscas nos compêndios e

normativas oficiais a fim a verificar a existência de informações e monografias publicadas

(Quadro 6). Observamos que a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no.10, de 9 de março

de 2010 e o 2º. Suplemento da Farmacopeia Brasileira (2017) foram as referências nas quais

encontramos o maior número de monografias descritas, ambos com 80%. Embora a resolução

citada tenha sido revogada pela RDC no.26, de 13 de maio de 2014, a mesma ainda é utilizada,

pois somente nela estão descritas as alegações terapêuticas (Anexo I, BRASIL, 2010). O fato

de não termos todas as plantas mais usadas nesta UBS listadas nas literaturas oficiais representa

um desafio para a implantação da Fitoterapia e para o uso de plantas medicinais na clínica, já

que estas seriam fonte de informação segura para orientação do uso racional das mesmas por

toda a equipe de saúde. Esta é uma realidade para muitas outras plantas medicinais cujas

monografias precisam ser incluídas nos compêndios oficiais com o objetivo de respaldar seus

usos que são de amplo conhecimento popular no país.

Page 63: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

61

Quadro 6: Plantas mais citadas e monografias em compêndios e normativas oficiais

Plantas citadas

1º Supl. do

Formulário

de

Fitoterápicos

da

Farmacopeia

Brasileira 1ª

Ed. (2018)

2 Supl. da

Farmacopeia

Brasileira

(2017)

Memento

Fitoterápico

da

Farmacopeia

Brasileira

(2016)

Instrução

Normativa

nº 2 (2014)

Farm.

Homeop.Bras.

3ª ed (2011)

Farm.Bras.

5ª ed.

(2010)

RDC

10

(2010)

RENISUS

(2010)

Capim limão

(Cymbopogon

citratus) Não Sim Não Não Não Sim Sim Não

Erva cidreira

(Lippia

alba/Melissa

officinalis) Sim Não Não Sim Não Sim Sim Não

Boldo

(Peumus boldus

Molina/

Plectranthus

barbatus

Andrews) Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim

Camomila

(Matricaria

chamomilla L.) Não Sim Sim Sim Sim Não Sim Não

Erva doce

(Pimpinella

anisum L.) Não Sim Não Sim Não Sim Sim Não

Hortelã (Mentha

piperita L.) Sim Sim Não Sim Não Sim Sim Sim

Quebra pedra

(Phyllanthus

niruri L.) Sim Sim Não Não Não Sim Sim Sim

Espinheira santa

(Maytenus

ilicifolia Mart.

ex Reissek) Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim

Aroeira (Schinus

therebinthifolia

Raddi) Não Sim Não Não Não Não Não Sim

Page 64: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

62

Saião

(Kalanchoe

brasiliensis/

Kalanchoe

pinnata) Não Não Não Não Não Não Não Sim

Percentual de

monografias

encontradas

30% 80% 30% 60% 10% 70% 80% 60%

Fonte: dados coletados pela autora

5.1.9 FORMAS DE PREPARO E OBTENÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS

Durante as entrevistas, na parte de uso/conhecimento de plantas medicinais, os usuários

foram questionados a respeito do preparo das mesmas. A forma mais citada para o preparo foi

a infusão (58%), seguida pela decocção (33%), observadas na Figura 10.

Figura 10: Formas de preparo das plantas medicinais (dados coletados pela autora)

Em relação às formas de obtenção das plantas medicinais verificou-se na Figura 11 que

a principal forma relatada foi a coleta na residência do entrevistado (36,1%), ou seja, este

usuário ou algum de seus familiares também cultiva a planta. Deste modo, a forma de acesso

preferencial para esta comunidade é a planta medicinal fresca. De acordo com a ANVISA,

Infusão58%

Decocção33%

Maceração1%

Xarope 3%

Banho1%

Suco4%

Infusão Decocção Maceração Xarope Banho Suco

Page 65: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

63

denomina-se planta fresca qualquer espécie vegetal com finalidade medicinal, usada logo após

a colheita/coleta, sem passar por qualquer processo de secagem (BRASIL, 2014).

Para Amorozo (2002), o hábito de cultivar plantas em quintais nas zonas urbanas

permite formar ilhas de vegetação por meio da união de vários espaços plantados, como praças

e parques, que contribuem para melhorar a qualidade de vida nos centros urbanos. Em seguida

tem-se a compra em mercados (24,1%) e o quintal de vizinhos (13%). Destaca-se que embora

a UBS não faça a dispensação ativa das plantas medicinais, 1,1% dos usuários da CFAV

disseram obtê-las na coleção viva da unidade. Este jardim fica na lateral da clínica e é de livre

acesso. Este dado mostra a importância da orientação profissional aos usuários sobre quais

plantas devem ser usadas e o modo de preparo de cada uma. Szervieski et al. (2017) em pesquisa

feita com idosos no Paraná, encontrou em primeiro lugar a coleta no quintal de casa (93,4%),

seguido por jardim de vizinhos (12,6%) e mercados (11,5%).

Figura 11: Formas de obtenção das plantas medicinais (dados coletados pela autora)

5.1.10 AGRUPAMENTO DAS DOENÇAS CITADAS DE ACORDO COM A OMS

(CID-10)

Foi perguntado aos usuários da CFAV as principais motivações de uso das plantas

medicinais conhecidas e/ou usadas por eles e seus familiares. As doenças mais citadas foram:

depressão, insônia, dores em geral, estresse e ansiedade, as quais estão relacionadas a

transtornos mentais e comportamentais (categoria V). Nesta categoria também estão inseridos

0,2%

0,2%

0,4%

0,9%

0,9%

1,1%

1,7%

2,1%

3,8%

6,4%

9,2%

13,0%

24,1%

36,1%

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0%

Canteiro perto de casa

Região Norte

Raizeiro

Farmácias

Jardim da escola dos filhos

CFAV

Região Nordeste

Trabalho

Familiares

Loja especializadas

Feiras

Quintal de vizinhos

Mercados

Residência

Page 66: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

64

outros transtornos, como os de humor, demência, fadiga, irritabilidade, fobia e estresse (Figura

12). De acordo com Lipp (2004), na sociedade pós-moderna, o stress tem se tornado um

problema de saúde muito comum, atingindo o marco de 40% na população de São Paulo.

Atualmente, os estudos sobre stress abrangem não apenas as consequências no corpo e na mente

humana, mas também suas implicações na qualidade de vida da sociedade. O estresse pode

afetar a saúde, a qualidade de vida e a sensação de bem-estar como um todo (LIPP, 2001).

Diversos estudos têm apontado o uso de PIC no tratamento de doenças. Kurebayashi et al.

(2009), em estudo de enfermidades tratadas pela acupuntura, concluiu que esta pode estar

inserida como técnica preventiva, curativa e reabilitadora para diversas enfermidades, agudas

ou crônicas. Llapa Rodriguez et al. (2015) observou que as PIC estão sendo cada vez mais

utilizadas, auxiliando não apenas na redução do estresse, bem como na redução dos níveis de

ansiedade, de sintomas depressivos, do alívio da dor e da compulsão alimentar. Faustino,

Almeida e Andreatini (2010) em revisão feita com Plantas medicinais e fitoterápicos para

transtornos de ansiedade generalizada, reconhecem a importância da sua utilização, mas

destacam alguns limitantes para seu uso pleno, dentre estes: a posição extremada de alguns

profissionais (alta rejeição ou aceitação); o custo dos medicamentos; a carência de estudos

clínicos controlados. Adler et al. (2007) em relato de séries de caso com pacientes em

tratamento da depressão com Homeopatia, referiu resposta terapêutica em 93% dos indivíduos

submetidos à terapêutica.

O segundo grupo de doenças mais citadas foram as pertencentes ao aparelho digestivo,

como gastrite, cólicas, constipação intestinal e enfermidades hepáticas (categoria XI). Na

literatura, há diversas referências sobre o uso de plantas medicinais para estas patologias. Silva

et al. (2006) reconheceram a eficiências das plantas medicinais no tratamento de distúrbios do

trato gastrointestinal e ressaltaram a importância do conhecimento tradicional para a geração

de conhecimento científico, apontando seu uso como instrumento de cura no povoado

investigado. Algieri et al. (2015) evidenciou bons resultados na remissão e resposta clínica de

portadores de doença inflamatória intestinal tratados com os extratos de Artemisia absinthium,

Boswellia serrata e Aloe vera.

As PIC constituem então uma grande oportunidade de tratamento às doenças relatadas

pela comunidade da CFAV e para os usuários do SUS, além da melhoria da qualidade de vida,

a prevenção de agravos, a promoção e a recuperação da saúde.

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65

Figura 12: Agrupamento das doenças citadas de acordo com a CID-10 (dados coletados pela autora)

5.2 QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS PROFISSIONAIS

5.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Os questionários foram respondidos por 19 profissionais atuantes na UBS, médicos e

enfermeiros (Tabela 6). A idade média foi de 31 anos e a amostra foi composta

predominantemente pelo sexo feminino (73%) e por médicos (as) (70%).

Tabela 6: Perfil dos profissionais prescritores da CFAV

Variável Categoria Frequência Percentual (%)

Sexo Feminino 14 74

Masculino 5 26

Profissão Médico (a) 14 74

Enfermeiro (a) 5 26

Idade 21-30 anos 11 58

31-40 anos 6 32

41-50 anos 2 10

Fonte: dados coletados pela autora

226 24

232

13 14

61

142

6

3713 2

0

50

100

150

200

250

I III IV V VI IX X XI XII XIV XVIII XIXAgr

up

amen

to d

e d

oen

ças

cita

das

Classificação CID-10

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66

5.2.2 CONHECIMENTO DA PNPIC

Em relação ao conhecimento sobre a PNPIC, 16% dos profissionais disseram ter

conhecimento sobre a mesma, bem como acerca das terapias integrantes. Aproximadamente

68% afirmaram conhecê-la, mas não souberam informar a sua composição e abrangência,

enquanto 16% a desconhecem totalmente.

Pesquisa realizada por Galhardi et al. (2013) com 42 gestores municipais em São Paulo

constatou que 26% deles tinham conhecimento sobre a PNPIC, 31% a conheciam pouco e 41%

a desconheciam. Pesquisa exploratória realizada com médicos e enfermeiros de equipes de

saúde da família de Florianópolis observou que 88% destes desconheciam as diretrizes da

PNPIC, embora 81% fosse favorável ao proposto por ela (Thiago & Tesser, 2008).

Gontijo & Nunes (2017) ressaltam que é comum uma visão preconceituosa em relação

às PIC e o não reconhecimento das suas contribuições no processo de cura. Segundo Le Fanu

(2000 apud Gontijo & Nunes, 2017), esse preconceito poderia ser o responsável pelo

desinteresse de muitos profissionais de saúde sobre as práticas, motivo da discriminação entre

médico/paciente e colegas praticantes dessas especialidades e do desaparecimento ou redução

destas práticas nos dias atuais.

Salles e Schraiber (2009), após a realização de entrevistas com 16 gestores de seis

municípios brasileiros com a maior produção em Homeopatia no ano de 2003 concluíram que

a noção predominante era de que a terapia era uma “medicina suave” que lentamente poderia

promover a melhora dos sintomas e que a falta de informações esclarecedoras sobre os

procedimentos homeopáticos limitavam as possibilidades de utilização da terapia porque gera

insegurança sobre o seu uso.

5.2.3 CONHECIMENTO ESPECÍFICO DE PIC

Quando questionados sobre conhecimentos específicos de Homeopatia, Fitoterapia,

Plantas medicinais e Medicina Antroposófica, 35% dos profissionais afirmaram não conhecer

nada a respeito e os demais possuíam informações acerca de pelo menos uma das terapias. A

prática mais conhecida foi a de Plantas medicinais, para 47% dos entrevistados e a menos

conhecida a Antroposofia, que não foi citada por nenhum dos entrevistados. Para 21% dos

profissionais, o conhecimento foi adquirido na própria unidade de saúde, 10% informaram ter

Page 69: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

67

sido na universidade, outros 16% aprenderam com familiares e 5% em cursos de pós-graduação

(Figura 13).

Figura 13: Onde os profissionais da CFAV adquiriram conhecimento em PIC

(dados coletados pela autora)

Percebe-se um grande vácuo da universidade no tocante à capacitação dos profissionais

de saúde para as PIC, onde 80% não foram orientados às mesmas. Nascimento Junior et al.

(2016) constatou que 67% dos profissionais entrevistados em sua pesquisa relataram a mesma

ausência na formação. Para Thiago & Tesser (2011), o conhecimento sobre as terapias

complementares, deveria ser adquirido durante a formação, já que em seu trabalho 59,9% dos

entrevistados mostraram interesse em capacitações e todos concordaram que essas práticas

deveriam ser abordadas na graduação.

Sá et al. (2018) em pesquisa realizada com alunos do último ano dos cursos de

Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina e Odontologia oriundos de universidades

cearenses observaram que o curso de Farmácia é o único a ofertar disciplinas relacionadas às

PIC e/ou plantas medicinais em todas as instituições avaliadas. O curso de Odontologia e

Medicina foram os que demonstraram maiores carências nesta formação. A região Sudeste foi

a que apresentou o maior número de especialistas em PIC (42%) e os farmacêuticos (55%), de

acordo com o observado no tocante à formação, formam a classe profissional com mais

especialistas.

Perto de 74% dos profissionais relataram o uso de alguma PIC no último ano (2017) e

52% informaram uso por parte de seus familiares. As PIC mais citadas e utilizadas foram a

10%

5%

21%

16%11%

37%

Universidade Pós-graduação Clinica Familiares Outros Não se aplica

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68

Fitoterapia e as Plantas medicinais. A auriculoterapia, mesmo não elencada nesta pesquisa, foi

citada por dois profissionais.

Veiga Junior (2005) ressalta que o nível de desconhecimento de alguns prescritores só

aumenta os riscos para o paciente, uma vez que o médico pode errar seu diagnóstico em função

das muitas interações possíveis entre as plantas e os medicamentos convencionais.

Fontanella et al. (2007) em estudo feito em comunidade usuária do SUS, encontrou

baixa relação entre o uso de PIC e o conhecimento dos profissionais a respeito, indicando que

a população utiliza as mesmas sem a orientação profissional.

Abaixo alguns depoimentos em relação ao que pensam da inserção das PIC no SUS:

“É essencial e seria muito interessante se os médicos e enfermeiros fossem

capacitados para essas práticas.” M1

“Acho uma política maravilhosa que deveria ser estimulada desde a

graduação para os profissionais adquirirem conhecimento precocemente e já

realizar a sensibilização.”M3

“Algo importante e diferencial. Auxilia cuidados mais amplos e o uso de menos

medicamentos.” E1

“Acredito que seja de grande importância, principalmente pois há pessoas que

não tem indicação ou não devem usar medicamentos comuns e poderiam se

beneficiar das PIC.”M4

“É fundamental a oferta de serviços e possibilidades alternativas de

tratamentos.” E2

“Acho importante como opção terapêutica complementar/alternativa,

principalmente quando os pacientes não respondem a terapia tradicional.”

M5

“Muito interessante, visto que a maioria dos pacientes já fazem uso por conta

própria.”M8

“Muito importante. Aumenta a abrangência e alcance da capacidade de

tratamento.”M9

Page 71: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

69

“Acho que tem grande importância e que pode melhorar a qualidade de vida

dos pacientes.”M10

“Eu gostaria de maiores informações e que todas as terapias estivessem

presentes nas Clínicas da Família.”M12

“Muito interessante.” M13

“Acho muito bom e certamente os pacientes iriam se beneficiar na

unidade.”M14

“Gostaria muito que houvesse cursos nas unidades de saúde.” E4

“Muito bom. Seria ótimo se as práticas integrativas e complementares fossem

implementadas na sua totalidade.” E5

Observa-se por estas falas que a equipe é interessada e aberta a essas práticas, além de

reconhecer a sua importância para a comunidade atendida e para si mesmos, enquanto

profissionais. Todos os entrevistados disseram que tinham interesse em aprender mais a respeito

e gostariam de participar de capacitações em PIC. É importante destacar que a PNPIC preconiza

a capacitação profissional como parte estratégica para o sucesso e o seu adequado

estabelecimento.

Sobre a prescrição de fitoterápicos, 79% dos profissionais prescritores declararam

prescrever esse tipo de medicamento para os seus pacientes, quando aplicável, e 60%

informaram que estes estão disponíveis para a dispensação pela farmácia da unidade.

Atualmente estão disponíveis na farmácia da CFAV as cápsulas de Isoflavonas da soja (Glycine

max), Garra do diabo (Harpagophytum procumbens) e Alcachofra (Cynara scolymus), todas

integrantes da RENAME. O percentual de profissionais que prescrevem foi alto quando

comparado à pesquisa de Nascimento Júnior et al. (2016), onde foi encontrado que 35% dos

profissionais da unidade em estudo prescreviam este tipo de medicamento.

Conforme visto, na farmácia da UBS em estudo há pouca dispensação de fitoterápicos.

Para obtermos maiores informações, solicitamos relatórios do sistema utilizado e obtivemos

somente a movimentação de saída do almoxarifado e farmácia. Não conseguimos dados de

prescrições, já que estas não ficam arquivadas, e tampouco pudemos traçar o perfil dos usuários

que utilizam os medicamentos, médicos prescritores e medicamentos que foram negados por

estarem indisponíveis na rede.

Page 72: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

70

5.3 Desafios às PIC

Após a revisão da literatura, da política e da realização deste trabalho sabe-se que ainda

há grandes desafios para a implantação e implementação das PIC em sua totalidade num país

tão diverso e extenso como o Brasil, além deste estar ancorado a um sistema universal e público

de saúde. O monitoramento e avaliação dos serviços também é de grande importância e existem

vários instrumentos (quantitativos e qualitativos) que podem ser utilizados para esta finalidade.

Lima et al. (2013) ressaltam que apesar do incentivo da PNPIC para a implantação das

práticas na rede de serviços do SUS, especialmente a APS/ESF, existe o desafio de se

compreender e construir quais práticas de saúde podem se inserir no escopo das PIC. E que o

sistema de informação atual não consegue apreender todas as práticas ofertadas nos serviços.

Havendo assim um descompasso entre o que é praticado pelos profissionais no serviço e o

registrado nas bases de dados.

Cavalcanti et al. (2014), em publicação totalmente dedicada ao relato de proposições

teóricas e experiências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), elenca os principais

desafios às PIC e ressalta que o primeiro deles é o mapeamento de quais são as práticas

realizadas no SUS que não estão contempladas na PNPIC. O mapeamento é atualmente feito

pelo PMAQ. O segundo desafio é a mudança paradigmática necessária principalmente no

campo profissional, já que as PIC trazem além do cuidado, uma diferença no olhar para o

indivíduo e no processo saúde-doença. A formação profissional é outra dificuldade já que os

cursos de graduação, com exceções, abordam as PIC em sua formação e poucos associam teoria

e prática. Este fato dificulta a inserção de novos profissionais na atenção básica e comprometem

a expansão dos serviços. A ampliação das estratégias de fortalecimento da oferta de PIC

também se mostrou um ponto decisivo pois depende da possibilidade da aprovação de

financiamento para o município. Por último e não menos importante, tem-se ainda a

necessidade da existência da agenda de pesquisa em PIC, cujo objetivo é desenvolver pesquisas

que promovam a produção de conhecimento nos temas de formação, acesso às PIC e

efetividade. Esta agenda viabilizaria a articulação e mobilização entre os pesquisadores,

profissionais de saúde e gestores atuantes na área e apoiaria os debates sobre novas

incorporações de práticas.

Page 73: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa buscou realizar um diagnóstico dos serviços de PIC numa UBS

localizada na zona norte do Rio de Janeiro e verificou a utilização das terapias, conhecimento

e as impressões dos usuários atendidos e da equipe de profissionais da unidade. Desta forma

foram identificados alguns desafios e oportunidades para o uso das PIC.

OPORTUNIDADES

• A UBS é certificada como “Unidade Amiga das Plantas”, o pode viabilizar e a facilitar

a realização de eventos.

• A população da UBS e os profissionais são abertos à utilização das PIC, e mais da

metade já fez uso de alguma terapia.

• Há interesse dos usuários em receber maiores informações a respeito das PIC.

• A maioria dos usuários da CFAV tem consciência sobre o risco do uso de plantas

medicinais sem orientação profissional.

• Todos os profissionais consultados aceitariam participar de capacitações em PIC.

• A gerência da unidade é disponível para a organização de eventos.

• A maioria das plantas mais citadas e conhecidas pelos usuários estão em compêndios

oficiais, podendo estas ser fontes de referência para a produção de materiais educativos

na UBS.

DESAFIOS

• Somente a Fitoterapia está implementada na UBS e foi observada demanda por outras

PIC.

• Os fitoterápicos embora sejam prescritos, são pouco ofertados na farmácia da clínica.

• Os usuários não informam espontaneamente que usam alguma PIC durante os

atendimentos.

• Há demanda pela dispensação de plantas frescas para os usuários, mas ela não é feita na

UBS.

• A manutenção do jardim de plantas medicinais é necessária para a identificação correta

das espécies e uso racional destas.

Page 74: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

72

• Há a utilização de plantas medicinais concomitante a medicamentos alopáticos pelos

usuários e algumas interações medicamentosas foram verificadas. Destaca-se a

necessidade de capacitação profissional neste sentido.

• Os profissionais da UBS não perguntam aos pacientes se estes utilizam PIC no dia-a-

dia.

• Desconhecimento total dos usuários em relação à PNPIC e PNPMF.

• Somente 16% dos profissionais conhecem a PNPIC, o que certamente reflete no baixo

conhecimento dos usuários.

O resultado deste trabalho foi um diagnóstico situacional e foi observado que as PIC

vem sendo desenvolvidas de forma tímida e isolada.

Como praticamente todos os usuários desconhecem a PNPIC e PNPMF, poderiam ser

feitas mais divulgações (fôlderes, palestras e redes sociais) e novas atividades inclusivas. Nesta

clínica acontecem oficinas mensais de cultivo de plantas medicinais, realizadas pela SMS-RJ e

certamente há espaço e demanda para a realização de novos eventos voltados a esse público.

A CFAV, se assim desejar, pode utilizar os dados levantados sobre plantas medicinais

e fitoterápicos, bem como dos modos de acesso e formas farmacêuticas mais aceitas para

promover discussões sobre o assunto. Um dos produtos desta dissertação é um folheto (Anexo

5) sobre modo de preparo para o consumo de plantas medicinais, destinada à distribuição aos

usuários.

A falta de informação por parte dos profissionais seria atenuada se na sua formação

fossem ofertadas, disciplinas voltadas ao assunto, e que aliassem a teoria à prática. A maioria

deles declararam já ter feito uso de alguma prática integrativa e complementar, para si e/ou seus

familiares, no último ano (2017). Todos reconheceram a importâncias das PIC para o SUS e

para os seus usuários, e apresentaram interesse em participar de capacitações.

A unidade, caso haja interesse de expandir os serviços, precisa definir metas e objetivos,

além da realização de diversas análises, como espaço necessário, capacitação profissional,

materiais necessários e etc. O Ambiente Virtual de Aprendizagem do SUS (AvaSUS) pode ser

utilizado para a educação continuada dos diversos níveis de profissionais envolvidos nos

cuidados aos usuários.

O segundo produto deste trabalho foi um diagnóstico situacional (Anexo 6) compilado

destinado à gerência da unidade. Esperamos que o mesmo possa contribuir para o

desenvolvimento e entendimento das PIC, considerando o cenário visualizado na UBS.

Page 75: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

73

É importante ressaltar que a jornada das PIC ainda está em construção e esforços de

todas as áreas envolvidas são fundamentais para a expansão deste conjunto de práticas e cabe a

todos os envolvidos a participação ativo neste processo.

Conclui-se ainda que é necessário muito empenho e investimento para que esta unidade

implemente a PNPIC de forma adequada. A promoção de ações, o envolvimento da comunidade

e as capacitações dos profissionais são ferramentas muito importantes para o triunfo das PIC na

CFAV.

Page 76: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

74

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Page 85: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

83

8 ANEXOS

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Page 86: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

84

Anexo 2 – Carta de Anuência da UBS

Page 87: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

85

Anexo 3- Formulário aplicado aos usuários

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Farmácia

Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Farmacêutica

ANÁLISE DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS, FITOTERAPIA E HOMEOPATIA NA

CLÍNICA DA FAMÍLIA ASSIS VALENTE

Ficha nº____________

INFORMAÇÕES DO ENTREVISTADO(A)

Nome:_________________________________________Idade: _______ Sexo: ( ) F ( )M

Onde mora: ( ) Ilha do Governador ( ) Outros

CUIDADOS COM A SAÚDE

1. Possui plano de saúde? ( ) Sim ( ) Não

2. Em caso de doença, o que o Sr(a) procura ou usa primeiro?

( ) Clínica ( ) Farmácia ( ) Planta medicinal ( ) Medicamento que tem em casa

3. Quantas vezes usa os serviços da Clínica da Família Assis Valente?

( ) 1 x na semana ( ) 1 x ao mês ( ) 2 x ao mês ( ) Outros _____________

4. Como avalia o atendimento na Clínica da Família Assis Valente?

( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Pode melhorar ( ) Ruim

5. Possui alguma doença crônica?

( ) diabetes ( ) hipertensão arterial ( ) depressão ( ) Outra:_________ ( ) Não

6. Faz uso de algum(s) medicamento(s) de uso contínuo? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual(is)? _______________________________________________________

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES

7. Conhece:

( ) PNPMF – Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

Page 88: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

86

( ) PNPIC – Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares ( ) Não

7.1 Se sim, como tomou

conhecimento?___________________________________________________

8. O Sr.(a) ou alguém da sua família usou alguma terapia complementar/ alternativa no último ano,

ao menos uma vez? ( ) usou ( )alguém da família usou ( ) Não

9. Quais terapias foram usadas:

( ) Homeopatia ( ) Plantas Medicinais ( ) Fitoterapia ( ) Acupuntura

( ) Medicina Antroposófica ( ) outra:__________________________ ( ) Nenhuma

HOMEOPATIA

10. O Sr.(a) tem algum conhecimento sobre Homeopatia?( ) Sim ( ) Não

10.1 Se sim, o que você entende por Homeopatia?

_______________________________________________________________________

_____________________________________________________________

11. Sabe se algum hospital ou serviço da região oferece essa especialidade? ( ) Sim ( ) Não

12. Sabe que é possível ser tratado com Homeopatia no SUS? ( ) Sim ( ) Não

13. Gostaria de ser encaminhado a consultas dessa especialidade? ( ) Sim ( ) Não

FITOTERAPIA

14. Sabe o que Fitoterapia? ( ) Sim ( ) Não

14.1 Se sim, o que vc entende por fitoterapia ?

_______________________________________________________________________

_____________________________________________________________

15. O Sr.(a) se trata com Fitoterapia nesta unidade saúde? ( ) Sim ( ) Não

16. Qual(is) fitoterápico(s) já usou?

______________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

17. Onde o obteve?__________________________________________________________

18. Gostaria de ter mais informações sobre o uso de fitoterápicos?( ) Sim ( ) Não

PLANTAS MEDICINAIS

19. Utiliza alguma planta medicinal para o tratamento de doenças? ( ) Sim ( ) Não

EM CASO AFIRMATIVO RESPONDER 19.1 E 19.2. EM CASO NEGATIVO, PULE PARA 19.3 E 19.4

Page 89: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

87

19.1 Se sim, por que usa plantas medicinais?

_____________________________________________________________________________

___________________________________________________________________

19.2 Quais doenças o Sr.(a) já tratou usando plantas?

A)________________________________

B)_________________________________

C)_________________________________

D)_________________________________

E)_________________________________

19.3 Se não, por que? _________________________________________________________

19.4 Apesar de não usar, sabe para o que serve alguma planta medicinal?( ) sim ( ) não

20. O Sr.(a) utiliza plantas medicinais junto com outros medicamentos? ( ) Sim. Quais?( ) Não

MEDICAMENTO PLANTA

1)

2)

3)

4)

5)

21. O seu médico pergunta se o Sr.(a) usa plantas medicinais? ( ) Sim ( ) Não

22. O Sr.(a) informa ao seu médico que faz uso de plantas medicinais? ( ) Sim ( ) Não

23. O Sr.(a) gostaria de ter acesso à plantas medicinais nesta unidade de saúde? ( ) Sim ( ) Não

24. Já teve alguma reação (coceira, enjôo, agitação, sono) pelo uso de plantas medicinais?

( ) Sim ( ) Não

25. O Sr.(a) já foi informado que plantas medicinais e fitoterápicos podem causar riscos, se utilizados

sem orientação profissional? ( ) Sim ( ) Não

26. USO/ CONHECIMENTO de plantas medicinais (lista livre):

U (usa)/

C (conhece)

Nome da planta Serve para Parte usada Como prepara Como usa Onde obtém

Page 90: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

88

Ocupação:_________________________ Escolaridade: _________________________

Renda familiar: ( ) Nenhuma ( ) 1 salário ( ) 2-3 salários ( ) 4 ou mais salários

Religião: ( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( ) Candomblé ( ) Umbanda ( ) Não possui

( ) Outros _____________

Quantas pessoas moram em sua casa? _________

OBSERVAÇÃO LIVRE:

_________________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Page 91: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

89

Anexo 4- Questionário aplicado aos profissionais de saúde

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Farmácia

Programa de Pós-Graduação em Ciência Tecnologia Farmacêuticas

QUESTIONÁRIO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA CLÍNICA

DA FAMÍLIA ASSIS VALENTE

Ficha nº____________

INFORMAÇÕES DO PROFISSIONAL

Nome:____________________________________Idade: _______ Sexo: ( ) F ( )M

Profissão:___________________________________ Matrícula:___________________

1. O Sr. (a) conhece a Política de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e quais são as

terapias contempladas nela?

( ) Conhece a PNPIC mas não as terapias

( )Conhece a PNPIC e sabe que nelas são contempladas as seguintes terapias

( ) Não

2. O Sr.(a) tem algum conhecimento sobre:

( ) Homeopatia ( ) plantas medicinais ( ) fitoterapia ( ) medicina antroposófica

( ) nenhuma delas

2.1 Onde o adquiriu?

( )Universidade ( ) Pós-graduação ( )Clínica ( ) Familiares ( ) Não se aplica ( ) Outros:_________

3. O Sr.(a) usou alguma terapia complementar/ alternativa no último ano, ao menos uma vez?

( ) Sim ( )Não

Page 92: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

90

4. Algum familiar usou alguma terapia complementar/ alternativa no último ano, ao menos uma

vez?

( ) Sim ( )Não

5. Quais terapias foram usadas:

( ) Homeopatia ( ) plantas medicinais ( ) fitoterapia ( ) acupuntura

( ) medicina antroposófica ( ) outra:____________________________

6. O que acha da inserção das PIC no SUS?

__________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

7. Gostaria de participar de capacitações sobre PICS?

( ) Sim ( ) Não

Sobre a prescrição de fitoterápicos

8. O Sr.(a) prescreve medicamentos fitoterápicos aos seus pacientes?

( ) Sim ( ) Não

9. Qual(s) medicamento(s) fitoterápico(s) costuma prescrever aos pacientes?

__________________________________________________________________________________

10. Sabe informar se os medicamentos fitoterápicos prescritos pelo(a) Sr.(a) estão na lista de

medicamentos dispensados pela farmácia desta unidade?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não se aplica

11. [Se a resposta da questão 8 for “Não”] Por que o(a) Sr.(a) não prescreve fitoterápicos aos seus

pacientes?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

_________

Page 93: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

91

12. Observação livre:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

_____________________

Page 94: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

92

Anexo 5- Folheto aos usuários

Frente

Page 95: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

93

Verso

Page 96: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

94

Anexo 6- Diagnóstico situacional à Gerência da CFAV

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Farmácia

Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia Farmacêutica

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA OFERTA E DEMANDA POR

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES (PIC) NA CLÍNICA DA

FAMÍLIA ASSIS VALENTE (CFAV)

Relatório técnico

Setembro/ 2018

Juliana Argento de Sena

Mestranda

Nina C. B. da Silva

Orientadora

Carla Holandino Quaresma

Orientadora

Page 97: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

95

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA OFERTA E DEMANDA POR PRÁTICAS

INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES (PIC) NA CLÍNICA DA FAMÍLIA ASSIS

VALENTE (CFAV)

Este diagnóstico foi baseado no trabalho realizado pela mestranda Juliana Argento de

Sena, no período compreendido entre os anos 2016 e 2017, na Clínica da Família Assis Valente

(CFAV). Nesta unidade foram realizadas diversas entrevistas com pacientes e profissionais

objetivando compreender o conhecimento que estes tinham das Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares (PNPIC) bem como de terapias que a compõem e a sua

utilização. A intenção deste diagnóstico é servir como orientação para que os gestores da clínica

possam saber das demandas de seus profissionais e comunidade e, em caso de interesse,

fomentar atividades na área.

Page 98: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

96

1. INTRODUÇÃO

A PNPIC foi aprovada em 2006, e com caráter nacional, recomenda a implantação e

implementação de ações e serviços no SUS, com o objetivo de garantir a prevenção de agravos,

a promoção e a recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, além de propor o cuidado

continuado, humanizado e integral em saúde, contribuindo com o aumento da resolubilidade do

sistema, com qualidade, eficácia, eficiência, segurança, sustentabilidade, controle e

participação social no uso estando em concordância com os princípios doutrinários e

organizativos do SUS. Nesta Política são contempladas a Medicina Tradicional Chinesa -

Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, Medicina Antroposófica e

Termalismo Social/ Crenoterapia (BRASIL, 2006a).

De acordo com o Departamento de Atenção Básica (DAB), a cerca de 1708 municípios

oferecem PIC, com 78% dos serviços concentrados na atenção básica, 18% na atenção

especializada e 4% na atenção hospitalar. Anualmente são realizados 2 milhões de atendimentos

com PIC nas UBS, sendo 85 mil em fitoterapia e 13 mil em Homeopatia.

2. METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido fazendo o uso de metodologias participativas que permitem

a integração dos diferentes atores envolvidos, considerando a mobilização social como parte do

referencial teórico-metodológico. Foi utilizada abordagem qualiquantitativa com a realização

de entrevista com os pacientes e aplicação de questionários aos profissionais de saúde da

Unidade Básica de Saúde (UBS). O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (CEP-HUCFF), com parecer liberado em

setembro de 2016 sob o registro 1.728.651 e também ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CEP/SMDSC-RJ), cujo parecer favorável foi

dado em outubro de 2016 por meio do registro 1.783.994.

A tabulação dos dados foi feita no programa Epi data 3.1 e as tabelas geradas foram

analisadas com auxílio do Microsoft Excel.

Page 99: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

97

3. RESULTADOS

3.1 PACIENTES

Foram realizadas entrevistas com 365 pacientes enquanto estes aguardavam algum

atendimento na unidade. A seleção foi feita de forma aleatória e a coleta de dados foi realizada

de novembro de 2016 a maio de 2017. Na tabela 1 pode ser visualizado o perfil dos usuários

entrevistados.

Tabela 1: Perfil dos usuários da CFAV

Variável Categoria Frequência Percentual (%)

Idade 18-30 anos 61 17

31-40 anos 111 30

41-50 anos 87 24

Mais de 51 anos 106 29

Nº de pessoas por

residência

1 morador 17 5

2 a 4 moradores 273 75

5 ou mais 75 20

Religião Evangélicos 150 41

Católicos 130 36

Não possui 60 16

Candomblé e

Umbanda 12 3

Espíritas 8 2

Outras 5 1

Renda familiar Nenhuma 6 2

1 salário 218 60

2 a 3 salários 131 36

4 ou mais salários 10 3

Total 365 100

Fonte: dados coletados pela autora

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98

O primeiro recurso utilizado em caso de doença foi a visita à UBS (65%), seguida pelo

uso de medicamentos que têm em casa (27%), preparações com plantas medicinais (6%) e por

último a visita a farmácias comunitárias, para buscar orientação e/ou adquirir medicamentos

(2%).

Em relação à frequência na unidade, 20% vão à clínica pelo menos 1 vez ao mês e 50,4%

avaliaram a unidade como boa, seguida de regular para 27% destes.

Figura 1: Avaliação da CFAV pelos usuários (dados coletados pela autora)

A doença crônica de maior prevalência entre os pacientes entrevistados na unidade foi

a hipertensão arterial (23%) (Figura 2). Em seguida, 12% declararam possuir outras doenças

crônicas como Artrite Reumatoide, Endometriose, HIV, Osteoporose, Lúpus, Fibromialgia,

Hipotireoidismo, Câncer e Obesidade Mórbida.

46

184

98

28

9

13

50

27

8

2

0 50 100 150 200

Ótimo

Bom

Regular

Pode melhorar

Ruim

Percentual Número de indivíduos

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99

Figura 2: Doenças crônicas prevalentes na CFAV (dados coletados pela autora)

A respeito da PNPIC e Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

(PNPMF), praticamente todos os entrevistados desconheciam estas políticas (Figura 3), embora

66% deles já tenham utilizado alguma PIC para si ou seus familiares.

Figura 3: Conhecimentos dos usuários sobre a PNPIC e PNPMF (dados coletados pela autora)

A terapia mais utilizada pelos usuários e/ou familiares foram as plantas medicinais

(33%) e perto de 45% deles fazem uso frequente de plantas medicinais. A cerca de 74%

disseram que gostariam de ter acesso às plantas na UBS.

6%

23%

4%

12%

55%

Diabetes Hipertensão Depressão Outras Não tem

2% 2%

96%

Conhecem PNPIC Conhecem PNPMF e PNPIC Não conhecem

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100

Quando questionados acerca de seus conhecimentos das terapias, 82% disseram não

conhecer a Homeopatia, 94% não conhecem a Fitoterapia e nenhum deles conhece a

Antroposofia. Somente 2% dos entrevistados se tratam com medicamentos fitoterápicos na

unidade. A cerca de 11% afirmaram que os médicos perguntam se eles fazem uso de plantas

medicinais e 64% disseram não informar espontaneamente aos profissionais de saúde que as

utilizam no dia-a-dia. Os pacientes demonstraram muito interesse em novas informações a

respeito das PIC.

Aproximadamente 5% dos pacientes relataram usar plantas e medicamentos alopáticos

de forma concomitante (tabela 2).

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101

Tabela 2: Associações entre medicamentos e plantas medicinais

Medicamento Planta medicinal

Ácido acetilsalicílico Camomila

Anador Erva doce

Analgésico Camomila

Antialérgico Erva doce

Antibiótico Alho

Bombinha de asma Erva cidreira

Ciprofloxacino Parietária

Ciprofloxacino Cana do brejo

Clonazepam Erva cidreira

Gripalcê Limão e alho

Losartana Erva doce

Microvilar Hibisco

Omeprazol Espinheira Santa

Omeprazol Erva doce

Ranitidina Hortelã

Ranitidina Erva cidreira

Fonte: dados coletados pela autora

Na tabela 3 podem ser visualizadas as plantas mais citadas pelos usuários da CFAV,

suas indicações, partes usadas e modos de preparo. A planta mais citada foi o Capim limão. As

espécies não foram coletadas e por esse motivo não tiveram a identidade botânica confirmada.

Cada participante pôde indicar até cinco plantas que viessem na sua memória. Um total de 70

plantas foram citadas.

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102

Tabela 3: Plantas medicinais mais citadas

PLANTA No DE

CITAÇÕES

USO POPULAR PARTE USADA MODO DE PREPARO

Capim Limão 91 Calmante, gripe, dor de

barriga

folhas Infusão, decocção,

xarope e suco

Erva Cidreira 84 Calmante, cólicas,

pressão alta, diarreia, dor

de barriga, dor de

estômago, dor de cabeça,

bronquite, gases,

resfriado

folhas, planta

toda

Infusão, decocção e

xarope

Boldo 70 Boldo, fígado, dor de

estômago, abortivo,

indigestão, enjoo,

ressaca, gripe

folhas Infusão, decocção e

suco

Camomila 68 Calmante, dor de cabeça,

gastrite, gases

flores, folhas Infusão, decocção,

xarope e suco

Erva Doce 51 Calmante, gastrite folhas, frutos Infusão, decocção

Hortelã 21 Calmante, digestivo,

abortivo, gripe, dor de

estômago

folhas, planta

toda

Infusão, decocção e

xarope

Quebra pedra 19 Cálculo renal folhas, galhos,

planta toda

Infusão, decocção e

maceração

Aroeira 12 inflamações, feridas,

“limpa” o organismo

folhas, casca,

talo

Infusão, decocção,

maceração e banho

Espinheira Santa 11 dor de estômago, anti-

inflamatório, limpa o

organismo

folhas Infusão, decocção

Saião 10 bronquite, resfriado,

inflamações,

expectorante

folhas, planta

toda

Infusão, decocção,

xarope e suco

Fonte: dados coletados pela autora

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103

3.2 PROFISSIONAIS

Os questionários foram respondidos em novembro de 2017 por 19 profissionais

prescritores atuantes na UBS, dentre eles médicos, enfermeiros. A idade média foi de 31 anos

e a amostra foi composta predominantemente pelo sexo feminino e por médicos (as) (74%).

Em relação ao conhecimento sobre a PNPIC, 16% disseram ter conhecimento sobre a

mesma bem como das terapias integrantes. Aproximadamente 68% afirmaram conhecê-la, mas

não souberam informar o seu conteúdo e abrangência, enquanto 16% a desconhecem

totalmente.

Quando questionados sobre conhecimentos específicos de Homeopatia, Fitoterapia,

plantas medicinais e Medicina Antroposófica, 35% afirmaram não conhecer nada a respeito e

os demais possuem informações sobre pelo menos uma das terapias. A prática mais conhecida

foram as plantas medicinais, para 47% dos entrevistados e a menos conhecida é a Antroposofia,

que não foi citada por nenhum deles. A aquisição de conhecimentos em PIC pode ser

visualizada na Figura 4.

Figura 4: Onde os profissionais da CFAV adquiriram conhecimento em PIC (dados coletados pela

autora)

Perto de 74% disseram que utilizaram alguma PIC no último ano e 52% informaram uso

por parte de seus familiares. As PIC mais citadas e utilizadas foram a Fitoterapia e as plantas

medicinais.

10%

5%

21%

16%11%

37%

Universidade Pós-graduação Clinica Familiares Outros Não se aplica

Page 106: DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE PRÁTICAS

104

Sobre a prescrição de fitoterápicos, 79% declaram prescrever esse tipo de medicamento

para os seus pacientes, quando aplicável, e 60% informaram que estes estão disponíveis para a

dispensação pela farmácia da unidade. Atualmente estão disponíveis na farmácia da CFAV as

cápsulas de isoflavonas da soja (Glycine max), garra do diabo (Harpagophytum procumbens) e

alcachofra (Cynara scolymus), todas integrantes da RENAME.

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram identificados desafios e oportunidades à inserção das PIC na CFAV, conforma

abaixo:

OPORTUNIDADES

• A UBS é certificada como “Unidade Amiga das Plantas”, o pode viabilizar e a facilitar

a realização de eventos.

• População da UBS e os profissionais são abertos à utilização das PIC, e mais da metade

já fez uso de alguma terapia.

• Há interesse dos usuários em receber maiores informações a respeito das PIC.

• A maioria dos usuários da CFAV tem consciência sobre o risco do uso de plantas

medicinais sem orientação profissional.

• Todos os profissionais consultados aceitariam participar de capacitações em PIC.

• A gerência da unidade é disponível para a organização de eventos.

• A maioria das plantas mais citadas e conhecidas pelos usuários estão em compêndios

oficiais, podendo estas ser fontes de referência para a produção de materiais educativos

na UBS.

DESAFIOS

• Somente a Fitoterapia está implementada na UBS e foi observada demanda por outras

PIC.

• Os fitoterápicos embora sejam prescritos, são pouco ofertados na farmácia da clínica.

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105

• Os usuários não informam espontaneamente que usam alguma PIC durante os

atendimentos.

• Há demanda pela dispensação de plantas frescas para os usuários, mas ela não é feita na

UBS.

• A manutenção do jardim de plantas medicinais é necessária para a identificação correta

das espécies e uso racional destas.

• Há a utilização de plantas medicinais concomitante a medicamentos alopáticos pelos

usuários e algumas interações medicamentosas foram verificadas. Destaca-se a

necessidade de capacitação profissional neste sentido.

• Os profissionais da UBS não perguntam aos pacientes se estes utilizam PIC no dia-a-

dia.

• Desconhecimento total dos usuários em relação à PNPIC e PNPMF.

• Somente 16% dos profissionais conhecem a PNPIC, o que certamente reflete no baixo

conhecimento dos usuários.

Espera-se que este diagnóstico possa contribuir para o estabelecimento das PIC na CFAV e

ajude no seu desenvolvimento visando à melhoria da qualidade de vida da comunidade

atendida.