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Diálogo Estratégico Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário - MDA Exmo. Sr. Afonso Florence Centros Dinâmicos da Socioeconomia da Reforma Agrária e Agricultura Familiar 2011

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Diálogo Estratégico Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário - MDA Exmo. Sr. Afonso Florence Centros Dinâmicos da Socioeconomia da Reforma Agrária e Agricultura Familiar

2011

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S U M Á R I O

C o n j u n t u r a I n t e r n a c i o n a l e N a c i o n a l . . . . . . . . . . . . . . . . 0 3

M u n d o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 3

B r a s i l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 4

Histórico do desenvolvimento econômico da agricultura brasileira....07

Marcas capitalistas associadas ao desenvolvimento econômico do meio

rural...............................................................................................................07

Quanto ao Nordeste.....................................................................................09

Centros Dinâmicos da Economia (Polos de Desenvolvimento).............10

Premissas estratégicas..............10

Pressupostos estruturais.............13

Proposições.................................................................................................16

Propostas à negociação macro estratégica..............................................18

Gestão da Proposta...................18

Experiências executadas pela Via do Trabalho nos estados....19

Referências Bibliográficas e Excertos........................................................20

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(...) falar de desenvolvimento como reencontro

com o gênio criativo de nossa cultura pode parecer simples fuga na utopia.

Ora, o utópico muitas vezes é fruto da percepção de dimensões secretas da realidade,

um afloramento de energias contidas que antecipa a ampliação do

horizonte de possibilidades aberto a uma sociedade‖

(Celso Furtado, 2001).

Conjuntura internacional e Nacional

Mundo

1. Há uma previsão sombria dos analistas internacionais: Se o mundo tiver uma safra

fraca este ano, os preços dos alimentos subirão para níveis anteriormente impensáveis.

Os saques de alimentos se multiplicarão, a agitação política se espalhará, e governos

cairão.

2. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) divulgou

que os preços dos alimentos atingiram o maior valor em 21 anos.

3. Recentemente, a crise internacional dos alimentos mantém os alimentos e a agricultura

no centro dos debates mundiais. O mercado internacional caracteriza-se pela grande

volatilidade nos preços das commodities agropecuárias.

4. Neste contexto prevalecente, desenvolvimento econômico se dissocia da pobreza.

5. Na crise de 2008/2009, pacotes econômicos na escala de trilhões de dólares foram disponibilizados urgentemente ao salvamento de bancos por governos de diversos países do mundo;

6. A população mundial é de 6,5 bilhões de pessoas. Desse total, utilizando uma noção de "fome" extremamente rasa, cerca de um bilhão está subalimentada.

7. Cerca de três bilhões de pessoas vivem em áreas rurais e estima-se que deste contingente 800 milhões passam fome.

8. De acordo, ainda, de dados da FAO, a distribuição dos famintos do mundo se encontra da seguinte forma: 642 milhões nas áreas da Ásia e do Pacífico; 265 milhões na África Subsaariana; 53 milhões na América Latina e Caribe; 42 milhões no Oriente Médio e 15 milhões nos países mais desenvolvidos.

9. A situação é alarmante: grosso modo, a divisão internacional do trabalho com crescente importância da China está impulsionando o Brasil a se retomar uma espécie de "vocação agrícola", a partir de uma ligação umbilical entre as finanças e o modelo exportador de commodities.

10. É o agrobussiness da fração da burguesia brasileira que está fundindo os interesses do modelo primário-exportador com o mundo da especulação dos altos preços das commodities globais

11. Mas, o mundo vê o Brasil como a potência do futuro na posição de 4ª/5ª economia

global.

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BRASIL

12. O governo Lula definiu como meta do seu governo o combate a fome. O resultado

concreto foi uma significativa redução do número de brasileiros miseráveis, que ao

longo de seu mandato caiu de 28% para 15% da população brasileira e, pelo menos, 20

milhões de pessoas cruzaram a linha da miséria.

13. A presidenta Dilma Rousseff, recém-empossada, estabeleceu uma meta que

reenergiza as dinâmicas sociais e políticas, ampliando o horizonte com a pretensão de

eliminar as marcas mais detestáveis de nossa profunda desigualdade social. Seu lema

―Brasil - País Rico é País sem Pobreza‖ revela a disposição de avanços mais

estruturais e, portanto, sustentável.

14. Paradoxalmente, mesmo ante a redução da pobreza extrema no período do governo

Lula, não se pode deter uma curva histórica de crescimento da concentração de

riqueza no país. Decorre disto, então, que a injeção de cerca de R$ 40 bilhões anuais

do Programa Bolsa Família reforça o mercado interno, embora contraditoriamente

reforça o próprio sistema do capital. Assim, funciona a política separada da economia.

15. Dados levantados pelo IBGE apontam que 30,2% dos domicílios brasileiros ainda

sofriam, em 2009, de algum tipo de insegurança alimentar.

16. A ascensão econômica das classes mais baixas nos últimos anos, no entanto, conviveu

com o aumento da concentração de riqueza na proporção de cerca de 10% da

população absorve 75% do estoque de riqueza produzida, segundo o IPEA.

17. A linha do tempo é demonstração cabal da total dissociação entre o desenvolvimento

econômico e a participação da sociedade em seus benefícios. No século XVIII a

concentração do estoque de riqueza era cerca de 68% retido por 10% da população.

Deste modo, passando do Brasil colônia de Portugal, império, república, ditadura de

Vargas, Período JK/João Goulart, ditadura militar, nova república e do governo Collor

ao de Lula mudaram os regimes políticos, mas a concentração de riqueza tão somente

tem aumentado.

18. Na mesma medida de concentração da renda, há a territorial, onde se constata também que no ano de 2007, por exemplo, os municípios entre os 10% mais ricos participavam com 78,1% do Produto Interno Bruto Nacional, enquanto em 1970, a participação era de 72,1% e, em 1920, de 55,4%, Ou seja, um aumento de 41,0% no peso relativo dos municípios entre os 10% com maiores PIB‘s entre 1920 e 2007.

19. Em números aproximados, o IPEA aponta para 13,5 milhões de brasileiros pobres, a

FGV para 28 milhões e o IBGE para 20 milhões, já o Banco Mundial, conforme seu

estudo de 2003, utilizando a linha de pobreza mais baixa, estima em 22 milhões o

contingente de brasileiros pobres apenas no sudeste e nordeste, dos quais, mais ou

menos, 10 milhões estão no meio rural destas regiões.

20. O Brasil rural, com sua população de 29.852.986 (Censo 2010/IBGE), é o quinto país

mais populoso da América Latina e Caribe.

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21. Os dados do Censo Agropecuário 2006, divulgados pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) no final de setembro de 2009, reafirmam, no entanto, o

velho quadro de concentração fundiária no Brasil.

22. As pequenas propriedades (com menos de 10 hectares) ocupam apenas 2,7% da área

ocupada por estabelecimentos rurais, enquanto as grandes propriedades (com mais de

mil hectares) ocupam 43% da área total.

23. Os dados também mostram que esses trabalhadores fazem parte da agricultura

familiar, cujos 12,8 milhões de produtores e seus parentes representam 77% do total de

pessoas ocupadas.

24. Apesar de ocupar apenas ¼ da área, a agricultura familiar responde por 38% do valor

da produção (R$ 54,4 bilhões).

25. Além do que, estima-se que a reforma agrária e agricultura familiar participam do PIB

com uma cota de cerca de 10% do total, embora pelo seu caráter fragmentário, fica a

mercê do agronegócio que se apropria destes números e o incorpora como seus e disto

tira vantagem obtendo mais apoio de investimentos vultosos de capital. Por outro lado,

a condição de inclusão injusta na agricultura familiar dos agricultores e agricultoras

familiares pobres e extremamente pobres, que não conseguem transpor as barreiras de

acesso às políticas públicas de desenvolvimento rural disponíveis, tão pouco às

políticas sociais de direitos universais, donde são invisíveis.

26. As exportações de commodities agrícolas transformaram a alimentação em mercadoria,

gerando lucros fabulosos sem qualquer preocupação com a necessidade de alimentar

as pessoas.

27. Segundo a Organização para as Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), um bilhão de pessoas passa fome no mundo. Ou mudamos a matriz da produção de bens agrícolas, democratizando a terra e priorizando a produção de base familiar, ou estaremos inviabilizando a vida saudável no planeta.

28. Dados atuais do INCRA indicam:

a. 85,8 milhões de hectares desapropriados para reforma agrária (equivalem a

dois estados de São Paulo juntos)

b. 9 mil assentamentos

c. 924 mil famílias

29. É de se destacar que dos programas do MDA, o Programa Mais Alimento é um dos responsáveis pelo impulso nas vendas de tratores, máquinas e implementos agrícolas no País.

30. Destacamos ainda que o papel atribuído ao MDA foi, em grande medida, segundo entendemos, subsumido pelas ações do Programa Fome Zero, retraindo os ganhos e avanços da reforma agrária em particular.

31. Há certo entendimento, Também, entre os que operam no âmbito da reforma agrária e agricultura familiar que a política de crédito adotada clama por novas formas em face de não alavancar adequadamente o desenvolvimento deste segmento nas diversas regiões do país, sobretudo no Nordeste.

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32. De tudo, resta citar o Relatório do (PNUD), lançado em 2010 intitulado sugestivamente ―A Verdadeira Riqueza das Nações: Vias para o Desenvolvimento Humano‖. Segundo este relatório,no Brasil o IPM (Índice de Pobreza Multidimensional) revela que 9,6 milhões de brasileiros (5,2% da população) estão na pobreza extrema, outros 16 milhões (8,5%) vivem em pobreza multidimensional e, mais 24 milhões (13,1%) estão ameaçados de entrar nessa condição. Ou seja, 25% da população do país.

33. Ademais, as soluções propostas requerem considerar a pobreza no meio rural como

―Fato superável pela expansão e qualificação das políticas públicas de transferência de

renda, financiamento produtivo individual, financiamento habitacional, assistência

técnica, educação e saúde‖, assim entendem e operam o que atuam neste meio.

34. Aqui fazemos um destaque à questão de recorte da assistência técnica. Considerada

um avanço a lei de ATER sancionada pelo governo Lula em Janeiro de 2010 é preciso

um ajuste de foco, qual seja. Operar assistência técnica por editais públicos deixam as

comunidades de reforma agrária e agricultura de base familiar tendo de lidar com

entidades desvinculadas das lutas históricas da questão agrária em geral e das

comunidades específicas, em particular. É necessário considerar que o direito de optar

por prestadoras de serviços, em grande medida, fica submetido às leis de mercado,

como determina a lei das licitações 8.666. É preciso repensar neste aspecto os marcos

legais da ATER (destaque nosso).

35. Ante tudo isto, no entanto, não é possível concordar com o presidente do CONSEA, Renato Maluf, que afirmou: ―Não seria realista - pior, soaria demagógico - pleitear a eliminação da desigualdade social e seu corolário, que são as formas relativas de pobreza (...). No entanto, é perfeitamente possível extirpar as manifestações extremas que negam a um vasto contingente da população a possibilidade de viver uma vida minimamente digna‖.

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Histórico do desenvolvimento econômico da agricultura brasileira

“a matéria real nos criou

despejando-nos ferventes e violentos

nos moldes desta

sociedade horrível,

para fincarmo-nos,pela humanidade,

no solo eterno”.

Attila József

Marcas capitalistas associadas ao desenvolvimento econômico do

meio rural

36. Pesquisadores, como Paiva (1976), Fleischfresser (1988), Silva (1995), concordam que esta evolução ocorreu de uma forma muito irregular, marcado por períodos de nítida prosperidade, sendo esta advinda da exportação de determinados produtos, e depressão subsequente ao desaparecimento ou perda de mercado dos mesmos;

37. Para Paiva (1976), somente o café, a partir do início do século 20, propiciou o desenvolvimento industrial e o progresso econômico, por assim dizer, autossustentados, concentrados especialmente na região de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

38. A chamada "Revolução Verde", nome dado ao período em que o Brasil, a partir dos

anos de 1960, começou a passar por uma profunda ―modernização‖ em sua agricultura,

que englobava uma série de medidas técnicas que respondiam rapidamente aos

agricultores, na medida em que aumentavam a sua produção e assim melhoravam os

resultados de suas colheitas, considerado e provado ter sido um imenso equivoco.

Destruiu uma construção, principalmente do Rio Grande do Sul e do Paraná, que já

ganhavam largas fatias do mercado Europeu, justamente pela escolha de não plantar

com transgenia e adotar agricultura de base orgânica e agro florestal. A agricultura

adotada na revolução verde foi responsável, por exemplo, no estado da BA, pela região

de Irecê não produzir mais feijão e a de Guanambi ter saturado também o solo pela

monocultura do algodão ;

39. Segundo Schneider e Navarro (1999), a teoria social e a economia política dedicadas

ao estudo dos processos sociais agrários sedimentaram, no período pós-guerra, a

visão clássica da correspondência entre o desenvolvimento agrário e o industrial;

40. O estágio de desenvolvimento econômico do Brasil na década de 1970 foi marcado

pelas seguintes fatores:

a. Aumentar a oferta de alimentos e matérias-primas a preços menores, de modo a atender à demanda do mercado doméstico e ampliar as possibilidades de exportação;

b. Elevar a renda líquida do setor, de modo que se constitua num importante mercado consumidor dos produtos do setor não-agrícola, de início dos bens de

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produção essenciais à modernização da agricultura e, posteriormente, dos demais bens de consumo e serviço oferecidos por esse setor;

c. Aumentar o número de empregos no setor agrícola e as possibilidades de acesso à terra, de preferência na forma de propriedades familiares;

d. Melhorar a distribuição de renda do setor, elevando os níveis de salários e melhorando as condições de trabalho;

e. Garantir condições satisfatórias de vida familiar e social aos agricultores, proprietários ou não.

f. Paiva (1976) já previa que seriam inúmeras as dificuldades que um país em

desenvolvimento enfrentaria para alcançar esses objetivos. Por exemplo,

i. a falta de conhecimentos técnicos e recursos econômicos por parte dos

agricultores;

ii. ineficiência dos serviços governamentais de assistência técnica e

financeira;

iii. limitação e pobreza dos recursos naturais disponíveis;

iv. relações desfavoráveis de preços;

v. ineficiência de comercialização;

vi. falta de infra-estrutura entre outras

41. Segundo Paiva (1976) quando se tratava da distribuição de renda dentro do setor

agrícola e a posição do trabalhador rural, principalmente dos não-proprietários ainda

representavam pontos negativos. As condições de vida em geral, também eram

precárias, o que se observava nas péssimas condições de alimentação, habitação,

saúde e recreação. Ainda acusava-se muito a agricultura de que a distribuição de sua

renda era das mais injustas. Este fato devia-se a grande concentração na distribuição

das terras e capital no país;

42. A respeito das políticas de apoio ao setor agrícola durante a década de 1970, as mais

importantes, foram consideradas as que dizem respeito a:

a. assistência técnica e financeira;

b. preços, comercialização e abastecimento;

c. estatísticas agrícolas;

d. reforma agrária e

e. legislação trabalhista.

f. Também foram consideradas as políticas específicas dos principais produtos

agrícolas (café, açúcar, trigo, gado, madeira e celulose).

43. Na área de desenvolvimento econômico, a partir da década de 1950, há grupos que se beneficiam mais que os outros. Por exemplo: agricultores que possuem uma melhor estrutura de produção (maior capital de investimento, maquinários e terras) poderão produzir em maior escala, com melhores resultados em suas colheitas ou com uma melhor qualidade de seus produtos. Desta maneira, além de terem maior facilidade para entrar no mercado, ora obterão maiores lucros advindos da produção em grande escala, ora advindos de produtos de melhor qualidade e com preços mais compensadores.

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44. Uma constatação histórica: Os benefícios da inovação tecnológica que ocorrem nos produtos agrícolas não são distribuídos de forma equitativa entre os agentes econômicos.

45. Quando se trata do meio rural, Rifkin (1995) comenta que, nos próximos 50 anos, a agricultura deverá declinar, vítima das forças tecnológicas que rapidamente substituem a agricultura ao ar livre, pela manipulação de moléculas no laboratório. Além de que o elevado preço das máquinas e os aumentos de produtividade resultantes de economias de escala têm favorecido o grande produtor em prejuízo do pequeno.

46. Autores como Ferreira (1999), ainda citam o surgimento de mais oportunidades no meio agrícola ou mesmo tornando a agricultura familiar mais ativa economicamente seria um meio de contenção do êxodo rural. Além disto, cada vez mais significativas são as iniciativas oficiais ou de movimentos socioculturais de revalorização do rural que podem ser identificadas com um fundamentalismo neorruralista em algumas manifestações, mas representam atitudes de reação à crise ambiental e existencial da civilização atual, identificada com sua feição urbano-industrial.

47. Tudo que foi realizado em nome do desenvolvimento econômico no meio rural não irá

emancipar nem melhorar materialmente as condições sociais do povo, mas apenas se

houver efetiva apropriação da riqueza pelo povo e se esta apropriação estiver vinculada

a existência de forças produtivas instaladas, portanto, sustentável.

48. Neste tipo de desenvolvimento que se pratica no Brasil, e mais especificamente

no Nordeste, a burguesia capturou o Estado e o fez operar em seu favor.

Quanto ao Nordeste

49. O desenvolvimento no Nordeste deve ser examinado sob a ótica que se fundamente na

especificidade de reprodução do capital, na estrutura de classes peculiar a essas

formas, que estabelece a luta de classe e o conflito social em escala mais geral. Deste

modo, foram afetados no período histórico anterior e atualmente setores tais como dos

canavieiros, cacaueiros na Bahia, destacadamente.

50. Desta forma, o conceito do chamado desenvolvimento local precisa ser repensado

posto que, a priori, está enquadrado na ordem de interesse geral do capital. As classes

dominantes e governos locais são absolutamente necessários para a ―nacionalização‖

do capital.

51. Por isso, uma ―região‖ seria, em suma, o espaço onde se imbricam dialeticamente uma

forma especial de luta de classes, onde o econômico e o político se fusionam e

assumem uma forma na reprodução social.

52. As ―regiões‖, portanto, são espaços socioeconômicos onde uma das formas do capital

se sobrepõe às demais determinando as classes sociais e sua hierarquia de poder sob

a forma da lógica do lugar e das personas do capital.

53. O ―fechamento‖ de uma região pelas suas classes dominantes se dá enquanto

conseguem reproduzir a relação social de dominação e as relações de produção. Nesta

condição, obstaculizam e bloqueiam a penetração de formas diferenciadas de geração

de valor e de novas relações de produção. Alguns exemplos: SUAPE, CAMAÇARI,

fronteira agrícolas do oeste baiano, maranhense e piauiense.

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54. O desenvolvimento neste contexto, portanto, não é a presença de um Estado

mediador, mas, ao contrário, a presença de um Estado capturado por forças mais

adiantadas da reprodução do capital para forçar a passagem no rumo de uma

homogeneização de seus interesses.

55. O desenvolvimento sob esta ótica não podia dar lugar, senão, a uma estrutura social

pobre, pouco diferenciada, cuja posição na estrutura do poder regional não

chegava/chega sequer a ser notada. Segue como padrão um caráter frouxo e

desagregado da atividade econômica e da estrutura social, caso da reforma agrária e

agricultura familiar, tipificadamente.

56. Em decorrência o agricultor familiar, o assentado da reforma agrária, o comercio

informal somente encontram saída para defender-se do rebaixamento constante do seu

nível de vida, na tentativa de aumento de suas ―culturas de subsistência‖.

―A força material

só pode ser abatida

pela força material‖

Karl Marx

Centros Dinâmicos da Economia (Polos de Desenvolvimento)

Premissas estratégicas

57. A bem da verdade, não sendo um movimento de causa única, não temático, a Via do

Trabalho considera o movimento sindical, pelo seu papel na reprodução social, como

centro viável para transformação radical da realidade de domínio do capital. Mas, como

movimento histórico a partir de possibilidades realmente construídas, centramos nossa

intervenção em espaços rurais onde acumulamos força, conhecimento e articulação

socioeconômica.

58. ―A autodefinição e auto-organização das forças do mundo do trabalho está prejudicada

por um keynesianismo de esquerda, vago e otimista, centralizado pela palavra mágica

desenvolvimento‖. ―Uma noção de desenvolvimento que sempre aceitou as premissas

do capital como orientadora de sua própria estratégia‖.

59. Como? Pela circunscrição ao ―desenvolvimento local‖, ação confinadora do mundo do trabalho à uma igualdade formal entre atores díspares e antagônicos, embora o capital seja global e não local, assim como o é o seu próprio antagonista estrutural: O TRABALHO.

60. Igualmente, ―por longuíssimo tempo, esperou-se que acreditássemos que todos os nossos problemas se resolveriam alegremente pelo ‗desenvolvimento‘ e pela ‗modernização socialmente neutra‖(...), bem como ―no passado, o termo mágico para julgar a saúde de nosso sistema social era ‗crescimento‘(...)‖.

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61. Neste diapasão, reduz-se toda aspiração de mudança ―(...) à concessão de nada além da ‗igualdade de oportunidade‘ formalmente proclamada, mas socialmente nula‖.

62. Ademais, há falhas graves que derivam de uma lógica fragmentada de se conceber e promover a reforma agrária e a agricultura familiar ressaltando apenas alguns elementos quantitativos dispersos.

63. É mister destacar, que uma falha central do movimento do mundo do trabalho,

daí seus limites estruturais, seja de ordem política ou social é que,

essencialmente, separaram/separam a dimensão política da ordem reprodutiva

material na sociedade.

64. Outra falha grave é a de que se faz oposição ao capitalismo e não ao capital

enquanto tal.

65. ―Como detém o controle de todos os aspectos vitais do sociometabolismo, o capital tem

condições de definir a esfera de legitimação política separadamente constituída como

um assunto estritamente formal, excluindo assim, a priori, a possibilidade de ser

legitimamente contestado em sua esfera substantiva de operação reprodutiva

socioeconômica.‖

66. “A reconstituição da unidade da esfera política e reprodutiva material é a

característica essencial definidora do modo” de desenvolvimento sustentável com

igualdade substantiva mediante o controle sociometabólico pelos trabalhadores e

trabalhadoras. Assim, “é preciso enfrentar a tarefa extremamente difícil de unir a

esfera reprodutiva material à política”.

67. Mas, há um porém: à unidade internacional do capital não se encontra paralelo no

mundo do trabalho.

68. Em função disto, então, a proposta dos Centros Dinâmicos da Socioeconomia da

Agricultura Familiar e Reforma Agrária operam em “afirmar os interesses vitais

dos „produtores associados‟(...)”. Ao poder de controle sociometabólico do capital,

determinante na reprodução material na sociedade, deve opor-se um movimento sócio-

político e econômico do mundo do trabalho.

69. Este movimento sócio-político e econômico do mundo do trabalho deve se constituir

como CIRCUITOS ECONÔMICOS ALTERNATIVOS. Estes Circuitos devem operar na

dinâmica centralizada pelas relações do trinômio:

a. Produção-controle

b. Produção-distribuição

c. Produção-consumo, integrando diversos segmentos do mundo do trabalho,

inclusive e principalmente o que se articula no denominado ―movimento sindical‖.

70. Assim, é fundamental que em articulação direta com os sindicatos o movimento dos

Centros Dinâmicos opere articulando a gama extensa da base social com a qual os

sindicatos se relacionam, constituindo ambiente sóciometabólicos diferenciados, sob a

égide dos interesses imediatos, mediatos e históricos do mundo do trabalho na sua luta

por emancipação do domínio do capital.

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71. Deve-se ao economista John Kenneth Galbraith a expressão "sabedoria

convencional" para designar alguma coisa que as pessoas acham porque outras

pessoas acham. Por exemplo: a disponibilização de R$ 16 bilhões para a reforma

agrária e agricultura familiar representam a solução do problema. Apenas em parte é

correta esta medida, no nosso entendimento. Por que? Porque a solução do problema,

centralmente, está em DESENVOLVER AS FORÇAS PRODUTIVAS DO MUNDO DO

TRABALHO PRESENTES NO CAMPO e isto se faz com investimento financeiro

vultoso a lá como se opera em favor do capital, para apor estrutura na atividade

produtiva.

72. Embora supostamente contraditório, a superação do sistema do capital requer ao mundo do trabalho ser igual a ele em termos de desenvolvimento das forças produtivas, mas eliminando todos os males inerentes ao sistema enfrentado, sobretudo a superação de domínio exercido sobre e contra O TRABALHO.

73. Deste modo, e preciso conduzir uma ―reconversão produtiva‖ que, ao seu modo, deverá promover uma série de mudanças pelas quais a reforma agrária e agricultura familiar possam se adaptar às novas condições e exigências ao seu efetivo Desenvolvimento como Novas Forças Produtivas.

74. Superar, então, o sistema atual significa desenvolver potencialidades que habilitem o agricultor

e agricultora familiar e assentamentos da reforma agrária a entrarem noutro universo simbólico

e de valores, superando sua condição subalterna imposta pelo capital. Isto são possibilidades

geradas pelos CENTROS DINÂMICOS DA SÓCIOECONOMIA DA AGRICULTURA FAMILIAR

E DA REFORMA AGRÁRIA.

75. Outro universo simbólico e de valores, destacadamente, requer repensar o papel da

mulher e do jovem. Por que? Porque ―a regulamentação economicamente sustentável

da reprodução biológica dos seres humanos é uma função mediadora primária do

processo sociometabólico. Portanto, a articulação historicamente mutável dos

relacionamentos humanos é da maior importância nessa questão‖ (...). Por isso,

―enquanto o relacionamento vital entre homens e mulheres não estiver livre e

espontaneamente regulado pelos próprios indivíduos em seu "microcosmo" autônomo

(mas de maneira alguma independente da sociedade) do universo histórico interpessoal

dado, com base numa igualdade significativa entre as pessoas envolvidas — ou seja,

sem a imposição dos ditames socioeconômicos da ordem sociometabólica‖ (...) do

capital (...) sobre eles — não se pode sequer pensar na emancipação da sociedade da

influência paralisante que evita a autorrealização dos indivíduos como seres sociais

particulares‖.

76. Com base neste novo universo simbólico, então, tanto a mulher (gênero) como os

jovens (faixa etária) deverão estar inseridos num novo contexto de relações de poder

no interior das comunidades as quais habitam e não apenas serem tratados à parte em

face das suas especificidades. Não obstante, ser necessário pontuar as diferenças

geracionais e de gênero que marcam estes recortes. Mas, de modo algum numa

espécie de ―autossegregação‖, porquanto estando inseridos empoderadamente nos

processos socioeconômicos e produtivos, têm força para alavancar a igualdade em

bases substanciais e objetivas e não a partir de apelos subjetivos à igualdade. Eles são

parte, portanto, indissociável da constituição e desenvolvimento de Novas Forças

Produtivas.

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Pressupostos estruturais

77. Há uma tendência a toda ação no campo onde a terra ao contrário de ser considerada,

como de fato o é, um meio de produção de riqueza, reduzem-na à condição de mero

―assalariamento autônomo‖ e foco apenas na ―segurança alimentar‖. É uma visão

reducionista que compromete a elevação do padrão produtivo à condição de

Desenvolvimento de Novas Forças Produtivas. Neste sentido o binômio renda é

igual a assalariamento (mesmo na sua forma autônoma) e economia é igual a Força

Produtiva.

78. Claro está, pois, que no governo Lula a consigna do FOME ZERO tinha um propósito

de deter o rebaixamento aviltante do nível de vida da população imposta pela lógica

excludente de desenvolvimento do capital em nosso país. Isto é um mérito e não há

como não considerá-lo.

79. Mas, segundo a Cepal, o Brasil gasta 0,58 do PIB em transferências de renda para os

mais pobres, a Argentina gasta 0,70, o Paraguai 0,92, a Guatemala 3,0. Como explicar

tal diferença de recursos empregados no combate à miséria entre diferentes países da

América Latina? (relatório da Comissão Econômica para a América Latina – Cepal, das

Nações Unidas, chamado PANORAMA SOCIAL DA AMÉRICA LATINA - 2010)

80. Por outro lado, a política de crédito do PRONAF foi um sucesso, em termos. Embora a

concessão de crédito não tenha sido acompanhada de um investimento vultoso em

infraestrutura produtiva, de beneficiamento e comercial, à lá o que se investe em

empreendimentos do capital. Exemplos: SUAPE, Fruticultura do Vale do São Francisco,

Camaçari, nova fronteira agrícola do oeste baiano.

81. Mas, não temos como negar: o perfil da agricultura familiar, ao contrário, em princípio, da reforma agrária, é de um segmento ―sem tradição de solidariedade de classe e se acreditando empresários de si mesmos, com elementos de uma pequena burguesia tradicional, no sentido de empreender pequenos negócios...‖, embora de modo absolutamente individualizado e desagregado.

82. A unidade que se atribui a este segmento do mundo do trabalho no campo é articulada politicamente por cima nas entidades de representação que em nome deste setor efetuam reivindicações ao poder público federal e estaduais. Enquanto segmento socioeconômico a agricultura familiar e os assentamentos não tem se apresentado com representação sócio-política própria.

83. Por outro lado, sobressaltam questões inerentes ao segmento da reforma agrária e agricultura familiar que travam e bloqueiam suas aspirações ao desenvolvimento, senão vejamos:

a. Participando da produção de cerca de 10% do PIB por que, então, os segmentos da agricultura familiar e reforma agrária estão pobres?

b. Tendo dotação no Orçamento da União em montante de R$ 16 bilhões, por que os segmentos em questão estão estagnados economicamente? E mais, por que cerca de 80% destes segmentos não acessam ao crédito?

c. A limitação destes segmentos decorre de parcos recursos materiais e de conhecimento.

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84. Outro fator relevantíssimo, somado aos acima especificados é o da constatação de que a estratificação da terra no modo como é adotada pela reforma agrária e agricultura familiar, em determinadas atividades, é empobrecedora da população beneficiária.

85. Mesmo em diversas atividades, em face da estratificação, não se vislumbra acumulação econômica de escala que impulsione o desenvolvimento.

86. Igualmente, pela parca parcela de terra disponibilizada per capta/família há um circulo de ferro que as mantém circunscritas na faixa de subsistência.

87. Mais ainda, seguindo um vetor tendencial que atinge a agricultura brasileira como um todo, esta estratificação impõe com particular crueldade à reforma agrária e agricultura familiar a condição de mero fornecedor de matéria prima, a ponto da nossa presidenta Dilma afirmar que “o Brasil importa „muita bagulheira‟ da China enquanto exporta commodities”.

88. Ante isto, “a retomada do desenvolvimento econômico brasileiro exige que o governo reverta o processo de primarização da pauta de exportações e aumente de forma significativa o investimento público em infra-estrutura” (José Luis Oreiro, Professor da Universidade de Brasília).

89. O círculo de pobreza, portanto, se retroalimenta num circuito que precisa ser repensado posto que na relação horizontal entre si os produtores não se alentam com amplos exemplos de sucesso, senão o contrario.

90. Daí que, (...) ―O que precisa ser feito é a proposição de novas institucionalidades que garantam uma ação de complementação da nossa estrutura produtiva, especialmente a industrial, no sentido de internalizar no território os investimentos que completam as cadeias produtivas já instaladas e propiciam a instalação de sede de projetos e desenvolvimento de produtos, melhorando a posição brasileira na divisão internacional do trabalho hoje restrita, primordialmente, às atividades de montagem‖ (...) e exportação de produtos primários.

91. Pelos fatores imediatamente acima especificados, se constata que um dos pontos centrais desta problemática é o modelo adotado. Quanto maior a estratificação da terra, mais pobre é o produtor. Inversamente proporcional, quanto menor é a estratificação, mais competitivo economicamente é o segmento. Esta afirmação não é de caráter dedutivo e sim resultado de estudos científicos. Do modo como está sendo implantada a reforma agrária aos segmentos aqui destacados ela é EMPOBRECEDORA DA POPULAÇÃO. Mas...

92. ... isto não implica, no entanto, que a reforma agrária não dá certo. Não é esta a questão. A questão é outra: repensar o modelo. Esta afirmação corajosa não autoriza a quem quer que seja a nos colocar como contrários a reforma agrária. Não podemos agir com a lógica de pensamento único do capital. O pensamento crítico é fundamental neste momento.

93. Neste contexto há mais agravantes, afinal como no meio proliferarão ações de corte cooperativista e associativas, quando em profusão se defende esta marca e a associa ao êxito futuro da reforma agrária e agricultura familiar, como condição sine qua non, se a base produtiva é substantivamente estratificada?

94. O cooperativismo e associativismo, portanto, não terão condição de êxito em razão de que não emergirão do resultado do apelo subjetivo em procedimentos sugeridos em processos eminentemente capacitacionais que não encontram alento no cotidiano materialmente arraigado. A emulação vai na direção diametralmente oposta à realidade objetiva.

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95. No macro ambiente socioeconômico, entre 1995 e 2008, 12,8 milhões de pessoas saíram da condição de pobreza absoluta (rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo mensal), permitindo que a taxa nacional dessa categoria de pobreza caísse 33,6%, passando de 43,4% para 28,8%. Como aproveitar, então, esta situação?

96. Além do que, no caso da taxa de pobreza extrema (rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo mensal), observa-se um contingente de 13,1 milhões de brasileiros a superar essa condição, o que possibilitou reduzir em 49,8% a taxa nacional dessa categoria de pobreza, de 20,9%, em 1995, para 10,5%, em 2008.

97. No entanto, a diminuição generalizada nas taxas de pobreza absoluta e extrema entre 1995 e 2008 não ocorreu de forma uniforme entre as grandes regiões geográficas e estados do País. Ao se considerar as regiões foram obtidos os seguintes resultados: · Região Sul Taxa de pobreza absoluta caiu 47,1% Taxa de pobreza extrema caiu 59,6% · Região Sudeste Taxa de pobreza absoluta caiu 34,8% Taxa de pobreza extrema caiu 41,0% · Região Nordeste Taxa de pobreza absoluta caiu 28,8% Taxa de pobreza extrema caiu 40,4% · Região Centro-Oeste Taxa de pobreza absoluta caiu 12,7% Taxa de pobreza extrema caiu 33,7% · Região Norte Pobreza absoluta caiu 14,9% Pobreza extrema caiu 22,8%.

98. Por isso, os pressupostos estruturais aqui elencados contribuem em combater a

realidade de miséria e pobreza a que estão submetidas a população brasileira, dentro

de um modelo que vá além da ação governamental e transforme as ações produtivas

em estruturas permanentes e sustentáveis.

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“Existe uma relação direta

entre a capacidade de

uma sociedade processar

informações complexas e

sua capacidade de

produzir inovação e gerar riqueza”

Dilma Rousseff – Presidenta da República do Brasil

Proposições

99. Ampliação do acesso à alimentação adequada e saudável com a promoção da

produção familiar de base agroecológica, com base na estruturação mediante

investimentos financeiros vultosos aos Centros Dinâmicos da Sócioeconomia da

Reforma Agrária e Agricultura Familiar.

100. Desta forma, se a crise 2008/2009 com a bolha imobiliária elevou o patamar de luta dos movimentos sociais, a crise alimentar deve elevar o patamar de investimento governamental em áreas de reforma agrária e agricultura de base familiar. Isto implica rever a forma como o crédito individual é adotado, além da injeção vultosa de recursos financeiros para estruturar Centros Dinâmicos da Socioeconomia da Reforma Agrária e Agricultura Familiar, de modo sustentável porquanto opera na linha da igualdade substantiva.

101. Para tanto será necessário ousar e ousar significa instalar nos assentamentos de reforma agrária e agricultura familiar verdadeiros canteiros de obras de infraestrutura física, produtiva e tecnológica (pesquisa/desenvolvimento/assistência técnica de qualidade, pública ou não executada por entidades indicadas pelos agricultores), à exemplo do que opera o PAC.

102. Combater a pobreza extrema, portanto, com inclusão produtiva somente com um

PAC DA REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTURA FAMILIAR assim, então, poderemos

falar do que realmente atende aos interesses conjunturais e históricos da classe

trabalhadora: seu desenvolvimento como força produtiva.

103. Por isso, é fundamental romper com a lógica do ―pequeno é belo‖. Alimentar e satisfazer a necessidade de milhões de seres humanos somente com avançada tecnologia a serviço da reforma agrária e agricultura de base familiar elevando a produção ao patamar de escala e ousando fazê-lo de forma realmente ecológica, posto que a Europa, quando descobriu que isto era possível, já não tinha mais nada a preservar, no entanto hoje o que produz, nos parcos limites territoriais que possui, o faz de forma sustentável por ter percebido que não só é menos onerosa a produção a longo prazo, mas também resulta em mais riqueza, inclusive monetária, quando se inclui a significativa redução de gastos em saúde e segurança, por exemplo. A violência diminue e o entusiasmo dos jovens para o trabalho aumenta e o turismo cresce.

104. Para tanto, é necessário um crédito rural e paralelo e simultaneamente um investimento financeiro vultoso em um plano de desenvolvimento e não apenas o apoio a uma atividade produtiva isolada, como ocorre hoje nas linhas adotadas pelo PRONAF.

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105. Não há erradicação de extrema pobreza bem sucedida quando os preços dos

alimentos ficam ao sabor da especulação e da lógica privada. Assim, é pertinente

oferecer alternativas estruturais mediante a estruturação da reforma agrária e

agricultura familiar como centros dinâmicos de uma nova forma de produzir, distribuir e

consumo. Controlando todo o processo, até o acesso a estes bens produzidos para

satisfazer a necessidade da sociedade.

106. Instalação de Zonas Especiais de Reforma Agrária e Agricultura Familiar (ZERA),

com investimentos do PAC, faz-se necessário.

107. Os Centros Dinâmicos da Socioeconomia da Reforma Agrária e Agricultura

Familiar (Polos de Desenvolvimento) consistem dos quesitos abaixo descritos, mas

sobretudo e principalmente é imperativo pontuar que o fator determinante é o

conhecimento humano acumulado e isto denota indagar: qual o grau de

conhecimento efetivamente disponibilizado pelos agricultores familiares e os

assentados da reforma agrária? Óbvio está, então, que é fundamental ELEVAR O

CONHECIMENTO NO INTERIOR DA ATIVIDADE SÓCIO-PRODUTIVA deste

segmento e mais outros:

a. Em primeiríssimo lugar vem um intenso e abrangente processo educacional, não

apenas de ordem técnica, mas ampliadora dos horizontes de percepção dos

produtores.

b. Estruturação de Sistemas de Produção e Arranjos Produtivos focando, em

princípio, em agrupamentos prioritários, para ampliação da base produtiva e

acumulação econômica.

c. Estruturação e fortalecimento da atividade comercial

d. Estruturação de indústrias integradas aos sistemas de produção em

agrupamento especiais.

e. Implantar metodologia de estudo de cadeias produtivas.

f. Estruturar as comunidades como empreendimentos sólidos e de porte.

g. Incentivo a pesquisa e desenvolvimento.

h. Assistência técnica permanente e convertida a estes postulados, superando a

visão pontual e localizada de ação.

i. Infraestrutura produtiva potente nos assentamentos e agricultura familiar

dotando-os com todos os equipamentos necessários ao desenvolvimento de

toda/todas cadeias produtivas e seus elos, de ponta-a-ponta. Associar

definitivamente a ação produtiva à sua infraestrutura correspondente.

j. Incentivos financeiros direcionados a estruturação e fortalecimento de alguns

setores da atividade econômica, em princípio, disseminando-se em outras

culturas posteriormente;

k. Transformar as tradicionais associações de caráter reivindicativo em

Organizações de Natureza Empresarial dos Produtores e Produtoras Livremente

Associados, dotando-as de funcionalidade profissional.

l. Integração interregional entre os sistemas de produção e industriais.

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m. Integração de políticas públicas interministeriais afetas ao desenvolvimento

integral.

n. Estruturação gerencial dos empreendimentos, tomados individual e

integradamente entre si.

―A sociedade de produtores livremente associados

não pode abraçar a ilusão insistentemente promovida

de que o „pequeno é bonito‟, com sua tecnologia igualmente ilusória (...).

A sociedade tem de produzir o mais alto nível de tecnologia

criativa para ter sucesso na satisfação das aspirações legítimas das grandes massas‖.

István Mészáros

Propostas à negociação macro estratégica

108. Apoio do MDA à implantação de Pilotos de Polos de Desenvolvimento mediante

apresentação de projeto nacional com temporalidade plurianual (até o final do governo

Dilma);

109. O MDA deverá articular a PETROBRAS, BNDES, FBB, EMBRAPA, FIDA/FAO e

ministérios (MCT, MDS, MTE/SENAES. Ministério Ind. Com. e Desenvolvimento,

Educação, Cultura) para operar este apoio num pool de instituições federais, inclusive

universidades, onde couber. Ministérios diversos porquanto os Polos são espaços de

desenvolvimento integral.

110. Garantia de publicação pelo NEAD dos estudos elaborados nos diversos estados.

Como o da banana já está praticamente pronto, este seria o primeiro.

111. Firmar com o ministério o compromisso de receber nosso documento de negociação

em abril deste ano, em um evento formal em Brasília.

112. Gestão da proposta

a. Formação de um Núcleo no gabinete do ministro

b. Definir um responsável em cada delegacia do MDA nos estados, ligado ao

gabinete, diretamente, respondendo pela parceria;

c. Fórum do gabinete como um conselho a se reunir trimestralmente no primeiro

ano e semestralmente a partir do segundo ano.

d. Realização de seminário do gabinete do ministro para alinhar a implantação e

execução da proposta nos planos:

i. Linha conceitual

ii. Metodologia a ser adotada na execução

iii. Sistema de avaliação e monitoramento online

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iv. Definição do Grupo Gestor

v. Definição da linha de parceria.

113. Experiências executadas pela Via do Trabalho nos estados

a. Alagoas: AGRISA (integrar a unidade industrial ao processo produtivo da

mesorregião);

b. Bahia: Cacau/ITAISA, Coco, Caju, Umbu (outros)

c. Paraíba: litoral sul Pitimbu e Alhandra (turismo de base comunitária e inhame e

fruticultura diversificada)

d. Pernambuco: Polo da Banana + estudo de mercado + ATES exitosa (45

assentamentos organizados em rede) + destilaria álcool + fábrica farinha banana

e. Piauí: Olerícolas (Cinturão Verde em Teresina) e Caju no eixo Nazário

f. Exemplos que exigem reflexões:

i. A fábrica do biodiesel em Pesqueira/PE na qual foi investido mais de R$ 6

milhões e nem sequer funcionou ou tem produto para processar, além de

faltar ajustes tecnológicos no equipamento. Mas foi apoiada, e continua

sendo;

ii. ITAISA – fábrica de processamento de cacau pertencente aos

trabalhadores e trabalhadoras que está sem funcionamento por falta de

apoio (Ilhéus).;

iii. Inúmeras fabricas apoiadas pelo Programa TERRA SOL sem

funcionarem: fábrica do guaraná no Baixo Sul da Bahia, entre outros.

Coordenação Executiva Nacional da Via do Trabalho

Suely Melo

Ezequiel França Santos

Vasco Aguzzoli

Robson Brandão

Sonia Maria

José Claro Neto

Fernando Brandão

Renato Carvalho

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Referências Bibliográficas e Excertos

1. Marcelino, Fernando - A crise que se matura: do sub-imperialismo à bolha dos

alimentos, 11.02.11;

2. Souza, Jessé de - A Nova Classe Média, entrevista especial, 07.02.11, IHU On-Line,

3. O Estado de S. Paulo, - Opinião - Agora, a bolha do preço dos alimentos, 08/02/2011,

4. Russo, Osvaldo - Agroecologia ou agronegócio? 18.02.11,

5. O Estado de S. Paulo, - Alta das commodities turbina inflação, 10/02/2011,

6. O Globo, Aplausos às medidas, mas descrédito com a gestão, 10/02/2011,

7. INCRA, Balanço 2003/2010 - 27.01.2011,

8. Malvezzi, Roberto - Brasil Rural, 11.02.11,

9. Valor Econômico, Rossi critica plano francês de regular estoques de alimentos,

08/02/2011,

10. Censo agropecuário 2006,

11. NERI, MARCELO - Colhendo o fim da pobreza, 13.02.2011, Folha de São Paulo

12. Comitê gestor debate ampliação do Mais Alimentos em 2011, 03/02/2011, 14:54, site do MDA,

13. Comunicado IPEA nº 60, Desigualdade da renda no território brasileiro, 12 de agosto de 2010,

14. S. Maluf, Renato - Erradicação da extrema pobreza e direito à alimentação,

15. Caccia Bava,Silvio - Perguntas sem respostas, Le Monde Diplomatique Brasil,

16. Petrobras assinou Convênio de Economia Solidária para beneficiar catadores,

Fonte: http://acordocoletivo.wordpress.com, 29.12.10,

17. Mészáros,István, Para Além do Capital, editora Boitempo, 2002,

18. de Oliveira, Francisco - Elegia para Uma Re(li)gião, 1977,

19. Kiel, Roberto (Diretor de Gestão Estratégica do INCRA) - Políticas Agrárias para o

Combate da Pobreza e Extrema Pobreza no meio Rural do Brasil,

20. Mészáros, István - O Desafio e o Fardo do Tempo Histórico, editora Boitempo, 2007,

21. Comunicado IPEA nº 58, Dimensão, evolução e projeção da pobreza por região e por

estado no Brasil, 13 de julho de 2010.

22. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Comunicado da Presidência -

número 18 – 17.03.09 - Crise Internacional: metamorfoses de empresas transnacionais

e impactos nas regiões do Brasil.