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Caderno Judicirio do Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio
DIRIO ELETRNICO DA JUSTIA DO TRABALHOPODER JUDICIRIO REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
N2600/2018 Data da disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018. DEJT Nacional
Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio
ELINEY BEZERRA VELOSO
Desembargadora-Presidente
ROBERTO BENATAR
Desembargador Vice-Presidente
Rua Engenheiro Edgard Prado Arze, 191
Centro Poltico e Administrativo
Cuiab/MT
CEP: 78049935
Telefone(s) : (65)3648-4100
STP - SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO
Deciso Monocrtica
Deciso MonocrticaProcesso N MS-0000300-68.2018.5.23.0000
Relator MARIA BEATRIZ THEODOROGOMES
IMPETRANTE FRANCISCA LEIDEMAR DE ARAUJOPEREIRA
ADVOGADO STEPHANIE PAULA DA SILVA(OAB:24632-O/MT)
IMPETRADO MB TERCEIRIZACAO E SERVICOSLTDA
IMPETRADO EMANUELE PESSATTI SIQUEIRAROCHA
TERCEIROINTERESSADO
UNIO FEDERAL (AGU)
Intimado(s)/Citado(s):
- FRANCISCA LEIDEMAR DE ARAUJO PEREIRA
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Vistos, etc.
Trata-se de mandado de segurana com pedido liminar, impetrado
por FRANCISCA LEIDEMAR DE ARAUJO FERREIRA em face da
deciso prolatada pela Excelentssima Senhora Juza do Trabalho
da 7 Vara de Cuiab/MT, Dra. EMANUELE PESSATTI SIQUEIRA
ROCHA, por meio da qual a Magistrada indeferiu pedido de tutela
cautelar de arresto em desfavor da reclamada MB Terceirizaes,
no bojo do processo 0000490-13.2018.5.23.0006
A impetrante narra que props a referida reclamatria trabalhista e
que o pedido cautelar de arresto incidental foi indeferido no curso do
processo de conhecimento, em que pese estivessem presentes os
requisitos legais para o seu provimento.
Vindica a concesso de liminar, com o escopo de sustar o ato
arbitrrio e ilegal praticado pela Excelentssima Juza da 07 Vara
do Trabalho da comarca de Cuiab/Mato Grosso, Dra. EMANUELE
PESSATTI SIQUEIRA ROCHA, revogando a deciso de
indeferimento da liminar, at a deciso final do presente writ.
Apresenta documentos e procurao.
A teor do disposto no inciso III do artigo 7 da Lei n. 12.016/09, a
suspenso do ato que motivou a impetrao do mandado de
segurana deve ocorrer quando "houver fundamento relevante e do
ato impugnado puder resultar a ineficcia da medida, caso seja
finalmente deferida".
Sobre os requisitos para a concesso da liminar em sede de
mandado de segurana, leciona Manoel Antnio Teixeira Filho[1]:
"So dois requisitos, portanto, a serem observados pelo juiz, para
efeito de concesso da liminar. Esses requisitos so cumulativos.
Isso significa dizer que se estiver presente apenas um deles, o juiz
no estar autorizado a deferir liminarmente a providncia." (grifo
acrescido).
Mais adiante em sua obra, o referido doutrinador destaca que
obrigao do impetrante demonstrar "a relevncia do fundamento
do seu pedido e que, sem a liminar, a segurana que viesse a ser
concedida pela deciso se tornaria ineficaz" (sem destaque no
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 2Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
original).
Pois bem.
A tutela de urgncia, de natureza cautelar, indeferida pelo Juzo de
origem, na esteira do que preconiza o art. 300 do CPC, deve ser
concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o risco ao resultado til do processo.
In casu, a sorte do mandamus foi fundamentada, basicamente,
sobre a "situao crtica e desesperada" que se encontraria a
empresa demandada na ao original, a qual seria grave suficiente
para prejudicar o resultado til da reclamatria trabalhista.
Nada obstante, com o desiderato de demonstrar a probabilidade de
seu direito (direito lquido e certo), a parte impetrante limitou-se a
juntar parte de matria jornalstica, com letras diminutas (IDs
4168bc5 e e0c0b8f); uma deciso, de outro Juzo trabalhista no bojo
de Reclamatria trabalhista distinta (que deferiu a tutela cautelar de
arresto em caso anlogo - ID 1951b03); uma certido de existncia
de aes em face da litisconsorte passiva (ID 8a32721) e prints de
manifestaes de descumprimento de acordo (ID 7f739f8, fls. 2/4).
Neste quadro, em Juzo no exauriente, vislumbro que tais
elementos de convico no logram convencer sobre a existncia
da probabilidade do direito, requisito da cautelar perquirida perante
o Juzo de origem (art. 300 do CPC) e, por corolrio, da prpria
liminar perseguida no bojo do remdio heroico sub oculis.
Com efeito, a deciso de outro Juzo de 1 grau no vincula a
autoridade tida por coatora, dado que inexiste hierarquia entre
estes, sendo certo, ademais, que no h prova de que aquela tenha
sido lanada com base em idntica argumentao e arcabouo
probatrio.
Demais disto, o recorte diminuto de matria jornalstica no se
revela robusto o suficiente, para em sede liminar, ensejar a
constrio do montante de R$ 22.000,04 (vinte e dois mil reais e
quatro centavos) da empresa demandada, notadamente porquanto
no consta da notcia sequer o nome da trabalhadora supostamente
prejudicada, sendo invivel, pois, asseverar, com certeza, que se
tratava de verdadeira empregada da empresa ora litisconsorte
passiva.
Para alm disto, o fato da empresa demandada na ao originria,
constar no polo passivo de outros feitos trabalhistas no desagua
na concluso de que insolvente, mormente quando no h provas
de que tais processos se encontram na fase de execuo.
Ainda, em juzo raso, verifico que, diante da existncia de fatos
alheios vontade da litisconsorte passiva (atraso nos repasses
pelos entes pblicos), exsurge sobremaneira gravoso a constrio
perquirida pela parte impetrante, eis que no se pode confundir
mera dificuldade financeira, circunstncia que as empresas
atravessam vez ou outra, com estado de iminente insolvncia, sob
pena de se inviabilizar a atividade do empreendedor e prejudicar,
por via oblqua, o prprio trabalhador que depende da sade
financeira do seu empregador.
Em outro dizer, a tutela cautelar perquirida poderia, em tese,
derribar a delicada situao econmica da litisconsorte passiva
necessria e acelerar a degradao do seu equilbrio financeiro, de
modo a forar o encerramento das atividades, fato que teria
repercusso social absolutamente devastadora.
Neste diapaso, ausente um dos requisitos autorizadores da
concesso da medida de urgncia, no h que se falar no
deferimento desta.
Esta a jurisprudncia deste E. Regional do Trabalho, consoante
se verifica, guisa de exemplo, da leitura do aresto abaixo
colacionado:
"AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANA.
TUTELA DE URGNCIA. LIMINAR INDEFERIDA. MANUTENO
DA DECISO. Consoante dispe o artigo 300 do CPC, a tutela
de urgncia, tanto de natureza antecipada, quanto cautelar,
ser concedida quando preenchidos os seguintes requisitos
cumulativos: probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado til do processo. Desse modo, porquanto no
preenchidos tais requisitos a ensejar a suspenso da obrigao de
fazer, objeto de novel ao revisional, concernente a deciso j
transitada em julgado em Ao Civil Pblica, mantm-se a deciso
agravada que indeferiu a liminar pleiteada. Agravo Regimental a
que se nega provimento. (TRT da 23. Regio; Processo: 0000108-
38.2018.5.23.0000; Data: 29/06/2018; rgo Julgador: Tribunal
Pleno-PJe; Relator: NICANOR FAVERO FILHO) (in
www.trt23.jus.br, negritei)
Diante de todo o exposto, indefiro a liminar pretendida.
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 3Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
Nos termos do art. 7, I, da Lei n. 12.016/09, notifique-se a
autoridade coatora para prestar informaes, no prazo de 10 (dez)
dias.
D-se cincia ao Procurador Chefe da Advocacia Geral da Unio
em Mato Grosso sobre a presente ao, nos termos dispostos no
art. 7, II da Lei n. 12.016/09.
Cite-se o litisconsorte passivo identificado na pea exordial, sobre a
impetrao do presente mandado de segurana, para, querendo,
manifestar-se, no prazo legal de 15 (quinze) dias.
Aps, encaminhem-se os autos douta Procuradoria do Trabalho
para emisso de parecer, nos termos do art. 12 da Lei n. 12.016/09.
Intime-se a parte impetrante.
Cuiab-MT, 12 de novembro de 2018.
MARIA BEATRIZ THEODORO GOMES
Desembargadora do Trabalho Relatora
[1] TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Curso de direito processual
do trabalho. Vol. III. So Paulo: LTr, 2009. p. 2958/2959.
Despacho
DespachoProcesso N MS-0000139-58.2018.5.23.0000
Relator MARIA BEATRIZ THEODOROGOMES
IMPETRANTE IGOR JUNIOR BRUM
ADVOGADO IGOR JUNIOR BRUM(OAB: 9097-O/MT)
IMPETRADO JUIZ DA VARA DO TRABALHO DECOLDER-MT
LITISCONSORTE CAMILA ROSSI
Intimado(s)/Citado(s):
- IGOR JUNIOR BRUM
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
D E S P A C H O
Nos termos do acrdo de Id dd09482, o Impetrante foi dispensado
do recolhimento das custas processuais tendo em vista que "a
autoridade apontada como coatora acolheu a exceo de pr-
executividade, conduta que se consubstanciava no objeto do
mandumus".
Deste modo, proceda a STP reviso dos autos e, no havendo
pendncias, remetam-se ao arquivo com as cautelas de praxe.
Publique-se.
Cuiab-MT, 12 de novembro de 2018.
ELINEY BEZERRA VELOSO
Desembargadora-Presidente
DespachoProcesso N MS-0000300-68.2018.5.23.0000
Relator MARIA BEATRIZ THEODOROGOMES
IMPETRANTE FRANCISCA LEIDEMAR DE ARAUJOPEREIRA
ADVOGADO STEPHANIE PAULA DA SILVA(OAB:24632-O/MT)
IMPETRADO MB TERCEIRIZACAO E SERVICOSLTDA
IMPETRADO JUZO DA 7 VARA DO TRABALHODE CUIAB-MT
TERCEIROINTERESSADO
UNIO FEDERAL (AGU)
Intimado(s)/Citado(s):
- FRANCISCA LEIDEMAR DE ARAUJO PEREIRA
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 4Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Vistos etc...
Corrijo o erro material constatado na deciso prolatada (ID 7fd3612)
e certificado nos autos (ID 1108b88), determinando, por
conseguinte, que onde ficou registrado "0000490-
13.2018.5.23.0006" deve ser lido "0000766-41.2018.5.23.0007".
Cumpra-se.
STP - SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO -
1TURMA
Acrdo
Acrdo DEJTProcesso N RO-0000866-92.2017.5.23.0051
Relator EDSON BUENO DE SOUZA
RECORRENTE ELTON JOHN MOURA NEVES
ADVOGADO KAREN PRISCILA ROCHA(OAB:22823-O/MT)
RECORRENTE JOSE MILTON FALAVINHA
ADVOGADO NELIR FATIMA JACOBOWSKIGEIER(OAB: 3437/MT)
RECORRIDO ELTON JOHN MOURA NEVES
ADVOGADO KAREN PRISCILA ROCHA(OAB:22823-O/MT)
RECORRIDO JOSE MILTON FALAVINHA
ADVOGADO NELIR FATIMA JACOBOWSKIGEIER(OAB: 3437/MT)
Intimado(s)/Citado(s):
- ELTON JOHN MOURA NEVES
- JOSE MILTON FALAVINHA
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Identificao
PROCESSO n 0000866-92.2017.5.23.0051 (RO)
RECORRENTES: JOSE MILTON FALAVINHA, ELTON JOHN
MOURA NEVES
RECORRIDOS: JOSE MILTON FALAVINHA, ELTON JOHN
MOURA NEVES
RELATOR: DESEMBARGADOR EDSON BUENO
EMENTA
INDEFERIMENTO DE OITIVA DE TESTEMUNHA CONDUZIDA
PELA PARTE CONTRRIA. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INOCORRNCIA. AUSNCIA DE PROTESTO. PRECLUSO. A
Constituio Federal consagrou o princpio do devido processo
legal ao prever expressamente no seu inciso LIV que "ningum
ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal". Por sua vez, os princpios do contraditrio e
da ampla defesa esto previstos no art. 5, inciso LV. J o
cerceio ao direito de defesa ocorre quando h uma limitao na
produo de provas por uma das partes, que acaba por
prejudic-la em relao ao seu objetivo processual. Todavia,
para que a parte tenha direito produo de quaisquer meios
de prova, necessrio que os requeira na forma e nos
momentos processuais previstos no sistema em vigor. No caso
concreto, ao no registrar os 'protestos' pelo obstculo criado
inquirio de testemunha, a parte autora no se insurgiu, no
primeiro momento que lhe foi dado para se manifestar nos
autos (art. 795 da CLT), razo pela qual restou preclusa sua
oportunidade de arguir a nulidade do ato judicial, descabendo a
alegao de cerceio de defesa em sede recursal.
RELATRIO
O Autor, Elton John Moura Neves, contrariado com a sentena
proferida pela juza do trabalho substituta Ive Seidel de Souza
Costa, em atuao na 1 Vara de Tangar da Serra-MT, que julgou
improcedentes os seus pedidos (Id. dfea3ff), recorreu a esta
Instncia regional alegando ocorrncia de cerceamento de defesa
por no ter sido conhecida a sua impugnao defesa, bem como
por no terem sido ouvidas as testemunhas conduzidas pela parte
r e ter indeferido o seus pedidos relacionados ao acidente laboral
(Id. e51280f).
A R apresentou contrarrazes (Id. 42032de) e interps recurso
adesivo com o intuito de pedir que em caso de provimento do
recurso obreiro lhe seja oportunizado o direito produo de prova
oral (Id. 8d61389).
O Autor no apresentou contrarrazes, conforme comprova a
certido de Id. 2e0df12.
Despicienda a remessa ao MPT.
o sinttico relatrio.
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 5Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
FUNDAMENTAO
ADMISSIBILIDADE
No obstante o recurso adesivo da R tenha sido interposto de
forma condicional ao provimento do apelo obreiro, diante da
peculiaridade do caso concreto, reconheo seu interesse em assim
proceder, pelo que admito os recursos interpostos e das
contrarrazes patronais, pois presentes todos os pressupostos
processuais intrnsecos e extrnsecos de admissibilidade recursal.
Preliminar de admissibilidade
Concluso da admissibilidade
MRITO
RPLICA EXTEMPORNEA. CERCEAMENTO DE DEFESA
O Autor insurgiu-se em face da deciso do Juzo de origem que
determinou a excluso da sua rplica defesa. Alegou que embora
a petio tenha sido protocolada intempestivamente, "no cabe ao
Magistrado valorar a defesa e documentos e desconsiderar todas as
demais provas juntadas aos autos, como no caso em tela, que
prejudicou a realizao da instruo" (Id. e51280f - p. 8). Nestes
termos, afirmou que a determinao da Magistrada de excluir a sua
impugnao cerceou o seu direito de impugnar os documentos
apresentados pela Recorrida.
Pois bem.
A Constituio Federal consagrou o princpio do devido processo
legal ao prever expressamente no seu art. 5, inciso LIV, que
"ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal", bem como o mesmo artigo, no inciso LV, assegura
o contraditrio e a ampla defesa, in verbis:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes.
J o cerceio ao direito de defesa ocorre quando h uma limitao na
produo de provas por uma das partes, que acaba por prejudic-la
em relao ao seu objetivo processual, o que implica, em
consequncia, violao ao disposto no inciso LV do artigo 5 da
Carta Magna.
Qualquer obstculo que impea uma das partes de se defender da
forma legalmente permitida gera o cerceamento de sua defesa,
causando a nulidade do ato inquinado de vcio e daqueles
produzidos posteriormente, por violar os princpios constitucionais
do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditrio.
No obstante, no processo do trabalho s h nulidade quando dos
atos viciados resultar manifesto prejuzo s partes. Com efeito, em
se tratando de nulidades processuais, incide o contedo normativo
do art. 794 da CLT, consoante o qual s ser declarada a ineficcia
do ato se ele acarretar manifesto prejuzo para o litigante.
Ante a digresso supra, passo a anlise dos fatos.
Na inicial, o Autor alegou que sofreu acidente em mbito laboral e
requereu diversas parcelas decorrentes deste infortnio. Pleiteou,
tambm, adicional de periculosidade com o argumento de que
trabalhava habitualmente em contato com eletricidade.
A R, em defesa, rechaou as alegaes contidas na inicial.
Na audincia realizada no dia 5 de abril de 2018 o Juiz de origem,
ao verificar que a impugnao defesa foi juntada aos autos de
forma extempornea, determinou a sua excluso dos autos, sob
protestos do Autor.
Em que pese a CLT no preveja a possibilidade de manifestao
sobre a defesa, deve ser oferecido parte contrria oportunidade
de impugnar a contestao, sob pena de cerceamento de defesa.
No entanto, a ausncia de rplica no induz, necessariamente, o
reconhecimento de que as afirmaes contidas na pea
contestatria so verdicas.
E, no caso ora em anlise, no se constata no teor do decisum que
a improcedncia de quaisquer dos pedidos contidos na inicial se
deu pela apresentao extempornea da impugnao defesa,
mas sim pela ausncia de provas que levassem convico do
juzo.
Nestes termos, no prospera a alegao de cerceamento de
defesa, at mesmo porque, uma vez oportunizado o direito parte
de apresentar manifestao, deveria faz-la no prazo legal, sob
pena de no conhecimento da pea processual.
Nego provimento.
ACIDENTE DE TRABALHO. OITIVA DE TESTEMUNHAS DA
PARTE CONTRRIA. REALIZAO DE PERCIA MDICA.
CERCEAMENTO DE DEFESA
Uma vez que a Magistrada de origem constatou que o Autor no se
desvencilhou de seu nus de comprovar a ocorrncia de acidente
em mbito laboral, indeferiu a elaborao de prova mdico-pericial,
bem como indeferiu a oitiva de testemunhas conduzidas pela parte
R, sob protestos da Empresa. Nestes termos, ju lgou
improcedentes os pedidos de pagamentos de indenizaes e
compensaes relacionadas ao infortnio.
O Autor, inconformado, alegou em seu recurso que a deciso da
Julgadora de origem cerceou o seu direito de defesa, na medida em
que o indeferimento da oitiva de testemunhas da Recorrida impediu
a apurao da verdade dos fatos. Destacou que "Se o Recorrente
alegou na exordial, que informou ao sr. Ozias do acidente, bem
como, a Recorrida confirma que o Sr. Ozias era o encarregado do
Recorrente naquele dia, era necessrio a oitiva do mesmo para
apurar os fatos alegados, pois era o superior hierrquico do
Recorrente e a nica pessoa que foi informado no momento do
acidente pelo Recorrente que havia tomado um choque e cado, o
qual determinou o retorno ao trabalho, e presenciou o segundo
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 6Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
choque."
Afirmou que "o senhor Ozias s no foi arrolado como testemunha
pelo Recorrente porque aps o acidente foi dispensado pelo
Recorrido. O Recorrente por diversas vezes buscou informao a
respeito do paradeiro de Ozias e todas as tentativas foram em vo,
j que ele alm de no trabalhar mais na empresa, tambm no
mora mais no Estado. Tomando conhecimento em audincia de
instruo de que o encarregado seria ouvido por Carta Precatria."
(Id. e51280f - pp. 13/17)
Nestes termos, pediu a reforma da deciso para que fosse
reconhecida a existncia de acidente em mbito laboral e a R
condenada no pagamento de indenizao por danos materiais e
compensao por dano moral.
Em exame.
O Autor alegou na inicial que sofreu acidente em mbito laboral no
dia 25.4.2017, quando estava em cima de um andaime
manuseando um martelete eltrico, ocasio em que "recebeu uma
descarga eltrica e foi arremessado de costas no cho a uma altura
de aproximadamente 2.80 mts". Constou, ainda, que "o
encarregado OZIAS acompanhou ao Sr. Elton at o local em que
aconteceu o acidente, emendou o cabo do martelete que havia
estourado com a descarga eltrica e mandou que o Sr. Elton
voltasse a trabalhar, momento em que levou a segunda descarga
eltrica, esta NA PRESENA DO ENCARREGADO." (4d0bde3 - pp.
3/4).
A R, por seu turno, negou a ocorrncia de acidente em mbito
laboral.
Na audincia de instruo, foi ouvido apenas o sr. Fbio Brando da
Silva como informante, uma vez que foi acolhida a contradita
apresentada pela R. Em seu relato, afirmou o seguinte:
"(...) que no dia do suposto acidente, estava na Fazenda Furnas;
que ficou sabendo do acidente pelos "pees" que falaram no rdio,
que um menino sofreu acidente, e, depois, descobriu que era o
reclamante; que no viu o acidente. (...) que s ouviu esse
comentrio de que o reclamante havia sofrido acidente; (...) Que j
foi ao local que, em tese, aconteceu o acidente, e diz que tem um
buraco perto da prensa, acessvel por escada; que no sabe a
altura da sala, mas o buraco tem uns trs metros. s perguntas da
advogada da r, disse: que esse buraco era uma sala cimentada;
que ouviu sobre o acidente, pelo rdio, no mesmo dia, na hora de ir
embora, mas no se recorda o dia." (Id. f48aa9d - p. 4).
Consta da ata de audincia que a Empresa pretendia ouvir o sr.
Ozas, sr. Cludio e sr. Nerivaldo "para provar a inocorrncia do
acidente de trabalho e estiveram na presena do reclamante antes
e depois do expediente", o que foi indeferido, sob protestos da parte
r, uma vez que o nus de prova do acidente era do Autor, o qual
no se desincumbiu (Id. f48aa9d - p. 4).
De acordo com o art. 369 do CPC, "as partes tm o direito de
empregar todos os meios legais, bem como os moralmente
legtimos (...) para provar a verdade dos fatos em que se funda o
pedido ou a defesa e influir eficazmente na convico do juiz."
Portanto, compete ao Juzo assegurar s partes o direito ampla
defesa.
Lado outro, nos termos do art. 795 da CLT, as nulidades no sero
declaradas seno mediante provocao das partes, as quais
devero argui-las primeira vez em que tiverem de falar em
audincia ou nos autos.
Sem o registro do inconformismo (chamado de "protesto" no jargo
dos operadores do direito no mbito da Justia do Trabalho) na
primeira oportunidade que teve o Recorrente de falar em audincia
operou-se a precluso, o que veda o exame da matria neste
momento processual.
Por no ter o Autor protestado o indeferimento das provas orais, no
momento processual adequado, ainda que as testemunhas tenham
sido conduzidas pela parte R, operou-se a precluso do direito de
suscitar cerceamento de defesa, motivo pelo qual no h se falar
em nulidade da sentena por cerceamento ao direito de defesa.
Nestes termos, noto que ao Autor foi franqueada a oportunidade de
provar suas alegaes, contudo no se desvencilhou do encargo de
provar a ocorrncia do alegado acidente, o que deve preceder a
designao de percia mdica para averiguar a relao com o
trabalho realizado. No h sentido em se designar percia para
avaliar incapacidade decorrente de acidente que no restou
evidenciado nos autos.
Neste sentido, colaciono os seguintes precedentes do c. TST:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.
I N C O M P L E T A F U N D A M E N T A O D O D E S P A C H O
DENEGATRIO. NULIDADE PROCESSUAL. CERCEAMENTO DE
DEFESA. PERCIA. ACIDENTE DE TRABALHO. INDENIZAO
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. Impe-se dar provimento ao
agravo quando razovel a tese de afronta ao artigo 5, LV, da
CRFB/88. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA.
NULIDADE PROCESSUAL. CERCEAMENTO DE DEFESA.
PERCIA. O laudo pericial tem como fim esclarecer a realidade dos
fatos, sendo este um auxiliar da justia, quando a prova depender
de conhecimento tcnico ou cientfico (artigo 32 combinado com o
145, ambos do CPC). Ressalto que a prova realizada nos autos do
processo se destina ao convencimento do Juiz, e no da parte
(artigo 130 do CPC, aplicado subsidiariamente por fora do artigo
769 da CLT).Inexiste o cerceio de defesa quando o Juiz, de
acordo com o conjunto probatrio existente nos autos, utiliza-
se do seu poder de livre convencimento e de direo do
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 7Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
processo, dispensando prova que entende desnecessria ao
esclarecimento da lide. Recurso de revista no conhecido.(...)."
RR - 822-32.2013.5.24.0101 , Relator Desembargador Convocado:
Gilmar Cavalieri, Data de Julgamento: 04/02/2015, 2 Turma, Data
de Publicao: DEJT 13/03/2015. Grifos acrescidos.
"RECURSO DE REVISTA. (...) 2. CERCEAMENTO DE DEFESA.
INDEFERIMENTO DE PRODUO DE PROVA TESTEMUNHAL E
DE NOVA PROVA PERICIAL.A determinao ou o indeferimento
da produo de prova constituem prerrogativas do Juzo, com
esteio nos arts. 130 e 131 do CPC e 765 da CLT. Logo, no h
nulidade a ser declarada, com base no art. 5, LV, da
Constituio Federal, quando o indeferimento da percia
encontra lastro no estado instrutrio dos autos.Recurso de
revista no conhecido." (...). RR - 141900-11.2010.5.17.0005 ,
Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Data de
Julgamento: 08/04/2015, 3 Turma, Data de Publicao: DEJT
17/04/2015. Grifos acrescidos.
Por todo o exposto, entendo que no restou configurado o
cerceamento de defesa no caso em exame e, por esta razo, nego
provimento ao recurso do Autor.
No tendo havido acolhimento da tese recursal obreira, fica
prejudicada a anlise do recurso da R.
CONCLUSO
Diante do exposto, conheo dos recursos ordinrios de ambas as
partes e das contrarrazes patronais. No mrito, nego provimento
ao apelo obreiro, ficando prejudicada a anlise do recurso da R,
nos termos da fundamentao supra, que integra a presente
concluso para todos os efeitos legais.
ACRDO
Cabealho do acrdo
Acrdo
ISSO POSTO:
A Egrgia Primeira Turma de Julgamento do Tribunal Regional do
Trabalho da 23 Regio na 32 Sesso Ordinria, realizada nesta
data, DECIDIU, por unanimidade, conhecer dos recursos ordinrios
de ambas as partes e das contrarrazes patronais. No mrito, negar
provimento ao apelo obreiro, ficando prejudicada a anlise do
recurso da R, nos termos do voto do Desembargador Relator,
seguido pelos Desembargadores Roberto Benatar e Tarcsio
Valente.
A advogada Tssia de Azevedo Borges, por meio de
videoconferncia do Foro Trabalhista de Tangar da Serra, declinou
do pedido de sustentao oral, formulado em defesa do Ru.
Obs.: Ausente, em gozo de licena para tratamento da prpria
sade, o Exmo. Desembargador Bruno Weiler. O Exmo.
Desembargador Tarcsio Valente presidiu a sesso.
Sala de Sesses, tera-feira, 6 de novembro de 2018.
(Firmado por assinatura digital, conforme Lei n. 11.419/2006)
Assinatura
Desembargador EDSON BUENO
Relator
DECLARAES DE VOTO
Acrdo DEJTProcesso N RO-0000552-78.2017.5.23.0009
Relator EDSON BUENO DE SOUZA
RECORRENTE MARCELO MARSANGO
ADVOGADO ANTONIO PAULO CABRALJUNIOR(OAB: 19760-O/MT)
RECORRIDO ENERGISA MATO GROSSO -DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A.
ADVOGADO YURI FLORES DA CUNHAFREITAS(OAB: 23024-O/MT)
ADVOGADO Luiz Fernando Wahlbrink(OAB:8830/MT)
Intimado(s)/Citado(s):
- ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIAS.A.
- MARCELO MARSANGO
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Identificao
PROCESSO n 0000552-78.2017.5.23.0009 (RO)
RECORRENTE: MARCELO MARSANGO
RECORRIDO: ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE
ENERGIA S.A.
RELATOR: DESEMBARGADOR EDSON BUENO
EMENTA
AUSNCIA DE NEXO CAUSAL. DOENA OCUPACIONAL NO
CARACTERIZADA. No caso em comento, o laudo pericial
mdico concluiu pela inexistncia de nexo de causalidade ou
concausalidade entre as leses na coluna do Autor e as
atividades realizadas na R, por tratar-se de alteraes
degenerativas, sem qualquer relao com a atividade laboral
desenvolvida. Assim, evidenciado que o Autor no foi
acometido de doena ocupacional, no procedem os pleitos de
pagamento de indenizao substitutiva do perodo estabilitrio
e de compensao por dano moral, afastando-se, na hiptese,
a responsabilidade civil do empregador.
RELATRIO
A juza do trabalho substituta Eliane Xavier de Alcantara, em
atuao na 9 Vara do Trabalho de Cuiab, proferiu sentena (Id.
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 8Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
e1ce1f9), em cujo corpo julgou improcedentes os pedidos
deduzidos na petio inicial. Ao final, concedeu ao Autor os
benefcios da justia gratuita.
O Autor interps recurso ordinrio (Id. 71277a3), por meio do qual
postulou a condenao da R no pagamento de indenizao
substitutiva do perodo de estabilidade provisria e de compensao
por dano moral decorrente de doena ocupacional.
A R apresentou contrarrazes sob Id. 508c384.
Os autos no foram encaminhados ao Ministrio Pblico do
Trabalho por no versarem norma de interesse pblico e, tambm,
ante a faculdade disciplinada no inciso II do artigo 46 do Regimento
Interno deste Regional.
o breve relatrio.
FUNDAMENTAO
ADMISSIBILIDADE
Esto presentes, no caso concreto, todos os pressupostos
processuais intrnsecos e extrnsecos de admissibilidade recursal,
pelo que conheo do recurso ordinrio interposto pelo Autor, bem
assim das contrarrazes ofertadas.
Preliminar de admissibilidade
Concluso da admissibilidade
MRITO
DOENA OCUPACIONAL. COMPENSAO POR DANO
MORAL. ESTABILIDADE PROVISRIA
A Magistrada de origem no reconheceu a ocorrncia de doena
ocupacional, sob o fundamento de que a prova pericial evidenciou a
inexistncia de nexo causal ou concausal entre a molstia do Autor
e o labor prestado em benefcio da R.
O Autor, inconformado, manejou seu apelo para pedir a reforma da
sentena neste ponto, sob o argumento, em sntese, de que durante
a relao contratual se afastou por mais de 15 dias do labor,
conforme documento trazido junto pea de ingresso, e que a
doena constatada foi, no mnimo, agravada pelos servios
prestados R, razo pela qual faz jus ao recebimento de
indenizao substitutiva do perodo estabilitrio e de compensao
por dano moral.
Vejamos.
Os elementos constantes nos autos demonstraram que, no final do
ano de 2015, o Autor comeou a sentir dores na sua regio lombar,
tendo sido confirmado posteriormente, aps consulta com
ortopedista e realizao de exame de ressonncia magntica, que
havia sido acometido de 'hrnia de disco dorsal T10-11'. Em razo
da molstia verificada, foi recomendado que se afastasse do labor
por 90 dias, conforme atestado mdico datado de 19.01.2016 (Id.
8d9a668).
Ressalta-se que o Autor havia sido dispensado sem justa causa no
dia 6.01.2016, com dispensa do cumprimento do aviso prvio. No
entanto, ante a notcia da enfermidade, a R optou pela
manuteno do contrato de trabalho e, aps o obreiro ser
examinado pela mdica da empresa, foi concedida licena para
tratamento da sua sade no perodo de 6.01.2016 a 22.01.2016.
Findo o prazo da licena, houve alterao da funo do Autor, que
passou a desenvolver atividades administrativas, sendo dispensado
posteriormente, no dia 6.10.2016.
Em sua pea de ingresso, o Acionante relatou que a hrnia de disco
dorsal desenvolvida tem relao com a atividade desempenhada na
R, em razo do esforo despendido para carregar uma escada de
aproximadamente 20 quilos utilizada para fazer as leituras em
medidores de energia, bem como dos movimentos repetitivos de
subir e descer a escada mvel. Salientou que fazia em mdia 400
leituras dirias.
Considerando que os primeiros sintomas da patologia que
acometeu o Autor se iniciaram no ano final do ano de 2015, ou seja,
ao longo do contrato de trabalho firmado com a Demandada, foi
determinada a produo de prova pericial, com o intuito de se
averiguar eventual incapacidade laborativa e se a molstia decorreu
das atividades realizadas em prol do empregador.
Registro que na audincia de instruo foi colhido o depoimento
pessoal do Autor e ouvida uma testemunha, cujos trechos mais
relevantes transcrevo abaixo:
Depoimento do Autor
"[...] Que tinha que subir nas escadas para fazer a leitura no posto
de 40 a 70 vezes por dia; que a escada pesava cerca de 20kg; que
comeou a sentir dores no fim de outubro de 2015; que depois de
procurar mdicos foi constatado que o autor tem hernia de disco
dorsal; que o depoente utilizava joelheira, cotoveleiras, capacete e
luvas para andar de moto e nunca recebeu protetor de coluna. Nada
mais."
s perguntas formuladas pelo(a) patrono(a) da reclamada,
respondeu:"Que nunca trabalhou antes de trabalhar na r; que
nunca sofreu acidente de carro ou moto; que no exame admissional
foi perguntado ao depoente se havia sofrido acidente e o
reclamante afirmou que j tinha sofrido acidentes leves de moto,
com escoriaes mas nunca teve fratura; que no confirma as
informaes constantes do relatrio mdico admissional em que
consta que o sofreu 05 acidentes de moto e um acidente de carro;
que o depoente afirma que sofreu dois acidentes de moto com
escoriaes leves; que nunca trabalhou como chapa e office boy ou
servente de pedreiro; que trabalhou numa serralheria para ajudar
em uma empresa do tio do reclamante, varrendo e atendendo
pessoas; que a escada que usava era de metal mas no sabe
afirmar se era alumnio e tinha 03m de altura, tendo que agachar
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 9Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
para pegar a escada; que quando foi contratado o depoente saiu
com um outro funcionrio mais experiente para aprender a fazer a
leitura. trabalhando a p, depois passou a ser motoqueiro, fazendo
servios utilizando-se da escada; que atualmente no est
trabalhando, nem informalmente.Nada mais."." (Id. 9d103f1 - p. 1)
Testemunha Fbio Henrique da Silva Boaventura
"[...] Que trabalhou na r de 01/12/2010 a 20/12/2016, fazendo
leitura; que trabalhava com moto; que utilizava escada de fibra que
pesava 16/17/20kg; que tinha que utilizar a escada de 07 a 10
vezes por dia em dias de menor movimento e 20 a 30 vezes em
dias de maior movimento; que para fechar a escada com o tempo
ela fica mais difcil e tem que agachar para fechar at embaixo.
Nada mais."
s perguntas formuladas pelo(a) patrono(a) do(a) reclamante,
respondeu:"Que a quantidade de vezes em que a escada era
utilizada varia de bairro para bairro; que no h premio para o
funcionrio que faz mais leituras; que existe um ranking de quem
fez mais leituras; que o depoente fazia de 6.000 a 8.000,00 leituras
por ms; que a mdia de leitura por dia de 390 a 600 por dia.
Nada mais."
s perguntas formuladas pelo(a) patrono(a) do(a) reclamado(a),
respondeu:"Que a escada mede 3 metros aberta; que a escada de
eletricista mede 11m aberta; que no sabe dizer quanto pesava a
escada de eletricista; que o peso que descreve por suposio;
que quando fez exame admissional fez uma entrevista e relatou a
sua vida profissional antes de entrar na r; que no incio o depoente
fazia a leitura p, durante um ano e depois o depoente sempre
utilizou escada; que atualmente est trabalhando. Nada mais." (Id.
9d103f1 - p. 2)
O laudo pericial mdico (Id. 6632bce), por seu turno, concluiu pela
inexistncia de nexo de causalidade entre as leses do Recorrente
e as atividades realizadas na empresa, por tratar-se de alteraes
degenerativas e no passveis de desenvolvimento em apenas em 2
anos de trabalho, acrescentando que o Autor "durante o seu labor
no realizava atividades que envolviam a sobrecarga de sua coluna,
pois o manuseio de uma escada de 15kg (retirada da moto e
colocao no poste e recolocao na moto), 10 vezes ao dia em
uma jornada de 8 hs no leva a sobrecarga em sua coluna dorsal
ou lombar." (Id. 6632bce - p. 12)
Quanto capacidade laborativa, o Expert consignou que esta
encontra-se inalterada para as atividades que no exijam
sobrecarga de sua coluna torcica, inclusive para a funo antes
exercida de 'leiturista'.
Pois bem.
No que tange ao argumento de que o afastamento do Autor se deu
por mais de 15 dias e que, por esse motivo, deveria ter recebido
auxlio-doena, observo que, de fato, no ms de janeiro de 2016, o
obreiro se afastou por 17 dias (6 a 22.01.2016) e teria direito
percepo do referido benefcio a partir do 16 dia (art. 60 da Lei n.
8.213/91). Contudo, certo que para tanto o prprio trabalhador
deveria ter solicitado o seu recebimento ao INSS, haja vista que o
empregador no possui a obrigao de realizar o requerimento em
questo, sendo apenas uma faculdade, a teor do disposto no art. 76
-A do Decreto n. 3.048/99.
Outrossim, no que se refere alegao de que a Acionada
negligenciou o atestado mdico de 90 dias emitido por mdico
particular e no deu a menor assistncia ao Autor, verifico que, na
realidade, ao tomar cincia da molstia obreira, a R submeteu o
trabalhador a avaliao mdica realizada por profissional da
empresa, que constatou a desnecessidade de afastamento to
prolongado, e solicitou a alterao de sua funo, com o propsito
justamente de preservar a sua higidez fsica. Logo, no se h falar
em postura negligente da R.
J no que diz respeito suposta reduo da capacidade laborativa
e alegao de que a doena teria sido agravada pelas atividades
desempenhadas na R, o laudo pericial mdico foi conclusivo no
sentido de que no foi verificada incapacidade para o trabalho e que
a realizao da funo de 'leiturista' pelo Autor no causou,
tampouco agravou, as leses verificadas na sua coluna. Seno
vejamos:
"O reclamante trabalhou com leiturista de energia eltrica por
aproximadamente 2 anos e 8 meses refere que para seu trabalho
utilizava uma moto para seu deslocamento e utilizava uma escada
eventualmente para poder ver melhor as leituras (pelo menos 10x
ao dia). De acordo com dados fornecidos nos autos pela reclamada
a escada pesa 15Kg.
Apresenta nos autos exames de ressonncia magntica dos anos
de 2015 e 2017 que so claros em demonstrar a presena de
alteraes degenerativas (no traumticas) em toda coluna dorsal
do reclamante. Importante frisar que tais alteraes no so
passivei de desenvolvimento em apenas 2 anos e oito meses de
trabalho.
O reclamante durante o seu labor no realizava atividades que
envolviam a sobrecarga de sua coluna, pois o manuseio de uma
escada de 15kg (retirada da moto e colocao no poste e
recolocao na moto), 10 vezes ao dia em uma jornada de 8 hs no
leva a sobrecarga em sua coluna dorsal ou lombar.
Atualmente refere no sentir dores em sua coluna caso no haja
sobrecarga da mesma, bem como refere que realiza atividades
fsicas regulares (caminhada 3x na semana)
Assim aps o estudo dos autos, dos exames de imagem
apresentados e principalmente aps o exame clinico por mim
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 10Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
realizado durante a percia mdica, posso concluir que o reclamante
em questo portador de dorsalgia ao esforo (CID M54) em
virtude de alteraes degenerativas de sua coluna torcica, no
estabelecendo assim nexo de causalidade ou concausalidade entre
a doena e o trabalho por ele realizado para a reclamada.
No tocante a capacidade laborativa a mesma encontra-se inalterada
para atividades que no exijam sobrecarga de sua coluna torcica,
devendo o mesmo evitar atividades que exijam sobrecarga em sua
coluna torcica." (Id. 6632bce - pp. 12/13)
Vale destacar que, embora o Perito tenha assinalado que as
alteraes na coluna do Acionante no seriam passveis de
desenvolvimento em 2 anos e 8 meses, certo que tais leses
foram verificadas com apenas 1 ano e 10 meses de labor (em
dezembro/2015), evidenciando ainda mais a inexistncia de nexo de
causalidade ou concausalidade entre a patologia e as atividades
realizadas na empresa, mormente porque o prprio Autor informou
ao Expert que utilizava a escada, em mdia, apenas 10 vezes por
dia em uma jornada de 8 horas, e no 30 vezes como alegado na
pea recursal.
Por fim, entendo que no merece prosperar a irresignao obreira
referente percia mdica, uma vez que esta se revelou satisfatria,
pois levou em considerao os exames e atestados mdicos
juntados aos autos, bem como o seu histrico profissional e,
especificamente, as atividades realizadas na R e o ambiente de
trabalho em que se ativava.
O histrico profissional e mdico do Autor foi consignado no laudo
de forma minuciosa, do mesmo modo que os exames fsicos
realizados por ocasio da percia.
O Expert ainda pontuou sobre as condies de trabalho do Autor,
bem como quanto inexistncia de nexo causal e de incapacidade
laborativa para as atividades que no exijam sobrecarga de sua
coluna torcica, como as realizadas na Recorrida.
De tal modo, evidenciado que o Autor no foi acometido de doena
ocupacional, no h como se reconhecer que no momento da sua
dispensa estava acobertado pela estabilidade provisria prevista no
art. 118 da Lei n. 8.213/91, no fazendo jus, por conseguinte,
indenizao substitutiva do perodo estabilitrio.
Igualmente no procede o pleito de pagamento de compensao
por dano moral, porquanto demonstrada a inexistncia de nexo
causal ou concausal entre a enfermidade adquirida pelo Autor e sua
atividade laborativa, afastando-se, na hiptese, a responsabilidade
civil do empregador.
Logo, ante a ausncia de provas nos autos que amparem a tese
obreira quanto ocorrncia de molstia ocupacional, mantenho
inclume a deciso objurgada.
Nego provimento.
Item de recurso
CONCLUSO
Diante do exposto, conheo do recurso ordinrio interposto pelo
Autor, bem como das contrarrazes ofertadas, e, no mrito, nego-
lhes provimento, nos termos da fundamentao supra que integra
esta concluso para todos os efeitos legais.
ACRDO
Cabealho do acrdo
Acrdo
ISSO POSTO:
A Egrgia Primeira Turma de Julgamento do Tribunal Regional do
Trabalho da 23 Regio na 32 Sesso Ordinria, realizada nesta
data, DECIDIU, por unanimidade, conhecer do recurso ordinrio
interposto pelo Autor, bem como das contrarrazes ofertadas e, no
mri to, negar- lhes provimento, nos termos do voto do
Desembargador Relator, seguido pelos Desembargadores Roberto
Benatar e Tarcsio Valente.
Obs.: Ausente, em gozo de licena para tratamento da prpria
sade, o Exmo. Desembargador Bruno Weiler. O Exmo.
Desembargador Tarcsio Valente presidiu a sesso.
Sala de Sesses, tera-feira, 6 de novembro de 2018.
(Firmado por assinatura digital, conforme Lei n. 11.419/2006)
Assinatura
Desembargador EDSON BUENO
Relator
DECLARAES DE VOTO
Acrdo DEJTProcesso N RO-0000634-30.2017.5.23.0003
Relator EDSON BUENO DE SOUZA
RECORRENTE UNIMED CUIABA COOPERATIVA DETRABALHO MEDICO
ADVOGADO JOSE MORENO SANCHESJUNIOR(OAB: 4759/MT)
ADVOGADO TARYNI MARCELLY MORENO DEASSUNCAO TENUTA(OAB:11993/MT)
RECORRENTE SEBASTIAO PINTO DA COSTA
ADVOGADO PAULO ANTONIO GUERRA(OAB:16276/MT)
ADVOGADO MARCEL LUERSEN(OAB: 14419-O/MT)
RECORRIDO SEBASTIAO PINTO DA COSTA
ADVOGADO PAULO ANTONIO GUERRA(OAB:16276/MT)
ADVOGADO MARCEL LUERSEN(OAB: 14419-O/MT)
RECORRIDO UNIMED CUIABA COOPERATIVA DETRABALHO MEDICO
ADVOGADO JOSE MORENO SANCHESJUNIOR(OAB: 4759/MT)
ADVOGADO TARYNI MARCELLY MORENO DEASSUNCAO TENUTA(OAB:11993/MT)
Intimado(s)/Citado(s):
- SEBASTIAO PINTO DA COSTA
- UNIMED CUIABA COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO
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2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 11Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Identificao
PROCESSO n 0000634-30.2017.5.23.0003 (RO)
RECORRENTES: SEBASTIO PINTO DA COSTA, UNIMED
CUIAB COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO
RECORRIDOS: SEBASTIO PINTO DA COSTA, UNIMED
CUIAB COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO
RELATOR: DESEMBARGADOR EDSON BUENO
EMENTA
ESTABILIDADE PROVISRIA. MEMBRO DA CIPA. DISPENSA
SEM JUSTA CAUSA. INDENIZAO. A estabilidade provisria
prevista no art. 10, inciso II, alnea "a", do ADCT, tem o intuito
de garantir, ao empregado eleito membro da CIPA, o exerccio
regular do seu mandato, a fim de que possa desempenhar suas
funes livre de presses ou represlias por parte do
empregador. Isso porque a finalidade das comisses internas
de preveno de acidentes a fiscalizao das instalaes do
estabelecimento empresarial de forma a impossibilitar a
ocorrncia de imprevistos causadores de acidentes de
trabalho. Mais ainda: em consonncia com a jurisprudncia do
TST, devida a indenizao substitutiva pleiteada pelo
empregado cipeiro que dispensado sem justa causa dentro
do perodo em que portador da garantia de emprego, mesmo
que no tenha pedido de reintegrao ao emprego.
RELATRIO
O juiz do trabalho substituto Luiz Fernando Leite da Silva Filho,
em exerccio na 3 Vara do Trabalho de Cuiab, proferiu sentena
Id. 63906d7, na qual julgou improcedentes os pedidos formulados
na petio inicial, no obstante tenha reconhecido a estabilidade
provisria do Autor membro de CIPA.
O Autor, insatisfeito, recorreu da sentena (Id. a326fd6), pugnando
pelo pagamento da indenizao relativa ao perodo de estabilidade
provisria reconhecido na deciso.
O Ru interps recurso adesivo (Id. 0478ccc) asseverando que o
Autor no comprovou ser beneficirio de estabilidade provisria.
As partes apresentaram contrarrazes (Id. 0478ccc e Id. d6e7f13).
Os autos no foram encaminhados ao Ministrio Pblico do
Trabalho, porque no h discusso jurdica envolvendo interesse
pblico primrio e, tambm, ante a faculdade disciplinada no inciso
II do artigo 46 do Regimento Interno deste Regional.
, em sntese, o relatrio.
FUNDAMENTAO
ADMISSIBILIDADE
Estando presentes, no caso concreto, todos os pressupostos
processuais intrnsecos e extrnsecos de admissibilidade recursal,
conheo dos recursos interpostos, bem como das contrarrazes
oferecidas.
Preliminar de admissibilidade
Concluso da admissibilidade
MRITO
RECURSO DE AMBAS AS PARTES
ESTABILIDADE PROVISRIA. MEMBRO DE CIPA
O julgador a quo proferiu sentena reconhecendo a estabilidade
provisria do Autor membro de Cipa, julgando improcedente,
contudo, o pedido de pagamento da indenizao substitutiva sob o
fundamento de que o empregado no pleiteou a reintegrao ao
emprego.
O Autor, insatisfeito, recorreu alegando que "as circunstncias em
que se deram a demisso do Recorrente, a reintegrao deste
ltimo ao labor invivel." Asseverou, ainda, em suas razes
recursais, que "a Recorrida para no ter mais o Recorrido em seus
quadros de funcionrios, fraudou o sistema eleitoral para os cargos
da CIPA, tentando simular a inexistncia da inscrio do Obreiro em
data anterior a sua demisso, e consequentemente impedir que sua
estabilidade fosse reconhecida. Estes fatos falam de per si e so
suficientes para demonstrar que o Obreiro no era mais bem-vindo
na empresa r, ao ponto de ter sido demitido ilegalmente. Ora
nobres julgadores, o retorno do Recorrente ao labor s causaria
constrangimento ao mesmo e a prpria Recorrida, que apesar de
sua grandeza econmica, sujeitou-se a tomar vis atitudes para
impedi-lo de continuar na empresa ora Recorrida. Diante disto,
fato que o retorno do Obreiro empresa r sujeit-lo-ia a uma
situao de profunda insatisfao, afinal de comezinho que causa
enorme desconforto emocional trabalhar em um local que
sabidamente todos no o querem l." Defendeu, por fim, o direito ao
recebimento de indenizao substitutiva independente de pedido de
reintegrao ao emprego.
A R, por sua vez, tambm recorreu pugnando pela declarao de
inexistncia de estabilidade provisria do empregado tendo em vista
que no foi formalmente informada da inscrio do Autor para
concorrer a cargo de dirigente da CIPA.
Examino.
O Autor narrou na petio inicial que foi admitido em 07/10/2013
para exercer a funo de controlador de estacionamento e
Estoquista, e que foi eleito como representante dos empregados na
Comisso Interna de Preveno de Acidentes - CIPA, para gesto
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 12Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
de janeiro a dezembro de 2015, detendo estabilidade provisria no
emprego at 31/12/2016.
Relatou dispensa sem justa causa em 21/11/2016 e alegou ser
invivel a reintegrao no emprego em razo da animosidade
existente no ambiente de trabalho, postulando pelo pagamento de
indenizao substitutiva.
Em contestao, a R impugnou as alegaes trazidas na exordial,
asseverando que no teve conhecimento de candidatura do Autor a
membro da CIPA, defendendo que competia ao empregado
comprovar que solicitou registro da candidatura na forma prevista
no Edital respectivo, nus que lhe competia. Negou, ainda, o
alegado assdio moral que inviabilizasse eventual reintegrao ao
emprego.
Na audincia de instruo (Id. b1f4864), o Autor prestou depoimento
pessoal, declarando "que atuou como representante da CIPA por 1
ano em 2015, no obtendo a reeleio; que se candidatou
novamente para compor a CIPA, tendo apresentado a inscrio ao
ento presidente da CIPA TIAGO MONTEIRO no dia 14/11/2016;
que foi dispensado no dia 21/11/2016; que neste dia conversou com
a tcnica de segurana LUCIA a qual lhe informou que a inscrio
havia sido cancelada; que no se recorda como foi a inscrio para
a eleio relativa ao mandato de 2015; que a empresa publicou um
edital de inscrio no mural no dia 22; que ficou sabendo de tal
publicao pelo colega RODRIGO; que havia um edital anterior a
sua inscrio no dia 14/11/2016. Nada mais." (...) que para se
inscrever apenas informou o nome e o nmero da chapa para o
presidente TIAGO; que tinha conhecimento acerca da necessidade
de envio de e-mail para a inscrio, mas no enviou e-mail pois
sequer possua conta aberta de e-mail. Nada mais.". (destaques
acrescidos)
Estabelece o art. 10 do ADCT que:
"At que seja promulgada a lei complementar a que se refere o
artigo 7, I, da Constituio:
I - (...)
II - fica vedada a dispensa arbitrria ou sem justa causa:
a) do empregado eleito para cargo de direo de comisses
internas de preveno de acidentes, desde o registro de sua
candidatura at um ano aps o final de seu mandato".
O membro da CIPA eleito para representar a sua categoria
profissional usufrui da proteo a que alude o art. 10, II, "a", ADCT,
que contempla situao especfica dos representantes dos
empregados, eleitos por estes para defender interesse da categoria
profissional.
O TST j sedimentou entendimento no sentido de que a garantia
provisria de emprego ao cipeiro no constitui uma vantagem
pessoal, nos termos da Smula n. 339, verbis:
"N 339 CIPA. SUPLENTE. GARANTIA DE EMPREGO. CF/1988
(incorporadas as Orientaes Jurisprudenciais ns 25 e 329 da
SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
(...)
II - A estabilidade provisria do cipeiro no constitui vantagem
pessoal, mas garantia para as atividades dos membros da CIPA,
que somente tem razo de ser quando em atividade a empresa.
Extinto o estabelecimento, no se verifica a despedida arbitrria,
sendo impossvel a reintegrao e indevida a indenizao do
perodo estabilitrio. (ex-OJ n 329 da SBDI-1 - DJ 09.12.2003)".
Portanto, a finalidade da estabilidade provisria garantir ao
empregado eleito que o empregador no o prejudique por estar
defendendo os direitos dos trabalhadores, zelando pela preveno
de acidente.
Cumpre destacar, ainda, que o item 5.8 da NR-5 do MTE esclarece
que " vedada a dispensa arbitrria ou sem justa causa do
empregado eleito para cargo de direo de Comisses Internas de
Preveno de Acidentes desde o registro de sua candidatura at um
ano aps o final de seu mandato".
Incontroverso, portanto, a estabilidade provisria do Autor, em
decorrncia de ter sido membro da CIPA no ano de 2015, at
31/12/2016.
A controvrsia remanesce acerca da estabilidade provisria
decorrente da candidatura do Autor para eleies da CIPA no ano
de 2016, bem como sobre o direito ao recebimento de indenizao
substitutiva mesmo quando no postulado pelo empregado a
reintegrao ao emprego.
Pois bem.
No tocante possibilidade de o empregado detentor de estabilidade
provisria por ser e/ou ter sido membro da CIPA, dispensado sem
justa causa, pleitear o pagamento de indenizao substitutiva sem
pedido de reintegrao ao emprego, a SbDI 1 do TST j se
pronunciou sobre a matria, conforme se l da ementa abaixo
transcrita:
"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO PELO RECLAMANTE
SOB A GIDE DA LEI N 11.496/2007. RECURSO DE REVISTA.
E S T A B I L I D A D E P R O V I S R I A . M E M B R O D A C I P A .
INDENIZAO. AUSNCIA DE PEDIDO DE REINTEGRAO. 1.
Nos moldes do art. 10, II, -a-, do ADCT, fica vedada a dispensa
arbitrria ou sem justa causa do empregado eleito para cargo de
direo de comisses internas de preveno de acidentes, desde o
registro de sua candidatura at um ano aps o final de seu
mandato. Por outro lado, o caput do art. 165 Consolidado,
determina que arbitrria a despedida dos t i tulares da
representao dos empregados nas CIPAs, exceto se h motivao
disciplinar, tcnica, econmica ou financeira. 2. In casu, a Turma
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2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 13Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
entendeu que como o reclamante, membro da CIPA, pleiteou
indenizao, ao invs de reintegrao, quando no havia exaurido o
perodo estabilitrio, seu pedido de indenizao devia ser recebido
como renncia tcita estabilidade provisria. 3. Ora, do que se
i n f e r e d o s c o m a n d o s c o n s t i t u c i o n a l e c o n s o l i d a d o
supramencionados, o nico pressuposto, para que o empregado
tenha assegurado o direito ao emprego, que tenha sido eleito para
cargo de direo de comisses internas de preveno de acidente,
hiptese incontroversa nos autos. Logo, sendo incontestvel que o
autor foi eleito membro da CIPA e que na data da dispensa era
detentor de estabilidade provisria no emprego, e no configurando
a situao de dispensa por motivo disciplinar, tcnico, econmico ou
financeiro, tem-se que o pedido exclusivo de indenizao no
conduz concluso da renncia tcita estabilidade, pois em se
tratando de direito trabalhista, a renncia deve ser aceita somente
excepcionalmente, devendo haver, ainda, manifestao inequvoca
do ato da renncia. 4. Por conseguinte, tendo o reclamante
ingressado com a ao trabalhista dentro no perodo estabilitrio, o
no acolhimento do pedido de pagamento de indenizao
correspondente ao referido perodo constitui, em ltima anlise,
negar o acesso do reclamante Justia e premiar o empregador
pela prtica de ato vedado pela legislao, consistente na dispensa
de empregado detentor de estabilidade no emprego, sendo,
ademais, plenamente aplicvel a hiptese, a diretriz do art. 496
Consolidado. Recurso de embargos conhecido e provido." (E-RR -
1213500-33.2006.5.09.0007, Relatora Ministra: Dora Maria da
Costa, Data de Julgamento: 13/06/2013, Subseo I Especializada
em Dissdios Individuais, Data de Publicao: DEJT 21/06/2013 -
g.n.).
Nestes termos as razes de decidir do mencionado julgado:
"[...] De outra parte, quanto ao pedido de indenizao, ao invs de
reintegrao, ou melhor, o fato de o reclamante no postular, na
petio inicial, a reintegrao no emprego, mas apenas a
indenizao substitutiva decorrente da estabilidade provisria, tem-
se por plenamente vivel, porquanto o direito estabilidade e
subsequente indenizao se reveste de indisponibilidade absoluta,
mormente porque a indenizao substitutiva ao perodo de
estabilidade provisria se mostrou adequada a preservar a tutela
constitucional destinada ao membro da CIPA representante dos
empregados.
Se no bastasse, era ntida a recusa da reclamada em manter o
reclamante no emprego, tendo em vista a dispensa imotivada em
pleno perodo estabilitrio, de modo que no h como impor s
partes a obrigatoriedade de manter uma relao empregatcia,
sendo inexigvel, portanto, que o trabalhador formulasse pedido que
sabia incompatvel com a continuidade do pacto laboral, pois, se o
empregado no tinha mais a expectativa de ser reintegrado no
emprego, no havia razo para pleitear a reintegrao, sendo
possvel, portanto, a formulao apenas do pedido alusivo
indenizao correspondente.
Ademais, se possvel converter o pedido de reintegrao em
indenizao (Smula n 396, I, do TST), com muito mais razo h
que se acolher o pedido j assim formulado, pois traz implcito o
reconhecimento do trabalhador quanto inviabilidade do seu
retorno ao emprego, mormente diante da prpria garantia
temporria deste, sendo plenamente aplicvel a hiptese a diretriz
do art. 496 Consolidado, segundo o qual "quando a reintegrao do
empregado estvel for desaconselhvel, dado o grau de
incompatibilidade resultante do dissdio, especialmente quando for o
empregador pessoa fsica, o Tribunal do Trabalho poder converter
aquela obrigao em indenizao devida nos termos do artigo
seguinte".
Por conseguinte, tendo o reclamante ingressado com a ao
trabalhista dentro do perodo estabilitrio e restando evidente a
inviabilidade de sua reintegrao no emprego, o no acolhimento do
pedido de pagamento de indenizao correspondente ao referido
perodo constitui, em ltima anlise, negar o acesso do reclamante
Justia e premiar o empregador pela prtica de ato vedado pela
legislao, consistente na dispensa de empregado detentor de
estabilidade no emprego.
E esse foi o entendimento desta Subseo Especializada, ao
apreciar situao anloga a presente, onde a discusso travada se
referida estabilidade da gestante, in verbis:
"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO ANTES DA VIGNCIA
DA LEI N. 11.496/2007. ESTABILIDADE PROVISRIA DA
GESTANTE. SMULA N 244, I E II, DO TST. 1. Prevalece nesta
Corte Superior o entendimento de que 'o desconhecimento do
estado gravdico pelo empregador no afasta o direito ao
pagamento da indenizao decorrente da estabilidade'. 2. O fato de
a Reclamante, gestante, no haver postulado a reintegrao ao
emprego, no prejudica o reconhecimento da estabilidade garantida
pelo art. 10, II, 'b', do ADCT, o qual, alis, estabelece apenas uma
condio para o exerccio de tal direito, qual seja, a comprovao
do estado gravdico no decorrer do vnculo de emprego. Ademais, a
Smula 244, ao reconhecer o direito reintegrao empregada
gestante, no a impediu de postular, exclusivamente, a indenizao,
conforme se observa do item II do verbete em referncia. 3.
Invivel, portanto, o conhecimento do Recurso de Embargos que
objetiva desconstituir a deciso embargada, que se encontra
moldada jurisprudncia iterativa, notria e atual deste Tribunal, in
casu, o referido Verbete Sumular 244, I e II, do TST. Embargos no
conhecidos." (TST-ED-RR-647346-11.2000.5.03.5555, Rel. Min.
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2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 14Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
Maria de Assis Calsing, SDI-1, DJ de 14/11/2008) (grifos nossos)
[...]" (g.n.).
Consoante entendimento adotado pela SbDI-I do TST, tem-se que
no obrigatrio o pedido de reintegrao ao emprego para
perquirir o pagamento de indenizao substitutiva ao perodo
estabilitrio.
Diante do exposto, de acordo com a jurisprudncia da mais alta
corte trabalhista, devida a indenizao substitutiva pleiteada
pelo empregado cipeiro que dispensado sem justa causa
dentro do perodo em que portador da garantia de emprego,
mesmo que no tenha pedido de reintegrao ao emprego, pelo
que dou provimento ao recurso do Autor neste tpico.
Em relao estabilidade decorrente da candidatura do Autor para
as eleies da CIPA gesto 2017/2018, entendo despiciendo
discutir-se a respeito da data do edital de convocao para tais
eleies, se antes ou aps a dispensa sem justa causa do Autor,
visto que o cerne da questo reside na prova da formalizao da
candidatura do Autor ao cargo de cipeiro.
Assim, mesmo que se considere o primeiro edital de convocao,
aquele apresentado pelo prprio Autor com a petio inicial, ali
restaram fixadas as diretrizes para os empregados participarem das
eleies para constituio da CIPA, quais sejam, enviar email ao
setor de Gesto de Pessoas - Segurana do Trabalho manifestando
o interesse para, aps, receber f icha de inscrio para
preenchimento.
No entanto, como defendido pela R, no restou comprovado nos
autos que o Autor tenha formalizado sua candidatura, seja por meio
de correspondncia eletrnica, ficha de inscrio ou qualquer outro
tipo de comunicao com a empresa R.
Saliento que o fato de o Autor manifestar seu interesse em
participar das eleies da CIPA aos colegas, mesmo que tenha
lanado seu nome em eventual lista - lista esta que sequer foi
juntada aos autos, frise-se - por si s, no implica em formalizao
da sua candidatura.
Irrelevante, portanto, neste tpico, as declaraes das testemunhas
ouvidas em audincia (Id. b1f4864), as quais declararam "(...) que o
presidente TIAGO perguntou aos trabalhadores acerca do interesse
em participar da CIPA; que isso ocorreu em novembro de 2016; que
TIAGO passou uma lista para que os trabalhadores interessados
escrevessem o nome completo e o nmero da chapa; que viu o
nome do autor na referida lista. Nada mais"." (Rodrigo Marques
Marcoski da Silva) e "(...) que o autor disse para a testemunha que
tinha interesse em participar da CIPA; que a testemunha disse ao
autor para esperar a data, pois iria imprimir a ficha e dar para o
autor assinar. Nada mais". (Thiago Dias Monteiro).
Assim, mngua de comprovao nos autos da formalizao e/ou
registro da candidatura do Autor ou de informao empresa R a
respeito do seu interesse em participar das eleies da CIPA, no
h estabilidade provisria que beneficie o Autor a partir de
01/01/2017.
Diante de todo o exposto, dou provimento parcial ao recurso
obreiro para deferir o pagamento de indenizao substitutiva ao
perodo estabilitrio de 22/11/2016 a 31/12/2016, com os
respectivos reflexos nas frias acrescidas do tero constitucional,
gratificao natalina e FGTS + 40%.
No prosseguimento, dou provimento ao recurso adesivo interposto
pela R para, reformando a sentena, declarar que o Autor no
detinha estabilidade provisria no emprego a partir da 01/01/2017.
CONCLUSO
Diante do exposto, conheo dos recursos interpostos pelas partes,
assim como das contrarrazes oferecidas e, no mrito, dou
provimento parcial ao recurso obreiro para deferir o pagamento de
indenizao substitutiva ao perodo estabilitrio de 22/11/2016 a
31/12/2016, com os respectivos reflexos nas frias acrescidas do
tero constitucional, gratificao natalina e FGTS + 40%. No
prosseguimento, dou provimento ao recurso adesivo interposto pela
R para, reformando a sentena original, declarar que o Autor no
detinha estabilidade provisria no emprego a partir da 01/01/2017,
tudo nos termos da fundamentao supra, que integra esta
concluso para todos os fins.
Ante a inverso do nus da sucumbncia, fixo provisoriamente
condenao o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e s custas
processuais, R$ 100 (cem reais), a cargo da R.
Juros na forma da lei e atualizao monetria com a utilizao do
IPCA-E, respeitando-se, por bvio, as modulaes de efeitos
indicadas no julgamento da ArgInc n. 479-60.2011.5.04.0231 pelo
TST.
ACRDO
Cabealho do acrdo
Acrdo
ISSO POSTO:
A Egrgia Primeira Turma de Julgamento do Tribunal Regional do
Trabalho da 23 Regio na 32 Sesso Ordinria, realizada nesta
data, DECIDIU, por unanimidade, conhecer dos recursos
interpostos pelas partes, assim como das contrarrazes oferecidas
e, no mrito, dar provimento parcial ao recurso obreiro para deferir o
pagamento de indenizao substitutiva ao perodo estabilitrio de
22/11/2016 a 31/12/2016, com os respectivos reflexos nas frias
acrescidas do tero constitucional, gratificao natalina e FGTS +
40%. No prosseguimento, dar provimento ao recurso adesivo
interposto pela R para, reformando a sentena original, declarar
que o Autor no detinha estabilidade provisria no emprego a partir
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2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 15Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
da 01/01/2017, tudo nos termos do voto do Desembargador Relator,
seguido pelos Desembargadores Roberto Benatar e Tarcsio
Valente. Ante a inverso do nus da sucumbncia, fixa-se
provisoriamente condenao o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) e s custas processuais, R$ 100 (cem reais), a cargo da R.
Juros na forma da lei e atualizao monetria com a utilizao do
IPCA-E, respeitando-se, por bvio, as modulaes de efeitos
indicadas no julgamento da ArgInc n. 479-60.2011.5.04.0231 pelo
TST.
Obs.: Ausente, em gozo de licena para tratamento da prpria
sade, o Exmo. Desembargador Bruno Weiler. O Exmo.
Desembargador Tarcsio Valente presidiu a sesso.
Sala de Sesses, tera-feira, 6 de novembro de 2018.
(Firmado por assinatura digital, conforme Lei n. 11.419/2006)
Assinatura
Desembargador EDSON BUENO
Relator
DECLARAES DE VOTO
Acrdo DEJTProcesso N AP-0001033-95.2013.5.23.0004
Relator EDSON BUENO DE SOUZA
AGRAVANTE WANDERLEI VIEIRA
ADVOGADO LUIS HENRIQUE CARLI(OAB: 8559-O/MT)
ADVOGADO ADRIANO DAMIN(OAB: 4719-B/MT)
AGRAVADO TUT TRANSPORTES LTDA - EMRECUPERAO JUDICIAL
ADVOGADO JOAO JENEZERLAU DOSSANTOS(OAB: 3613-B/MT)
ADVOGADO CECILIANA MARIA FANTINATOVIEIRA E JENEZERLAU(OAB: 8464-O/MT)
ADVOGADO NADSON JENEZERLAU SILVASANTOS(OAB: 11623-A/MT)
Intimado(s)/Citado(s):
- TUT TRANSPORTES LTDA - EM RECUPERAO JUDICIAL
- WANDERLEI VIEIRA
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Identificao
PROCESSO n 0001033-95.2013.5.23.0004 (AP)
AGRAVANTE: WANDERLEI VIEIRA
AGRAVADO: TUT TRANSPORTES LTDA - EM RECUPERAO
JUDICIAL
RELATOR: DESEMBARGADOR EDSON BUENO
EMENTA
EMPRESA EM RECUPERAO JUDICIAL. EXPEDIO DE
CERTIDO DE CRDITO PARA HABILITAO DO CRDITO NO
J U Z O U N I V E R S A L . E X T I N O D A E X E C U O .
IMPOSSIBILIDADE. Com efeito, aps a apurao do quantum
debeatur e respectiva expedio da certido de crdito para
habilitao no Juzo universal, deve ser determinada a
suspenso da execuo trabalhista at o encerramento da
recuperao judicial, retomando-se o seu prosseguimento caso
os crditos no tenham sido integralmente satisfeitos. Nesse
sentido, so as disposies contidas no art. 2 do Provimento
n. 01/2012 da CGJT e no art. 82 da Consolidao dos
Provimentos da Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho.
Assim, d-se provimento ao agravo de petio para afastar a
declarao de extino da execuo e determinar a suspenso
do processo at o fim do processamento da recuperao
judicial.
RELATRIO
A juza do trabalho substituta Stella Maris Lacerda Vieira, em
atuao na 4 Vara do Trabalho de Cuiab, proferiu deciso Id.
48f0c64, na qual declarou extinta a execuo, determinando-se "a
excluso do ru do BNDT, do CNIB, e a baixa das restries
gravadas via RENAJUD, caso existentes nestes autos."
Inconformado, o Exequente interps Agravo de Petio Id. 1b0c2bc,
sustentando que as execues contra empresas em recuperao
judicial devem permanecer suspensas at a data da efetiva quitao
do crdito exequendo.
No houve apresentao de contraminuta.
o breve relatrio.
FUNDAMENTAO
ADMISSIBILIDADE
Conheo do Agravo de Petio interposto pelo Exequente,
porquanto preenchidos os pressupostos intrnsecos e extrnsecos
de admissibilidade recursal.
Preliminar de admissibilidade
Concluso da admissibilidade
MRITO
Recurso da parte
A Magistrada singular, constatando que j haviam sido expedidas
as certides de crdito para habilitao do Exequente e da Unio
nos autos da recuperao judicial, declarou extinta a execuo.
Inconformado, o Exequente recorreu a esta Corte Revisora,
postulando a reforma da sentena "para fins de determinar a
suspenso do processo e o arquivamento provisrio dos autos, at
a satisfao total dos crditos no juzo da recuperao judicial ou
declarao de falncia da Agravada".
Ao exame.
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2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 16Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
Para maior compreenso da matria devolvida a esta Corte e antes
de analisar o mrito recursal propriamente dito, oportuna uma
rpida digresso sobre os valores e princpios constitucionais que
informam a recuperao judicial e extrajudicial e a falncia do
empresrio e da sociedade empresria, atualmente disciplinada
pela Lei n. 11.101/2005.
O art. 47 da referida Lei estatui que:
"A recuperao judicial tem por objetivo viabilizar a superao da
situao de crise econmico-financeira do devedor, a fim de permitir
a manuteno da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservao da
empresa, sua funo social e o estmulo atividade econmica."
Aps leitura deste dispositivo, salta vista que o referido diploma
legal buscou, antes de tudo e do ponto de vista teleolgico, garantir
a sobrevivncia das empresas que, momentaneamente, atravessam
momentos de crises, no raras vezes decorrentes das vicissitudes
derivadas da economia globalizada, tendo em conta, sobretudo, a
funo social que tais complexos patrimoniais exercem, a teor do
disposto no art. 170, III, da Carta Republicana de 1988.
Mister ressaltar que o processo de recuperao judicial objetiva, em
ltima anlise, saldar o passivo mediante a realizao do respectivo
patrimnio. Para tanto, todos os credores so reunidos segundo
uma ordem pr-determinada em lei, em consonncia com a
natureza do crdito de que so detentores.
Ao conceber estes postulados na Lei n. 11.101/2005, o legislador
ordinrio optou por dar concreo a determinados valores
constitucionais, a exemplo da livre iniciativa e da funo social da
propriedade, de cujas manifestaes a empresa uma das mais
conspcuas, em detrimento de outros, com igual densidade
axiolgica.
O art. 6 da Lei n. 11.101/05 determina que o deferimento do
processamento da recuperao judicial suspende o curso de todas
as aes e execues em face do devedor, in verbis:
Art. 6o A decretao da falncia ou o deferimento do
processamento da recuperao judicial suspende o curso da
prescrio e de todas as aes e execues em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do scio
solidrio.
1oTer prosseguimento no juzo no qual estiver se processando a
ao que demandar quantia ilquida.
2o permitido pleitear, perante o administrador judicial,
habilitao, excluso ou modificao de crditos derivados da
relao de trabalho, mas as aes de natureza trabalhista, inclusive
as impugnaes a que se refere o art. 8o desta Lei, sero
processadas perante a justia especializada at a apurao do
respectivo crdito, que ser inscrito no quadro-geral de credores
pelo valor determinado em sentena.
3o O juiz competente para as aes referidas nos 1o e 2odeste
artigo poder determinar a reserva da importncia que estimar
devida na recuperao judicial ou na falncia, e, uma vez
reconhecido lquido o direito, ser o crdito includo na classe
prpria.
4oNa recuperao judicial, a suspenso de que trata ocaput
deste artigo em hiptese nenhuma exceder o prazo improrrogvel
de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperao, restabelecendo-se, aps o decurso
do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas aes e
execues, independentemente de pronunciamento judicial.
5o Aplica-se o disposto no 2odeste artigo recuperao judicial
durante o perodo de suspenso de que trata o 4odeste artigo,
mas, aps o fim da suspenso, as execues trabalhistas podero
ser normalmente concludas, ainda que o crdito j esteja inscrito
no quadro-geral de credores.
6oIndependentemente da verificao peridica perante os
cartrios de distribuio, as aes que venham a ser propostas
contra o devedor devero ser comunicadas ao juzo da falncia ou
da recuperao judicial:
I - pelo juiz competente, quando do recebimento da petio inicial;
II - pelo devedor, imediatamente aps a citao.
7oAs execues de natureza fiscal no so suspensas pelo
deferimento da recuperao judicial, ressalvada a concesso de
parcelamento nos termos do Cdigo Tributrio Nacional e da
legislao ordinria especfica.
8oA distribuio do pedido de falncia ou de recuperao judicial
previne a jurisdio para qualquer outro pedido de recuperao
judicial ou de falncia, relativo ao mesmo devedor. (grifos
acrescidos).
O 2 do dispositivo legal supratranscrito, por sua vez, faz expressa
ressalva de que as aes (na fase de conhecimento) em curso
prosseguem na Justia do Trabalho at a fase de liquidao - na
verdade at a formao do ttulo executivo - para, aps definido o
valor do crdito, ser este habilitado no juzo universal (da
recuperao judicial e falncia) e l integrar o quadro de credores
com o privilgio previsto nessa mesma fonte normativa.
Com efeito, o deferimento do processo da recuperao judicial pelo
juzo universal tem o efeito paralisante da tramitao da execuo
no exato estado em que se encontra, nos termos do artigo 6 da Lei
n. 11.101/05. Ou seja, a competncia da Justia do Trabalho esvai-
se com a individualizao e quantificao do crdito.
Como se nota, a inteno do legislador foi a de concentrar as
execues com crdito liquidado no juzo universal, a bem do
tratamento uniforme de todos os credores - respeitada
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evidentemente a categoria a que pertencem - e da viabilizao do
escopo da prpria recuperao judicial, vale dizer, permitir que a
empresa afetada por uma crise econmica ou financeira supere
essa situao e com isso permita "a manuteno da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservao da empresa, sua
funo social e o estmulo atividade econmica" (art. 47 da Lei n.
11.101/2005).
Todavia, certo que a expedio da certido de crdito para
habilitao no Juzo da recuperao judicial no acarreta a
automtica extino da execuo trabalhista como entendeu a
Magistrada de primeiro grau.
Deveras, com a apurao do quantum debeatur e respectiva
expedio da certido de crdito para habilitao no Juzo
falimentar, deve ser determinada a suspenso da execuo at o
encerramento da recuperao judicial, retomando-se o seu
prosseguimento caso os crditos no tenham sido integralmente
satisfeitos.
Nesse sentido, so as disposies contidas no art. 2 do Provimento
n. 01/2012 da CGJT e no art. 82 da Consolidao dos Provimentos
da Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho, in verbis:
"Art. 2 Os MM. Juzos das Varas do Trabalho mantero em seus
arquivos os autos das execues que tenham sido suspensas em
decorrncia da decretao da recuperao judicial ou da falncia, a
fim de que, com o encerramento da quebra, seja retomado o seu
prosseguimento, desde que os crditos no tenham sido totalmente
satisfeitos, em relao aos quais no corre a prescrio enquanto
durar o processo falimentar, nos termos do artigo 6 Lei n
11.101/2005."
"Art. 82. Os juzes do trabalho mantero em seus arquivos os autos
das execues trabalhistas que tenham sido suspensas em
decorrncia do deferimento da recuperao judicial, de modo que,
com o seu encerramento ou com o encerramento da quebra em que
ela tenha sido convolada (art. 156 e seguintes da Lei 11.101/2005),
seja retomado o seu prosseguimento, para cobrana dos crditos
que no tenham sido totalmente satisfeitos."
Nesse sentido vem sendo o posicionamento adotado por este e.
Tribunal Regional, conforme se observa dos arestos a seguir
colacionados:
"EMPRESA EM RECUPERAO JUDICIAL. EXPEDIO DE
CERTIDO DE CRDITO. HABILITAO DO JUZO DA
RECUPERAO JUDICIAL. SUSPENSO DO PROCESSO. O art.
72 da Consolidao dos Provimentos da Corregedoria-Geral da
Justia do Trabalho dispe que aps a expedio da certido de
crdito para habilitao no juzo da recuperao judicial, o processo
dever ser suspenso. Assim, h de ser reformada a sentena que
determinou a extino da execuo, para determinar a suspenso
do processo at a satisfao dos crditos no juzo da recuperao
judicial. Recurso provido." (TRT da 23. Regio; Processo: 0000578
-22.2016.5.23.0006; Data: 24/08/2017; rgo Julgador: 2 Turma-
PJe; Relator: ELINEY BEZERRA VELOSO)
"RECUPERAO JUDICIAL. EXECUO. EXTINO DOS
CRDITOS. Tendo em vista a deciso de competncia da justia
comum para a execuo dos crditos, mesmo trabalhistas, de
empresas em recuperao judicial, os processos devero ser
suspensos, nos termos do art. 82 da consolidao dos provimentos
da Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho e art. 156 e seguintes
da Lei 11.101/2005. Recurso provido." (TRT da 23. Regio;
Processo: 0000736-14.2015.5.23.0006 AP; Data: 30/08/2016;
rgo Julgador: 2 Turma-PJe; Relator: OSMAIR COUTO)
"AGRAVO DE PETIO. EMPRESA EM RECUPERAO
JUDICIAL. EXECUO DOS CRDITOS DO AUTOR PERANTE A
JUSTIA ESTADUAL COMUM. Tendo em vista que o Supremo
Tribunal Federal, no Recurso Extraordinrio n 583.955 (RJ),
proferiu deciso, em carter de repercusso geral, no sentido de
que nas hipteses de recuperao judicial de empresas a
competncia para o julgamento da execuo dos crditos
trabalhistas incumbe Justia Comum, impe-se reconhecer que a
competncia da Justia do Trabalho limita-se ao julgamento dos
pedidos descritos na inicial e, posteriormente, apurao do crdito
obreiro, com a consequente emisso da certido de crdito para
habilitao perante o Juzo da Recuperao Judicial. Contudo, tal
procedimento no autoriza a extino da execuo nesta
Especializada, mas to somente seu sobrestamento at o fim da
recuperao judicial." (TRT da 23. Regio; Processo: 0000799-
73.2014.5.23.0006 AP; Data: 21/03/2016; rgo Julgador: 1 Turma
-PJe; Relator: JULIANO PEDRO GIRARDELLO)
Nestes termos, dou provimento ao recurso para afastar a
declarao de extino da execuo e determinar a suspenso do
processo at o fim da recuperao judicial, arquivando-se
provisoriamente os autos, em cumprimento diretriz firmada no
artigo 82 da Consolidao dos Provimentos da Corregedoria-Geral
da Justia do Trabalho.
Item de recurso
CONCLUSO
Ante o exposto, conheo do agravo de petio interposto pelo
Exequente e, no mrito, dou-lhe provimento para afastar a
declarao de extino da execuo e determinar a suspenso do
processo at o fim da recuperao judicial, arquivando-se os
presentes autos, em cumprimento diretriz firmada no artigo 82 da
Consolidao dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justia do
Trabalho.
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 18Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
ACRDO
Cabealho do acrdo
Acrdo
ISSO POSTO:
A Egrgia Primeira Turma de Julgamento do Tribunal Regional do
Trabalho da 23 Regio na 32 Sesso Ordinria, realizada nesta
data, DECIDIU, por unanimidade, conhecer do agravo de petio
interposto pelo Exequente e, no mrito, dar-lhe provimento para
afastar a declarao de extino da execuo e determinar a
suspenso do processo at o fim da recuperao judicial,
arquivando-se os presentes autos, em cumprimento diretriz
firmada no artigo 82 da Consolidao dos Provimentos da
Corregedoria-Geral da Justia do Trabalho, nos termos do voto do
Desembargador Relator, seguido pelos Desembargadores Roberto
Benatar e Tarcsio Valente.
Obs.: Ausente, em gozo de licena para tratamento da prpria
sade, o Exmo. Desembargador Bruno Weiler. O Exmo.
Desembargador Tarcsio Valente presidiu a sesso.
Sala de Sesses, tera-feira, 6 de novembro de 2018.
(Firmado por assinatura digital, conforme Lei n. 11.419/2006)
Assinatura
Desembargador EDSON BUENO
Relator
DECLARAES DE VOTO
Acrdo DEJTProcesso N AP-0002327-18.2013.5.23.0091
Relator EDSON BUENO DE SOUZA
AGRAVANTE MARIA APARECIDA DA SILVA
ADVOGADO JEAN MARTINS PEREIRA(OAB: 8277-A/MT)
AGRAVADO JBS S/A
ADVOGADO ANA LUCIA DE FREITASALVAREZ(OAB: 8311-O/MT)
ADVOGADO ELISIO VITOR FIGUEIREDOJUNIOR(OAB: 110584/MG)
Intimado(s)/Citado(s):
- JBS S/A
- MARIA APARECIDA DA SILVA
PODER JUDICIRIO
JUSTIA DO TRABALHO
Identificao
PROCESSO n 0002327-18.2013.5.23.0091 (AP)
AGRAVANTE: MARIA APARECIDA DA SILVA
AGRAVADO: JBS S/A
RELATOR: DESEMBARGADOR EDSON BUENO
EMENTA
AGRAVO DE PETIO. PENSO MENSAL. REAJUSTE
PERIDICO. CRITRIO DE ATUALIZAO MONETRIA.
EFEITOS DA COISA JULGADA. sabido que a coisa julgada
constitui garantia constitucional (CF, art. 5, XXXVI), sendo
vedado aos juzes e tribunais conhecerem de questes j
decididas, de cujo respeito j operou a precluso. Ocorre que,
in casu, a aplicao de ndice de atualizao monetria da
penso mensal deferida no fora expressamente resolvida na
prpria deciso que transitou em julgado, razo pela qual tal
pretenso pode ser agora discutida, sem que se desrespeite a
autoridade da coisa julgada material. Dessa feita, demonstrado
nos autos que no houve no ttulo a estipulao do critrio de
reajuste peridico do pensionamento mensal, h de se dar
provimento em parte ao agravo de petio da Exequente para,
mantendo a base de clculo da penso mensal, determinar a
sua atualizao de acordo com os reajustes previstos nos
instrumentos normativos da categoria.
RELATRIO
A exequente (Maria Aparecidada Silva) insurgiu-se, mediante
agravo de petio, contra a deciso exarada na fase de execuo
pela juza do trabalho Claudirene Andrade Ribeiro, titular da Vara
do Trabalho de Mirassol dOeste, visando fixao de critrio de
atualizao (reajuste) dos valores do pensionamento vitalcio, bem
assim a condenao da executada (JBS S.A.) no pagamento de
multa por ato atentatrio dignidade da justia.
Contraminuta pela parte Executada. (Id. 4ade3d6)
Despicienda a remessa ao MPT.
o sinttico relatrio.
FUNDAMENTAO
ADMISSIBILIDADE
Esto presentes, no caso concreto, todos os pressupostos
processuais intrnsecos e extrnsecos de admissibilidade recursal,
por isso, conheo do agravo de petio interposto.
Preliminar de admissibilidade
Concluso da admissibilidade
MRITO
Recurso da parte
REAJUSTE DO PENSIONAMENTO VITALCIO
Trata-se de agravo de petio com que a Exequente objetivou a
fixao de critrio de atualizao monetria do pensionamento
mensal vitalcio.
Em breve retomada do processo, destaco que a Executada foi
condenada em primeiro grau no pagamento de indenizao por
dano material na forma de penso vitalcia, em parcela nica,
Cdigo para aferir autenticidade deste caderno: 126423
2600/2018 Tribunal Regional do Trabalho da 23 Regio 19Data da Disponibilizao: Tera-feira, 13 de Novembro de 2018
estabelecendo o valor mensal de R$ 361,77 (correspondente a 46%
da ltima remunerao da Exequente), at a data em que a autora
completaria 79,8 anos.
A sentena foi modificada pelo Acrdo de Id. 52f2075 em que foi
dado provimento parcial ao apelo patronal para determinar o
pagamento da indenizao por