28
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA EMENTA: PLEITEIA A CONDENAÇÃO DE NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRA SARDINHA PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE RESULTARAM NO DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO MUNICIPAL E NA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL,por meio dos Promotores de Justiça signatários, com suporte no art.129, XI, da Constituição Federal; art.25, inciso IV, alínea “a”, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts.9º,10,11,17 e seguintes da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) vem, perante V. Exª, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C PEDIDO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS Em face de PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GO Fone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br Gabinete do Promotor 1 PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CAMPOS BELOS/GO

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA COMARCA DE ...ª_Ação... · reprovável esquema de desvio de função. 05. Como cediço, os cargos de provimento em comissão ... CARNEIRO

Embed Size (px)

Citation preview

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DACOMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

EMENTA: PLEITEIA A CONDENAÇÃO DE NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRASARDINHA PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUERESULTARAM NO DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO MUNICIPAL E NA VIOLAÇÃODE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.

O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL,por meio

dos Promotores de Justiça signatários, com suporte no art.129,

XI, da Constituição Federal; art.25, inciso IV, alínea “a”, da

Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público);

arts.9º,10,11,17 e seguintes da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade

Administrativa) vem, perante V. Exª, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C PEDIDO DE

LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS

Em face de

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor1

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRA SARDINHA, VULGO

“SARDINHA”, brasileiro, casado, contador, ex-Prefeito

municipal de Campos Belos/GO, nascido em 29/08/1960,

filho de Maria Bela de Oliveira Xavier, CIRG 519413,

SSP/GO, CPF:191.177.441-72, residente na Rua do

Comércio, nº81, Centro, Campos Belos/GO;

I. DO OBJETO DA AÇÃO

01. A presente Ação visa alcançar provimento

jurisdicional em defesa do patrimônio público e da moralidade

administrativa, a fim de obter a condenação do requerido nas

penas previstas no artigo 12, incisos II e III da Lei de

Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), em razão da

prática de atos de improbidade administrativa que resultaram em

dano ao patrimônio público municipal e violação expressa a

princípios constitucionais(Arts. 10 e 11 da Lei nº 8.429/92).

II. DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

02. Tramita pelo Ministério Público do Estado de Goiás

o Inquérito Civil Público nº35/2015-PJCB (Autos ATENA

nº201500486584), que serve de substrato à presente, com o escopo

de apurar notícias que aportaram nesta Promotoria de Justiça

dando conta de contratações/nomeações ilegais, fraudulentas e

imorais de pessoas para ocuparem cargo/função levadas a efeito

pelo requerido, o qual, na condição de Prefeito de Campos

Belos/GO(Administração 2009/2012), criou e proveu 109(cento e

nove)cargos/funções comissionados no Poder Executivo municipal.

03. Extrai-se dos autos do ICP que serve de subsídio à

presente que o requerido, tão logo eleito Prefeito de Campos

Belos/GO na eleição de 2009, criou, por meio da Lei

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor2

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

nº1.037/2010(em anexo às fls.04/27), 109 cargos/funções, muitos

deles de atribuições meramente técnicas, e que portanto não

possuem o caráter de assessoramento, chefia ou direção exigidos

para tais cargos, nos termos do art. 37,V, da CRF/88, a exemplo

dos cargos de CHEFE DA DIVISÃO DE MÚSICA, CHEFE DE SEÇÃO DE

ESQUADRIAS, CHEFE DE DIVISÃO DE PRÉ-MOLDADOS, CHEFE DA CASA DE

APOIO, CHEFE DA DIVISÃO DE ARQUIVO, CHEFE DE MERENDA ESCOLAR,

CHEFE DE DIVISÃO DE PARQUES E JARDINS e muitos outros mais.

04. Depreende-se dos elementos de prova jungidos aos

autos do ICP que o requerido valeu-se de reprovável expediente

de criação imoral e inconstitucional de mais de uma centena de

cargos/funções e destinou parte dos servidores para exercerem

funções diversas daquelas para as quais foram nomeados, em um

reprovável esquema de desvio de função.

05. Como cediço, os cargos de provimento em comissão

não podem significar válvulas de escape aos princípios da

obrigatoriedade do concurso público e da estabilidade. Neste

particular, o ensinamento de Mário Sérgio Schirmer:

“leis que estabelecem como de provimento em comissão,

cargos sem qualquer função de chefia e direção, são

absolutamente inconstitucionais, por ferirem a intenção

do constituinte, violando preceitos e princípios

constitucionais da obrigatoriedade do concurso público

e da estabilidade do funcionário.”

06. Mesmo antes da reforma administrativa (EC n° 19/98)

já ensinava Lúcia Valle Figueiredo que:

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor3

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

“é necessário enfatizar, todavia, que não é possível a lei

erigir cargos em comissão que não tenham compatibilidade com

a função desempenhada. É dizer: o texto constitucional ao

falar em cargo em comissão ‘declarado em lei de livre

provimento e livre exoneração’ está a pressupor a existência

da necessidade administrativa de tal cargo... Se, ao

contrário, tivermos profusão de cargos em comissão que sejam

ocupados, não pelos méritos daqueles que vão exercê-los,

mas, sim, pelas ligações que possam ter os detentores do

poder (em qualquer Administração, seja no Executivo,

Legislativo ou Judiciário), será lastimável. Aliás, existirá

o que normalmente vem sendo visto. É preciso cuidado muito

grande para saber-se o real limite da possibilidade

constitucional de criar cargos em comissão.”(FIGUEIREDO,

Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo, 2ª Edição,

Editora Malheiros, p.381-383)

07. Nesta mesma toada segue o entendimento do Supremo

Tribunal Federal- STF, in verbis:

“Lei estadual que cria cargos em comissão. Violação ao art.

37, incisos II e V, da Constituição. Os cargos em comissão

criados pela Lei n. 1.939/1998, do Estado de Mato Grosso do

Sul, possuem atribuições meramente técnicas e que, portanto,

não possuem o caráter de assessoramento, chefia ou direção

exigido para tais cargos, nos termos do art. 37, V, da

Constituição Federal. Ação julgada procedente." (ADI 3.706,

Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 15-0-07, DJ de 5-10-

07)”

08. O egrégio TJGO, em julgamento recente(03/02/2014)

que teve como Relatora a ilustre Desembargadora MARIA DAS GRAÇAS

CARNEIRO REQUI, confirmou sentença condenatória do Prefeito de

Cachoeira Alta/GO, proferida em Ação de Improbidade

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor4

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

Administrativa referente à criação de 83(oitenta e três) cargos

em comissão, in verbis

AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCEDIMENTO PREVISTO NA LEI

8.429/1992. NOTIFICAÇÃO PARA DEFESA PRELIMINAR. SUPRESSÃO DA

FASE DE RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL E AUSÊNCIA DE CITAÇÃO

DO RÉU. COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO. CONTESTAÇÃO. AUSÊNCIA DE

PREJUÍZO. LEI MUNICIPAL QUE CRIOU 83 CARGOS DE PROVIMENTO EM

COMISSÃO. AFRONTA À REGRA DO CONCURSO PÚBLICO E AOS

PRINCÍPIOS DA MORALIDADE, LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE E DO

INTERESSE PÚBLICO. REVISÃO DA PENALIDADE IMPOSTA. INOVAÇÃO

RECURSAL. INADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE FATO NOVO. 1.

Notificado o réu para apresentar defesa preliminar à ação

civil pública por improbidade, este apresentou contestação,

assim, no caso, apesar de inexistir o recebimento da petição

da ACP e a realização da citação, houve o comparecimento

espontâneo do requerido aos autos para contestar a demanda e

participar de todos os atos processuais, ato incompatível

com a alegação de prejuízo e cerceamento de defesa. 2. A

Constituição Federal é contundente em relação à imposição da

efetividade do princípio do concurso público como regra

geral à contratação de pessoas na Administração Pública, uma

vez que a admissão sem exame somente é admitida em caráter

temporário e excepcional. 3. A exigência constitucional do

concurso público não pode ser contornada pela criação

arbitrária de cargos em comissão para o exercício de funções

que não pressuponham o vínculo de confiança que explica o

regime de livre nomeação e exoneração que os caracteriza. 4.

Demonstrado nos autos a violação aos princípios da

moralidade, legalidade, impessoalidade e do interesse

público, ante a criação de excessivo número de cargos

comissionados alheios às funções de direção, chefia e

assessoramento, bem como desvio de funções, impõe-se a

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor5

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

condenação do recorrente nas penalidades impostas pela Lei

8.429/92, independentemente de o aludido ato, à época, estar

amparado por Lei Municipal, a qual posteriormente foi

declarada inconstitucional por este Tribunal de Justiça. 5.

Não se mostra possível a inovação de teses em sede de agravo

regimental, cujo momento oportuno é a interposição do

recurso anterior interposto pela parte, por força da

preclusão, motivo pelo qual não é possível a revisão da

penalidade imposta ao recorrente pelos atos de improbidade.

6. Se a parte agravante não traz argumento suficiente para

acarretar a modificação da linha de raciocínio adotada na

decisão monocrática, impõe-se o desprovimento do agravo

regimental, porquanto interposto sem elementos novos capazes

de desconstituir o decisum recorrido. AGRAVO REGIMENTAL

CONHECIDO, MAS IMPROVIDO.

(TJGO, APELACAO CIVEL 231956-33.2001.8.09.0020, Rel. DES.

MARIA DAS GRACAS CARNEIRO REQUI, 1A CAMARA CIVEL, julgado em

21/01/2014, DJe 1477 de 03/02/2014)

09. A propósito da decisão acima colacionada, oriunda

do TJGO, impende destacar que não apenas a criação abusiva e

fraudulenta dos cargos comissionados foi o fundamento da

condenação, mas igualmente os desvios de função dos servidores

comissionados revelados na ação. Exatamente idêntica à situação

destes autos, conforme adiante detalhado em tópicos.

10. Os diversos desvios de função realizados pelo

requerido revelam sobejamente a desnecessidade do provimento dos

cargos de fachada fraudulentamente criados por meio da

indigitada lei municipal supra referida. A criação de cargos

desnecessários e seu provimento, a propósito, geraram vultoso

dano ao combalido erário municipal. Nossos tribunais têm

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor6

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

repelido há muito tais desvios, consoante se pode verificar em

recentíssimos acórdãos abaixo colacionados dos egrégios TJMG,

TJSP e TJRS:

EMENTA: ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - AGENTE

COMUNITÁRIO DE SAÚDE - DESVIO DE FUNÇÃO - MUNICÍPIO

CLASSIFICADO COMO DE "ALTA TRANSMISSÃO" DA DENGUE - EPIDEMIA

- OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA -

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADA - - CONDUTA

TIPIFICADA NO ARTIGO 11, CAPUT E INCISO I, DA LEI Nº

8.429/92 - SANÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 12, DA LEI Nº 8.429/92

- DOSIMETRIA DA PENA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

Demonstrado nos autos o desvio de função do servidor

público, ou seja, configurado o desempenho de atribuições

diversas daquelas previstas para o cargo do qual é titular,

há afronta aos princípios da legalidade, da moralidade e da

impessoalidade, situação que importa na prática de ato de

improbidade administrativa previsto no artigo 11, 'caput' e

inciso I, da Lei nº 8.429/92. Ao cominar a sanção por

prática de ato de improbidade administrativa, deve o

Julgador analisar a lesividade e a reprovabilidade da

conduta dos réus, o elemento volitivo e a consecução do

interesse público, de modo a adequar a pena ao caso

concreto, sempre com caráter inibitório de futuras práticas

lesivas ao erário e ao princípio da moralidade

administrativa.

(TJMG- Apelação Cível 1.0554.11.000780-0/001, Relator(a):

Des.(a) Edilson Fernandes , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em

20/10/2015, publicação da súmula em 05/11/2015)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA –

Município de Itapira – Nomeação para o cargo comissionado

de "Chefe da Seção de Turismo" com a imediata cessão da

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor7

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

servidora para Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos

Servidores Municipais, e custeio dos vencimentos pela

Municipalidade – Ato praticado pelo Prefeito com evidente

desvio de finalidade, em desrespeito ao elemento

"confiança", previsto na Constituição Federal, na medida em

que o exercício do cargo comissionado se deu em funções

diversas daquelas para as quais houve a nomeação, alheio à

atribuição de chefia, direção e assessoramento originalmente

estatuída – Ilegalidade caracterizada e qualificada pelo

elemento subjetivo dolo – Existência de lei municipal que

não pode ser tomada como argumento para a prática de atos

contrários aos princípios da legalidade, moralidade, da

impessoalidade e do concurso público - Reconhecimento da

conduta prevista no art. 11, I, da Lei nº 8.429/92 em

relação ao então Prefeito– Ausência de interesse público –

Cessão, ademais, operada em favor de instituição privada e

que atua unicamente no interesse econômico-financeiro de

seus associados – Lesão ao erário evidenciada – Dano real,

correspondente aos vencimentos despendidos pela

Municipalidade no período, a ser apurado em liquidação de

sentença – Sentença reformada em parte.

Recurso do réu desprovido. Recurso do autor provido em

parte.

(Relator(a): Oscild de Lima Júnior; Comarca: Itapira; Órgão

julgador: 11ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento:

24/11/2015; Data de registro: 03/12/2015)

Ementa: APELAÇÕES. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. MUNICÍPIO DE JÓIA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. ART. 11 DA LEI Nº. 8.429/92. AGIR ÍMPROBO

DOS RÉUS. COMPROVAÇÃO. NOMEAÇÃO DE CARGOS EM COMISSÃO.

DESVIO DE FUNÇÃO. EXERCÍCIO ILEGAL. PRÁTICA EXCLUSIVA DE

ATIVIDADES PRÓPRIAS DE SERVIDORES CONCURSADOS. DOLO.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor8

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

RETRIBUIÇÃO DE FAVORES POLÍTICOS. A improbidade

administrativa não se confunde com mera ilegalidade,

mormente ante o caráter repressivo das sanções aplicadas

pela Lei nº 8.429/92. A configuração do ato ímprobo depende

da prova do elemento subjetivo da conduta do agente público,

não se admitindo a sua responsabilização objetiva. Caso em

que servidores foram nomeados para cargos em comissão para o

exercício de funções de direção, chefia ou assessoramento,

sendo que, na prática, desempenharam atribuições de típicas

de servidores concursados. Configurada a indevida utilização

da estrutura estatal de modo absolutamente desvirtuado dos

princípios constitucionais que orientam a Administração

Pública, objetivando os réus, mediante atos conscientemente

planejados e executados, a retribuição de favores políticos

a pessoas que apoiaram o Prefeito na sua eleição. Comprovado

que os réus praticaram a conduta prevista no artigo 11, I,

da LIA, bem como o dolo genérico de violar os princípios que

regem a Administração Pública, o juízo de procedência da

demanda se impunha, devendo ser mantido. RECURSOS AOS QUAIS

SE NEGA SEGUIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação Cível Nº

70063716914, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de

Justiça do RS, Relator: Denise Oliveira Cezar, Julgado em

27/08/2015)

a)- DA FRAUDE NA NOMEAÇÃO/CONTRATAÇÃO ÍMPROBA E ILEGAL

DE MARLÚCIA TORRES DE PAULA

11. O ICP nº35/2015-PJCB (Autos ATENA nº201500486584),

cópia em anexo, revelou a fraude e a imoralidade na

nomeação/contratação da servidora MARLÚCIA TORRES DE PAULA.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor9

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

12. O requerido NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRA SARDINHA

nomeou MARLÚCIA TORRES para o cargo de CHEFE DA DIVISÃO DE

PATRIMÔNIO, em 27/06/2009, conforme se observa da Portaria

nº389/2009(fl.30).

13. Ocorre que MARLÚCIA TORRES não ocupou por um dia

sequer o cargo para o qual foi nomeada, tendo, em realidade,

exercido as funções de cuidadora de menores na Casa de Apoio

Maria Bela Xavier, conforme a própria servidora revelou ao

Ministério Público quando de seu depoimento na Promotoria de

Justiça em 15/01/2016.Pela contundência e didática das

declarações, segue excerto das mesmas, in verbis:

“Fui nomeada pelo Prefeito Sardinha para exercer a

função de Chefe de Divisão de Patrimônio. Eu trabalhava

na Casa de Apoio Maria Bela Xavier recebendo os menores

abandonados/situação de risco, realizando abrigamento e

confeccionando relatórios;”(Termo de Declarações de

MARLÚCIA TORRES DE PAULA à fl.28).

14. A ficha financeira da servidora junto ao

Município(fls.31/33)corrobora os fatos e esclarecem acerca dos

gastos do Poder público com o pagamento dos salários da

servidora desviada de função.

15. O cargo de chefia que consta dos documentos

constituem fraude grosseira levada a efeito pelo requerido, cujo

objetivo com sua criação e provimento foi tão somente ludibriar

a corte de contas com informações inverídicas e utilizar o Poder

Executivo como “cabide de emprego”.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor10

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

b)- DA FRAUDE NA NOMEAÇÃO/CONTRATAÇÃO ÍMPROBA E ILEGAL

DE JUNIO DE CASTRO FERREIRA DA SILVA

16. O ICP supra referido revelou ainda a fraude e a

imoralidade na nomeação/contratação do servidor JUNIO DE CASTRO

FERREIRA DA SILVA.

17. O requerido NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRA SARDINHA

nomeou JUNIO DE CASTRO para o cargo de CHEFE DA DIVISÃO DE

MANUTENÇÃO em 03/11/2010, conforme se observa da Portaria

nº755/2010(fl.35).

18. Ocorre que JUNIO não ocupou por um dia sequer o

cargo para o qual foi nomeado, tendo, em realidade, exercido as

funções de lavador de carros e máquinas, conforme o próprio

servidor revelou ao Ministério Público quando de seu depoimento

na Promotoria de Justiça em 13/01/2016.Pela contundência e

didática das declarações, segue excerto das mesmas, in verbis:

“O depoente foi designado para trabalhar como lavador

de carros e caminhões na garagem da prefeitura de

Campos Belos; QUE seu trabalho consistia em lavar e

lubrificar carros de secretarias, caminhões, máquinas

pesadas;(Termo de Declarações de JUNIO DE CASTRO

FERREIRA DA SILVA à fl.34)

19. A ficha financeira do servidor junto ao

Município(fls.37/40) corrobora os fatos e esclarecem acerca dos

gastos do Poder público com o pagamento dos salários do servidor

desviado de função.

c)- DO DOLO

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor11

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

20. A desonestidade, fraude, deslealdade, corrupção,

logro, revelados pelo requerido dão a tônica de toda a

dolosidade das condutas flagradas pelo MPGO nos autos dos ICPs.

Sabedor de que o TCM/GO fiscaliza, reprime e pune com severidade

contratações imorais e desvios de função, o requerido buscou,

imbuído de extrema má-fé, ludibriar a corte de contas e demais

órgãos de fiscalização maquiando contratações por meio da

criação e provimento de cargos comissionados de fachada, assim

como através da criação abusiva e imoral de mais de uma centena

de cargos/funções comissionados, violando a Constituição

Federal.

d)- DO DANO AO ERÁRIO

21. O Município de Campos Belos, frise-se, prescindia

dos cargos de CHEFE DA DIVISÃO DE MÚSICA, CHEFE DE SEÇÃO DE

ESQUADRIAS, CHEFE DE DIVISÃO DE PRÉ-MOLDADOS, CHEFE DA CASA DE

APOIO, CHEFE DA DIVISÃO DE ARQUIVO, CHEFE DE MERENDA ESCOLAR,

CHEFE DE DIVISÃO DE PARQUES E JARDINS, e outros tantos deste

jaez, os quais, a toda evidência, foram criados oportunística e

fraudulentamente para tão somente empregar apaniguados políticos

do requerido. Foram gastos recursos dos cofres públicos

desnecessariamente. Recursos que poderiam, e deveriam, ter sido

empregados em finalidades públicas realmente imprescindíveis à

população.

22. Em que pese a prestação do serviço por parte dos

servidores improbamente nomeados ter se verificado, o que afasta

a tese do enriquecimento ilícito dos nomeados(de boa-fé), por

outro lado é estreme de dúvidas o dano ao erário ocasionado pelo

comportamento ilegal e imoral do requerido(má-fé).

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor12

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

23. Consoante apontado por HUGO NIGRO MAZZILLI:Ӄ

preciso deixar claro que está em questão um princípio: pode o

administrador contratar impunemente, sem concurso, fazer tabula

rasa da lei, e ficar tudo por isso mesmo? Pode cometer tais

ilegalidades gritantes e mandar a conta para os cofres públicos?

Se o administrador puder fazê-lo, poderá contratar impunemente

seus apaniguados para ardorosamente labutarem em sinecuras ou

fazerem obras que terceiros poderiam fazer melhor e mais barato

para o erário.”

24. Em matéria de dinheiros públicos,”quem gastar, tem

que gastar de acordo com a lei”- é o que corretamente anotou

Batista Ramos(Considerações sobre: parecer prévio, princípio da

legalidade, competência para julgamento, em Revista do Tribunal

de Contas da União 5(8):págs.41-54).

25. Assim, aduzem Sérgio Ferraz e Lúcia Valle

Figueiredo: "quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo

por sua conta, risco e perigos. Pois, impugnada a despesa, a

quantia gasta irregularmente terá de retornar ao Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes realizada, de

enriquecimento ilícito da Administração. Ter-se-ia esta,

consoante essa linha de argumentação, beneficiado com a obra,

serviço e fornecimento, e, ainda mais, com o recolhimento do

responsável ou responsáveis pela despesa considerada ilegal"

(Dispensa e Inexigibilidade de licitação, 3ª ed., Malheiros, p.

93). Invocando Gabriel Bayle, aduzem os referidos autores que a

figura do enriquecimento ilícito sequer se acomoda pacificamente

ao dinheiro público, e deve ser admitida precipuamente para

salvaguarda dos interesses de terceiros de boa-fé (op. cit., p.

94).

26. Neste diapasão os acórdãos abaixo colacionados pela

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor13

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

didática da lição:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92 - CONTRATAÇÃO DESERVIDORES SEM CONCURSO PÚBLICO, BASEADA EM CRITÉRIOPOLÍTICO ILEGALIDADE COMPROVADO DOLO NA CONDUTA DOSENVOLVIDOS E EXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO NECESSIDADE DERESSARCIMENTO. CONDENAÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS APLICAÇÃODE JUROS DE MORA ADAPTAÇÃO DO PERCENTUAL A PARTIR DOADVENTO DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. O caráter sancionador daLei 8.429/92, é aplicável aos agentes públicos que, por açãoou omissão, violem os deveres de honestidade,imparcialidade, legalidade, lealdade, e especialmente, quecausem enriquecimento ilícito, causem prejuízo ao eráriopúblico e atentem contra os princípios da AdministraçãoPública, inclusive a lesão à moralidade administrativa,sendo regular seu ajuizamento através de Ação Civil Pública.2. No caso, as condutas dos réus vilipendiam os ditameslegais e os princípios da Administração Pública, eis que acontratação de número exacerbado de funcionários, sob afrágil alegação de necessidade de urgência na prestação doserviço público, não se sustenta em face de todo o lastroprobatório angariado. O que ocorreu, na realidade, foi umesquema político ilícito de contratações desnecessárias, demaneira claramente dolosa, em desacordo com os ditameslegais, apenas para fins de benefício irregular departiculares. 3. Via de conseqüência, eivada de vícios acontratação, também viciadas as despesas delas decorrentes,havendo necessidade de adequação de seus efeitos,especialmente com a devida determinação de ressarcimento dosdanos perpetrados ao erário. 4. A decisão é pela manutençãoda r. sentença recorrida, exceto no que atine ao computo dosjuros de mora, que devem ser adaptados, para que incidampela taxa do art. 1.062 do Código de 1916 até 10.1.2003(0,5% ao mês) e, após essa data, com a entrada do CódigoCivil de 2002, pelo art. 406 do atual diploma civil (1% aomês);(TJPR - 4ª C.Cível - AC - 657890-9 - Londrina - Rel.: LuísCarlos Xavier - Unânime - - J. 14.09.2010)

APELAÇÃO CÍVEL Nº 351.489-6 DA 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DEMARINGÁ APELANTE 1: RICARDO JOSÉ MAGALHÃES BARROS APELANTE2: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ APELADO 1:MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ APELADO 2: SAIDFELÍCIO FERREIRA RELATOR: DES. ANNY MARY KUSS AÇÃO CIVILPÚBLICA - AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO - OFENSA AO DISPOSTONO ART. 523 DO CPC - SENTENÇA EXTRA E CITRA PETITA -

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor14

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

INOCORRÊNCIA - SUPRESSÃO DA MULTA IMPOSTA POR LITIGÂNCIA DEMÁ-FÉ - TEMPESTIVIDADE DO RECURSO ADESIVO - CONTRATAÇÃO DESERVIDORES MUNICIPAIS SEM A REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO -NULIDADE DAS CONTRATAÇÕES - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVACONFIGURADA - VIOLAÇÃO DO ART. 37, II DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL E ART. 11 DA LEI 8.429/92 - RECURSO DE APELAÇÃOCONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO - RECURSO ADESIVO CONHECIDOE PROVIDO. O fundamento jurídico da decisão singular,diverso daquele deduzido na inicial, não importa na nulidadedo ato jurisdicional, haja vista que, a qualificaçãojurídica dada aos fatos, narrados pelo autor, não éessencial para o sucesso da ação, tanto que o juiz podeconferir-lhes qualificação jurídica diversa sem que, talimplique em decisão extra-petita, prestigiados os princípiosdo jura novit curia e da mihi factum, dabo tibi jus. Odispositivo da sentença, efetivamente foi omisso com relaçãoao segundo requerido, sendo correta a postura do apelante,em ver sanada a omissão por meio dos embargos de declaraçãopropostos, não podendo ser tida sua pretensão como meramenteprotelatória da ação. Nos termos do art. 500, inciso I doCPC, o recurso adesivo deve ser interposto no prazo de que aparte dispõe para responder ao recurso de apelação. O art.37, II da Constituição Federal exige, para a investidura decargo ou emprego público a aprovação prévia em concursopúblico, e, sendo preceito obrigatório, é irrelevante que osserviços foram efetivamente prestados para o Município.Diante da nulidade das contratações, resta configurada aimprobidade administrativa e o dever de restituir aos cofrespúblicos os valores gastos com as remunerações dosservidores contratados sem a realização de prévio concursopúblico.(TJPR - 4ª C.Cível - AC - 351489-6 - Maringá - Rel.: AnnyMary Kuss - Unânime - - J. 27.02.2007)

27. No caso dos autos apenas as nomeações/contratações

desveladas com relação a cinco dos servidores ocasionaram um

dano ao patrimônio público da ordem de R$48.000,00(salários

pagos indevidamente).

III. DO DIREITO

a)- DAS TIPIFICAÇÕES

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor15

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

28. A Lei nº 8.429/92 conhece três tipos de atos

ímprobos na administração, a saber:

a) atos que importam em enriquecimento ilícito (artigo 9º); b) atos que causam prejuízo ao erário (artigo 10); e c) atos que atentam contra os princípios da administração pública (artigo 11).

29. A primeira classe de atos de improbidade

administrativa compreende os seguintes (artigo 9º, caput, e

incisos I a XII, da Lei nº 8.429/92):

“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativaimportando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo devantagem patrimonial indevida em razão do exercício decargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidadesmencionadas no artigo 1º desta Lei, e notadamente.

30. A segunda classe de atos de improbidade, na

conformidade da disposição legal, é a dos que causam lesão ao

erário, compreendendo as seguintes práticas (artigo 10 da Lei nº

8.429/92):

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa quecausa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ouculposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres dasentidades referidas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:

31. O artigo 10 retrocitado envolve 13 (treze)

diferentes hipóteses de atos de improbidade que importam lesão

ao erário. Não é rol taxativo ou exaustivo, o que fica claro

pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar

a dúzia de incisos exemplificativos do enunciado.

32. Forçoso reconhecer que os atos do requerido

encontram adequação nas disposições do artigo 10, caput, da Lei

de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), posto que

causaram prejuízo ao erário municipal.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor16

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

33. Finalmente, a terceira classe dos atos de

improbidade administrativa contempla os atos que atentam contra

os princípios da administração pública, violando os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições, e notadamente os seguintes (artigo 11 da Lei nº

8.429/92):

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa queatenta contra os princípios da administração públicaqualquer ação ou omissão que viole os deveres dehonestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade àsinstituições, e notadamente:I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamentoou diverso daquele previsto na regra de competência;II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato deofício;III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência emrazão das atribuições e que deva permanecer em segredo;IV - negar publicidade aos atos oficiais;V - frustrar a licitude de concurso público;VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento deterceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor demedida política ou econômica capaz de afetar o preço demercadoria, bem ou serviço.”

34. O artigo 11 retrocitado envolve 07 (sete)

diferentes hipóteses de atos de improbidade que atentam contra

os princípios da administração pública, violando os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições. Da mesma forma que o artigo 9º e o artigo 10, o

rol não é taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela

utilização, no caput, do advérbio notadamente.

35. Pois bem, com base nos eventos narrados, tem-se que

o requerido realizou comportamentos ilícitos, atentando, assim,

contra os princípios da administração pública, violando os

deveres de honestidade, moralidade, legalidade, imparcialidade e

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor17

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

lealdade às instituições, ferindo, por conseguinte, as

disposições contidas no artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

36. A propósito, nossos tribunais possuem entendimento

pacificado quanto à caracterização de ato de improbidade

administrativa em casos como os narrados nesta ACP, in verbis:

EMENTA: ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - AGENTECOMUNITÁRIO DE SAÚDE - DESVIO DE FUNÇÃO - MUNICÍPIOCLASSIFICADO COMO DE "ALTA TRANSMISSÃO" DA DENGUE -EPIDEMIA - OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA -IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADA - - CONDUTATIPIFICADA NO ARTIGO 11, CAPUT E INCISO I, DA LEI Nº8.429/92 - SANÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 12, DA LEI Nº 8.429/92- DOSIMETRIA DA PENA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.Demonstrado nos autos o desvio de função do servidorpúblico, ou seja, configurado o desempenho de atribuiçõesdiversas daquelas previstas para o cargo do qual é titular,há afronta aos princípios da legalidade, da moralidade e daimpessoalidade, situação que importa na prática de ato deimprobidade administrativa previsto no artigo 11, 'caput' einciso I, da Lei nº 8.429/92. Ao cominar a sanção porprática de ato de improbidade administrativa, deve oJulgador analisar a lesividade e a reprovabilidade daconduta dos réus, o elemento volitivo e a consecução dointeresse público, de modo a adequar a pena ao casoconcreto, sempre com caráter inibitório de futuras práticaslesivas ao erário e ao princípio da moralidadeadministrativa. (TJMG-Apelação Cível 1.0554.11.000780-0/001, Relator(a): Des.(a) Edilson Fernandes , 6ª CÂMARACÍVEL, julgamento em 20/10/2015, publicação da súmula em05/11/2015)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRADITA DETESTEMUNHAS: PRECLUSÃO VERIFICADA. IMPROBIDADE AD-MINISTRATIVA. CARACTERIZAÇÃO. DESVIO DE FUNÇÃO. CARGOCOMISSIONADO. “SERVIDORES FANTASMAS”. PENALIDADES. RA-ZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. EFEITO EXPANSIVO DO APELO.1 - A contradita de testemunhas tem lugar somente naaudiência de instrução, após a qualificação e antes deiniciado o depoimento, sendo descabida a suscitação damatéria em sede de recurso de apelação, quando já operadosos efeitos da preclusão. 2 - A nomeação de parti cular paraocu pação de cargo em comissão, cu jas funções fac tualmenteexercidas não se ajus tam à normativa traçada no art. 37,inciso V, da Lei Magna (desvio de função), caracteriza ato

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor18

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

de improbidade admi nistrativa da autoridade no meante -Chefe do Poder Executivo (art. 10, in ciso XII, da Lei8.429/92), ainda mais se esta, diante da ausência daefetiva prestação dos serviços pelos nomeados, apresentouconduta conivente, concorrendo com o enriquecimento ilícitodaqueles “servidores fantasmas”, e corroborando, por conse-guinte, com a perda patrimonial a que foi submetido o entemunicipal. 3 - Observada a efetiva perda patrimonialsofrida pelo Poder Público, ao agente causador do dano deveser imposta a penalidade pertinente à devolução dosvalores indevidamente recebidos (art. 12, inciso II, da Lei8.429/92), em solidariedade com os respectivoscorresponsáveis. 4 - Apesar de se reconhecer apossibilidade de aplicação cumulativa das penas traçadaspara a penalização do agente público ímprobo, cumpre aoJulgador, ao cominar a sanção, valer-se do princípio daproporcionalidade, dosando a pena de modo condizente com agravidade e extensão do dano causado e do benefíciopatrimonial auferido pelo agente (art. 12, parágrafo único,da Lei 8.429/92), evitando-se a impunidade, deve o julgadoresquivar-se do excesso, ou seja, da hipertrofia da punição.Logo, dentro da margem de variação das condutas abstra-tamente previstas na Lei de Improbidade Administrativa,mostram-se desarrazoadas e desproporcionais as medidasrestritivas de direito impostas ao agente público parapenalizá-lo pela prática de conduta ímproba de médiagravidade. 5 - Em caso de litisconsórcio unitário, ainterposição de recurso por um dos litisconsortes aproveitaaos demais que não tenham recorrido (art. 509, do CPC).(TJGO, APELACAO CIVEL 443393-06.2008.8.09.0000, Rel. DES.ZACARIAS NEVES COELHO, 2A CAMARA CIVEL, julgado em23/11/2010, DJe 715 de 10/12/2010)

“APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO - ADMINISTRATIVO -AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE REPARAÇÃO DE DANOS POR ATO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DEPARTE - MINISTÉRIO PÚBLICO - PROTEÇÃO PATRIMÔNIO PÚBLICO -SÚMULA N.º 329 STJ - PRECLUSÃO - MATÉRIA CONHECIDA EDECIDIDA SEM QUE FOSSE IMPUGNADA ATRAVÉS DE AGRAVO DEINSTRUMENTO - NÃO CONHECIMENTO - PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃODA VIA ELEITA - PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO - CORRETAVEICULAÇÃO DA PRETENSÃO SANCIONATÓRIA CONSTANTE DA LEI DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ATRAVÉS DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA -ADMISSÃO DE FUNCIONÁRIA PARA CARGO EM COMISSÃO LOTADA EMFUNÇÃO DIVERSA DAQUELAS QUE ENVOLVEM ATRIBUIÇÕES DEDIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO (ART. 37, INC. V DACF/88) - DESVIO DE FUNÇÃO CONFIGURADO - NULIDADE DO ATO DENOMEAÇÃO - PRETENSA FLEXIBILIZAÇÃO DA NORMA QUE O REGIMEJURÍDICO ADMINISTRATIVO NÃO COMPORTA - VIOLAÇÃO DO

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor19

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - PENALIDADES APLICADAS QUE SEAFIGURAM PROPORCIONAIS E RAZOÁVEIS À REPROVABILIDADE DACONDUTA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNCIPAL - RECURSO DEAPELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDO E NESTA PARTE, DESPROVIDO -SENTENÇA CONFIRMADA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO.”(grifou-se - TJPR - 4ª C.Cível - ACR 0601334)

APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO - ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVILPÚBLICA DE REPARAÇÃO DE DANOS POR ATO DE IMPROBIDADEADMINISTRATIVA - PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE DE PARTE E DEINADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - PRECLUSÃO - MATÉRIAS CONHECIDAS EDECIDIDAS SEM QUE FOSSEM IMPUGNADAS ATRAVÉS DE AGRAVO DEINSTRUMENTO - FUNDAMENTAÇÃO QUE ATENDE AO DISPOSTO NO ART. 93,INC. IX DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - PRELIMINARES NÃO CONHECIDAS -ADMISSÃO DE FUNCIONÁRIO PARA CARGO EM COMISSÃO LOTADO EM FUNÇÃODIVERSA DAQUELAS QUE ENVOLVEM ATRIBUIÇÕES DE DIREÇÃO, CHEFIA OUASSESSORAMENTO (ART. 37, INC. V DA CF/88) - DESVIO DE FUNÇÃOCONFIGURADO - NULIDADE DO ATO DE NOMEAÇÃO - PRETENSAFLEXIBILIZAÇÃO DA NORMA QUE O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO NÃOCOMPORTA - VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE - PENALIDADESAPLICADAS QUE CORRESPONDEM A REPROVABILIDADE DA CONDUTA DO CHEFEDO PODER EXECUTIVO MUNCIPAL - RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTECONHECIDO E NESTA PARTE, DESPROVIDO - SENTENÇA CONFIRMADA EM SEDEDE REEXAME NECESSÁRIO. (grifou-se - TJPR - 4ª C.Cível - AC0597403-6 - Salto do Lontra - Rel.: Desª Lélia SamardãGiacomet - Unânime - J. 13.04.2010

b)- DAS SANÇÕES

37. Em relação aos atos de improbidade praticados pelo

requerido que causaram prejuízos ao erário, as sanções

aplicáveis são (artigo 10 c/c artigo 12, inciso II, ambos da Lei

nº 8.429/92):

a) ressarcimento integral do dano, se houver; b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente aopatrimônio, se concorrer esta circunstância; c) perda da função pública, suspensão dos direitos políticosde cinco a oito anos; d) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor dodano; e) proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefícios ou incentivos fiscais ou creditício, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor20

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

38. Finalmente, a prática dos atos de improbidade

levados a efeito pelo requerido que atentaram contra a

moralidade e demais princípios da administração, acarretam como

sanção (artigo 11 c/c artigo 12, inciso III, ambos da Lei nº

8.429/92):

a) ressarcimento integral do dano; b) perda da função pública, suspensão dos direitos políticosde três a cinco anos; c) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor daremuneração percebida pelo agente; d) proibição de contratar com o Poder Público ou receberbenefício ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ouindiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídicada qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

c)- DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS

39. A indisponibilidade de bens do agente processado

por improbidade administrativa, conforme ressaltado alhures, não

se trata tecnicamente de uma sanção, a despeito da redação

contida no art. 37, § 4º, da Constituição Federal de 1988, mas

sim de uma medida cautelar, que tem por desiderato assegurar a

execução de eventual sentença condenatória.

40. Na Lei 8.492/92, a indisponibilidade de bens está

disciplinada em seu art. 7º, cuja redação segue transcrita

abaixo:

“O art. 7º - Quando o ato de improbidade causar lesão aopatrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,caberá a autoridade administrativa responsável peloinquérito representar ao Ministério Público, para aindisponibilidade dos bens do indiciado.

Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere ocaput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor21

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimopatrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

41. Pacífica a jurisprudência nacional ao dispor sobre

a providência cautelar de indisponibilidade de bens em sede de

ação de improbidade administrativa, caracteriza o ato como tutela

de evidência, e não como tutela de urgência, considerando o

periculum in mora ínsito aos artigos 37§, 4º, da Constituição

Federal, e 7º, da Lei Federal nº8.429/92. ”Neste lineamento, a

mera presença de traços do ilícito revela-se suficiente ao

deferimento do bloqueio, não havendo cogitar a presença de perigo

de demora no julgamento do processo ou risco de dilapidação do

patrimônio do agente.”(TJGO, autos nº201594601470,Eminente Des.

BEATRIZ Figueiredo Franco).Veja-se leading case do STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL

REPETITIVO.

APLICAÇÃO DO PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 543-C DO CPC.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CAUTELAR DE

INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO PROMOVIDO. DECRETAÇÃO.

REQUISITOS. EXEGESE DO ART. 7º DA LEI N. 8.429/1992, QUANTO

AO PERICULUM IN MORA PRESUMIDO. MATÉRIA PACIFICADA PELA

COLENDA PRIMEIRA SEÇÃO.

1. Tratam os autos de ação civil pública promovida pelo

Ministério Público Federal contra o ora recorrido, em

virtude de imputação de atos de improbidade administrativa

(Lei n. 8.429/1992).

2. Em questão está a exegese do art. 7º da Lei n.

8.429/1992 e a possibilidade de o juízo decretar,

cautelarmente, a indisponibilidade de bens do demandado

quando presentes fortes indícios de responsabilidade pela

prática de ato ímprobo que cause dano ao Erário.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor22

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

3. A respeito do tema, a Colenda Primeira Seção deste

Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial

1.319.515/ES, de relatoria do em. Ministro Napoleão Nunes

Maia Filho, Relator para acórdão Ministro Mauro Campbell

Marques (DJe 21/9/2012), reafirmou o entendimento

consagrado em diversos precedentes (Recurso Especial

1.256.232/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,

julgado em 19/9/2013, DJe 26/9/2013; Recurso Especial

1.343.371/AM, Rel.

Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em

18/4/2013, DJe 10/5/2013; Agravo Regimental no Agravo no

Recurso Especial 197.901/DF, Rel. Ministro Teori Albino

Zavascki, Primeira Turma, julgado em 28/8/2012, DJe

6/9/2012; Agravo Regimental no Agravo no Recurso Especial

20.853/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira

Turma, julgado em 21/6/2012, DJe 29/6/2012; e Recurso

Especial 1.190.846/PI, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda

Turma, julgado em 16/12/2010, DJe 10/2/2011) de que, "(...)

no comando do art. 7º da Lei 8.429/1992, verifica-se que a

indisponibilidade dos bens é cabível quando o julgador

entender presentes fortes indícios de responsabilidade na

prática de ato de improbidade que cause dano ao Erário,

estando o periculum in mora implícito no referido

dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37, §

4º, da Constituição, segundo a qual 'os atos de improbidade

administrativa importarão a suspensão dos direitos

políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade

dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação

previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível'. O

periculum in mora, em verdade, milita em favor da

sociedade, representada pelo requerente da medida de

bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou

pelo entendimento segundo o qual, em casos de

indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor23

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao

comando normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92.

Assim, a Lei de Improbidade Administrativa, diante dos

velozes tráfegos, ocultamento ou dilapidação patrimoniais,

possibilitados por instrumentos tecnológicos de comunicação

de dados que tornaria irreversível o ressarcimento ao

erário e devolução do produto do enriquecimento ilícito por

prática de ato ímprobo, buscou dar efetividade à norma

afastando o requisito da demonstração do periculum in mora

(art. 823 do CPC), este, intrínseco a toda medida cautelar

sumária (art. 789 do CPC), admitindo que tal requisito seja

presumido à preambular garantia de recuperação do

patrimônio do público, da coletividade, bem assim do

acréscimo patrimonial ilegalmente auferido".

4. Note-se que a compreensão acima foi confirmada pela

referida Seção, por ocasião do julgamento do Agravo

Regimental nos Embargos de Divergência no Recurso Especial

1.315.092/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe

7/6/2013.

5. Portanto, a medida cautelar em exame, própria das ações

regidas pela Lei de Improbidade Administrativa, não está

condicionada à comprovação de que o réu esteja dilapidando

seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista

que o periculum in mora encontra-se implícito no comando

legal que rege, de forma peculiar, o sistema de

cautelaridade na ação de improbidade administrativa, sendo

possível ao juízo que preside a referida ação,

fundamentadamente, decretar a indisponibilidade de bens do

demandado, quando presentes fortes indícios da prática de

atos de improbidade administrativa.

6. Recursos especiais providos, a que restabelecida a

decisão de primeiro grau, que determinou a

indisponibilidade dos bens dos promovidos.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor24

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

7. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e do art.

8º da Resolução n. 8/2008/STJ.

(REsp 1366721/BA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,

Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 26/02/2014, DJe 19/09/2014)

42. Nesta mesma toada caminha o egrégio TJGO, in

verbis:

Agravo regimental em agravo de instrumento. Ação civilpública por ato de improbidade administrativa. Liminardeferida. Indisponibilidade de bens e bloqueio de verba.Decisão genérica. Ausência de fundamentação e dosrequisitos autorizadores da medida. Desprovimento do agravointerno. Ausência de fato novo. I. O deferimento liminar deindisponibilidade de bens no âmbito de ação civil públicapor ato de improbidade administrativa requer a demonstraçãodo fumus boni iuris, consistente em fundados indícios daprática de atos de improbidade, sendo desnecessária a provado periculum in mora concreto. No entanto, impõe-se aojulgador singular justificar e apresentar os fundamentos doseu entendimento, sob pena de antecipar a culpabilidade doagente e afrontar os preceitos do art. 93, inc. IX, daConstituição Federal, pois a decretação da indisponibilidadede bens não é medida de adoção automática. II. A expressão“indícios suficientes” utilizada no § 6º do artigo 17 da Leinº 8.429/92 quer dizer sinal, rastro, vestígio grave,preciso e contundente, que se acumula para a comprovaçãode determinado fato tido como verdadeiro, o que não restoucabalmente demonstrado na decisão recorrida. III. Ausentesos requisitos capazes de justificar o deferimento doprovimento antecipatório postulado, deve ser reformado oato judicial que o deferiu. IV. Apresenta-se imperativo odesprovimento do agravo regimental que não traz em suasrazões qualquer argumento novo que justifique a modificaçãoda decisão questionada. Agravo regimental conhecido edesprovido.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 184647-85.2015.8.09.0000, Rel.DR(A). MAURICIO PORFIRIO ROSA, 2A CAMARA CIVEL, julgado em04/08/2015, DJe 1853 de 21/08/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor25

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

BENS. PERICULUM IN MORA. IMPLÍCITO. I- O recurso de agravode instrumento é secundum eventum litis, de sorte que cumprea este Pretório somente sopesar o acerto ou desacerto dadecisão recorrida. II- A concessão de medida liminar em AçãoCivil Pública, tem seu fundamento no artigo 12, da Lei nº8.429/1992, e reclama, para a sua concessão, a presençaconcomitante do fumus boni iuris e periculum in mora, emjuízo, portanto, de cognição sumária. III- A medida liminarde indisponibilidade de bens por ato de improbidadeadministrativa encontra fundamento constitucional no artigo37, parágrafo 4º, bem como no artigo 7º, da legislaçãoordinária nº 8.429/92, cujo objetivo é garantir aefetividade do futuro provimento jurisdicional deressarcimento do dano, em face da supremacia do interessepúblico envolvido. Para a sua concessão, é dispensável ademonstração de dilapidação do patrimônio dos agentes para aconfiguração do periculum in mora, por se encontrarimplícito no artigo 7º, da Lei nº 8.429/92, bastando ademonstração do fumus boni iuris que consiste em indícios deatos ímprobos, o que restou evidenciado nos autos. RECURSOCONHECIDO E PROVIDO.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 107247-92.2015.8.09.0000, Rel.DES. AMELIA MARTINS DE ARAUJO, 1A CAMARA CIVEL, julgado em04/08/2015, DJe 1847 de 13/08/2015)

43. No presente caso estreme de dúvidas a presença dos

requisitos cautelares que autorizam a decretação da

indisponibilidade de bens do requerido, o que dese já se requer

de sorte a se assegurar não apenas o ressarcimento dos cofres

públicos, mas também o pagamento da multa civil e do dano moral

coletivo.

IV. DOS PEDIDOS

44. Em vista do exposto, requer o Parquet:

I- Liminarmente, a decretação, inaudita altera pars,

da indisponibilidade dos bens do requerido, tendo como parâmetro

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor26

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

o valor ser ressarcido aos cofres públicos (R$48.000,00) somado

à multa civil(R$50.000,00) e o dano moral coletivo(R$50.000,00);

Total de R$148.000,00.

II- a notificação do demandado NEUDIVALDO XAVIER DE

OLIVEIRA SARDINHA, VULGO “SARDINHA”, para, querendo, no prazo

legal, oferecer manifestação por escrito(art.17, § 6º, da Lei

8.429/92);

III- a citação do demandado NEUDIVALDO XAVIER DE

OLIVEIRA SARDINHA, VULGO “SARDINHA” para, querendo, no prazo

legal, apresentar defesa, sob pena de revelia e confissão quanto

à matéria de fato;

IV- a procedência do pedido, para o fim de condenar o

demandado NEUDIVALDO XAVIER DE OLIVEIRA SARDINHA, VULGO

“SARDINHA” nas sanções previstas no art.12, incisos II e III da

lei de Improbidade Administrativa(Lei 8.429/92), determinando-se

a perda da função pública, a suspensão de seus direitos

políticos por dez anos, a condenação ao pagamento de multa civil

de no mínimo cinquenta vezes o valor de sua remuneração, a

proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios majoritários,

pelo prazo de cinco anos.

V- a condenação do demandado ao pagamento de todas as

custas judiciais e sucumbenciais.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor27

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO

VI- a condenação do demandado ao pagamento de

individual de R$50.000,00(cinquenta mil reais), a título de dano

moral coletivo, em favor do Conselho de Segurança de Campos

Belos/GO.

VII- a condenação do demandado ao ressarcimento dos

cofres públicos dos valores ilicitamente desviados.

45. Protesta-se desde já a promoção de todos os meios

de prova em Direito permitidos, notadamente documental e

testemunhal.

46. Dá-se à causa o valor de R$148.000,00(cento e

quarenta e oito mil reais) em razão do caráter genérico/difuso

do proveito a ser por meio dela obtido.

Campos Belos/GO, 06 de abril de 2016

Paula Moraes de Matos

Promotora de Justiça

Douglas Chegury

Promotor de Justiça

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CAMPOS BELOS/GO

Rua 09, Quadra-18-A, Lote-01, Setor Tomazinho, Edifício do Fórum – Campos Belos/GOFone/Fax: (62) 3451-1820 / Site: www.mp.go.gov.br

Gabinete do Promotor28

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

DE CAMPOS BELOS/GO