Didática Da Matemática e Formação de Professores

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    DIDÁTICA DA MATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES:

    BUSCANDO UMA REFLEXÃO A PARTIR DE PRÁTICAS VIVENCIADAS NA

    LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO INFANTIL

     Ana Virginia de Almeida Luna1 Faculdades Jorge Amado

    [email protected]  

    Suzeli Mauro2 Faculdades Jorge Amado

    [email protected]  

    RESUMO

    Neste trabalho, apresentaremos a trajetória da pesquisa realizada sobre a disciplinade Didática da Matemática para a Licenciatura em Educação Infantil . A investigaçãooriginou-se das inquietações dos professores em formação quanto àsespecificidades do ensino de matemática na Educação Infantil, originadas erealimentadas na prática em sala de aula. Assim, exporemos os procedimentosadotados para a realização da mesma e os seus respectivos resultados,considerando, dentre outras coisas, a necessidade de abandonar  desde a EducaçãoInfantil, a perspectiva linear na organização curricular para o ensino da matemática,pois o processo de construção do conhecimento das crianças acontece a partir dasua interação com situações investigativas.

    Palavras-chave: Didática da Matemática; formação matemática deprofessores; saberes docentes. 

    A origem e a pesquisa: a vivência em sala de aula e a execução de um

    projeto

    1 Mestra em Educação Especial UEFS/CELAEE-Cuba e Especialista em Educação MatemáticaUCSAL/BA . Professora das Faculdades Jorge Amado – Salvador/BA.2

      Doutora em Educação Matemática pelo Programa de Pós-graduação em EducaçãoMatemática na UNESP de Rio Claro/SP. Professora das Faculdades Jorge Amado-Salvador/BA.

    mailto:[email protected]:%[email protected]:%[email protected]:[email protected]

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    LUNA, A., MAURO, S. Didática da Matemática e Formação de Professores: Buscando uma Reflexão a partir dePráticas Vivenciadas na Licenciatura em Educação Infantil. In Anais do SIPEMAT.  Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 11p 

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    No âmbito nacional, a formação básica em matemática nos cursos de

    licenciatura em Educação Infantil é considerada um sub-tema ainda pouco

    discutido na área de Educação, o que pode ser comprovado pelo número

    reduzido de livros publicados sobre o assunto, dentre os quais podemos

    destacar os de autoria de Kátia Smole e colaboradores, Celi Lopes, Ana

    Cristina Rangel, Ocsana Danyluk e Sérgio Lorenzato, que publicou

    recentemente uma obra.

    Buscando apresentar elementos que contribuam para preencher essa

    lacuna, discutiremos as questões que nortearam o trabalho com a disciplina

    Didática da Matemática (DMA), no curso Normal Superior, Licenciatura em

    Educação Infantil do Instituto Superior de Educação das Faculdades Jorge

     Amado (ISE-FJA), uma instituição particular de ensino, e sua contribuição para

    a formação dos professores que atuam na área.

    O curso Normal Superior a que nos referimos teve início no segundo

    semestre do ano de 2002 e foi organizado de modo a compreender cinco

    Didáticas da Matemática, DMA I, II, III, IV e V distribuídas do primeiro ao quinto

    semestre do curso, respectivamente. Nos quatro primeiros semestres as

    disciplinas fazem parte de um núcleo comum para as licenciaturas em Séries

    Inicias e em Educação Infantil, o que provocou, desde o início do curso, uma

    inquietação nos professores em formação da Educação Infantil, pois as

    tematizações da prática nas disciplinas ocorriam com ênfase em experiências

    nas Séries Iniciais.

    Cabe ressaltar que as tematizações advinham da própria dificuldade dos

    professores das disciplinas em encontrar materiais que respaldassem a

    organização e a discussão de situações didáticas vivenciadas em turmas deEducação Infantil, condizentes com a concepção de ensino-aprendizagem da

    matemática proposta pelo curso.

     As inquietações expressadas, bem como a finalidade da DMA V

    focalizada na proposta e na análise de rotinas pelos professores em formação

    para a organização do trabalho na área de matemática na Educação Infantil,

    conforme a necessidade de cada faixa etária e com a adequação da

    modalidade organizativa, fizeram emergir a seguinte interrogante aosprofessores: Como organizar a disciplina DMA para a Educação Infantil, que

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    favoreça a construção dos saberes docentes, considerando os conhecimentos

    epistemológicos, didáticos e específicos da Matemática?

    Deste modo, o objetivo da pesquisa foi levantar instrumentos que

    viabilizassem uma relação dialética entre teoria e prática no estudo de

    conhecimentos matemáticos a serem trabalhados na Educação Infantil e

    organizar situações de ensino-aprendizagem com esses instrumentos, a partir

    de um ambiente de análise e reflexão sobre a ação pedagógica.

     Assim, optou-se por um estudo de caso, que segundo Lüdke (1986, p.

    18) visa à descoberta e permite ao pesquisador recorrer   “a uma variedade de

    dados, coletados em diferentes momentos, em situações variáveis e com uma

    variedade de tipos de informantes”. Para tanto, a investigação realizada pelas

    autoras envolveu duas turmas da DMA V e baseou-se em levantamento de

    produções bibliográficas disponíveis em livros, revistas, internet, CD-ROOM;

    pesquisas documentais nas escolas; observações e na elaboração de

    atividades. A pesquisa documental constou da coleta de documentos

    curriculares, atividades e registros de aula produzidos por professores de três

    escolas sócio-construtivistas da rede particular de ensino.

    No Projeto Institucional de Formação de Professores do ISE-FJA são

    apresentados os âmbitos de conhecimento necessários para o

    desenvolvimento das competências do professor, que estão agrupados em

    saberes de dois tipos: formação profissional específica e formação geral. A

    formação profissional específica contempla o conhecimento sobre crianças,

    didático, experiencial e “instrumental” e a formação geral considera a cultura

    geral e profissional e o conhecimento sobre a dimensão cultural e política da

    educação.

    De acordo com o referido documento, os conteúdos relacionados aocurrículo e ao desenvolvimento curricular, as metodologias de ensino, as

    didáticas específicas e as áreas de conhecimento constituem o conhecimento

    didático. Assim, as didáticas específicas compõem uma das atividades

    curriculares do conhecimento de formação profissional específica, tendo em

    vista que é nesse âmbito que a concepção do que é ser professor é

    evidenciada. Vale ressaltar que dentre as atividades curriculares que compõem

    o conhecimento didático no curso Séries Iniciais 58,6% são com tais didáticas.E ainda, que o objetivo do trabalho com essas didáticas é fornecer aos

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     A partir da pesquisa bibliográfica realizada nesta investigação

    detectamos que os estudos atuais para o ensino da Matemática na Educação

    Infantil levam em consideração tanto as especificidades dos conteúdos a

    ensinar, quanto à forma como os alunos aprendem e atribuem significado aos

    conhecimentos matemáticos veiculados socialmente.

    Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e as

    publicações de pesquisadores como Anne Sinclair, Delia Lerner, Gérard

    Vergnaud, Guy Brousseau, Patrícia Sadovsky, Ana Cristina Rangel, Celi Lopes,

    Kátia Smole, Ocsana Danyluk,  entre outros, propõem que para as crianças

    construírem conhecimento é preciso que elas vivenciem múltiplas situações

    significativas, em contextos adequados e tenham oportunidade de fazer

    reflexões sobre suas produções, interagindo com outros, crianças e/ou adultos,

    tanto para explicitar a sua forma de pensar como para confrontar formas de

    resolução.

    Um breve histórico da evolução do ensino da matemática no Brasil pode

    nos ajudar a compreender as questões que envolvem o processo de ensino-

    aprendizagem dessa área, desde a fase inicial da escolaridade.

    Nas décadas de 1940 e 1950, a concepção de aprendizagem que

    permeava o ensino era fundamentada na psicologia empirista. Nesta

    perspectiva, a aprendizagem reduzia-se à memorização, exercitação e

    repetição. Os conteúdos seguiam uma seqüência linear, eram estruturados a

    partir de uma lista de temas e verbalizados pelo professor como um conjunto

    de verdades imutáveis. Mediante avanços dos estudos da Psicologia Cognitiva,

    inspirados, especialmente, na psicologia genética, difundida por Jean Piaget, a

    ênfase anterior dada à linguagem no ensino desloca-se para a ação.

    De acordo com Machado (2001), a fundamentação de uma DMAaconteceu por intermédio da aproximação dos estudos de Jean Piaget com o

    trabalho da prática docente, devido à concentração de seus experimentos em

    torno da lógica. A associação da teoria piagetiana com a ação pedagógica

    gerou dificuldades de interpretação pelos professores, pois não ficava claro

    para esses profissionais que o processo de desenvolvimento cognitivo exige

    ações mentais que demandam tempo para possibilitar a efetiva construção do

    conhecimento pela criança.

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    Nas décadas de 1960 e 1970, surge a Matemática Moderna que tinha

    como eixo a Teoria dos Conjuntos. A partir de então, treinamentos de

    professores foram promovidos pelas Secretarias de Educação, direcionados

    desde ao ensino da linguagem dos conjuntos até a apresentação de sugestões

    de como trabalhar, por exemplo, com relações de pertinência e inclusão, as

    operações de reunião e intersecção (especialmente com a utilização de Blocos

    Lógicos). Nessas atividades, publicações de Piaget, G. Papy, Z. P. Dienes

    proporcionavam o material básico para apoiar as discussões.

    No entanto, as tentativas de mudança no ensino-aprendizagem com a

    difusão da Matemática Moderna não atenderam às considerações sobre o

    processo de construção da inteligência propostas pela teoria construtivista de

    Piaget. Os professores, por não terem aprofundado o estudo sobre a teoria dos

    conjuntos nos processos de formação, não a concebiam como uma teoria

    abstrata que necessitava para sua compreensão do uso de noções lógicas

    complexas. Diante disso, tratavam a teoria dos conjuntos com características

    muito concretas e acabavam ensinando os conteúdos de forma linear,

    semelhante à concepção tradicional, seguindo uma seqüência rígida. E ainda,

    o trabalho com conjuntos no início de quase todas as séries de forma

    desvinculada do restante, a predominância dos temas algébricos sobre os

    geométricos, tratando a geometria como um tema ilustrativo dos conjuntos ou

    da álgebra, o exagero na linguagem simbólica, passaram a ser questionados,

    críticas estas que ganharam força ao longo da década de 80.

    Face ao exposto, o ensino tanto na Matemática Tradicional como na

    Matemática Moderna, apresentam um caráter estruturalista. No entanto, os

    novos rumos para o ensino dessa área apontam para uma atenção especial a

    estudos sobre os processos de desenvolvimento do indivíduo, bem como sobrea relação professor-aluno-objeto de conhecimento.

    Com os estudos de Lev Vygotsky (1998) e seus colaboradores, que se

    centraram nas leis do desenvolvimento e do processo de ensino-aprendizagem

    a partir da teoria sócio-histórico-cultural, é lançado um conceito básico para a

    educação: a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) que:

    é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que secostuma determinar através da solução independente deproblemas, e o nível de desenvolvimento potencial,determinado através da solução de problemas sob a orientação

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    de um adulto ou em colaboração com companheiros maiscapazes. (VYGOTSKY, 1998, p. 112). 

     Assim, na organização de sua prática, o professor deve considerar a

    ZDP das crianças para mediar o processo de ensino-aprendizagem a partir das

    necessidades do grupo e, assim, estruturar o seu trabalho, prevendo níveis de

    ajudas que possibilitem avanços de todas as crianças. 

    Em consonância com este conceito de Vygotsky e os novos estudos

    sobre ensino-aprendizagem da Matemática, realizados por pesquisadores da

    Didática e divulgados por intermédio de publicação dos Referenciais

    Curriculares Nacionais, faz-se necessário repensar o papel do professor e,

    mais especificamente, da inter-relação professor-aluno-saber no âmbito

    escolar.

    Com isso, a partir dos estudos de Brousseau, pertencente à corrente da

    didática matemática francesa, é estabelecida uma nova perspectiva de contrato

    didático no processo de ensino-aprendizagem, que funciona como um

    regulador dos intercâmbios entre o professor e o aluno, delimitando deveres e

    direitos em um espaço de referência compartilhado: a sala de aula. Nesse

    contrato, as relações entre as crianças e os professores se manifestam através

    dos comportamentos dos alunos que são esperados pelo professor e doscomportamentos do professor que são esperados pelo aluno. Logo, todas as

    situações propostas em sala têm um papel desafiador, pois possibilitam

    confrontações de pontos de vista e evidenciam o seu efeito no trabalho

    coletivo.

    Retomando o enfoque sócio-histórico-cultural difundido por Vygotsky

    (apud Franco, 1999, p.5) e seus seguidores, “a educação é uma fonte que

     promove o desenvolvimento, precisa então ser coerente, organizada e

    oportuna” . Daí o compromisso do professor em promover um processo de

    ensino-aprendizagem concebendo o aluno como um ser singular, buscando

    conhecer as necessidades e potencialidades de cada criança e organizando a

    sua prática educativa a partir da resolução de problemas.

    Nesta perspectiva, desde a Educação Infantil, a criança aprende

    matemática a partir das ações que produz para a resolução de uma situação,

    ou seja, quando compara, discute, pergunta, cria, amplia idéias e percebe queo erro faz parte do seu processo de construção do conhecimento. Essas ações

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    investigativas geram na criança o desejo de responder a uma pergunta

    interessante, ajustar-se às regras de um jogo, seguir as estratégias

    socializadas por um colega, entre outros procedimentos.

    Como aponta Vergnaud (1993), as concepções dos alunos são

    moldadas por situações que encontram em contextos significativos. Daí a

    relevância do tratamento de todos os conteúdos matemáticos -sistema de

    numeração, grandezas e medidas e espaço e forma- acontecerem

    simultaneamente e estarem conectados com a sua função social.

     A partir desses estudos bibliográficos, das fontes documentais obtidas e

    das observações realizadas nas escolas foi possível atingir os objetivos da

    pesquisa no que se refere ao levantamento de instrumentos para a viabilização

    da relação dialética entre teoria e prática no estudo de conhecimentos

    matemáticos a serem trabalhados na Educação Infantil e à organização de

    situações de ensino-aprendizagem com esses instrumentos por meio de um

    ambiente de análise e reflexão sobre a ação pedagógica.

    No tocante ao sistema de numeração, considerando que as crianças

    precisam conhecer a sucessão oral dos números; estabelecer relações entre

    eles: estar entre, um mais que, um menos que; reconhecer a sucessão escrita;

    iniciar a comparação de escritas numéricas e reconhecer as funções do

    número; organizamos situações a fim de permitir que os professores em

    formação pudessem perceber os conhecimentos que podem ser acionados

    pelas crianças por meio da análise de registros de atividades realizadas nas

    escolas investigadas, com uma tabela (10X10) com as regularidades

    numéricas no campo numérico de zero a cem, de jogos envolvendo a

    comparação de escritas numéricas com baralho, do jogo do bingo, das trilhas,

    do álbum de figurinhas, das coleções, dentre outros.Segundo Sinclair (1989) é preciso considerar que os números são

    usados no cotidiano com diferentes funções comunicativas: os números de

    telefones, documentos, cartões bancários têm a função de codificar ; nas

    receitas, balança, fita métrica, a função é de medir ; já no elevador aparece para

    ordenar   e, nas embalagens, quando expressam o número de objetos que

    contêm, apresentam a função de quantificar .

     Ao trabalhar grandezas e medidas, as ações realizadas visaram arelação do número com a função de medir, considerando o uso pelas crianças

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    de diferentes estratégias para comparar grandezas, a fim de efetivar as

    primeiras aproximações com medidas de comprimento, peso, volume e tempo,

    por meio de unidades convencionais e não-convencionais.

    Desse modo, buscamos organizar situações de aprendizagem na

    Educação Infantil planejadas juntamente com os professores em formação da

    DMA V, a partir de oficinas matemáticas: simulação de salão de beleza,

    sapataria, lanchonete, consultório médico e ateliê de costura. Cabe ressaltar

    que para possibilitar aprendizagens contextualizadas é necessário que seja

    construído um ambiente favorável com materiais que são utilizados no contexto

    real desses diferentes estabelecimentos comerciais.

     Além das oficinas, os conhecimentos matemáticos foram acionados no

    trabalho com a análise e a reflexão de jogos, utilizando dados, pega-varetas,

    dominós, com o resgate de músicas infantis (Mariana conta um; Um, dois, três

    indiozinhos) e de brincadeiras como esconde-esconde, coelhinho sai da toca,

    bem como a marcação do tempo por meio de calendários e experiências com

    dinheiro.

    No decorrer das atividades os alunos da formação inicial auto-regularam

    que o estudo do processo de construção das crianças e a relação entre o

    conteúdo específico e esses processos nas reflexões dos relatos possibilitavam

    a análise dos equívocos e o entendimento das estratégias elaboradas pelas

    crianças na realização das atividades propostas, compreensão que é de

    fundamental importância para a ação pedagógica.

    Quanto ao processo de construção relacionado ao conteúdo espaço e

    forma, as situações foram pensadas a partir do estabelecimento de relações

    espaciais nos deslocamentos, com atividades envolvendo a comunicação oral e

    a reprodução de trajetos, considerando elementos do entorno e pontos dereferência. Além disso, foram estabelecidas relações espaciais, também, entre

    objetos e em objetos. As relações espaciais entre objetos ocorreram através da

    localização e posição no espaço, com a descrição e interpretação da posição

    de objetos e pessoas em determinados espaços.

    No caso do estabelecimento de relações espaciais em objetos foi

    destacada a relevância da organização por parte do professor de situações

    para que as crianças iniciem os desenhos de construção, antecipem a própriaação para a conquista dos resultados esperados, modifiquem o produzido em

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    função da ação do outro ou de resistências do objeto. No trabalho com as

    figuras geométricas foram discutidas atividades em que as crianças descrevem

    as figuras a partir das formas que estão ao seu redor, no seu cotidiano.

    Com o estudo de caso realizado foi possível a reestruração da disciplina

    DMA V e a analise das conclusões dos professores em formação, que

    evidenciaram a necessidade de abandonar, desde a Educação Infantil, a

    perspectiva linear na organização curricular para o ensino da matemática, pois

    o processo de construção do conhecimento das crianças acontece a partir da

    sua interação com diferentes situações investigativas, como as que foram

    apresentadas no decorrer do trabalho. Dessa forma, compreendemos que é a

    partir das comparações, discussões, dos questionamentos, das criações, das

    socializações de idéias que as crianças põem em jogo o que aprenderam e têm

    oportunidade de refletir sobre as aprendizagens.

    Logo, os resultados dessa pesquisa apoiam-se na idéia de que a DMA

    para a Educação Infantil na formação inicial deve ser organizada de modo a

    articular na prática docente os conhecimentos epistemológicos, didáticos e os

    específicos da matemática. No decorrer da investigação foi possível perceber

    que só é possível articular tais conhecimentos a partir da interação no espaço

    de formação com a produção de alunos da Educação Infantil, com as suas

    falas, permitindo a análise das suas necessidades e potencialidades. Para

    tanto, é de fundamental importância a análise de registros de práticas de

    professores que atuam neste seguimento, a fim de que se efetive a mobilização

    de saberes e, por conseguinte, a relação dialética entre a teoria e a prática no

    percurso da formação inicial de professores.

     Além disso, a pesquisa aponta para uma mudança nos cursos de

    formação de professores de Educação Infantil, a fim de que os conhecimentosepistemológicos e os conteúdos matemáticos sejam objetos de estudo, tendo

    em vista que, em diferentes situações, os sujeitos dessa pesquisa, davam-se

    conta de que as dificuldades que apresentavam para perceber as

    necessidades dos alunos advinham do desconhecimento que tinham dos

    processos de construção do conhecimento e de alguns conteúdos específicos

    relativos ao sistema de numeração, espaço e forma, grandezas e medidas e

    tratamento da informação.

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    Portanto, os resultados mostram a necessidade da incorporação no

    trabalho com a disciplina DMA na formação inicial para a Educação Infantil das

    especificidades dos conhecimentos matemáticos, do estudo de pesquisas em

    Educação Matemática referentes à Educação Infantil e da interação com o

    espaço de sala de aula, a partir de registros e observações que apresentem as

    percepções dos alunos.

    Referências

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    SMOLE, K.S.; DINIZ, M. O.; CÂNDIDO, P. Coleção Matemática de 0 a 6anos. 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

    VERGNAUD, G., Teoria dos Campos Conceituais, Anais do 1º Seminário.Internacional de Educação do Rio de Janeiro, UFRJ, 1993.

    VYGOTSKY, L. S.  A formação social da mente: O desenvolvimento dosprocessos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.