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Aula sobre culpabilidade
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CARREIRA JURÍDICA Direito Penal Fábio Roque
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CULPABILIDADE
TEORIAS. EVOLUÇÃO HISTÓRICA.
IMPUTABILIDADE. EXIGIBILIDADE DE
CONDUTA DIVERSA.
ANOTAÇÕES DE AULA
1. Culpabilidade.
Para uma boa parcela da doutrina brasileira a
culpabilidade não é elemento do crime (teoria
bipartida), tendo o crime apenas como fato
típico e ilicitude.
A primeira noção de culpabilidade que se tem é
da teoria psicológica. Para esta teoria,
defendida por Franz Von Liszt e Beling, a
culpabilidade seria constituída pelo elemento
psicológico – dolo ou culpa. Para esta teoria a
imputabilidade não é elemento da
culpabilidade. A imputabilidade é considerada
para estes como um pressuposto da para
análise da culpabilidade e não elemento
constitutivo dela.
A teoria psicológico-normativa, defendida entre
outros por Edmund Mezger, Bertold
Freudenthal, Goldschimitd e Frank. Para esta
teoria, a culpabilidade seria constituída pelos
elementos psicológicos/subjetivos (dolo e
culpa), além dos elementos normativos:
imputabilidade e exigibilidade de conduta
diversa.
Para esta segunda teoria a consciência da
ilicitude estava embutida no dolo. Atualmente,
o dolo é o binômio consciência e vontade,
sendo que a consciência não é da ilicitude,
mas sim a consciência de saber o que se está
fazendo.
Adota-se atualmente a teoria normativa ou
teoria normativa pura que tem como grande
defensor Hans Welzel, criador do finalismo.
Toda conduta humana é destinada a um fim e,
portanto, toda conduta humana é dolosa ou
culposa, necessariamente.
Welzel retirou o dolo e a culpa da culpabilidade
e os colocou na conduta humana, elemento do
fato típico. Ao fazer isso, Welzel retira a
consciência da ilicitude do dolo, para entender
que culpabilidade é imputabilidade,
exigibilidade de conduta diversa e a potencial
consciência da ilicitude.
Este é o atual estágio da culpabilidade –
culpabilidade normativa. Dolo e culpa fazem
parte da conduta humana penalmente
relevante, ao passo que a culpabilidade é
constituída de elementos normativos.
CULPABILIDADE
Teoria
psicológica
Teoria
psicológico-
normativa
Teoria
normativa ou
normativa pura
Franz Von
Liszt/Beling
Mezger Welzel
Dolo/culpa Dolo/culpa
Imputabilidade
Exigibilidade de
conduta diversa
Imputabilidade
Exigibilidade de
conduta diversa
Potencial
consciência da
ilicitude
2. Conceito atual de culpabilidade
A culpabilidade é um juízo de reprovação
pessoal que recai sobre o autor do fato típico e
ilícito, que podendo se comportar conforme ao
direito, opta livremente por comportar de forma
contrária a ele.
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2.1. Juízo de reprovação pessoal
Culpabilidade é reprovabilidade. Dizer que há
culpabilidade, é dizer que a conduta é
reprovável. A conduta do doente mental não é
reprovável, porque o agente não sabe o que
faz. No caso do menor de idade, há uma
presunção legal.
Tipicidade e ilicitude são juízos de valor em
relação ao fato, já a culpabilidade é um juízo de
valor em relação ao autor do fato.
2.2. Autor do injusto penal.
A análise dos elementos é feita nesta ordem:
fato típico, ilicitude e culpabilidade. Logo, ao se
analisar a culpabilidade, já se tem em mente
que o fato é típico e ilícito – injusto penal.
2.3. Livre-arbítrio1
Só é reprovável a conduta do agente que tem
livre-arbítrio, aquele podia optar entre fazer e
não fazer.
O direito penal atual foi gestado no século
XVIII. Nesta época surgem nomes como os de
BECCARIA, CARRARA, FEUERBACH, que
começam a desenvolver o direito penal.
No século XIX, surge a escola positivista do
direito penal: LOMBROSO (antropologia
criminal), FERRI (sociologia criminal) e
GAROFALO (criminologia). Estes autores
negam o livre-arbítrio, trabalhando com a ideia
de determinismo. Para os positivistas, os
1 O livre-arbítrio é idéia chave do direito penal. No
tocante a culpabilidade, é possível afirmar que
culpabilidade é a reprovabilidade de quem tem livre-
arbítrio.
estudiosos que pregavam o livre-arbítrio
compunham a chamada escola clássica.
Atualmente, na Europa tem discutido que a
neurociência pode determinar algumas
condutas. Mas, para os concursos, é
importante ter em mente que culpabilidade hoje
é livre-arbítrio, estando ultrapassado o
determinismo da escola positiva do direito
penal.
3. Elementos da culpabilidade
3.1. Imputabilidade
Imputar é atribuir responsabilidade penal a
alguém. Para Francisco de Assis Toledo,
imputabilidade é atribuibilidade. Imputável é
aquele a quem se pode atribuir
responsabilidade penal.
A regra é que o agente seja imputável. A
imputabilidade pode ser afastada pela
menoridade, pela doença mental e pela
embriaguez fortuita.
È possível falar em inimputabilidade do índio?
A princípio não é possível. O estatuto do índio
refere-se ao índio integrado, índio não
integrado e ao índio em vias de integração,
sendo que a integração é em relação ao
restante da comunidade brasileira. Diante
desta classificação, antigamente entendia-se
que índio integrado era imputável, o índio não
integrado era inimputável, ao passo que o índio
em vias de integração era submetido a um
laudo antropológico.
Esta situação não mais subsiste. Atualmente
entende-se que ao índio aplicam-se as
mesmas hipóteses de inimputabilidade que se
aplicáveis aos demais cidadãos, não tendo
tratamento diferenciado em relação ao índio,
independente do nível de integração.
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A emoção e a paixão não excluem a
culpabilidade, podem até atenuar a pena, mas
não excluem a culpabilidade. Porém, se a
emoção e a paixão chegarem a um grau
elevado que se tornem doença mental poderão
ensejar a exclusão da culpabilidade.
3.2. Causas de exclusão da imputabilidade
a) Menoridade:
O menor de 18 anos de idade é considerado
inimputável, por força pelo art. 27 do Código
Penal e também no art. 228 da Constituição
Federal.
CP - Art. 27. Os menores de dezoito anos
são penalmente inimputáveis, ficando
sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial.
CF - Art. 228. São penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos,
sujeitos às normas da legislação especial.
É possível reduzir a maioridade penal por
emenda constitucional? A maioridade penal a
partir de 18 anos está no rol dos direitos e
garantias individuais. Vale lembrar que estes
não estão apenas no art. 5º, mas espraiados
pelo texto constitucional e o STF é pacifico
neste sentido.
Não há controvérsia, portanto, se se trata de
cláusula pétrea. O que é discutido pela doutrina
é a possibilidade de redução. Há autores como
René Ariel Dotti que defende que a redução da
maioridade penal não é possível por ser tratar
de cláusula pétrea, cuja redução importaria em
abolir o direito individual. Assim, para este
autor, uma eventual redução da menoridade
penal somente seria possível numa nova
constituição.
Para outros autores, como Pedro Lenza, o
direito individual pode ser restringido, desde
que não seja atingido o núcleo desse direito,
não implicando a abolição deste direito.
A emancipação civil não surte efeitos na esfera
penal. Em todas as hipóteses de emancipação
o agente mantém a condição de inimputável
penalmente.
Também não importa se o agente entende o
caráter ilícito do fato, uma vez que a lei
presume absolutamente. Em relação à
menoridade, o critério para a aferição da
inimputabilidade é um critério puramente
biológico, também chamado de cronológico ou
etário.
Na dúvida quanto a idade do agente, o STJ
entende que é necessário provar a menoridade
por documento hábil (documento civil de
identificação) 2, se não tiver documento deve
ser feita a identificação criminal.
b) Doença mental
A definição de inimputável para o direito penal
está prevista no art. 26 do CP:
Art. 26. É isento de pena o agente que,
por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de
determinar‑se de acordo com esse
entendimento.
2 No processo penal, questão de estado se prova de forma
documental, da mesma forma que se prova na legislação
civil.
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O critério para aferição da inimputabilidade é
biopsíquico, também chamado de
biopsicológico ou etiológico.
É necessária a doença mental, mas além desta
o agente não entende o caráter ilícito do fato
ou mesmo entendendo o caráter ilícito, em
razão da doença não consegue determinar-se
de acordo com essa compreensão.
A inimputabilidade por doença mental somente
pode ser aferida no caso concreto para saber
se em razão desta doença mental o agente não
compreendia o caráter ilícito, ou mesmo que
entendesse, não conseguia determinar-se
conforme este entendimento em decorrência
da doença.
Para o doente mental não se aplica pena e sim
medida de segurança. O inimputável não é
condenado, mas sim absolvido3.
O semi-imputável ou fronteiriço é aquele que
por perturbação mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar‑se de acordo com esse
entendimento
O semi-imputável é condenado, por ser parcial
a sua imputabilidade e, portanto, parcial
culpabilidade. Vale lembrar que não existe
semi-imputabilidade por menoridade, apenas
para doença mental.
A semi-imputabilidade tem natureza jurídica de
causa de diminuição de pena, razão pela qual
juiz condena, mas aplica redução de pena. O
juiz pode também converter essa condenação
em medida de segurança, se entender que é
mais adequado ao tratamento da doença.
3 É a sentença absolutória imprópria, na qual o agente é
absolvido, mas por ser inimputável por doença mental a
ele é aplicada uma medida de segurança.
Essa conversão pode ocorrer no momento da
sentença, como também posteriormente na
fase de execução.
Antes da reforma de 1984, aplicava-se no
Brasil o sistema do duplo binário, o qual
permitia aplicar ao semi-imputável a pena e a
medida de segurança. Esta sistema foi
substituído pelo sistema vicariante, no qual se
aplica pena ou medida de segurança, não se
admitindo mais a cumulação.
Medida de segurança4:
No Brasil, só existe medida de segurança para
o doente mental. Há dois tipos de medida de
segurança: internação e tratamento
ambulatorial.
Na internação, o doente mental fica no hospital
de custódia e tratamento psiquiátrico. Já o
tratamento ambulatorial não exige internação.
De acordo com o art. 97 do CP, se o fato
praticado for apenado com detenção o juiz
pode aplicar o tratamento ambulatorial. A
contrario sensu, se o fato for punido por
reclusão o juiz aplicaria a medida de
internação.
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz
determinará sua internação (artigo 26). Se,
todavia, o fato previsto como crime for
punível com detenção, poderá o juiz
submetê‑lo a tratamento ambulatorial.
Este dispositivo tem recebido severas críticas,
porque leva em consideração a gravidade do
fato. A crítica doutrinária é no sentido de que a
4 Sobre o tema, válida a leitura do texto disponível
<http://jus.com.br/revista/texto/10216/medida-de-
seguranca>
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5
aplicação da medida de segurança deve levar
em conta o grau de periculosidade do
inimputável, pouco importando se se trata de
reclusão ou detenção. Neste sentido:
Guilherme Nucci.
A medida de segurança tem um prazo mínimo
estabelecido no CP:
Art. 97 § 1o A internação, ou tratamento
ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não
for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade. O prazo
mínimo deverá ser de um a três anos.
Este prazo mínimo é o marco a partir do qual
se torna obrigatória a realização de perícias
periódicas para avaliar se ocorreu a cessação
da periculosidade. Se subsiste a
periculosidade, a medida de segurança é
mantida, do contrário, se houver cessação da
periculosidade, igualmente cessará a medida
de segurança.
A medida de segurança não tem prazo
máximo, sendo estabelecida por prazo
indeterminado.
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido
de que quando a constituição federal proibiu a
pena de caráter perpetuo disse menos do que
queria (“minus dixit quam voluit”). O que a
constituição quis dizer foi que são proibidas as
sanções penais de caráter perpétuo. Sanção
penal é gênero do qual são espécies a pena e
a medida de segurança, de modo que a
medida de segurança também não pode ser ter
caráter perpétuo. Para o STF5, o limite por
analogia é o do art. 75 do CP:
5 MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO -
LIMITE. A interpretação sistemática e teleológica dos artigos
75, 97 e 183, os dois primeiros do Código Penal e o último da
Lei de Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia
constitucional abolidora das prisões perpétuas. A medida de
segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos (HC 84219, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira
Art. 75. O tempo de cumprimento das
penas privativas de liberdade não pode
ser superior a trinta anos.
Turma, julgado em 16/08/2005, DJ 23-09-2005 PP-00016
EMENT VOL-02206-02 PP-00285)
EMENTA: PENAL. EXECUÇÃO PENAL. HABEAS
CORPUS. RÉU INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE
SEGURANÇA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA.
EXTINÇÃO DA MEDIDA, TODAVIA, NOS TERMOS DO
ART. 75 DO CP. PERICULOSIDADE DO PACIENTE
SUBSISTENTE. TRANSFERÊNCIA PARA HOSPITAL
PSIQUIÁTRICO, NOS TERMOS DA LEI 10.261/01. WRIT
CONCEDIDO EM PARTE. I - Não há falar em extinção da
punibilidade pela prescrição da medida de segurança uma vez
que a internação do paciente interrompeu o curso do prazo
prescricional (art. 117, V, do Código Penal). II - Esta Corte,
todavia, já firmou entendimento no sentido de que o prazo
máximo de duração da medida de segurança é o previsto no
art. 75 do CP, ou seja, trinta anos. Precedente. III - Laudo
psicológico que, no entanto, reconheceu a permanência da
periculosidade do paciente, embora atenuada, o que torna
cabível, no caso, a imposição de medida terapêutica em hospital
psiquiátrico próprio. IV - Ordem concedida em parte para
extinguir a medida de segurança, determinando-se a
transferência do paciente para hospital psiquiátrico que disponha
de estrutura adequada ao seu tratamento, nos termos da Lei
10.261/01, sob a supervisão do Ministério Público e do órgão
judicial competente. (HC 98360, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 04/08/2009,
DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT
VOL-02379-06 PP-01095)
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. RÉU
INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA.
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PERICULOSIDADE DO
PACIENTE SUBSISTENTE. TRANSFERÊNCIA PARA
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO, NOS TERMOS DA LEI
10.261/2001. WRIT CONCEDIDO EM PARTE. I – Esta Corte
já firmou entendimento no sentido de que o prazo máximo
de duração da medida de segurança é o previsto no art. 75
do CP, ou seja, trinta anos. Na espécie, entretanto, tal prazo
não foi alcançado. II - Não há falar em extinção da punibilidade
pela prescrição da medida de segurança uma vez que a
internação do paciente interrompeu o curso do prazo
prescricional (art. 117, V, do Código Penal). III – Laudo
psicológico que reconheceu a permanência da periculosidade do
paciente, embora atenuada, o que torna cabível, no caso, a
imposição de medida terapêutica em hospital psiquiátrico
próprio. IV – Ordem concedida em parte para determinar a
transferência do paciente para hospital psiquiátrico que disponha
de estrutura adequada ao seu tratamento, nos termos da Lei
10.261/2001, sob a supervisão do Ministério Público e do órgão
judicial competente. (HC 107432, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 24/05/2011,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 08-06-2011
PUBLIC 09-06-2011 RMDPPP v. 7, n. 42, 2011, p. 108-115
RSJADV set., 2011, p. 46-50)
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6
Em prova do ano de 2012, o CESPE6 entendeu que o prazo máximo seria o máximo
6 CESPE/UNB – DELEGADO DE POLICIA CIVIL:
Com relação às causas extintivas da punibilidade, julgue
os itens a seguir:“Tratando-se de sentença na qual é
imposta medida de segurança ao acusado inimputável, o
tempo de seu cumprimento, independentemente da
cessação da periculosidade, não poderá ultrapassar o
limite máximo da pena abstratamente aplicada ao crime”.
Nesse sentido é o entendimento do STJ: HABEAS
CORPUS. PENAL. EXECUÇÃO PENAL. (1)
IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO
ESPECIAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2)
SENTENÇA. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO
INDETERMINADO. IMPOSSIBILIDADE. (3)
TRIBUNAL DE ORIGEM. REFORMA DA
SENTENÇA. LIMITE DE DURAÇÃO. PENA
MÁXIMA COMINADA IN ABSTRATO AO DELITO
COMETIDO. PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA
PROPORCIONALIDADE. ENTENDIMENTO
COMPARTILHADO POR ESTE SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (4) WRIT NÃO
CONHECIDO. 1. É imperiosa a necessidade de
racionalização do emprego do habeas corpus, em
prestígio ao âmbito de cognição da garantia
constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal.
In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como
substitutiva de recurso especial. 2. O tempo de duração
da medida de segurança não deve ultrapassar o limite
máximo da pena abstratamente cominada ao delito
praticado, à luz dos princípios da isonomia e da
proporcionalidade. 3. Hipótese em que o Juiz fixou o
tempo mínimo e o Tribunal a quo determinou o tempo
máximo de cumprimento da medida de segurança, esta
última de acordo com a pena máxima em abstrato
cominada ao delito cometido. Acórdão vergastado de
acordo com o entendimento deste Sodalício. 4. Writ não
conhecido. (HC 167.136/DF, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 02/05/2013, DJe 10/05/2013) PENAL.
MEDIDA DE SEGURANÇA. LIMITE DE DURAÇÃO.
PENA MÁXIMA COMINADA IN ABSTRATO AO
DELITO COMETIDO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Fere
o princípio da isonomia o fato de a lei fixar o período
máximo de cumprimento de pena para o imputável, pela
prática de um crime, e determinar que o inimputável
cumprirá medida de segurança por prazo indeterminado,
condicionando o seu término à cessação da
periculosidade. 2. Em razão da incerteza da duração
máxima da medida de segurança, está-se claramente
tratando de forma mais severa o infrator inimputável
quando comparado ao imputável, para o qual a lei limita o
poder de atuação do Estado. 3. O limite máximo de
duração de uma medida de segurança, então, deve ser
o máximo da pena abstratamente cominada ao delito
no qual foi a pessoa condenada. 4. Na espécie, o
paciente foi condenado por tentativa de estupro, cuja pena
da pena cominada ao fato, destoando da jurisprudência do STF.
Importante lembrar que se o inimputável for
perigoso, violento e após 30 anos internado,
não tiver cessada a sua periculosidade, o STF
entende que cessa a intervenção penal. No
entanto, isto não significa dizer que não vai
haver internação, esta ocorrerá, mas não terá
natureza penal.
É possível a internação compulsória, nos
moldes da lei 10.216/01 (lei de reforma
psiquiátrica).
c) Embriaguez
Há cinco modalidades de embriaguez:
Preordenada
Dolosa ou voluntária
Culposa ou involuntária
Fortuita
Patológica
Culpabilidade é livre-arbítrio. Entende-se que a
pessoa completamente embriagada não tem
esse livre-arbítrio. Mas, em regra, o
embriagado é culpável.
Quando se fala em embriaguez, trabalha-se
com a teoria da ação livre na causa (“actio
libera in causa”). Significa dizer que na
embriaguez, o livre-arbítrio não é aferido no
momento da prática da conduta, mas sim se
máxima cominada é de reclusão de 6 anos e 8 meses. Não
obstante, encontra-se internado há mais de 15 anos. 5.
Ordem concedida para declarar extinta a medida de
segurança aplicada em desfavor do paciente, em razão de
seu integral cumprimento. (HC 91.602/SP, Rel. Ministra
ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE),
Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 20/09/2012, DJe
26/10/2012)
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CARREIRA JURÍDICA Direito Penal Fábio Roque
7
ação foi livre no momento da ingestão da
substância.
Embriaguez preordenada é aquela em que o sujeito quer ingerir, quer embriagar-se e quer praticar o crime. Neste caso, não há exclusão da culpabilidade do agente. Alem disso, constitui circunstância agravante, prevista no art. 61, inciso II, l do CP7.
Embriaguez dolosa ou voluntária é aquela em que o sujeito quer ingerir a substancia e embriagar-se, mas não para praticar o crime. P.ex.: o sujeito quer fazer uma farra e ajusta com a namorada que vai beber e ela retorna dirigindo o veiculo. Após embriagar-se o sujeito não entrega a chave, resolve dirigir e comete crime na condução do veículo. Não se exclui a culpabilidade deste agente.
Embriaguez culposa ou involuntária é aquela em que o sujeito quer ingerir a substância apenas socialmente, mas acaba se embriagando e vem a praticar o crime. Neste caso, também não se exclui a culpabilidade.
Embriaguez fortuita é aquela em que o agente não quer ingerir a substância, seja por que não sabia o que estava ingerindo, seja porque foi obrigado a ingeri-la. P.ex.: trote de calouros. Esta sim, sendo completa, exclui a culpabilidade do agente. Se for incompleta, o agente responde pelo crime, com pena diminuída.
Embriaguez patológica é o vício. O viciado pode ser considerado inimputável, uma vez que o vício é considerado doença mental, segundo a
7 “ART. 61. São circunstâncias que sempre agravam a
pena, quando não constituem ou qualificam o crime, II –
ter o agente cometido o crime: l) em estado de
embriaguez preordenada”.
Organização Mundial de Saúde. Deste modo, a embriaguez patológica não exclui a culpabilidade, mas a doença mental poderá excluí-la.
4. Exigibilidade de conduta diversa
É o segundo elemento da culpabilidade.
Somente há reprovabilidade da conduta do
agente que poderia agir de outro modo.
O CP não tem as expressões inexigibilidade de
conduta diversa, tampouco exigibilidade de
conduta diversa. Há, contudo, institutos
previstos no CP que materializam esta
inexigibilidade: coação moral irresistível e
obediência hierárquica.
Coação irresistível e obediência
hierárquica
Art. 22. Se o fato é cometido sob coação
irresistível ou em estrita obediência a
ordem, não manifestamente ilegal, de
superior hierárquico, só é punível o autor
da coação ou da ordem.
A coação moral irresistível e a obediência
hierárquica são hipóteses de inexigibilidade de
conduta diversa. É extremamente controverso,
mas prevalece que existem causas
supralegais de inexigibilidade de conduta
diversa. Segundo este entendimento, sempre
que se possa dizer que não se poderia exigir
outra conduta do agente, estar-se-ia diante de
hipótese de inexigibilidade conduta diversa.
Exemplo: a mãe que trabalha como diarista
que precisa trabalhar para sustentar as filhas,
que ao sair e trancava as crianças. Houve um
incêndio na casa do vizinho, o fogo se alastrou
e as crianças morreram queimadas. A mãe foi
indiciada pelo homicídio, mas o promotor
entendeu que era hipótese de inexigibilidade
de conduta diversa, não dava para exigir da
mãe outra conduta.