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Direitos Humanos no Brasil: a excluso dos detentos

Direitos Humanos no Brasil: a excluso dos detentos

Romualdo Flvio DropaExtrado da Monografia JurdicaBrasil 500 anos de Excluso"A DIGNIDADE DO DETENTO

O apstolo Paulo de Tarso, em Carta aos Hebreus, diz:"Lembrem-se dos presos como se vocs estivessem na priso com eles. Lembrem-se dos que so torturados, pois vocs tambm tm um corpo" .

Esta importante lembrana crist se choca com um antigo preceito que domina a nossa sociedade: preso bom preso morto. Infelizmente, a sociedade encontra-se doente, imersa em estigmas que ela prpria criou, frutos de uma educao falha e depreciativa em certos casos. A sociedade brasileira perdeu se que um dia realmente deteve sua auto-estima. No existe mais orgulho em ser brasileiro, salvo em vitrias desportivas onde o ego do brasileiro preenchido por uma medalha no peito de um atleta que o representa. Ser brasileiro viver intensamente cada segundo deste pas, no apenas se alegrando nas eventuais conquistas do esporte, mas em todos os momentos da vida desta nao. H 500 anos a cultura desta nao comeou a se formar, mas ainda hoje no podemos afirmar, categoricamente, o que ser brasileiro. Ao contrrio de nos orgulharmos, ser brasileiro passou a ser o reflexo do pensamento errneo que os estrangeiros, principalmente europeus e americanos, nutrem a nosso respeito: brasileiro ladro, malandro, bandido. Estes povos no tm culpa de pensar assim. A culpa nossa porque deixamos que eles pensem assim. Ao invs de vendermos a imagem de um povo herico, possuidor de um brao forte, como quer nosso hino, permitimos que o Brasil seja visto como a terra das desigualdades. E, pior que isso, ns acabamos importando de volta a imagem que vendemos, da o porqu de tanto preconceito que o brasileiro sente em relao a si mesmo, julgando que tudo o que vem de fora do pas melhor. Isso pode existir, mas no uma regra. Qualquer pas do mundo passvel de acertar e errar. E a imagem de que todo bandido merece morrer est intimamente ligada a este estigma que ns prprios criamos contra ns mesmos. Ao mesmo tempo, por ser bandido, luz do preconceito social, o indivduo perde todos os seus direitos dignidade e civilidade. O reflexo deste pensamento se d, hoje, na horrvel condio pessoal em que se encontram os detentos de nosso pas, jogados e esquecidos nas masmorras do desrespeito, esquecendo-se eles prprios de que so seres humanos. O resultado no poderia ser diferente: ao invs de se reabilitar, o detido passa a nutrir um dio cada vez maior pela sociedade que o colocou ali. Em sua mente, movido pela fora natural de seu raciocnio, a sociedade no lhe deu emprego, educao ou qualquer condio que lhe garantisse a subsistncia. O crime que cometeu foi motivado pela prpria sociedade e ele no o teria praticado se esta mesma sociedade no lhe tivesse motivado. Os presos precisam de ajuda, de respeito, apoio fsico e psquico para terem esperana de recuperarem sua moral, a paz de seu esprito e o reeqilbrio social. Infelizmente, no o que acontece nas penitencirias deste pas.

A lei penal e as formas de sua aplicao devem atender s exigncias da vida pessoal e social de cada condenado e mesmo daqueles detidos provisoriamente. Para isso, so necessrios critrios para que se alcance o desenvolvimento social capaz de acabar, de uma vez por todas, com a idia de que preso bom preso morto, um pensamento de excluso absoluta destes indivduos que lhes nega toda e qualquer forma de dignidade porque hoje se encontram isolados da sociedade. No , simplesmente, isolando estas pessoas que se garantir a ordem social, pois um dia, grande parte deles se reintegrar novamente comunidade. A questo reformar os valores tico-morais de nosso povo, despertando sua conscincia para o fato de que qualquer nao s se faz grande a partir do respeito dignidade de seus filhos, sejam eles livres ou detidos em sua liberdade.

O sistema carcerrio no Brasil, hoje, est falido. Mudanas radicais neste sistema se fazem urgentes, pois as penitencirias se transformaram em verdadeiras usinas de revolta humana, uma bomba-relgio que o judicirio brasileiro criou no passado a partir de uma legislao que hoje no pode mais ser vista como modelo primordial para a carceragem no pas. Ocorre a necessidade de modernizao da arquitetura penitenciria, a sua descentralizao com a construo de novas cadeias pelos municpios, ampla assistncia jurdica, melhoria de assistncia mdica, psicolgica e social, ampliao dos projetos visando o trabalho do preso e a ocupao de sua mente-esprito, separao entre presos primrios e reincidentes, acompanhamento na sua reintegrao vida social, bem como oferecimento de garantias de seu retorno ao mercado de trabalho entre outras medidas so algumas boas medidas para desarmar esta bomba.

Nosso pas profundamente desigual, comeando pela concentrao de renda. Somado a isso, negros, mulatos e pobres no tm oportunidades de subsistncia, partindo para a criminalidade. O resultado, visvel por todos ns neste limiar do sculo XXI um Brasil injusto, doente e desacreditado. Estes fatos j fazem parte da tradio brasileira, e hoje ocorre uma espcie de banalidade em relao s desigualdades, como se o prprio povo estivesse acostumado com aquilo que v e observa, sem perceber que ele figura, tanto como sujeito ativo desta situao, como sujeito passivo, vtima futura de sua prpria negligncia. E esta tradio impregnou todos os setores da vida brasileira, sendo a mais notria delas o descumprimento das normas no Brasil. Os presos esto nas penitencirias porque descumpriram a lei. Mas esquecemos que algo deve ser feito com aqueles que, da mesma forma, descumprem a lei que beneficia os presos a uma vida mais digna e humana. O mesmo esquecimento do preceito que o apstolo, dois mil anos atrs, tentou nos alertar.

As penitencirias brasileiras

No novidade nenhuma que as condies de deteno e priso no sistema carcerrio brasileiro violam os direitos humanos, fomentando diversas situaes de rebelio onde, na maioria das vezes, as autoridades agem com descaso, quando no com excesso de violncia contra os presos. A Constituio Federal prev, em seu artigo 5, inciso XLIX, a salvaguarda da integridade fsica e moral dos presos, dispositivo raramente respeitado pelo nosso sistema carcerrio.

Chamar nossas cadeias e penitencirias de prises um elogio desmerecido. O que existe no Brasil so verdadeiras masmorras, depsitos humanos de excludos formalmente separados dos presos desviados, ou seja, aqueles bons cidados que por uma razo ou outra cometeram um equvoco e tiveram sua liberdade privada. So os chamados presos especiais, com direito a regalias como comida especial, televiso, jornais, revistas e outras regalias que no cabem ao denominado povo.

Segundo dados do IBGE, de 1994, sobre a situao carcerria em nosso pas, dos 297 estabelecimentos penais existentes no Brasil at aquela data, 175 se encontravam em situao precria e 32 em construo. A populao carcerria girava em torno dos 130 mil presos, dos quais 96,31% eram homens e 3,69% eram mulheres. Quanto aos motivos da deteno, 51% dos presos cometeram furto ou roubo, 17% homicdio, 10% trfico de drogas e o restante outros delitos. O mesmo instituto divulgou nesta pesquisa que 95% dos presos so indigentes e 97% so analfabetos ou semi-analfabetos. A reincidncia na populao penal de 85%, o que demonstra que as penitencirias no esto desempenhando a funo de reabilitao dos detentos.

As causas de tanta desigualdade dentro das prises brasileiras muito simples: faltam recursos para oferecer dignidade aos detentos, seja por meio de melhores condies de sade, higiene e espao dentro das instalaes. Vejamos, rapidamente, alguns destes tpicos que transformam nossas cadeias em verdadeiras fbricas de desumanidade:

a. Superlotao

Estima-se que a capacidade de nossas penitencirias de pouco mais de 54.000 vagas. A populao carcerria em nosso pas est em torno de 130 mil internos, verificando-se que ainda faltam 75 mil vagas para comportar de forma mais humana todo este contingente. Como este excesso precisa ser relocado de qualquer forma, cada vaga est sendo ocupada, em mdia, por 2,15 presos. Neste sentido, o Brasil carece, hoje, de pelo menos 150 novos presdios para aliviar a presso das demais penitencirias existentes. Entretanto, estes dados no so confiveis, pois alguns setores extra-oficiais que trabalham de perto com o sistema carcerrio, afirmam que algumas vagas vm sendo ocupadas por cerca de cinco ou seis presos, o que configura nossas cadeias como depsitos de presos. A superpopulao gera os mais preocupantes efeitos, como promiscuidade, falta de higiene, comodidade etc. Em alguns Estados, devido superlotao das delegacias de polcia ou pequenas cadeias pblicas, muitas mulheres so colocadas em celas masculinas e terminam estupradas.

Se lembrarmos que algumas celas possuem apenas 12 metros quadrados e que muitas chegam a comportar seis presos sentados ou de p, a situao passa de grave gravssima.

As prises brasileiras encontram-se abarrotadas, sem as mnimas condies dignas de vida, contribuindo ainda mais para desenvolver o carter violento do indivduo e seu repdio sociedade que ele acusa de t-lo colocado ali.

b. Falta de higiene e assistncia mdica social

Muitos dos presos esto submetidos a pssimas condies de higiene. As condies higinicas em muitas cadeias so precrias e deficientes, alm do que o acompanhamento mdico inexiste em algumas delas. Quem mais sofre pela carncia de assistncia mdica so as detentas, que necessitam de assistncia ginecolgica. Alm disso, muitas penitencirias no possuem sequer meios de transporte para levar as internas para uma visita ao mdico ou a algum hospital. Os servios penitencirios so geralmente pensados em relao aos homens, no havendo assistncia especfica para as mulheres grvidas, por exemplo.

Sanitrios coletivos e precrios so comuns, piorando as questes de higiene. A promiscuidade e a desinformao dos presos, sem acompanhamento psico-social, levam transmisso de AIDS entre os presos, muitos deles sem ao menos terem conhecimento de que esto contaminados. Muitos chegam ao estado terminal sem qualquer assistncia por parte da direo das penitencirias. Mas no somente a AIDS negligenciada. Segundo um relatrio da Inter-American Commission Reports & Documents, sobre a situao dos direitos humanos no Brasil, muitos presos se queixam de doenas gstricas, urolgicas, dermatites, pneumonias e ulceraes, mas no so atendidos adequadamente, afirmando que muitas vezes nem sequer havia remdios bsicos para tratar delas.

Alm disso, o mesmo relatrio constata que muitos presos no recebem qualquer assistncia visando prover suas necessidades bsicas de alimentao e vesturio. Muitos sofrem com o frio, outros acabam se molhando em dias de chuva e permanecem com a roupa molhada no corpo, causando doenas como gripes fortes e pneumonias. Para diminuir esta escassez, muito guardas so subornados por parentes dos detentos que lhes providencia mais comida e roupas em troca de dinheiro.

A possibilidade ftica de um acompanhamento mdico adequado evitaria que certas situaes de maus tratos, espancamentos e outras violncias contra os encarcerados ficassem sem a devida apurao e socorro.

c. Falta de acesso educao e ensino profissionalizante

Uma antiga mxima popular diz que mente vazia a oficina do diabo. Este provrbio no poderia ser mais adequado quando se trata da vida carcerria. O indivduo privado de sua liberdade e que no encontra ocupao, entra num estado mental onde sua nica perspectiva fugir. O homem nasceu para ser livre, no faz parte de sua natureza permanecer enjaulado. Algumas rarssimas cadeias ainda oferecem certas condies que superam a qualidade de vida do preso se estivesse do lado de fora. Ainda assim, o sentimento de liberdade sempre maior e mesmo estas cadeias acabam vivenciando rebelies de fuga. Preso que no ocupa seu dia, principalmente sua mente, um maquinador de idias, a maioria delas, ruins. O presdio um sistema fechado onde o encarcerado obrigado a conviver, permanentemente, com outros indivduos, alguns de ndole igual, melhor ou pior. Nem sempre h cordialidade e animosidade algo comum, gerando um eterno clima de medo e preocupao constantes, pois o preso nunca sabe se o seu dia vai chegar. Grande parte desta angstia vivida pelo presidirio advm da falta de ocupao, de uma atividade que ocupe seu tempo, distraia sua ateno e que o motive a esperar um amanh melhor. A idia de todo presidirio que sua vida acabou dentro das paredes da cadeia e que no lhe resta mais nada. Amparo psicolgico fundamental, pois nenhum ser humano vive sem motivao. Presdio sem ocupao se torna uma escola s avessas: uma formadora de criminosos mais perigosos.

Por no ter um estudo ou ocupao, conseqentemente, carecer de um senso moral que a vida pr-egressa no conseguiu lhe transmitir, a personalidade do preso passa a sofrer um desajuste ainda maior. Sua nica sada relacionar-se com os demais presos e intercambiar com ele suas aspiraes, valores e vises de mundo, quase sempre distorcidas. Passa a adquirir novos hbitos, que antes no tinha, enfim transforma-se num indivduo pior do que quando entrou. Alm disso, distrbios psicolgicos que j possua antes de vir para o presdio se agravam, justamente por se ver inserido num novo contexto social, repleto de hostilidades e desrespeito.

A grande maioria dos indivduos presos no tiveram melhores oportunidades ao longo de suas vidas, principalmente a chance de estudar para garantir um futuro melhor. Nesse sentido, o tempo que despender atrs das grades pode e deve ser utilizado para lhe garantir estas oportunidades que nunca teve, por meio de estudo e, paralelamente, de trabalho profissionalizante. Alm de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os detentos precisam ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se obscurecidos pelo estigma do crime. Existem casos de detentos que demonstram dotes artsticos, muitos deles se revelando excelentes pintores de quadros e painis de parede, alm de habilidades com esculturas, montagens, modelagens, marcenaria etc. Tambm, decoram as celas de acordo com sua criatividade e sua personalidade. Estas artes devem ser incentivadas, pois uma forma de ocupar o preso, distraindo-o e aumentando sua auto-estima. a chance de mostrar a ele de que existe a esperana de um amanh melhor alm das grades que o separam do mundo exterior.

A viso cerca do criminoso que, a partir do delito ele se torna um indivduo parte na sociedade, e que seu isolamento dentro de uma priso significa a perda de toda a sua dignidade humana devendo, por isso, ser esquecido enquanto pessoa humana, e ignora-se que os direitos humanos valem para todos, sejam criminosos ou no. Infelizmente, no Brasil, a vida de pessoas pobres ou criminosos tem menos valor.

Violncia Policial

Antes de prosseguir com o estudo da excluso vivida pelos detentos, analisemos a violncia policial que se faz presente em nosso pas e vigora h muito tempo. Tornou-se realmente explcita durante o Regime do Estado Novo (1937-1945) e no Regime Militar (1964-1985), onde o alvo desta violncia eram todos aqueles que no aceitavam a forma de poder ditatorial ou questionavam os atos de seus governantes. No se pretende aqui justificar a Ditadura, a qual vai imediatamente contra os princpios universais de liberdade convencionados na Carta de 1948, mas deve-se fazer uma diferena entre a violncia policial atuante num Regime ditatorial e aquela vigente num Regime democrtico. No primeiro, o Estado atua com mo-de-ferro e o poder no emana do povo, pelo contrrio, a ele superior, ferindo todos os preceitos de um ideal democrtico e sujeitando a massa de cidados vontade de um governante dominado pela idia de conduzir sozinho o destino de uma nao conforme suas convices particulares. Nada mais natural que a polcia espelhe na prtica o real cumprimento deste poder, estando a ele subordinado e por ele seja atuante, sendo mais particularmente evidente no Regime militar. Ocorre uma presso psicolgica sobre o indivduo detentor do poder de polcia e que cumpre os mandos e desmandos de seus superiores em garantia de sua prpria integridade. Trata-se, mais ou menos, de um estado de necessidade, porm, sob violncia injustificada, visto que nenhuma forma de violncia justificvel, a no ser para a proteo da vida e da integridade humana. Some-se a isso o fato de que a polcia brasileira sempre foi indisciplinada e uma das caractersticas principais o despreparo do corpo policial.

No regime democrtico, a aparente justificativa para a prtica de atos de violncia policial em prol da prpria integridade no existe. O poder emana do povo (ou pelo menos se espera que emane), a quem cabe escolher seus representantes e em nome de quem este poder ser exercido. polcia no existe mais o sentimento intrnseco de cumprir ordens que criem atos violentos pelo simples fato de se estar subordinado a um poder superior, inexistindo tambm o receio de punio pela violncia no cumprida. Existe to somente o dever legal de manter a ordem e a disciplina no meio social, sendo a violncia argida apenas em casos extremos de hostilidade, e no pelo fato do cidado usufruir seu direito de liberdade de ir e vir, de expresso etc.

Um ponto essencial que deve ser evidenciado quanto violncia o fato de que a maioria de suas vtimas so geralmente os membros das camadas mais pobres e menos abastadas da populao. Estes segmentos da sociedade so considerados classes perigosas por acreditar-se serem um ameaa s classes mais abastadas, ocorrendo um processo de seleo onde todo criminoso deve ter caractersticas como pobreza, desnutrio, inteligncia limitada, preferivelmente negro ou mulato etc. Tal viso distorcida que impera no meio social, somada indisciplina de uma polcia que sempre bateu, espancou e torturou, que repele a violncia com mais violncia, e que forma Esquadres da Morte e grupos de extermnio, demonstra a total ignorncia dos princpios bsicos dos direitos humanos, cujas garantais fundamentais foram includas na Carta Magna que completa dez anos. Entretanto, necessrio mais que a promulgao dos princpios constitucionais, mas vontade poltica do governo brasileiro para fazer viger as normas constitucionais.

Tanta violncia policial que vem tona revela um dado importante: antigos e pavorosos defeitos da polcia ainda existem, mesmo depois de sepultada a ditadura militar. Existe extorso, tortura, assassinato, seqestro, omisso, mentira, insubordinao e at envolvimento com trfico de drogas. necessrio, antes de tudo, civiliz-la, reeducando os policiais envolvidos em atos de violncia e reformulando o treinamento dos policiais, da fiscalizao de suas aes e no julgamento destes.

Segundo estudos realizados pelo professor Paul Chavigny, da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, somente no ano de 1992, a polcia de So Paulo matou aproximadamente 1470 pessoas, quase quatro vezes mais que a ditadura militar em 15 anos, sendo a Polcia Militar de So Paulo considerada como a mais violenta do mundo. A imagem negativa da PM brasileira ganha o mundo como uma violncia institucionalizada. No bastassem os fatos ocorridos em 1997, na Favela Naval, em Diadema, So Paulo, e documentados em vdeo, dois massacres comprovam a falncia da polcia brasileira: o primeiro foi a chacina do 42 DP, onde 18 presos morreram asfixiados, em fevereiro de 1989, trancafiados numa cela sem ar na delegacia do Parque So Lucas, Zona Leste de So Paulo. Cerca de 50 presos foram empurrados ela tropa de choque da PM para o interior da cela e trancados. Uma hora mais tarde, quando a porta foi aberta, 18 deles estavam mortos. O segundo massacre ocorreu na Casa de Deteno de So Paulo, quando no dia 02 de outubro de 1992, PMs tentaram conter uma rebelio no Pavilho n 09 com tiros de metralhadoras e terminou com o saldo de 111 mortos.

Evidentemente que no nos cabe julgar a polcia paulista, pois os casos acima so exemplos de um problema que existe em todo o pas, s que nem sempre encontra espao nos meios de comunicao: a indisciplina policial. Esta indisciplina um reflexo de toda a sociedade que a polcia tenta proteger, pois o pensamento dominante entre a maioria da populao de que todo bandido deve morrer. Alm disso, nesta indisciplina encontra-se, ainda, a prtica rotineira da tortura em delegacias e o fator da impunidade, j que existe o conflito entre a justia civil e a militar, alm da postura condescendente do governo em certos casos.

Presdios e direitos humanos

Os direitos individuais fundamentais garantidos pela Constituio Federal visam resguardar um mnimo de dignidade do indivduo. Depois da vida, o mais importante bem humano a sua liberdade. A seguir, advm o direito dignidade. Infelizmente, dignidade no algo que v com freqncia dentro de nossos presdios. Muitas prises no tem mais a oferecer aos seus detentos do que condies sub-humanas, o que constitui a violao dos Direitos Humanos. A realidade nua e crua que os presidirios, em nosso pas, so maltratados, humilhados e desrespeitados em sua dignidade, contribuindo para que a esperana de seu reajuste desaparea justamente por causa do ambiente hostil que se lhe apresenta quando cruza os portes da penitenciria. Tanto a qualidade de vida desumana quanto a prtica de medidas como a tortura, por exemplo, dentro dos presdios, so fatores que impedem o ser humano de cumprir o seu papel de sujeito de direitos e deveres. Na verdade, diante da prtica, o preso brasileiro possui mais deveres do que direitos. A realidade cercando a vida dos detentos no mudar da noite para o dia. Esta mudana requer vontade poltica, tcnica e financeira necessrias, visando objetivos a curto, mdio e longo prazo, mas em carter de absoluta urgncia. Se o ser humano a essncia de todas as instituies, o aperfeioamento do aparelho penitencirio exige uma abordagem humanista, que vise desenvolver e dignificar o presidirio.

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Romualdo Flvio Dropa escritor e pesquisador nas reas de direito administrativo e administrao pblica (princpios ticos), direitos humanos e filosofia do direito.

Fonte: http://www.nossacasa.net/recomeco/0014.htm