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Direito do Trabalho 27 QUESTÕES 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO 1.1. PARTE HISTÓRICA 01. (MPT – Procurador do Trabalho/2009) Leia e analise os itens abaixo: I. A Constituição outorgada em 1937, conhecida como Polaca porque baseada na Constituição Polonesa, continha preceitos a serem observados pela legis- lação do trabalho, fixando, por exemplo, que: nas empresas de trabalho contínuo, a cessação das rela- ções de trabalho, a que o trabalhador não haja dado motivo, e quando a lei não lhe garanta, a estabili- dade no emprego, cria-lhe o direito a uma indeniza- ção proporcional aos anos de serviço; nas empresas de trabalho contínuo, a mudança de proprietário não rescinde o contrato de trabalho, conservando os empregados, para com o novo empregador, os direitos que tinham em relação ao antigo. II. A transformação mundial ocorrida após 1945 teve desdobramentos no Brasil, dentre os quais a pro- mulgação da Constituição de 1946 que, no Título referente à Ordem Econômica e Social, manteve condições anteriores, tais como: o salário-mínimo; a jornada diária de oito horas, exceto em casos e condições previstos em lei; a proibição do trabalho a menores de 14 anos, de trabalho noturno a meno- res de 16 anos e, mulheres e menores de 18 anos em indústrias insalubres, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exce- ções admitidas pelo Juiz competente; a liberdade de associação profissional. III. A transformação mundial ocorrida após 1945 teve desdobramentos no Brasil, dentre os quais a pro- mulgação da Constituição de 1946 que, no Título referente à Ordem Econômica e Social, trouxe ampliação das garantias e direitos dos trabalha- dores, destacando-se: a participação obrigatória e direta do empregado nos lucros da empresa nos termos da lei; a fixação em lei de porcentagens de empregados brasileiros em serviços públicos de Direito do Trabalho Henrique Correia concessão e nos estabelecimentos de determina- dos ramos do comércio e indústria; a assistência aos desempregados; o reconhecimento das con- venções coletivas de trabalho e do direito de greve, com exercício regulado em lei. Marque a alternativa CORRETA: a) apenas os itens I e III são corretos; b) apenas os itens I e II são corretos; c) todos os itens são corretos; d) apenas os itens II e III são corretos; e) não respondida. | COMENTÁRIOS| . Nota do autor: Esta questão exige do candidato um amplo conhecimento da história do Direito do Traba- lho, principalmente da sua origem e evolução nas Consti- tuições brasileiras. Alternativa correta: “c”. Todas as assertivas estão corretas. Assertiva I. Correta. A Constituição Federal de 1934 foi responsável em constitucionalizar o Direito do Tra- balho no Brasil, trazendo maior liberdade e autonomia sindical. Logo após a Constituição de 1934, inspirada nos ideais ditatoriais de Getúlio Vargas, foi instituída a Cons- tituição de 1937 que instaurou o corporativismo, ou seja, o fortalecimento do Estado, sendo que um dos principais responsáveis por esse fortalecimento é o trabalho conside- rado como um dever social. Desta forma, o trabalho deve ser um direito garantido a todos, sendo dever do Estado proteger este direito, possibilitando condições favoráveis e meios de defesa ao trabalho. Em virtude deste objetivo corporativista, além de vários outros direitos, a Constitui- ção de 1937 buscou dar maior efetividade ao princípio do pleno emprego que mais do que possuir um emprego é garantir sua manutenção com boas condições e remune- ração correspondente e justa. Assertivas II e III. Corretas. A transformação mundial ocorrida após 1945, com relação ao direito do trabalho, gerou o aprofundamento do processo de constituciona- lização do Direito do Trabalho e hegemonia do chamado Estado de Bem-Estar Social, normatizando as normas jus- trabalhistas, bem como diretrizes gerais de valorização do

Direito do Trabalho 27 Direito do Trabalho · Direito do Trabalho 27 ... do trabalhador e de sua família; II – proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por

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Direito do Trabalho 27

�QUESTÕES

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO

1.1. PARTE HISTÓRICA

01. (MPT – Procurador do Trabalho/2009) Leia e analise os itens abaixo:

I. A Constituição outorgada em 1937, conhecida como Polaca porque baseada na Constituição Polonesa, continha preceitos a serem observados pela legis-lação do trabalho, fixando, por exemplo, que: nas empresas de trabalho contínuo, a cessação das rela-ções de trabalho, a que o trabalhador não haja dado motivo, e quando a lei não lhe garanta, a estabili-dade no emprego, cria-lhe o direito a uma indeniza-ção proporcional aos anos de serviço; nas empresas de trabalho contínuo, a mudança de proprietário não rescinde o contrato de trabalho, conservando os empregados, para com o novo empregador, os direitos que tinham em relação ao antigo.

II. A transformação mundial ocorrida após  1945 teve desdobramentos no Brasil, dentre os quais a pro-mulgação da Constituição de  1946 que, no Título referente à Ordem Econômica e Social, manteve condições anteriores, tais como: o salário-mínimo; a jornada diária de oito horas, exceto em casos e condições previstos em lei; a proibição do trabalho a menores de 14 anos, de trabalho noturno a meno-res de  16 anos e, mulheres e menores de  18 anos em indústrias insalubres, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exce-ções admitidas pelo Juiz competente; a liberdade de associação profissional.

III. A transformação mundial ocorrida após  1945 teve desdobramentos no Brasil, dentre os quais a pro-mulgação da Constituição de  1946 que, no Título referente à Ordem Econômica e Social, trouxe ampliação das garantias e direitos dos trabalha-dores, destacando-se: a participação obrigatória e direta do empregado nos lucros da empresa nos termos da lei; a fixação em lei de porcentagens de empregados brasileiros em serviços públicos de

Direito do Trabalho

Henrique Correia

concessão e nos estabelecimentos de determina-dos ramos do comércio e indústria; a assistência aos desempregados; o reconhecimento das con-venções coletivas de trabalho e do direito de greve, com exercício regulado em lei.

Marque a alternativa CORRETA:

a) apenas os itens I e III são corretos;

b) apenas os itens I e II são corretos;

c) todos os itens são corretos;

d) apenas os itens II e III são corretos;

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: Esta questão exige do candidato um amplo conhecimento da história do Direito do Traba-lho, principalmente da sua origem e evolução nas Consti-tuições brasileiras.

Alternativa correta: “c”. Todas as assertivas estão corretas.

Assertiva I. Correta. A Constituição Federal de 1934 foi responsável em constitucionalizar o Direito do Tra-balho no Brasil, trazendo maior liberdade e autonomia sindical. Logo após a Constituição de 1934, inspirada nos ideais ditatoriais de Getúlio Vargas, foi instituída a Cons-tituição de 1937 que instaurou o corporativismo, ou seja, o fortalecimento do Estado, sendo que um dos principais responsáveis por esse fortalecimento é o trabalho conside-rado como um dever social. Desta forma, o trabalho deve ser um direito garantido a todos, sendo dever do Estado proteger este direito, possibilitando condições favoráveis e meios de defesa ao trabalho. Em virtude deste objetivo corporativista, além de vários outros direitos, a Constitui-ção de 1937 buscou dar maior efetividade ao princípio do pleno emprego que mais do que possuir um emprego é garantir sua manutenção com boas condições e remune-ração correspondente e justa.

Assertivas II e III. Corretas. A transformação mundial ocorrida após  1945, com relação ao direito do trabalho, gerou o aprofundamento do processo de constituciona-lização do Direito do Trabalho e hegemonia do chamado Estado de Bem-Estar Social, normatizando as normas jus-trabalhistas, bem como diretrizes gerais de valorização do

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trabalho e do ser que labora para outrem. Nesse contexto, nasceu a Constituição de 1946, que tratou da ordem eco-nômica e social, consagrando a livre iniciativa, bem como a valorização do trabalho humano, sendo que ambas devem prevalecer em grau de equilíbrio, pois a eficácia de uma depende da outra. Esta Constituição também consagrou o principio do pleno emprego e dispõe que o trabalho deve ser uma obrigação social, pois a Constituição consagrou, mais uma vez, o trabalho como meio de desenvolvimento do país. Em suma, a CF de  1946 aumentou consideravel-mente os direitos trabalhistas em relação às Constituições de  1934 e  1937. Nesse sentido, estabelecia o art.  157 da revogada CF/1946:

Art. 157 – A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos traba-lhadores:

I – salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família;

II – proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;

III – salário do trabalho noturno superior ao do diurno;

IV – participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, nos termos e pela forma que a lei determinar;

V – duração diária do trabalho não excedente a oito horas, exceto nos casos e condições previstos em lei;

VI – repouso semanal remunerado, preferentemente aos domingos e, no limite das exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local;

VII – férias anuais remuneradas;

VIII – higiene e segurança do trabalho;

IX – proibição de trabalho a menores de quatorze anos; em indústrias insalubres, a mulheres e a menores, de dezoito anos; e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo Juiz competente;

X – direito da gestante a descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do emprego nem do salário;

XI – fixação das percentagens de empregados bra-sileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos estabelecimentos de determinados ramos do comércio e da indústria;

XII – estabilidade, na empresa ou na exploração rural, e indenização ao trabalhador despedido, nos casos e nas condições que a lei estatuir;

XIII – reconhecimento das convenções coletivas de trabalho;

XIV – assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à gestante;

XV – assistência aos desempregados;

XVI – previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da mater-nidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;

XVII – obrigatoriedade da instituição do seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho.

02. (MPT – Procurador do Trabalho/2009) Leia e analise os itens abaixo:

I. A Emenda Constitucional n°  1, de  17 de outubro de 1969, promulgada pelos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar, trouxe modificações inovadoras à Constituição de 1967 em relação aos direitos dos trabalhadores, dentre as quais estão: salário-família aos seus dependentes; estabilidade, com indenização ao trabalhador des-pedido ou fundo de garantia equivalente; aposen-tadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral.

II. Do ponto de vista formal é possível afirmar que a Constituição da República de  1988 deslocou os direitos dos trabalhadores do tradicional capítulo “Ordem Econômica e Social”, inseridos nas Consti-tuições de 1934, 1937, 1946 e 1967, para uma posi-ção inovadora e destacada nos “Direitos Sociais”, elegendo o trabalho como direito social e estabe-lecendo os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais.

III. A Constituição da República de  1988 em capítulo reservado à família, criança, adolescente e idoso estabelece que é dever da família, da sociedade e do Estado amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade. O Estatuto do Idoso tem comando semelhante, obrigando a famí-lia, a comunidade, a sociedade e o Poder Público a assegurar à pessoa idosa a efetivação também do direito ao trabalho.

Marque a alternativa CORRETA:

a) Todos os itens são corretos;

b) Apenas os itens I e II são corretos;

c) Apenas os itens I e III são corretos;

d) Apenas os itens II e III são corretos;

e) Não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: A questão aborda o tema dos direi-tos trabalhistas consagrados nas constituições federais brasileiras. Recomenda-se a leitura da doutrina específica sobre o tema e breve leitura dos textos das constituições brasileiras.

Alternativa correta: “d”. Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Assertiva I. Errada. O salário-família aos dependen-tes, a estabilidade, com indenização ao trabalhador despe-dido ou fundo de garantia equivalente, e a aposentadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral, já estavam presentes na Constituição de 1967. A Emenda Constitucional nº 1 de 1969 (considerada por mui-tos constitucionalistas uma nova Constituição) não trouxe significativas mudanças com relação ao Direito do Traba-lho. Com relação às associações profissionais e sindicais não fez nenhuma alteração (art. 166). No artigo 165, incisos XIV e XXI reconheceu as convenções coletivas de trabalho e o direito de greve, salvo nos serviços públicos e ativida-

Direito do Trabalho 79

Alternativa “a”. O piquete é um conduta que apro-xima-se da figura da greve e envolve-se com ela, sendo válido no ordenamento jurídico com poderes limitados. Prevê o art.  6º, inciso I da Lei nº  7.783/89 que são lícitos meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os traba-lhadores a aderirem a greve. Assim, os piquetes podem ser organizados pelos grevistas.

Alternativa “c”. A grave amparada tanto pela Lei de Grave, Lei nº 7.783/89, em seu art. 2º quanto pela própria CF/88 em seu art. 9º é aquela que suspende coletivamente a prestação pessoal de serviços ao empregador, ou seja, os trabalhadores omitem coletivamente o cumprimento das obrigações contratuais com seus empregadores.

Alternativa “d”. Se a adesão de trabalhador à greve se der de maneira simples e pacífica não será conside-rada como falta grave, mesmo que a greve seja conside-rada inválida posteriormente, conforme preceitua Súmula nº 316 do STF.

82. (MPT – Procurador do Trabalho/2007) Leia com atenção:

I. Dentre os serviços ou atividades essenciais estão incluídos o transporte coletivo, serviços funerários, serviços de bancos, controle de tráfego aéreo, tele-comunicações, captação e tratamento de esgoto e lixo;

II. Dentre as correntes que procuram elucidar a titu-laridade da greve estão aquelas que a consideram como um direito do sindicato ou um direito coletivo dos trabalhadores.

III. Segundo a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, os interesses que podem ser defendidos com o exercício do direito de greve são os profissio-nais.Assinale a alternativa CORRETA:

a) Todas as assertivas estão corretas;b) Apenas as assertivas I e II estão corretas;c) Apenas as assertivas II e III estão corretas;d) Apenas as assertivas I e III estão corretas;e) Não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: A questão aborda o tema da greve, para resolvê-la, o candidato deve ter decorado o art. 10 da Lei nº 7.783/89, pois conseguirá de imediato a assertiva I. As outras duas assertivas abrangem o cunho mais doutrinário do direito do trabalho.

Alternativa correta: “c”. Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Assertiva I. Todos os serviços descritos nesta asser-tiva são essenciais, com exceção dos serviços bancários, pois no art. 10 da Lei nº 7.783/89 prevê como essencial os serviços de compensação bancária e não qualquer serviço bancário.

Assertiva II. Predominantemente, existem duas cor-rentes acerca da titularidade do direito de greve, uma que defende ser um direito individual, exercido coletivamente e a outra que a greve por ser um direito coletivo dos tra-

balhadores pode ser também titular a entidade sindical, conforme preceitua o art. 4º da Lei nº 7.783/89.

Assertiva III. Em regra, os interesses serem defendi-dos como objeto da greve são aqueles típicos ao contrato de trabalho, ou seja, de cunho econômico-profissional ou contratual trabalhista.

�DICAS1. PRINCÍPIOS• Princípio da norma mais favorável: entre duas ou

mais normas possíveis de ser aplicadas, utiliza-se a mais favorável em relação ao trabalhador. A aplica-ção de uma norma leva a renúncia da outra. Nesse sentido:

Súmula nº  202 do TST. Existindo, ao mesmo tempo, gratificação por tempo de serviço outorgada pelo empregador e outra da mesma natureza pre-vista em acordo coletivo, convenção coletiva ou sen-tença normativa, o empregado tem direito a receber, exclusivamente, a que lhe seja mais benéfica.

• Princípio da condição mais benéfica: esse princípio assegura ao empregado as vantagens conquistadas durante o contrato de trabalho, conforme previsto no art. 468 da CLT. Diante disso, essas conquistas não poderão ser alteradas para pior. Nesse sentido:

Súmula nº  288 do TST. A complementação dos proventos da aposentadoria é regida pelas normas em vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais favoráveis ao beneficiário do direito. (grifos acrescidos)

Súmula nº 51 do TST. I – As cláusulas regulamen-tares, que revoguem ou alterem vantagens deferi-das anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regu-lamento. II – Havendo a coexistência de dois regu-lamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro.

• Princípio da primazia da realidade: a realidade se sobrepõe às disposições contratuais escritas. Deve--se, portanto, verificar se o conteúdo do documento coincide com os fatos. Exemplo: recibo assinado em branco no ato da contratação, posteriormente apresentado em juízo como prova de pagamento das verbas trabalhistas.

2. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO• Fontes materiais: são fatores ou acontecimentos

sociais, políticos, econômicos e filosóficos que inspi-ram o legislador (deputados e senadores) na elabo-ração das leis. Esses movimentos influenciam direta-mente o surgimento ou a modificação das leis.

• Fontes formais: são a exteriorização das normas jurídicas, ou seja, as fontes formais são normas de observância obrigatória pela sociedade. Todos devem cumpri-las, pois são imperativas. Exemplo: convenção, acordo coletivo e leis.

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• Há dois tipos de fontes formais:  1. Fontes formais autônomas: são discutidas e confeccionadas pelas partes diretamente interessadas pela norma. Há, portanto, a vontade expressa das partes em criar essas normas. Exemplo: uma determinada negocia-ção coletiva entre sindicato e empresa resulta em um acordo coletivo.  2. Fontes formais heterônomas: nas fontes heterônomas não há participação direta dos destinatários, ou seja, essas fontes possuem ori-gem estatal (Legislativo, Executivo ou Judiciário).

3. RENÚNCIA E TRANSAÇÃO• Em razão do Princípio da Irrenunciabilidade e da

Indisponibilidade que vigora no direito do traba-lho, há restrição da autonomia da vontade, isto é, limita-se a possibilidade de negociação de direitos trabalhistas entre empregado e empregador. Res-salta-se que nesse tópico não será tratada a nego-ciação coletiva (com participação do sindicato), pois nela há ampla possibilidade de transação, inclusive redução de direitos dos trabalhadores.

• Renúncia é um ato unilateral que recai sobre direito certo e atual, por exemplo, o empregado conquistou o direito de férias após um ano de tra-balho e abriria mão (renunciaria) desse direito já conquistado, o que não é válido no direito do traba-lho (conforme previsto no art. 9º da CLT).

• Em razão do Princípio da Irrenunciabilidade são raríssimos os casos de renúncia de direito na área trabalhista. Um exemplo de renúncia, prevista em lei, é o pedido de transferência para outra cidade, feito pelo dirigente sindical. Nesse caso, como ele foi eleito para desempenhar a função naquela localidade, perderia (renunciaria) o direito à esta-bilidade, conforme art.  543, §  1º, da CLT11. Outro exemplo de renúncia, citado por alguns autores, ocorre na audiência judicial, na presença do juiz do trabalho. Nesse caso, diante das explicações do juiz, o empregado poderia renunciar a direitos já con-quistados12. Por fim, a jurisprudência do TST prevê a possibilidade de o trabalhador renunciar ao aviso--prévio, se comprovar que já possui outro emprego, conforme transcrito a seguir:

Súmula nº 276 do TST: O direito ao aviso-prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego.

• A transação, por sua vez, recai sobre direito duvi-doso e requer um ato bilateral das partes, conces-sões recíprocas. Na transação há direitos disponí-

11 Art. 543, § 1º, da CLT: “O empregado perderá o mandato se a transferência for por ele solicitada ou voluntariamente aceita”.

12 “Poderá, entretanto, o trabalhador renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo for-çado a fazê-lo. Estando o trabalhador ainda na empresa é que não se poderá falar em renúncia a direitos trabalhistas, pois poderia dar ensejo a fraudes.” MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 69.

veis, cujos interesses são meramente particulares. A única possibilidade de transação individual extra-judicial, prevista em lei, está no art. 625-E da CLT, que trata da Comissão de Conciliação Prévia. Nesse caso, é possível que o trabalhador, individualmente, transacione diretamente com seu empregador suas verbas trabalhistas. Fora essa hipótese da Comissão de Conciliação Prévia, nem mesmo com a presença de um representante sindical, a transação indivi-dual terá validade para o direito do trabalho. Impor-tante ressaltar que não cabe transação de direitos trabalhistas individuais em Câmaras de Mediação e Arbitragem. A arbitragem ocorre quando as partes elegem um árbitro com poder de decisão, sendo permitida apenas para dissídios coletivos, con-forme previsto no art. 114, § 1º, da CF/88.

• O Programa de Demissão Voluntária – PDV – ou programa de incentivo à demissão voluntária tam-bém é tratado, por alguns autores, como hipótese de transação individual de direitos trabalhistas. O PDV tem por objetivo conceder uma vantagem pecuniária ao empregado que se desligar do tra-balho voluntariamente. É utilizado para reduzir os quadros da empresa e também para colocar fim ao contrato de trabalho. Importante destacar, entre-tanto, que o TST tem posicionamento no sentido de que a indenização paga no PDV não pode substituir as verbas trabalhistas decorrentes do contrato de trabalho. Aliás, o empregado que adere ao PDV não concede quitação geral do contrato13, podendo, no futuro, discutir parcelas que não foram devida-mente quitadas. A seguir será transcrita a jurispru-dência do TST:

OJ nº 270 da SDI-I do TST. A transação extrajudi-cial que importa rescisão do contrato de trabalho ante a adesão do empregado a plano de demissão voluntária implica quitação exclusivamente das parcelas e valores constantes do recibo.

OJ nº 356 da SDI-I do TST. Os créditos tipicamente trabalhistas reconhecidos em juízo não são suscetí-veis de compensação com a indenização paga em decorrência de adesão do trabalhador a Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PDV).

• Posicionamento doutrinário sobre transação. O posicionamento doutrinário sobre a possibilidade de transação. De acordo com o professor Maurício Godinho Delgado, para as normas de indisponi-

13 Nesse mesmo sentido, Súmula nº 330 do TST: “QUITAÇÃO. VALIDADE. A quitação passada pelo empregado, com assis-tência de entidade sindical de sua categoria, ao emprega-dor, com observância dos requisitos exigidos nos parágra-fos do art.  477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas. I – A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e, conse-quentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse recibo. II – Quanto a direitos que deve-riam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expres-samente consignado no recibo de quitação”.

Direito do Trabalho 111

como locais de amamentação, posicionamento das máquinas na empresa e uso do telefone e e-mail.

• Prazo de vigência. O prazo de vigência dos acor-dos e convenções não poderá ser superior a 2 anos, de acordo com o art.  614, §  3º, da CLT. O objetivo desse prazo é fomentar negociações periódicas, adequando os instrumentos à realidade econô-mica e regional. Recentemente, entretanto, houve mudança do posicionamento do TST. O prazo máximo de  2 anos deve ser interpretado, junta-mente com a teoria da aderência limitada por revogação, ou seja, enquanto não houver um novo acordo ou convenção que modifique a situação do instrumento ajustado, este continua em vigor, mesmo após terminado o seu prazo de vigência de 2 anos. Nesse sentido, prevê o novo posiciona-mento do TST:

Súmula nº  277 do TST. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas inte-gram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.

• Greve. Greve consiste na paralisação coletiva, pacífica e temporária do trabalho com o objetivo de defender interesses profissionais. É uma arma poderosa de reivindicação dos direitos trabalhistas, sendo classificada também como forma de solução de conflitos, pois é um meio da pressão exercida sobre o empregador, para atender aos pedidos dos trabalhadores e, consequentemente, colocar fim à discussão. A Lei nº 7.783/89 regulamenta o exercício de direito de greve.

• Greve abusiva. A greve poderá ser classificada como abusiva, contrária à legislação, ou não abu-siva, exercida com razoabilidade e de acordo com a legislação. A greve abusiva não atende às neces-sidades básicas da população. Exemplo é a parali-sação de  100% dos atendimentos do hospital ou, ainda, a falta de prévia comunicação à sociedade e ao empregador sobre o início da greve. Aliás, se a greve for declarada abusiva pela Justiça do Tra-balho, não serão reconhecidos os direitos e vanta-gens pleiteados pelo movimento grevista. Também será considerada abusiva se iniciado o movimento grevista sem tentativa prévia de negociação. Res-salta-se que também será abusiva a manutenção da greve após a celebração de acordo, convenção coletiva ou decisão normativa. Com a assinatura do instrumento coletivo ou da decisão da Justiça do Trabalho é necessário que os grevistas coloquem fim à paralisação, conforme previsto no art.  14 da Lei de Greve.

De acordo com o posicionamento do TST:

OJ nº 38 da SDC. É abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade, se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, na forma prevista na Lei nº 7.783/89.

OJ nº 10 da SDC. É incompatível com a declaração de abusividade de movimento grevista o estabeleci-mento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partícipes, que assumiram os riscos inerentes à utili-zação do instrumento de pressão máximo.

OJ nº  11 da SDC/TST. É abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe consti-tui o objeto.

GREVE

Serviços das atividades essenciais

previstas em lei (art. 10 da Lei de Greve):

– abastecimento de água, energia e gás;

– assistência médica;

– distribuição de alimentos e medica-mentos;

– funerários;

– transporte coletivo;

– esgoto e lixo;

– telecomunicações;

– substâncias radioativas;

– tráfego aéreo;

– compensação bancária;

– processamentos de dados ligados a serviços essenciais.

Atendimento básico

será fixado em comum acordo entre sindi-cato, empresa e trabalhador.

Requisitos para a greve:

a) convocação de assembleia geral;

b) tentativa de solução amigável;

c) comunicação prévia (72h serviços essenciais e 48h para os demais).

� SÚMULAS APLICÁVEIS1. REGULAMENTO DE EMPRESA (NORMA RE-GULAMENTAR)• Súmula nº 51 do TST. Norma regulamentar. Vanta-

gens e opção pelo novo regulamento. Art. 468 da CLT. I – As cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revo-gação ou alteração do regulamento. II – Havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurí-dico de renúncia às regras do sistema do outro.

• Súmula nº  202 do TST. Gratificação por tempo de serviço. Compensação. Existindo, ao mesmo tempo, gratificação por tempo de serviço outor-gada pelo empregador e outra da mesma natureza prevista em acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa, o empregado tem direito a receber, exclusivamente, a que lhe seja mais bené-fica.

• Súmula nº 77 do TST. Punição. Nula é a punição de empregado se não precedida de inquérito ou sin-dicância internos a que se obrigou a empresa por norma regulamentar.

112 Henrique Correia

• Súmula nº 186 do TST. Licença-prêmio. Conversão em pecúnia. Regulamento da empresa. A licença--prêmio, na vigência do contrato de trabalho, não pode ser convertida em pecúnia, salvo se expres-samente admitida a conversão no regulamento da empresa.

1.1. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA

• Súmula nº 288 do TST. Complementação dos pro-ventos da aposentadoria. A complementação dos proventos da aposentadoria é regida pelas nor-mas em vigor na data da admissão do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais favoráveis ao beneficiário do direito.

• Súmula nº  87 do TST. Previdência privada. Se o empregado, ou seu beneficiário, já recebeu da insti-tuição previdenciária privada, criada pela empresa, vantagem equivalente, é cabível a dedução de seu valor do benefício a que faz jus por norma regula-mentar anterior.

• Súmula nº  92 do TST. Aposentadoria. O direito à complementação de aposentadoria, criado pela empresa, com requisitos próprios, não se altera pela instituição de benefício previdenciário por órgão oficial.

• Súmula nº 97 do TST. Aposentadoria. Complemen-tação. Instituída complementação de aposentado-ria por ato da empresa, expressamente dependente de regulamentação, as condições desta devem ser observadas como parte integrante da norma.

• OJ nº  276 da SDI – I do TST. Ação declaratória. Complementação de aposentadoria. É incabí-vel ação declaratória visando a declarar direito à complementação de aposentadoria, se ainda não atendidos os requisitos necessários à aquisição do direito, seja por via regulamentar, ou por acordo coletivo.

2. PROGRAMA DE INCENTIVO À DEMISSÃO VO-LUNTÁRIA

• OJ nº  270 da SDI – I do TST. Programa de incen-tivo à demissão voluntária. Transação extrajudicial. Parcelas oriundas do extinto contrato de trabalho. Efeitos. A transação extrajudicial que importa res-cisão do contrato de trabalho ante a adesão do empregado a plano de demissão voluntária implica quitação exclusivamente das parcelas e valores constantes do recibo.

• OJ nº 356 da SDI – I do TST. Programa de incentivo à demissão voluntária (PDV). Créditos trabalhistas reconhecidos em juízo. Compensação. Impossibili-dade. Os créditos tipicamente trabalhistas reconhe-cidos em juízo não são suscetíveis de compensação com a indenização paga em decorrência de adesão do trabalhador a Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PDV).

• OJ nº  207 da SDI – I do TST. Programa de incen-tivo à demissão voluntária. Indenização. Imposto de renda. Não-incidência. A indenização paga em vir-tude de adesão a programa de incentivo à demissão voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda.

3. EMPREGADO

3.1. DIRETOR ELEITO• Súmula nº  269 do TST. Diretor eleito. Cômputo

do período como tempo de serviço. O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respec-tivo contrato de trabalho suspenso, não se compu-tando o tempo de serviço desse período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à rela-ção de emprego.

3.2. BANCÁRIO• Súmula nº 287 do TST. Jornada de trabalho. Gerente

bancário. A jornada de trabalho do empregado de banco gerente de agência é regida pelo art. 224, § 2º, da CLT. Quanto ao gerente-geral de agência bancá-ria, presume-se o exercício de encargo de gestão, aplicando-se-lhe o art. 62 da CLT.

• Súmula nº  102 do TST. Bancário. Cargo de con-fiança. I – A configuração, ou não, do exercício da função de confiança a que se refere o art. 224, § 2º, da CLT, dependente da prova das reais atribuições do empregado, é insuscetível de exame mediante recurso de revista ou de embargos.. II – O bancá-rio que exerce a função a que se refere o §  2º do art. 224 da CLT e recebe gratificação não inferior a um terço de seu salário já tem remuneradas as duas horas extraordinárias excedentes de seis.. III – Ao bancário exercente de cargo de confiança previsto no artigo  224, §  2º, da CLT são devidas as  7ª e  8ª horas, como extras, no período em que se verificar o pagamento a menor da gratificação de 1/3.. IV – O bancário sujeito à regra do art. 224, § 2º, da CLT cumpre jornada de trabalho de 8 (oito) horas, sendo extraordinárias as trabalhadas além da oitava.. V – O advogado empregado de banco, pelo simples exer-cício da advocacia, não exerce cargo de confiança, não se enquadrando, portanto, na hipótese do § 2º do art. 224 da CLT.. VI – O caixa bancário, ainda que caixa executivo, não exerce cargo de confiança. Se perceber gratificação igual ou superior a um terço do salário do posto efetivo, essa remunera apenas a maior responsabilidade do cargo e não as duas horas extraordinárias além da sexta.. VII – O bancá-rio exercente de função de confiança, que percebe a gratificação não inferior ao terço legal, ainda que norma coletiva contemple percentual superior, não tem direito às sétima e oitava horas como extras, mas tão somente às diferenças de gratificação de função, se postuladas.

• Súmula nº  109 do TST. Gratificação de função. O bancário não enquadrado no § 2º do art. 224 da CLT, que receba gratificação de função, não pode ter o

138 Henrique Correia

parte, no que tange aos profissionais da informá-tica, o trabalho que desempenham sofre alterações, de acordo com a atividade econômica exercida pelo empregador.

23.2. NEGOCIAÇÃO COLETIVA• OJ nº  5 da SDC do TST. Dissídio coletivo. Pessoa

juridical de direito público. Possibilidade juridical. Cláusula de natureza social. Em face de pessoa jurí-dica de direito público que mantenha empregados, cabe dissídio coletivo exclusivamente para apre-ciação de cláusulas de natureza social. Inteligência da Convenção nº 151 da Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo Decreto Legislativo nº 206/2010.

• OJ nº  2 da SDC do TST – Acordo homologado. Extensão a partes não subscreventes. Inviabili-dade. É inviável aplicar condições constantes de acordo homologado nos autos de dissídio coletivo, extensivamente, às partes que não o subscreveram, exceto se observado o procedimento previsto no art. 868 e seguintes, da CLT.

• OJ nº 18 da SDC do TST – Descontos autorizados no salário pelo trabalhador. Limitação máxima de 70% do salário base. Os descontos efetuados com base em cláusula de acordo firmado entre as partes não podem ser superiores a 70% do salário base perce-bido pelo empregado, pois deve-se assegurar um mínimo de salário em espécie ao trabalhador.

• OJ nº  20 da SDC do TST – Empregados sindicali-zados. Admissão preferencial. Condição violadora do art. 8º, V, da CF88. Viola o art. 8º, V, da CF/1988 cláusula de instrumento normativo que estabelece a preferência, na contratação de mão de obra, do trabalhador sindicalizado sobre os demais.

• OJ nº  23 da SDC do TST – Legitimidade “ad cau-sam”. Sindicato representativo de segmento pro-fissional ou patronal. Impossibilidade. A represen-tação sindical abrange toda a categoria, não com-portando separação fundada na maior ou menor dimensão de cada ramo ou empresa.

• OJ nº 25 da SDC do TST – Salário normativo. Con-trato de experiência. Limitação. Tempo de serviço. Possibilidade. Não fere o princípio da isonomia salarial (art. 7º, XXX, da CF/88) a previsão de salário normativo tendo em vista o fator tempo de serviço.

• OJ nº 26 da SDC do TST – Salário normativo. Menor empregado. Art.  7º, XXX, da CF/88. Violação. Os empregados menores não podem ser discrimina-dos em cláusula que fixa salário mínimo profissional para a categoria.

• OJ nº 30 da SDC do TST – Estabilidade da gestante. Renúncia ou transação de direitos constitucionais. Impossibilidade. Nos termos do art.  10, II, “b”, do ADCT, a proteção à maternidade foi erigida à hie-rarquia constitucional, pois retirou do âmbito do direito potestativo do empregador a possibilidade de despedir arbitrariamente a empregada em estado gravídico. Portanto, a teor do artigo  9º, da

CLT, torna-se nula de pleno direito a cláusula que estabelece a possibilidade de renúncia ou transa-ção, pela gestante, das garantias referentes à manu-tenção do emprego e salário.

• OJ nº 31 da SDC do TST – Estabilidade do aciden-tado. Acordo homologado. Prevalência. Impossibi-lidade. Violação do art.  118 da lei nº  8.213/91. Não é possível a prevalência de acordo sobre legislação vigente, quando ele é menos benéfico do que a pró-pria lei, porquanto o caráter imperativo dessa última restringe o campo de atuação da vontade das partes.

23.3. GREVE• OJ nº 10 da SDC do TST – Greve abusiva não gera

efeitos. É incompatível com a declaração de abusivi-dade de movimento grevista o estabelecimento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partícipes, que assumiram os riscos inerentes à utilização do instrumento de pressão máximo.

• OJ nº  11 da SDC do TST – Greve. Imprescindibili-dade de tentativa direta e pacífica da solução do conflito. Etapa negocial prévia. É abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto.

• OJ nº 38 da SDC do TST. Greve. Serviços essenciais. Garantia das necessidades inadiáveis da população usuária. Fator determinante da qualificação jurídica do movimento. É abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade, se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, na forma prevista na Lei nº 7.783/89.

• Sumula nº 23 do TST. A Justiça do Trabalho e com-petente para processor e julgar as ações possessórias ajuizadas em decorrência do exercicio do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

� INFORMATIVOS DO TST1. REGULAMENTO INTERNO

CEF. Norma interna. CI/SUPES/GERET  293/2006. Vali-dade. Opção pela jornada de oito horas. Ingresso em juízo. Retorno automático à jornada de seis horas. Orientação Jurisprudencial Transitória nº 70 da SBDI-I.

É válida a norma interna CI/SUPES/GERET 293/2006, expedida pela Caixa Econômica Federal (CEF), que determina o retorno automático à jornada de seis horas, no caso de o empregado ingressar em juízo contra a opção pela jornada de oito horas. Essa providência se harmoniza com o reconhecimento da nulidade da opção de jornada consagrada na Orientação Jurisprudencial Transitória nº 70 da SBDI-I, não havendo falar, portanto, em ofensa ao direito constitucional de acesso ao poder judiciário ou em configuração de ato discriminatório. Com esse entendimento, a SBDI-I, em sua composição plena, conheceu dos embargos interpostos pela CEF, por divergên-cia jurisprudencial, e, no mérito, pelo voto prevalecente da Presidência, deu-lhes provimento para julgar improcedentes os pedidos deduzidos na reclamação trabalhista. Vencidos o

Direito do Trabalho 139

Desembargador Convocado Sebastião Geraldo de Oliveira, relator, e os Ministros Lelio Bentes Corrêa, Horácio Raymundo de Senna Pires, Rosa Maria Weber, Augusto César Leite de Car-valho, José Roberto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes. TST-E-ED-RR-13300-70.2007.5.15.0089, SBDI-I, rel. Des. Convo-cado Sebastião Geraldo de Oliveira, red. p/ acórdão Min. Brito Pereira, 18.4.2013 (Informativo nº 43)

1.1. REQUISITOS PARA DISPENSA PREVISTO EM REGULAMENTO INTERNO

Sociedade de economia mista. Privatização. Demissão por justa causa. Necessidade de motivação do ato demis-sional. Previsão em norma interna. Descumprimento. Nuli-dade da despedida. Reintegração. Art. 182 do CC.

A inobservância da norma interna do Banestado, sociedade de economia mista sucedida pelo Itaú Unibanco S.A., que previa a instauração de procedimento administrativo para apuração de falta grave antes da efetivação da despedida por justa causa, acar-reta a nulidade do ato de dispensa ocorrido antes do processo de privatização, assegurando ao trabalhador, por conseguinte, a reintegração no emprego, com base no disposto no art.  182 do CC, segundo o qual, anulado o negócio jurídico, deve-se res-tituir as partes ao “status quo ante”. Com esse entendimento, a SBDI-I, por maioria, conheceu dos embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito, negou-lhes provimento. Vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, relator, Ives Gandra Martins Filho, Brito Pereira e Maria Cristina Peduzzi, que davam parcial provimento ao recurso para, reconhecendo a nulidade da justa causa aplicada, convertê-la em demissão imotivada e determi-nar o pagamento das diferenças relativas às verbas rescisórias devidas. TST-E-ED-RR-22900-83.2006.5.09.0068, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, red. p/ acórdão Min. João Oreste Dala-zen, 6.12.2012 (Informativo 33)

1.2. DESCUMPRIMENTO DE NORMA INTERNA

Progressão salarial anual. Ausência de avaliações de desempenho. Descumprimento de norma interna. Art. 129 do CC. Diferenças salariais devidas.

Diante da omissão do empregador em proceder à avaliação de desempenho estabelecida como requisito à progressão salarial anual prevista em norma interna da empresa, conside-ra-se implementada a referida condição, conforme dispõe o art. 129 do CC. A inércia do reclamado em atender critérios por ele mesmo estabelecidos não pode redundar em frustração da legítima expectativa do empregado de obter aumento salarial previsto em regulamento da empresa, sob pena de se caracte-rizar condição suspensiva que submete a eficácia do negócio jurídico ao puro arbítrio das partes, o que é vedado pelo art. 122 do CC. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos, por divergência jurisprudencial e, no mérito, deu-lhes provimento para julgar procedente o pedido de diferenças salariais decorrente da progressão sala-rial anual por desempenho obstada pelo recorrido. TST-E-ED--RR-25500-23.2005.5.05.0004, SBDI-I, rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 12.4.2012. (Informativo nº 5)

Promoção por antiguidade. Resolução da empresa que fixa em zero o percentual de empregados passíveis de promoção. Equivalência à inobservância do regulamento interno. Prescrição parcial. Orientação Jurisprudencial nº 404 da SBDI-I.

A resolução da empresa que fixa em zero o percentual de empregados passíveis de promoção por antiguidade, assegu-rada em regulamento interno, não implica alteração do pactu-ado e a consequente prescrição total (Súmula nº 294 do TST), mas sim a inobservância da norma interna a ensejar a incidência

da prescrição parcial, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 404 da SBDI-I. Comesse entendimento, a SBDI-I, por maioria, vencidos os Ministros Ives Gandra Martins Filho e Brito Pereira, deu provimento ao agravo e, ainda por maioria, vencida a Ministra Dora Maria da Costa, julgou desde logo o recurso de embargos para dele conhecer, por contrariedade à Orientação Jurisprudencial nº  404 da SBDI-I, e dar-lhe provimento para, reformando o acórdão embargado, determinar o retorno dos autos à Turma de origem a fim de prosseguir no julgamento do recurso de revista, afastada a prescrição total da pretensão às promoções. TST-Ag-E-RR-36740-87.2007.5.04.0611, SBDI-I, rel. Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, red. p/ acórdão Min. Augusto César Leite de Carvalho, 7.2.2013 (Informativo nº 35)

1.3. REGULAMENTO INTERNO – PROGRESSÃO HORIZONTAL POR MERECIMENTO

ECT. Plano de Cargos e Salários. Progressão horizontal por merecimento. Deliberação da diretoria. Requisito essencial. Não caracterização de condição puramente potestativa.

A deliberação da diretoria a que se refere o Plano de Cargos e Salários da Empresa de Correios e Telégrafos – ECT consti-tui requisito essencial à concessão de progressão horizontal por merecimento, na medida em que esta envolve critérios subjetivos e comparativos inerentes à excelência profissional do empregado, os quais somente podem ser avaliados pela empregadora, não cabendo ao julgador substituí-la. Ademais, trata-se de condição simplesmente potestativa, pois depen-dente não apenas da vontade da empregadora, mas também de fatores alheios ao desígnio do instituidor dos critérios de progressão (desempenho funcional e existência de recur-sos financeiros), distinguindo-se, portanto, da promoção por antiguidade, cujo critério de avaliação é meramente objetivo, decorrente do decurso do tempo. Com esse entendimento, a SBDI-I, em sua composição plena, por maioria, vencido o Minis-tro Lelio Bentes Corrêa, conheceu dos embargos, no tópico, por divergência jurisprudencial. No mérito, ainda por maioria, a Subseção negou provimento ao recurso, vencidos os Ministros Aloysio Corrêa da Veiga, relator, Lelio Bentes Corrêa, Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Augusto César Leite de Car-valho, José Roberto Freire Pimenta e Delaíde Miranda Arantes, que entendiam caracterizada a condição puramente potesta-tiva, e, como tal, inválida, nos termos do art. 122 do CC, uma vez que, ao vincular a progressão por merecimento à deliberação da diretoria, estabeleceu-se critério subjetivo ligado exclusi-vamente ao arbítrio da empresa, privando os trabalhadores da obtenção da referida promoção. TST-E-RR-51-16.2011.5.24.0007, SBDI-I, rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, red. p/ acórdão Min. Renato de Lacerda Paiva, 8.11.2012 (Informativo nº 29)

1.4. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA

CEF. Complementação de aposentadoria. CTVA. Integra-ção. Natureza salarial.

A parcela denominada Complemento Temporário Variável de Ajuste de Piso de Mercado – CTVA, instituída pela Caixa Eco-nômica Federal – CEF com o objetivo de compatibilizar a gra-tificação de confiança com os valores pagos a esse título no mercado, possui natureza jurídica salarial e integra a remune-ração do empregado, devendo, por consequência, compor o salário de contribuição, para fins de recolhimento à FUNCEF, e refletir no cálculo da complementação de aposentadoria. Com esse entendimento, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos interpostos pela CEF, por divergência jurispruden-cial e, no mérito, negou-lhes provimento. Na espécie, consig-nou-se, ainda, que o próprio regulamento da FUNCEF prevê a inclusão das funções de confiança no salário de contribuição.

Direito Constitucional 263

�QUESTÕES

1. A CONSTITUIÇÃO

01. (MPT – Procurador do Trabalho/2012) A propó-sito do Preâmbulo da Constituição da República, é COR-RETO afirmar, segundo a doutrina majoritária, a Cons-tituição da República e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

a) Traduz uma pauta de valores constitucionais, nos campos social, político, econômico, entre outros, com poder normativo suficiente para vincular o aplicador da norma e, segundo o Supremo Tribunal Federal, para afastar, por vício de inconstitucionali-dade, lei que não se adeque ao seu conteúdo axio-lógico.

b) Serve de parâmetro interpretativo dos preceitos constitucionais, além de proclamar os princípios da Constituição da República, havendo grande diver-gência doutrinária sobre sua força normativa.

c) O preâmbulo impõe expressamente como valores supremos o exercício dos direitos sociais e individu-ais, a liberdade, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade, a fraternidade e a justiça.

d) O preâmbulo impõe como valores superiores a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre ini-ciativa e o pluralismo político.

e) Não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: O preâmbulo da Constituição carac-teriza-se como uma introdução solene, espécie de síntese do momento constitucional e dos valores consagrados naquela sociedade concreta e historicamente situada. O STF entende que o preâmbulo tem força jurídica indireta: um vetor de interpretação e aplicação do direito, porém não cria direitos e obrigações nem serve de parâmetro para o controle de constitucionalidade (ADI  2.076). A questão, por sua vez, exige uma capacidade de memorização deta-lhista do candidato, pois, de parte a correção da alternativa

Direito Constitucional

Rodrigo Castilho

“b”, as demais apresentam equívocos pontuais, específicos a uma palavra mal colocada.

Alternativa correta: letra “b” (responde também por contrariedade a alternativa “a”). As Constituições apresentam, em regra, a seguinte estrutura: (i) preâmbulo, (ii) disposições permanentes que representam as normas constitucionais em essência e (iii) disposições transitórias que se ocupam de situações provisórias, uma espécie de epílogo. Há, com efeito, divergência na doutrina sobre o papel jurídico do preâmbulo e sua força normativa. “No Brasil, a controvérsia a respeito do valor jurídico do pre-âmbulo segue mobilizando a doutrina, embora na esfera da jurisprudência o STF tenha negado tal valor, refutando relevância jurídica autônoma ao preâmbulo, no sentido de que suas disposições não têm caráter normativo e força obrigatória”1. O STF tem jurisprudência firme a respeito (ADI  2.076: “o preâmbulo da Constituição não constitui norma central, não tendo força normativa” e ADI 2.649: “o preâmbulo contém a explicitação dos valores que domi-nam a obra constitucional de 1988”).

Alternativa “c”. Diz o preâmbulo da Constituição Federal: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, plu-ralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚ-BLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. A fraternidade não consta como valor supremo e sim como predicado da sociedade. Aqui a diferença é muito sutil.

Alternativa “d”. A soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político são fundamentos da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º) e não constam do preâmbulo.

1 SARLET, Ingo Wolfgang. In: MARINONI, Guilherme; MITI-DIERO, Daniel; ________. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. p. 67.

264 Rodrigo Castilho

02. (MPT – Procurador do Trabalho/2013) Sobre a história constitucional do Brasil, assinale a alternativa INCORRETA:

a) A Constituição de  1891 criou o STF e a jurisdição constitucional.

b) A Constituição de  1937, inspirada na Carta Del Lavoro de 1927, do regime fascista italiano, elevou ao âmbito constitucional o dissídio coletivo e o poder normativo da Justiça do Trabalho.

c) A Constituição de 1946 foi a primeira a incluir a Jus-tiça do Trabalho no Poder Judiciário, conferindo aos juízes do trabalho as garantias asseguradas a toda a magistratura.

d) A Constituição de  1988 resultou de assembleia constituinte convocada através de uma Emenda Constitucional à Constituição anteriormente vigente.

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: O conhecimento da história do constitucionalismo moderno e sua incorporação nas Cons-tituições brasileiras são temas de fundamental importân-cia para se entender e analisar criticamente os modelos políticos inaugurados em cada nova ordem constitucional.

Alternativa (in)correta: letra “b” (responde tam-bém a alternativa “c”). A Constituição de  1934 criou a Justiça do Trabalho, órgão administrativo vinculado ao Poder Executivo, “para dirimir questões entre empregado-res e empregados regidas pela legislação social” (art. 122). No entanto, sua instalação de fato ocorreu anos depois, somente em 1941, nos termos do Decreto-Lei nº 1.237/39 e já sob os auspícios da Constituição de 1937. Após inten-sas divergências sobre a constitucionalidade do poder de legislar atípico da Justiça do Trabalho, coube à Constituição de  1946 conferir-lhe novo perfil, elevando-a a órgão do Poder Judiciário (art.  94, V) e, por consequência, outor-gando aos juízes do trabalho as garantias da magistra-tura (art. 95), reconhecendo-lhe também, expressamente, poder normativo por meio de dissídios coletivos (CF, art. 123, caput: Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre emprega-dos e empregadores, e as demais controvérsias oriundas de relações do trabalho regidas por legislação especial e § 2º: A lei especificará os casos em que as decisões, nos dis-sídios coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho).

Alternativa “a”. Sob influência dos ventos liberais vin-dos do Atlântico Norte, a Constituição de 1891 organizou o Poder Judiciário com base no modelo de federalismo recém instaurado: uma Justiça Federal e outra Estadual. “Na cúpula de todo o sistema, o Supremo Tribunal Fede-ral, que fora criado um ano antes, pelo Decreto nº  510, com inspiração na Suprema Corte norte-americana. (...) Outro ponto importante foi a previsão do controle de constitucionalidade das leis, que acabara de ser instituído

pelo Decreto nº 848 do Governo Provisório, e passou a ter assento constitucional”2.

Alternativa “d”. Comprovando uma transição lenta, gradual e sem maiores sobressaltos do regime militar autoritário rumo à democracia popular, pois a reconfigu-ração da ordem político-social fundamental pode dar-se por revolução, com suas rupturas radicais, ou por evolução, fruto de negociação, o Congresso Nacional decidiu, por emenda à Constituição de  1967 (EC  26/85), convocar, ou melhor, instaurar3 Assembleia Nacional Constituinte para a elaboração de nova Carta Magna, enfim promulgada em 05 de outubro de 1988.

d) A Constituição de  1988 resultou de assembleia constituinte convocada através de uma Emenda Constitucional à Constituição anteriormente vigente.

03. (MPT – Procurador do Trabalho/2009) Assinale a alternativa INCORRETA.

a) As normas constitucionais programáticas são dota-das de uma função eficacial de bloqueio, mediante a qual nasce o direito subjetivo negativo de exigir do poder público a abstenção da prática de atos que contravenham os seus ditames.

b) O conceito de ponderação, essencial à solução da colisão de direitos fundamentais, exprime a subor-dinação casuística de um princípio em favor de outro, podendo haver limitação recíproca dos seus respectivos espectros de atuação.

c) O princípio da concordância prática colabora com a interpretação constitucional, atuando de modo a preservar a repartição de funções estabelecida pela Constituição.

d) As normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que não produzem, pela mera entrada em vigor da Constituição, todos os seus efeitos essen-ciais, tendo aplicabilidade indireta, mediata e redu-zida.

e) Não respondida.

2 SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira. Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012. p. 110.

3 EC nº 26/85, arts. 1º e 2º (Os Membros da Câmara dos Depu-tados e do Senado Federal reunir-se-ão, unicameralmente, em Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro de 1987, na sede do Congresso Nacio-nal. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte e dirigirá a sessão de eleição do seu Presidente). Ou seja, os parlamenta-res da legislatura ordinária arvoraram-se à condição de constituintes, retirando do povo o poder de eleger seus representantes exclusivos para a elaboração da nova Constituição, como costuma ocorrer na prática do cons-titucionalismo contemporâneo. Essa situação esdrúxula, uma verdadeira distorção da vontade popular, permitiu que senadores nomeados pelo regime militar, sem qual-quer legitimidade democrática (os chamados senadores biônicos), pudessem participar – com direito a voto! – nas deliberações para elaboração da Constituição de 1988.

300 Rodrigo Castilho

tados, (iv) a Mesa de Assembleia Legislativa dos Estados ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, (v) o Governador de Estado ou do Distrito Federal, (vi) o Procurador-Geral da República, (vii) o Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil, (viii) partido político com representação no Congresso Nacional e (ix) confederação sindical ou enti-dade de classe de âmbito nacional (CF, art. 103, I a IX). Não constam do rol dos legitimados os Prefeitos de município capital do Estado.

Proposição IV. A proposição traz a redação literal do art. 103, § 2º da CF.

65. (MPT – Procurador do Trabalho/2013) Analise os seguintes enunciados, de acordo com o texto constitu-cional sobre controle de constitucionalidade, e assinale a alternativa INCORRETA:

a) Não há na Constituição da República disciplina expressa sobre a modulação temporal dos efeitos das decisões proferidas nas ações diretas de incons-titucionalidade e nas ações declaratórias de consti-tucionalidade.

b) As ações diretas de inconstitucionalidade e as ações declaratórias de constitucionalidade podem ser propostas pelos mesmos legitimados.

c) Uma vez admitida a repercussão geral das questões constitucionais suscitadas no recurso extraordiná-rio, a decisão que nele vier a ser proferida produzirá eficácia contra todos e efeito vinculante, relativa-mente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

d) Qualquer uma das assembleias legislativas estadu-ais, através da sua mesa, pode provocar a aprova-ção, revisão ou cancelamento de súmula vinculante do STF.

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: Há uma tendência do STF em confe-rir um colorido objetivo ao recurso extraordinário e aproxi-mar o controle de constitucionalidade difuso e concreto ao controle de constitucionalidade concentrado e abstrato, utilizando-se, para tanto, das premissas e vetores inter-pretativos das leis que regem a ação direta de inconstitu-cionalidade (Lei nº 9.868/99) e a ação de descumprimento de preceito fundamental (Lei  9.882/99), em um processo de comunicabilidade – sincretismo ou simbiose procedi-mental – entre as duas modalidades de controle de cons-titucionalidade, mimetizando-os, aglutinando-os em uma sistemática comum e intercambiável22.

Alternativa (in)correta: letra “c”. O STF assim deci-diu sobre o tema: “As decisões proferidas pelo Plenário do STF quando do julgamento de recursos extraordiná-rios com repercussão geral vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário na solução, por estes, de outros feitos

22 Idem, p. 1.032-1.034.

sobre idêntica controvérsia. Cabe aos juízes e desembar-gadores respeitar a autoridade da decisão do STF tomada em sede de repercussão geral, assegurando racionalidade e eficiência ao Sistema Judiciário e concretizando a certeza jurídica sobre o tema. O legislador não atribuiu ao STF o ônus de fazer aplicar diretamente a cada caso concreto seu entendimento. A Lei 11.418/2006 evita que o STF seja sobrecarregado por recursos extraordinários fundados em idêntica controvérsia, pois atribuiu aos demais tribunais a obrigação de os sobrestarem e a possibilidade de reali-zarem juízo de retratação para adequarem seus acórdãos à orientação de mérito firmada por esta Corte. (..) A atua-ção do STF, no ponto, deve ser subsidiária, só se manifesta quando o tribunal a quo negasse observância ao leading case da repercussão geral, ensejando, então, a interpo-sição e a subida de recurso extraordinário para cassação ou revisão do acórdão, conforme previsão legal específica constante do art. 543-B, § 4º, do CPC. (...) A novidade pro-cessual que corresponde à repercussão geral e seus efeitos não deve desfavorecer as partes, nem permitir a perpetu-ação de decisão frontalmente contrária ao entendimento vinculante adotado pelo STF” (Rcl  10.793). Como se vê, o STF já admite o efeito vinculante das decisões em reper-cussão geral em recurso extraordinário aos demais órgãos do Poder Judiciário. Um passo para a eficácia erga omnes e o efeito vinculativo geral.

Alternativa “a”. A modulação temporal dos efeitos das decisões proferidas nas ações diretas de (in)constitu-cionalidade está expresso no art. 27 da Lei nº 9.686/99: (Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excep-cional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Fede-ral, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado).

Alternativa “b”. Pelo caráter ambivalente das ações diretas de (in)constitucionalidade (ADI e ADC), uma sendo o reverso ou o espelho da outra, nada mais natural do que a identidade de legitimados. O art.  103, caput da CF corrobora essa assertiva: (Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucio-nalidade...)

Alternativa “d”. O art. 3º, IX da Lei nº 11.417/06 confere legitimidade para a Mesa de Assembleia Legislativa ou de Câmara Legislativa do Distrito Federal para propor a edi-ção, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante do STF, sem estabelecer qualquer requisito de ação ou de pertinência temática.

�DICAS (RESUMO)1. A CONSTITUIÇÃO

1.1. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO.A Constituição é, em essência, uma lei, uma norma

jurídica: a mais fundamental e proeminente do ordena-mento jurídico de qualquer Estado. Uma lei acima de todas as outras em importância e força normativa. Uma lei tão

Direito Constitucional 301

imaculada, tão preciosa, tão superior, que todas as demais lhe devem satisfação e obediência. Pode-se dizer que a Constituição é a lei maior do povo em um dado território com soberania. “A Constituição pensa-se como um texto jurídico que, ao mesmo tempo, fixa a constituição política de um estado”23.

A Constituição significa a explicitação do pacto social, o ponto de partida de uma nova ordem jurídica e social, um novo começo, a decisão fundamental de existir enquanto Estado de Direito – uma lei conformadora do Estado –, de escolher o próprio destino e o modo de ser. Uma Consti-tuição não é um ato de governo simplesmente, senão de um povo constituindo o governo. A Constituição é um pro-fundo ato de autodeterminação política, a própria vontade política da sociedade24, um poderoso símbolo político de identificação nacional e compromisso democrático, pelo qual o povo passa a se governar por si próprio. A Constitui-ção, portanto, expressa os fundamentos básicos da orga-nização do Estado e da sociedade, algo como as regras do jogo jogado.

A Constituição não pode ser compreendida como uma mera figura retórica, uma constituição simbólica25, e sim como uma espécie de projeto de aquisição evolutiva, um organismo vivo em processo permanente de (re)constru-ção. A Constituição é o produto de um compromisso – ou compromissos – entre as forças políticas e sociais; síntese dialética entre diferentes fatores reais de poder, possibi-litando “um projeto constitucional que tem servido para resolver razoavelmente os problemas suscitados pelo pluralismo político, pela complexidade social e pela demo-cracia conflitual”26. Um texto aberto a toda sorte de influ-ências, tensões, paixões e possibilidades, permeado por decisões em constante movimento de invenção e reinven-ção, um experimento em marcha27. Uma Constituição (tem de) acompanha(r) a história não linear de um determinado povo, permitindo-lhe forjar seu futuro como lhe convém. São decisões raras tomadas em momentos espetaculares, especiais, a orientar e (re)definir os rumos, adequando-os aos desígnios e esperanças da sociedade. Em regra, uma nova Constituição faz-se necessária em situações de dis-sonância invencível entre a letra fria da lei (instituições e políticas de governo) e a vontade efervescente do povo (a voz das ruas). Há um matiz de descontinuidade da ordem político-jurídica, de ruptura consciente com o passado28.

23 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. (11ª reimp.) Coimbra: Edições Alme-dina, 2003. p. 68.

24 Discurso do Deputado Ulysses Guimarães proferido por ocasião da promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988.

25 NEVES, MARCELO. A constitucionalização simbólica. 3ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

26 CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit., p. 219.27 COELHO, Inocêncio Mártires. Evolução ao constituciona-

lismo brasileiro pós-88. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MEN-DES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 61.

28 CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit., p. 197.

Nesses momentos constitucionais29, quando o pacto social encontra-se esgarçado a ponto de ruptura, quando o desencontro entre as esferas de poder torna-se insuperá-vel pelas vias ordinárias da política, quando a democracia (ou o regime de governo em vigor) vê-se ameaçada de morte, é chegada a hora de dar uma nova Constituição ao povo. A Constituição seria, pois, o suporte normativo para um projeto de sociedade. Ou como disse Rousseau, citado por Habermas: “a Constituição é o contrato da sociedade, um ato existencial da socialização por meio do qual os indivíduos singulares se transformam nos cidadãos de uma comunidade ética, orientada ao bem comum30”

Essa ideia original (o povo ou a nação decidindo dire-tamente por si próprio) irrompe no final do século XVIII, no compasso das revoluções americana e francesa, em uma perspectiva de limitação – jurídica – do poder – político – e reconhecimento/garantia/promoção de direitos. Houve, assim, um pano de fundo, uma ambiência histórica, um caldo de cultura, uma complexa tessitura histórico-cultu-ral31 a permitir a ascensão do povo ou da nação como pro-tagonista da cena política. Evidentemente, trata-se de um processo ainda não acabado e que exige vigilância perma-nente, para evitar recuos autoritários ou despóticos. Mas o fato – irrefutável – é que o constitucionalismo moderno nasceu de braços dados com o século das luzes ou do escla-recimento: o iluminismo.

O marco histórico – e de caráter universal – pode ser estabelecido na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, na qual se lê em seu art. 16 que “a socie-dade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem a separação dos poderes não tem Constituição”.

A Constituição é, enfim, a lei mais importante da socie-dade, dotada de ampla normatividade e superioridade ou centralidade hierárquica no sistema jurídico, expressão da soberania popular (a vontade do povo). Em sentido mate-rial ou substancial, a Constituição significa o modo de orga-nização da sociedade (conceito descritivo ou empírico). Em sentido formal, significa a ordem jurídica fundamental e superior da sociedade, expressão do poder constituinte (conceito prescritivo ou normativo).

O enfoque sociológico de Ferdinand Lassalle entende a Constituição como a soma dos fatores reais de poder em uma sociedade. Já o enfoque político de Carl Schmitt tem a Constituição como decisão política fundamental de uma sociedade. Tem-se, também, o enfoque normativo de Kon-rad Hesse que trata da força normativa da Constituição, da pretensão de eficácia e do sentimento de constituição (uma atitude diante da vida). Por fim, Hans Kelsen e seu enfoque jurídico da Constituição como a lei suprema da sociedade, fundamento último de validade das demais leis

29 ACKERMAN, Bruce. Nós, o povo soberano: fundamentos do direito constitucional. Tradução: Mauro Raposo de Mello. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

30 HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre factici-dade e validade. Vol. I. Tradução: Flávio Beno Siebenei-chler. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2012. p. 136.

31 CANOTILHO, J. J. Gomes. Op. cit., p. 51.

382 Rodrigo Castilho

República para propor ele próprio a ADPF, se assim enten-der cabível, isto é, a legitimação da ação é restrita àqueles legitimados constitucionais e não à parte ou interessado na ação (Lei nº 9.882/99, art. 2º, § 1º).

Aplica-se, também, o princípio da fungibilidade entre a ADPF e a ADI, como uma medida de economia proces-sual, a possibilitar que o STF receba uma ação pela outra, sem prejuízo para as partes ou intercorrências desnecessá-rias em seu processamento.

Ao julgar a ADPF, o STF decidirá pelas condições e modo correto de interpretação e aplicação do preceito fundamental, comunicando-as às autoridades ou órgãos responsáveis pela prática dos atos questionados, com efi-cácia erga omnes e efeitos vinculantes aos demais órgãos do Poder Público (Lei nº 9.882/99, art. 10, caput e § 3º).

Os Estados devem instituir a representação de incons-titucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, sendo-lhes vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão (CF, art. 125, § 2º).

� SÚMULAS APLICÁVEIS

1. DIREITOS FUNDAMENTAIS• Súmula vinculante nº 01 do STF – Ofende a garan-

tia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso con-creto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei Complementar 110/2001.

• Súmula vinculante nº  05 do STF – A falta de defesa técnica por advogado no processo adminis-trativo disciplinar não ofende a Constituição.

• Súmula vinculante nº 11 do STF – Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física pró-pria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

• Súmula vinculante nº  14 do STF – É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documenta-dos em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

• Súmula vinculante nº  21 do STF – É inconstitu-cional a exigência de depósito ou arrolamento pré-vios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.

• Súmula vinculante nº 22 do STF – A Justiça do Tra-balho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas

que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04.

• Súmula vinculante nº  23 do STF – A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

• Súmula vinculante nº  25 do STF – É ilícita a pri-são civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

• Súmula vinculante nº 28 do STF – É inconstitucio-nal a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pre-tenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

• STF  20 – É necessário processo administrativo com ampla defesa, para a demissão de funcionário admitido por concurso.

• STF 197 – O empregado com representação sindi-cal só pode ser despedido mediante inquérito em que se apure falta grave.

• STF  666 – A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

• STF 675 – Os intervalos fixados para descanso e ali-mentação durante a jornada de seis horas não des-caracterizam o sistema de turnos ininterruptos de revezamento para o efeito do art. 7º, XIV da Consti-tuição.

• STF 676 – A garantia da estabilidade provisória pre-vista no art. 10, II, a do Ato das Disposições Constitu-cionais Transitórias, também se aplica ao suplente do cargo de direção de Comissões Internas de Pre-venção de Acidentes (CIPA).

• STF  677 – Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela obser-vância do princípio da unicidade sindical.

• STF 679 – A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de negociação cole-tiva.

• STF 683 – O limite de idade para inscrição em con-curso público só se legitima em face do art. 7º, XXX da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

• STF 726 – Para efeito de aposentadoria especial de professores, não se computa o tempo de serviço prestado fora de sala de aula.

• STF 736 – Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descum-primento de normas trabalhistas relativas à segu-rança, higiene e saúde dos trabalhadores.

• STJ  377 – O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes.

• STJ 419 – Descabe a prisão civil do depositário judi-cial infiel.

Direito Constitucional 383

2. DIREITOS POLÍTICOS• Súmula vinculante nº  18 do STF – A dissolução

da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

3. AÇÕES CONSTITUCIONAIS

3.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA• STJ  329 – O Ministério Público tem legitimidade

para propor ação civil pública em defesa do patri-mônio público.

• STJ  489 – Reconhecida a continência, devem ser reunidas na justiça federal as ações civis públicas propostas nesta e na justiça estadual.

3.2. AÇÃO POPULAR• STF  365 – Pessoa jurídica não tem legitimidade

para propor ação popular.

3.3. HABEAS CORPUS• STF  395 – Não se conhece de recurso de habeas

corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de locomoção.

• STF  690 – Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais.

• STF 691 – Não compete ao Supremo Tribunal Fede-ral conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar.

• STF 693 – Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a pro-cesso em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

• STF 694 – Não cabe habeas corpus contra a imposi-ção da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública.

• STF  695 – Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.

3.4. HABEAS DATA• STJ o2 – Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII,

a) se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

3.5. MANDADO DE SEGURANÇA• STF 101 – O mandado de segurança não substitui a

ação popular.

• STF 266 – Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

• STF 267 – Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.

• STF 268 – Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

• STF 269 – O mandado de segurança não é substitu-tivo de ação de cobrança.

• STF  429 – A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do man-dado de segurança contra a omissão da autoridade.

• STF 430 – O pedido de reconsideração na via admi-nistrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança.

• STF  510 – Praticado ato por autoridade, no exer-cício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.

• STF 512 – Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.

• STF 624 – Não compete ao Supremo Tribunal Fede-ral conhecer originariamente de mandado de segu-rança contra atos de outros Tribunais.

• STF 625 – Controvérsia sobre matéria de direito não impede a concessão de mandado de segurança.

• STF 629 – A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor de seus associados independe da autorização destes.

• STF  630 – A entidade de classe tem legitimidade parar o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

• STF  632 – É constitucional a lei que fixa o prazo decadencial para a impetração do mandado de segurança.

• STJ  41 – O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originaria-mente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos.

• STJ 105 – Na ação de mandado de segurança, não se admite condenação em honorários advocatícios.

• STJ 169 – São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado de segurança.

• STJ 177 – O Superior Tribunal de Justiça é incompe-tente para processar e julgar, originariamente, man-dado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por ministro de Estado.

• STJ 202 – A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição de recurso.

• STJ 333 – Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.

• STJ 376 – Compete à turma recursal processar e jul-gar o mandado de segurança contra ato de juizado especial.

3.6. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA• Súmula vinculante nº 02 do STF – É inconstitucio-

nal a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

384 Rodrigo Castilho

• STF 647 – Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal.

• STF 722 – São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o esta-belecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

3.7. PROCESSO LEGISLATIVO

• STF 651 – A medida provisória não apreciada pelo Congresso Nacional podia, até a EC  32/2001, ser reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos de lei desde a primeira edi-ção.

3.8. IMUNIDADE PARLAMENTAR

• STF 245 – A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.

3.9. TRIBUNAL DE CONTAS

• Súmula vinculante nº 03 do STF – Nos processos perante o Tribunal de Contas da União assegu-ram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pen-são.

• STF o6 – A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, res-salvada a competência revisora do Judiciário.

• STF  347 – O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionali-dade das leis e dos atos do Poder Público.

• STF  653 – No Tribunal de Contas estadual, com-posto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre mem-bros do Ministério Público, e um terceiro à sua livre escolha.

3.10. MAGISTRATURA

• STF 628 – Integrante de lista de candidatos a deter-minada vaga da composição de tribunal é parte legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente.

3.11. MINISTÉRIO PÚBLICO• STF  643 – O Ministério Público tem legitimidade

para promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades esco-lares.

• STJ 99 – O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso da parte.

• STJ 189 – É desnecessária a intervenção do Ministé-rio Público nas execuções fiscais.

• STJ  226 – O Ministério Público tem legitimidade para recorrer na ação de acidente de trabalho, ainda que o segurado esteja assistido por advogado.

• STJ  329 – O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patri-mônio público.

3.10. PRECATÓRIOS• Súmula vinculante nº  17 do STF – Durante o

período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.

• STF 655 – A exceção prevista no art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza ali-mentícia, não dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-los da observância da ordem cronológica dos precatórios decorrentes de conde-nações de outra natureza.

• STJ  144 – Os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculados os precató-rios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa.

• STJ  311 – Os atos do Presidente do Tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional.

� INFORMATIVOS APLICÁVEISAo longo dos comentários às questões (tópico 01) e das dicas importantes para estudo (tópico  02) citamos mais de uma centena de decisões do STF e dos Tribunais Superiores, con-textualizando-as às situações de fato e de direito. A bem dizer, toda jurisprudência da Corte Constitucional gira em torno de matéria constitucional. Optamos por selecionar e transcrever em parte aquelas decisões paradigmáticas – os leading cases –, buscando estimular o leitor a promover as relações possíveis com os assuntos tratados. Entendemos que reproduzi-las aqui não se afiguraria necessário, por caracterizar uma repetição de todo cansativa. Remetemos o leitor interessado, portanto, à coletânea de jurisprudência já citada em nosso texto.

Direito Internacional Público e Direitos Humanos 439

�QUESTÕES

I. DIREITO INTERNACIONAL

1. ATIVIDADES DO ESTRANGEIRO NO BRASIL: LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS

01. (MPT – 16ª Concurso – 2009 – 1ª fase) Assinale a alternativa INCORRETA acerca das disposições constitu-cionais quanto ao estrangeiro no Brasil:

a) É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros.

b) A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrenda-mento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional.

c) Podem alistar-se como eleitores os estrangeiros residentes no país.

d) São brasileiros naturalizados os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininter-ruptos e sem condenação penal, desde que requei-ram a nacionalidade brasileira.

e) Não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: de acordo com o artigo 5º, caput, da Constituição Federal, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Entretanto, essa virtual igualdade é pautada pelos termos estabelecidos pelas normas constitucionais, que fixam determinados critérios e limites para o gozo, por parte dos estrangeiros, de seus direitos.

Alternativa incorreta: c. A Constituição Federal (art.  14, §  2º) determina que não podem se alistar como eleitores “os estrangeiros”, sem distinguir entre aqueles que vivam ou não no Brasil.

Alternativa a. Item correto, visto que as universi-dades podem admitir professores, técnicos e cientistas

Direito Internacional Público e Direitos Humanos

Paulo Henrique Gonçalves Portela

estrangeiros, na forma da lei, a teor do artigo 207, § 1º, do texto constitucional.

Alternativa b. Item correto, que corresponde integral-mente ao teor do artigo 190 da Carta Magna ora em vigor.

Alternativa d. Item correto, que se refere à hipótese de naturalização extraordinária, constante do artigo 12, II, “b”, do texto constitucional. Cabe ressaltar que, neste caso, não há espaço para discricionariedade da autoridade bra-sileira, bastando ao estrangeiro interessado, que preencha os requisitos indicados nesse dispositivo, requerer a nacio-nalidade brasileira para obtê-la. Outrossim, a solicitação da nacionalidade brasileira nessa hipótese “possui caráter meramente declaratório, cujos efeitos retroagem à data da solicitação” (STF. RE 264.848/TO).

2. COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL.

02. (MPT – 18º Concurso – 2013 – 1ª fase) Analise as assertivas sobre a Convenção das Nações Unidas contra a corrupção (Tratado de Mérida) e marque a resposta CORRETA:I. A Convenção sugere como forma de combater a

corrupção que os sistemas de convocação, contra-tação, retenção, promoção e aposentadoria de fun-cionários públicos estejam baseados em princípios de eficiência e transparência e em critérios objeti-vos como o mérito, a equidade e a aptidão.

II. A Convenção prevê que a adoção pelo Estado-parte de medidas legislativas que sejam necessárias para qualificar como delito, quando cometido intencio-nalmente, a promessa, oferecimento ou a conces-são, de forma direta ou indireta de um benefício para o seu próprio proveito ou no de outra pessoa ou entidade, para que atue ou se abstenha de atuar, não alcança o funcionário público ou funcionário de organização internacional pública, em razão da soberania.

III. A República Federativa Brasileira, em conformidade com os princípios fundamentais de seu ordena-mento jurídico e sem menosprezar a independên-cia ministerial e seu papel decisivo na luta contra a corrupção, adotará medidas para reforçar a inte-gridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre os membros do ministério público.

440 Paulo Henrique Gonçalves Portela

IV. A República Federativa Brasileira também consi-derará, em conformidade com os princípios funda-mentais de sua legislação interna, a possibilidade de estabelecer medidas e sistemas para facilitar que os funcionários públicos denunciem todo ato de corrupção às autoridades competentes quando tenham conhecimento deles no exercício de suas funções.

Marque a alternativa CORRETA:

a) todas as assertivas estão corretas;

b) apenas as assertivas II e III estão corretas;

c) apenas as assertivas I, II e II estão corretas;

d) apenas as assertivas I, III e IV estão corretas;

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a corrupção é tema de interesse internacional. Nesse sentido, além da Convenção das Nações Unidas contra a corrupção (Convenção de Mérida), outro tratado também aparece como relevante na luta contra a corrupção na seara das relações internacionais: a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcioná-rios Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Inter-nacionais, celebrada no âmbito da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Alternativa correta: d. O único item errado é o II, por-que, de acordo com o artigo 2, “a”, “b” e “c”, a Convenção de Mérida também alcança funcionários públicos estran-geiros e funcionários de organismos internacionais.

O item I está correto porque a Convenção de Mérida (art.  7, I, “a” e “b”) estabelece que “Cada Estado Parte, quando for apropriado e de conformidade com os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico, procurará adotar sistemas de convocação, contrata-ção, retenção, promoção e aposentadoria de funcio-nários públicos e, quando proceder, de outros funcio-nários públicos não empossados, ou manter e forta-lecer tais sistemas”, determinando que estes “a) Estarão baseados em princípios de eficiência e transparência e em critérios objetivos como o mérito, a equidade e a aptidão” e “b) Incluirão procedimentos adequados de seleção e formação dos titulares de cargos públicos que se considerem especialmente vulneráveis à corrupção, assim como, quando proceder, a rotação dessas pessoas em outros cargos”.

O item III está correto, porque o artigo 11, pars. 1 e 2, da Convenção de Mérida também determina que, tendo presentes a independência do Ministério Público e seu papel decisivo na luta contra a corrupção, cada Estado Parte, em conformidade com os princípios fundamen-tais de seu ordenamento jurídico, adotará medidas para reforçar a integridade e evitar toda oportunidade de corrupção entre os membros do Ministério Público. Tais medidas poderão incluir normas que regulem a conduta dos integrantes desse importante órgão.

O item IV está correto, correspondendo à redação do artigo 8, par. 4, da Convenção de Mérida, que estabe-lece expressamente que “Cada Estado Parte também

considerará, em conformidade com os princípios fun-damentais de sua legislação interna, a possibilidade de estabelecer medidas e sistemas para facilitar que os funcionários públicos denunciem todo ato de cor-rupção às autoridade competentes quando tenham conhecimento deles no exercício de suas funções”.

3. MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL): CONSTITUIÇÃO, NATUREZA JURÍDICA, ESTRU-TURA.

03. (MPT – 17º Concurso – 2013 – 1ª fase) Leia e ana-lise os itens a seguir:

I. Segundo a Carta Internacional de Direitos Huma-nos, toda pessoa tem direito, em plena igualdade a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um Tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou de qualquer acusação em matéria penal que contra ele seja deduzida.

II. No conflito entre normas jurídicas comunitárias e o direito nacional dos Estados-Membros, em sistemas de organização supranacional como a União Euro-peia, geralmente aplica-se o princípio da primazia das normas jurídicas comunitárias, porém, este princípio não é absoluto, podendo eventual colisão entre as duas ordens normativas ser solucionada, por exemplo, pela observância da norma constitu-cional de determinado país.

III. A Organização Mundial do Comércio (OMC), da qual o Brasil é um dos países-membros, é uma organiza-ção internacional que atua na fiscalização e regula-mentação do comércio mundial, cabendo-lhe, além dessa e de outras funções, resolver conflitos comer-ciais entre os países membros.

IV. Considerando a relevância dos direitos sociais para a formação de um Mercado Comum entre os seus Membros, o Tratado de Constituição do MERCOSUL previu uma série de direitos trabalhistas e princí-pios sociais fundamentais, com vistas a possibilitar a livre circulação de trabalhadores e uniformizar as condições de trabalho nos países integrantes.

Marque a alternativa CORRETA:

a) apenas as assertivas I, II e III estão corretas;

b) apenas as assertivas I, II e IV estão corretas;

c) apenas as assertivas III e IV estão corretas;

d) todas as assertivas estão corretas;

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: esta questão apresenta temas de importância em concursos como este, como o comércio internacional, os direitos humanos e a integração regional. Cabe ressaltar que, tecnicamente, o Direito do Mercosul não é Direito Comunitário, por não ter atributos como a supranacionalidade, o efeito direto e a aplicabilidade ime-diata.

Direito Internacional Público e Direitos Humanos 445

boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções”.

O item III está correto, em conformidade com o artigo 19, 8, da Constituição da OIT, que lembra que “Em caso algum, a adoção, pela Conferência (Internacional do Trabalho), de uma convenção ou recomendação, ou a ratificação, por um Estado-Membro, de uma convenção, deverão ser consideradas como afetando qualquer lei, sentença, costumes ou acordos que assegurem aos tra-balhadores interessados condições mais favoráveis que as previstas pela convenção ou recomendação”.

O item IV está correto, à luz do artigo 5º da Conven-ção 151 da OIT sobre o Direito de Sindicalização e Relações de Trabalho na Administração Pública, de 1978, aprovada pelo Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo  206, de  07/04/2010, ratificada em junho de  2010 e finalmente promulgada pelo Decreto 7.944, de 06/02/2013.

10. (MPT – 15ª Concurso – 2008 – 1ª fase) Analise as assertivas abaixo:

I. as convenções da Organização Internacional do Trabalho são tratados internacionais abertos para a ratificação dos Estados membros.

II. as recomendações não necessitam de ratificação, visando, apenas, a orientar as políticas, legislações e práticas nacionais.

III. as convenções internacionais são consideradas fon-tes normativas heterônomas do direito, desde que seja realizada a ratificação pelo Estado membro da Organização Internacional do Trabalho.

IV. a recomendação é considerada fonte jurídica mate-rial, uma vez que cumpre o importante papel polí-tico e cultural de induzir os Estados a aperfeiçoar sua legislação interna na direção traçada por esse documento programático internacional.

De acordo com as assertivas acima, pode-se afirmar que.

a) somente as assertivas I e II estão corretas.

b) somente as assertivas III e IV estão corretas.

c) todas as assertivas estão corretas.

d) todas as assertivas estão incorretas.

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a produção normativa da Organi-zação Internacional do Trabalho (OIT) consta de dois tipos de documentos: as convenções, que são tratados interna-cionais, de caráter juridicamente vinculante, e as recomen-dações, cujo teor deve ser submetido às autoridades nacio-nais competentes para legislar na matéria de que tratam. Esse conjunto de convenções e recomendações é também conhecido como “Código Internacional do Trabalho”.

Alternativa correta: c. O item I está correto porque efetivamente o termo “convenção” refere-se a um tipo de tratado. Cabe destacar que o nome “convenção” é normal-mente empregado para compromissos multilaterais de

maior envergadura política, embora o uso da terminologia referente aos atos internacionais seja indiscriminado na prática. As convenções da OIT são abertas apenas à rati-ficação dos Estados-membros, cabendo ressaltar que são negociadas na Conferência Geral da OIT, da qual fazem parte os representantes dos Estados que fazem parte da Organização.

O item II está correto, porque as recomendações não são tratados, constituindo meras orientações de como os Estados devem proceder de forma a melhor tutelar o uni-verso laboral, podendo servir de guia para a legislação nacional e para políticas públicas e ações privadas nos res-pectivos territórios.

O item III está correto, porque a convenção da OIT é um tratado como outro qualquer e, nesse sentido, requer a ratificação por parte do Estado.

O item IV está correto porque a recomendação tam-bém é vista como verdadeira fonte material, contribuindo para a positivação de novas normas internacionais do tra-balho e orientando a formatação de seu conteúdo.

6. ÓRGÃOS DAS RELAÇÕES ENTRE OS ESTA-DOS: AGENTES DIPLOMÁTICOS E REPRESEN-TANTES CONSULARES. CONVENÇÕES DE VIE-NA DE 1961 E 1963. AS MISSÕES ESPECIAIS.

11. (MPT – 17º Concurso – 2012 – 1ª fase) Consoante a Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas:

I. O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal e de jurisdição civil ou administra-tiva, a qual se estende à execução, ressalvadas as hipóteses expressamente previstas na própria Con-venção, nem será obrigado a prestar depoimento como testemunha.

II. A renúncia à imunidade de jurisdição será sempre expressa, porém, se um agente diplomático inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição em relação a uma recon-venção proposta pelo réu, ligada à ação principal.

III. A renúncia à imunidade de jurisdição no referente às ações civis e administrativas não abrange as medidas de execução de sentença, para as quais é necessária nova renúncia.

IV. Os locais da Missão abrangem os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Mis-são, inclusive a residência do Chefe da Missão, a qual goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da Missão.

Marque a alternativa CORRETA:

a) todas as assertivas estão corretas;

b) todas as assertivas estão incorretas;

c) apenas as assertivas I, II e III estão corretas;

d) apenas as assertivas II, III e IV estão corretas;

e) não respondida.

446 Paulo Henrique Gonçalves Portela

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: no tocante às relações diplomáticas e consulares e aos privilégios e imunidades de diplomatas e cônsules, as principais fontes normativas são, respec-tivamente, a Convenção de Viena sobre Relações Diplo-máticas, de 1961, e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares, de 1963, as quais devem ser lidas detidamente pelos candidatos a concursos públicos dentro dos quais seja exigido conhecimento em matéria de acordos inter-nacionais.

Alternativa correta: a. O item I está correto para o examinador. De fato, de acordo com o artigo 31, par. 1, da Convenção de Viena de  1961, “O agente diplomático gozará da imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa”, salvo nas seguintes exceções: “a) uma ação sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão; b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como execu-tor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário e; c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais”. O agente diplomático tampouco será obrigado a depor como testemunha (Convenção de Viena de 1961, art. 31, par. 2). Em todo caso, criticamos a não anulação da referida ques-tão, visto que a assertiva alude à imunidade de jurisdição civil OU administrativa, como se o agente só gozasse de imunidade em um dos dois campos, o que não é o caso.

O item II está correto, nos termos do artigo 32, pars. 2 e 3 da Convenção de Viena de 1961, que determinam que “A renúncia será sempre expressa” e que “Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdi-ção no tocante a uma reconvenção diretamente ligada à ação principal”.

O item III está correto, porque o artigo  32, par.  4, da Convenção de Viena de 1961, dispõe que “A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações cíveis ou administrativas não implica renúncia à imunidade quanto às medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária”.

O item IV está correto, porque o artigo 1, “i”, da Con-venção de Viena de 1961 reza que os locais da missão “são os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão, inclusive a residência do Chefe da Missão”.

7. TRATADOS INTERNACIONAIS: VIGÊNCIA E APLICAÇÃO

12. (MPT – 17º Concurso – 2012 – 1ª fase) Analise as assertivas a seguir e marque a resposta CORRETA:

I. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, vigente desde 1980 para os países que a ratificaram, contém a sistematização dos conceitos jurídicos fundamentais sobre os tratados, entretanto, para o Brasil, que não a ratificou, a citada Convenção tem a utilidade apenas como direito consuetudinal.

II. O tratado internacional, depois de atendidos todos os requisitos para a sua vigência no âmbito interno do Brasil, e desde que já esteja em vigor no plano internacional, passa a integrar o ordenamento jurí-dico brasileiro independentemente de sua repro-dução em texto de lei especial.

III. Consoante a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, a parte deve notificar, com pelo menos  12 (doze) meses de antecedência, a sua intenção de proceder à denúncia ou à sua retirada de um tratado que não contenha disposições sobre denúncia ou retirada.

IV. A retirada de um Estado-membro da Organização Internacional do Trabalho não afetará a validade das obrigações decorrentes da convenção por ele ratificada, ou a ela relativas, durante o período pre-visto pela mesma convenção.

Marque a alternativa CORRETA:

a) todas as assertivas estão incorretas;

b) apenas as assertivas I e IV estão incorretas;

c) apenas a assertiva I está incorreta;

d) apenas a assertiva II é incorreta;

e) não respondida.

|COMENTÁRIOS|.

Nota do autor: a principal fonte para o estudo dos tratados é a Convenção de Viena sobre o Direito dos Trata-dos de 1969, a qual deve ser lida com atenção pelos candi-datos a concursos públicos dentro dos quais seja exigido conhecimento em matéria de acordos internacionais.

Alternativa correta: d. O único item errado é o I, por-que o Brasil ratificou a Convenção de Viena de  1969 em 2009, com reserva aos Artigos 25 e 66, e a promulgou pelo Decreto 7.030, de 14/12/2009.

O item II está correto, porque o tratado no Brasil não depende de uma lei especial para entrar em vigor no território nacional, mas apenas de um decreto presiden-cial.

O item III está correto, em conformidade com o artigo 56, par. 2, da Convenção de Viena de 1969, que reza que “Uma parte deverá notificar, com pelo menos doze meses de antecedência, a sua intenção de denunciar ou de se retirar de um tratado”.

O item IV está correto, à luz do artigo  2, par.  5, da Constituição da OIT, que dispõe que a retirada “não afe-tará, para o Estado-Membro que houver ratificado uma convenção, a validez das obrigações desta decor-rentes, ou a ela relativas, durante o pedido previsto pela mesma convenção”.

Direito Internacional Público e Direitos Humanos 465

1.15. SISTEMA INTERAMERICANO• A Organização dos Estados Americanos (OEA) é a

organização internacional encarregada da adminis-tração do sistema interamericano de direitos huma-nos, do qual o Brasil é parte.

• O principal tratado do sistema interamericano é a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), com ênfase nos direitos civis e polí-ticos.

• Praticamente não há previsão de direitos econômi-cos, sociais e culturais específicos no Pacto de São José. No sistema interamericano, os direitos eco-nômicos sociais e culturais são objeto de outro tratado, o Protocolo de São Salvador.

• Os principais órgãos do sistema interamericano são a Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos e a Corte Interamericana de Direitos Huma-nos, vinculados à OEA.

• A Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos não é órgão jurisdicional e manifesta-se apenas por meio de recomendações.

• A Comissão Interamericana pode ser acionada por Estados, por indivíduos, grupo de pessoas ou entidades não-governamentais legalmente reconhecidas em um ou mais estados-membros da Organização dos Estados Americanos.

• Indivíduos, grupo de pessoas ou entidades não-go-vernamentais legalmente reconhecidas em um ou mais estados-membros da Organização dos Esta-dos Americanos podem, portanto, apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação de determinados direitos consagrados nas normas do sistema interameri-cano.

• São os seguintes os requisitos para o peticiona-mento individual

A norma violada deve pertencer ao sistema interamericano e ter seu cumprimento sindicável pela Comissão: apenas direitos consagrados no Pacto de São José e na Conven-ção de Belém do Pará e os direitos à educação e à liber-dade sindical, constantes do Protocolo de São Salvador, podem ser objeto de petição individual junto à Comis-são Interamericana de Direitos Humanos

Esgotamento dos recursos internos

Apresentação da petição em até seis meses após a notifi-cação do esgotamento do último recurso

Inexistência de litispendência internacional e proibição do bis in idem: o caso não pode estar sendo apreciado por outro foro internacional nem ter sido examinado em outro mecanismo internacional de proteção dos direitos humanos ou pela própria Comissão

Que a petição seja apresentada por um indivíduo, um grupo de pessoas ou uma ONG legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da OEA

• A regra do esgotamento dos recursos internos não é absoluta e pode ser afastada quando: não existir, na legislação interna do estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do

direito ou direitos que se alegue tenham sido vio-lados; não se houver permitido ao presumido pre-judicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e houver demora injustificada na deci-são sobre os mencionados recursos.

• A Comissão move procedimentos apenas con-tra Estados, não contra pessoas, empresas ou ONGs.

• A Comissão pode promover missões para verificar in loco a situação dos direitos humanos em países americanos, as quais, porém, só podem vir ao Bra-sil com autorização do governo brasileiro.

• A Corte Interamericana de Direitos Humanos é um tribunal internacional.

• A Corte Interamericana de Direitos Humanos mani-festa-se por meio de sentenças e de pareceres. Conta, portanto, com competência contenciosa (exame de processos e feitura de sentenças) e con-sultiva (elaboração de pareceres)

• Apenas os Estados e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos podem acionar a Corte Interamericana de Direitos Humanos: pessoas, grupos de pessoas ou ONGs não podem apresentar petições diretamente à Corte.

• Apenas Estados podem ser réus perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

• Apenas Estados que tenham aceito a compe-tência contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o que é o caso do Brasil, podem ser réus nesse tribunal internacional.

• A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos é obrigatória e inapelável e dispensa homologação, e sua parte “que determinar indenização compensatória poderá ser execu-tada no país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado”.

• No Brasil, a execução das sentenças da Corte Intera-mericana de Direitos Humanos será processada na Justiça Federal.

• Tanto os integrantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos como os juízes da Corte Inte-ramericana de Direitos Humanos atuam a título pessoal, independentemente dos Estados dos quais são nacionais.

� SÚMULAS APLICÁVEIS

I. DIREITO INTERNACIONAL

1. CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO – EXPULSÃO• Súmula 1 do STF: É vedada a expulsão de estran-

geiro casado com brasileira, ou que tenha filho bra-sileiro, dependente da economia paterna.

466 Paulo Henrique Gonçalves Portela

2. CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO – EXTRADIÇÃO• Súmula  421 do STF: Não impede a extradição a

circunstância de ser o extraditado casado com bra-sileira ou ter filho brasileiro.

3. CONFLITOS DE LEIS TRABALHISTAS NO ES-PAÇO. PRINCÍPIO DA "LEX LOCI EXECUTIONIS". CANCELADA• Súmula 207 do TST – A relação jurídica trabalhista

é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação.

4 Prisão civil

• Súmula Vinculante  25 do STF – É ilícita a pri-são civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

• Súmula  419 do STJ – Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.

II. DIREITOS HUMANOS

1. DIREITOS HUMANOS• Súmula Vinculante 25 do STF: É ilícita a prisão civil

de depositário infiel, qualquer que seja a modali-dade do depósito.

• Súmula 419 do STJ: Descabe a prisão civil do depo-sitário judicial infiel.

� INFORMATIVOS APLICÁVEIS

1. DIREITO INTERNACIONAL

1.1. CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

STF – HC e estrangeiro não residente no Brasil

Habeas corpus. 2. Tráfico internacional de entorpecentes. Subs-tituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e fixação de regime aberto. 3. Estrangeiro não residente no país. Possibilidade. 4. Regime inicial de cumprimento de pena. 5. Pre-juízo. 6. Ordem parcialmente conhecida e, nessa parte, deferida para confirmar a liminar anteriormente concedida, considerada a possibilidade de exame da substituição da pena, afastando-se a situação de ser a paciente estrangeira sem residência fixa no Brasil. HC 111.051 Rel. Min. Gilmar Mendes. (Info 680).

STF – HC e estrangeiro não domiciliado no Brasil

Entendeu-se que os embargos opostos teriam nítido caráter infringente, circunstância que, por si só, bastaria para tornar incabível a espécie recursal ora em análise. Asseverou-se que o acórdão embargado não teria afastado a possibilidade de uti-lização do remédio do “habeas corpus”, mesmo nas hipóteses de cooperação jurídica internacional, em que o auxílio direto constituiria modalidade, desde que presentes, no entanto, quanto ao “writ”, os requisitos de sua admissibilidade. Aduziu--se, apenas, a inviabilidade, no caso específico, de utilização do habeas, uma vez que ausente do território brasileiro a pessoa do súdito estrangeiro em questão e, por isso, inexistente qual-quer possibilidade de dano atual ou iminente à liberdade ou à locomoção física do paciente. HC  102041 ED, Rel. Min. Celso de Mello, 15.2.2011. 2ª T. (Info 616).

1.2. CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO – EXPULSÃO

Expulsão e reingresso

O Plenário concedeu, em parte, “habeas corpus” impetrado em favor de nacional português, para que se afaste a prisão a ele imposta até o julgamento final de seu processo administrativo, em trâmite no Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, no qual pleiteia a revogação do ato que o expulsou do território brasileiro. Tendo em conta o que disposto nesse novo diploma legal [Lei 11.961/09, que dispõe sobre a residência pro-visória para o estrangeiro em situação irregular no território nacional e dá outras providências], o fato de o paciente ter-se apresentado voluntariamente à delegacia, com vistas a regula-rizar sua situação, e a pendência do julgamento do pedido de revogação do decreto de expulsão, entendeu-se que se deveria aguardar a conclusão deste, bem como eventual análise, pelo Ministério da Justiça, acerca do direito, ou não, do paciente ao benefício previsto naquela lei. HC 101528, rel. Min. Dias Tof-foli, 9.12.10. Pleno. (Info 612).

Livramento condicional e decreto de expulsão

É firme a jurisprudência deste STF no sentido de que o decreto de expulsão, de cumprimento subordinado à prévia execução da pena imposta no País, constitui empecilho ao livramento condicional do estrangeiro condenado. HC 99400, rel. Min. Cár-men Lúcia, 27.4.10. 1ª T. (Info 584).

STJ – Progressão de regime. Estrangeiro. Processo de expul-são

Trata-se de habeas corpus em favor de paciente estrangeiro que cumpre pena de quatro anos e dez meses de reclusão em regime fechado pela prática do delito de tráfico de drogas (art.  33, caput, da Lei n.  11.343/2006), cujo término está pre-visto para 3/11/2013. Na espécie, o paciente teve o pedido de progressão ao regime semiaberto deferido pelo juízo das exe-cuções criminais. Dessa decisão, o Ministério Público interpôs agravo em execução no tribunal a quo, o qual deu provimento ao recurso ministerial para reformar a decisão recorrida, deter-minando o retorno do condenado ao regime fechado. É con-sabido que a situação irregular de estrangeiro no País não é circunstância, por si só, apta a afastar o princípio da igualdade entre nacionais e estrangeiros. Embora este Superior Tribunal entenda não ser possível o deferimento do benefício da pro-gressão de regime prisional ao condenado estrangeiro cujo processo de expulsão esteja em andamento, o caso sub exa-mine é sui generis. Isso porque o paciente é casado com uma brasileira desde  2005, tendo com ela dois filhos nascidos no Brasil, situação que, em princípio, inviabilizaria a decretação de sua expulsão nos termos do art.  75, II, do Estatuto do Estran-geiro e da Súm. n. 1/STF. Além disso, o paciente já cumpriu pena no regime semiaberto por cerca de sete meses, sem qualquer tentativa de fuga, período em que usufruiu, até mesmo, saídas temporárias. Assim sendo, a possibilidade de fuga e, conse-quentemente, de frustração do decreto de expulsão não justi-fica o indeferimento do pedido da progressão ao regime semia-berto. Inclusive, o STF já decidiu que o fato de o condenado por tráfico de droga ser estrangeiro, estar preso, não ter domicílio no país e ser objeto de processo de expulsão não constitui óbice à progressão de regime de cumprimento da pena. Des-sarte, diante das peculiaridades do caso, não existe qualquer obstáculo à progressão para regime prisional intermediário, que não equivale à liberdade do paciente. Com essas e outras ponderações, a Turma concedeu a ordem para permitir ao paciente a progressão ao regime semiaberto, restabelecendo a decisão do juízo da execução penal. Precedente citado do STF: HC 97.147-MT, DJe 12/2/2010. HC 219.017-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/3/2012. (Info 493).