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mercados financeiros
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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Direito dos Mercados Financeiros
Turmas A-B-Noite - 14 de Junho 2011
90 minutos
Escolha apenas duas das seguintes questões e responda/comente de forma sucinta, organizada e
crítica num máximo de duas páginas por resposta (10 valores x 2).
1. Paradoxalmente, a concentração verificada nos mercados financeiros é uma garantia da
concorrência.
2. Com a criação das novas agências europeias de supervisão, a independência e
autonomia das autoridades supervisoras nacionais são afectadas.
3. Face à tendência actual de desmaterialização e integração das economias e dos
mercados, caminha-se no sentido de, no futuro, deixarem de existir instituições
bancárias.
4.
5. Caso Prático:
Christine Strauss e Dominique Lagarde são dois altos funcionários de um Banco com sede
em Paris que está em vias de expandir a sua actividade no sul da Europa. Apesar deste
Banco francês já realizar em Portugal diversas operações bancárias, Christine Strauss
defende que o Banco deve enveredar por uma estratégia mais arrojada no mercado
português, preconizando a abertura de uma sucursal daquele Banco em Lisboa com vista a
efectuar todas as operações bancárias e financeiras permitidas pela legislação portuguesa.
Porém, Dominique Lagarde prefere o projecto da constituição de uma filial daquele Banco
em Lisboa, argumentando que esse desígnio pode ser facilmente alcançado em virtude da
aplicação de legislação da União Europeia em matéria do mercado interno bancário,
salientando ainda que gostaria de ver a futura filial portuguesa desempenhar um importante
papel em matéria de transacções sobre instrumentos financeiros por conta própria e por
conta dos respectivos clientes.
Tópicos de correcção
1.
- Mercados financeiros: concorrência imperfeita (bancário – oligopólio; mercado valores
mobiliários – entre monopólio (sociedades gestoras de mercados regulamentados) e
oligopólio (empresas de investimentos)
- potenciais problemas concorrenciais associados a artigos 101.º (acordos e associações de
empresas e práticas concertadas) e 102.º TFUE (abuso de posição dominante)
- Concentração de empresas (Regulamento 139/2004/CE) + artigos 8.º/1 a 3, 9.º/1 e 10.º
LDC
- razões concentração: economias de escala, redução de custos em ambiente de
internacionalização ou seja ter dimensão para concorrer no mercado e permitir o
funcionamento da economia (101.º CRP)
- concorrência que se desenvolve também com exploração de nichos de mercado e inovação
financeira
2.
- Relatório Larosière na sequência de crise de 2007 com proposta de alteração da supervisão
dos mercados financeiros
- Regulamentos 1092 a 1096/2010/UE e Directiva 2010/78/UE com nova estrutura bipartida
com CERS e SESF que inclui 3 autoridades de supervisão europeias mas também
supervisores nacionais
- em matéria de autonomia ténue avanço no sentido de uma supervisão federal:
(i) não desaparecem autoridades nacionais
(ii) autoridades europeias sobretudo com poderes “moles” (comply or explain) mas
com alguns poderes vinculativos, impondo-se sobre autoridades nacionais e
directamente sobre as próprias instituições financeiras (ex. artigos 10.º
(nomas), 17.º/6 (violação legislação) 18.º (emergência) Reg. 1093).
- independência de Autoridades europeias com fórmula semelhante a comissão ou bancos
centrais (ex. artigos 42.º e 46.º reg. 1093)
- problemas mesmo no foro interno com definição de independência de autoridades
nacionais
3.
- Evolução dos mercados financeiros: desmaterialização (cf. moeda), desintermediação,
evolução tecnológica, inovação financeira, internacionalização e integração.
- problemas de confiança quanto à capacidade dos bancos em proteger e aumentar o
património dos seus clientes nos próximos anos.
- Maior relevância atribuída actualmente pelos bancos à eficiência na prestação de serviços,
aos seus custos e à faculdade de antecipar as necessidades dos clientes.
- Concentração bancária
- Desenvolvimento de nichos de mercado
- Não integração completa devido a assimetrias de desenvolvimento entre vários Estados
4.
- Volatilidade dos preços nos mercados financeiros
- Duas causas principais: (i) psicológicas (confiança, expectativas, comportamento gregário)
(ii) expansão dos mercados – globalização e integração financeiras
- várias tentativas de estabilização: ex. securitização, mecanismo de estabilização de preços
(Artigo 349.º CVM e Regulamento (CE) n.º 2273/2003, da Comissão, de 22 de Dezembro.)
- teoria do passeio aleatório se mercado for eficiente
5.Caso prático:
a. Não obstante o Banco ter sede em Paris, o certo é que – segundo o enunciado da
hipótese - já realiza diversas operações bancárias em Portugal, certamente ao abrigo do
regime da livre prestação de serviços (art. 60º RGIC). Ou seja, depreende-se que se trata
de uma instituição de crédito legalmente autorizada em França e sujeita à supervisão
das competentes autoridades de supervisão francesas (art. 48º RGIC). Também se
depreende que o Banco de Portugal – autoridade de supervisão bancária em Portugal
(art. 17º LOBP) – tivesse oportunamente recebido da parte das autoridades de
supervisão francesas uma comunicação relativa às operações que o Banco francês
pretendia realizar em Portugal, além da certificação de que essas operações se
encontravam em linha com as operações realizadas no seu país de origem (art. 61º
RGIC).
Legislação: além do RGIC, ver igualmente art. 28º Directiva nº 2006/48/CE.
b. Segundo a tese de Christine Strauss, o Banco francês devia aceder à actividade bancária
em Portugal mediante a abertura de uma sucursal (art. 13º, nº 5 RGIC). Esta matéria
insere-se no regime do mercado interno bancário, construído com base em sucessivas
Directivas comunitárias, relevando, na actualidade, a Directiva nº 2006/48/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de Junho de 2006 (JOUE L 177, de
30.06.2006). Tendo em conta princípios como os de reconhecimento único (na senda da
jurisprudência “Cassis du Dijon” de 1979), da autorização única e da supervisão pelo
Estado de origem, a abertura da sucursal do Banco francês em Lisboa implica a
recepção prévia por parte do Banco de Portugal de uma comunicação emitida pelas
autoridades de supervisão bancária francesas donde conste o programa de actividades
da sucursal (art. 49º, nº 1 RGIC), devendo a gerência desta caber a um mínimo de dois
gerentes «four eyes rule» (art. 49º, nº 2 RGIC).
Legislação: além do RGIC, ver igualmente arts. 25º ss Directiva nº 2006/48/CE.
c. É com base na comunicação das autoridades de supervisão francesas – autoridades de
supervisão do Estado de origem (art. 13º, nº 8 RGIC) – que o Banco de Portugal –
autoridade de supervisão do Estado de acolhimento (art. 13º, nº 9 RGIC) - organiza a
supervisão das matérias da sua competência (art. 50º RGIC), dando até cumprimento ao
princípio da estreita colaboração entre autoridades de supervisão do Estado de origem e
do Estado de acolhimento (arts. 40º ss Directiva nº 2006/48/CE).
Legislação: além do RGIC, ver igualmente arts. 40º ss Directiva nº 2006/48/CE.
d. De harmonia com o acima exposto, a sucursal em Lisboa do Banco francês pode
realizar as operações constantes da lista anexa à Directiva nº 2006/48/CE que aquele
Banco esteja autorizado a realizar em França e que integrem o programa de actividades
da referida sucursal, em conformidade, aliás, com a comunicação recebida pelo Banco
de Portugal das autoridades de supervisão bancária francesas (arts. 49º e 52º RGIC).
Legislação: além do RGIC, ver igualmente Anexo I da Directiva nº 2006/48/CE.
e. Segundo a tese de Dominique Lagarde, a estratégia de implantação em Portugal do
Banco francês deveria passar pela constituição de uma filial (art. 13º, nº 1 RGIC).
f. Banco constitui a espécie paradigmática das instituições de crédito (arts. 2º e 3º RGIC),
podendo efectuar um leque alargado de operações (art. 4º RGIC). A constituição de um
Banco depende de autorização a conceder, caso a caso, pelo Banco de Portugal (art. 16º,
nº 1 RGIC), porquanto a decisão deve ser pautada por critérios de natureza técnico
prudencial. No entanto, a decisão de autorização do BP é sempre comunicada à
Comissão Europeia (art. 16º, nº 3 RGIC). O pedido é instruído com diversos elementos
(art. 17º RGIC), dependendo a autorização da consulta prévia às autoridades de
supervisão do Estado da empresa-mãe (art. 18º RGIC). O Banco a constituir em
Portugal deve satisfazer as condições constantes do art. 14º RGIC (princípio da
conformação legal). Por seu turno, o Banco de Portugal deve comunicar a sua decisão
aos interessados (art. 19º RGIC). Sem prejuízo da intervenção da CMVM (art. 29º - A,
RGIC), o início da actividade bancária por parte da nova entidade depende ainda de
registo no Banco de Portugal (arts. 65º ss RGIC)
g. Tendo em vista a transacção sobre instrumentos financeiros (arts. 1º e 2º CVM), o
Banco a constituir em Portugal também pretende ser um intermediário financeiro em
instrumentos financeiros (arts. 289º ss CVM), devendo, por isso, ser assegurado o
competente registo na CMVM (arts. 295º ss CVM).
h. Em termos de supervisão, importa evidenciar as competências quer do Banco de
Portugal (BdP) quer da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em
conformidade com o RGIC, o CVM, a Lei Orgânica do Banco de Portugal (LOBP),
aprovada pela Lei 5/98, de 31 de Janeiro, com sucessivas alterações, bem como o
Estatuto da CMVM, aprovado pelo DL 473/99, de 8 de Novembro, com sucessivas
alterações.