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DIREITO E O MUNDO PÓS-COVID-19 - Farracha de Castro ......5 a convivência parental, sob pena de caracterizar alienação parental; • Quando o período de convivência já estabelecido

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Rua Moysés Marcondes, 659 | Juvevê | Curitiba/PR | CEP: 80030-410Fone: (41) 3075-6100 | WhatsApp (41) 99514-0048

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DIREITO E O MUNDO PÓS-COVID-19

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APRESENTAÇÃO

O Direito e o Mundo Pós-Codiv-19: É fato que depois do novo co-ronavírus o mundo nunca mais será o mesmo. O ambiente digital (com comércio on-line, reuniões virtuais, cursos a distância, entre outras atividades) não será mais uma opção secundária e sim um dado concreto.

Em razão disso, com o presente informativo, o FARRACHA DE CAS-TRO ADVOGADOS oferece ao leitor alguns impactos já ocasionados no mundo empresarial e suas repercussões no direito. Não se trata exercício de futurologia. Pelo contrário. Cuida-se de mudanças e tendências em andamento.

Boa leitura!

Carlos Alberto Farracha de Castro

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SUMÁRIO

Direito de Família: uma nova realidade para con-duzir as relações

Adaptações do Direito Imobiliário em um mo-mento excepcional

O diferencial do planejamento tributário para mi-nimizar impactos da crise

Direito de negócios em tempos de normas emer-genciais

Enfrentamento da pandemia na prática jurídica: gestão de riscos nos contratos empresariais

Recuperação judicial e falências: alternativas às empresas em crise

Os efeitos da pandemia de Covid-19 no Direito Administrativo

Considerações finais

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13.

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22.

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DIREITO DE FAMÍLIA: UMA NOVA REALIDA-DE PARA CONDUZIR AS RELAÇÕES

A abrupta e inesperada mudança de rotina de toda a sociedade, causada pela Covid-19, tem reflexos diretos no direito de família. Afinal, a dinâmica familiar foi alterada pelo isolamento social, com repercussões de ordem emocional e financeira e que, tudo leva a crer, se perpetuarão em mundo pós-pandemia.

Ante a grave crise sanitária decorrente da pandemia mundial da Covid-19, a recomendação quase unânime para prevenção de con-tágio é de distanciamento social. Essa significativa mudança impac-tou a estrutura do ensino regular e alterou drasticamente a rotina das crianças e adolescentes, impondo a necessidade de adaptação de todo o núcleo familiar. A necessidade de adequação de familiar foi ainda mais impactante nas famílias cuja rotina estava submetida a uma regulamentação judicial, nas quais os pais/responsáveis não convivem na mesma residência.

Fato é que as alterações na rotina de toda a sociedade revelaram a importância e efetividade das soluções consensuais, tomadas de comum acordo por ambos os genitores/responsáveis, muitas vezes por intermédio de seus respectivos advogados. Afinal, o atual mo-mento é novidade a todos, e chegou sem tempo de se promoverem previamente eventuais adaptações.

Como o normal em um mundo pós-pandemia será diferente de tudo que as famílias vivenciavam até então, teremos que trabalhar em novos arranjos para exercício da parentalidade. Para auxiliar os ge-nitores/responsáveis a resolverem consensualmente sobre as rotinas dos pequenos nesse período de pandemia e de pós-pandemia, o setor de Família do Escritório Farracha de Castro Advogados sugere a observância aos parâmetros a seguir..

Visitas e guarda compartilhada em tempos de pandemia

• A necessidade de distanciamento social ou alteração na rotina das crianças não pode ser pretexto para inviabilizar

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a convivência parental, sob pena de caracterizar alienação parental;

• Quando o período de convivência já estabelecido não oferece risco aos menores, demais familiares e sociedade de modo geral, recomenda-se que a rotina seja mantida;

• Sendo necessária a readequação do período de convivên-cia, importante que a nova rotina considere evitar a circu-lação dos menores pela cidade;

• Além da suspensão das aulas presenciais, observou-se que as instituições privadas têm reorganizado os respectivos ca-lendários acadêmicos em atenção às necessidades especí-ficas de cada comunidade escolar. Para favorecer a apren-dizagem dos pequenos, é importante que o período de convivência observe atentamente o calendário escolar e a nova rotina regular de estudos;

• Objetivando manter os laços parentais preservados, bem como garantir a necessária segurança emocional neste de-licado momento social, recomenda-se que os genitores que não estiverem na companhia dos filhos tenham livre aces-so a eles por meio virtual. Para tanto, também se deve ob-servar a rotina escolar e, evidentemente, respeitar a convi-vência com o outro genitor.

Alimentos

Importante ressaltar, ainda, que a Covid-19 trouxe profundas alte-rações no mercado de trabalho. Milhares de pessoas perderam o emprego, tiveram redução de salário e diminuição de lucro nos seus negócios. Com certeza, essa situação impactará nos alimentos fixa-dos em Juízo.

Ocorre que, para solicitar a alteração/redução de alimentos é ne-cessário comprovar que a situação financeira efetivamente modificou com a pandemia de forma permanente e não transitória, durante o isolamento social. Essa comprovação deverá ser feita com docu-mentos que demonstrem a diminuição do salário e/ou rendimentos.

Lembramos que qualquer alteração na forma ou valor dos alimen-

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tos deve ser homologada em Juízo, sob pena de ajuizamento de execução de alimentos, inclusive pelo rito da prisão.

A sociedade está vivando uma mudança profunda e terá que se adaptar ao “novo normal” que surge dessa pandemia. Os reflexos no direito de família são evidentes, vez que a dinâmica familiar foi alterada pelo isolamento social, que trouxe repercussões de ordem emocional e financeira.

Prisão

Nesse período, a prisão civil por dívida alimentícia será cumprida exclusivamente na modalidade domiciliar.

ADAPTAÇÕES DO DIREITO IMOBILIÁRIO EM UM MOMENTO EXCEPCIONALA pandemia vivenciada pelo mundo por força do novo coronavírus atinge a economia global. O reflexo no mercado imobiliário segue a mesma sorte do mercado financeiro. Ou seja, com a crise eco-nômica há, consequentemente, uma queda no valor dos imóveis comercializados, bem como são atingidos os contratos de locações existentes entre as partes, notadamente porque as atividades con-sideradas “não essenciais” foram fechadas por determinação legal e aquelas consideradas “essenciais” sofreram forte queda em seu faturamento.

I - Cautelas na aquisição de imóvel em tempo de pandemia

1. Solicitação e análise de certidões de feitos ajuizados;

2. Análise de crédito e de garantias de pagamento do adqui-rente, recomenda-se a utilização do processo denominado due diligence (prévio e preventivo à formalização do ne-gócio) por profissional habilitado e capaz de identificar os riscos na operação.

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II - As relações imobiliárias em época de pandemia

A revisão contratual pode ser necessária, seja pelo forte impacto sofrido com a diminuição das receitas, seja pela necessidade de readequação das atividades consideradas como “essenciais” e “não essenciais”.

• Força maior: A força obrigatória existente nos contratos de locação - qual seja, em tese, o pagamento mensal do valor locatício dentro do prazo previsto contratualmente, indepen-dentemente se o imóvel está sendo ou não utilizado – deve ser mitigada diante da situação de força maior (pande-mia). Isso porque, a atividade desenvolvida sobre o imóvel que proporciona renda para o pagamento do valor locatí-cio não está sendo desempenhada. Em termos precisos, não é por vontade do locatário que a atividade está paralisada, mas sim por determinação legal de fechamento daquelas atividades consideradas como não essenciais.

• Revisão de valores: Na grande maioria dos contratos de locação, não há previsão de redução em épocas de crise, muito menos em situação de pandemia, como a vivencia-da atualmente. A sugestão da revisão contratual deve ser analisada caso a caso. A indicação é observar o contexto contratual e da sua atividade exercida, bem como a pers-pectiva do mercado. As principais opções sugeridas são:

1. Redução de valor locatício sem observar o seu fatu-ramento;

2. Pedido de suspensão ou até mesmo de isenção tem-porária do pagamento do valor dos locatícios;

3. Pagamento do valor locatício com redução proporcio-nal observando o faturamento mensal.

• Priorizar o acordo: a recomendação é sempre buscar uma negociação visando evitar a litigiosidade, seja na esfera judicial ou extrajudicial (mediação e negociação).

• Documentar: feito o acordo, é importante firmar o que foi repactuado por meio de documento (aditivos de contrato) para garantir às partes maior segurança jurídica.

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O DIFERENCIAL DO PLANEJAMENTO TRI-BUTÁRIO PARA MINIMIZAR IMPACTOS DA CRISE

Em virtude das constantes mudanças provocadas pela pandemia do coronavírus, o período atual é de grandes incertezas. Por essa razão, é necessário que os empresários tenham cautela ao tomar decisões, para evitar escolhas precipitadas. É preciso traçar cená-rios e estratégias. Nesse contexto, com o planejamento tributário adequado é possível minimizar os impactos financeiros trazidos pela pandemia.

O ajuizamento de ações judiciais visando à restituição de tributos pagos indevidamente, ou a maior, é um exemplo de planejamento tributário. É possível ter a recuperação de créditos, que poderá re-duzir a carga tributária das empresas e otimizar os lucros.

Observe alguns dos principais tópicos em que um estudo cuidadoso da situação tributária da empresa pode fazer a diferença:

1. Limitação da base de cálculo das contribuições destinadas a terceiros

Atualmente, o ordenamento jurídico prevê várias contribuições desti-nadas a entidades e fundos que figuram como importantes sujeitos no desenvolvimento econômico-social do país, dentre as quais se destacam as contribuições devidas ao INCRA, SENAC, SESC, SE-BRAE, SESI, Salário Educação etc. Cada uma possui uma natureza e finalidade distintas, cujas alíquotas são variadas, de 0,2% a 2,5%. Contudo, um fato importante, que até então vinha passando desper-cebido, é que a base de cálculo dessas contribuições não pode ultrapassar o valor de 20 (vinte) salários mínimos.

Fundamentação legal: caput e parágrafo único do art. 4º, da Lei nº 6.950/81.

2. Exclusão do ICMS e do ISS da base de cálculo dos

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tributos federais

O ICMS não integra o conceito de faturamento das empresas, uma vez que se trata de ônus de caráter fiscal do contribuinte, destinado ao Erário Estadual, em face da competência tributária estabelecida no artigo 155, II, da Constituição Federal. Portanto, distingue-se do fato gerador do PIS e da COFINS (RE 574.706/PR). O mesmo raciocí-nio estende-se ao ICMS-ST e ISS. Registra-se que a mencionada tese poder ser aplicada para exclusão do ICMS/ICMS-ST/ISS na base de cálculo da CPRB, do IR e da CSLL, sendo as duas últimas destinadas às empresas optantes pelo Lucro Presumido.

Fundamentação Legal: artigo 195, I, b, da Constituição Federal.

3. Exclusão do PIS/Cofins da própria base de cálculo

Da mesma forma que o ICMS não pode integrar a base de cálculo das contribuições ao PIS e a Cofins (conforme entendimento profe-rido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do Recurso Extraordinário 574.706/PR em sede de repercussão geral), o PIS e a COFINS também não podem integrar a sua própria base de cálculo. Afinal, os dois são tributos destinados ao Erário Federal e não se consubstanciam em receita e/ou faturamento da empresa.

Fundamentação Legal: artigo 195, I, b, da Constituição Federal.

4. Exclusão do PIS/Confins da base de cálculo da CPRB

A parcela relativa ao PIS/COFINS não se inclui no conceito de re-ceita bruta para fins de determinação da base de cálculo da Con-tribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB). Aqui, aplica-se, por analogia, o entendimento fixado no RE 574.706/PR.

Fundamentação Legal: artigos 7º e 8º da Lei 12.546/2011.

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DIREITO DE NEGÓCIOS EM TEMPOS DE NORMAS EMERGENCIAISCom o advento da Lei nº 14.010/2020, novos procedimentos serão observados nas relações contratuais, societárias, e até mesmo judi-ciais no período compreendido entre o início do estado de calami-dade pública (20/03/2020) e o prazo assinalado para 30/10/2020. As empresas poderão observar nas deliberações societárias, inclusive para destituição de administradores, a forma eletrônica. Significa dizer que a obrigatoriedade de assembleia para aprovar/reprovar contas e outros assuntos continua valendo, mas sem a necessidade de presença física para tanto.

Algumas práticas comerciais que antes configuravam infração à or-dem econômica (dumping, cessação de atividades sem justa causa e concentração, por exemplo), no período de pandemia, serão ha-vidas como regulares.

Confira os principais tópicos da Lei nº 14.010/2020 que impactam os direitos de negócios.

• Validade: As normas inseridas possuem caráter transitório e emergencial, a contar de 20/03/2020, data em que o Decre-to Legislativo nº 6, do Governo Federal, instituiu estado de calamidade pública.

• Prescrição e Decadência: Haverá impedimento e suspensão dos prazos prescricionais e decadenciais. Desta forma, o exercício de ação estaria assegurado a partir da entrada em vigor da lei até 30 de outubro de 2020.

• Pessoas Jurídicas de Direito Privado: AAssociações, socie-dades (anônima, limitada, etc.), fundações e organizações religiosas poderão observar em suas deliberações a forma eletrônica, inclusive para destituir administradores e alterar estatutos, até 30 de outubro de 2020. Essa restrição não se aplica aos partidos políticos.

• Reuniões remotas: A nova lei incentiva a realização de en-contros, assembleias e reuniões de forma remota, através de

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vídeo conferência e outros meios eletrônicos que restrinjam o contato pessoal. A participação nas assembleias de sócios e/ou acionistas poderá ocorrer por qualquer meio eletrônico que o administrador assegure a identificação do partici-pante. Importante observar essa questão para evitar futuras alegações de nulidades.

• Relações de Consumo: Fica suspenso até 30 de outubro de 2020 o direito que o consumidor possuía de se arrepender em até 7 (sete) dias da aquisição on-line de produtos pere-cíveis ou de consumo imediato e medicamentos.

• Regime Concorrencial: Não serão configuradas como infra-ções à ordem econômica:

1. a comercialização de bens ou produtos com valores abaixo do preço de custo (dumping);

2. cessação parcial ou total das atividades empresariais sem justa causa comprovada;

3. a concentração quando 2 (duas) ou mais empresas celebrarem contrato associativo, contrato de incorpo-ração, consórcio ou joint venture.

• Proteção de Dados: A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e o Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade já foram implementadas, mas a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018) terá suas sanções (art. 52, 53 e 54) vigentes apenas a partir de 1º de agosto de 2021.

Prestar atenção em todas essas peculiaridades da nova proposta legislativas e observar o cenário de incertezas causado pelos efeitos da pandemia da Covid-19 é fundamental ao se firmar qualquer ne-gócio nesse período. Informação especializada e atualização cons-tante podem fazer toda a diferença.

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ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA NA PRÁ-TICA JURÍDICA: GESTÃO DE RISCOS NOS CONTRATOS EMPRESARIAISContratos empresarias dão forma aos mais diversos tipos de ope-rações econômicas, como a compra de insumos, arrendamento de equipamentos, distribuição, prestação de serviços, tomada de cré-dito, locação, investimentos e tanto outros. Para contratar, as partes não somente levam em consideração o encontro de interesses re-lativos ao bem jurídico objeto da negociação, como também con-sideram as circunstâncias fáticas, financeiras, econômicas e sociais presentes no momento do acerto para que definam e pactuem suas obrigações.

No entanto, quando após a celebração de um negócio, ocorre a modificação destas condições, por vezes os contratantes têm suas expectativas ou capacidades de adimplemento frustradas. Observa-mos essas circunstâncias nos efeitos decorrentes da pandemia de covid-19.

Em razão das restrições à circulação de pessoas impostas pelas medidas de contenção do contágio da doença, houve forte impacto nas dinâmicas de oferta e demanda por bens e serviços, resultando na dificuldade de geração de caixa das empresas e na diminuição da atividade comercial, logística e industrial do país. Diante de tais adversidades, muitos contratos em curso tiveram de ser renegocia-dos, rescindidos ou submetidos ao Poder Judiciário para solução dos conflitos instaurados. A seguir, algumas alternativas de reação a essas circunstâncias:

Legislação

• Força maior: O Código Civil Brasileiro prevê normas cuja finalidade são a mitigação de assimetrias e impedimentos inesperados. O art. 393 isenta a parte inadimplente de res-ponder por prejuízos e penalidades quando a impossibilida-de de cumprir o contrato for decorrente de caso fortuito ou força maior;

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• Revisão contratual: Também no Código Civil, os arts. 478 e 479 que autorizam a revisão ou a rescisão contratual quan-do as obrigações de uma das partes se tOrnarem exces-sivamente onerosas, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis.

Parâmetros objetivos

• Consenso entre as partes: é necessário para confirmar a excludente de responsabilidade pelo inadimplemento ou para uma renegociação ou rescisão do contrato diante da modificação das condições de mercado;

• Sem acordo: caberá à Justiça ou ao tribunal arbitral acio-nado para resolução da disputa que interprete tais normas e defina o direito a ser aplicado no caso.

Mais previsibilidade

• Lei da Liberdade Econômica (13.874/ 2019): confere maior previsibilidade aos contratos ao estabelecer determinados mecanismos. Por exemplo, é possível definir em contrato parâmetros objetivos com a finalidade de alocar riscos e definir previamente quais serão os direitos de deveres dos contratantes em potenciais cenários de crise. Também há a possibilidade de definir critérios para revisão ou rescisão do negócio.

• Auxílio jurídico especializado: fundamental para redação de novos contratos ou para auditoria de contratos de presta-ção continuada já em curso.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIAS: ALTERNATIVAS ÀS EMPRESAS EM CRISEO intuito do pedido de recuperação judicial é o enfrentamento da

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crise pela empresa (seja por qual for a origem) visando à preser-vação de sua atividade e o seu soerguimento. O Projeto de Lei 1397/2020, aprovado pela Câmara dos Deputados, cria sistema de prevenção à insolvência, com a finalidade de minimizar o impacto do isolamento social causado pela Covid-19, evitando que outras empresas formalizem pedidos de recuperação judicial ou até mes-mo de falência.

Com a pandemia do novo coronavírus, houve um aumento de 46,3% em pedidos de Recuperação Judicial e 25% em pedidos de falência, se comparado com mesmo período de 2019, segundo informações da Serasa Experian.

O PL 1397/2020 propõe flexibilizações às obrigações do devedor, tais como: suspensão por 30 dias, após a publicação da lei, de execuções e cobranças de obrigações vencidas após 20/03/2020; impossibilidade de decretação de falência; impossibilidade de despejo no mesmo período; ausência de mora; a possibilidade de negociação prévia (extrajudicial), dentre outras. A referida lei, se aprovada e sancionada, terá vigência até 31/12/2020, sendo limitado o marco temporal.

Proposta legislativa

• Prevenção à insolvência: está prevista no PL, aplicável a qualquer devedor, seja empresário individual, pessoa jurídica de direito privado, produtor rural ou profissional autônomo. Estão incluídas as empresas com menos de dois anos de existência, que pela lei anterior não teriam esse direito. A proposta é uma tentativa de possibilitar a criação de um ambiente de negociação extrajudicial entre os credores e devedores, antes do processo de recuperação judicial.

• Mais segurança jurídica: ausência de alteração das obriga-ções ou redução das dívidas e com prazo determinado.

• Pequenas e microempresas: têm tratamento diferenciado, apresentando um prazo de parcelamento e de carência maiores, admitindo inclusive desconto ou deságio no valor

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da dívida.

Medidas do Poder Judiciário que visam à preservação da atividade empresarial

• Deferimento de pedidos de prorrogação dos pagamentos previstos nos planos de recuperação judicial;

• Prorrogação de aluguéis;

• Impossibilidade de corte de energia elétrica de consumi-dores inadimplentes;

• Ausência de rescisão de contrato por inadimplência, den-tre outros;

• Suspensão do cumprimento dos planos de recuperação judicial e a suspensão dos pagamentos aos respectivos credores, desde que demonstrado, de forma robusta e fun-damentada, que a crise causada pela pandemia inviabilizou ou dificultou o seu cumprimento.

Acordos

• Mais frequentes: Observa-se que, nesse momento, as pes-soas estão buscando cada vez mais acordos e soluções “amigáveis” para solucionar seus conflitos, o que é uma vitória para toda a sociedade, principalmente ao Legislativo e Judiciário, que, há tempos, lutam pelo fim do costume de “litígio” que envolve a população brasileira.

• Cejusc: O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) aprovou, em 15/04/2020, a criação de uma nova modalidade de Centro Judiciário de Resolução de Conflitos: o Cejusc Recuperação Empresarial. O projeto piloto será implantado em Francisco Beltrão. O objetivo é dar oportunidade aos empresários em crise para renegociação de dívidas com seus credores, em uma fase “pré-processual”. Desta maneira, será evitado o pedido de recuperação judicial ou até a falência. Empresas

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que já estão em processo de recuperação judicial também poderão utilizar a plataforma.

Bancos de dados

Recentemente, a Corregedoria do CNJ anunciou que editará ato normativo, com o objetivo de vincular informações, por meio de um banco de dados, decisões de ações de falências e recuperações judiciais do TJ-PR com a Corregedoria da Justiça do Trabalho. Tal projeto visa à celeridade e economia processual, principalmente no pagamento dos créditos oriundos das reclamatórias trabalhistas, que constituem o maior volume de incidentes no processo falimentar.

• Informação concentrada: O referido provimento tem por ob-jetivo incentivar os TJs a concentrarem todas as informações das decisões sobre tais matérias junto à Corregedoria Ge-ral da Justiça do Trabalho, conforme o Termo Cooperação Técnica 009/2012. Assim, as dúvidas de natureza operacional serão sanadas mais facilmente e, será promovida ampla di-vulgação do Banco de Falências e Recuperações Judiciais, disponível na página da Corregedoria Geral do CNJ.

• Celeridade: com a implementação de tal sistema, certamen-te, a reestruturação ou a liquidação de uma sociedade se dará de forma muito mais rápida, beneficiando, assim, a economia do país, pois haverá circulação de riqueza

Instituições financeiras

Negócios terão seu andamento impactado pelo “Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado”, aprovado pelo PL 1179/2020, o que enseja cuidados pelos consumi-dores ao discutir ou firmar contratos bancários durante o estado de calamidade pública decorrente da COVID-19.

• Prorrogações: As cinco maiores instituições do Brasil (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander) di-vulgaram que prorrogariam, por até 60 dias, os vencimentos

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de dívidas de clientes para os contratos vigentes, desde que em dia e que os valores prorrogados não ultrapassassem os valores já utilizados. Ocorre que, o que se viu, é que tais prorrogações não se consumaram ou vieram acompa-nhadas de reincidência de juros, o que, na prática, manti-nham e agravavam a onerosidade ao consumidor. Apesar de prorrogarem o pagamento de determinadas parcelas, suportariam parcelas com encargos ainda maiores ao final. Ou seja, o risco de inadimplência é ainda maior, uma vez que os encargos serão maiores justamente no momento de crise.

• Projetos de lei: Proposta aprovada: O PL 1179/2020, que dis-põe sobre “Regime Jurídico Emergencial e Transitório das re-lações jurídicas de Direito Privado” no período da pandemia, constando, em seu texto:

• Possibilita que dívidas que prescreveriam neste período sejam executadas posteriormente;

• Prevê a impossibilidade de utilizar-se de situações como: aumento da inflação, a variação cambial, a desvaloriza-ção ou a substituição do padrão monetário para revisão contratual com base no CDC;

• O afastamento das normas consumeristas das relações contratuais subordinadas ao Código Civil, incluindo aque-las estabelecidas exclusivamente entre empresas e em-presários.

Paraná

O governo Estadual adotou medidas econômicas semelhantes às de outros países:

• Criação de linha de crédito para Capital de Giro para em-preendedores informais, MEI, Micro e Pequenas Empresas;

• Prorrogação de prazo e renegociação para devedores do Fomento Paraná;

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• Capital de giro e microcrédito para empresas de todos os portes por meio do BRDE e repactuação de pagamentos de dívidas em andamento.

Os efeitos da pandemia de Covid-19 no Di-reito AdministrativoA pandemia da Covid-19 está instaurada há considerável período de tempo e, a despeito do fato de algumas soluções terem surgido para tentar contornar o problema, a realidade é que os impactos que já ocorreram estão longe de serem suprimidos. Da mesma for-ma, não há como se prever com precisão os efeitos futuros tanto da pandemia quanto das próprias soluções que foram até aqui adotadas.

Além das crises sanitária e econômica que têm sido fartamente no-ticiadas na imprensa do mundo todo, não há como e nem porque dissociar tal cenário do campo do Direito Administrativo. Por ser diretamente ligado a diversos aspectos da vida cotidiana, também tem sido objeto de mutações, adequações e novidades para se adaptar à excepcional situação ora vivida e ao que se pode dela esperar no futuro.

Entre os temas impactados estão os contratos firmados com a ad-ministração pública, a flexibilização de limites para leis orçamentá-rias e a sistemática de concursos públicos. Em todos os casos, há medidas específicas para tratar da excepcional situação.

A situação vivenciada se encaixa perfeitamente nos casos de força maior. Portanto, novas medidas vêm sendo pensadas para o mo-mento, assim como tem ocorrido a adoção de regras que antes não eram utilizadas (ou o eram muito raramente) pela simples au-sência de motivos para que pudessem ser postas em prática.

Quanto à adoção da força maior, o embasamento legal se dá por meio dos artigos 393 e 317 do Código Civil, os quais também abrangem a denominada Teoria da Imprevisão. Com base nisso, fica possível, em tese, rediscutir valores e/ou formas de prestação de serviços decorrentes de contratos de concessão – ou, no mínimo, buscar

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o restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro da opera-ção. Registre-se que ideia semelhante é espelhada no Parecer nº 261/2020 da Advocacia Geral da União.

Muitas das medidas já adotadas pelas autoridades têm-se mostrado eficazes, ao menos para mitigar as consequências da pandemia, sendo cabível afirmar que, se não fossem medidas (ainda que sejam criticáveis), a situação geral estaria muito pior em diversos aspectos. Vejamos a seguir as principais alternativas que vêm sendo adotadas no âmbito do Direito Administrativo:

• Subsídios: administradores públicos, no limite do que per-mitem os seus orçamentos, e conforme as prioridades defi-nidas, passaram a subsidiar determinados serviços públi-cos (ou a incrementar os subsídios antes havidos), mormente aqueles tidos como essenciais e que sofreram mais retração em suas demandas, o que reduz o risco de que serviços essenciais à população deixem de ser prestados.

• Contratos sem licitação: diante de demandas emergenciais (por exemplo, para adquirir respiradores ou testes para de-tectar o coronavírus), os administradores públicos estão au-torizados a contratar sem licitação.

• Requisição de bens ou serviços: o poder público pode re-querer bens e serviços de particulares, mediante posterior e justa indenização, conforme o disposto no artigo 15, inciso XIII, da Lei Federal nº 8.080/1990.

• Estado de calamidade: no Decreto Legislativo nº 6/2020 foi reconhecido estado de calamidade, o que permite flexibili-zar regras orçamentárias.

• Regime extraordinário fiscal: a Emenda Constitucional nº 106/2020, que “institui regime extraordinário fiscal, financei-ro e de contratações para enfrentamento de calamidade pública nacional decorrente de pandemia” e, com isso, traz regimes diferenciados para diversos setores, como, por exemplo, a flexibilização da regra que limita a concessão de créditos orçamentários.

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2020

• Suspensões na LDO e LRF: o Supremo Tribunal Federal (STF), em recente decisão, suspendeu alguns trechos da Lei de Diretrizes Orçamentárias e também da Lei de Responsabili-dade Fiscal por meio de liminar na Ação Direta de Incons-titucionalidade (ADIn) nº 6.357/DF. O objetivo foi o mesmo: dar mais tranquilidade aos administradores públicos para tratar do assunto e tentar mitigar suas consequências.

• Reponsabilidade: Medida Provisória (MP) 966/2020 acabou deixando bastante alargado o limite para os gestores pú-blicos, na medida em que somente serão responsabilizados os agentes que atuarem – ou se omitirem – com dolo ou erro grosseiro.

• Eleições municipais: o pleito ainda está previsto para outu-bro de 2020. A posição no momento é no sentido de que as datas estão todas mantidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme o disposto na Lei nº 9.504/1997 e nas Reso-luções nº 23.600 a 23.611/2019.

• Concursos públicos:

1. Devido às medidas de isolamento social, para evitar aglomerações, os concursos tiveram as provas adia-das;

2. Editais estavam por ser lançados ficam em compasso de espera;

3. Em relação aos aprovados em concursos com nome-ações pendentes, tramita no senado o Projeto de Lei nº 1.441/2020, que contempla a suspensão do prazo de validade dos concursos (prazo este que, segundo a Constituição Federal, é de no máximo dois anos). Também já se tem notícia de decisões administrativas e judiciais concedendo tal suspensão, de modo a evi-tar que os aprovados percam o direito à nomeação após o fim das medidas de isolamento e/ou do estado de calamidade pública.

• Trabalho remoto: a medida tem sido adotada no poder

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público com objetivo de prevenção à contaminação pelo vírus. A experiência demonstra que é possível racionalizar os quadros de funcionários públicos. E, onde é viável e cabível, o sistema pode se perpetuar após o fim pandemia. Assim, haveria redução de estruturas e instalações de tra-balho e benefícios ao trânsito e ao meio ambiente pela redução na circulação de pessoas, mormente em horários de pico.

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CONSIDERAÇÕES FINAISO período sem precedentes que o mundo vivencia é de imenso aprendizado. Mas, se houvesse escolha, obviamente, ninguém pas-saria por tudo isso, seja como indivíduo, empresa ou sociedade. E como a única alternativa é enfrentar, todos estão tratando de tentar sobreviver. É preciso se reinventar, se reorganizar, mudar as pers-pectivas. O direito, mesmo nas áreas que parecem extremamente técnicas, está lidando com essas demandas e procurando trazer criatividade nos novos caminhos.

A aplicação e interpretação das leis passa a ter uma nova perspec-tiva. Parte da legislação criada para o período tem caráter transi-tório, mas algumas normas podem perdurar. Para além do ordena-mento jurídico, o grande impacto é nas relações, na maneira de se adaptar rapidamente e de encontrar alternativas. Ainda que haja muitas dúvidas sobre o que será o chamado “novo normal”, o fato é que as marcas deixadas por esse tempo já trazem um novo mundo jurídico. Possivelmente, nesse contexto inesperado, a sociedade e os operadores do direito estejam enfim chegando à tão propagada inovação, aos esperados novos tempos.

Determinadas práticas serão incorporadas em um mundo pós-pan-demia, leis podem ser alteradas e interpretações podem mudar. O que permanecerá é a nova maneira de atuar, que seguirá deman-dando da advocacia e de todos que transitam no mundo jurídico o contínuo exercício de criar soluções.