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8/16/2019 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM PERSPECTIVA: COLETÂNEA DE ARTIGOS
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Direitos Fundamentais em
Perspectiva: Coletânea de Artigos
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Tauã Lima Verdan Rangel
(Organizador)
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Direitos Fundamentais em Perspectiva
Coletânea de Artigos
Capa: Cândido Portinari, Meninos com Carneiro (1959). Coleção
Particular.
ISBN: 978-1533405555
Comissão Científica
Tauã Lima Verdan Rangel
Editoração, padronização e formatação de texto
Tauã Lima Verdan Rangel
Conteúdo, citações e referências bibliográficas
Os autores
É de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui
apresentados. Reprodução dos textos autorizada mediante
citação da fonte.
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APRESENTAÇÃO
O Projeto “Dispersar Direitos”
substancializa uma proposta apresentada pelo
Professor Tauã Lima Verdan Rangel, na ministração
de suas disciplinas. O escopo principal do projeto
supramencionado é despertar nos discentes do Curso
de Direito do Instituto de Ensino Superior do Espírito
Santo (Multivix) – Unidade de Cachoeiro de
Itapemirim-ES uma visão reflexiva e crítica sobre o
universo jurídico. Trata-se de uma abordagem de
temas tradicionais e contemporâneos do Direito, tal
como suas implicações e desdobramentos em uma
realidade concreta, dialogando as disposições teóricas
com pesquisa empírica, elementos indissociáveis para
a construção e amadurecimento do conhecimento.
Com o título “Direitos Fundamentais em
Perspectiva: Coletânea de Artigos”, o compêndio busca
colocar trazer uma análise sobre a temática dos
direitos fundamentais, promovendo uma leitura
renovada e interdisciplinar. Para tanto, a proposta
pauta-se na conjugação de diversos segmentos do
conhecimento e a utilização de mecanismos de
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ensinagem que dialoguem conteúdo teórico com
habilidades prática em conteúdos jurídicos,
despertando e aprimorando habilidades
imprescindíveis aos Operadores do Direito.
Por fim, os artigos foram selecionados a
partir da produção de atividade acadêmica
confeccionada pelos discentes, em sede de disciplina de
Direito Constitucional I. O leitor poderá observar que
os temas são heterogêneos, abarcando realidades
locais e peculiares do entorno da Instituição de Ensino
Superior, tal como questões mais abrangentes. Trata-
se da materialização do diferencial do Curso de Direito
do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo
(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES,
ao formar Bacharéis em Direito capazes de atuar com
o plural e diversificado conhecimento inerente ao
Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de
peculiaridades e aspectos diferenciadores que
vindicam uma ótica específica.
Boa leitura!
Tauã Lima Verdan RangelProfessor de Direito Constitucional I
Doutorando em Sociologia e Direito (PPGSD-UFF)Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais (PPGSD-UFF)
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Í N D I C E
As Dimensões dos Direitos Fundamentais
Ana Carolina Fraga; Beatriz Perciano Varela; Bruna
de Souza Torezani; Kemelly de Souza Rosa ............. 07
Dimensões dos Direitos Fundamentais
Cristiano Mendes Trentini; Laís Alves Pinto da Silva;
Marcely Rodrigues Lulini ......................................... 59
Das Dimensões dos Direitos Fundamentais: Analisados sob seus aspectos caracterizadores
Gabriela Angelo Neves; Samira Ribeiro da Silva;
Viviane Fidelis .......................................................... 81
Dimensões dos Direitos FundamentaisLahys Peixoto; Meciane Carvalho; Raquel Jordão .. 107
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AS DIMENSÕES DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Ana Carolina Fraga1 Beatriz Perciano Varela2
Bruna de Souza Torezani3 Kemelly de Souza Rosa4
Resumo: O escopo do presente trabalho éproporcionar uma análise das dimensões dosdireitos fundamentais, transitando entre ohistórico e sua aplicabilidade do direito modernoatravés de pesquisas bibliográficas e jurisprudenciais que vai ensejar melhorcompreensão do tema a ser abordado. Apesar do
lapso temporal desde as primeiras reivindicaçõesaté a contemporaneidade do corpo social, seráconstatado que os direitos fundamentaiscontinuam vivos e que são verdadeiras flâmulasque norteiam todo o sistema jurídico atual e assimcomo estes direitos surgiram com a necessidade de
1 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.2 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.3 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo
(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.4 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.
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proteção definida pela realidade do momento emque viviam, hoje não é dessemelhante. O corpo
social está em constante transmutação, não éinerte e por esta razão novas carências emergem enecessitam de assistência e a legislação, que éespelho da própria sociedade, carece de adaptaçãopara que o pacto social acordado entre osindividuais seja justo e satisfatório para todos, semdistinção, incluindo as transgerações.
Palavras-chave: Direitos Fundamentais.Dimensões dos Direitos Fundamentais.Necessidade de Tutela.
1 INTRODUÇÃO
A convivência em sociedade não é
inerte e paralisada, ela desenvolve-se e
metamorfoseia-se com o desenrolar da história.
A necessidade da tutela de determinados
direitos é ininterrupta, isto é, enquanto alguns
direitos já foram garantidos, novas carências
surgem e precisam ser atendidas, onde o ser
humano que em sua natureza é um ser livre,
começa a exigir que goze efetivamente desta
liberdade, mas agora em coletividade. Estas
transformações de valores e paradigmas da
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sociedade justifica a separação teórica dos
direitos conquistados no decorrer da evolução
histórica.
Assim, fala-se em dimensões dos
direitos fundamentais, ou seja, a sequência
cronológica que de forma cumulativa encadeia
os direitos fundamentais. Direitos estes
conquistados com grande combate e que uma
vez garantidos, não podem ser revogados nem
substituídos. Dessa forma, é imperiosa a
análise destas vitórias para melhor depreender
que os direitos hoje usufruídos se constituíram
através de acumulativas etapas, chamadas de
dimensões.
2 DIMENSÕES DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Os direitos fundamentais são
consequências da mutação humana, ou seja, a
cada nova geração que emerge, novas
necessidades surgem e, automaticamente,novos direitos, porém só há a efetivação destas
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garantias quando a necessidade de melhorar a
relação entre Estado e Indivíduo é observada.
Vale ressaltar que os direitos conquistados em
determinada geração não substituem aqueles
que os antecedem, mas sim cumprem uma
função de complemento, por isso são tratados
pela doutrina moderna como dimensões.
O lema da revolução francesa exprimia
as seguintes expressões: Liberdade, Igualdade
e Fraternidade e, de forma completa, descreve
os direitos fundamentais até mesmo em sua
ordem cronológica, divididos em direitos de
primeira, segunda e terceira dimensão, na
devida ordem. Este percurso realizado pelos
direitos fundamentais demonstra os desejos e
precisão do ser humano em sua evolução como
ser social, isto é, a consequência do progresso
do homem em todas as áreas no tocante ao
convívio social. É o que afirma Dirley da
Cunha Júnior:
As gerações dos direitos
revelam a ordem cronológica dereconhecimento e afirmação dosdireitos fundamentais, que seproclamam gradualmente na
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proporção das carências do serhumano, nascidas em função damudança das condições sociais. A dizer, o desenvolvimento, atécnica, a transformação dascondições econômicas e sociais,a ampliação dos conhecimentose a intensificação dos meios decomunicação poderão causarsubstanciais alterações naorganização da vida humana edas relações sociais a propiciaro surgimento de novascarências, suscitando novasreivindicações de liberdade epoder. (CUNHA JÚNIOR. 2013,p.588)
Isto posto, entende-se que as
dimensões de direitos fundamentais procededa imprescindibilidade do ser humano ao longo
de sua vivência no corpo social, pois o homem
em sua natureza, busca seus interesses
individuais; o pacto social fez com que o
indivíduo necessitasse desenvolver-senovamente, agora em coletividade. Com a
ampliação dos conhecimentos e tecnologias, se
despertou na sociedade a avidez de exigir
inovações quanto à garantias e direitos no
tocante as relações pessoais e coletivas.
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DIREITOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO:
DIREITOS INDIVIDUAIS E POLÍTICOS
PUBLICOS
Quando se fala em direitos de primeira
dimensão é importante frisar que foram os
primeiros a serem reconhecidos, e isto
aconteceu efetivamente com as primeiras
constituições, tendo estes escritos como
importantes documentos para a concretização
dos direitos de primeira dimensão, assim como
exemplifica Lenza (2008, p.588) “(1) Magna
Carta de 1215, assinada pelo rei “João Sem
Terra”; (2) Paz de Westfália (1648); (3) Habeas
Corpus Act (1679); (4) Bill of Rights (1688); (5)
Declarações, seja a americana (1776); seja a
francesa (1789)”.
A Magna Carta assinada por João Sem
Terra em 1215, conforme Cardoso (1986,
p.186), é abalizada como o sustentáculo das
liberdades inglesas, em plena Idade Média,
onde a igreja possuía vasto poder de influênciae que os barões e bispos faziam parte do
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conselho real, João Sem Terra assume o
reinado na Inglaterra após a morte de seu
irmão. Após ter sido sobrepujado pela França
em seu primeiro ataque de guerra, os barões
insatisfeitos compelem o monarca a assinar
documento por eles elaborado, tirando o poder
absoluto de suas mãos e transferindo-os para
os barões e arque bispos da igreja. Foi o
primeiro passo para a desvinculação com o
monarca.
“O Tratado de Paz de Westfália pôs fim
à Guerra dos 30 anos na Europa, afirmando a
soberania dos estados nacionais nas relações
internacionais e pregando o respeito aos
assuntos internos de cada Estado” (REIS, s.d,
p.1). Ainda na Europa, o Habeas Corpus-Act
foi importante documento assinado em 1679
com o fito de impedir a exorbitância e
desrespeito às garantias já conquistadas no
sentido de que regulava especialmente que
“ninguém deveria ser preso sem uma
disposição escrita e que o preso deveria serconduzido a um juiz regular dentro de um
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determinado prazo” (SCHOLL, 2011, p.178),
demonstrando que a contrariedade à
arbitrariedade monárquica era cada vez maior,
crescendo significativamente os movimentos
contra o absolutismo na Inglaterra.
Já a Bill of right de 1688, considerando
que alguns direitos já haviam sido alcançados
nada obstante ainda havia o uso tirânico dos
poderes monárquicos, a proclamação desta
declaração possuía como escopo o encolhimento
do poderio do rei.
Diminuir o poder do monarca eaumentar o poder doparlamento. Nos seus trezeartigos, o instrumentoestabelece a renúncia da coroaà aplicação despótica da lei,proibindo a jurisdição religiosade exceção, determina a
ilicitude da instituição detributos e da organização emanutenção de um exército outropa sem a autorização doparlamento e também agarantia do direito de petição,da liberdade da palavra e daliberdade de voto (SCHOLL,2011, p. 179)
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Os avanços no direito inglês, em um
primeiro momento, tiveram como fito limitar o
poder monárquico e cedê-los ao parlamento,
conquanto estas declarações foram o caminho
para concretização e condensação dos direitos
fundamentais individuais, como preleciona
Scholl (2011, p.179) “nesse processo, criaram-
se pela primeira vez axiomas jurídicos de
direitos e liberdades executáveis que, em
combinação com os elementos básicos jurídico-
administrativos, espelham o advento do
moderno Estado constitucional”.
No entanto, a estabilização dos direitos
fundamentais pode ser encontrada nas
declarações dos Estados Unidos da América e
da França. Naquele, em 1776, ocorre a
Declaração da Independência Americana -
sendo uma continuação da constituição da
Vírginia - rodeada de ideários jusnaturalistas,
com o fito de alcançar a igualdade entre os
indivíduos reconhecendo que o homem possui
direitos, e que estes direitos não podem serprivados pelo Estado pois estão acima do pacto
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social, tal como, o direito à vida, o direito à
liberdade e à possibilidade de adquirir e
possuir propriedade e obter felicidade e
segurança”(SCHOLL, 2011, p. 180). O
instrumento supramencionado diz também que
estes direitos não estavam sob domínio do
Estado, mas que são direitos acima dos
representantes, isto é, são irrevogáveis e
inalienáveis.
O objetivo principal da VirginiaBill of Rights era fixar eancorar os direitos naturais pertencentes a cada indivíduocomo direito positivo em umaconstituição. Ao contrário dosgenitores da ideia dos direitos fundamentais, os quaisdesenvolveram uma teoria dedireitos na sinuosidade do indivíduo, os genitoresestadunidenses construíram umEstado na silhueta do indivíduoe dos seus direitos individuais.(SCHOLL, 2011, p. 180)
Na França, por sua vez, encadeando os
direitos fundamentais na Europa, em 1789
promulga a Declaração Francesa. O paísclamava pela proteção dos direitos inatos, visto
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que a relação entre Estado e indivíduo estava
integralmente abastardada como corolário das
arbitrariedades e abusos de poder que
vivenciavam no período. Assim, com forte
influência no constitucionalismo norte
americano, postula em favor dos direitos
fundamentais individuais, que assim como no
referido instrumento americano, considerava-
os direitos supraestatais. Esta carta tinha
como fundamento.
O direito à liberdade, o direito àigualdade, o direito à igualdadesocial (exceções poderiam estarfundamentadas no bem-comum), o direito àpropriedade, o direito àsegurança, o direito deresistência à opressão, o direitoà liberdade de ação dentro doslimites da lei, os direitos justiçais clássicos, o direito àliberdade de opinião, o direito àliberdade de expressão, odireito à liberdade de imprensae o direito à liberdade dereligião. (SCHOLL, 2011, p.183)
É salutar gizar que os instrumentossupracitados tiveram influência política,
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filosófica, teológica e jurídica e que de forma
pragmática e revolucionária efetivaram tais
direitos com intuito de devolver ao homem o
poder de decisão sobre si mesmo, o que até
então decorria unicamente através do
monarca. Neste diapasão, Cunha Júnior (2011,
p.590) ensina que:
São direitos marcadamenteindividualistas, afirmando-secomo direitos do indivíduofrente ao Estado, maispropriamente como direitos dedefesa, demarcando uma esfera
de autonomia individualimpermeável diante do poderestatal. (CUNHA JÚNIOR.p.590, 2013)
Assim, os direitos de primeira
dimensão dizem respeito às liberdades
públicas e aos direitos políticos. Comportando
os direitos inatos do homem, a saber, os direito
à vida, à liberdade, à propriedade, à segurança
e à igualdade; os direitos de expressão tal como
os direitos de reunião e associação; além destes
introduz-se aos direitos de primeira dimensão
os direitos políticos, verbi gratia , o direito ao
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voto. Tais conquistas em um primeiro
momento tinham o fim de obstacularizar o
poder do monarca através da não intervenção
do Estado na vida individual do individuo,
apresentando uma função negativa ao Estado,
isto é, o Estado não poderia intervir nas
relações do individuo.
Apesar de, preliminarmente, a
finalidade destas garantias fosse negar ao
Estado tal interposição, após mais de um
século, estes direitos ainda são ovacionados
pelo universo jurídico-constitucional e, não
seria díspar na Carta Maior de 1988, que
localiza os direitos de primeira dimensão em
parte destacada, isto é, no artigo 5º - Dos
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos.
O art. 5º, caput, versa que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e a propriedade”,dando prosseguimento em seus 78 incisos. São
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normas de eficácia plena, tendo máxima
proteção por intermédio do art. 60, §4º, IV que
dispõe sobre as cláusulas pétreas, com a
seguinte redação “§4º - Não será objeto de
deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir: (...) IV – os direitos e garantias
individuais” (BRASIL, 1988).
Entende-se como direito e garantias
individuais aquele que concede ao indivíduo a
oportunidade de usufruir de seus anseios e
desejos sem que o Estado intervenha nestas
relações, tanto pessoais quanto com a
sociedade. Sob esta ótica, Cunha Júnior (2013,
p.663) adverte que “todos aqueles que visam a
defesa de uma autonomia pessoal no âmbito no
qual o indivíduo possa desenvolver as suas
potencialidades e gozar de sua liberdade sem a
interferência indevida do Estado e do
particular”.
São direitos extremamente amplos e
que estão intrinsecamente ligados ao princípio
da dignidade humana. É notável tal julgamento no considerado mais importante
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direito de primeira dimensão que é o direito à
vida, na aludida garantia não somente a idéia
de que não é permitido matar, mas sim a
proibição de qualquer forma de tortura e
violação contra a existência de alguém,
independente de sua situação. Este direito traz
concretude e respaldo para as demais
proteções legais; v.g , é que é vedada a pena de
morte (art. 84, XIX), é garantida aos presos a
custódia de sua integridade física e moral (art.
5º, XLIX), dentre outras garantias que
defendam a sobrevivência do ser humano.
Ainda sobre o direito à vida, com o
propósito de demonstrar que este não está
longínquo da realidade do corpo social,
consegue se constatar com clareza sola na
condição do nascituro, tanto na doutrina,
quanto na jurisprudência, nas quais há forte
discussão sobre o conteúdo. Visto que a
legislação entende que o status de pessoa só
emerge em decorrência do nascimento com
vida, conforme o art. 2º do Código Civil vigente,“a personalidade civil da pessoa começa do
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nascimento com vida (...)”, assim surgem
várias teorias no âmbito jurídico objetivando
explicar a questão, a teoria clássica – teoria
natalista - diz que só há de se falar em pessoa
após o nascimento com vida, pois o feto possui
mera expectativa de direito que serão
efetivados mediante nascimento com vida. Em
contraste com tal abstração, a teoria
concepcionista acaba por dizer que pessoa se
tem desde a fecundação do óvulo com o
espermatozoide.
A segunda das teorias
supramencionadas é a mais aceita na
contemporaneidade pelas doutrinas e
jurisprudência, não somente reconhecendo a
necessidade do desenvolvimento sadio do feto,
mas chegando a conceder direito de seguro e
indenização. Como efeito, com escopo de
ilustrar tais ponderações é possível utilizar a
decisão do Superior Tribunal de Justiça, no
Recurso Especial de n. 1415727/SC em ação de
cobrança de seguro obrigatório:
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Direito civil. Acidenteautomobilístico. Aborto. Ação decobrança. Seguro obrigatório.DPVAT. Procedência do pedido.Enquadramento jurídico donascituro. Art. 2º do CódigoCivil de 2002. Exegesesistemática. Ordenamento jurídico que acentua a condiçãode pessoa do nascituro. Vidaintrauterina. Perecimento.Indenização devida. Art. 3º,inciso I, da Lei n. 6.194/1974.Incidência.1. A despeito da literalidade doart. 2º do Código Civil – quecondiciona a aquisição depersonalidade jurídica aonascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais Deque não há essa indissolúvelvinculação entre o nascimentocom vida e o conceito de pessoa,de personalidade jurídica e detitularização de direitos, comopode aparentar a leitura maissimplificada da lei. (...)4. Ademais, hoje, mesmo que seadote qualquer das outras duasteorias restritivas, há de sereconhecer a titularidade dedireitos da personalidade aonascituro, dos quais o direito àvida é o mais importante.Garantir ao nascituroexpectativas de direitos, oumesmo direitos condicionadosao nascimento, só faz sentido se
lhe for garantido também odireito de nascer, o direito àvida, que é direito pressupostoa todos os demais. (...).
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(Resp.1415727, Quarta turma,Superior Tribunal de Justiça,Relator: Ministro Luís FelipeSalomão, Julgado em14/01/2014)
É necessário salientar, que o direito à
vida é pressuposto para as demais legislações,
por isso o assunto não se esgota, pelo contrário,
está sempre se atualizando em face da
realidade e necessidade da sociedade; o
nascituro é um exemplo das transformações da
sociedade ao longo dos anos e este tão valoroso
direito tem o ofício de preservar todos os
aspectos de integridade do homem, estando
enleado ao âmago do Princípio da Dignidade
da Pessoa Humana.
O direito à liberdade, fonte inesgotável
de paradigmas e fundamentos, que confere ao
ser humano o arbítrio de determinar-se em
concordância com sua própria convicção, como
esclarece Cunha (2013, p. 670): “consiste na
num poder de atuação em busca da realização
pessoal e de sua felicidade”, tem sido aclamado
incessantemente no momento em que o Brasil
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tem suplantado, visto que a vasta ocorrência
de bebês anencéfalos, ou seja, que não tem os
hemisférios cerebrais, a jurisprudência, apesar
das contraposições, tem entendido de forma
majoritária, que é direito da mãe decidir sobre
o futuro dela e do feto, isto é liberdade de
autodeterminação da mulher interromper ou
não a gravidez. Sob esta ótica, v.g, o Supremo
Tribunal Federal profere decisão sobre o
aludido conteúdo:
Feto Anencéfalo – Interrupçãoda Gravidez – Mulher – Liberdade Sexual eReprodutiva – Saúde – Dignidade – Autodeterminação
– Direitos Fundamentais – Crime – Inexistência. Mostra-seinconstitucional interpretaçãode a interrupção da gravidez defeto anencéfalo ser condutatipificada nos artigos 124, 126 e128, incisos I e II, do CódigoPenal. (Argüição deDescumprimento de PreceitoFundamental 54 DistritoFederal, Supremo TribunalFederal, Relator: MinistroMarco Aurélio, Julgado em12/04/2012)
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Outrossim, o direito à liberdade, isto é,
de determinar-se em harmonia com sua
consciência, é cognoscível em múltiplas esferas
da sociedade e que precisam de atenção dos
legisladores e da jurisprudência, apesar de até
o momento a tolerância ter sido possível, é
necessário que mudanças aconteçam para que
a justiça seja consumada. Neste ponto de vista,
a liberdade sexual é uma das temáticas que
necessitam de alerta, já que a coletividade
entendeu tal apontamento e determinação,
Dias (s.d, p.1) sistematiza que:
Indispensável que se reconheçaque a sexualidade integra aprópria condição humana.Ninguém pode realizar-se comoser humano se não tiverassegurado o respeito ao
exercício da sua sexualidade,conceito que compreende tantoa liberdade sexual como aliberdade à livre orientaçãosexual. Visualizados os direitos deforma desdobrada em gerações,é imperioso reconhecer que asexualidade é um direito de
primeira geração, do mesmomodo que a liberdade e aigualdade. A liberdade
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compreende o direito àliberdade sexual, aliado aodireito de tratamentoigualitário, independente datendência sexual. Trata-se,assim, de uma liberdadeindividual, um direito doindivíduo, e, como todos osdireitos do primeiro grupo, éinalienável e imprescritível. Éum direito natural, queacompanha o ser humano desdeo seu nascimento, pois decorrede sua própria natureza. (DIAS,s.d, p.1)
Além das aludidas espécimes, o
direitos fundamentais de primeira dimensão
vão muito avante; tendo como exemplo, odireito da igualdade que indica o princípio da
isonomia objetivando tratar os desiguais como
iguais na medida de sua desigualdade, tal
como pode ser verificado com a Lei Maria da
Penha, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do
portador de necessidades que demonstram a
aplicabilidade da constituição e o anseio das
legislações infraconstitucionais para alcançar a
todos visando a justiça.
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O direito à intimidade, à vida privada,
à honra e à imagem, que versam sobre a
autonomia do particular em estabelecer a
exposição do próprio corpo, por exemplo, sem
que o Estado ou outro particular
arbitrariamente decida por ele. Similarmente,
o direito à propriedade aglutina-se aos direitos
concernentes ao indivíduo ponderando que
esta possui uma função social, isto é, o bem
privado com a incumbência de promover o bem
estar da coletividade. Nesta perspectiva,
Cunha Júnior (2013, p. 698) pontifica que “é
um direito individual, mas um direito
individual condicionado ao bem estar da
comunidade, na medida que a propriedade
deverá atender a sua função social”, esta
temática é tão ponderosa que nos casos de
utilidade pública ou necessidade, poderá o
Estado intervir na propriedade privada para
que esta cumpra sua função civil.
Bem como as garantias
supramencionadas, os direitos processuais nãosão menos consideráveis, sendo uma das
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maiores vitórias do Estado democrático de
direito, haja vista que o direito de acesso à
justiça permite a todo cidadão a
inafastabilidade do judiciário mediante o
direito de ação, e para consubstancializar o
acesso à justiça, outros direitos foram
determinados fundamentais para viabilizar a
referida conquista, a saber, o devido processo
legal, a ampla defesa e contraditório, juiz
natural e duração razoável do processo, a fim
de garantir que a justiça será concretizada
independente da vontade dos litigantes,
tornando as partes iguais onde possuem as
mesmas ferramentas no processo.
Nesta esteira, deve-se entender que os
direitos de primeira geração dispostos no art,
5º da Carta Maior em seus 78 incisos não são
meramente normas separadas da vida prática
dos indivíduos, antes intenta a defesa de uma
independência particular, onde o indivíduo
possa otimizar o desenvolvimento de suas
relações e regozijar-se de sua liberdade sem aingerência injusta do Estado e de outros
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indivíduos, além de apaniguar uma
coletividade para que os seus membros sejam
tutelados.
4 DIREITOS DE SEGUNDA DIMENSÃO:
DIREITOS SOCIAIS, CULTURAIS E
ECONOMICOS
Os direitos sociais surgem no século
XX, com a revolução industrial e período pós
primeira guerra mundial, guiado pelo princípio
da isonomia, onde a necessidade de tutelar os
direitos dos hipossuficientes tornou-se
evidente, garantindo a proteção dos mais
pobres e mais fracos. O Estado, diferentemente
dos direitos de primeira dimensão, tem função
positiva, concedendo direitos sociais aos menos
favorecidos para que haja uma igualdade
social. Primordialmente, a reivindicação vem
da classe dos trabalhadores, onde estes tinham
horas excessivas de trabalho, pouco descanso e
baixa remuneração e com tal garantia,estariam afastados das arbitrariedades dos
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empregadores. Tais direitos foram
introduzidos no plano concreto com algumas
declarações de cunho social, v.g ., a constituição
do México em 1917 e a constituição de Weimar
na Alemanha em 1919.
Os aludidos documentos tinham
embutidos em sua linhas as garantias
referentes à obrigação estatal de fornecer
recursos para a materialização de melhorias
na vida dos cidadãos, principalmente os
trabalhadores. Neste diapasão, Bonavides
(2004, p. 564) instrui que
São os direitos sociais, culturaise econômicos, bem como osdireitos coletivos ou dascoletividades, introduzidos noconstitucionalismo das distintasformas do Estado Social, depois
que germinaram por obra daideologia e da reflexãoantiliberal do século XX.Nasceram abraçados aoprincípio da igualdade, do qualnão se podem separar, poisfazê-lo equivaleria adesmembrá-los da razão de serque os ampara e estimula.
(BONAVIDES. 2004, p. 564)
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Assim, a natureza destes direitos exige
do Estado mecanismos materiais, isto é, eles
estão na esfera programática onde necessitam
de aplicação econômica para serem
consumados e para isto, o mesmo necessita de
organização financeira para atingir a
finalidade pretendida. Pode-se compreender
que os direitos sociais, sem grandes
pormenores, são os que garantes ao indivíduo a
exigibilidade em face do Estado para que este
outorgue recursos para aquele adquira
condições que viabilizem a igualdade social.
Na Carta Constitucional de 1988, os
direitos sociais estão elencados no Capítulo II,
art. 6º e 7º que correspondem:
Art. 6º São direitos sociais aeducação, a saúde, aalimentação, o trabalho, amoradia, o lazer, a previdênciasocial, a proteção àmaternidade e à infância, aassistência aos desamparados,na forma desta constituição. Art. 7º São direitos dostrabalhadores urbanos e rurais,além de outros que visem amelhoria de sua condição social:(...) (BRASIL. 1988)
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Além destas disposições, os arts. 193 a
224, versam sobre a ordem social, visando o
bem-estar e a justiça sociais. Como susodito
estes direitos exigem recurso econômico do
Estado e por não serem cláusulas pétreas
podem ser reduzidos ou até mesmo não
concedidos como admite Cunha (2014, p. 725)
“os direitos sociais sujeitam-se a uma reserva
legal, aqui entendida como a possibilidade de
disposição econômica e jurídica por parte do
destinatário da norma”. Isto posto, os direitos
sociais são aqueles que dependem de
programas e organização estatal, tanto
financeira quanto legal, para que seja
atendidos, ou seja, necessitam que o legislador
concretize o mesmo com normas, passando
então a serem exigíveis.
Com o propósito de ilustrar tais
direitos e seus aspectos, a Emenda
Constitucional de n.33, de 14 de dezembro de
2000, referindo-se ao art. 82 dos Atos das
disposições constitucionais transitórias,
determina que os Estados, o Distrito Federal e
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os municípios instituam Fundos de Combate à
pobreza e, segundo Moraes (p.205) tal desígnio
tem por finalidade possibilitar a todos os
cidadãos brasileiros a elevação ao mínimo
existencial, onde os recursos cedidos devem ser
direcionados para nutrição, habitação,
educação, saúde, reforço de renda familiar,
entre outros que possibilitem a melhoria da
qualidade de vida.
5 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE
TERCEIRA DIMENSÃO: OS DIREITOS DE
FRATERNIDADE
Os direitos fundamentais de terceira
dimensão ratificam os juízos de fraternidade
ou solidariedade, por efeito de resguardar a
proteção dos interesses sociais em comum, em
uma abstração de coletividade e não
puramente ao anteparo dos direitos
individuais, sendo, desta forma, de
titularidade difusa ou coletiva. Destarte, por setratar de uma universalidade, faz-se
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necessário o empenho extensivo dos indivíduos
diligentes da sociedade, posto que, trata-se da
idealização de toda a coletividade, em estado
conjuntivo, e não do homem como indivíduo sui
generis, isto é, em sua singularidade.
O exórdio da terceira geração dos
direitos fundamentais deu-se na Terceira
Revolução Industrial, logo após a Segunda
Guerra Mundial, como corolário de um
contexto conturbado por vindicações,
mormente vis-à-vis a repercussão tecnológica,
à luz de uma revolução dos meios de
transporte e comunicação. Deveras, são tidos
como direitos fundamentais o direito de
conservação do patrimônio histórico e cultural,
à paz, à autodeterminação dos povos, ao
desenvolvimento, ao meio ambiente, à
comunicação, tratando-se de direitos
transindividuais. Nesta esteira, Dirley da
Cunha Jr., salienta
Alguns desses direitos
fundamentais de terceiradimensão já lograram obterreconhecimento constitucional,
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como direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado(CRFB/88, art. 225), o direito àpaz mundial (CRFB/88, art. 4º, VI e VII), o direito àautodeterminação dos povos(CRFB/88, art. 4º, III) e odireito ao desenvolvimento(CRFB/88, art. 3º, II). Amaioria, porém, ainda nãoencontrou positivaçãoconstitucional, embora consteem alguns tratadosinternacionais mais recentes.(CUNHA JÚNIOR, 2013, p.599)
Este revolucionário progresso foi
perpetrado, em 1948 pela Declaração
Universal dos Direitos do Homem, pós segunda
guerra mundial na qual todos os direitos já
adquiridos tinham sido embaciados com a
notável crueldade e discriminação frente aos
interesses de um indivíduo. Tal documento
toma por ideário que todas as nações respeitem
e apliquem os direitos efetivados e universais a
todo cidadão sem qualquer tipo de distinção,
ou seja, abrangendo os direitos de liberdade,
igualdade e fraternidade, como pode ser
contemplado no art. XXII do referido arquivo.
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Art. XXII Toda pessoa, comomembro da sociedade, temdireito à segurança social e àrealização, pelo esforçonacional, pela cooperaçãointernacional e de acordo com aorganização e recursos de cadaEstado, dos direitos econômicos,sociais e culturaisindispensáveis à sua dignidadee ao livre desenvolvimento dasua personalidade. (ONU, 1948)
Convictantemente, a universalidade
dos direitos tem como princípios basilares a
igualdade e a dignidade, valorando que os
indivíduos conheçam e reconheçam que tais
garantias são inerentes à sua própria
existência, uma vez que só podem ser
verdadeiramente consumados com o interesse
solidário tanto na seara pessoal quanto na
coletiva. Sob esta ótica, o professor Etienne-R
Mbay (1997, s.p) esclarece sabiamente que
[...] direitos dos povos ou desolidariedade, refere-se aodireito à autodeterminação, àpaz, ao desenvolvimento, aomeio ambiente e à informação
que só pode se realizar por meiode um esforço solidário entre osdiferentes atores individuais e
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coletivos, tanto no planonacional quanto nointernacional. (MBAY, 1997,s.p)
Com o importantíssimo passo dado
pela humanidade com o reconhecimento da
Declaração dos direitos humanos, outros
instrumentos internacionais despontam com o
intuito de fortalecer a premissa de que os
Estados de Direito devem promover o respeito
universal dos
[...] direitos humanos
fundamentais, na dignidade eno valor da pessoa humana e naigualdade de direitos doshomens e das mulheres, e quedecidiram promover o progressosocial e melhores condições devida em uma liberdade maisampla. (ONU, 1948)
Neste prisma, como símbolo dos
direitos de solidariedade, a Declaração sobre os
Direitos ao Desenvolvimento concebida pela
ONU em 1986 tornam portentosos e robustos
os propósitos da primeira carta
supramencionada. Tal documento refere-se ao
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Estado e ao direito que o indivíduo possui de
desenvolver-se pessoalmente, principalmente
no que tange à exigência de ter trabalho, saúde
e alimentação adequada, cabendo ao Estado
fornecer os recursos para que o cidadão possua
para si e para sua família o mínimo digno para
viver, sendo este o corolário personificado da
efetivação dos direitos fundamentais, como
pode ser apreciado no art. 8 do referido arquivo
Article 81. States should undertake, atthe national level, all necessarymeasures for the realization ofthe right to development andshall ensure, inter alia, equalityof opportunity for all in theiraccess to basic resources,education, health services, food,housing, employment and thefair distribution of income.Effective measures should beundertaken to ensure thatwoman have an active role inthe development process. Appropriate economic andsocial reforms should be carriedout with a view to eradicatingall social injustices (…).(DECLARATION ON THE
RIGHT TO DEVELOPMENT,1986, p.187)
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Os direitos de fraternidade
abarcam todos os direitos fundamentais
inerentes ao ser humano e sua estadia em
sociedade, não sendo suscetíveis à alienação e
à prescrição, estas vitórias alcançadas pela
humanidade, após maciço sofrimento ao
decorrer sua evolução, traz sentido de
universalidade no qual os direitos não
impendem somente para um grupo ou classe
de pessoas, mas a todos os seres humanos
ponderando que tais direitos são atinentes a
sua própria essência e que o Ente Estatal é
constrangido a disponibilizá-los a todos sem
qualquer separação.
5.1 Dos Direitos Coletivos em sentido lato
Os direitos difusos, direitos coletivos
em sentido austero e direitos individuais
homogêneos estão abarcados pelos direitos
coletivos, se distinguindo por serem direitos
transindividuais e que emanaram dosantagonismos da sociedade, promovendo a
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ascensão de direitos elementares. Isto posto, os
direitos transindividuais estão concatenados
pela associação de incomensuráveis titulares
com liame jurídico, inclusive pela
imprescindibilidade da permutação do
individualismo processual para ações coletivas,
visando a economia processual e a melhor
harmonização dos julgados, prezando também
por uma maior segurança jurídica.
O Código de Defesa do Consumidor
expressa as três variantes dos direitos
coletivos em sentido amplo, exprimindo
aprazada distinção entre as mesmas,
consoante é observado no artigo 81
Parágrafo único. A defesacoletiva será exercida quandose tratar de:
I - interesses ou direitosdifusos, assim entendidos, paraefeitos deste código, ostransindividuais, de naturezaindivisível, de que sejamtitulares pessoasindeterminadas e ligadas porcircunstâncias de fato;
II - interesses ou direitoscoletivos, assim entendidos,para efeitos deste código, ostransindividuais, de natureza
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indivisível de que seja titulargrupo, categoria ou classe depessoas ligadas entre si ou coma parte contrária por umarelação jurídica base; III - interesses ou direitosindividuais homogêneos, assimentendidos os decorrentes deorigem comum (BRASIL, 1990).
5.2 Dos Direitos Difusos
Ao se diferir os direitos coletivos em
sentido abrangente, têm-se os direitos difusos
com mais vasta transindividualidade tangível,
contíguo por um elo situado de fato e a
impossibilidade de determinar o sujeito. Nesta
trilha, está estimada a essência da
solidariedade, intentando a uma
conscientização e amadurecimento do
indivíduo, o que se faz necessária a supressão
de toda e qualquer conduta egoísta. Assim,
pensa-se nas afetações que ocorrerão, a curto
ou longo prazo, decorrentes do próprio
comportamento humano.
O direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado deve ser
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resguardado pelo princípio da solidariedade
intergeracional e transgeracional, conforme a
própria Constituição Federal determina,
aspirando harmonizar o convívio social, em
concordância com o artigo 225, caput
Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamenteequilibrado, bem de usocomum do povo e essencialà sadia qualidade de vida,impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade odever de defendê-lo epreservá-lo para aspresentes e futurasgerações (BRASIL, 1988).
Portanto, meio ambiente é ponderado
como um direito fundamental de
responsabilidade coletiva, ou seja, é dever do
Estado e da sociedade atuar para efetivaresses direitos seja ele natural, artificial,
cultural, do trabalho ou patrimônio genético,
isto por ser de uso coletivo e primordial à
qualidade de vida. Com tal característica é
abalizado como res comune omnium , por
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conseguinte, reputado por ser de livre uso
comum e de interesse de todos.
5.3 Dos Direitos Coletivos em sentido estrito
Os direitos coletivos em sentido estrito
estão atrelados aos direitos transindividuais
lídimos restritos, à determinabilidade ou
inderterminabilidade dos sujeitos, coadunados
por uma relação jurídica basilar, ou melhor,
preexistente à lesão. Como, por exemplo, é o
caso das demandas judiciais propostas pelo
Ministério Público, na sua função de curador,
representando grupos, classes ou categorias de
pessoas, o que, neste âmbito, acarretará uma
resolução do conflito de interesses unitária,
isto é, igual para todos os titulares.
Ademais, os direitos coletivos em
sentido estrito versam sobre relações
incindíveis com mais de um titular. Nesta
temática é possível que haja a determinação
dos titulares do direito ou coisa, seja por meiodo interesse jurídico ou do liame alicerçado.
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Resta ainda salientar que por se tratar de elo
indivisível, a sentença favorável, emitida como
ato judicial pelo juiz, a princípio, alcançava até
mesmo as pessoas que não pertenciam às
partes autoras das ações coletivas. Por esta
razão o Código de Defesa ao Consumidor
traçou diretrizes limitadoras aos julgamentos,
delimitando os apenas aos grupos, classes ou
categorias de pessoas que litigam no processo,
in verbis
Art. 103. Nas ações coletivas deque trata este código, asentença fará coisa julgada:[omissis]II - ultra partes, maslimitadamente ao grupo,categoria ou classe, salvoimprocedência por insuficiênciade provas, nos termos do incisoanterior, quando se tratar dahipótese prevista no inciso II doparágrafo único do art. 81(BRASIL, 1990).
Deste modo, o Mandado de Segurança
Coletivo se integra nos paradigmas dos
direitos contextualizados nesta esfera coletiva,
objetivando assegurar a efetivação de direitolíquido e certo, uma vez que de identidade
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conjunta, por pertencer a uma associação de
indivíduos. Destarte à luz da Lei nº 12.016/09,
artigos 21 e 22, que rege o Mandado de
Segurança Coletivo, ratifica mitigar e
alvorecer asserções divergentes ao Instituto.
5.4 Dos Direitos Individuais Homogêneos
Os Direitos Individuais Homogêneos,
por vezes, tendem a se confundir com os
direitos coletivos em sentindo restrito, isso se
dá pelo fato de haver uma situação em comum.
Porém não se admite tal obscuridade, pois
estes direitos giram em torno de uma relação
jurídica basilar e aqueles não corroboram com
a existência de vínculo.
São decorridos de uma origem
ordinária, dispondo-se de uma
transindividualidade de instrumento ou de
artifícios. Os titulares dos Direitos Individuais
Homogêneos são determináveis e o objeto da
demanda é divisível, isto é, os prejuízosadvindos da ação judicial são partilháveis.
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À vista do exposto, neste diapasão, é
preferencial acoplar múltiplos processos
individuais em uma só ação coletiva. Ora, é
inequívoco que, economicamente, é mais
proficiente que exista apenas uma demanda,
com uma única instrução e uma singular
sentença, o que se confere pela tutela coletiva
da lei, do que infindáveis processos. Ainda,
para que haja configurado a existência de
direito individual homogêneo é preciso que os
vários titulares tenham similitude por um
aspecto em comum, sem que coexista alguma
espécie de relação. Pois bem, decerto, se várias
ações fossem propostas em juízos diferentes,
correria o risco de haver diferentes juízes
julgando demandas semelhantes, com o risco
de resultados incompatíveis, o que ensejaria
uma insegurança jurídica.
5.5 Da Distinção
Os Direitos Coletivos em sentido amploabrangem os Direitos Difusos, os Direitos
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Coletivos e os Direitos Individuais
Homogêneos, como menciona e exemplifica
Paulo Nery Júnior
O acidente com o BateauMouche IV, que teve lugar noRio de Janeiro no final de 1988,poderia abrir oportunidadespara a propositura de açãoindividual por uma das vítimasdo evento pelos prejuízos quesofreu (direito individual), açãode indenização em favor detodas as vítimas ajuizadas porentidade associativa (direitoindividual homogêneo), ação deobrigação de fazer movida porassociação das empresas deturismo que têm interesse namanutenção da boa imagemdesse setor da economia (direitocoletivo), bem como açãoajuizada pelo MinistérioPúblico, em favor da vida esegurança das pessoas, paraque seja interditada aembarcação a fim de seevitarem novos acidentes(direito difuso). Em suma, o tipode pretensão é que classificaum direito ou interesse comodifuso, coletivo ou individual.(NERY JÚNIOR, 1995, p. 112)
Os Direitos Difusos possuem maior
intensidade na classificação da
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transindividualidade, não havendo
possibilidades de distinguir e determinar os
seus titulares, promovendo sustentáculo a não
divisibilidade do direito ou coisa litigados. Isso
se dá, quando os autores indetermináveis se
correlacionam por haver a mesma situação
jurídica.
Por sua vez, os Direitos Coletivos em
sentido estrito estão predispostos por uma
transindividualidade restrita aos sujeitos,
determinados ou não, constituindo estabelecido
grupo, classe ou categoria de pessoas, que
estão aliadas por uma relação jurídica,
gerando a afetação reflexiva dos indivíduos.
Já os Direitos Individuais Homogêneos,
ou fortuitamente coletivos, são provenientes de
uma gênese comum, unindo os demandantes
determináveis por uma mesma situação,
atinando-se a uma transindividualidade de
instrumento ou artificial, com fito de promover
a economia e celeridades processuais,
tencionado uma maior segurança jurídica.
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6 DIREITOS DE QUARTA DIMENSÃO:
ESTADO SOCIAL DE DIREITO OU ESTADO
VERDE
O instinto evolutivo do homem
acarretou no afastamento deste com a
natureza, apesar de viver inserido nela. As
grandes descobertas tecnológicas e científicas
tomaram conta da sociedade que, de certo
modo, acomodou-se no cuidado com o meio
ambiente em que está introduzido visto que há
a sensação de que a proteção do meio ambiente
cabe somente ao Estado. Há fortes discussões
sobre o tema uma vez que economia muitas
vezes supera a qualidade de vida, assim o
indivíduo busca unicamente viver
economicamente bem, mas degradando a
natureza e se esquecendo do bem estar de sua
própria geração e das gerações futuras.
A Constituição Federal de 1988 prevê a
proteção do meio ambiente (art. 288, caput , e
art. 5º, § 2º), tornando-o direito fundamental etutelando-o através de outros dispositivos
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também, afirmando ser este um direito
solidário, que abrange toda a coletividade
social. No entanto é necessário que além do
Estado, guardião do meio ambiente, os
individuais também sejam responsáveis
quanto ao cuidado com o meio ambiente. Tal
concepção é corolário da mecanização do
mundo, com o processo de globalização que
ultrapassa os limites biológicos e biofísicos
para dar efetividade a atividade econômica.
Com efeito, a criação de um Estado
socioambiental tem como fito a inversão de
fundamentos essenciais, colocando o meio
ambiente em primeiro plano, enxergando-o
como preceito fundamental para o
desenvolvimento sadio e qualidade de vida de
toda a sociedade, preservando a variedade da
natureza, da cultura e da sociedade e, como
supracitado, não somente para a presente
geração, mas salvaguardando também a
existência das transgerações. Neste ângulo,
Verdan (2014, p.144) explica que
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O Estado Socioambiental dedireito, com fito de promover atutela da dignidade humana,em razão dos diversos riscosambientais e da segurançapropiciados pela sociedadetecnológica, deve ser capaz deconjugar os valoresfundamentais que são ejetadosdas relações sociais e, por meiode suas instituiçõesdemocráticas, garantir aoscidadãos a segurança carecida àmanutenção e à proteção devida com qualidade ambiental,observando, inclusive, asconsequências futurasresultantes da adoção dedeterminadas tecnologias.(VERDAN. 2014, p. 144)
Não se pode perder de vista que, o
Estado Socioambiental está assentado no
princípio da dignidade da pessoa humana,
visto que o mínimo existencial personifica e
efetiva os direitos fundamentais de forma queestes não podem ser minorados para que a
própria existência das gerações seja possível.
Neste contexto, a proteção já prevista na Carta
Constitucional referentes ao meio ambiente
necessita de medidas que dêem concretude ao
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direito em questão, corroborando com tal
julgamento, SARLET (2013, p.17) destaca
No caso da proteção ambiental,como expressão mais especificados deveres de proteção doEstado, além da elaboração delegislação versando sobre atutela ambiental, pode-se citar
a adoção de medidas de controlee fiscalização de açõespoluidoras do ambiente, acriação de unidades deconservação, a criação eestruturação de órgãos públicosdestinados a tutela ecológica eaté mesmo campanhas publicasde educação e conscientização
ambiental, além de outrasmedidas que objetivem aefetividade do direito emquestão (SARLET. 2013, p. 17).
Mediante o exposto, é notável a
importante função da proteção dos direitos
ambientais para a subsistência da sociedade e,
assim como nas outras dimensões, onde
emergiram necessidades no próprio corpo
social que foram efetivadas através de direitos
irrevogáveis, o direito em questão, diante da
crise ambiental atual, torna-se a principal
carência no momento e que sua concretização é
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imprescindível para que o pacto social se
perpetue no tempo, abrangendo as futuras
gerações, aglutinando-se assim como
novíssima dimensão dos direitos
fundamentais.
CONCLUSÃO
É fácil compreender que é da essência
humana evoluir, levando em consideração que
o ser humano é algo inacabado e que, mesmo
que individualmente, busca se desenvolver.
Tal concepção pode ser certificada nas
dimensões dos direitos fundamentais, que se
concretizam na medida em que surgem novas
necessidades do indivíduo, que são
consequências das mudanças ocorridas no
corpo social, que com o desenvolvimento
tecnológico e social intensifica o desejo por
novas solicitações de liberdade.
Como corolário da ininterrupta
mutação humana e social, é natural acreditarque outras dimensões já estão sendo
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reivindicadas e que outras ainda vão surgir. O
que interessa é que o homem tenha espaço
para gozar de sua liberdade e felicidade e que
possa sempre a ampliação de conhecimentos e
tecnologias para o bem estar coletivo, mesmo
que para isto seja forçoso suceder infinitas
dimensões de direitos fundamentais.
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RANGEL, Tauã Lima Verdan. A construção doEstado de direito socioambiental a partir daóptica Habermasiana: a consolidação domínimo existencial socioambiental comoelemento de afirmação da dignidade da pessoahumana. Revista Veredas do Direito, BeloHorizonte, v.11, n.21, p. 135-151, 2014.
REIS, Marcus Vinícius. Multiculturalismo e
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SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER,
Tiago. O papel do poder judiciário brasileiro natutela e efetivação dos direitos (e deveres)socioambientais. Revista de Direito Ambiental,n.52. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008,p.73-100.
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DIMENSÕES DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Cristiano Mendes Trentini 5 Laís Alves Pinto da Silva6 Marcely Rodrigues Lulini7
1 INTRODUÇÃO
O escopo deste trabalho remete-nos ao
estudo das dimensões dos direitos
fundamentais, passando por um breve relato
dos direitos fundamentais, que surgiu no
século XVII e tem como principal fundamento
a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Os direitos fundamentais caminham ao
lado do regime democrático, dado sua
importância no contexto social. São a base da
sociedade constitucional e democrática, são
5 Acadêmico do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.6 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo
(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.7 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.
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dentro destes princípios basilares que se
encontram as linhas que guiam todos os
procedimentos democráticos da sociedade
atual.
As dimensões a serem estudadas vêm
cada uma com sua característica e épocas. A
nomenclatura a ser dada a esta divisão está
amparada no surgimento histórico dos direitos
fundamentais, sendo que parte da doutrina
tem evitado o termo “geração”, trocando-o por
“dimensão”, a divisão de tais direitos em
gerações ou dimensões é meramente
acadêmica. Pode-se afirmar que existem os
direitos de primeira, segunda, terceira e
quarta, quinta e ainda a sexta dimensão.
2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os direitos fundamentais não
nasceram conjuntamente, mas em períodos
diferentes, conforme sua época. Eles surgem
com a carência para proteger o homem dopoder estatal, através de constituições escritas.
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Com a progressividade dos textos
constitucionais deu-se à origem as gerações
(dimensões).
Os direitos fundamentais são
absolutamente necessários para a pessoa,
assegurando sua proteção de sua existência
digna, o Estado deve reconhecê-la não só de
modo formal, mas de modo a trazê-la para a
realidade do dia a dia do cidadão e seus
agentes. De acordo com Bonavides:
Criar e manter os pressupostoselementares de uma vida naliberdade e na dignidadehumana, eis aquilo que osdireitos fundamentais almejamsegundo Hesse, um dosclássicos do direito públicoalemão contemporâneo. Ao ladodessa acepção lata, que é a quenos serve de imediato nopresente contexto, há outra,mais restrita, mais específica emais normativa, a saber:direitos fundamentais sãoaqueles direitos que o direitovigente qualifica como tais.(BONAVIDES, 2003, p.560)
As revoluções do século XVIII (francesase norte-americanas) tinham como lema a
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liberdade, a igualdade e a fraternidade, assim
pressentiram nessa sequência histórica o
surgimento dos direitos fundamentais,
consoante a isso Paulo Bonavides cita que
Descoberta a fórmula degeneralização e universalidade,restava doravante seguir oscaminhos que consentisseminserir na ordem jurídicapositiva de cada ordenamentopolítico os direito e conteúdosmateriais referentes àquelespostulados. (BONAVIDES,2003, p.563)
2.1 As características dos Direitos
Fundamentais
São características dos direitos
fundamentais: a imprescritibilidade (os
direitos fundamentais não desaparecem pelo
decurso do tempo);b inalienabilidade
(não há
possibilidade de transferência dos direitos
fundamentais a outrem);c irrenunciabilidade
(em regra, os direitos fundamentais não podem
ser objeto de renúncia);d inviolabilidade
(impossibilidade de sua não observância por
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disposições infraconstitucionais ou por atos das
autoridades públicas); e universalidade
(devem abranger todos os indivíduos,
independentemente de sua nacionalidade,
sexo, raça, credo ou convicção político-
filosófica);f efetividade
(a atuação do Poder
Público deve ter por escopo garantir a
efetivação dos direitos fundamentais); g
interdependência
(as várias previsões
constitucionais, apesar de autônomas,
possuem diversas interseções para atingirem
suas finalidades; assim, a liberdade de
locomoção está intimamente ligada à garantia
do habeas corpus, bem como à previsão de
prisão somente por flagrante delito ou por
ordem da autoridade judicial);h
complementaridade
(os direitos fundamentais
não devem ser interpretados isoladamente,
mas sim de forma conjunta com a finalidade de
alcançar os objetivos previstos pelo legislador
constituinte); i relatividade ou limitabilidade
(os direitos fundamentais não têm naturezaabsoluta).
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O termo “geração” ou “dimensão é a
nomenclatura usada nas doutrinas. Essa
divisão é meramente acadêmica, sendo que o
termo mais usado é dimensão, pois geração
está diretamente ligada à de substituição, e os
direitos fundamentais não se sobrepõem a
outra vertente porque uma não apaga outra,
uma vez que os direitos se completam jamais
se excluem. Como salienta Sarlet
Não há como negar que oreconhecimento progressivo denovos direitos fundamentais
tem o caráter de um processocumulativo, decomplementaridade, e não dealternância, de tal sorte que ouso da expressão “gerações”pode ensejar a falsa impressãoda substituição gradativa deuma geração por outra, razãopela qual há quem prefira o
termo “dimensões” dos direitosfundamentais, na esteira damais moderna doutrina.(SARLET, 2012, p.31)
Os direitos fundamentais podem ser
vistos de duas perspectivas: subjetiva e
objetivas com considerações aos direitos de
proteção (negativos) e de exigência de
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prestação (positivos) por parte do indivíduo do
Poder Público. Assim em conformidade com
Alexandrino e Paulo no que dizem
Em suma, numa perspectivasubjetiva, os direitosfundamentais possibilitam aoindivíduo (sujeito) obter do
Estado a satisfação de seusinteresses juridicamenteprotegidos; já na perspectivaobjetiva, os direitosfundamentais sintetizam osvalores básicos da sociedade eseus efeitos irradiam-se portodo o ordenamento jurídico,alcançando e direcionando a
atuação dos órgãos estatais.(ALEXANDRINO; PAULO,2015, p.102)
Existem os direitos de primeira,
segunda e terceira dimensão, sendo que ainda
existem doutrinadores que defendem a
existência dos direitos de quarta, quinta e
sexta dimensão.
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2.2 Direitos Fundamentais da Primeira
Dimensão
O direito da primeira dimensão
enfatiza os direitos à liberdade, sendo
subjetiva é referente ao sujeito de relação
jurídica, figurando em uma norma
constitucional e abarcando direitos individuais
e políticos.
Surgiu no final do século XVII
representando uma resposta do Estado liberal
ao Absolutista, tendo como titular o indivíduo,
sendo contrário, sobretudo, ao Estado, significa
uma prestação negativa, correspondendo a fase
inaugural do constitucionalismo no Ocidente
no século XIX, sendo fruto das revoluções
liberais francesa e norte-americana, nas quais
a burguesia reivindicava o respeito às
liberdades individuais.
Podem-se exemplificar os direitos de
primeira dimensão o direito à vida, à
liberdade, à propriedade, à liberdade deexpressão, à liberdade de religião, à
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participação política etc. De acordo com Sarlet
apud Bonavides:
Cuida-se dos assim chamadosdireitos civis e políticos, que,em sua maioria, correspondemà fase inicial doconstitucionalismo ocidental,mas que continuam a integrar
os catálogos das Constituiçõesno limiar do terceiro milênio,ainda que lhes tenha sidoatribuído, por vezes, conteúdo esignificado diferenciados(SARLET apud BONAVIDES,2012, p.32).
2.3 Direitos Fundamentais de Segunda
Dimensão
Os direitos de segunda dimensão estão
ligados ao direito à igualdade (igualdade
material) surgiram na revolução Industrial(século XX), são direitos sociais, culturais e
econômicos bem como direitos coletivos, os
quais visam assegurar o bem estar e a
igualdade, estabelecendo ao Estado uma
prestação positiva.
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Esses direitos nasceram em razão de
lutas de uma nova classe social, aos
trabalhadores, surgindo do capitalismo, com o
aprofundamento das relações entre capital e
trabalho. Assim, como afirma Alexandrino e
Paulo
Os direitos fundamentais de
segunda geração correspondemaos direitos de participação,sendo realizados por intermédioda implementação de políticas eserviços públicos, exigindo doEstado prestações sociais, taiscomo saúde, educação, trabalho,habitação, previdência social,assistência social, entre outras.São, por isso, denominadosdireitos positivos, direitos dobem-estar, liberdades positivasou direitos dos desamparados.( ALEXANDRINO; PAULO,2015, p.103)
É importante enfatizar que nem todosos direitos fundamentais de segunda geração
se unem ao direito positivo, vale ressaltar,
obrigações positivas a serem cumpridas pelo
Estado. Também se tem direitos sociais
negativos, como o de liberdade sindical (CF,art. 8°) e o de liberdade de greve (CF, art.9°).
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Para diferenciar direitos fundamentais
de primeira dimensão e de segunda dimensão,
não se pode levar em consideração
exclusivamente, a natureza da obrigação do
Estado, a atuação ou a abstenção. Nesse
contexto, Alexandrino e Paulo (2015, p. 104)
afirmam
Os direitos sociais são aquelesque têm por objeto anecessidade da promoção daigualdade substantiva, por meiodo i intervencionismo estatalem defesa do mais fraco,enquanto os direitos individuaissão os que visam a proteger as
liberdades públicas, a impedir aingerência abusiva do Estadona esfera da autonomiaprivada. (ALEXANDRINO;PAULO, 2015, p.104)
2.4 Direitos Fundamentais de Terceira
Dimensão
A terceira dimensão por muitos
chamada de novíssima dimensão, por está
ligada aos chamados direitos de fraternidade
ou solidariedade. Em geral atribuída a todas
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as formações sociais, protegendo interesses de
titularidade coletiva ou difusa.
Tais direitos têm sido incorporados nos
ordenamentos constitucionais positivos e
vigentes de todo o mundo. São exemplos de
direitos fundamentais da terceira dimensão:
direito ao desenvolvimento ou progresso, ao
meio ambiente, à autodeterminação dos povos,
direito de comunicação, de propriedade sobre o
patrimônio comum da humanidade e direito à
paz, cuidando-se de direitos transindividuais,
sendo alguns deles coletivos e outros difusos, o
que é uma peculiaridade, uma vez que não são
concebidos para a proteção do homem
isoladamente, mas de coletividades, de grupos.
Bonavides (2003), ao posicionar-se sobre os
direitos de terceira geração, cita os seguintes
termos:
Com efeito, um novo pólo jurídico de alforria do homem seacrescenta historicamente aosda liberdade e da igualdade.Dotados de altíssimo teor dehumanismo e universalidade,
os direitos da terceira geraçãotendem a cristalizar-se no fimdo século XX enquanto direitos
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que não se destinamespecificamente à proteção dosinteresses de um indivíduo, deum grupo ou de umdeterminado Estado. Temprimeiro por destinatário ogênero humano mesmo, nummomento expressivo de suaafirmação como valor supremoem termos de existencialidadeconcreta. (BONAVIDES, 2003,p.569)
O direito a terceira dimensão são as
novas reivindicações fundamentais que o ser
humano tem; característica de interesse de
grupo (transindividual) uma vez que não se
visualiza o homem como um ser singular, mas
como coletivo ou o grupo. Neste diapasão,
Mendes e Branco (2012, p. 39) falam que
Os direitos chamados de
terceira dimensãopeculiarizam-se pelatitularidade difusa ou coletiva,uma vez que são concebidospara a proteção do homemisoladamente, mas decoletividades de grupos. Temse, aqui, o direito à paz aodesenvolvimento, à qualidade
do meio ambiente, àconservação do patrimônio
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histórico e cultural. (BRANCO;MENDES, 2012, p.39)
Após a manifestação a respeito dos
direitos fundamentais de primeira, segunda e
terceira geração, podemos observar que eles
correspondem ao lema da Revolução Francesa
– liberdade, igualdade e fraternidade.
2.5 Direitos Fundamentais de Quarta
Dimensão
No tocante da quarta dimensão dedireitos fundamentais podem ser associados à
pluralidade. Introduzidos pela globalização
política, a quarta dimensão é formada pelos
direitos à democracia, à informação, ao
pluralismo e de normatização do patrimôniogenético. Como afirma Bulos
Referimo-nos aos direitosfundamentais de quartageração, relativos à saúde,informática, softwares,
biociências, eutanásia,alimentos transgênicos,sucessão dos filhos gerados por
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inseminação artificial,clonagens, dentre outrosacontecimentos ligados àengenharia genética. (BULOS,2014, p.529)
Deve-se ressaltar que uma nova
dimensão de direitos fundamentais não
implica substituição dos direitos das gerações
antecedentes, como afirma Bonavides
Os direitos da quarta geração(dimensão) não somenteculmina a objetividade dosdireitos das duas geraçõesantecedentes como absorvem -
sem, todavia, removê-la-asubjetivamente dos direitosindividuais, a saber, os direitosda primeira geração. Taisdireitos sobrevivem, e nãoapenas sobrevivem, senão queficam opulentados em suadimensão principal, objetiva eaxiológica, podendo, doravante,
irradicar-se com a mais subidaeficácia normativa a todos osdireitos da sociedade e doordenamento jurídico.(BONAVIDES, 2003, p.572)
Além de Paulo Bonavides, outros
constitucionalistas vêm promovendo oreconhecimento dos direitos de quarta geração
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ou dimensão, conforme se pode perceber nas
palavras do mestre Novelino, quando ressalta
que
Tais direitos foram introduzidosno âmbito jurídico pelaglobalização política,compreendem o direito àdemocracia, informação epluralismo. Os direitos
fundamentais de quartadimensão compendiam o futuroda cidadania e correspondem àderradeira fase dainstitucionalização do Estadosocial sendo imprescindíveispara a realização e legitimidadeda globalização política.(NOVELINO, 2009, p.364)
2.6 Direitos Fundamentais de Quinta
Dimensão
O direito à paz corresponde aos direitos
fundamentais de quinta dimensão, “no âmbitoda normatividade jurídica configuram um dos
mais notáveis progressos já alcançados pela
teoria dos direitos fundamentais”
(BONAVIDES, 2008, p.82). Bulos, também,
explica que
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Quando Karel Vasak, naabertura dos trabalhos doInstituto Internacional dosDireitos do Homem, mencionouo direito à vida pacífica comoum direito de fraternidade(1979), ele o fez a tituloexemplificativo, sem descer amaiores detalhamentos.(BULOS, 2014, p.530)
O que aconteceu foi o esquecimento
completo da paz, enquanto categoria teórica,
componente da terceira geração de direitos
fundamentais, “Karel Vasak simplesmente,
aludiu ao direito à paz como um viés do direito
à fraternidade, e não como um direito
autônomo e fundamental no mundo
contemporâneo.” (BULOS, 2014, p.530).
Como se pode ver e analisar a quinta
geração tem o valor da paz e é muito mais
importante que pressentimos, pois vai além
dos pensamentos rigorosos, que comumente
norteiam o estudo convencional dos direitos
humanos, como afirma Bonavides (2008, p. 83)
“o direito a paz é concebido ao pé da letra qual
direito imanente à vida sendo condição
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indispensável ao progresso de todas as nações,
grandes e pequenas em todas as esferas.”
2.7 Direitos Fundamentais de Sexta Dimensão
Muitos teóricos colocam a sexta
dimensão como direitos relacionados à bioética,
pode-se destacar a temática, dos defensores da
água potável. A escassez da água potável pode
se da pela sua má distribuição e a dificuldade
de acesso de milhões de pessoas, neste sentido,
sustenta-se que o acesso à água potável é um
direito fundamental componente de uma nova
dimensão de direitos. Conforme Fachin e Silva
a água potável é
Aquela conveniente para oconsumo humano. Isenta dequantidades apreciáveis de saisminerais ou demicroorganismos nocivos, diz-sedaquela que conserva seupotencial de consumo de modo anão causar prejuízos aoorganismo. Potável é aquantidade da água que podeser consumida por pessoas eanimais sem riscos deadquirirem doenças por
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contaminação. (FACHIN;SILVA, 2010. p. 74)
O crescimento populacional e a má
distribuição e o desmatamento podem afetar
todos os países subdesenvolvidos, assim,
Santos apud Fachin e Silva (2010. p. 77)
notifica que a “desertificação e a falta de águasão os problemas que mais vão afetar os países
do terceiro mundo na próxima década”. Sem
dúvidas a grande preocupação do mundo é a
carência de água. Neste pensamento Duarte e
Gaspari discursam que
Desde priorizar a água comoum bem meramente econômico,deve-se, também considerar aágua como um direito humanofundamental, seja social oudifuso (terceira dimensão), mas
inerente à vida da pessoahumana (DUARTE; GASPARI,2013, p.16).
Neste sentido, sustenta-se um
nascimento de uma nova dimensão de direitos
fundamentais, “são o resultado de um longoprocesso histórico. As circunstâncias
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históricas, em cada momento específico,
geraram direitos fundamentais, os quais foram
sendo acrescidos a outros já existentes.”
(CAMIN; FACHIN, 2015, p.53).
A água é um bem necessário para
humanidade e precisa de cuidado e
valorização.
O reconhecimento à águapotável como direito de sextageração (dimensão), significa avalorização da água como umbem da humanidade, devendoser disponibilizada para todos,
tendo em vista estarcorrelacionada com o direito avida. (DUARTE; GASPARI,2013, p.16)
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi visto que os direitos fundamentais
nasceram para proteger o homem, para seu
cuidado em sociedade, para a luta em
coletividade. Pode-se entender que por meio do
tempo houve um aprimoramento em cada
dimensão, antes usado o termo geração, mas
pela doutrina atual adotou-se o termo
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dimensão, pois o direito se completa, jamais se
exclui.
As dimensões, cada uma em sua época
distinta, salientam a grande preocupação com
o direito fundamental do homem, sua
sobrevivência e sua vivencia em sociedade.
Cada dimensão tem um modo de retratar-se,
pensar e viver.
Dessa forma pode-se alcançar que cada
direito fundamental e suas dimensões seguem
o homem tanto para defendê-lo como para
guarda a sua dignidade, compondo este imenso
acervo de direito para proteger as pessoas por
todas as partes do mundo.
4 REFERÊNCIAS
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. 14. ed.São Paulo: Método, 2015.
BONAVIDES, Paulo.Curso de Direito
Constitucional. 15. ed. Minas Gerais: PUC
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. 25. ed. São Paulo:Malheiros Editora, 2005.
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DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS: ANALISADOS SOB SEUS
ASPECTOS CARACTERIZADORES
Gabriela Angelo Neves8 Samira Ribeiro da Silva9
Viviane Fidelis10
Resumo: O presente trabalho tem o escopo deanalisar as Dimensões dos Direitos Fundamentaise pretende evidenciar a sua crescente onipresençano sistema jurídico brasileiro, fato este que exibesua magnitude, bem como a inevitabilidade demantê-los conservados e atuantes, para que assimpo