DIREITOS FUNDAMENTAIS EM PERSPECTIVA: COLETÂNEA DE ARTIGOS

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    Direitos Fundamentais em

    Perspectiva: Coletânea de Artigos 

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    Tauã Lima Verdan Rangel

    (Organizador)

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    Direitos Fundamentais em Perspectiva

    Coletânea de Artigos

    Capa: Cândido Portinari, Meninos com Carneiro (1959). Coleção

    Particular.

    ISBN: 978-1533405555

    Comissão Científica

    Tauã Lima Verdan Rangel

    Editoração, padronização e formatação de texto

    Tauã Lima Verdan Rangel

    Conteúdo, citações e referências bibliográficas

    Os autores

    É de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui

    apresentados. Reprodução dos textos autorizada mediante

    citação da fonte.

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     APRESENTAÇÃO

    O Projeto “Dispersar Direitos” 

    substancializa uma proposta apresentada pelo

    Professor Tauã Lima Verdan Rangel, na ministração

    de suas disciplinas. O escopo principal do projeto

    supramencionado é despertar nos discentes do Curso

    de Direito do Instituto de Ensino Superior do Espírito

    Santo (Multivix)  –   Unidade de Cachoeiro de

    Itapemirim-ES uma visão reflexiva e crítica sobre o

    universo jurídico. Trata-se de uma abordagem de

    temas tradicionais e contemporâneos do Direito, tal

    como suas implicações e desdobramentos em uma

    realidade concreta, dialogando as disposições teóricas

    com pesquisa empírica, elementos indissociáveis para

    a construção e amadurecimento do conhecimento.

    Com o título “Direitos Fundamentais em

    Perspectiva: Coletânea de Artigos”, o compêndio busca

    colocar trazer uma análise sobre a temática dos

    direitos fundamentais, promovendo uma leitura

    renovada e interdisciplinar. Para tanto, a proposta

    pauta-se na conjugação de diversos segmentos do

    conhecimento e a utilização de mecanismos de

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    ensinagem que dialoguem conteúdo teórico com

    habilidades prática em conteúdos jurídicos,

    despertando e aprimorando habilidades

    imprescindíveis aos Operadores do Direito.

    Por fim, os artigos foram selecionados a

    partir da produção de atividade acadêmica

    confeccionada pelos discentes, em sede de disciplina de

    Direito Constitucional I. O leitor poderá observar que

    os temas são heterogêneos, abarcando realidades

    locais e peculiares do entorno da Instituição de Ensino

    Superior, tal como questões mais abrangentes. Trata-

    se da materialização do diferencial do Curso de Direito

    do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo

    (Multivix)  –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES,

    ao formar Bacharéis em Direito capazes de atuar com

    o plural e diversificado conhecimento inerente ao

    Direito, sem olvidar da realidade regional, dotadas de

    peculiaridades e aspectos diferenciadores que

    vindicam uma ótica específica.

    Boa leitura!

    Tauã Lima Verdan RangelProfessor de Direito Constitucional I

    Doutorando em Sociologia e Direito (PPGSD-UFF)Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais (PPGSD-UFF)

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    Í N D I C E

     As Dimensões dos Direitos Fundamentais

     Ana Carolina Fraga; Beatriz Perciano Varela; Bruna

    de Souza Torezani; Kemelly de Souza Rosa ............. 07

    Dimensões dos Direitos Fundamentais

    Cristiano Mendes Trentini; Laís Alves Pinto da Silva;

    Marcely Rodrigues Lulini ......................................... 59

    Das Dimensões dos Direitos Fundamentais: Analisados sob seus aspectos caracterizadores

    Gabriela Angelo Neves; Samira Ribeiro da Silva;

     Viviane Fidelis .......................................................... 81

    Dimensões dos Direitos FundamentaisLahys Peixoto; Meciane Carvalho; Raquel Jordão .. 107

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    AS DIMENSÕES DOS DIREITOS

    FUNDAMENTAIS

     Ana Carolina Fraga1 Beatriz Perciano Varela2 

    Bruna de Souza Torezani3 Kemelly de Souza Rosa4 

    Resumo: O escopo do presente trabalho éproporcionar uma análise das dimensões dosdireitos fundamentais, transitando entre ohistórico e sua aplicabilidade do direito modernoatravés de pesquisas bibliográficas e jurisprudenciais que vai ensejar melhorcompreensão do tema a ser abordado. Apesar do

    lapso temporal desde as primeiras reivindicaçõesaté a contemporaneidade do corpo social, seráconstatado que os direitos fundamentaiscontinuam vivos e que são verdadeiras flâmulasque norteiam todo o sistema jurídico atual e assimcomo estes direitos surgiram com a necessidade de

    1 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.2 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.3 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo

    (Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.4 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.

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    proteção definida pela realidade do momento emque viviam, hoje não é dessemelhante. O corpo

    social está em constante transmutação, não éinerte e por esta razão novas carências emergem enecessitam de assistência e a legislação, que éespelho da própria sociedade, carece de adaptaçãopara que o pacto social acordado entre osindividuais seja justo e satisfatório para todos, semdistinção, incluindo as transgerações.

    Palavras-chave: Direitos Fundamentais.Dimensões dos Direitos Fundamentais.Necessidade de Tutela.

    1 INTRODUÇÃO

     A convivência em sociedade não é

    inerte e paralisada, ela desenvolve-se e

    metamorfoseia-se com o desenrolar da história.

     A necessidade da tutela de determinados

    direitos é ininterrupta, isto é, enquanto alguns

    direitos já foram garantidos, novas carências

    surgem e precisam ser atendidas, onde o ser

    humano que em sua natureza é um ser livre,

    começa a exigir que goze efetivamente desta

    liberdade, mas agora em coletividade. Estas

    transformações de valores e paradigmas da

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    sociedade justifica a separação teórica dos

    direitos conquistados no decorrer da evolução

    histórica.

     Assim, fala-se em dimensões dos

    direitos fundamentais, ou seja, a sequência

    cronológica que de forma cumulativa encadeia

    os direitos fundamentais. Direitos estes

    conquistados com grande combate e que uma

    vez garantidos, não podem ser revogados nem

    substituídos. Dessa forma, é imperiosa a

    análise destas vitórias para melhor depreender

    que os direitos hoje usufruídos se constituíram

    através de acumulativas etapas, chamadas de

    dimensões.

    2 DIMENSÕES DOS DIREITOS

    FUNDAMENTAIS

    Os direitos fundamentais são

    consequências da mutação humana, ou seja, a

    cada nova geração que emerge, novas

    necessidades surgem e, automaticamente,novos direitos, porém só há a efetivação destas

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    garantias quando a necessidade de melhorar a

    relação entre Estado e Indivíduo é observada.

     Vale ressaltar que os direitos conquistados em

    determinada geração não substituem aqueles

    que os antecedem, mas sim cumprem uma

    função de complemento, por isso são tratados

    pela doutrina moderna como dimensões.

    O lema da revolução francesa exprimia

    as seguintes expressões: Liberdade, Igualdade

    e Fraternidade e, de forma completa, descreve

    os direitos fundamentais até mesmo em sua

    ordem cronológica, divididos em direitos de

    primeira, segunda e terceira dimensão, na

    devida ordem. Este percurso realizado pelos

    direitos fundamentais demonstra os desejos e

    precisão do ser humano em sua evolução como

    ser social, isto é, a consequência do progresso

    do homem em todas as áreas no tocante ao

    convívio social. É o que afirma Dirley da

    Cunha Júnior:

     As gerações dos direitos

    revelam a ordem cronológica dereconhecimento e afirmação dosdireitos fundamentais, que seproclamam gradualmente na

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    proporção das carências do serhumano, nascidas em função damudança das condições sociais. A dizer, o desenvolvimento, atécnica, a transformação dascondições econômicas e sociais,a ampliação dos conhecimentose a intensificação dos meios decomunicação poderão causarsubstanciais alterações naorganização da vida humana edas relações sociais a propiciaro surgimento de novascarências, suscitando novasreivindicações de liberdade epoder. (CUNHA JÚNIOR. 2013,p.588)

    Isto posto, entende-se que as

    dimensões de direitos fundamentais procededa imprescindibilidade do ser humano ao longo

    de sua vivência no corpo social, pois o homem

    em sua natureza, busca seus interesses

    individuais; o pacto social fez com que o

    indivíduo necessitasse desenvolver-senovamente, agora em coletividade. Com a

    ampliação dos conhecimentos e tecnologias, se

    despertou na sociedade a avidez de exigir

    inovações quanto à garantias e direitos no

    tocante as relações pessoais e coletivas.

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     DIREITOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO:

    DIREITOS INDIVIDUAIS E POLÍTICOS

    PUBLICOS

    Quando se fala em direitos de primeira

    dimensão é importante frisar que foram os

    primeiros a serem reconhecidos, e isto

    aconteceu efetivamente com as primeiras

    constituições, tendo estes escritos como

    importantes documentos para a concretização

    dos direitos de primeira dimensão, assim como

    exemplifica Lenza (2008, p.588) “(1) Magna

    Carta de 1215, assinada pelo rei “João Sem

    Terra”; (2) Paz de Westfália (1648); (3) Habeas

    Corpus Act  (1679); (4) Bill of Rights  (1688); (5)

    Declarações, seja a americana (1776); seja a

    francesa (1789)”. 

     A Magna Carta assinada por João Sem

    Terra em 1215, conforme Cardoso (1986,

    p.186), é abalizada como o sustentáculo das

    liberdades inglesas, em plena Idade Média,

    onde a igreja possuía vasto poder de influênciae que os barões e bispos faziam parte do

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    conselho real, João Sem Terra assume o

    reinado na Inglaterra após a morte de seu

    irmão. Após ter sido sobrepujado pela França

    em seu primeiro ataque de guerra, os barões

    insatisfeitos compelem o monarca a assinar

    documento por eles elaborado, tirando o poder

    absoluto de suas mãos e transferindo-os para

    os barões e arque bispos da igreja. Foi o

    primeiro passo para a desvinculação com o

    monarca.

    “O Tratado de Paz de Westfália pôs fim

    à Guerra dos 30 anos na Europa, afirmando a

    soberania dos estados nacionais nas relações

    internacionais e pregando o respeito aos

    assuntos internos de cada Estado” (REIS, s.d,

    p.1). Ainda na Europa, o Habeas Corpus-Act  

    foi importante documento assinado em 1679

    com o fito de impedir a exorbitância e

    desrespeito às garantias já conquistadas no

    sentido de que regulava especialmente que

    “ninguém deveria ser preso sem uma

    disposição escrita e que o preso deveria serconduzido a um juiz regular dentro de um

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    determinado prazo” (SCHOLL, 2011, p.178),

    demonstrando que a contrariedade à

    arbitrariedade monárquica era cada vez maior,

    crescendo significativamente os movimentos

    contra o absolutismo na Inglaterra.

    Já a Bill of right  de 1688, considerando

    que alguns direitos já haviam sido alcançados

    nada obstante ainda havia o uso tirânico dos

    poderes monárquicos, a proclamação desta

    declaração possuía como escopo o encolhimento

    do poderio do rei.

    Diminuir o poder do monarca eaumentar o poder doparlamento. Nos seus trezeartigos, o instrumentoestabelece a renúncia da coroaà aplicação despótica da lei,proibindo a jurisdição religiosade exceção, determina a

    ilicitude da instituição detributos e da organização emanutenção de um exército outropa sem a autorização doparlamento e também agarantia do direito de petição,da liberdade da palavra e daliberdade de voto (SCHOLL,2011, p. 179)

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    Os avanços no direito inglês, em um

    primeiro momento, tiveram como fito limitar o

    poder monárquico e cedê-los ao parlamento,

    conquanto estas declarações foram o caminho

    para concretização e condensação dos direitos

    fundamentais individuais, como preleciona

    Scholl (2011, p.179) “nesse processo, criaram-

    se pela primeira vez axiomas jurídicos de

    direitos e liberdades executáveis que, em

    combinação com os elementos básicos jurídico-

    administrativos, espelham o advento do

    moderno Estado constitucional”. 

    No entanto, a estabilização dos direitos

    fundamentais pode ser encontrada nas

    declarações dos Estados Unidos da América e

    da França. Naquele, em 1776, ocorre a

    Declaração da Independência Americana -

    sendo uma continuação da constituição da

     Vírginia - rodeada de ideários jusnaturalistas,

    com o fito de alcançar a igualdade entre os

    indivíduos reconhecendo que o homem possui

    direitos, e que estes direitos não podem serprivados pelo Estado pois estão acima do pacto

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    social, tal como, o direito à vida, o direito à

    liberdade e à possibilidade de adquirir e

    possuir propriedade e obter felicidade e

    segurança”(SCHOLL, 2011, p. 180). O

    instrumento supramencionado diz também que

    estes direitos não estavam sob domínio do

    Estado, mas que são direitos acima dos

    representantes, isto é, são irrevogáveis e

    inalienáveis.

    O objetivo principal da VirginiaBill of Rights era fixar eancorar os direitos naturais pertencentes a cada indivíduocomo  direito positivo em umaconstituição. Ao  contrário dosgenitores da ideia dos direitos fundamentais, os quaisdesenvolveram  uma teoria dedireitos na sinuosidade do indivíduo, os genitoresestadunidenses construíram umEstado na silhueta do indivíduoe dos seus direitos individuais.(SCHOLL, 2011, p. 180) 

    Na França, por sua vez, encadeando os

    direitos fundamentais na Europa, em 1789

    promulga a Declaração Francesa. O paísclamava pela proteção dos direitos inatos, visto

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    que a relação entre Estado e indivíduo estava

    integralmente abastardada como corolário das

    arbitrariedades e abusos de poder que

    vivenciavam no período. Assim, com forte

    influência no constitucionalismo norte

    americano, postula em favor dos direitos

    fundamentais individuais, que assim como no

    referido instrumento americano, considerava-

    os direitos supraestatais. Esta carta tinha

    como fundamento.

    O direito à liberdade, o direito àigualdade, o direito à igualdadesocial (exceções poderiam estarfundamentadas no bem-comum), o direito àpropriedade, o direito àsegurança, o direito deresistência à opressão, o direitoà liberdade de ação dentro doslimites da lei, os direitos justiçais clássicos, o direito àliberdade de opinião, o direito àliberdade de expressão, odireito à liberdade de imprensae o direito à liberdade dereligião. (SCHOLL, 2011, p.183)

    É salutar gizar que os instrumentossupracitados tiveram influência política,

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    filosófica, teológica e jurídica e que de forma

    pragmática e revolucionária efetivaram tais

    direitos com intuito de devolver ao homem o

    poder de decisão sobre si mesmo, o que até

    então decorria unicamente através do

    monarca. Neste diapasão, Cunha Júnior (2011,

    p.590) ensina que:

    São direitos marcadamenteindividualistas, afirmando-secomo direitos do indivíduofrente ao Estado, maispropriamente como direitos dedefesa, demarcando uma esfera

    de autonomia individualimpermeável diante do poderestatal. (CUNHA JÚNIOR.p.590, 2013)

     Assim, os direitos de primeira

    dimensão dizem respeito às liberdades

    públicas e aos direitos políticos. Comportando

    os direitos inatos do homem, a saber, os direito

    à vida, à liberdade, à propriedade, à segurança

    e à igualdade; os direitos de expressão tal como

    os direitos de reunião e associação; além destes

    introduz-se aos direitos de primeira dimensão

    os direitos políticos, verbi gratia , o direito ao

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    voto. Tais conquistas em um primeiro

    momento tinham o fim de obstacularizar o

    poder do monarca através da não intervenção

    do Estado na vida individual do individuo,

    apresentando uma função negativa ao Estado,

    isto é, o Estado não poderia intervir nas

    relações do individuo.

     Apesar de, preliminarmente, a

    finalidade destas garantias fosse negar ao

    Estado tal interposição, após mais de um

    século, estes direitos ainda são ovacionados

    pelo universo jurídico-constitucional e, não

    seria díspar na Carta Maior de 1988, que

    localiza os direitos de primeira dimensão em

    parte destacada, isto é, no artigo 5º - Dos

    Direitos e Deveres Individuais e Coletivos.

    O art. 5º, caput, versa que “todos são

    iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

    natureza, garantindo aos brasileiros e aos

    estrangeiros residentes no País a

    inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

    igualdade, à segurança e a propriedade”,dando prosseguimento em seus 78 incisos. São

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    normas de eficácia plena, tendo máxima

    proteção por intermédio do art. 60, §4º, IV que

    dispõe sobre as cláusulas pétreas, com a

    seguinte redação “§4º - Não será objeto de

    deliberação a proposta de emenda tendente a

    abolir: (...) IV  –   os direitos e garantias

    individuais” (BRASIL, 1988).

    Entende-se como direito e garantias

    individuais aquele que concede ao indivíduo a

    oportunidade de usufruir de seus anseios e

    desejos sem que o Estado intervenha nestas

    relações, tanto pessoais quanto com a

    sociedade. Sob esta ótica, Cunha Júnior (2013,

    p.663) adverte que “todos aqueles que visam a

    defesa de uma autonomia pessoal no âmbito no

    qual o indivíduo possa desenvolver as suas

    potencialidades e gozar de sua liberdade sem a

    interferência indevida do Estado e do

    particular”. 

    São direitos extremamente amplos e

    que estão intrinsecamente ligados ao princípio

    da dignidade humana. É notável tal julgamento no considerado mais importante

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    direito de primeira dimensão que é o direito à

    vida, na aludida garantia não somente a idéia

    de que não é permitido matar, mas sim a

    proibição de qualquer forma de tortura e

    violação contra a existência de alguém,

    independente de sua situação. Este direito traz

    concretude e respaldo para as demais

    proteções legais; v.g , é que é vedada a pena de

    morte (art. 84, XIX), é garantida aos presos a

    custódia de sua integridade física e moral (art.

    5º, XLIX), dentre outras garantias que

    defendam a sobrevivência do ser humano.

     Ainda sobre o direito à vida, com o

    propósito de demonstrar que este não está

    longínquo da realidade do corpo social,

    consegue se constatar com clareza sola na

    condição do nascituro, tanto na doutrina,

    quanto na jurisprudência, nas quais há forte

    discussão sobre o conteúdo. Visto que a

    legislação entende que o status de pessoa só

    emerge em decorrência do nascimento com

    vida, conforme o art. 2º do Código Civil vigente,“a personalidade civil da pessoa começa do

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    nascimento com vida (...)”, assim surgem

    várias teorias no âmbito jurídico objetivando

    explicar a questão, a teoria clássica  –   teoria

    natalista - diz que só há de se falar em pessoa

    após o nascimento com vida, pois o feto possui

    mera expectativa de direito que serão

    efetivados mediante nascimento com vida. Em

    contraste com tal abstração, a teoria

    concepcionista acaba por dizer que pessoa se

    tem desde a fecundação do óvulo com o

    espermatozoide.

     A segunda das teorias

    supramencionadas é a mais aceita na

    contemporaneidade pelas doutrinas e

     jurisprudência, não somente reconhecendo a

    necessidade do desenvolvimento sadio do feto,

    mas chegando a conceder direito de seguro e

    indenização. Como efeito, com escopo de

    ilustrar tais ponderações é possível utilizar a

    decisão do Superior Tribunal de Justiça, no

    Recurso Especial de n. 1415727/SC em ação de

    cobrança de seguro obrigatório:

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    Direito civil. Acidenteautomobilístico. Aborto. Ação decobrança. Seguro obrigatório.DPVAT. Procedência do pedido.Enquadramento jurídico donascituro. Art. 2º do CódigoCivil de 2002. Exegesesistemática. Ordenamento jurídico que acentua a condiçãode pessoa do nascituro. Vidaintrauterina. Perecimento.Indenização devida. Art. 3º,inciso I, da Lei n. 6.194/1974.Incidência.1. A despeito da literalidade doart. 2º do Código Civil  –   quecondiciona a aquisição depersonalidade jurídica aonascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais Deque não há essa indissolúvelvinculação entre o nascimentocom vida e o conceito de pessoa,de personalidade jurídica e detitularização de direitos, comopode aparentar a leitura maissimplificada da lei. (...)4. Ademais, hoje, mesmo que seadote qualquer das outras duasteorias restritivas, há de sereconhecer a titularidade dedireitos da personalidade aonascituro, dos quais o direito àvida é o mais importante.Garantir ao nascituroexpectativas de direitos, oumesmo direitos condicionadosao nascimento, só faz sentido se

    lhe for garantido também odireito de nascer, o direito àvida, que é direito pressupostoa todos os demais. (...).

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    (Resp.1415727, Quarta turma,Superior Tribunal de Justiça,Relator: Ministro Luís FelipeSalomão, Julgado em14/01/2014)

    É necessário salientar, que o direito à

    vida é pressuposto para as demais legislações,

    por isso o assunto não se esgota, pelo contrário,

    está sempre se atualizando em face da

    realidade e necessidade da sociedade; o

    nascituro é um exemplo das transformações da

    sociedade ao longo dos anos e este tão valoroso

    direito tem o ofício de preservar todos os

    aspectos de integridade do homem, estando

    enleado ao âmago do Princípio da Dignidade

    da Pessoa Humana.

    O direito à liberdade, fonte inesgotável

    de paradigmas e fundamentos, que confere ao

    ser humano o arbítrio de determinar-se em

    concordância com sua própria convicção, como

    esclarece Cunha (2013, p. 670): “consiste na

    num poder de atuação em busca da realização

    pessoal e de sua felicidade”, tem sido aclamado

    incessantemente no momento em que o Brasil

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    tem suplantado, visto que a vasta ocorrência

    de bebês anencéfalos, ou seja, que não tem os

    hemisférios cerebrais, a jurisprudência, apesar

    das contraposições, tem entendido de forma

    majoritária, que é direito da mãe decidir sobre

    o futuro dela e do feto, isto é liberdade de

    autodeterminação da mulher interromper ou

    não a gravidez. Sob esta ótica, v.g, o Supremo

    Tribunal Federal profere decisão sobre o

    aludido conteúdo:

    Feto Anencéfalo  –   Interrupçãoda Gravidez  –   Mulher  –  Liberdade Sexual eReprodutiva  –   Saúde  –  Dignidade  –   Autodeterminação

     –   Direitos Fundamentais  –  Crime –  Inexistência. Mostra-seinconstitucional interpretaçãode a interrupção da gravidez defeto anencéfalo ser condutatipificada nos artigos 124, 126 e128, incisos I e II, do CódigoPenal. (Argüição deDescumprimento de PreceitoFundamental 54 DistritoFederal, Supremo TribunalFederal, Relator: MinistroMarco Aurélio, Julgado em12/04/2012)

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    Outrossim, o direito à liberdade, isto é,

    de determinar-se em harmonia com sua

    consciência, é cognoscível em múltiplas esferas

    da sociedade e que precisam de atenção dos

    legisladores e da jurisprudência, apesar de até

    o momento a tolerância ter sido possível, é

    necessário que mudanças aconteçam para que

    a justiça seja consumada. Neste ponto de vista,

    a liberdade sexual é uma das temáticas que

    necessitam de alerta, já que a coletividade

    entendeu tal apontamento e determinação,

    Dias (s.d, p.1) sistematiza que:

    Indispensável que se reconheçaque a sexualidade integra aprópria condição humana.Ninguém pode realizar-se comoser humano se não tiverassegurado o respeito ao

    exercício da sua sexualidade,conceito que compreende tantoa liberdade sexual como aliberdade à livre orientaçãosexual. Visualizados os direitos deforma desdobrada em gerações,é imperioso reconhecer que asexualidade é um direito de

    primeira geração, do mesmomodo que a liberdade e aigualdade. A liberdade

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    compreende o direito àliberdade sexual, aliado aodireito de tratamentoigualitário, independente datendência sexual. Trata-se,assim, de uma liberdadeindividual, um direito doindivíduo, e, como todos osdireitos do primeiro grupo, éinalienável e imprescritível. Éum direito natural, queacompanha o ser humano desdeo seu nascimento, pois decorrede sua própria natureza. (DIAS,s.d, p.1)

     Além das aludidas espécimes, o

    direitos fundamentais de primeira dimensão

    vão muito avante; tendo como exemplo, odireito da igualdade que indica o princípio da

    isonomia objetivando tratar os desiguais como

    iguais na medida de sua desigualdade, tal

    como pode ser verificado com a Lei Maria da

    Penha, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do

    portador de necessidades que demonstram a

    aplicabilidade da constituição e o anseio das

    legislações infraconstitucionais para alcançar a

    todos visando a justiça.

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    O direito à intimidade, à vida privada,

    à honra e à imagem, que versam sobre a

    autonomia do particular em estabelecer a

    exposição do próprio corpo, por exemplo, sem

    que o Estado ou outro particular

    arbitrariamente decida por ele. Similarmente,

    o direito à propriedade aglutina-se aos direitos

    concernentes ao indivíduo ponderando que

    esta possui uma função social, isto é, o bem

    privado com a incumbência de promover o bem

    estar da coletividade. Nesta perspectiva,

    Cunha Júnior (2013, p. 698) pontifica que “é

    um direito individual, mas um direito

    individual condicionado ao bem estar da

    comunidade, na medida que a propriedade

    deverá atender a sua função social”, esta

    temática é tão ponderosa que nos casos de

    utilidade pública ou necessidade, poderá o

    Estado intervir na propriedade privada para

    que esta cumpra sua função civil.

    Bem como as garantias

    supramencionadas, os direitos processuais nãosão menos consideráveis, sendo uma das

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    maiores vitórias do Estado democrático de

    direito, haja vista que o direito de acesso à

     justiça permite a todo cidadão a

    inafastabilidade do judiciário mediante o

    direito de ação, e para consubstancializar o

    acesso à justiça, outros direitos foram

    determinados fundamentais para viabilizar a

    referida conquista, a saber, o devido processo

    legal, a ampla defesa e contraditório, juiz

    natural e duração razoável do processo, a fim

    de garantir que a justiça será concretizada

    independente da vontade dos litigantes,

    tornando as partes iguais onde possuem as

    mesmas ferramentas no processo.

    Nesta esteira, deve-se entender que os

    direitos de primeira geração dispostos no art,

    5º da Carta Maior em seus 78 incisos não são

    meramente normas separadas da vida prática

    dos indivíduos, antes intenta a defesa de uma

    independência particular, onde o indivíduo

    possa otimizar o desenvolvimento de suas

    relações e regozijar-se de sua liberdade sem aingerência injusta do Estado e de outros

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    indivíduos, além de apaniguar uma

    coletividade para que os seus membros sejam

    tutelados.

    4  DIREITOS DE SEGUNDA DIMENSÃO:

    DIREITOS SOCIAIS, CULTURAIS E

    ECONOMICOS

    Os direitos sociais surgem no século

    XX, com a revolução industrial e período pós

    primeira guerra mundial, guiado pelo princípio

    da isonomia, onde a necessidade de tutelar os

    direitos dos hipossuficientes tornou-se

    evidente, garantindo a proteção dos mais

    pobres e mais fracos. O Estado, diferentemente

    dos direitos de primeira dimensão, tem função

    positiva, concedendo direitos sociais aos menos

    favorecidos para que haja uma igualdade

    social. Primordialmente, a reivindicação vem

    da classe dos trabalhadores, onde estes tinham

    horas excessivas de trabalho, pouco descanso e

    baixa remuneração e com tal garantia,estariam afastados das arbitrariedades dos

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    empregadores. Tais direitos foram

    introduzidos no plano concreto com algumas

    declarações de cunho social, v.g ., a constituição

    do México em 1917 e a constituição de Weimar

    na Alemanha em 1919.

    Os aludidos documentos tinham

    embutidos em sua linhas as garantias

    referentes à obrigação estatal de fornecer

    recursos para a materialização de melhorias

    na vida dos cidadãos, principalmente os

    trabalhadores. Neste diapasão, Bonavides

    (2004, p. 564) instrui que

    São os direitos sociais, culturaise econômicos, bem como osdireitos coletivos ou dascoletividades, introduzidos noconstitucionalismo das distintasformas do Estado Social, depois

    que germinaram por obra daideologia e da reflexãoantiliberal do século XX.Nasceram abraçados aoprincípio da igualdade, do qualnão se podem separar, poisfazê-lo equivaleria adesmembrá-los da razão de serque os ampara e estimula.

    (BONAVIDES. 2004, p. 564)

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     Assim, a natureza destes direitos exige

    do Estado mecanismos materiais, isto é, eles

    estão na esfera programática onde necessitam

    de aplicação econômica para serem

    consumados e para isto, o mesmo necessita de

    organização financeira para atingir a

    finalidade pretendida. Pode-se compreender

    que os direitos sociais, sem grandes

    pormenores, são os que garantes ao indivíduo a

    exigibilidade em face do Estado para que este

    outorgue recursos para aquele adquira

    condições que viabilizem a igualdade social.

    Na Carta Constitucional de 1988, os

    direitos sociais estão elencados no Capítulo II,

    art. 6º e 7º que correspondem:

     Art. 6º São direitos sociais aeducação, a saúde, aalimentação, o trabalho, amoradia, o lazer, a previdênciasocial, a proteção àmaternidade e à infância, aassistência aos desamparados,na forma desta constituição. Art. 7º São direitos dostrabalhadores urbanos e rurais,além de outros que visem amelhoria de sua condição social:(...) (BRASIL. 1988)

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     Além destas disposições, os arts. 193 a

    224, versam sobre a ordem social, visando o

    bem-estar e a justiça sociais. Como susodito

    estes direitos exigem recurso econômico do

    Estado e por não serem cláusulas pétreas

    podem ser reduzidos ou até mesmo não

    concedidos como admite Cunha (2014, p. 725)

    “os direitos sociais sujeitam-se a uma reserva

    legal, aqui entendida como a possibilidade de

    disposição econômica e jurídica por parte do

    destinatário da norma”. Isto posto, os direitos

    sociais são aqueles que dependem de

    programas e organização estatal, tanto

    financeira quanto legal, para que seja

    atendidos, ou seja, necessitam que o legislador

    concretize o mesmo com normas, passando

    então a serem exigíveis.

    Com o propósito de ilustrar tais

    direitos e seus aspectos, a Emenda

    Constitucional de n.33, de 14 de dezembro de

    2000, referindo-se ao art. 82 dos Atos das

    disposições constitucionais transitórias,

    determina que os Estados, o Distrito Federal e

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    os municípios instituam Fundos de Combate à

    pobreza e, segundo Moraes (p.205) tal desígnio

    tem por finalidade possibilitar a todos os

    cidadãos brasileiros a elevação ao mínimo

    existencial, onde os recursos cedidos devem ser

    direcionados para nutrição, habitação,

    educação, saúde, reforço de renda familiar,

    entre outros que possibilitem a melhoria da

    qualidade de vida.

    5 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE

    TERCEIRA DIMENSÃO: OS DIREITOS DE

    FRATERNIDADE

    Os direitos fundamentais de terceira

    dimensão ratificam os juízos de fraternidade

    ou solidariedade, por efeito de resguardar a

    proteção dos interesses sociais em comum, em

    uma abstração de coletividade e não

    puramente ao anteparo dos direitos

    individuais, sendo, desta forma, de

    titularidade difusa ou coletiva. Destarte, por setratar de uma universalidade, faz-se

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    necessário o empenho extensivo dos indivíduos

    diligentes da sociedade, posto que, trata-se da

    idealização de toda a coletividade, em estado

    conjuntivo, e não do homem como indivíduo sui

    generis, isto é, em sua singularidade.

    O exórdio da terceira geração dos

    direitos fundamentais deu-se na Terceira

    Revolução Industrial, logo após a Segunda

    Guerra Mundial, como corolário de um

    contexto conturbado por vindicações,

    mormente vis-à-vis a repercussão tecnológica,

    à luz de uma revolução dos meios de

    transporte e comunicação. Deveras, são tidos

    como direitos fundamentais o direito de

    conservação do patrimônio histórico e cultural,

    à paz, à autodeterminação dos povos, ao

    desenvolvimento, ao meio ambiente, à

    comunicação, tratando-se de direitos

    transindividuais. Nesta esteira, Dirley da

    Cunha Jr., salienta

     Alguns desses direitos

    fundamentais de terceiradimensão já lograram obterreconhecimento constitucional,

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    como direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado(CRFB/88, art. 225), o direito àpaz mundial (CRFB/88, art. 4º, VI e VII), o direito àautodeterminação dos povos(CRFB/88, art. 4º, III) e odireito ao desenvolvimento(CRFB/88, art. 3º, II). Amaioria, porém, ainda nãoencontrou positivaçãoconstitucional, embora consteem alguns tratadosinternacionais mais recentes.(CUNHA JÚNIOR, 2013, p.599)

    Este revolucionário progresso foi

    perpetrado, em 1948 pela Declaração

    Universal dos Direitos do Homem, pós segunda

    guerra mundial na qual todos os direitos já

    adquiridos tinham sido embaciados com a

    notável crueldade e discriminação frente aos

    interesses de um indivíduo. Tal documento

    toma por ideário que todas as nações respeitem

    e apliquem os direitos efetivados e universais a

    todo cidadão sem qualquer tipo de distinção,

    ou seja, abrangendo os direitos de liberdade,

    igualdade e fraternidade, como pode ser

    contemplado no art. XXII do referido arquivo.

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     Art. XXII Toda pessoa, comomembro da sociedade, temdireito à segurança social e àrealização, pelo esforçonacional, pela cooperaçãointernacional e de acordo com aorganização e recursos de cadaEstado, dos direitos econômicos,sociais e culturaisindispensáveis à sua dignidadee ao livre desenvolvimento dasua personalidade. (ONU, 1948)

    Convictantemente, a universalidade

    dos direitos tem como princípios basilares a

    igualdade e a dignidade, valorando que os

    indivíduos conheçam e reconheçam que tais

    garantias são inerentes à sua própria

    existência, uma vez que só podem ser

    verdadeiramente consumados com o interesse

    solidário tanto na seara pessoal quanto na

    coletiva. Sob esta ótica, o professor Etienne-R

    Mbay (1997, s.p) esclarece sabiamente que

    [...] direitos dos povos ou desolidariedade, refere-se aodireito à autodeterminação, àpaz, ao desenvolvimento, aomeio ambiente e à informação

    que só pode se realizar por meiode um esforço solidário entre osdiferentes atores individuais e

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    coletivos, tanto no planonacional quanto nointernacional. (MBAY, 1997,s.p)

    Com o importantíssimo passo dado

    pela humanidade com o reconhecimento da

    Declaração dos direitos humanos, outros

    instrumentos internacionais despontam com o

    intuito de fortalecer a premissa de que os

    Estados de Direito devem promover o respeito

    universal dos

    [...] direitos humanos

    fundamentais, na dignidade eno valor da pessoa humana e naigualdade de direitos doshomens e das mulheres, e quedecidiram promover o progressosocial e melhores condições devida em uma liberdade maisampla. (ONU, 1948)

    Neste prisma, como símbolo dos

    direitos de solidariedade, a Declaração sobre os

    Direitos ao Desenvolvimento concebida pela

    ONU em 1986 tornam portentosos e robustos

    os propósitos da primeira carta

    supramencionada. Tal documento refere-se ao

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    Estado e ao direito que o indivíduo possui de

    desenvolver-se pessoalmente, principalmente

    no que tange à exigência de ter trabalho, saúde

    e alimentação adequada, cabendo ao Estado

    fornecer os recursos para que o cidadão possua

    para si e para sua família o mínimo digno para

    viver, sendo este o corolário personificado da

    efetivação dos direitos fundamentais, como

    pode ser apreciado no art. 8 do referido arquivo

     Article 81. States should undertake, atthe national level, all necessarymeasures for the realization ofthe right to development andshall ensure, inter alia, equalityof opportunity for all in theiraccess to basic resources,education, health services, food,housing, employment and thefair distribution of income.Effective measures should beundertaken to ensure thatwoman have an active role inthe development process. Appropriate economic andsocial reforms should be carriedout with a view to eradicatingall social injustices (…).(DECLARATION ON THE

    RIGHT TO DEVELOPMENT,1986, p.187)

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    Os direitos de fraternidade

    abarcam todos os direitos fundamentais

    inerentes ao ser humano e sua estadia em

    sociedade, não sendo suscetíveis à alienação e

    à prescrição, estas vitórias alcançadas pela

    humanidade, após maciço sofrimento ao

    decorrer sua evolução, traz sentido de

    universalidade no qual os direitos não

    impendem somente para um grupo ou classe

    de pessoas, mas a todos os seres humanos

    ponderando que tais direitos são atinentes a

    sua própria essência e que o Ente Estatal é

    constrangido a disponibilizá-los a todos sem

    qualquer separação.

    5.1 Dos Direitos Coletivos em sentido lato

    Os direitos difusos, direitos coletivos

    em sentido austero e direitos individuais

    homogêneos estão abarcados pelos direitos

    coletivos, se distinguindo por serem direitos

    transindividuais e que emanaram dosantagonismos da sociedade, promovendo a

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    ascensão de direitos elementares. Isto posto, os

    direitos transindividuais estão concatenados

    pela associação de incomensuráveis titulares

    com liame jurídico, inclusive pela

    imprescindibilidade da permutação do

    individualismo processual para ações coletivas,

    visando a economia processual e a melhor

    harmonização dos julgados, prezando também

    por uma maior segurança jurídica.

    O Código de Defesa do Consumidor

    expressa as três variantes dos direitos

    coletivos em sentido amplo, exprimindo

    aprazada distinção entre as mesmas,

    consoante é observado no artigo 81

    Parágrafo único. A defesacoletiva será exercida quandose tratar de:

     I - interesses ou direitosdifusos, assim entendidos, paraefeitos deste código, ostransindividuais, de naturezaindivisível, de que sejamtitulares pessoasindeterminadas e ligadas porcircunstâncias de fato; 

    II - interesses ou direitoscoletivos, assim entendidos,para efeitos deste código, ostransindividuais, de natureza

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    indivisível de que seja titulargrupo, categoria ou classe depessoas ligadas entre si ou coma parte contrária por umarelação jurídica base; III - interesses ou direitosindividuais homogêneos, assimentendidos os decorrentes deorigem comum (BRASIL, 1990).

    5.2 Dos Direitos Difusos

     Ao se diferir os direitos coletivos em

    sentido abrangente, têm-se os direitos difusos

    com mais vasta transindividualidade tangível,

    contíguo por um elo situado de fato e a

    impossibilidade de determinar o sujeito. Nesta

    trilha, está estimada a essência da

    solidariedade, intentando a uma

    conscientização e amadurecimento do

    indivíduo, o que se faz necessária a supressão

    de toda e qualquer conduta egoísta. Assim,

    pensa-se nas afetações que ocorrerão, a curto

    ou longo prazo, decorrentes do próprio

    comportamento humano.

    O direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado deve ser

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    resguardado pelo princípio da solidariedade

    intergeracional e transgeracional, conforme a

    própria Constituição Federal determina,

    aspirando harmonizar o convívio social, em

    concordância com o artigo 225, caput

    Todos têm direito ao meio

    ambiente ecologicamenteequilibrado, bem de usocomum do povo e essencialà sadia qualidade de vida,impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade odever de defendê-lo epreservá-lo para aspresentes e futurasgerações (BRASIL, 1988).

    Portanto, meio ambiente é ponderado

    como um direito fundamental de

    responsabilidade coletiva, ou seja, é dever do

    Estado e da sociedade atuar para efetivaresses direitos seja ele natural, artificial,

    cultural, do trabalho ou patrimônio genético,

    isto por ser de uso coletivo e primordial à

    qualidade de vida. Com tal característica é

    abalizado como res comune omnium , por

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    conseguinte, reputado por ser de livre uso

    comum e de interesse de todos.

    5.3 Dos Direitos Coletivos em sentido estrito

    Os direitos coletivos em sentido estrito

    estão atrelados aos direitos transindividuais

    lídimos restritos, à determinabilidade ou

    inderterminabilidade dos sujeitos, coadunados

    por uma relação jurídica basilar, ou melhor,

    preexistente à lesão. Como, por exemplo, é o

    caso das demandas judiciais propostas pelo

    Ministério Público, na sua função de curador,

    representando grupos, classes ou categorias de

    pessoas, o que, neste âmbito, acarretará uma

    resolução do conflito de interesses unitária,

    isto é, igual para todos os titulares.

     Ademais, os direitos coletivos em

    sentido estrito versam sobre relações

    incindíveis com mais de um titular. Nesta

    temática é possível que haja a determinação

    dos titulares do direito ou coisa, seja por meiodo interesse jurídico ou do liame alicerçado.

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    Resta ainda salientar que por se tratar de elo

    indivisível, a sentença favorável, emitida como

    ato judicial pelo juiz, a princípio, alcançava até

    mesmo as pessoas que não pertenciam às

    partes autoras das ações coletivas. Por esta

    razão o Código de Defesa ao Consumidor

    traçou diretrizes limitadoras aos julgamentos,

    delimitando os apenas aos grupos, classes ou

    categorias de pessoas que litigam no processo,

    in verbis  

     Art. 103. Nas ações coletivas deque trata este código, asentença fará coisa julgada:[omissis]II - ultra partes, maslimitadamente ao grupo,categoria ou classe, salvoimprocedência por insuficiênciade provas, nos termos do incisoanterior, quando se tratar dahipótese prevista no inciso II doparágrafo único do art. 81(BRASIL, 1990).

    Deste modo, o Mandado de Segurança

    Coletivo se integra nos paradigmas dos

    direitos contextualizados nesta esfera coletiva,

    objetivando assegurar a efetivação de direitolíquido e certo, uma vez que de identidade

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    conjunta, por pertencer a uma associação de

    indivíduos. Destarte à luz da Lei nº 12.016/09,

    artigos 21 e 22, que rege o Mandado de

    Segurança Coletivo, ratifica mitigar e

    alvorecer asserções divergentes ao Instituto.

    5.4 Dos Direitos Individuais Homogêneos

    Os Direitos Individuais Homogêneos,

    por vezes, tendem a se confundir com os

    direitos coletivos em sentindo restrito, isso se

    dá pelo fato de haver uma situação em comum.

    Porém não se admite tal obscuridade, pois

    estes direitos giram em torno de uma relação

     jurídica basilar e aqueles não corroboram com

    a existência de vínculo.

    São decorridos de uma origem

    ordinária, dispondo-se de uma

    transindividualidade de instrumento ou de

    artifícios. Os titulares dos Direitos Individuais

    Homogêneos são determináveis e o objeto da

    demanda é divisível, isto é, os prejuízosadvindos da ação judicial são partilháveis.

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     À vista do exposto, neste diapasão, é

    preferencial acoplar múltiplos processos

    individuais em uma só ação coletiva. Ora, é

    inequívoco que, economicamente, é mais

    proficiente que exista apenas uma demanda,

    com uma única instrução e uma singular

    sentença, o que se confere pela tutela coletiva

    da lei, do que infindáveis processos. Ainda,

    para que haja configurado a existência de

    direito individual homogêneo é preciso que os

    vários titulares tenham similitude por um

    aspecto em comum, sem que coexista alguma

    espécie de relação. Pois bem, decerto, se várias

    ações fossem propostas em juízos diferentes,

    correria o risco de haver diferentes juízes

     julgando demandas semelhantes, com o risco

    de resultados incompatíveis, o que ensejaria

    uma insegurança jurídica.

    5.5 Da Distinção

    Os Direitos Coletivos em sentido amploabrangem os Direitos Difusos, os Direitos

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    Coletivos e os Direitos Individuais

    Homogêneos, como menciona e exemplifica

    Paulo Nery Júnior

    O acidente com o BateauMouche IV, que teve lugar noRio de Janeiro no final de 1988,poderia abrir oportunidadespara a propositura de açãoindividual por uma das vítimasdo evento pelos prejuízos quesofreu (direito individual), açãode indenização em favor detodas as vítimas ajuizadas porentidade associativa (direitoindividual homogêneo), ação deobrigação de fazer movida porassociação das empresas deturismo que têm interesse namanutenção da boa imagemdesse setor da economia (direitocoletivo), bem como açãoajuizada pelo MinistérioPúblico, em favor da vida esegurança das pessoas, paraque seja interditada aembarcação a fim de seevitarem novos acidentes(direito difuso). Em suma, o tipode pretensão é que classificaum direito ou interesse comodifuso, coletivo ou individual.(NERY JÚNIOR, 1995, p. 112)

    Os Direitos Difusos possuem maior

    intensidade na classificação da

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    transindividualidade, não havendo

    possibilidades de distinguir e determinar os

    seus titulares, promovendo sustentáculo a não

    divisibilidade do direito ou coisa litigados. Isso

    se dá, quando os autores indetermináveis se

    correlacionam por haver a mesma situação

     jurídica.

    Por sua vez, os Direitos Coletivos em

    sentido estrito estão predispostos por uma

    transindividualidade restrita aos sujeitos,

    determinados ou não, constituindo estabelecido

    grupo, classe ou categoria de pessoas, que

    estão aliadas por uma relação jurídica,

    gerando a afetação reflexiva dos indivíduos.

    Já os Direitos Individuais Homogêneos,

    ou fortuitamente coletivos, são provenientes de

    uma gênese comum, unindo os demandantes

    determináveis por uma mesma situação,

    atinando-se a uma transindividualidade de

    instrumento ou artificial, com fito de promover

    a economia e celeridades processuais,

    tencionado uma maior segurança jurídica.

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    6 DIREITOS DE QUARTA DIMENSÃO:

    ESTADO SOCIAL DE DIREITO OU ESTADO

    VERDE

    O instinto evolutivo do homem

    acarretou no afastamento deste com a

    natureza, apesar de viver inserido nela. As

    grandes descobertas tecnológicas e científicas

    tomaram conta da sociedade que, de certo

    modo, acomodou-se no cuidado com o meio

    ambiente em que está introduzido visto que há

    a sensação de que a proteção do meio ambiente

    cabe somente ao Estado. Há fortes discussões

    sobre o tema uma vez que economia muitas

    vezes supera a qualidade de vida, assim o

    indivíduo busca unicamente viver

    economicamente bem, mas degradando a

    natureza e se esquecendo do bem estar de sua

    própria geração e das gerações futuras.

     A Constituição Federal de 1988 prevê a

    proteção do meio ambiente (art. 288, caput , e

    art. 5º, § 2º), tornando-o direito fundamental etutelando-o através de outros dispositivos

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    também, afirmando ser este um direito

    solidário, que abrange toda a coletividade

    social. No entanto é necessário que além do

    Estado, guardião do meio ambiente, os

    individuais também sejam responsáveis

    quanto ao cuidado com o meio ambiente. Tal

    concepção é corolário da mecanização do

    mundo, com o processo de globalização que

    ultrapassa os limites biológicos e biofísicos

    para dar efetividade a atividade econômica.

    Com efeito, a criação de um Estado

    socioambiental tem como fito a inversão de

    fundamentos essenciais, colocando o meio

    ambiente em primeiro plano, enxergando-o

    como preceito fundamental para o

    desenvolvimento sadio e qualidade de vida de

    toda a sociedade, preservando a variedade da

    natureza, da cultura e da sociedade e, como

    supracitado, não somente para a presente

    geração, mas salvaguardando também a

    existência das transgerações. Neste ângulo,

     Verdan (2014, p.144) explica que

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    O Estado Socioambiental dedireito, com fito de promover atutela da dignidade humana,em razão dos diversos riscosambientais e da segurançapropiciados pela sociedadetecnológica, deve ser capaz deconjugar os valoresfundamentais que são ejetadosdas relações sociais e, por meiode suas instituiçõesdemocráticas, garantir aoscidadãos a segurança carecida àmanutenção e à proteção devida com qualidade ambiental,observando, inclusive, asconsequências futurasresultantes da adoção dedeterminadas tecnologias.(VERDAN. 2014, p. 144)

    Não se pode perder de vista que, o

    Estado Socioambiental está assentado no

    princípio da dignidade da pessoa humana,

    visto que o mínimo existencial personifica e

    efetiva os direitos fundamentais de forma queestes não podem ser minorados para que a

    própria existência das gerações seja possível.

    Neste contexto, a proteção já prevista na Carta

    Constitucional referentes ao meio ambiente

    necessita de medidas que dêem concretude ao

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    direito em questão, corroborando com tal

     julgamento, SARLET (2013, p.17) destaca

    No caso da proteção ambiental,como expressão mais especificados deveres de proteção doEstado, além da elaboração delegislação versando sobre atutela ambiental, pode-se citar

    a adoção de medidas de controlee fiscalização de açõespoluidoras do ambiente, acriação de unidades deconservação, a criação eestruturação de órgãos públicosdestinados a tutela ecológica eaté mesmo campanhas publicasde educação e conscientização

    ambiental, além de outrasmedidas que objetivem aefetividade do direito emquestão (SARLET. 2013, p. 17).

    Mediante o exposto, é notável a

    importante função da proteção dos direitos

    ambientais para a subsistência da sociedade e,

    assim como nas outras dimensões, onde

    emergiram necessidades no próprio corpo

    social que foram efetivadas através de direitos

    irrevogáveis, o direito em questão, diante da

    crise ambiental atual, torna-se a principal

    carência no momento e que sua concretização é

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    imprescindível para que o pacto social se

    perpetue no tempo, abrangendo as futuras

    gerações, aglutinando-se assim como

    novíssima dimensão dos direitos

    fundamentais.

    CONCLUSÃO 

    É fácil compreender que é da essência

    humana evoluir, levando em consideração que

    o ser humano é algo inacabado e que, mesmo

    que individualmente, busca se desenvolver.

    Tal concepção pode ser certificada nas

    dimensões dos direitos fundamentais, que se

    concretizam na medida em que surgem novas

    necessidades do indivíduo, que são

    consequências das mudanças ocorridas no

    corpo social, que com o desenvolvimento

    tecnológico e social intensifica o desejo por

    novas solicitações de liberdade.

    Como corolário da ininterrupta

    mutação humana e social, é natural acreditarque outras dimensões já estão sendo

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    reivindicadas e que outras ainda vão surgir. O

    que interessa é que o homem tenha espaço

    para gozar de sua liberdade e felicidade e que

    possa sempre a ampliação de conhecimentos e

    tecnologias para o bem estar coletivo, mesmo

    que para isto seja forçoso suceder infinitas

    dimensões de direitos fundamentais. 

    REFERÊNCIAS

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    Constitucional

    . 15. ed. São Paulo: Malheiros,

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    DIMENSÕES DOS DIREITOS

    FUNDAMENTAIS

    Cristiano Mendes Trentini 5 Laís Alves Pinto da Silva6 Marcely Rodrigues Lulini7 

    1 INTRODUÇÃO

    O escopo deste trabalho remete-nos ao

    estudo das dimensões dos direitos

    fundamentais, passando por um breve relato

    dos direitos fundamentais, que surgiu no

    século XVII e tem como principal fundamento

    a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

    Os direitos fundamentais caminham ao

    lado do regime democrático, dado sua

    importância no contexto social. São a base da

    sociedade constitucional e democrática, são

    5 Acadêmico do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.6 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo

    (Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.7 Acadêmica do Terceiro Período do Curso de Direito doInstituto de Ensino Superior do Espírito Santo(Multivix) –  Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES.

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    dentro destes princípios basilares que se

    encontram as linhas que guiam todos os

    procedimentos democráticos da sociedade

    atual.

     As dimensões a serem estudadas vêm

    cada uma com sua característica e épocas. A

    nomenclatura a ser dada a esta divisão está

    amparada no surgimento histórico dos direitos

    fundamentais, sendo que parte da doutrina

    tem evitado o termo “geração”, trocando-o por

    “dimensão”, a divisão de tais direitos em

    gerações ou dimensões é meramente

    acadêmica. Pode-se afirmar que existem os

    direitos de primeira, segunda, terceira e

    quarta, quinta e ainda a sexta dimensão.

    2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

    Os direitos fundamentais não

    nasceram conjuntamente, mas em períodos

    diferentes, conforme sua época. Eles surgem

    com a carência para proteger o homem dopoder estatal, através de constituições escritas.

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    Com a progressividade dos textos

    constitucionais deu-se à origem as gerações

    (dimensões).

    Os direitos fundamentais são

    absolutamente necessários para a pessoa,

    assegurando sua proteção de sua existência

    digna, o Estado deve reconhecê-la não só de

    modo formal, mas de modo a trazê-la para a

    realidade do dia a dia do cidadão e seus

    agentes. De acordo com Bonavides:

    Criar e manter os pressupostoselementares de uma vida naliberdade e na dignidadehumana, eis aquilo que osdireitos fundamentais almejamsegundo Hesse, um dosclássicos do direito públicoalemão contemporâneo. Ao ladodessa acepção lata, que é a quenos serve de imediato nopresente contexto, há outra,mais restrita, mais específica emais normativa, a saber:direitos fundamentais sãoaqueles direitos que o direitovigente qualifica como tais.(BONAVIDES, 2003, p.560)

     As revoluções do século XVIII (francesase norte-americanas) tinham como lema a

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    liberdade, a igualdade e a fraternidade, assim

    pressentiram nessa sequência histórica o

    surgimento dos direitos fundamentais,

    consoante a isso Paulo Bonavides cita que

    Descoberta a fórmula degeneralização e universalidade,restava doravante seguir oscaminhos que consentisseminserir na ordem jurídicapositiva de cada ordenamentopolítico os direito e conteúdosmateriais referentes àquelespostulados. (BONAVIDES,2003, p.563)

    2.1 As características dos Direitos

    Fundamentais

    São características dos direitos

    fundamentais: a imprescritibilidade  (os

    direitos fundamentais não desaparecem pelo

    decurso do tempo);b inalienabilidade

      (não há

    possibilidade de transferência dos direitos

    fundamentais a outrem);c irrenunciabilidade

    (em regra, os direitos fundamentais não podem

    ser objeto de renúncia);d inviolabilidade

     

    (impossibilidade de sua não observância por

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    disposições infraconstitucionais ou por atos das

    autoridades públicas); e universalidade 

    (devem abranger todos os indivíduos,

    independentemente de sua nacionalidade,

    sexo, raça, credo ou convicção político-

    filosófica);f efetividade

      (a atuação do Poder

    Público deve ter por escopo garantir a

    efetivação dos direitos fundamentais); g

    interdependência

      (as várias previsões

    constitucionais, apesar de autônomas,

    possuem diversas interseções para atingirem

    suas finalidades; assim, a liberdade de

    locomoção está intimamente ligada à garantia

    do habeas corpus, bem como à previsão de

    prisão somente por flagrante delito ou por

    ordem da autoridade judicial);h

    complementaridade

      (os direitos fundamentais

    não devem ser interpretados isoladamente,

    mas sim de forma conjunta com a finalidade de

    alcançar os objetivos previstos pelo legislador

    constituinte); i relatividade ou limitabilidade

    (os direitos fundamentais não têm naturezaabsoluta).

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    O termo “geração” ou “dimensão  é a

    nomenclatura usada nas doutrinas. Essa

    divisão é meramente acadêmica, sendo que o

    termo mais usado é dimensão, pois geração

    está diretamente ligada à de substituição, e os

    direitos fundamentais não se sobrepõem a

    outra vertente porque uma não apaga outra,

    uma vez que os direitos se completam jamais

    se excluem. Como salienta Sarlet

    Não há como negar que oreconhecimento progressivo denovos direitos fundamentais

    tem o caráter de um processocumulativo, decomplementaridade, e não dealternância, de tal sorte que ouso da expressão “gerações”pode ensejar a falsa impressãoda substituição gradativa deuma geração por outra, razãopela qual há quem prefira o

    termo “dimensões” dos direitosfundamentais, na esteira damais moderna doutrina.(SARLET, 2012, p.31)

    Os direitos fundamentais podem ser

    vistos de duas perspectivas: subjetiva e

    objetivas com considerações aos direitos de

    proteção (negativos) e de exigência de

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    prestação (positivos) por parte do indivíduo do

    Poder Público. Assim em conformidade com

     Alexandrino e Paulo no que dizem

    Em suma, numa perspectivasubjetiva, os direitosfundamentais possibilitam aoindivíduo (sujeito) obter do

    Estado a satisfação de seusinteresses juridicamenteprotegidos; já na perspectivaobjetiva, os direitosfundamentais sintetizam osvalores básicos da sociedade eseus efeitos irradiam-se portodo o ordenamento jurídico,alcançando e direcionando a

    atuação dos órgãos estatais.(ALEXANDRINO; PAULO,2015, p.102)

    Existem os direitos de primeira,

    segunda e terceira dimensão, sendo que ainda

    existem doutrinadores que defendem a

    existência dos direitos de quarta, quinta e

    sexta dimensão.

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    2.2 Direitos Fundamentais da Primeira

    Dimensão

    O direito da primeira dimensão

    enfatiza os direitos à liberdade, sendo

    subjetiva é referente ao sujeito de relação

     jurídica, figurando em uma norma

    constitucional e abarcando direitos individuais

    e políticos.

    Surgiu no final do século XVII

    representando uma resposta do Estado liberal

    ao Absolutista, tendo como titular o indivíduo,

    sendo contrário, sobretudo, ao Estado, significa

    uma prestação negativa, correspondendo a fase

    inaugural do constitucionalismo no Ocidente

    no século XIX, sendo fruto das revoluções

    liberais francesa e norte-americana, nas quais

    a burguesia reivindicava o respeito às

    liberdades individuais.

    Podem-se exemplificar os direitos de

    primeira dimensão o direito à vida, à

    liberdade, à propriedade, à liberdade deexpressão, à liberdade de religião, à

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    participação política etc. De acordo com Sarlet

    apud Bonavides:

    Cuida-se dos assim chamadosdireitos civis e políticos, que,em sua maioria, correspondemà fase inicial doconstitucionalismo ocidental,mas que continuam a integrar

    os catálogos das Constituiçõesno limiar do terceiro milênio,ainda que lhes tenha sidoatribuído, por vezes, conteúdo esignificado diferenciados(SARLET apud   BONAVIDES,2012, p.32).

    2.3 Direitos Fundamentais de Segunda

    Dimensão

    Os direitos de segunda dimensão estão

    ligados ao direito à igualdade (igualdade

    material) surgiram na revolução Industrial(século XX), são direitos sociais, culturais e

    econômicos bem como direitos coletivos, os

    quais visam assegurar o bem estar e a

    igualdade, estabelecendo ao Estado uma

    prestação positiva.

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    Esses direitos nasceram em razão de

    lutas de uma nova classe social, aos

    trabalhadores, surgindo do capitalismo, com o

    aprofundamento das relações entre capital e

    trabalho. Assim, como afirma Alexandrino e

    Paulo

    Os direitos fundamentais de

    segunda geração correspondemaos direitos de participação,sendo realizados por intermédioda implementação de políticas eserviços públicos, exigindo doEstado prestações sociais, taiscomo saúde, educação, trabalho,habitação, previdência social,assistência social, entre outras.São, por isso, denominadosdireitos positivos, direitos dobem-estar, liberdades positivasou direitos dos desamparados.( ALEXANDRINO; PAULO,2015, p.103)

    É importante enfatizar que nem todosos direitos fundamentais de segunda geração

    se unem ao direito positivo, vale ressaltar,

    obrigações positivas a serem cumpridas pelo

    Estado. Também se tem direitos sociais

    negativos, como o de liberdade sindical (CF,art. 8°) e o de liberdade de greve (CF, art.9°).

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    Para diferenciar direitos fundamentais

    de primeira dimensão e de segunda dimensão,

    não se pode levar em consideração

    exclusivamente, a natureza da obrigação do

    Estado, a atuação ou a abstenção. Nesse

    contexto, Alexandrino e Paulo (2015, p. 104)

    afirmam

    Os direitos sociais são aquelesque têm por objeto anecessidade da promoção daigualdade substantiva, por meiodo i intervencionismo estatalem defesa do mais fraco,enquanto os direitos individuaissão os que visam a proteger as

    liberdades públicas, a impedir aingerência abusiva do Estadona esfera da autonomiaprivada. (ALEXANDRINO;PAULO, 2015, p.104)

    2.4 Direitos Fundamentais de Terceira

    Dimensão

     A terceira dimensão por muitos

    chamada de novíssima dimensão, por está

    ligada aos chamados direitos de fraternidade

    ou solidariedade. Em geral atribuída a todas

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    as formações sociais, protegendo interesses de

    titularidade coletiva ou difusa.

    Tais direitos têm sido incorporados nos

    ordenamentos constitucionais positivos e

    vigentes de todo o mundo. São exemplos de

    direitos fundamentais da terceira dimensão:

    direito ao desenvolvimento ou progresso, ao

    meio ambiente, à autodeterminação dos povos,

    direito de comunicação, de propriedade sobre o

    patrimônio comum da humanidade e direito à

    paz, cuidando-se de direitos transindividuais,

    sendo alguns deles coletivos e outros difusos, o

    que é uma peculiaridade, uma vez que não são

    concebidos para a proteção do homem

    isoladamente, mas de coletividades, de grupos.

    Bonavides (2003), ao posicionar-se sobre os

    direitos de terceira geração, cita os seguintes

    termos:

    Com efeito, um novo pólo jurídico de alforria do homem seacrescenta historicamente aosda liberdade e da igualdade.Dotados de altíssimo teor dehumanismo e universalidade,

    os direitos da terceira geraçãotendem a cristalizar-se no fimdo século XX enquanto direitos

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    que não se destinamespecificamente à proteção dosinteresses de um indivíduo, deum grupo ou de umdeterminado Estado. Temprimeiro por destinatário ogênero humano mesmo, nummomento expressivo de suaafirmação como valor supremoem termos de existencialidadeconcreta. (BONAVIDES, 2003,p.569)

    O direito a terceira dimensão são as

    novas reivindicações fundamentais que o ser

    humano tem; característica de interesse de

    grupo (transindividual) uma vez que não se

    visualiza o homem como um ser singular, mas

    como coletivo ou o grupo. Neste diapasão,

    Mendes e Branco (2012, p. 39) falam que

    Os direitos chamados de

    terceira dimensãopeculiarizam-se pelatitularidade difusa ou coletiva,uma vez que são concebidospara a proteção do homemisoladamente, mas decoletividades de grupos. Temse, aqui, o direito à paz aodesenvolvimento, à qualidade

    do meio ambiente, àconservação do patrimônio

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    histórico e cultural. (BRANCO;MENDES, 2012, p.39)

     Após a manifestação a respeito dos

    direitos fundamentais de primeira, segunda e

    terceira geração, podemos observar que eles

    correspondem ao lema da Revolução Francesa

     –  liberdade, igualdade e fraternidade.

    2.5 Direitos Fundamentais de Quarta

    Dimensão

    No tocante da quarta dimensão dedireitos fundamentais podem ser associados à

    pluralidade. Introduzidos pela globalização

    política, a quarta dimensão é formada pelos

    direitos à democracia, à informação, ao

    pluralismo e de normatização do patrimôniogenético. Como afirma Bulos

    Referimo-nos aos direitosfundamentais de quartageração, relativos à saúde,informática, softwares,

    biociências, eutanásia,alimentos transgênicos,sucessão dos filhos gerados por

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    inseminação artificial,clonagens, dentre outrosacontecimentos ligados àengenharia genética. (BULOS,2014, p.529)

    Deve-se ressaltar que uma nova

    dimensão de direitos fundamentais não

    implica substituição dos direitos das gerações

    antecedentes, como afirma Bonavides

    Os direitos da quarta geração(dimensão) não somenteculmina a objetividade dosdireitos das duas geraçõesantecedentes como absorvem -

    sem, todavia, removê-la-asubjetivamente dos direitosindividuais, a saber, os direitosda primeira geração. Taisdireitos sobrevivem, e nãoapenas sobrevivem, senão queficam opulentados em suadimensão principal, objetiva eaxiológica, podendo, doravante,

    irradicar-se com a mais subidaeficácia normativa a todos osdireitos da sociedade e doordenamento jurídico.(BONAVIDES, 2003, p.572)

     Além de Paulo Bonavides, outros

    constitucionalistas vêm promovendo oreconhecimento dos direitos de quarta geração

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    ou dimensão, conforme se pode perceber nas

    palavras do mestre Novelino, quando ressalta

    que

    Tais direitos foram introduzidosno âmbito jurídico pelaglobalização política,compreendem o direito àdemocracia, informação epluralismo. Os direitos

    fundamentais de quartadimensão compendiam o futuroda cidadania e correspondem àderradeira fase dainstitucionalização do Estadosocial sendo imprescindíveispara a realização e legitimidadeda globalização política.(NOVELINO, 2009, p.364)

    2.6 Direitos Fundamentais de Quinta

    Dimensão

    O direito à paz corresponde aos direitos

    fundamentais de quinta dimensão, “no âmbitoda normatividade jurídica configuram um dos

    mais notáveis progressos já alcançados pela

    teoria dos direitos fundamentais”

    (BONAVIDES, 2008, p.82). Bulos, também,

    explica que

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    Quando Karel Vasak, naabertura dos trabalhos doInstituto Internacional dosDireitos do Homem, mencionouo direito à vida pacífica comoum direito de fraternidade(1979), ele o fez a tituloexemplificativo, sem descer amaiores detalhamentos.(BULOS, 2014, p.530)

    O que aconteceu foi o esquecimento

    completo da paz, enquanto categoria teórica,

    componente da terceira geração de direitos

    fundamentais, “Karel Vasak simplesmente,

    aludiu ao direito à paz como um viés do direito

    à fraternidade, e não como um direito

    autônomo e fundamental no mundo

    contemporâneo.” (BULOS, 2014, p.530). 

    Como se pode ver e analisar a quinta

    geração tem o valor da paz e é muito mais

    importante que pressentimos, pois vai além

    dos pensamentos rigorosos, que comumente

    norteiam o estudo convencional dos direitos

    humanos, como afirma Bonavides (2008, p. 83)

    “o direito a paz é concebido ao pé da letra qual

    direito imanente à vida sendo condição

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    indispensável ao progresso de todas as nações,

    grandes e pequenas em todas as esferas.”

    2.7 Direitos Fundamentais de Sexta Dimensão

    Muitos teóricos colocam a sexta

    dimensão como direitos relacionados à bioética,

    pode-se destacar a temática, dos defensores da

    água potável. A escassez da água potável pode

    se da pela sua má distribuição e a dificuldade

    de acesso de milhões de pessoas, neste sentido,

    sustenta-se que o acesso à água potável é um

    direito fundamental componente de uma nova

    dimensão de direitos. Conforme Fachin e Silva

    a água potável é

     Aquela conveniente para oconsumo humano. Isenta dequantidades apreciáveis de saisminerais ou demicroorganismos nocivos, diz-sedaquela que conserva seupotencial de consumo de modo anão causar prejuízos aoorganismo. Potável é aquantidade da água que podeser consumida por pessoas eanimais sem riscos deadquirirem doenças por

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    contaminação. (FACHIN;SILVA, 2010. p. 74)

    O crescimento populacional e a má

    distribuição e o desmatamento podem afetar

    todos os países subdesenvolvidos, assim,

    Santos apud   Fachin e Silva (2010. p. 77)

    notifica que a “desertificação e a falta de águasão os problemas que mais vão afetar os países

    do terceiro mundo na próxima década”. Sem

    dúvidas a grande preocupação do mundo é a

    carência de água. Neste pensamento Duarte e

    Gaspari discursam que

    Desde priorizar a água comoum bem meramente econômico,deve-se, também considerar aágua como um direito humanofundamental, seja social oudifuso (terceira dimensão), mas

    inerente à vida da pessoahumana (DUARTE; GASPARI,2013, p.16).

    Neste sentido, sustenta-se um

    nascimento de uma nova dimensão de direitos

    fundamentais, “são o resultado de um longoprocesso histórico. As circunstâncias

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    históricas, em cada momento específico,

    geraram direitos fundamentais, os quais foram

    sendo acrescidos a outros já existentes.”

    (CAMIN; FACHIN, 2015, p.53).

     A água é um bem necessário para

    humanidade e precisa de cuidado e

    valorização.

    O reconhecimento à águapotável como direito de sextageração (dimensão), significa avalorização da água como umbem da humanidade, devendoser disponibilizada para todos,

    tendo em vista estarcorrelacionada com o direito avida. (DUARTE; GASPARI,2013, p.16)

    3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Foi visto que os direitos fundamentais

    nasceram para proteger o homem, para seu

    cuidado em sociedade, para a luta em

    coletividade. Pode-se entender que por meio do

    tempo houve um aprimoramento em cada

    dimensão, antes usado o termo geração, mas

    pela doutrina atual adotou-se o termo

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    dimensão, pois o direito se completa, jamais se

    exclui.

     As dimensões, cada uma em sua época

    distinta, salientam a grande preocupação com

    o direito fundamental do homem, sua

    sobrevivência e sua vivencia em sociedade.

    Cada dimensão tem um modo de retratar-se,

    pensar e viver.

    Dessa forma pode-se alcançar que cada

    direito fundamental e suas dimensões seguem

    o homem tanto para defendê-lo como para

    guarda a sua dignidade, compondo este imenso

    acervo de direito para proteger as pessoas por

    todas as partes do mundo.

    4 REFERÊNCIAS

     ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente.Direito Constitucional Descomplicado

    . 14. ed.São Paulo: Método, 2015.

    BONAVIDES, Paulo.Curso de Direito

    Constitucional. 15. ed. Minas Gerais: PUC

    Minas, 2008.

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    BULOS, Uadi Lammêgo.Curso de Direto

    Constitucional. 8. ed. São Paulo: saraiva, 2014.

    CANOTILHO, José Joaquim Gomes.Direito

    Constitucional. 6. ed. Coimbra: Livraria Almeida, 1993.

    CÉZAR, Rodrigo.Teoria Geral da Constituição

    e Direitos Fundamentais. 12. ed. São Paulo:Saraiva, 2012.

    DUARTE, Patrícia Francisca; GASPARI,Marli.

    Direito Humano de sexta Geração:

     Oacesso à água potável. Trabalho apresentadoao Curso de Direito da Faculdade de Direito deMato Grosso, 2013.

    FACHIN, Zulmar; SILVA, Deise Marcelino da.Acesso à água potável: direito fundamental desexta geração. São Paulo. Millennium editora,2010.

    NOVELINO, Marcelo.Direito Constitucional

    .3. ed. São Paulo: Método, 2009.

    SILVA, José Afonso da. Curso de DireitoConstitucional positivo

    . 25. ed. São Paulo:Malheiros Editora, 2005.

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    DAS DIMENSÕES DOS DIREITOS

    FUNDAMENTAIS: ANALISADOS SOB SEUS

    ASPECTOS CARACTERIZADORES

    Gabriela Angelo Neves8 Samira Ribeiro da Silva9 

     Viviane Fidelis10 

    Resumo: O presente trabalho tem o escopo deanalisar as Dimensões dos Direitos Fundamentaise pretende evidenciar a sua crescente onipresençano sistema jurídico brasileiro, fato este que exibesua magnitude, bem como a inevitabilidade demantê-los conservados e atuantes, para que assimpo