22
DIREITOS NO CRIME: AS MULHERES, OS CRIMES E SUA BUSCA POR DIREITOS NA COMARCA DE VITÓRIA/ES (1841-1871) Philipi Gomes Alves Pinheiro 1 Resumo: A historiografia construiu certa imagem da mulher no século XIX como ser dócil, frágil, atrelado à família e submetido às obrigações domésticas. Contudo, essas assertivas não mostram a busca das mulheres, ainda no Oitocentos, por acessos e direitos. É o que se encontrou no levantamento realizado nos autos criminais e nas correspondências policiais envolvendo mulheres na Comarca de Vitória/ES, registrados entre os anos de 1841 e 1871. Mesmo sem o conhecimento dos ordenamentos jurídicos essas mulheres mostravam que a desigualdade não devia ser tolerada. Elas recebiam da sociedade, por vezes, apoio e solidariedade quanto a sua condição feminina inferior, como atestam as decisões das instâncias julgadoras. Objetiva-se entender como as mulheres comuns dirigiam-se as autoridades policiais e judiciárias a fim de exigirem a aplicação das leis na resolução de suas querelas. Palavras chave: Mulher – Criminalidade – Direitos – Comarca de Vitória Abstract: The historiography built a certain image of women in the nineteenth century as being docile, fragile, tied to the family and subjected to domestic obligations. However, these assertions do not show the search of women, even in the nineteenth century, for access and rights. This is what is found in a survey in the criminal cases and in the police correspondences involving women's matches in the County of Vitória / ES, recorded between the years 1841 and 1871. Even without the knowledge of the legal these women showed that inequality should not be tolerated. They received from society, sometimes support and solidarity in their lower status of women, as evidenced by the decisions of judges instances. The objective is to understand how ordinary women drove up the police and judicial authorities to require the application of laws in resolving their disputes. Keywords: Women – Criminality - Rights - Victoria County 1 Professor Assistente I da Universidade Vila Velha (UVV). Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pesquisador do Laboratório de História, Poder & Cotidiano da UFES. E-mail: [email protected]

DIREITOS NO CRIME: AS MULHERES, OS CRIMES E SUA … · GÊNERO E DIREITO: AS MULHERES NO ... escolheu seu próprio nome e passou a adotar Nísia Floresta, ... O livro “Direitos

  • Upload
    dothuy

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

DIREITOS NO CRIME: AS MULHERES, OS CRIMES E SUA BUSCA POR DIREITOS NA COMARCA DE VITÓRIA/ES (1841-1871)

Philipi Gomes Alves Pinheiro1

Resumo: A historiografia construiu certa imagem da mulher no século XIX como ser dócil, frágil, atrelado à família e submetido às obrigações domésticas. Contudo, essas assertivas não mostram a busca das mulheres, ainda no Oitocentos, por acessos e direitos. É o que se encontrou no levantamento realizado nos autos criminais e nas correspondências policiais envolvendo mulheres na Comarca de Vitória/ES, registrados entre os anos de 1841 e 1871. Mesmo sem o conhecimento dos ordenamentos jurídicos essas mulheres mostravam que a desigualdade não devia ser tolerada. Elas recebiam da sociedade, por vezes, apoio e solidariedade quanto a sua condição feminina inferior, como atestam as decisões das instâncias julgadoras. Objetiva-se entender como as mulheres comuns dirigiam-se as autoridades policiais e judiciárias a fim de exigirem a aplicação das leis na resolução de suas querelas.

Palavras chave: Mulher – Criminalidade – Direitos – Comarca de Vitória

Abstract: The historiography built a certain image of women in the nineteenth century as being docile, fragile, tied to the family and subjected to domestic obligations. However, these assertions do not show the search of women, even in the nineteenth century, for access and rights. This is what is found in a survey in the criminal cases and in the police correspondences involving women's matches in the County of Vitória / ES, recorded between the years 1841 and 1871. Even without the knowledge of the legal these women showed that inequality should not be tolerated. They received from society, sometimes support and solidarity in their lower status of women, as evidenced by the decisions of judges instances. The objective is to understand how ordinary women drove up the police and judicial authorities to require the application of laws in resolving their disputes. Keywords: Women – Criminality - Rights - Victoria County

1 Professor Assistente I da Universidade Vila Velha (UVV). Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pesquisador do Laboratório de História, Poder & Cotidiano da UFES. E-mail: [email protected]

GÊNERO E DIREITO: AS MULHERES NO OITOCENTOS

O século XIX presenciou o estreitamento entre espaços públicos e privados. Esse fato é primordial para o entendimento das relações de gênero cujo início retoma o processo da Revolução Francesa. O desenvolvimento do espaço público e a politização da vida cotidiana influenciaram na redefinição do que se entendia por espaço privado no início desse século. Os revolucionários franceses se esforçaram para distinguir esse dois universos e ponderaram que a privatização estaria relacionada à conspiração. Eles buscavam impedir a supremacia de interesses particulares. Sendo assim, era necessário fornecer ao povo o acesso às reuniões políticas, uma vez que a os interesses privados eram contra-revolucionários. Lynn Hunt fala da politização da vida privada, isto é:

Entre o Estado e o indivíduo, não há necessidade da mediação dos partidos ou dos grupos de interesses, e os indivíduos devem realizar sua revolução pessoal, reflexo daquela que se realiza no Estado. 2

A invasão do público no espaço privado alterou a postura dos indivíduos, inclusive mudando sua aparência a partir do vestuário. A potilização da indumentária ameaçava subverter a definição da ordem dos sexos. Mas a atenção estava para além dos toucados vermelhos usados pelas francesas. A preocupação centrava-se na masculinização das mulheres, em especial daqueles que se reunião em associações. Essas eram consideradas aventureiras, cavaleiras andantes, jovens emancipadas, moças de modos livres e soltos. Buscava-se argumentar que não seriam elas mães zelosas, esposas dedicadas, filhas comportadas e irmãs atenciosas com os irmãos menores.

Assim, as associações femininas francesas foram suprimidas por ordem dos deputados. O argumentou sustentava-se em dizer que tais associações contrariavam a ordem natural das mulheres, uma vez que as emancipavam de sua identidade exclusivamente famíliar, logo, privada. Dessa forma, sua participação na praça pública foi reprimida pela maioria dos homens da época.3 Temia-se ver mulheres munidas de armas nas filas para comprar pão. Em outras palavras, a constituição de um espaço político onde o povo fora cooptado excluiu os proletários

2 HUNT, Lynn. Revolução Francesa e vida privada. In: PERROT, M. (Org.) História da vida privada 4: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. SP: Companhia das Letras, 1991. p.24. 3 PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: EDUSC, 2005 e HUNT, Lynn. Revolução Francesa e vida privada. In: PERROT, M. (Org.) História da vida privada 4: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. SP: Companhia das Letras, 1991.

e as mulheres. Sendo que o primeiro grupo conseguiu fazer valer seus direitos mais do que as mulheres e por vezes sequer as apoiava. 4

Ademais, o século XIX, pintado com as cores da modernidade, redefiniu as experiências femininas. Concorda-se que esse século popularizou o ideal de mulher restrita ao ambiente doméstico, dotada de aptidões sensíveis aos cuidados com a família. Estava em vigor a concepção da inferioridade feminina . É necessário destacar que foi uma época na qual se negou às mulheres direitos e se infligiu barreiras a sua independência. Entretanto, nem todas as mulheres aceitaram obedientemente o rótulo de “cidadãs passivas”. Desde as mais destacadas escritoras feministas da época até as operárias das fábricas é possível encontrar mulheres reivindicando acessos, igualdades, espaços... Direitos.

O clima da Revolução Francesa, em especial com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789 gerou a expectativa de direitos à liberdade e à igualdade. Angela Groppi ousa dizer que foi o momento do qual construiu-se o modelo de cidadania prolongado nos séculos seguintes e do qual as mulheres foram excluídas.5 Considera-se necessário retomar a luta pela cidadania que se consubstanciou nas manifestações femininas na Europa,6 com destaque ao caso francês cujas influências serão refletidas no pensamento das escritoras feministas brasileiras, como Nísia Floresta.

Personagem central da luta feminina foi Marie Gouze, mais conhecida como Olympe de Gouges. Escritora, feminista e revolucionária, Gouges foi uma das mais importantes defensoras da democracia e dos direitos da mulher. Sua obra “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã” de 1791 é vista como a crítica mais contundente ao pretenso universalismo da “Declaração dos direitos do homem e do cidadão” publicada em 26 de agosto de 1789. Por meio do texto de Gouges é possível perceber as nuances da relação entre as mulheres e o ideal de igualdade na época. O discurso dessa revolucionária não exclui os direitos dos homens. Ao se dirigir a ambos os sexos ela prega a dignidade, política e social, tanto para mulher como para homens. Sendo assim, Gouges não pauta-se na supremacia de uns em detrimento de outros, como por tempos fora acusada . Assim, explica Groppi:

No texto de Olympe de Gouges, a denúncia da conotação parcial do sujeito masculino, que denota a soberania redefinida pela Revolução Francesa e a tentativa de consertá-la formulando um nova Declaração, não se conota absolutamente num plano de prevaricações de sinal contrário ou de choques de exclusões e desigualdades segundo o estereótipo com que sempre foi até hoje denunciada toda tentativa posta em prática para afirmar a diferença feminina. 7

4 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.p.177. 5 GROPPI, Angela. As raízes de um problema. BONACCHI, G; GROPPI, A. O dilema da cidadania: direitos e deveres das mulheres. SP: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. p. 12. 6 GONÇALVES, Andréa. História & gênero. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 28. 7 GROPPI, Angela. As raízes de um problema. BONACCHI, G; GROPPI, A. O dilema da cidadania: direitos e deveres das mulheres. SP: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. p. 13.

Para comprovar tal assertiva basta ler o Art. II no qual Gouges diz que “o objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis da Mulher e do Homem”. No decorrer do documento percebe-se que Gouges sublinha a necessária união e convívio harmônico da mulher e do homem, de modo a proteger os interesses de ambos. O significado dessa declaração encontra-se justamente no fato de ser um compêndio dos direitos de todos os seres humanos. Gouges explica no Preâmbulo da declaração que mencionar o direito das mulheres fazia-se necessário especialmente naquele momento, pois os homens não tinham mais licença feminina para as representarem. O espaço público esqueceu e desprezou os direitos das mulheres, conforme assevera a revolucionária francesa. Sendo assim, as mulheres deveriam expor numa declaração solene os “direitos naturais inalienáveis e sagrados da mulher, a fim de que esta declaração [...] lembre incessantemente os seus direitos e os seus deveres”. 8

Outro importante documento a ser mencionado é o “Vindication of the rights of woman”9 escrito por Mary Wollstonecraft em 1792. A professora e escritora inglesa defendia o direito natural dos indivíduos à autodeterminação. Nesta obra ela argumentou, basicamente, que a educação feminina deveria ser adequada a sua posição na sociedade uma vez que são as mulheres essenciais para a nação, por serem responsáveis pela educação dos filhos, os quais seriam futuros dirigentes. Em vez de ver as mulheres como ornamentos para a sociedade ou propriedade a serem negociadas pelo casamento, Wollstonecraft sustenta que elas são seres humanos merecedores dos mesmos direitos fundamentais que os homens. Ambos têm o mesmo potencial para desenvolver talentos e habilidades. Assim, não há motivos para gozarem de oportunidades distintas, especialmente no que concerne a educação e a participação social.

A inquietação da inglesa surgiu depois das falas de certos deputados10 na Assembléia Nacional francesa, os quais afirmavam que as mulheres só deveriam receber educação doméstica. Wollstonecraft partiu dessa assertiva para iniciar um amplo ataque contra a divisão sexual e as diferenças nos padrões morais para homens e mulheres. Esse texto foi escrito em pouco tempo, pois o objetivo da autora era responder diretamente aos eventos em curso. Daquele momento em diante, ela pretendia escrever um volume mais analítico, como chegou a afirmar, porém faleceu antes de concluir o intento.

Wollstonecraft incute a igualdade entre os sexos para determinadas áreas da vida, tais como moralidade. Porém, ela não diz explicitamente que homens e mulheres são iguais. Assim, suas declarações ambíguas em relação à igualdade dos sexos fez com que as militantes feministas do século XIX e XX encontrassem difículdade em classificá-la como uma feminista moderna. Porém deve-se ter ciência de que a palavra e o conceito de feminismo não estavam construidos na época de Wollstonecraft. De todo modo, seus escritos devem ser considerados. 8 GOUGES, Olympe. Declaração dos direitos da mulher e da cidadã. Revista internacional interdisciplinar interthesis. v.4.n.1 jan/jun 2007. 9 Tradução livre: “Reivindicação dos direitos da mulher” 10 Especialmente os discursos de Charles Maurice de Talleyrand-Périgord (BONACCHI, G; GROPPI, A. 1995).

Principalmente porque o trabalho de Mary Wollstonecraft inspirou muitas gerações de feminisras, inclusive brasileiras como Nísia Floresta.

Nascida com o nome de Dionísia Gonçalves Pinto, em 12 de outubro de 1810, no sítio Floresta, povoado de Paquari, Estado do Rio Grande do Norte, essa exceção escandalosa (nas palavras de Gilberto Freyre) escolheu seu próprio nome e passou a adotar Nísia Floresta, pelo qual ficou conhecida na posteridade. Ela se casou duas vezes, falecendo em 1885, em Rouen na França. Foi educadora, tradutora, escritora e importante ícone do feminismo brasileiro no século XIX. Abolicionista e republicana, lutou incessantemente pela melhoria da educação feminina. Muitos consideram Nísia a primeira feminista brasileira.11 Devido às suas funções como professora e diretora de escolas, as demais obras de Nísia Floresta se ativeram à educação, principalmente de moças. A mais conhecida é “O opúsculo humanitário”, publicado 1853.

Nísia Floresta produziu a tradução livre da obra de Mary Wollstonecraft, em 1832, que se converteu em importante documento do feminismo no Brasil e provocou intensa repercussão para a época. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” revela a indignação da autora com relação ao tratamento oferecido à mulher. Floresta lança mão das reivindicações de Wollstonecraft para enfrentar os preconceitos da sociedade patriarcal brasileira oitocentista “e postular com ardor e inusitada erudição a liberdade e o acesso feminino às ciências, à filosofia e aos postos de comando”. 12 Fato inusitado é que Nísia Floresta não teve contato com a edição inglesa da obra de Wollstonecraft, mas sim com a francesa. As publicações francesas estavam entre as obras estrangeiras mais difundidas no mercado brasileiro nessa época.13 Floresta não faz uma tradução literal da obra estrangeira, mas sim, escreve um novo texto, permeado por suas ideias. O texto de Wollstonecraft serviu-lhe apenas como inspiração, uma vez que tratou de questões pertinentes as mulheres inglesas. Desta forma, a publicação dessa obra de Floresta foi feita sem que ela conhecesse o impresso inglês. Segundo Duarte, Nísia Floresta “devolve um outro produto, pessoal em que cada palavra é vivida, em que os conceitos surgem das páginas como algo visceral, extraído da própria experiência e mediatizados pelo intelecto”.14 O ponto comum entre o texto brasileiro e o inglês está na reivindicação dos direitos da mulher, em especial no tocante a educação dessas. A influência iluminista também é uma marca forte em ambos. Acredita-se que a diferença maior esteja no público ao qual foram destinados e nas condições das mulheres inglesas e brasileiras.

A partir do livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” percebe-se que Nísia Floresta identifica as bases do preconceito contra a mulher na herança cultural lusitana. Além disso, Floresta, com astúcia, ridiculariza a ideia da superioridade masculina. Ela diz que homens e

11 CAMPOS, Adriana Pereira; PINHEIRO, Philipi Gomes Alves. Silenciadas pelo tempo: mulheres insubmissas e rebeldes. Zênite.n.22 jun/jul 2011. p.26. 12 DUARTE, Constância Lima. A proposta deste livro. Augusta, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989, p. 20. 13 Constata-se esse fato nos anúncios dos jornais da época, como o Jornal da Victória cuja circulação ocorria em Vitória, capital da Província do Espírito Santo, na segunda metade do Oitocentos. 14 Augusta, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989, p. 28.

mulheres possuem corpos diferentes , mas isso não deveria acarretar na diferenciação social, ou na “diferenciação da alma”, como diz a autora. Floresta vê a noção de gênero como construção sociocultural. Esse argumento foi largamente utilizado pelas teóricas de gênero no século XX. Ela afirma que as desigualdades entre homens e mulheres, cujo resultado é a inferioridade destas, são fruto da “educação e as circunstâncias da vida”15. Duas situações nas quais as mulheres encontraram barreiras. É tácito que o acesso a educação para as moças foi tardio no Brasil. Interessava mais ensinar o ofício de coser, bordar e engomar. As ciências, a aritmética e as letras não eram prioridades. Até porque tais conhecimentos não fariam parte do cotidiano das mulheres.

Como educadora, Nísia Floresta via na educação a possibilidade da mulher romper com a opressão imposta pelo homem. Para ela a instrução possibilitaria às mulheres ter a consciência de sua condição subalterna na sociedade. Assim, elas poderiam ver outras possibilidades em suas vidas além das tarefas relacionadas ao ambiente doméstico. Floresta não deixa de dizer que os homens se beneficiavam com a submissão feminina. Nas palavras da brasileira “[...] se os homens fossem Filósofos (tomando essa palavra em seu rigor) descobririam facilmente que a Natureza constituiu uma perfeita igualdade entre os dois sexos”.16 Nísia Floresta não rejeitava que as mulheres eram as aptas para a amamentação dos nascidos, mas no decorrer do livro ela explica que a sensibilidade e o trato feminino não as impede de ocuparem as esferas públicas, de constituírem direitos e os terem resguardados, isto é, de serem cidadãs ativas. Frequentemente, Floresta ressalta que ambos os sexos se completam e que um seria absolutamente inútil conceber um sem o outro, ou seja, ela não descarta a importância do homem na sociedade. Todavia, o poder masculino não deveria anular as personagens femininas na sociedade e na política.

As mulheres destacadas acima sofreram influências das teorias iluministas do final do século XVIII. Nele basearam suas reivindicações de direitos e buscaram a emancipação feminina. O Iluminismo abriu espaço para uma nova abordagem na arena pública ao afirmar que cada indivíduo seria possuidor de direitos inalienáveis. Entretanto, todos os pensadores tinham em conta as mulheres ao pensarem no ideal de igualdade entre os seres-humanos. Para Rousseau, por exemplo, as mulheres não teriam a mesma capacidade de raciocínio que os homens, dada a sua natureza distinta. A maior parte dos Ilustrados corroboravam o ideal tradicional de mulher modesta, casta, silenciosa e subserviente, e condenavam aquelas insurgentes. Os homens pensavam de tal modo, pois temiam a intromissão das mulheres na arena política, cultural e social. Eles as consideravam perniciosas. Passou-se a criticar a influência feminina nas Cortes mediante a atuação de rainhas, cortesãs e amantes dos reis; de modo a condenar suas manipulações políticas. Tal discurso estendeu-se a qualquer influência feminina na sociedade vista como um passo além do sentido biológico de fêmea, ou seja, do ideal feminino da época. Esse pensamento foi reforçado no período da Revolução Francesa, consolidando-se nas leis, na 15 Augusta, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989, p. 68. 16 Augusta, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989, p. 30.

imprensa, na opinião pública e na política dos Estados. O início do século XIX reforça então a dicotomia entre as mulheres respeitáveis e as desqualificadas.

Outra ideia já mencionada que estava em evidência na época era a de que a ação feminina no lar traria um efeito positivo na sociedade, pois seriam elas as responsáveis pela formação dos futuros cidadãos. Esse argumento foi largamente dissertado por Mary Wollstonecraft. A fim de reivindicar melhoria na educação das moças, a inglesa utilizava como justificativa essa ideia. Para Wollstonecraft, ação feminina garantiria um ensino melhor para as mulheres.

No início da Revolução Francesa as mulheres participaram ativamente. Foram elas as responsáveis por vários levantes e motins. Eram vozes femininas que gritavam nas ruas sobre as dificuldades de abastecimento e a falta de controle dos governantes. Marcaram presença na Queda da Bastilha e na Marcha até Versalhes. Entre as reinvindicações ao Estado estavam a exigência por direitos políticos para as mulheres e a organização de grupos ou instituições capazes de representar seus interesses. Michelle Perrot também diz que nos levantes comuns da época, as mulheres lideravam os motins por alimentos, pois as feiras e os mercados configuravam-se em espaços femininos. 17

As historiadoras Carla Pinsky e Joana Maria Pedro resumem os pedidos requisitados pelas francesas:

“Reivindicavam o fim das guildas, demandaram pão, requisitaram os direitos de frequentar estabelecimentos de ensino, obter emprego e portar armas, exigindo do governo o controle dos preços e iniciando movimentos de taxação popular”. 18

Entretanto, a atuação feminina na Revolução Francesa em sentido político não as fez ultrapassar a margem de cidadãs subservientes à mentalidade machista. Todavia, elas adentraram a arena política exercendo influências revolucionárias, embora não tivessem seus direitos formais reconhecidos. Os direitos das mulheres sequer foram discutidos na arena pública. Poucos foram os deputados a pregar que a “Declaração dos direitos do homem e do cidadão" se aplicava as mulheres, como atesta Lynn Hunt.19 As mulheres chegaram a conquistar certos direitos civis no período da Revolução, mas nem todos foram mantidos ao fim dessa. Conseguiram ganhos limitados como controle de preços, algumas mudanças legais, maioridade civil, pequenas melhorias na educação, mas sua atuação política ainda estava vetada.

O período da Revolução Francesa merece destaque, pois no seu decorrer se questionou as relações entre os sexos. Observa-se uma sociedade na qual as mulheres pobres buscavam

17 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.p. 193. 18 PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p.269. 19 HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. SP: Companhia das Letras, 2009. p.148.

participar como cidadãs plenas, mesmo que fosse gritando a plenos pulmões lutando por alimentos. Lynn Hunt afirma que tanto nas colônias inglesas do norte da América quanto na França, as declarações de direito que se firmavam, referiam-se a “homens”, “cidadãos”, “povo”, “sociedade”, mas sem se aterem em diferenças na situação política dos grupos sociais. Desta forma, as crianças, os estrangeiros e as mulheres deveriam ser apenas cidadãos subservientes à mentalidade política excludente em vigência. Os cidadãos ativos seriam aqueles contribuintes para a ordem pública.20 Inclusive os panfletistas, ao escreverem sobre os direitos das mulheres francesas, comparavam-nas aos homens sem propriedades e aos escravos21.

A supremacia masculina ditava ao homem um determinado papel social. Caberia a ele proteger a mulher e prover o lar. Assim, teria autoridade suficiente para dirigir a vida dos que viviam sob seu teto. Como vantagem o marido tinha a permissão de forçar, sem deixar graves ofensas físicas, a mulher a ter relações sexuais. Sua infidelidade era punida com mais lenidade que a feminina. A ideia de fragilidade do sexo feminino abria espaço para os abusos de poder do sexo masculino. A situação de comando e poder do homem sobre a mulher acarretava num desequilíbrio das relações de gênero.

O anseio de ocupar os espaços públicos levou mulheres dos diversos segmentos sociais a buscarem brechas de alcanças as tribunas. As mulheres privilegiadas socialmente utilizaram do discurso da moral doméstica22 como justificativa para as lutas por novos direitos e formas de atuação social. As mulheres buscaram valorizar as próprias virtudes e papéis ditos como femininos a fim de atuarem na sociedade, tal como faziam em seus lares. Ou seja, com carinho, devoção e zelo pela moral. Observa-se a astúcia feminina de se servirem do destino social imposto a elas em prol da autonomia e da liberdade. A filantropia serviu como janela para as mulheres alcançarem as ruas.

Para que pudessem cumprir mais adequadamente a “missão feminina” de melhorar a sociedade, muitas mulheres, especialmente na segunda metade do século XIX, passaram a exigir uma melhor educação para si mesmas e suas filhas. As mais radicais concluíram que deveriam ter acesso às profissões intelectuais e ao voto para influenciar a sociedade. Algumas delas passaram a defender o acesso à educação para todas as mulheres (como forma de permitir que as mais pobres ganhassem a vida fora da prostituição, cuidassem melhor de seus filhos ou não fossem tão exploradas por companheiros e patrões). 23

20 HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. SP: Companhia das Letras, 2009. p.148. 21 Mesmo à margem do poder as mulheres possuíam mais direitos que os escravos, pois constituíam um grupo mais coeso e organizado. (HUNT, 2009, p. 168). 22 Entende-se por moral doméstica o discurso que pregava a necessidade da afetividade, aconchego e caridade como elementos fundamentais para a manutenção da família, cuja mulher deveria propagar. 23 PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p.274.

Nas áreas urbanas o trabalho feminino era fundamental para a manutenção do lar. Os soldos recebidos pelo homem raramente eram suficientes. As mulheres então buscavam alternativas de trabalho para complementar, ou às vezes manter o sustento familiar. Elas trabalhavam por baixos salários nos serviços menos prestigiados socialmente. Para os contratantes, os braços femininos eram uma forma de reduzir os custos com a mão-de-obra. Mas era necessário conciliar suas atividades remuneradas com as tarefas domésticas. Então, não raro as mulheres trabalhavam por encomendas em suas casas. O ritmo não era mais lento que nas fábricas. Desta maneira, não eram necessário expor os filhos pequenos ao ambiente insalubre das tecelagens. Esse cenário era mais frequente para aquelas casadas. As solteiras não escapavam das longas horas de trabalho, do cansaço, das condições precárias de trabalho e da violência sexual. A divulgação das mortes nas fábricas levou às reivindicações por leis que resguardassem o trabalho feminino. Até então, as mulheres não possuíam garantias trabalhistas, e sequer estavam organizadas em sindicatos. Somente no final do século XIX a sindicalização feminina cresceu, mas a mulher continuou recebendo salários inferiores aos dos homens.

Eram raras as greves femininas, mas não inexistentes. Mesmo em número reduzido, as mulheres marcaram presença em manifestações, fazendo reivindicações com a esperança de serem atendidas. 24

Para as mulheres negras a situação era ainda pior. Abolida a escravidão elas foram forçadas a desempenhar os piores serviços, como trabalhar nas fazendas, nas fábricas de tabaco ou como domésticas. Essa última aparentemente parecia melhor. Ledo engano. No interior das casas estavam sujeitas a maus tratos das patroas e abusos sexuais dos contratantes. Viam sua liberdade, recém conquistada, presa aos esfregões. As operarias negras sofriam preconceitos das companheiras brancas. Chegavam a ser usadas como corpo de frente nas manifestações grevistas.25

As mulheres, a duras penas, conquistaram direitos trabalhistas, como a redução da jornada de trabalho nas fabricas, a proibição do trabalho noturno e do trabalho em atividades consideradas perigosas. Porém, nem sempre a prática acompanha o prescrito na legislação e por isso não há como ter certeza de que os abusos nas fábricas foram contidos. Ademais, essa legislação almejava mais do que atenuar o trabalho feminino. Era interessante aos olhos do Estado manter as mulheres por mais tempo em casa exercendo seus papéis de mãe e esposa, cuidando das obrigações do lar, preservando a natalidade e maternidade. Assim, as retirava na cena política e ainda contribuíam para uma possível educação melhor dos filhos.

De acordo com Lynn Hunt pensava-se que as mulheres fossem moralmente e intelectualmente dependentes do pai ou marido. Mas os homens não eram ingênuos a ponto de acreditar que elas fossem desprovidas de autonomia. Tanto que as autoridades as colocavam em constante

24 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.p. 196. 25 PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p.282.

vigilância. Ademais, é comum ao pensamento de Hunt, Perrot, Pinsky e Pedro que o descaso com o direito da mulher estava atrelado ao fato dos homens acreditarem que limitar, ou mesmo aniquilar o poder das mulheres elevaria o poder masculino. Assim, impedi-las de possuírem direitos, excluí-las das arenas de discussão do poder, recolhê-las dos espaços políticos, ou seja, transforma-las em cidadãs passivas era a melhor forma de subordiná-las às desigualdades das relações de gênero.

Não foi apenas na França que as vozes femininas se fizeram ouvir. Conforme Maria Lygia Moraes tratou-se mais de um silêncio por parte da historiografia brasileira do que pelas mulheres que aqui viveram.26 Esse silêncio pode estar relacionado a dificuldades de acesso aos documentos, escassez dos mesmos ou até falta de interesse dos pesquisadores. Entretanto, o Brasil, de fato, sentiu as movimentações insurgentes femininas. Nísia Floresta é um exemplo de mulher cuja vida dedicou a questionar as desigualdades de gênero. Porém, para além do universo das letradas, como as mulheres das camadas mais baixas reivindicavam seus direitos? Será que assim como Nísia Floresta elas foram influenciadas pelo “Século das Luzes”? E como o Império brasileiro tratou a mulher quando da criação de sua nova legislação? Essas questões instigam o diálogo em um novo espaço. Então vamos conhecer algumas Histórias de mulheres?

Esta artigo focou-se nas relações sociais presentes nos momentos de conflitos, nos quais se tentava controlar as ações dos indivíduos, em especial as mulheres. No século XIX, como já fora dito, popularizou-se o ideal de mulher restrita ao ambiente doméstico, limitada aos afazeres do lar e cuidados da família27. Interessou entender como as mulheres se portavam perante a justiça quando desencadeavam ações de violência, uma vez que o Código Criminal definia no artigo 4º do Capítulo I como criminosos aqueles “que commetterem, constrangerem, ou mandarem alguém commetter crimes”. Dessa forma, aquele que tirasse a vida de um indivíduo poderia ser julgado a partir dos artigos do Código Criminal, fosse homem ou mulher.

AGORA É QUE SÃO ELAS: CRIMINALIDADE E GÊNERO NA COMARCA DE VITÓRIA/ES NO OITOCENTOS

Como referido acima, utilizei como fontes os autos criminais referentes aos anos de 1850 a 1871 armazenados no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), no Fundo de Polícia. Desde a década de 1980 tem-se utilizado fontes criminais para

26 MORAES. Maria Lygia. Cidadania no Feminino. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. p.506. 27 PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PINSKY, Jaime (orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.

desvendar a vida social e as relações cotidianas da sociedade28. Sobre essa documentação Hebe Mattos29 diz que os processos criminais e cíveis, ao longo do Oitocentos, permitiram ouvir como testemunhas ou informantes indivíduos a priori reduzidos a meros instrumentos vocales. Acredito que as mulheres faziam parte desse grupo. Desta forma, destaco a relevância da documentação utilizada.

No Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES) estão catalogados 468 autos criminais referentes aos anos de 1850 a 1871. Desse total, 102 casos abarcam mulheres, seja como rés ou vítimas. Enquadradas como rés foram acessíveis, logo transcritos e analisados 32 casos. Inicialmente me ative aos dados das criminosas, a fim de identificar quem eram essas mulheres e quais razões as levavam a cometer tais delitos.

Tabela 1. Condição Social das mulheres rés nos casos de 1853 – 1871

Condição social

Livre Escrava Total

32 3 35

Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

A partir da tabela acima se observa que as escravas cometeram poucos crimes na localidade referida. Apenas 8,6% das cativas foram autoras dos delitos enquanto as livres ocuparam pouco mais de 90%. Isso mostra que as cativas não se envolviam nos conflitos a ponto de ocuparem majoritariamente o banco dos réus. Situação não muito distinta da relatada por Maria Odila Dias para São Paulo30. De acordo com a hipótese da historiadora, as escravas estavam preocupadas em realizar suas atividades diárias. Dias, assim como eu, não encontrou expressivo número de escravas se rebelando contra seus senhores. Quituteiras, lavadeiras ou mesmo lavradoras, as cativas, em geral, sabiam sobre os ocorridos por verem ou ouvirem. Por isso, quando muito, se dirigiam aos Tribunais como informantes. Acredito que as relações de interdependência entre os habitantes favoreceram essa atmosfera ordeira.

28 Vellasco, Ivan de A. Projeto Fórum Documenta: breves reflexões sobre uma experiência de preservação, pesquisa e divulgação de acervos judiciais. In: RIBEIRO, G.S; NEVES, E. A.;FERREIRA, M.F.C.M(Org.). Diálogos entre Direito e História: cidadania e justiça. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009, p. 339-356. 29 MATOS, Hebe Maria. Das cores do silencio. Os significados da liberdade no sudeste escravista - Brasil, Séc. XIX. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. 30 DIAS, Maria Odila da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

Levando-se em conta as proporções modestas da Comarca de Vitória, pensar que 35 mulheres fugiram do estereótipo da época é no mínimo instigante. Identificar quais crimes cometeram é então imprescindível. Desta forma foi traçada a tipologia dos crimes, ou seja, foram criadas categorias31. A finalidade foi compreender o perfil dos envolvidos e o tratamento despendido pelo aparelho jurídico nos crimes analisados. O foco centrou-se nas agressoras na tentativa de levantar a imagem da mulher que guiava a ação das autoridades policiais e judiciais responsáveis pela vigilância da localidade.

Tabela 2. Tipologia dos crimes 1853-1871

Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

*Alguns autos têm mais de um réu/ré

A partir desta amostra se verificou que os delitos de injúria e agressão física eram os mais recorrentes, seguidos dos casos de assassinatos. Isso comprova a hipótese de que os crimes em Vitória são decorrentes de situações cotidianas32. As trocas de “farpas” entre os habitantes por vezes resultaram em ocorridos mais violentos, como agressão

31 Corrobora-se com Laurence Bardin quando essa afirma que a análise de categoria permite a classificação dos elementos de significação constitutivos de mensagem, isto é, esse tipo de análise pretende considerar a totalidade de um texto, “passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a freqüência da presença, ou mesmo ausência, de itens de sentido”. Ver: BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3 ed. Lisboa: Ed: 70, 2007. 32 Essa hipótese também é defendida nos estudos dos historiadores Geraldo Antônio Soares e Adriana Pereira Campos. Ver: CAMPOS, A.P. Nas barras dos tribunais: direito e escravidão no Espírito Santo do século XIX. RJ: UFRJ/IFCS, 2003 (Tese de doutorado). SOARES, G. A. Cotidiano, sociabilidade e conflito em Vitória no final do século XIX. Dimensões – Revista de História da Ufes, nº16, p.57-80, 2004.

Delito

Nº de casos Condição social das

mulheres rés* Nº de

mulheres

Livres Escravas

Injúria 10 10 1 11

Agressão Física 9 9 1 10

Assassinato 8 8 1 9

Fraude 3 3 0 3

Ofensa à propriedade 1 1 0 1

Furto 1 1 0 1

Total 32 32 3 35

física. As mulheres eram ativas nas movimentações das ruas. Estavam sempre com trouxas de roupas nos chafarizes da cidade ou levando alguma encomenda de costura para as freguesas. Era no dia-a-dia que as mulheres acabavam fazendo as discussões locais chamarem a atenção de algum Inspetor de Quarteirão que as conduzia até as Subdelegacias.

Por meio do auto de corpo de delito nota-se que as agressões físicas despendidas pelas mulheres não passavam de pequenos ferimentos. Logo, esses ataques não mutilavam membros ou impossibilitavam o trabalho do queixoso por mais de 30 dias33. Mesmo caracterizada desta forma, a violência cometida por mulheres foi levada às instâncias judiciais.

Tabela 3. Juízo de Sentença dos crimes com mulheres rés de 1853 – 1871

Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

Não é surpresa o Tribunal do Júri aparecer como a instituição responsável por julgar a maioria dos crimes analisados34. Os delitos de agressão física e assassinatos, por exemplo, eram levados

33 Um dos quesitos do auto de corpo de delito é identificar se o ferimento na vítima a impossibilitou de realizar seus trabalhos por mais de 30 dias. Havia um agravante para o réu caso a afirmativa fosse positiva. 34 As pesquisas de Adriana Pereira Campos e Viviani Betzel mostram que o Tribunal do Júri chegou a julgar quase 50% dos processos instaurados na Comarca de Vitoria, no século XIX. Ver: CAMPOS, Adriana Pereira & PIETRO, Viviani Betzel Del. Júri no Brasil Império: polêmicas e desafios. In: RIBEIRO, Gladys Sabina (Org.). Brasileiros e cidadãos. 1 ed. São Paulo: Alameda, 2008, v. 1, p. 227-256.

Instância Valor Abs

Tribunal do Júri 17

Sumário de Culpa 08

Apelação 04

Sumário de queixa 02

Execução de Sentença 01

Total 32

a tal instancia em cumprimento às formalidades da lei. Os crimes chegavam ao Tribunal do Júri de acordo com sua multa, ou seja, aqueles considerados mais graves possuíam uma multa maior logo o processo era encaminhado a esse Juízo35. Eram os magistrados leigos os responsáveis pela sentença das mulheres aqui analisadas.

Tabela 4. Sentença das mulheres rés

Sentença Valor Abs. Absolvido 11

Condenado 08 Não pronúncia 06 Improcedente 05

Desistência 02 Processo Prescrito 01 Processo Incompleto 01 Nulo 01

Total 35 Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

Nota-se que as absolvições são superiores às condenações. Juntando os autos improcedentes, nulos, prescritos, desistentes, nos quais o desfecho não foi a condenação das acusadas, o resultado é um número ainda menor de mulheres sentenciadas como culpadas.

Essa conclusão não se aplica apenas às mulheres. Há uma tendência da Magistratura Popular em absolver os julgados na Comarca de Vitória. Isso fazia com que o Tribunal do Júri fosse considerado pelas autoridades da época como uma instituição imperfeita, que não estava adequada ao contexto capixaba36. As críticas afirmavam que o Júri atrapalhava o trabalho da Polícia quando essa tentava controlar a ação dos criminosos.

35 Ver: Código Criminal do Império Título II, capítulo II: Dos Crimes contra a segurança da pessoa, e vida. Código do Processo Criminal Parte Segunda: Da forma do processo. Título II: Do processo em geral.

36 CAMPOS, Adriana Pereira & PIETRO, Viviani Betzel Del. Júri no Brasil Império: polêmicas e desafios. In: RIBEIRO, Gladys Sabina (Org.). Brasileiros e cidadãos. 1 ed. São Paulo: Alameda, 2008.

Novas pesquisas37 vêm mostrando que mesmo com os entraves à formação das sessões e as críticas despedidas pelas autoridades sobre o Tribunal do Júri, os Jurados capixabas não deixavam de cumprir com suas obrigações. As fontes demostraram que o corpo de jurados era composto por indivíduos conceituados na política local. Ademais, os Jurados assinavam em diversas páginas do auto criminal38. Tal fato comprova que os jurados sabiam escrever. Sendo assim, o Júri não era tão ignorante como as autoridades diziam 39.

O elevando índice de absolvições pode decorrer das características da região estudada. A Comarca de Vitória apresentava um quadro peculiar neste período. Não apenas pela circulação econômica singela, mas pelo espaço limítrofe de que dispunham os habitantes. A convivência pautada na intimidade dos moradores da Comarca transpassava os cais e as lojas de secos e molhados. É possível que as relações sociais interferissem nos julgamentos dos Jurados. No momento em que votavam os quesitos do libello acusatório, fatores não-jurídicos podem ter influenciado o julgamento e as penas imputadas pelos jurados.

Retomando as personagens femininas, busquei identificar suas ocupações. Maria Odila Dias40 afirma que as mulheres envolvidas nas desordens da cidade eram em sua maioria pobres. A autora afirma ser esse o perfil das envolvidas nas situações de improviso. Eram trabalhadoras lutando pelo sustento próprio e muitas vezes pelo de sua família. Sheila de Castro Faria41, ao estudar o norte fluminense colonial, também encontrou lares chefiados por mulheres sós. Seja nas lavouras ou nos serviços urbanos, essas mulheres buscavam formas de garantir a sobrevivência de seus filhos. Elas não contavam com a ajuda de cônjuges. Faria afirma que segundo os padrões da sociedade escravista colonial, o casamento significava a garantia das condições mínimas de sobrevivência em regiões agrícolas. Casar-se, segundo os padrões dominantes na

37 Destacam-se os trabalhos da Professora Ms. Viviani Betzel Del Pietro e da Drª. Adriana Pereira Campos a qual coordena o projeto Magistratura Leiga no Brasil do Oitocentos com financiamento da FAPES. 38 É possível encontrar a assinatura dos jurados após o sorteio dos mesmos e ao final da resposta aos quesitos do libello acusatório. 39 CAMPOS, Adriana Pereira & PIETRO, Viviani Betzel Del. Júri no Brasil Império: polêmicas e desafios. In: RIBEIRO, Gladys Sabina (Org.). Brasileiros e cidadãos. 1 ed. São Paulo: Alameda, 2008. 40 DIAS, Maria Odila da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 41 FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

sociedade escravista colonial, significava garantir o mínimo de condições necessárias à sobrevivência em áreas agrícolas, era a aceitação moral pela comunidade local42.

Tabela 5. Profissão das Mulheres Rés

Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

Numa região de proporções modestas e pouco urbanizada se justifica a presença de mulheres nos roçados. Algumas habitantes da localidade possuíam pequenas plantações em seus terreiros. A Comarca de Vitória abarcava regiões que mesmo próximas do centro urbanizado se dedicavam às culturas de gêneros locais, como milho e mandioca43. As mulheres que viviam de agências deviam estar envolvidas com aluguéis de casa ou mesmo de escravos. Eram mulheres ativas nas relações comerciais locais. 42 FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.p.63. 43 Ao estudar os inventários post-mortem Kátia Sausen da Motta traçou um perfil da dieta alimentar dos capixabas, no período colonial. Sua pesquisa mostra a presença de mandioca, feijão e arroz nas refeições

dos habitantes locais. Assim como frango e leite. Motta afirma que esses alimentos eram cultivados para suprir uma demanda local. Não eram grandes plantações visando o mercado externo . Ver: MOTTA, Kátia Sausen. Uma história de família: o cotidiano capixaba a partir de inventários post-mortem, 1790/1800. Relatório Final de Iniciação Científica. PRPPG/UFES, 2008.

Profissão Valor Abs. Valor %

Lavradora 13 37,14 %

Agências 5 14,28 %

Costureira 4 11,4 %

Lavadeira 3 8,5 %

Escravo 3 8,5 %

Negócios 2 5,7 %

Rendeira 2 5,7 %

Fiandeira 2 5,7 %

Prostituta 1 3,5 %

Total 35 100%

Estavam à frente de alguma quitanda ou loja de secos e molhados. Contribuíam assim para as movimentações da economia da região. Entretanto, estavam propensas a discussões como ao cobrarem um devedor, por exemplo. Movidas pelo furor do momento, algumas se envolveram em discussões, o que resultou em abertura de queixas.

Por meio da análise qualitativa percebi que muitas não sabiam ler e escrever. A leitura e transcrição das fontes permitiu constatar a freqüência com a qual algum indivíduo assinava à rogo das acusadas. Em todos os autos criminais analisados eram homens que desempenhavam essa tarefa.

Tabela 6. Grau de instrução das mulheres rés

Instrução Valor abs. Valor %

Analfabetas 14 40 %

Não informado 12 34,28 %

Alfabetas 09 25,7 %

Total 35 100%

Fonte: Autos-criminais com mulheres ré (1853-1871). Fundo de Polícia APEES

Tendo a não acreditar que os casos de “não informado” tivessem rés alfabetizadas. Durante esse período, apesar de algumas tentativas das autoridades, era notória a deficiência da educação no Espírito Santo. Faltavam escolas e professores. Na década de 1860 havia somente três aulas distribuídas em Vitória para o sexo feminino44. Os capixabas conviviam com uma educação deficitária no século XIX.

Ao analisar qualitativamente as fontes, um dos tipos de delitos se destacou por aparentar ser uma forma brutal de violência: os assassinatos. Nota-se que no período imperial brasileiro os assassinatos eram considerados crime grave, cuja punição consistia na prisão de até 20 anos ou pena de morte45. No meio social tais crimes eram

44SCHWARTZ, Cleonara Maria. Cultura e produção escrita no início da escolarização formal da mulher capixaba (1845 a 1850) In: FRANCO, Sebastião Pimentel. História e educação: em busca da interdisciplinariedade. Vitória: EDUFES, 2006. 45 Art. 192 do Código Criminal do Império de 1830. “Matar alguém com qualquer das circumstancias aggravantes mencionadas no artigo dezaseis, numeros dous, sete, dez, onze, doze, treze, quatorze, e dezasete. Penas - de morte no gráo maximo; galés perpetuas no médio; e de prisão com trabalho por vinte annos no mínimo”.

caracterizados como o ápice da violência cujas mortes, na maioria das vezes, eram decorrentes de longos períodos de desentendimento entre as partes.

Na comarca de Vitória durante os anos de 1850 a 1875 ocorreram 54 homicídios46. Essa incidência, quando comparada com as demais categorias de crimes como injúria, agressão e roubo se mostra pequena, porém não irrelevante. Ao analisarmos quantitativamente os processos criminais percebemos que a presença da figura masculina nesse tipo de delito, seja assumindo a posição de réu ou vítima, é muito superior à da mulher. No quadro abaixo se percebe claramente essa disparidade.

Tabela 7. Sexo dos réus dos casos de homicídios 1850-1875

Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Fundo Polícia, Série: Inquéritos policiais, 1850-1875.

Mesmo que os números sugiram um ímpeto maior masculino para a prática de crimes, é necessário salientar que qualquer ato criminoso cometido por mulheres nesse período chocava-se com o modelo ideal de mulher da época. Além disso, como debatido acima, o sexo masculino estava de fato em maior quantidade nos autos criminais. Essa estatística demostra que embora os homens entendessem possuir o direito de reprimir as mulheres, até mesmo pela força bruta, elas não aceitavam pacificamente essa situação. Outrossim, o fato das mulheres executarem agressões físicas e assassinatos pode demonstrar que a inferioridade física da mulher em relação ao homem não se configurava numa limitação para o “sexo frágil” se insurgir contra os homens.

Além dos autos criminais, fez-se uso das correspondências policiais a fim de constatar a situação feminina nas relações de gênero, dialogando com outra instância normalizadora: a Polícia. A amostragem quinquenal das correspondências policiais permitiu também a visualização de situações cotidianas na Comarca de Vitória, tais como sobre a iluminação pública, as rondas policiais durante a noite, as reuniões do

46 Esses homicídios tiveram tanto mulheres quanto homens na condição de réus.

Sexo Réu Vítima

Homem 83,3% 83,7%

Mulher 16,7% 16,3%

Total 100% 100%

Júri, etc. Mas o estudo concentrou-se na ocorrência de crimes envolvendo o sexo feminino tanto na posição de vítima como na de ré. Os delitos encontrados envolvem assassinato, agressão física, defloramentos, etc. Da mesma maneira, também se constatou a presença crimes em que não há vítimas, como embriaguez e desordens. Diversas correspondências relatam situações onde as mulheres se envolveram em algum tipo de desentendimento. Essas mulheres não pelejavam apenas entre si, há também aquelas que se indispuseram com homens. Entretanto, os motivos que levaram à maioria das brigas entre mulheres e homens são desconhecidos, pois, diferente dos autos criminais, as fontes nem sempre informam os detalhes dos acontecimentos. Desta forma, realizou-se a transcrição de 140 correspondências referentes aos anos de 1841 a 1871 de maneira quinquenal, as quais ora discorrem sobre algum acontecimento protagonizado pelo gênero feminino, ora apenas citam a presença feminina. A tabela a seguir demonstra os dados obtidos

Tabela 8. Amostragem quinquenal das correspondências com mulheres.

Ano Vítima Infratora Outros 1845 7 4 10

1850 5 1 13

1855 13 7 12

1860 6 10 13

1865 3 2 15

1870 1 4 14

Total 35 28 77

Fonte: Correspondências policiais – Fundo de Polícia – APEES – 1841-1871.

Em 35 notícias, correspondentes a aproximadamente 25% das correspondências, a mulher sofre algum tipo de crime, seja ele agressão física, estupro ou assassinato. Entretanto, em 28 correspondências, número que corresponde a 20% das ocorrências, a mulher é evidenciada como agressora, desordeira ou infratora. O restante das correspondências coligidas para a pesquisa constituem 53% da totalidade. Elas trazem informações sobre episódios corriqueiros, tais como: mortes acidentais e naturais, afogamentos, etc. Vale ressaltar que o fato de haver 35 correspondências avisando a respeito de algum crime contra a mulher não significa, necessariamente, que 35 mulheres foram violentadas, uma vez que várias correspondências não informam a quantidade de mulheres envolvidas.

A partir das correspondências policiais, sobre os intentos cometidos pelas capixabas, encontra-se a desordem. Esse tipo de delitos, frequente na Comarca de Vitória, era geralmente protagonizado entre as mulheres.47 Mas tal contestação não se restringe apenas as desordens. Na maioria dos outros delitos, a mulher comete o crime contra outra mulher. Esse quadro difere das ocasiões em que a mulher é vítima de algum delito, pois nesses casos, grande parte dos acusados são homens.

Tabela 9. Amostragem quinquenal dos crimes cometidos por mulheres

Fonte:

Correspondências policiais – Fundo de Polícia – APEES – 1841-1871

CONCLUSÃO Mulheres que injuriavam seus vizinhos, desobedeciam os maridos e, por vezes, se envolviam em situações desordeiras... A idealização da mulher como um ser dócil, obediente e submissa à autoridade masculina não se caracterizava como regra geral a todas as moradoras da Comarca de Vitória no Oitocentos. Apesar de ser pequeno o número de mulheres que irrompia o destino que lhes era traçado pelas convenções sociais, havia a ocorrência de figuras femininas que contestavam as regras de conduta valorizadas pela sociedade patriarcal. Não aceitavam e não podiam permanecer reclusas ao ambiente doméstico. Necessitavam de se locomover pelas ruelas da cidade para desempenhar suas tarefas diárias. Embora a sociedade capixaba possuísse essa série de valores e costumes arraigados, eles não eram internalizados por todas as pessoas. Submissão, mansuetude, sensibilidade, fragilidade, entre tantas outras características constituíam o modelo idealizado para as mulheres honradas. A mulher encontra-se presente no cotidiano violento capixaba não somente na condição que o senso comum a coloca, ou seja, na posição de vítima, sofredora da repressão masculina e subjugada pelos valores patriarcais. Em diversas 47 MATOS, Tácila Aparecida. Donzelas e feras: estudo do cotidiano violento feminino a partir das correspondências policiais (1841-1871). Monografia apresentada ao curso de História/UFES. Vitória, 2010.

Crime Valor Total Valor % Desordens 09 32,1%

Assassinato 03 10,7% Agressão Física 03 10,7%

Embriaguez 02 7,4% Furto 01 3,5% Injúria 01 3,5%

Não Informado 09 32,1% Total 28 100%

ocasiões, as mulheres também se encontram posicionadas como agressoras e foram acusadas dos mais diversos delitos. Impulsionadas pelas situações limítrofes de submissão, as quais muitas vezes viviam, iniciaram ações violenta, contrapondo-se ao estereótipo existente. Mas houve também aquelas que ocuparam o rol dos culpados apenas por terem buscado resolver com a própria voz desentendimentos pessoais. Fontes primárias Autos criminais. Fundo de Polícia. Sessão Inquéritos Policiais. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Correspondências policiais. Fundo de Polícia. Correspondências recebidas e expedidas por diversas autoridades. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Referências Bibliográficas AUGUSTA, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989, BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3 ed. Lisboa: Ed: 70, 2007. CAMPOS, Adriana Pereira & PIETRO, Viviani Betzel Del. Júri no Brasil Império: polêmicas e desafios. In: RIBEIRO, Gladys Sabina (Org.). Brasileiros e cidadãos. 1 ed. São Paulo: Alameda, 2008, v. 1, p. 227-256. CAMPOS, Adriana Pereira; PINHEIRO, Philipi Gomes Alves. Silenciadas pelo tempo: mulheres insubmissas e rebeldes. Zênite.n.22 jun/jul 2011. DIAS, Maria Odila da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. DUARTE, Constância Lima. A proposta deste livro. Augusta, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. SP: Cortez, 1989. FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. GONÇALVES, Andréa. História & gênero. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. GOUGES, Olympe. Declaração dos direitos da mulher e da cidadã. Revista internacional interdisciplinar interthesis. v.4.n.1 jan/jun 2007. GROPPI, Angela. As raízes de um problema. BONACCHI, G; GROPPI, A. O dilema da cidadania: direitos e deveres das mulheres. SP: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. HUNT, Lynn. Revolução Francesa e vida privada. In: PERROT, M. (Org.) História da vida privada 4: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. SP: Companhia das Letras, 1991. MATOS, Hebe Maria. Das cores do silencio. Os significados da liberdade no sudeste escravista - Brasil, Séc. XIX. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. MATOS, Tácila Aparecida. Donzelas e feras: estudo do cotidiano violento feminino a partir das correspondências policiais (1841-1871). Monografia apresentada ao curso de História/UFES. Vitória, 2010. MORAES. Maria Lygia. Cidadania no Feminino. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. MOTTA, Kátia Sausen. Uma história de família: o cotidiano capixaba a partir de inventários post-mortem, 1790/1800. Relatório Final de Iniciação Científica. PRPPG/UFES, 2008.

PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: EDUSC, 2005. PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Igualdade e especificidade. In: PINSKY, Carla In: PINSKY, C.B; PINSKY, J.(Orgs). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. SCHWARTZ, Cleonara Maria. Cultura e produção escrita no início da escolarização formal da mulher capixaba (1845 a 1850) In: FRANCO, Sebastião Pimentel. História e educação: em busca da interdisciplinariedade. Vitória: EDUFES, 2006. SOARES, G. A. Cotidiano, sociabilidade e conflito em Vitória no final do século XIX. Dimensões – Revista de História da Ufes, nº16, p.57-80, 2004. VELLASCO, Ivan de A. Projeto Fórum Documenta: breves reflexões sobre uma experiência de preservação, pesquisa e divulgação de acervos judiciais. In: RIBEIRO, G.S; NEVES, E. A.;FERREIRA, M.F.C.M(Org.). Diálogos entre Direito e História: cidadania e justiça. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2009, p. 339-356.