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 C M Y K CORREIOBRAZILIENSE Brasíl ia,terça-feir a,30 dejunho de2015 •  Opinião  11 » BERENICE BENTO Professora da Universidade Federa l do Rio Grande do Norte, doutora em sociologia, escritora e pesquisadora do CNPq Disputas de nero Faixas Peri go const anteno Par anoá.As faixa s de pedest resestão completamente apagadas.  Acos tumad os a atrav essar no lugarcorreto, os tran seunte s acr edita m que os motori stasestão cient es doslocais corr etosdas faixa s. E nãoestão. Mudanças necessárias T axistasem Bra síli a têmas melhoresvagasnos estacion amentosdo serviço públ ico , de shop ping s,da rodovi ária e do aeroporto . Cobramopreçoquebem ente ndeme nãoofere cem o mín imode seguran çaaos usuários . Apesardas chamada s, aparece m quandoquerem, tomando hora s dequem estácom pres sa.Uber e tra nspo rte alte rnat ivosão asopções mai s bar atas . Nãosão concorr entesde táxis. projet o volunt áriopara cuida r de criançasautistas . Écertoqueelapoderiair paraoPiauíouparaoRio Grandedo Sul, masa tro ca depaíseséoquefaztudo ser maisdifícile certei ro demaispesona baga gemda vida. Ecumênico Por fal arnisso , a mús icano  Va tican o ganho u novo projeto.Coros de igre jas difer entesda Cató lica parti cipamda cant oria tantonas missa s comun s quant o nassolenes.Como lingu ageminternac ional , a músic a une a human idade . Morreu de velho Te m muitagente desco nfiad a da amiz ade da presi denteDilmacom o Googl e. Depois das conve rsasde espion agem que adia rama últim a visita aosEUA , naagend a est á “Por trás de uma grande mulher, existe ela mesma.” Senadora Simone Tebet,  pensando ao ouvir tantas guerreiras na Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher A fra se quenão foipronu nci ad a N ó s e e l e s Quem semeia a dis córdia colhe a solidão. O ditado anti- go, repetido pelo filósofo de Mondubim, foi, seguidamen- te,desconsideradopeloex-pres ident e Lula.De tantoinsti- gar os ouvintes a partir par a o confronto contra todos aqueles que discordam de sua doutrinação maniqueísta, erg ueuverd ade iromurode Ber limentr e seu núcleofiele o restante dos brasileiros. Mes mo den tro do parti do, mili tant es de tendências dife - rentesdaalaConstruindoumNovoBrasil(CNB)jásederam conta de quefora da pane lin ha do diretórionão sal vaç ão pos sível.Se o iso lament o aco nte ce den troda pró priasigla que fundou e na qual age como dono e capataz, externa- men te,ondeo mun doreal pulsa, ascoisassão aind a piores. Pe squi sasde opi niãopúblic a apo ntamque a maio ria sig - nifi cati va da popu laç ão rej eitao atua l gov ernoe seumodus ope ran di.Paraa pre sid ent e Dil ma,a sit uaç ão deisolam ent o erejeiçãoéaindamaisintensaevaificando,acadadia,mais perce ptível . Desg astad a pelaavalanchede denú nciasde cor- rupçãoe pel os índi cesmedío cres da eco nomi a, Dil ma e o pró prioséqui to fog emdo con tat o dir etoe natural coma po- pulaçã o.Nem mesmoantigoscolabora dores escap am da fú- ria da socie dade , quand o defro ntados emespaç os aberto s. O mot e “nóscontra ele s”vem sevoltandocont ra o cria- dore as cri as comferocidademaior ainda.Isolados e cri ti- cad osondequerquevão , Lu la,Dilm aeo PTse tra nsf orma- ram,hoje,em alvoprincipal da popu laçã o e o prob lema , ao contrário do que costu mam diz er,não foi criado pela ch a- mada imprensagolpista. O desconte ntamentodos brasilei- ros, demodogera l, mos traapen asque a liçãofoi be m ass i- milada e o alvo agora são eles. Nós, a população, estamos dooutro lad o domuro e nosposi cio namos“co ntr a tudo issoque estaaí” . H á 30anos ,a Rh odia publicouplanopio- neirode comuni ca- ção anunciando que o comunicador não era mero distribuir de releases, mas protag onistaestratégic o nas organizações empresa- riais . Hoj e,à pala vraestrat é- gico deve-se acrescentar tamb ém queo comu nica dor é aqu eleque lêos hor izontes políticos e, como os antigos conselheiros, orienta as or- ganizações privadas e pú- blicas quanto à mudança dos tempos e das vonta- des.O epis ódiodas rec en- tesprisõesdos pre side n- tes das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, além de president es e execu- tivos das principais empreiteiras do país, evidencia tal realidade. Não se trata de julgar ante- cipadamente os presos na OperaçãoLa- va-Jato,mas do comple- xo exercício de aprendi- zado das questões que surgem no cotidiano da comunic ação brasile ira. No casodas prisõe s da Lava-Jato, fica claro que a realidade e os mode losde neg ócio s cami nharam emdire- çõesopost as.As emp rei teir as seviramsitia- das pelasucessã o de denún ciasde corru p- ção que afloram na esteira dos escândalos queabalam a Petrobras, mas,nem quand o as prisões começaram a se sucede ocorre- ramtenta tiv as cla rasde inf orma r à soci eda- de e cla rifi carerros . Pe lo cont rár io,uma das protag onistasdo episódi o adotouestratégia de enfr entamento comas autor idades, ne- gando qualqu er envolv imento . Primei ro em carta aos funcionários, e, depois da prisão do seupre sidente,com a div ulg açã o deex- tensacarta-manifestonamídia. Seria m os camin hoscorretos ? A leit urada rea lidad e suge reque o conf ront o nãocons- trói a moderna narrativa da comunicação. Cami nhamem ter ren o mina do aqu ele s que acreditam ser possível reagir à tempestade legal da natureza a que se assiste nos dias atuais com frases institucionais do gênero “e stamoscolaborandocom as autorida des” , “colocamo-nos à disposição das investiga- ções” , traçando estratégi as que não pre- veem cenários à frente ou fechando-se em silê ncio . Ess e tempo pass ou.As leis ant icor - rupção se tornaram, a cada dia, mais seve- ras e, o que é igualmente revelado r, a opi- nião pública vem se manifestando com cresce nte veemênciacontra a impunidade, o queficafacilment e visí velnão nasdife- rentesmobilizações, mas na arte. B asta ver que na novela Rebu, da Rede Globo, os en- volvidosna tramade misterios o assassinato eram empreiteiros, e na atual  Babilônia uma empreiteira pratica abertamente cor- rupçãopara conquist ar objetivo s. Sea fic çãoimit a a re alidad e,soouo mo- mento de ouvir a voz das ruas e curvar-se aos novos tempos. A democratização, que avança em passos acelerados, est á a exig irmudanç asde lar go alcance na comunicação. As organizações precisam ouvir seuscomunicadoresedelesex- trair a vasta experiência acu- mulada ao longo de cerca de mei o séc ulo . Quandoa Rhod ia publicou plano de comunica- ção alertando para o novo pa- peldo comu nicador,em 1985, o Brasil estava internacionali- zando negócios e a abertura democrática avançava, o que culminou na nova Constitui- çãoe naselei çõe s dir eta s em todososníveisdepoder.Nos diasatuais,assiste -sea no- vosaltoà fre nte. A socie- dade, a partir da base, anseia por mudanças, sobretudo estrutu rais, bandeira a exigir, co- mo desdobramento , alte raçõ es na forma de fazercomunica- ção. Não é por coincidênciaque, nas novelas, ri- cos estão sendo presos e a lei, antes restrita aos pobres, passa a valer paratodos. Essa me- tamorfose reperc ute, sem qualquer dúvida, na co- municação. Não se trata de retorno ao imperativo kantiano da ética do compr omissoe da resp onsabilidade, masde alg o bemmais simp les .T orna -sein- dispensável que a organização faça a coisa ce rtaporq ueé o corretoe queasresponsa- bil idad esnão comece m etermine m nacria- ção de empregos e renda. É inescapável ir além e construir relações efetivas em que emp res as de port as abertase tra nsparentes sej am,de fat o,aquil o quedize m serem suas metanarrativas. A distânciaentre o discurs o e a re ali dadenão dev e seampliar,massere- duzi r atéque um sej a o outr o.PaulRicoeur , em T empoe narra tiva, par tedo prin cíp io de queas atit udes , ditasou expr essa s em atos, organizam nossa presença no mundo . Isso fazcomque umaorga niz açãosej a umaor- ganiz açãoprincipal mentepelasmicronar- rativas. Ante s,podia serquest ãodeescolha.  Agora,é necessida de inescapáv el, a demar- caros limi tesentrea ada pta çãoou ext inçã o no novoambientepolítico. J unh o de 2015: em várias partes do Brasil, vários vereadores, deputados estaduais e federais se posicionam contrários à inclusão do gênero e da ident idadede gêne ro nosplanos de educa- ção. Dizem que as duas expressões escon- dem desejo satânico de destruir a família teoria da sexualidade, segundo a qual, a verdadeira e única possibilidade de os se- res viverem suas experiências de desejo sexual seria mediante da complementari- dade dos sexos. Qualquer deslocamento — homens femininos heterossexuais ou homens masculinos gays; mulheres femi- Gên eroe mul hereramtermosintercam- biávei s. A supos ta estabi lidadedo gêner o as- sentada no corpo (vagina-mul her-fe minili- dade-m aterni dade-f amíliae pênis- homem- masculinidade-paternidade-famí lia) come- çoua cai r porterr a. A visi bilidadedos mov i- mentossociaistransedeativistasdedireitos Li ç ões d as p ri sões de em pr ei te ir os » PAULO NASSAR Diretor presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresaria l (Aberje), professor doutor e livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) ARICUNHA DESDE 1960  VISTO, LIDO E OUVIDO [email protected] c  omCir  c  eCunh a // [email protected]

Disputas de Gênero_Correio Braziliense

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Artigo de Berenice Bento sobre a falaciosa campanha contra o ensino inclusivo em gênero e sexualidades nas escolas.

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    CORREIOBRAZILIENSE Braslia, tera-feira, 30de junhode2015 Opinio 11

    BERENICE BENTOProfessora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, doutora em sociologia, escritora e pesquisadora do CNPq

    Disputasde gnero

    FaixasPerigo constante noParano. As faixas depedestres estocompletamente apagadas.Acostumados a atravessarno lugar correto, ostranseuntes acreditamqueosmotoristas esto cientesdos locais corretos dasfaixas. E no esto.

    MudanasnecessriasTaxistas emBraslia tmasmelhores vagasnosestacionamentosdo serviopblico, de shoppings, darodoviria edoaeroporto.Cobramopreoquebementendemenooferecemomnimode segurana aosusurios. Apesar daschamadas, aparecemquandoquerem, tomandohoras dequemest compressa.Uber e transportealternativo so as opesmais baratas.No soconcorrentes de txis.

    ResultadoQuando o papa Franciscoconclamou os jovens asubverter as pregaes doconsumismo, deu certo.Outro dia, noConjuntoNacional, ame insistiupara que a garota de 14anos levasse duascamisetas. Ameninaretrucou: S precisode uma.

    ResolutaMariana Sadeck dessasjovens. Largou o confortoda famlia, no LagoNorte,e foi para a frica em

    projeto voluntrio paracuidar de crianas autistas. certo que ela poderia irpara o Piau ou para o RioGrande do Sul,mas a trocade pases o que faz tudosermais difcil e certeirodemais peso nabagagemda vida.

    EcumnicoPor falar nisso, amsica noVaticano ganhounovoprojeto. Coros de igrejasdiferentes da Catlicaparticipamda cantoriatanto nasmissas comunsquanto nas solenes. Comolinguagem internacional, amsica une a humanidade.

    Morreu develhoTemmuita gentedesconfiada da amizade dapresidenteDilma comoGoogle. Depois dasconversas de espionagemque adiarama ltima visitaaos EUA, na agenda estmarcada, na CostaOeste,visita Universidade deStanford, um centro depesquisas daNasa e, comono poderia deixar de ser, sede doGoogle.

    AlertaCemitrio deBrasliaprecisa recebermonitoramento sobre acontaminaodo solo.Ocemitriomunicipal deSantaCndida, emCuritiba; oBomJardim, emFortaleza; e oCampoSanto,emSalvador, esto tendoesse tipode atenoparaproteger o lenol fretico.

    Por trs de uma grandemulher, existe ela mesma.

    Senadora Simone Tebet, pensando ao ouvir tantasguerreiras na Comisso Permanente Mista de Combate Violncia contra a Mulher

    A frase que no foi pronunciada

    Nse elesQuem semeia a discrdia colhe a solido. O ditado anti-

    go, repetido pelo filsofo deMondubim, foi, seguidamen-te, desconsiderado pelo ex-presidente Lula. De tanto insti-gar os ouvintes a partir para o confronto contra todosaqueles que discordam de sua doutrinao maniquesta,ergueu verdadeiromuro de Berlim entre seu ncleo fiel e orestante dos brasileiros.

    Mesmo dentro do partido,militantes de tendncias dife-rentes da alaConstruindoumNovoBrasil (CNB) j sederamconta de que fora da panelinha do diretrio no h salvaopossvel. Se o isolamento acontece dentro da prpria siglaque fundou e na qual age como dono e capataz, externa-mente, onde omundo real pulsa, as coisas so aindapiores.

    Pesquisas de opinio pblica apontamque amaioria sig-nificativa da populao rejeita o atual governo e seumodusoperandi. Para a presidenteDilma, a situao de isolamentoe rejeio aindamais intensa e vai ficando, a cada dia,maisperceptvel.Desgastadapela avalanchededennciasde cor-rupo e pelos ndices medocres da economia, Dilma e oprprio squito fogemdo contato direto e natural comapo-pulao.Nemmesmoantigos colaboradores escapamda f-ria da sociedade, quandodefrontados emespaos abertos.

    Omote ns contra eles vem se voltando contra o cria-dor e as crias com ferocidademaior ainda. Isolados e criti-cados onde quer que vo, Lula, Dilma e o PT se transforma-ram, hoje, em alvo principal da populao e o problema, aocontrrio do que costumam dizer, no foi criado pela cha-mada imprensa golpista. O descontentamento dos brasilei-ros, demodo geral, mostra apenas que a lio foi bem assi-milada e o alvo agora so eles. Ns, a populao, estamosdo outro lado domuro e j nos posicionamos contra tudoisso que esta a.

    H 30 anos, a Rhodiapublicouplanopio-neiro de comunica-o anunciandoque o comunicador no eramero distribuir de releases,mas protagonista estratgiconas organizaes empresa-riais. Hoje, palavra estrat-gico deve-se acrescentartambmque o comunicador aquele que l os horizontespolticos e, como os antigosconselheiros, orienta as or-ganizaes privadas e p-blicas quanto mudanados tempos e das vonta-des. O episdio das recen-tes prises dos presiden-tes das construtorasOdebrecht e AndradeGutierrez, alm depresidentes e execu-tivos das principaisempreiteiras dopas, evidencia talrealidade.

    No se tratade julgar ante-cipadamenteos presos naOperaoLa-va-Jato, masdo comple-xo exercciode aprendi-zado dasquestes quesurgem no cotidianoda comunicao brasileira. Nocaso das prises da Lava-Jato,fica claro que a realidade e osmodelos de negcios caminharam emdire-es opostas. As empreiteiras se viram sitia-das pela sucesso de denncias de corrup-o que afloram na esteira dos escndalosque abalam a Petrobras, mas, nem quandoas prises comearam a se sucede ocorre-ram tentativas claras de informar socieda-de e clarificar erros. Pelo contrrio, uma dasprotagonistas do episdio adotou estratgiade enfrentamento com as autoridades, ne-gando qualquer envolvimento. Primeiro emcarta aos funcionrios, e, depois da prisodo seu presidente, com a divulgao de ex-tensa carta-manifesto namdia.

    Seriamos caminhos corretos? A leitura darealidade sugere que o confronto no cons-tri a moderna narrativa da comunicao.Caminhamem terrenominado aqueles queacreditam ser possvel reagir tempestadelegal da natureza a que se assiste nos dias

    atuais com frases institucionais do gneroestamos colaborando comas autoridades,colocamo-nos disposio das investiga-es, traando estratgias que no pre-veem cenrios frente ou fechando-se emsilncio. Esse tempo passou. As leis anticor-rupo se tornaram, a cada dia, mais seve-ras e, o que igualmente revelador, a opi-nio pblica vem se manifestando comcrescente veemncia contra a impunidade,o que fica facilmente visvel no s nas dife-rentes mobilizaes, mas na arte. Basta verque na novela Rebu, da Rede Globo, os en-volvidos na tramademisterioso assassinatoeram empreiteiros, e na atual Babilniauma empreiteira pratica abertamente cor-rupo para conquistar objetivos.

    Se a fico imita a realidade, soou omo-mento de ouvir a voz das ruas e curvar-seaos novos tempos. A democratizao, que

    avana em passos acelerados,est a exigirmudanas de largoalcance na comunicao. Asorganizaes precisam ouvirseus comunicadores edeles ex-trair a vasta experincia acu-mulada ao longo de cerca demeio sculo. Quando a Rhodiapublicou plano de comunica-o alertando para o novo pa-pel do comunicador, em 1985,o Brasil estava internacionali-zando negcios e a aberturademocrtica avanava, o queculminou na nova Constitui-o e nas eleies diretas emtodososnveis depoder.Nosdias atuais, assiste-se a no-

    vo salto frente. A socie-dade, a partir da base,anseia por mudanas,sobretudo estruturais,bandeira a exigir, co-mo desdobramento,alteraes na formade fazer comunica-o. No porcoincidncia que,nas novelas, ri-cos esto sendopresos e a lei,antes restritaaos pobres,passa a valerpara todos.

    Essa me-tamorfose

    repercute, semqualquer dvida, na co-

    municao. No se trata de retornoao imperativo kantiano da tica docompromisso e da responsabilidade,

    mas de algo bemmais simples. Torna-se in-dispensvel que a organizao faa a coisacerta porque o correto e que as responsa-bilidades no comeceme terminemna cria-o de empregos e renda. inescapvel iralm e construir relaes efetivas em queempresas de portas abertas e transparentessejam, de fato, aquilo que dizem ser em suasmetanarrativas. A distncia entre o discursoe a realidade no deve se ampliar,mas se re-duzir at que um seja o outro. Paul Ricoeur,em Tempo e narrativa, parte do princpio deque as atitudes, ditas ou expressas em atos,organizam nossa presena nomundo. Issofaz com que uma organizao seja uma or-ganizao principalmente pelas micronar-rativas. Antes, podia ser questo de escolha.Agora, necessidade inescapvel, a demar-car os limites entre a adaptao ou extinononovo ambiente poltico.

    J unho de 2015: em vrias partes doBrasil, vrios vereadores, deputadosestaduais e federais se posicionamcontrrios incluso do gnero e daidentidade de gnero nos planos de educa-o. Dizem que as duas expresses escon-dem desejo satnico de destruir a famliatradicional. Da, portanto, defenderem quetal teoria de gnero deva ficar fora da escola.

    Maro de 2015: o Congresso Nacionalaprovou a lei que tipifica os assassinatosmotivados por gnero como feminicdio. Anova lei reconhece que hmotivao espe-cfica nos crimes cometidos contra as mu-lheres. O que mudou entre a votao demaro e a discusso e votao dos planosde educao (municipais, estaduais e fede-ral) em junho?

    Aqueles que se negam a aprovar a inclu-so da categoria gnero nos planos de edu-cao tambm tm teoria de gnero. Acre-ditam que somos obra exclusiva do traba-lho dos hormnios, dos cromossomos, dosformatos das genitlias e de outras estru-turas biolgicas. Seriam estas estruturas asresponsveis por definir nossas identida-des? Portanto, caberia s instituies so-ciais ouvir com ateno os reclames docorpo. Estaria a teoria de gnero biologi-zante em contradio com a votao da leido feminicdio? No. Nada se pode fazercontra a natureza dos gneros (passividade= feminina, e agressividade = masculina).Cabe ao legislador impor limites penais aobicho homemmasculino.

    A teoria de gnero tambm traz no bojo a

    teoria da sexualidade, segundo a qual, averdadeira e nica possibilidade de os se-res viverem suas experincias de desejosexual seria mediante da complementari-dade dos sexos. Qualquer deslocamento homens femininos heterossexuais ouhomens masculinos gays; mulheres femi-ninas lsbicas ou mulheres masculinasheterossexuais inaceitvel.

    E, assim, os homens continuaromatan-do asmulheres. Asmulheres continuaro aser estupradas. Asmulheres trans (travestis,transexuais) continuaro excludas da cate-goria de humanidade e seguiro sendo, dia-riamente, crucificadas. O que os represen-tantes dessa teoria de gnero incentivadorada violncia diro? Diante dos argumentosreconhecidos internacionalmente da im-portncia dedotar as escolas depolticas ca-pazes de transformar a cultura da violnciade gnero, esses parlamentares certamenterespondero:Vamos fazermais uma lei paracriminalizar.

    Esta minha interpretao ainda par-cialmente correta. Ora, no de hoje quealguns parlamentares tentam atrelar econdicionar o Estado brasileiro interpre-tao violenta do cristianismo. O que h denovo? Uma palavra apenas: identidade. Te-nho como hiptese que, se nos textos dosplanos de educao aparecesse apenas apalavra gnero no teramos assistido disputa em torno dos significados de gne-ro. Qual a diferena? No faz muito tem-po, gnero era usado como um substitutopara a categoriamulher.

    Gnero emulher eram termos intercam-biveis. A suposta estabilidadedognero as-sentada no corpo (vagina-mulher-feminili-dade-maternidade-famlia e pnis-homem-masculinidade-paternidade-famlia) come-ou a cair por terra. A visibilidade dosmovi-mentos sociais trans edeativistasdedireitoshumanos colocou em cena (tanto nacionalquanto internacionalmente) a necessidadede desvincular o planejamento e a execuodepolticas pblicas para o gnero, conside-rando como dado determinante a presenada genitlia. No h espao aqui para listaras diversas resolues de organismos supra-nacionais que reconhecem o direito mi-graodeumgneroparaoutro. So inme-ros pases.

    H um lado desse episdio que mereceser lembrado: ao trazer para o centro do de-bate determinada concepo (teoria) de g-nero, o que esses setores fazem reconhecera natureza histrica e poltica da categoriagnero. A retirada de gnero e identidade degneropode ter comoumdospossveis efei-tos nova fase na luta pela autodeterminaode gnero no Brasil. Agora, todos os que lu-tam por uma sociedade na qual o gnerono sejamarcador social da discriminao eda segregao teromais argumentos paraampliara unidade. O sistema hierrquico eassimtrico de gnero no enfraquecercommedidas exclusivas no mbito do direi-to penal. Vamos continuar a disputa poruma escola acolhedora de todas as diferen-as humanas. Esse compromisso tico quedeve orientar todo educador.

    Liesdasprisesdeempreiteiros

    PAULO NASSARDiretor presidente da Associao Brasileira de Comunicao Empresarial (Aberje), professor doutor e livre-docente da Escola de Comunicaes

    e Artes da Universidade de So Paulo (ECA-USP)

    Ns queremos ressaltar o esforo das professoras,mas isso noimplicaque elas cruzemosbraos, como tambmnodevemcru-zar os braos os pais de alunos.(Publicado em18/8/1961)

    Histria deBraslia

    ARICUNHADESDE 1960

    VISTO, LIDOE [email protected]

    ccoommCCiirrcceeCCuunnhhaa //// [email protected]