29
DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO ECONÔMICO Data base/Vigência = 01.05.2014 a 30.04.2015 Suscitante: Companhia do Metropolitano de São Paulo Metrô Suscitados: (1) Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários e Empresas Operadoras de Veículos Leves sobre Trilhos no Estado de São Paulo; (2) Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo

DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO ECONÔMICO

Data base/Vigência = 01.05.2014 a 30.04.2015

Suscitante: Companhia do Metropolitano de São Paulo –Metrô

Suscitados: (1) Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários e Empresas

Operadoras de Veículos Leves sobre Trilhos no Estado de São Paulo;

(2) Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo

Page 2: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

"(...) constatamos que não foi cumprido o que foi determinado na liminar, paraque, fora dos horários de pico, o sistema funcione com 70% da sua capacidade(...) o que representa muito pouco ao que foi apurado na primeira diligência dehoje"(em 06.06.2014, Of. Jorge Costa Silva).

"(...) Concluo, nesta data, tendo em vista o que me foi relatado e visto, que nãofoi cumprido o que foi determinado na liminar, para que 100% dos serviços,dentro do horário de pico, e 70% das atividades operacionais, fora do horário depico, fossem colocados a favor da população."(Certidão do dia 07.06.2014,sábado, Of. Jorge Costa Silva).

"(...) Faço constar ainda que existem 59 estações, mas, durante o período dagreve, o período da greve, constatei que menos de 50% das estações estavamà disposição dos usuários; que as estações que atendem a periferia e, porconseguinte, abastecem as estações da região do centro, estavam fechadas;que o plano de contingência foi elaborado e colocado em prática pelaCompanhia do Metropolitano de São Paulo, porém a liminar não foi cumprida,visto que o sistema não funcionou, durante toda a greve, com 100% da suacapacidade nos horários de pico e 70% fora deste horário."(Oficial de JustiçaJorge Costa Silva, em 08.06.2014).

Pág. 10: AUTO DE CONSTATAÇÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA

JULGAMENTO – 2ª REGIÃO

Page 3: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

3.15. Na audiência realizada neste Tribunal no dia 06.06.2014, sob a minhapresidência, ficou esclarecido que os Sindicatos dos Trabalhadores nãoofereceram nenhuma alternativa para assegurar o funcionamento do METRÔem condições mínimas para a população.

3.15.1. A única proposta foi quanto à operação "catraca livre", algo impensável efora do alcance de qualquer administrador de qualquer empresa pública quedeve zelar por suas receitas, e que se encontra sujeito às severidades da lei deresponsabilidade fiscal.

3.16. O Sindicato deixou claro que não tinha nenhuma outra oferta a fazer paraatender a população. Eis o registro na ata: "Indagado ao Sindicato sobre aproposta que oferece para o funcionamento do sistema, disse que é a propostajá oferecida de "catraca livre", com o desconto de 01 dia de salário de todos ostrabalhadores, não havendo outra proposta." O assunto foi também objeto decertidão do Sr. Oficial de Justiça, a saber:

Pág. 11: fundamentação do relator

Page 4: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

3.17. Portanto, ao mesmo tempo em que concluo ser flagrantementeabusiva esta greve, por ofensa ao já citado art. 11 da Lei de Greve, tambémconcluo que o Sindicato dos Trabalhadores não deu cumprimento ao quelhe comete o citado dispositivo de lei. A entidade sindical tem existênciajurídica e deve respeito às leis constituídas, e é precisamente a mesma Leide Greve que, pelo art. 15, combinado com o art. 11, vincula a entidadesindical, e não exclusivamente os seus representados.

3.17.1. Seria pueril afirmar que o Sindicato - a entidade representativa - nãopoderia ser responsabilizada pelas ações ou omissões dos trabalhadores. Amesma Lei de Greve que assegura a greve, também impõe regras ao seuexercício e define, expressamente, responsabilidade da entidade sindical que écolocada como importante protagonista do fato. É por esses fundamentos quetorno definitiva a multa diária por descumprimento da ordem liminar, no valor deR$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser revertida ao Hospital do Câncer de SãoPaulo.

Pág. 11: fundamentação do relator

Page 5: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Ou seja: não há um direito que nasce do descumprimento de um outro direito.Do descumprimento de um direito gera-se efeito contrário ao da lesãoperpetrada; nasce um dever de reparação por excessos praticados e prejuízoscausados. Antes do direito, o dever. Onde termina o direito, começa o abuso.Onde há abuso, não há estado de direito.

O Direito atual não consente com a ideia de direitos absolutos. Os direitos sãorelativizados. Há ruptura do sistema jurídico - e, consequentemente, abuso -sempre que o exercício de um direito individual vulnerar outros interessessociais. A teoria do abuso do direito surgiu como reação aos efeitos anti sociaisno exercício das faculdades tidas por absolutas. A pretexto de se estarexercitando a legitimidade de um direito individual, simplesmente "lamentava-se" pelos efeitos deletérios que esse exercício causava aos interesses sociais,invadindo outros interesses individuais ou coletivos. No lugar do direito-poder,como pretensa articulação de uma faculdade tida por soberana na condutaprivada do indivíduo, edificou-se a ideia do direito-finalidade no contexto darealidade social. Ao abuso do direito contrapõe-se a proteção ao interesse pelaconvivência social em harmonia.

Pág. 12: fundamentação do relator

Page 6: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Por tudo isso, não há direitos atribuíveis aos trabalhadores comoresultado de uma greve declarada abusiva, uma greve praticada fora doestado de direito. Adoto o entendimento consolidado pelo TribunalSuperior do Trabalho na OJ 10 da SDC/TST, que assim se anuncia:

OJ-SDC-10 GREVE ABUSIVA NÃO GERA EFEITOS(inserida em 27.03.1998)

É incompatível com a declaração de abusividade de movimento grevista oestabelecimento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partícipes,que assumiram os riscos inerentes à utilização do instrumento de pressãomáximo.

Pág. 12: fundamentação do acórdão do TRT/02

5. DA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES. Na audiência realizada na data de ontem,06.06.2014, ficou constando que: "as partes estão de acordo quanto àrenovação de todas as cláusulas do Acordo Coletivo de 2013, registrando adivergência fundamental em relação ao índice de reajuste".

Pág. 13: ACORDO PARCIAL

Page 7: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Pág. 15: decisão : poder normativo da Justiça do Trabalho

CLÁUSULA 1ª - REAJUSTE SALARIAL

PROPOSTA DOS TRABALHADORES:

1 - Reajuste salarial de 35,47%, sendo 7,98% índice IGP-M da FGV, e 25,5% deaumento real de produtividade (índice DIEESE)

CONTRAPROPOSTA 1 DO METRÔ (1ª audiência de 26.05.14):

1 - Reajuste salarial de 5,20% IPC/FIPE em cumprimento às orientações daComissão de Política Salarial do Governo.

NOVA PROPOSTA DOS TRABALHADORES (2ª audiência de 02.06.14):

1 - Reajuste de 16,5% (7,98% do IGP-M + 7,5% de aumento real)

CONTRAPROPOSTA 2 DO METRÔ (2ª audiência de 02.06.14):

Pág. 16:

1 - Reajuste de 7,8%, também aplicável ao vale-refeição e ao vale-alimentação, com participação de R$ 0,01 dos trabalhadores no custeio do vale-refeição

Page 8: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

CONTRAPROPOSTA 3 DO METRÔ (3ª audiência de 04.06.14):1 - Reajustesalarial de 8,7%;

JULGAMENTO:

O índice INPC (IBGE) do período de 01.05.13 a 30.04.14 é de 5,81494%,conforme consulta ao sítio eletrônico do Banco Central do Brasil (funcionalidade"Calculadora do Cidadão")[2]. Conquanto o poder normativo seja limitado pelacorreção das perdas salariais acumuladas (Lei 10.192/01, arts. 10[3] e 13[4]), oMETRÔ apresentou contraproposta final superior ao índice inflacionário doperíodo.

Defiro o reajuste de sobre os salários de 30.04.14, 8,7% observado o PN 24[5]do TRT da 2ª Região.

REDAÇÃO DEFERIDA:1 - Reajuste salarial: Reajuste de 8,7% sobre os salários de 30.04.14,autorizada a compensação de todas as majorações nominais de salário, salvoas decorrentes de promoção, reclassificação, transferência de cargo, aumentoreal e equiparação salarial.

Pág. 16: decisão : poder normativo da Justiça do Trabalho

Page 9: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

CLÁUSULA 7ª - PISO SALARIALAs partes se conciliaram, acolhendo a proposta do Núcleo de Conciliação da 1ªaudiência, nestes termos: "Readequar o piso ao menor valor salarial jápraticado pela Empresa que hoje é de R$ 1.606,69".

Págs. 20 e 21: acordo quanto ao PISO SALARIAL

Pág. 37: SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

9. DOS DIAS PARADOS EM GREVE.

9.1. A greve é causa de SUSPENSÃO do Contrato de Trabalho, por expressadeterminação legal (art. 7º da Lei de Greve), ficando suspensas as obrigaçõesfundamentais do contrato de trabalho, seja a prestação do trabalhador(trabalhar), seja a prestação do empregador (pagar salários), seja até mesmoquando à rescisão contratual.

9.1.1. A greve realizada de modo irregular, em descumprimento às previsõeslegais, não pode ser fundamento para assegurar o pagamento de trabalho quenão existiu. A sustentação do movimento grevista é também definida por Lei,assegurando a arrecadação de fundos (art. 6º, inciso II). Leio no texto legal:

Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:

II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento

Page 10: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em grevesuspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante operíodo, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão daJustiça do Trabalho.

9.2. Diante disto, autorizo o desconto dos salários de todos os diasparados e seus reflexos.

9.3. Tendo em vista a abusividade da greve, não há estabilidade noemprego a ser assegurada aos grevistas, não sendo o caso de aplicaçãodo Precedente Normativo nº 36.

[1] Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadoresdecidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam pormeio dele defender.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre oatendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Pág. 37: consequência da GREVE = suspensão do contrato de trabalho/inexistência de estabilidade

Page 11: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Pág. 39: dispositivo

Conclusão do recurso

Pelo exposto, julgo o PROCEDENTE EM PARTE dissídio coletivo (Processos 1000718-1320145020000, 1000801-

29.2014.5.02.0000,1000806.51.2014.5.02.0000, 1000807.36.2014.5.02.000, 1000812.58.2014.5.02.0000), para:

1. Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento, a teor do disposto no art. 14 da Lei de

Greve (7.783/89);2. Homologo o consenso das partes quanto à renovação de todos os termos do Acordo

Coletivo de 2013, respeitando-se os acertamentos dispostos no item 5 da fundamentação deste acórdão, especialmente quanto à fixação do percentual de

aumento de 8,7%(oito vírgula sete por cento), além dos demais títulos ali especificamente abordados, inclusive quanto à reserva das matérias que, pela

vontade das partes, serão objeto de futura provocação junto ao Núcleo de Conciliação deste Tribunal;

3. Torno definitiva a ordem liminar deferida para funcionamento dos serviços de METRÔ nos horários normais (70%, setenta por cento) e de pico (100%, cem por cento)

durante os dias da greve (início à 00h do dia 05.06.2014);

Page 12: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

4. Torno definitiva a cominação imposta pelo descumprimento daordem de manutenção dos serviços de METRÔ, e condeno o (1)SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EMPRESAS DETRANSPORTES METROVIÁRIOS E EM EMPRESASOPERADORAS DE VEÍCULOS LEVES SOBRE TRILHOS NOESTADO DE SÃO PAULO (CNPJ Nº 62.877.196/0001-54) e o (2)SINDICATO DOS ENGENHEIROS NO ESTADO DE SÃO PAULO(CNPJ nº 62.637.137/0001-09), solidariamente pelo concurso noilícito, ao pagamento da multa diária de R$ 100.000,00(cem mil reais)pelo descumprimento da ordem de manutenção dos serviços edescumprimento do disposto no art. 11 da Lei de Greve, cujaexecução tramitará por este Juízo e respectiva Secretaria Judiciária.O total executado a título de multas será transferido ao HOSPITALDO CÂNCER DE SÃO PAULO;

Pág. 39: parte final TRT/02

Page 13: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

5. A manutenção da greve e omissão quanto à regularidade dos serviços metroviários à população a partir do julgamento deste

dissídio fica cominada com multa diária de R$ 500.000,00(quinhentos mil reais), por ela respondendo,

solidariamente, os Sindicatos, que será igualmente revertida ao HOSPITAL DO CÂNCER DE SÃO PAULO;

6. Autorizo o desconto salarial dos dias não trabalhados pelos grevistas.

Pág. 40: cominação final

Page 14: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

POSIÇÃO DO TST

fl. 02:

Ementa:

DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE. RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EMPRESAS DE

TRANSPORTES METROVIÁRIOS E EM EMPRESAS OPERADORAS DE VEÍCULOS LEVES SOBRE TRILHOS NO ESTADO DE SÃO PAULO.

REQUERIMENTO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. Compete exclusivamente ao presidente do Tribunal Superior do Trabalho a

apreciação de pedido de efeito suspensivo a recurso interposto contra decisão normativa emanada de Corte regional, nos termos do art. 14 da Lei

nº 10.192/2001. A postulação deve ser apresentada em procedimento específico, separadamente do recurso ordinário, e acompanhada da

documentação descrita no art. 238 do RI TST. Portanto, inviável o exame do pedido formulado neste feito. GREVE. ORDEM JUDICIAL QUE IMPÔS PERCENTUAIS EVIDENTEMENTE INCOMPATÍVEIS COM O EXERCÍCIO

DO DIREITO DE GREVE (100% DA CAPACIDADE DO SERVIÇO DE METRÔ NOS HORÁRIOS DE PICO E 70% FORA DESTE HORÁRIO).

VENCIDA A RELATORA, PREVALECEU NA SESSÃO O ENTENDIMENTO DE QUE A GREVE VIOLOU O DISPOSTO NO ART. 11

DA LEI Nº 7.783/89. MANTIDA A DECISÃO DO REGIONAL QUE DECLAROU A GREVE ABUSIVIDADE.

Page 15: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Continuação da ementa fls. 02 e 03:

Vencida a relatora, que entendia pela não abusividade da greve, prevaleceu na sessão o entendimento de que os sindicatos profissionais não cumpriram

voluntariamente a decisão liminar, que determinou a manutenção dos serviços nos patamares de 100% da capacidade do metrô nos horários de pico e 70% fora deste horário, bem como não diligenciaram para satisfazer as necessidades inadiáveis da comunidade, o que viola o art. 11 da Lei nº 7.783/1989 e ensejou a manutenção da

abusividade da greve decretada pelo TRT. Recurso ordinário desprovido, neste aspecto. MULTA POR DESCUMPRIMENTO DO ART. 11 DA LEI Nº 7783/89.

REDUÇÃO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. A lei ampara a cominação de multa diária, independentemente de pedido, a fim de induzir e compelir ao cumprimento da obrigação e, assim, dar efetividade à ordem judicial (arts. 461, § § 4º e 5º, do CPC e 12 da Lei nº 7.783/89). O valor estabelecido para a multa deve, além de conduzir ao efetivo cumprimento da obrigação imposta, atuar também de forma

pedagógica, para evitar nova conduta desrespeitosa do sindicato no caso de outras paralisações que ocorram no futuro. Porém, o valor da "astreintes" não pode ser

excessivo, sob pena de inviabilizar a manutenção da entidade sindical.

Page 16: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Continuação da ementa fl. 03:

No caso dos autos, embora tenha faltado razoabilidade na ordem judicial, pela qual foram impostos parâmetros de serviço do metrô evidentemente

incompatíveis com o exercício do direito de greve, constata-se que não houve iniciativa do sindicato profissional no sentido de apresentar alternativas para atendimento mínimo das necessidades inadiáveis da comunidade, conforme estabelece previamente o art. 11 da Lei nº 7783/89, como obrigação de todos

os envolvidos na greve em atividades classificadas como essenciais. Portanto, cabe a cominação de multa ao sindicato profissional. No entanto, considerada as circunstâncias e com amparo no princípio da razoabilidade, entendo ser possível acolher a pretensão do recorrente, a fim de reduzir o

valor da multa diária, por descumprimento da ordem judicial, para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e, também, reduzir o valor da “astreintes”, para

R$ 100.000,00 (cem mil reais), por dia, na hipótese de ter ocorrido manutenção da greve após o julgamento deste dissídio coletivo. Recurso

ordinário parcialmente provido. RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELA COMPANHIA DE METROPOLITANO DE SÃO PAULO – METRÔ.

CLÁUSULAS. Recurso ordinário parcialmente provido, para adaptar a redação das cláusulas impugnadas ao teor dos precedentes normativos do

TST e ao entendimento jurisprudencial predominante nesta Corte.

Page 17: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

O recorrente postula a reforma da decisão do Regional. Alega que o movimento de paralisação somente foi deflagrado após a empresa ter demonstrado que

não tinha real interesse em negociar a pauta de reivindicações dos trabalhadores.

Afirma que a greve foi deflagrada com a observância de todos os requisitos legais exigidos, uma vez que “as negociações ocorrem desde a entrega da

pauta de reivindicações (15 de abril); houve assembleia que deflagrou a greve; todos os comunicados foram realizados e o recorrente, munido de senso de

responsabilidade fez, mais uma vez, uma proposta de negociação muito clara à empresa, sobre a questão dos serviços essenciais: a possibilidade de liberação

de catracas. Os trabalhadores, em troca da liberação das catracas, trabalhariam no período de greve, o que não traria qualquer interrupção nos

serviços prestados pela Companhia.”

O recorrente afirma que, apesar da importância, o serviço de transporte metroviário “não está diretamente relacionado à sobrevivência, saúde ou

segurança pública” e, por isso, não se enquadra no conceito de “necessidades inadiáveis”, firmado pela Lei nº 7.783/89, que, se “não atendidas, coloquem em

perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população”.

Fl.09:

Page 18: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Nessa linha de raciocínio, o recorrente afirma que não se aplica, no caso, a Orientação Jurisprudencial nº 38 da SDC/TST, uma vez que o referido verbete

jurisprudencial “o estabelecer que a greve é abusiva quando realizada em setores definidos como essenciais, faz clara exceção ao definir que somente é abusiva se não for assegurado o atendimento básico às necessidades inadiáveis do serviço.”

Diz que os serviços prestados pela categoria profissional atenderam as necessidades da população, ainda que parcialmente.

Fl.09:

Fl. 10:

Acrescenta que não “houve, durante o período de greve dos metroviários um único incidente que fosse digno de nota. Não foram registrados sequer conflitos que eventualmente ultrapassassem o que é comum numa greve de transporte metroviário. E, com a devida vênia ao entendimento esposado pelo Sr. Relator, é necessária, para uma decisão de tamanho impacto ao Sindicato, como a proferida nestes autos, que houvesse prova cabal e irrefutável de algum comprometimento naquelas questões que a lei de greve reputou como serviço inadiável à comunidade: sobrevivência, saúde ou segurança da população.”

Page 19: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

O recorrente argumenta que greve dos metroviários de São Paulo eclodiu diante do cenário de “insatisfação geral com os salários, condições de vida e de trabalho, aumento do custo de vida e questionamento das instituições.” E

que se orientou pelo emprego de meios pacíficos e ordeiros para o convencimento dos trabalhadores na adesão da greve, nos exatos termos da

lei e em consonância com as normas internacionais.

O recorrente assegura que, mesmo se não houvesse o movimento paredista, seria impossível o cumprimento da ordem liminar, posteriormente confirmada

pelo o acórdão do Regional, que assegurou a observância de 100% na operação das linhas do metrô.

Assevera que a determinação fixada na liminar “visa IMPEDIR O EXERCÍCIO DA GARANTIA DISPOSTA PELO ARTIGO 9º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

AOS TRABALHADORES METROVIÁRIOS DE SÃO PAULO, através de medida coercitiva proibitiva.”

Nesse aspecto, refuta a declaração da abusividade da greve, sob o fundamento de que a decisão do Regional pautou-se em decreto liminar que

negou vigência ao art. 9º da Constituição Federal.

Fl. 10:

Page 20: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Afirma que a decisão do Regional viola os art. 1º, IV, 3º, III, 5º, XVII, XXIII, 7º, 8º, 9º, 170, III, VII, VIII da Carta Magna.

Postula a reforma da decisão do Regional, a fim de que seja afastada da declaração da abusividade da greve e, por consequência, todas as

repercussões dela decorrentes. Analiso:

Fl. 10:

Fl. 11:

De inicio, registre-se que a greve teve início em 5/6/2014 e o dissídio coletivo foi julgado em 8/6/2014.

Greve é o instrumento de pressão, de natureza constitucional, exercida pela categoria profissional, a fim de obter da categoria econômica a satisfação

dos interesses dos trabalhadores, aos quais compete “decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele

defender” (art. 9º da CF/88). Não obstante a amplitude constitucionalmente conferida ao direito de greve,

a lei maior estabelece diretrizes limitadoras ao seu exercício, e remete à legislação infraconstitucional a definição dos serviços ou atividades

essenciais, o disciplinamento sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, bem como a responsabilização pelos abusos

cometidos.

Page 21: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

A lei define o exercício do direito de greve como a “suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador” (art. 2º da Lei nº 7.783/89), e estabelece os seguintes requisitos de validade: 1 – tentativa de

negociação; 2 – aprovação em assembleia de trabalhadores; 3 – regra geral, aviso-prévio à contraparte a respeito da paralisação, com antecedência de 48 horas.

Porém, tratando-se de categoria profissional que presta serviços ou exerce atividades essenciais, a comunicação deverá ocorrer, no mínimo, com 72 horas de

antecedência; 4 – obrigação dos sindicatos, dos empregadores e dos trabalhadores, durante a greve e em comum acordo, de garantir a prestação dos

serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, nos serviços ou atividades essenciais.

A ordem jurídica estatal estabelece ainda que constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas constantes na Lei nº 7.783/89, bem como a paralisação,

após ser firmado acordo, convenção, ou houver decisão da Justiça do Trabalho.

Entretanto, na vigência de instrumento normativo coletivo, seja autônomo (acordo ou convenção coletiva de trabalho) ou heterônomo (sentença normativa), a lei afasta a abusividade da greve que tenha por objetivo exigir o cumprimento de

cláusula ou condição, ou quando “motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto

Fl. 11:

Page 22: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

que modifique substancialmente a relação de trabalho” (art. 14, parágrafo único, I e II, da Lei nº 7.783/89).

Portanto, a declaração da abusividade do movimento paredista implica a verificação da observância ou não dos requisitos legais referidos.

Constata-se que, em 28/5/2014, o sindicato profissional comunicou à empresa que haveria greve a partir do dia 5/6/2014, consoante documento de fl. 489.

Portanto, a contra parte foi informada sobre a realização da greve, com a observância do prazo mínimo de 72 horas, conforme preceitua a lei, para a

paralisação realizada em atividade considerada essencial, como no caso dos autos.

Os documentos de fls. 33/48, 52/58 e 59/64, demonstram que houve tentativa de negociação prévia.

Em assembleia geral extraordinária, a categoria dos engenheiros empregados no metrô deliberou pela realização da greve (fls. 512/513).

Não obstante, vale registrar que a jurisprudência desta Corte tem mitigado a exigência atinente à realização de reunião autorizadora da paralisação da

categoria profissional, quando outros elementos demonstram a participação e anuência dos trabalhadores na greve, como é o caso dos autos. (...)

Fl. 12:

Page 23: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

(...) No caso, não há dúvida de que houve a efetiva paralisação das atividades da categoria, o que demonstra que os trabalhadores concordaram e aderiram

à greve.

Por se tratar de movimento envolvendo atividade essencial, o Tribunal a quo declarou abusiva a greve, sob o fundamento de que não foram atendidas as

necessidades básicas da população, conforme exige a lei, e, também, não foi cumprida a ordem liminar, atinente ao contingente de trabalhadores nos

horários de pico dos serviços do metrô. Cabe verificar o acerto da decisão do Regional quanto a esse aspecto.

Com efeito, a lei estabelece que, em razão do caráter essencial da atividade do transporte coletivo (art. 10, V, da Lei nº 7.783/93), os atores sociais

envolvidos no conflito - sindicatos, empregadores e trabalhadores – são obrigados, de mútuo consenso, “a garantir, durante a greve, a prestação dos

serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.” (art. 11 da Lei nº 7.783/93). Ou seja, a partes são

corresponsáveis na obrigação do atendimento mínimo e essencial da população. (...)

Fl. 13:

Page 24: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

(...) No caso, porém, observa-se que faltou razoabilidade ao comando judicial liminar, que impôs percentuais evidentemente incompatíveis com o exercício do direito de greve - 100% da capacidade do serviço de metrô nos horários de pico e 70% fora deste horário. Portanto, evidentemente incompatíveis com o próprio exercício do direito de greve, garantido pela Carta Magna, que se define pela

paralisação total das atividades ou, ao menos, parcial.

Ademais, apesar de não ter sido apresentado um plano específico, não há comprovação de que não foram atendidas as necessidades inadiáveis da comunidade. Tampouco que a categoria profissional, exclusivamente, deu

causa para a não observância desse requisito legal.

Ressalte-se que, apesar de não terem sido observados os percentuais fixados na liminar, efetivamente as estações do metrô funcionaram no período da

paralisação, conforme os relatos firmados nos autos de constatação realizados por oficiais de justiça (fls. 572/581 e 602/604).

A falta de razoabilidade do comando judicial liminar (100% da capacidade do serviço de metrô nos horários de pico e 70% fora deste horário) traduziu

impedimento ao exercício do direito de greve, violando o art. 9º da Constituição Federal, pelo que não pode ser considerado como parâmetro para eventual

declaração de abusividade da greve. (...)

Fl. 14 :

Page 25: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Acrescente-se que o comprovado funcionamento do sistema do metrô, no período da greve, indica que houve prestação mínima de serviços para o atendimento das atividades inadiáveis da comunidade, em observância a

parte final do art. 11 da Lei nº 7.783/93, ainda que não plenamente satisfatória e com o natural prejuízo à população decorrente de qualquer movimento

paredista.

Por outro lado, a decisão nº 498 do Comitê de Liberdade Sindical da OIT é explícito no sentido de que “as condições requeridas pela legislação, para que a greve seja considerada lícita, devem ser razoáveis e, em qualquer hipótese,

não ser de natureza que constitua

Fl. 15:

Fl. 16:

significativa limitação das possibilidades de ação das organizações sindicais.”

Entretanto, em sessão de julgamento, essa relatora restou vencida nesse tópico, motivo pelo qual transcrevo o voto vencedor da lavra da

eminente Ministra Maria Cristina Peduzzi:

Page 26: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Fl. 16:

Page 27: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Fl. :

Page 28: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Fl. :

Page 29: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE/MEDIDA CAUTELAR/DISSÍDIO … · 2017-03-11 · Declarar que é abusiva a greve dos Metroviários e Engenheiros do Metrô e decreto o seu imediato encerramento,

Fl. :