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SHIS - QL 02, Conjunto 7, Casa 14, Lago Sul, Brasília-DF, CEP: 71.610-075 Fones: 61 3366 4744 | 3365 5206 | 3364 0871 EXMO.SR. MINISTRO YVES GANDRA DA SILVA MARTINS VICE-PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO PRESIDENTE DOS TRABALHOS DO DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA E DE GREVE – PROCESSO Nº TST-DCJ- 23507-77.2014.5.00.0000 SINDICATO DOS PETROLEIROS DO ESTADO DA BAHIA – SINDIPETRO - BAHIA, entidade sindical de 1.º grau, pessoa jurídica de direito privado, CNPJ n. 15.532.855/0001-42, com sede na Rua Boulevard América, 55, Jardim Baiano – Salvador – Ba, por seus procuradores, com escritório profissional em Brasília, SHIS, QL 02, Conjunto 7, casa 14 – Lago Sul – Brasília – DF, CEP 71.610-075, vem mui respeitosamente à presença de V. Exa, nos autos do Dissídios Coletivo Da Natureza Jurídica interposto por PETROBRÁS - PETRÓLEO BRASILEIRO S/A, vem apresentar sua D E F E S A pelas razões de fato e de direito que passa a expor ao longo da presente:

EXMO.SR. MINISTRO YVES GANDRA DA SILVA MARTINS … · TRABALHOS DO DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA E DE GREVE ... inicial). Como se vê do esquema narrativo, a demanda,

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EXMO.SR. MINISTRO YVES GANDRA DA SILVA MARTINS VICE-PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO PRESIDENTE DOS

TRABALHOS DO DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA E DE

GREVE – PROCESSO Nº TST-DCJ- 23507-77.2014.5.00.0000

SINDICATO DOS PETROLEIROS DO ESTADO DA

BAHIA – SINDIPETRO - BAHIA, entidade sindical de 1.º grau, pessoa

jurídica de direito privado, CNPJ n. 15.532.855/0001-42, com sede na Rua

Boulevard América, 55, Jardim Baiano – Salvador – Ba, por seus

procuradores, com escritório profissional em Brasília, SHIS, QL 02,

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respeitosamente à presença de V. Exa, nos autos do Dissídios Coletivo Da

Natureza Jurídica interposto por PETROBRÁS - PETRÓLEO BRASILEIRO

S/A, vem apresentar sua

D E F E S A

pelas razões de fato e de direito que passa a expor ao longo da presente:

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I) SÍNTESE DA HIPÓTESE FÁTICA E NORMATIVA

A suscitante Petrobras fundamenta a sua demanda na

contrariedade com o resultado da interpretação construída nos últimos

anos pela Justiça do Trabalho, que culminou com a decisão da SDI-1 do

TST, no ano de 2013 (precedente E-RR-848-40.2011.5.11.0011).

Especificamente opõe-se aos parâmetros interpretativos fixados

pela SDI para o correto cálculo da parcela Complemento da

“Remuneração Mínima por Nível e Regime de Trabalho (RMNR)”,

gratificação prevista em Acordo Coletivo de Trabalho desde 2007

A partir do inconformismo com o resultado da interpretação, alega

configurado o suposto conflito de interpretação de cláusula de Acordo

Coletivo de Trabalho.

Diante das condenações sucessivas em demandas judiciais coletivas

e individuais, com decisões com transito em julgado, suscita também

como fundamento a justificar a intervenção judicial, Dissídio Coletivo de

Natureza Jurídica, o impróprio “risco processual”.

Há, no caso, uma sucessão de questões de ordem fática que, de

plano merecem correção da narração para a sua devida valoração técnica

jurídica.

Primeiro, fica evidenciado que o “conflito de interpretação”, em

verdade constitui resistência à interpretação conferida pela Justiça do

Trabalho. Em outras palavras, é a resistência e o inconformismo da

empresa em ver sua tese jurídica derrotada pelo Tribunal Superior do

Trabalho.

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Segundo, que a suposta vontade diversa das partes no processo de

negociação coletiva, para o qual evoca a suscitante, ainda, seja observada

a boa-fé negocial - a par de ser acusação gravíssima à representação

sindical, para a qual, adiantam os sindicatos repudiar veementemente por

inverdade -, ao mesmo tempo em que oculta e inverte as diversas

iniciativas sindicais em sentido diverso, revela a intenção de trazer como

elemento central do processo questão fática.

A despeito dos restritos limites do Dissídio Coletivo da Natureza

Jurídica, pede providências oriunda do Poder Normativo do TST para a

“declaração quanto ao acerto da interpretação (...)”(fl. 47 da petição

inicial).

Como se vê do esquema narrativo, a demanda, que se vale de

muitos contorcionismos, pretende como efeito prático único alterar a

jurisprudência uniformizada do TST.

A situação fática e jurídica é absolutamente anômala e inédita no

nosso sistema de solução de conflitos coletivos pelo poder normativo.

Há que se atentar para o gravíssimo precedente para instabilidade

das relações coletivas de trabalho e a segurança jurídica, caso haja

intervenção do poder normativo da Justiça do Trabalho. Dito do outro

modo, qualquer provimento mínimo implicaria em conferir, na

perspectiva dos sindicatos, efeito revisional, anulatório e rescindendo de

dezenas de decisões judiciais já proferidas, muitas com trânsito em

julgado.

A rigor, a tutela anômala perseguida não tem suporte fático em

conflito entre empresa e entidades sindicais, já que busca correção do

resultado da interpretação judicial.

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As premissas da petição inicial da suscitante, como demonstrará,

em forma preliminar de mérito:

A. Não reúne os pressupostos de adequação e de cabimento do

Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica;

B. Não estão presentes as condições da ação atinentes a

possibilidade jurídica do pedido e interesse.

Quanto às questões de mérito, pretendem as entidades sindicais evidenciar a correção fática, para:

A. Explicitar os motivos e interesses determinantes da política de

recursos humanos que levaram à construção da cláusula do

Complemento da RMNR;

B. Demonstrar que as demandas judiciais individuais e coletivas têm

como fundamento jurídico a garantia de diferenciação salarial,

cujos princípios e normas têm previsão supra legal, conforme a

Constituição;

C. Rechaçar a alegações inverídicas sobre a vontade das partes no

processo de negociação coletiva.

II) PRELIMINARES DE MÉRITO

1. Não cabimento e inadequação do Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica

Como é cediço, o Dissídio Coletivo é mecanismo de solução de

conflito jurisdicional.

Sem querer fazer um histórico da sua instituição e os limites de sua

atuação, para adentrarmos diretamente no direito contemporâneo, a

Emenda Constitucional nº 45/2004, inovou ampliando a competência da

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Justiça do Trabalho fixando, todavia, o freio da intervenção do Poder

Normativo. Como iremos detalhar mais abaixo, este freio veio através da

fixando expressa de procedimentos jurisdicional de solução de conflito

coletivo, quais sejam: a) natureza econômica, e; b) de greve.

1.1. Ausência de recepção constitucional

O primeiro óbice é a não recepção do procedimento do Dissídio

Coletivo De Natureza Jurídica pela alteração profunda no art. 114, §2º da

Constituição, na redação da Emenda Constitucional n. 45/2004.

O poder normativo da Justiça do Trabalho, exercido por meio do

Dissídio Coletivo De Natureza Jurídica, originalmente criado em 1939

(Decreto-Lei nº. 1.237, de 02/05/1939), e que se prestava a disciplinar a

aplicação de sentenças normativas e instrumentos normativos, não mais

subsiste.

Ressalte-se, por oportuno, que o conceito e procedimento de

solução jurisdicional de conflito coletivo fora devidamente regulamentado

pelo Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho.

A reforma constitucional, com o claro propósito de restringir a

intervenção estatal pelo Poder Normativo, manteve o dissídio de natureza

econômica e o dissídio coletivo de greve relegado as estritas hipóteses do

“comum acordo”.

Pode-se afirmar que o constituinte derivado, ao mesmo tempo em

que conferiu maior amplitude ao poder de julgar da justiça do trabalho,

condicionou tal poder ao interesse exclusivo das partes. Em outras

palavras condicionou ao "comum acordo" das partes, entenda-se por

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interesse, que o conflito coletivo viesse a ser solucionado pela intervenção

jurisdicional.

O Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica não foi disciplinado na nova

redação do art. 114, §2º da Constituição e, diante disso, a consequência

lógica é que não há mais recepção constitucional, mesmo porque em se

tratando de “conflito jurídico” não se vislumbraria a hipótese de “acordo

prévio” das partes.

Desta feita, constata-se que o disposto no do Regimento Interno do

TST, que instituiu a forma de solução de conflito coletivo mediante o

procedimento do Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica, não fora

recepcionado pela Emenda Constitucional n.º 45/2004 e, desse modo, a

sua aplicação gera a nulidade do procedimento.

O RITST, admite o cabimento do Dissídio Coletivo de Natureza

Jurídica. O ponto colocado para o debate é a sua recepção pela Emenda

Constitucional nº 45/2004 que institui normas procedimentais para os

processos que especifica. A partir do controle de legalidade, afirma-se que

o artigo do RISTF não teria sido recebido pela Emenda Constitucional nº

45/2004. Isto porque, não haveria previsão expressa na Emenda

Constitucional sobre o cabimento do Dissidio Coletivo de Natureza

Jurídica.

1.2 Não cabimento por ausência de conflito interpretativo de

norma coletiva

O segundo óbice ao cabimento advém dos próprios estritos termos

do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Isto porque, caso

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esta Corte entenda como cabível esta medida jurisdicional, deverá

respeitar, expressamente, os termos do seu Regimento Interno.

Diz o artigo 220 do Regimento Interno:

Art. 220. Os dissídios coletivos podem ser: [...] II - de natureza jurídica, para interpretação de cláusulas de sentenças normativas, de instrumentos de negociação coletiva, acordos e convenções coletivas, de disposições legais particulares de categoria profissional ou econômica e de atos normativos;(o realce é nosso)

Como expressamente consigna o artigo 220 do Regimento Interno

do TST, o Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica tem a finalidade de

interpretar cláusulas de instrumentos de negociação coletiva.

No presente caso, a cláusula que se quer ver interpretada1 é a

denominada RMNR de n. 38 do Acordo Coletivo de Trabalho.

Como já mencionado, tal cláusula já fora devidamente interpretada

por este Tribunal Superior do Trabalho através dos dissídios individuais

(reclamação trabalhista individual, plúrima ou coletiva por substituição

processual) decorrentes do contencioso individual.

Desse modo, ainda que se entendesse remanescente a figura do

dissídio coletivo de natureza jurídica, o poder normativo no caso

específico não pode ser exercido em superposição a atividade

jurisdicional.

Não há hierarquia entre as Seções do Tribunal Superior do Trabalho.

Logo, a Seção de Dissídios Coletivos não é instância recursal da Seção de

Dissídios individuais. Uma Subseção tampouco terá maior ou menor

eficácia em sua decisão do a que outra.

1 Na realidade, como demonstraremos, o que está a requerer é a reinterpretação da Cláusula.

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Atente-se para o fato da completa inadequação de procedimento,

com enormes consequências jurídicas que causaria um precedente nessa

linha. Afora a insegurança jurídica daqueles já beneficiados por decisões

judiciais, inclusive transitado em julgado, diga-se regulares e com o devido

processo legal, estar-se-ia permitindo, anacronicamente, o uso do dissídio

coletivo como uma espécie de “quarta instância” recursal, em absoluta

forma de exceção.

A rigor não há norma precedente em conflito que demandem

interpretação do judiciário pelo simples fato de que já houve

pronunciamento jurisdicional.

É de bom alvitre ressaltar, que esta posição foi reconhecida pelo

próprio Eminente Ministro Vice-Presidente quando de sua decisão que

indeferiu a liminar requerida.

Sendo o poder normativo excepcional, porque alheio ao poder

jurisdicional e condicionado ao comum acordo entre as partes, ele deve

ser invocado de modo restrito e, claro, jamais em substituição ou

superposição a atuação da jurisdição.

Já existe precedente específico do TST que não admite o Dissídio

Coletivo de Natureza Jurídica que discutia a aplicabilidade de cláusula

autorização do trabalho em domingos e feriados, quando o efeito prático

pretendido altera o alcance da lei.

Ao julgar o Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica - TST-RO-285-

94.2012.5.02.0000 - a EG SDC firmou posição no sentido da

impossibilidade de se discutir a ilegalidade, inconstitucionalidade ou

mesmo e ineficácia de cláusula normativa, uma vez que o objeto para esta

análise deixa de ser a interpretação de cláusula para se transformar em

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verdadeiro interesse egoístico da suscitante. Em outras palavras, é a

tentativa de alterar o teor da norma, logo, a sua própria aplicação.

Vejamos:

RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS DE SÃO PAULO. DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA JURÍDICA. CLÁUSULA QUE LIMITA O FUNCIONAMENTO DAS EMPRESAS A DOIS DOMINGOS POR MÊS. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. 1. Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica que tem por objeto a análise acerca da "inconstitucionalidade, ilegalidade e ineficácia" da cláusula de Convenção Coletiva de Trabalho que fixa o funcionamento dos estabelecimentos comerciais em apenas 2 domingos mensais. 2. A declaração de não conformidade da cláusula ao arcabouço jurídico, todavia, não se insere no escopo do Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica. Note-se, ainda, que, em última análise, o efeito prático aqui almejado é a alteração do teor da norma em convergência com o interesse das Suscitantes. Por mais legítimo ou razoável que seja esse interesse, bem delineado, inclusive, na proposta para negociação formulada no bojo da representação, não é aqui o meio adequado para alcançá-lo. 3. O Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica está vocacionado a apurar o sentido e/ou alcance da norma, solvendo o ponto dúbio, obscuro ou contraditório que compromete a sua compreensão e sua plena eficácia. No caso, o que move as Suscitadas é a certeza jurídica sobre a restrição do alegado direito, prevista na cláusula acordada pela entidade sindical que as representa, e que vai de encontro aos seus interesses. Processo extinto, sem resolução de mérito, por inadequação da via eleita. Recurso Ordinário a que se dá provimento.

Este precedente serve como uma luva ao caso concreto.

Como será devidamente demonstrado, de forma detalhada,

desconstruindo os fundamentos da suscitante e demonstrando a sua má-

fé processual, o que se discute é a aplicabilidade da cláusula na medida

em que a suscitante entende que deve ser a mesma aplicada de forma

distinta. Inclusive da forma que o próprio judiciário já pacificou.

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De modo análogo, a pretensão imprópria posta pela suscitante é

alterar o alcance e a aplicabilidade da norma em debate e das decisões

judiciais, muitas albergadas pela coisa julgada.

1.3 Ausência de questão jurídica

A pretexto de questão jurídica controvertida, os fundamentos da

tese da suscitante são dirigem a questões fáticas.

Observa-se que a alegação está fundada suposta negociação

coletiva com conteúdo diverso daquele interpretado pela Seção de

Dissídios Individuais do TST. Para a demonstração dessa alegação, a

suscitante tem como único argumento as supostas tratativas negociais, ou

seja, não há questão jurídica, senão fática controvertida.

Assim, não há a rigor controvérsia sobre a interpretação do

instrumento normativo, mas alegação de questões fáticas não

contempladas no texto, as quais se pretende, indevidamente, comprovar

em Dissídio Coletivo.

Como se vê, a pretensão não se restringe à interpretação da

cláusula do ACT. Assim, não há adequação da via eleita, devendo o dissídio

ser extinto sem julgamento de mérito.

2. Ausência de condições da ação

2.1 Impossibilidade jurídica do pedido – norma de caráter genérico

A pretensão da Petrobras é também juridicamente

impossível. À Seção de Dissídios Coletivos do TST não tem atribuição de

instância revisora de decisão da Seção de Dissídios Individuais (SDI).

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Inexiste no nosso sistema jurídico a figura do Dissídio Coletivo de

Natureza Jurídica com pretensão infringente para revolver questões

fáticas, como pretende a Petrobras. Embora com o esforço de dar

conotação de existência de contradição entre a decisão e suposta questão

fática diversa, a pretensão encontra óbice, primeiro, na impossibilidade de

incursão da SDC em qualquer questão fática. Para que a SDC valorasse a

questão fática controvertida, na forma trazida pela suscitada,

inevitavelmente deveria permitir a dilação probatória, por todas as

modalidades permitidas em lei.

2.1.1. Impossibilidade Jurídica do pedido - norma de caráter genérico

Como se pode constatar pelos fundamentos da suscitante, a mesma

busca a discussão genérica da aplicação da Cláusula. Quer debater, aliás,

quer obter nova interpretação da aplicação da Cláusula RMNR quanto a

adicionais de remuneração.

O Tribunal Superior do Trabalho, por sua Seção Especializada em

Dissídios Coletivos, tem entendimento pacificado no Precedente

Jurisprudencial No. 07, nessa linha, verbis:

"07. DISSÍDIO COLETIVO. NATUREZA JURÍDICA. INTERPRETAÇÃO DE NORMA DE CARATER GENÉRICO. INVIABILIDADE. Com efeito, não se presta o dissídio coletivo de natureza jurídica à interpretação de norma sobre adicionais de remuneração.

Desta feita, deve ser aplicado o Precedente Jurisprudencial nº 7 da SDC para extinguir o presente processo sem resolução do mérito, ante a impossibilidade jurídica do pedido.

2.2. Ausência de interesse

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O interesse processual da Petrobras não se acha igualmente

demonstrado.

A instauração de Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica não foi

precedida da necessária negociação coletiva direta, muito menos se

evidencia a impossibilidade ou o esgotamento da via negocial.

Ao contrário, os entes sindicais demonstram notoriamente interesse

na negociação coletiva, inclusive a matéria do Complemento da RMNR faz

parte da pauta sindical. Desde 2009 a proposição dos sindicatos dos

trabalhadores é no sentido de agregar à matriz salarial os percentuais ali

dispostos. Em 2011, face a reiteradas negativas da Petrobras, a proposta

de redação constante da pauta sindical foi pela supressão em definitivo da

RMNR, como se lê do texto seguinte:

CLÁUSULA 45 – REMUNERAÇÃO MÍNIMA POR NÍVEL E REGIME – RMNR

A Companhia suprimirá a Remuneração Mínima por Nível e Regime – RMNR, incorporando o complemento da RMNR ao salário base. Parágrafo 1º – A Companhia incorporará ao salário básico o pagamento dos 30% Vantagem Pessoal – Acordo Coletivo de Trabalho (VP-ACT) e a Vantagem Pessoal Subsidiária (VP-SUB). Parágrafo 2º – Enquanto não for suprimida a RMNR, conforme previsto no caput, a empresa pagará a RMNR de acordo com o maior percentual estabelecido na sua implantação, em 1º de julho de 2007, fazendo inclusive de forma retroativa ao início do pagamento do complemento da RMNR. Parágrafo 3º – A Parcela da periculosidade não deverá ser abatida do complemento da RMNR que é a diferença entre a RMNR e apenas o Salário Básico (SB), ou seja, sem qualquer adicional ou outra vantagem e pagará os valores retroativos decorrentes desse pagamento. Parágrafo 4º - A Companhia garantirá o cumprimento das decisões judiciais sobre o pagamento RMNR. Parágrafo 5º - Após a incorporação da RMNR a Companhia realizará a revisão do PCAC, de forma a corrigir as diferenças criadas pela incorporação.

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Resta demonstrado que, contrariamente ao alegado pela suscitante,

os trabalhadores nos processos negociais têm reiteradamente proposto

alterações da cláusula da RMNR.

O interesse manifestado pela suscitante, no entanto, se dirige

indevidamente em estancar as reiteradas condenações judiciais e conter

ao que denomina de “risco processual”. Ora, a pretensão de evitar

condenações, mero interesse econômico, não satisfaz a condição de

interesse processual legítimo.

III) MÉRITO

1. Das Violações da Constituição alegado pela Petrobras S/A Suscitante -

Súmula Vinculante nº 10 do STF - Reserva de plenário – artigo 97 da

CRB/88

Conforme se constata nos fundamentos da suscitante, é afirmado

que as decisões já proferidas por todas as Turmas e pacificado pela C.

Subseção I de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho. Logo,

consolidada a interpretação jurídica da cláusula denominada RMNR, está a

violar diretamente os artigos da Constituição.

Postula, em síntese, a suscitante, que a SDC faça, através do

Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica, de forma efetiva, o exercício do

controle difuso de constitucionalidade para declarar e fixar precisamente

que a cláusula normativa impugnada é inconstitucional, da forma como foi

pacificada a sua interpretação, logo, da forma como o próprio Tribunal

Superior do Trabalho já determinou que a mesma fosse aplicada.

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Pode-se afirmar, assim, a partir do pedido final de sua petição

inicial, que a suscitante requer que aplicação da cláusula denominada

RMNR seja declarada constitucional a partir de sua interpretação.

Portanto, a requerer que a SDC exerça o controle de

constitucionalidade difuso ou concreto, como previsto em nosso

ordenamento jurídico. Para a aplicação da cláusula denominada RMNR,

deve ser observado os procedimentos previstos na Constituição, em

especial o disposto no artigo 103-A, com redação dada pela Emenda

Constitucional nº 45, de dezembro de 2004, em que instituiu a Súmula

Vinculante.

Diz o artigo 103-A da CRB/88

O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

A Súmula vinculante, portanto, é de cumprimento obrigatório,

com força de lei, com efeito erga omnes, ou seja, vincula todos os demais

tribunais e juízes.

Em sessão plenária de 18 de junho de 2008, o STF aprovou a

Súmula Vinculante nº 10 (publicado no Dje nº 117/2008, p.1, em

27/6/2008 – DO de 27/6/2008, p.1) nos seguintes termos:

Violação da Cláusula de Reserva de Plenário - Decisão de Órgão Fracionário de Tribunal - Declaração da Inconstitucionalidade de Lei ou Ato Normativo do Poder Público. Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a

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inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Conforme se verifica pela referida Súmula Vinculante, o

exercício do controle difuso de constitucionalidade por órgão fracionário

de Tribunal não poderá ser exercido para afastar a incidência de lei ou

ato normativo.

A consequência lógica do conhecimento por violação aos artigos

constitucionais apontados pela suscitante será a declaração de

inconstitucionalidade da cláusula Normativa referente à RMNR. Não se

alegue que a decisão não terá como efeito uma declaração expressa de

constitucionalidade. Isto porque, ao afirmar que a cláusula normativa da

RMNR, quando da sua aplicação por interpretação do Tribunal Superior do

Trabalho, violou artigo da constituição, está se afirmando a

inconstitucionalidade da cláusula.

2. A negociação coletiva, a inserção da cláusula da RMNR e sua

contextualização fática

A cláusula do complemento da RMNR é fruto de processo de

negociação coletiva atípica, no qual não se permitiu amplo processo de

negociação.

Isso se deve em grande medida as vicissitudes e déficit do sistema

brasileiro de relações de trabalho que, carente de uma regulação jurídica

adequada, não permite na prática que se desenvolva plenamente a

autonomia privada coletiva. O conteúdo dos acordos e convenções

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coletivos, mesmo em categoria mais organizadas, ainda são fortemente

influenciadas pelo poder unilateral das empresas em impor condições de

uso do trabalho.

Além de não poder ficar alheio à realidade dos problemas

estruturais das negociações coletivas, que é necessária contextualização,

todo processo negociação coletiva é marcado por elementos sensíveis

internos entre entes sindicais e empresas, e as demandas concretas dos

trabalhadores.

Nesse sentido, há um contexto de historicidade própria da

construção da cláusula do Complemento da RMNR na empresa Petrobras,

que não pode ser simplesmente revelado pelos limites formais do texto

firmado e da vontade das partes.

De fato, a cláusula a RMNR surge formalmente no processo

negocial, apresentado como proposta e condição da suscitante, ao ser

ofertado conjuntamente pela empresa, para o estabelecimento do novo

Plano de Cargos e Salários (PCAC).

Um primeiro reparo fático necessário, portanto, é que ele não fez

parte de pauta de reivindicações.

Segundo, não se possibilitou às entidades sindicais um amplo

debate da cláusula, sequer a formulação de contrapropostas.

Porque institui então a empresa Petrobras a remuneração do

Complemento da RMNR?

O fez por interesse em sua política de recursos humanos para

equacionar as distorções remuneratórios praticadas em relação aos

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empregados admitidos a partir de 31/08/1987. Estes trabalhadores,

diferentemente dos demais, não recebiam a remuneração da “Vantagem

Pessoal (VP)”, instituída também em acordo coletivo, cujo conflito

primário remonta à década de 1960.

Como o pagamento da Vantagem Pessoal (VP), equivalente ao

adicional de periculosidade (30%), era dirigido aos trabalhadores que não

se encontravam em área de risco, com dificuldades de justificar a política

remuneratória, inclusive em inquéritos civis instaurados pelo Ministério

Público do Trabalho (MPT), partir da empresa a “solução” da RMNR para

conferir formal legalidade ao pagamento e, ao mesmo tempo, permitir a

extensão aos demais empregados.

A RMNR, diferentemente do propósito de uma política de isonomia

remuneratória, visou um específico interesse da empresa de equacionar

um antigo conflito com o pagamento de adicional de periculosidade para

todos os trabalhadores.

Por outro lado, além de não constar da pauta sindical dos

trabalhadores, não houve amplas e exaustivas tratativas em mesa de

negociação. A cláusula foi apresentada no bojo e do “pacote” que

implantaria o Plano de Cargos e Salários (PCAC) a partir de 2007.

Tanto é verdade que o instrumento utilizado inicialmente pela

empresa a época não foi o acordo coletivo de trabalho, mas um atípico

“Termo de Compromisso Termo de Aceitação de Plano de Classificação e

Avaliação de Cargos-PCAC-2007 e Remuneração Mínima por Nível e

Regime- RMNR”.

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Depreende-se da redação da cláusula a caráter de unilateralidade

da regra e metodologia de cálculo da RMNR. Ademais, ao utilizar-se do

“Termo de Aceitação”, cujo instrumento não equivale ao acordo coletivo,

mas um mero compromisso privado, tem-se que houve mera adesão das

entidades ao modelo da RMNR.

É fato que as entidades sindicais e a Federação Única dos

Petroleiros (FUP) posteriormente firmaram acordo coletivo de trabalho,

porém o fizeram, depois de muitas resistências em alguns sindicatos e

premidos pela notória pressão da parcela de trabalhadores com

obtiveram acréscimos salariais com a RMNR.

De todo modo os sindicatos suscitados desde quando a cláusula foi

efetivamente implantada vêm questionando a aplicação incorreta pela

suscitante. Ao contrário do afirmado na peça inicial, jamais houve

concordância com o abatimento dos adicionais de periculosidade,

adicional noturno, adicional de hora repouso alimentação, dentre outros,

para obtenção do valor do complemento da RMNR.

A sistemática remuneratória utilizada pela Petrobras,

objetivamente, esvaziou de sentido a discriminação positiva que a

Constituição reserva aos trabalhadores expostos a risco ou regime

especial de trabalho. Não era este o sentido da clausula tampouco poderia

ser aceito.

No caso do Sindipetro PR/SC, por exemplo, a época já se

vislumbrava que o mecanismo da RMNR produziria efeitos

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discrimanatórios em relação aos trabalhadores de área de risco, que

recebiam adicional de periculosidade.

Vê-se do boletim sindical de 15.07.2007 (anexo), a seguinte

valoração da direção, que reproduzia a percepção da categoria que

representa no Paraná e Santa Catarina:

“A fórmula é um absurdo! Para resolver uma luta histórica dos trabalhadores foi embutido na proposta do PCAC da empresa a tal da Remuneração Mínima por Nível e Regime.

O mesmo boletim, mais adiante avalia:

“Mais uma vez ´resolvem´ o problema do adicional dos 30% aviltando o direito à Periculosidade/insalubridade.”

E, por fim, o boletim indica qual era o desejo e a vontade do ente

sindical:

“A proposta do movimento sindical sempre foi muito clara: incorporar-se a VP de 30% ao salário-base e aplica a Periculosidade aqueles que realmente têm direito. Não bastasse enfrentar e resolver definitivamente e moralmente o problema, implementa o conceito de regionalidade remuneratória, algo que historicamente a categoria petroleira sempre rechaçou”.

Em outro boletim sindical, publicado em 15.08.2007 (anexo), depois

de rejeição da proposta em assembleia da categoria, informa detalhadamente como razões da rejeição:

a) O fato do Termo de Aceitação ter sido criado em modalidade de contrato; b) Não conter cláusula de vigência; c) Não conter cláusula penal por descumprimento.

Precisamente sobre os efeitos da RMNR, aponta o boletim que a

fórmula: “(...) contraria o princípio da CLT de remuneração igual para

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trabalho de igual valor, sem garantir critério objetivos contra

discriminações.”

Os dois informes sindicais de 2007, portanto contemporâneos aos

fatos que levaram à instituição da RMNR, revelam claramente que a

RMNR foi fruto da iniciativa e interesse da empresa Petrobras. Por outro

lado, em que pese aprovação pelos entes sindicais, não era o interesse a

intenção construir o mecanismo de remuneração. Como se não bastasse,

já alertava o SINDIPETRO PR/SC que a fórmula causaria danos aos

trabalhadores que recebiam adicional de periculosidade.

Diante desses informes sindicais da época, diferentemente daqueles

anexados seletivamente com a petição inicial, não há como não se

concluir que a empresa teve ciência dos riscos decorrentes da fórmula da

RMNR que implantou, sobretudo dos trabalhadores em área de risco.

Porém, mesmo ciente assumiu os riscos.

Com isso, como corretamente informado na peça de defesa

apresentada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), subscrita pelo

advogado Normando Rodrigues, o complemento da RMNR antiga e

complexa questão remuneratória na categoria entorno do pagamento do

adicional de periculosidade.

Como se vê, retrata de forma equivocada pela empresa, é do

processo de negociação coletiva.

3. Do controle da legalidade da aplicação da Convenção n. 111 da OIT –

Supralegalidade da proteção contra atos de discriminação – Da

igualdade pela diferença

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Ao contrário do que vem afirmando a suscitante, a interpretação

conferida à cláusula denominada RMNR é única. O que a diferencia é a sua

aplicação. É exatamente no momento de sua aplicação, a partir do

entendimento da suscitante, que a discriminação surge.

A interpretação que fora dada pelo Tribunal Superior do Trabalho à

referida cláusula observa as normas internacionais que vedam toda e

qualquer forma de discriminação.

No constitucionalismo contemporâneo não há espaço para tomada

de decisões maniqueístas, fechadas, do tudo ou nada. Tem como desafio

conciliar o Direito com a Justiça. O objetivo do Estado constitucional é

dotar a constituição material da necessária efetividade normativa. Neste

aspecto há que ser analisado a relação entre o Direito Internacional e o

Direito Interno dos Estados a partir do exame da relação hierárquico-

normativa entre os tratados internacionais e a Constituição.

O Supremo Tribunal Federal pacificou sua jurisprudência no sentido

de que os tratados de direitos humanos incorporam ao ordenamento

jurídico doméstico com caráter supralegal2.

Já está pacificado que as Convenções da OIT detêm eficácia de

direitos humanos3.

A natureza normativa de supralegalidade das Convenções da OIT

impõe ao intérprete que examine a relação hierárquico-normativa entre

os tratados internacionais a lei e a Constituição. Assim, há a necessidade

de se efetuar o controle de legalidade entre o tratado internacional e a lei

2 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe nº 104, divulgado

em 04/06/2009, publicação 05/06/2009, p. 727. 3 LOBATO, Marthius Sávio Cavalcante. O Valor Constitucional para a efetividade dos direitos sociais

do trabalho. LTr: São Paulo, 2006, p.

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ordinária de forma a obter a máxima efetividade da Constituição quando

afirma o caráter supralegal.

O ponto fulcral da tentativa de controvérsia4 ora instalada pela

suscitante é exatamente a relação que se dará entre o Direito

Internacional e o Direito Interno dos Estados a partir do exame da relação

hierárquico-normativa entre os tratados internacionais a lei e a

Constituição.

Como afirma o Ministro Gilmar Mendes,

Não se pode perder de vista que, hoje, vivemos em um “Estado Constitucional Cooperativo”, identificado pelo professor Peter Häberle como aquele que não mais se apresenta como um Estado Constitucional voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como referência para os outros Estados Constitucionais membros de uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos direitos humanos e fundamentais. Para Häberle, ainda que, numa perspectiva internacional, muitas vezes a cooperação entre os Estados ocupe o lugar de mera coordenação e de simples ordenamento para a coexistência pacífica (ou seja, de mera delimitação dos âmbitos das soberanias nacionais), no campo do direito constitucional nacional, tal fenômeno, por si só, pode induzir aos menos a tendências que apontem para um enfraquecimento dos limites entre o interno e o externo, gerando uma concepção que faz prevalecer o direito comunitário sobre o direito interno. Nesse contexto, mesmo conscientes de que os motivos que conduzem à concepção de um Estado Constitucional Cooperativo são complexos, é preciso reconhecer os aspectos sociológico-econômico e ideal-moral como os mais evidentes. E no que se refere ao aspecto ideal-moral, não se pode deixar de considerar a proteção aos direitos humanos como fórmula mais concreta de que dispõe o sistema constitucional, a exigir dos atores da vida sócio-política do Estado uma contribuição positiva para a máxima eficácia das normas das Constituições modernas que protegem a cooperação internacional amistosa como princípio vetor das relações entre os Estados Nacionais e a proteção dos direitos humanos como corolário da própria garantia da dignidade da pessoa humana5

.

4 Falamos em tentativa de controvérsia uma vez que o TST já pacificou a sua interpretação, logo,

solucionou o conflito interpretativo da cláusula denominada RMNR, como já mencionado acima.

Portanto, não há que se falar mais em controvérsia jurisdicional ou interpretativa da cláusula. 5 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe nº 104, divulgado

em 04/06/2009, publicação 05/06/2009, p. 721/722.

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O artigo 1º.1. “a”, da Convenção nº 111 da OIT afirma como direito

fundamental do cidadão, a não discriminação de qualquer espécie

independentemente de qual o fundamento que é utilizado para a sua

aplicação.

Afirma o artigo 1º, “a” da Convenção 111 da OIT:

Art. 1 — 1. Para os fins da presente convenção o termo “discriminação” compreende:

a) Toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenta por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão (destacamos).

b) qualquer outra distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria de emprego ou profissão que poderá ser especificada pelo Membro interessado depois de consultadas as organizações representativas de empregadores e trabalhadores, quando estas existam, e outros organismos adequados. (Destacamos).

Percebe-se, pois que a Convenção nº 111 da OIT impede, logo,

impõe o freio no processo negocial que venha a constituir qualquer

distinção entre emprego.

A suscitante confessa que a cláusula denominada RMNR imposta

por ela no processo negocial como condição de assinatura do Acordo

Coletivo de Trabalho de 2005, tem como escopo “legalizar” a distinção por

ela pretendida.

Nem se diga, como irá fazer os mais incultos, que a Convenção 111

da OIT está voltada tão somente para os atos de discriminação dos

direitos de personalidade como raça, cor, gênero, entre outros. Isto

porque, o seu artigo 1.3, com a intenção de afastar esta interpretação,

afirma, literalmente:

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3. Para os fins da presente convenção as palavras ‘emprego’ e ‘profissão’ incluem o acesso à formação profissional, ao emprego e às diferentes profissões, bem como às condições de emprego. (destacamos)

Como se constata, e não poderia ser diferente, a proteção contra

qualquer ato de distinção/discriminação prevista na Convenção nº 111 da

OIT atinge diretamente a relação e às condições de emprego, além das

previstas para a proteção dos direitos de personalidade.

Portanto, a natureza normativa de supralegalidade da Convenção nº

111 da OIT impõe ao intérprete que examine a relação hierárquico-

normativa entre os tratados internacionais a lei e a Constituição. Assim, há

a necessidade de se efetuar o controle de legalidade entre o tratado

internacional e a lei ordinária de forma a obter a máxima efetividade da

Constituição.

Nesta esteira, retomamos os ensinamentos do Ministro Gilmar

Mendes,

[...] diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na Constituição, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante6. [...] Tendo em vista o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem eficácia paralisada. É o que ocorre, por exemplo, com o art. 652 do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), que reproduz disposição idêntica ao art. 1.287 do Código Civil de 1916. (destacamos).

Em outras palavras a Convenção nº 111 da OIT em seu artigo 1.,

1.1., 1.1.a,1.1.b, e 1.3. têm efeito de revogar toda e qualquer 6 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, p. 733.

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interpretação da cláusula RMNR que tenha como intenção fixar, aplicar a

distinção entre trabalhadores. Frise-se: de qualquer natureza.

Portanto, a interpretação da Cláusula RMNR para a sua aplicação

tem sua eficácia paralisada no tocante a distinção entre trabalhadores, na

medida em que conflita com a Convenção nº 111 da OIT.

Ainda que a suscitante fosse e agisse como a rainha das bondades e

tivesse a “melhor das intenções”, quando impôs como condição de

assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho e sua manutenção por todos

estes anos, ainda assim, a distinção/discriminação que decorre da

interpretação na aplicação da referida cláusula é vedada, logo, ilegal.

A Convenção nº 111 da OIT teve sua adesão, a partir do mecanismo

adotado pelo sistema normativo brasileiro, com a aprovação pelo

Congresso Nacional. Se, em um primeiro momento, como crer fazer crer a

suscitante, a interpretação da Cláusula denominada RMNR pretendeu

permitir a distinção/discriminação entre trabalhadores, certamente

desconsiderou o freio imposto com a aprovação e a adesão pelo Brasil da

Convenção nº 111 da OIT, conferindo a todo o cidadão o pleno exercício

de um direito fundamental que é a proteção contra a

distinção/discriminação.

Não há limite, portanto, para a interpretação de tratado

internacional que protege e efetiva os direitos humanos e fundamentais.

A partir da concepção da máxima efetividade dos direitos humanos e

fundamentais, estes tratados têm “lugar especial reservado no

ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria o mesmo

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que subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção

dos direitos da pessoa humana”.7

Não por outra razão, que no direito comparado exista posição firme no

sentido de que a negação da aplicação dos tratados de direito

internacional de proteção aos direitos humanos é subverter a prevalência

deste tratado à legislação infraconstitucional. O professor Klaus Vogel,

citado pelo Ministro Gilmar Mendes tem posição firme no sentido de que

“prevalece internacionalmente a noção de que as leis que contrariam

tratados internacionais devem ser inconstitucionais e, consequentemente,

nulas”.8

Concordando com este posicionamento, o Ministro Gilmar Mendes

vem a afirmar que “parece evidente que a possibilidade de afastar a

aplicação de normas internacionais por meio de legislação ordinária

(treaty override), inclusive no âmbito estadual e municipal, está defasada

com relação às exigências de cooperação, boa-fé e estabilidade do atual

cenário internacional *...+”9

Afirma, ainda, o eminente Ministro Gilmar Mendes que

O texto constitucional admite a preponderância das normas internacionais sobre normas infraconstitucionais e claramente remete o intérprete para realidades normativas diferenciadas em face da concepção tradicional do direito internacional público. Refiro-me aos arts. 4º, parágrafo único e 5º, parágrafos 2º, 3º e 4º , da Constituição Federal, que sinalizam para uma maior abertura constitucional ao direito internacional e, na visão de alguns, ao direito supranacional. Além desses dispositivos, o entendimento de predomínio dos tratados internacionais em nenhum aspecto conflita com os arts. 2º, 5º, II e § 2º, 49, I, 84, VIII da Constituição Federal.

7 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, p. 727.

8 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, p. 870.

9 RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, p. 870.

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[...] Ora, se o texto constitucional dispõe sobre a criação de normas internacionais e prescinde de sua conversão em espécies normativas internas – na esteira do entendido no RE 71.154/PR, Rel. Min. Oswaldo Trigueiro , Pleno DJ 25.8.1971 – deve o intérprete constitucional inevitavelmente concluir que os tratados internacionais constituem, por sí sós, espécies normativas infraconstitucionais distintas e autônomas, que não se confundem com as normas federais, tais como decreto-legislativo, decretos executivos, medidas provisórias, leis ordinárias ou leis complementares. [...] Na verdade, a equiparação absoluta entre tratados internacionais e leis ordinárias federais procura enquadrar as normas internacionais em atos normativos internos, o que não tem qualquer sustentação na estrutura Constitucional. Constitui ‘solução simplista’ à complexa questão da aplicação das normas internacionais, conforme já apontara o saudoso Min. Philadelfo de Azevedo no julgamento de 11.10.1943 (Apelação Cível nº 7. 872/RS). Como exposto, o tratado internacional não necessita ser aplicado na estrutura de outro normativo interno nem ter status paritário com qualquer deles, pois tem assento próprio na Carta Magna, com requisitos materiais e formais peculiares. Dessa forma, à luz dos atuais elementos de integração e abertura do Estado à cooperação internacional, tutelados no texto constitucional, o entendimento que privilegie a boa-fé e a segurança dos pactos internacionais revela-se mais fiel à Carta Magna10.

Constata-se, portanto que a proteção à não distinção/discriminação

ao caso concreto, sem qualquer restrição quanto a seu exercício, confere

aos trabalhadores o pleno exercício de direito fundamental preservando

sua dignidade humana.

O debate interpretativo que a suscitante quer restabelecer11, sobre

a aplicação da Cláusula denominada RMNR incidindo ou não adicionais de

remuneração, deve ser fixado a partir dos princípios fixados quer pelos

Tratados de Direito Internacional como e principalmente por nossa

10

RE 349.703- 1. Relator para o Acórdão Ministro Gilmar Mendes, p. 870/873. 11

Reafirmamos, por oportuno, que não existe mais debate interpretativo uma vez que a SBDI-1, já

interpretou e formou sua posição, como confessado pelo próprio suscitante.

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Constituição, todo o tratamento remuneratório a ser conferido aos

trabalhadores deve ser desigual quando a igualdade descaracterize.

O tratamento remuneratório dos trabalhadores deve ser desigual

quando a igualdade descaracterize.

Essa é a premissa ética e jurídica, com preciso amparo na

Constituição, que orientou as entidades sindicais e empregados a

defenderem, por exemplo, nas demandas judiciais o não cômputo do

adicional de periculosidade e demais adicionais de regime - adicional

noturno, adicional de hora repouso e alimentação, adicional de sobreaviso

no cálculo do Complemento da RMNR, como condição para não

descaracterizar o tratamento salarial diferenciado assegurado pela

Constituição.

A isonomia remuneratória, tal como promovida pelo Complemento

da RMNR, elimina a especificidade do trabalho em condição de risco ou

regime, cujo tratamento constitucional exige diferenciação por meio de

adicionais de remuneração.

Não há isonomia pelo tratamento salarial equivalente entre um

trabalhador de uma refinaria de petróleo, notoriamente em área de alto

risco, que justifica o direito ao adicional de periculosidade ou exposto a

condições penosas como é o trabalho em turno ininterrupto de

revezamento e; outro em área administrativa da empresa, não sujeito a

risco, pelo simples fato de que as condições de trabalho são distintas.

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Contudo, toda a prática de cálculo do Complemento da RMNR pela

Petrobras, acaba por esvaziar a garantia de remuneração diferenciada,

como se vê simples e ilustrativa tabela abaixo:

Valor da RMNR Salário básico Adic. Periculosidade RMNR Salário recebido

R$ 3.500,00 R$ 2.000,00 R$ 600,00 R$ 900,00 R$ 3.500,00

R$ 3.500,00 R$ 2.000,00 R$ R$ 1.500,00 R$ 3.500,00

Diferentemente da narração da suscitante, as ações judiciais, a

exemplo de uma das ações propostas pelo ora suscitado (autos 01186-

2011-654-09-00-7O) procura demonstrar é que o mecanismo da RMNR,

tal como praticado, na prática paga de forma complessiva o adicional de

periculosidade e regime e, com isso, o tratamento salarial uniforme

acabou por descaracterizar o pagamento diferenciado de salários para

trabalhadores em áreas de risco.

Os fundamentos jurídicos, nesse caso, a rigor estão na Constituição

(art. 7º, IX, XXIII) na CLT (art. 193, § 1º, da CLT) e na lei do regime de

trabalho dos trabalhadores petroleiros (art. 3º, II e 5º da Lei 5.811/72),

cujos dispositivos não autorizam seja esvaziado o direito ao adicional.

A gratificação ajustada do Complemento da RMNR é política salarial

negociada com os sindicatos para garantir isonomia salarial regional.

Contudo, o conteúdo da isonomia na relação de trabalho não se restringe

a forma do mero salário igual. A igualdade salarial, expressão do princípio

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da igualdade e fundamento da democracia constitucional é bem traduzida

na Constituição brasileira na “proibição de diferença de salários” e na

vedação de “qualquer forma de discriminação” (art. 7º, XXX e XXXI), que

visa apenas prevenir distorções e privilégios. Mas a igualdade material ou

substancial, própria às exigências do Direito do Trabalho, confere no

próprio ordenamento jurídico, em algumas situações, tratamento

diferenciado justamente para promover a igualdade niveladora,

aproximando à ideia de justiça redistributiva, superando as limitações da

mera igualdade formal perante a lei.

Por essas premissas fundamentais da cidadania moderna,

encampadas pela nossa ordem jurídica, por previsão constitucional e

infraconstitucional, é que se deve garantir, por exemplo, ao trabalhador

sujeito à atividade perigosa tratamento salarial diferenciado. Idêntica é a

situação do trabalhador em regime de trabalho de turno de revezamento

ou em especial condição de confinamento. Qualquer interpretação que se

afaste dessa diretriz, não está em conformidade com a Constituição.

Com efeito, no caso da RMNR, para garantir a isonomia há que

observar o tratamento diferenciado. Nesse sentido, a interpretação estrita

da norma coletiva não pode negar eficácia, "por sinuosa via", a todos os

direitos oriundos de condições especiais de trabalho assegurados em

norma de hierarquia superior.

Nota-se, portanto, a inconsistência de base da suscitante ao

confundir isonomia e diferença de tratamento salarial.

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3. Limites da interpretação da cláusula convencional da RMNR

O equívoco de base da tese da empresa é sua tentativa de impor, a

pretexto de fazer cumprir o acordado em negociação coletiva, suposto

significado próprio do texto da cláusula do ACT que trata do complemento

da RMNR.

Contudo, interpretar não é o mesmo que aplicar a norma coletiva.

É incontornável alguma digressão sobre a inadequada concepção de

interpretação e aplicação do direito, a fim de que não se extraia

conclusões incoerentes com o nosso modelo jurídico.

Preso a concepção dogmática formalista do século XIX e XX, de que

a atividade judiciária é de dizer o sentido próprio da lei – e por

decorrência das normas coletivas – a empresa conduz todos os seus

argumentos pela falsa ideia de que o judiciário trabalhista, no caso o

Tribunal Superior do Trabalho, deve se sujeitar um significado

previamente determinado da cláusula coletiva. E, nessa linha, caberia a

Corte apenas explicitá-lo.

A interpretação pela atividade judiciária normativa, não tem

qualquer vinculação à vontade das partes, senão a intepretação conforme

o sistema jurídico, sobretudo conforme a Constituição.

Nessa linha, a atividade jurisdicional do TST, em inúmeros

precedentes conhecidos, embora reconheça a valorização dos

instrumentos normativos, tem anulado cláusulas de Acordos e

Convenções Coletivas de Trabalho quando infringentes à lei.

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No caso da decisão da SDI-1, do TST, é atacada pela empresa, houve

interpretação. O fez a SDI-1 foi apenas aplicar o Acordo Coletivo e não

interpretá-lo.

4. Quebra do princípio da boa-fé das negociações coletivas – litigância de

má-fé da suscitante – Da alteração da realidade fática para induzir a erro

o TST

Conforme demonstrado acima, ao contrário do que afirmou a

empresa em sua inicial, a cláusula denomina RMNR não foi fruto de uma

pauta de reivindicação dos trabalhadores. Quem apresentou esta

cláusula, já devidamente redigida, foi a empresa.

Não possibilitou ampla de negociação e, implícito estava que, ao

não aceitar as condições como posta, não se assinaria o Acordo Coletivo

de Trabalho.

Ressalte-se, por oportuno que em 2007, ainda imperava a posição

da antiga redação da Súmula nº 277 em que as condições negociadas

tinham sua eficácia e validade jurídica somente no período de sua

vigência.

Portanto, a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho e a

manutenção de todas as suas cláusulas normativas e obrigacionais estava

condicionado a aceitação de se inserir a Cláusula denominada RMNR.

Frisamos novamente: esta cláusula foi redigida e proposta de forma

unilateral pela empresa como condição para assinatura do Acordo

Coletivo de Trabalho de 2007.

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Ou seja, a empresa, mesmo tendo possibilidade de estabelecer um

processo negocial aberto e transparente, preferiu, para proteger os seus,

impor uma cláusula, demonstrando seu autoritarismo.

5. Violação das Convenções n. 98 E 111 da OIT e arts. 113, 187 e 422 do

Código Civil

A Constituição da República do Brasil de 1988 conferiu maior relevo

ao processo de negociação coletiva. Reconheceu, como fonte de direito, o

processo negocial. Fixou como premissa para as garantias constitucionais

a boa-fé e a transparência nas relações entre o capital e o trabalho, a

partir do processo negocial.

A concepção do Estado Democrático de Direito conferido pela

CRB/88, em seu artigo 1º, reconhece a legitimidade das disputas entre o

capital e o trabalho. Por esta razão, reconheceu, no seu artigo 7º, XXVI,

como eficácia constitucional, os Acordos e Convenções Coletivas de

Trabalho. Este reconhecimento está umbilicalmente vinculado a abertura

do diálogo entre os oponentes. Por esta razão é que ocorreu o

reconhecimento, no artigo 8º, da liberdade e autonomia sindical.

A CRB/88 rompeu com o velho e ultrapassado modelo de relação de

trabalho, qual seja: da soberba, autoritarismo e o imperialismo por parte

do capital. Os empresários mais modernos têm o conhecimento e

sabedoria, que em um país democrático, os conflitos somente poderão ser

solucionados mediante o diálogo, aonde as ideias opostas podem acabar

por refletir um “consenso”. Consenso obtido pelo diálogo, respeito mútuo

e acima de tudo, pela boa-fé no processo negocial.

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Somente o atraso, a revolta ou mesmo a soberba, assim como os

velhos preconceitos, resistem ao ambiente democrático, colocando em

xeque o processo de negociação coletiva para impor concepções

unilaterais, a partir de posições únicas, sem ouvir o outro ou mesmo

reconhecê-lo como sujeito de direito. Ou seja, é a imposição de um

pensamento.

Esta é exatamente a situação apresentada pela suscitada.

Conforme ficou devidamente comprovado através dos documentos

anexados, a empresa impôs, após unilateralmente criar a sua “alternativa”

para solucionar um conflito existente desde os anos 60, uma cláusula por

ela redigida sem possibilitar qualquer forma de negociação.

Para o trabalhador foi o maniqueísmo imposto pelo pensando

gerencial da empresa: tudo ou nada. Ou aceitava a cláusula da forma

como fora imposta ou retiravam todos os direitos do Acordo Coletivo de

Trabalho na medida em que não o assinaria.

Negou, em razão da sua soberba, o debate com a representação

dos trabalhadores. Negou a ouvir, inclusive as advertências da

discriminação. Desprezou as análises jurídicas das entidades sindicais

como se as mesmas não existissem.

Tanto isso é verdade que a suscitante em um primeiro momento

apostou em sua forma de aplicação que fez a disputa jurisdicional com os

trabalhadores. Enquanto saia vitoriosa, afirmava em alto e bom tom, a

incapacidade dos trabalhadores de entender, interpretar e aplicar uma

cláusula normativa.

A soberba é o pecado dos homens!!

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O Estado Democrático de Direito exige o respeito e a atuação

transparente em um processo de negociação coletiva. Os trabalhadores

não querem concessão. Os trabalhadores querem os seus direitos. Direitos

reconhecidos pela sua capacidade de produção. Reconhecem e cumprem

o que foi por eles negociado. Mas não podem ser subservientes ou mesmo

coniventes, com atos discriminatórios.

A posição unilateral da empresa de impor uma cláusula fazendo

verdadeira chantagem negocial, não pode impedir que a mesma seja

objeto de análise jurisdicional se a sua aplicação gera discriminação.

Mauricio Godinho Delgado nos ensina que a negociação coletiva

transcende o próprio Direito do Trabalho na medida em que a

“experiência histórica dos principais países ocidentais demonstrou, desde

o século XIX, que uma diversificada e atuante dinâmica de negociação

coletiva no cenário das relações laborativas sempre influenciou,

positivamente, a estruturação mais democrática do conjunto social”12.

E continua o mestre para afirmar que

Ao revés, as experiências autoritárias mais proeminentes detectadas caracterizam-se por um Direito do Trabalho pouco permeável à atuação dos sindicatos obreiros e à negociação coletiva trabalhista, fixando-se na matriz exclusiva ou essencialmente heterônoma de regulação das relações de trabalho13. (destacamos)

A restrito espaço de negociação da cláusula da RMNR se deu porque

a empresa, sem reconhecer amplamente a representação sindical, visou

ocultar sua intenção era a proteger segmentos internos.

12

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 10ª Ed. São Paulo: LTr, 2011, p.

1303. 13

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 10ª Ed. São Paulo: LTr, 2011, p.

1303

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Como um direito fundamental do trabalhador, as negociações

coletivas, assim como a própria contratação coletiva, não podem ficar

adstritas a simples interesses pessoais do empregador. Tratando-se de

direito fundamental institucional do trabalhador, para utilizar a expressão

de Jorge Miranda, não pode o empregador transformar este direito

fundamental em interesses privados, descumprindo com todo o

procedimento estabelecido pelas partes para, ao final, impor o seu

interesse.

É por esta razão que para a efetivação das relações coletivas de

trabalho os princípios fundamentais dos trabalhadores devem ser

fielmente preservados e observados. Em especial, o da boa-fé, que muito

embora não seja muito citado pela doutrina, ganha relevo na mesma

proporção que as negociações coletivas.

A relação coletiva de trabalho oriunda da celebração de acordos ou

convenções coletivas está no campo da bilateralidade contratual que,

muito embora venham a constituir norma de conduta atingindo terceiros,

estabelecem direitos e obrigações que as partes, empregador e

empregados, deverão cumprir no curso de sua vigência.

Não se pode aqui confundir o princípio da boa-fé com a lealdade

contratual que impera no direito do trabalho. O primeiro é um

pressuposto para a celebração contratual, enquanto o segundo é o

elemento de continuidade da relação contratual.

Como nos ensina Antonio Bonival Camargo,

A boa-fé anima toda a vida contratual, desde o ingresso do trabalhador na empresa, até o último passo de sua vida contratual. Seria ilusório, temerário e sem nenhum suporte nos fatos da vida pensar alguém que as leis bastam por si mesmas para reger a vida do trabalhador. São ela o

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minimis minimorum, tudo o mais vem pela observância dos princípios, dos costumes, da boa vontade das partes pela assunção e aplicação dos princípios, daí sua flagrante e dinâmica importância. Assim, a boa-fé anima o nascimento, vida e morte do contrato. Não se pode pois ao reverso, é obrigação jurídica e dever moral. Se as pessoas não quiserem obedecer às leis, elas se transformam num cenário seco e inútil, visto que seu poder de fogo, poder cogente, é demorado, lento, impreciso e suscetível a entraves mil. Eis onde clamam a necessidade e a dinamicidade dos princípios, que levam as partes a ser honestas umas com as outras, pelos ditames subjetivos da boa-fé lealdade, absolutamente imprescindível para o nascimento, vida e morte do contrato. A boa-fé, que bem compreendida, é o princípio que transforma as agruras do contrato num jogo suave e leve.

14

Nas relações coletivas de trabalho o princípio da boa-fé deve estar

presente na medida em que se as partes negociantes irão estabelecer

normas de conduta que irão atingir a terceiros – empregador e

empregados – as condições pactuadas ou mesmo prometidas deverão ser

aplicadas incondicionalmente sob pena de desvirtuar o princípio da boa-

fé.

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Moreira Alves,

comentando o princípio da boa-fé objetiva em suas aulas nos ensinava

que a:

distinção entre conceito psicológico e conceito ético de boa-fé, como foi colocada no século passado, está hodiernamente superada. Essa contraposição não se confunde com a existente – e que é amplamente preponderante na doutrina moderna – entre boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva, pois aquela contraposição se circunscreve ao terreno boa-fé subjetiva. A boa-fé subjetiva, que se apresenta como fato psicológico, em que se levam em conta valores éticos – e esse valor ético se revela mais claramente nela -, atua predominantemente no campo das relações reais e possessórias.(...)É portanto, algo exterior ao sujeito. Neste caso, cabe ao juiz, em face dessa diretriz normativa, verificar se a boa-fé em sentido objetivo ocorre, ou não, nas relações em que ela atua. È notar-se, porém, que a boa-fé subjetiva não se exaure como fato psicológico, porquanto nela também, como convicção de não ofender direito alheio, ou como

14

Antonio Bonival Camargo, Princípios e Ideologias aplicados na relação de emprego, 1ª edição,

Edipro – Edições Profissionais Ltda, p. 287.

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ignorância dessa ofensa, se levam em consideração os valores morais da honestidade e da retidão; e, de outra parte, por vezes, a boa-fé objetiva se vincula a um elemento psicológico, como sucede – e o exemplo é de MENGONI – na fase de formação do contrato, em que a boa-fé implica o dever de comunicar à outra parte as causas de invalidade do contrato ou os defeitos da coisa seu objeto, não deixando de haver boa-fé na falta dessa comunicação decorrente da ignorância de um desses fatos ou de outro. É de se observar que o significado da boa-fé não é sempre o mesmo, embora ela tome, em geral no sentido objetivo (a boa-fé objetiva, que atua para, às vezes, ampliar o conteúdo negocial, e, outras vezes, para reduzi-lo, por se traduzir, nesse terreno, como critério de reciprocidade). Assim, ora aparece – e quem o salienta é BETTI – como lealdade no tratar (falando claramente, sem reticiências enganosas) quando da conclusão do contrato ou como correção de atitude no contrato concluído (correção essa que se caracteriza pelo respeito ao interesse do outro contratante), ora se apresenta como critério de interpretação pelo qual deve ser interpretado o contrato, ou como critério de conduta pelo qual devem ser cumpridas as obrigações dele decorrentes.15

No campo das relações coletivas de trabalho, presente se encontra,

sempre, o critério de reciprocidade, lealdade no tratar (princípios

aplicados também nas relações individuais de trabalho e como

consequência para a continuidade da relação de emprego), bem como o

critério de interpretação16 e de conduta. Estes últimos como elementos

objetivos que devem nortear toda a relação coletiva, desde o período

negocial – pré-contratual – até a sua real execução.

A Organização Internacional do Trabalho – OIT, em que o Brasil é

Estado Membro, editou a Convenção nº 98 para fomentar o processo de

negociação coletiva e impedir os atos de império do capital frente ao

trabalho.

15

Moreira Alves, in mimeo, A Boa-Fé Objetiva no Sistema Contratual Brasileiro. 16

Neste ponto, pode-se entender como critério de interpretação a ser aplicado no direito individual de

trabalho, o princípio da primazia da realidade, bem como os princípios constitucionais que figuram entre

os direitos fundamentais dos trabalhadores, em especial, o da preservação da dignidade humana.

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O Brasil ratificou a Convenção nº 98 da OIT. Esta, por sua vez,

impõe o dever do Estado, quando ratificada, de proceder de maneira

transparente e de boa-fé nas negociações coletivas.

Afirma a Convenção nº 98 da OIT que :

Art. 4º. Medidas apropriadas às condições nacionais serão tomadas, se necessário, para estimular e promover o pleno desenvolvimento e utilização de mecanismos de negociação voluntária entre empregadores ou organizações de empregadores e organizações de trabalhadores, com o objetivo de regular, mediante acordos coletivos, termos e condições de emprego.

Portanto, a Convenção nº 98 da Organização Internacional do

Trabalho - OIT estabelece os princípios que devem ser seguidos nas

negociações coletivas de trabalho. Dispõe sobre mecanismos de proteção

contra atos de ingerência nas organizações sindicais como forma de se

obter a real independência. Determina, em seu artigo 4º, que sejam

adotadas medidas que estimulem e fomentem o pleno desenvolvimento e

o uso de procedimentos de negociação voluntária entre organizações

sindicais, com o objetivo de regulamentar por meio de contratos coletivos

as condições de emprego.

Ao fomentar a negociação coletiva pode-se dizer que a OIT

estabelece entre os seus princípios a boa-fé, posto que, o estabelecimento

de proteção contra atos de ingerência impõe às partes, a plena autonomia

e consequentemente a boa-fé nas relações coletivas.

A quebra da boa-fé na negociação coletiva, como ocorreu na

situação presente, configura conduta anti-sindical. Para Oscar Ermida

Uriarte, atos anti-sindicais são definidos como:

aqueles que prejudiquem indevidamente um titular de direitos sindicais no exercício da atividade sindical ou por causa desta ou aqueles atos mediante os quais lhe são negadas, injustificadamente, as facilidades ou

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prerrogativas necessárias ao normal desempenho da ação coletiva17

Fica devidamente caracterizado a conduta anti-sindical da

suscitante ao impor uma proposta de cláusula normativa e sua litigância

de má-fé, ao descontextualizar os fatos ocorridos para induzir o Tribunal

Superior do Trabalho a erro, afirmando que os trabalhadores negociaram

uma cláusula que, sabidamente, foi imposta.

De outro lado, o deficiente processo de negociação efetuada pela

suscitante aponta à violação da Convenção nº 111 da OIT. Isto porque,

ficou evidenciado que o procedimento adotado pela empresa o foi com

nítido caráter discriminatório das relações sindicais, pelo simples fato de a

suscitada não se sujeitar aos caprichos patronais.

Está demonstrada a discriminação política violadora, em afronta

literal ao disposto no artigo 1º, “a”, da Convenção nº 111 da OIT, que

afirma verbis:

1. Para os fins da presente convenção, o termo "discriminação"

compreende: a) Toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenta por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão;

O processo de negociação coletiva deficiente, tal como entabulado

pela empresa, viola violação diretamente as normas supralegais e legais

acima citadas, bem como a Constituição da República de 1988.

17

ERMIDA URIARTE, Oscar. A proteção contra os atos anti-sindicais. São Paulo: LTr, 1989, p. 10.

Trad. Irany Ferrari, p. 35.

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6. Expedição de Ofício à Organização Internacional do Trabalho (OIT) para

processar e julgar ato anti-sindical praticado pela empresa em violação da

Convenção n. 87, 98 e 111 pelo governo brasileiro

Comprovada a quebra da boa-fé na negociação coletiva, está

comprovado a violação às Convenções nº 87, 98 e 111 da OIT tendo em

vista a prática anti-sindical praticada pela empresa.

Uma vez que o Governo brasileiro ratificou as Convenções 98 e 111

da OIT e por ser Estado –membro tem a obrigação de cumprir os

princípios da Convenção nº 87, mesmo não tendo sido ratificado, as

práticas adotadas por suas empresas públicas o responsabilizam

diretamente.

Requer, assim, seja determinada a remessa de cópia dos autos para

a Organização Internacional do Trabalho, no escritório em Brasília, para

que seja encaminhado para o Comitê de Liberdade Sindical para que

julgue a prática anti-sindical adotada pela empresa, aplicando a punição

que entender cabível ao governo brasileiro, nos termos das normas

internacionais.

7. Da segurança jurídica como princípio constitucional

O respeito à constituição, neste caso, vai além dos interesses

financeiros da suscitante. As decisões já preferidas com interpretação da

cláusula denominada RMNR pelo Poder Judiciário em todas as instâncias e

jurisdições do país, tendo sido consolidada pela Subseção 1, do TST, como

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reconhecido pela suscitante devem ser olhadas e preservadas, sob pena

de se violar o próprio princípio constitucional da eficiência.

E mais. O respeito à constituição é, fundamentalmente o respeito

à dignidade da pessoa humana.

A segurança jurídica deve ser observada tanto para a

administração pública como para com os suscitados. Para a administração

pública posto que, caso seja reinterpretada a cláusula da RMNR se

potencializará a discriminação uma vez que já há milhares de processos

em dissídios individuais e em substituição processual transitado em

julgado. Logo, será criado segmentos de trabalhadores vencedores e

derrotados. Os vencedores decorrentes da interpretação formulada pelo

Tribunal Superior do Trabalho a partir de uma posição e decisão da

suscitante em confiar na sua forma de aplicar a cláusula. Em outras

palavras, preferiu a empresa, não sabe qual o motivo, apostar nos

dissídios individuais. Ora, porque não fez o Dissídio de Natureza Jurídica

no início? Porque esperou ver sua tese derrotada? A suscitante confessa

em sua inicial que no início o TST tinha posição favorável à empresa, logo,

nenhuma medida quis adotar para ter uma interpretação para a aplicação

definitiva por meio do poder judiciário.

Por esta razão que, como postulado do Estado Democrático de

Direito, temos o princípio da Segurança Jurídica que deverá ser observado

em todos os seus termos. Para Gilmar Mendes,

A revisão radical de determinados modelos jurídicos ou a adoção de novos sistemas ou modelos suscita indagações relevantes no contexto da segurança jurídica. A ideia de segurança jurídica torna imperativa a adoção de cláusulas de transição nos casos de mudança radical de um dado instituto ou estatuo jurídico.

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Daí por que se considera, em muitos sistemas jurídicos, que, em casos de mudança de regime jurídico, a não adoção de cláusulas de transição poderá configurar omissão legislativa inconstitucional grave. Assim, ainda que se não possa invocar a ideia de direito adquirido para a proteção das chamadas situações estatutárias ou que se não possa reivindicar direito adquirido a um instituto jurídico, não pode o legislador ou o Poder Público em geral, sem ferir o princípio da segurança jurídica, fazer tabula rasa das situações jurídicas consolidadas ao longo do tempo. Situações ou posições consolidadas podem assentar-se até mesmo em um

quadro inicial de ilicitude.

Nesse contexto assume relevância o debate sobre a anulação de atos administrativos, em decorrência de sua eventual ilicitude. Igualmente relevante se afigura a controvérsia sobre a legitimidade ou não da revogação de certos atos da Administração após decorrido determinado prazo. Em geral, associam-se aqui elementos de variada ordem ligados à boa-fé

da pessoa afetada pela medida, a confiança depositada na inalterabilidade

da situação e o decurso de tempo razoável18.

Mais de uma vez, o Supremo Tribunal Federal tem entendido que

a segurança jurídica é um princípio que deva ser preservado para garantir

às partes a devida igualdade de tratamento.

No julgamento do MS nº 22.357, da relatoria do Ministro Gilmar

Mendes19, em que se discutia a demissão de trabalhadores admitidos sem

concurso público, em 1990, logo, após a constituição de 1988, na Empresa

Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO, consignou em seu

voto:

[...] Na hipótese, a matéria evoca, inevitavelmente, o princípio da segurança jurídica. A propósito do direito comparado, vale a pena trazer à colação clássico estudo de Almiro do Couto e Silva sobre a aplicação do aludido princípio:

18

Curso de Direito Constitucional. Editora Saraiva: São Paulo, p. 473. 19

Publicado no DJ de 05.11.2004.

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‘É interessante seguir os passos dessa evolução. O ponto inicial da trajetória está na opinião amplamente divulgada na literatura jurídica de expressão alemã do início do século de que, embora inexistente, na órbita da Administração Pública, o princípio da res judicata, a faculdade que tem o Poder Público de anular seus próprios atos tem limite não apenas nos direitos subjetivos regularmente gerados, mas também no interesse a proteger a boa fé e a confiança (Treue und Glauden) dos administrados. (...) Esclarecer Otto Bachof que nenhum outro tema despertou maior interesse do que este, nos anos 50 na doutrina e na jurisprudência, para concluir que o princípio da possibilidade de anulamento foi substituído pelo da impossibilidade de anulamento, em homenagem à boa fé e à segurança jurídica. Informa ainda que a prevalência do princípio da legalidade sobre a proteção da confiança só se dá quando a vantagem é obtida pelo destinatário por meios ilícitos por ele utilizados, com culpa sua, ou resulta de procedimento que gera sua responsabilidade. Nesses casos não se pode falar em proteção à confiança do favorecido. (verfassungsrecht, verqalttungsrecht,Verfahrensrecht in der Rechtssprechung dês Bundesverwaltungsgerichts, Tübingen 1966, 3.Auflage, Vol. I, p.257 e segs.; vol. II, 1967, p. 339 e segs). Embora do confronto entre os princípios da legalidade da Administração Pública e o da Segurança Jurídica resulte que, fora dos casos de dolo, culpa, etc., o anulamento com eficácia ex tunc é sempre inaceitável e o com eficácia ex nunc é admitido quando predominante o interesse público no restabelecimento da ordem jurídica ferida, é absolutamente defeso o anulamento quando se trate de atos administrativos que concedam prestações em dinheiro, que se exauram de uma só vez ou que apresentem caráter duradouro, como os de índole social, subvenções, pensões ou proventos de aposentadoria’. [...] Em verdade, a segurança jurídica, como subprincípio do Estado de Direito, assume valor impar ao sistema jurídico, cabendo-lhe o papel diferenciado na realização da própria idéia de justiça material. [...] Dessa forma, meu voto é no sentido do deferimento da ordem, tendo em vista as específicas e excepcionais circunstâncias do caso em exame. E aqui considero, sobretudo: a boa-fé dos impetrantes; a existência de processo seletivo rigoroso e a contratação conforme o regulamento da Infraero; a existência de controvérsia, à época da contratação, quanto à exigência de concurso público, nos moldes do art. 37,II da Constituição, no âmbito das empresas publicas e sociedade de economia mista; o fato de que houve dúvida quanto à correta interpretação do art. 37, II, em face do art. 173, § 1º, no âmbito do próprio TCU; o longo período de tempo transcorrido das

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contratações e a necessidade de garantir segurança jurídica a pessoas que agiram de boa-fé. Assim, meu voto é no sentido da concessão da segurança para afastar (1) a ressalva do Acórdão nº 110/93, Processo TC nº 016.629/92-2, publicado em 03.11.1990 (proferida no Processo TC nº 006.658/89-0) e, (2) em conseqüência, a alegada nulidade das referidas contratações dos impetrantes.

No mesmo sentido, garantindo a segurança jurídica, que pode ser

utilizado ao caso presente, encontramos os seguintes julgados do STF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: PROVIMENTO DERIVADO: INCONSTITUCIONALIDADE: EFEITO EX NUNC. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. I. - A Constituição de 1988 instituiu o concurso público como forma de acesso aos cargos públicos. CF, art. 37, II. Pedido de desconstituição de ato administrativo que deferiu, mediante concurso interno, a progressão de servidores públicos. Acontece que, à época dos fatos 1987 a 1992 , o entendimento a respeito do tema não era pacífico, certo que, apenas em 17.02.1993, é que o Supremo Tribunal Federal suspendeu, com efeito ex nunc, a eficácia do art. 8º, III; art. 10, parágrafo único; art. 13, § 4º; art. 17 e art. 33, IV, da Lei 8.112, de 1990, dispositivos esses que foram declarados inconstitucionais em 27.8.1998: ADI 837/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, "DJ" de 25.6.1999. II. - Os princípios da boa-fé e da segurança jurídica autorizam a adoção do efeito ex nunc para a decisão que decreta a inconstitucionalidade. Ademais, os prejuízos que adviriam para a Administração seriam maiores que eventuais vantagens do desfazimento dos atos administrativos. III. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal. IV. - RE conhecido, mas não provido20.(destacamos)

Em caso análogo, o TRF da 1ª Região ao julgar Ação Civil Pública

em desfavor da Caixa Econômica Federal que tinha como pedido a

nulidade das nomeações de advogado e, consequentemente, o retorno do

cargo efetivo, assim considerou:

IX – Mérito – Segurança das Relações Jurídicas:

20

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 442.683, RELATOR MINISTRO CARLOS VELLOSO,

publicado no DJ de 24.03.2006. (Documento de inteiro teor anexado com a defesa).

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Ocorre que a legalidade, como imposição do Estado de Direito que ensina o dever de respeito estrito às normas do Ordenamento Jurídico não é o único valor que a Constituição persegue. Já no preâmbulo a Constituição sinaliza como um dos valores a segurança jurídica: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. - GRIFEI E no art. 5º, caput, como direito fundamental garante: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: - GRIFEI A segurança jurídica é um valor que está na raiz do Ordenamento, ainda mais naqueles que, como o nosso, escolheram a lei escrita como fonte formal primária do Direito. Com efeito a opção por lei escrita ao invés de direito puramente costumeiro encerra em si uma escolha pela maior previsibilidade das condutas e seus efeitos, ou seja, uma escolha pela segurança jurídica e tranquilidade dela derivada. No Ordenamento também se colhem regras de prescrição e decadência, que não são uma punição aos que dormem (sic – dormientibus non sucurrit jus), como absurdamente declaram até importantes obras jurídicas. Não, horrendo e bárbaro seria um Direito que punisse alguém por dormir (sic). Na verdade as regras de prescrição e decadência assinalam apenas um momento no tempo em que o legislador acredita que o cumprimento estrito da lei gerará injustiça, a situação de fato já se consolidou e por isso é melhor que seja mantida, daí, não pelo sono do titular de direito ou interesse, é que se afasta a lei para dar prevalência à segurança das relações jurídicas. Mas não é necessário que exista sempre uma regra de prescrição ou decadência específica, podendo perfeitamente se verificar a ofensa à segurança das relações jurídicas nas peculiaridades de um caso concreto. Assim é feito atualmente até mesmo no vício de inconstitucionalidade abstrata de leis, pois a norma de procedimento das ADIN´s autoriza expressamente o Supremo a dar efeito não retroativo a suas declarações de inconstitucionalidade (Lei 9868/99): Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de

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seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. O fato é que se as normas existem para gerar a paz e a ordem, não podem essas mesmas normas serem usadas ou aplicadas para gerar o efeito oposto, pena de estarem traindo sua razão de existir. Colocada esta moldura, cabe perguntar, a pretensão aqui buscada, apesar de estar plenamente dentro do que possibilita o art. 37, II, da Constituição, conflita com o princípio maior da segurança das relações jurídicas? E este deve prevalecer no caso concreto?

A resposta é SIM para ambas as questões. Os Réus ingressaram no emprego público que muitos deles até hoje exercem há 16 anos passados. Eles construíram uma vida em cima desse emprego, muitos quem sabe até já não se aposentaram, dado o tempo anterior que tinham de serviço, por vezes na própria CEF.

Foram anos de salários recebidos e atos praticados. Foi, como já dito, uma vida ou, considerando que o exercício profissional total de uma pessoa até sua aposentadoria voluntária gira em torno de 30 anos, pode-se dizer que ao menos meia vida (sic) ou metade de todo tempo de trabalho dessas pessoas já foi vivido na situação que aqui se quer nulificar. Dezesseis anos da vida dessas pessoas desaparecerão, como se tivessem vivido uma mentira, como se tivessem enganando a todos por todo este tempo, ao exercerem atribuições que não lhes cabiam. Isto é aviltante e fere até a dignidade da pessoa humana, outro valor severamente protegido pela Constituição. Considere-se também sob o prisma prático que não há a mínima hipótese de um julgamento deste tipo e com tão severas consequências ser executado de imediato. Haveria embargos de declaração e recursos diversos, se não houver unanimidade também surgem os embargos infringentes e mais os recursos especiais e extraordinários, nos quais, diante da magnitude de ameaça de lesão a direitos conquistados há quase duas décadas, grande é a probabilidade de obtenção de liminares para atribuição do efeito suspensivo que normalmente não tem. Enfim, na hipótese mais otimista para quem quisesse executar um julgado que viesse a manter a sentença, passariam-se mais 10 anos, no mínimo, o que só viria a aumentar o dano à segurança das relações jurídicas. Isto não é aceitável, pois não é justo e direito sem justiça não passa de forma vazia, casca sem conteúdo, instrumento de dominação e força ao invés de ser instrumento de paz, ordem e realização pessoal e social. O MPF agiu bem em questionar a contratação, porém nós do Judiciário falhamos no princípio da eficiência e o julgamento ganhou quase DUAS DÉCADAS de distância em relação ao tempo das condutas que mereciam correção.

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Corrigir a situação agora, observando estrita legalidade, implica em suma injustiça, implica em reescrever a vida de uma infinidade de pessoas, Réus neste processo, os quais nem sequer tiveram qualquer culpa no ocorrido, pois não há uma linha deste feito que sinalize sua má-fé Ao contrário, o cenário da época era de incerteza sobre a melhor interpretação das normas jurídicas e aí sim até se pode dizer que órgãos públicos, incluindo Tribunais, praticaram o mesmo tipo de erro. Ora, é correto dizer que isto não torna lícito o que era ilícito, porém, também é correto dizer que diante das incertezas e da prática de atos análogos em órgãos públicos sérios e respeitados, os Réus tinham todas as razões para acreditar que estavam agindo bem. Ao participar do exame de seleção não estavam buscando lesar ninguém, mas apenas tentavam crescer profissionalmente e pessoalmente. Agora, sua confiança na Administração (empresa pública) seria simplesmente jogada fora, declarando-se que eles foram iludidos, a contratação foi uma farsa e 16 anos de suas vidas profissionais devem ser apagados. Eles devem recomeçar do zero em algum outro emprego, apesar de suas idades atuais. De modo algum, não sinto a mínima fração de justiça em tal solução, pelo que pondero que no caso concreto o princípio da segurança das relações jurídicas deve ser colocado acima do princípio da legalidade para, EXCEPCIONALMENTE, manter a validade das contratações que nós mesmos, Judiciário, falhamos em corrigir no tempo oportuno. Nestes termos, e considerando desnecessário a menção a outros argumentos usados pelas partes, pois todas as questões ficam respondidas pelo que disse acima, VOTO pelo provimento das apelações, dando por improcedentes os pedidos feitos na inicial pelo MPF.

Mutatis Mutandis, o princípio da segurança jurídica deve ser

preservado em sua integralidade. Sendo assim, deve a presente ação ser

julgada improcedente para que se possa dar efetividade ao princípio da

segurança jurídica constitucionalmente consagrado uma vez que o próprio

Tribunal Superior do Trabalho já pacificou seu entendimento por todos os

seus Ministros.

Logo, permitir a revisão do julgamento como uma espécie de turma

recursal é ferir de morte a segurança jurídica e desqualificar as decisões

até então proferidas pelo Tribunal Superior do Trabalho.

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8. Da modulação dos efeitos da decisão que vier a ser proferida pela SDC

ou pelo pleno deste augusto tribunal superior do trabalho - Da aplicação

subsidiária do artigo 27 da lei 9868/99

O constitucionalismo contemporâneo tem como desafio conciliar o

direito com a justiça21. O objetivo do Estado constitucional é dotar a

constituição material da necessária efetividade normativa. O exercício

pleno da autonomia privada como corolário do exercício democrático

depende de fatores materiais (preservação da dignidade humana,

cidadania e garantia dos direitos fundamentais individuais e institucionais)

sem as quais não haverá a possibilidade da inclusão social. A

impossibilidade desta atuação gera como consequência a crise de

legitimidade.

Enquanto que na visão clássica as leis obtêm sua validade por meio

do processo de formação de vontade dos cidadãos, no Estado

Democrático de Direito estas leis têm sua limitação no respeito aos

direitos fundamentais. Na realidade os direitos subjetivos de liberdade dos

cidadãos e os direitos de participação dos cidadãos democráticos

concorrem entre si22.

Serão nos espaços de discussão pública em que se assegure igual

participação dos atores sociais envolvidos que as desigualdades poderão

ser enfrentadas para o pleno exercício da cidadania. “Para fazerem um

uso adequado de sua autonomia pública, garantida através de direitos

políticos, os cidadãos têm que ser suficientemente independentes na 21

DERRIDA, Jacques. Força de Lei. Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 22

HABERMAS, Jürgen. Era das Transições. Tradução e introdução de Flávio Siebeneichler. Rio de

Janeiro:Tempo Brasileiro, 2003, p. 154.

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configuração de sua vida privada, assegurada simetricamente. Porém, os

‘cidadãos da sociedade’ só podem gozar simetricamente sua autonomia

privada, se, enquanto cidadãos do Estado fizerem uso adequado de sua

autonomia política – uma vez que as liberdades de ação subjetivas,

igualmente distribuídas, têm para eles o ‘mesmo valor’”23.

O positivismo jurídico em sua tradição clássica trouxe consigo a

concepção de regulação para o futuro através de normas gerais e

abstratas para estabelecer os limites das liberdades individuais quer nas

suas relações privadas, quer nas públicas.

Neste contexto, o positivismo jurídico formou um código de

conduta do cidadão entre o certo e o errado e o justo e o injusto de

acordo com o respeito ou o desrespeito à lei24

No paradigma do Estado democrático de direito o exercício pleno

da autonomia privada como corolário do exercício democrático depende

de fatores materiais (preservação da dignidade humana, cidadania e

garantia dos direitos fundamentais individuais e institucionais) sem as

quais não haverá a possibilidade da inclusão social. A impossibilidade

desta atuação gera como consequência a crise de legitimidade.

Enfim, é a interpretação constitucional que possibilitará, em uma

sociedade complexa, a tomada de decisões por meio de análise de fatos

concretos, conferindo ao texto, a adequada interpretação a partir do

contexto em que se é analisado.

A jurisdição constitucional dos direitos sociais do trabalho

apresenta-se como o intérprete oficial das normas de direitos

23

HABERMAS, Jürgen. Era das Transições... P.155. 24

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito.Coimbra: Coimbra Editora. 6ª Edição. Tradução João Baptista

Machado. 1984, p. 35.

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fundamentais, guardando para si a responsabilidade de concretizá-las no

seio da sociedade. Porém, não se pode perder de vista ser a constituição

uma comunidade de princípios e como tal aberta. Sua interpretação não

deve ser de exclusividade da jurisdição constitucional, tendo em vista o

seu papel no Estado e para a sociedade, impondo, a responsabilidade de

sua interpretação a toda a sociedade, já que esta é que a vive e a realiza,

sendo, portanto seu legítimo interprete.

O atual sistema de interpretação tem gerado o paradoxo da

jurisdição constitucional impondo uma tensão, entre as normas pré-

constitucionais, a partir de leituras inadequadas dos textos constitucionais

e legais e o novo paradigma consubstanciado e suposto pela Constituição

da República de 1988: o Estado Democrático de Direito.

Contudo, em uma sociedade complexa a adoção de mecanismo

de solução de conflitos através de juízo de ponderação acaba por

aumentar a sua complexidade. Há a necessidade, para podermos

interpretar os princípios constitucionais em conflito, de quebrarmos o

caráter abstrato da norma, para a sua aplicação no caso concreto. Com

isso, constata-se que a abundância de valores antagônicos transforma a

decisão judicial em um mecanismo arbitrário no sentido axiológico.

Considerando que para cada indivíduo, no caso, juiz, carrega consigo

preconcepções sobre a realidade social e que a valoração ao princípio se

dará pela escolha individual possibilitando uma maior abertura à

subjetividade, temos como consequência o surgimento de contradições,

reduzindo-se a constituição a meramente um texto vazio, retirando-lhe

sua força normativa.

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No paradigma do Estado Democrático de Direito, requer-se do

Poder Judiciário tomada de decisões que efetivem a constituição,

retratando, construtivamente, os princípios e regras constitucionais,

satisfazendo, a um só tempo, “a garantia da legalidade, entendida como

segurança jurídica, como certeza do Direito, quanto ao sentimento de

justiça realizada, que deflui da adequabilidade da decisão às

particularidades do caso concreto”25.

Para Ronald Dworkin tanto os princípios como as regras devem

necessariamente ser entendidos como normas, sendo a constituição

composta por um sistema de regras e princípios com força normativa que

não se contrapõem. São opostos que se complementam. Podem ser

contraditórios sem se eliminarem reciprocamente, superando, desta

maneira, os processos de otimização do tudo ou nada. Conforme nos

ensina Menelick de Carvalho Netto,

A sensibilidade do juiz para as especificidades do caso concreto que tem diante de si é fundamental, portanto para que possa encontrar a norma adequada a produzir justiça naquela situação específica. É precisamente a diferença entre os discursos legislativos de justificação, regidos pelas exigências de universalidade e abstração, e os discursos judiciais e executivos de aplicação, regidos pelas exigências de respeito às especificidades e a concretude de cada caso, ao densificarem as normas e abstratas na produção das normas individuais e concretas, que fornece o substrato que Klaus Günther denomina de senso de adequabilidade, que, no Estado Democrático de Direito, é de se exigir do concretizador do ordenamento ao tomar suas decisões26

.

25

CARVALHO NETTO, Menelick. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado

Democrático de Direito. CATTONI, Marcelo (Coord.) Jurisdição e Hermenêutica Constitucional: No

Estado Democrático de Direito. Mandamentos Editora: Belo Horizonte. 2004. P. 38 26

CARVALHO NETTO, Menelick. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado

Democrático de Direito. CATTONI, Marcelo (Coord.) Jurisdição e Hermenêutica Constitucional: No

Estado Democrático de Direito. Mandamentos Editora: Belo Horizonte. 2004. P. 40.

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É através do conceito de integridade da constituição que Ronald

Dworkin apresenta o Direito como uma comunidade de princípios.

Para ele há clara distinção entre duas formas de integridade ao

arrolar dois princípios que se contrapõem, mas ao mesmo tempo se

complementam:

A integridade na legislação e a integridade na deliberação judicial. A primeira restringe aquilo que nossos legisladores e outros participantes da criação do direito podem fazer corretamente ao expandir ou alterar nossas normas públicas. A segunda requer que, até onde seja possível, nossos juízes tratem nosso atual sistema de normas públicas como se este expressasse e respeitasse um conjunto coerente de princípios e, com esse fim, que interpretem essas normas de modo a descobrir normas implícitas entre e sob as normas explícitas. Para nós, a integridade é uma virtude ao lado da justiça e da equidade (fairness) e do devido processo legal, mas isso não significa que, em algumas das duas formas assinaladas, a integridade seja necessariamente, ou sempre, superior a outras virtudes. [...] O princípio da integridade na prestação da justiça não é de modo algum superior ao propósito do que os juízes devem fazer cotidianamente. Esse princípio é decisivo para aquilo que um juiz reconhece como direito. Reina, por assim dizer, sobre os fundamentos do direito [...]. O juiz que aceitar a integridade pensará que o direito que esta define estabelece os direitos definitivos que os litigantes têm a uma decisão dele. Eles têm, em princípio, de ter seus atos julgados de acordo com a melhor concepção daquilo que as normas jurídicas da comunidade exigiam ou permitiam na época em que se deram os fatos, e a integridade exige que essas normas sejam consideradas coerentes, como se o Estado tivesse uma só voz27.

O Direito moderno é voltado para a regulamentação de condutas

futuras. A partir de normas gerais e abstratas busca-se a solução de

conflitos. Os direitos sociais passam a ser interpretados como necessários,

para a sua realização de leis. A complexidade da sociedade

27

DWORKIN, Ronald. O império do direito. Martins Fontes: São Paulo, 2003. p. 213/331.

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contemporânea impõe ao julgador que a reduza, com sua decisão, a

complexidade do caso.

Os direitos sociais enquanto direitos fundamentais necessitam de

uma interpretação que busque a sua máxima efetividade sob pena de

reduzirmos os princípios constitucionais a meramente um texto

(Menelick). A abstração ou mesmo sua indeterminação, nos leva a uma

análise da teoria da linguagem, podendo afirmar que há uma única

decisão correta para um caso concreto (Doworkin).

Nesse contexto, o principal desafio de uma hermenêutica

constitucionalmente adequada é garantir aos direitos fundamentais a sua

própria identidade e legitimidade a partir de tomada de decisões jurídico-

democrática, que exigem por parte da jurisdição tomada de

[...] decisões consistentes não apenas com o tratamento anterior de casos análogos e com o sistema de normas vigentes, mas pressupõe igualmente que sejam racionalmente fundadas nos fatos da questão, de tal modo que os cidadãos possam aceitá-las como decisões racionais28

.

Como já demonstrado acima, todas as interpretações firmadas pelo

Tribunal Superior do Trabalho, a partir das interpretações conferidas por

todas as instâncias da Justiça do Trabalho, o foram a partir dos mesmos

fundamentos firmados pelo suscitante.

É para se evitar maiores inseguranças jurídicas quando de uma

interpretação constitucionalmente adequada que o controle de

constitucionalidade requer, do julgador, que interprete o texto a partir do

contexto que lhe foi atribuído e não a partir das novas concepções

jurídicas aplique, ao passado, as definições do presente, especialmente

28

CATTONI DE OLIVEIRA. Marcelo. A. Tutela Jurisdicional e Estado Democrático de Direito. Belo

Horizonte: Del Rey, 1997, p. 131.

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quando o passado fora definido por decisão interpretativa do próprio

Tribunal Superior do Trabalho.

É nesta esteira de interpretação a partir de um Bloco de

Constitucionalidade29 e não apenas de um dispositivo (artigo)

constitucional que o julgador deve analisar para que possa a um só tempo

conferir à constituição sua força normativa sem, contudo, quebrar o

sistema posto.

A Lei 9.868/99 em seu artigo 27 permite ao julgar, em sede do

controle difuso de constitucionalidade conferir, à decisão, a modulação de

seus efeitos, vejamos:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Sendo assim, entendendo este juízo de que a solução do caso

concreto não estará quebrando o princípio da separação dos poderes

transformando o judiciário em um legislador positivo, ao reinterpretar a

cláusula da RMNR conforme fundamentos acima lançados, haverá, sobre

os processos já interpostos, julgados e transitados em julgado um

retrocesso interpretativo ampliando uma discriminação existente pela

aplicação da interpretação da empresa.

Para preservar a segurança jurídica e o excepcional interesse

social, aqui entendido tanto a suscitante como os suscitados -, conferir à

29

Sobre a concepção de Bloco de Constitucionalidade ver o meu “O Valor Constitucional para a

efetividade dos Direitos Sociais nas relações de Trabalho”. São Paulo: LTr. 2006, p.216.

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decisão, a modulação dos efeitos para que seja conferido à decisão a

eficácia ex nunc.

A possibilidade de se conferir a modulação dos efeitos em sede

de controle concreto e difuso de constitucionalidade já tem sido decidido

pelo Supremo Tribunal Federal permitindo seja conferido a modulações

dos efeitos, conforme se pode constatar através do julgado abaixo

transcrito:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIOS. CÂMARA DE VEREADORES. COMPOSIÇÃO. AUTONOMIA MUNICIPAL. LIMITES CONSTITUCIONAIS. NÚMERO DE VEREADORES PROPORCIONAL À POPULAÇÃO. CF, ARTIGO 29, IV. APLICAÇÃO DE CRITÉRIO ARITMÉTICO RÍGIDO. INVOCAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE. INCOMPATIBILIDADE ENTRE A POPULAÇÃO E O NÚMERO DE VEREADORES. INCONSTITUCIONALIDADE, INCIDENTER TANTUM, DA NORMA MUNICIPAL. EFEITOS PARA O FUTURO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. O artigo 29, inciso IV, da Constituição Federal exige que o número de Vereadores seja proporcional à população dos Municípios, observados os limites mínimos e máximos fixados pelas alíneas a, b e c. 2. Deixar a critério do legislador municipal o estabelecimento da composição das Câmaras Municipais, com observância apenas dos limites máximos e mínimos do preceito (CF, artigo 29), é tornar sem sentido a previsão constitucional expressa da proporcionalidade. 3. Situação real e contemporânea em que Municípios menos populosos têm mais Vereadores do que outros com um número de habitantes várias vezes maior. A ausência de um parâmetro matemático rígido que delimite a ação dos legislativos Municipais implica evidente afronta ao postulado da isonomia. 4. Princípio da razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de norma municipal que estabelece a composição da Câmara de Vereadores sem observância da relação cogente de proporção com a respectiva população configura excesso do poder de legislar, não encontrando eco no sistema constitucional vigente. 5. Parâmetro aritmético que atende ao comando expresso na Constituição Federal, sem que a proporcionalidade reclamada traduza qualquer lesão aos demais princípios constitucionais nem resulte formas estranhas e distantes da realidade dos Municípios brasileiros. Atendimento aos postulados da moralidade, impessoalidade e economicidade dos atos administrativos (CF, artigo 37). 6. Fronteiras da autonomia municipal impostas pela própria Carta da República, que admite a proporcionalidade da representação política em face do número de habitantes. Orientação

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que se confirma e se reitera segundo o modelo de composição da Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas (CF, artigos 27 e 45, § 1º). Inconstitucionalidade. 7. Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria em grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário não conhecido30.

Em caso análogo em que se discutia o provimento derivado sem

concurso público, decidiu o STF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO: PROVIMENTO DERIVADO: INCONSTITUCIONALIDADE: EFEITO EX NUNC. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. I. - A Constituição de 1988 instituiu o concurso público como forma de acesso aos cargos públicos. CF, art. 37, II. Pedido de desconstituição de ato administrativo que deferiu, mediante concurso interno, a progressão de servidores públicos. Acontece que, à época dos fatos 1987 a 1992, o entendimento a respeito do tema não era pacífico, certo que, apenas em 17.02.1993, é que o Supremo Tribunal Federal suspendeu, com efeito ex nunc, a eficácia do art. 8º, III; art. 10, parágrafo único; art. 13, § 4º; art. 17 e art. 33, IV, da Lei 8.112, de 1990, dispositivos esses que foram declarados inconstitucionais em 27.8.1998: ADI 837/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, "DJ" de 25.6.1999. II. - Os princípios da boa-fé e da segurança jurídica autorizam a adoção do efeito ex nunc para a decisão que decreta a inconstitucionalidade. Ademais, os prejuízos que adviriam para a Administração seriam maiores que eventuais vantagens do desfazimento dos atos administrativos. III. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal. IV. - RE conhecido, mas não provido.

É Gilmar Mendes que ao analisar a questão entende que há

possibilidade de se conferir os efeitos pró futuro de decisões que possam

trazer grave dano e insegurança jurídica. Para ele,

30

STF- RE 199522/SP – São Paulo; Relator Ministro Mauricio Corrêa. Julgamento dia 31/03/2004 –

Tribunal Pleno – Publicação no DJ de 11.06.2004, p. 0005.

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A base constitucional dessa limitação – necessidade de um outro princípio que justifique a não-aplicação do princípio da nulidade – parece sugerir que, se aplicável, a declaração de inconstitucionalidade restrita revela-se abrangente do modelo de controle de constitucionalidade como um todo. É que, nesses casos, tal como argumentado, o afastamento do princípio da nulidade da lei assenta-se em fundamentos constitucionais e não em razões de conveniência31.

No presente caso, justifica-se plenamente a aplicação da

modulação dos efeitos pró futuro. Como amplamente fundamentado

acima, o Tribunal Superior do Trabalho a partir de todas as suas Turmas e

da SBDI-1, pacificou a interpretação da cláusula.

Deve ser preservado, a eles, a dignidade humana prevista no

artigo 1º, III, 3º III, IV, 4º , II todos da CRB/88.

Ainda, quanto à segurança jurídica, conferindo-se nova

interpretação da cláusula a RMNR, temos que todos estes anos terão

efeito jurídico negativo para a administração e, portanto, a insegurança

jurídica estará colocada para toda a sociedade.

É cediço que questões de alta complexidade não se pode resolver

com decisões simplistas tais como os constantes no pedido da suscitante,

com o devido respeito. Nestas questões que envolvem muitos princípios

além do colocado na inicial, deve ser preservado acima de tudo, a

dignidade humana do trabalhador.

Por estas razões, requerem, de forma alternativa, caso seja

ultrapassada todas as preliminares e efetuado nova interpretação para a

aplicação da Cláusula da RMNR, que seja conferido à decisão a modulação

dos efeitos para que a mesma tenha eficácia ex nunc, a partir do transito

em julgado do presente Dissidio Coletivo de Natureza Jurídica.

31

Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p. 1044.

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IV) REQUERIMENTO EM FACE DO EXPOSTO, REQUER-SE

a) Sejam acolhidas as preliminares de não conhecimento do

dissídio coletivo de natureza jurídica, por falta de pressupostos

de cabimento e de condições da ação, declarando-se extinto

sem julgamento de mérito, na forma do artigo 267, inciso VI, do

Código de Processo Civil;

b) Sejam acolhidas as preliminares de ausência de condições da

ação, por impossibilidade jurídica do pedido e falta de interesse,

declarando-se extinto sem julgamento de mérito, na forma do

artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil;

c) Caso seja admitido o presente feito para o exercício do controle

difuso de constitucionalidade, seja aplicado o disposto na

Súmula Vinculante nº 10 do STF, para afetar ao Pleno do

Tribunal Superior do Trabalho, o processamento e julgamento

do presente Dissídio de Natureza Jurídica, nos termos do artigo

97 da CRB/88;

d) No mérito, caso ultrapassadas as preliminares, seja rejeitado o

pedido declaratório do Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica

julgando improcedente a presente ação;

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Caso não seja acolhida o item “d” do mérito, requer:

a) Com fulcro no artigo 27, da Lei 9868/99 e reiterada decisões do

STF, seja conferida à decisão que julgar procedentes os pedidos

da inicial, seja aplicado a modulação dos efeitos para conferir à

sentença normativa a eficácia ex nunc, nos termos dos

fundamentos supra, a partir do trânsito em julgado do

presente Dissídio Coletivo de Natureza Jurídica.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em

direito admitido, especialmente a perícia, depoimento pessoal da

suscitante, oitiva de testemunhas, sem exceção.

Pede deferimento. Brasília, 14 de novembro de 2014.

MARTHIUS SÁVIO CAVALCANTE LOBATO

OAB/DF 1681-A e OAB/SP 122.733

CLERISTON PÍTON BULHÕES

OAB/BA 17.034