82
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Universidade Federal do Amazonas - UFAM Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais - PPGBTRN Divisão do Curso de Pós-Graduação de Entomologia - DCEN MÉTODOS DE AMOSTRAGEM, INFLUÊNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS E GUIA DE IDENTIFICAÇÃO DOS ESCORPIÕES (CHELICERATA, SCORPIONES) DA RESERVA DUCKE, MANAUS, AMAZONAS, BRASIL Juliana de Souza Araújo Manaus – Amazonas 2007

Dissertacao Araujo Juliana

Embed Size (px)

DESCRIPTION

chave identificação escorpiões

Citation preview

  • Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia - INPA Universidade Federal do Amazonas - UFAM

    Programa de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais - PPGBTRN Diviso do Curso de Ps-Graduao de Entomologia - DCEN

    MTODOS DE AMOSTRAGEM, INFLUNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS E GUIA DE IDENTIFICAO DOS ESCORPIES

    (CHELICERATA, SCORPIONES) DA RESERVA DUCKE, MANAUS, AMAZONAS, BRASIL

    Juliana de Souza Arajo

    Manaus Amazonas 2007

  • Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia - INPA Universidade Federal do Amazonas - UFAM

    Programa de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais - PPGBTRN Diviso do Curso de Ps-Graduao de Entomologia - DCEN

    MTODOS DE AMOSTRAGEM, INFLUNCIA DOS FATORES AMBIENTAIS E GUIA DE IDENTIFICAO DOS ESCORPIES

    (CHELICERATA, SCORPIONES) DA RESERVA DUCKE, MANAUS, AMAZONAS, BRASIL

    Juliana de Souza Arajo Orientadora Dra Elizabeth Franklin Chilson (INPA)

    Co-orientador: Dr. Wilson Loureno (MNHN/Frana)

    Dissertao apresentada Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais, do convnio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Biolgicas, rea de concentrao em Entomologia.

    Manaus Amazonas 2007

  • iii

    Sinopse: Na Reserva Florestal Adolpho Ducke, foi avaliada a eficincia e o custo-benefcio de dois mtodos de amostragem de escorpies (coleta ativa e passiva) e tambm de dois tamanhos de armadilhas de queda. Foi investigado o padro de distribuio das espcies de escorpies em relao porcentagem de areia no solo, inclinao do terreno, altura da serrapilheira, ao nmero de troncos cados e ao nmero de palmeiras acaules. Foi proposto um guia de identificao das espcies de escorpies registradas para a reserva, composto de uma chave pictrica simplificada e de fichas com a caracterizao das espcies.

    Palavras-chave: 1. Comunidade de escorpies 2. Ecologia 3. Mtodos de coleta 4. Variveis ambientais

    A663 Arajo, Juliana de Souza Mtodos de amostragem, influncia dos fatores ambientais e guia de identificao dos escorpies (Chelicerata, Scorpiones) da Reserva Ducke,Manaus, Amazonas, Brasil / Juliana de Souza Arajo .--- Manaus : [s.n.], 2007. xv, 71 f. : il.

    Dissertao (mestrado) --- INPA/UFAM, Manaus, 2007 Orientador : Elizabeth Franklin Chilson Co-orientador : Wilson Loureno rea de concentrao : Entomologia

    1. Comunidade de escorpies. 2. Ecologia. 3. Mtodos de coleta. 4. Variveis ambientais. I. Ttulo. CDD 19. ed. 595.46

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Ao INPA pela oportunidade de realizao do mestrado no Programa de Ps-Graduao em Entomologia.

    Ao CNPq, pela bolsa de estudos; ao Edital Universal Biodiversidade de Arthropoda no Manejo e Conservao: Modelo Amaznico.; ao PPBio e a Fundao Chilson pelo financiamento e Idea Wild pela concesso do equipamento fotogrfico.

    Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA/AM) pela licena concedida (102/2006 NUFAS/IBAMA AM; processo: 02005.001250/06-10).

    A Dra. Elizabeth Franklin Chilson, pela amizade, confiana, pacincia e pela orientao segura e necessria para a realizao deste trabalho.

    Ao Dr. Wilson Loureno, por ter me incentivado a trabalhar com o grupo e por estar sempre disposto a tirar minhas dvidas mesmo distncia.

    A Dra. Nair Otaviano Aguiar, exemplo de simplicidade e sabedoria, pela orientao e pelos importantes conselhos para a realizao desse trabalho.

    s Dras. Rosaly Ale Rocha e Beatriz Ronchi Teles, coordenadoras do curso, pelo auxlio nas disciplinas e ajuda junto a ps-graduao.

    Ao Dr. Mrcio Luiz de Oliveira e ao MSc. Fabrcio Baccaro, pela ajuda na parte burocrtica das coletas.

    Ao Sr. Aires, Roger, Flecha e Everaldo pelo grande auxlio no campo. Ao pequeno grande Juruna (Ocrio) pela ajuda no campo e pelas espetaculares aulas de biologia na floresta.

    Aos pesquisadores e colaboradores do projeto PPBio, Dras. Albertina Lima e Carolina Castilho, pela disponibilizao dos dados de inclinao do terreno. As Dras. Regina Luizo, Eleuza Barros, MSc. Tnia Pimentel e Jane Mertens pelos dados de granulometria do solo.

    Aos Drs. Ari Marques Filho e Hillndia Brando da Cunha, do projeto TEAM Monitoramento do Clima, pela disponibilizao dos dados de precipitao.

    Aos Drs. Marcelo Menin e Flvia Costa pela ajuda nos testes estatsticos, sugestes e discusses.

  • v

    As meninas do laboratrio, Byatryz, Evanira, Nete, Pollyana, Suelen pela ajuda, amizade e muita pacincia em me escutar.

    A Ivonei pela amizade e pelas importantes dicas da cidade de Manaus, me poupando horas em nibus errados.

    Ao Jorge Paga-Lanche, pela ajuda e companhia no campo, pelas grandes discusses e timas dicas na dissertao e pelas boas risadas no laboratrio.

    Aos meus pais, Julieta e Jacy, grandes responsveis pela pessoa que sou e por me incentivar a estudar sempre.

    A minha famlia, pelo amor e apoio durante esses dois anos de ausncia.

    Em especial a minha me, Julieta, pelo exemplo, perseverana, amor incondicional e por sempre acreditar e me apoiar principalmente nos momentos mais difceis.

    Aos meus irmos, Patrcia, Fabrcio e Layla, pelo amor e companheirismo mesmo estando to longe.

    Ao meu sobrinho, Cau, que infelizmente no pude ver nascer e crescer, mas que pude acompanhar seu desenvolvimento atravs de lindas fotos na tentativa de matar um pouco a saudade.

    As irms do corao Bruna, Lillian, Thalyta e Vanessa que sempre me ajudam a ser uma pessoa melhor a cada dia e apesar da enorme distncia sempre estaro em meu corao.

    Aos amigos do peito Bil, Diego, Ciro, Guilherme, Brbara, Daniela que mesmo de longe me trazem muita alegria.

    Aos amigos do INPA, Fbio Paraba, Lo, Renato, Daniela e Daniel Pimpo, Vincius e Lucia.

    Ao Fabio, meu grande amor, pelo seu companheirismo, carinho, enorme pacincia e por me ajudar a superar inmeras dificuldades desse trabalho.

    Muito obrigada!

  • vi

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS........................................................................................ vii LISTA DE TABELAS ...................................................................................... viii RESUMO............................................................................................................ x ABSTRACT....................................................................................................... xi INTRODUO GERAL ..................................................................................... 1 REA DE ESTUDO ........................................................................................... 3 CAPTULO 1: COMPARAO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE ESCORPIES NA RESERVA FLORESTAL ADOLPHO DUCKE, MANAUS, AM...................................................................................................................... 7

    1. Introduo................................................................................................... 7 2. Material e Mtodos ..................................................................................... 9

    2.1. Etapas da Coleta.................................................................................. 9 2.2. Material Examinado............................................................................ 12 2.3. Anlise dos Dados ............................................................................. 13

    3. Resultados................................................................................................ 13 4. Discusso ................................................................................................. 18

    CAPTULO 2: INFLUNCIA DE FATORES AMBIENTAIS SOBRE AS ESPCIES DE ESCORPIES DA RESERVA FLORESTAL ADOLPHO DUCKE............................................................................................................. 28

    1. Introduo................................................................................................. 28 2. Material e Mtodos ................................................................................... 30

    2.1. rea de Estudo .................................................................................. 30 2.2. Mtodos ............................................................................................. 30 2.3. Anlise dos Dados ............................................................................. 32

    3. Resultados................................................................................................ 33 4. Discusso ................................................................................................. 36

    CAPTULO 3: GUIA DE IDENTIFICAO DAS ESPCIES DE ESCORPIES REGISTRADAS PARA A RESERVA DUCKE................................................. 39

    1. Introduo................................................................................................. 39

    CONCLUSES................................................................................................ 54 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................ 56 APNDICES .................................................................................................... 66 FONTES FINANCIADORAS............................................................................ 71

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Localizao da Reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD) e da cidade de Manaus. (Fonte: Programa Google Earth, acesso 01 de abril de 2008) 5

    Figura 2. Precipitao pluviomtrica mensal no perodo de julho de 2005 a dezembro de 2006 na Reserva Ducke, Manaus, Amazonas. (Fonte: Projeto TEAM - Monitoramento do Clima) ............................................................... 5

    Figura 3. Reserva Florestal Adolpho Ducke, sistema de trilhas e parcelas utilizadas neste estudo (Adaptado de www.ppbio.inpa.gov.br ). ................. 6

    Captulo 1: Comparao de mtodos de amostragem de escorpies na Reserva Florestal Adolpho Ducke, Manaus, AM.

    Figura 1.1. Desenho esquemtico da rea da parcela vistoriada com lanternas UV (Etapa I). ............................................................................................. 12

    Figura 1.2. Desenho esquemtico dos dois conjuntos de armadilhas de queda grandes (), um em linha reta e outro em T (Etapa II) unidos por barreira plstica (). .............................................................................................. 12

    Captulo 2: Influncia de fatores ambientais sobre as espcies de escorpies da Reserva Florestal Adolpho Ducke.

    Figura 2.1. Desenho esquemtico das parcelas com armadilhas de queda pequenas. rea vistoriada para contabilizar nmero de troncos cados e palmeiras acaules ( ) e pontos de medies da serrapilheira (Etapa III)................................................................................................................... 32

    Figura 2.2. Abundncia das espcies de escorpies em 30 parcelas amostradas na Reserva Ducke. ................................................................ 35

    Figura 2.3. Nmero de espcies de escorpies em 30 parcelas amostradas na Reserva Ducke.......................................................................................... 35

  • viii

    LISTA DE TABELAS

    Captulo 1: Comparao de mtodos de amostragem de escorpies na Reserva Florestal Adolpho Ducke, Manaus, AM.

    Tabela 1.1. Abundncia das espcies de escorpies coletadas em cada mtodo utilizado na Reserva Ducke.......................................................... 14

    Tabela 1.2. Custos em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta ativa para 17 parcelas na Reserva Ducke. ........................................................ 16

    Tabela 1.3. Custo em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta passiva com armadilhas de queda grandes para 17 parcelas na Reserva Ducke. Material permanente e instalao baseados em Pinto (2006). ................. 16

    Tabela 1.4. Custo em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta passiva armadilhas de queda pequenas para 30 parcelas na Reserva Ducke. ..... 16

    Tabela 1.5. Abundncia das espcies de escorpies coletadas nas armadilhas de queda grandes (G) e nas pequenas (P) nas linhas Leste-Oeste 03 e 04 na Reserva Ducke..................................................................................... 18

    Tabela 1.6. Custos em R$ do material de consumo e dirias da coleta ativa e passiva com os dois tamanhos de armadilhas de queda. Descrio dos custos em longo prazo no Apndice I. ...................................................... 25

    Captulo 2: Influncia de fatores ambientais sobre as espcies de escorpies da Reserva Florestal Adolpho Ducke.

    Tabela 2.1. Nmero de parcelas onde cada espcie de escorpio foi registrada e nmero de indivduos coletados na Reserva Ducke. ............................. 33

  • ix

    LISTA DE APNDICES

    Apndice I. Custos em R$ do material de consumo e dirias da coleta ativa e passiva com os dois tamanhos de armadilhas no presente estudo e em longo prazo. .............................................................................................. 66

    Apndice II. Probabilidades associadas aos efeitos das variveis analisadas sobre a abundncia ou presena/ausncia de cada espcie de escorpio na Reserva Ducke. Para Brotheas amazonicus foram realizadas regresses mltiplas e para as demais espcies regresses logsticas (Modelo 1 com as variveis: Nmero de troncos, Nmero de palmeiras acaule, Proporo de areia e Inclinao; Modelo 2 com as variveis: Nmero de palmeiras acaule, Proporo de areia e Inclinao). Os valores em destaque representam a probabilidade de erro prximo do nvel de significncia............................................................................................... 67

    Apndice III. Medidas (em mm) dos tipos das espcies registradas para a Reserva Ducke.......................................................................................... 68

    Apndice IV. Desenho esquemtico das estruturas medidas para identificao dos escorpies. Legenda: A, Carapaa: Cc, comprimento; Cla, largura anterior; Clp, largura posterior. B e C, Segmento do Metassoma: Mc, comprimento; Ml, largura; Mp, profundidade. D e E, Vescula: Vc, comprimento; Vl, largura; Vp, profundidade. F, Fmur do Pedipalpo: Fc, comprimento; Fl, largura. Pc, comprimento; Pl, largura. G e H, Quela: Qc, comprimento; Ql, largura; Qp, profundidade; Dmc, comprimento do dedo mvel. Figuras adaptadas de Polis (1990). ............................................... 70

  • x

    RESUMO

    Como as reservas ecolgicas so desenhadas para atingir grandes reas geogrficas, a compreenso do funcionamento do ambiente deve ser feita atravs de estudos que representem os padres da rea a ser preservada. Os objetivos desse trabalho foram 1) avaliar a eficincia e o custo-benefcio de dois mtodos de coleta de escorpies: a coleta ativa, com lanternas de luz ultravioleta (UV) e a passiva, com armadilhas de queda (pitfall traps) grandes (30 l) e pequenas (500 ml), 2) estabelecer protocolos alternativos para a coleta de escorpies, 3) avaliar o padro de distribuio das espcies em relao porcentagem de areia no solo, inclinao do terreno, altura da serrapilheira, nmero de troncos cados e de palmeiras acaules e 4) elaborar um guia de identificao simplificado para as espcies registradas na reserva, para viabilizar a rpida identificao por pesquisadores no-especialistas. Em um sistema de trilhas dentro de uma rea de 35 km2, foram amostradas 38 parcelas de 250 m de comprimento, durante a estao seca nos anos de 2005 e 2006. Foram coletadas 5 espcies de escorpies, representando 63% do total j registrado para a reserva. As espcies foram Ananteris dekeyseri Loureno, 1982; A. pydanieli Loureno, 1982; Tityus metuendus Pocock, 1897; Brotheas amazonicus Loureno, 1988 e Chactopsis amazonica Loureno & Francke, 1986. As trs espcies registradas na reserva e no coletadas neste estudo possuem distribuio restrita a habitats muito especficos. As espcies A. dekeyseri, A. pydanieli e C. amazonica, consideradas de solo, foram coletadas exclusivamente nas armadilhas de queda. B. amazonicus foi a mais abundante e presente em todas as parcelas amostradas tendo sido registrada por ambos os mtodos de coleta e nos dois tamanhos de armadilhas de queda. T. metuendus, uma espcie arborcola, foi obtida principalmente na coleta ativa. Os resultados indicam que a coleta ativa o mtodo mais indicado para levantamentos das espcies arborcolas, podendo ser realizada durante o dia ou noite, e a coleta passiva (armadilhas de queda ou de fosso) mais indicada para levantamentos das espcies de solo. Os dois tamanhos de armadilhas no diferiram na abundncia das espcies coletadas. Sugerimos que as armadilhas grandes sejam recomendadas para levantamentos conjuntos com outros txons (rpteis, anfbios e pequenos mamferos) e com longos perodos de amostragem, devido ao seu grande impacto ao ambiente e o alto custo. Indicamos as armadilhas pequenas para coleta de escorpies e invertebrados de solo, por serem de mais fcil manuseio, baixo custo e por causarem menor impacto ambiental. Para levantamentos completos da fauna de escorpies sugerimos a utilizao dos dois mtodos uma vez que nenhum abrangeu todas as espcies registradas em nosso estudo. As variveis ambientais utilizadas no explicaram o padro de distribuio da maioria das espcies de escorpies, mas a porcentagem de areia no solo teve influncia na presena de A. dekeyseri. Supomos que essa relao seja indireta, pois a porcentagem de areia est relacionada com a proximidade de corpos dgua e possivelmente a distribuio desta espcie pode ser influenciada por este fator. A. dekeyseri uma espcie rara e mais estudos so necessrios para compreender como os fatores ambientais podem influenciar na distribuio dessa espcie. Elaboramos um guia de identificao composto de chave pictrica simplificada e da caracterizao de cada espcie registrada para a reserva.

  • xi

    ABSTRACT

    As ecological reserves are designed to encompass large geographical areas, the comprehension of the environmental functions must be done through studies that represent the patterns of the area to be preserved. The objectives of this study were: 1) to evaluate the efficiency and the cost-benefit of two sampling methods: the active sampling, using ultraviolet light (UV) and the passive sampling, using large and small pitfall traps, 2) to establish alternative protocols for sampling scorpions, 3) to evaluate the distribution pattern of the species in relation to the percentage of sand in the soil, inclination, depth of litter, the number of fallen trunks, and of palm trees, and 4) to elaborate an identification guide for the species registered for the reserve, to facilitate the work of the non-specialists. Sampling was carried out along a grid of trails traversing 35 km2 of rainforest in the Reserva Ducke, Manaus. Thirty-eight 250 m transects representative of the local diversity of soils and topography were sampled during the season of lower rainfall 2005/2006. Five of the eight species of scorpions recorded from the reservation were collected, representing 63% of the total already registered in the reserve. The species were: Ananteris dekeyseri Loureno, 1982; A. pydanieli Loureno, 1982; Tityus metuendus Pocock, 1897; Brotheas amazonicus Loureno, 1988, and Chactopsis amazonica Loureno & Francke, 1986. The 3 species not collected during this study have very specific habitat in the reserve. The species A. dekeyseri, A. pydanieli e C. amazonica, considered to be ground-dwelling, were sampled exclusively in the pitfall traps. B. amazonicus was the most abundant species and present in all of the plots, and was registered by both methods and by the two sizes of pitfall traps. T. metuendus, a tree-living species, was sampled mainly through active sampling. The results indicate that the active sampling is more indicated to sample arboricolous species, and can be used during the day or night, and the passive method (pitfall traps) is the most appropriate for soil species. The results obtained through the use of the two different sizes of pitfall traps were similar in relation to the abundance of the sampled species. We suggest that the large pitfall traps may be used for joint inventories together with other taxa (reptiles, amphibians and small mammals), and during long sample periods, because of the large impact to the environment and the high costs. We are indicating the small pitfall traps for sampling scorpions and other soil invertebrates because of the easiest manipulation, lowest costs and lowest environmental impact. For a complete inventory of the scorpion fauna, we are suggesting the utilization of both methods, as each of them sampled all of the species registered in our study. The environmental variables utilized did not explain the distribution pattern of the majority of the species, but the sandy percentage in the soil had influence in the presence of A. dekeyseri. We suppose that this relation is indirect, because the variable is related to the proximity of water bodies and it is possibly that the distribution of this species is associated to this factor. This species is rare, and more studies are necessary to understand how the environmental factors may influence its distribution. A guide consisting of a simplified pictorial key and diagnosis of each species know from the Reserva Ducke is presented.

  • 1

    INTRODUO GERAL

    Os escorpies possuem uma distribuio ampla, no ocorrendo, em

    condies naturais, apenas no continente Antrtico (Pocock, 1894; Kraepelin, 1905; Lamoral, 1980; Sissom, 1990) e em algumas ilhas ocenicas, como Nova Zelndia e Gr-Bretanha que possuem somente espcies introduzidas pelo

    homem (Kock, 1977; Wanless, 1977). Porm, para a Amaznia, o padro de distribuio em uma escala meso-espacial dos invertebrados pouco

    conhecido (Aguiar et al., 2006). Informaes sobre a distribuio das espcies de plantas e animais alm

    de fornecer dados ecolgicos de cada espcie, tambm auxiliam na descrio

    de relaes muito teis na criao de estratgias de conservao (Morrison et al., 1998 apud Pinto, 2006).

    A Reserva Florestal Adolpho Ducke constitui hoje uma das regies amaznicas de floresta primria mais bem estudada, principalmente a sua flora

    (Ribeiro et al., 1999), fazendo parte do programa brasileiro de pesquisas ecolgicas de longa durao (PELD/CNPq). A reserva possui 10.000 ha de floresta tropical de terra firme e possui duas bacias hidrogrficas, separadas no

    sentido norte-sul por um plat central, sendo que os riachos da parte leste

    drenam para o rio Amazonas, enquanto os da parte oeste drenam para o rio

    Negro. Apesar de a rea ser aparentemente homognea (Ribeiro et al., 1999), diferenas na composio de espcies de peixes (Mendona, 2002), sapos (Guimares, 2004; Menin, 2005), lagartos (Pinto, 2006) e plantas de sub-bosque (Kinupp & Magnusson, 2005; Costa et al., 2005) indicam que as duas microbacias constituem habitats diferentes para a fauna e flora.

  • 2

    Na reserva foi instalado um sistema de trilhas, abrangendo uma rea de

    64 km2, permitindo assim a realizao de estudos sobre a influncia de fatores

    ecolgicos na distribuio de espcies em uma maior escala espacial. Nesse

    sistema foram demarcadas 72 parcelas, onde vrios grupos taxonmicos so

    estudados. Com isso, dados referentes fauna, flora, solo e topografia podem

    ser integrados auxiliando tanto os estudos ecolgicos quanto os taxonmicos

    conforme recomendado por diversos autores como Gotelli (2004) e Prtel (2006).

    Os escorpies so considerados bons organismos para todos os tipos

    de investigaes ecolgicas e comportamentais (Polis, 1990b), e a realizao de pesquisas em uma maior escala espacial possibilita uma melhor

    amostragem da fauna de escorpies, uma vez que em reas similares a

    densidade populacional dos escorpies pode variar muito (Polis, 1990a). Para a Reserva Ducke, Hfer et al. (1996) registraram quatro gneros

    com oito espcies de escorpies, sendo uma delas no determinada. Mais

    recentemente, uma nova espcie, Broteochactas fei Pinto-da-Rocha &

    Brescovit, 2002 foi descrita para a reserva (Pinto-da-Rocha et al., 2002). Este trabalho foi dividido em trs captulos e teve como objetivos, no

    Captulo I, avaliar a eficincia e o custo-benefcio de dois mtodos de

    amostragem de escorpies, a coleta ativa com lanternas de luz ultravioleta

    (UV) e a passiva utilizando armadilhas de queda (pitfall) grandes e pequenas. No Captulo II, avaliar os efeitos das variveis ambientais (altura da serrapilheira, nmero de troncos cados, nmero de palmeiras acaule,

    porcentagem de areia no solo e inclinao do terreno) sobre a abundncia e a presena/ausncia das espcies de escorpies. No Captulo III propor um guia

  • 3

    de identificao das espcies de escorpies registradas para a Reserva Ducke

    composto de uma chave pictrica simplificada e de fichas descritivas das

    espcies. A classificao dos escorpies adotada neste trabalho segue

    Prendini & Wheeler (2005).

    REA DE ESTUDO

    O trabalho foi desenvolvido na Reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD) que ocupa uma rea de 10.000 ha de floresta primria, caracterizada como

    terra-firme (Figura 1) e est localizada na rodovia AM 010, km 26, nas proximidades de Manaus, Amazonas, Brasil (0255 a 0301S e 5953a 5959,5W). A reserva j considerada um fragmento florestal urbano por se situar na periferia de Manaus, mas no est completamente isolada da floresta

    contnua (Ribeiro et al., 1999). O relevo ondulado, com uma variao altitudinal de 80 m entre os plats originais e as partes mais baixas. A

    vegetao de mata de terra-firme (Pires, 1974), sendo que, em uma escala mais detalhada, diferentes habitats podem ser reconhecidos, como: plat,

    vertente, campinarana e baixio (Ribeiro et al., 1999). A temperatura mdia de 26C e a precipitao mdia anual de 2.362 mm (Marques Filho et al., 1981). O perodo com maior pluviosidade ocorre entre os meses de novembro e maio,

    e o de menor pluviosidade entre junho e outubro (Figura 2) (Ribeiro & Adis, 1984). Os levantamentos foram realizados em um delineamento experimental

    elaborado e instalado pela Coordenao de Pesquisa em Ecologia, do Instituto

    Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA/CPEc). Em 2000/2001, foi instalado

  • 4

    um sistema de trilhas que corta a reserva nas direes Norte-Sul (N-S) e Leste-Oeste (L-O), num total de nove trilhas em ambas as direes, que se entrecruzam a cada 1 km, formando no total uma grade de 64 km2 (Figura 3). Foram estabelecidas oito parcelas de estudo ao longo de cada trilha L-O,

    distando 1 km entre si, a partir dos 500 m iniciais, somando-se um total de 72

    parcelas, que constituram as Parcelas Permanentes.

    As parcelas foram demarcadas com fitas plsticas, com 250 m de

    comprimento, a partir da borda da trilha, seguindo a curva de nvel do local, de

    modo a manter o mesmo tipo de solo em sua extenso, visto que na regio de

    Manaus, a pedologia fortemente ligada topografia (Chauvel et al., 1987). A Reserva Ducke faz parte do Programa Ecolgico de Longa Durao

    (PELD/CNPq), onde est sendo desenvolvido projeto piloto de levantamento sistemtico e integrado de variveis biticas e abiticas para o bioma

    Amaznia, o RAPELD (Magnusson et al., 2005). Essas parcelas padronizadas permitem levantamentos integrados para todos os txons.

  • 5

    Figura 1. Localizao da Reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD) e da cidade de Manaus. (Fonte: Programa Google Earth, acesso 01 de abril de 2008)

    Figura 2. Precipitao pluviomtrica mensal no perodo de julho de 2005 a dezembro de 2006 na Reserva Ducke, Manaus, Amazonas. (Fonte: Projeto TEAM - Monitoramento do Clima)

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    J F M A M J J A S O N DMeses

    Prec

    ipita

    o

    (m

    m)

    20052006

  • 6

    Figura 3. Reserva Florestal Adolpho Ducke, sistema de trilhas e parcelas utilizadas neste estudo (Adaptado de www.ppbio.inpa.gov.br ).

  • 7

    CAPTULO 1: COMPARAO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE ESCORPIES NA RESERVA FLORESTAL ADOLPHO DUCKE, MANAUS, AM.

    1. INTRODUO

    Apesar dos invertebrados possurem alta abundncia e riqueza de

    espcies (Oliver & Beattie, 1993), serem ecologicamente e funcionalmente importantes, possurem muitas espcies relativamente simples de se coletar

    (Yen & Butcher, 1997) e comporem a maior parte da biomassa animal nas florestas tropicais (Fittkau & Klinge, 1973; Hubbell & Foster, 1992), somente na ltima dcada eles tm sido includos no monitoramento ambiental e em

    avaliaes de conservao nos habitats terrestres (Oliver & Beattie, 1996). Tais organismos freqentemente exibem uma menor variao em sua

    distribuio (Ponder et al., 1994) e podem separar o habitat em uma escala mais fina quando comparados com os vertebrados (Taylor & Doran, 2001). Como por exemplo, a ocorrncia de alguns invertebrados em troncos pode ser

    dependente do tamanho, do estgio de decomposio e do tipo do ambiente

    em que o tronco est presente (Edmonds & Marra, 1999). Os invertebrados podem exigir um manejo mais cuidadoso para alcanar sua sustentabilidade ecolgica do que dos vertebrados (Taylor & Doran, 2001).

    Para que os invertebrados terrestres sejam amplamente utilizados como bioindicadores necessrio que se tenha desenvolvido protocolos de coleta

    que atendam ao manejo das reas (Andersen et al., 2002). O estabelecimento dessas amostragens padronizadas especialmente importante nos trpicos,

    onde a riqueza de espcies alta e o conhecimento cientfico sobre a fauna

  • 8

    ainda incompleto (Umetsu et al., 2006). Esses protocolos devem representar o ambiente, utilizar metodologias rpidas, eficientes, repetveis e devem ser

    viveis quanto ao seu custo-benefcio (Margules & Austin, 1991; Kim, 1993; Oliver & Beattie, 1996; Fisher, 1999). Essa padronizao tambm facilitar futuras comparaes entre reas (Beattie et al., 1993; Churchill, 1993).

    As metodologias mais utilizadas para a coleta de escorpies so as

    coletas ativas efetuadas com lanternas de luz ultravioleta (UV) (Stahnke, 1972) e as armadilhas de queda, tambm conhecidas como armadilhas de fosso ou

    pitfall, normalmente de grandes dimenses.

    As lanternas de luz UV tm sido largamente utilizadas em diversas

    linhas de pesquisa com a fauna de escorpies, por exemplo, na descoberta de

    novos txons (Lamoral, 1979; Levy & Amital, 1980; Williams, 1980; Lowe, 2001; Prendini, 2001), em investigaes ecolgicas (Hadley & Williams, 1968; Brownell, 1977; Polis, 1979; Polis & Farley, 1979; Polis et al., 1985; 1986;

    Sissom et al., 1990) e fisiolgicas (Sissom et al., 1990; King & Hadley, 1979; Hadley, 1970). Esse mtodo tem como principal vantagem o fato de no causar perturbaes no ambiente.

    As armadilhas de queda (pitfall) so muito utilizadas na coleta de diversos animais, sendo muito eficientes na captura de vrios grupos como,

    rpteis e anfbios (Gibbons & Semlitsch, 1981; Greenberg et al., 1994; Cechin & Martins, 2000), pequenos mamferos (Umetsu et al., 2006) e invertebrados terrestres, principalmente formigas, besouros e aranhas (Greenslade, 1964; Luff, 1975; Majer, 1997; Parr & Chown, 2001; Halsall & Wratten, 1988; Uetz & Unzicker, 1976; Curtis, 1980; Churchill & Arthur, 1999; Work et al., 2002).

  • 9

    As pesquisas com a fauna de escorpies da Amaznia, normalmente

    no utilizam coletas direcionadas, como nos trabalhos realizados por Adis

    (1981) e Hfer et al. (1996). Por isso evidente a necessidade de estabelecer mtodos de coleta eficientes, que possibilitem a realizao de levantamentos

    de longa durao em diferentes reas, assim como possveis comparaes

    entre as mesmas.

    Este captulo tem como objetivos (1) avaliar a eficincia e o custo-benefcio da captura de escorpies por meio da coleta ativa (lanterna de luz UV) e passiva (pitfall) com dois diferentes tamanhos e (2) estabelecer protocolos alternativos para a coleta de escorpies em uma escala meso-

    espacial.

    2. MATERIAL E MTODOS

    2.1. ETAPAS DA COLETA

    O trabalho foi realizado nos meses com menor pluviosidade (Maio a Outubro), utilizando dois mtodos de coleta de escorpies, ou seja, a coleta ativa com lanterna de luz UV e a coleta passiva, com armadilhas de fosso ou

    de interceptao e queda, conhecidas como pitfall, estas ltimas com dois

    tamanhos diferentes (grandes 30 litros e pequenas 500 ml). As atividades foram divididas em trs etapas:

    Etapa I:

    Dezessete parcelas distribudas nas linhas 1, 2, 3 e 4 do sistema de

    trilhas (Figura 3 rea de Estudo) foram vistoriadas no perodo de 21 de julho

  • 10

    a 4 de setembro de 2005, entre s 18:30 e 23:30, com a utilizao de lanternas

    com luz ultravioleta (UV) (Streamlight Twin-Task; comprimento de onda: 390 nm). Cada parcela foi vistoriada no perodo da noite, uma nica vez, com durao de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. A cada noite foram

    vistoriadas duas parcelas, totalizando 25 horas de vistoria. Cada vistoria foi

    realizada em uma rea de 250 m de comprimento por 10 m de largura (2.500 m2 em cada parcela) (Figura 1.1).

    Etapa II:

    A segunda etapa foi realizada no perodo de 20 de julho a 6 de setembro de 2005 nas mesmas parcelas da etapa I (17 parcelas distribudas nas linhas 1, 2, 3 e 4 do sistema de trilhas, Figura 3 rea de Estudo) cobrindo uma rea de 20 km2, onde foram utilizadas 136 armadilhas de queda grandes (baldes de 30 litros) enterradas no solo, com dimetro de 35,3 cm. As armadilhas foram instaladas ao nvel da superfcie do solo e recobertas com folhio visando

    minimizar os distrbios na superfcie do solo no seu entorno, porque alteraes

    no substrato podem afetar o sucesso de captura dos animais.

    As armadilhas permaneceram abertas por 14 dias e foram vistoriadas a

    cada 48 horas. Em cada parcela foram colocadas oito armadilhas divididas em

    dois conjuntos, sendo um conjunto em linha reta instalado no incio da parcela e outro em T instalado na poro final da parcela (Figura 1.2). Nos dois conjuntos, os baldes foram separados por uma distncia de cinco metros entre si. Cada conjunto foi unido por uma barreira de plstico de um metro de altura.

  • 11

    As armadilhas utilizadas nessa etapa foram reaproveitadas de

    levantamentos anteriores da herpetofauna e a anlise de custos foi baseada

    nos dados de Pinto (2006). As etapas I e II foram realizadas nas mesmas parcelas, mas as coletas

    no foram simultneas para que no ocorresse interferncia de um mtodo

    de coleta em outro.

    Etapa III:

    A etapa III foi realizada de 19 de julho a 12 de outubro de 2006 e foram utilizadas armadilhas de queda pequenas (copos de 500 ml, dimetro de 9,5 cm) enterradas no nvel do solo com as mesmas precaues tomadas com os baldes grandes. Esta etapa, diferentemente das anteriores, foi realizada em 30

    parcelas nas linhas 3, 4, 5, 6, 7 e 8 (Figura 3 - rea de Estudo) do sistema da grade na Reserva Ducke cobrindo uma rea de 25 km2 (2.500 ha). Em cada parcela foram colocadas 50 armadilhas espaadas cinco metros entre si

    totalizando 1.500 armadilhas de queda. No interior de cada armadilha foi

    utilizada soluo salina para conservao do material (van den Berghe, 1992) permanecendo abertas por 14 dias e vistoriadas a cada cinco dias. Nesta etapa

    no foram utilizadas as cercas-guia.

    O valor do dlar utilizado na anlise de custos de cada etapa baseado

    na mdia da cotao de novembro de 2005 a maio de 2006, ou seja, R$ 2,20 para cada US$ (fonte: Banco Central do Brasil).

  • 12

    Figura 1.1. Desenho esquemtico da rea da parcela vistoriada com lanternas UV (Etapa I).

    Figura 1.2. Desenho esquemtico dos dois conjuntos de armadilhas de queda grandes (), um em linha reta e outro em T (Etapa II) unidos por barreira plstica ().

    2.2. MATERIAL EXAMINADO

    Os escorpies coletados foram acondicionados em frascos plsticos,

    fixados e conservados em lcool etlico a 70%. O material foi depositado na

    Coleo de Invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia

    (INPA), Manaus, Amazonas. As coletas foram autorizadas segundo licena IBAMA-AM (n. licena 102/2006 NUFAS/IBAMA AM; processo n. 02005.001250/06-10). A identificao foi baseada nas chaves de Loureno (2002a; b) e em descries mais recentes de novas espcies (Loureno & F, 2003; Loureno, 2004; Loureno & Machado, 2004; Loureno & Ramos, 2004; Loureno &

    Arajo, 2004; Loureno, 2005; Loureno et al., 2005a; Loureno et al., 2005b).

  • 13

    2.3. ANLISE DOS DADOS

    A eficincia dos dois tamanhos de armadilhas de queda foi avaliada pelo

    teste de Wilcoxon, realizado no programa SYSTAT 10 (SPSS 2000) e a curva de acumulao de espcies foi construda usando o programa EstimateS 8

    (Colwell, 2006).

    3. RESULTADOS

    Foi coletado um total de 293 escorpies pertencentes a 2 famlias, 4

    gneros e 5 espcies, representando 63% do total das oito espcies

    registradas para a reserva. Onze indivduos foram obtidos na coleta ativa com

    auxlio de lanternas UV e 282 na coleta passiva com armadilhas de queda,

    sendo 93 nos pitfall grandes e 189 nos pitfall pequenos.

    As espcies coletadas foram: Ananteris dekeyseri Loureno, 1982; A.

    pydanieli Loureno, 1982; Tityus metuendus Pocock, 1897 (Buthidae); Brotheas amazonicus Loureno, 1988 e Chactopsis amazonica Loureno & Francke,

    1986 (Chactidae). Na coleta ativa foram obtidos indivduos de duas espcies de grande

    porte e bastante conspcuas (T. metuendus e B. amazonicus). Nos pitfall grandes foram capturados representantes de todas as 5 espcies encontradas

    no presente trabalho enquanto que apenas T. metuendus no foi coletado nos

    pitfall pequenos (Tabela 1.1).

  • 14

    Tabela 1.1. Abundncia das espcies de escorpies coletadas em cada mtodo utilizado na Reserva Ducke.

    Coleta Passiva

    Coleta Ativa Armadilha grande Armadilha pequena

    Buthidae Ananteris dekeyseri Loureno 0 3 21 Ananteris pydanieli Loureno 0 4 15 Tityus metuendus Pocock 7 3 0

    Chactidae Brotheas amazonicus Loureno 4 68 127 Chactopsis amazonica Loureno & Francke 0 15 26

    Total 11 93 189

    Os trs mtodos diferiram quanto a eficincia. Na coleta ativa foram

    obtidos 0,65 indivduos/parcela. Na coleta passiva com pitfall a eficincia foi

    maior, com 5,47 indivduos/parcela nas armadilhas grandes e 6,3

    indivduos/parcela nas armadilhas pequenas.

    O nmero mnimo de parcelas a serem vistorias para a obteno de

    todas as espcies em cada mtodo variou de 14 parcelas para a coleta ativa,

    16 para as armadilhas grandes e 22 parcelas para as armadilhas pequenas

    (Figura 1.3). Com relao ao custo de cada mtodo, a coleta passiva foi mais

    dispendiosa que a coleta ativa. O custo por parcela foi de aproximadamente R$

    90,00 (ou US$ 41.91) para a coleta ativa, de R$ 357,00 (ou US$ 162.28) para as armadilhas grandes e de R$ 108,00 (ou US$ 49.10) para as armadilhas pequenas (Tabelas 1.2, 1.3 e 1.4).

  • 15

    Figura 1.3. Curva de rarefao de espcies baseada no nmero de parcelas amostradas com cada mtodo utilizado. Registramos duas espcies na coleta ativa (N=17 parcelas), cinco nas armadilhas grandes (N=17 parcelas) e quatro nas armadilhas pequenas (N=30 parcelas).

  • 16

    Tabela 1.2. Custos em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta ativa para 17 parcelas na Reserva Ducke.

    Descrio Valor em R$ Valor em US$ Material Permanente Lanternas UV 400,00 182.00 Material de Consumo Pilhas 500,00 228.00

    Gasolina 30,00 14.00 Alimentao 300,00 137.00

    Dirias 1 mateiro x 10 dias x R$ 30,00 300,00 137.00 Total das 17 parcelas 1.530,00 698.00 Total por parcela 90,00 40.91

    Tabela 1.3. Custo em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta passiva com armadilhas de queda grandes para 17 parcelas na Reserva Ducke. Material permanente e instalao baseados em Pinto (2006).

    Descrio Valor em R$ Valor em US$ Material Permanente Baldes (136 unidades) 1.360,00 619.00

    Cavadeira (3 unidades) 75,00 35.00 Lona Plstica (4 x 100 m) 210,00 96.00 Estacas de madeira (345 unidades) 410,00 187.00 Grampeadores e grampos 95,00 44.00

    Material Consumo Gasolina 100,00 46.00 Alimentao 1.270,00 578.00

    Dirias Instalao (4 pessoas x 14 dias x R$ 30,00) 1.400,00 367.00 Reviso (2 pessoas x 19 dias x R$ 30,00) 1.140,00 519.00

    Total das 17 parcelas 6.060,00 2,761.00 Total por parcela 357,00 162.28

    Tabela 1.4. Custo em R$ e em US$ (R$ 2,20 para cada US$) da coleta passiva armadilhas de queda pequenas para 30 parcelas na Reserva Ducke.

    Descrio Valor em R$ Valor em US$ Material Permanente Potes plsticos (1.500 unidades) 490,00 223.00

    Pratos plsticos (1.500 unidades) 120,00 55.00 Cavadeira (2 unidades) 45,00 21.00

    Material de Consumo Palitos de madeira (1.500 unidades) 35,00 16.00 Sal (45 kg) 50,00 23.00 Gasolina 100,00 46.00 Alimentao 960,00 437.00

    Dirias Instalao (2 pessoas x 10 dias x R$ 30,00) 600,00 273.00 Reviso (2 pessoas x 14 dias x R$ 30,00) 840,00 382.00

    Total das 30 parcelas 3.240,00 1,476.00 Total por parcela 108,00 49.10

  • 17

    Os dois tamanhos de armadilhas de queda.

    Para relacionar a riqueza e abundncia dos escorpies nos dois

    tamanhos de armadilhas de queda foram utilizados apenas os dados referentes

    as 9 parcelas das linhas Leste-Oeste 3 e 4 (Figura 3 - rea de Estudo), nas quais foram as nicas com os dois tamanhos de armadilhas instaladas. Nessas

    parcelas foram colocados os dois tamanhos de pitfall, com exceo da parcela

    3.500 m na Leste-Oeste 3, localizada em uma rea de baixio muito alagado

    que impossibilitou a instalao dos pitfall grandes. Nesta parcela foram

    instalados apenas os pitfall pequenos e somente dois indivduos de B.

    amazonicus foram coletados.

    No conjunto total das parcelas foram coletados 98 escorpies pertencentes a 2 famlias, 4 gneros e 5 espcies, sendo 42 indivduos nas

    armadilhas grandes e 56 nas armadilhas pequenas. Dentre as nove parcelas

    amostradas, quatro tiveram maior abundncia nas armadilhas grandes (Leste-Oeste 3 parcela 500 e Leste-Oeste 4 parcelas 1.500, 2.500 e 4.500), em uma parcela o nmero de escorpies coletados (3 indivduos) foi igual em ambas as armadilhas (Leste-Oeste 4 parcela 500) e em quatro parcelas foi coletado um maior nmero de indivduos nas armadilhas pequenas (Leste-Oeste 3 parcelas 1.500, 2.500, 4.500 e Leste-Oeste 4 parcelas 3.500). Contudo, no houve diferena no nmero de indivduos coletados nos dois tamanhos de armadilhas

    (Wilcoxon, Z = 0,772, p = 0.440, n = 9) (Tabela 1.5). Quatro das cinco espcies encontradas foram mais abundantes nas

    armadilhas pequenas, a exceo foi T. metuendus coletada apenas nas

    armadilhas grandes.

  • 18

    Tabela 1.5. Abundncia das espcies de escorpies coletadas nas armadilhas de queda grandes (G) e nas pequenas (P) nas linhas Leste-Oeste 03 e 04 na Reserva Ducke.

    A. dekeyseri A. pydanieli T. metuendus B. amazonicus C. amazonica Total G P G P G P G P G P G P Leste-Oeste 03

    500 0 1 0 0 2 0 1 2 1 0 4 3 1.500 0 5 0 1 0 0 3 6 0 1 3 13 2.500 1 4 0 0 0 0 1 2 3 6 5 12

    3.500* - 0 - 0 - 0 - 2 - 0 - 2* 4.500 0 0 0 0 0 0 4 7 0 0 4 7

    Leste-Oeste 04 500 0 1 0 1 0 0 3 1 0 0 3 3

    1.500 0 0 1 0 1 0 2 4 2 0 6 4 2.500 0 0 0 0 0 0 4 1 1 0 5 1 3.500 0 0 1 1 0 0 4 5 1 2 6 8 4.500 0 0 0 0 0 0 6 4 0 1 6 5

    Total 1 11 2 3 3 0 28 34 8 10 42 56 * armadilhas grandes no instaladas na parcela; dados no includos nas anlises.

    B. amazonicus foi a espcie mais abundante e a nica coletada por

    ambos os mtodos e em todas as parcelas. Essa espcie representou 66,7%

    dos indivduos coletados nas armadilhas grandes e 59,6% nas pequenas. O

    nmero de indivduos de B. amazonicus coletados pelos dois mtodos no

    diferiu significativamente (Wilcoxon, Z = 0,539, p = 0,590, n = 9).

    4. DISCUSSO

    Os mtodos de coleta

    A utilizao de luz ultravioleta para a coleta ativa de escorpies um

    mtodo bastante difundido e utilizado principalmente em reas abertas como

    desertos e savanas (Zahl, 1968; Lamoral, 1979; Polis, 1979; Polis & Farley, 1979; Levy & Amital, 1980; Williams, 1980; Lowe, 2001; Prendini, 2001). A coleta ativa muito influenciada pela experincia do coletor, pela abundncia

  • 19

    das populaes dos invertebrados (Bestelmeyer et al., 2000), alm de demandar grande esforo fsico, por isso foi realizada apenas nas 17 parcelas

    onde foram instalados as armadilhas grandes.

    No presente trabalho, apenas indivduos de grande porte foram obtidos

    com a coleta ativa resultando em uma possvel subamostragem da fauna. Essa

    diferena na eficincia do mtodo provavelmente se deve as caractersticas

    encontradas em reas florestadas como a deste trabalho, que diferentemente

    das reas abertas de savanas e desertos, contam com um ambiente fechado

    com grande quantidade de abrigos e obstculos que dificultam a localizao

    desses organismos, mesmo com o auxlio das lanternas com luz UV.

    Desse modo, consideramos que a procura ativa no foi o mtodo mais

    apropriado para ser utilizado em ambientes de floresta com densa cobertura

    vegetal como a da Reserva Ducke. Entretanto, para T. metuendus essa

    metodologia a mais indicada, pois se trata de uma espcie arborcola e

    conspcua, com indivduos de grande porte, sendo facilmente encontrada sobre

    troncos. As outras espcies provavelmente no foram coletadas por serem de

    menor porte e estarem escondidas sob o folhio, razes e troncos cados.

    Supomos que para trabalhos posteriores com essa espcie em ambientes

    florestais da Amaznia, a coleta ativa possa ser utilizada, porm com um

    aumento no esforo de coleta e com mais horas de vistoria em cada parcela.

    Em reas onde ocorrem palmeiras acaule, tambm aconselhvel

    realizar procuras diurnas removendo o folhio na base das folhas dessas

    palmeiras, sob casca de rvores, revirando os troncos cados e no folhio do

    solo. A coleta ativa e diurna difere da ativa e noturna por abranger uma fauna

    com caractersticas diferentes. A coleta ativa realizada noite abrange

  • 20

    principalmente indivduos ativos. A realizao dessa procura durante o dia,

    alm de propiciar uma melhor visibilidade no ambiente, tambm incluiria a

    coleta de indivduos entocados que possivelmente no seriam coletados

    noite. Para a realizao dessa busca diurna deve-se levar em considerao o

    maior impacto no ambiente causado por essa metodologia, principalmente pelo

    deslocamento dos troncos cados e do folhio. Deve-se levar em considerao

    que este trabalho parte de um projeto integrado de pesquisa onde outros pesquisadores estudam e monitoram outros organismos nas mesmas parcelas.

    As armadilhas de queda so frequentemente usadas em amostragens

    de artrpodes terrestres (Southwood, 1978; Adis, 1979; Spence & Niemel, 1994) principalmente no monitoramento ambiental e em estudos de biodiversidade (Work et al., 2002). Com essas armadilhas so realizadas coletas contnuas e passivas que eliminam falhas causadas pelas variaes

    entre coletores (Southwood, 1978; Vogt & Hine, 1982; Andersen, 1991; Majer, 1997), mas problemas inerentes foram observados com a utilizao de pitfall (Uetz & Unzicker, 1976; Southwood, 1978; Spence & Niemel, 1994; Majer, 1997). Entre estes problemas esto vrios fatores que podem influenciar nas taxas de captura dessas armadilhas, por exemplo, o tamanho do pitfall (Luff, 1975; Brennan et al., 1999), a temperatura (Adis, 1979), a estrutura do habitat (Greenslade, 1964), a atividade sazonal (Niemel et al., 1992), as caractersticas comportamentais e o tamanho do corpo dos invertebrados de

    folhio (Halsall & Wratten, 1988). As cercas-guia em conjunto com as armadilhas grandes (baldes de 30

    litros) aumentam consideravelmente a eficincia de coleta de artrpodes (Hansen & New, 2005), mas sua instalao causa grande impacto no ambiente,

  • 21

    principalmente no solo e nas plantas jovens e de pequeno porte prximas das cercas-guia (F. Costa, INPA, com. pess.). Outro grande impacto causado no ambiente a coleta de grupos no-alvo (rpteis, anfbios e pequenos mamferos). Devido ao seu alto custo de instalao, as armadilhas grandes (acima de 20 litros) so indicadas para levantamentos de longo prazo, com perodos maiores do que 15 dias (Cechin & Martins, 2000) e/ou em projetos conjuntos com o objetivo de amostrar um espectro mais amplo da fauna como, por exemplo, rpteis, anfbios, mamferos e invertebrados de solo. A utilizao das

    armadilhas de queda por vrios grupos da fauna gera maiores resultados,

    minimizando os custos e o esforo de coleta.

    Nas armadilhas grandes foram coletados 93 indivduos pertencentes s

    5 espcies e foram as nicas que capturaram todas as espcies registradas

    neste estudo. Como nessas armadilhas no foi utilizado nenhum lquido

    conservante, possivelmente alguns indivduos podem ter sido predados no

    interior dos baldes, fato j observado em vrios grupos de invertebrados como aranhas e besouros (Cechin & Martins, 2000; Pearce et al., 2005). Para minimizar a predao no interior das armadilhas seria recomendvel a

    utilizao de lquidos conservantes ou vistorias dirias nas armadilhas, mas

    isso demandaria um esforo fsico muito grande em projetos de escala meso-espacial, devido necessidade de transportar por grandes distncias muitos

    litros de lquido conservante.

    As armadilhas pequenas (potes de 500 ml) tambm so largamente utilizadas e so mais indicadas para a coleta de invertebrados, principalmente

    de formigas, besouros e aranhas de solo (Greenslade, 1964; Curtis, 1980;

  • 22

    Halsall & Wratten, 1988; Abensperg-Traun & Steven, 1995; Majer, 1997; Churchill & Arthur, 1999; Brennan et. al., 1999; Bestelmeyer et al., 2000; Ward

    et. al., 2001; Work et. al., 2002; Pearce et al., 2005). Neste estudo foram utilizadas 50 armadilhas pequenas em cada parcela uma vez que a

    amostragem de invertebrados com uma maior quantidade de armadilhas com

    dimetro de boca pequeno produz melhores resultados do que com poucas

    armadilhas de queda com dimetro grande (Abensperg-Traun & Steven, 1995). As cercas-guia no foram instaladas e sua ausncia, associada diminuio

    do dimetro do pitfall, reduziu o impacto no ambiente e minimizou a coleta de

    grupos no-alvo, como tambm j foi observado em coletas de aranhas e besouros de solo (Work et. al., 2002; Pearce et al., 2005).

    De acordo com Halsall & Wratten (1988) o tamanho do corpo dos animais um dos fatores que podem afetar a eficincia das armadilhas de

    queda, ou seja, com a reduo do dimetro das armadilhas os invertebrados grandes no so coletados ou conseguem sair das armadilhas. Mas, entre os

    escorpies, esse fato no foi registrado, pois espcies de grande porte foram

    coletadas. Brotheas amazonicus, uma das maiores espcies encontradas na

    Reserva, com tamanho variando de 6,36 a 6,97 cm (Loureno, 1988a), foi coletada em todas as parcelas com as armadilhas pequenas.

    Os escorpies coletados nas armadilhas pequenas representam 4 das 5

    espcies encontradas neste estudo. As armadilhas pequenas resultaram em

    uma melhor amostragem das menores espcies e de indivduos jovens, possivelmente por utilizar lquido conservante (soluo salina) evitando a predao dentro da armadilha, como tambm pelo fato de todo material

    coletado ter sido levado ao laboratrio para posterior triagem, evitando assim

  • 23

    que indivduos muito pequenos passassem despercebidos nas vistorias em

    campo.

    Em um levantamento anterior realizado na Reserva Ducke, T.

    metuendus e T. silvestris foram coletados em armadilhas de queda pequenas,

    com tamanho semelhante ao usado neste estudo (Hfer et al., 1996). O levantamento foi realizado em uma pequena rea da reserva e tambm

    abrangeu reas perturbadas.

    Com relao ao nmero mnimo de parcelas vistoriadas para a obteno

    de todas as espcies, na vistoria da primeira parcela com as armadilhas de

    queda grandes e pequenas obteve-se duas espcies, alcanando o mesmo

    nmero de espcies encontradas aps 14 parcelas vistoriadas com a coleta

    ativa. Dentre as armadilhas de queda, as armadilhas grandes foi o mtodo que

    com a vistoria do menor nmero de parcelas atingiu o maior nmero de

    espcies coletadas neste estudo. Nessas armadilhas com a vistoria de 16

    parcelas foram encontradas cinco espcies. J com as armadilhas pequenas

    foram coletadas quatro espcies com a vistoria de 22 parcelas. Com as

    armadilhas grandes foram coletadas quatro espcies com a vistoria de apenas

    cinco parcelas.

    O mtodo a ser utilizado para amostragem de escorpies depende

    inicialmente do objetivo do projeto. Para levantamentos de espcies arborcolas a coleta ativa e diurna o mtodo mais indicado, mas devido o seu grande

    impacto com o deslocamento dos troncos cados e do folhio, esta coleta

    tambm pode ser feita noite com menor impacto utilizando lanternas de luz

    UV. Para levantamentos de espcies de solo, o mtodo mais recomendado a

    utilizao de armadilhas de interceptao e queda. As armadilhas de grandes

  • 24

    dimenses (30 litros ou mais) so indicadas para levantamentos conjuntos com outros grupos da fauna de solo e com longo perodo de amostragem devido ao

    seu alto custo e grande impacto no ambiente. As armadilhas pequenas causam

    menor impacto, so mais baratas, de fcil manuseio e instalao e so

    indicadas para a coleta de escorpies e outros invertebrados de solo.

    Os mtodos utilizados neste estudo (coleta ativa e passiva) foram complementares uma vez que nenhum mtodo abrangeu todas as espcies

    conhecidas para a reserva. Para levantamentos completos da fauna de

    escorpies recomendamos a utilizao da coleta passiva (armadilhas de queda) preferencialmente as armadilhas pequenas juntamente com a coleta ativa (noturna ou diurna).

    O custo de cada mtodo

    A coleta ativa foi inicialmente o mtodo mais barato, mas necessrio o

    aumento do esforo de coleta. Com o maior esforo (3 vistorias por parcela) e em longo prazo (repetio das 17 parcelas amostradas), o custo por parcela aumentar para R$ 200,00.

    A coleta passiva teve um custo inicial alto devido aquisio do material

    permanente e instalao das armadilhas, mas em longo prazo na mesma

    rea esse custo cair consideravelmente. A utilizao das armadilhas grandes

    em coletas posteriores ser de aproximadamente R$ 118,00 por parcela e das

    armadilhas pequenas de R$ 77,00 por parcela (Tabela 1.6). A descrio dos custos de cada mtodo em longo prazo apresentada no Apndice I.

  • 25

    Tabela 1.6. Custos em R$ do material de consumo e dirias da coleta ativa e passiva com os dois tamanhos de armadilhas de queda. Descrio dos custos em longo prazo no Apndice I.

    Coleta Passiva Coleta Ativa* Armadilha grande* Armadilha pequena** Neste estudo 1.130,00 3.910,00 2.585,00 Em longo prazo 3.390,00 2.000,00 2.285,00 Por parcela 200,00 118,00 77,00

    * 17 parcelas amostradas. ** 30 parcelas amostradas. aumento no esforo de coleta (3 vistorias por parcela).

    As espcies de escorpies

    Trabalhos anteriores realizados na Reserva Ducke citam a ocorrncia de

    oito espcies (Hfer et al., 1996, Adis et al., 2002; Pinto-da-Rocha et al., 2002), mas com os mtodos utilizados neste estudo foram coletadas cinco espcies.

    As espcies no coletadas foram Broteochactas fei Pinto-da-Rocha &

    Brescovit, 2002 (Chactidae), Tityus raquelae Loureno, 1988 e Tityus silvestris Pocock, 1897 (Buthidae). B. fei foi descrita recentemente para a Reserva Ducke e possivelmente no foi encontrada por ser termitfila (Pinto-da-Rocha et al., 2002). T. raquelae ocorre apenas em reas de terra firme e arborcola, encontrada em troncos, na vegetao baixa descendo raramente ao solo

    (Hfer et al.,1996; Pinto-da-Rocha et al., 2002; Loureno et al., 2005a). Esta espcie tambm no foi coletada com armadilhas de queda instaladas

    anteriormente na Reserva Ducke por Hfer et al. (1996), seu registro foi com a utilizao de fotoecletores nos troncos das rvores (Hfer et al.,1996). T. silvestris descrita para reas de terra firme e igap. Nas reas inundadas ela

    uma espcie considerada arborcola (Loureno, 1988a; Loureno et al., 2005a), mas em reas de terra-firme, assim como T. raquelae, encontrada em troncos e no subbosque raramente descendo ao solo (Hfer et al.,1996; Pinto-da-Rocha et al., 2002), provavelmente essa espcie tambm seja

  • 26

    arborcola em reas de terra-firme e, devido a esta caracterstica, T. silvestris e

    T. raquelae no foram coletadas pelas armadilhas de queda.

    T. silvestris e T. raquelae tambm no foram detectadas na coleta ativa

    noturna possivelmente por estarem escondidas nos troncos e na vegetao,

    principalmente T. silvestris que bem menor que as outras espcies

    arborcolas.

    Assim como T. silvestris, T. metuendus tem sido considerada uma

    espcie terrestre em reas de terra-firme (Loureno, 1983) e uma espcie arborcola em reas de igap (Loureno et al., 2005a), sendo tambm encontradas em palmeiras e bromlias nos dois ambientes. De acordo com

    Hfer et al. (1996), T. metuendus normalmente encontrada nos troncos, no subbosque e eventualmente no solo. Mas, em alguns trabalhos (Loureno, 1983; Pinto-da-Rocha et al., 2002), e em um levantamento que realizamos na Coleo de Invertebrados do INPA, vrios espcimes possuem dados de coleta

    na vegetao, principalmente em palmeiras. Estes dados reforam o hbito

    arborcola da espcie em reas de terra-firme e justificam a maior ocorrncia dessa espcie na coleta ativa.

    T. silvestris e T. metuendus foram coletadas em armadilhas de

    interceptao e queda em reas perturbadas dentro da cidade de Manaus

    (durante levantamento de fauna, em rea de mata no entorno da Refinaria Isaac Sabb, REMAN, Projeto Petrobrs) e em reas perturbadas na Reserva Ducke (Hfer et al.,1996). Para rpteis, anfbios e formigas tambm j foi encontrada essa variao na coleta com armadilhas de queda em diferentes

    habitats, provavelmente porque em reas com pouca complexidade do

  • 27

    ambiente essas armadilhas so mais eficientes para amostrar a riqueza de

    espcies do que em reas de floresta (Majer, 1997; Cechin & Martins, 2000). A. dekeyseri e A. pydanieli so encontradas apenas em reas de terra

    firme (Loureno et al., 2005a), no solo (Hfer et al., 1996) e possuem populaes pouco densas (Loureno, 1988a). A. dekeyseri considerada rara, com apenas quatro espcimes conhecidos (Loureno, 2002a), e foi a espcie com maior diferena no nmero de indivduos entre os dois tamanhos de

    armadilha de queda (um espcime nos pitfall grandes e 11 nos pequenos). C. amazonica uma das quatro espcies do gnero descritas para a

    Amaznia brasileira, normalmente encontrada em terra firme (Reserva Ducke) com apenas dois indivduos descritos para o Tarum-Mirim, uma rea de igap

    (Loureno & Francke, 1986). No presente trabalho essa espcie foi coletada nos dois tamanhos de armadilhas de queda, sendo 15 indivduos nos pitfall

    grandes e 26 nas armadilhas pequenas.

    B. amazonicus tambm encontrada apenas em reas de terra firme

    (Loureno et al., 2005a), normalmente no solo e sob o folhio e troncos (Hfer et al., 1996), mas muito raramente em palmeiras (Loureno, 1988a). Esta espcie era considerada restrita a reas de mata, mas alguns indivduos

    recentemente depositados na Coleo de Invertebrados do INPA foram

    coletados na periferia da cidade de Manaus.

  • 28

    CAPTULO 2: INFLUNCIA DE FATORES AMBIENTAIS SOBRE AS ESPCIES DE ESCORPIES DA RESERVA FLORESTAL ADOLPHO DUCKE.

    1. INTRODUO Informaes sobre a distribuio das espcies de animais e plantas

    fornecem dados ecolgicos fundamentais para traar relaes e definir padres

    para ento criar estratgias de conservao (Morrison et al., 1998 apud Pinto, 2006).

    Diversos estudos das relaes entre a distribuio das espcies com

    algumas variveis do ambiente foram realizados com plantas de subbosque

    (Kinupp & Magnusson, 2005; Costa et al., 2005), anuros (Menin, 2005) e lagartos (Pinto, 2006). Com relao aos invertebrados, j foi observado que alguns fatores biticos e abiticos podem afetar na composio das

    comunidades de invertebrados, como estrutura e composio das espcies

    vegetais onde vivem (Sanderson et al., 1995), composio e condies de solo (Curry, 1987; Rushton et al., 1991; Vasconcelos et al., 2003), quantidade e qualidade da serrapilheira (Coral, 1998; Fagundes, 2003) e percentual de argila no solo (Fagundes, 2003). No entanto, a relativa contribuio desses fatores ainda pouco estudada (Sanderson et al., 1995). A abundncia e a distribuio desses animais variam muito de um lugar para outro em conseqncia de sua

    sensibilidade aos fatores ecolgicos, como o prprio solo, que pode apresentar

    diferenas considerveis mesmo a pequenas distncias (Ribeiro & Adis 1984; Adis 1988).

  • 29

    Alguns estudos com escorpies j mostraram relaes entre a distribuio, biologia e densidade populacional e algumas variaes do

    ambiente (Polis, 1990a). As principais variveis que influenciam a distribuio so temperatura e precipitao (MacArthur, 1972; Kock, 1977; 1981; Newlands, 1978). Regies com temperaturas muito baixas limitam a distribuio desses aracndeos e em uma escala mundial, os escorpies no so encontrados em

    altas latitudes provavelmente devido s temperaturas extremamente baixas

    (Polis, 1990a), mas existem excees como Bothriurus patagonicus Maury, 1968, encontrado na Patagnia. A influncia de variveis ambientais foi

    observada na reproduo de Tityus fasciolatus Pessoa, 1935 durante a estao

    seca, poca desfavorvel para nascimento de filhotes. Neste perodo as

    fmeas apresentam diapausa no desenvolvimento embrionrio e com o incio

    da estao chuvosa ocorre a continuao da gestao (Loureno, 1995; Loureno et al., 2003). Outra influncia do ambiente sobre os escorpies pode ser observada na densidade populacional. Algumas espcies s alcanam sua

    densidade mxima em reas com extensa cobertura de pedras, troncos e

    serrapilheira (Smith, 1966; Kock, 1978; Warburg & Ben-Horin, 1978) devido a maior quantidade de abrigos nesse ambiente.

    A influncia do ambiente sobre a fauna de escorpies foi estudada na

    Amaznia por Hfer et al. (1996), na Reserva Florestal Adolpho Ducke. O tipo do habitat, caracterizado como plat, campinarana e rea perturbada, como

    tambm suas caractersticas, por exemplo, volume de serrapilheira, nmero de

    palmeiras, cupinzeiros e troncos cados, foram relacionados com a abundncia

    de B. amazonicus. Entretanto, neste estudo no foi avaliado como essas

    caractersticas influenciaram a abundncia dessa espcie.

  • 30

    A Reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD) um mosaico composto por vrios tipos de solo, vegetao, relevo, altitude e declividade do terreno e os

    solos variam de argilosos at arenosos. Essa variao favorece melhores

    condies alimentares e de habitat, uma vez que os invertebrados do solo so

    afetados por numerosos fatores como a topografia, as condies do solo, e as

    caractersticas da camada de folhio. Compreender as relaes desses fatores

    com a fauna de escorpies da Amaznia fornece dados muito teis para a

    biologia de conservao do grupo. Essas informaes tambm so proveitosas

    para estabelecer estratgias de conservao e manejo da biodiversidade de uma regio (Williams & Hero, 2001).

    Este captulo teve como objetivo avaliar o padro de distribuio das espcies de escorpies em relao altura da serrapilheira, nmero de troncos

    cados e palmeiras acaules, porcentagem de areia no solo e inclinao do

    terreno na Reserva Ducke.

    2. MATERIAL E MTODOS

    2.1. REA DE ESTUDO

    A caracterizao da rea de estudo apresentada no item rea de Estudo (pgina 3) no incio deste trabalho.

    2.2. MTODOS Neste captulo especificamente, foram utilizados os dados referentes

    Etapa III, coleta utilizando armadilhas de queda pequenas (potes de 500 ml)

  • 31

    instaladas em 30 parcelas da Reserva Ducke. A descrio detalhada da coleta

    apresentada no captulo 1, item 2.1 (pgina 9). As variveis ambientais utilizadas no presente captulo foram medidas

    em cada parcela amostrada, sendo elas: altura da serrapilheira, nmero de

    troncos cados, nmero de palmeiras acaule, porcentagem de areia no solo e

    inclinao do terreno.

    A altura da serrapilheira foi medida prximo de cada armadilha de queda

    instalada. As medidas foram feitas com auxlio de rgua graduada (em cm) totalizando 50 medidas na parcela. Ao redor de cada armadilha foi

    contabilizado o nmero de troncos cados com dimetro acima de 10 cm e de

    palmeiras acaule at uma distncia de 5 m. A rea vistoriada foi uma semi-

    circunferncia a frente de cada armadilha. Neste estudo foram utilizadas as

    mdias das variveis em cada parcela (Figura 2.1). Os dados sobre as variveis porcentagem de areia no solo e inclinao

    do terreno foram fornecidos por pesquisadores do projeto PPBio. A porcentagem de areia no solo foi obtida com a mdia de seis amostras

    coletadas a cada 50 m na linha central da parcela a 5 cm de profundidade. As

    amostras foram agrupadas, homogeneizadas e secas ao ar. A porcentagem de

    areia foi baseada na diferena entre o peso seco da amostra total e o peso

    seco da amostra peneirada, a porcentagem de areia nas parcelas variou entre

    9,9% e 98,1%. As anlises foram feitas no Laboratrio Temtico de Solos e

    Plantas, do Departamento de Cincias Agronmicas do INPA. A declividade do

    terreno foi obtida com o auxlio de um clinmetro e foi representada com a

    mdia de seis medidas tomadas ao longo da parcela, no incio e a cada 50 m,

  • 32

    sempre na linha central da parcela. A inclinao teve grande variao entre as

    parcelas, de 0,67 a 26,33.

    Figura 2.1. Desenho esquemtico das parcelas com armadilhas de queda pequenas. rea vistoriada para contabilizar nmero de troncos cados e palmeiras acaules ( ) e pontos de medies da serrapilheira (Etapa III).

    2.3. ANLISE DOS DADOS Todas as anlises foram feitas com o programa SYSTAT 10 (SPSS

    2000). Antes de avaliar os modelos de regresses para avaliar os efeitos das

    variveis independentes (altura da serrapilheira, nmero de troncos cados, nmero de palmeiras acaule, inclinao e porcentagem de areia) sobre a abundncia ou presena/ausncia das espcies em cada parcela, as variveis

    independentes foram analisadas quanto sua colinearidade utilizando a

    correlao de Pearson, considerando apenas as correlaes fortes (0,6

  • 33

    em menos da metade das parcelas (Ananteris dekeyseri, A. pydanieli e Chactopsis amazonica), regresses logsticas foram feitas com os dados de presena/ausncia de cada espcie.

    Tambm foi testado um modelo retirando a varivel nmero de troncos

    cados, utilizando apenas nmero de palmeiras acaule, porcentagem de areia e

    inclinao do solo. Esta anlise foi realizada, pois na correlao entre as

    variveis ambientais, a varivel nmero de troncos cados estava

    correlacionada com nmero de palmeiras acaule (r = 0,33; p = 0,072). 3. RESULTADOS

    Foram coletados 189 escorpies pertencentes a 2 famlias, 3 gneros e

    4 espcies. As espcies coletadas foram Ananteris dekeyseri; A. pydanieli

    (Buthidae); Brotheas amazonicus e Chactopsis amazonica (Chactidae). A espcie mais abundante foi B. amazonicus representando 67% dos

    indivduos coletados, seguida por C. amazonica com 14%, A. dekeyseri com

    11% e A. pydanieli com 8% (Tabela 2.1). A abundncia das espcies em cada parcela foi muito varivel. Foram coletados de 1 a 10 indivduos de B.

    amazonicus por parcela, A. dekeyseri e A. pydanieli de zero a 5 e C.

    amazonica teve uma variao de zero a seis indivduos por parcela (Figura 2.2).

    Tabela 2.1. Nmero de parcelas onde cada espcie de escorpio foi registrada e nmero de indivduos coletados na Reserva Ducke. Espcie Nmero de parcelas Nmero de indivduos Buthidae Ananteris dekeyseri Loureno 10 21 Ananteris pydanieli Loureno 9 15

    Chactidae Brotheas amazonicus Loureno 30 127 Chactopsis amazonica Loureno & Francke 11 26

  • 34

    O registro de riqueza de espcies, nas 30 parcelas onde foram

    instaladas as armadilhas pequenas, variou de uma a quatro espcies, mas foi

    considerada baixa na maioria das parcelas. Em 11 parcelas (37%) foi coletada apenas uma espcie (B. amazonicus). Em 10 parcelas foram encontradas duas espcies (33%) e em apenas duas parcelas (7%) foram registradas todas as quatro espcies (Figura 2.3). Os efeitos das variveis ambientais, nmero de troncos cados

    (Troncos), nmero de palmeiras acaule (Palm), porcentagem de areia no solo (Areia - %) e inclinao do terreno (Incli graus) foram testados atravs de regresso mltipla para a abundncia de B. amazonicus. O modelo testado no

    explicou a distribuio dessa espcie (R2 = 0,124; P = 0,487). No houve efeito do nmero de troncos (t = -0,127; P = 0,900; Tolerance = 0,818), do nmero de palmeiras (t = 0,130; P = 0,897; Tolerance = 0,824), da porcentagem de areia no solo (t = -1,220; P = 0,234; Tolerance = 0,869) ou da inclinao do terreno (t = 1,536; P = 0,137; Tolerance = 0,951). Para as espcies que ocorreram em menos da metade das parcelas

    amostradas foi testado o efeito das variveis ambientais, nmero de troncos

    cados, nmero de palmeiras acaule, porcentagem de areia no solo e

    inclinao do terreno na presena/ausncia de cada espcie por meio de

    regresses logsticas.

  • 35

    Figura 2.2. Abundncia das espcies de escorpies em 30 parcelas amostradas na Reserva Ducke.

    Figura 2.3. Nmero de espcies de escorpies em 30 parcelas amostradas na Reserva Ducke.

  • 36

    O modelo testado no explicou a ocorrncia de A. dekeyseri

    (MacFadeens Rho2 = 0,238; P = 0,059). Entretanto a baixa probabilidade da hiptese nula indica um possvel erro tipo II (a probabilidade de aceitar a hiptese nula quando esta falsa). Nas anlises da regresso logstica houve evidncia do efeito da porcentagem de areia no solo (t = 2,388; P = 0,017), indicando que probabilidade de ocorrncia de A. dekeyseri aumenta com a

    maior porcentagem de areia no solo, explicando cerca de 23% da variao

    dessa espcie. No houve efeito do nmero de troncos cados (t = -0,275; P = 0,783), do nmero de palmeiras (t = 1,113; P = 0,266) ou da inclinao do terreno (t = 0,129; P = 0,897). Para A. pydanieli o modelo no explicou a sua ocorrncia (MacFadeens Rho2 = 0,071; P = 0,626). Para C. amazonica o modelo no explicou a presena da espcie

    (MacFadeens Rho2 = 0,043; P = 0,792) Analisando os modelos de regresso com as variveis: nmero de

    palmeiras acaule, porcentagem de areia e inclinao do terreno, os resultados

    foram semelhantes para todas as espcies (B. amazonicus R2 = 0,123; P = 0,322; A. dekeyseri MacFadeens Rho2 = 0,236; P = 0,029; A. pydanieli

    MacFadeens Rho2 = 0,058; P = 0,546; C. amazonica MacFadeens Rho2 =

    0,012; P = 0,926) (Apndice II).

    4. DISCUSSO A dominncia de uma nica espcie de escorpio na comunidade j foi observada anteriormente em vrias regies do mundo (Polis, 1990a), entre elas

  • 37

    o cerrado do Distrito Federal (Loureno, 1975). Na Reserva Ducke foi observada a predominncia de B. amazonicus em reas de floresta,

    caracterizadas como plat e campinarana e em rea alterada (Hfer et al., 1996), no presente trabalho, essa espcie tambm foi predominante em toda a rea do levantamento.

    Polis (1990a) sugere que a riqueza local de escorpies maior em reas subtropicais diminuindo em direo aos plos e linha do Equador. A maioria

    das reas onde j foram realizados levantamentos da comunidade de escorpies est localizada nos desertos subtropicais, por exemplo, a pennsula

    de Baja California no Mxico que possui a maior riqueza local j encontrada, com 10 a 13 espcies em 1 km2 (Polis, 1990a). Na Reserva Ducke, uma floresta tropical, em 70% da rea amostrada (aproximadamente 18 km2) a riqueza variou de 1 a 2 espcies por parcela.

    Hfer et al. (1996) relacionaram a abundncia de B. amazonicus com o nmero de palmeiras acaule, troncos cados, cupinzeiros e volume de

    serrapilheira em uma pequena rea da Reserva Ducke (aproximadamente 10,5 ha). Quando ampliamos a rea amostrada para 2.500 ha, a influncia de algumas dessas variveis no foi detectada.

    No modelo utilizado no presente estudo apenas a varivel porcentagem

    de areia no solo teve influncia na presena de A. dekeyseri explicando cerca

    de 23% da ocorrncia dessa espcie. Retirando a varivel nmero de troncos

    cados do modelo, as relaes continuaram semelhantes, inclusive

    porcentagem de areia e presena de A. dekeyseri, ou seja, a varivel nmero de troncos cados no influenciou muito no modelo. Na mesma reserva do

    presente trabalho, as plantas de sub-bosque, anuros e lagartos tambm foram

  • 38

    relacionados com as variveis edficas e topogrficas. Essas variveis tambm

    explicaram uma pequena proporo (de 6 a 20%) da abundncia (ou presena/ausncia) e somente de poucas espcies (Costa et al., 2005; Kinupp & Magnusson, 2005; Menin, 2005; Pinto, 2006).

    Supomos que a relao encontrada entre Ananteris dekeyseri e a

    porcentagem de areia no solo seja indireta. A porcentagem de areia no solo est relacionada com a proximidade de corpos dgua, ou seja, locais com alta porcentagem de areia no solo esto prximos de corpos dgua, normalmente

    localizados em reas de baixio (Luizo et al., 2004). Logo, A. dekeyseri possivelmente pode ter uma relao significativa com a proximidade de

    riachos. A relao entre a abundncia de uma espcie e a proximidade de

    ambientes aquticos j foi observada em outras espcies de escorpies como na espcie africana Microbuthus fagei Vachon, 1949, Mesobuthus martensii

    (Karsch, 1879) encontrada no Oriente Mdio, na espcie europia Euscorpius flavicaudis (De Geer, 1778) (Vachon,1951) e Serradigitus litoralis (Williams, 1980) encontrada na pennsula de Baja California no Mxico (Due & Polis, 1985). A maioria das espcies citadas anteriormente ocorre em regies litorneas e essa relao se deve a busca de ambientes com maior umidade do

    ar (Vachon,1951). Provavelmente a ocorrncia de A. dekeyseri em rea prxima a corpos dgua no seja pelo mesmo fator, pois em florestas tropicais a umidade relativa do ar bastante alta (Ribeiro & Adis, 1984). Ananteris dekeyseri considerada uma espcie rara com poucos espcimes conhecidos

    (Loureno, 2002a) desta forma so necessrios mais estudos sobre a biologia dessa espcie para esclarecer quais fatores e como eles podem influenciar na

    sua distribuio auxiliando assim a conservao desse grupo.

  • 39

    CAPTULO 3: GUIA DE IDENTIFICAO DAS ESPCIES DE ESCORPIES REGISTRADAS PARA A RESERVA DUCKE.

    1. INTRODUO Um dos problemas enfrentados pelos conservacionistas como

    identificar rapidamente e a custos baixos as reas mais importantes para

    conservao (Williams & Gaston, 1994). Para determinar reas prioritrias necessrio mapear a diversidade em grandes escalas, o que se torna muito

    difcil devido limitao de tempo e de recursos financeiros, alm da falta de

    especialistas (Olsgard et al., 2003). Novas solues metodolgicas e tecnolgicas esto surgindo em

    respostas s chamadas internacionais para levantamentos rpidos de

    biodiversidade, como, por exemplo, o uso de trabalhadores locais no

    especialistas (parataxnomos), que tem aumentado a quantidade de espcimes coletados e processados em pases em desenvolvimento com biota

    altamente diversa (Gmez, 1991; Janzen, 1991; 2004; Longino, 1994). Ao mesmo tempo, o aumento no uso de tecnologia de bioinformtica tem

    contribudo para acelerar as taxas de acumulao e transferncia de

    informao sobre biodiversidade (Oliver et al., 2000). Neste captulo est sendo proposto um guia de identificao com chave

    pictrica simplificada e fichas com a caracterizao das espcies registradas

    para a Reserva Ducke. Este guia tem por objetivo viabilizar a rpida identificao dos escorpies por parataxnomos e pesquisadores no-

    especialistas. As fichas das espcies e a chave pictrica foram baseadas nas

    chaves de identificao de Loureno (2002a; b), nas descries originais e

  • 40

    revises das espcies (Loureno, 1982; 1983; 1988b; 2004; Loureno & Francke, 1986; Pinto-da-Rocha et al., 2002). A classificao adotada segue Prendini & Wheeler (2005).

    Com o aumento da informao os poucos taxnomos existentes esto

    sobrecarregados e a realizao de levantamentos rpidos em grandes escalas

    se torna invivel. A utilizao desta chave no elimina a necessidade de

    consulta a um especialista, mas minimiza o acmulo de trabalho para o

    mesmo, uma vez que somente eventuais dvidas nas identificaes e

    possveis espcies novas ou novos registros seriam enviados para o taxnomo.

    Sendo assim, a pergunta a ser feita ao especialista seria esta espcie? no

    lugar de qual esta espcie?. Este guia estar disponvel no site do

    Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio ppbio.inpa.gov.br) podendo auxiliar na identificao dos escorpies coletados nas grades do projeto instaladas na Amaznia brasileira.

  • 41

  • 42

  • 43

  • 44

  • 45

  • 46

  • 47

  • 48

  • 49

  • 50

  • 51

  • 52

  • 53

  • 54

    CONCLUSES

    Para amostragem da fauna de escorpies, o mtodo a ser utilizado

    depende primeiramente do objetivo a ser alcanado. Nosso objetivo foi o de coletar dados que pudessem mapear a diversidade em grandes escalas

    geogrficas, que fossem ao mesmo tempo eficientes e de menor custo,

    auxiliando tanto os estudos ecolgicos quanto os taxonmicos. Verificamos que

    na reserva a coleta ativa noturna foi o mtodo mais indicado para

    levantamentos das espcies arborcolas e sugerimos que esta coleta pode ser

    realizada durante o dia, ou noite com lanternas de luz ultravioleta. A coleta

    passiva utilizando armadilhas de queda (pitfall) grandes e pequenas apropriada para levantamentos das espcies de solo, uma vez que em nosso

    estudo os dois tamanhos no diferiram na abundncia das espcies.

    Sugerimos que as armadilhas grandes sejam recomendadas para levantamentos conjuntos com outros txons como, rpteis, anfbios e pequenos mamferos, e com longos perodos de amostragem devido ao seu grande

    impacto e alto custo. As armadilhas pequenas so mais indicadas para coleta

    de escorpies e de invertebrados de solo. Sugerimos para levantamentos

    completos da fauna de escorpies a utilizao de ambos os mtodos, a coleta

    passiva, preferencialmente as armadilhas pequenas juntamente com a coleta ativa, pois nenhum mtodo abrangeu todas as espcies registradas para a

    reserva. Por outro lado, fornecer um inventrio completo das espcies

    existentes numa rea satisfaz o ponto de vista taxonmico, mas no satisfaz as

    necessidades das agncias de fomento e dos grandes projetos de pesquisas,

  • 55

    que buscam tambm as informaes ecolgicas que expliquem a ocorrncia

    daquelas espcies naquela rea.

    As variveis do ambiente utilizadas neste estudo no explicaram o

    padro de distribuio da maioria das espcies de escorpies, mas a varivel

    porcentagem de areia no solo teve influncia na presena de A. dekeyseri.

    Essa relao provavelmente indireta, pois a porcentagem de areia est

    relacionada com a proximidade de corpos dgua e possivelmente a

    distribuio desta espcie pode ser influenciada por este fator. A. dekeyseri

    uma espcie rara e mais estudos so necessrios para compreender como os

    fatores ambientais podem influenciar na distribuio dessa espcie ajudando, portanto na conservao do grupo.

    proposto um guia de identificao composto de chave pictrica simplificada e caracterizao de cada espcie registrada para a Reserva

    Florestal Adolpho Ducke. Este guia tem por objetivo viabilizar a rpida identificao dos escorpies por parataxnomos, no eliminando a

    necessidade de consulta ao especialista, mas apenas as dvidas com a

    identificao e possveis espcies novas seriam enviadas ao taxnomo.

  • 56

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Abensperg-Traun, M.; Steven, D. 1995. The effects of pitfall trap diameter on ant species richness (Hymenoptera, Formicidae) and species composition of the catch in a semi-arid eucalypt woodland. Austral Ecology, 20 (2): 282.

    Adis, J. 1979. Problems interpreting arthropod sampling with pitfall traps. Zoologischer Anzeiger, 202: 177-184.

    Adis, J. 1981. Comparative ecological studies of the terrestrial arthropod fauna in Central Amazonian inundation forest. Amazoniana, 7 (2): 87-173.

    Adis, J. 1988. On the abundance and density of terrestrial arthropods in Central Amazonian dryland forests. Journal of Tropical Ecology, 4: 19-24.

    Adis, J.; Ronaldo, A. B.; Brescovit, A. D.; Bertani, R.; Cokendolpher, J. C.; Conde, B.; Kury, A. B.; Loureno, W. R.; Mahnert, V.; Pinto-da-Rocha, R.; Platnick, N. I.; Reddell, J. R.; Rheims, C. A.; Rocha, L. S.; Rowland, J. M.; Weygoldt, P.; Woas, S. 2002. Arachnida at "Reserva Ducke", Central Amazonia / Brazil. Amazoniana, 17 (1/2): 1-14.

    Aguiar, N. O.; Gualberto, T. L.; Franklin, E. 2006. A medium-spatial distribution pattern of Pseudoscorpionida (Arachnida), soil factors, and litter in a Central Amazonia forest reserve, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 66 (3): 791-802.

    Andersen, A. N. 1991. Sampling communities of ground-foraging ants: Pitfall catches compared with quadrat counts in an Australian tropical savannah. Australian Journal of Ecology, 16: 273-279.

    Andersen, A. N.; Hoffmann, B. D.; Mller, W. J.; Griffiths, A. D. 2002. Using ants as bioindicators in land management: simplifying assessment of ant community responses. Journal of Applied Ecology, 39: 8-17.

    Beattie, A. J.; Majer, J. D.; Oliver, I. 1993. Rapid Biodiversity Assessment: A Review. In: Beattie, A. J. (Ed.). Rapid biodiversity assessment: Proceedings of the biodiversity assessment workshop, 3-4 May 1993, Macquarie University, Sydney, Australia. Research Unit for Biodiversity and Bioresources, School of Biological Sciences, Macquarie University, Sydney. p. 4-14.

    Bestelmeyer, B. T.; Agosti, D.; Alonso, L.; Brando, C. R.; Brown Jr, W. L.; Delabie, J. H. C.; Silvestre, R. 2000. Field techniques for the study of ground-dwelling ants: an overview, description and evaluation. In: Agosti, D.; Majer, D.; Alonso, L.; Schultz, T. (Eds.). Ants: standard methods for measuring and monitoring biodiversity (Biological Diversity Handbook Series). Smithsonian Institution Press, Washington, DC. p. 122-144.

  • 57

    Brennan, K. E. C.; Majer, J. D.; Reygaert, N. 1999. Determination of an optimal pitfall trap size for sampling spiders in a western Australian Jarrah forest. Journal of Insect Conservation, 3: 297-307.

    Brownell, P. H. 1977. Prey-localizing behavior of the nocturnal scorpion Paruroctonus mesaensis. Dissertation Abstracts, 38 (4): 1509B.

    Cechin, S. Z.; Martins, M. 2000. Eficincia de armadilhas de queda (pitfall traps) em amostragens de anfbios e rpteis no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 17 (3): 729-740.

    Chauvel, A.; Lucas, Y.; Boulet, R. 1987. On genesis of the mantle of the region of Manaus, Central Amazonia, Brazil. Experientia, 43: 234-241.

    Churchill, T. B.; Arthur, J. M. 1999. Measuring spider richness: effects of different sampling methods and spatial and temporal scales. Journal of Insect Conservation, 3: 287-295.

    Churchill, T. B. 1993. Effects of Sampling Methodology on the Composition of a Tasmanian Coastal Heathland Spider Community. In: Raven, R. J. (Ed.). Proceedings of the XIIth International Congress of Arachnology, 33, 475-481. Brisbane.

    Colwell, R.K. 2006. EstimateS: Statistical estimation of species richness and shared species from samples. Version 8. Persistent URL .

    Coral, S. C. T. 1998. Macrofauna da liteira em sistemas agroflorestais implantados em reas de pastagens abandonadas na Amaznia Central. Dissertao de Mestrado, INPA / UFAM, Manaus, Amazonas. 98pp.

    Costa, F. R. C.; Magnusson, W. E.; Luizo, R. C. C. 2005. Mesoscale distribuition patterns of amazonian understorey herbs in relation to topography, soil and watersheds. Journal of Ecology, 93: 863-878.

    Curry, J. P. 1987. The invertebrate fauna of grassland and its influence on productivity II. Factors affecting the abundance and composition of the fauna. Grass and Forage and Science, 42: 197-212.

    Curtis, D. J. 1980. Pitfalls in spider community studies (Arachnida, Araneae). Journal of Arachnology, 8: 271-280.

    Due, A. D.; Polis, G. A. 1985. The biology of Vaejovis littoralis Williams, an intertidal scorpion from Baja California, Mexico. Journal of Zoology, 207: 563-580.

    Edmonds, R. L.; Marra, J. L. 1999. Decomposition of woody material, nutrient dynamics, invertebrate/fungi relationship and management in northwest forests. In: Meurisse, R. T.; Ypsilantis, W. G.; Seybold, C. (Eds.). Decomposition of woody material, nutrient dynamics, invertebrate/fungi

  • 58

    relationship and management in northwest forests. U. S. Department of Agriculture, Forest Service Pacific Northwest Research Station, Portland. p. 68-79.

    Fagundes, E. P. 2003. Efeitos de fatores do solo, altitude e inclinao do terreno sobre os invertebrados da serapilheira, com nfase em Formicidae (Insecta, Hymenoptera) da Reserva Ducke, Manaus, Amazonas, Brasil. Dissertao de Mestrado, INPA / UFAM, Manaus, Amazonas. 70pp.

    Fisher, B. L. 1999. Improving inventory efficiency: a case study of leaf-litter ant diversity in Madagascar. Ecological Monographs, 9: 714-731.

    Fittkau, E. J. & Klinge H., 1973. On biomass and trophic structure of the Central Amazonian rainforest ecosystem. Biotropica. 5:2-14.

    Gmez, R. 1991. Biodiversity conservation through facilitation of its sustainable use: Costa Ricas National Biodiversity Institute. Trends in Ecology & Evolution, 6: 377-378.

    Gibbons, J. W.; Semlitsch, R. D. 1981. Terrestrial drift fences with pitfall traps: an effective technique for quantitative sampling of animal populations. Brimleyana, 7: 7-16.

    Gotelli, N. J. 2004. A taxonomic wish-list for community ecology. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B, 359: 585-597.

    Greenberg, C. H.; Neary, D. G.; Harris, L. D. 1994. A comparison of herpetofaunal sampling effectiveness of pitfall, single-ended, and double-ended funnel traps used with drift fences. Journal of Herpetology,