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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PSICOLOGIA HOSPITALAR ENTRE MÉDICOS E PSICÓLOGOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Juliana Wallig Alves de Carvalho
Orientador: Prof. Edson Alves de Souza Filho
Rio de Janeiro 2005
Juliana Wallig Alves de Carvalho
Representações sociais da Psicologia Hospitalar entre médicos e psicólogos
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Psicologia
Orientador: Prof. Edson Alves de Souza Filho
Rio de Janeiro 2005
Juliana Wallig Alves de Carvalho
Representações sociais da Psicologia Hospitalar entre médicos e psicólogos
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Psicologia.
Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2005 BANCA EXAMINADORA _____________________________________ Edson Alves de Souza Filho, Professor Doutor, Universidade Federal do Rio de Janeiro. ____________________________________
Lucia Emmanoel Novaes Malagris , Professora Doutora, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
_____________________________________ Brigido Vizeu Camargo, Professor Doutor, Universidade Federal de Santa Catarina.
Para Marlise, que se faz presente em mim.
AGRADECIMENTOS
À Eliane Farah pelo incentivo, pulso firme e por conseguir fazer com que eu sentisse minha força e capacidade. Sem você, esta dissertação não teria sido realizada. Ao Mauricio Maciel por toda ajuda, acolhimento, apoio nos momentos mais difíceis. E por acreditar em mim. Ao meu pai, Sérgio, pelo “paitrocínio” nestes dois anos de estudo. À minha mãe, Ana Maria, minha irmã Ana Carolina e meu irmão Sérgio, por suportarem meu stress nos momentos finais. À minha irmã Mariana por me ouvir e incentivar. Ao meu amigo Mário pelo incentivo e apoio. Aos meus colegas de jornada, Leonardo, Cláudia, Kelly e Anderson pelo apoio, troca de idéias, textos Ao Edson Filho que me acolheu e orientou quando do falecimento de minha orientadora, Profa. Wilma da Costa Torres
RESUMO
CARVALHO, Juliana Wallig Alves de. Representações sociais da Psicologia Hospitalar entre médicos e psicólogos. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
A presente pesquisa empreende uma abordagem exploratória das representações sociais construídas por médicos não psiquiatras acerca da Psicologia e da atuação do psicólogo clínico no contexto hospitalar. Adota-se a Teoria das Representações Sociais, pois esta abarca a análise dos processos envolvidos nas construções de conhecimentos do senso comum. A amostra foi composta por sete médicos com experiência profissional junto a psicólogos hospitalares, sete médicos sem experiência profissional junto a psicólogos hospitalares e nove psicólogos hospitalares, destacando-se que os participantes trabalham em hospitais particulares e públicos no município do Rio de Janeiro. A presente pesquisa propôs-se a comparar os dois grupos de médicos, na hipótese de que existem diferenças nas representações dos dois grupos. Propõe-se a comparar também, o grupo de médicos com experiência com o grupo de psicólogos hospitalares. Os dados foram coletados através de questionários de perguntas abertas, auto-administrados em lugares livres. Os resultados foram analisados através de uma análise de conteúdo temática e utilizou-se o teste de qui-quadrado nas respostas intra e intergrupos. Dentre os principais resultados figuram a não diferença nas representações dos dois grupos médicos, uma visão otimista porém superficial dos médicos com experiência junto a psicólogos e a constatação de que os psicólogos hospitalares acreditam na possibilidade de se construir uma relação interprofissional, sendo que o estabelecimento desta relação ocorre em um percurso dificultoso.
ABSTRACT
The present research undertakes an exploratory approach to the social representations that nonpsychiatrist doctors construct of Psychology and the role of health psychologists in the hospital environment. The Social Representation Theory is used because it encompasses the analysis of the processes involved in the construction of the common sense. The sample for this study was composed of seven doctors with professional experience working alongside health psychologists; seven doctors with no experience working with health psychologists; and nine health psychologists. An important point of emphasis is that participants of the study work in either private or public hospitals in the city of Rio de Janeiro. The present research proposed to compare the two aforementioned groups of doctors, hypothesizing that there are differences in the representations of both groups. This research also aimed that focus on the medical group that has experience working with health psychologists, and compare them to the group of health psychologists. Data for the research was collected through open-ended questionnaires that were self-administered at the subjects’ choice of time and location. The results were evaluated through an analysis of thematic content. Answers were evaluated separately and collectively using the qui-square test. Amongst the more significant findings of this study are: the lack of difference in the representations of both medical groups; the optimistic albeit superficial view that the doctors with experience working alongside health psychologists have of health psychologists; and the evidence that health psychologists believe that it is possible to build interprofessional relationships, although there are many obstacles to establishing such relationships.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 12 2. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 14 2.1. Processo de formação das representações sociais 16 2.1.1. A Ancoragem 16 2.1.2. A objetivação 17 2.1.3. Dimensões das representações sociais 19 2.2. As representações sociais e a Área da Saúde 20 2.3. As representações sociais da Psicologia 22 2.4. As representações sociais de psicólogos e médicos 26 3. AS RELAÇÕES INTERGRUPAIS 29 3.1. Estereótipos 30 3.2. Preconceito 30 3.3. Discriminação 31 3.4. A articulação de Doise 31 3.4.1. O processo de categorização 33 3.4.2. Os estereótipos sociais 34 3.4.3. Cruzamento de pertenças categoriais 35 3.4.4. Categorização em atos 35 3.4.5 Identidade e incomparabilidade sociais 36 3.4.6. Identidades individuais e coletivas 36 3.4.7. Conflitos e negociações intergrupais 38 4. AS RELAÇÕES INTERPROFISSIONAIS 40 5. OS PRIMÓRDIOS DA CIÊNCIA MODERNA 46 5.1. O desenvolvimento científico 46 5.2. Fundamentos metateóricos da ciência e suas caracterizações
47
5.2.1. O mecanicismo 47 5.2.2. O universo como máquina 48 5.2.3. Reducionismo 48 5.2.4. Monismo psicofísico e dualismo psicofísico 49 6. BREVE COMENTÁRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
52
6.1. Os sistemas psicológicos 53 6.1.1. O Estruturalismo 54 6.1.2. O Funcionalismo 54 6.1.3. O Associacionismo 55 6.2. A Psicologia contemporânea 55 6.2.1. O Behaviorismo 56 6.2.2. Psicologia da Gestalt 57 6.2.3. A Psicanálise 57 6.3. A Psicologia nos dias atuais 58 7. A PSICOLOGIA NO BRASIL 60
7.1. Período pré-profissional 60 7.2. Período de profissionalização 61 7.3. Período profissional 64 7.4. Quem é o psicólogo brasileiro? 65 8. E A PSICOLOGIA ENTROU NO HOSPITAL 67 9. BREVE COMENTÁRIO A RESPEITO DA EVOLUÇÃO DA MEDICINA
71
9.1. Concepções médicas: da Antiguidade à atualidade 71 9.1.1. Medicina na Mesopotâmia 71 9.1.2. Egito 73 9.1.3. Grécia Antiga 73 9.1.4. Período Medieval 75 9.1.5. Medicina do Renascimento 75 9.1.6. Medicina da razão 76 9.1.7. Medicina das luzes 76 9.1.8. Século XIX 77 9.1.9. Século XX 78 10. A MEDICINA NO BRASIL 80 10.1 Antecedentes da prática médica 80 10.2 Médicos e ensino na medicina no Brasil nos dias atuais 83 10.3 Quem é o médico brasileiro? 84 11. O HOSPITAL 85 11.1 As origens do hospital contemporâneo 85 11.2. O hospital contemporâneo 87 12. MÉTODO 89 12.1 Participantes 89 12.2 Instrumentos 89 12.3 Procedimento de coleta 90 12.4 Análise dos dados 90 13. RESULTADOS 96 13.1 Identificação do grupo MCE 96 13.2 Identificação do grupo MSE 96 13.3 Identificação do grupo P 97 13.4 Comparação dos resultados entre MCE eMSE em perguntas comuns
97
13.5 Comparação dos resultados intragrupais MCE 106 13.6 Comparação dos resultados intragrupais MSE 110 13.7 Comparação dos resultados intragrupais P 112 13.8 Comparação dos resultados entre MCE e P 117 14. DISCUSSÃO 119 15.REFERÊNCIAS 131 16. ANEXOS 137
LISTA DE TABELAS Tabela 1 – O que é medicina para você? 97 Tabela 2 - Qual o objetivo do seu trabalho? 98 Tabela 3 - Sua formação incluiu a cadeira de Psicologia Médica? 98 Tabela 4 - Qual era o conteúdo da matéria? 98 Tabela 5 - O que você aprendeu com a disciplina? 99 Tabela 6.1 - Encontrou dificuldades ao cursar a matéria? 100 Tabela 6.2 Quais? 100 Tabela 7.1 - A cadeira de Psicologia médica influencia ou influenciou a sua forma de atuação?
100
Tabela 7.2 - O que e como? 100 Tabela 8.1 - Durante a formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar com profissionais da área de saúde?
101
Tabela 8.2 - Quem eram estes profissionais? 101 Tabela 9 - O que é Psicologia para você? 102 Tabela 10 - Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar?
103
Tabela 11 - De que forma o psicólogo poderia contribuir para a sua atuação?
103
Tabela 12 - Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como?
104
Tabela 13 - Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do hospital, como você avaliaria tal medida?
105
Tabela 14. Como foi sua experiência inicial e atual com psicólogos? 106 Tabela 15 - Para quais tarefas você requisitaria um psicólogo, independente dos setores acima mencionados?
106
Tabela 16 - Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? 107 Tabela 17 - Como o psicólogo responde ao encaminhamento? 107 Tabela 18.1 - A Psicologia participa das reuniões clínicas? 107 Tabela 18.2 – Porque? 108 Tabela 19 - Como funciona uma equipe com o psicólogo? 108 Tabela 20 - Você encontra dificuldades na comunicação/relação com o psicólogo?
108
Tabela 21 - Trabalha em outro hospital que não conta com serviço de psicologia? Você pode notar diferenças na qualidade do serviço prestado nestas instituições? Porque?
109
Tabela 22 - Quem seriam os beneficiados com um Serviço de Psicologia? Porque?
110
Tabela 23. - Como funcionaria uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha?
110
Tabela 24 - Na sua opinião, existem entraves na relação/comunicação médicos-psicólogos?
111
Tabela 25 - De que forma se preparou para atuar na área? 112 Tabela 26.1 - Acredita que esta formação lhe forneceu capacitação para atuar na área?
112
Tabela 26.2 - Como? Porque? 112 Tabela 27 - Como foi a sua experiência inicial e atual com médicos? 113 Tabela 28.1 - Com quantos psicólogos trabalha diretamente? 114 Tabela 28.2 - Explicações 114 Tabela 29.1 - Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? 114 Tabela 29.2 - Comentários 115
Tabela 30 - Como você responde ao encaminhamento? 115 Tabela 31.1 - A Psicologia participa das reuniões clínicas? 115 Tabela 31.2 Porque? 116 Tabela 32 - Quais as dificuldades que encontra? 116 Tabela 33 - Como foi a experiência inicial e atual com o psicólogo?Como foi a experiência inicial e atual com médicos?
117
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Processo de formação das representações sociais. 19 Quadro 1. Barreiras e facilitadores da relação médico-psicólogo. 45 Quadro 2. Imagem ou visão médica acerca da Psicologia e do trabalho do psicólogo no hospital
45
Lista 1 – Exemplos de respostas encontradas no grupo de médicos com experiência junto a psicólogos hospitalares
90
Lista 2 – Exemplos de respostas encontradas no grupo de médicos sem experiência junto a psicólogos hospitalares
93
Lista 3 – Exemplos de respostas encontradas no grupo de psicólogos hospitalares
94
Carvalho, Juliana Wallig Alves de Representações sociais da psicologia hospitalar entre médicos e psicólogos / Juliana Wallig Alves de Carvalho. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro / Instituto de Psicologia, 2005. xi, 143 f. il. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia, 2005 Orientador: Edson Alves de Souza Filho 1. Representações sociais. 2. Psicologia hospitalar 3. Médicos I. Souza Filho, E.A. (orientador). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia
12
1. INTRODUÇÃO
Durante meu percurso profissional em hospitais, presenciei e participei de
debates, com psicólogos hospitalares, acerca das dificuldades de se atuar neste contexto.
Percebíamos a existência de obstáculos na interação com os outros profissionais da equipe de
saúde, principalmente com o corpo médico. Entretanto, minha atuação também se dava com
os médicos do hospital e estes, em muitas conversas, me relatavam experiências profissionais
prévias com psicólogos que haviam sido ruins. Tais experiências deixaram uma marca
importante nas relações profissionais subseqüentes. Alguns médicos afirmavam que não
consideravam a Psicologia e o trabalho dos psicólogos hospitalares com apreço e julgavam
que estes demonstravam não compreender o trabalho médico e nem o próprio trabalho da
Psicologia. Estes fatos me levaram a refletir sobre esta complexa relação interprofissional e
foi a partir da vontade de compreender a visão médica a respeito da Psicologia e do psicólogo
que este estudo surgiu.
Pesquisas foram realizadas para se tentar compreender as variáveis envolvidas nas
diversas relações profissionais da área de Saúde. Muitos destes estudos procuram entender
como estes profissionais analisam a Psicologia, o papel do psicólogo no hospital e as barreiras
e os facilitadores da relação médico-psicólogo. Os achados dessas pesquisas são de extrema
importância para a Psicologia e profissionais da área. Entretanto, alguns aspectos das
interações interprofissionais ainda precisam ser aprofundados, repensados e transformados.
Os estudos recentes e futuros precisam fornecer dados relevantes para que os psicólogos
repensem suas atitudes, desenvolvam melhores estratégias de ensino, esclarecimento e
alcancem uma melhor aproximação dos profissionais de saúde.
A corrente pesquisa foi norteada por duas questões primordiais: a primeira foi
investigar e analisar as representações sociais construídas por médicos não psiquiatras acerca
da Psicologia e da atuação do psicólogo clínico no contexto hospitalar e a segunda questão era
13
identificar os diversos fatores que contribuem para a construção destas representações e como
estas se engendram na relação médico-psicólogo.
A escolha pela teoria das representações sociais se fez pelo fato desta transcender
a questão de visão ou imagem. As representações sociais englobam a visão, as atitudes inter e
extragrupos e a construção da realidade.
O presente estudo teve como objetivos: 1) compreender quais as significações e
associações que os médicos fazem acerca do psicólogo no contexto hospitalar ao levantar no
discurso médico, as representações sociais engendradas nesta relação interprofissional e 2)
compreender como os psicólogos hospitalares representam e se orientam na relação
profissional com os médicos.
14
2. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Há muito que pesquisadores das ciências sociais e humanas procuram responder
como os indivíduos pensam, de que forma as instituições sociais são construídas e os
comportamentos organizados.
Pensadores e pesquisadores da Psicologia Social vêm desenvolvendo a teoria das
representações sociais através da visão de que os indivíduos não são meros receptores de
informações, existe uma sociedade pensante; os indivíduos pensam, questionam, produzem e
comunicam conhecimentos constantemente. Ou seja, nós construímos teorias para a realidade
e lhe atribuímos significados.
Moscovici, principal autor da teoria das representações sociais, publicou em 1961
um trabalho que procurava compreender como diferentes grupos sociais se apropriaram da
Psicanálise. O autor pretendia estudar como o homem comum se apropria, utiliza e transforma
uma teoria científica. De uma forma mais geral, o interesse do autor era entender como se
constrói um mundo significante. (VALA, 2000)
A teoria das representações sociais procura compreender um fenômeno particular
das sociedades modernas, que é “a difusão e apropriação do conhecimento científico, das suas
teorias e conceitos pelo homem comum”. (VALA, 2000: 458). Todavia, a problemática maior
desta teoria envolve analisar quais os processos envolvidos na construção de teorias a respeito
de objetos sociais, uma vez que estas são construídas na interação social dos indivíduos e
viabilizam a comunicação e a organização de comportamentos.
As representações sociais podem ser definidas como “um conjunto de conceitos,
proposições e explicações originado na vida cotidiana no decurso da comunicação
interindividual” (MOSCOVICI, 1981:181), ou seja, é um fenômeno coletivo co-construído
pelos indivíduos em suas conversas e ações cotidianas. Elas servem como guia na forma como
15
nomeamos e definimos diversos aspectos da realidade, como interpretamos estes aspectos,
guiando também posicionamentos e tomadas de decisões frente a estes. (JODELET, 2001)
Podemos afirmar que as representações são uma modalidade de conhecimento
prático que auxilia os indivíduos na construção da realidade e que exercem duas funções: 1)
estabelecem uma ordem que possibilita a orientação e o manejo do mundo material e social e
2) facilitam a comunicação entre os atores sociais. (WAGNER et al, 1999)
Cabe destacar que as representações sociais não são apenas elaborações de teorias
científicas, elas também se alimentam de ideologias, comunicações e experiências cotidianas.
Criamos representações para tornar o estranho e o não familiar em algo familiar, para nos
ajustar ao mundo, manejá-lo física e intelectualmente e para que guiem comportamentos. As
representações sociais são uma forma específica de conhecer que se encontra entre o saber
científico – objetivo – e o saber popular – marcado por ideologias, valores e normas. (SOUZA
FILHO, 1986).
Ao falarmos de representação, referimo-nos tanto à construção da realidade,
quanto à produção de sentido, ou seja,
Representações são sempre construtivas; elas constituem o mundo tal qual ele é conhecido e as identidades que elas sustentam garantem ao sujeito um lugar nesse mundo. Assim, ao serem internalizadas, as representações passam a expressar a relação do sujeito com o mundo que ele conhece e, ao mesmo tempo, elas o situam nesse mundo. É essa dupla operação de definir o mundo e localizar um lugar nele que fornece às representações o seu valor simbólico (DUVEEN, 1999, apud COSTA 1999)
Uma vez que as representações são construídas e elaboradas socialmente e
permeiam fenômenos simbólicos e de comunicação, precisamos destacar dois aspectos
embutidos nas representações: seu aspecto constituinte, ou seja, os processos pelos quais são
construídas as representações e seu aspecto constituído – seus conteúdos (dimensões).
16
A seguir exploraremos os processos envolvidos na formação das representações e
suas dimensões.
2.1 Processo de formação das representações sociais
As representações sociais são construídas através dos processos de ancoragem e
objetivação. É necessário destacar que estes são processos intrínsecos e que sua divisão em
etapas é feita apenas de forma didática.
2.1.1 A Ancoragem
Ancorar significa classificar e rotular, ou seja, é através do processo de ancoragem
que os objetos são classificados e nomeados, atribuindo assim, significados aos objetos de
representação.
A primeira fase do processo de ancoragem é a classificação do objeto. Para que o
grupo alcance um entendimento básico de um fenômeno desconhecido, o primeiro passo é
atribuir características ao fenômeno. Este primeiro passo – classificação ou categorização –
irá permitir que se fale e se comunique a respeito do fenômeno. Uma vez que o fenômeno é
desconhecido, faltam ao grupo representações específicas deste, desta forma, o grupo usará
representações já existentes em seu repertório e que julga aplicáveis ao fenômeno. È este
repertório que será utilizado para nomear e compreender o fenômeno.
Classificar algo ou alguém significa impor determinados repertórios de regras e
comportamentos, ou seja, a classificação implica juízo de valor. Isto significa que ao
classificar algo ou alguém, o grupo realiza um julgamento que lhe permitirá posicionar-se
positiva ou negativamente perante o objeto.
Categorizar alguém ou algo é equivalente a escolher um protótipo entre todos aqueles embutidos na nossa memória e estabelecer uma relação positiva ou negativa com ele. (MOSCOVICI, 1981: 195)
17
Após a classificação do fenômeno, nomear passa a ser a segunda etapa que
caracteriza o processo de ancoragem, pois é impossível classificar objetos, pessoas ou eventos
sem nomeá-los.
Nomear faz com que algo que antes era anônimo ou desconhecido converta-se em
uma imagem comunicável, que pertence a uma rede de palavras especiais. Dar nomes
“significa uma posição estabelecida na matriz da identidade cultural”. (MOSCOVICI, 1981:
196)
Moscovici (1981) afirma que a nomeação faz com que o objeto se precipite,
produzindo três efeitos neste processo: 1) determinadas qualidades são imputadas aos objetos,
uma vez que estes já podem ser descritos; 2) os objetos passam a ser distinguidos pelas suas
qualidades e imputações e 3) aquilo que é nomeado torna-se assunto para uma convenção
entre aqueles que usam o objeto e dividem esta mesma convenção.
O processo de ancoragem permitirá que o não familiar se torne familiar,
conseqüentemente, este processo irá estabelecer a forma com que os grupos irão se relacionar
com o objeto, atribuindo-lhe significado e utilidade.
2.1.2 A objetivação
O mecanismo de objetivação faz com que o conhecimento socialmente
representado ganhe uma forma específica. Aqui, a essência do fenômeno é capturada
tornando-o inteligível para as pessoas e transformando-o em material para o senso comum do
grupo. Objetivar é permitir que uma abstração se transforme em uma realidade material.
Este processo transcorre em duas etapas. A primeira etapa é a construção de uma
metáfora, alegoria ou um ícone que sustente o fenômeno, idéia ou objeto. Para Moscovici
(1981) é descobrir o aspecto icônico do fenômeno, combinar o conceito com imagem. A
segunda fase deste processo é a naturalização das representações.
18
A escolha pelas imagens ou alegorias envolvidas na construção da representação,
não é feita de forma arbitrária. Estas serão escolhidas em função de suas proximidades com a
experiência diária dos indivíduos. Ou seja, alguns elementos do objeto de representação serão
selecionados e descontextualizados não só de acordo com a proximidade cotidiana, mas
também seguindo dois critérios sociais: 1) critérios normativos que se referem aos valores
sociais e 2) critérios culturais. Esses dois critérios determinam o acesso que cada grupo possui
as informações disponíveis no meio social. Os elementos do objeto a ser representado que
entram em conflito com estes critérios são sumariamente excluídos do processo. Cabe
esclarecer que os elementos selecionados ou excluídos dependem das características do grupo
ou unidade social onde as representações são elaboradas.
As diferenças que existem nas condições de vida dos grupos delimitam o espaço de experiência de seus membros, o qual, por sua vez, delimita o mundo de imagens, metáforas e alegorias disponíveis para a objetivação. (WAGNER et al, 1999: 99)
Uma vez que os elementos foram selecionados, estes serão reagrupados em uma
nova e específica estrutura, constituindo assim, um modelo figurativo. Neste modelo, a
entidade anteriormente abstrata, é reproduzida de forma quase visual e o modelo figurativo é
dotado de realidade.(FLATH & MOSCOVICI, 1983) Na etapa de naturalização, o que antes
era uma imagem abstrata torna-se algo concreto e real, “em vez de ser elementos do
pensamento, as figuras são transpostas em elementos de realidade”.(MOSCOVICI, 1981: 200)
Destacamos a seguir uma figura esquemática que ilustra melhor este complexo
processo de construção das representações sociais.
19
2.1.3 Dimensões das representações sociais
As representações são constituídas de múltiplos elementos, desde informações,
crenças, imagens até aspectos ideológicos e culturais. Analisá-los torna-se, portanto, uma
tarefa difícil, intrincada senão impossível. Entretanto, pode-se apreender estes conteúdos
através de três dimensões que envolvem as representações sociais: dimensão informativa,
campo de representação e atitude.
A dimensão informativa refere-se a soma quantitativa e qualitativa de
conhecimentos que o sujeito ou um grupo possui sobre um determinado objeto social. Para
que ocorra um processo de representação, é necessário que o grupo tenha acesso a uma
quantidade mínima de informação acerca do objeto.
A dimensão do campo de representação está relacionada à estrutura da
representação; é em um campo específico que os conhecimentos acerca do objeto se
Grupo vive em um mundo de objetos sociais Evento/fenômeno não familiar ou
ameaçador Ex:fato brutal
discurso
Identidade social
discurso
discurso
discurso
Instiga “enfrentamento coletivo” material e
simbólico
Primeiro por o ancorar e o interpretar em termos e
representações familiares
Favorece discurso e a elaboração leva a uma
representação objetivada na forma de uma imagem, metáfora
ou símbolo
O que torna o fenômeno familiar e parte do senso
comum
Nova representação social
Promove identidade social do grupo
Adiciona novo objeto social ao mundo grupal
Figura 1. Processo de formação das representações sociais. Adaptado e traduzido de Wagner et al (1999)
20
combinam e se organizam, estruturando assim a representação social. Este campo envolve
organizadores socioculturais, modelos normativos e esquemas cognitivos. (JODELET, 2001)
A dimensão atitude implica juízo de valor, faz alusão ao posicionamento que o
grupo apresenta perante o objeto. Ou seja, o posicionamento grupal em relação ao objeto pode
ser favorável, desfavorável ou neutro.
2.2. As representações sociais e a Área da Saúde
A teoria das representações sociais foi e ainda é muito utilizada em estudos na área
da Saúde. Os sociólogos foram os primeiros estudiosos que vieram questionar as definições
de saúde e doença. Seus objetivos eram, portanto, limitados já que apenas analisavam as
definições “leigas” frente à dos profissionais de Saúde. Essas definições leigas eram
consideradas variáveis intermediárias relacionadas aos comportamentos que demandavam
atenção dos profissionais e ao funcionamento das instituições médicas. Nestes estudos, a
definição “leiga” de enfermidade era concebida como distorção e empobrecimento do saber e
discurso médicos que ainda incorporava algumas noções tradicionais sem grande valor.
(HERLIZCH, 1991)
Segundo Herlizch (1991), o interesse dos pesquisadores atualmente é mais
abrangente, sendo que alguns estudos procuram compreender como a pessoa enferma adere ao
chamado “papel do doente”, qual a percepção que o enfermo tem a respeito das causas de sua
doença e em outras pesquisas, a questão central é verificar qual é o significado que o doente
atribui à sua enfermidade, principalmente nos casos de doença crônica.
Herzlich e Pierret (1988) afirmam que esta evolução na concepção da doença não
ocorreu apenas pelo interesse da Sociologia; ela também deve ser atribuída a uma tendência
mais abrangente que envolve os historiadores e antropólogos. Estes procuraram desenvolver
enfoques de pesquisas mais amplos acerca da diversidade das concepções de doença em
outras sociedades e se preocuparam com um enfoque fenomenológico de pesquisa. Pelo lado
21
dos historiadores, pode-se perceber um maior interesse pelo estudo das culturas populares e as
práticas tradicionais. Os autores afirmam que não se pode negar as contribuições dadas por
estes estudos, todavia, apontam algumas críticas: eles observam que os estudos antropológicos
tendem a se limitar numa enunciação de discurso de uma sociedade; como se este discurso
fosse a expressão de crenças e valores que permanecem distanciados da estrutura social e dos
comportamentos que efetivamente acontecem. Desta forma, deixa-se de lado a noção de que
as concepções de saúde/doença são construções de realidade e que “a enfermidade é um modo
de vida e de integração social”.(HERZLICH & PIERRET, 1998; 28) Por sua vez, consideram
que os estudos fenomenológicos são microssociológicos, pois ficam limitados ao nível do
indivíduo e sua interação com o sistema de atenção de saúde. A tendência é chegar a uma
concepção restrita do fenômeno da doença, pois esta acaba sendo concebida como um estado
único de um corpo individual. Assim, estes estudos deixam de considerar outras dimensões
que contribuem para a concepção da enfermidade e de ser enfermo.
Para estes autores, ao se pesquisar as concepções individuais de doença, é
necessário esclarecer como estas traduzem e ao mesmo tempo influenciam um discurso
coletivo. Afirmam que não se pode perder de vista a influência recíproca da estrutura social e
do autor pois a experiência individual da doença e a concepção que o enfermo atribui a ela
não podem ser separadas dos fenômenos macrossociais. Assim sendo,
As concepções que uma sociedade faz de seus enfermos e, que estes interiorizam e nutrem por sua vez, orientam, organizam e legitimam as relações sociais e, em certa medida, ‘produzem’ a ‘realidade’ de seus enfermos. (HERLIZCH & PIERRET, 1998; 22).
A aplicação das representações sociais na área da saúde não se limita apenas ao
processo de saúde/doença, o próprio Moscovici adota a psicanálise como seu objeto de estudo
e isto envolve uma área mais ampla da saúde. Engloba o campo de saber, área de atuação, os
profissionais da área de saúde e ainda mais além, as interações interprofissionais.
22
A seguir, exploraremos estudos realizados acerca das representações sociais da
Psicologia.
2.3 As representações sociais da Psicologia
O interesse em responder à pergunta “Qual é a visão que se tem da Psicologia?”
não é novidade para os psicólogos. Muitas pesquisas já foram realizadas para que os
psicólogos pudessem entender como o público vê, pensa e utiliza a Psicologia como ciência e
também, como serviço de saúde disponível à população.
Leme, Bussab e Otta (1989) investigaram a respeito das representações sociais da
psicologia e dos psicólogos. A amostra dos pesquisadores foi composta por alunos que
estavam ingressando na faculdade de psicologia. Os resultados demonstraram que as
representações sociais constituíam-se de dimensões positivas e negativas, sendo que 73% das
respostas expressam valoração negativa e a neutralidade é praticamente inexistente.
Os achados demonstram que a profissão é mais conhecida do que desconhecida,
sendo também mais conhecida como psicologia clínica. A imagem do psicólogo aproxima-se
de três categoriais: profissionais, guias espirituais e confidentes.
Em relação ao conhecimento que o psicólogo dispõe para exercer a profissão, as
respostas encontradas foram: incompetência, sub-ciência e saber de menor valor. O psicólogo
é representado como um profissional elitista, charlatão e também visto através de descrédito,
preconceito e desprezo.
Os pesquisadores afirmam que a valoração positiva do psicólogo se refere à
prática profissional e as características pessoais. Em relação à práxis do psicólogo, a imagem
de maior predominância é a capacidade de resolver problemas e as características pessoais
utilizadas foram: paciente, seguro, inteligente e digno de admiração.
Santos (1989) conduziu um estudo com alunos recém ingressos na graduação de
Psicologia e encontrou que a imagem do psicólogo é fortemente associada à atuação clínica.
23
Os estudantes demonstraram um desconhecimento generalizado de recentes campos de
atuação conquistados nos últimos anos e tampouco conhecem a realidade da formação e do
exercício profissional. Idealizam um determinado modelo de atuação – clínico – e não
conseguem perceber a função social do psicólogo.
Motta, Fernandes, Gryzbowski, Brito e Teixeira (1995) conduziram uma pesquisa
com psicólogos e encontraram dentre os próprios profissionais da área, uma representação
reducionista na qual é comparado ao psiquiatra, psicanalista e professor. O interesse pela área
clínica é predominante, tanto no início da formação quando da inserção no mercado de
trabalho e destacam que entre os sujeitos pesquisados, a Psicanálise é o aporte teórico
unanimemente escolhido.
Ribeiro e Sarriera (1997) com o objetivo de verificar como o “fazer” do psicólogo
é percebido pela comunidade, encontraram os seguintes resultados: 1) o psicólogo é visto
como um solucionador de problemas individuais; 2) foi considerado pela maior parte da
amostra como um profissional muito importante e indispensável, porém, respostas como
“despreparado profissionalmente” e “percebe o paciente como lucro” também foram
encontradas; 3) evidenciou-se atitudes de respeito para com a profissão, sendo este associado
à competência, seriedade e ética, por outro lado, evidenciou-se também atitudes de
desrespeito, sendo este associado à incoerência, desqualificação e despreparo; 4) o trabalho
do psicólogo está relacionado a idéia de ajuda.
Um estudo no qual os sujeitos pesquisados eram pacientes, funcionários e técnicos
de um posto de saúde que conta com um Serviço de Psicologia, encontrou as seguintes
respostas: 1) o psicólogo é um profissional que lida com problemas emocionais e que
ajuda/orienta e conversa; 2) atribui-se ao psicólogo uma multiplicidade de possibilidades de
atuação em situações do campo comportamental e emocional, sendo que a valoração e
24
conhecimento da atuação variam de um grupo para o outro; 3) falta de um conhecimento real
acerca da Psicologia. (MORE, LEIVA E TAGLIARI, 2001)
Souza e Ferreira (2003) objetivaram investigar quais as representações sociais da
psicologia que circulam no meio acadêmico de universitários de cursos das áreas de
licenciatura e exata. A amostra foi composta por alunos dos cursos de Farmácia, Matemática,
Pedagogia, Geografia, História e Letras. As representações sociais encontraram-se
estruturadas nos temas do estudo da mente, ajuda profissional, análise do comportamento e
entender o outro. No que diz respeito as principais áreas de atuação do psicólogo, a clínica é o
item mais citado (57%) e as características mais atribuídas aos psicólogos são: saber ouvir,
paciência, entender as pessoas. Características tais como “ser louco” e “ser crítico” também
foram mencionadas em menor porcentagem.
Praça e Novaes (2004) conduziram uma pesquisa cujo objetivo era conhecer as
representações sociais da Psicologia e da práxis do psicólogo. Os sujeitos do estudo foram
alunos universitários do penúltimo ano de graduação de cursos da área de saúde, incluindo
além da Psicologia, Medicina, Nutrição, Fisioterapia, Biologia, Educação Física e
Odontologia. As autoras encontraram representações individualizantes e adaptativas da
Psicologia, excluindo as dimensões históricas, sociais e culturais das experiências subjetivas.
À Psicologia é dada uma função assistencialista com a capacidade de melhorar, mudar e
resolver a vida e as relações estabelecidas.
Os resultados encontrados por estes pesquisadores vão ao encontro dos achados de
pesquisas realizadas nos Estados Unidos e que apesar das diferenças históricas, sociais e
culturais, tornam-se interessantes para a nossa reflexão.
Wood, Jones & Benjamin (1986) afirmam que a preocupação dos psicólogos
americanos acerca de suas imagens públicas é documentada a partir de 1892. Através dos
resultados encontrados em suas pesquisas, defendem que grande parte do público demonstra
25
uma atitude favorável em relação à Psicologia, entretanto, este demonstra pouco
entendimento a respeito do campo desta ciência e nenhum conhecimento a respeito do
impacto da Psicologia em suas vidas.
Janda, England, Lovejoy & Drury (1998) pesquisando a atitude pública a respeito
da Psicologia em relação a outras disciplinas, encontraram os seguintes resultados: 1) a
Psicologia e a Sociologia foram consideradas as disciplinas que menos contribuíram para a
sociedade e as que possuem menor expertise quando comparadas à Biologia, Química,
Medicina e a Física; 2) foi considerada pelos respondentes como a maior contribuição da
Psicologia os tratamentos de problemas mentais e a diminuição do estigma associado às
desordens psicológicas; 3) a Psicologia está associada com as questões das doenças mentais e
tratamento psicológico; 4) as pessoas apresentam dificuldades em distinguir a psicologia
clínica de outras profissões da área de Saúde Mental, tais como a Psiquiatria e Serviço Social.
Opiniões como “não se pode confiar no que dizem os psicólogos” e “é possível prescindir da
ajuda dos psicólogos, basta se utilizar o bom senso na vida” também foram encontradas por
estes pesquisadores.
Ashton (2003) baseada na literatura americana sobre a imagem pública do
psicólogo, desenvolveu um inventário para medir as atitudes públicas em relação aos
psicólogos. Os sujeitos da pesquisa foram 416 estudantes universitários. Os resultados
sugerem que existe uma atitude ligeiramente positiva em relação à Psicologia em geral e que
o conhecimento a respeito de psicólogos é fraco, principalmente no que diz respeito ao papel
do psicólogo, sua formação e código de ética.
Os achados destes estudos são de extrema importância para a Psicologia e
profissionais da área uma vez que fornecem ferramentas para que os psicólogos repensem
suas atitudes e desenvolvam melhores estratégias de ensino, esclarecimento e aproximação do
26
público. Os estudos também fornecem subsídios para que os psicólogos avaliem a forma
como suas práticas e saberes são utilizados e vistos pela sociedade.
2.4. As representações sociais de psicólogos e médicos
Necessitamos destacar que durante a revisão da literatura, encontramos apenas um
estudo que se propôs a estudar as representações sociais cruzadas de médicos e psicólogos
(FIGUEROA E DE PAIKIN, 1992). Os outros estudos que mais adiante serão destacados se
restringiam a estudar áreas afins às representações sociais, tais como imagem, atitude ou
percepção.
Figueroa e de Paikin (1992) conduziram um estudo com o objetivo de avaliar as
representações dos profissionais da Psicologia e da Medicina. Este estudo utilizou a Teoria
das Representações Sociais.
Pesquisou-se entre os estudantes de Psicologia e estudantes de Medicina: 1) a
descrição do psicólogo e 2) a descrição do médico. Encontrando-se os seguintes resultados:
Descrição dos estudantes de Psicologia
Psicólogos: São descritos como pessoas cautelosas em suas relações com os demais, suspeitas
das intenções dos outros e evitam laços afetivos fortes. Distantes, não gostam de realizar
trocas e preferem manter-se dentro do marco do papel de sua profissão. Ambiciosos,
dogmáticos, impacientes quando são frustrados, porém, rápidos em conseguir alcançar suas
metas. Inteligente, comunicativo, cauteloso, educado e decidido foram as dimensões positivas
mais utilizadas.
Médicos: São percebidos como pessoas de interesses estreitos, que não compreendem o
significado das relações interpessoais, distantes. São pessoas autônomas e independentes, mas
também dogmáticos. Não são espontâneos e nem compreensivos e tendem a ser indiferentes
aos sentimentos de terceiros. Ativos, educados, seguros, formais, trabalhadores e práticos
foram as dimensões positivas mais utilizadas.
27
Descrição dos estudantes de Medicina
Psicólogos: São vistos como pessoas que complicam as relações interpessoais, pois buscam o
significado das mesmas, o que os impede de serem pessoas espontâneas. Mantêm-se distantes
das pessoas e são pouco capazes para enfrentar situações de stress e com interesses estreitos.
São descritos como pessoas ambivalentes e defensivas e que possuem dificuldades para se
conformarem às expectativas da vida. Um número alto de dimensões negativas foi utilizado
para descrevê-los: descuidado, “cabeça dura”, hostil, invejoso. Porém, algumas dimensões
positivas foram utilizadas: lúcido, hábil, inteligente.
Médicos: Os estudantes de Medicina utilizaram dimensões mais positivas para descrever o
profissional médico: ativo, seguro, inteligente e prático. São descritos como pessoas
ambivalentes em relação aos demais, esforçam-se para sobressair. Bastante trabalhadores,
ambiciosos e enérgicos e que não se inibem frente à desaprovação dos outros; possuem uma
visão clara de sua tarefa e são conscientes de seus trabalhos. Descrevem o profissional da área
médica como pouco interessado em compreender a conduta dos demais e se restringe a um
repertório estreito de papéis. Para alcançarem suas independências, suprimem os sentimentos
tanto pessoais quanto os dos demais. Supõem o mundo como um lugar livre de problemas
subjetivos.
Os autores defendem que a imagem do médico é a que está mais estruturada e,
portanto, as representações sociais desta profissão em grupos distintos são mais claras e
melhor definidas. A imagem do psicólogo clínico não é tão claramente definida. A inserção
das duas profissões na sociedade diferem bastante historicamente. A Medicina já é largamente
inserida na sociedade, enquanto que a Psicologia é uma disciplina bastante nova.
É mister frisarmos que a imagem que se tem de uma profissão irá conduzir as
atitudes e expectativas frente a ela e segundo os autores, os estereótipos intragrupais tendem a
28
ser mais favoráveis, enquanto os extragrupais apresentam a tendência de ser desfavoráveis
(ibidem).
Como mencionado anteriormente, as representações sociais são construídas
através da comunicação e, por conseguinte, pelas relações que se estabelecem entre os grupos.
Para que possamos melhor compreender as representações sociais dos médicos acerca da
Psicologia Hospitalar, exploraremos a seguir como se dão as relações intergrupais e
interprofissionais.
29
3. AS RELAÇÕES INTERGRUPAIS
O estudo das relações intergrupais vem sendo desenvolvido de forma sistemática
nos últimos cinqüenta anos, gerando novos campos e subcampos de interesse, amplificando a
forma com que os problemas são conceituados e conseqüentemente, produzindo novas
propostas teóricas.
Mackie e Smith (1998) propõem a integração de alguns modelos para melhor se
estudar as relações intergrupais e defendem que este campo pode aprender muito caso se
disponha a olhar como que questões similares têm sido conceituadas e empiricamente
testadas.
Doise (1973;1984) e colaboradores (DOISE et al, 1972) já haviam proposto
estudar e analisar as relações intergrupais através da articulação entre variados modelos
explicativos, uma vez que o fenômeno das relações entre grupos é bastante complexo, pois
este não acontece apenas nas situações experimentais. O fenômeno das relações entre grupos
faz parte das interações cotidianas, não acontece em um vácuo situacional.
Levando em consideração o estudo das relações intergrupais como “o
entendimento das percepções intergrupais, avaliações intergrupais, comportamentos
intergrupais e as complexas relações entre eles” (MACKIE E SMITH, 1998, pág. 500),
podemos argumentar que a integração de construtos similares e complementares pode nos
fornecer uma visão mais ampla e abarcadora do fenômeno.
As relações intergrupais vêm sendo estudadas em termos de três conceitos centrais
– estereótipos, preconceito e discriminação – e suas complexas inter-relações. (MACKIE E
SMITH, 1998)
Para que possamos nos aprofundar no trabalho de Doise (1972; 1973; 1984) e sua
articulação teórica, faz-se necessário compreendermos estes três conceitos e a forma como
estes vêm sendo estudados.
30
3.1 Estereótipos
Segundo Stephan e Stephan (1996) estereótipos são traços atribuídos aos grupos
sociais. Possuem variadas funções inclusive a de ajudar as pessoas a manterem sua auto-
estima, justificar status social e tornar o complexo mundo social em um mundo mais
manejável.
As visões extragrupais são geralmente negativas e generalizadas, especialmente os
estereótipos que deflagram importantes efeitos nas interações entre grupos, pois: 1) orientam a
forma de interagirmos com as pessoas; 2) criam expectativas em relação ao comportamento
extragrupal; 3) antecipam comportamentos negativos e/ou positivos do extragrupo; 4)
antecipam similaridade entre os membros de um mesmo grupo; 5) são considerados a base
cognitiva do processo de categorização. (STEPHAN E STEPHAN, 1996)
O processo de categorização será melhor abordado adiante, devido a sua
importância nas relações intergrupais.
3.2 Preconceito
Mackie e Smith (1998) definem o preconceito como uma avaliação positiva ou
negativa de um grupo social e afirmam que existem paralelos explícitos e implícitos entre
preconceito e atitude como sendo avaliações de objetos e questões sociais.
Todavia, Stephan e Stephan assumem a definição de preconceito como “uma
atitude negativa (grifo nosso) em relação aos membros de um grupo social definido”. (1996,
pág. 34) Em seguida, os autores apontam que as atitudes já foram definidas de variadas
maneiras, tais como avaliações, afetos, cognições entre outros.
Na questão das relações intergrupais, estes autores sustentam a noção de atitudes
como reações afetivas (carregadas de afeto) e que esta definição é consistente com a ênfase
que os psicólogos sociais têm dado ao preconceito como sendo uma reação afetiva.
31
3.3 Discriminação
A discriminação é o componente comportamental das relações entre grupos; é o
comportamento dirigido aos membros de um grupo social definido, em função de sua
afiliação grupal.
Mackie e Smith (ibid) levam em conta tanto o comportamento negativo quanto o
positivo, enquanto que Stephan e Stephan (ibidem) apenas consideram a discriminação como
sendo um comportamento negativo.
3.4 A articulação de Doise
Em 1972, Doise et al. pesquisaram como que interações antecipadas entre grupos
determinam as representações que os grupos possuem de cada um. Os autores já realizavam
articulações entre variados modelos explicativos para melhor compreender as interações entre
grupos.
Os pesquisadores concluíram que quando as pessoas são categorizadas em grupos,
ocorre discriminação de forma que o intragrupo seja representado de forma mais favorável
que o extragrupo. Esta discriminação aparece antes que qualquer interação aconteça e também
nas situações em que a interação nem vem a ser antecipada. O comportamento discriminatório
é mais intenso nas situações em que uma interação competitiva é antecipada.
Os autores finalizam o artigo afirmando que a categorização é tanto uma variável
independente quanto dependente nas relações intergrupais.
Doise e Sinclair (1973) procuram ilustrar a abordagem da categorização, pois
segundo os autores
quando lidamos com o problema das representações intergrupais, esta abordagem é mais heurística, uma vez que se liga a um processo geral subjacente ao fenômeno intergrupal (DOISE & SINCLAIR, 1973; 145)
32
Os autores articulam uma distinção entre a abordagem de Sherif – que considera a
questão das convergências e divergências dos interesses do grupo - e a abordagem de
categorização de Tajfel. Consideremos resumidamente a abordagem de Sherif: para que se
possa compreender os processos psicológicos que ocorrem nas relações intergrupais, é mister
entender a relação dos objetivos dos grupos em interação. Desta forma, se os objetivos são
competitivos, ou seja, se um grupo só pode chegar à sua meta em detrimento do outro grupo,
surgem hostilidades, imagens e afetos negativos em relação ao extragrupo. Caso a situação
interacional envolva objetivos comuns – metas supra-ordenadas – imagens mais favoráveis e
afetos mais positivos se evidenciam em relação ao extragrupo.
Achados de outros estudos (cf. AVIGDOR, 1953; WILSON, CHUN &
KAYATANI, 1965; RABBIE & WILKENS, 1971. DOISE, 1969; 1972) vão ao encontro da
abordagem proposta por Sherif et al (1961 apud DOISE & SINCLAIR, 1973) e demonstram
que em uma situação de conflito ou competição, a imagem extragrupal desfavorável é
geralmente elaborada em dimensões específicas; os membros do grupo seletivamente
atribuem aos membros extragrupais características que justifiquem um comportamento hostil
em relação ao extragrupo.
Os autores afirmam que esta ainda é uma visão muito restritiva das relações
intergrupais, pois mesmo quando a interação intergrupal não se dá na base do conflito de
interesses, a discriminação intra e extragrupal ocorrem tanto a nível comportamental, quanto
ao nível das representações.
Neste artigo, os autores destacam mais uma vez, a importância da categorização
para o estudo das relações entre grupos, pois afirmam que este é um dos processos que
subjazem a formação de estereótipos.
Em “Las relaciones entre grupos”, Doise (1984) tem por objetivo descrever os
processos psicossociológicos que decorrem da interação intergrupal e que fazem com que as
33
diferenças de pertença a categorias sociais se destaquem. O autor afirma que no terreno das
relações grupais não existe um modelo absoluto a ser utilizado e que, portanto, deve-se
recorrer a articulações entre diversos modelos explicativos para que se possa abarcar um
fenômeno social.
O autor defende que o processo de categorização intervém de forma mais ou
menos pronunciada nas interações entre grupos e destaca que este processo é bastante útil
para a descrição e compreensão das diferentes dinâmicas que podem ocorrer em interações
intergrupos, a saber: estereótipos, conflitos, comportamentos discriminatórios entre outros.
Cabe destacar que Doise recorrerá a situações experimentais diferentes que
envolvem a interação de diversos grupos em situações de cooperação e troca, competição e
conflito, dominação e submissão de forma a dar conta de modelos como estereótipos sociais,
cruzamento de pertenças categoriais, categorização, identidade e incomparabilidade sociais,
identidades individuais e coletivas e conflitos e negociações intergrupais. O autor justifica que
as situações experimentais utilizadas para se estudar as relações entre grupos são produzidas
continuamente na vida cotidiana e é através destas situações que os processos de
categorização produzem e reproduzem as características da sociedade.
Abordaremos as dinâmicas intergrupais de acordo com os modelos apresentados
pelo autor, começando por abordar o processo de categorização já que este é o alicerce das
relações intergrupais.
3.4.1 O processo de categorização
Para se criar uma categoria é preciso focalizar as características que fazem com
que os objetos sejam similares e que, ao mesmo tempo, os distinguem de outros objetos.
Uma categoria social é a atribuição de um rótulo grupal através de características
similares. Ao categorizarmos pessoas em grupos, acentuamos as similaridades que pertencem
à determinada categoria e também aquilo que as diferem de outras pessoas.
34
O processo de categorização traz embutida a acentuação das similaridades
intracategoriais e das diferenças extracategoriais. Simultaneamente, as diferenças
intracategoriais tendem a ser sobreestimadas. Em outras palavras, a partir do momento em que
categorizamos algum objeto em uma determinada classe, a tendência é valorizarmos as
diferenças entre as classes e sobreestimarmos as diferenças entre os objetos de uma mesma
classe.
O autor utiliza a noção de categorização para compreender e explicar o fenômeno
dos estereótipos sociais e suas dinâmicas nas relações entre grupos.
3.4.2 Os estereótipos sociais
Segundo o autor um estereótipo social
existe quando vários membros de um grupo acentuam as diferenças que existem entre os membros de seu grupo e os membros de outro grupo, acentuando deste modo as semelhanças entre os membros deste outro grupo (DOISE, 1984: 310)
Nos estudos dos estereótipos sociais os objetivos são compreender em que
condições se produzem acentuações das semelhanças e das diferenças entre grupos. Concluí-
se que o processo de categorização é um aspecto importante na dinâmica dos estereótipos
sociais e que este processo influenciará os comportamentos e atitudes das interações entre
grupos e que: 1) os indivíduos tendem a se categorizar e a categorizar os outros; 2) a partir do
momento em que estes indivíduos se tornam parte de um grupo, o grupo tenderá a se
diferenciar de outros grupos; 3) esta diferenciação intergrupal tende a ser maior quando se
evoca o grupo distinto já no princípio da interação; 4) um grupo dominante tende a tornar a
diferenciação ainda mais acentuada quando ele pode antecipar a interação com outro grupo,
ou seja, mesmo antes de interagir.
35
Percebe-se que a diferenciação entre categorias é acompanhada de uma
aproximação intracategorial, ou seja, entre categorias semelhantes ocorre uma acentuação das
semelhanças e entre categorias distintas acentuação de contrastes.
3.4.3 Cruzamento de pertenças categoriais
O autor chama a atenção para um fato importante - muitas vezes a acentuação dos
contrastes pode não ocorrer mesmo quando da presença de diversas categorias. Os
pesquisadores constataram que os contrastes tornam-se menos relevantes quando os membros
de grupos distintos que pertençam a uma categoria supra-ordenada, são confrontados com um
outro grupo.
Segundo Doise, quando a pertença a uma categoria supra-ordenada ocorre, o
processo de categorização é influenciado e o que se sucede é um cruzamento das pertenças
categoriais.
3.4.4 Categorização em atos
Além dos estudos realizados por Tajfel e da utilização da teoria da Categorização
Social, o autor recorre também aos estudos de Sherif para dar conta dos diversos fenômenos
de interações intergrupais.
Sherif propõe que as relações entre grupos são determinadas pelos projetos destes
grupos em interação. Conclui que na presença de um conflito intergrupal, os grupos tendem a
realizar uma auto-avaliação mais favorável e conseqüentemente, avaliam o extragrupo de
forma menos favorável. Entretanto, quando os grupos partilham um objetivo comum – metas
supra-ordenadas – a tendência é que os dois grupos deixem suas metas específicas em
segundo plano em função dessa meta maior. A criação de metas supra-ordenadas aumentam a
favorabilidade intergrupal. (DOISE, 1984)
Outro aspecto importante observado pelos estudos de Rabbie e Howitz (1979 apud
DOISE, 1984) é a partilha de um destino comum entre membros de um mesmo grupo. Ao
36
compartilhar um mesmo destino, os membros do grupo tendem a fazer avaliações intragrupais
mais favoráveis.
Doise propõe relacionar estes conceitos com o processo de categorização e afirma
que o objetivo e o destino comum irão instituir a pertença a uma categoria social.
Conjuntamente com os efeitos da categorização, as metas supra-ordenadas ou o destino
comum irão reforçar ou debilitar as convergências e as divergências intergrupais.
3.4.5 Identidade e incomparabilidade sociais
As pertenças categoriais irão influenciar a definição que cada indivíduo faz de si
mesmo; as pessoas estão sempre avaliando as vantagens e desvantagens de sua própria
categoria e comparando-as com outras. A intenção desta avaliação é melhorar o status de sua
própria categoria. Ou seja, os indivíduos de um grupo, em interação com outro grupo, tendem
a recorrer a estratégias para que o seu grupo “vença”. O que se procura é construir uma
identidade positiva de sua categoria – diferenciação positiva.
Os grupos também buscam a originalidade e a incomparabilidade social. Grupos
desfavorecidos em interação com grupos dominantes (mais favorecidos) em determinados
aspectos, tendem a usar variadas estratégias com o intuito de inverter estas relações. As
estratégias geralmente utilizadas envolvem formas de não comparação e invenção de novos
critérios de avaliação.
3.4.6 Identidades individuais e coletivas
Como visto anteriormente, as vertentes do processo de categorização são: 1) a
acentuação das diferenças intergrupais e 2) a acentuação das semelhanças intragrupais. A
tendência é que os grupos de maior status se distanciem dos grupos de status inferior, sendo
que os últimos demonstram uma tendência menor de se distanciarem dos primeiros. Isto pode
significar que os grupos de menor status possuam a tendência de querer inverter as relações
estabelecidas.
37
Deschamps e Personnaz (1979 apud DOISE, 1984) encontraram resultados
interessantes acerca de grupos menos favorecidos. Através de estudos que permitiam avaliar
condutas discriminatórias e de diferenciação, os pesquisadores demonstraram que os grupos
de status inferior ou menos seguros socialmente são os que se comportam de forma mais
discriminatória perante o outro grupo. Esta pode ser uma tentativa do grupo menos
favorecido, que reconhece seu status, de tentar ativamente inverter as relações dominantes.
Outra assimetria encontrada no funcionamento do processo de categorização diz
respeito à homogeneização. A homogeneização entre membros de um mesmo grupo tende a
acontecer com maior facilidade em uma situação em que se faz necessária a descrição do
outro grupo. Uma menor homogeneização ocorre se é preciso descrever o próprio grupo de
pertença.
A identidade individual é um fator que muito influenciará a categorização. Deschamps
e Doise (1979 apud DOISE, 1984) afirmam que o status particular que o indivíduo atribui a si
mesmo é uma fonte específica de variação na percepção dentro do grupo de pertença.
Geralmente nos grupos de status mais elevados, cada indivíduo tende a se auto-avaliar mais
favoravelmente em relação aos membros de seu mesmo grupo. Portanto, uma diferenciação
intergrupal pode ser acompanhada de uma diferenciação entre um indivíduo e todo o resto de
seu grupo de pertença.
Doise (1984) cita uma análise feita por Deschamps a respeito destes fenômenos nas
relações entre grupos dominantes e dominados. O pesquisador afirma que os dominantes
tendem a dar aos dominados uma definição coletiva e reservam para si mesmos e em certa
medida para os membros de seu grupo, o direito a uma identidade individual. Segundo Doise,
a tese de Deschamps vai ao encontro dos resultados de alguns estudos acerca da atribuição.
Estes estudos concluíram que pessoas de status mais elevado, geralmente, são consideradas
38
mais autônomas e menos determinadas pelo contexto social que as pessoas de status menos
elevado.
O autor cita uma tese clássica das relações intergrupais, a qual afirma que a
desindividualização dos membros de um grupo irá facilitar comportamentos hostis e
discriminatórios contra eles. Wilder (1978 apud DOISE, 1984) realizou três estudos para
demonstrar a dinâmica contrária desta tese, mas que está relacionada a ela e enuncia que
quando um aspecto da categorização é debilitado, a diferenciação intergrupal torna-se mais
difícil. Ou seja, quando a percepção de um grupo é menos homogênea, mais difícil se torna a
discriminação contra o grupo.
A partir de variados estudos, Doise defende que existe o indício de que a agressão e
a discriminação acompanham a desindividualização e que a cooperação e o destino favorável
irão acompanhar a individualização dos membros. Afirma que os efeitos desses processos
acontecem em sentidos opostos e não são meras causalidades unidirecionais.
3.4.7 Conflitos e negociações intergrupais
A dialética das relações individuais e intergrupais pode parecer uma questão
teórica e abstrata, todavia, estas questões se fazem presentes em situações reais, não somente
experimentais. Compreender estes complexos fenômenos são ferramentas úteis para a
resolução de conflitos entre grupos.
Os conflitos intergrupais ocorrem em função de diversos fatores, seja pela luta de
poder, reconhecimento, vantagens e desvantagens, ganhos e perdas. Muitos pesquisadores se
dedicaram a estudar as dinâmicas envolvidas nos processo de negociações intergrupais.
Todavia, ressaltamos que ao falarmos de negociações intergrupais, estamos falando de
dinâmicas individuais e coletivas, pois, no embate entre negociadores, estamos diante de
relações intergrupais e ao mesmo tempo individuais.
39
Segundo Doise (1984) existem muitos dados que caracterizam as negociações
individuais e que é necessário aprofundar e compreender as características próprias das
negociações coletivas.
Geralmente, as negociações acontecem entre diversos representantes das partes
envolvidas e isto implica uma polarização nas tomadas de decisões. Ou seja, quando vários
indivíduos precisam decidir conjuntamente uma posição em relação a um outro grupo, esta
costuma ser mais extrema e clara. Caso um indivíduo, em situação similar, precise se
pronunciar, a decisão já não será tão clara e extrema.
Contrapondo situações individuais e coletivas. Louche (1974-1975, apud DOISE,
1984), Stephenson e Brotherton (1975, apud DOISE, 1984) e Rabbie (1979 apud DOISE,
1984) encontraram as seguintes dinâmicas: 1) nas situações grupais as posições dos
negociadores são mais distanciadas das de seus oponentes; 2) em negociações coletivas, as
representações extragrupais são mais intensas do que em negociações individuais; 3) em
situações de grupo, as decisões são elaboradas com maior dificuldade; 4) as discussões
tendem a ser mais duras em situações coletivas.
As diferenças entre interações coletivas e individuais ocorrem em função de uma
atualização mais fácil do processo de categorização. Isto significa que a convergência em
relação a um ou vários membros intragrupais e a divergência em relação aos membros
extragrupais menos individualizados, irão se reforçar de forma recíproca.
Após a exposição do tema acima, exploraremos os estudos acerca das relações
interprofissionais, pois estes podem fornecer dados importantes para compreendermos a
relação médicos-psicólogos no hospital.
40
4. AS RELAÇÕES INTERPROFISSIONAIS
Com a inserção do psicólogo e de outros profissionais não-médicos no hospital,
sobrevêem as questões que permeiam o trabalho multiprofissional e estas envolvem
dificuldades que
situam-se em torno da indefinição de papéis específicos, dos problemas de entrosamento dos profissionais, da competitividade gerada pela conquista de um espaço de trabalho e do poder de decisão, dos ressentimentos oriundos da hierarquização dos profissionais de saúde e da intolerância quando são contestadas as fronteiras de atribuição profissional. (GIANOTTI, 1995; 23)
Estudiosos e profissionais da área de Saúde têm demonstrado grande interesse em
estudar as relações interprofissionais, uma vez que a palavra de ordem dos serviços de saúde é
a interdisciplinaridade. O foco de grande parte destes estudos é compreender como acontece o
trabalho de equipe, suas barreiras e facilitadores. Um alto número destes estudos não envolve
necessariamente o profissional da Psicologia, mas, procuram estudar o trabalho
multiprofissional e desenvolver melhores formas de relacionamentos interprofissionais. O
trabalho interprofissional efetivo, considerado essencial para um serviço de saúde de alta
qualidade, é influenciado pelas atitudes intra e extraprofissionais dos variados profissionais de
saúde. (BURKE et al, 2000; ATWAL & CALDWELL, 2002; BROW, CRAWFORD &
DARONGKAMAS, 2000, BLACK & WESTWOOD, 2004)
Hind et al (2003) conduziram um estudo objetivando compreender as atitudes de
estudantes da área de saúde em relação aos seus próprios grupos profissionais, quanto em
relação a outros grupos profissionais. A amostra foi composta por 933 estudantes que
iniciavam um programa de graduação das áreas da Medicina, Enfermagem, Nutrição,
Farmácia e Fisioterapia, em uma universidade de múltiplas faculdades no Reino Unido.
Encontrou-se uma correlação significativa entre estereótipos, identidade profissional e
41
disposição para um aprendizado interprofissional. Conforme previsto pelos pesquisadores, os
estudantes demonstravam forte identificação com seus próprios grupos profissionais no início
de seus estudos universitários. Todavia, foram surpreendidos pelo fato de encontrarem uma
associação positiva entre estereótipos extragrupais e scores na identidade profissional. Ou
seja, os estudantes demonstravam uma atitude intra e extragrupal favorável e apesar deste
resultado ter sido considerado inesperado pelos pesquisadores, estes afirmam que é preciso se
levar em conta a complexidade dos fenômenos sociais, onde muitas variáveis que mediam as
relações se manifestam.
Mandy, Milton e Mandy (2004) fundamentaram seus estudos sobre estereótipos
profissionais e educação interprofissional na Teoria da Identidade Social. Os pesquisadores
tinham por objetivo investigar estereótipos extragrupais entre alunos de graduação dos cursos
de Fisioterapia e Podiatria*, antes e depois de um semestre de aprendizado interdisciplinar. Ao
contrário de Hind et al (ibid), os resultados encontrados demonstram que ambos os grupos
evidenciam percepções estereotipadas antes mesmo de qualquer experiência de aprendizado
conjunta e que estas percepções foram reforçadas pelo contato interdisciplinar.
LaTendresse (2000) utilizou o ambiente hospitalar para investigar como os
diversos grupos ocupacionais desta instituição se definem em termos de suas identidades
sociais e também procurou aprofundar especificamente as relações intergrupais entre o staff
da Psiquiatria e o pessoal de apoio. O pesquisador articula variados modelos explicativos
acerca das relações intergrupais para tentar dar conta do fenômeno.
A amostra do estudo incluía diversos profissionais: pessoal da limpeza, técnicos
em enfermagem ,enfermeiras, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, médicos, policiais e
seguranças. Cabe destacar que a coleta de dados foi realizada em três etapas: em uma primeira
entrevista perguntava-se aos participantes como eles se percebiam em termos de suas * Podiatria - especialidade voltada para o diagnóstico e tratamento dos distúrbios e lesões dos pés e dos defeitos anatômicos dos pés. Definição fornecida pela Biblioteca Virtual em Saúde. http://regional.bvsalud.org/php/decsws.php?tree_id=G02.696&lang=pt
42
identidades sociais, na segunda entrevista os mesmos participantes foram questionados sobre
como se sentiriam em uma entrevista grupal com diversos profissionais do hospital, sendo
também pedido que os participantes fantasiassem e articulassem como este tipo de encontro
poderia acabar. A terceira entrevista foi dividida em duas etapas, sendo que nove pessoas
concordaram em participar da terceira entrevista; estes nove participantes representavam os
variados grupos ocupacionais do hospital. No momento de se iniciar esta primeira etapa, três
profissionais não compareceram (limpeza, policial e segurança). O pesquisador promoveu o
encontro dos seis profissionais restantes e propôs que juntos trocassem e lessem as
transcrições das entrevistas de cada um, sendo que não poderiam ler as suas próprias. A
próxima etapa foi pedir que cada um articulasse suas visões e sentimentos acerca das
transcrições.
Em relação à identidade social, o autor encontrou resultados interessantes: os
grupos que mais se definiam através de seus cargos profissionais ou por grupo racial são as
enfermeiras, técnicos em enfermagem, policiais e o pessoal da limpeza. Os médicos e
assistentes sociais se definiam mais em termos de uma identidade individual e menos por
profissão. Os técnicos em enfermagem eram os que mais se definiam por sua pertença grupal
e os médicos os que menos se definiram por qualquer pertença grupal. O autor destaca que
durante as entrevistas realizadas os quatro grupos que demonstraram maior afiliação grupal,
usavam o termo “nós” para se definirem, enquanto médicos e assistentes sociais, que
demonstraram uma maior identidade individual, usavam o termo “eu” quando falavam de si.
Os resultados da segunda entrevista também foram bastante interessantes: em
geral, os policiais, o pessoal da limpeza e os seguranças percebiam que o encontro
multigrupal não funcionaria ou não acabaria bem. Os técnicos de enfermagem, assim como as
enfermeiras acreditavam que o encontro levaria a uma discussão grupal e que as pessoas
seriam magoadas. Algumas enfermeiras, entretanto, acreditavam que o encontro poderia ter
43
um bom resultado – maior compreensão sobre os outros, maior compaixão entre os membros
do staff. Os assistentes sociais afirmaram que o encontro poderia ser benéfico, mas
acreditavam que ninguém participaria deste. Os médicos e estudantes de medicina perceberam
o encontro como útil e acreditavam que este poderia ajudar a diminuir o menosprezo entre
grupos e que também poderia apontar as causas de descontentamento dentro do hospital,
todavia, quando questionados sobre o comparecimento ao encontro, os médicos afirmaram
estar muito ocupados.
Algumas conclusões do pesquisador, através do encontro multigrupal merecem ser
destacadas: 1) membros dos grupos mais excluídos reforçam suas próprias estimas tornando
os membros intragrupais significativos; 2) grupos minoritários relatam a existência de
estereótipos extragrupais por parte dos médicos (grupo majoritário); 3) grupos minoritários
abordaram a questão do poder do grupo majoritário (principalmente médicos brancos), o qual
dita as normas e políticas da instituição; 4) os grupos majoritários participam de atividades
nas quais são excluídos os membros dos grupos menos favorecidos.
Alguns estudos foram realizados para se tentar compreender as variáveis
envolvidas nas diversas relações profissionais da área de Saúde. Utilizaremos como referência
os estudos acerca da visão da Psicologia, do papel do psicólogo no hospital e das
barreiras/facilitadores da relação médico-psicólogo, pois estes são pertinentes ao presente
projeto.
As pesquisas realizadas acerca da relação médico-psicólogo procuram identificar
tanto a imagem que os médicos fazem destes profissionais, quanto às barreiras e facilitadores
desta relação.
Nethercut e Piccione (1984) foram praticamente os primeiros autores norte-
americanos a questionar as atitudes e a utilização que os médicos fazem da Psicologia no
ambiente hospitalar. Utilizaram um questionário de quinze itens que procurava contemplar a
44
importância de variáveis psicológicas na etiologia e tratamento de doenças, o valor dos
serviços psicológicos em ambientes médicos, o nível de familiaridade dos médicos com
práticas psicológicas nos ambientes de cuidados e se os médicos teriam encaminhado
pacientes a algum psicólogo no último ano.
Os resultados encontrados sugerem a existência de um grande reconhecimento do
papel de fatores psicológicos nas doenças e que as habilidades dos psicólogos clínicos eram
bem estimadas pelos médicos. Os autores apontam que estes dados possivelmente
superestimam a aceitação médica e argumentam que o retorno dos questionários foi de apenas
40% e que os médicos que desejaram completar a pesquisa podem ser aqueles que
demonstram uma atitude mais favorável em relação à Psicologia.
Os dados coletados demonstram que poucos foram os médicos que realizaram
encaminhamentos aos serviços psicológicos e que entre estes muitos não estavam satisfeitos
com os serviços prestados.
Os autores concluem que as diferenças nas formações de ambas as disciplinas
podem contribuir para as dificuldades desta relação, uma vez que na formação médica a
ênfase é colocada no funcionamento biológico e nas decisões de vida e morte e, por sua vez, a
formação dos psicólogos demonstra enfatizar os processos emocionais e sociais.
Os pesquisadores defendem a idéia de que os médicos participarão na integração
com os psicólogos desde que possuam familiaridade e apoio dos serviços psicológicos e que é
papel do psicólogo educar os médicos no que concerne à utilidade das intervenções
psicológicas no hospital.
Com o objetivo de se tentar compreender a relação entre médicos e psicólogos,
vários estudos foram elaborados ao longo dos anos e guardadas as singularidades de cada
pesquisa, os resultados encontrados foram bastante semelhantes.(LIESE 1986; MILLER &
SWARTZ, 1990; MC DANIEL, 1995; LEAL et al, 1999; TWILLING, SOCKELL &
45
SOMMERS, 2000; DROTAR, 2002; KAINZ, 2002) Estes resultados podem ser resumidos e
agrupados em dois quadros distintos, abaixo apresentados:
Quadro 1 – Barreiras e facilitadores da relação médico-psicólogo: 1) Paradigmas teóricos distintos; 2) linguagens distintas; 3) competitividade profissional; 4) desconhecimento e/ou conhecimento insuficiente por parte dos médicos a respeito dos serviços psicológicos; 5) falta de conhecimento dos psicólogos acerca do setting médico; 6) indefinição das fronteiras profissionais; 7) falta de uma linguagem comum às duas disciplinas; 8) dificuldade dos psicólogos em traduzir termos e conceitos psicológicos em uma linguagem compreensível aos médicos; 9) diferenças culturais entre a Psicologia e a Medicina; 10) fixação psicossocial por parte dos psicólogos; 11) fixação no modelo biomédico por parte dos médicos; 12) a formação de ambos os profissionais geralmente não são multi e/ou interdisciplinares; 13) existe por parte dos médicos um interesse em conhecer o trabalho do psicólogo
Quadro 2 – Imagem ou visão médica acerca da Psicologia e do trabalho do psicólogo no hospital: 1) Desapreço por parte dos médicos pelo tratamento psicológico; 2) desvalorização da Psicologia; 3) reducionismo interpretativo por parte dos psicólogos; 4) os psicólogos tendem a complicar as relações interpessoais com suas interpretações; 5) os psicólogos são pessoas inteligentes, inventivas, porém insatisfeitas, preocupadas e ansiosas;.6) os psicólogos precisam desenvolver a habilidade de se comunicar clara, sucinta e efetivamente a respeito dos problemas dos pacientes; 7) como se trata de um profissional que não possui uma formação médica, o psicólogo não pode compreender os problemas orgânicos, procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, os tratamentos farmacológicos e nem tampouco a terminologia médica.
Wagner et al (1999: 100) afirmam que “por se tratar de uma abordagem que estuda
as regularidades da vida social, a teoria das representações sociais não pode abrir mão de uma
perspectiva histórica.” Conseqüentemente, abordaremos a seguir o desenvolvimento da
Psicologia e da Medicina como ciência, pois acreditamos que as atuais representações da
Psicologia sofrem também influência de eventos passados.
46
5. OS PRIMÓRDIOS DA CIÊNCIA MODERNA
Para que possamos compreender o atual status da Psicologia e da Medicina, é
fundamental que examinemos suas histórias, pois o passado e o futuro sempre se encontram
no presente, tanto como base constitutiva, quanto projeto a ser desenvolvido.
As histórias de ambas as disciplinas irão se cruzar em diversos momentos
históricos, ora se aproximando, ora se afastando, mas sempre uma permeando a outra direta
ou indiretamente.
Com o intuito de nos aprofundarmos nos desenvolvimentos de ambas as
disciplinas, mister se faz retrocedermos aos séculos XVI e XVII, pois as idéias, movimentos e
questionamentos destas épocas colaboraram e criaram um ambiente propício ao
desenvolvimento científico como um todo, contribuindo para um importante avanço das mais
variadas disciplinas científicas.
5.1 O desenvolvimento científico
Com o fim da sociedade feudal e o desenvolvimento do capitalismo, o mundo
coloca-se em movimento e diversas transformações ocorrem em todos os setores da produção
humana. É o começo de uma grande revolução na história da humanidade.
A sociedade se torna “maleável”, o homem deixa de ser visto como o centro do
universo e passa a ser concebido como um ser livre e com capacidade de construir seu futuro.
Os dogmas da Igreja Católica, que anteriormente monopolizava todo o saber, passam a ser
questionados e assim, o conhecimento se torna independente da fé.
O homem descobre a razão e esta se torna uma grande possibilidade de construção
do conhecimento, contribuindo também para um processo de valorização do homem.
Nesta época, mais precisamente no século XVI, ocorrem muitas mudanças e
avanços nos setores político, econômico e social, que propiciarão as condições para o
desenvolvimento da ciência moderna.
47
A sede do homem por conhecimento traz a necessidade da ciência.
As idéias dominantes fermentaram essa construção: o conhecimento como fruto da razão; a possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis pela observação rigorosa e objetiva [...] apontava a necessidade de os homens construírem novas formas de produzir conhecimento.(BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1999: 38)
5.2 Fundamentos metateóricos da ciência e suas caracterizações
A visão de mundo e o sistema de valores que embasam a cultura contemporânea
foram formulados nos séculos XVI e XVII. Como mencionado anteriormente, uma nova
percepção e conseqüentemente, mentalidade do mundo forneceram à civilização ocidental os
aspectos característicos da modernidade. Eles se tornam a base do paradigma que dominou e,
que de certa forma ainda domina, a nossa cultura. (CAPRA, 1982)
Quando falamos de cultura, estamos nos reportando a toda e qualquer produção
humana, incluindo-se aí todas as disciplinas científicas. Portanto, tanto a Psicologia quanto a
Medicina, compõem-se de fundamentos metateóricos que sustentam suas bases constituintes e
conseqüentemente, as visões de seus objetos de estudos.
Foi a partir do século XVII, sob forte influência da visão de Francis Bacon que o
objetivo da ciência se voltou para a aquisição de conhecimento, com vistas à dominação e
controle da natureza. Elegeu-se aí a observação crítica e a experimentação como método de
investigação científica. (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1999).
A seguir, apresentamos a caracterização dos fundamentos metateóricos que servem
de base à filosofia da ciência.
5.2.1 O Mecanicismo
A Física foi a disciplina que mais influenciou o desenrolar de uma visão
mecanicista de mundo. Esta concepção defendia que o universo poderia ser explicado através
de processos mecânicos e que estes poderiam ser compreendidos a partir de seus movimentos.
48
Dentro desta perspectiva, o universo é visto como um amplo sistema de movimentos que
podem ser previstos a partir da descoberta de leis universais que os governam.
Esta visão mecânica de mundo carrega em si outras concepções subjacentes, tais
como: o universo como máquina, o reducionismo e o monismo/dualismo psicofísico.
5.2.2 O universo como máquina
O desenvolvimento industrial a partir do capitalismo, traz consigo as máquinas.
Nessa altura, o relógio atingira um alto grau de perfeição passando a constituir o modelo para
a construção e funcionamento de outras máquinas. Neste ponto, o relógio passa a ser utilizado
como a “metáfora mestra do universo”. (REIS, 1998: 55)
Desta forma, para se compreender o mundo bastaria utilizar o mesmo método
aplicado na compreensão da máquina: desmonta-se e separam-se as peças. Ou seja, o todo é
explicado pela soma de suas partes ou das propriedades das partes.
Tal concepção nos leva a outra metateoria que passa a influenciar as investigações
científicas, o reducionismo.
5.2.3 Reducionismo
A máxima da visão reducionista é “o todo é igual à soma de suas partes”. Defende-
se a idéia de que “uma determinada realidade é a expressão de uma dimensão mais real ou mais
fundamental, a qual pode ser explicada pela compreensão das suas partes constituintes mais
elementares”. (REIS, 1998: 60).
Ayala (1974 apud REIS, 1998) classifica o reducionismo em três níveis:
ontológico, metodológico e epistemológico.
O reducionismo ontológico está na base dos fenômenos da vida, significa que
processos físicos e químicos estão subjacentes na qualidade de condições necessárias à vida e
considera que as leis físicas e químicas aplicam-se e explicam inteiramente os processos
biológicos.
49
Ao nível metodológico, os reducionistas defendem a noção de que o estudo de
qualquer sistema – desde os mais simples aos mais complexos – pode ser reduzido à análise
de seus níveis inferiores, ou seja, de suas peças elementares. Entre os sistemas complexos
incluí-se o homem. Abordar o homem através desta concepção significa dividir, decompor e
analisar cada uma de suas partes separadamente – mente, coração, fígado, cérebro e assim por
diante.
A partir da perspectiva reducionista epistemológica, o que se procura saber é se
leis e teorias que se aplicam a um campo ou disciplina científica podem ser casos particulares
de teorias ou leis de uma outra área. Reis (1998) utiliza a biologia para ilustrar o
reducionismo epistemológico:
No caso da biologia, por exemplo, considera-se que suas teorias e leis são casos particulares de leis físicas e químicas e que os fenômenos biológicos são redutíveis a processos químicos e físicos. (REIS, 1998: 61)
5.2.4 Monismo psicofísico e dualismo psicofísico
O monismo e o dualismo psicofísicos são o conjunto das reflexões acerca das
relações entre mente-espírito/corpo. (BUNGE E ARDILA 1987 apud REIS, 1998)
Há mais de três milênios que questões como “qual a relação entre corpo e
mente?”, “o que é a mente e como ela pode influenciar o corpo?” ocupam filósofos, teólogos
e cientistas. Este ainda é um dos temas mais marcantes e mais complexos do panorama da
ciência e da filosofia da ciência.
Segundo Reis (1998) o monismo psicofísico defende a existência de uma só
substância e um único ser, sendo assim, corpo e espírito são uma só coisa e a mesma coisa. A
divergência existente no monismo diz respeito à natureza da “substância”; de um lado os
50
idealistas crêem que tudo é espiritual, do outro, os materialistas defendem a substância como
sendo matéria, por exemplo, estados mentais são estados físicos.
Já a noção de que corpo e espírito são substâncias completamente diferentes é
defendida pelo dualismo psicofísico. Assim como no monismo, o dualismo também não é
uma doutrina coerente e existem diferentes pontos de vista na forma como se considera a
relação entre corpo e mente (espírito).
É o dualismo interacionista, proposto por Descartes, que irá influenciar
profundamente outros desenvolvimentos filosóficos, contribuindo para avanços na ciência e
servindo de base para a filosofia da ciência dos séculos subseqüentes.
O dualismo cartesiano postula a separação da natureza em dois domínios distintos
e independentes. “Res Extensa”, o domínio material no qual se inclui o corpo, é o mundo da
matéria física e possui características de extensão no espaço e capacidade de movimento.
Conseqüentemente é o domínio governado pelas leis da física e da mecânica; logo, o corpo é
concebido como uma máquina. “Res Cogitans” é o domínio imaterial, do espírito, da mente e
da alma. É um domínio livre, sem extensão e sem substância e cuja única função é pensar.
Apesar de ser imaterial, é capaz de abrigar o pensamento e a consciência, proporcionando-
nos assim o conhecimento sobre o mundo exterior e todos os outros processos são
considerados como sendo função da matéria.
Um engano comum que se faz em relação ao mito cartesiano é acreditar que não
existe relação entre os dois domínios. Descartes afirmava que os domínios são distintos, mas
capazes de interagir dentro do organismo e que esta interação se dá de forma material
(através da glândula pineal) e, portanto, mecânica.
A revolução das idéias cartesianas está centrada na direção da interação entre os
dois domínios. Anteriormente, a idéia defendida era de que a mente era a grande
manipuladora do corpo, era ela o grande mestre de duas entidades. A proposta do mito
51
cartesiano é tornar independente cada domínio; eles interagem sim, mas são independentes
em seus funcionamentos.
O postulado cartesiano foi uma idéia revolucionária e radical do século XVII.
Compreendê-lo é fundamental, pois as idéias de Descartes terão implicações importantes para
a ciência e para toda uma visão de homem e mundo. A partir destas idéias, a análise
metafísica foi deixada de lado e a observação objetiva foi abraçada como método de pesquisa
de todas as disciplinas. (SCHULTZ & SCHULTZ, 1994)
O dualismo cartesiano causará um grande impacto no desenvolvimento da
Medicina e da Psicologia. Ele irá tornar possível o estudo do corpo humano morto, outrora
impensável nos séculos anteriores, contribuindo enormemente para o avanço da Anatomia e
da Fisiologia (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1999). A concepção da undulatio reflexa –
o movimento não supervisionado e nem determinado de se mover – é precursora da
psicologia comportamental de estímulo - resposta, entre outras tantas contribuições.
(SCHULTZ & SCHULTZ, 1994)
Apesar dessas concepções terem surgido nos séculos XVI e XVII, elas ainda se
fazem presentes na base de variadas disciplinas científicas atuais.
52
6. BREVE COMENTÁRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA
COMO CIÊNCIA.
A Psicologia é uma ciência peculiar uma vez que pode ser considerada uma das
disciplinas mais antigas e ao mesmo tempo uma das mais novas.
O interesse pelas questões psicológicas, na verdade, remonta à Antiguidade. Já no
século V a.C, Platão e outros pensadores tentavam compreender e responder as mesmas
questões de que hoje se ocupa a Psicologia, a saber: motivação, aprendizagem, memória,
processo saúde/doença, comportamentos anormais e inteligência, dentre outras. Isto nos
mostra que as atuais interrogações sobre a natureza humana também eram realizadas séculos
atrás e que existe uma “continuidade vital entre o passado e o presente em termos de seu
objeto de estudo”. (SCHULTZ & SCHULTZ, 1994: 17).
A Psicologia, entretanto, não pode ser considerada como um avanço da Filosofia;
ela tem sim a Filosofia em sua base constituinte, todavia, a Psicologia emerge como um
campo de estudo próprio e essencialmente científico.
É preciso enfatizar que a Psicologia não surge subitamente no cenário científico.
Além da Filosofia, as Ciências Naturais, a Medicina e outras disciplinas contribuíram para o
seu desenvolvimento. Os fundamentos metateóricos, já apresentados acima, também estavam
fomentando e constituindo a base da ciência psicológica.
O que diferencia a Psicologia moderna da Filosofia é a abordagem e técnicas
empregadas. Nos séculos XVI e XVII, devido a diversos movimentos que vinham ocorrendo
na área da ciência, a Filosofia começou a enfatizar valores empíricos e isto tornou possível o
aparecimento de uma Psicologia independente. (WITTIG, 1981) É a partir da aplicação do
método científico das disciplinas físicas e biológicas que a Psicologia alcança identidade
própria, distingue-se de suas raízes filosóficas e se funda como ciência.
53
O marco histórico da fundação da Psicologia como ciência é o ano de 1879,
quando Wilhelm Wundt funda o primeiro laboratório de Psicologia do mundo, na Alemanha.
Apesar de outros estudiosos terem conduzido pesquisas psicológicas, Wundt foi o primeiro a
se declarar psicólogo e a caracterizar suas pesquisas como laboratório psicológico. (WITTIG,
1981)
No decorrer do último quarto do século XIX, as idéias psicológicas se difundem
para os países da Europa e para os Estados Unidos e várias foram as demonstrações formais
do florescimento desta disciplina. Em 1881, Wundt também funda a primeira revista de
psicologia fundamentalmente dedicada a estudos experimentais – Philosophische Studien; nos
Estados Unidos, Stanley Hall funda em 1887 o American Journal of Psychology, em 1908,
William McDougall, psicólogo britânico, define a Psicologia – ao que parece pela primeira
vez – como ciência do comportamento. (SCHULTZ & SCHULTZ, 1994).
Uma vez estabelecida, a nova ciência se difundiu e expandiu com rapidez,
principalmente nos Estados Unidos onde muitos laboratórios e revistas foram fundados e onde
também surge, ainda em 1892, a primeira organização científica e profissional de psicólogos,
a American Psychological Association - APA. (SCHULTZ & SCHULTZ, 1994).
Faz-se necessário destacar que a psicologia científica buscava se aproximar das
ciências naturais, principalmente da física e da fisiologia e seu objetivo era descrever o
processo da consciência humana, basicamente investigando fenômenos sensoriais.
O início da Psicologia científica é caracterizado pelo desenvolvimento de sistemas
psicológicos, os quais eram tentativas de explicação do comportamento, utilizando-se um
único conjunto de princípios. Três foram os sistemas psicológicos, desenvolvidos ao longo do
século XIX, que caracterizam a Psicologia Científica, a saber: estruturalismo, funcionalismo e
associacionismo.
54
Com o avanço das pesquisas psicológicas, debates, questionamentos e estudos, os
sistemas psicológicos serão substituídos por novas teorias, dando início à chamada Psicologia
Contemporânea.
6.1 A Psicologia contemporânea
Uma das características mais marcantes da Psicologia no século XX é o
surgimento de diferentes escolas de pensamento. Enquanto a disciplina se expandia no século
XIX, vemos o desenvolvimento de diferentes sistemas psicológicos, como o funcionalismo e
o estruturalismo. Já no século XX, presenciaremos a substituição destes sistemas por novas
teorias. Estas novas teorias surgem de controvérsias entre os psicólogos, cada vez mais
numerosos. Os sistemas psicológicos passam a ser questionados e novas concepções a
respeito da Psicologia e de seu objeto de estudo serão propostas. Cada escola de pensamento
surge como um protesto contra a que a precedia; propondo uma visão diferente de ser
humano, diferentes métodos de investigação e diferentes objetos de estudo.
É mister compreendermos as principais teorias do século XX, pois delas advirão a
pluralidade e a diversidade que atualmente encontramos na Psicologia. A psicanálise, o
behaviorismo e a gestalt irão se consolidar como os grandes pilares da Psicologia
contemporânea. (CRP/05, 2005).
6.1.1 O Behaviorismo
John Watson é o primeiro nome do movimento behaviorista que surge como
contestação contra o estruturalismo e o funcionalismo, nos Estados Unidos. Seus estudos
eram no campo da psicologia animal e seu objetivo era tornar a Psicologia uma ciência
respeitável como as ciências físicas. (DAVIDOFF, 1983)
Watson nega o conceito de mente, pois, segundo suas proposições, esta não pode
ser estudada. Questiona também a introspecção como método de investigação, propondo que
55
os estímulos e respostas observáveis devem se constituir como objetos de estudo e que para
tal, é preciso adotar os métodos objetivos de investigação.
A Psicologia, da maneira como é vista pelo behaviorista, constitui um ramo puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos...O behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece uma linha divisória entre o homem e a besta. (WATSON apud FADIMAN E FRAGER, 1986: 191)
Apesar de ter sido considerada extremista a ênfase de Watson, até mesmo na
época, o behaviorismo dominou a psicologia americana por trinta anos. O interesse pelos
estímulos e respostas influenciou diversas posições psicológicas. Sua filosofia ampliou-se à
medida de sua evolução, seu enfoque deu forma à psicologia moderna e ainda hoje exerce
impacto sobre ela.
6.1.2 Psicologia da Gestalt
Assim como o behaviorismo, a psicologia da Gestalt surge como um protesto
contra o estruturalismo, “sobretudo contra a prática de se reduzir experiências complexas a
elementos simples.” (DAVIDOFF, 1983: 13)
O marco histórico do movimento gestaltista é o estudo sobre movimento aparente,
realizado em 1910 por Max Wertheimer. Seus pressupostos são desenvolvidos a partir de
estudos da percepção e são aplicados aos estudos da aprendizagem, motivação, resolução de
problemas, psicologia social e em até certo ponto à teoria da personalidade.(FADIMAN E
FRAGER, 1986) A máxima gestaltista é afirmar que “o todo é maior que a soma de suas
partes”.
A Psicologia da Gestalt causou um grande impacto em todo o campo da Psicologia,
principalmente na metade do século XX e influenciou dois enfoques contemporâneos – o
humanista e o cognitivo.
6.1.3 Psicanálise
56
O movimento psicanalítico difere dos outros movimentos de sua época, pois não
tinha a intenção de influenciar a psicologia acadêmica. O objetivo de Freud era ajudar as
pessoas que sofriam. (FADIMAN E FRAGER, 1986)
O trabalho de Freud surge da Neurologia e Psiquiatria e formula leis sobre o
funcionamento e a estrutura da psique humana. Diferentemente dos outros movimentos, a
Psicanálise refere-se a uma teoria, um método de investigação e uma prática profissional.
(BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 1999)
Freud propôs uma concepção de personalidade e de condição humana que
atacavam violentamente as opiniões predominantes da época. Desenvolveu novas abordagens
para o tratamento dos transtornos mentais, contestou tabus religiosos, sexuais, culturais e
científicos. (FADIMAN E FRAGER, 1986)
O movimento psicanalítico permanece ainda hoje, sua criação levantou uma
revolução na concepção dos problemas emocionais e seus tratamentos. A teoria psicanalítica
despertará o interesse pelos comportamentos normais e anormais, pelo desenvolvimento
infantil e pela personalidade. A revolução de Freud não se deu apenas na Psicologia, suas
idéias, tornaram-se parte da herança comum da cultura ocidental. (FADIMAN E FRAGER,
1986)
Estes três movimentos funcionaram como pilares para o surgimento de diversas
escolas de pensamento, conseqüentemente, o campo da Psicologia ampliou-se e expandiu-se,
englobando as áreas clínica, experimental, social, da educação e do desenvolvimento. As
idéias psicológicas passaram a ter aplicações práticas diretas e os psicólogos alocaram-se em
escolas, empresas, consultórios. A Psicologia se lançou na comunidade e atualmente, procura
contribuir na resolução de problemas da vida cotidiana.
A difusão e o desenvolvimento da psicologia não ocorreram apenas em função de
seus estudos próprios, revistas e laboratórios, ou seja, por influências interiores. Forças
57
contextuais e influências de outras disciplinas também contribuíram para moldar sua natureza
e direção. Vetores sociais, políticos e econômicos levaram a Psicologia e conseqüentemente,
os psicólogos, para fora do mundo estritamente experimental e acadêmico.
6.2 A Psicologia nos dias atuais
Ao longo do percurso, a Psicologia tem procurado, acolhido e rejeitado inúmeras
definições, mas o fato é que nenhuma escola de pensamento conseguiu unificar as diversas
posições existentes. Podemos afirmar que a Psicologia contemporânea encontra-se em estágio
pré-paradigmático e que seu campo é altamente especializado.
A tendência atual vai na direção da limitação de áreas de estudo de aspectos particulares do comportamento. As teorias de aprendizagem, da personalidade e do desenvolvimento se acham agora mais especializadas do que as teorias gerais e enunciados dos sistemas psicológicos. (WITTIG, 1981: 5)
Atualmente nos defrontamos com uma grande diversidade de especializações
científicas, profissionais e até em termos de objetos de estudo. O campo da Psicologia tem se
tornado cada vez mais especializado, com cada grupo aderindo às suas próprias orientações
teóricas e de método, abordando seu objeto de estudo a partir de diferentes técnicas. Muitos
psicólogos definem-se profissionalmente conforme seu campo de atuação, por exemplo:
psicologia hospitalar, do esporte e psicologia da educação, dentre outros.
A diversidade de escolas ou tendências em psicologia, a pluralidade de métodos de
investigação e de locais de atuação tornam bastante difícil o estabelecimento de uma
identidade profissional. (CHIATTONE, 2002)
[...] A Psicologia é, da forma como se nos apresenta hoje, uma ciência multiparadigmática. Os vários arraiais teóricos estabeleceram-se com suas linguagens particulares, suas problemáticas específicas, suas maneiras próprias de teorizar, seus métodos, seus conceitos, suas comunidades. A coexistência desses paradigmas alternativos implica a dificuldade do diálogo [...] não há nem mesmo concordância quanto ao que é este objeto. (LUPO apud CHIATTONE, 2002: 84).
58
No Brasil, o desenvolvimento da Psicologia seguiu a tendência internacional.
Contudo, seu percurso é dotado de especificidades históricas, culturais e contextuais. A seguir,
sintetizaremos o percurso da Psicologia no Brasil.
59
7. A PSICOLOGIA NO BRASIL
O objetivo desta dissertação de mestrado não é realizar um resgate da história da
psicologia e sim avaliar as representações sociais construídas por médicos a respeito do
psicólogo hospitalar. Entretanto, acreditamos ser fundamental contextualizar o
desenvolvimento da Psicologia no Brasil para compreendermos o processo de organização da
profissão no país. Este percurso trouxe contribuições para a forma atual da profissão e se faz
presente ainda hoje no momento em que um psicólogo se insere em uma equipe de saúde
hospitalar.
O desenvolvimento da psicologia e a profissionalização da disciplina no Brasil
podem ser divididos em três períodos distintos: pré-profissional, profissionalização e
profissional. (PEREIRA, 2003)
É mister destacar que o desenvolvimento da psicologia é um processo distinto da
profissionalização da disciplina, entretanto, a forma como se deu o desenvolvimento desta
ciência vem a influenciar no processo de profissionalização dos psicólogos.
7.1 Período pré-profissional (1833 – 1890)
A partir da criação dos cursos de medicina no Rio de Janeiro e na Bahia, em 1833,
tem-se o início deste período pré-profissional da Psicologia no Brasil. Estendendo-se até o
final do século XIX, tem como marco final a Reforma Benjamim Constant em 1890.
(PEREIRA, 2003)
A Psicologia deste período ainda não se constituía de um campo de saber
delimitado. Seu estudo era pulverizado, sem maiores sistematizações e delimitações,
entretanto, o interesse da elite brasileira pela produção e aplicação dos conhecimentos
psicológicos era crescente. (PESSOTTI, 1988)
Segundo Massimi (1990), a psychologia deste período era constituída por uma
série de discursos sobre o comportamento e a subjetividade e que se faziam presentes em
60
variadas áreas de saber, tais como: Medicina, Filosofia, Teologia, Direito e Pedagogia. Os
saberes psicológicos eram aplicados pelas diversas disciplinas no intuito de promover suas
ideologias e práticas. Por um lado, a Igreja utilizava-se de conceitos psicológicos no
desenvolvimento de sua teologia moral, por outro, a Medicina incorporava a Psicologia como
seu próprio conhecimento.
O interesse pelas questões psicológicas acentuava-se nas faculdades de medicina,
gerando a preocupação com a aplicação destes conhecimentos tanto nos problemas sociais,
quanto nas áreas da neurologia e da neuropsiquiatria. (PESSOTTI, 1988)
O marco do início da psicologia experimental no Brasil pode ser considerado a
publicação da tese “Duração dos atos psíquicos elementares nos alienados” pelo médico
Henrique Roxo, em 1900. Esta “nova” psicologia irá se caracterizar pela mensuração e
classificação de comportamentos, alcançando, assim, status de disciplina
autônoma.(PESSOTTI, 1988)
7.2 Período de profissionalização (1890/1906 – 1975)
O processo de profissionalização da psicologia no Brasil acompanhou a tendência
internacional. Desta forma, buscava-se o status de cientificidade através da classificação e
mensuração dos indivíduos. É nesse contexto e através da criação de laboratórios de
psicologia experimental que se inicia a institucionalização da prática da psicologia no país.
A educação e a medicina foram os dois campos de conhecimento que
contribuíram para institucionalização do saber psi. A educação foi o campo pioneiro para o
desenvolvimento da psicologia, pois utilizava a psicologia experimental como forma de
adquirir status científico, chegando a incorporar a disciplina de psicologia em seus cursos.
(PEREIRA, 2003)
Em 1890 cria-se no Rio de Janeiro o Pedagogium, inicialmente um museu
pedagógico que sete anos mais tarde vem a se transformar em um centro de cultura superior.
61
Em 1906 é instalado neste local o primeiro laboratório de psicologia experimental do Brasil.
(PENNA, 1992)
A medicina, por sua vez, interessava-se pela aplicação de escalas psicológicas.
Foi a partir de 1923 que se iniciaram as atividades do Laboratório de Psicologia na Colônia de
Psicopatas do Engenho de Dentro. Este laboratório, dirigido por Waclaw Radecki tinha como
objetivos: auxiliar as atividades médicas, constituir um núcleo de pesquisas, atender
necessidades práticas e sociais e ainda se tornar um centro de formação de psicólogos. O
Laboratório de Psicologia não se limitou a desenvolver e aplicar a psicologia experimental,
realizava-se também a testagem e a psicoterapia.(PENNA,1992)
Em 1932, o Laboratório de Psicologia veio a se transformar em Instituto de
Psicologia da Secretaria de Estado de Educação e Saúde Pública pelo Decreto-Lei N º 21173.
O objetivo era realizar pesquisas e formar psicólogos. (ESCH & JACÓ-VILELA, 2001 apud
PEREIRA, 2003) Entretanto, o Instituto de Psicologia funcionou por apenas sete meses.
Ao início dos anos 30, o Instituto de Psicologia é incorporado à Universidade do
Brasil – atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1939, criam-se, nessa
Universidade, as cadeiras de psicologia geral no Departamento de Filosofia; Psicologia
Aplicada na Escola Nacional de Educação Física e Desportos e psicologia educacional no
Departamento de Pedagogia. (PENNA, 1992)
Em 1934, na Universidade de São Paulo, inaugura-se o curso de psicologia geral
na Faculdade de Filosofia. A cadeira passa a ser obrigatória nos cursos de Filosofia,
Pedagogia e Ciências Sociais.
Durante a década de 30, nota-se um maior reconhecimento da psicologia e
assinala um período importante para a profissionalização da psicologia;
[...] nesse período, a psicologia passa a ter um desenvolvimento autônomo desvinculado da utilização médica e virtualmente independente da aplicação escolar. (PESSOTTI, 1988:26)
62
É através da especialização que se organiza no Brasil a formação profissional do
psicólogo. Era preciso cursar os três primeiros anos de filosofia, biologia, antropologia,
fisiologia ou estatística e ainda fazer cursos especializados de psicologia para se estar
legalmente habilitado. É com a formação de especialista que se inicia oficialmente o exercício
da profissão no Brasil. (PEREIRA, 2003) Ainda que exercendo a profissão, nas décadas de 40
e 50, os psicólogos eram técnicos que atuavam predominantemente no setor do Trabalho.
Nos anos 50 se inicia o processo de regulamentação da profissão no país. A
formação profissional em nível superior principia-se em 1957 no Rio de Janeiro e em São
Paulo. (PENNA, 1992)
O primeiro anteprojeto de lei para a regulamentação da profissão foi enviado ao
Conselho Nacional de Educação em 1953, sendo que a profissão só passa a ser regulamentada
no dia 27 de Agosto de 1962. O processo de regulamentação envolveu debates e polêmicas
quanto ao campo de atuação dos psicólogos. Dentre eles havia a discussão a respeito da
atuação clínica que
[...] vinha dando origem aos conflitos entre médicos e psicólogos, uma vez que os primeiros entendiam que a prática da psicoterapia por parte dos psicólogos era expressão do exercício ilegal da medicina. (PEREIRA, 2003: 26)
A expressão psicoterapia foi retirada do texto legal, sendo proposto o direito do
psicólogo de atuar na clínica com a solução de problemas de ajustamento. Esta parte do
segundo projeto integrou a lei de regulamentação da profissão em 1962. (PEREIRA, 2003)
Em 1971 realiza-se o I Encontro Nacional de Psicologia em São Paulo, no qual
discutiram-se diretrizes para eleição e posse do Conselho Federal de Psicologia. Ainda neste
ano, são criados os Conselhos Federal e Regionais de Psicologia. O primeiro Código de Ética
é criado em 1975. (PEREIRA, 2003)
63
7.3 Período profissional (1975- ...)
Inicia-se um novo momento de uma profissão institucionalizada, agora com seus
questionamentos próprios e que procura garantir seu espaço de atuação, validade e poder.
Após a regulamentação da profissão, presenciaremos o “boom” da psicologia
durante os anos 70. Este é um período caracterizado pela proliferação dos cursos
universitários, aumento da demanda social por serviços psicológicos e, conseqüentemente, um
aumento no número de profissionais no mercado de trabalho.
A psicologia e a psicanálise se expandem e passam a fazer parte do cotidiano das
pessoas através das revistas, programas de televisão, manuais. A psicoterapia passa a
significar status social e é adotada pelas classes média e alta do país.
O regime político instaurado no país – da ditadura militar – também irá contribuir
para o crescimento da profissão. Segundo Langenbach & Negreiros
[...] o sistema autoritário aqui instalado e a concomitante expansão e o enriquecimento da classe média criaram condições propícias para o surgimento de uma demanda do novo profissional – o psicoterapeuta. A própria ausência de canais de participação – o silenciar sendo uma palavra de ordem – tornava atraente e válido este tipo de espaço. Tal validade era reafirmada pelo próprio Estado, por serem consideradas as práticas em psicologia provavelmente pouco ameaçadoras, já que, privilegiando a esfera íntima e privada, nela ficariam camufladas complexas questões sociais”.(LANGENBACH & NEGREIROS 1988, apud PEREIRA, 2003)
Durante os anos 70 e 80, as três grandes áreas de atuação da psicologia eram a
educação, o trabalho e a clínica, sendo a última a mais procurada pelos profissionais.
Atualmente a área clínica encontra-se cada vez mais saturada de profissionais, entretanto,
vemos a abertura de diferentes campos de atuação e uma variedade de escolas de pensamento.
Nos dias atuais, a Psicologia caracteriza-se pela diversidade e pluralidade.
64
7.4 Quem é o psicólogo brasileiro?
Em 1988 o Conselho Federal de Psicologia publica uma pesquisa realizada entre
os anos de 1985 e início de 1987, a respeito da profissão no Brasil.(CFP, 1988) Conclui que é
uma profissão essencialmente feminina (chegando a 85%), jovem (faixa etária de grande
parte dos profissionais entre 22 e 30 anos) e concentrada nos grandes centros urbanos. O
levantamento também possibilitou averiguar que grande parte dos profissionais era mal
remunerada e que muitos exerciam outra atividade como forma de complemento de renda
mensal.
Observa-se uma situação desfavorável para os psicólogos nos anos 80 que não
conseguem se manter pela sua profissão, caracterizando perda de autoridade e valorização
profissional.
Em 2001, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001) publica outra pesquisa
acerca da situação e perfil dos profissionais no país. Os resultados demonstram que é maciça
a presença feminina na profissão (92%) e que as faixas etárias entre 26 e 35 anos e 36 e 45
anos são predominantes. Observam que durante os anos 90 houve um ligeiro crescimento na
graduação em Psicologia. Considerando a pós-graduação, os resultados indicam que 47% dos
entrevistados não participou de nenhum curso de atualização ou pós-graduação. Todavia, a
especialização foi procurada por 53% dos participantes.
A evasão profissional é alta (24.8%) em função de restritas ofertas de postos de
trabalho e da baixa remuneração.
Ao pesquisar a principal área de atuação, a hegemonia da psicologia clínica é
notória (57.4%), sendo que os profissionais atualmente alocam-se em espaços diversos:
consultório particular (46.5%). clínicas (10. 9%), hospitais (8.3%), instituições (6.9%).
Um dado bastante interessante desta pesquisa refere-se à satisfação dos
profissionais com a carreira que abraçaram: 53.8% dos entrevistados se dizem parcialmente
65
satisfeitos, 40.2% estão plenamente satisfeitos e 5.5% relatam insatisfação. Quando
questionados os motivos das insatisfações, os entrevistados relatam que são muitos os
obstáculos cotidianos enfrentados: desconhecimento da sociedade em relação à psicologia e
os preconceitos associados ao seu exercício, a concorrência de profissionais de outras áreas e
desvalorização dos psicólogos junto a categorias profissionais correlatas, falta de condições
financeiras da população, falta de reconhecimento da profissão e excesso de profissionais no
mercado de trabalho.
É interessante perceber que os relatos dos profissionais acerca das dificuldades
encontradas no exercício da profissão vão ao encontro dos resultados encontrados pelos
pesquisadores acerca das representações sociais da Psicologia e do psicólogo.
Outro dado importante da pesquisa é o surgimento de uma porcentagem razoável
de psicólogos que relatam estar atuando em hospitais. Percebe-se que este campo de trabalho
está se desenvolvendo e atraindo profissionais, todavia, faz-se necessário examinarmos mais
atentamente como este campo vem se estruturando.
66
8. E A PSICOLOGIA ENTROU NO HOSPITAL...
No final da década de 70, iniciou-se uma ampliação na oferta de vagas na área da
saúde, contribuindo assim para o aumento do número de psicólogos no setor:
Os empregos de saúde, no período 1976-1984, apresentaram comportamento peculiar, destacando-se: a) maior crescimento do nível de emprego de saúde no setor público; b) expansão de empregos na rede ambulatorial; c) maior crescimento dos empregos mais qualificados. (MÉDICI et al, 1992: 78)
De acordo com Médici et al (1992), diversas reformas nas instituições
assistenciais, médicas e de previdência foram promovidas. Entre elas, a defesa de equipes
multidisciplinares privilegiou uma série de profissionais, incluindo os psicólogos. Embora os
psicólogos se encontrassem em menor número do que outros profissionais da saúde, houve
uma expansão significativa destes profissionais atuando no campo. Vemos um aumento no
número de psicólogos em ambulatórios e hospitais, sendo que a Psicologia ainda estava
tradicionalmente ligada a hospitais psiquiátricos. Esta situação começa se modificar ainda na
década de 70 quando os hospitais gerais passam a se tornar um novo campo de atuação para
os psicólogos.
Romano (1999) relata que já na década de 50 os psicólogos se faziam presentes
nos hospitais gerais, entretanto, estes trabalhavam isoladamente e ainda não dispunham de
um modelo teórico específico para o campo de atuação.
A atuação dos psicólogos em hospitais no Brasil teve início na década de 50. Evidentemente que, nos primeiros tempos, eram exercícios isolados e que se aproximavam do que se pode chamar “o transporte do consultório para dentro do hospital. Ou seja, embora competente e sério, o exercício dentro do hospital em quase tudo assemelhava-se ao do consultório: postura, teoria, local. (ROMANO, 1999: 83)
67
Ao longo destas cinco décadas, diversas foram as mudanças ocorridas na área da
saúde; os hospitais mudaram, a medicina demonstrou novos interesses, outras necessidades
foram cobradas pela clientela e o número de psicólogos no quadro de funcionários aumentou
significativamente. A presença da psicologia no contexto hospitalar é hoje uma realidade.
Todavia, este percurso não ocorreu – e ainda não ocorre – sem obstáculos, questionamentos e
dificuldades.
Atualmente, a definição do campo encontra-se em debate. A nomenclatura
utilizada – psicologia hospitalar – denomina um local de atuação e não um campo de saber.
(DE MARCO, 2003). Segundo Yamamoto, Trindade & Oliveira (2002), esta denominação é
inadequada, pois resulta em classificações pouco elucidativas, como se existisse uma
“psicologia” específica para cada espaço de atuação do psicólogo. De acordo com os autores,
isto leva a uma dispersão e fragmentação da teoria e das práticas psicológicas e dificulta o
estabelecimento da identidade profissional do psicólogo que atua em hospitais como
profissional de saúde.
Chiattone (2000) afirma que a psicologia hospitalar esbarrou em dificuldades
estruturais ao tomar emprestado recursos técnicos e de métodos de outras áreas da psicologia.
Ressalta que muitas vezes o conhecimento emprestado demonstrou ser inadequado ao
contexto hospitalar e que a inexistência de um paradigma claro levou o psicólogo a buscar
alternativas em sua atuação que são distanciadas das necessidades institucionais e dos
pacientes.
[...] ao lançar mão do saber emprestado, o psicólogo hospitalar passou a confundir teoria e prática, isolando-se do contexto onde deveria inserir-se, em exercício de legitimação de um saber, às vezes distanciando-se da realidade. Nesse contexto, a tentativa de delimitação de objetivos na tarefa, diluiu-se, reforçando-se as diversidades e as lacunas. E ao confundir exaustivas teorizações sem a precisa avaliação epistemológica e metodológica, não raro, a subjetividade do psicólogo passou a ser confundida com incapacidade, dificultando a oportunidade de legitimação do espaço psicológico nas instituições de saúde. (CHIATTONE, 2000: 75)
68
Torna-se evidente a impossibilidade de contextualizar a psicologia hospitalar
dentro de um paradigma científico, uma vez que seus pressupostos não se encontram
firmemente estabelecidos. Como resultado, “faz-se psicologia de forma distinta nos diferentes
hospitais e instituições de saúde no Brasil” (CHIATTONE, 2000:76). Isto leva a uma
confusão quanto à definição do papel profissional. Yamamoto & Cunha (1998) pesquisando
acerca da identidade profissional de psicólogos hospitalares em Natal, detectaram uma
ambigüidade significativa quanto à definição de suas atividades. Algumas participantes
declararam-se psicólogas hospitalares, mas também clínicas. Uma outra participante diz ser
psicóloga da instituição além de hospitalar e outra participante define sua atividade
profissional como sendo psicóloga hospitalar, clínica e da saúde. Romano (1999) defende que
o questionamento acerca da tarefa do psicólogo na instituição hospitalar persiste, pois ainda
se percebe uma confusão e profusão de papéis.
Podemos constatar a existência de uma pluralidade no exercício da psicologia no
hospital, todavia,
a admissão dessa pluralidade em psicologia hospitalar deve conter a consideração de que não se trata este fato de situação casual, mas sim do reflexo das contradições inerentes à criação da psicologia como ciência independente. (CHIATTONE, 2000: 76)
Outra questão levantada e que contribui para as dificuldades deste campo de
saber, é a formação dos profissionais de psicologia. Os cursos de graduação não oferecem aos
alunos um repertório profissional que seja compatível com as necessidades teóricas/práticas
da área de saúde (DE MARCO, 2003). Segundo Angerami-Camon, (1996) faltam subsídios
teóricos na formação acadêmica do psicólogo para uma prática dentro do contexto
institucional hospitalar, sendo “bastante restrita para sedimentar a prática que envolve a
realidade institucional” (ibid:7). Romano (1999) também evidencia uma grande lacuna entre
o arcabouço teórico da formação profissional e a atuação prática dos psicólogos clínicos no
69
contexto hospitalar. Em um estudo acerca da caracterização da psicologia hospitalar, Sólon
(1992, apud CHIATTONE, 2000) averiguou que parte dos psicólogos que atuavam em
hospitais, buscava cursos extracurriculares tais como especialização em psicologia hospitalar.
Este fato demonstra a necessidade de uma formação específica para se atuar na área. Nesta
mesma pesquisa, os participantes afirmaram que a formação oferecida pela universidade não
os capacitou suficientemente para atuar no campo.
Evidencia-se que os entraves existentes neste campo de atuação são complexos e
diversos. Entretanto, cabe ressaltar que a persistência destes entraves não invalida ou anula a
existência deste campo de conhecimento e atuação que vem sendo debatido, pesquisado e
construído por diversos psicólogos atuantes.
Este breve comentário sobre a psicologia no contexto hospitalar não tem a
pretensão de aprofundar-se no tema e conseqüentemente, em seu debate. Sua função é
contextualizar este campo de atuação e poder fornecer uma perspectiva histórica que nos faça
compreender o status atual da psicologia no contexto hospitalar.
70
9. BREVE COMENTÁRIO A RESPEITO DA EVOLUÇÃO DA MEDICINA
Um dos grandes debates que acontece atualmente na interseção das áreas da
Psicologia e da Medicina envolve as diferentes concepções que fundamentam a filosofia de
cada ciência. Contextualizaremos, primeiramente, a evolução da Medicina, para que
possamos compreender este embate entre o modelo biomédico e o biopsicossocial.
9.1 Concepções médicas: da Antiguidade à atualidade
Antes de olharmos a evolução da Medicina, destacamos que a história da área é
marcada por diferentes significações sobre a natureza, estrutura e funções do corpo e sobre as
relações mente/corpo e pessoa/ambiente. Contudo, encontraremos duas concepções que
assinalam o percurso da medicina:
A) concepção fisiológica: as doenças se originam a partir de um desequilíbrio entre as forças
da natureza que se encontram no interior e exterior da pessoa. É uma medicina centrada no
paciente e em seu ambiente e que evita a ligação entre doença e perturbação de órgãos
particulares;
B) concepção ontológica: as doenças são consideradas entidades exteriores ao organismo, que
o invadem com vistas a se localizarem em diversas partes do corpo invadido. É uma medicina
que se esforça em classificar os processos patológicos e elaborar diagnósticos precisos. A
medicina ontológica defende que a patologia é algo em si e que não se relaciona com a
personalidade, estilo de vida e constituição física da pessoa. (REIS, 1998) Cabe ressaltar que a
história da medicina não se resume a estas duas concepções, entretanto, estas são as mais
marcantes.
9.1.1 Medicina na Mesopotâmia
O aparecimento de uma verdadeira civilização situa-se por volta de 3.100 a.C com
o surgimento da escrita cuneiforme na Mesopotâmia, região geográfica entre os rios Tigre e
Eufrates. (DE MARCO, 2003)
71
Inúmeras plaquetas em escrita cuneiforme foram encontradas e ao decifrá-las foi
possível acessar uma série de informações acerca da vida dessa civilização. Diversas são as
plaquetas que abordam a matéria médica; várias delas consistiam de prescrições e outras
tantas comprovam a existência de atividades cirúrgicas. A comprovação destas atividades
encontra-se no chamado Código de Hamurabi, que ao invés de ser gravado em plaquetas , foi
esculpido em um imponente bloco de basalto. Nele encontram-se, provavelmente, as decisões
legais de Hamurabi no exercício de suas atividade de juiz. Entre as leis, encontram-se
algumas concernentes à realização de cirurgias, o que deve ser feito quando do seu sucesso
ou insucesso, responsabilidades, punições e recompensas médicas. (DE MARCO, 2003)
A medicina da Mesopotâmia abarcava duas concepções: a mágico-religiosa
atribuía causas sobrenaturais às doenças, sendo seu tratamento realizado através de práticas
religiosas tais como encantamentos e magia. Por outro lado, a concepção empírico-racional
reconhecia que as causas das doenças poderiam ser disfunções de vários órgãos e os
tratamentos à base de ervas, ungüentos, plantas tinham caráter curativo. Muitos dos
tratamentos realizados nesta época, assemelham-se a alguns tratamentos modernos.
Cabe ressaltar que as duas concepções não eram conflitantes, na verdade, ambas
as abordagens eram partes de um todo maior. Cabia ao médico-sacerdote diagnosticar a
enfermidade e sua causa. Caso esta resultasse de causas sobrenaturais, o tratamento era
realizado pelo médico-sacerdote e no caso de disfunções de órgãos, a terapêutica ficava a
cargo de um médico especializado em remédios.
Na medicina da Mesopotâmia, os medicamentos e procedimentos estavam a cargo
dos próprios médicos, que já realizavam uma variedade de manipulações do corpo e cirurgias
com ou sem a ajuda de instrumentos. Por exemplo, os médicos já reduziam fraturas e
utilizavam estiletes para incisões na região ocular.
72
9.1.2 Egito
Assim como na Mesopotâmia, a medicina egípcia abarcava “pacificamente” os
cunhos mágico-religiosos e empírico-racional.
A eclosão de doenças e epidemias era explicada pela ação dos deuses protetores e
vingativos, espíritos bons ou maus. Em função desta crença, os métodos preventivos e de
cura desses males eram os “tratamentos” religiosos, tais como: rituais, encantamentos e
oferendas, dentre outros. Por outro lado, existiam dados resultantes da observação direta dos
doentes, reconhecia-se o pulso, a existência de “vasos” condutores do ar para o coração ou
líquidos como sangue, esperma, saliva e urina.
A medicina era praticada por três categorias “profissionais”: sacerdotes, feiticeiros
e médicos. Aos sacerdotes cabiam o cuidado das cortes dos faraós e os tratamentos com
encantamentos. Os feiticeiros utilizavam-se de amuletos e rituais mágicos; os médicos
“exerciam seu trabalho talvez dentro de normas mais racionais”. (DE MARCO, 2003:25)
Uma série de procedimentos cirúrgicos era realizada e as áreas de traumatologia e
da ginecologia e obstetrícia eram também campos de conhecimento e atenção.
9.1.3 Grécia Antiga (776 a.C – 476 d.C)
Este é um período marcante na história da medicina, pois é aqui que será proposta
a libertação desta de suas influências mágico-religiosas.
Hipócrates foi quem deu voz a esta ruptura ao defender um conjunto de princípios
teóricos e metodológicos –. Este assumia que as doenças obedecem às leis naturais e que
portanto, os procedimentos terapêuticos deviam se sustentar em uma base racional com o
objetivo de corrigir efeitos nocivos advindos das forças naturais. Defendia que a saúde e a
doença eram explicadas pelo equilíbrio ou desequilíbrio dos humores corporais. (REIS, 1998)
Desta forma, “a medicina afastou-se do misticismo e do endeusamento e baseou-se na
observação objetiva e no raciocínio dedutivo”. (REIS, 1998:26)
73
O Corpus Hippocraticum defendeu uma visão global do ser humano pois levava
em conta a relação que o homem estabelecia com o ambiente em que vivia e assumia:
1) que saúde e doença são explicadas por causas naturais;
2) o equilíbrio/desequilíbrio dos humores corporais e as influências ambientais podem
explicar as doenças;
3) os procedimentos terapêuticos devem estar assentados na racionalidade objetividade;
4) o ambiente e o estilo de vida da pessoa influenciam seu estado de saúde;
5) a natureza tem papel formativo, construtivo e curativo;
6) considerou de forma realçada a importância da qualidade da relação médico-paciente;
7) concepção holística da pessoa e de seu ambiente;
8) princípios éticos da prática da medicina.
Hipócrates defendia uma medicina humanizada. Considerava que a qualidade da
relação médico-paciente era um aspecto importante do tratamento que não podia ser reduzido
a um ato puramente técnico.
Nesta mesma época (460-370 a.C), desenvolvia-se em Cnide uma medicina oposta
à Escola hipocrática. A Escola de Cnide baseava seus estudos na doença e não na pessoa,
esforçava-se à classificação dos processos patológicos, perseguia um diagnóstico exato e
procurava investigar a localização de lesões específicas que pudessem estar causando os
sintomas apresentados pelo enfermo.
A medicina da Escola de Cnide não foi tão popular quanto a da Escola de Cós
(hipocrática), pois nesta época, os conhecimentos de anatomia e fisiologia necessários para o
seu êxito, eram impossíveis de serem alcançados. Segundo Reis (1998) podemos identificar
nessas duas Escolas os pontos de vista defendidos pelos médicos nos últimos dois mil anos,
sendo que a Escola de Cós refere-se a uma concepção ecológica e a Escola de Cnide
corresponde a uma concepção redutora, física ou biológica.
74
Galeno, outro nome importante da medicina grega, viveu no século II d.C e suas
idéias dominaram a medicina européia até a Renascença. Este defendia simultaneamente o
estudo dos órgãos, pois buscava uma patologia local e a teoria hipocrática dos humores
corporais. Classificou doenças, mas utilizou os métodos terapêuticos hipocráticos, aos quais
acrescentou preparações farmacêuticas “que se tornaram célebres e fizeram história”. (REIS,
1998: 29)
Foi Galeno quem introduziu o conceito anatômico de doença. Segundo ele, a
compreensão da enfermidade precisa se fundamentar no conhecimento detalhado da estrutura
corporal. Através da dissecação exclusiva de macacos, Galeno estudou intensivamente a
anatomia. Fato este que levou Galeno a atribuir configurações errôneas a anatomia humana.
Uma de suas teorias acerca da anatomia humana só foi derrotada no século XVII.
9.1.4 Período Medieval
O dogma da Igreja Católica predominou durante este período. Assim, a posição
científica baseada na observação e razão foi obrigada a agir de forma “subterrânea” durante
séculos.
A medicina ocidental estagnou-se e nesse período, entretanto, um importante
impulso ocorreu na medicina árabe. Aqui destacam-se os nomes de Rhazes e Avicena que
tentavam correlacionar reações fisiológicas e estados emocionais. (DE MARCO, 2003)
9.1.5 Medicina do Renascimento – século XVI
Foi apenas no séc. XVI que a medicina sofreu transformações que nos permitem
identificar um novo ponto de mutação em relação aos pensamentos médicos característicos da
Antiguidade e da Idade Média. É nesse período que se “descobre” o corpo humano.
Andreas Vesalius é um dos destaques desta época pois é considerado o fundador
da ciência anatômica moderna. (REIS, 1998) Vesalius fez propostas inovadoras ao afirmar
75
que o estudo da anatomia deveria realizar-se através da dissecação humana e sua observação
direta. Defendia que o fundamento da medicina deveria ser basear este método de estudo.
Em 1543, Vesalius publica o livro De Humani Corporis Fabrica e demonstra não
só a forma, mas também a função dos órgãos e
[...] a importância do seu trabalho e a revolução que iniciou levam a considerar que a anatomia e a medicina moderna começaram com a publicação do De Humani Corporis Fabrica. (REIS, 1998:30)
Outro nome importante do século XVI foi Ambroise Paré, um dos primeiros
defensores do método experimental na medicina. (DE MARCO, 2003) Paré era cirurgião e
introduziu inovações na área cirúrgica ao estabelecer o uso de ligaduras no fechamento de
artérias, por exemplo. (REIS, 1998)
9.1.6 Medicina da razão – século XVII
Uma nova revolução na medicina e na biologia ocorreu em 1628 quando William
Harvey publicou Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus, mais
conhecido como Motu Cordis. Neste livro, Harvey estabeleceu uma nova base das fisiologias
humana e animal, anulando as propostas de Galeno que haviam dominado a medicina nos
quinze séculos anteriores. (REIS, 1998)
Harvey contribuiu para a revolução na biologia ao:
1) estabelecer a experimentação e a observação direta;
2) introduzir o raciocínio quantitativo como base para as conclusões nas ciências “da vida”;
3) descobrir a circulação do sangue. Descoberta esta que revolucionou a fisiologia.
9.1.7 Medicina das luzes – século XVIII
Ainda no século XVIII, algumas teorias acerca da doença ainda se fundamentavam
nos humores corporais e entidades místicas. É Giovanni Morgagni (1682-1771) que inicia
76
uma nova concepção de doença ao questionar as concepções hipocráticas. Defendeu que a
doença é resultado exclusivo de perturbações em específicas estruturas corporais. Esta
concepção, designada de conceito anatômico de doença, tornou-se o fundamento do
pensamento médico subseqüente. (REIS, 1998)
Morgagni é considerado o pai da anatomia patológica pois foi através de centenas
de necropsias realizadas que o pesquisador conseguiu estabelecer retrospectivamente, uma
relação entre sintomas clínicos e lesões ou doenças encontradas nos cadáveres. (REIS, 1998)
Apesar do desenvolvimento da anatomia patológica, o diagnóstico médico ainda
era dependente das queixas e histórias apresentadas pelo enfermo. Em 1816 René Laennec
inventa o estetoscópio e “dá-se um acontecimento com conseqüências epistemológicas
importantes para a medicina”. (REIS, 1998:31) O médico passa a ter acesso ao interior do
corpo do paciente, bastando que o médico consiga decodificar o significado dos sons, ou seja,
o estetoscópio passa a fornecer uma evidência fora de dúvidas. É a partir da invenção do
estetoscópio que o diagnóstico objetivo passou a se constituir do principal pilar da medicina.
Aqui, inicia-se a era moderna do diagnóstico científico. (REIS, 1998)
De acordo com Reis (1998) os progressos científicos ocorridos na área da saúde
nos séculos XVII e XVIII, juntamente com os conceitos de patologia organicista e localizada,
levaram a desumanização da medicina, polêmica que persiste ainda nos dias atuais.
9.1.8 Século XIX
Durante o século XIX, a Medicina vivenciou diversas descobertas e revoluções. È
nesse período que ocorreu o desenvolvimento da medicina anátomo -clínica e laboratorial.
Pasteur destaca-se como um nome importante ao descobrir os microorganismos, o
que levou a medicina a se interessar cada vez mais pelos fenômenos microscópicos.
O cirurgião Joseph Lister é responsável por uma revolução na medicina da época
ao desenvolver o método anti-séptico baseado nos conhecimentos de Pasteur. Assim, as
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cirurgias passam a acontecer na total ausência de micróbios, levando a taxa de mortalidade
cair drasticamente. (REIS, 1998)
Veremos a bacteriologia surgir como um campo importante da medicina, o que
também veio favorecer o desenvolvimento da medicina laboratorial.
A segunda metade do século XIX é marcada por diversas descobertas: bacilo da
tuberculose e suas formas de transmissão, desenvolvimento de vacinas, criação da teoria da
especificidade (um germe – uma doença). Foi a criação da teoria celular (a célula é a unidade
básica da vida, da saúde e da doença) por Rudolf Virchow que permitiu a entrada da
medicina no mundo das anomalias microscópicas de tecidos e órgãos. Esta teoria veio a se
tornar a base da medicina no século XX. (REIS, 1998)
Cabe destacar que apesar do aparente reducionismo das teorias da época, alguns
pesquisadores defendiam que os fatores psicossociais influenciavam os processos de doença e
também de cura e que estes deveriam ser levados em consideração. Contudo, “nos
desenvolvimentos posteriores da medicina não foi a concepção ecológica a privilegiada, mas
sim a ontológica.” (REIS, 1998:33)
9.1.9 Século XX
A medicina do século XX presenciou uma verdadeira explosão de saberes,
desenvolvimento tecnológico e de técnicas médicas. O progresso de áreas afins também veio
a contribuir para o desenvolvimento da disciplina médica.
Na primeira metade do século XX, a medicina modificou-se pela influência do
microscópio, do laboratório, da química e da eletricidade. O diagnóstico deixou de se basear
exclusivamente na história clínica devido à utilização do raio X. O corpo tornou-se
transparente, a observação de vísceras tornou-se possível. Descobriu-se os hormônios, a
penicilina e identificou-se os grupos sanguíneos. Tantas são as inovações e descobertas que
78
torna-se impossível enumerá-las. Mister se faz destacar que as orientações biológica e físico-
química impregnaram o século XX.
A segunda metade deste século também é marcada por diversas revoluções, não só
na medicina, como também em diversas disciplinas científicas que contribuíram direta e
indiretamente para o avanço da ciência médica.
A título de ilustração, citamos algumas descobertas importantes desse período
(REIS,1998):
A) novas técnicas de respiração, circulação e alimentação artificiais permitem manter vivas
pessoas em coma;
B) 1952 – início do tratamento químico de doenças mentais;
C) 1955 – início da cirurgia de coração aberto;
D) identificação de ligações entre o sistema imunológico e o sistema nervoso central;
E) 1971 – desenvolvimento da ressonância magnética;
F) desenvolvimento de ampla farmacopéia;
G) transplantes de órgãos;
H) doenças iatrogênicas – resultam da terapêutica ou hospitalização e atingem porcentagens
alarmantes.
Como resultado de todos estes desenvolvimentos, a medicina torna-se cada vez
mais especializada, técnica e dependente de tecnologia, conseqüentemente, mais redutora.
79
10. A MEDICINA NO BRASIL
Não pretendemos, neste capítulo, nos aprofundar na história da medicina no
Brasil. Forneceremos um breve comentário de alguns pontos importantes desta história apenas
como contraponto ao desenvolvimento da Psicologia no Brasil.
Até meados do século XVIII, Portugal não demonstrava maiores interesses pelas
cidades brasileiras, de forma que a ocupação do território era realizada basicamente pelos
colonos. Foi a partir da descoberta de ouro que Portugal passou a exercer um controle rigoroso
sobre a colônia. (JACÓ-VILELA et al, 2004) Como veremos adiante, estes antecedentes se
faziam presentes na questão da prática médica desta época.
Em 1808 a família real desembarca no Brasil e D. João VI tem como pretensão
estabelecer instituições centralizadoras que possam restabelecer a ordem e “civilizar” o país.
(JACÓ-VILELA et al, 2004). Dentre estas instituições centralizadoras e “civilizantes” ,
encontramos a criação da primeira escola de medicina em Salvador, ainda em 1808. (LIMA-
GONÇALVES, 2002)
10.1 Antecedentes da prática médica
No período que se estende do século XVI ao início do século XIX, diversos eram
os profissionais que prestavam atendimento “médico” no Brasil.
Os físicos (médicos) e os cirurgiões eram os profissionais habilitados a exercer a
medicina, uma vez que eram portadores de “licença”, diploma ou “carta”. Eram na maior parte
das vezes licenciados pela Universidade de Coimbra já que não existia no Brasil o ensino da
medicina.
Estes profissionais sofriam forte concorrência dos profissionais não habilitados,
chamados de “práticos”. Eram os curandeiros, boticários, pajés e jesuítas, que apesar de não
habilitados para a prática “médica”, dispensavam atendimentos.
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Os cirurgiões eram também classificados em diversas categorias. Durante os
séculos XVI e XVII, constituíam-se em boa parte de “cirurgiões barbeiros” e eram habilitados
como aprendizes ou ajudantes de mestres. Realizavam atos cirúrgicos comuns da época, como
também extraiam dentes, realizavam sangrias, cortavam cabelo e barbeavam. Estas duas
últimas práticas tornaram-se restritas aos barbeiros a partir do século XVII. A categoria dos
“cirurgiões aprovados” também se faz presente. Eram profissionais que haviam seguido um
curso teórico-prático em hospitais e foram submetidos a exames e devidamente habilitados. A
habilitação além de outorgar o direito a exercerem todos os tipos de cirurgia, habilitava-os à
própria medicina nos lugares onde não houvesse físicos (médicos). (JACÓ-VILELA et al,
2004)
Podemos constatar que nesta época a prática médica era exercida por variados
profissionais e sua legislação é praticamente nula.
Segundo Jacó-Vilela et al (2004), encontramos nesta época o desenrolar de uma
medicina hipocrática, mas que devido aos seus fundamentos religiosos, fica impedida de
avançar nos processos empíricos e experimentais que já faziam parte da medicina européia.
A institucionalização da medicina no Brasil inicia-se com o ensino oficial d a
medicina, a partir da chegada de D. João VI ao Brasil. Em 1808 criam-se a Escola de Cirurgia
da Bahia e a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro. O curso de medicina
que dura cinco anos passa a ser regulamentado. Entretanto, ainda na década de 20 do século
XIX, as escolas da Bahia e do Rio de Janeiro já são consideradas deficientes. (JACÓ-VILELA
et al, 2004)
A Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro é fundada em 1829. Em 1830 é
chamada a dar parecer sobre os planos de reorganização do ensino médico; tem seu ante-
projeto aprovado pela Comissão de Saúde Pública da Câmara e é promulgado como lei em
1832. Por esta nova regulamentação, o curso tem a duração de seis anos e três cursos são
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instituídos: medicina, farmácia e partos. Passa-se a se conceder títulos de doutor em Medicina,
farmacêutico e parteira. As reformas ocorridas no regime monárquico e no período
republicano visavam adaptar o ensino da medicina ao seu progresso técnico-científico.
(JACÓ-VILELA et al, 2004)
A medicina no Brasil começa a assumir o novo paradigma científico e ainda no
século XIX surgem os periódicos médicos. A Gazeta Médica da Bahia foi o primeiro
periódico médico brasileiro, criado em 1866. (JACÓ-VILELA et al, 2004)
Até o início do século XX o exercício da profissão ocorria sob bases liberais, ou
seja, o médico dependia de sua própria capacidade para exercer sua atividade. Contudo, é a
partir do início do século XX que alterações nas políticas públicas de saúde interferiram na
prática médica. (NETO, 2000)
O Estado começa a abandonar sua postura liberal frente a problemática social e
passa a assumir, aos poucos, o papel de gerenciar e produzir serviços em diversas áreas,
principalmente a da saúde. Neto (2000) cita a criação do Departamento Nacional de Saúde
Pública (DNSP) como sinal do abandono da postura liberal. Este departamento tinha como
finalidade atingir desde a medicina preventiva e curativa até a engenharia sanitária.
[...] o incremento da presença do estado na área de saúde guardava expressivo potencial de promover o assalariamento médico, fundando, por sua vez, esferas públicas de atuação profissional com visíveis conotações políticas. (NETO, 2000:401)
Tal fato mobilizou a elite médica brasileira, levando a organização do Congresso
Nacional dos Práticos em 1922 e veio a traduzir uma grande parte dos embates e controvérsias
profissionais da elite médica. Os médicos brasileiros se viram ameaçados pelas mudanças que
poderiam ocorrer no mercado de trabalho pela criação do DNSP e este congresso foi, segundo
Neto (2000) um marco importante da história da medicina brasileira. O Congresso Nacional
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dos Práticos presencia o embate entre os médicos generalistas, especialistas e higienistas pela
ratificação de suas identidades profissionais.(NETO, 2000)
Em 1951 é criado o Conselho Federal de Medicina (CFM) que inicialmente
restringia-se ao registro profissional e à aplicação de sanções do Código de Ética. Atualmente,
o órgão possui atribuições de fiscalização e normatização da prática médica.
10.2 Médicos e ensino da Medicina no Brasil nos dias atuais
Lima-Gonçalves (2002) expõe em seu livro Médicos e ensino da medicina no
Brasil o desenvolvimento do ensino médico no Brasil atual. Destacaremos alguns pontos
relevantes para a presente pesquisa.
O autor chama atenção para as dificuldades encontradas no ensino da medicina e
no contexto de atuação do médico que é extremamente dinâmico e repleto de dúvidas e
problemas.
Uma das dificuldades citadas pelo autor é que a formação médica vai além da
aquisição de conhecimentos, existem valores que necessitam ser internalizados, é preciso
aprender “a ser médico”. Este aprendizado começa na graduação e deve se desenvolver ao
longo da vida. Nesta questão de internalização de valores, uma das barreiras encontra-se no
duplo enfoque mecanicista existente na prática da medicina
[...] a prática da medicina é atualmente, mais do que nunca, influenciada por uma visão estreitamente vinculada aos sucessos da ciência e que modernamente se fundamenta em um duplo enfoque da concepção mecanicista cartesiana: de uma parte o funcionamento dos seres vivos é equiparado ao de uma máquina e, de outra, a proposta de que as respostas as perguntas sobre os fenômenos biológicos encontra-se nos níveis mais elementares da matéria. (LIMA-GONÇALVES, 2002: 64-65)
Desta forma, reduz-se o paciente a uma soma de genes, moléculas e enzimas, ao
mesmo tempo em que atribuem-se ações moleculares ainda não descobertas aos sentimentos,
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emoções e crenças do paciente. Perde-se assim, o humanismo da prática médica. (LIMA-
GONÇALVES, 2002)
Outra barreira encontrada no contexto da atuação médica é a transformação de
profissional de saúde para equipe de saúde. Segundo o autor, este percurso foi permeado por
dificuldades, principalmente por parte dos médicos que estão habituados a deter o monopólio
do atendimento ao paciente e demonstram resistência em invocar a colaboração de outros
profissionais. Não negamos a existência dessas dificuldades, entretanto, devemos enfatizar que
a existência de equipes de saúde multidisciplinares é uma realidade no Brasil.
10.3 Quem é o médico brasileiro?
Lima-Gonçalves (2002) utiliza dados de diversas pesquisas para tentar traçar o
perfil do médico brasileiro. Nos chama a atenção alguns dados, como sexo, que se contrapõem
com o perfil do psicólogo brasileiro.
Segundo o autor, há uma distribuição irregular dos profissionais, uma vez que
estes se concentram nas maiores cidades e capitais. A população é predominantemente
masculina (67,3%) e jovem (65,8% abaixo dos 45 anos). A necessidade de formação e
especialização fica evidente pelo fato que 75% dos graduados desenvolvem o programa de
residência médica. Os médicos no Brasil são multiempregados, ou seja, desenvolvem mais de
uma atividade e dividem-se nos setores público (69,7%) e privado (59,3%).
Como dito anteriormente, este capítulo não tem a pretensão de se aprofundar
neste tema, entretanto, mister se faz contextualizarmos o percurso da Psicologia, da Medicina
e da história do hospital, tema que abordamos a seguir.
84
11. O HOSPITAL
Ao falarmos da relação médicos-psicólogos, precisamos considerar também o lugar
onde esta relação se estabelece. Aqui estamos nos referindo ao hospital contemporâneo,
portanto, abordar sua evolução e status atual pode nos ajudar a melhor compreender esta
complexa relação interprofissional.
11.1 As origens do hospital contemporâneo
As origens do hospital contemporâneo estão ligadas as instituições religiosas de
atenção social da Antiguidade. Os templos e outros estabelecimentos eram as “instituições” de
cuidado que recebiam os enfermos e providenciavam atenções especiais. No entanto, viajantes
e vítimas de outros infortúnios eram também assistidas por estas instituições que proviam
cuidados “médicos”, gerais e de assistência social. O papel destes “hospitais” era bastante
amplo e sua clientela englobava tanto os enfermos quanto os sadios. O lugar do médico nesses
estabelecimentos era pouco significativo já que a cura das doenças estava associada à
intervenção do divino. Aqui destacam-se o papel dos sacerdotes e dos procedimentos mágico-
religiosos. (ANTUNES, 1991)
Durante a Idade Média (século V ao século XV) os hospitais continuavam sendo
instituições religiosas de atenção social. A administração, efetuada por religiosos, tinha como
objetivo a caridade, pois “partilhava-se a convicção de que a assistência espiritual era o
remédio mais indicado em casos de doenças e outros infortúnios”. (ANTUNES, 1991: 159)
Dessa maneira, a ação sacerdotal era reforçada sob a ação médica que também era incipiente
nestas instituições.
Ao final da Idade Média, com o crescimento das cidades e fortalecimento da
burguesia, algumas mudanças ocorrem nas instituições. O hospital passa a ser dirigido pela
administração pública, fato que contribuiu para a diminuição da responsabilidade do pessoal
religioso mas não a extinguiu. Cada vez mais médicos passam a ser admitidos nas instituições.
85
Segundo Foucault (1979) a Idade Média marca o início da associação entre hospital e
medicina, embora ainda fossem independentes.
Durante a Idade moderna, os hospitais mantiveram a característica de entidades
promotoras de assistência social. Entretanto, uma outra função sobrepujou as instituições
beneméritas destas instituições: a função de segregadoras de contingentes populacionais. As
pessoas que representavam perigo ao convívio comunitário – mendigos, loucos, prostitutas,
portadores de moléstias repulsivas ou transmissíveis – eram alocadas nestas instituições.
Realizava-se a exclusão e o isolamento com o intuito de promover o controle e a disciplina da
vida urbana. O funcionamento destas instituições assemelhava-se em diversos aspectos ao
funcionamento dos estabelecimentos penais daquele período da História.(ANTUNES, 1991)
Descobriu-se com o tempo que este tipo de instituição não conseguia alcançar seu
objetivo de controle e disciplina. Constatou-se o efeito contrário: as instituições hospitalares
haviam se convertido em fonte de diversas desordens com variados efeitos patológicos que
acarretavam graves consequências para a vida urbana. Antunes (1991) classifica três formas
de desordens, a saber:
1) dos contágios: difusão da sarna, altos índices de mortalidade entre enfermos e funcionários,
camas coletivas nas quais pessoas com as mais variadas patologias ficavam próximas;
2) econômica: os hospitais marítimos eram usados como estratégia para se burlar a
fiscalização aduaneira, permitindo a entrada de produtos contrabandeados;
3) militar: a internação era utilizada para a deserção de soldados e os hospitais militares eram
incapazes de recuperar soldados enfermos para a guerra.
Durante o século XVIII devido a diversas transformações, passa-se a acreditar que
as instituições hospitalares poderiam de fato vir a exercer uma função terapêutica efetiva e
para tal, precisou-se superar seu caráter insalubre.
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É necessário destacar que desde a Antiguidade, o implemento da medicina e as
instituições de atenção as doenças se desenvolviam de forma autônoma e independente e uma
aproximação mais estreita ocorria em poucas ocasiões.
Para erradicar a insalubridade do ambiente hospitalar, foi necessária a realização de
sucessivas reformas nos hospitais, incluindo-se: novos regulamentos que orientassem a rotina
hospitalar, mudanças no ambiente físico, regularização de dispositivos disciplinares para a
regulamentação do funcionamento da instituição. Concomitantemente, a medicina converte-se
numa práxis hospitalar através de reformulações ocorridas em seu paradigma. Neste momento,
o conhecimento médico vê a necessidade de controlar de forma rígida tudo aquilo que envolve
o enfermo: dieta alimentar, qualidade do ambiente, temperatura e, claramente, o espaço de
“internação”. Desta forma, a figura do médico é alçada à posição de maior destaque, tanto
técnico quanto administrativo, dentro da instituição hospitalar. (ANTUNES, 1991).
11.2 O hospital contemporâneo
Chega-se ao hospital contemporâneo, que passa a ser concebido como lugar
terapêutico, valorizando-se as intervenções cirúrgicas, medicamentosas e o meio como
ferramenta para a cura das enfermidades. Têm-se a preocupação de se criar ambientes
individualizados para que cada doente possa ser inserido de acordo com sua patologia e
protocola de tratamento. Este processo foi viabilizado a partir do momento em que os recursos
hospitalares foram destinados as finalidades médicas, ou seja, os recursos foram submetidos as
ações administrativas e funcionais da classe médica. (ANTUNES, 1991).
O hospital contemporâneo tem como função a recuperação da força de trabalho e o
acolhimento da morte quando esta recuperação não é possível. Sua estrutura e organização
encontram-se impregnadas de tecnologia e a clientela engloba portadores de diversas
enfermidades, tanto físicas quanto mentais. Apesar do médico ainda ser considerado como o
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profissional símbolo da instituição agora precisa dividir o poder e o doente com outros
profissionais da saúde. (PEREIRA, 2003)
O hospital contemporâneo é uma grande máquina complexa, onde circulam mercadorias e acontecem disputas de poder entre os profissionais. Sua organização e administração passaram a ser guiadas por critérios racionais, científicos e econômicos. Diferentes ocupações e profissões foram criadas em torno dessa instituição, gerando uma hierarquia não só entre os profissionais de saúde como dentro da própria equipe médica. (PEREIRA, 2003: 40)
Podemos constatar que o ambiente de atuação de médicos e psicólogos é complexo
e abarca duas grandes lutas: os médicos pelo poder e manutenção de seu espaço e os
psicólogos pelo reconhecimento e abertura de espaço na instituição.
Destacamos que a evolução da instituição hospitalar é repleta de muitos elementos,
podendo ser analisada por diversos ângulos. Nosso objetivo neste capítulo é de fornecer
alguns dados que ilustrem o percurso de desenvolvimento dessa instituição secular.
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12. MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório cujo objetivo é
investigar as representações sociais construídas por médicos não psiquiatras acerca da
Psicologia e da atuação do psicólogo clinico no contexto hospitalar.
12.1 Participantes
Os participantes que constituíram a amostra da pesquisa compunham dois grupos:
1. Grupo de médicos (dividido em dois sub-grupos)
1.1 – Sub-grupo 1: sete médicos não psiquiatras que em suas atuações profissionais
trabalham ou já trabalharam com psicólogos hospitalares;
1.2 – sub-grupo 2: sete médicos não psiquiatras que em suas atuações profissionais não
trabalham ou não trabalharam com psicólogos hospitalares;
2. Grupo de psicólogos hospitalares: nove psicólogos que atualmente trabalham em hospitais
e realizam um trabalho clínico.
12.2 Instrumento
Foram estruturados três questionários pilotos para ambos os grupos da amostra, a
fim de realizarmos a testagem do instrumento. A testagem foi realizada a partir da aplicação
dos questionários com cinco participantes de cada grupo da população a ser estudada, sendo
os mesmos validados semanticamente por dois analistas independentes.
Após a testagem dos instrumentos, foram utilizados três questionários de
perguntas abertas, de forma que:
• Questionários para os médicos: um questionário de perguntas abertas aplicado em
médicos que trabalham com psicólogos hospitalares (Anexo 1); um questionário
de perguntas abertas aplicado em médicos que não trabalham e não trabalharam
com psicólogos hospitalares (Anexo 2);
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• Questionários para psicólogos: foi aplicado um questionário de perguntas abertas
com psicólogos clínicos que trabalham em hospitais. (Anexo 3)
12.3 Procedimento de coleta
A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de questionários semi-
estruturados em: 1) médicos não psiquiatras que em suas atuações profissionais trabalham ou
já trabalharam com psicólogos hospitalares; 2) médicos não psiquiatras que em suas atuações
profissionais não trabalham e não trabalharam com psicólogos hospitalares e 3) psicólogos
hospitalares.
Os questionários foram auto-administrados em lugares livres, sendo que os
participantes da pesquisa trabalham em hospitais particulares e públicos no município do Rio
de Janeiro.
12.4 Análise dos dados
Os dados foram analisados através da análise de conteúdo temática, segundo
Bardin (1994). Posteriormente utilizou-se o teste de qui-quadrado para avaliar se as repostas
intra e intergrupais apresentavam diferenças significativas estatisticamente com vistas à
formulação de uma meta-análise.
Foram analisadas 21 perguntas dentre as 30 elaboradas para os médicos com
experiência. Dentre as 24 perguntas elaboradas para os médicos sem experiência, foram
analisadas 17 e dentre as 17 perguntas para os psicólogos, analisou-se 8.
Listamos abaixo algumas das respostas emitidas pelos participantes dos três
grupos, com vistas à ilustração e melhor compreensão do processo de categorização dos
temas.
Lista 1 – Exemplos de respostas encontradas no grupo de médicos com experiência junto a psicólogos hospitalares O que é medicina para você? meu esporte predileto; aprendizado, ajuda, ensinar, minha vida, cuidado, aplicação de conhecimento; minha grande paixão; uma profissão.
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Qual o objetivo do seu trabalho? bem-estar, aquisição de conhecimento; aplicação de conhecimento; oferecer o melhor tratamento; prazer; realizá-lo da melhor maneira possível; aprender a ajudar pessoas. Cursou a cadeira de Psicologia médica? sim; não. Se afirmativo, qual era o conteúdo da matéria? relação médico-paciente; relações profissionais; creio que estava inserido com noções de Psiquiatria. O que você pode aprender com esta disciplina? desvios da relação médico-paciente; inconclusiva; nada de útil. Encontrou dificuldades ao cursar a matéria? Quais? não; sim;coerência; seriedade no tema. A cadeira de Psicologia médica influencia ou influenciou a sua forma de atuação? O que e como? repensar as relações profissionais. Durante sua formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar com psicólogos ou estagiários de psicologia, nos hospitais? Lembro de assistir a uma atuação de um psicólogo, numa única vez, ainda acadêmica, no Hospital Universitário, e que me deixou uma péssima impressão; durante o estágio em clínica de dor com psicólogos estagiários do serviço como eu; médicos; psicólogos. O que é psicologia para você? um tipo de ciência; estudo do complexo emoções-comportamento; estudo da mente; estudo da psique do indivíduo, que possivelmente engloba sua mente, comportamento e emoções. Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar? suporte psicológico; ajudar no diagnóstico e tratamento de doenças com enfoque no contexto psico-comportamental; Atender em demandas psíquicas que interferem na qualidade de vida do indivíduo, dentro de uma visão holística. De que forma o profissional de Psicologia poderia contribuir para a sua atuação como profissional? Porque? entender melhor a perspectiva do paciente; auxiliando no relacionamento, principalmente com familiares; Complementando o suporte emocional aos pacientes que necessitem de uma atuação mais profunda, abrangente, e técnica especializada, suporte básico para a equipe técnica de apoio (enfermagem, administrativo e outros), e ao próprio médico, quando necessário – alguma dificuldade na relação com o paciente ou no próprio ambiente de trabalho, tenha ou não influência de fatores pessoais. Como foi sua experiência inicial e atual com o psicólogo? excelente; ótima; Um pouco trabalhosa, no início, devido ao restrito espaço físico, ausência de método de trabalho definido e em comum, entre os psicólogos da equipe (grupo muito heterogêneo, com formações acadêmicas e interesses diversos).
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Atualmente considero uma parceria de trabalho excelente e imprescindível; Não tive experiências ruins. Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como? todos; todos onde haja relacionamento com pacientes e família; atendendo os pacientes ou discutindo estratégias com os profissionais; Em todos, mas com maior atuação em determinados setores, com maior demanda, tanto para pacientes, como familiares e equipe técnica. Para quais tarefas hospitalares você requisitaria um psicólogo, independente dos setores acima mencionados? lidar com familiares e pacientes; acompanhamento de pacientes com problemas sócio-mentais; atendimento dos profissionais e discussão de políticas de saúde. Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? verbalmente; para os pacientes com consulta médica e/ou tratamento marcados, na agenda da Psicologia, ou requisição verbal, em situações não previstas. Como o psicólogo responde ao encaminhamento? prontamente; verbalmente; Além de anotações em fichas próprias da Psicologia, ou breve relato em folhas de evolução do prontuário médico, mas mais freqüentemente com relatos verbais, num momento oportuno. Mais importante do que a resposta ao encaminhamento,é o atendimento em si, e a informação da necessidade ou não de um acompanhamento mais prolongado, etc. A Psicologia participa de reuniões clínicas? Porque? algumas; sim; porque são parte da equipe; reuniões clínicas são na sua essência multidisciplinares. Como funciona uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha? de forma multidisciplinar; muito bem; integrada; certamente melhor, diferenciada, podendo oferecer um atendimento mais completo. Você encontra dificuldades na comunicação/relação com o psicólogo? Se afirmativo, quais são elas? não. Trabalha em outro hospital que não conta com um serviço de psicologia? você pode notar diferenças na qualidade do serviço prestado nestas instituições? Porque? não trabalho; sim; famílias estão menos preparadas e pacientes mais ansiosos; a diferença já é grande entre as instituições uma vez que existe um abismo entre uma mentalidade e outra. Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do hospital, como você avaliaria tal medida? excessiva; com “bons olhos”; excelente; essa atuação somente acontece com o encaminhamento do profissional diretamente ligado ao paciente (médico, enfermeiro ou outros), que reconheça a importância desse atendimento, e que acredite que esse suporte irá auxiliar no seu trabalho junto ao paciente. Por outro lado, creio que o
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psicólogo deva participar mais, tomando uma atitude de “busca ativa”, nos setores já mencionados, conquistando espaço e notoriedade de sua especialidade na área de saúde.
Lista 2 – Exemplos de respostas encontradas no grupo de médicos sem experiência junto a psicólogos hospitalares O que é medicina para você? trabalho de entrega total no qual a abnegação é fundamental; uma ciência que visa melhorar e prolongara vida; é aplicar conhecimentos científicos na ajuda ao próximo. Qual o objetivo do seu trabalho? buscar a cura ou amenizar sofrimento, informar a e cuidar visando o bem-estar. Cursou a cadeira de Psicologia médica? sim; não. Se afirmativo, qual era o conteúdo da matéria? ciência do comportamento humano; ética médica; aspectos psicológicos ligados a prática médica. O que você pode aprender com esta disciplina? auto-conhecimento; nada; dei-me conta de como era árdua a tarefa que me aguardava. Encontrou dificuldades ao cursar a matéria? Quais? não; sim; descobrir o conceito, entender o objetivo do aprendizado, como usar e aplicar, como ajudar. A disciplina influencia ou influenciou a sua atuação como profissional? De que forma? sim; não; principalmente na visão do ser humano como um todo; tento sempre colocar-me no lugar do outro. Durante sua formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar com profissionais da Saúde Mental? Quem eram estes profissionais? sim; não; psiquiatras, psiquiatras e psicólogos. O que psicologia para você? uma ciência que tem ramificações importantes em várias outras; estudo organizado do comportamento e pensamento humano; não é, não tem definição, é subjetivo. Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar? auxiliar os pacientes e seus médicos a encararem de forma mais racional, tranqüila e sem revolta as doenças e agravos a saúde do ser humano; integrar equipe multidisciplinar; acredito que a psicoterapia.
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De que forma o profissional de Psicologia poderá contribuir para sua atuação como profissional? Porque? desde a área de saúde do trabalhador até em equipe multidisciplinares; o psicólogo pode auxiliar o médico, a mim em especial, a encarar a impotência de resolução do problema de saúde. Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como? em todos os setores; todos os setores apresentam campo para o trabalho do psicólogo; diversos talvez, desde departamento pessoal até psicoterapêutico. Para quais tarefas hospitalares você requisitaria um psicólogo, independente dos setores acima mencionados? todos; acho que não solicitaria, mas procuraria do próprio paciente o seu desejo por um acompanhamento psicoterapêutico. Quem seriam os beneficiados com um serviço de Psicologia? Porque? todos; aprimoramento nas relações, sejam profissionais ou doentes; venho chegando a conclusão de que os próprios profissionais da saúde também, que muitas vezes não estão preparados com uma postura para certas situações. Como funcionaria uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha? funcionaria de maneira preconizada como a melhor multidisciplinar; intergada; como qualquer equipe multidisciplinar. Na sua opinião, existem entraves na relação/comunicação médicos-psicólogos? Quais? sim; não; sem dúvida; o médico não sabe como trabalhar com o psicólogo; dificuldade em separar o papel, a função dos profissionais citados. Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do hospital, como avaliaria tal medida? boa desde que conversado e muito bem estruturado; hoje digo que é desnecessário; Não acho que todos os pacientes necessitam deste apoio, mas seria muito positivo se os que precisam (os mais graves, os terminais, os mais sozinhos) tivessem este atendimento.
Lista 3 – Exemplos de respostas encontradas junto aos psicólogos hospitalares De que forma você se preparou para atuar em Psicologia Hospitalar? especialização em psicologia hospitalar; curso de especialização e estágio em ambulatório; todos os cursos que fiz na área foram extra-curriculares; não houve tempo para me preparar. Acredita que esta formação lhe forneceu capacitação para estar atuando na área? Porque? Como? sim; não; não houve formação formal; possibilita uma melhor instrumentalização para a prática no hospital; para trabalhar na área hospitalar entendo que seria necessária uma outra abordagem teórica.
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Como foi sua experiência inicial e atual com médicos no hospital? inicialmente a comunicação com os médicos era rara; percebo que meu trabalho pode ajudar o deles e me coloco como sua subordinada; sinto que não foi nada fácil no início; começamos a ter mais trocas, mais cumplicidade, mais confiança e credibilidade. Com quantos psicólogos você trabalha diretamente? nenhum; diretamente nenhum; o serviço funciona com uma psicóloga por dia; somos 4 psicólogas para todo o hospital,o que dificulta um trabalho também mais integrado no próprio Serviço de Saúde mental. Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? verbalmente e com relato sucinto do motivo; os encaminhamentos podiam ser feitos por qualquer profissional da equipe que detectasse a necessidade, na sua grande maioria verbalmente. Como você responde ao encaminhamento? atendo prontamente; se tivesse mais tempo seria bom fazer um comentário no prontuário médico, mas não é possível; pessoalmente (interconsulta). A psicologia participa de reuniões clínicas? Porque? sim, para um melhor entrosamento e porque sou solicitada; não mais, porque a equipe de psicologia se desintegrou completamente; acho que nem há reuniões clínicas entre os médicos; Muito raramente, infelizmente!Mas continuo trabalhando em cima desta necessidade. Que dificuldades você encontrou e encontra atualmente no seu trabalho? excesso de demanda; ser respeitada pela equipe médica enquanto profissional; atualmente a maior dificuldade é conseguir realizar um trabalho conjunto, integrado com as demais psicólogas; dificuldades relativas à mentalidade médica > olhar fragmentado sobre o processo saúde-doença.
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13. Resultados
Os resultados apresentados abaixo em forma de tabelas, obedecem aos seguintes
critérios: 1) identificação do grupo dos médicos com experiência (MCE) junto a psicólogos
hospitalares; 2) identificação do grupo dos médicos sem experiência (MSE)junto a psicólogos
hospitalares; 3) identificação do grupo de psicólogos hospitalares (P); 4) comparação dos
resultados entre MCE e MSE nas perguntas comuns; 5) contraposição dos resultados entre o
próprio grupo MCE em perguntas específicas; 6) contraposição dos resultados entre o próprio
grupo MSE em perguntas específicas; 7) contraposição dos resultados entre o próprio grupo P
em perguntas específicas; 8) comparação dos resultados entre MCE e P nas perguntas
comuns.
13.1 Identificação do grupo dos médicos com experiência (MCE)
O grupo MCE é composto por sete médicos sendo: quatro médicos do sexo
masculino e três do sexo feminino. A faixa etária varia entre 28 e 48 anos. Em relação à
especialidade médica, encontramos quatro cardiologistas, uma anestesista e uma
hematologista/oncologista. O tempo de atuação profissional varia entre quatro e dez anos.
Considerando o contato não profissional com psicólogos, quatro médicos relatam terem tido
contato.
Boa parte do grupo atua tanto em instituições públicas, privadas e hospitais-escola.
Os locais de atuação de maior destaque são as enfermarias e ambulatórios.
13.2 Identificação do grupo dos médicos sem experiência (MSE)
O grupo MSE é composto por sete médicos, sendo: quatro do sexo masculino e
três do sexo feminino. A faixa etária varia entre 24 e 53 anos. Em relação à especialidade
médica, encontramos um cardiologista, um urologista, um ginecologista/obstetra, um
cirurgião geral, um clínico e dois gastroenterologistas. O tempo de atuação varia entre dois e
96
30 anos. Considerando o contato não profissional com psicólogos, dois médicos relatam terem
tido contato.
A maior parte do grupo atua em instituições públicas, sendo que as enfermarias e
ambulatórios soa os locais de maior atuação.
13.3 Identificação do grupo de psicólogos hospitalares (P)
O grupo P é composto por nove psicólogas hospitalares, sendo todas do sexo
feminino. A faixa etária varia entre 25 e 48 anos. O tempo de atuação em Psicologia
hospitalar varia entre nove meses e 15 anos.
Grande parte do grupo atua em instituições públicas e/ou hospital-escola, sendo
que apenas uma psicóloga atua em instituição privada. Os locais de atuação de maior destaque
são as enfermarias e ambulatórios, contudo, uma psicóloga relata atuar também na área de
pesquisa clínica.
13.4 Comparação dos resultados entre MCE e MSE nas perguntas em comum.
Tabela 1 – O que é medicina para você? Atitude favorável Atitude Neutra Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Valor ético/moral 2 18,1% 7 31.8% 0 0 0 0 2 16,7% 7 31,8% Realização individual/material
3 27,2% 6 27.2% 0 0 0 0 3 25,0% 6 27,2%
Realização profissional/prática
2 18,2% 7 31.8% 0 0 0 0 2 16,7% 7 31,8%
Realização profissional/acadêmica
4 36,4% 2 9.1% 1 100,0% 0 0 5 41.7% 2 9,0%
Total: 11 100,0% 22 100,0% 1 100,0% 0 0 12 100,0% 22 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
De acordo com os dados da tabela 1 percebe-se que ambos os grupos se
aproximam na questão da medicina como uma realização tanto individual quanto material.
Entretanto, notam-se divergências entre os grupos nas questões da realização
profissional/acadêmica e valor ético/moral. A primeira é citada de forma mais pronunciada
pelo grupo MCE, enquanto o valor ético/moral é mais citado pelo MSE.
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Tabela 2 - Qual o objetivo do seu trabalho? Atitude favorável Total geral MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % Valor ético/moral 7 46,6% 6 35,2% 7 46,6% 6 35,2% Realização individual/material 1 6,6% 0 0 1 6,6% 0 0 Realização profissional/prática 0 0 8 47,0% 0 0 8 47,0% Realização profissional/acadêmica 7 46,6% 3 17,6% 7 46,6% 3 17,6% Total: 15 100,0% 17 100,0% 15 100,0% 17 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com e sem experiência) = 10,593; gl = 3; p< 0,0141
Quanto ao objetivo do trabalho, nota-se uma divergência pronunciada entre os
grupos. A realização profissional/acadêmica é considerada em maior grau pelo MCE,
enquanto que a realização profissional/prática é altamente estimada pelo MSE.
Os grupos apresentam valores aproximados no que se refere ao valor ético/moral
do trabalho e à realização individual/material.
Tabela 3 - Sua formação incluiu a cadeira de Psicologia Médica? Total geral MCE MSE Respostas f % f % Sim 4 51,1% 6 85,7% Não 3 48,8% 1 14,2% Total: 7 100,0% 7 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Apesar dos dados não demonstrarem significância entre as respostas, cabe
destacar que a cadeira de Psicologia médica aparece mais presente no grupo MSE.
Tabela 4 - Qual era o conteúdo da matéria? Atitude Neutra Total geral MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % relação médico-paciente 3 60,0% 4 57,1% 3 60,0% 4 57,1% relações profissionais 1 20,0% 0 0 1 20,0% 0 0 noções de psiquiatria 1 20,0% 0 0 1 20,0% 0 0 psicologia aplicada 0 0 2 28,5% 0 0 2 28,5% não respondeu 0 0 1 14,2% 0 0 1 14,2%
Total: 5 100,0% 7 100,0% 5 100,0% 7 100,0% χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
A tabela 4 expõe que a relação médico-paciente foi o conteúdo mais citado por
ambos os grupos.
98
Destacamos a divergência entre os grupos quando considerada a aplicação da
Psicologia; esta é mencionada pelo MSE, enquanto que este conteúdo não surge no grupo
MCE.
Tabela 5 - O que você aprendeu com a disciplina? Atitude
favorável Atitude neutra Atitude
desfavorável Total geral
MCE MSE MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % f % desvios da relação médico-paciente
0 0 1 33,3% 0 0 1 33,3% 0 0
Nada 2 66,6% 1 16,6% 2 66,6% 2 16,6% Psicologia da profissão em geral
0 0 5 83,3% 5 83,3%
Total: 3 100,0% 5 83,3% 1 16,6% 3 100,0% 7 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = 6,0; gl = 2; p< 0,0498
Em relação ao que foi aprendido na cadeira de Psicologia médica, os dados
demonstram uma divergência acentuada entre os grupos. Nada foi o conteúdo relatado por
grande parte do MCE enquanto uma maioria acentuada do MSE relata ter aprendido a
psicologia da profissão.
Mister se faz destacar que embora a categoria relação médico-paciente tenha sido
bastante pronunciada por ambos os grupos(ver tabela 4), o aprendizado relacionado a ela é
pouco citada pelo MCE e não aparece no grupo MSE.
Tabela 6 - Encontrou dificuldades ao cursar a matéria? Total geral MCE MSE Respostas f % f %
99
Sim 2 50,0% 1 14,2% Não 2 50,0% 6 85,7% Total: 4 100,0% 7 100,0% Tabela 6.1 Quais? Atitude desfavorável Total geral MCE MSE MCE MSE Categoria f % f % f % f % Coerência; seriedade
2 100,0% 0 0 2 100,0% 0 0
conceito, objetivo, aplicação, uso
0 0 4 100,0% 0 0 4 100,0%
Total: 2 100,000% 4 100,000% 2 100,000% 2 100,000%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Ambos os grupos demonstram não ter apresentado maiores dificuldades
relacionadas à cadeira de Psicologia médica. Quando estas se apresentam, seus temas parecem
convergir para a questão do objetivo em geral da matéria.
Tabela 7.1 - A cadeira de Psicologia médica influencia ou influenciou a sua forma de atuação? MCE MSE Respostas f % f % Sim 2 50,0% 5 83,3% Não 2 50,0% 1 17,7% total: 4 100,0% 6 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo Tabela 7.2 - O que e como? Atitude favorável Atitude
neutra Total geral
MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Repensar relações profissionais
1 100,0% 0 0 1 100,0% 0
O Outro 0 3 75,0% 0 0 3 75,0% relação médico-paciente 0 1 0 0 1 25,0% Total: 1 100,0% 4 25,0% 1 100,0% 4 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Os dados acima demonstram que ambos os grupos se aproximam na questão da
influência da Psicologia médica em suas atuações. Entretanto, podemos notar diferenças na
forma com que esta influência é exercida. Ou seja, enquanto o MCE expõe a questão das
100
relações profissionais, o MSE relata que a Psicologia médica influencia de forma pronunciada
a visão do outro. A relação médico-paciente, no grupo MCE também sofre a influência da
disciplina, sendo esta me menor grau.
Tabela 8.1 - Durante a formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar com profissionais da área de saúde?
Total geral MCE MSE Respostas f % f % Sim 3 50,0% 4 75,0% Não 3 50,0% 3 25,0% Total: 6 100,0% 7 100,0%
χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Tabela 8.2 - Quem eram estes profissionais? Atitude favorável Atitude neutra Atitude
desfavorável Total geral
MCE MSE MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % f % f % psiquiatras 1 33,3% 3 50,0% 1 20,0% 3 50,0% psicólogos 2 66,7% 2 33,3% 2 40,0% 2 33,3% estagiários de psicologia
1 100,0%% 1 16,7% 1 100,0% 2 40,0% 1 16,7%
Total: 1 100,0% 3 6 100,0% 1 100,0% 5 100,0% 6 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Conforme os dados acima, percebemos que o contato com psicólogos durante a
formação de ambos os grupos se fez presente de forma aproximada. Contudo, o contato com
psiquiatras ocorreu de forma mais pronunciada no MSE, enquanto que no MCE este
aconteceu com estagiários de psicologia.
Tabela 9 - O que é Psicologia para você? Atitude Favorável Atitude Neutra Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Ciência 5 38,5% 5 26,3% 5 26,3% 5 26,3% Comportamento 2 10,5% 3 2 10,5% 3 15,8%
101
Aspectos da mente
4 21,0% 1 4 21,0% 1 5,3%
Relações interpessoais
1 7,7% 1 5,3% 1 1 5,3% 1 5,3%
Emoções 0 2 10,5% 0 2 10,5% 0 0 Aspectos do Indivíduo
0 4 21,0% 0 4 0 0
Aspectos existenciais
4 30,8% 1 5,3% 1 5,3% 4 21,0%
Sem definição própria
0 2 15,4% 0 2 0 0 4 21,0%
Desvios da normalidade
0 1 7,7% 0 0 0 1 5,3%
total: 13 100,0% 19 100,0% 6 19 100,0% 19 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = 14,8; gl = 8; p<0,0632
Notam-se afastamentos entre os grupos quando o tema abordado é a Psicologia. O
grupo MCE aborda os aspectos da mente de forma mais bem mais acentuada do que o MSE.
Já o grupo MSE, alude os aspectos existenciais com maior freqüência e também
demonstra um afastamento importante do MCE ao referir-se à falta de definição própria da
Psicologia.
Vale destacar dois dados interessantes: o primeiro é a convergência dos grupos em
relação as categorias da ciência e do comportamento e o outro, é a baixa freqüência da
categoria emoções em ambos os grupos.
Tabela 10 - Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar? Atitude favorável Atitude neutra Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Clínico 5 35,7% 9 69,2% 1 100,0% 9 69,2% 6 40,0%
102
Equipe de Saúde 6 42,8% 2 15,3% 2 15,4% 6 40,0% Auxílio na relação da tríade(médico-pcte-familiares)
1 7,1% 1 7,6% 0 0 1 7,7% 1 6,6%
Auxílio na relação médico-pcte
1 7,6% 0 0 1 7,7% 0
Outros 0 0 2 14,3% 0 0 0 0 2 13,3% Total: 14 100,0% 13 100,0% 1 100,0% 13 100,0% 15 100,0%
χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
O trabalho clínico do psicólogo hospitalar é tido como o maior objetivo por ambos
os grupos. O auxílio na relação da tríade também é aludido pelos grupos, quase que
igualitariamente.
Destaca-se como divergência neste tema, a questão da equipe de saúde. Segundo o
MSE este é um objetivo bastante mencionado, embora pouco considerado pelo MCE.
Tabela 11 - De que forma o psicólogo poderia contribuir para a sua atuação? Atitude favorável Atitude neutra Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Suporte 3 21,4% 7 50,0% 3 21,4% 7 46,7% Auxílio relação c/ familiares
1 7,1% 0 0 0 0 1 7,1% 0
Auxílio relação médico-pcte
3 21,4% 0 0 0 0 3 21,4% 0
Aplicação de conhecimentos psicológicos
5 35,7% 1 7,1% 5 35,7% 1 6,7%
Melhorias p/ pcte 1 7,1% 3 21,4% 1 7,1% 3 20,0% Atendimento holístico
1 7,1% 0 0 0 0 1 7,1% 0
Atuação área organizacional
0 0 1 7,1% 0 0 0 0 1 6,7%
Integrar equipe multidisciplinares
0 0 2 14,2% 0 0 0 0 2 13,3%
não sabe opinar 1 100,0% 0 0 1 6,7% total: 14 100,0% 14 100,0% 1 14 100,0% 15 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = 14,249; gl = 8; p< 0,0755
Conforme expõe a tabela 11, notamos que o grupo MCE alude claramente a
aplicação dos conhecimentos psicológicos como forma de contribuição à sua atuação. Elege
103
também, como benefício, o auxílio na relação médico-paciente; categorias estas que nem
chegam a ser mencionadas pelo MSE.
Contrapondo os dados de ambos os grupos, percebemos que o MSE diverge no
tema relacionado as melhorias para o paciente; visão esta, mais acentuada nesse grupo.
O suporte é ponto de convergência para ambos.
Tabela 12 - Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como? Atitude favorável Atitude neutra Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % Todos 4 33,3% 5 45,4% 4 4 33,3% 9 52,9% Onde haja relação com pacientes e familiares
1 8,3% 4 36,4% 1 8,3% 4 23,5%
Diferentes setores de internação
7 58,3% 2 18,2% 7 58,3% 2 11,8%
Organizacional 0 0 0 0 2 0 0 2 11,8% Total: 12 100,0% 11 100,0% 6 12 100,0% 17 100,0%χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = 7,873; gl = 3; p< 0,0487
As respostas relacionadas aos possíveis setores de atuação do psicólogo no
hospital demonstram outras divergências entre os grupos. O MCE enfatiza os diferentes
setores de internação, enquanto que MSE acentua a atuação em locais onde haja relação com
pacientes e familiares.
Ambos os grupos defendem que a atuação do psicólogo pode acontecer em todos
os setores do hospital. Cabe destacar que embora seja baixa a freqüência da resposta setor
organizacional, esta vem a ser mencionada pelo MSE.
Atitude favorável Atitude neutra Atitude desfavorável Total geral MCE MSE MCE MSE MCE MSE MCE MSE Categorias f % f % f % f % f % f % f % f % Amadurecimento 2 28,6% 4 50,0% 2 13,3% 4 26,7%
104
Tabela 13 - Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do hospital, como você avaliaria tal medida? χ2 =(temas gerais médicos com e sem experiência) = não significativo
Ao avaliarem a implantação de um sistema de atendimento psicológico a todos os
pacientes do hospital, os dados obtidos sugerem algumas aproximações interessantes. A
primeira delas se faz na questão do exagero da proposta, mencionada igualmente por ambos
os grupos. A segunda aproximação intergrupal se faz justamente em uma resposta oposta à
primeira; considera-se o atendimento imprescindível. A terceira convergência situa-se na
questão do reconhecimento. Destacamos aqui nesta resposta as questões das atitudes
relacionadas a este tópico; um maior número atitudes neutras no grupo MCE contrapondo um
número desfavorável maior no MSE. (ver lista ilustrativa de temas)
13.5 Comparação dos resultados intragrupais - MCE Tabela 14. Como foi sua experiência inicial e atual com psicólogos? Atitude
favorável Atitude neutra
Atitude desfavorável
total geral
Categorias f % f % f % f % Excelente 4 66,7 4 40,0% boa experiência 1 16,6% 1 100,0% 2 20,0% Início trabalhoso 3 100,0% 3 30,0% parceria imprescindível
1 16,6% 1 10,0%
total: 6 100,0% 1 100,0% 3 100,0% 10 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
Ao analisarmos as repostas intragrupais, verificamos que os médicos deste grupo
apresentam convergências nas respostas, que variam entre as experiências excelentes e boas.
da instituição Melhoria tríade relacional
2 28,6% 0 0 0 2 13,3% 0 0
Exagero 1 12,5% 3 100,0% 2 40,0% 3 20,0% 3 20,0% bons olhos 1 14,3% 2 100,0% 1 6,7% 2 13,3% atendimento imprescindível
1 14,3% 1 12,5% 1 6,7% 1 6,7%
difícil avaliar impacto
0 1 20,0% 0 0 1 6,7% 0 0
reconhecimento 2 25,0% 4 80,0% 3 60,0% 4 26,7% 5 33,3% suporte trabalho médico
1 14,3% 0 0 0 1 6,7% 0 0
Total: 7 100,0% 8 100,0% 5 100,0% 2 100,0% 3 100,0% 5 100,0% 100,0% 100,0%
105
Nota-se um pequeno afastamento intragrupal na questão de uma experiência inicial
trabalhosa.
Tabela 15 - Para quais tarefas você requisitaria um psicólogo, independente dos setores acima mencionados? Atitude favorável total geral Categorias f % f % familiares 3 27,3% 3 27,3% pacientes 3 27,3% 3 27,3% avaliação qualidade de vida 1 9,0% 1 9,0% transtornos mentais 1 9,0% 1 9,0% pesquisa 1 9,0% 1 9,0% adesão ao tratamento 1 9,0% 1 9,0% não respondeu 1 9,0% 1 9,0% total: 11 100,0% 11 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
A tabela 15 expõe uma convergência interessante nas categorias presentes.
Pacientes e Familiares receberam a mesma freqüência de resposta pelo grupo. Encontramos
aproximações também em outras categorias (avaliação da qualidade de vida, transtornos
mentais e adesão ao tratamento), que detonam uma noção do aspecto clínico do trabalho do
psicólogo. Interessante notar que Pesquisa recebe a mesma freqüência destas outras
categorias.
Tabela 16 - Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? Atitude neutra Total geral Categorias f % f % verbalmente 7 87,5% 7 87,5% marcação agenda 1 13,5% 1 13,5% total: 8 100,0% 8 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
Segundo as respostas apresentadas, notamos uma clara aproximação intragrupal na
questão do encaminhamento verbal ao psicólogo.
Tabela 17 - Como o psicólogo responde ao encaminhamento? Atitude neutra Total geral Categorias f % f %
106
verbalmente 6 60,0% 6 60,0% por escrito 3 30,0% 3 30,0% prontamente 1 10,0% 1 10,0% total: 10 100,0% 10 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
Os dados demonstram uma aproximação intragrupal quando considerada a forma
do psicólogo responder ao encaminhamento médico.
Tabela 18.1 - A Psicologia participa das reuniões clínicas? total Respostas f % Sim 5 71,4% Algumas 2 28,6% total: 7 100,0% χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
Percebemos uma convergência intragrupal quanto à participação da Psicologia em
reuniões clínicas. A seguir, examinaremos categorias surgidas na explanação desta
participação.
Tabela 18.2 – Porque? Atitude favorável
Atitude neutra
Atitude desfavorável
Total geral
Categorias f % f % f % f % preconizado 1 100,0% 1 12,5% compreensão de aspectos médicos
2 33,3% 2 25,0%
aspectos institucionais 1 100,0% 1 12,5% Integração 3 50,0% 3 37,5% Participa de decisões 1 17,7% 1 12,5% total: 6 100,0% 1 100,0% 1 100,0% 8 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = 8,381; gl = 4; p< 0,0786
Mais uma vez notamos a aproximação intragrupal no que diz respeito à Integração
e à necessidade da compreensão dos aspectos médicos por parte dos psicólogos.
107
Tabela 19 - Como funciona uma equipe com o psicólogo? Atitude
favorável Atitude neutra
Total geral
Categorias f % f % f % Integração 5 71,4% 5 62,5% Multidisciplinar 1 100,0% 1 12,5% Acostumada a divergências de opiniões e questionamentos
1 14,3% 1 12,5%
Diferenciada 1 14,3% 1 12,5% total: 7 100,0% 1 100,0% 8 100,0%χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
A tabela 19 evidencia o movimento de aproximação intragrupal na questão da
Integração no funcionamento de uma equipe de saúde.
Tabela 20 - Você encontra dificuldades na comunicação/relação com o psicólogo? Total geral Respostas f % Não 7 100,0% χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
Através das respostas emitidas, evidencia-se aqui uma unanimidade entre o grupo
MCE ao afirmarem que não encontram dificuldades na comunicação/relação com o psicólogo.
Tabela 21 - Trabalha em outro hospital que não conta com serviço de psicologia? Você pode notar diferenças na qualidade do serviço prestado nestas instituições? Porque? Atitude favorável Total geral Categorias f % f % Mentalidades institucionais diferentes 1 20,0% 1 20,0% Melhores resultados terapêuticos 3 60,0% 3 60,0% Melhora no clima de trabalho 1 20,0% 1 20,0% total: 5 100,0% 5 100,0% χ2 = (temas gerais médicos com experiência) = não significativo
O grupo apresenta uma aproximação entre as categorias, sendo que melhores
resultados terapêuticos demonstra uma maior freqüência de respostas.
108
13.6 Comparação dos resultados intragrupais - MSE
Tabela 22 - Quem seriam os beneficiados com um Serviço de Psicologia? Porque? Atitude favorável total geral Categorias f % f % todos 3 23,0% 3 23,0% relações 1 7,7% 1 7,7% profissionais 4 30,8% 4 30,8% pacientes 4 30,8% 4 30,8% pacientes e familiares 1 7,7% 1 7,7% total: 13 100,0% 13 100,0%χ2 = (temas gerais médicos sem experiência) = não significativo
Conforme a tabela acima, percebemos uma convergência intragrupal no tocante
aos beneficiados com um Serviço de Psicologia. Profissionais e Pacientes destacam-se como
as categorias mais mencionadas. Todos também aparece de forma moderada.
Tabela 23. - Como funcionaria uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha? Atitude favorável Atitude neutra Total geral Categorias f % f % f % preconizado 3 75,0% 3 25,0% Integrada 7 87,5% 7 58,3% apoio psicológico 1 13,5% 1 8,3% Divisão setores específicos 1 25,0% 1 8,3% total: 8 100,0% 4 100,0% 11 100,0% χ2 = (temas gerais médicos sem experiência) = 12,000; gl = 3; p< 0,0460
Os resultados obtidos evidenciam um afastamento intragrupal quanto ao
funcionamento da equipe de saúde. As respostas dispersam-se entre categorias de diversos
significados.
Não obstante, o grupo se aproxima em relação ao funcionamento integrado quando
da presença do psicólogo.
109
Tabela 24 - Na sua opinião, existem entraves na relação/comunicação médicos-psicólogos? Total Respostas f % Sim 4 57,1% Não 3 42,9%
total: 7 100,0% χ2 = (temas gerais médicos sem experiência) = não significativo Atitude desfavorável Total geral Categorias f % f % Falta de clareza papéis profissionais 1 16,6% 1 16,6% Aspectos do profissional médico 2 66,7% 2 66,7% Aspectos do Serviço de Psicologia 1 66,7% 1 66,7%
total: 3 100,0% 3 100,0% χ2 = (temas gerais médicos sem experiência) = não significativo
Notamos uma consonância intragrupal nas respostas que envolvem a existência
de entraves na relação/comunicação médicos-psicólogos. Contudo, destacamos que ao
explicitarem quais seriam os possíveis entraves desta relação, observamos uma convergência
entre aspectos do profissional médico e aspectos do Serviço de Psicologia. (ver lista
ilustrativa de temas)
110
13.7 Comparação de resultados intragrupais - Psicólogos
Tabela 25 - De que forma se preparou para atuar na área? Total Respostas f % Especialização 8 38,0% Pós-graduação 4 19,0% Cursos de extensão 4 19,0% Outros 4 19,0% Não teve preparação “formal” 1 4,8% Total: 21 100,0%χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
A tabela 25 evidencia uma aproximação nas diferentes formas de preparação
realizada pelo grupo. Destacamos a maior freqüência da categoria Especialização.
Tabela 26.1 - Acredita que esta formação lhe forneceu capacitação para atuar na área? Total Respostas f % Sim 7 87,5% Não 1 13,5% Total: 8 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo Tabela 26.2 - Como? Porque? Atitude
favorável Atitude neutra
Atitude desfavorável
total geral
Categorias f % f % f % f % Instrumentalização teórica 4 18,1% 1 12,5% 1 25,0% 5 15,1% Aspectos práticos 5 22,7% 2 25,0% 7 21,2% Especialização x capacitação geral
7 31,8% 1 25,0% 8 24,2%
Recursos 6 27,2% 3 37,5% 9 27,2% Experiência profissional 2 25,0% 2 50,0% 4 12,1% total: 22 100,0% 8 100,0% 4 100,0% 33 100,0%χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
Aqui, mais uma vez, presenciamos uma aproximação intragrupal no que diz
respeito aos aspectos práticos, recursos e especialização x capacitação geral. Apesar de
apresentarem uma freqüência menor, notamos uma aproximação também entre a
instrumentalização teórica e a experiência profissional.
111
Tabela 27 - Como foi a sua experiência inicial e atual com médicos? Atitude
favorável Atitude neutra Atitude
desfavorável Total geral
Categorias f % f % f % f % Muito positiva 1 2,2% 0 0 1 1,3% Sentimentos em relação à interação inicial com médicos
0 2 20,0% 4 20,0% 6 8,1%
Processo 7 15,9% 1 10,0% 0 8 10,8% Comunicação interprofissional
11 25,0% 0 3 15,0% 14 18,9%
Visão da equipe de psicologia acerca da equipe de saúde e vice-versa
8 18,1% 1 2 10,0% 11 14,9%
Início 4 9,0% 0 2 10,0% 6 8,1% Entraves 0 0 5 25,0% 5 6,7% Postura 5 11,3% 5 6,7% Aspectos atuais da interação interprofissional
6 13,6% 1 10,0% 4 20,0% 11 14,9%
Tipos de atuação
2 13,6% 5 50,0% 0 7 9,4%
total: 44 100,0% 10 100,0% 20 100,0% 74 100,0%χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = 55,234; gl = 18; p<0,000
A tabela acima revela dados muito interessantes acerca das experiências dos
psicólogos com médicos. Ao analisarmos as atitudes relacionadas a cada categoria,
percebemos afastamentos importantes. Destacamos a categoria sentimentos em relação à
interação inicial com médicos na qual nenhuma atitude favorável é mencionada, sendo as
atitudes neutra e desfavorável mais pronunciadas. A noção de que a relação é construída
através de um processo favorável, contrasta-se com uma posição neutra em relação a este. Em
a visão da equipe de psicologia acerca da equipe de saúde e vice-versa as atitudes favoráveis
são mais freqüentes do que as desfavoráveis. Outro afastamento se apresenta na categoria
aspectos atuais da interação interprofissional; contrapondo-se entre atitudes desfavoráveis e
favoráveis.
O grupo se aproxima nas categorias Entraves, nitidamente desfavorável e Início.
112
Tabela 28.1 - Com quantos psicólogos trabalha diretamente? Frequência Respostas f % nenhum 5 45,4% 10 estagiárias 2 18,1% 3 – 6 psicólogos 4 36,3% Total: 11 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
Apesar da não significância intragrupal, a alta porcentagem de nenhum chamou-
nos a atenção.
Tabela 28.2 - Explicações Atitude neutra Atitude
desfavorável Total geral
Categorias f % f % f % 1 psicóloga/dia 2 100,0% 2 28,6% Reuniões mensais
1 20,0% 1 14,3%
Trabalho estanque
1 20,0% 1 14,3%
Relatórios de atendimento
1 20,0% 1 14,3%
prontuários 1 20,0% 1 14,3% 4 psicólogas p/ todo hospital
1 20,0% 1 14,3%
total: 2 100,0% 5 100,0% 7 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
O grupo demonstra se aproximar na explanação do trabalho intraequipes. Estas se
fazem tanto na porcentagem de atitudes desfavoráveis quanto nas categorias de respostas.
Tabela 29.1 - Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? Frequência Respostas f % verbalmente 8 62,3% escrito 1 6,5% outros 4 31,1% Total: 13 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
113
Tabela 29.2 - Comentários Atitude favorável Total geral Categorias f % f % acesso direto aos profissionais
4 100,0% 4 100,0%
χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
Em relação à forma de encaminhamento ao psicólogo, o grupo aproxima-se quanto
à resposta verbalmente e é unânime de forma favorável ao acesso direto aos profissionais.
Tabela 30 - Como você responde ao encaminhamento? Freqüência Respostas f % verbalmente 7 41,1% registro em prontuário 2 11,8% “interacional” 5 29,4% outras 3 17,6% total: 17 100,0%χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
Os dados demonstram uma convergência intragrupal no tocante à resposta verbal
ao encaminhamento. Contudo, nota-se pequenos afastamentos quando consideramos variadas
formas de respostas ao encaminhamento.
Tabela 31.1 - A Psicologia participa das reuniões clínicas? Porque? Frequência Respostas f % Sim 4 44,4% algumas 2 22,2% não 2 22,2% raramente 1 11,1% Total: 9 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = não significativo
Ao considerarmos as reuniões clínicas, percebemos que o grupo se aproxima
quanto à participação da Psicologia.
Tabela 31.2 Porque?
114
Atitude favorável
Atitude neutra Atitude desfavorável
Total geral
Categorias f % f % f % f % Integração 3 3 27,2% Solicitação 2 2 18,1% Dificuldades 6 6 54,5% Total: 3 2 6 11 100,0%χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = 22,0; gl = 4; p< 0,0002
Contudo, ao analisarmos as explicações, notamos divergências intragrupais
relacionadas as questões de Integração e Solicitação.
Não obstante, o grupo demonstra convergir no tocante as Dificuldades.
Tabela 32 - Quais as dificuldades que encontra? Atitude neutra Atitude desfavorável Total geral Categorias f % f % f % Excessos 1 100,0% 6 18,2% 7 20,6% Aspectos institucionais
10 30,3% 10 29,4%
Falta de envolvimento pessoal
1 3,0% 1 2,9%
Falta integração intraequipe
3 9,0% 3 8,8%
Falta de integração interequipes
8 24,2% 8 23,5%
Reconhecimento 4 12,1% 4 11,8% Conscientizar autocuidado
1 3,0% 1 2,9%
Total: 1 100,0% 33 100,0% 34 100,0% χ2= (temas gerais de psicólogos hospitalares) = 15,152; gl = 6; p< 0,0191
A tabela 32 expõe afastamentos e aproximações intragrupais quando consideradas
as dificuldades encontradas pelo psicólogo. Os afastamentos ocorrem nas categorias que não
se relacionam com os aspectos mais práticos do trabalho, tais como Reconhecimento e
conscientizar auto-cuidado. Já as convergências intragrupais relacionam-se as dificuldades da
práxis, destacando-se com maior freqüência os aspectos institucionais. Mencionadas também
com uma alta freqüência estão as categorias Excessos e Falta de integração interequipes.
115
13.8 Comparação dos resultados entre médicos com experiência (MCE) e psicólogos
hospitalares (P)
Tabela 33 - Como foi a experiência inicial e atual com o psicólogo?Como foi a experiência inicial e atual com médicos?†
Atitude favorável Atitude neutra Atitude desfavorável total geral MCE P MCE P MCE P MCE P Categorias f % f % f % f % f % f % f % f % Excelente 4 66,7% 1 2,8% 4 40,0% 1 1,3% Sentimentos da interação primária
0 0 2 18,2% 0 4 20,0% 0 6 8,1%
Processo 0 7 15,9% 0 1 9,0% 0 0 8 10,8% Comunicação interprofissional
0 11 25,0% 0 0 3 15,0% 0 14 18,9%
Visão da equipe de psicologia acerca da equipe de saúde e vice-versa
1 16,7% 8 18,2% 1 9,0% 2 10,0%
1 10,0% 11 14,9%
Início 4 9,0% 1 50,0% 2 10,0% 1 10,0% 6 8,1% Entraves 0 0 0 5 25,0% 0 5 6,7% Postura 0 5 11,4% 0 0 0 5 6,7% Aspectos atuais da interação interprofissional
6 13,6% 1 9,0% 1 4 20,0% 1 10,0% 11 14,9%
tipos de atuação 2 4,5% 5 45,4% 1 50,0% 1 10,0% 7 9,4% boa experiência 1 16,75 1 100,0% 2 20,0% 0 Total: 6 100,0% 44 100,0% 1 100,0% 11 100,0% 2 100,0% 20 100,0% 10 100,0% 74 100,0%
χ2= (temas gerais médicos com experiência e psicólogos hospitalares) = 42,375; gl = 10; p< 0,000
A tabela acima expõe a existência de divergências curiosas entre os grupos. Uma
primeira divergência nítida relaciona-se com a categoria excelente pouco mencionada por P e
ocorrendo de forma significativa em MCE. Outra divergência intergrupal ocorre na noção de
processo que embora mencionada em uma freqüência mais baixa por P, não ocorre no outro
grupo. Em relação à comunicação interprofissional, notamos que esta é relatada por P e não
mencionada por MCE. Percebemos também um afastamento intergrupal referente à boa
experiência, relatada em MCE e não aparecendo em P.
Não obstante, os dados demonstram a existência de algumas aproximações
intergrupais. Estas se fazem presentes nas categorias Início, visão da equipe da psicologia
acerca da equipe de saúde e vice-versa e nos aspectos atuais da interação interprofissional.
† Ver tabela 33 em tamanho maior e paisagem em Anexo 4.
116
Gostaríamos de destacar a quantidade de respostas emitidas pelos grupos como um
dado que nos chamou a atenção. Notem que o grupo P emitiu uma grande quantidade de
respostas ao avaliar sua experiência, enquanto o grupo MCE demonstra maior parcimônia em
sua emissão de respostas.
Cabe destacar também a questão das atitudes em relação à categoria Início. Apesar
do total geral aparecer de forma moderada, a porcentagem da atitude de MCE parece-nos
realçada ao olharmos as porcentagens das atitudes demonstradas por P.
117
14. Discussão
Ao analisarmos como os dois grupos de médicos (médicos com experiência e
médicos sem experiência junto a psicólogos hospitalares) definem a medicina, encontramos
dois perfis contrastantes: o grupo dos médicos com experiência revela uma forte aproximação
da medicina como uma realização profissional/acadêmica, enquanto que o grupo sem
experiência demonstra um perfil de realização profissional/prática, mencionando ainda o valor
ético/moral da disciplina. Esta diferença de perfis também se revela quando considerado o
objetivo do trabalho para cada profissional. Ambos os perfis voltam a se apresentar nesta
questão, sendo o valor ético/moral do trabalho é bastante considerado por ambos os grupos.
De forma geral, a medicina está ligada a uma idéia de ajuda e cuidado na qual se busca a
diminuição do sofrimento, o bem-estar, através da aplicação dos conhecimentos médicos.
Além da noção de realização individual, coloca-se a questão de sustento e sobrevivência
financeira. Não podemos afirmar que a diferença de perfis ocorra em função da experiência
profissional junto a psicólogos; esta é apenas uma diversidade que se apresenta.
Considerando a cadeira de Psicologia médica, notamos que esta se faz presente na
formação de ambos os grupos de forma semelhante e que a relação médico-paciente é o
conteúdo estudado que mais se destaca. Cabe ressaltar que conteúdos diversos foram citados.
Apesar deste fato nos sugerir uma incerteza a respeito do que é a Psicóloga médica, esta é
uma questão não abordada na literatura por nós apresentada. Percebemos que as respostas que
envolvem a questão da Psicologia médica são bastante ambíguas; ao mesmo tempo em que a
relação médico-paciente é o conteúdo mais citado, pouco se fala dela no aprendizado médico.
Os médicos com experiência relatam terem apresentado mais dificuldades que os médicos
sem experiência ao cursarem a matéria, sendo que essas dificuldades se relacionam com a
questão do objetivo em geral da cadeira. Presenciamos uma convergência intergrupal quando
considerada a influência da cadeira na atuação profissional, contudo, a forma com que esta
118
influência é exercida se dá de formas diversas. Percebemos que a questão da Psicologia
médica encontra-se obscura no presente estudo; não conseguimos alcançar o objetivo de
averiguar se esta cadeira vem a influenciar ou não as representações dos médicos acerca da
Psicologia. Acreditamos que para alcançar este objetivo, esta questão deveria ter sido
abordada com outras perguntas.
Segundo os dados obtidos com os dois grupos médicos, confirmamos nossa
hipótese de que os médicos não conseguem definir claramente o que é a Psicologia. Embora a
disciplina seja considerada uma ciência, atribuí-se a ela uma multiplicidade de objetos de
estudo. Assim como encontrado na literatura levantada, as representações dos dois grupos
estruturam-se nos temas do estudo da mente e do comportamento.
Confirma-se que os grupos demonstram um falta real de conhecimento acerca da
Psicologia, estando esta estritamente relacionada a uma função assistencialista, capaz de
melhorar e mudar o ser humano e as relações interpessoais. Esses dados nos permitem inferir
que a Psicologia está fortemente associada à psicologia clínica.
Apesar dos grupos utilizarem uma linguagem mais acadêmica para descrever a
Psicologia, estes explicitam representações muito semelhantes à da sociedade em geral, ou
seja, o conhecimento médico acerca da Psicologia é o saber do senso comum.
No tocante à questão das representações sociais dos médicos a respeito da
Psicologia, nossos achados vão ao encontro dos resultados obtidos em outras pesquisas.
Contudo, ao considerarmos as atitudes dos médicos em relação à disciplina, notamos uma
ligeira favorabilidade e evidencia-se uma tendência maior à neutralidade. Estes dados não
confirmam nossa hipótese de que os médicos não possuem uma atitude favorável perante a
Psicologia. Conforme as pesquisas apresentadas, a questão das atitudes em relação à
Psicologia não é um ponto de consenso nos resultados obtidos; alguns pesquisadores
praticamente não encontraram tendências à neutralidade, outros encontraram atitudes
119
favoráveis ou ligeiramente favoráveis e outros mencionam uma ambigüidade na questão
favorabilidade/desfavorabilidade. Fato é que não podemos precisar as causas destes
“desencontros”. Concordamos com Hind et al (2003) de que é preciso considerar a
complexidade dos fenômenos sociais, onde muitas variáveis se manifestam.
Quanto à definição do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar, evidencia-se
a atuação clínica, sendo que a equipe de saúde é igualmente mencionada. Este é um ponto que
merece maiores considerações, pois encontramos dois detalhes conflitantes. A literatura expõe
o debate acerca da definição do campo da Psicologia hospitalar. Ou seja, a própria Psicologia
não conseguiu ainda estabelecer um paradigma científico do contexto hospitalar, o que gera
ambigüidade, confusão e profusão de papéis profissionais. Acredito que ao enunciarem o
objetivo do trabalho do psicólogo no hospital, os médicos estão nos mostrando o que eles
esperam da Psicologia e do psicólogo. Os grupos explicitam a expectativa de suporte, auxílio
nas relações com pacientes e familiares e a aplicação dos conhecimentos psicológicos, além
dos objetivos anteriormente mencionados. Não estamos afirmando que devemos suspender o
debate acerca da definição do campo de atuação em função de acatarmos o discurso médico.
Mas é de extrema importância que a Psicologia escute o que a Medicina tem a dizer. Parece-
nos que a confusão a respeito da delimitação do papel do psicólogo parte também dos
próprios profissionais da área psi. A falta de clareza que se anuncia no discurso médico em
relação à atuação do psicólogo parece se fazer na forma como se aplica e como se dá a
atuação do profissional.
Apesar dos médicos explicitarem os objetivos do trabalho, o discurso é bastante
superficial principalmente quando abordado o tema da equipe de saúde. Respostas como
“integrar equipe multidisciplinar” não se aprofundam na questão e fornecem poucas pistas de
investigação. Acreditamos que a questão “qual é e o que é equipe de saúde para os médicos”
deva ser mais investigada, uma vez que o presente estudo revela esta lacuna.
120
Outra questão importante de ser abordada e que se relaciona com questões
anteriores são os possíveis setores de atuação do psicólogo no hospital. Cabe analisarmos a
categoria todos. Mais uma vez, a superficialidade do discurso nos deixa a dúvida de que todos
está sendo falado; todos os setores que envolvem o cuidado aos pacientes? Lembramos que o
hospital é uma instituição e, por conseguinte, apresenta setores administrativos tais como o
departamento de recursos humanos. Este também é campo de atuação da Psicologia, mas é
papel do psicólogo organizacional e não do psicólogo clínico no contexto hospitalar. Esta é
uma questão que necessitaria ser mais aprofundada e que neste estudo fica meio obscura, já
que a atual pesquisa não consegue abarcar esta questão.
Ao separarmos as respostas, percebemos que todos vem a ser mais predominante
no grupo dos médicos sem experiência enquanto no grupo dos médicos com experiência, a
predominância se faz presente em diferentes setores de internação. É possível que esta
diferença ocorra em função da falta de experiência profissional junto a psicólogos. O grupo
dos médicos com experiência presencia o trabalho clínico, ou seja, o grupo tem a
oportunidade de experimentar a atuação do psicólogo hospitalar e isso pode vir a contribuir
para esta divergência intergrupal.
A implantação de um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do
hospital fez emergir respostas interessantes que nos levam a alguns questionamentos. O
primeiro deles encontra-se na questão do exagero da proposta. Os médicos de ambos os
grupos procuram justificar esta consideração com respostas tais como “nem todo paciente tem
a necessidade de atendimento psicológico”, “casos simples e de curta permanência no hospital
não são necessários esses cuidados” e “a necessidade vem do próprio paciente”. A primeira
questão a ser discutida é quem avalia a necessidade ou não do atendimento psicológico. Quais
são os conhecimentos e as ferramentas que os médicos possuem para fazer tal avaliação? A
quem cabe o papel do psicodiagnóstico? Evidencia-se uma indefinição das fronteiras
121
profissionais, uma vez que os médicos passam a assumir parte da função do psicólogo. A
existência desta indefinição fronteiriça é confirmada em outros estudos e pode funcionar
como barreiras nas relações interprofissionais. Como segundo questionamento, levantamos a
questão da existência de uma certa ambigüidade em relação aos serviços psicológicos. Da
mesma forma que encontramos o exagero da proposta, o atendimento psicológico é
considerado imprescindível. Não podemos precisar a origem desta ambigüidade, entretanto,
defendemos a idéia de Nethercut e Piccione (1984) de que os médicos participarão na
integração com psicólogos desde que possuam familiaridade com os serviços psicológicos.
Esta idéia pode ser reforçada ao considerarmos a categoria reconhecimento, bastante
pronunciada por ambos os grupos. Incluem-se aqui duas noções: a primeira é a necessidade de
uma linha comum de trabalho, planejamento e o compartilhamento de uma mesma língua
entre os profissionais de saúde; a segunda noção fala da necessidade do médico em
reconhecer a importância do atendimento psicológico e da necessidade de se ensinar ao
médico como atua o psicólogo.
Ao analisarmos a experiência inicial e atual dos médicos com experiência junto a
psicólogos, notamos que esta oscila entre experiências boas e excelentes, na maior parte das
respostas. Chama-nos atenção, a utilização de um discurso superficial, com poucos detalhes e
qualidades. Este fato nos sugere uma certa falta de comprometimento e aprofundamento,
entretanto, também levamos em consideração que este pode ser um assunto mais pertinente e
interessante aos psicólogos do que aos médicos.
Em relação ao encaminhamento ao psicólogo e a forma como este o responde, não
presenciamos dados muito significativos; a forma verbal é a mais utilizada em ambas as
ocasiões. Contudo, estas respostas nos fizeram pensar na possibilidade de perda de registros
importantes dos serviços de Psicologia. Se não há registro escrito, em prontuário, do
encaminhamento e uma devolução deste, perdem-se informações e dados relevantes, tanto da
122
história do paciente quanto da atuação do Serviço de Psicologia. Acreditamos que a falta de
registro formal de ambas as partes pode contribuir para um “apagamento” do Serviço de
Psicologia, fazendo com que a atuação do psicólogo se torne pouco visível.
Percebemos uma convergência intragrupal quanto à participação da Psicologia em
reuniões clínicas. O aspecto mais destacado pelo grupo dos com experiência é a necessidade
de integração, o que nos remete a dados anteriores na questão da necessidade de se falar a
mesma língua; afinal, integrar significa tornar inteiro, completar, inteirar-se. Outro dado
importante que emerge é a necessidade da compreensão dos aspectos médicos por parte dos
psicólogos. Este dado vai ao encontro da literatura que expõe a falta de conhecimento do
setting médico por parte dos psicólogos. Parece-nos que a integração pode acontecer quando o
psicólogo estiver inteirado do setting médico; como se a falta de conhecimento partisse
apenas de um pólo da relação – psicólogos. Nos perguntamos se os médicos percebem suas
carências de conhecimento acerca do setting psicológico.
Todavia, os médicos acreditam que a presença do psicólogo na equipe de saúde a
faz funcionar de forma integrada. Outro dado que vem a confirmar esta visão médica traduz-
se na afirmação unânime de que não são encontradas dificuldades por parte dos médicos na
comunicação/relação com o psicólogo. Este dado não é confirmado em outras pesquisas que
apontam a existência de barreiras nesta relação. A literatura demonstra a existência de ruídos
na comunicação médico-psicólogo. Cabe ressaltar que na literatura, parte dos médicos a
afirmação de que os psicólogos apresentam dificuldades em traduzir termos e conceitos
psicológicos em uma linguagem compreensível aos médicos. Ou seja, é preciso que os
psicólogos desenvolvam a habilidade de se comunicar clara, sucinta e efetivamente.
Apesar do presente estudo ter um foco sob a questão da relação médico-psicólogo,
este apresentou limitações para lidar com esta questão de forma mais aprofundada. Esta é uma
falha do presente estudo, uma vez que ao estudarmos as representações sociais,
123
necessariamente estamos lidando com comunicação e relações. Acreditamos que uma
investigação aprofundada acerca desta relação é de extrema importância para que possamos
compreender e aperfeiçoar a interação interprofissional, o que, conseqüentemente, resultará
em uma melhor atuação do psicólogo no ambiente hospitalar.
Notamos ao longo da pesquisa, que o grupo dos médicos com experiência
demonstra uma certa ambigüidade em relação as atitudes perante a Psicologia e aos
psicólogos, tendendo ligeiramente à favorabilidade. Quando questionados sobre diferenças na
qualidade dos serviços prestados entre instituições que contam com um serviço de psicologia
ou não, a favorabilidade é demonstrada. É através da afirmação de que nas instituições com
um serviço de psicologia, são percebidas melhoras no clima de trabalho e de resultados
terapêuticos.
Considerando a ambigüidade atitudinal do grupo com experiência, acreditamos
que esta surge em função de uma representação do psicólogo que ainda é pouco clara e
sedimentada.
Ao analisarmos os dados obtidos nas perguntas específicas aos médicos sem
experiência, percebemos que uma boa porção dos participantes acredita que os pacientes e
profissionais seriam os mais beneficiados com um serviço de psicologia. A categoria todos
também aparece, entretanto, de forma menos pronunciada. É interessante notar que ao serem
questionados porque seriam beneficiados, o grupo não emite qualquer resposta. Acreditamos
que a falta de clareza acerca da práxis do psicólogo e a falta de vivência com a atuação
psicológica, contribuem para a dificuldade em se responder tal pergunta.
Esta falta de clareza parece se refletir também na forma como o grupo sem
experiência imagina o funcionamento de uma equipe de saúde na qual o psicólogo trabalha.
Integrada é a categoria de maior freqüência, entretanto, categorias de variados significados se
fazem presentes. “Como preconizado”, denota uma atitude neutra e sugere uma resposta
124
retórica, ou seja, “discurso de forma primorosa, porém vazio de conteúdo”. (FERREIRA,
1975: 1241)
No que diz respeito à relação/comunicação médicos-psicólogos, o grupo não
demonstra afastamentos em relação à existência de entraves nesta relação. Os dados aqui
encontrados não confirmam a literatura que claramente expõe a existência de barreiras na
relação e que estas partem de ambos os pólos. Entretanto, cabe ressaltar que apesar da não
significância estatística, 57,1% dos médicos sem experiência acreditam que existem entraves
na relação e que estes estão relacionados aos temas citados na literatura: falta de clareza dos
papéis profissionais, aspectos do profissional médicos e aspectos do serviço de psicologia.
Reiteramos a lacuna deixada por este estudo no tocante à relação médico-psicólogo e a
necessidade de uma investigação abrangente.
Ao considerarmos dados obtidos com os dois grupos em suas perguntas comuns e
específicas, estes sugerem que as representações sociais construídas por médicos acerca da
Psicologia podem ser anteriores à formação médica, uma vez que a cadeira de Psicologia
médica demonstra não causar impacto nas representações. Cabe colocar a necessidade de se
pesquisar melhor a influência da formação médica nas representações, uma vez que o presente
estudo limitou-se a averiguar a influência da Psicologia médica na atuação profissional. A
educação médica é um assunto complexo e seu debate é uma questão à baila no mundo
médico acadêmico e profissional.
Considerando a forma com que os psicólogos se prepararam para atuar na área da
psicologia hospitalar, evidencia-se a especialização como a forma mais utilizada. Uma grande
parte dos psicólogos acredita que a formação cursada promoveu capacitação para estarem
atuando na área, uma vez que esta fornece instrumentalização teórica, prática e recursos que
não são disponíveis ao nível da graduação.
125
Boa porção dos participantes afirma que a graduação e as experiências
profissionais fora do contexto hospitalar não fornecem subsídios para se atuar na área, daí a
necessidade de especializar-se. Fato este já comprovado pela literatura.
Ao descreverem a experiência inicial e atual com médicos, os psicólogos
demonstram que a interação inicial é vista de forma bastante desfavorável, o que faz emergir
sentimentos de “insegurança” e “dúvidas quanto à minha própria competência”. Entretanto,
existe a noção de que a relação é estabelecida através de um processo que é visto de forma
favorável.
A comunicação interprofissional é também bastante mencionada. este é um dado
interessante pois esta categoria é citada de forma favorável e desfavorável. Ao olharmos com
atenção para as repostas dos psicólogos, percebemos que a comunicação interprofissional é
vista de forma desfavorável no início da interação, respostas como “no início a comunicação
com os médicos era rara” aparecem no discurso do psicólogo. Ligando-se à noção de processo
mencionada pelos participantes,a comunicação interprofissional passa a ser vista
favoravelmente ao longo da interação.
Outro dado relevante é a questão da visão da psicologia acerca da equipe de saúde
e vice-versa. Notamos aqui uma predominância da favorabilidade, sendo que em uma
porcentagem menor, são também destacados aspectos desfavoráveis. Mais uma vez, surge a
noção do processo; parece-nos que à princípio existem estereótipos extragrupais
desfavoráveis no grupo dos psicólogos quando do início da interação. Ao longo do
estabelecimento da relação, os estereótipos vão se tornando favoráveis. Cabe destacar que a
literatura não apresenta consenso na questão dos estereótipos extragrupos. É importante que
se pesquise entre os próprios psicólogos quais são as representações por ele construídas acerca
da Medicina e dos médicos. Acreditamos que estas representações também influem no
126
estabelecimento de barreiras e facilitadores da relação. Esta é outra lacuna que emerge a partir
do presente estudo.
Chamo-nos atenção, apesar da não significância estatística, a alta porcentagem de
psicólogos trabalhando sozinhos. O trabalho intraequipe é dificultado em função do baixo
número de profissionais atuando nos hospitais, sendo que se destacam também os aspectos
desfavoráveis da relação e também da comunicação intragrupais. Apesar da literatura não
mencionar a relação intragrupal dos psicólogos, os dados aqui obtidos nos sugerem a
existência de uma desfavorabilidade intragrupal. É fato que não podemos inferir isto a partir
dos dados obtidos, entretanto, nos questionamos acerca desta questão ao lembrarmos que esta
é uma área de bastante competitividade profissional e de difícil acesso para os psicólogos.
Acreditamos que o estudo acerca da relação entre os próprios profissionais da psicologia seria
um grande benefício à área, uma vez que poderia fornecer dados para a reflexão dos
profissionais.
Em relação ao encaminhamento ao psicólogo e a forma como esta o responde, não
encontramos diferenças intragrupais. Uma questão bastante mencionada pelos psicólogos é o
acesso livre e direto entre os profissionais. Destacamos que as respostas dos psicólogos vão ao
encontro das respostas dos médicos com experiência. Verbalmente é a resposta que mais se
destaca e mais uma vez, refletimos acerca do possível “apagamento” do Serviço de
Psicologia. Este é um dado bastante relevante da práxis do psicólogo e esperamos que estes
resultados possam se transformar em ponto de reflexão para os profissionais.
A participação da Psicologia em reuniões clínicas é uma realidade, segundo os
psicólogos. Entretanto, quando questionados o porque desta participação, boa porção dos
participantes relatam dificuldades encontradas neste tipo de interação. Alguns destacam
dificuldades institucionais, como por exemplo, poucos profissionais psicólogos; outros
destacam a falta de tempo para participar em função de um excesso de trabalho. Cabe destacar
127
que os psicólogos, assim como os médicos com experiência, relatam a questão da integração.
Reiteramos que a participação da psicologia nesses encontros é muito importante para que os
médicos possam se inteirar acerca do setting psicológico.
Considerando as perguntas e respostas dos psicólogos, não podemos afirmar que a
forma com que estes profissionais se apresentam, trabalham e se relacionam com os médicos
são facilitadores e/ou barreiras na colaboração profissional. Acreditamos que esta é uma
pergunta deixada em aberto pela corrente pesquisa mas que deva ser considerada em futuras
investigações.
Mister se faz compararmos a experiência inicial e atual dos médicos com a dos
psicólogos. Um primeiro dado que nos chama a atenção é a quantidade de respostas emitidas
por ambos os grupos: enquanto os médicos emitem dez respostas para descreverem suas
experiências, os psicólogos emitem 74. Notamos que os médicos utilizam um discurso muito
superficial ao passo que os psicólogos apresentam um discurso com detalhes, qualidades e
sentimentos. Embora não possamos afirmar que este contraste nos discursos aconteça em
função das formações e práxis de ambos os profissionais, elucubramos a respeito da
valorização da objetividade e do pragmatismo por parte da Medicina. Estes também são
aspectos importantes para a Psicologia, mas fato é que a subjetividade é extremamente
valorizada pela disciplina e profissionais. Outro dado relevante desta comparação envolve a
questão da comunicação interprofissional. Esta é citada de forma mais favorável do que
desfavorável pelos psicólogos, entretanto, a desfavorabilidade apresenta uma porcentagem
considerável (15%). Lembramos que ao questionarmos os médicos com experiência acerca da
relação/comunicação com os psicólogos, estes afirmaram de forma unânime que não
encontravam qualquer dificuldade neste ponto. Porque esta é uma barreira apenas relatada
pelos psicólogos? Evidencia-se, mais uma vez, a lacuna deixada pelo presente estudo.
128
Reiteramos a necessidade de uma investigação abrangente acerca da relação/comunicação
médicos-psicólogos.
Percebemos que os médicos demonstram uma visão otimista acerca da relação
com o psicólogo, embora de forma muito superficial. O relato médico limita-se ao “muito
boa”, “excelente” sem se aprofundar na questão. A visão da Psicologia é de certa forma mais
“balanceada” que a dos médicos, consideram-se as qualidades (favoráveis e desfavoráveis)
dos diversos aspectos de interação. O relato dos psicólogos nos mostra uma visão também
otimista, de que é possível construir uma relação, mas o percurso é difícil. Quanto à pergunta
acerca da contribuição da experiência profissional na manutenção e/ou mudança da
representação dos médicos em relação à psicologia, podemos inferir que a experiência
profissional junto a psicólogos, não atua de forma significativa para uma mudança na
representação social dos médicos.
129
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136
ANEXO 1 - Questionário aplicado no grupo dos médicos com experiência profissional com
psicólogos hospitalares
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Psicologia – Programa de Pós-graduação
Prezado Doutor,
A inserção de psicólogos na área da Saúde vêm crescendo de forma acentuada nos
últimos anos, principalmente no âmbito hospitalar.
Considerando que a instituição onde o Senhor atua conta com um profissional da
Psicologia em seu quadro de funcionários, gostaria que respondesse algumas questões sobre
Medicina e o trabalho realizado conjuntamente com os profissionais da Psicologia.
Trata-se de uma pesquisa formal para conclusão de mestrado na área de Psicologia
Social e visa fornecer contribuições para as áreas da Psicologia e Medicina.
O questionário constitui-se de 23 questões abertas. Sinta-se à vontade para dar sua
opinião pois suas respostas serão tratadas de forma confidencial.
Por favor, preencha o termo de consentimento livre e esclarecido.
Antecipadamente agradeço a colaboração.
Juliana Wallig Alves de Carvalho
1. Identificação:
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Idade:
Especialidade médica:
Tempo de atuação:
Algum contato anterior não profissional com psicólogos: Sim ( ) Não ( )
Se afirmativo, quem (familiares, amigos ou outros)?
2. Instituição
Pública ( ) Hospital-escola ( ) Privada ( )
Local de atuação:
ambulatório ( ) enfermaria ( ) UTI ( ) emergência ( )
3. Medicina
3.1) O que é Medicina para você?
3.2) Qual o objetivo do seu trabalho?
137
4. Formação
4.1) Sua formação acadêmica incluiu a cadeira de Psicologia Médica? Sim ( ) Não ( )
Caso sua resposta seja afirmativa, por favor responda as perguntas a seguir.
4.2) Qual era o conteúdo da matéria?
4.3) Em que ano da faculdade você cursou esta cadeira?
4.4) O que você pôde aprender com esta disciplina?
4.5) Encontrou dificuldades ao cursar esta cadeira? Quais?
4.6) A disciplina influencia ou influenciou a sua atuação como profissional? De que forma?
4.7) Durante sua formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar
com profissionais da área de Saúde Mental? Quem eram estes profissionais?
5. Psicologia
5.1) O que é Psicologia para você?
5.2) Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar?
5.3) De que forma o profissional de Psicologia poderia contribuir para sua atuação como
profissional? Por que?
6. Hospital
6.1) Como foi sua experiência inicial e atual com o psicólogo?
6.2) Há quanto tempo vem trabalhando com psicólogos no hospital ?
6.3) A psicologia é parte integrante da equipe ou um serviço disponível a todas as equipes do
hospital? Por que?
6.4) Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como?
6.5) Para quais tarefas hospitalares você requisitaria um psicólogo, independente dos setores
acima mencionados?
6.6) Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? (pedido de parecer, verbalmente ou
outros)
6.7) Como o psicólogo responde ao seu encaminhamento?
6.8) A Psicologia participa de reuniões clínicas? Por que?
6.9) Como funciona uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha?
6.10) Você encontra dificuldades na comunicação/ relação com o psicólogo? Se afirmativo:
Quais são elas?
6.11) Trabalha em outro hospital que não conta com serviço de psicologia? Você pode notar
diferenças na qualidade do serviço prestado nestas instituições? Por que?
6.12) Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do
hospital, como você avaliaria tal medida?
138
ANEXO 2 - Questionário aplicado no grupo de médicos sem experiência profissional com
psicólogos hospitalares
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Psicologia – Programa de Pós-graduação
Prezado Doutor,
A inserção de psicólogos na área da Saúde vêm crescendo de forma acentuada nos
últimos anos, principalmente no âmbito hospitalar
Considerando que a instituição onde o Senhor atua não conta com um profissional da
Psicologia em seu quadro de funcionários, gostaria que respondesse algumas questões sobre
Medicina e que tipo de trabalho poderia ser realizado conjuntamente com os profissionais da
Psicologia.
Trata-se de uma pesquisa formal para conclusão de mestrado na área de Psicologia
Social e visa fornecer contribuições para as áreas da Psicologia Hospitalar e Medicina.
O questionário constitui-se de 24 questões abertas. Sinta-se à vontade para dar sua opinião
pois suas respostas serão tratadas de forma confidencial.
Por favor, preencha o termo de consentimento livre e esclarecido.
Antecipadamente agradeço a colaboração.
Juliana Wallig Alves de Carvalho
1. Identificação:
Iniciais:
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Idade:
Especialidade médica:
Tempo de atuação:
Algum contato anterior não profissional com psicólogos: Sim ( ) Não ( )
Se afirmativo, quem (familiares, amigos ou outros)?
2. Instituição
Pública ( ) Hospital-escola ( ) Privada ( )
Local de atuação: ambulatório ( ) enfermaria ( ) UTI ( )
emergência ( )
3. Medicina
3.1) O que é Medicina para você?
139
3.2) Qual o objetivo do seu trabalho?
4. Formação
4.1) Sua formação acadêmica incluiu a cadeira de Psicologia Médica? Sim ( ) Não ( )
Caso sua resposta seja afirmativa, por favor responda as perguntas a seguir.
4.2) Qual era o conteúdo da matéria?
4.3) Em que ano da faculdade você cursou esta cadeira?
4.4) O que você pôde aprender com esta disciplina?
4.5) Encontrou dificuldades ao cursar esta cadeira? Quais?
4.6) A disciplina influencia ou influenciou a sua atuação como profissional? De que forma?
4.7) Durante sua formação acadêmica e/ou de residência, teve a oportunidade de trabalhar
com profissionais da área de Saúde Mental? Quem eram estes profissionais?
5. Psicologia
5.1) O que é Psicologia para você?
5.2) Qual o objetivo do trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar?
5.3) De que forma o profissional da Psicologia poderia contribuir para sua atuação como profissional? Por que? 6. Hospital
6.1) Em que setores do hospital o psicólogo poderia atuar? Como?
6.2) Para quais tarefas hospitalares você requisitaria um psicólogo, independente dos setores
acima mencionados?
6.3) Quem seriam os beneficiados com um Serviço de Psicologia? Por que?
6.4) Como funcionaria uma equipe de saúde em que o psicólogo trabalha?
6.5) Na sua opinião, existem entraves na relação/comunicação médicos – psicólogos? Quais?
6.6) Caso fosse implantado um sistema de atendimento psicológico a todos os pacientes do
hospital, como você avaliaria tal medida?
140
ANEXO 3 - Questionário utilizado com psicólogos hospitalares
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Psicologia – Programa de Pós-graduação
Prezado colega psicólogo,
Considerando sua atuação na área da Psicologia Hospitalar, gostaria que respondesse
algumas questões sobre sua formação e trabalho.
Trata-se de uma pesquisa formal para conclusão de mestrado na área de Psicologia
Social e visa fornecer contribuições para as áreas da Psicologia e Medicina.
O questionário constitui-se de 18 questões abertas, mas que não ocuparão mais do que
20 minutos de seu tempo. Sinta-se à vontade para dar sua opinião pois suas respostas serão
tratadas de forma confidencial.
Por favor, preencha o termo de consentimento livre e esclarecido
Antecipadamente agradeço a colaboração.
Juliana Wallig Alves de Carvalho
1. Identificação
Sexo: masculino ( ) feminino ( )
Idade:
Tempo de atuação em Psicologia hospitalar:
2. Instituição:
Pública ( ) Privada ( ) Hospital-escola ( )
Local de atuação:
ambulatório ( ) enfermaria ( ) emergência ( ) UTI ( )
3. Formação
3.1) De que forma você se preparou para atuar em Psicologia Hospitalar? (Graduação,
especialização, extensão ou outros)
3.2) Acredita que esta formação lhe forneceu capacitação para estar atuando na área? Por que?
Como?
4.Inserção
4.1) Como foi sua experiência inicial e atual com médicos no hospital?
4.2) A Psicologia é parte integrante da equipe ou um serviço disponível a todas as equipes do
hospital? Por que?
4.3) Com quantos psicólogos você trabalha diretamente?
141
4.4) O trabalho do psicólogo faz parte da rotina hospitalar ou é requisitado em determinadas
circunstâncias? Por que?
4.5) Como é feito o encaminhamento ao psicólogo? (pedido de parecer, verbalmente ou
outros)
4.6) Como você responde o encaminhamento?
4.7) A Psicologia participa de reuniões clínicas? Por que?
4.8) A Psicologia atua junto à equipe de saúde? De que forma?
4.9) Que dificuldades você encontrou e encontra atualmente no seu trabalho?
142
143