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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO
DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS QUÍMICOS
MMOODDEELLAAGGEEMM EE SSIIMMUULLAAÇÇÃÃOO DDEE UUMM LLEEIITTOO FFLLUUIIDDIIZZAADDOO:: UUMM EESSTTUUDDOO CCOOMMPPAARRAATTIIVVOO
Autor: Maximilian Joachim Hodapp
Orientador: Milton Mori
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade
de Engenharia Química como parte dos requisitos
exigidos para a obtenção do título de Mestre em
Engenharia Química.
Campinas - São Paulo
Fevereiro de 2009
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
H66m
Hodapp, Maximilian Joachim
Modelagem e simulação de um leito fluidizado: um
estudo comparativo / Maximilian Joachim Hodapp. --
Campinas, SP: [s.n.], 2009.
Orientador: Milton Mori.
Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Química.
1. Dinâmica dos fluidos. 2. Escoamento multifásico.
3. Metodos de simulação. 4. Método dos volumes
finitos. I. Mori, Milton. II. Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Engenharia Química. III.
Título.
Título em Inglês: Modeling and simulation of a fluidized bed: a
comparative study
Palavras-chave em Inglês: Computational Fluid Dynamics, Multiphase
flow;, Simulation methods, Finite volume
method
Área de concentração: Desenvolvimento de Processos Químicos
Titulação: Mestre em Engenharia Química
Banca examinadora: Henry França Meier, Maria das Graças Enrique da
Silva
Data da defesa: 16/02/2009
Programa de Pós Graduação: Engenharia Química
v
AGRADECIMENTOS
A realização do presente trabalho só foi possível devido a colaboração de uma série de
pessoas. As menções serão por ordem cronológica, uma vez que cada um teve grande
importância para mim. A começar, pelos professores da FURB pela alta formação que tive
durante minha graduação. Em especial aos professores Henry, Atilano e Chivanga, por
terem aberto seu grupo de pesquisa, incluindo também aos amigos Dirceu, Rodrigo e Vini.
A minha família pelo apoio irrestrito. A orientação do professor Milton, sempre
demonstrando grande interesse e empenho na resolução dos percalços no decorrer da
elaboração desta dissertação. Aos amigos do PQGe, Carol, Daniel, Fabio, Gabi, Graça, Jaci,
Jhon, Leo, Marcela, Marcos e Renato, não somente pelos bons momentos, mas também
pelas grandes discussões sobre CFD e outros assuntos. Ao Mozart, a Karoline e novamente
ao Henry pela grande ajuda nas subrotinas do CFX. Também agradeço a CAPES pelo apoio
financeiro na forma de bolsa e a PETROBRAS por apoiar o projeto no qual esta dissertação
está contida.
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação a minha família, em especial a minha Mãe e minha Avó.
vi
EPIGRAFE
“I don't exactly know what I mean by that, but I mean it.” J . D. Salinger
“Any explanation or logic that explains everything so easily has a hidden trap in it. I'm
speaking from experience. Somebody once said if it's something a single book can explain,
it's not worth having explained.” H. Murakami
“In dreams begin responsibilities” W. B. Yeats
vii
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi o estudo comparativo de duas modelagens para representação
de um escoamento gás-sólido. Na primeira modelagem avaliou-se uma correlação de
arraste apresentada recentemente na literatura, baseada em simulações lattice Boltzmann,
aplicada a escoamentos gás-sólido. Na segunda observou-se o efeito da variação do
coeficiente de especularidade na condição de contorno na parede sobre os perfis de
velocidade da fase particulada. Grande atenção tem sido dada a modelagem matemática de
escoamentos multifásicos, em especial ao gás-sólido, uma vez que vários processos
industriais utilizam-se desta operação. Porém o desenvolvimento de modelos analíticos que
incluam todos os fenômenos de transferência de massa, energia e quantidade de movimento
não encontra-se disponível, devido principalmente a grande complexidade dos fenômenos
envolvidos. Neste aspecto a fluidodinâmica computacional (CFD) tem demonstrado ser
uma boa alternativa para o estudo de sistemas complexos, sendo diversos estudos, não
somente de engenharia, aplicando esta técnica, publicados todos os anos. Como forma de
validar os resultados obtidos por este método numérico, escolheu-se um caso de estudo em
escala de laboratório. Os softwares comerciais ANSYS CFX 10 e FLUENT 6.3 foram
utilizados para a definição e resolução do problema, além do pós-processamento. Os
resultados obtidos foram comparados com os dados numéricos de um trabalho de mestrado
do PQGe, bem como com dados experimentais da literatura. Pode-se perceber que os
resultados, para a primeira abordagem não apresentaram melhoras em relação a outras
modelagens das forças entre e intra-partículas, além do maior tempo computacional
requerido. A segunda abordagem demonstrou valores adequados para o coeficiente
estudado.
Palavras-chave: CFD; Simulação numérica; Correlação arraste; Escoamento multifásico.
viii
ABSTRACT
The aim of this work was a comparative study of two different modeling to represent a gas-
solid flow. The first approach consists of a new drag correlation presented in the literature.
This relation was obtained through lattice Boltzmann simulations of gas-solid flow, thus
not depending on empirical data. The second looked for the effects of the variation of the
specularity coefficient at the wall boundary condition. Multiphase flow modeling is
gathering great attention, especially to gas-solid flows, due to its importance in industrial
processes. However analytical models that take into account the mass, momentum and
energy transfers are not available, mainly because of the complexities evolved in such
systems. Therefore Computational Fluid Dynamics (CFD) has proved to be a viable
alternative, having a large number of scientific works been published in recent years. In
order to validate the results a comparison with other simulations using different modeling,
done by another member of the PQGe laboratory, and with experimental data was carried
out. The commercial softwares ANSYS CFX 10 and FLUENT 6.3 were used to define and
numerically solve the problem, also to post process the results. For the first approach, the
comparison showed that the studied drag correlation gave no improvement upon the other
two models analyzed. Also a longer computational time was required, which can not be
ignored as an important parameter in CFD simulations. As for the second approach, it was
possible to obtain adequate values for the specularity coefficient.
Key words: CFD; Numerical Simulation; Drag correlation; Multiphase flow.
ix
SUMÁRIO
1. Capítulo – Introdução ............................................................................................ 1
1.1 Apresentação ...................................................................................................... 2
1.2 Objetivos ............................................................................................................ 3
1.2.1 Objetivos Específicos.................................................................................... 3
1.3 Organização da Dissertação ................................................................................ 4
2. Capítulo – Fundamentação Teórica ........................................................................ 5
2.1 Fluidização ......................................................................................................... 6
2.2 Classificação de Geldart do Material Particulado ................................................ 9
2.3 Aplicações Industriais de Leitos Fluidizados..................................................... 11
2.3.1 O Processo de Craqueamento Catalítico ...................................................... 12
2.3.1.1 Estudos sobre FCC .............................................................................. 15
2.4 Turbulência ...................................................................................................... 16
2.4.1 Modelos de Turbulência.............................................................................. 18
2.4.1.1 RANS .................................................................................................. 20
2.4.1.1.1 Modelos de Viscosidade Turbulenta ................................................ 21
2.4.1.1.2 Modelos de Tensores de Reynolds ................................................... 22
2.5 Abordagens de Modelagem de Escoamentos Multifásicos ................................ 22
2.6 Modelo de Lattice Boltzmann ........................................................................... 24
2.6.1 Correlação de Força de Arraste ................................................................... 28
x
3. Capítulo – Modelagem Matemática ..................................................................... 30
3.1 Modelagem do Escoamento Multifásico ........................................................... 31
3.1.1 Equações de Transporte .............................................................................. 31
3.1.2 Modelagem da Turbulência ......................................................................... 37
3.1.2.1 Modelo de Turbulência para a Fase Dispersa ....................................... 40
3.1.3 Forças Entre - Fases .................................................................................... 41
3.1.4 Teoria Cinética do Escoamento Granular .................................................... 48
3.1.5 Coeficiente de especularidade ..................................................................... 50
3.2 Método Numérico ............................................................................................. 51
3.2.1 Método dos Volumes Finitos ...................................................................... 52
3.2.2 Esquemas de Interpolação Advectivos ........................................................ 54
3.2.3 Esquemas de Interpolação Transientes ........................................................ 57
4. Capítulo – Metodologia ....................................................................................... 59
4.1 Técnicas CFD ................................................................................................... 60
4.2 Descrição dos Casos de Estudo ......................................................................... 62
4.2.1 Geometria e Malha Numérica ..................................................................... 64
4.2.2 Parâmetros Numéricos ................................................................................ 67
4.3 Condição Inicial e de Contorno ......................................................................... 68
5. Capítulo – Resultados e Discussões ..................................................................... 70
5.1 CASO 1 - Análise Inicial .................................................................................. 71
xi
5.1.1 Velocidade superficial 0,36 m s-1
................................................................ 72
5.1.2 Velocidade superficial 0,71 m s-1
................................................................ 78
5.1.3 Velocidade superficial 1,42 m s-1
................................................................ 84
5.1.4 Comportamento da Correlação de Arraste ................................................... 90
5.1.5 Experimentação Numérica da Modelagem Matemática ............................... 91
5.1.5.1 Modelo de Zero Equação para Turbulência da Fase Dispersa ............... 92
5.1.5.2 Modelo de Viscosidade Nula para Fase Dispersa ................................. 94
5.1.5.3 Modelo de Não-deslizamento para Condição de Contorno na Parede para
Fase Dispersa ....................................................................................................... 97
5.2 CASO 2 – Estudo da condição de contorno na parede ..................................... 100
6. Capítulo – Conclusões e Sugestões .................................................................... 105
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 108
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Estágios de fluidização segundo KUNII E LEVENSPIEL (1969) ................... 6
Figura 2.2 – Gráfico em escala logarítmica da classificação de Geldart para partículas
fluidizadas com ar em condições ambientais. Reproduzido de BASTOS (2005). ................ 9
Figura 2.3 – Relação esquemática entre forças de corpo e entre partículas. Adaptado de
KNOWLTON (2005). ...................................................................................................... 11
Figura 2.4 – Esquema simplificado de um processo FCC, linhas azuis entradas e saídas de
fluidos e linhas vermelhas ciclo do catalisador, adaptado de BAI et al. (1998). ................. 14
Figura 2.5 – Gráfico ilustrativo das abordagens em modelagem de escoamentos turbulentos.
........................................................................................................................................ 19
Figura 2.6 – Geometria de um lattice (pontos) e vetores de velocidade (linhas) para um
modelo de duas dimensões e nove velocidades D2Q9 a) e um modelo de três dimensões e
dezenove velocidades D3Q19 b). Adaptado de MPIE (2008). ............................................ 25
Figura 2.7 – Abordagem multi-escala da modelagem gás-sólido, adaptado de DEEN et al.
(2006). ............................................................................................................................. 27
Figura 3.1 – Gráfico do coeficiente de arraste pelo número de Reynolds para frações
volumétricas de sólidos de 1%, 20% e 40%. ..................................................................... 48
Figura 3.2 – Representação de um volume finito bidimensional. ...................................... 54
Figura 4.1 – Resumo do procedimento para resolução de um problema qualquer.............. 60
Figura 4.2 – Representação da unidade de CFB a frio utilizada por Samuelsberg et al.
(1996), reproduzido de Marini (2008). ............................................................................. 63
Figura 4.3 – Geometria desenhada para a simulação do Riser. Retirado de MARINI (2008).
........................................................................................................................................ 65
xiii
Figura 4.4 – Detalhes da malha utilizada nas simulações numéricas, retirado de MARINI
(2008). ............................................................................................................................. 66
Figura 5.1 – Gráficos da média temporal da velocidade do particulado para as simulações
com simples e dupla precisão e dados experimentais para velocidade superficial do gás de
0,36 m s-1
em: a) altura de 0,16 m e b) altura de 0,32m. .................................................... 71
Figura 5.2 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do catalisador originadas
a partir da entrada primária. ............................................................................................. 73
Figura 5.3 – Campo da média temporal da velocidade do particulados normal ao plano ZX
na altura de 0,20 m do Riser. ............................................................................................ 74
Figura 5.4 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do catalisador originadas
a partir da entrada secundária, visão geral e detalhe. ......................................................... 75
Figura 5.5 – Campos de fração volumétrica de sólidos: a) escala logarítmica; b) detalhe na
saída; c) detalhe das entradas............................................................................................ 76
Figura 5.6 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 0,36 m
s-1
, para as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ...................................................... 78
Figura 5.7 – Perfil da média temporal da fração volumétrica do particulado em escala
logarítmica. ...................................................................................................................... 79
Figura 5.8 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado partindo
do plano da entrada principal. .......................................................................................... 80
Figura 5.9 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado partindo
do plano da entrada secundária. ........................................................................................ 81
Figura 5.10 – Campo de velocidade do particulado no corte axial do riser........................ 82
Figura 5.11 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 0,71 m
s-1
, para as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ...................................................... 84
xiv
Figura 5.12 – Perfil da média temporal da fração volumétrica do particulado em escala
logarítmica. ...................................................................................................................... 85
Figura 5.13 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado a partir
do plano da entrada primária. ........................................................................................... 86
Figura 5.14 - Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado a partir do
plano da entrada secundária.............................................................................................. 87
Figura 5.15 – Velocidade do catalisador com destaque aos valores negativos próximo a
parede. ............................................................................................................................. 88
Figura 5.16 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 1,42 m
s-1
, para as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ...................................................... 90
Figura 5.17 – Campo de fração volumétrica, coeficiente de arraste e velocidade relativa
gás-sólido, para velocidade de 1.42 m s-1
, no tempo de 15s. ............................................. 91
Figura 5.18 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio para velocidade
superficial do gás de 0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c)
0,48 m. ............................................................................................................................. 93
Figura 5.19 – Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas
alturas de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ...................................................................... 94
Figura 5.20 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio para fase particulada
invíscida, na velocidade superficial do gás de 0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de
a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ....................................................................................... 96
Figura 5.21 - Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas alturas
de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m................................................................................... 97
Figura 5.22 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio, comparação das
condições de contorno na parede de não deslizamento e livre deslizamento, na velocidade
xv
superficial do gás de 0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c)
0,48 m. ............................................................................................................................. 99
Figura 5.23 - Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas alturas
de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m................................................................................. 100
Figura 5.24 – Perfis de velocidade da fase particulada para os coeficientes de
especularidade 0,4 e 0,6 para a velocidade de 1,42 m s-1
, para três alturas: a) 0,16 m; b) 0,32
m; c) 0,48 m. .................................................................................................................. 102
Figura 5.25 – Perfis radiais de fração volumétrica da fase particulada para velocidade de
1,42 m s-1
, nas alturas de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m. ............................................ 104
xvi
SIGLAS
BGK Bhatnagar-Gross-Krook
CFD Computational Fluid Dynamics
CPU Central Processing Unit
DES Detached Eddy Simulation
DNS Direct Numerical Simulation
DPM Discrete Particle Model
FCC Fluid Catalytic Cracking
HKL Hill-Koch-Ladd
KTGF Kinetic Theory of Granular Flow
LBM Lattice Boltzmann Method
LDA Laser Doppler Anemometry
LES Large Eddy Simulation
LGCA Lattice Gas Cellular Automata
NS Navier-Stokes
PQGe Laboratório de Pesquisa em Processos Químicos e Gestão Empresarial
RANS Reynolds-Averaged Navier-Stokes
RMS Root Mean Square
SAS Scale-Adaptive Simulation
TCC Thermofor Catalytic Cracking
TFM Two Fluid Model
xvii
NOMENCLATURA
Letras Latinas
A Área [m2]
Ar Número de Arquimedes [ ]
B Soma das forças de corpo [N m-3
]
C Constantes da equação da turbulência [ ]
Cd Coeficiente de arraste [ ]
d Diâmetro [m]
e Ponto a leste [ ]
f Fração volumétrica de qualquer fase [ ]
F Força de arraste adimensional [ ]
g Gravidade [m s-2
]
G Módulo de elasticidade [N m-2
]
I Tensor unidade [ ]
k Energia cinética turbulenta [m2 s
-2]
n Ponto ao norte [ ]
P Pressão [Pa]
Produção turbulenta [Kg m-1
s-3
]
Re Número de Reynolds [ ]
s Ponto ao sul [ ]
S Termo fonte [Kg m-3
s-1
]
S Tensor taxa deformação [N m-2
]
x Direção x [m]
y Direção y [m]
z Direção z [m]
xviii
t Tempo [s]
u Velocidade direção x [m s-1
]
v Velocidade direção y [m s-1
]
V Volume [m3]
w Velocidade direção z [m s-1
]
w Fator de ponderação (Correlação de Arraste) [ ]
w Ponto a oeste (Método Volumes Finitos) [ ]
Letras Gregas
β Coeficiente de transferência interfásico [Kg m-3
s-1
]
Ângulo [º]
Taxa de dissipação turbulenta [m2 s
-3]
Coeficiente de restituição [ ]
Temperatura granular [m2 s
-2]
Variável genérica (Método Volumes Finitos) [ ]
Coeficiente de especularidade [ ]
Fator de interpolação [ ]
Viscosidade dinâmica [Kg m-1
s-1
]
Massa específica [Kg m-3
]
Número de Prandtl turbulento [ ]
Direção em sistema de coordenadas [ ]
Tensor Tensão [N m-2
]
Vetor velocidade [m s-1, m s
-1, m s
-1]
ω Freqüência de turbulência [s-1
]
xix
Subscritos
c Colisão
ef Efetivo
f Fricção
g Fase gasosa
hkl Hill-Koch-Ladd
mb Mínimo borbulhamento
mf Mínima fluidização
mod Modificado
p Fase particulada
s Fase sólida
sl Slip
t Turbulento
x, y, z Eixos de coordenadas cartesianas
Sobrescritos
corr Velocidade ou pressão corrigida
n Enésimo termo
T Matriz transposta
trans Transição do número de Reynolds
1 CCaappííttuulloo 11 –– IInnttrroodduuççããoo
1. Capítulo 1 – Introdução
Esta dissertação está inserida como uma parte dos trabalhos do grupo de pesquisas
PQGe da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas. O
grupo tem pesquisado ativamente, através da Fluidodinâmica Computacional (CFD),
diversos casos de escoamentos de interesse científico e tecnológico. Dentre as linhas de
pesquisa, os escoamentos multifásicos têm estado em destaque, principalmente devido à
grande aplicação destes em processos industriais. No atual estado da arte, a representação
matemática destes ainda é desafiadora, havendo vários trabalhos em desenvolvimento na
comunidade científica.
2 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
1.1 Apresentação
A observação do movimento dos fluidos tem motivado muitos pesquisadores, ao
longo de vários séculos, a se aprofundar neste estudo, em busca da compreensão dos
fenômenos envolvidos. Para essa compreensão é necessário traduzir o que se vê no mundo
físico para uma linguagem abstrata e genérica, a matemática. Isso ocorreu inicialmente
com o desenvolvimento das equações da estática dos fluidos, i.e. fluidos nos quais não há
forças de cisalhamento externas atuando sobre eles. Posteriormente chegou-se à
hidrodinâmica, cujo estudo enfoca o escoamento dos fluidos.
Porém a complexidade dos escoamentos encontrados na natureza faz com que esse
ramo da física clássica seja um dos mais difíceis e desafiadores, sendo que muitas questões
ainda precisam ser investigadas mais a fundo. A turbulência é um exemplo, mesmo sendo o
tipo de escoamento mais comumente observado, seu comportamento aparentemente caótico
tem demandado muita pesquisa científica, tanto teórica como experimental (CARRARA,
2005).
O desenvolvimento da matemática, especialmente com a criação do cálculo
diferencial integral, possibilitou uma descrição mais detalhada do mundo físico. A
representação de um escoamento se tornou possível com as equações gerais desenvolvidas
por Cauchy e, para um caso particular, as equações que levam o nome de Navier-Stokes
(NS). Porém a complexidade destas equações faz com que a resolução analítica destas, que
descrevem o sistema físico, seja apenas possível quando várias hipóteses simplificadoras
são consideradas. Para uma descrição mais acurada de um escoamento, a resolução das
equações precisa ser feita através de um método numérico. Estes apenas se tornaram
viáveis com o advento da computação.
Neste contexto desenvolveu-se a fluidodinâmica computacional, CFD
(Computational Fluid Dynamics), uma nova linha de estudo de fluidos, que procura
resolver numericamente escoamentos em quaisquer geometrias e com condições de
contorno gerais. Esta linha vem sendo cada vez mais utilizada, servindo para descrição de
problemas de engenharia, bem como para fenômenos naturais. Segundo LIMA apud
LÖNER (2001) dentre alguns dos motivos do grande interesse da comunidade científica
pela CFD, pode-se citar a necessidade de se prever o comportamento de um determinado
3 CCaappííttuulloo 11 –– IInnttrroodduuççããoo
produto sob certas condições, o fato de que os experimentos podem ter um custo muito
elevado ou serem proibitivos por questões de segurança, mas principalmente porque a CFD
permite obter uma quantidade muito grande de informações em qualquer ponto de um
determinado escoamento, o que num aparato experimental nem sempre é possível.
Um caso no qual há um grande complicador é a presença de mais de uma fase em
um escoamento, como em leitos fluidizados, nos quais sólidos finamente divididos são
arrastados pela fase fluida e em certas condições eles passam também a se comportar como
fluidos. Vários processos industriais utilizam estes sistemas, uma vez que apresentam
vantagens sobre outras configurações, principalmente pelo aumento dos coeficientes de
transferência de massa e calor entre as fases.
1.2 Objetivos
O objetivo central do presente trabalho foi realizar a modelagem matemática de um
escoamento turbulento gás-sólido em tubo vertical, utilizando para isso técnicas de CFD.
Mais especificamente este trabalho foi dividido em duas modelagens específicas. Através
da primeira desejou-se analisar a capacidade da correlação para a força de arraste,
desenvolvida por Hill, Koch e Ladd e modificada por Benyahia et al. (2006), obtida
através do método de Lattice Boltzmann, para prever tal escoamento. A segunda buscou
analisar os efeitos da variação do coeficiente de especularidade, utilizado para modelar a
condição de contorno na parede, sobre o escoamento. Ambos os casos partiram de um
experimento de leito fluidizado em escala de bancada encontrado na literatura
(SAMUELSBERG et al. 1996), o qual foi reproduzido em CFD, utilizando para tal
softwares comerciais ANSYS CFX versão 10 e FLUENT versão 6.3. Os resultados foram
comparados com os dados experimentais de velocidade da fase particulada. Também foram
feitas comparações com outras metodologias numéricas apresentadas no trabalho de
MARINI (2008).
1.2.1 Objetivos Específicos
Como objetivos específicos deste trabalho, pretendeu-se:
4 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Determinar se a presente correlação de arraste produziria melhores resultados
quando comparados com dados experimentais e com a correlação de Gidaspow;
Identificar diferenças nos resultados das regiões densa (annulus) e diluída (core);
Estudar e aplicar alternativas para a modelagem da fase dispersa;
Avaliar se a correlação de arraste estudada pode ser aplicada para a modelagem da
fluidodinâmica de risers;
Verificar qual a influência da variação do coeficiente de especularidade sobre os
perfis de velocidade da fase particulada, especialmente na região próxima a parede;
Avaliar qual valor do coeficiente de especularidade é mais adequado ao tipo de
escoamento estudado.
1.3 Organização da Dissertação
Esta dissertação é divida em 6 capítulos, sendo que no Capítulo 1 introduz-se o tema
a ser estudado, bem como o objetivo da pesquisa realizada. No Capítulo 2 é apresentada a
fundamentação teórica dos fenômenos estudos, bem como de onde este estudo está inserido
num contexto acadêmico e de sua aplicação a processos industriais. No Capítulo 3 toda a
modelagem matemática do caso de estudo é apresentada, além da técnica utilizada para a
resolução numérica deste. No Capítulo 4 discute-se brevemente a metodologia adotada,
bem como a geometria e malha do caso de estudo. No Capítulo 5 são discutidos os
resultados obtidos através das simulações computacionais para os dois casos estudados. A
comparação com dados experimentais e também com outras simulações é comentada em
detalhes. No Capítulo 6 as conclusões obtidas neste trabalho são apresentadas, bem como
sugestões de trabalhos futuros. Por fim as Referências Bibliográficas utilizadas nesta
dissertação são expostas, para quem deseja se aprofundar e obter detalhes dos assuntos aqui
tratados.
5 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
2. Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
Neste capítulo são descritas as bases teóricas dos principais fenômenos envolvidos
em escoamentos multifásicos. Por este tema ser de grande interesse, diversos trabalhos
abordando diversos aspectos têm sido publicados na literatura. Aqui são mencionados os
conceitos e jargões pertinentes ao estudo desenvolvido, as aplicações industriais que
motivaram financeiramente pesquisadores, bem como a teoria que embasou a modelagem
matemática, a qual é apresentada no Capítulo 3.
6 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
2.1 Fluidização
A terminologia fluidização provém do fato de um sólido, quando finamente
dividido, se comportar como um fluido quando arrastado por um gás ou um líquido. Porém
este é um fenômeno bastante complexo, podendo ser caracterizado pelo grau de influência
do fluido sobre a fase sólida de um leito. Uma destas classificações foi feita por KUNII e
LEVENSPIEL (1969), que diferenciaram os seguintes regimes de fluidização para uma
coluna, em que um fluido é injetado por um distribuidor sobre o qual está em repouso um
leito de partículas sólidas, Figura 2.1.
Figura 2.1 – Estágios de fluidização segundo KUNII E LEVENSPIEL (1969)
7 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Inicialmente, partindo de uma velocidade nula para o fluido e aumentando esta
gradativamente, nada ocorre ao leito, tem-se apenas a passagem do fluido pelos interstícios
do particulado. Esta condição é chamada de leito fixo (Figura 2.1 a). Com o aumento da
velocidade de entrada do fluido, o espaço entre as partículas aumenta um pouco e algumas
começam a vibrar e a se mover em regiões restritas. A esta etapa denomina-se leito
expandido. Com mais um incremento da velocidade, ocorre a suspensão de todas as
partículas, neste ponto, a velocidade de fluidização mínima do sólido é atingida e há um
equilíbrio das forças de arraste do fluido sobre o sólido e da força peso do sólido. Nesta
condição o regime é denominado de fluidização insipiente ou mínima fluidização
(Figura 2.1 b). Inúmeros estudos visando a obtenção de correlações que determinem
matematicamente a velocidade mínima de fluidização (umf) foram realizados. A maioria
destas têm base puramente empírica, por exemplo através da medição da perda de carga ao
longo do leito com o aumento da velocidade superficial do gás. Uma das equações
desenvolvidas foi a modificação feita por GRACE et al. (1997) sobre a correlação de WEN
e YU (1966).
(2.1)
(2.2)
(2.3)
8 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
onde o Re é o número de Reynolds, Ar é o número de Arquimedes, é a massa específica,
μ é a viscosidade, d é o diâmetro e g a aceleração da gravidade.
A partir deste ponto, os sistemas líquido-sólido e gás-sólido se comportam de modo
diferente. No primeiro o aumento da velocidade ocasiona uma suave e progressiva
expansão do leito, sem a presença de bolhas ou não-uniformidades do leito. Este regime é
chamado de fluidização suave ou homogênea (Figura 2.1 c). Já no caso do sistema gás-
sólido, grandes instabilidades e bolhas podem ser observadas quando a velocidade mínima
de fluidização é ultrapassada. Também existe a possibilidade de formação de caminhos
preferenciais. Com vazões ainda maiores, os movimentos do leito se tornam mais caóticos e
a agitação é muito mais intensa, porem o leito não se expande mais. A esta etapa chama-se
leito fluidizado heterogêneo ou borbulhante (Figura 2.1 d).
Os leitos passam a ser borbulhantes quando a velocidade mínima de borbulhamento
é atingida (umb), a qual depende das propriedades das partículas e da viscosidade do gás e
que pode ser estimada pela correlação de Geldart e Abrahamsen 1978.
(2.4)
Num leito profundo e de diâmetro pequeno as bolhas podem ter o tamanho da
coluna, já que estas crescem e se coalescem, movendo-se para cima e assim empurrando o
sólido para cima. Este estado é definido como slugging (Figura 2.1 e). Quando uma bolha
se desintegra, as partículas sustentadas por ela desabam e caem até que a próxima bolha as
eleve novamente, causando um movimento oscilatório do leito (Figura 2.1 f).
Com um próximo aumento da velocidade do gás, a superfície do leito se torna
indefinida, pois a velocidade terminal das partículas foi excedida. Esta situação é denomina
leito fluidizado turbulento (Figura 2.1 g) e é caracterizada pelo movimento caótico do
sólido, agora bem mais disperso, e por espaços vazios de fluido. A partir deste ponto, as
partículas deixam a coluna, sendo necessário um reciclo para manter o leito operante.
9 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Aumentando a velocidade uma última vez, chega-se no que é denominado de fluidização
dispersa com transporte pneumático. Nesta situação todo o sólido é arrastado na direção
principal do fluxo do fluido, sendo levado para fora da coluna (Figura 2.1 h).
2.2 Classificação de Geldart do Material Particulado
A classificação dos sólidos particulados de acordo com características morfológicas
e de escoamento foi proposta por Geldart (1973), (ROSA 2008). A divisão, que é retratada
na Figura 2.2, expressa a diferença entre as massas específicas da fase sólida e da fase
fluida pelo diâmetro médio das partículas.
Figura 2.2 – Gráfico em escala logarítmica da classificação de Geldart para partículas fluidizadas
com ar em condições ambientais. Reproduzido de BASTOS (2005).
10 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Cada uma das letras que aparecem no gráfico refere-se a um grupo de partículas.
Pela ordem em que aparecem no gráfico, ou seja, em ordem crescente de diâmetro,
descreveu-se cada um deles como segue (KNOWLTON, 2005):
Grupo C – Partículas entre 0 e 30 m. São coesas e difíceis de fluidizar, pois
as forças interpartículas (van der Waals) são maiores que aquelas que o fluido pode exercer
sobre elas, de modo que a fluidização geralmente ocorre em blocos de partículas. Há a
ocorrência de caminhos preferenciais ou canalização do fluxo quando baixas velocidades
de gás são empregadas. A mistura das partículas e portanto também a transferência de calor
entre elas e o fluido é muito menor que nos outros grupos. Usualmente pode-se trabalhar
com este grupo com o auxílio de agitadores mecânicos. Entre este grupo e o grupo A existe
uma região de difícil distinção, sendo também denominada de região de transição.
Grupo A – Partículas entre 30 e 100 m. Como principal característica,
apresentam boa fluidização, usualmente com a formação de bolhas, porém não logo acima
da velocidade mínima de fluidização. Inicialmente há uma considerável expansão do leito.
As forças entre partículas ainda são consideráveis. Neste grupo estão inseridas as partículas
de catalisador de FCC, o que as tornaram objeto de várias pesquisas.
Grupo B – Partículas entre 100 e 1000 m. Neste grupo o borbulhamento do
leito ocorre logo após a for superada. As bolhas formadas tendem a subir mais
rapidamente que o gás, o que causa uma forte tendência à coalescência das bolhas. A
expansão do leito é pequena e quando a alimentação é cortada, o leito se desfaz
rapidamente. Exemplos de partículas deste grupo são o sal de cozinha, o polietileno e a
areia.
Grupo D – Partículas maiores que 1000 m. É necessária uma grande vazão
de fluido para fluidizar estas partículas. Além disso, o leito pode tornar-se errático,
produzindo bolhas grandes, canais preferenciais e até mesmo jorros. As bolhas coalescem
mais rapidamente, porém sobem mais lentamente que o gás que percola através do leito.
11 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
A Figura 2.3 representa a relação entre as forças interparticulares e de corpo para
cada grupo da classificação de Geldart.
Figura 2.3 – Relação esquemática entre forças de corpo e entre partículas. Adaptado de
KNOWLTON (2005).
2.3 Aplicações Industriais de Leitos Fluidizados
Dentro da indústria química os leitos fluidizados vêm sendo utilizados desde o
início do século XX, tendo sido principalmente utilizados na indústria de petróleo. Segundo
KUNII E LEVENSPIEL (1969), a primeira aplicação de leitos fluidizados em larga escala
foi numa planta de gaseificação de pó de carvão em 1922. Com a utilização cada vez maior
de petróleo e a demanda por tipos específicos de combustíveis, especialmente devido à
guerra na Europa, houve grande interesse em processos que suprissem tais demandas.
Alguns processos que utilizavam leito fixo tornavam a produção em larga escala bastante
cara, já que o catalisador utilizado tinha que ser regenerado, além de dificuldades em
controlar a temperatura. Como uma extensão destes processos surgiu o Thermofor Catalytic
Cracking ou Craqueamento Catalítico Termofor (TCC), que utilizava dois leitos
interligados, sendo um o reator e o outro o regenerador.
Em paralelo foi desenvolvido um sistema que consistia em um circuito completo de
transporte pneumático, consistindo em leitos fluidizados e linhas de transporte, com a
finalidade de craqueamento catalítico de querosene. O desenvolvimento desta tecnologia
12 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
ficou conhecido como Fluid Catalytic Cracking ou Craqueamento Catalítico (FCC).
Alguns problemas tiveram que ser superados, como por exemplo, recuperação do
catalisador, a aeração do leito e erosão das linhas de transporte. Assim foi construída a
primeira unidade de FCC comercial em 1942 nos Estados Unidos.
O princípio desenvolvido para sistemas FCC, circulação de sólidos, tem sido
utilizado em outros processos na indústria de petróleo, como nos processos de reforma de
vapor de nafta e para o tratamento de óleos pesados.
Todavia os leitos fluidizados também encontraram utilidade fora da indústria de
petróleo. No final da década de 1940, processos para secagem de pós e processos de
calcinação passaram a utilizar leitos fluidizados.
2.3.1 O Processo de Craqueamento Catalítico
O processo de craqueamento catalítico foi desenvolvido visando o aumento da
produção de compostos derivados do petróleo com maior valor de mercado, sendo que a
maioria destes compostos tem a cadeia molecular curta. O craqueamento catalítico rompe
cadeias complexas de hidrocarbonetos em moléculas mais simples, através do rearranjo da
estrutura das moléculas, de modo a aumentar a quantidade e qualidade dos compostos leves
e reduzir a quantidade de resíduos formados.
Segundo o OSHA TECHNICAL MANUAL (2003) o craqueamento catalítico é
similar ao processo de quebra térmica, sendo que, porém, o uso de catalisador facilita a
conversão, em condições menos severas de operação. Tipicamente um processo destes é
operado a temperaturas entre 727 K e 783 K e pressões entre 69 a 138 kPa. O catalisador
utilizado geralmente é um material sólido, como, por exemplo, zéolitas, hidrosilicato de
alumínio, bauxita, sílica entre outros, podendo ser produzido na forma de pó, pellets, ou
materiais de formas específicas, chamados de extrudados.
Existem três etapas básicas no processo de craqueamento catalítico:
Reação – A mistura de entrada reage na presença do catalisador, formando
os produtos desejados e coque;
13 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Regeneração – O catalisador é reativado pela queima do coque depositado;
Fracionamento – Os hidrocarbonetos craqueados são separados em vários
produtos
Este processo pode ser subdividido em três tipos distintos, o Fluid Catalytic
Cracking (FCC), o Moving-Bed Catalytic Cracking e o Thermofor Catalytic Cracking
(TCC). De modo geral os três processos são bastante flexíveis, sendo os parâmetros de
operação facilmente ajustáveis, podendo atender as variações na demanda de produtos
específicos.
O FCC é o processo mais comumente utilizado. Nele o óleo é craqueado na
presença de um catalisador finamente dividido, mantido em fluidização pela fase contínua.
O craqueamento consiste numa seção catalítica e uma seção fracional, as quais operam em
conjunto como uma unidade de processamento integrada. Uma representação esquemática
simplificada deste processo é mostrada na Figura 2.4. A seção catalítica é composta por um
reator e um regenerador, que em conjunto com o standpipe e o riser formam a unidade
circulatória. O catalisador é continuamente circulado pelo reator e pelo regenerador através
de ar, vapor de óleos ou vapor de água.
14 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 2.4 – Esquema simplificado de um processo FCC, linhas azuis entradas e saídas de fluidos e linhas vermelhas ciclo do catalisador, adaptado de BAI et al. (1998).
O funcionamento de uma destas unidades envolve a mistura da corrente dos
hidrocarbonetos pré-aquecidos com o catalisador aquecido e regenerado enquanto entra no
riser. A mistura começa a subir pelo riser, os hidrocarbonetos são vaporizados devido ao
calor trocado com o catalisador aquecido. À medida que os vapores vão reagindo no
catalisador, a temperatura começa a decrescer devido a reação endotérmica e a entalpia de
vaporização dos hidrocarbonetos. Após certa altura, todos os hidrocarbonetos estão na fase
gasosa, sendo que a queda de temperatura a partir deste ponto é devida apenas a reação. A
densidade da fase gasosa varia durante todo o riser devido, não somente as diferenças de
temperatura, mas também devido a mudança no peso molecular dos produtos formados
quando ocorre o craqueamento (GUPTA et al., 2001).
Nas unidades mais modernas de FCC, o craqueamento ocorre todo no riser e não
mais no reator, sendo que este serve apenas como suporte aos ciclones. O craqueamento
15 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
ocorre até o momento em que a fase gasosa é separada do catalisador nos ciclones. O
produto na fase gás é então encaminhado para a coluna de fracionamento, na qual
diferentes produtos são separados e as frações mais pesadas retornam ao riser.
O catalisador consumido, que foi separado pelos ciclones, é regenerado para ser
limpo do coque que foi depositado durante a reação. Para tanto, é realizada uma queima na
base do regenerador, onde o catalisador com o coque depositado em sua superfície é
misturado com ar para então sofrer a reação de combustão.
O processo Moving-Bed Catalytic Cracking é bastante similar ao FCC. O
catalisador em forma de pellets é movido continuamente para o topo da unidade através de
transportadores mecânicos ou pneumáticos para um hopper (depósito), descendo pelo
reator pela força da gravidade e então pelo regenerador, o qual em conjunto com o hopper
são separados do reator através de selos. O produto craqueado é separado em gás de reciclo,
óleo, óleo clarificado, destilados, nafta e gás úmido.
Já no processo TCC típico, a alimentação pré-aquecida escoa por gravidade através
do reator contendo o catalisador. Os vapores são separados do catalisador e mandados para
a torre de fracionamento. O catalisador gasto é regenerado, resfriado e reciclado ao
processo. O produto gasoso resultante do regeneramento é mandado para uma unidade para
recuperação da energia térmica.
2.3.1.1 Estudos sobre FCC
O grupo de pesquisa do laboratório PQGe tem grande experiência na simulação de
escoamentos em equipamentos do processo de FCC. Estudos em CFD sobre os diferentes
equipamentos deste processo, ciclones, regenerador e riser, têm sido realizados pelos
pesquisadores. Alguns dos principais trabalhos desenvolvidos foram resumidamente
descritos.
Nos estudos referentes a ciclones vale citar o trabalho de doutorado de MEIER
(1998) sobre o estudo de três modelos para predição de escoamento em ciclones. Um
modelo monofásico, um modelo bifásico euleriano-euleriano e um modelo que acopla este
16 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
último com uma fase lagrangeana. PERES (2002) fez um estudo comparativo de esquemas
de interpolação, cuja influência nos resultados ele avaliou. Já o trabalho de mestrado de
DIAS (2009), além de estudar vários modelos para a representação da turbulência da fase
contínua, também comparou um modelagens para a fase dispersa.
A dissertação de MOREIRA (2002) tratou sobre a cinética da combustão em um
regenerador bidimensional, além do estudo da fluidodinâmica de um caso tridimensional.
Já MARINI (2008) realizou um estudo aprofundado da fluidodinâmica do escoamento
multifásico através da utilização da teoria cinética do escoamento granular e avaliação das
condições de contorno.
No que se refere ao estudo de risers, os trabalhos de ROSA (2002), BASTOS
(2005) e novamente ROSA (2008) foram de grande importância para a compreensão tanto
de diversos aspectos da fluidodinâmica do escoamento, como dos fenômenos de
transferência de calor e massa que ocorrem devido às reações do craqueamento catalítico
neste equipamento.
Todos os trabalhos têm em comum a grande importância dada ao modelamento de
forma adequada da turbulência do escoamento. Uma vez que este é um fenômeno bastante
complexo, foi reservada uma seção específica para a sua descrição.
2.4 Turbulência
Tanto na natureza como nos processos tecnológicos, a grande maioria dos
escoamentos é de natureza turbulenta. Dentre os inúmeros exemplos existentes,
ABRUNHOSA (2003) cita a fumaça lançada por um cigarro com instabilidades tipo
toróides, o escoamento turbulento no interior dos pulmões que maximizam o fenômeno de
transferência de massa entre o ar e o sangue, a mistura turbulenta do combustível com o ar
no interior da câmara de combustão de motores, que torna o processo mais eficiente, além
de fenômenos meteorológicos, como os que podem ser percebidos durante um vôo de
avião.
17 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
A turbulência pode ser definida como um fenômeno convectivo não-linear
transiente que ocorre nas três dimensões cartesianas, é uma propriedade intrínseca ao
escoamento e não ao fluido. Ela ocorre nas mais variadas escalas de tempo e comprimento.
A turbulência é um fenômeno difusivo, que, como conseqüência, resulta no aumento das
taxas de transferência de massa, energia e quantidade de movimento.
Os escoamentos de fluidos podem ser classificados em laminares e turbulentos. No
primeiro caso, o fluido se move numa direção de modo suave e ordenado, descrito como
movimento translacional. Quando a energia potencial, geralmente um gradiente de pressão,
que atua sobre um escoamento excede um determinado valor máximo possível para que a
maioria do fluxo permaneça translacional, ocorre a turbulência. Existe porém uma faixa de
transição entre os dois regimes.
O número adimensional de Reynolds (ver Equação (3.33), para escoamento gás-
sólido) caracteriza se as condições do escoamento geram um escoamento laminar ou
turbulento. Em tubulações circulares, para fluidos newtonianos, a faixa entre 2100 a 4000 é
atribuída como divisor entre os regimes laminar (< 2100) e turbulento (> 4000).
Ludwig Prandtl (1875 – 1953) introduziu o conceito de camada limite. Quando há
um sólido em contato com o escoamento (uma parede ou uma partícula, por exemplo),
pode-se dividir o escoamento em duas regiões. Na primeira região, no interior do seio da
fase contínua os efeitos da viscosidade podem ser considerados desprezíveis. Já na segunda
região, próxima ao corpo sólido, os efeitos viscosos passam a ser dominantes, sendo esta
região caracterizada como camada limite (TEIXEIRA et al. 2005).
Em alguns casos particulares, especialmente para escoamentos laminares, é possível
obter uma solução analítica das equações de Navier-Stokes (NS), porém na grande maioria
dos casos práticos, as simplificações necessárias para tanto tornam a solução inconsistente
com o que se observa na realidade. A alta sensibilidade para as condições iniciais e de
contorno tornam os escoamentos irregulares tanto no tempo como no espaço, de tal modo
que uma descrição estatística torna-se necessária. O primeiro pesquisador a propor uma
análise estatística da turbulência foi Andrey Kolmogorov, baseada na idéia de cascatas de
energia, explicada a seguir. Entretanto uma descrição precisa do fenômeno da turbulência
permanece desconhecida à comunidade científica.
18 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
A turbulência causa a formação de vórtices em diferentes escalas de comprimento.
A maior parte da energia cinética está contida nas chamadas estruturas de larga escala. A
energia é transmitida às escalas menores num efeito cascata por um mecanismo inercial e
essencialmente invíscido. Este processo continua, formando escalas menores, até que as
estruturas se tornem pequenas o bastante para que os efeitos viscosos tenham influência,
começando então o processo de dissipação viscosa de energia cinética turbulenta, o que
causa o aumento da energia interna. A escala na qual isto ocorre é denominada de escala de
Kolmogorov. Assim sendo para que um escoamento permaneça turbulento, o fornecimento
contínuo de energia cinética turbulenta é necessário, caso contrário o regime de turbulência
entra em decaimento.
Matematicamente, as equações de NS descrevem qualquer escoamento de fluidos
newtonianos, seja laminar ou turbulento, sem a necessidade de qualquer termo adicional.
Porém a modelagem de escoamentos abrange uma ampla faixa de escalas de turbulência e
de tempo, geralmente envolvendo escalas menores que o menor dos elementos ou volumes
de tempo e espaço empregados nas malhas nos métodos numéricos (CFX Ltd., 2005). A
resolução de todas as escalas através de algum método numérico resultaria num problema
muitas ordens de grandeza maior que a atual disponibilidade dos computadores permite
trabalhar em tempos realísticos.
Deste modo, visando possibilitar a resolução numérica dos mais variados
escoamentos turbulentos encontrados em casos de interesse industrial e científico, foram
desenvolvidos algumas abordagens teóricas, que geraram modelos para a turbulência.
2.4.1 Modelos de Turbulência
Os modelos que foram desenvolvidos podem ser classificados em dois grupos
principais e em sub-grupos intermediários. A Figura 2.5 fornece uma idéia mais clara desta
distinção.
19 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Figura 2.5 – Gráfico ilustrativo das abordagens em modelagem de escoamentos turbulentos.
No extremo inferior da supracitada figura, encontra-se a modelagem DNS (Direct
Numerical Simulation) que resolve todas as escalas de comprimento e tempo do
escoamento, tornando o método mais exato para resolução de escoamentos turbulentos. É
também o método mais simples do ponto de vista conceitual, uma vez que nenhuma
equação adicional precisa ser usada. Entretanto isto implica em malhas numéricas muito
refinadas e em tempos computacionais proibitivamente elevados. Apesar das adversidades
para aplicações de interesse industrial, DNS é uma ferramenta útil em pesquisas
fundamentais sobre turbulência, possibilitando a obtenção de informações que não seriam
possíveis através de medidas experimentais. Essas informações podem ser então utilizadas
para o desenvolvimento de modelos de turbulência (FERZIGER 1997).
Já no extremo superior da Figura 2.5 aparecem os modelos RANS (Reynolds-
Avareged Navier Stokes), os quais modelam totalmente a turbulência, resolvendo
quantidades médias no tempo, resultando em baixo consumo computacional. Estes modelos
têm grande importância para pesquisas em CFD, já que permitem a obtenção de resultados
bastante precisos para uma diversidade de problemas de engenharia. Em detalhes este
grupo de modelos pode ser visto na seção 2.4.1.1.
20 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Existe ainda uma outra classe de modelos de turbulência, que mesclam
características das abordagens anteriores. Entre estes, se destaca o modelo LES (Large
Eddy Simulation), o qual resolve as grandes escalas através de DNS e modela as menores
escalas. A dinâmica das grandes escalas são computadas explicitamente, enquanto que a
influência das pequenas escalas é obtida por modelos, de modo que o custo computacional
é reduzido significativamente quando comparado com DNS, porém ainda maior que nos
modelos RANS. Esta abordagem também necessita de uma malha refinada, especialmente
se houverem paredes limitando o escoamento (CFX, Ltd 2005).
Por fim, há modelos híbridos, que utilizam mais de uma destas abordagens. São
exemplos os modelos DES (Detached Eddy Simulation) e SAS (Scale-Adaptive
Simulation). O primeiro é similar ao modelo LES, porém difere no requerimento de
resolução da malha nas regiões próximas a paredes (PERSSON et al., 2006). Já o último é
baseado no uso de uma segunda escala no termo fonte do modelo de turbulência em uso,
permitindo a adaptação à escala de comprimento resolvida localmente para o mesmo
(MENTER et al., 2005).
2.4.1.1 RANS
De modo geral estes modelos buscam aplicar técnicas estatísticas que visam
modificar as equações de NS, introduzindo termos médios para representar as variações dos
elementos de um escoamento turbulento. Entretanto esta técnica gera variáveis adicionais,
denominadas de tensores de Reynolds ou tensores Turbulentos. Estes por sua vez precisam
ser calculados para que o problema tenha solução. As equações utilizadas para fechar o
problema definem o tipo de modelo de turbulência. Dois subgrupos são comumente
estabelecidos, sendo eles os modelos de Viscosidade Turbulenta (Eddy Viscosity) e de
Tensores de Reynolds (Reynolds Stresses), os quais são detalhados a seguir.
21 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
2.4.1.1.1 Modelos de Viscosidade Turbulenta
Estes modelos consideram que a turbulência é formada por pequenos vórtices que
continuamente são formados e dissipados. Também consideram que os Tensores de
Reynolds são proporcionais aos gradientes médios de velocidade.
Como parte desta categoria, encontram-se os modelos mais simples, mas também os
mais utilizados em simulações CFD. Os principais modelos são:
Zero Equação (Algébrico) – mais simples de todos os modelos, caracteriza-
se pela ausência de equações adicionais de transporte, sendo que a viscosidade turbulenta é
calculada apenas através de uma relação algébrica empírica envolvendo a escala da
velocidade média e uma escala de comprimento.
Uma Equação – estes modelos utilizam a energia cinética turbulenta para o
cálculo da viscosidade turbulenta. Assim apenas uma equação de transporte é gerada, sendo
a variável transportada a energia cinética turbulenta. A equação de transporte introduzida
faz com que seja necessária outra equação de fechamento para o modelo. O modelo k-L,
por exemplo, utiliza o comprimento característico como variável de fechamento.
Duas Equações – nestes modelos tanto a velocidade como a escala de
comprimento são modeladas através de equações de transporte, garantindo resultados
precisos sem grande comprometimento computacional. Os modelos mais adotados são k-ω
e k- , sendo que aquele utiliza uma equação de transporte para calcular a freqüência de
turbulência (ω) e este a dissipação turbulenta ( ). Estes modelos são muito populares em
simulações CFD, já que apresentam bons resultados com relativamente baixos tempos
computacionais. Dentre alguns autores que utilizaram o modelo k- para simulações de
escoamentos gás-sólido em risers pode citar os trabalhos de ALVES et al. (1998), MEIER
et al. (2000), ZHENG et al. (2001) e BASTOS et al. (2008).
Como o modelo k- foi utilizado na simulação da turbulência neste trabalho, mais
detalhes sobre sua formulação serão mostrados no Capitulo 3, seção 3.1.2.
22 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
2.4.1.1.2 Modelos de Tensores de Reynolds
Nestes modelos, todas as componentes do tensor de Reynolds e das taxas de
dissipação são representadas por equações de transporte, resolvidas para cada um dos
componentes do tensor. As equações de transporte podem ser da forma algébrica ou
diferencial, o que caracteriza cada modelo. A modelagem da anisotropia dos tensores fazem
com que estes modelos sejam adequados para escoamentos complexos. Estes modelos
podem ser subdivididos em dois grupos:
Baseados em equações – os principais modelos são LRR e o SSG, sendo
que no primeiro a correlação entre pressão e tensão é linear, enquanto que no segundo é
quadrática.
Baseados em equações ω – dois modelos deste grupo são o tensor de
Reynolds Omega e o Tensor de Reynolds Baseline. A principal vantagem dá-se no
tratamento próximo a paredes com a mudança automática da função de parede para baixos
números de Reynolds.
2.5 Abordagens de Modelagem de Escoamentos Multifásicos
A modelagem matemática de escoamentos compostos por mais de uma fase é
bastante desafiadora, principalmente devido as interações que ocorrem intra e inter-fases.
No caso específico dos escoamentos gás-sólido, objeto de estudo deste trabalho, duas
abordagens são bastante utilizadas, a Euleriana-Euleriana e a Euleriana-Lagrangeana.
A abordagem Euleriana-Euleriana caracteriza-se por considerar a fase dispersa
como um fluido, tornando o sistema composto por duas fases contínuas interpenetrantes.
Isto implica que a fluidodinâmica da fase sólida também é representada pelas equações de
NS, o que gera alguns termos especiais como pressão do sólido e viscosidade do sólido.
Como estes termos não podem ser mensurados fisicamente, são necessários modelos para
representá-los.
23 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Uma simplificação deste problema é a desconsideração destes termos, ou seja,
assumir que o sólido é invíscido e não exerce pressão no sistema. Isto é aceitável em alguns
casos, notadamente quando a fração volumétrica de sólidos é pequena e o escoamento é
regido pela fase gasosa.
Também há a possibilidade de considerar estes valores constantes e não nulos.
Entretanto, estimar um valor, através de um teste de validação numérico, pode ser válido
para um tipo de particulado, mas não para outro. Na literatura existem alguns estudos para a
determinação destas variáveis, mas também possuem restrições. Pode-se citar os modelos
de ENWALD et al. (1996) e EINSTEIN (1950), que consideram que a viscosidade do
particulado é uma função de sua fração e da viscosidade da fase contínua. Para a
determinação da pressão, há a expressão de GIDASPOW (1994), a qual será detalhada no
Capítulo seguinte.
Um dos modelos mais utilizados em leitos fluidizados é a Teoria Cinética do
Escoamento Granular (KTGF). Ela consiste em um conjunto de equações que buscam
representar todas as tensões efetivas da fase sólida. Diversos pesquisadores tem se dedicado
a desenvolver correlações que representem com precisão estas características da fase sólida,
numa abordagem Euleriana, entre eles destacam-se os trabalhos de GIDASPOW (1994),
LUN E SAVAGE (1984), JOHNSON E JACKSON (1987) que desenvolveram equações
para KTGF. Esta abordagem encontrou expressões para os termos de pressão de sólidos e
viscosidade de sólidos, através de uma analogia com teoria cinética dos gases. A principal
vantagem desta abordagem é a rapidez na resolução de problemas grandes, o que o torna
aplicável às simulações de engenharia industrial. Detalhes desta modelagem são descritos
no Capítulo 3.
Já na abordagem Euleriana-Lagrangeana cada partícula da fase sólida é modelada
individualmente, através da segunda lei de Newton, que inclui forças externas, de interação
com o gás, de pressão e também forças partícula-partícula. Portanto a parte Lagrangeana é
responsável pela atualização da velocidade e da posição das partículas enquanto que a parte
Euleriana atualiza a densidade e velocidade do gás. Para a simulação CFD através desta
abordagem, a malha numérica pode ser significativamente maior que o diâmetro médio das
partículas. Segundo HOEF et al. (2004), isto significa que para a interação com a fase
gasosa, as partículas tornam-se pontos de fonte ou sumiço de quantidade de movimento.
24 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Um limitador óbvio desta metodologia consiste na quantidade de partículas que
compõe uma operação industrial, que pode chegar a 1.108, o que demanda grande
capacidade computacional. Mesmo assim, vários estudos computacionais têm sido
realizados, principalmente em equipamentos em escalas de bancada ou piloto (HOEF et al.,
2005; BEETSTRA et al., 2006).
Existe uma outra abordagem de modelamento de escoamento de fluidos e sólidos,
denominada de Lattice Boltzmann. Este modelo é abordado com mais detalhes na seção 2.6
abaixo.
2.6 Modelo de Lattice Boltzmann
Segundo KOCH et al. (2001), o Modelo de lattice Boltzmann (LBM) é um meio
eficiente de simular escoamentos gás-sólido a Reynolds moderados, mesmo com altas
frações volumétricas de sólidos. Assim como métodos explícitos de diferença finita, LBM
utilizam, em sua maioria, malhas fixas e a velocidade do fluido é calculada explicitamente
no tempo. Como é baseado num modelo cinético para o fluido, utiliza a equação discreta de
Boltzmann, ao invés das equações discretizadas de Navier-Stokes.
Segundo HE et al. (1997) o método de lattice Boltzmann foi desenvolvido a partir
do lattice gás cellular automata (LGCA), o qual pode ser considerado como um modelo
molecular fictício, em que a velocidade, o espaço e o tempo são discretos. As partículas
ficam localizadas nos nós das células lattice, movendo-se de um para outro nó de acordo
com sua velocidade. Esta fase é chamada de propagação. Ocasionalmente as partículas
colidem e modificam sua trajetória e velocidade, sendo que esta fase é chamada de colisão.
Regras de colisão devem garantir que a massa (número de partículas), a quantidade de
movimento e a energia se conservem antes e depois das colisões. Uma representação dos
vetores de velocidade em uma célula lattice 2D e 3D é mostrada na Figura 2.6.
25 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Figura 2.6 – Geometria de um lattice (pontos) e vetores de velocidade (linhas) para um modelo de
duas dimensões e nove velocidades D2Q9 a) e um modelo de três dimensões e dezenove velocidades D3Q19 b). Adaptado de MPIE (2008).
A principal diferença entre LBM e LGCA reside no fato do último representar uma
partícula através de uma expressão booleana, enquanto que o primeiro utiliza uma função
de distribuição, representada por um número real. As principais diferenças devem-se as
aproximações que foram aplicadas ao LBM, porém a base teórica reside sobre a abordagem
de Chapman e Enskog do LGCA. Algumas desvantagem deste método estão na dificuldade
de implementá-lo em malhas arbitrárias, bem como na falha em descrever alguns
problemas de termohidrodinâmica. Os autores supracitados descrevem como as equações
de lattice Boltzmann são derivadas a partir da equação de Boltzmann discretizada no tempo
e no espaço.
Diferentemente da técnica usual de CFD, o LBM considera o fluido como sendo
constituído de partículas virtuais, as quais podem sofrer colisões ou propagações na malha
do lattice. A principal simplificação do LBM é aproximar o operador de colisão com o
termo de relaxação de Bhatnagar-Gross-Krook (BGK). Este método tornou o modelo mais
eficiente e permitiu maior flexibilidade dos coeficientes de transporte.
Segundo AMATI et al. (1997) o principal motivo para o desenvolvimento do LBM
foi para sanar problemas de ruídos estatísticos, provocados pelas expressões booleanas, e de
complexidade nas regras que governam a evolução do tempo.
26 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Segundo YU et al. (2003) algumas das principais diferenças entre o LBM e os
métodos baseados nas equações de Navier-Stokes são (a) NS são equações diferenciais
parciais de segunda ordem, enquanto que LBM é constituído por equações diferenciais
parciais de primeira ordem; (b) algoritmos que resolvam numericamente NS precisam tratar
o termo não-linear convectivo, enquanto que o LBM evita totalmente este termo, já que a
convecção deixa de ser não linear; (c) os solvers de códigos CFD baseados em NS precisam
resolver a equação de Poisson para a pressão, envolvendo comunicação de dados globais,
enquanto que no LBM esta comunicação é sempre local e a pressão é obtida por uma
equação de estado; (d) o LBM é inadequado para resolver problemas em estado
estacionário; (e) a equação de Boltzmann tem base cinética, portanto a física associada ao
nível molecular pode ser mais facilmente incorporada ao LBM e assim pode-se aplicá-lo a
problemas de escoamento de fluidos em micro escala.
O trabalho de FILIPPOVA et al. (2001) mostrou que novos métodos que combinam
LBM com técnicas de métodos de diferenças finitas ou volumes finitos buscam viabilizar a
aplicação de lattice Boltzmann a problemas de engenharia, que em sua maioria possuem
geometrias complexas. Porém estas alterações são apenas aplicáveis a baixas variações de
campos de fluxo, já que, caso contrário, haveria problemas de instabilidade numérica. Já
quando ocorrem altos gradientes em pequenas regiões, algumas propostas vêm sendo
pesquisadas, através da utilização de malhas não estruturadas e de malhas “embedded”.
Segundo YU et al. (2003) o LBM tem tido sucesso especialmente em descrever
sistemas nos quais as condições de contorno sejam complicadas e para fluidos complexos,
como fluxos turbulentos sobre geometrias não-triviais, instabilidades entre dois fluidos do
tipo Rayleigh-Taylor, escoamento multi-componente através de meio poroso, fluidização
de sólidos, escoamentos com reação química, combustão, cristalização entre outros estudos.
Tem-se dedicado algum esforço para que LBM possa ser aplicado a altos números
de Reynolds, na expectativa de poder aplicá-lo também a escoamentos aerodinâmicos.
Entretanto, de modo que seja possível aumentar as aplicações deste método, algumas
questões devem ser resolvidas, como o cálculo da força sobre um corpo curvo, tratamento
mais preciso das condições de contorno em regiões curvas, estabilidade numérica, além da
inclusão de modelos de turbulência.
27 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
Segundo NOURGALIEV et al. (2003), em Lattice Boltzmann, a modelagem de
sistemas particulados em fluidos incompressíveis é possível através de duas formulações.
Na primeira, o fluido ocupa todo o domínio computacional, sendo que as partículas ocupam
o interior do fluido, eliminando assim a interface fluido-partícula para a conservação de
massa. Esta abordagem pode apenas ser utilizada quando a massa específica do fluido for
menor do que a do sólido. Também é requerido que a escala de tempo baseada na
viscosidade cinemática permaneça pequena e que a contribuição da inércia do fluido seja
relacionada com a inércia das partículas quando esta última for calculada. Já a segunda
abordagem considera as duas fases separadas, podendo ser aplicada para qualquer relação
entre as massas específicas. Para longos períodos de tempo, simulações mostraram gerar
bons resultados no monitoramento da trajetória da fase particulada.
Em sentido inverso, simulações de LBM também estão sendo realizadas com o
objetivo de buscar informações fundamentais relativas a interação entre fases, de modo que
seja possível gerar correlações para equações de fechamento mais precisas, utilizáveis em
simulações de CFD (HOEF et al. 2004). Esta abordagem vem sendo denominada como
modelagem multi-escala (DEEN et al. 2006), a qual pode ser resumida pela Figura 2.7.
Figura 2.7 – Abordagem multi-escala da modelagem gás-sólido, adaptado de DEEN et al. (2006).
28 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Nesta abordagem, cada nível de modelagem aplica-se a um comprimento de escala
correspondente ao fenômeno estudado, de modo que as informações obtidas nos níveis
menores possam ser alimentadas no nível superior. Através desta ideologia, KOCH et al.
(2001) desenvolveram uma correlação para força de arraste gás-sólido baseados em
simulações LBM, que pode ser utilizada nos modelos das categorias que estão acima deste,
na descrição da Figura 2.7.
2.6.1 Correlação de Força de Arraste
A força de arraste pode ser calculada diretamente através das simulações em lattice
Boltzmann. Quando tais cálculos forem repetidos para diferentes valores de números de
Reynolds e para diferentes frações volumétricas de sólidos, uma correlação para força de
arraste pode ser desenvolvida. Deste modo, ao invés das tradicionais correlações obtidas
através de dados empíricos, esta correlação é somente baseada em princípios físicos.
Neste contexto, segundo BENYAHIA et al. (2006), o trabalho de HILL et al. (2001)
possui uma fonte bastante completa de dados numéricos e experimentais, a qual permitiu
gerar uma correlação, que se ajusta muito bem aos dados por eles levantados, válida para
uma ampla faixa de Reynolds e fração volumétrica de sólidos. Porém, esta correlação não é
contínua sobre esta faixa por eles estudada. Para suprir esta deficiência, BENYAHIA et al.
(2006) publicaram em seu trabalho uma modificação das formulas desenvolvidas por HILL
et al. (2001), denominadas de fórmula modificada de Hill-Koch-Ladd (Extended HKL).
Eles tornaram a fórmula de HKL contínua ao longo da faixa de Reynolds e fração
volumétrica de sólidos. Também a extrapolaram, racionalmente segundo eles, para regiões
sem dados disponíveis. Outro cuidado foi tomado para levar a fórmula para o limite
analiticamente conhecido da força de arraste de uma esfera isolada, i. e. 0,44.
Num caso de leito fluidizado bidisperso, estudado por BEESTRA et al. (2007),
algumas correlações de arraste foram utilizadas para prever a segregação do leito. As
expressões utilizadas foram as dos supracitados autores, de Ergun/Wen e Yu e a de Hill et
al.. A estas correlações foram adicionadas uma correção para polidispersidade do sólido,
29 CCaappííttuulloo 22 –– FFuunnddaammeennttaaççããoo TTeeóórriiccaa
sendo possível a aplicação a qualquer correlação de arraste. Simulações em DPM foram
realizadas tanto com a correção como sem. Nos resultados os autores avaliaram que as
correlações obtidas por lattice Boltzmann foram as que melhor representaram os dados,
sendo que a correção desenvolvida por eles adequou ainda mais as simulações aos dados
experimentais. Este estudo também levou em consideração a condição de contorno para a
parede, livre deslizamento ou não deslizamento, do fluido. A conclusão a que se chegou
favoreceu a adoção da condição de livre deslizamento, que, apesar de não ser o que
realmente ocorre, produz resultados mais coerentes com os experimentais.
A formulação Extended HKL foi então utilizada como equação de fechamento em
simulação CFD para escoamento gás-sólido. O equacionamento matemático completo desta
correlação foi apresentado na seção 3.1.3.
Este trabalho propôs-se a adotar esta correlação em simulações CFD, uma vez que
na modelagem da transferência de quantidade de movimento entre fases ainda há
necessidade de modelos mais abrangentes. Este estudo busca aumentar a base de
conhecimentos sobre a aplicabilidade da modelagem adotada para escoamentos
multifásicos gás-sólido. Grande atenção também foi estudada a condição de contorno na
parede, a qual foi considerada fundamental para a correta representação do escoamento.
30 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
3. Capítulo 3 – Modelagem Matemática
As equações que compõem o modelamento numérico do escoamento em estudo são
descritas no presente capítulo. A partir da escolha do caso de estudo buscaram-se trabalhos
científicos sobre modelos consistentes com os fenômenos encontrados. O critério geral para
escolha deveu-se a modelos cuja validade fosse reconhecida, porém a custos
computacionais razoáveis. Especificamente, como objetivo deste estudo, é estudado um
novo modelo de arraste apresentado na literatura. São também descritos os métodos
numéricos utilizados para resolução dos sistemas de equações que representam os
fenômenos considerados.
31 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
3.1 Modelagem do Escoamento Multifásico
A modelagem de escoamentos gás-sólido segundo a abordagem euleriana para a
fase gás e euleriana para a fase particulada foi aplicada no modelamento do escoamento.
Assim sendo, as equações de transporte de quantidade de movimento foram similares para
as duas fases. Esta abordagem adota a hipótese do continuum, a qual considera que toda a
matéria é contínua, i.e., não há vazios ou espaços, nem corpos puntiformes como moléculas
ou sólido particulado. Também considera a interpenetrabilidade das fases, ou seja, ambas as
fases podem ocupar o mesmo volume de controle, não tendo porém um espaço definido
para cada uma, sendo que a fração volumétrica é a variável que quantifica cada fase.
A interação entre as fases é calculada unicamente através do termo da força de
arraste. Quando interações entre partículas são consideradas, a Teoria Cinética do
Escoamento Granular (KTGF) é aplicada.
Outras hipóteses e considerações pertinentes ao escoamento estudado:
Escoamento transiente;
Escoamento tridimensional;
Escoamento turbulento;
Fluidos incompressíveis;
Sistema isotérmico;
Fluidos Newtonianos, i. e. viscosos (valor constante);
Força gravitacional;
Variação da pressão devido ao escoamento.
3.1.1 Equações de Transporte
As equações instantâneas que descrevem a conservação de massa no sistema são
descritas pela Equação (3.1) para a fase gasosa e pela Equação (3.2) para a fase particulada.
32 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.1)
(3.2)
Onde é a fração volumétrica, representa a massa específica, representa a
velocidade e é o termo fonte de massa para cada fase.
Como não é considerada a transferência de massa entre as fases, os termos fonte são
nulos.
(3.3)
As equações médias de transporte de quantidade de movimento para a fase gasosa,
em coordenadas cartesianas são expressas por:
Na direção x (Equações (3.4) e (3.5)):
(3.4)
Sendo que:
33 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
(3.5)
Na direção y (Equações (3.6) e (3.7)):
(3.6)
Sendo que:
(3.7)
Na direção z (Equações (3.8) e (3.9)):
(3.8)
Sendo que:
34 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.9)
Onde μ é a viscosidade dinâmica e é o termo fonte de quantidade de movimento
e é o coeficiente de transferência interfásico.
Ou, resumindo, na forma vetorial:
(3.10)
Semelhantes equações médias de transporte de quantidade de movimento para a
fase particulada podem ser escritas. Apenas o termo fonte para a ação das forças de pressão
difere, sendo ajustado de acordo com o módulo de elasticidade.
Na direção x (Equações (3.11) e (3.12)):
(3.11)
Sendo que:
35 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
(3.12)
Na direção y (Equações (3.13) e (3.14)):
(3.13)
Sendo que:
(3.14)
Na direção z (Equações (3.15) e (3.16)):
(3.15)
Sendo que:
36 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.16)
A forma vetorial da equação da quantidade de movimento é dada por:
(3.17)
Sendo que o tensor tensão é dado pela Equação (3.18).
(3.18)
onde o tensor deformação é expresso por:
(3.19)
O termo (das Equações (3.12), (3.14) e (3.16)) é um modelo para o ajuste da
pressão de sólidos, utilizado para evitar que a fase particulada seja compactada, cujo
significado físico pode ser entendido como uma força de repulsão entre as partículas
visando manter o empacotamento máximo. O termo G representa o modulo de elasticidade,
podendo ser expresso pela seguinte relação:
37 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
(3.20)
cujos parâmetros foram determinados no trabalho de Gidaspow e Ettehadieh (1983),
conforme reportado por ENWALD et. al. (1996), com os seguintes valores: = 20; G0 =
1,0 Pa; fsmáx = 0,63.
Quando sólidos particulados são modelados, a fração volumétrica máxima, também
denominada de máximo empacotamento, deve ser definida. Esta refere-se ao máximo
espaço possível que a fase dispersa pode ocupar. Ou seja quanto espaço a fase contínua
ocupa no seio da fase dispersa, devido a forma geométrica desta ultima. Por exemplo, se a
fase dispersa for um fluido, o máximo empacotamento é 1, já que todo o volume será
ocupado pelo fluido. Já para o caso de partículas esféricas de mesmo diâmetro o máximo
empacotamento é 0,74. Tipicamente, para partículas sólidas, este valor pode variar entre 0,5
e 0,74, sendo pratica comum adotar um valor de 0,63 segundo CFX Ltd. (2005).
3.1.2 Modelagem da Turbulência
Dentre as diversas abordagens para o modelamento da turbulência, neste trabalho
utilizou-se o modelo de duas equações k- padrão. A letra latina k representa a energia
cinética turbulenta e é definida como a variação das flutuações da velocidade, com unidade
de (L2T
-2). A segunda letra grega épsilon representa a dissipação dos turbilhões turbulentos,
ou seja a taxa na qual as flutuações da velocidade se dissipam, tendo a dimensão de k por
unidade de tempo (L2T
-3). Neste, a velocidade e a escala do comprimento são resolvidas
através de equações de transporte separadas.
Este modelo baseia-se na hipótese de Boussinesq, ou gradiente difusivo, para
relacionar os tensores de Reynolds aos gradientes de velocidade médios e a viscosidade
turbulenta. Esta última é modelada como o produto da escala da velocidade turbulenta e da
escala do comprimento turbulenta. Nos modelos de duas equações a escala da velocidade
38 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
turbulenta é calculada a partir da energia cinética turbulenta, que resulta da sua equação de
transporte. A escala do comprimento turbulenta é, por sua vez, estimada através de duas
propriedades do campo turbulento, geralmente a energia cinética turbulenta e a taxa de
dissipação, sendo que esta última também resulta da sua equação de transporte.
A equação da continuidade permanece a mesma, porém a velocidade agora é
representada através de médias temporais e desvios, ao contrário da Equação (3.21), a qual
a velocidade é instantânea:
(3.21)
A equação da quantidade de movimento da fase gasosa, torna-se:
(3.22)
Onde B é o somatório das forças que atuam no sistema por unidade de volume.
A pressão modificada P’ é dado pela Equação (3.23).
(3.23)
39 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
O efeito da turbulência também é modelado através de um incremento na
viscosidade, definida como viscosidade efetiva para as condições de contorno utilizadas
nesta análise. Esta passa a ser dividida em dois termos, um termo laminar e outro
turbulento, conforme Equação (3.24).
(3.24)
A viscosidade turbulenta está associada à energia turbulenta cinética e à dissipação
através da Equação (3.25).
(3.25)
Onde é uma constante de valor 0,09.
Os valores de k e são obtidos através das equações de transporte para energia
cinética (Equação (3.26)) e taxa de dissipação turbulenta (Equação (3.27)).
(3.26)
(3.27)
40 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Os valores das constantes , , e podem ser encontrados na literatura
(CFX Ltd., 2005). é a produção turbulenta devido a viscosidade e a forças de empuxo, a
qual pode ser expressa pela Equação (3.28).
(3.28)
3.1.2.1 Modelo de Turbulência para a Fase Dispersa
O software CFX permite para a modelagem de escoamentos multifásicos a
utilização de um modelo de turbulência por fase. Para a fase dispersa um modelo algébrico
denominado de zero-equation está disponível (CFX Ltd., 2005). Este modelo usa uma
relação algébrica que correlaciona a viscosidade turbulenta da fase dispersa como sendo
proporcional a viscosidade de turbilhões (eddy viscosity) da fase contínua. A Equação
(3.29) denota esta proporcionalidade.
(3.29)
onde o parâmetro é o numero turbulento de Prandtl, cujo valor é a unidade para leitos de
bolhas ou para partículas de pequeno diâmetro. Porém o manual do CFX avisa que este
parâmetro deve ser variado de acordo com o escoamento estudado.
41 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
3.1.3 Forças Entre - Fases
O termo do balanço da quantidade de movimento que leva em conta a troca de
energia entre as fases pode ser expressa da seguinte maneira.
O coeficiente de transferência interfásico é definido por:
(3.30)
Onde é a viscosidade, fs é a fração volumétrica de sólidos, F é a força de arraste e é o
diâmetro das partículas de sólido.
Outro modo de definir este coeficiente é em função do coeficiente de arraste, Cd, de
acordo com a Equação (3.31).
(3.31)
Deste modo Cd pode ser expresso conforme Equação (3.32).
(3.32)
Onde é definido conforme HILL et al. (2001) por:
42 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.33)
Através da equação para o cálculo do Cd pode-se perceber que é necessário obter
um valor para F. Para tal fim, as equações de arraste Extended HKL apresentadas por
BENYAHIA et al. (2006) foram utilizadas, sendo que os autores acima mencionados
testaram estas equações para uma ampla faixa de valores de numero de Reynolds, bem
como para toda a faixa de fração volumétrica de sólidos, até o valor de máximo
empacotamento 0,641.
Os autores dividiram a correlação em duas faixas de valores de números de
Reynolds, alta e baixa. Para baixos valores do numero de Reynolds, a forma geral da força
de arraste adimensional F é dada por:
(3.34)
A relação que melhor representa a contribuição de Stokes para a força de arraste é
dado pelas Equações (3.35) e (3.36).
Para :
(3.35)
43 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
Para :
(3.36)
Onde w é o fator de ponderação (weighting factor) dado por:
(3.37)
Originalmente, foram utilizadas duas fontes para montagem desta relação. Para
valores pequenos de fs a correlação de Koch e Sangani foi utilizada, enquanto que para
valores maiores utilizou-se a correlação de Carman. Porem como esta abordagem não
representa adequadamente bem a expressão para valores intermediários de fração
volumétrica , apenas a primeira correlação foi utilizada. Para valores altos
de fração volumétrica de sólidos, utilizou-se a correlação de Carman, a qual, para que
coincidisse com a outra expressão em sem ser modificada, necessitou do fator de
ponderação w, apresentado na Equação (3.37).
O coeficiente inercial na formulação do arraste pode ser expresso, para baixos
números de Reynolds, pelas Equações (3.38) e (3.39).
Para :
44 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.38)
Para :
(3.39)
Para valores muito baixos de fs, menores que 0,01, a Equação (3.34) não pode ser
utilizada, já que ao invés de tender ao valor de arraste para uma partícula isolada, tende a
zero. Assim sendo, os autores propuseram a adoção da expressão desenvolvida por Kaneda,
a qual obedece ao limite da lei de Stokes para partícula única, conforme Equação (3.40).
(3.40)
Já para altos números de Reynolds, uma variação linear deste com a força de arraste
é utilizada, de acordo com Equação (3.41).
(3.41)
O coeficiente pode ser obtido pelas Equações (3.42) e (3.43).
45 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
Para :
(3.42)
Para :
(3.43)
As expressões de são similares àquelas de , tanto que alguns autores, ainda
segundo BENYAHIA et al. (2006), utilizaram em seus trabalhos . Porem os autores
argumentam que esta separação se faz necessária, já que há diferenças nos valores destes
coeficientes quando a fração volumétrica de sólidos é baixa.
Para a obtenção do coeficiente foram utilizadas as Equações (3.44) e (3.45).
Para :
(3.44)
Para :
46 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.45)
No trabalho original de HILL et al. (2001) simulações em Lattice Boltzmann só
foram realizadas para uma fração volumétrica de sólidos acima de 9,53% para valores altos
de Reynolds. Isto foi devido ao alto custo computacional requerido para realizar simulações
abaixo desta faixa de fs nestas condições. Deste modo, os autores regrediram a expressão
para de acordo com os dados das simulações de HILL et al. (2001) e estenderam sua
aplicação para valores de fração volumétrica de sólidos abaixo de 0,0953, de modo que o
arraste sobre uma partícula isolada, no regime de Newton, fosse alcançado.
Uma vez definidos todos os coeficientes para o cálculo da força de arraste, é
adotado um critério para a transição entre os valores baixos e altos de Reynolds. Para tal
fim, analisam-se onde as Equações (3.34) e (3.41) se interceptam:
(3.46)
Esta equação quadrática tem uma raiz positiva, que fornece o valor do Reynolds
desejado.
(3.47)
47 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
De modo similar é encontrado o valor de Reynolds desejado para o caso da fração
volumétrica baixa de sólidos.
(3.48)
Assim sendo, pode-se resumir as equações que compõe o cálculo da força de arraste
adimensional (Equações (3.34), (3.40) e (3.41)).
Onde equivale a Equação (3.48) e (3.47) equivale a Equação.
A variação do coeficiente de arraste, calculado através desta correlação, foi plotado
em relação ao número de Reynolds para três frações volumétricas de sólidos, conforme
Figura 3.1.
48 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 3.1 – Gráfico do coeficiente de arraste pelo número de Reynolds para frações volumétricas
de sólidos de 1%, 20% e 40%.
3.1.4 Teoria Cinética do Escoamento Granular
Esta teoria busca representar as interações entre a fase particulada de um
escoamento multifásico. Ela é baseada na teoria cinética dos gases densos, porém a
temperatura usual é substituída por uma temperatura granular. As outras propriedades da
fase sólida, como a pressão e a viscosidade, são funções desta temperatura granular.
A temperatura granular pode ser expressa como uma medida das flutuações de
velocidade da partícula, conforme Equação (3.49).
(3.49)
49 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
Já a pressão da fase sólida pode ser expressa pela Equação (3.50), segundo o
trabalho de DING et al. (1990).
(3.50)
onde é o coeficiente de restituição, cujo valor adotado foi 0,9, enquanto que é a
distribuição radial, dada pela Equação (3.51), de acordo com LUN et al. (1984).
(3.51)
O cálculo da viscosidade de compressão, também segundo LUN et al. (1984), é
dada pela Equação (3.52).
(3.52)
Para o cálculo da viscosidade dinâmica, duas equações foram consideradas. Para o
estudo do coeficiente de especularidade foi utilizada a equação de GIDASPOW (1994),
Equação (3.53), enquanto que MARINI (2008) utilizou a correção de HRENYA e
SINCLAIR (1997), Equação (3.54).
50 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
(3.53)
(3.54)
onde os parâmetros e :
(3.55)
(3.56)
3.1.5 Coeficiente de especularidade
Uma forma de modelar a influência de paredes em escoamentos de fluidos é
tradicionalmente determinada pelas condições de não deslizamento ou livre deslizamento.
No entanto existem casos em que nenhuma destas abordagens parece prever corretamente o
que ocorre fisicamente. Neste contexto, JONHSON e JACKSON (1987) desenvolveram
uma modelagem que leva em conta o balanço de forças entre a fase particulada e a parede.
Assim a velocidade de deslizamento (slip velocity) entre as partículas e a parede pode ser
obtida pelo equacionamento da força tangencial por unidade de área exercida sobre a
parede pela correspondente tensão do particulado próximo a esta.
51 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
O coeficiente de especularidade é a medida da fração de colisões que transferem
quantidade de movimento para a parede. Seu valor varia entre zero, equivalendo a uma
condição de livre deslizamento, e a unidade, significando colisões perfeitamente difusivas.
Através da soma das contribuições por colisão e por atrito, os supracitados autores
chegaram ao componente do vetor da tensão, Equação (3.57).
(3.57)
Onde é a velocidade slip, dada pela diferença entre a velocidade num ponto em relação
à velocidade próxima a parede, e são as contribuições de colisão e de fricção da
tensão, n é uma unidade normal a parede para dentro do escoamento, é o coeficiente de
especularidade, fs é a fração volumétrica de sólidos, fs0 é o máximo empacotamento, é a
temperatura granular, é o componente normal da tensão pela fricção e é o ângulo de
fricção entre o particulado e a parede.
Neste trabalho utiliza-se esta abordagem em como uma das condições de contorno
avaliadas para descrever a influência da parede no escoamento da fase particulada.
3.2 Método Numérico
A escolha da utilização de um método numérico para resolução matemática de um
problema, ao invés da resolução analítica, deve-se a fatores como a complexidade do
sistema em estudo, as simplificações que podem ser feitas sem que com isso a validade dos
resultados seja prejudicada, bem como a inexistência de uma solução analítica possível do
caso. Métodos numéricos não geram resultados absolutos, porém a aproximação dos
52 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
mesmos pode ser limitada a uma tolerância muito pequena, aceitável para a maioria dos
casos de engenharia.
O objetivo da maioria dos métodos numéricos é resolver equações diferenciais
através da substituição das derivadas por expressões algébricas que envolvem a incógnita
em questão. Existe uma série de métodos adequados para diversos sistemas de equações.
Para a resolução de problemas de CFD, o método dos volumes finitos é comumente
utilizado, por razões explicadas por MALISKA (1995).
3.2.1 Método dos Volumes Finitos
Neste trabalho foi utilizado o Método dos Volumes Finitos, o qual é baseado em
Elementos Finitos, empregado pelo software comercial ANSYS CFX 10.0 para resolução
dos sistemas de equações diferencias parciais. Este método foi amplamente descrito por
PATANKAR (1980), FERZIGER e PERIĆ (1996) e MALISKA (1995). O método consiste
na divisão da geometria estudada em pequenos volumes de controle, o que é conhecido
como malha numérica. As equações são obtidas através do balanço de conservação de
massa, quantidade de movimento e energia em cada volume de controle. Similar ao método
das diferenças finitas, os valores são calculados em regiões discretas da geometria. O termo
volume finito corresponde a um volume que cerca cada ponto nodal da malha. Este método
permite a utilização de malhas não-estruturadas, tornando-o bastante flexível para
utilização em geometrias complexas.
As equações de conservação são integradas no volume de controle. Neste método,
as integrais de volume das equações diferenciais que contem termos divergentes são
convertidas em integrais de superfície, utilizando o teorema de Gauss, Equação (3.58).
Estes termos são então computados como fluxos nas faces de cada volume.
(3.58)
53 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
onde é uma variável genérica, V é o volume e A a área.
(3.59)
A equação de conservação global é obtida através de uma soma das células, de
modo que as integrais sobre as superfícies internas se cancelam. O fluxo liquido através do
volume de controle é a soma das integrais sobre as faces. A Equação (3.60) e a Equação
(3.61) representam o fluxo convectivo e difusivo, respectivamente.
(3.60)
(3.61)
A resolução das integrais de superfície só é possível se o valor do integrando for
conhecido. Como este não é o caso, já que apenas o valor no centro do volume de controle
é conhecido, esquemas de interpolação devem definir as propriedades nas faces. A Figura
3.2 ilustra como um elemento, aqui representado apenas em duas dimensões, é designado.
As faces recebem o nome dos pontos cardeais, (N – norte, S – sul, W – oeste, E – leste) e o
ponto nodal é representado pela letra P.
54 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 3.2 – Representação de um volume finito bidimensional.
3.2.2 Esquemas de Interpolação Advectivos
O cálculo dos fluxos deve ser realizado nas fronteiras dos volumes de controle,
porém estes são funções dos valores da propriedade nos pontos nodais.
(3.62)
Alguns dos principais esquemas de interpolação foram apresentados a seguir:
Diferenças Centrais (Central Difference Scheme - CDS) – neste esquema, de
modo a determinar os valores de no centro de uma face do volume de controle, é
utilizada interpolação linear entre dois nós adjacentes. No ponto e da malha cartesiana,
é expresso pela Equação (3.63).
55 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
(3.63)
onde o fator de interpolação é definido como:
(3.64)
A simplificação da linearização permite uma aproximação mais simples do
gradiente (Equação(3.65)), que é necessário para a avaliação do fluxo difusivo.
(3.65)
Apesar de ser um esquema de segunda ordem este pode sofrer de problemas de
desacoplamento, sendo mais indicado para simulações LES.
Upwind (Upwind Difference Scheme - UDS) – método bastante utilizado,
aproxima o valor de por seu valor a montante da face e, através da Equação(3.66).
(3.66)
56 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
O termo difusivo continua sendo aproximado pela mesma relação das Diferenças
Centrais (Equação (3.65)).
Este é um esquema de primeira ordem, comprovadamente robusto, já que tem a
característica intrínseca de não gerar resultados oscilatórios, porém é numericamente
difusivo.
Higher Upwind – visando aumentar a precisão da solução, este esquema
introduz mais um termo, tornando-o um esquema de segunda ordem. Assim pode ser
representado pela Equação (3.67).
(3.67)
QUICK (Quadratic Upwind Differencing) – outro esquema baseado no
upwind, porém utilizando uma expressão de terceira ordem. Neste esquema são
considerados dois pontos anteriores e um posterior a face em questão, Equação (3.68).
(3.68)
CCCT – esquema QUICK modificado, visando a redução e eliminação de
saltos não físicos que podem ocorrer nas soluções. A Equação (3.69) expressa este
esquema, sendo uma variável auxiliar para manter a solução dentro de limites.
57 CCaappííttuulloo 33 –– MMooddeellaaggeemm MMaatteemmááttiiccaa
(3.69)
3.2.3 Esquemas de Interpolação Transientes
Quando a estabilidade na solução de equações diferenciais parciais é requerida,
métodos tipo backward ou de Euler implícitos são os mais recomendados (FERZIGER
1997). Nestes casos o termo transiente pode ser dividido em dois termos (Equação (3.70)).
(3.70)
Para o caso do esquema de primeira ordem as derivadas temporais podem ser
aproximadas pela Equação (3.71).
(3.71)
De modo que a Equação (3.72) agora pode ser reescrita como:
(3.72)
58 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
O método de primeira ordem é o mais robusto, completamente implícito, acoplado e
conservativo no tempo. Pode, porém, induzir a difusão numérica no tempo, similar aquela
ocorrida com os esquemas de interpolação advectivos de primeira ordem.
Já no esquema de interpolação de segunda ordem as derivadas temporais são
representadas conforme Equação (3.73).
(3.73)
Onde o termo representa o campo de solução para o antepenúltimo passo de tempo.
Este esquema também é robusto, implícito e conservativo, reduzindo, além disso, o problema de
difusão numérica experimentado pelo esquema de primeira ordem. Porém, por também não ser
limitado, pode gerar sobre ou sob predições na solução.
59 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
4. Capítulo 4 – Metodologia
Apesar do pequeno tamanho deste capítulo quando comparado a um trabalho
experimental, é fundamental a descrição não-matemática da metodologia na qual esta
dissertação foi baseada. Como a única ferramenta empregada na sua elaboração são as
técnicas de CFD, o roteiro de trabalho com este foi brevemente descrito.
60 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
4.1 Técnicas CFD
A fluidodinâmica computacional tem como principal característica a flexibilidade
que permite a sua aplicação aos mais diversos casos de escoamentos. Esta característica
deve-se ao conceito do método numérico dos volumes finitos, i. e., a divisão de qualquer
geometria, por mais irregular que seja, em pequenos volumes.
Assim, para a passagem de uma operação ou um fenômeno físico para CFD alguns
passos devem ser executados. A Figura 4.1 representa os principais pontos da metodologia
deste processo. Inicialmente deve-se desenhar a geometria de interesse num programa CAD
(Computer Aided Design), de modo que todas as superfícies, regiões que serão as entradas e
saídas estejam definidas para que posteriormente possam ser identificadas como tal. Nesta
etapa já podem ser consideradas possíveis simplificações do problema, principalmente
devido a limitações de informações disponíveis sobre o sistema, possibilidade de
modelagem de certos componentes (como por exemplo um distribuidor que faz com que o
perfil de velocidade possa ser considerado empistonado), além do tempo computacional
esperado para o caso.
Figura 4.1 – Resumo do procedimento para resolução de um problema qualquer.
61 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
Após elaborada a geometria, a malha necessária ao método numérico deve ser
gerada. Os volumes finitos podem ter diversos formatos básicos, sendo os principais
hexaédricos e tetraédricos. A malha pode ser estruturada ou não-estruturada, nesta última,
cada volume pode ter um número variável de elementos vizinhos, tornando-a adaptável a
geometrias complexas. Deve-se ainda atentar para parâmetros de qualidade como os
ângulos mínimos dos volumes e determinantes, já que uma malha de qualidade ruim
dificulta a convergência da solução.
O próximo passo consiste na entrada dos dados físicos e químicos, bem como na
definição dos modelos a serem utilizados e as condições de contorno e iniciais para o
problema. Todas estas etapas são realizadas no pré-processador. Quando o problema estiver
definido passa-se ao solver numérico, o qual aplica, no presente caso, o método dos
volumes finitos. É possível acompanhar a evolução da solução através do monitoramento
dos resíduos numéricos das principais variáveis ou através de pontos de monitoramento
para variáveis-chaves, definidos no pré-processamento.
Por fim, na etapa de pós-processamento pode-se verificar o comportamento da
fluidodinâmica do problema em qualquer estágio da solução, mesmo que ainda não
totalmente convergida. Há várias opções para uma melhor visualização das variáveis de
interesse, possibilitando a obtenção de diversas medidas tanto para comparação com dados
experimentais como para ampliar o entendimento do processo. Os dados retirados do pós-
processador podem ser exportados e trabalhados em programas estatísticos como o Origin.
Para as simulações destes casos de estudo foram utilizados alguns softwares
comerciais, sendo que os principais foram o ANSYS ICEM CFD 10.0 para a geração da
geometria e malha e o ANSYS CFX 10.0 e FLUENT 6.3 para as etapas de pré-
processamento, a de resolução numérica e a de pós-processamento. A malha e geometria
foram desenvolvidas por MARINI (2008) em sua dissertação de mestrado.
Já a definição das condições de contorno, iniciais e dos modelos utilizados foi feita
no pré-processador, que permite grande flexibilidade na implementação destas, seja através
de funções criadas no próprio pré-processador ou através de subrotinas em linguagem de
programação FORTRAN.
62 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
4.2 Descrição dos Casos de Estudo
Este trabalho foi dividido em dois casos de estudo. Ambos foram modelados a partir
do experimento reportado no trabalho de SAMUELSBERG et al. (1996). O primeiro,
denominado de CASO 1, utilizou a correlação de arraste gás-sólido de BENYAHIA et al.
(2006), a qual foi baseada em simulações lattice Boltzmann. Estes resultados foram
comparados com a correlação de arraste de GIDASPOW (1994) e dados experimentais. Já
para o segundo caso estudado, denominado CASO 2, foi utilizada somente correlação de
arraste de GIDASPOW (1994) em conjunto com a teoria cinética do escoamento granular,
KTGF, conforme trabalhada por MARINI (2008), sendo que a variação de um parâmetro
da condição de contorno na parede, o coeficiente de especularidade, foi analisado. Para
maiores detalhes sobre a KTGF, sugere-se a leitura do capítulo 3.1.4 da dissertação de
mestrado de MARINI (2008).
O equipamento que foi escolhido como base para os casos de estudo foi
desenvolvido por SAMUELSBERG et al. (1996). Um esquema do sistema foi apresentado
na Figura 4.2. Esta opção pareceu coerente, já que a unidade de CFB foi construída em
escala de bancada, sendo mais adequada à finalidade que se desejava, estudar a
fluidodinâmica do escoamento gás-sólido.
Outro fator que foi contado como positivo desta unidade, foi a sua operação a frio,
isto significa que tanto os efeitos devido à transferência de massa e reações químicas, bem
como a transferência de calor puderam ser negligenciados, servindo ao propósito de
considerar apenas a fluidodinâmica do escoamento multifásico. Por fim, outro motivo da
escolha, muito importante para simulações numéricas, foi a suficiente disponibilidade de
dados experimentais para validação dos resultados obtidos, além da clareza das explicações
de como foram obtidos e a apresentação destes no artigo experimental supracitado.
63 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
Figura 4.2 – Representação da unidade de CFB a frio utilizada por Samuelsberg et al. (1996), reproduzido de Marini (2008).
O funcionamento do processo, que busca ser o mais semelhante possível com uma
unidade industrial de Leito Fluidizado Circulante (CFB), pode ser descrito do seguinte
modo. O sólido particulado é colocado dentro da coluna, chamada de Riser, até uma altura
de 0,05 m, chamada de altura do leito inicial. Na entrada primária entra apenas ar através de
um distribuidor. Dependendo da velocidade de ar que for mantida na entrada primária,
podem ocorrer as diferentes classes de fluidização. Como o objetivo é alcançar o regime de
transporte pneumático, foram empregadas velocidades superiores ao mínimo necessário
para estar de acordo com este objetivo.
Quando o escoamento com as partículas sólidas alcança a saída do Riser, este entra
em um ciclone que separa as partículas do gás. O sólido desce, sendo realimentado através
da entrada secundária. Para garantir que solido entre novamente no reator, não ficando
preso, aplicou-se uma velocidade constante de ar de 0,05 m s-1
.
64 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
O sistema de medição dos perfis radiais de velocidade axial de sólidos empregado
foi o Laser Doppler Anemometry (LDA), que é uma técnica não intrusiva. Três alturas de
medição foram tomadas, a 0,16 m, 0,32 m e a 0,48 m. Os pontos foram tirados a cada dois
milímetros ao longo do diâmetro, sendo os dados publicados uma média de um conjunto de
1000 medições.
4.2.1 Geometria e Malha Numérica
Para a simulação numérica algumas simplificações foram feitas na geometria da
unidade. Como o objetivo era apenas aplicar uma nova modelagem a um escoamento gás-
sólido e tendo também em vista a limitação computacional e temporal, que tornaria inviável
simular o conjunto como um todo, optou-se por desenhar apenas o Riser, de modo que a
recirculação dos sólidos teve de ser modelada no simulador. A geometria desenvolvida foi
apresentada na Figura 4.3. Como simplificações adicionais, o difusor na entrada principal
foi ignorado, sendo modelado posteriormente.
65 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
Figura 4.3 – Geometria desenhada para a simulação do Riser. Retirado de MARINI (2008).
66 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
A malha desta geometria utilizada para as simulações foi selecionada através de um
teste de malha realizado por MARINI (2008). A malha final contém cerca de 278 mil
volumes de controle. Como parâmetros de qualidade da malha, um ângulo mínimo de 30 º e
um determinante de 0,34 foram aplicados. Nos volumes em contado com a parede da
geometria, um y+
de 11 a 30 foi mantido, faixa a qual é adequada para o modelo de
turbulência utilizado. Na Figura 4.4 foram destacadas partes da malha desenvolvida.
Figura 4.4 – Detalhes da malha utilizada nas simulações numéricas, retirado de MARINI (2008).
67 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
4.2.2 Parâmetros Numéricos
Os principais parâmetros do método numérico adotados para as simulações
transientes foram:
CASO 1:
Software utilizado ANSYS CFX 10.0.
Passo de tempo inicial de 10-5
s elevado gradativamente até 10-3
s – a série
de passos de tempo escolhida foi baseada na experiência com trabalhos anteriores
realizados pelo grupo de pesquisa do PQGe. Passos de tempo pequenos tendem a reduzir a
magnitude dos erros, motivo pelo qual o valor de 10 -3
s não foi ultrapassado.
Tempo real simulado de 15 s – tempo considerado suficiente para obtenção
de informações do estado pseudo-estacionário, consistente com os tempos reportados no
artigo de SAMUELSBERG et al. (1996).
Esquema de interpolação espacial Higher Upwind e temporal Euler de
segunda ordem – usados em detrimento dos esquemas de primeira ordem, pela maior
precisão nos resultados.
Número máximo de quatro iterações por passo de tempo – segundo o manual
do CFX (2005) para escoamentos gás-sólido em geral, o valor está dentro da faixa sugerida,
já que muitas iterações podem produzir alterações nos resultados.
Critério de convergência RMS (Root Mean Square) de 10-4
– valor sugerido
para grande parte das simulações, segundo manual do CFX (2005).
68 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
CASO 2:
Software utilizado ANSYS FLUENT 6.3.
Passo de tempo inicial de 10-5
s, no modo adaptativo, podendo ser elevado
até 10-3
s – por se tratar do mesmo escoamento a mesma ordem de grandeza do passo de
tempo foi mantida.
Tempo real simulado de 15 s – consistente com a metodologia adotada para
as simulações do CASO 1.
Esquema de interpolação espacial Higher Upwind para as equações de
quantidade de movimento e Upwind para as equações de turbulência e interpolação
temporal Euler de primeira ordem – alguns esquemas de primeira ordem tiveram de ser
mantidos para garantir a convergência das simulações.
Número máximo de vinte iterações por passo de tempo – segundo o manual
do FLUENT (2006) o valor está dentro da faixa sugerida.
Critério de convergência absoluto de 10-3
– valor sugerido para grande parte
das simulações, segundo manual do FLUENT (2006).
4.3 Condição Inicial e de Contorno
As principais condições de contorno e a condição inicial são resumidamente
descritas na Tabela 4.1 para o CASO 1 e na Tabela 4.2 para o CASO 2. As variações de
nomenclatura correspondem àquelas adotadas pelos softwares utilizados.
69 CCaappííttuulloo 44 –– MMeettooddoollooggiiaa
Tabela 4.1 – Condições de contorno do CASO 1.
Entrada principal Velocidade do gás = 0,36; 0,71; 1,42 m s-1
;
Entrada secundária
Velocidade do gás = 0,05 m s-1
;
Fluxo mássico do particulado igual ao da Saída
Saída Opening = pressão atmosférica
Parede
Particulado = free slip
Gás = no slip
Altura inicial Altura do leito = 0,05 m
Tabela 4.2 – Condições de contorno do CASO 2.
Entrada principal Velocidade do gás = 1,42 m s-1
;
Entrada secundária
Velocidade do gás = 0,05 m s-1
;
Fluxo mássico constante
Saída Pressure outlet = pressão atmosférica
Parede
Particulado = coeficiente de especularidade
Gás = no slip
70 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
5. Capítulo 5 – Resultados e Discussões
Dois casos, baseados nos mesmos dados experimentais, são abordados através de
modelagens distintas. O CASO 1 refere-se a modelagem da força de arraste através das
equações de BENYAHIA et al. (2006), enquanto que o CASO 2 refere-se a avaliação do
coeficiente de especularidade baseada na modelagem KTGF. De modo que as simulações
numéricas possam ser avaliadas, os resultados obtidos são comparados com outras
simulações realizadas pelo grupo PQGe e também com dados experimentais da literatura. O
comportamento do escoamento previsto através das abordagens utilizadas neste trabalho é
discutido neste capítulo.
71 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
5.1 CASO 1 - Análise Inicial
As simulações do caso de estudo com as três diferentes velocidades superficiais de
gás, foram realizadas num cluster, o qual consiste numa série de nós, i. e. CPUs, com
processadores trabalhando em paralelo. Em média, para cada simulação seis nós, com um
processador 2,4 GHz e 1GB de memória cada, foram utilizados. O tempo computacional foi
em média de 2 meses para 15 s de tempo real para cada simulação.
Como primeiro passo, foram realizadas duas simulações com a mesma velocidade
superficial de gás de 0,36 m s-1
, já utilizando a modelagem completa do estudo, com o
objetivo de comparar resultados obtidos com precisão simples e dupla. A comparação é
mostrada na Figura 5.1, sendo que os perfis foram obtidos através de médias temporais. O
processamento com dupla precisão deve ser mais preciso, uma vez que considera maior
número de casas decimais nos cálculos, cuja importância para este caso deve-se à valores
da fração volumétrica de sólidos que poderiam ser muito baixos em certas regiões do riser.
Por serem simulações idênticas, exceto pela precisão, os resultados reportados mostraram
variação significativa do perfil da velocidade, inclusive com acentuação da assimetria
destes. Portanto optou-se por simulações com precisão dupla para todos os casos estudados.
Figura 5.1 – Gráficos da média temporal da velocidade do particulado para as simulações com
simples e dupla precisão e dados experimentais para velocidade superficial do gás de 0,36 m s-1
em:
a) altura de 0,16 m e b) altura de 0,32m.
Uma vez decidido que as simulações seriam realizadas com dupla precisão, três
variações da condição de operação deste foram simuladas. Cada uma com uma velocidade
72 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
superficial distinta de gás na entrada primária, conforme o artigo experimental de
SAMUELSBERG et al. (1996), sendo estas 0,36 m s-1
, 0,71 m s-1
e 1,42 m s-1
, que foram
descritas em detalhes nos tópicos a seguir.
5.1.1 Velocidade superficial 0,36 m s-1
Para a menor velocidade superficial de gás na entrada primária, a simulação
mostrou a ocorrência de recirculação interna da fase particulada. Tal comportamento
ocorreu com uma intensidade maior do que era previsto pelo artigo experimental. Neste,
corria saída de particulado no topo, também reportado no trabalho de MARINI (2008).
Entretanto no presente caso não houve saída de sólidos pelo topo do riser. A Figura 5.2
demonstra a recirculação interna de sólidos, visualizada pelas linhas de corrente que
preenchem aproximadamente metade do reator, ver também na Figura 5.5 o campo de
fração volumétrica da fase particulada. No ponto mais alto da trajetória, o local onde as
linhas tornam-se azuis, é onde a velocidade é nula, caracterizando um movimento
circulatório, no qual o sólido descende próximo a parede e ascende no centro, conforme
Figura 5.3, na qual é possível identificar a intensidade e sentido da componente vertical (Y)
da velocidade do particulado, num corte da seção transversal do equipamento. A esta forma
de escoamento denomina-se core-annulus, tipicamente encontrada em risers gás-sólido.
73 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.2 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do catalisador originadas a partir
da entrada primária.
74 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.3 – Campo da média temporal da velocidade do particulados normal ao plano ZX na altura de 0,20 m do Riser.
Já a Figura 5.4 comprova visualmente que praticamente não houve re-entrada de
particulados pela entrada secundária. No corpo do riser não aparecem linhas de corrente,
sendo estas apenas visíveis no detalhe da entrada secundária. Entretanto a fração
volumétrica de sólidos ali presente foi significativa (Figura 5.5). Porem, ainda de acordo
com a Figura 5.4 foi possível perceber que este valor relativamente elevado da fração
volumétrica foi devido à recirculação na seção do tubo da entrada secundária.
75 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.4 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do catalisador originadas a partir da entrada secundária, visão geral e detalhe.
76 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.5 – Campos de fração volumétrica de sólidos: a) escala logarítmica; b) detalhe na saída; c) detalhe das entradas.
Os valores dos perfis de velocidade de particulado nas três alturas são apresentados
na Figura 5.6. Para as duas primeiras alturas pode-se perceber o perfil core-annulus
esperado, típico de risers. Porém, na terceira altura o perfil estava em desacordo com o
comportamento esperado, o que acreditou-se, foi conseqüência primária da forte
recirculação interna simulada. Entretanto, quando estes resultados foram comparados com
dados de simulações utilizando a correlação de arraste de Gidaspow, percebeu-se que isto
não se repetia naquela.
77 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
a)
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
b)
78 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.6 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 0,36 m s-1
, para
as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
5.1.2 Velocidade superficial 0,71 m s-1
Nesta velocidade superficial do gás o comportamento da fase particulada obtido na
presente simulação foi compatível com as simulações de MARINI (2008). Houve
recirculação externa de sólidos, de modo que o perfil da fração volumétrica ao longo do
reator tornou-se mais homogêneo. A Figura 5.7 mostra a distribuição desta num corte axial.
Ainda assim foi possível observar que na base ocorreu maior concentração da fase
particulada, devido a recirculação interna, definida pelo comportamento core-annulus, o
qual foi novamente observado.
79 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.7 – Perfil da média temporal da fração volumétrica do particulado em escala logarítmica.
Linhas de corrente também foram analisadas, as quais corroboraram a expectativa
de que a fase sólida também apresentaria certo grau de recirculação interna, porém,
diferentemente do caso da velocidade de 0,36 m s-1
, neste houve saída de sólidos pelo topo
do riser. A Figura 5.8 e a Figura 5.9 demonstram tal fato, pelas linhas de corrente da média
temporal da velocidade do catalisador.
80 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.8 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado partindo do plano da entrada principal.
81 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.9 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado partindo do plano
da entrada secundária.
O campo de velocidade do particulado pode ser visualizado na Figura 5.10. A cor
azul foi empregada para denotar as regiões nas quais o fluxo foi descendente (velocidade
negativa). Deste modo pode-se perceber que, em toda extensão do riser, a região próxima a
parede apresentou velocidades negativas. Porém os dados quantitativos demonstraram que
o sólido descendeu numa velocidade superior daquela medida no artigo experimental. Os
dados comparativos foram apresentados sob forma de gráficos de médias temporais de
velocidade do particulado ao longo do diâmetro para diferentes alturas, conforme Figura
5.11.
82 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.10 – Campo de velocidade do particulado no corte axial do riser.
Dentre os resultados das simulações, a correlação de arraste utilizada no presente
trabalho não demonstrou melhora expressiva na reprodução dos dados experimentais,
estando bastante próxima à de Gidaspow. Como foi possível perceber, a velocidade prevista
do particulado esteve superior, tanto na seção positiva, quanto na negativa, em relação aos
dados experimentais para as duas correlações de arraste.
83 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1 0 1
-1.0
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2.0
2.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
a)
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
b)
84 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.11 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 0,71 m s-1
, para
as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
5.1.3 Velocidade superficial 1,42 m s-1
Os dados numéricos medidos para a condição de maior velocidade de entrada do
meio contínuo revelaram o mesmo padrão de escoamento core-annulus. A Figura 5.12
mostra a distribuição da fração volumétrica de sólidos no interior do riser. Novamente, a
porção inferior apresentou maior fração volumétrica de sólidos, já que, conforme esperado,
ocorreu recirculação interna pelas paredes. A Figura 5.13 e a Figura 5.14 mostram tal
comportamento, ainda que a maioria das linhas siga em direção a saída no topo.
85 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.12 – Perfil da média temporal da fração volumétrica do particulado em escala logarítmica.
86 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.13 – Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado a partir do plano
da entrada primária.
87 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.14 - Linhas de corrente da média temporal da velocidade do particulado a partir do plano
da entrada secundária.
O campo de velocidade próximo a parede apresentou novamente velocidades
negativas, enquanto que no centro estas eram ascendentes. Na Figura 5.15 é mostrado o
campo de velocidade em todo o riser, com destaque para região azul, de velocidades
negativas. Os valores obtidos não previram corretamente a magnitude da velocidade do
particulado, a qual se encontrava muito acima do esperado.
88 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.15 – Velocidade do catalisador com destaque aos valores negativos próximo a parede.
Na Figura 5.16 foram apresentados os gráficos comparativos. Neste caso, os valores
obtidos com a modelagem Extended HKL para a primeira altura, de 0,16 m, apresentaram
ótima concordância tanto com os dados experimentais como com as outras simulações
realizadas. O perfil se encaixou mesmo na região crítica, o centro do escoamento, além da
região próxima a parede. Porém nas outras alturas, 0,32 m e 0,48 m os perfis numéricos
novamente previram velocidades de particulado superiores daquelas encontradas pelos
autores do estudo experimental. Apenas próximo as paredes a concordância foi maior em
relação aos resultados com a força de arraste calculada por Gidaspow, o que é um
indicativo da melhor aplicabilidade da correlação Extended HKL em regiões mais densas.
89 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1 0 1
-1
0
1
2
3
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, m
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r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
a)
-1 0 1
-1
0
1
2
3
4
ve
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ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
b)
90 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1 0 1
-1
0
1
2
3
4
Experimental
Gidaspow
Extended HKL
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.16 – Perfis de velocidade da fase particulada para velocidade superficial de 1,42 m s-1
, para
as alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
5.1.4 Comportamento da Correlação de Arraste
Como visto no Capitulo 3, sobre a modelagem matemática, a correlação de arraste
estudada é principalmente função da fração volumétrica e é segredada pelo número de
Reynolds. Assim sendo, os planos apresentados na Figura 5.17 comprovam que nas regiões
de baixa concentração de particulado a força de arraste tende ao valor analítico de uma
esfera isolada, enquanto que nas regiões próximas a paredes, onde a fração volumétrica de
sólidos foi maior, o arraste também aumenta. Outra variável pertinente ao arraste, a
velocidade relativa entre a fase gás e a fase sólida (slip velocity) apresentou um
comportamento diretamente proporcional a fração volumétrica de sólidos, ou seja, regiões
onde a quantidade de particulado foi pequena, a tendência da velocidade do sólido foi
acompanhar a velocidade do gás, de modo que a velocidade relativa tendesse a zero.
91 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.17 – Campo de fração volumétrica, coeficiente de arraste e velocidade relativa gás-sólido,
para velocidade de 1.42 m s-1
, no tempo de 15s.
5.1.5 Experimentação Numérica da Modelagem Matemática
Como os resultados obtidos não foram totalmente satisfatórios, foram contempladas
outras abordagens para o modelamento matemático da fase particulada. As principais
alterações foram feitas na modelagem da turbulência, da viscosidade e da condição de
contorno na parede. Para cada uma destas, foi rodado um caso separadamente, somente
para a condição de entrada de 0,71 m s-1
, uma vez que o tempo computacional requerido era
um fator limitante, não tendo sido possível realizar simulações para todos os casos
apresentados nas seções anteriores deste capítulo. Porém apenas uma simulação foi
92 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
suficiente para identificar e avaliar as alterações nos resultados, os quais foram
apresentados na sequência.
5.1.5.1 Modelo de Zero Equação para Turbulência da Fase Dispersa
Nesta modelagem, as equações de transporte de quantidade de movimento da fase
particulada passaram a contemplar a turbulência, através de um modelo algébrico,
denominado Zero Equation. Todos os outros modelos e as condições de contorno e inicias
permaneceram inalteradas. A Figura 5.18 mostra os perfis de velocidade axial da fase
particulada para três diferentes alturas.
-1 0 1
-1.0
-0.5
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1.5
2.0
2.5
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locid
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, m
/s
r/R
Experimental
Zero
a)
93 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
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1.5
2.0
2.5
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, m
/s
r/R
Experimental
Zero
b)
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
Experimental
Zero
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.18 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio para velocidade superficial
do gás de 0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
Pode-se perceber que a velocidade da fase dispersa ficou abaixo dos dados
experimentais, exceto na região próxima a parede, onde a velocidade permaneceu positiva.
94 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Os perfis apresentaram certa curvatura, mostrando a tendência principal do escoamento,
porém não o caracterizaram corretamente. A configuração core-annulus do escoamento foi
também observada, conforme Figura 5.19, a qual mostrou os campos de fração volumétrica
da fase particulada em planos transversais ao escoamento.
Figura 5.19 – Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas alturas de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
Apesar da distribuição da fase dispersa estar coerente com o tipo de escoamento, a
direção deste, Figura 5.18, indica que não há escoamento descendente desta fase na região
mais densa, próxima a parede, informação esta não corroborada pela descrição dos dados
experimentais do artigo de SAMUELSBERG et al. (1996), nem pelas simulações
numéricas de MARINI (2008).
5.1.5.2 Modelo de Viscosidade Nula para Fase Dispersa
No trabalho de ROSA (2008) foi efetuado semelhante estudo sobre a modelagem da
viscosidade da fase particulada em um escoamento gás-sólido em risers. Naquele trabalho
o autor descreveu que esta modelagem apresentou bons resultados quantitativos,
principalmente na região central, porém ainda assim a abordagem de viscosidade constante
95 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
não-nula foi preferida nas simulações por ter produzido melhores resultados. Na Figura
5.20 foram apresentados os gráficos dos perfis de velocidade da fase particulada num corte
radial, para três alturas do riser.
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
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2.0
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/s
r/R
Experimental
Inviscido
a)
-1 0 1
-1.0
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0.0
0.5
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1.5
2.0
2.5
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, m
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r/R
Experimental
Inviscido
b)
96 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1 0 1
-1.0
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2.0
2.5
Experimental
Inviscido
ve
locid
ad
efa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.20 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio para fase particulada
invíscida, na velocidade superficial do gás de 0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de a) 0,16
m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
A modelagem da fase particulada com viscosidade nula foi considerada por
acreditar-se que o escoamento na região central, na qual ocorreram os maiores desvios em
relação aos dados experimentais, poderia ser assim melhor representado, uma vez que esta
modelagem é apenas própria para escoamentos diluídos.
Entretanto a curva do perfil de velocidade da fase particulada, conforme Figura
5.20, mostra que esta abordagem não conseguiu prever o comportamento do escoamento.
Velocidades negativas próximas as paredes não foram alcançadas, nem o perfil parabólico
achatado que seria esperado na região central. Acredita-se que os valores de concentração
da fase particulada sejam muito elevados para que esta modelagem possa ser adotada.
97 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Figura 5.21 - Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas alturas de: a)
0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
A Figura 5.21 mostra a distribuição do particulado no interior do riser para três
alturas. Todas elas apresentaram um comportamento ligeiramente diferente do esperado. A
fase particulada concentrou-se no setor acima da entrada secundária (lado direito dos
cortes), enquanto que a região do anel com distribuição de fração volumétrica mais
homogênea seria esperada.
5.1.5.3 Modelo de Não-deslizamento para Condição de Contorno na Parede para
Fase Dispersa
Segundo o trabalho de MARINI (2008) a condição de contorno no-slip para a fase
particulada na parede tornou os perfis de velocidade simulados mais adequados aos dados
experimentais. Deste modo, procurou adotar-se a mesma modificação na modelagem deste
problema. A Figura 5.22 mostra a média temporal dos perfis de velocidade da fase
particulada para este caso, além dos perfis já apresentados com a condição de livre
deslizamento.
98 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
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ve
locid
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só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
NoSlip
Free slip
a)
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
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1.5
2.0
2.5
ve
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, m
/s
r/R
Experimental
NoSlip
Free slip
b)
99 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
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2.0
2.5
Experimental
NoSlip
Free
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
c)
Figura 5.22 – Perfis de velocidade da fase particulada ao longo do raio, comparação das condições
de contorno na parede de não deslizamento e livre deslizamento, na velocidade superficial do gás de
0,71 m s-1
para 15 s de simulação, alturas de a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
A variação do perfil em relação ao caso simulado no item 5.1.2 não foi expressiva,
sendo que a tendência do perfil permaneceu similar aquela obtida anteriormente. A
magnitude da velocidade também manteve-se num nível próximo. Os valores no centro do
escoamento sobre-predisseram os dados experimentais, enquanto que na região próxima a
parede estes apresentaram maior concordância.
Na Figura 5.23 é apresentada a média temporal dos campos de fração volumétrica
da fase dispersa. Aqui também não houve mudanças no comportamento do escoamento
gás-sólido, o que pode ser conferido pela maior concentração desta fase na região externa
ao centro do riser.
100 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Figura 5.23 - Média temporal dos campos de fração volumétrica da fase dispersa nas alturas de: a)
0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
A modificação da condição de contorno na parede para a fase dispersa alterou
insignificativamente os campos de velocidade e fração volumétrica do particulado no
interior do riser. O comportamento do escoamento, ainda assim, não foi melhor
representado.
5.2 CASO 2 – Estudo da condição de contorno na parede
Para o segundo caso estudado foi realizado um estudo sobre o efeito da variação do
coeficiente de especularidade sobre os perfis de velocidade da fase particulada. Este foi
variado em diversos valores, sendo que destes dois apresentaram resultados satisfatórios.
Na Figura 5.24 são apresentados os perfis de para os valores de 0,4 e 0,6.
101 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
-1.0
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ve
locid
ad
e fa
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só
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, m
/s
r/R
Experimental
coef 0.4
coef 0.6
KTGF - No Slip
a)
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
coef 0.4
coef 0.6
KTGF - No Slip
b)
102 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
ve
locid
ad
e fa
se
só
lida
, m
/s
r/R
Experimental
coef 0.4
coef 0.6
KTGF - No Slip
c)
Figura 5.24 – Perfis de velocidade da fase particulada para os coeficientes de especularidade 0,4 e
0,6 para a velocidade de 1,42 m s-1
, para três alturas: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
Neste caso, avaliou-se apenas os perfis para a velocidade superficial de entrada de
gás de 1,42 m s-1
, uma vez que o objetivo deste caso não foi avaliar o efeito da variação do
coeficiente sobre diversas condições de entrada, mas sim determinar um valor adequado,
que possa ser utilizado em outras simulações gás-sólido.
Pela Figura 5.24 pode-se perceber que os perfis apresentaram-se mais coerentes
com os dados experimentais, principalmente no centro do escoamento, o que não ocorreu
nos resultados do CASO 1. Já da comparação destes resultados com aqueles obtidos por
MARINI (2008), pode-se perceber que a simples condição de não deslizamento, apesar de
produzir resultados adequados, não representa corretamente o fenômeno fisco. A condição
intermediária pode trazer melhoras, através do coeficiente de especularidade, ao
escoamento da fase sólida.
Não foi possível determinar uma relação entre o valor do coeficiente de
especularidade e a acurácia dos perfis, porém os resultados encontrados parecem sugerir
que valores intermediários deste coeficiente seriam mais adequados.
103 CCaappííttuulloo 55 –– RReessuullttaaddooss ee DDiissccuussssõõeess
Na Figura 5.25 são apresentados os perfis de fração volumétrica do particulado, em
três alturas. Os perfis indicaram que o tipo de escoamento core-annulus continuou sendo
representado adequadamente através desta abordagem.
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
fra
çã
o v
olu
mé
tric
a d
a fa
se
só
lida
r/R
coef 0.4
coef 0.6
a)
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
fra
çã
o v
olu
mé
tric
a d
a fa
se
só
lida
r/R
coef 0.4
coef 0.6
b)
104 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
fra
çã
o v
olu
mé
tric
a d
a fa
se
só
lida
r/R
coef 0.4
coef 0.6
c)
Figura 5.25 – Perfis radiais de fração volumétrica da fase particulada para velocidade de 1,42 m s-1
,
nas alturas de: a) 0,16 m; b) 0,32 m; c) 0,48 m.
105 CCaappííttuulloo 66 –– CCoonncclluussõõeess ee SSuuggeessttõõeess
6. Capítulo 6 – Conclusões e Sugestões
De posse de todos os dados e considerações apresentados até esta pagina, são
apresentas as conclusões, criteriosas e objetivas, acerca do que foi realizado. Apontar os
próximos desafios e indicar o seguimento do trabalho também foi expresso.
106 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
Para o CASO 1 foi possível verificar através dos resultados obtidos nas simulações
que a correlação de arraste estudada conseguiu prever adequadamente o comportamento
core-annulus do escoamento no riser. Também, na maioria dos pontos medidos, a
velocidade do particulado próximo a parede foi predita corretamente. Porém na região
central esta variável teve um valor simulado superior ao observado tanto nos experimentos,
quanto nos outros trabalhos numéricos utilizados como comparação.
De modo geral, a experimentação numérica, na qual foram variadas partes da
modelagem do problema, não produziu melhores resultados para os perfis de velocidade no
interior do riser. Todas as abordagens testadas tiveram certo grau de sucesso em casos
específicos reportados na literatura, porém para o presente trabalho não se mostraram
relevantes na fluidodinâmica do escoamento gás-sólido.
A primeira modelagem alternativa testada, o modelo zero-equation para a
turbulência da fase particulada, não apresentou melhoras nos resultados. Acreditou-se que a
modelagem da turbulência seria um fator importante na correta descrição do escoamento,
porém o modelo de zero equação para a fase dispersa produziu perfis de velocidade
achatados, não condizentes com os perfis de velocidade negativa na parede e positivas no
centro.
Do mesmo modo a modelagem da viscosidade da fase particulada com valor nulo,
ou seja, desconsiderando os termos viscosos da fase dispersa nas equações de transporte,
não reproduziu a distribuição de velocidades no riser coerentemente. O particulado
apresentou um caminho preferencial, acima da entrada secundária, diferente das
distribuições obtidas com as outras modelagens. A análise dos perfis de velocidade
demonstrou a incapacidade deste modelamento em descrever o esperado perfil parabólico.
Velocidades negativas não foram registradas. Assim sendo, foi verificado que a viscosidade
da fase particulada, na abordagem Euleriana-Euleriana, não deveria ser ignorada.
Esta é uma variável, mesmo que sem um significado verdadeiramente físico, já que
apenas fluidos por definição possuem viscosidade, importante para a descrição do
escoamento multifásico, conforme ficou comprovado. Por outro lado, estipular um valor
constante para a viscosidade da fase particulada, a qual, para este estudo, foi obtida a partir
107 CCaappííttuulloo 66 –– CCoonncclluussõõeess ee SSuuggeessttõõeess
de outros trabalhos desenvolvidos no PQGe, também apresenta limitações, uma vez que
não é possível validar este dado experimentalmente.
Finalmente a utilização da condição de contorno de não deslizamento para a fase
particulada na parede resultou em perfis similares aqueles da condição de livre
deslizamento. Apesar de ser esperado que esta condição freasse a fase particulada em
contato com a parede, os perfis continuaram a ter velocidades negativas acentuadas
próximas a esta. A utilização desta condição provou não ter tido influência no modelamento
do problema.
Possibilidades quanto a trabalhos futuros utilizando esta correlação de arraste não
devem ser descartadas, uma vez que para o escoamento estudado ficou comprovada a
correta predição do comportamento do escoamento. As comparações quantitativas também
devem ser tomadas com precaução, já que há variáveis que não foram modeladas e que
podem ter tido relevância nos experimentos, como a ocorrência de eletricidade estática.
Sugere-se ainda a aplicação desta correlação para outros tipos de leitos fluidizados, como
aqueles que operam próximos a mínima fluidização, de modo que uma extensa galeria de
casos possa ser contemplada para que assim possa ser obtido um amplo conhecimento da
aplicabilidade deste modelo matemático.
Quanto ao estudo do CASO 2 foi possível concluir que a utilização de uma
abordagem intermediária para a condição de contorno na parede, entre as condições de livre
deslizamento e não-deslizamento, mostrou ter potencial na adequação dos modelos
aplicados para os dados experimentais, para a modelagem KTGF.
Ainda deverá ser dada continuidade aos estudos sobre condições de contorno na
parede, uma vez que esta região tem demonstrado ser muito difícil de modelar
corretamente. Trabalhos futuros poderão ser desenvolvidos nesta linha de pesquisa, uma
vez que há outros parâmetros a serem investigados.
108 DDiisssseerrttaaççããoo ddee MMeessttrraaddoo
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