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98 DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: UM ESTUDO SISTEMÁTICO Victoria Vilasanti Luz UFPR [email protected] Lucas Lira Finoti FACEAR [email protected] Helison Bertoli Alves Dias UFPR [email protected] Flavio Luiz Von der Osten UFPR [email protected] Ana Maria Machado Toaldo UFPR [email protected] RESUMO O presente trabalho tem como objetivo verificar como a dissonância cognitiva está sendo utilizada nos estudos do comportamento do consumidor. A teoria da dissonância cognitiva, desenvolvida por Leon Festinger, é estudada em conjunto com o marketing desde a década de 1970, e, mais recentemente tem gerado um número considerável de publicações, demostrando- se uma área de interesse da academia de marketing. Esse interesse é saliente principalmente no que tange os processos cognitivos e de tomada de decisão do consumidor, em momentos pré e pós compra. A metodologia utilizada foi um estudo bibliográfico sistemático das publicações sobre o tema. Utilizou-se busca por palavras chave nos periódicos de maior impacto na área de marketing, classificados no primeiro quartil (Q1) do SciMago Journal Ranking. Como principais resultados do presente trabalho verifica-se: uso da teoria da dissonância como framework de análise e como elemento de interação com temas como (a) satisfação, (b) lealdade, (c) efeitos pós-compra, e (d) marketing de relacionamento. Palavras-chave: Dissonância cognitiva. Consumidor. Estudo bibliográfico.

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Page 1: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

98

DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: UM ESTUDO SISTEMÁTICO

Victoria Vilasanti Luz UFPR [email protected] Lucas Lira Finoti

FACEAR

[email protected]

Helison Bertoli Alves Dias

UFPR

[email protected]

Flavio Luiz Von der Osten

UFPR

[email protected]

Ana Maria Machado Toaldo

UFPR

[email protected]

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo verificar como a dissonância cognitiva está sendo utilizada nos estudos do comportamento do consumidor. A teoria da dissonância cognitiva, desenvolvida por Leon Festinger, é estudada em conjunto com o marketing desde a década de 1970, e, mais recentemente tem gerado um número considerável de publicações, demostrando-se uma área de interesse da academia de marketing. Esse interesse é saliente principalmente no que tange os processos cognitivos e de tomada de decisão do consumidor, em momentos pré e pós compra. A metodologia utilizada foi um estudo bibliográfico sistemático das publicações sobre o tema. Utilizou-se busca por palavras chave nos periódicos de maior impacto na área de marketing, classificados no primeiro quartil (Q1) do SciMago Journal Ranking. Como principais resultados do presente trabalho verifica-se: uso da teoria da dissonância como framework de análise e como elemento de interação com temas como (a) satisfação, (b) lealdade, (c) efeitos pós-compra, e (d) marketing de relacionamento.

Palavras-chave: Dissonância cognitiva. Consumidor. Estudo bibliográfico.

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99

ABSTRACT

The present study aims to verify how cognitive dissonance is used in consumer behavior studies. The theory of cognitive dissonance, developed by Leon Festinger, has been studied in conjunction with marketing since the 1970s, and more recently has generated a considerable number of publications, proving to be an area of interest for the marketing academy. This interest is stronger in themes such as consumers’ cognitive and decision-making processes, which are present in moments before and after purchase. The methodology used was a systematic bibliographical study of publications on the subject. Key-word search was used in the periodicals with the highest impact in the marketing area, classified in the first quartile (Q1) of the SciMago Journal Ranking. The main results of this work are: the use of the theory of dissonance as a framework for analysis and as an element of interaction with themes such as (a) satisfaction, (b) loyalty, (c) post-purchase effects, and (d) marketing relationship. Keywords: Cognitive dissonance. Consumer. Bibliographic study.

1. INTRODUÇÃO

Existe uma característica inerente ao ser humano de buscar o estado de consonância.

Quando duas ou mais cognições são inconsistentes entre si os indivíduos passam por um estado

psicológico de desconforto e tensão que os motiva a adotar estratégias para resolver estas

inconsistências (FESTINGER, 1962; MAO; OPPEWAL, 2010). A este fenômeno foi dado o

nome de dissonância cognitiva.

Uma vez que trata de dimensões ligadas à tomada de decisão, a teoria da dissonância

cognitiva é um campo que tem atraído interesse dos pesquisadores de marketing, especialmente

em comportamento do consumidor (HOELZL, 2011). De acordo com a teoria, qualquer tomada

de decisão gera dissonância cognitiva quando há algum elemento cognitivo inconsistente. No

caso de comportamento pós-compra, o consumidor pode sofrer dissonância ao decidir por um

produto em detrimento do outro ou por ter suas expectativas iniciais violadas. Uma vez neste

estado de desconforto, o consumidor procura mecanismos psicológicos para retornar à

normalidade (consonância); estes mecanismos estendem-se desde a busca por informações

consonantes até a devolução de produtos (SCHERF, KAWASH, KAWASH, 1976; POWERS

E JACK, 2013; SHARIFI E ESFIDANI, 2014; WILKINS; BECKENUYTE; BUT, 2015).

A dissonância cognitiva pode levar o consumidor a ter avaliações negativas da marca,

ou ainda a trocar a marca por outra substituta (IRMAK; KRAMER; SEM, 2017). Além disso,

a dissonância é caracterizada por um efeito psicológico o que dificulta que as organizações

percebam quando o consumidor está dissonante (KENG; LIAO, 2013). Afim de desenvolver

estratégias para evitar esse processo torna-se importante a compreensão de suas causas e

Page 3: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

100

consequências, bem como os mecanismos para mitigar seu efeito, justificando a necessidade

deste trabalho. Um melhor entendimento do relacionamento entre o comportamento do

consumidor e a dissonância cognitiva é importante para traçar estratégias de marketing mais

assertivas (SWEENEY; HAUSKNECHT; SOUTAR, 2000), tais como o tipo de informação

que será exposta ao consumidor (EHRLICH et al.,1957) e quais as ações que podem ser

tomadas para aumentar a satisfação pós compra (OLIVER, 1993).

Deste modo, o objetivo geral deste trabalho é verificar como a dissonância cognitiva

vem sendo utilizada nos estudos do comportamento do consumidor; tem-se dois objetivos

específicos, são eles: : (i) verificar como o relacionamento entre dissonância e comportamento

de consumo vem sendo abordado nas publicações atuais e (ii) analisar quais variáveis do

comportamento do consumidor são utilizadas para captar esse relacionamento entre a resposta

do consumidor e a dissonância cognitiva. Assim, o presente trabalho tem como contribuição

teórica sistematizar o conhecimento relativo à interação dos dois construtos (dissonância

cognitiva e comportamento do consumidor), abrindo novos caminhos para pesquisas futuras.

Ademais, gestores também podem utilizar os resultados deste trabalho para verificar quais são

as estratégias para a redução da dissonância cognitiva que já foram empiricamente testadas e

são mais efetivas.

O artigo está organizado da seguinte maneira: primeiramente, o capítulo de revisão

teórica, que está dividido em duas partes: a) A teoria da dissonância cognitiva b) Dissonância

cognitiva e comportamento do consumidor; em seguida, o capítulo de metodologia; depois, o

capítulo de análise dos dados; e, finalmente as considerações finais e referências.

2. REVISÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão apresentadas a teoria da dissonância cognitiva e o uso da teoria

no comportamento do consumidor.

2.1 A TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA

No final da década de 1950, Leon Festinger observou que há uma tendência dos seres

humanos a evitarem inconsistências, por estas gerarem um estado de ansiedade e/ou

desconforto. De acordo com Cooper (2007) racionalmente os indivíduos não escolhem

racionalmente as consistências, mas quando eventos inconsistentes acontecem, sentimentos

Page 4: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

101

desconfortáveis são desencadeados e os indivíduos são levados a resolver essa incongruência

para se sentirem confortáveis novamente.

Em seu livro The Theory of Cognitive Dissonance, considerado o trabalho seminal

sobre tema, Festinger (1962) explica que as relações entre pares de cognições (elementos de

conhecimento) podem ser consonantes ou dissonantes; isso pode acontecer entre crenças, ações,

sentimentos e comportamentos. Então, se elementos cognitivos são diferentes entre si ou

diferentes da realidade, o indivíduo irá sofrer dissonância. Por exemplo, um indivíduo que é

forçado a fazer um discurso sobre um tema que não concorda está em dissonância, uma vez que

sua ação é inconsistente com a sua crença ou atitude usual. Desta forma, entende-se dissonância

cognitiva como um estado psicológico desconfortável que o indivíduo tentará mitigar para

voltar a condição consonante (FESTINGER, 1962).

A ocorrência da dissonância cognitiva se dá a partir de duas cognições inconsistentes

e pode acontecer quando há novas informações a respeito de algo, o acontecimento de um novo

evento ou em situações de tomada de decisão (FESTINGER, 1962). Podem ocorrer mudanças

de atitudes ou ajustes cognitivos dependendo do grau da dissonância. Com base na teoria

original de Festinger não há necessidade de previsão anterior de consequências avessa, é

necessário apenas o acontecimento de cognições dissonantes (HARMON-JONES et al., 1996).

Diferentemente, no entendimento de Cooper e Fazio (1984, p.241, tradução livre) “O

processo de dissonância começa com o desempenho de um comportamento cujas consequências

são julgadas como tendo uma natureza aversiva”; assim, é necessário que haja a percepção de

que a decisão (ou evento) irá produzir resultados avessos e irrevogáveis, o que provoca um

estado de tensão. O indivíduo deve ter o poder de livre escolha, sendo ele o responsável pela

decisão. Quanto maior o grau de comprometimento no momento da decisão, maior será o grau

de dissonância (COOPER; FAZIO, 1984; COOPER, 2007).

A previsibilidade anterior de consequências avessas também é uma condição para a

ocorrência da dissonância uma vez que leva a atribuição de responsabilidade. Por exemplo,

quando um indivíduo concorda em fazer algo que é inconsistente com suas atitudes e, antes

mesmo de executar a ação, ele consegue prever as consequências, ele entra em dissonância,

mesmo sem ter realizado a ação. (COOPER; FAZIO, 1984). Visto que os indivíduos estão

sempre tomando decisões, a dissonância cognitiva pode ser considerada ubíqua, ou seja, é um

fenômeno que está presente a todo momento. (COOPER, 2007).

Uma vez disparada, a dissonância cognitiva acontece em maior ou menor grau. A essa

variação se dá o nome de magnitude da dissonância. A magnitude está diretamente relacionada

com a discrepância entre as cognições. Quanto mais discrepantes as cognições consonantes e

Page 5: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

102

dissonantes, e, quanto mais importante a cognição discrepante, maior a magnitude da

dissonância. O cálculo da magnitude se dá pela razão entre a multiplicação da cognição

dissonante com a importância da cognição e a multiplicação da cognição consonante com a

importância da cognição. Assim, a magnitude é diretamente proporcional às cognições

discrepantes (COOPER, 2007; WICKLUND; BREHM, 2013).

O desconforto psicológico gerado pela dissonância cognitiva motiva os indivíduos a

criarem mecanismos para restaurar sua harmonia interna (FESTINGER, 1967). Para diminuir

a importância de cognições dissonantes os indivíduos buscam e adicionam informações

consonantes a suas atitudes e crenças. A mudança de atitudes também é um recurso utilizado

para mitigar a dissonância bem como o uso de justificativas para embasar a decisão ou transferir

a responsabilidade da tomada de decisão para circunstâncias do ambiente – como se o indivíduo

“não tivesse escolha” e foi levado ao evento dissonante por pressões ambientais. Após a tomada

de decisão, os indivíduos tendem a evitar informações inconsistentes também como uma

maneira de impedir a dissonância (COOPER; FAZIO, 1984; COOPER, 2007).

As hipóteses de Festinger para evitar ou reduzir da dissonância cognitiva são nomeadas

pelos acadêmicos como: exposição seletiva, dissonância pós decisão e justificação mínima. A

exposição seletiva, como o próprio nome sugere, refere-se ao ato de evitar informações

contrárias às suas crenças e atitudes; a dissonância pós decisão, conforme já mencionada

anteriormente, acontece quando há cognições inconsistentes após uma decisão tomada; e,

finalmente, a justificação mínima sugere que a ação inconsistente pode gerar uma mudança de

atitude afim de refazer a consonância (GRIFFIN; MCCLISH, 2011).

Sweeney, Hausknecht e Soutar (2000) sugerem que a teoria da dissonância cognitiva

criou um paradoxo, pois trata-se de um constructo emocional que leva a palavra “cognitivo” no

nome. No estudo, os autores defendem que a dissonância cognitiva inclui tanto elementos

cognitivos como elementos emocionais: “Como Festinger descreve, é um estado

psicologicamente desconfortável, mas gerado por cognições inconsistentes” (SWEENEY;

HAUSKNECHT; SOUTAR, 2000, p. 374, tradução livre).

Em síntese, a dissonância cognitiva é um construto cognitivo e emocional, que resulta

em um estado de desconforto, angústia e/ou ansiedade causada quando há inconsistência entre

as cognições. A magnitude da dissonância varia conforme a importância e discrepância entre

as cognições. Uma vez que a dissonância cognitiva é disparada, o indivíduo irá acionar

mecanismos psicológicos diversos para reduzir ou eliminar a dissonância.

2.2 DISSONÂNCIA COGNITIVA E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Page 6: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

103

O construto de dissonância cognitiva se popularizou nos estudos do comportamento

do consumidor na década de 1970, e, mais recentemente nos anos 2000 foi retomado.

Considerando que a dissonância cognitiva é estimulada a partir de cognições inconsistentes,

entende-se que no comportamento do consumidor ela acontece no momento pós-compra

(KOLLER; SALZBERG, 2007). A compra de um produto sempre envolve a escolha de uma

coisa em detrimento da outra, o que implica em dissonância pós decisão.

Como o consumidor faz a rejeição de uma opção de produto, após a compra ele tem a

necessidade de saber que fez a escolha certa; então, é responsabilidade da organização

comunicar-se com este cliente e prover informações que o ajudem a manter sua consonância.

A propaganda e o relacionamento com o consumidor não somente reduzem a dissonância

cognitiva como aumentam as chances de recompra e atitudes positivas com relação à marca

(EHRLICH et al., 1957; OSHIKAWA, 1969; HUNT, 1970).

A partir de um estudo das publicações que abordavam a dissonância cognitiva em

comportamento do consumidor, Cummings e Venkatesa (1976) defendem que a dissonância

cognitiva pós-compra acontece em maior grau quando a escolha é irrevogável e quando o

consumidor tem alto envolvimento (percepção de decisão importante). Os autores ainda

esclarecem que “(...) é esperado que a magnitude da dissonância influencie a mudança de

atitude e/ou comportamento pós-compra, mas não impede a busca de informações pós-compra”

(p. 306, tradução livre). Por exemplo, Keng e Liao (2013) verificaram que a dissonância

cognitiva pós-compra pode diminuir a satisfação e as chances de recompra. Para os autores, a

dissonância acontece tanto após a compra quanto após o uso do produto.

Ademais, as informações que o consumidor recebe durante o processo de escolha

também influenciam o processo de dissonância. Neste sentido, Irmak, Kramer e Sen (2017)

identificaram que se os consumidores recebem mais informações, desconhecidas até então, no

momento de compra, eles tendem a abandonar o produto escolhido no carrinho e substitui-lo

por outro. Isso acontece, de forma inconsciente, como mecanismo de redução da dissonância

causada pela adição de informações no momento da compra.

Nota-se, portanto, que a dissonância cognitiva é um fator que influencia a avaliação

dos consumidores com relação a marcas e seus produtos. Desta forma, o marketing tem um

papel fundamental no processo de redução da dissonância para que consumidores tenham maior

satisfação em suas compras e aumentem a lealdade com a marca (SHARIFI; ESFIDANI, 2014).

3. METODOLOGIA

Page 7: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

104

Este trabalho caracteriza-se como um estudo bibliográfico sistemático. O estudo

sistemático é uma forma de revisão da literatura que faz uma síntese de um assunto específico

baseado em buscas e análises do estado da arte de determinado tema. Uma grande vantagem do

uso de análise sistemática é a disposição dos resultados de forma resumida e clara (SAMPAIO;

MANCINI, 2006).

A metodologia deste trabalho divide-se em três etapas: primeiramente determinou-se

como base de pesquisa o portal da Scopus (www.scopus.com); na segunda etapa, foram

definidas as palavras-chave de busca com os respectivos termos booleanos: “cognitive

dissonance” and “consumer behavior”, “cognitive dissonance” and marketing, “cognitive

dissonance” and “consumer satisfaction”, “cognitive dissonance” and “consumer loyalty”,

“cognitive dissonance” and “product quality”, “cognitive dissonance” and “service”,

“dissonant" and “consumers”, “post decision” and “dissonance", “dissonance theory” and

“consumption”. Para melhor selecionar os artigos limitou-se a busca para: (a) Revistas

classificadas nos quartis Q1 e Q2 do SciMago Journal Rank (www.scimagojr.com), (b) Termos

de busca no título, resumo ou palavras-chave c) Em alguns casos filtro adicional por área

(revistas de marketing, psicologia, ciências sociais e/ou negócios). Não foi especificado ano de

publicação nas buscas. Finalmente, após selecionados os artigos de maior interesse, foram lidos

aproximadamente 50 resumos de artigo; destes, 18 artigos foram lidos na íntegra e 15 foram

escolhidos para compor a presente revisão. O critério para seleção dos artigos foi a aderência

ao tema escolhido.

4. ANÁLISE DOS DADOS

A revisão apresentada permitiu analisar 15 publicações com os temas dissonância

cognitiva e comportamento do consumidor (ver tabela 1). A maioria dos estudos selecionados

são mais recentes, de 2000 a 2016. O ano de 2009 tem maior número de publicações; em seguida

os anos de 2011, 2013 e 2015 apresentam 2 publicações cada. Verifica-se também 2 estudos na

década de 70 (um em 1976 e um em 1977). A concentração de publicações nos últimos 15 anos

demostra que o tema ainda é interesse de estudo dos pesquisadores e tem lacunas a serem

explorados. Os periódicos de maior incidência são: Psycology and Marketing, Journal of

Marketing Management e International Journal of Retail and Distribution Management. Além

destes, são contemplados os periódicos: European Journal of Marketing, Journal of Business

Page 8: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

105

Reseach, Journal of Academy of Marketing Science, Journal of Social Psychology, Marketing

Intelligence and Planning e Services Marketing Quarterly.

Observa-se que, dos estudos apresentados, 11 têm a metodologia quantitativa. Dentre

este tipo de estudo: seis são surveys, três são experimentos e um é desenvolvimento de escala.

Para o tratamento e análise de dados nota-se o uso de estatística descritiva, correlações, análise

fatorial exploratória, análise fatorial confirmatória, modelo estrutural, teste T, teste qui-

quadrado, ANOVA, MANOVA, ANCOVA, além do uso de softwares tais como: AMOS, PLS

e SPSS.

Page 9: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

Tabela 1: Revisão sistemática: Contexto, objetivo, metodologia e resultados

Autores/Ano/

Revista Contexto Variáveis Objetivo Metodologia Conclusões

Hoelzl, Pollai,

Kastner, 2011,

Psychology &

Marketing

Carros; Áustria e

Alemanha; diferentes

formas de pagamento

Dissonância cognitiva;

consumo hedônico;

contabilidade mental

Verificar o efeito de diferentes

modos de pagamento nas

avaliações pós compra de

produtos hedônicos ao longo

do tempo a partir da

Dissonância Cognitiva e

contabilidade mental

Survey; 421 participantes

(divisão de grupos com base no

tempo de posse e forma de

pagamento); ANOVA

A dissonância pode levar a

mudanças em custos

percebidos ou benefícios

percebidos enquanto a relação

custo benefício permanece

inalterada e vice-versa

Gbadamosi, 2009,

International

Journal of Retail

& Distribution

Management

Produtos de baixo

envolvimento;

Inglaterra; mulheres de

baixa renda

Dissonância cognitiva;

envolvimento do

consumidor; estímulos de

marketing;

Explorar a relevância de

dissonância cognitiva no

consumo de baixo

envolvimento por mulheres de

baixa renda

Entrevistas em profundidade e

grupo focal; 30 pessoas -

conveniência e bola de neve;

redução dos dados, desenho de

conclusão e verificação.

A dissonância cognitiva

também pode ser associada

com compras de baixo

envolvimento; uso de

justificativas para diminuir DC.

Wilkins,

Beckenuyte, Butt,

2015, European

Journal of

Marketing

Chocolate; Reino

Unido; diminuição da

embalagem; resposta a

imagens

Dissonância cognitiva;

práticas enganosas

(deception) em marketing;

engano na embalagem de

produto

Verificar percepção do

preenchimento com ar das

embalagens, o quanto isso

causa dissonância cognitiva e

o quanto leva a efeitos

negativos no pós compra.

Experimento; 245

consumidores; análise fatorial

exploratória e confirmatória;

AMOS; modelo estrutural;

Expectativas são antecedentes

a dissonância. DC foi

negativamente correlacionado

com intenções de recompra

Page 10: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

107

(Continua)

Autor/Ano/

Revista Contexto Variáveis Objetivo Metodologia Conclusões

Sweeney,

Hausknecht,

Soutar, 2000,

Psychology &

Marketing

Estudantes

australianos;

consumidores de

lojas de móveis e

lojas de som para

carro

Dissonância cognitiva;

medidas de dissonância;

itens cognitivos e

emocionais; satisfação

Desenvolver uma escala de

dissonância cognitiva que

compreende aspectos

cognitivos e emocionais

Análise fatorial exploratória e

análise fatorial confirmatória;

teste Fornell e Larcker;

Primeira fase: 645 estudantes

(2 amostras); segunda fase:

224 consumidores;

A DC é formada por aspectos

cognitivos e emocionais. A escala

possui três dimensões da

dissonância cognitiva: emocional,

sensatez de compra e preocupação

com o negócio.

Sharifi, Esfidani,

2014, International

Journal of Retail &

Distribution

Management

Celulares; produto de

alto envolvimento;

Iran

Dissonância cognitiva pós

compra; lealdade

comportamental e

atitudinal; marketing de

relacionamento; satisfação

Verificar como o marketing

de relacionamento

(comunicação e confiança)

pode diminuir a dissonância

cognitiva e assim aumentar a

satisfação e lealdade

Survey; modelo estrutural;

305 questionários (40

questionários anteriores para

piloto); AMOS 20; AVE;

DC tem influência na satisfação;

confiança tem impacto na DC; a

comunicação não teve impacto

significativo na DC, mas tem alta

correlação com confiança DC tem

efeito mediador na lealdade

Gregory-Smith,

Smith,

Winklhofer, 2013,

Journal of

Marketing

Management

Inglaterra;

consumidores com

atitude pro consumo

ético

Dissonância cognitiva;

consumo ético; emoções

Investigar o papel das

emoções no consumo ético,

com ou sem dissonância

cognitiva

Entrevista em profundidade;

amostra: 31 indivíduos

recrutados por meio de mídia

social

Necessidade de justificar

comportamentos dissonantes;

dissonância cognitiva leva a

emoções tais como: culpa e

arrependimento

(Continua)

Page 11: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

108

Autor/Ano/ Revista Contexto Variáveis Objetivo Metodologia Conclusões

Koller, Salzberger,

2009, Benchmarking:

An International

Journal

Indústria de turismo;

Áustria

Dissonância cognitiva;

tomada de decisão;

serviços; lealdade;

satisfação;

benchmarking

Proporcionar insights sobre o

desenvolvimento temporal do

estado psicológico dos

consumidores no contexto de

serviços para gerar ideias de

benchmarking

Estudo longitudinal; diário

(qualitativo e quantitativo); 59

participantes (soma de 322

acessos para risco percebido,

508 acessos para DC e 257

para satisfação); SPSS

A DC impacta na satisfação e,

portanto, na lealdade;

comunicação individual um

pouco antes da partida pode

ajudar da redução da

dissonância cognitiva.

Scherf, Kawash,

Kawash, 1976,

Journal of Social

Psychology

Produtos de alto

envolvimento;

Canadá; diferenças

entre maridos e

esposas

Relação preço-

qualidade;

performance;

durabilidade;

dissonância cognitiva

Analisar a percepção de

qualidade e preço com base na

teoria da dissonância cognitiva

Survey; 85 casais; estatística

descritiva e correlação;

Ajuste da percepção dos preços

pagos e dos elementos de

qualidade para evitar DC. Alta

correlação entre percepção de

preço e durabilidade e

percepção de preço e

desempenho.

Connole, Benson,

Khera, 1977, Journal

of the Academy of

Marketing Science

Carros; Estados

Unidos

Dissonância cognitiva;

consumidores

inovadores

Determinar se os inovadores de

fato sofrem alta dissonância

cognitiva

Entrevista; leitura prévia de

artigos com informações

consonantes e dissonantes; chi-

quadrado

Inovadores buscam informações

consonantes em maior grau (ou

seja, sofrem de maior DC);

tanto inovadores quando não

inovadores evitam informações

dissonantes

(Continua)

Page 12: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

109

Autor/Ano/

Revista Contexto Variáveis Objetivo Metodologia Conclusões

Powers, Jack,

2013,

Psychology and

Marketing

Clientes

WalMart e

Taget; Estados

Unidos

Dissonância cognitiva;

arrependimento de compra

Examinar a influência da dissonância

cognitiva na frequência da devolução

de produtos.

Survey; instrumento online;

308 consumidores; AVE;

PLS;

As devoluções estão ligadas a

tentativa de diminuição da

dissonância cognitiva

Sharma, Chan,

2016, Marketing

Intelligence &

Planning

Produtos

falsificados;

Hong Kong

Dissonância cognitiva;

produtos falsificados;

diferentes níveis de

envolvimento e contextos

Introduzir uma estrutura unificada

para comportamento de compra de

produtos falsificados

Survey; 380 consumidores

que compraram produtos

falsificados; AMOS 60;

Fornell e Larcker; AVE;

Afim de mitigar a DC

consumidores de produtos

falsificados tentam alinhar

julgamentos e crenças com a

avaliação (enviesada) e as compras

passadas de produtos falsificados.

Kim, 2011,

Services

Marketing

Quarterly

Indústria

hoteleira;

Estados Unidos

Dissonância cognitiva;

valor e confiança; boca a

boca; envolvimento;

serviços; estratégias de

redução de dissonância;

Verificar quais são as variáveis que

influenciam a dissonância cognitiva;

qual o relacionamento entre a

dissonância cognitiva e as variáveis;

como a dissonância cognitiva afeta o

comportamento do consumidor

Survey; consumidores

expostos a informações

(boca a boca) negativas;

214 respondentes;

estatística descritiva;

correlação;

DC pode ser entendida além da

visão de pós compra no contexto de

serviços. Comunicação boca a boca

e envolvimento influenciam a

magnitude da DC; a DC explica a

variação no nível de recompra.

(Continua)

Page 13: DISSONÂNCIA COGNITIVA NAS PESQUISAS DO …

110

Autor/Ano/

Revista Contexto Variáveis Objetivo Metodologia Conclusões

Kwon, Lennon,

2009, Journal of

Business

Research

Estudantes

universitárias

(mulheres);

Estados Unidos;

Dissonância cognitiva;

varejo; multicanais;

imagem de marca online e

off-line; risco percebido;

lealdade

Investigar os riscos

percebidos sobre os efeitos da

interação entre a imagem de

marca online e o varejo

multicanal off-line

Experimento; 671

universitárias;

MANOVA; teste T;

MANCOVA; ANCOVA;

equação estrutural

DC interfere na lealdade e percepção de

risco. A assimilação enviesada e os

mecanismos de minimização de impactos

resultantes da tentativa de mitigar a DC

criam o efeito halo; o que interfere nos

riscos percebidos e na lealdade.

Mao, Oppewal,

2010,

Australasian

Marketing

Journal

Segmento de

educação

(universidade);

Austrália

Dissonância cognitiva;

serviços; reputação;

satisfação e percepção de

qualidade; resultados

comportamentais

Explorar os relacionamentos

entre dissonância cognitiva,

satisfação, qualidade

percebida do serviço e

resultados comportamentais

Experimento; varimax;

critério Fornell e Larcker

e Gerbing e Anderson;

MANOVA; ANCOVA;

Qualidade percebida não é influenciada

pela DC, diferentemente da satisfação.

Reforço de escolha e informação

inconsistente geraram comunicação boca a

boca positiva (consumidores dissonantes

espalham informações positivas para

mitigar o desconforto).

McDonald, et al.,

2015, Journal of

Marketing

Management

Aviação; Reino

Unido

Dissonância cognitiva;

serviços; consumidores

"verdes"

Verificar diferenças entre

crenças e comportamento dos

consumidores "verdes" que

continuam a usar serviços

aéreos.

Entrevista

semiestruturada; 29

consumidores "verdes";

análise não identificada

pelo autor

Para reparar a DC: mudança de

comportamento ou justificativa para não

mudar o comportamento (adição de

elementos consonantes)

*DC – abreviação para dissonância cognitiva

Fonte: Coleta de dados (2016)

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Nos estudos qualitativos (4 publicações) verifica-se maior ocorrência de entrevistas

em profundidade, sendo que um estudo utiliza entrevistas e grupo focal. De uma maneira geral

a amostragem mais utilizada foi por conveniência. Alguns estudos delinearam critérios para a

seleção da amostra, como por exemplo Gbadamosi (2009) estudou apenas mulheres de baixa

renda; McDonald et al. (2015) estudaram apenas consumidores com atitude “verde”; Sharma e

Chan (2016) realizaram seu estudo com consumidores de produtos falsificados.

Não foram verificados autores que se destacaram em número de publicações, no

entanto, observa-se que o trabalho de Sweeney, Hausknecht e Soutar (2000) foi citado

recorrentemente nas outras publicações analisadas (tanto no desenvolvimento teórico quanto

no uso da escala criada pelos autores). O trabalho de Kim (2011) também é referenciado em

outros artigos. Além disso, foi é possível identificar que Koller e Salzberger possuem mais de

um trabalho em coautoria, não contemplados no presente estudo.

Os objetivos dos artigos demostraram que os pesquisadores têm abordado a

dissonância cognitiva como um mecanismo que interfere no comportamento do consumidor e

é estudado no momento pós-compra; no entanto, sabe-se que existem pesquisas, não

contempladas neste trabalho, que consideram a dissonância pré compra, no momento da compra

e após a compra. Os construtos de marketing encontrados nos estudos são: satisfação, lealdade,

relação de qualidade e preço, efeitos pós compra, avaliação de produto e/ou serviço, marketing

de relacionamento, consumo ético e/ou verde e imagem de marca. Nota-se que a maioria dos

estudos está relacionado ao consumo de produtos; das publicações analisadas tratavam de

serviços apenas os trabalhos de: Koller e Salzberger (2009), Mao e Oppewal (2010), Kim

(2011) e McDonald et al. (2015).

Com relação ao contexto dos estudos, foram analisados diversos tipos de produtos, de

maior ou menor envolvimento. Por exemplo Hoelzl, Pollai e Kastner (2011) estudaram o

consumo hedônico de carros em consumidores que realizaram suas compras com diferentes

formas de pagamento e que tinham propriedade do carro por maior ou menor período de tempo;

Gbadamosi (2009) utilizou produtos de supermercado de baixo envolvimento tais como café e

sal; Wilkins, Beckenuyte e Butt (2015) utilizaram chocolate para verificar a percepção da

diminuição da embalagem do produto; Mao e Oppewal (2010) verificaram a satisfação e

reputação de serviços oferecidos por uma universidade. Também se observa que a maioria dos

estudos foram realizados na Europa (Reino Unido, Áustria e Alemanha) e América do Norte

(Estados Unidos e Canadá).

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Finalmente, nos resultados das publicações, identifica-se que as expectativas do

consumidor têm forte influência na dissonância cognitiva e a dissonância é considerada um

antecedente da satisfação (KOLLER; SALZBERGER, 2009; MAO; OPPEWAL, 2010;

WILKINS; SHARIFI; ESFIDANI, 2014; BECKENUYTE; BUTT, 2015). A dissonância

cognitiva também está relacionada com a confiança e percepção de risco, uma vez que o

consumidor terá menor grau de dissonância quando escolhe marcas que já conhece e confia.

Adicionalmente, a dissonância cognitiva é negativamente correlacionada com a lealdade, assim,

quanto mais dissonante for o consumidor menor a chance de recompra (KWON; LENNON,

2009; SHARIFI; ESFIDANI, 2014).

O comportamento típico para reduzir a dissonância cognitiva é o de evitar qualquer

acesso de informações sobre um determinado tema após uma compra realizada. Buscar

informações consonantes e espalhar a comunicação boca-a-boca positiva também são

mecanismos para impedir a dissonância. Além disso o uso de justificativas é observado,

principalmente em situações onde o comportamento de compra é dissonante à atitude do

consumidor (CONNOLE; BENSON; KHERA, 1977; GBADAMOSI, 2009; MAO;

OPPEWAL, 2010; GREGORY-SMITH; SMITH; WINKLHOFER, 2013; MCDONALD et al.,

2015).

Em casos mais extremos, os consumidores poderão devolver os produtos comprados

para eliminar a dissonância causada (POWERS; JACK, 2013). O estudo de Sharma e Chan

(2016) é um exemplo de como os consumidores procuram alinhar seus julgamentos e crenças

para evitar a dissonância quando compram produtos falsificados. Dentre os estudos revisados

ainda é possível identificar que a dissonância cognitiva está presente em compras de baixo

envolvimento e na indústria de serviços.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve o objetivo de verificar como a relação da dissonância cognitiva e o

comportamento do consumidor vem sendo abordada nos estudos de marketing. Para tanto

realizou-se uma revisão sistemática onde foi possível identificar os trabalhos mais relevantes

que abordam o tema. A análise destes trabalhos também permitiu observar quais são as

variáveis, relacionadas ao comportamento do consumidor, utilizadas na literatura de marketing

para melhor entender a relação entre a dissonância cognitiva e as respostas dos consumidores.

Ademais, também encontrou-se quais as abordagens mais recorrentes no estudo dessa relação.

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Nesta análise, verificou-se a ocorrência de poucos estudos exploratórios, assim nesta revisão a

maior parte dos artigos pesquisados são de cunho quantitativo.

Observa-se que no marketing a dissonância cognitiva é considerada no momento pós-

compra e que o tema é estudado principalmente de duas formas: a) Como um framework de

análise, onde a teoria da dissonância cognitiva não é o enfoque central do trabalho, mas a

perspectiva pela qual o pesquisador irá apresentar seus resultados ou justificar o comportamento

do consumidor - como por exemplo em Gregory-Smith, Smith e Winklhofer (2013) e

McDonald et al., (2015) b) Como elemento de interação com os demais temas de

comportamento do consumidor – como por exemplo em Mao e Oppewal (2010) e Gbadamosi

(2009). A maior parte dos estudos selecionados no presente trabalho utilizam a teoria da

dissonância como um elemento de interação, investigando as causas ou consequências de

fenômenos do comportamento do consumidor considerando a influência do estado psicológico

da dissonância cognitiva.

As variáveis mais recorrentes nos trabalhos aqui revisados são a satisfação e a lealdade.

Diversos autores colocam a dissonância cognitiva como um antecedente da satisfação, e,

consequentemente, como um influenciador da lealdade. Assim, quanto maior o grau da

dissonância cognitiva no momento pós-compra, menor a satisfação com o produto ou serviço e

menor a chance de recompra. Também se verificou uma diferença entre dissonância cognitiva

para produtos e serviços, sendo que o número de estudos que abordam produtos é

consideravelmente maior do que os que abordam serviços. Uma característica marcante é a

utilização de produtos de alto envolvimento para o estudo da dissonância, uma vez que a teoria

declara que a magnitude da dissonância depende do envolvimento com a decisão ou

importância da cognição. Ainda assim, é possível verificar estudos que testam a ocorrência da

dissonância para produtos de baixo envolvimento.

A partir dessa análise e da sistematização das pesquisas realizadas neste tema, o

presente trabalho contribui com a literatura de comportamento do consumidor e, também com

a literatura da dissonância cognitiva. Com base nos resultados identifica-se algumas lacunas de

pesquisa a serem exploradas. São elas: (a) realizar estudos das implementações de estratégias

de marketing para evitar a dissonância cognitiva; (b) mapear os padrões da dissonância

cognitiva (motivo das inconsistências) para grupos distintos de consumidores em setores

específicos; (c) investigar a ocorrência da dissonância cognitiva no consumo pró-social e

sustentável (green); e (d) investigar como outros mecanismos psicológicos ajudam a reduzir a

dissonância cognitiva no momento da compra.

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O presente estudo atentou-se aos periódicos que compõe o primeiro quartil (Q1) do

SciMago Journal Ranking. Este recorte foi feito para selecionar os trabalhos de maior relevância

na área de marketing. No entanto, isto pode representar uma limitação da pesquisa. Assim,

sugere-se que estudos futuros realizem trabalhos que englobem outros periódicos também.

Como por exemplo, aqueles de maior impacto na área de psicologia, uma vez que a dissonância

cognitiva também é um constructo relevante nesta área de estudo. Além disso, sugere-se a

realização de estudos similares a este que também contemplem revistas da área de consumo de

alimentos, haja vista que esta área também possui estudos relacionados a dissonância cognitiva

e consumo.

REFERÊNCIAS

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